Professor Pr. Gumercindo Castro - pibpavuna.com.br · 1. DEFINIÇÃO E CONCEITO Arqueologia é o...
Transcript of Professor Pr. Gumercindo Castro - pibpavuna.com.br · 1. DEFINIÇÃO E CONCEITO Arqueologia é o...
Professor Pr. Gumercindo Castro
NOVEMBRO DE 2018
1. DEFINIÇÃO E CONCEITO
Arqueologia é o estudo das culturas antigas que se encontram nos restos
materiais descobertos nos antigos lugares em que as pessoas viviam.
Arqueologia bíblica é o estudo sistemático de restos de físicos de pessoas e
matérias da Antiguidade nas terras em que a história bíblica transcorreu. Essas
terras abrangem a Palestina (o Israel de hoje), a Transjordânia (a Jordânia de hoje),
Egito, Síria, Líbano, Turquia (a antiga Ásia Menor), Grécia e Itália. Um arqueólogo
bíblico procura relacionar descobertas arqueológicas com narrativas bíblicas.
2. FONTE ARQUEOLÓGICA
Os objetos de investigação arqueológica de restos de culturas antigas
englobam:
- Montes (tells);
- Cavernas;
- Túmulos e sepulturas feitas pelo homem;
- Restos de esqueletos;
- Pedaços de cerâmica e outros artefatos de metal, pedra e vidro;
- Inscrições e textos encontrados em pedra, pergaminho, papiro e barro
cozido;
- Moedas;
- Restos de construções;
- Artigos religiosos e legais, como altares, instrumentos, estatuetas e outros
objetos de culto;
- Monumentos de pedra (estela) erguidos como testemunho;
- Sequência de camada de terra;
- Material microscópio depositado no solo, que indica o que as pessoas e os
animais comiam;
- Suprimento de água;
- Equipamento de defesa;
- Produção agrícola;
- Sistema de estradas e pontes; e
- Estruturas comerciais.
3. EVOLUÇÃO DA ARQUEOLOGIA NAS TERRAS BÍBLICAS
A investigação arqueológica nas terras bíblicas começou cedo e de modo
simples e aos poucos foi se desenvolvendo, ganhando novos métodos científicos e
conquistando novos pesquisadores:
3.1. Peregrinos e viajantes:
No segundo e terceiro séculos d.C., os cristãos começaram a se interessar em
peregrinar para as terras santas. Eles refletiam sobre os eventos bíblicos e sobre os
restos de materiais que apontassem para eles.
3.2. Exploradores:
Por volta de 1.800 d.C., um alemão de nome Setzen investigou pela primeira
vez de modo científico a Transjordânia e descobriu Cesareia de Filipe (Cesareia
Marítima), local onde Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizeis que eu
sou?” (Mt. 16.15).
Setzen descobriu ainda: Amã (Rabá), capital de Amom, onde Urias, o heteu,
morreu em batalha por ordem de Davi (2 Sm. 11.1 e 15); e Gerash (Gerasa/Gadara),
onde Jesus curou o endemoniado geraseno/gadareno (Mc. 51).
Temos ainda neste período a grande redescoberta de Petra, a cidade histórica
dos nabateus, pelo explorador suíço Burckhardt.
3.3. Topógrafos e pesquisadores:
Em 1838, um americano de nome Edward Robinson foi para a Palestina e
identificou pela primeira vez na época moderna muitos lugares bíblicos.
Em meados do século XIX, foi a vez do francês De Saulcy fazer escavações na
atual Palestina. O inglês Charles Warren fez escavações em Jerusalém, datando as
obras de alvenaria de Herodes no grande muro de contenção da antiga plataforma
do templo.
Já em 1870, o francês Charles Clermont Ganneau recuperou a famosa
inscrição em pedra de Mesa (2 Rs. 3.4), artigo que veremos com mais detalhes
posteriormente, tendo encontrado ainda a famosa inscrição em pedra proibindo o
acesso de gentios ao pátio do templo sob pena de morte (At. 21.28-29).
3.4. Estudos em cerâmica:
O inglês Sir Flinders Petrie desenvolveu um sistema de datação dos períodos e
fatos bíblicos, observando e registrando as diferenças na forma, textura e pintura da
cerâmica.
