VIEIRA, J.S. Et Al. Constituição Das Doenças Da Docência - Cadernos de Educação -...

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Constituição das doenças da docência 1 Jarbas Santos Vieira Maria Manuela Alves Garcia Maria de Fátima Duarte Martins Leomar Eslabão Aline Ferraz da Silva Vera Gainssa Balinhas Carmem Lucia da Rosa Fetter Vanessa Bugs Gonçalves Resumo: Este artigo discute alguns resultados da pesquisa ‘Constituição das doenças da docência’, desenvolvida entre junho de 2007 e outubro de 2009, cujo objetivo foi analisar a relação entre o processo de trabalho e o mal-estar docente em escolas públicas municipais da cidade de Pelotas/RS. A pesquisa teve uma dimensão quantitativa que, valendo-se do programa estatístico SPSS 13.0, analisou dados funcionais e médicos do professorado; e uma dimensão qualitativa, na qual foram entrevistadas professoras que tiraram licença de saúde entre 2006-2007. Os dados foram comparados com a literatura nacional e internacional. Conclui-se que as condições de trabalho e as formas de tratamento do poder público contribuem para o crescimento de problemas de saúde na categoria. Soma-se a isso uma imagem idealizada das professoras sobre o sentido e o significado de seu trabalho; imagem cujo componente básico é a ideia de sacrifício como constituinte da profissão. Os efeitos dessa realidade têm provocado a disseminação do uso de medicamentos na categoria e aumentado os riscos sobre a saúde de cada professora. A medicação 1 Pesquisa Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Cadernos de Educação | FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [37]: 303 - 324, setembro/dezembro 2010

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Constituição das doenças da docência

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  • Constituio das doenas da docncia1

    Jarbas Santos Vieira Maria Manuela Alves Garcia

    Maria de Ftima Duarte Martins Leomar Eslabo

    Aline Ferraz da Silva Vera Gainssa Balinhas

    Carmem Lucia da Rosa Fetter Vanessa Bugs Gonalves

    Resumo: Este artigo discute alguns resultados da pesquisa Constituio das doenas da docncia, desenvolvida entre junho de 2007 e outubro de 2009, cujo objetivo foi analisar a relao entre o processo de trabalho e o mal-estar docente em escolas pblicas municipais da cidade de Pelotas/RS. A pesquisa teve uma dimenso quantitativa que, valendo-se do programa estatstico SPSS 13.0, analisou dados funcionais e mdicos do professorado; e uma dimenso qualitativa, na qual foram entrevistadas professoras que tiraram licena de sade entre 2006-2007. Os dados foram comparados com a literatura nacional e internacional. Conclui-se que as condies de trabalho e as formas de tratamento do poder pblico contribuem para o crescimento de problemas de sade na categoria. Soma-se a isso uma imagem idealizada das professoras sobre o sentido e o significado de seu trabalho; imagem cujo componente bsico a ideia de sacrifcio como constituinte da profisso. Os efeitos dessa realidade tm provocado a disseminao do uso de medicamentos na categoria e aumentado os riscos sobre a sade de cada professora. A medicao

    1 Pesquisa Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq)

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    funciona pedaggica e administrativamente como mais um mecanismo de controle sobre o trabalho docente. Palavras-chave: trabalho docente, mal-estar docente; medicamentao; controle

    Constitution of the teaching dieseases

    Abstract: This article discusses some of the results presented in the research Constitution of teaching diseases, developed between June 2007 and October 2009, which objective was to analyze the relationship between the work process and malaise teaching in public schools in the city of Pelotas/RS. The study was part quantitative; when it was used the statistical program SPSS 13.0 to analyze employment and health data of teachers. It also had a qualitative dimension when teachers who have taken health license during 2006-2007 were interviewed. Data were compared with both national and international literature. It is possible to conclude that working conditions and the way public power treats education contribute to increase health problems in this category. In addition, teachers carry an idealized image about meaning and significance of their work, representing the idea of sacrifice as a basic component of the profession. The effects of it are the dissemination of medicine usage by the category and increasing risks to each teacher health. Medication works pedagogically and administratively as another control mechanism over teaching work. Keywords: teaching work; teacher malaise; medication; control

    Constituio das doenas da docncia

    Neste trabalho, apresentamos alguns resultados da pesquisa Constituio das doenas da docncia (docenas), que analisou as relaes entre o processo de trabalho e o mal-estar docente das professoras que atuam em escolas da rede pblica municipal da cidade de Pelotas/RS. Realizada entre junho de 2007 e outubro de 2009, com dados mdicos e funcionais dos anos de 2006-2007, e valendo-se de entrevistas semi-estruturadas realizadas nos anos de

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    2008-2009 com professoras que tiveram problemas de sade no perodo, discutimos aspectos, dimenses e elementos do processo de trabalho que geram o chamado mal-estar docente, mal-estar esse que acaba gerando doenas ocupacionais, desestmulos carreira do magistrio ou, no limite, jogando as professoras em prticas rotinizadas e desmotivadoras de inovaes ao processo educativo.

