PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

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AN02FREV001/REV 4.0 45 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA.

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

MÓDULO II

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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MÓDULO II

5 ESQUIZOFRENIA INFANTIL

Não existe um quadro típico de esquizofrenia da infância. Trata-se

daquela que surge sob a base de uma personalidade em desenvolvimento.

Assim, os sintomas desta sofrem modificações em sua expressão clínica em

função do grau da evolução do aparelho psíquico da criança, bem como do

acesso do clínico ao sofrimento infantil por meio do exame mental.

5.1 HISTÓRICO

À luz da importante obra de Bleuler (1968) sobre as Esquizofrenias,

Potter (1933) descreveu um novo quadro psicopatológico, a Esquizofrenia

Infantil. Segundo o autor, as crianças, assim como os adultos, rompem

repentinamente o contato com a realidade, depois de um período de

desenvolvimento normal, e preservam uma vida interior fantasiosa e criativa,

porém privada e isolada.

Com os trabalhos posteriores de Bender (1947), Bradley (1941), e, em

especial, Léo Kanner (1954) – autor da Síndrome do Autismo Infantil Precoce –

a noção de autismo na vida infantil ganhou outra significação. Kanner, em

particular, estabeleceu uma distinção importante entre a Esquizofrenia Infantil e

o Autismo

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Infantil Precoce. Segundo ele, na Esquizofrenia Infantil o rompimento

com a realidade ocorre de forma insidiosa depois do terceiro ano de vida e é

acompanhado de pensamentos autísticos.

TABELA 1 – SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA INFANTIL

Emil Kraepelin Eugen e Manfred Bleuler

Alterações da vontade (perda do elã vital,

negativismo, impulsividade, etc.);

Embotamento afetivo;

Alterações da atenção e da compreensão;

Transtorno do pensamento, no sentido de

associações frouxas;

Alucinações, especialmente auditivas;

Sonorização do pensamento;

Vivências de influência sobre o

pensamento;

Evolução deteriorante (83% dos casos),

no sentido de um embotamento geral da

personalidade.

Alterações formais do pensamento, no

sentido de afrouxamento até dissociação

das associações;

Ambivalência afetiva – afetos contraditórios

vivenciados intensamente ao mesmo

tempo;

Autismo, como tendência a um isolamento

psíquico global em relação ao mundo, um

“ensimesmamento” radical;

Dissociação ideoafetiva, desarmonia

profunda entre as ideias e os afetos;

Evolução muito heterogênea, podendo em

muitos casos apresentar evolução benigna.

Karl Jaspers Kurt Schneider

Ideias delirantes primárias, não deriváveis

ou compreensíveis psicologicamente;

Humor delirante precedendo o delírio;

Alucinações verdadeiras primárias;

Vivências de influência, vivências do

“feito”;

Ocorrência ou intuição delirante;

Ocorre quebra na curva existencial,

instauram-se surtos ou o processo

insidioso que transforma radicalmente a

existência do doente.

Percepção delirante;

Vozes que comentam a ação;

Vozes que comandam a ação;

Eco ou sonorização do pensamento;

Difusão do pensamento;

Roubo do pensamento;

Vivências de influência no plano ideativo,

afetivo, volitivo e corporal.

FONTE: Dalgalarrondo, 2000.

5.2 DEFINIÇÃO

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A esquizofrenia com início na infância é um transtorno incomum e o

início na pré-puberdade é extremamente raro. Os critérios diagnósticos de

esquizofrenia são semelhantes, exceto pela idade de início – infância,

adolescência ou fase adulta. A esquizofrenia do tipo hebefrenia deveria

normalmente ser somente diagnosticada em adolescentes e em adultos jovens.

Psicoses mais comuns na infância e adolescência:

o Psicose psicogênica (histeria dissociativa);

o Transtorno afetivo bipolar (fase mista);

o Psicose secundária ao uso de drogas;

o Psicose secundária a doenças clínicas;

o Deficiente mental com conduta psicótica.

Esquizofrenia:

o A esquizofrenia quando aparece na infância é um quadro grave e

com mau prognóstico, na maioria dos casos;

o Incide em uma personalidade que ainda não está completamente

desenvolvida e bloqueia o processo do desenvolvimento dessa

personalidade. Por isto, considera-se que a gravidade da

esquizofrenia é menor quanto mais velha está a criança, pelas

defesas que já têm estruturadas.

TABELA 2 – DISTINÇÃO DA DOENÇA

CID-10 DSM-IV

Alteração das funções básicas que dão à

pessoa senso de individualidade,

unicidade e de direção de si mesmo;

Eco, inserção, irradiação ou roubo do

pensamento;

Delírios de influência, controle ou

passividade;

Vozes que comentam a ação;

Delírios persistentes culturalmente

Dois ou mais dos seguintes sintomas (de 1 a

5) devem estar presentes com duração

significativa, por período de pelo menos um

mês:

1. Delírios;

2. Alucinações;

3. Discurso desorganizado;

4. Comportamento amplamente

desorganizado ou catatônico;

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inapropriados;

Alucinações persistentes de qualquer

modalidade, sem claro conteúdo afetivo

(não catatímicas);

Intercepções ou bloqueios do

pensamento;

Comportamento catatônico, com

flexibilidade cerácea, negativismo,

mutismo, etc.;

Sintomas negativos (empobrecimento

afetivo, autonegligência, diminuição da

fluência verbal, etc.);

Alteração significativa na qualidade global

do comportamento pessoal, perda de

interesse, retração social.

Os sintomas devem estar presentes por pelo

menos um mês.

5. Sintomas negativos (embotamento

afetivo, alogia, avolição);

6. Disfunções sociais, no trabalho e/ou

no estudo, denotando perdas nas

habilidades interpessoais e

produtivas.

Duração dos sintomas principais (de 1 a 5),

de pelo menos um mês, e do quadro

deficitário (sintomas negativos, deficit

funcional, etc.), por pelo menos seis meses.

FONTE: Dalgalarrondo, 2000.