3.5. Registro estratigráfico:
No século XX, foi desenvolvida a técnica de observar e desenhar as diferentes
camadas de terra e outros detalhes que apareciam nas paredes perpendiculares dos
lados de um sítio arqueológico. Eram relacionados os resultados com a cerâmica e
com outros objetos encontrados em sequência. Esse método colaborou com o
avanço das pesquisas, possibilitando o conhecimento de sucessivos padrões
culturais.
3.6. Equipes interdisciplinares:
Reconhecendo a tarefa complexa de interpretar o material cultural
desenterrado, os arqueólogos começaram a reunir especialistas de várias disciplinas
científicas. Dentre os especialistas, temos: arquitetos, fotógrafos, geólogos e
osteólogos.
4. PERÍODOS DA ARQUEOLOGIA
4.1. IDADE DA PEDRA
4.1.1. Paleolítico Antigo:
Objetos de pedra têm sido encontrados na superfície da Palestina e nas
regiões da Ásia e também no Egito. A medição da Antiguidade é incerta, mas
acredita-se que esta era geológica corresponda a mais de 200 mil anos atrás.
4.1.2. Paleolítico Médio:
Este período também é representado tanto nas cavernas da Palestina como na
cultura Natufiana. Esses povos floresceram cerca de 8.000 anos atrás até cerca de
6.000 a.C .
O homem deste período era de pequena estatura e já cultivava cereais,
domesticava animais, fazia bacias e levantava estruturas de pedras. Nos rituais de
sepultamento, encontram-se evidências suficientes que indicam a crença na vida
após a morte.
É desse período os estudos e teorias sobre o homo sapiens.
4.1.3. Neolítico (Idade da Pedra Polida):
Esse período escoou-se entre 7.000 e 4.500 a C .
Na Europa, foi introduzida a agricultura e no Oriente próximo a ênfase era na
domesticação de animais e a invenção de artefatos de cerâmica e instrumentos de
pedra polida.
Começam também as grandes concentrações comunitárias. Em Jericó, houve
construções de dimensões consideráveis, templos e outros edifícios. O culto
religioso estava cada vez mais evoluído. Havia adoração a deuses da fertilidade.
Monumentos para sepultamento também começaram a ser erguidos.
Estrutura da cidade de Jericó na Idade da Pedra Polida
Resumindo...
4.2. IDADE CALCOLÍTICA (Idade do Cobre)
Esse período compreende de 4.500 a 3.000 a.C.., em que o cobre começa a ser
utilizado.
Cerâmica bem feitas e pintadas aparecem no Crescente Fértil, berço da
civilização, região esta que compreende os atuais estados de Israel, Jordânia, Kuwait,
Líbano e Chipre, bem como partes da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da
Turquia e sudoeste do Irã.
Grandes edifícios públicos são construídos. Os templos tornaram-se centros
de organizações religiosas. As pessoas se interessavam cada vez mais pelos deuses,
pela alma, pela vida após a morte e pela santidade.
Nesse período, também é desenvolvida a escrita pelos sumérios.
Eram cultivados cerais básicos e frutas. Foi um período de grande
prosperidade.
4.3. IDADE DO BRONZE:
4.3.1. Idade do Bronze Antiga:
As datas deste período oscilam entre 3.000 e 2.000 a.C..
O bronze era abundante entre os hebreus e os povos vizinhos desde tempos
antiquíssimos (Ex. 38; 2 Sm 8.8; 1 Cr 18.8; 22.3,14 e 29:7). Foi por essa época que a
organização dos primeiros Estados começou no Egito e na Mesopotâmia. Por esse
motivo, tal período é conhecido como o começo da história.
Aparecem aqui as pirâmides egípcias e, ainda, monumentos literários,
tabuletas, estátuas e inscrições, inclusive com as narrativas da criação e do dilúvio
por parte dos sumerianos.
Cidades começaram a ser construídas com tijolos (exemplificadas nas aldeias
canaanitas). Aliás, muitas descobertas relativas aos povos cananeus têm sido feitas,
incluindo a planta do templo que havia em Ai.
4.3.2. Idade do Bronze Média:
Período que vai de 2.000 a 1.500 a.C..