    As fontes de anlise foram as seguintes: (I) documentao da Biometria Mdica da Secretaria Municipal de Sade e as fichas funcionais do professorado obtidas junto Secretaria de Administrao. Nesses documentos, identificamos os tipos de licenas solicitadas pelo professorado, tempo mdio de afastamento da sala de aula e/ou da escola, formas de tratamento indicadas, alm do perfil do professorado da rede; (II) entrevistas com professoras que obtiveram licenas de sade no perodo estipulado pela pesquisa.

    Estudos sobre educao e processo de trabalho docente

    A partir da dcada de noventa do sculo XX, o debate sobre o processo de trabalho docente vem sendo redimensionado na perspectiva de analisar a produo de controle inspirada pelos novos modelos de gesto empresarial. No caso brasileiro, rapidamente migramos de uma concepo de educao como direito para uma concepo de educao como servio. E, assim, a educao vem transformando-se em um negcio e, como tal, sua administrao deve conter ingredientes empresariais. Nesta operao, a natureza do trabalho docente alterada: o pragmatismo e o utilitarismo do o tom da cultura escolar, do currculo e do ensino, agora alinhados s necessidades do mercado. Trata-se de um controle interpelador que atinge o professorado, ferindo sua autonomia e sua capacidade de concepo, afetando tambm sua integridade fsica e emocional, com efeitos, inclusive, sobre a identidade do professorado.

    A identidade docente e tudo aquilo que implica seu maior ou menor bem-estar negociado entre mltiplas representaes do

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    que ser professor, dentre as quais as polticas estabelecidas pelo discurso educacional oficial. Esse discurso fala da gesto dos docentes e da organizao dos sistemas escolares, dos objetivos e das metas do trabalho educativo; fala tambm dos modos pelos quais so vistos ou falados os docentes; dos discursos que os veem e atravs dos quais eles se veem, produzindo uma tica e uma determinada relao com eles mesmos, que constituem a experincia que podem ter de si prprios (ANADON e GARCIA, 2004). Como diz Martin Lawn (2001), a gesto da identidade profissional dos docentes uma tarefa central no governo e na conduo do sistema educacional e escolar de uma nao.

    Na ltima dcada, por exemplo, o professorado tem sido apontado como grande responsvel pelo fracasso do sistema escolar pblico. Esse discurso vem interpelando os docentes, principalmente da escola pblica de Ensino Fundamental e Mdio (ANADON e GARCIA, 2004; HYPOLITO et al., 2002), produzindo uma demanda que justifica as polticas de formao e certificao profissional propostas. Interessa destacar que esse processo est diretamente implicado com a intensificao do trabalho docente, e isso tem implicaes importantes sobre a sade do professorado. Alm disso, o fato de a categoria ser predominantemente feminina influencia os modos como as professoras tm seu trabalho intensificado, suas formas de resistncia, os sentidos que atribuem ao que fazem e como lidam com as demandas das polticas educacionais oficiais nos contextos em que exercem seu trabalho.

    A natureza dos cuidados que historicamente tem caracterizado a educao, principalmente elementar que vai muito alm de uma educao meramente instrumental faz parte das autoimagens de docncia de muitas professoras, aspecto que tem sido estrategicamente utilizado pela retrica oficial de modo a semear a culpa e a autorresponsabilizao das docentes pelos resultados e pelas condies nas quais desenvolvem o seu trabalho.

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    Esse quadro reforado pela proliferao de falas de especialistas, polticos e outros agentes sociais sobre a docncia e a educao escolar. Todos esses discursos e agentes disputam o perfil profissional necessrio aos novos tempos. Nesse movimento, objetivos mais instrumentais vieram adquirindo relevncia em pocas em que o desemprego em massa atinge parcelas significativas da populao brasileira.

    A legislao, os programas, as novas exigncias em termos de qualificao profissional, entraram no dia a dia das professoras criando ansiedades e expectativas, impelindo-as a assumirem novos papis. s escolas em pssimas condies fsicas, s precrias condies de trabalho, jornada de trabalho extenuante e aos problemas sociais vivenciados pelas professoras em suas escolas e salas de aula somaram-se novas tarefas, atividades e responsabilidades, fundamentadas em um aparente discurso profissional, tico, comprometido com a formao dos sujeitos sociais. Termos como cidadania, qualidade de ensino, compromisso social, doao, empenho, comprometimento docente e relao dialgica vm sendo colonizados2 no interior dos discursos das polticas educacionais oficiais, interpelando as professoras em suas imagens e autoimagens.