5.3 PREVALÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA

A prevalência da esquizofrenia com início na infância é relatada como

2% da prevalência da esquizofrenia na idade adulta (BEITCHMAN, 1985).

Rapport (1997) acredita que, nos anos pré-puberais, este seja mais incomum

do que o Autismo Infantil, que, para a maior parte dos pesquisadores, têm uma

prevalência da ordem de quatro casos por 10.000 crianças.

Outros estudos têm apontado que a prevalência de esquizofrenia em

crianças menores de 15 anos é 0,14 por 1.000 habitantes, quase 50 vezes

menor do que as amostras de início entre 15 e 54 anos (BEITCHMAN, 1985;

VOLKMAR, 1988), e que a prevalência de esquizofrenia na infância é menor

que 1 por 1.000 habitantes (BURD, 1987).

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5.4 ETIOPATOGENIA

Fatores Genéticos;

Neuroquímica;

Neurodesenvolvimento.

5.5 HISTÓRIA PRÉ-MÓRBIDA

Hollis (1995) descreveu que pacientes com início precoce da

esquizofrenia, ou seja, antes da idade dos 13 anos apresentam mais atrasos

no desenvolvimento e dificuldades pré-mórbidas nas áreas sociais, da

linguagem e motora, do que os pacientes com início tardio.

Esses pacientes apresentam pior desenvolvimento pré-mórbido

(CANNON, SPOOR, 1982), particularmente nas áreas do desenvolvimento

social e da linguagem (DONE, 1994; JONES, 1994), e pacientes com início

precoce da esquizofrenia indicam semelhantes anormalidades, porém mais

acentuadas (ALAGHBAND, 1995; HOLLIS, 1995).

5.6 SINTOMATOLOGIA

Descrições detalhadas de psicoses esquizofreniformes na infância

foram dadas por Jordan & Prugh (1971); seus estudos de 19 meninos e três

meninas entre cinco e 13 anos revelaram ideias de referência, identificação

com animais, delírios somáticos e uma inabilidade para diferenciar sonhos da

realidade, incluindo fantasias bizarras, com ideias paranoides e persecutórias.

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Transtornos do pensamento foram relatados, tais como inserção do

pensamento, retirada do pensamento e transmissão do mesmo em 20% das

crianças, sendo que 50% das crianças mostraram delírio persecutório (KOLVIN

e col., 1971). Na amostra de Russel (1994) havia ideação delirante em 63%

das crianças, onde o conteúdo e a complexidade dos delírios variavam de

acordo com a idade da criança, sendo que naquelas mais novas os delírios

eram mais simples e fixos.

Segundo Arboleda (1985), em crianças com menos de 10 anos se faz

necessário verificar os efeitos do desenvolvimento cognitivo, pois encontramos

distúrbios do pensamento mesmo em crianças normais. No trabalho de Kolvin

(1971), 60% dos casos apresentaram distúrbios nas associações do

pensamento no grupo com início tardio da esquizofrenia (5 a 15 anos) e 14%

no grupo com início precoce (antes três anos). O distúrbio do pensamento

apareceu mais frequentemente no grupo de início tardio.

As crianças, no início da esquizofrenia, vão perdendo o interesse e

isolam-se cada vez mais, permanecendo o maior período em seu quarto,

rompem o relacionamento com os amigos; param suas atividades esportivas e

culturais, além de recusarem-se a sair.

O isolamento afetivo que aparece nessas crianças leva a uma

indiferença e frieza no contato social. Em alguns casos, a criança apresenta,

por algum tempo, uma adaptação social superficial, mas observamos certas

modificações no comportamento, como uma fuga imotivada, crises de

agressividade e recusa alimentar (AJURIAGUERRA, 1991).

Relações entre as idades nas manifestações dos sintomas positivos,

negativos e de desorganização são pontuados por Kanner (1954), Rutter

(1972), Bettes e Walker (1987).

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TABELA 3 – RELAÇÃO ENTRE AS IDADES NAS MANIFESTAÇÕES DOS

SINTOMAS

Sintomas Negativos

(perda de funções psíquicas,

por um empobrecimento

global da vida psíquica e

social do indivíduo).

Sintomas Positivos

(manifestações novas,

floridas e produtivas do

processo).

Desorganização

(mental e comportamental).

Distanciamento afetivo;

Retração social;

Empobrecimento da

linguagem;

Diminuição da fluência

verbal;

Diminuição da vontade

(avolição);

Autonegligência;

Lentificação psicomotora.

Alucinações;

Ideias delirantes;

Comportamento bizarro;

Agitação psicomotora;

Ideias bizarras;

Produções linguísticas

novas como neologismos e

parafasias.

Pensamento

progressivamente

desorganizado;

Comportamentos

desorganizados e

incompreensíveis;

Afeto inadequado;

Afeto pueril.

FONTE: Dalgalarrondo, 2000.

Os sintomas de esquizofrenia observados em crianças pequenas são

primordialmente do tipo negativo, associados à desorganização do

pensamento. Pode até ocorrer atividade delirante e alucinações, mas na prática

são raras vezes identificados como tal. Podem assemelhar-se a sintomas

compulsivos inicialmente. Nota-se também o predomínio de alucinações visuais

em detrimento das alucinações auditivas.

Os sintomas positivos da esquizofrenia estão presentes com maior

visibilidade na fase aguda da doença. São sintomas positivos os delírios e as

alucinações, sendo mais frequentes as alucinações auditivas; pensamento e

discurso desorganizado, alterações do comportamento com ansiedade,

descontrole dos impulsos e agressividade.

Os sintomas negativos da esquizofrenia refletem um estado deficitário

ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das

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relações interpessoais, como a falta de vontade ou de iniciativa; isolamento

social; apatia; indiferença emocional; pobreza do pensamento.

Na infância, quer seja aos quatro, sete ou onze anos de idade, a forma

predominante não se encontra descrita nos sistemas de classificação atuais.