Foi um período de atividade internacional e intelectual, com o levantamento e
a queda de reinos como do Egito, da Babilônia, dos hicsos, dos hititas, dos horeus.
Israel, por meio de Abraão e seus descendentes, emergia como nação.
Também foi um tempo de grupos seminômades, como os habiru que se infiltraram
nos vales da Palestina, entre os quais podem ter vivido os patriarcas de Israel. Têm
sido encontrados diversos túmulos desses povos em Jericó, bem como outras
evidências em locais vizinhos que indicam a sua convivência com os hebreus.
Carta encontrada em Tell El Amarna que relata o tempo em
que a palestina foi conquistada pelos hebreus
4.3.3. Idade do Bronze Moderna:
Período que vai de 1.500 a 1.200 a.C..
Muitos povos seminômades vagueavam pela terra, matando e sendo mortos.
Houve muita destruição neste período. Foi nesta época que Josué invadiu a Jericó,
próximo do ano 1.324 a.C.
Neste período, a escrita já estava bastante evoluída. Os cananeus, por
exemplo, já empregavam 5 tipos de escritas: acadiano, hieróglifos egípcios, proto-
hebraico, alfabeto ugarítico e a escrita de biblos. As descobertas feitas em Laquis,
Megido e Siquém confirmam estas afirmações.
Abaixo, imagens das cinco escritas mencionadas:
Escrita acadiana
Hieróglifos egípcios
Proto-hebraico
Alfabeto ugarítico
Escrita de biblos
Resumindo...
4.4. IDADE DO FERRO
4.4.1. Primeira Idade do Ferro:
Também conhecida como Ferro I ou Israelita I, esta época data de 1.200 a 900
a.C.
Foi um período de convulsões internacionais. Os israelitas aproveitaram este
momento, expandindo-se como nação e atingindo um Estado de império sob o
governo de Davi e Salomão.
O ferro tornou-se um metal de uso comum. Os filisteus foram os primeiros a
usar o ferro na Palestina (1 Samuel 13:19-21). Em contrapartida, Israel, no tempo
dos juízes, não tinha a mesma prosperidade. Quando Saul assumiu o reinado, a vida
do povo de Israel era, em geral, pobre e simples. Com a prosperidade posterior no
reinado de Salomão, Israel passou a utilizar ferro para armas e construções
aprimoradas (2 Cr. 1.7-12).
Algumas residências para governadores distritais têm sido encontradas em
meio às ruínas investigadas em Megido e Hazor. Havia imensos graneleiros para
armazenar impostos, pagos na forma de grãos, em Laqui e Bete-Semes (2 Cr. 8:8).
Espaçosos estábulos, para 500 ou mais cavalos, foram encontrados em Megido (1 Re.
9.19). Um vaso, encontrado em Tel Qasileh, traz a inscrição “ouro de Ofir”, o que
serve de testemunho confirmatório de 1 Re. 9.28 e 10.21.
Palácio da antiga cidade de Gezer – 1 Re. 9.15-17
As ruínas datam do séc. X a.C., justamente no período do reinado de Salomão.
No local, foram encontrados inúmeros artefatos de cerâmica do povo filisteu anteriores à
construção do palácio, confirmando os relatos bíblicos - 1 Cr. 14.16
Ruínas de Megido – 1 Re. 9.19
Encontrados grandes estábulos para mais de 500 cavalos
Ruínas de Laquis– 2 Cr. 8.8
Encontrados grandes graneleiros para armazenamento
de impostos pagos na forma de grãos
Sítio arqueológico em Tel Qasile
Encontrado vaso que traz a inscrição “Ouro de Ofir” – 1 Re. 9.28 e 10.21
4.4.2. Segunda Idade do Ferro:
Também conhecida como Ferro II ou Israelita II, esta época data de 900 a 600
a. C.
Foi o período da monarquia dividida entre Judá e Israel. Em 722 a.C., Israel foi
subjugado pela Assíria de Sargão II (2 Re. 17.1-6). Já em 597 a.C., Judá foi invadida
pela Babilônia e o povo hebreu foi levado em cativeiro.