    medida que esses conceitos alteraram alguns aspectos da educao, criando novas exigncias ao processo de trabalho e outras demandas para a docncia, houve o aprofundamento da intensificao do trabalho, pelo menos sob dois aspectos: a 2 Utilizamos o termo colonizao de emprstimo a Hargreaves (1998, p.121), para representar o processo pelo qual os administradores absorvem ou colonizam o tempo e os espaos dos professores com os seus prprios propsitos, tratando de ocupar objetivamente o tempo dos docentes com tarefas e atribuies demandadas pelas instncias administrativas e relacionadas ao ensino e gesto dos currculos e da escola, motivados por questes relacionadas a produtividade e controle. Essas formas de colonizao tm utilizado especialmente a vigilncia direta e o controle burocrtico dos/as professores/as a fim de garantir a efetiva utilizao produtiva do tempo de trabalho.

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    intensificao pela ampliao das demandas profissionais na vida das professoras, impelidas desde uma perspectiva administrativa e burocrtica; e a autointensificao, pela explorao do sentimento de profissionalismo das professoras, e de suas autoimagens, calcadas no cuidado e no zelo. Essa intensificao tem relao direta com o mal-estar docente.

    As professoras esto sendo pressionadas e estimuladas a se responsabilizarem pela qualidade na educao de forma tal que passam a acreditar que, caso no repensem o seu ser e o seu fazer, estaro comprometendo o sucesso dos sujeitos que educam, tanto quanto o prprio desenvolvimento da nao (ANADON & GARCIA, 2004).

    No caso brasileiro, preciso considerar que em funo do acirrado processo de desvalorizao salarial, a grande maioria do professorado tem aumentado sua jornada de trabalho na tentativa de melhorar rendimentos que lhes deem minimamente condies de sobrevivncia. Esta combinao entre sobrecarga de atribuies e aumento nas horas trabalhadas contribui para o crescente adoecimento das professoras.

    Processo de trabalho docente e a sndrome de burnout

    A sndrome de burnout3 tem sido objeto de estudos e pesquisas nos ltimos anos e de grande preocupao dos sindicatos, legisladores, governos etc., em funo da quantidade de licenas de sade entre o professorado, contribuindo para o absentismo e acarretando problemas de vrias ordens no cotidiano das escolas.

    O termo burnout aparece na literatura cientfica a partir da dcada de 70, quando comearam a ser construdos modelos tericos e instrumentos capazes de registrar este sentimento crnico

    3 A palavra burnout a composio de duas palavras: burn (fogo) o que queima e out exterior.

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    de desnimo, de apatia e de despersonalizao (CODO, 2002). Na lngua portuguesa, equivale a Sndrome do Esgotamento (Lei 3048/99 sobre a sndrome da doena do trabalho). A Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados Sade (CID -10 dcima reviso, 1998) classifica no grupo V como Z.73, o estado de exausto vital relacionado ao trabalho; Z.56, problemas relacionados com o emprego e o desemprego; Z.57, exposio ocupacional a fatores de risco.

    A Sndrome envolve trs dimenses: desperso-nalizao (sentimento de indiferena), reduzida realizao profissional (sentimento de insuficincia e fracasso profissional) e exausto emocional (senti-mento de esgotamento tanto fsico como mental, sentimento de no dispor de energia para qualquer tipo de atividade) (MASLACH & JACSON, 1981).

    O uso do termo burnout, quando estudado em relao ao magistrio, passa a ser denominado de mal-estar docente. Esteve (1999) usou a classificao estabelecida por Blas (ESTEVE, 1999) para ordenar os possveis fatores que configurariam a presena do mal-estar docente. O autor distingue entre fatores primrios e fatores secundrios. Os primeiros referem-se aos que incidem diretamente na ao da professora em sala de aula, gerando tenses associadas a sentimentos e emoes negativas. Os fatores secundrios referem-se s condies ambientais, ao contexto em que exerce a docncia. A ao desse grupo de fatores indireta, afeta a eficcia docente ao promover uma diminuio da motivao do professor no trabalho, de sua implicao e seu esforo.

    O estresse designa o que acontece em nosso organismo diante de determinadas situaes, funcionando como um sinal de alerta. Esteve (1999) utilizou o termo estresse referindo-se ao estresse considerado como uma consequncia do mal-estar docente que, ao conduzir o indivduo a uma situao de esgotamento, pode

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    desenvolver efeitos patognicos. Neste sentido, o termo tambm utilizado pelo informe da Organizao Internacional do Trabalho (OIT, 1981) ao afirmar que os sintomas mais frequentes entre os educadores so um sentimento de esgotamento e de frustrao ou de extrema tenso. No plano mental, um estresse permanente pode desembocar em uma depresso e em uma ansiedade geral.