Trata-se da forma pseudodeficiente (crianças inibidas, retraídas, apáticas e

tensas) descrita por Bender (1942), ao lado das formas pseudoneurótica e

pseudopsicopática. Na adolescência, o quadro típico da esquizofrenia é o

hebefrênico, que pode associar-se a alguns sintomas catatônicos e mais

raramente paranoides.

5.7 EVOLUÇÃO

Esta, quando em crianças, segundo Grünspun (1987) é um quadro

grave, com mau prognóstico, na maioria dos casos; incide numa personalidade

que ainda não está completamente desenvolvida e bloqueia o processo de

desenvolvimento dessa personalidade, por isto, considera-se que a gravidade é

menor quando mais “velha” está a criança, pelas defesas que já têm

estruturadas.

Os quadros esquizofrênicos de início agudo, quando surgem perto da

adolescência, têm prognóstico mais favorável, especialmente quando a

personalidade se desenvolveu de forma satisfatória. A esquizofrenia sempre

evolui das formas de melhor prognóstico para as formas de melhor prognóstico.

5.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Os sintomas psicóticos podem ocorrer numa série de transtornos na

infância, onde devemos considerar aspectos como:

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“Alucinações” em outros transtornos mentais, como transtornos da

ansiedade e da conduta;

Transtornos do Humor;

Transtorno Obsessivo-Compulsivo;

Transtorno de Asperger;

Transtorno Psicótico induzido por substâncias;

Transtorno Psicótico devido uma condição clínica geral.

FIGURA 7 - SINTOMAS DE ESQUIZOFRENIA

FONTE: MEDINE ESCICLOPEDIA MÉDICA: ESQUIZOFRENIA. Disponível em: <www.nlm.nih.gov>. Acesso em: 04 Dez. 2012.

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5.9 TRATAMENTO

Chegamos à conclusão final de que a esquizofrenia infantil é

exatamente a enfermidade com o mesmo cortejo psicopatológico, ocorrendo

em adolescentes ou adultos jovens, e tendo apenas que modificar,

superficialmente, os fatores patoplásticos da tenra idade em que aparece.

A esquizofrenia na infância e adolescência é uma doença mental rara e

apresenta um prognóstico muito grave. O quadro clínico pode mimetizar

quaisquer outros transtornos mentais, “até mesmo a esquizofrenia”.

6 TRANSTORNOS DO HUMOR

6.1 DEPRESSÃO

O reconhecimento de transtornos depressivos na infância ocorreu no

final da década de 60, quando surgiram então três conceitos:

Sintomas depressivos análogos aos dos adultos não existem;

A depressão manifesta-se por sintomas específicos nessa faixa etária;

A sintomatologia depressiva surge mascarada por outros sintomas ou

síndromes, tais como hiperatividade, enurese, encoprese, deficit de

aprendizagem e transtorno de conduta.

A depressão pode estar presente na forma de sintoma, síndrome,

estado ou transtorno. Há dois tipos de organização: a neurótica e a psicótica.

Não se utilizam atualmente a distinção útil e explicativa oferecida pelos termos

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“depressão neurótica” e “depressão psicótica” (melancolia). Existe uma forte

relação entre ansiedade e depressão.

A depressão infantil não se traduz, invariavelmente, por tristeza e

outros sintomas típicos. As alterações cognitivas são, principalmente,

relacionadas à atenção, raciocínio e memória, estas interferem sobremaneira

no rendimento escolar.

Em pré-escolares ocorre hiperatividade, agressividade; em escolares

há dificuldades escolares, agressividade e somatizações, principalmente dor na

barriga e dor de cabeça; em pré-adolescentes surge agressividade, distúrbios

das emoções e conduta.

Nas crianças e adolescentes é comum a depressão ser acompanhada

também de sintomas físicos, tais como fadiga, perda de apetite, diminuição da

atividade, queixas inespecíficas, tais como cefaleias, lombalgia, dor nas

pernas, náuseas, vômitos, cólicas intestinais, vista escura, tonturas, etc.

Na esfera do comportamento, a depressão na infância e adolescência

pode causar deterioração nas relações com os demais, familiares e colegas,

perda de interesse por pessoas e isolamento. Em adolescentes, a depressão

tem mais semelhança com o quadro clínico do adulto, há tendência

hipocondríaca, abuso de álcool e drogas.

Outra peculiaridade dos adolescentes é que a síndrome depressiva

nesta etapa da vida pode se associar ao início de doenças psicóticas, tais

como a esquizofrenia e o transtorno afetivo bipolar (TAB). As oscilações

normais do humor do adolescente podem ser confundidas com os transtornos

afetivos.

6.1.1 Diagnóstico

Um grande número de critérios diagnósticos tem sido utilizado nas

últimas décadas, buscando uma maior fidedignidade. Os mais importantes

talvez sejam o The Research Diagnostic Criteria (RDC) de Sptzer (PATAKI,

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1990), o DSM III (APA, 1980), o DSM III-R (APA, 1989) e, atualmente, o DSM

IV (APA, 1993) e a CID-10 (OMS, 1993).

Ao estudarmos a criança, nem sempre a encontramos referindo

sintomas que descrevam seu estado interno; com frequência, ela relata

somente tristeza ou solidão, de modo pouco claro e inespecífico, isso em

função da dependência do seu desenvolvimento cognitivo para a identificação

dos próprios sentimentos.

As súbitas mudanças de conduta da criança são de extrema

importância pelo caráter episódico, tendo que ser consideradas,

principalmente, quando são abruptas, e se ocorrem de modo inexplicável.

Crianças antes adequadas e adaptadas socialmente passam a apresentar

irritabilidade, destrutividade e agressividade, com violação de regras sociais

anteriormente aceitas. Esse comportamento pode ser decorrente de alterações

de humor tipo disfórico e aparenta ser um dos sinais mais importantes para o

diagnóstico, uma vez que, pela sua heteronomia, a criança é levada ao

psiquiatra da infância muito mais por suas condutas do que por seu próprio

sofrimento.