Diversas descobertas arqueológicas foram feitas na Palestina e em outros
locais de interesse bíblico. Por exemplo, por conta da abundância de material
arqueológico nesse período, 41 reis mencionados na Bíblia foram confirmados.
REINO UNIFICADO
Saul - 1030 a 1010 a.C.
Davi - 1010 a 970 a.C.
Salomão - 970 a 931 a.C.
A seguir, algumas evidências arqueológicas que retratam este momento
histórico:
Reino de Israel:
OBELISCO NEGRO DE SALMANESER
Encontrado em Calah em 1845.
Durante o reinado de Jeú, Israel perde a Transjordânia para Hazael de Acã.
A peça retrata quando Jeú faz aliança com Salmaneser, rei da Assíria,
tornando-se seu vassalo para evitar outras perdas – 2 Re. 10.31-33
ESTELA DE TIGLATH-PILESER III
Encontrado em Calah, junto ao Rio Tigre - 1 Cr. 5.26
Reino de Judá:
FORTALEZA DE LAQUIS
Ruínas do palácio de Roboão
TÚNEL DE EZEQUIAS
Descoberto em 1838.
Permitia o acesso à fonte de Gihon para abastecimento de água de Jerusalém
2 Re. 20.20
INSCRIÇÃO DE SILOÉ
Localizada dentro do Túnel de Ezequias.
Descreve a construção do túnel pelo Rei Ezequias, que levava as águas para serem
armazenadas na piscina de Siloé dentro da Cidade de Davi.
Privada encontrada em Laquis, que foi construída no século VIII a.C. a mando do Rei Ezequias
para contaminar o local e eliminar os cultos realizados fora de Jerusalém
(Ezequias restabelece o culto ao Senhor – 2 Re. 18.3-7)
ESTÁTUA DO FARAÓ NECO (660 a.C. - 593 a.C.)
Importante figura histórica cuja vida já foi comprovada pela arqueologia:
- Mata Josias – 2 Cr. 35.20-24;
- Leva Jeoacaz para o Egito – 2 Re. 23.31-34;
- Constitui Jeoiaquim como rei de Judá – 2 Re. 23.34-35
NABUDOCONOSOR II (604 a.C. – 562 a.C.)
Importante figura histórica cuja vida já foi comprovada pela arqueologia:
- Passa a ser credor de Judá e Jeoiaquim se rebela contra ele – 2 Re. 24.1;
- Prende Joaquim e constitui Zedequias rei em seu lugar – 2 Re. 24.11-17;
- Toma Jerusalém e leva o povo em cativeiro – 2 Re. 25.1-11.
4.4.3. Terceira Idade do Ferro:
É também conhecida como Persa ou Israelita posterior e data entre 600 a 300
a.C.
Este foi o período dos impérios neobabilônico e persa, bem como do exílio e
da restauração de Judá. Nabucodonosor II capturou Jerusalém, segundo os
arqueólogos, em 16 de março de 597 a.C.. Diversas cidades e fortalezas israelitas
foram destruídas e muitas delas jamais foram ocupadas novamente.
Em Laquis, várias cerâmicas encontradas demonstram a angústia do povo
nessa época. A arqueologia mostra o estado de pobreza em que ficou reduzida a
Terra Santa durante o exílio. Somente no século III a. C. é que Judá foi repovoada,
com o decreto de Ciro, o Grande, rei da Pérsia.
ÓSTRACAS DE LAQUIS
Cacos de cerâmica encontrados em Laquis na década de 30.
Inscrições em hebraico que testemunham os eventos que precederam a captura final de Judá
por Nabucodonosor em 587/586 a.C.
PARQUE NACIONAL DA CIDADE DE DAVI
Escavações encontraram evidências da prosperidade de Judá e da destruição da cidade
pelos babilônios há aproximadamente 2.500 anos atrás.
CIRO, O GRANDE
Imperador persa que conquista a Babilônia em 538 a.C. e liberta o povo hebreu.
Cumprem-se as palavras dos profetas:
Isaías 44.24-28 e 45.1 | Jeremias 51.1-5 e 25.12
CILINDRO DE CIRO
Descoberto nas ruínas da Babilônia em 1879.
Traz a inscrição do Decreto de Ciro que libertou o povo hebreu do cativeiro
após 70 anos de escravidão na Babilônia – Esdras 1.1-4
Resumindo...