    O mal-estar docente envolve, assim, atitudes e condutas negativas com relao aos usurios, aos clientes, organizao e ao trabalho. uma experincia subjetiva, envolvendo atitudes e sentimentos que vm acarretar problemas de ordem prtica e emocional aos docentes e s escolas. Atualmente, o professorado se depara com a necessidade de desempenhar vrios papis, muitas vezes contraditrios, somados conjuno de diversos fatores sociais e psicolgicos presentes na situao em que exerce a docncia. Assim, est produzindo o que Blas (Esteve, 1999, p.57) chamou de um ciclo degenerativo da eficcia docente, interpretado como o mal-estar docente. O esgotamento apareceria como consequncia deste mal-estar, termo que viria a designar o conjunto de consequncias negativas que afetariam o professor a partir da ao combinada das condies psicolgicas e sociais em que se exerce a docncia.

    Associada a esta forma de se relacionar, que se manifesta diretamente no trabalho e na relao com os estudantes, a dinmica psquica do indivduo tambm vai sofrendo alteraes (CODO, 2002). Assim, a dificuldade em lidar com a afetividade se traduz numa lgica mais depressiva em contraste com aquele perfil eufrico do incio da carreira.

    O estudo de Carvalho (2002) apontou onze motivos causadores do mal-estar docente: 1) enfrentam uma gama constante de presses das crianas, dos colegas, dos pais, dos polticos e administradores, muitas delas conflitantes, quase impossveis de serem atendidas; 2) os professores tm o desafio contnuo de manter o controle da classe; 3) no tm limites claros de horrio de

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    trabalho; 4) boa parte de seu trabalho levada para casa; 5) esto abertos a crticas de inspetores, pais, diretores, meios de comunicao e polticos; 6) no dispem de recursos e oportunidades suficientes para reciclagem regular e ampla de seus conhecimentos; 7) paradoxalmente, espera-se que se mantenham atualizados com novos formatos e novos desenvolvimentos em sua matria de ensino; 8) dependendo do diretor, podem ter pouca voz ativa na administrao da escola e na tomada de decises; 9) tm seu prprio senso de padres profissionais e sofrem frustraes decorrentes de no conseguir alcan-los; 10) tm o campo limitado para buscar conselhos ou discutir dificuldades com os colegas; 11) tm dificuldade de lidar com mudanas.

    As repercusses psicolgicas do mal-estar docente, de acordo com Esteve (1999), percorrem uma ampla escala dividida em, pelo menos, doze nveis: 1. Sentimentos de desconcerto e insatisfao ante os problemas reais da prtica do magistrio, em franca contradio com a imagem ideal do mesmo que os professores gostariam de realizar. 2. Desenvolvimento de esquemas de inibio, como forma de cortar a implicao pessoal no trabalho realizado. 3. Pedidos de transferncia como forma de fugir das situaes conflitivas. 4. Desejo manifesto de abandonar a docncia (realizado ou no). 5. Absentismo trabalhista como mecanismo para cortar a tenso acumulada. 6. Esgotamento. Cansao fsico permanente. 7. Ansiedade como trao ou ansiedade de expectativa. 8. Estresse. 9. Depreciao do ego. Autoculpabilizao ante a incapacidade para melhorar o ensino. 10. Ansiedade como estado permanente, associada como causa-efeito a diversos diagnsticos de doena mental. 11. Neuroses reativas. 12. Depresses.

    No Brasil, de acordo com Gasparini et al. (2006), as transformaes na organizao do trabalho docente como as novas exigncias e as competncias requeridas modificam a atividade de ensinar e, por no proverem os meios compatveis, criam uma sobrecarga de trabalho. O volume de trabalho e a precariedade das

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    condies existentes, a diversidade e a complexidade das questes presentes na sala de aula e, ainda, uma expectativa social de excelncia, podem estar na origem de queixas e adoecimento mental na categoria.

    Resultados

    A rede pblica municipal de Pelotas possu 82 escolas, concentrando a maioria de suas docentes entre 1 e 5 srie do Ensino Bsico. Em termos percentuais, os anos iniciais detm 84,7% das professoras. J o Ensino Mdio detm apenas 2,7% e a Educao Infantil 9%, com 209 professoras.

    A Secretaria Municipal de Educao possua, nos anos 2006-2007, um total de 2334 matrculas de professores. Destes, 496 possuam duplo registro. Do quadro total de docentes, 1230 matrculas foram responsveis por 4642 afastamentos por questes de sade.

    Considerando o total de matrculas que constituem o estudo, a mdia de idade do professorado de 42 anos, sendo 44 anos a idade de maior frequncia. Considerando o agrupamento etrio por perodos de 10 anos, 68% das docentes tm idade entre 31 e 50 anos, assim dividida: entre 31-40 anos 30,2% e 41-50 anos 38,4%.