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FIGURA 8 – COMPARAÇÃO DOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA

DEPRESSÃO MAIOR

FONTE: Dwivedi, 1997.

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As disforias podem ser descritas pelos pacientes como ansiedade,

irritabilidade, tristeza ou mesmo como uma combinação desses afetos. Nas

disforias encontradas no cotidiano, sem uma conotação psiquiátrica e como

resposta afetiva aos eventos diários, observou-se a brevidade do quadro e o

não comprometimento das condutas adaptativas, diversamente do que

encontramos nos quadros depressivos. Podemos, então, tentar estabelecer o

diagnóstico diferencial dessas disforias assim:

Disforia

o Eativa (reações de ajustamento, humor normal);

o Distimia;

o Ciclotimia;

o Síndromes afetivas orgânicas;

o Depressão maior;

o Unipolar-bipolar;

o Atípica bipolar;

o Outras doenças psiquiátricas (exemplo: transtornos ansiosos).

Para facilitar o reconhecimento dos quadros depressivos na infância e

na adolescência, podemos utilizar a seguinte sintomatologia, a ser pesquisada

durante a avaliação (KAUFMAN, 1997):

Falta de reatividade do humor depressivo ou irritável aos estímulos

positivos;

Diferença qualitativa entre humor disfórico e tristeza profunda;

Variação diurna do humor;

Distúrbios do sono;

Fadiga, falta de energia e cansaço.

Alterações cognitivas:

o Concentração, desatenção ou pensamento lentificado;

o Indecisão.

Apetite/peso:

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o Redução do apetite;

o Perda de peso;

o Aumento do apetite;

o Ganho de peso.

Distúrbios psicomotores:

o Agitação;

o Retardo psicomotor.

Autopercepção:

o Depreciação e autoimagem negativa;

o Culpa excessiva ou inapropriada;

o Desesperança, desamparo, desencorajamento e pessimismo;

o Sensação de rejeição.

Embora tenhamos descrito de modo claro o quadro clínico das

depressões, vale frisar que é evidente que elas são, muitas vezes, mal

diagnosticadas ou despercebidas. Tal fato ocorre pela sua pequena

especificidade na criança, pelo fato de seu diagnóstico diferencial incluir vários

problemas orgânicos, assim como outros quadros psiquiátricos (RUSH, 1990).

Da mesma maneira, o uso de determinadas drogas, utilizadas no tratamento de

algumas condições clínicas infantis, pode mimetizar quadros semelhantes.

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TABELA 4- CONDIÇÕES QUE MIMETIZAM A DEPRESSÃO NA

CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Infecciosas

Mononucleose infecciosa, encefalite,

influenza, sífilis, AIDS, hepatite, pneumonia,

tuberculose, endocardite.

Endócrina Diabetes, Doença de Cushing, hipo/

hipertireoidismo; hiperparatiroidismo,

hipopituitarismo.

Neurológicas/tumores

Epilepsia, pós-concussão, hemorriagia

subaracnóidea, Doença de Huntington,

esclerose múltipla, acidente

vasculoencefálico.

Medicamentos Anti-hipertensivos, esteroides,

anticonvulsivantes, digitálicos, diuréticos,

aminofilina, cimetidina, contraceptivos orais.

Outros

Abuso/abstinência de álcool, de cocaína, de

anfetaminas, alucinógenos, opiáceos,

anemia, hipocalemia, hiponatremia, lúpus,

uremia, porfiria, falha de desenvolvimento.

FONTE: Adaptado de Weller, 1991.

6.1.2 Formas Clínicas

Diante da dificuldade de classificar os quadros depressivos já no

paciente adulto, torna-se mais difícil ainda pensar nas crianças, uma vez que

essa ainda não pode ser avaliada, considerando-se atributos e características

de sua própria personalidade, ainda em desenvolvimento e em formação.

Unipolar-Bipolar:

o Descrita pela ausência de episódios hipomaníacos ou

maníacos, que requeiram tratamento e/ou hospitalização.

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Primária-Secundária:

o Tendo como base padrões causais compreensivos, estes se

caracterizam pelo conceito de depressão maior apresentado

pelo DSM III.

Endógeno-Reativo:

o Este se apresenta por meio de quadros de origem reativa,

psicologicamente compreensíveis na abordagem psicológica.

6.1.3 Um Mecanismo Compreensivo

A criança é um ser singular que gradativamente vai construindo um

mundo a partir de seu desenvolvimento afetivo, diretamente relacionado com a

interação que estabelece com os outros indivíduos e pessoas, e de seu

desenvolvimento cognitivo, que lhe fornece um instrumental adequado para

essas inter-relações. Dessa maneira, constrói gradativamente as noções de

Eu, realidade, espaço e tempo, pilares fundamentais da existência. Entretanto,

somente com o advento do pensamento formal, na adolescência, é que inicia a

construção de projetos existenciais que, embora ainda incipientes, já são

passíveis de orientar seu existir.

Na experiência depressiva podemos observar uma retração do Eu,

independentemente do momento da vida em que ela ocorre, devendo-se

somente levar em consideração o momento evolutivo, que delineará a

patoplastia e, em consequência, a compreensibilidade da sintomatologia. Com

essa retração, diminui-se o contato com o ambiente, manifesto por meio do

desinteresse, da falta de reatividade, da anedonia e da fadiga constantes.

No caso da criança, essas limitações são acentuadas, uma vez que

seu instrumento cognitivo já lhe permite um horizonte limitado, sem a

possibilidade de projetos futuros que caracterizam a transcendência. Assim,

seu mundo restrito basicamente à família e ao ambiente escolar perde o

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sentido, caracterizando o pessimismo e a visão pessimista de um futuro que, já

por dificuldades instrumentais, é imprevisto.

Entretanto, diferentes são as possibilidades de compreensão dos

quadros depressivos na criança, de acordo com o modelo de desenvolvimento

proposto por Dwivedi (1997):

FIGURA 9 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E

SINTOMATOLOGIA

FONTE: Dwivedi, 1997.