4.5. PERÍODO GRECO-ROMANO
Esse período vai de cerca de 300 a. C a 300 d. C..
Na terceira idade do ferro, aumentaram as influências persa e grega,
sobretudo a última. Alexandre, o Grande, conquistou a Palestina em 332 a. C. e abriu
caminho para a helenização. Mais tarde, a Palestina ficou sob o domínio de Seleuco
(um dos generais de Alexandre, o Grande).
ESTÁTUA DE ALEXANDRE, O GRANDE
Em 161 a.C., a Revolta dos Macabeus encerrou este período de dominação,
mas a independência só ocorreu em 143 a.C. Entretanto, em 63 a.C., Pompeu,
general romano, deu fim à independência promovida pela família dos Macabeus e,
em 37 a. C., Herodes foi nomeado procurador da Judeia, consagrando ali o domínio
romano.
GENERAL POMPEU
Conquista a Palestina para o Império Romano em 63 a.C.
e constitui Herodes como procurador da Judeia.
HERODES, PROCURADOR DA JUDEIA (37 a.C. – 4 d.C.)
Responsável pelo Massacre dos Inocentes, que havia sido previsto pelos profetas:
Mateus 2.1-18 | Oseias 11.1 | Jeremias 31.15
É conhecido também por suas grandes construções, como a Cidade de Cesareia Marítima, em
homenagem ao imperador César, e a fortaleza de Massada, e pelo levantamento do templo de
Jerusalém.
Jerusalém foi destruída 2 vezes em 70 e 132 d. C. Assim, Israel foi esvaziada
de judeus, o que deu início à grande dispersão que só teve término em 1948. Os
achados arqueológicos de todo esse período são abundantes.
5. A ARQUEOLOGIA E AS COMPROVAÇÕES LITERÁRIAS
5.1. PALEOGRAFIA
Os primeiros escritos surgiram cerca de 3.000 a.C., tanto na Mesopotâmia
como no vale do Nilo. Nas escritas primitivas, os caracteres correspondiam a
palavras, sílabas ou consoantes. Aos fenícios, se deve a primeira escrita alfabética,
a qual foi aperfeiçoada pelos gregos, incluindo-lhe as vogais.
Os alfabetos gregos constituíram os padrões de base para as escritas bizantina
e cirílica (búlgara, sérvia e nissa) na Europa Oriental e para a escrita latina na
Europa Ocidental. Da escrita latina, por sua vez, derivam todas as escritas ocidentais
até a atualidade. Já dos alfabetos puramente consonânticos, derivaram a escrita
árabe e a escrita hebraica.
A paleografia é utilizada no Brasil para pesquisa em documentos do século
XVI a XIX.
Por este estudo, podemos “desvendar” os mistérios dos escritos antigos, pelas
seguintes razões:
1. É o estudo das maneiras de escrever e de sua evolução, incluindo os materiais
nos quais e com os quais se escreve.
2. É a interpretação ampla de um documento escrito, desde o formato da letra
até as ideias expressas e o seu relacionamento com o contexto, quando confrontada
com outros documentos e métodos de análise da história. Para tanto, deve-se
sempre utilizar mais de uma fonte, principalmente para a checagem e comparação
entre os dados de um assunto correlato.
3. Tem como base a filologia, cujo objeto é o conhecimento e a interpretação dos
testemunhos escritos, das formas linguísticas e do seu uso. Tanto a paleografia
quanto a filologia são consideradas ciências auxiliares da história.
Destaca-se, porém, que a pura e simples leitura não tem sentido prático. Ela é
válida se relacionada com a investigação histórica, entendendo o sentido do que se
quis dizer.
Fonte: https://conceitos.com/paleografia/. Acesso em 4/11/2018
5.2. PAPIROLOGIA
Papirologia é o estudo dos antigos papiros, principalmente de origens egípcia,
grega e romana, os quais eram fabricados a partir da extração da polpa da planta do
papiro. Já os escritos eram feitos com tinta e cálamo, feito de junco.