    Confirmando muitos outros estudos, tambm a rede de Pelotas apresenta uma esmagadora maioria de professoras, perfazendo 89,5% das matrculas. Trata-se, sem dvida, de uma rede feminizada. Como consequncia dessa esmagadora maioria, o nmero de matrculas identificadas como do sexo feminino que tirou licena de sade totalizou 90% dos dados.

    Quanto escolaridade, trata-se de uma categoria com predominncia de docentes de nvel superior, sendo 68,6% com curso de graduao e 17,5% com ps-graduao.

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    Do total de matrculas, 90,04% trabalham 20h/semanais e 9,2% 40 horas/semanais. Apenas 0,5% das docentes trabalham 30 horas/semanais.

    Quanto ao regime de trabalho, a maioria das professoras concursada (estatutrias), perfazendo um total de 85,6% contra 11,4% de celetistas e 3% de contratos administrativos.

    Em relao situao marital, existe uma equivalncia estatstica entre docentes casados ou com unio estvel e no casados em situaes diversas. As matrculas que no acusam a existncia de situao matrimonial totalizam 50,3%, e aquelas que registram situao matrimonial ou de unio estvel representam 49,7%.

    Para efeito estatstico, desconsideramos os afastamentos referentes ao primeiro contato com os servios de sade, considerada no Captulo XXI do CID como Fatores que influenciam o estado de sade e o contato com os servios de sade (Z00-Z99). Assim, identificamos as doenas que mais afastaram as professoras das escolas: doenas do aparelho respiratrio (J00-J99), transtornos mentais e comportamentais (F00-F99), doenas do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99), doenas do aparelho digestivo (K00-K93) e doenas do aparelho geniturinrio (N00-N99), que perfazem um total de 65,04% dos afastamentos.

    Anlises quantitativas a partir de cruzamentos de variveis

    Foram cruzadas as licenas de sade do professorado em relao ao gnero, nvel de atuao, jornada de trabalho, regime de trabalho, etnia/raa, faixa etria, estado civil, tempo de trabalho e nvel de escolaridade e atuao do professorado. A seguir, apresentamos alguns resultados.

    As professoras das Escolas de Educao Infantil so as que mais licenas de sade tiraram no perodo da pesquisa.

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    Quanto ao gnero, foram as professoras que tiraram mais licenas de sade do que os professores, apresentando um alto grau de significncia (,000).

    Em relao jornada de trabalho, as docentes que trabalham 200 horas por ms tiraram mais licenas de sade no perodo. Quanto ao regime de trabalho, so as docentes concursadas aquelas que mais licenas de sade tiraram.

    No encontramos relao significativa entre licenas de sade e raa/etnia. O mesmo pode ser dito na relao entre estado civil e licenas de sade. Para fins estatsticos, agrupamos todas as docentes que no indicavam a existncia de casamento ou unio estvel, permitindo ento testarmos a hiptese de que a existncia de uma relao estvel teria relao com os pedidos de licena de sade. Nessa medida, foram agrupados, por um lado, solteiras, divorciadas, separadas judicialmente, desquitadas e vivas e, por outro, casadas ou com unio estvel. Este cruzamento indicou que o fato de ter uma relao estvel no est associado com as licenas de sade.

    Seguindo o ciclo de vida dos professores criado por Hubermann (1992), constatamos que 57,2% das docentes que tiraram licenas de sade esto na faixa de at 7 anos de trabalho no magistrio, o que, segundo o autor, corresponde ao incio de carreira. Entretanto, no significativa a relao entre tempo de servio e licenas de sade.

    Anlises qualitativas a partir das entrevistas com professoras

    Condies e o processo de trabalho so fatores de adoecimento das professoras

    As condies de trabalho que as professoras experimentam so bastante precrias, o que lhes exige difceis negociaes para viabilizar seu ofcio. Negociaes que, geralmente, acabam impondo-lhes grandes doses de improvisao e de criatividade para que o

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    ensino possa se processar minimamente, muito mais como uma forma de atenuar as circunstncias do trabalho cotidiano do que de melhorar a qualidade da educao. Algumas docentes chegam, inclusive, a comprar materiais com recursos prprios ante a falta e/ou baixa qualidade do material fornecido pela prefeitura. Essa realidade tambm se apresenta pelo constante uso de materiais reciclados, geralmente trazidos pelas prprias professoras ou solicitados aos alunos e alunas.

    Em seus discursos, nota-se uma espcie de sentimento de impotncia diante das inmeras faltas que experimentam cotidianamente, naturalizando a ideia de sacrifcio como componente inextrincvel da educao. Soma-se a isso uma srie de discursos governamental, miditico, especializado que se derrama sobre o "ser" do professor como uma pessoa que deve dedicar-se, sempre, e cada vez mais, elevao da qualidade da educao, melhoria do futuro de suas alunas e alunos, melhoria do futuro do pas, independentemente das condies de trabalho.