6.1.4 Tratamento

A abordagem da depressão na criança e no adolescente é múltipla,

visando a uma compreensão do quadro e a uma intervenção sob o ponto de

vista biológico, psicológico e social. O plano de tratamento será, então,

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determinado pelas condições do paciente que, em presença de risco de

suicídio, será submetido à hospitalização.

Dentro dessa visão dos quadros depressivos na infância e

adolescência, podemos subdividir a abordagem terapêutica em:

Medicamentoso;

Biológicos;

Psicoterapia.

6.2 MANIA

6.2.1 Conceito

A euforia, ou alegria patológica, assim como a elação ou expansão do

“eu” constituem a base da síndrome maníaca. Além disso, é fundamental, e

quase sempre presente, a aceleração de todas as funções psíquicas

(taquipsiquismo), manifestando-se como agitação psicomotora, excitação,

logorreia e pensamento acelerado (CASSIDY e cols., 1988). De modo geral,

pode-se observar os seguintes sinais e sintomas:

Aumento da autoestima;

Elação;

Insônia;

Logorreia;

Pressão para falar;

Distraibilidade;

Agitação psicomotora;

Irritabilidade;

Arrogância;

Heteroagressividade;

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Desinibição social e sexual;

Tendência exagerada a comprar objetos ou a dar seus pertences;

Ideias de grandeza, de poder, de importância social;

Delírios de grandeza ou de poder;

Alucinações.

Este quadro na criança é grave, afeta seu relacionamento na família e

produz, usualmente, queda acentuada no rendimento escolar. Seu diagnóstico

não é feito se são diagnosticados delírios ou alucinações sem alterações

afetivas com duração de duas semanas, bem como se é estabelecido

diagnóstico de esquizofrenia, transtorno esquizoforme, delirante ou psicótico

sem outra especificação, como também o uso associado de drogas. Esses

episódios maníacos podem ser classificados leves, moderados ou graves,

devendo-se especificar presença ou ausência de sintomas psicóticos.

Sob o ponto de vista formal, podemos ainda pensar em:

Transtorno bipolar, tipo depressivo, no qual o episódio atual é

depressivo, havendo relato de um ou mais episódios anteriores de

mania;

Transtorno bipolar, episódio misto, em que encontramos uma

mistura de mania e depressão, constatando-se presença de

depressão por pelo menos um dia, alternado rapidamente com

mania;

Ciclotimia, quando observamos inúmeros episódios de hipomania

que ocorrem em períodos de, ao menos, um ano, podendo

encontrar-se nela vários episódios de humor deprimido ou perda

de interesse ou prazer, que não reúnem todos os critérios para

um episódio depressivo maior ou mais ao longo do mesmo

período de tempo;

Transtorno bipolar sem outra especificação, diagnosticando

transtornos com características maníacas, que não satisfazem os

critérios para qualquer outro transtorno bipolar específico

(CANTWELL, 1992).

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Entretanto, em crianças e adolescentes seu diagnóstico é difícil, com

Carlson (1984) referindo muitas razões para que esses pacientes sejam mal

diagnosticados, como, por exemplo:

Episódios de depressão e/ou hipomania leves sendo atribuídos a

transtornos de ajustamento;

Episódios precoces de transtornos do humor sendo confundidos

com ansiedade de separação, com recusa escolar, anorexia ou

transtorno de conduta, incluindo transtornos de deficit de atenção

e hiperatividade;

Episódios graves confundidos com esquizofrenia em função da

sintomatologia, como fuga de ideias, pensamento incoerente, bem

como ideias de conteúdo paranoide, irritabilidade, alucinações e

delírios secundários ao humor.

6.2.2 Epidemiologia

Valendo-se dos critérios do DSM III-R, Carlson e Kashani (1988)

encontraram cerca de 0,6% de adolescentes entre 14 e 16 anos preenchendo

os critérios diagnósticos para mania, ao passo que em população internada em

hospital psiquiátrico, Krasa e Tolbert (1994) encontraram 3,4% de pacientes

com diagnóstico de transtorno bipolar.

Em crianças, poucos são os estudos prospectivos de transtorno

bipolar, embora De Long (apud McCRACKEN, 1992) refira que possam se

apresentar como transtornos comportamentais crônicos, com hostilidade,

agressividade e distraibilidade.

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6.2.3 Evolução

O impacto da idade mais precoce no início dos transtornos bipolares

ainda não é claro, não se observando diferenças significativas, parecendo ser

seu curso similar àquele observado no adulto. Ao contrário, episódios de

alcoolismo, o uso de drogas e doenças neurológicas parece piorar esse

desenvolvimento, aparentando mistos e de ciclagem rápida (PATAKI, 1990).

6.2.4 Tratamento

Os transtornos do humor são, por definição, um complexo clínico

multifatorial e, sendo assim, sua terapêutica deve ser orientada.

7 SÍNDROMES MENTAIS ORGÂNICAS

7.1 INTRODUÇÃO

O estudo psiquiátrico das síndromes mentais orgânicas foi estabelecido

modernamente no começo do século XX, norteado pelos trabalhos de

Bonhöffer, que descreveu a “reação tipo endógena aguda” em quadros agudos

de psicopatologia exuberante, geralmente com rebaixamento de consciência.

Igualmente Bleuler, que descreveu a “psicossíndrome orgânica”, que abrangia

quadros crônicos, de evolução deficitária (ALONSO-FERNANDEZ, 1979).

Na nosologia atual, fortemente influenciada pelo pragmatismo norte-

americano, a polaridade agudo-crônica tem em um polo o delirium, que define

AN02FREV001/REV 4.0

69

quadros agudos com prejuízo da atenção voluntária, pensamento e funções

cognitivas (APA, 1993; LIPOWSKI, 1990) e, no outro, os quadros demenciais,

apontando para quadros crônicos, insidiosos, com prejuízo mnésico e

deterioração progressiva das capacidades intelectuais e da resposta afetiva

(HORVATH, 1989), na mais pura tradição das síndromes psico-orgânicas

agudas (com prejuízo da consciência) e crônicas (com prejuízo de memória).