Os papiros se deterioram rapidamente e os últimos que chegaram até a época
atual datam do século X. O estudo particular dos papiros levou no século XIX à
formação da Papirologia como disciplina independente, que não se limita, no
entanto, à conservação e leitura dos papiros, mas também à sua interpretação.
O papiro “P52” é um grande exemplo de como a papirologia ajuda a
credibilizar a historicidade bíblica. Este fragmento refere-se a João 18:31-33 e 37-
38.
Fonte: < http://bibliateca.com.br/site/os-papiros-e-os-pergaminhos/o-papiro-p52>.
Acesso em 4/11/2018
5.3. EPIGRAFIA
Epigrafia é uma ciência auxiliar da história, na qual se estudam as inscrições
antigas ou "epígrafes", gravadas em matérias sólidas, tais como a madeira, rocha,
ossos e metal, visando obter a decifração, interpretação e classificação das
inscrições.
A epigrafia pode se dividir segundo o seu objeto em religiosa e profana, bem
como segundo o lugar ou o tempo dos monumentos que estuda (exemplo:
portuguesa, francesa, romana, da Idade Antiga, da Idade Média, etc).
Também se pode dividir em virtude da tipologia de inscrições que estuda. Estes
se podem reduzir a sete:
a. Inscrições votivas, dedicatórias ou sacras (que se oferecem e dedicam à
Divindade ou aos Santos).
b. Jurídicas ou legais.
c. Públicas ou monumentais (que se gravam em construções de caráter público
e oficial, como, por exemplo, edifícios, arcos de triunfo, pontes, pedras, etc).
d. Históricas (que geralmente são comemorativas de um feito importante, como,
por exemplo conquistas de reinos, vitória em batalhas, etc).
e. Honoríficas (dedicadas a honrar a memória de um personagem distinguido).
f. Funerárias ou sepulcrais (que se referem à morte de alguma pessoa).
g. Mistas ou comuns, de uso vulgar, em tésseras (pequenas placas), vasilhas,
moedas, etc.
São alguns exemplos de epigrafia: a Pedra de Roseta, a Estela de Tel Dan e a
Inscrição Behistun.
PEDRA DE ROSETA
Descoberta em 1799 por um soldado da tropa de Napoleão Bonaparte
em uma expedição ao Egito.
Traz um decreto egípcio de 196 a.c., escrito em três línguas: hieróglifo, demótico e grego.
A descoberta permitiu a tradução de inúmeras inscrições em hieróglifos encontradas no
território do antigo Egito.
ESTELA DE TEL DAN
Descoberta em 1993/1994.
Primeira vez em que o nome de Davi é encontrado em uma evidência fora da Bíblia.
““Meu pai foi contra ele quando ele lutou em [...]
E meu pai deitou-se, ele foi para seus ancestrais. E o rei de Israel entrou previamente na terra
de meu pai. E Hadad me fez rei. E Hadad foi à minha frente, e eu parti de sete [...] do meu
reino, e eu matei setenta reis, que utilizavam milhares de bigas e milhares de cavaleiros [ou
cavalos]. Eu matei Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, e matei Acazias, filho de Jeorão,
rei da Casa de Davi. E transformei suas vilas em ruínas e tornei sua terra em desolação
[...] E Jeú reinou sobre Israel [...] E pus cerco sobre [...]”
Acredita-se que o texto é de autoria do rei Hazael de Damasco – 2 Re. 8.7-15 e 28-29.
6. OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
Um sítio arqueológico é um local no qual os homens que viveram antes do
início de nossa civilização deixaram algum vestígio de suas atividades: uma
ferramenta de pedra lascada, uma fogueira na qual assaram sua comida, uma
pintura, uma sepultura, a simples marca de seus passos.
Os sítios arqueológicos são diferentes segundo o uso que os homens pré-
históricos fizeram do local. Cada local pode corresponder a uma função, mas há
casos, como as aldeias, onde vários tipos de atividades foram praticadas. Os
vestígios mais antigos são os que estão bem no fundo, pois à medida que avança o
tempo, novos vestígios caem, novas camadas de sedimento se formam e o sítio vai
apresentando uma maior espessura de camadas arqueológicas.
Quando o arqueólogo trabalha ele faz o inverso: com seu pincel, sua pequena
colher de pedreiro, vai tirando os sedimentos e deixando no local os vestígios.