    As professoras desta pesquisa parecem aceitar como naturais as adversidades das condies de trabalho, no sem queixas, no sem reconhecerem uma dose de desprezo para com seu ofcio, mas com um certo conformismo diante de tal realidade. Esse conformismo implica a intensificao de seu processo de trabalho, traduzida na hipertrofia de funes e nas longas jornadas de trabalho, dentro e fora das escolas, o que pode ter efeitos perversos para sua integridade fsica e emocional.

    Nessas condies de trabalho, as professoras tentam suprir as necessidades materiais e simblicas dos alunos e da prpria escola a partir de recursos de que dispem e, ao mesmo tempo, amparando-se nas relaes sociais que estabelecem com as colegas. No primeiro caso, no h como meta a melhoria das condies, mas somente uma tentativa viabilizar o dia a dia da sala de aula e da escola. No segundo caso, este amparo e apelo a uma espcie de coleguismo e cumplicidade entre os pares, tira do foco a crtica institucional e a

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    possibilidade de aes mais efetivas polticas junto prefeitura para melhorar as condies de trabalho. Tanto num caso quanto no outro as aes so individualizantes, de carter compensatrio, portanto, despolitizadas. Dessa forma, a precariedade se torna naturalizada no dia a dia da escola, podendo comprometer a sade das professoras.

    As expectativas das professoras e suas relaes com o adoecimento

    As professoras mostram que suas expectativas vo sendo desmanchadas pelas escassas respostas e pouca satisfao na execuo das atividades educativas, assim como na transformao das condies de trabalho, e mesmo pela imperceptvel ou quase inexistente mudana da realidade das crianas e dos jovens com quem diariamente tm contato. A frustrao e as angstias so certamente fatores de desconforto e de adoecimento das entrevistadas.

    Os depoimentos mostram a precariedade de recursos materiais e simblicos de grande parte das crianas e jovens. Esse mergulho cotidiano nessas outras vidas no lhes permite cruzar os braos, mas fazer qualquer coisa ou muitas coisas. Nesse cuidado com o outro, muitas adoecem, olham pouco para as condies da sua profisso as condies nas quais exercem sua profisso.

    Os discursos que constituem a docncia so marcados por um desejo de ajudar e transformar a vida dos estudantes de uma forma quase religiosa e maternal, mas talvez no menos construdos pelas polticas educacionais, pelas orientaes miditicas, pelas experincias familiares, pela construo da profisso docente.

    A forma como os discursos do ser professora so legitimados e passam a ser aceitos e recomendados parecem fazer parte do jogo de interesses da razo governamental dos nossos tempos, dentro de uma racionalidade que captura a subjetividade e as crenas das professoras. Esses interesses so estratgicos, compem os jogos de

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    poder, as prticas sociais, culturais, econmicas, fazem parte do tecido social dos controles e das transgresses.

    As racionalidades polticas do nosso tempo constituem-se de valores morais, produes culturais que se contrapem e, ao mesmo tempo, negociam com a frieza do mercado e sua prevalncia econmica o jogo de interesses envolve a todos e a tudo, mas no do mesmo modo. Os interesses no esto postos somente no lado das racionalidades governamentais, de suas tticas e estratgias, mas tambm do lado das escolhas e do sacrifcio que no somente abandono de si, mas talvez tambm doao e idealismo.

    Muitas professoras so capturadas por formas de agir, sentir e pensar que as tornam as nicas responsveis pelo processo educativo, pelas condies de trabalho, pela ineficincia do sistema pblico, cabendo-lhes a tarefa de militar pela educao, uma conduta balizada pela autoexigncia, pelo autoinvestimento na tarefa de educar.

    O sacrifcio como abandono de si e renncia marca as representaes da profisso docente que circulam na sociedade: trabalhar sem condies fsicas e emocionais faz parte da doao diria e da luta que professoras precisam fazer para demonstrar sua vocao, seu valor e conquistar o reconhecimento da comunidade. Como argumenta uma entrevistada: Eu acho que uma luta, da gente mostrar quem que est aqui e o que a gente est fazendo aqui, o que a gente quer. Acho que nosso objetivo esse.

    A palavra vocao tambm tem sido enfatizada e usada como contrapeso/compensao para a precariedade das condies de trabalho das professoras, sua renda insuficiente e a no valorizao profissional. Todavia, quando se trata de outras profisses, a vocao no significa aceitar ou submeter-se a uma inadequada remunerao.