Na psiquiatria infantil, definir uma síndrome delirante, alucinatória ou

diagnosticar o delirium, nas suas fases iniciais e prévias a um rebaixamento

mais grosseiro do nível de vigilância, é difícil.

7.2 DEFINIÇÃO – CONSCIÊNCIA

Na visão da Neuropsicologia a consciência é vista no sentido de estado

vigil, que de certa forma iguala a consciência ao grau de clareza do sensório,

aqui ela é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vigil,

lúcido. A definição psicológica conceitua como a somatória das experiências

conscientes de um indivíduo em um determinado momento; é a dimensão

subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade.

E, segundo a ética filosófica, que se utiliza mais frequentemente no

campo da ética, da filosofia, do direito ou da teologia; o termo consciência

refere-se aqui à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as

responsabilidades, os direitos e deveres concernentes a essa ética

(DALGALARRONDO, 2000).

AN02FREV001/REV 4.0

70

7.3 PERÍODO SENSORIOMOTOR (DE 0 A 18/24 MESES)

Consciência-Cognitiva (PIAGET, 1974; LEFÈVRE, 1990; CHESS

apud GREENSPAN, 1989; SPITZ, 1966; SARTRE, 1985; WALLON apud

AJURIAGUERRA, 1980).

o 1° estágio:

1° mês;

“exercícios reflexos” – ponto de partida do

desenvolvimento;

Assimilação de novos objetos.

o 2° estágio:

1 a 3 meses;

Primeiros hábitos reais de assimilação e acomodação;

Controle visual dos movimentos;

Linguagem expressiva e receptiva – reconhecimento da

voz da mãe, imitação e produção de sons;

Vocalização;

Primeiras formas de orientação referente ao mundo –

fase de objeto intermediário.

o 3° estágio:

6 a 8-9 meses;

Formação de intenções a partir da estruturação de um

esquema de persistência de objeto;

Pega ativamente os objetos;

Esquema de causalidade;

Imita a fala dos adultos;

Vocaliza sílabas;

AN02FREV001/REV 4.0

71

Entende quando chamada pelo nome;

Compreensão do “sinalizado não”;

Fase objetal (Spitz);

Posição depressiva (Klein);

Período do espelho (Lacan).

o 4° estágio:

8 a 12 meses;

Coordenação de esquemas secundários para situações

novas – antecipação e planejamento;

Melhor desenvolvimento da fala – compreensão de

ordens simples;

Deambulação;

Processo de socialização familiar;

Início da estruturação real da consciência (Wallon).

o 5° e 6° estágio:

12 a 24 meses;

Aparecimento da reversibilidade;

Atitudes dirigidas a metas sem a distraibilidade –

atenção voluntária;

Organizações causais e espaciais e as relações

continente-conteúdo;

Início da inteligência pré-lógica, porém ainda não

mediada pela linguagem;

Ampliação do vocabulário;

Função semiótica;

Capacidade de representação.

Sensopercepção e Comportamento Motor

o 3° estágio:

Coordenação entre visão e movimentos da mão;

AN02FREV001/REV 4.0

72

Reconhecimento tátil e a preensão diferenciada dos

objetos;

Percepção em profundidade, não mais restrita aos

objetos próximos;

Formação de novos esquemas motores e novos hábitos

a partir dos próprios reflexos;

Preensão-sucção, preensão comandada pela visão e a

preensão fora do campo visual.

o 4° estágio:

Exploração tátil mais ativa;

Ampliação da acomodação auditiva;

Início da percepção das funções espaciais;

Intencionalidade no comportamento motor;

Os movimentos exploratórios se amplificam e se

relacionam com o objeto.

o 5° estágio:

Primeiros atos inteligentes – noção de permanência dos

objetos;

Organização acústica;

Adequação da função visual permitindo a categorização

dos objetos;

Início da função simbólica.

o 6° estágio:

Utilização de objetos e espaço de maneira mais

elaborada;

Organização acústica – representação conceitual e

esquemas abstratos.

AN02FREV001/REV 4.0

73

Funções Afetivas

o 1° e 2° estágio:

Resposta afetiva basicamente homeostática,

determinada pelas sensações de prazer-desprazer

corpóreo.

o 3° e 4° estágio:

Início da vinculação com o mundo externo, com

investimento rico no mundo animado, especialmente

nas pessoas que cuidam da criança.

o 5° estágio:

Organização da resposta afetiva, por meio dos padrões

emocionais, tornando-se mais integrado e mais

propositado em padrões causa-efeito.

7.4 PERÍODO PRÉ-CONCEITUAL (DE 2 AOS 4 ANOS)

Consciência-Cognitiva (LURIA apud LEFÈVRE, 1990; LURIA, 1987,

1987a.; PIAGET apud LEFÈVRE, 1990):

o Alta distraibilidade por estímulos acessórios;

o Tendência inercial das praxias até os 3 anos e meio;

o Desenvolvimento da memória frente a fatos e coisas;

o Evocação de objetos não presentes – sinal do sinal (Piaget);

o Início do estabelecimento da estrutura sintática.

Sensopercepção e Comportamento Motor:

o Reconhecimento de objetos familiares evoluindo para o

reconhecimento de formas tapológicas;

AN02FREV001/REV 4.0

74

o Imitação de gestos simétricos simples.

Funções Afetivas:

o Humor mais linear e não tão reativo a estímulos imediatos ou

sensações de prazer-desprazer;

o Relações de apego e negativismo são direcionadas às

pessoas mais próximas;

o Respostas às frustrações menos explosivas;

o Interesse exploratório do mundo circundante;

o Período mais fácil de observar alterações mentais orgânicas.

7.5 PERÍODO INTUITIVO (DOS 4 AOS 6/7 ANOS)

Consciência-Cognitiva:

o Sua fala começa a desempenhar seu papel regulador de

forma mais estável, consequentemente a criança mantém-se

mais atenta;

o Bom desempenho na identificação de figuras familiares e no

estabelecimento das funções dos objetos e suas definições;

o Aperfeiçoamento da memória;

o O nível de consciência pode ser avaliado nessa fase por

testes mais precisos de atenção voluntária.

Sensopercepção e Comportamento Motor:

o Estabelecimento das sínteses espaciais;

o Sua organização acústica permite distinguir ritmo e repeti-lo;

o Processamento sensitivo mais acurado;

o Desenvolvimento de movimentos compostos e desempenho

adequado das praxias complexas.

AN02FREV001/REV 4.0

75

Funções Afetivas:

o Humor estabiliza-se;

o Organização de sentimentos complexos;

o Maior tolerância à frustração;

o O egocentrismo cede lugar a um contato afetivo mais real,

com menor tendência ao negativismo e à impulsividade;

o Sentimentos mais complexos – culpa;

o O diagnóstico das alterações do nível da consciência vai cada

vez mais se aproximando ao dos adultos, com a organização

da atenção, orientação temporoespacial e memória.

7.6 FATORES PREDISPONENTES E ETIOLÓGICOS

Nas faixas etárias até os sete anos, podemos observar como principais

fatores as lesões prévias do Sistema Nervoso Central, encefalopatias tóxico-

metabólicas, uso de drogas, como antipsicóticos, antidepressivos,

anticonvulsivantes ou outras drogas psiquiátricas, como benzodiazepínicos,

convulsões (KAUFFMAN, 1995), distúrbios do desenvolvimento, retardo metal.

Rubinstein (1985) aponta como fatores importantes para pesquisa a história

prévia de trauma craniano seguido de perda da consciência, doenças

perinatais, infecções bacterianas e virais e tumores do SNC, desnutrição, erros

inatos do metabolismo e tratamento polifarmacológico.

AN02FREV001/REV 4.0

76

FIGURA 10 – SÍNDROMES NEUROPSIQUIÁTRICAS E

PSEUDONEUROPSIQUIÁTRICAS

FONTE: Adaptado de Krener, 1994.

7.7 TRATAMENTO

O tratamento orientado classicamente é o da correção da causa de

base, com manutenção das funções vitais e do estado nutricional,

concomitantemente. O psiquiatra consultor pode recomendar o uso moderado

de drogas com ação do SNC, principalmente os de ação sedativa, no sentido

de proteger um parâmetro clínico importantíssimo, que é o nível de

consciência.

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77

8 TDAH

8.1 INTRODUÇÃO

As primeiras referências aos transtornos hipercinéticos na literatura

médica apareceram no meio do século XIX. Entretanto, o quadro clínico

começou a ser descrito de uma maneira mais sistemática somente no início do

século XX (BARBOSA, 1995). O impacto dessa síndrome na sociedade é

enorme, considerando-se seu alto custo financeiro, estresse nas famílias,

prejuízo nas atividades acadêmicas e vocacionais, bem como efeitos negativos

na autoestima das crianças e adolescentes. Estudos têm demonstrado que

crianças com o transtorno apresentam um risco aumentado de desenvolverem

outras doenças psiquiátricas na infância, na adolescência e na idade adulta;

incluindo comportamentos antissociais, problemas com uso de drogas lícitas e

ilícitas e transtornos do humor e de ansiedade (BIEDERMAN, 1996).

A síndrome vem sofrendo alterações contínuas na sua nomenclatura.

Na década de 30, Strauss e colaboradores (1947) descreveram hiperatividade,

distratibilidade, labilidade emocional e perseveração em um grupo de

sobreviventes de encefalite letárgica. Os autores propuseram técnicas

educacionais especiais para crianças com esses problemas, fornecendo a base

para a maioria dos programas de educação especial ainda existentes.

Segundo Strauss, a ideia para comportamentos alterados nessas

crianças sugeria evidências de alguma lesão cerebral, mesmo quando não

houvesse lesão conhecida. Neste período, apesar de já reconhecida

anteriormente, na década de 1940 surgiu a denominação “lesão cerebral

mínima”. A partir de 1962, passou a ser utilizado o termo “disfunção cerebral

mínima”, reconhecendo-se que as alterações características do transtorno

relacionam-se mais com as disfunções em vias nervosas do que propriamente

a lesões nas mesmas (BARBOSA, 1995).

AN02FREV001/REV 4.0

78

Os sistemas classificatórios modernos utilizados em psiquiatria, CID-10

(OMS, 1993) e DSM-IV (APA, 1994), apresentam mais similaridades do que

diferenças nas diretrizes diagnósticas para o transtorno, embora utilizem

nomenclaturas diferentes (transtorno de deficit de atenção/hiperatividade, no

DSM-IV, e transtornos hipercinéticos, na CID-10).

8.2 EPIDEMIOLOGIA

Trata-se de um dos transtornos mentais mais frequentes nas crianças

em idade escolar, atingindo 3 a 5% delas. Apesar disto, o TDAH continua

sendo um dos transtornos menos conhecidos por profissionais da área da

educação e mesmo entre os profissionais de saúde. Falta ainda muita

informação sobre esse problema (APA, 1994).

8.3 ETIOLOGIA

O TDAH é uma síndrome heterogênea; logo, a etiologia é multifatorial,

dependendo de:

Fatores Genético-Familiares;

Adversidades Biológicas;

Adversidades Psicossociais.

8.4 SUBSTRATO NEUROBIOLÓGICO

Os dados sobre o substrato neurobiológico deste transtorno derivam de

estudos neuropsicológicos, de neuroimagem e de neurotransmissores. Com

AN02FREV001/REV 4.0

79

relação à Neuropsicologia podemos afirmar que as principais alterações

encontradas nesse são prejuízos em testes de atenção, de aquisição e de

função executiva. Assim, tem-se sugerido que o TDAH envolve um deficit do

comportamento inibitório e de funções executivas relacionadas a ele

(BARKLEY, 1997).