    O discurso vocacional e as posturas pastorais parecem ter relao com as representaes que se movimentam na sociedade, com discursos que repetem incansvel e tediosamente: A profisso

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    vocao. Professoras exercem a docncia porque gostam se quisessem salrios melhores, deveriam procurar outra profisso. Ganham pouco, mas tm dois meses de frias (Entrevista com o Promotor do municpio de Pelotas publicada no jornal Dirio Popular em 2009).

    Medicamentao das professoras

    Medicamentao a relao entre a adequao das professoras s situaes conflituosas do seu ofcio e as tentativas de atenuar os efeitos prejudiciais dessas condies sobre a sua sade, atravs do consumo de medicamentos. As docentes tentam, atravs de medicao, prescritas ou acessadas com facilidade nas prateleiras das farmcias, modos de aliviar os problemas que a atividade laboral vem trazendo sade.

    Pesquisas no campo educacional (CODO, 2002; ESTEVE, 1999) tm mostrado que professoras vm perdendo a vontade e o prazer em exercer a docncia e, com o passar do tempo, o desgaste tem conduzido grande parte das profissionais a estranhar seu lugar de trabalho, seus colegas, seus estudantes e sua profisso. Nesse sentido, o consumo de medicamentos torna-se uma busca pelo reequilbrio e readaptao diante das intensas exigncias das atividades educativas, as inmeras demandas e a falta de suporte social.

    Professoras buscam, nos medicamentos prescritos ou escolhidos nas farmcias, mais que aliviar as dores do corpo, frmulas que produzam disposio e energia para enfrentar a rotina diria, no somente na escola, mas em casa e em outros espaos sociais que atravessam a profisso docente e a vida privada. Isso marca fortemente a linguagem de uma entrevistada: o pessoal diz: eu vou sair [sair da escola, do magistrio] o pessoal vive tomando antidepressivo e [dizem, repetem] amanh eu vou sair (Professora Educao Infantil).

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    Medicamentao ento se configura como um elemento presente no processo pedaggico e administrativo das escolas, assim se constituindo em mais um dispositivo de controle do professorado. Frente ao um conjunto de preocupaes e desgastes fsicos e emocionais no trabalho h uma mudana da conduta das professoras, levando-as a adotar medidas emergenciais que reorganizem as emoes, os sentimentos de inadequao e as desordens do corpo para lidar rapidamente com as demandas do cotidiano.

    A medicamentao tambm mantm um estreito vnculo com a ideia do magistrio como sacrifcio abandono e renncia de si haja vista que algumas professoras dispensam licenas de sade ou mesmo adiam cirurgias para finalizar o ano letivo, fechar as notas, enfim cumprir as obrigaes com colegas de trabalho e com seus alunos, tornando a medicao um componente cada vez mais constituinte do processo de trabalho.

    Percebe-se a criao de um ciclo que se pode chamar de ciclo da medicamentao, no qual as drogas so usadas para aliviar os sinais causados pela profisso, para que as professoras possam permanecer nessa atividade que continuar a exigir delas cada vez mais, causando novas necessidades de medicao.

    Existe tambm a cumplicidade com as colegas de trabalho, que serve como suporte para as dificuldades e angstias das professoras. No cotidiano das escolas e das salas de aula, elas encontram apoio nas colegas para substituies e trocas de horrios. Se, por um lado, as condies de trabalho so efetivamente geradoras do mal-estar docente, a solidariedade entre pares serve de atenuante. Entretanto, em todas as escolas, mesmo nas mais solidrias, encontra-se o largo consumo de medicamentos, em especial para tratar questes de fadiga e de depresso, o que indica uma categoria com forte probabilidade de adoecimento.

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    Concluso

    Este artigo mostrou um quadro bastante preocupante quanto sade do professorado da rede pblica municipal de Pelotas. Muitos aspectos, dimenses e elementos do processo de trabalho docente esto gerando mal-estar no professorado, colocando em risco sua profisso e sua sade. Se no, vejamos: as dinmicas cotidianas desenvolvidas pelo professorado em sala de aula e nas escolas encontram um local de trabalho com poucos recursos e escasso apoio material e didtico-pedaggico. Isso tem exigido um enorme sacrifcio por parte das professoras para que a educao se viabilize minimamente. Nessa medida, no so poucos os discursos ouvidos quanto ao carter de sacrifcio que envolve o ato educativo, compreendido quase como uma misso sagrada e, ao mesmo tempo, largamente desprestigiada pela sociedade e pelos diferentes governos.