A neuroimagem, por meio de estudos estruturais, funcionais e

eletroencefalográficos, corrobora a ideia de envolvimento de alterações no

sistema frontossubcortical na fisiopatologia do TDAH; porém pesquisas mais

recentes apontam a região do córtex pré-fontal, do caudado e do globus

pallidus (HENDREN, 2000; SEMRUD-CLIKEMAN, 2000).

E finalmente os sistemas de neurotransmissores apontam o

envolvimento das catecolaminas, sugerindo que um baixo turnover de

dopamina e/ou noradrenalina possa estar relacionado com a fisiopatologia

desse transtorno; além da possibilidade de receptores nicotínicos estarem

envolvidos. Mas podemos pontuar que nenhuma alteração em um único

sistema pode ser responsável por uma síndrome tão heterogênea quanto essa.

8.5 QUADRO CLÍNICO

A tríade sintomatológica clássica da síndrome caracteriza-se por

desatenção, hiperatividade e impulsividade. Independente do sistema

classificatório utilizado.

Desatenção:

o Dificuldade de prestar atenção em detalhes ou errar por

descuido em atividades escolares e de trabalho;

o Dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades

lúdicas;

o Parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra;

AN02FREV001/REV 4.0

80

o Não seguir instruções e não terminar tarefas escolares,

domésticas ou deveres profissionais;

o Dificuldade em organizar tarefas e atividades;

o Evitar ou relutar se envolver em tarefas que exijam esforço

mental constante;

o Perder coisas necessárias para tarefas ou atividades;

o Ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa e

apresentar esquecimentos em atividades diárias.

Hiperatividade:

o Agitar as mãos ou os pés ou se remexer na cadeira;

o Abandonar sua cadeira em sala de aula ou outras

situações nas quais se espera que permaneça sentado;

o Correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isto

é inapropriado;

o Dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em

atividades de lazer;

o Estar frequentemente “a mil” ou muitas vezes agir como se

estivesse “a todo vapor”;

o Falar em demasia.

Impulsividade:

o Frequentemente dá respostas precipitadas antes de as

perguntas terem sido completadas;

o Tem dificuldade para aguardar sua vez;

o Interrompe ou se mete em assuntos de outros (APA, 1994).

O DSM-IV subdivide o TDAH em três tipos:

TDAH, com predomínio de sintomas de desatenção;

TDAH, com predomínio de sintomas de

hiperatividade/impulsividade;

TDAH, combinado (APA, 1994).

AN02FREV001/REV 4.0

81

O tipo com predomínio de sintomas de desatenção é mais comum no

sexo feminino e parece apresentar, conjuntamente com o tipo combinado, uma

taxa mais elevada de prejuízo acadêmico. Willcutt e colaboradores (1999)

demonstraram que sintomas de desatenção estão associados com baixo

quociente de inteligência (QI) e altos níveis de depressão, enquanto sintomas

de hiperatividade-impulsividade estão associados com sintomas de transtorno

opositor desafiante e transtorno de conduta.

Embora todos os tipos estejam mais relacionados com transtornos

disruptivos do que os de controles, o tipo combinado está mais fortemente

associado a estes transtornos. Além disso, apresenta também um maior

prejuízo no funcionamento global, quando comparado aos dois outros grupos.

As crianças com TDAH com predomínio de sintomas de

hiperatividade/impulsividade são, por outro lado, mais agressivas e impulsivas

do que os outros dois tipos e tendem a apresentar altas taxas de rejeição pelos

colegas e de impopularidade (SCHMITZ, 2000).

8.6 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do TDAH é fundamentalmente clínico, baseando-se em

critérios operacionais claros e bem definidos, provenientes de sistemas

classificatórios como o DSM-IV (já apresentado anteriormente), ou a CID-10

(tabela abaixo).

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82

TABELA 5 - CONDIÇÕES QUE MIMETIZAM A HIPERATIVIDADE NA

CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Infecciosas Encefalite, influenza, sífilis, AIDS;

Endócrina Hipertireoidismo;

Neurológicas/tumores Convulsão, trauma craniano, esclerose

múltipla, acidente vasculoencefálico, Doença

de Wilson;

Talâmicos, gliomas, meningeomas;

Medicamentos Esteroides, isoniazida, simpaticomiméticos;

Outros Abuso de álcool, de anfetaminas,

alucinógenos, anemia, hemodiálise.

FONTE: Adaptado de Weller, 1991.

Com os pais é fundamental a avaliação cuidadosa de todos os

sistemas, bem como onde, quando, com quem acontecem e em que

intensidade. Como em qualquer avaliação da história do desenvolvimento,

médica, escolar, familiar, social e psiquiátrica da criança ou do adolescente

deve ser colhida com os pais.

Com relação às avaliações complementares, normalmente se sugere:

Encaminhamentos, para a escola, de escalas objetivas que possam

ser facilmente preenchidas pelos professores;

Avaliação neurológica;

Testagem psicológica.

No que tange à testagem psicológica, o teste que fornece mais

informações relevantes clinicamente é a Wechsler Intelligence Scale for

Children (WECHSLER, 1991). Os subtestes (WISC-III) que compõem o fator de

resistência à distraibilidade avaliam atenção e concentração e podem ser

importantes para reforçar a hipótese diagnóstica desse (GUARDIOLA, 1994;

WECHSLER, 1991). Além disso, no diagnóstico diferencial da síndrome é

preciso descartar a presença de Retardo Mental, visto que esta patologia pode

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83

causar problemas de atenção, hiperatividade e impulsividade, e este

instrumento pode auxiliar neste processo.

8.7 EVOLUÇÃO

Antigamente, acreditava-se que todas as crianças com o transtorno

superavam os sintomas com a chegada da puberdade, porém os estudos mais

recentes mostram uma persistência do diagnóstico em cerca de 70-85% dos

casos da adolescência inicial à intermediária. Atualmente, cada vez mais,

admite-se a existência do TDA-H em adultos (ROHDE, 1998).

8.8 TRATAMENTO

O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando

intervenções psicossociais e psicofarmacológicas (SPENCER, 1996).

FIM DO MÓDULO II