    Sem dvida que nessas condies materiais e simblicas a sade do professorado tende a ser afetada. No caso da rede municipal, encontramos um conjunto de doenas que se destacam como causas de licenas de sade no professorado: doenas do aparelho respiratrio, transtornos mentais e comportamentais e doenas do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo. Se no podemos atribuir diretamente problemas do aparelho respiratrio ao processo de trabalho, tambm no podemos ignorar as condies das escolas, em geral instaladas em prdios (mal) adaptados e com precria manuteno, tornando o ambiente de trabalho, no mnimo, problemtico para a sade das docentes e dos/as estudantes. J os transtornos mentais e comportamentais esto bastante relacionados ao processo de trabalho e s condies de apoio e de infraestrutura que o professorado recebe. Ou seja, as condies materiais, a intensificao do trabalho e a hipertrofia de funes que as docentes precisam desempenhar esto contribuindo fortemente para deteriorao de sua sade. Tais questes parecem ausentes das

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    preocupaes do governo local, haja vista que no foi encontrado nenhum tipo de apoio ou poltica dirigida s questes de sade e de bem-estar do professorado, o que parece ser regra em muitos sistemas educacionais do Brasil e da Amrica Latina.

    No possvel que aceitemos que a doena se instale como um componente natural do processo de trabalho docente. No possvel aceitarmos a naturalizao do sacrficio como ethos da profisso.

    Nessas condies, aumenta o sacrifcio de muitas professoras, at um limite em que a doena se instala ou o distanciamento emocional do trabalho se impe como uma forma de autopreservao. Como tratar isso como irresponsabilidade ou mentira, como sugerem algumas autoridades? Como olhar isso do ponto de vista jurdico e ignorar as dimenses polticas e de sanidade que esto envolvidas nesse processo? Como no ver que as escolas esto funcionando mais por abnegao de seus agentes do que por efetivo apoio e investimento do poder municipal?

    O mestre da renncia de si, do sacrifcio pelo outro, marcam as representaes do ofcio de professor na sociedade - trabalhar sem condies fsicas e emocionais faz parte da doao diria e da luta das professoras. Assim, acham que demonstram sua vocao e seu valor para conquistar o reconhecimento da comunidade.

    Entretanto, todo esse sacrifcio tem efeitos mais perversos do que se pode imaginar. Um deles a medicamentao das professoras, aqui entendida como jogo de relaes entre a emergncia em adequarem-se s situaes educacionais conflituosas e pouco favorveis a que esto sujeitas no seu ofcio e as tentativas de atenuar os efeitos prejudiciais dessas condies sobre a sade, atravs do consumo de medicamentos.

    No so poucos os discursos que acusam as docentes de toda sorte de deficincias e at de falta de tica. Entretanto, no possvel ignorar que dados como esses, obtidos em documentos oficiais da prefeitura e em entrevistas com professoras da rede, apontam para um problema

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    que no pode ser reduzido a uma questo moral. Certamente que a sociedade, os gestores da educao e o prprio professorado precisam discutir abertamente a respeito das condies materiais (inclusive salariais), simblicas e pedaggicas nas quais a educao vem sendo processada no municpio (e no Brasil). Do mesmo modo, no possvel que a sociedade, os gestores da educao e o professorado ignorem o imaginrio que ativamente vem sendo construindo sobre o significado da educao e o consequente processo de desautorizao que a docncia e as prprias escolas esto sofrendo. Como alerta Gimeno Sacristn (2008), os discursos governamentais e miditicos ressaltam a importncia da educao e dos professores para o desenvolvimento das pessoas, da cultura e da sociedade. Entretanto, trata-se muito mais de retrica do que um tratamento justo que implique, na prtica, reconhecimento e valorizao pelo seu trabalho. E conclui o professor espanhol dizendo que, nesta tica, a funo de educar muito importante, mas as figuras que o desempenham nem tanto.

    Referncias

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    Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados Sade (CID -10, dcima reviso, 1998)

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    Jarbas Santos Vieira doutor em Educao e professor associado na Universidade Federal de Pelotas, atuando na Faculdade de Educao e em seu Programa de Ps-Graduao em Educao (Mestrado e Doutorado).

    E-mail: [email protected]

    Maria Manuela Alves Garcia doutora em Educao e professora associada na Universidade Federal de Pelotas, atuando na Faculdade de Educao e em seu Programa de Ps-Graduao em Educao (Mestrado e Doutorado).

    Maria de Ftima Duarte Martins doutora em Psicologia e professora adjunta na Universidade Federal de Pelotas, atuando na Faculdade de Educao e em seu curso de Especializao em Educao.

    Leomar Eslabo mestre em Educao, professor no Instituto Federal de Educao Pelotas/RS e doutorando do Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Pelotas.

    Aline Ferraz da Silva mestre em Educao, professora na Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul e doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Pelotas.

    Vera Gainssa Balinhas mestre em Educao, professora da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul e doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Pelotas.

    Carmem Lcia Fetter pedagoga formada pela Faculdade de Educao da Universidade Federal de Pelotas.

    Vanessa Bugs Gonalves graduanda de Pedagogia da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Pelotas.

    Recebido em abril de 2010

    Aceito em agosto de 2010