Quando tira os sedimentos de uma camada, numera e retira os vestígios, passando
então para a camada logo abaixo. Assim ele vai do mais recente para o mais antigo.
Em geral, os sítios se apresentam em concentrações espaciais, pois
correspondem a um povo, a uma cultura, a qual explorava um dado território,
deixando nele suas marcas.
A pesquisa arqueológica começa pela prospecção, que corresponde à fase na
qual os pesquisadores procuram encontrar vestígios que permitam o
reconhecimento dos sítios. Em seguida, passa-se à fase de documentação: faz-se o
levantamento topográfico do sítio, isto é, seu mapa no estado em que foi descoberto.
Se há pinturas no loca, as mesmas são fotografadas e copiadas. Após isso, dá-se
início às escavações, que são a única maneira de datar os achados e definir quais os
povos que deixaram os vestígios que o arqueólogo encontrou.
Resumindo...
7. MÉTODOS DE DATAÇÃO
Os vestígios encontrados em uma escavação devem ser datados para que o
arqueólogo possa situá-los no tempo. As datações podem ser relativas, isto é,
quando se atribui o objeto à uma época em razão de uma associação entre o mesmo
e um evento já datado ou com fenômenos naturais cuja ocorrência segue tempos
determinados ou produz certos tipos de vestígios característicos de épocas
definidas. Por exemplo, se encontramos um esqueleto em uma camada geológica,
conhecida como sendo de um período dado, esse esqueleto terá a mesma idade da
camada. Existem, entretanto, métodos de datação absoluta, que datam o próprio
vestígio. Os vestígios que podem ser datados não são todos, eles variam de acordo
com o método escolhido. Atualmente existem três métodos sendo utilizados:
Medições pelo Carbono-14, Medição pelo Argônio de Potássio e a
Termoluminescência.
7.1. Medições pelo Carbono-14
Na natureza o Carbono ocorre em três formas isotópicas: C 12 (com 6 prótons
e 6 neutrons no núcleo do átomo), C 13 (com 6 prótons e 7 neutrons no núcleo do
átomo) e C 14 (com 6 prótons e 8 neutrons no núcleo do átomo). Em qualquer
amostra de carvão, 98,9 % dos átomos são do tipo C 12 e 1,1 % são do tipo C 14 .
Somente um em milhões de átomos de carbono são do tipo C 14. Estes átomos de
carbono são produzidos na alta atmosfera, pelo bombardeio de átomos de
Nitrogênio pelos raios cósmicos, e o excesso de neutrons que possui no núcleo o
torna instável. Ele perde sua radioatividade, voltando ao estado de nitrogênio e este
processo se dá segundo uma taxa constante, independentemente do meio ambiente.
O tempo durante o qual a metade dos átomos de um isótopo radioativo perde sua
radioatividade chama-se meia-vida e, no caso do C 14 a meia vida é de 5.730 anos.
O caso dos seres vivos é curioso. As plantas, através do dióxido de carbono
absorvido durante o processo da fotossíntese, adquirem o C 14 e os animais, que se
nutrem de vegetais ou de animais comedores de vegetais, o absorvem por sua vez.
Esse processo é contínuo e produz efeito inverso ao da meia-vida: ao mesmo em que
alguns átomos perdem a radioatividade, entram no corpo átomos com
radioatividade.
Quando ocorre a morte, cessa a aquisição de novos átomos de C 14 e o
processo de perda de radioatividade produz seus efeitos. Assim sendo, medindo a
radioatividade que resta em um carvão vegetal, em um osso ou em qualquer
vestígios proveniente de um ser vivo, pode-se conhecer a data de sua morte. Ele tem
seus limites: quando a radioatividade que resta é muito baixa, o que acontece depois
de 50.000 anos da morte do ser que originou a amostra, não mais é possível medi-la.
Esse método é hoje muito seguro, desde que sejam tomadas as devidas
precauções para a coleta e manuseio de amostras e na interpretação dos resultados.
7.2. Medições pelo Argônio de Potássio
Esse sistema pode datar coisas muito além do alcance do processo do Carbono-14.
Alicerça-se sobre o desgaste radioativo do Potássio-40 em Cálcio-40 e em Argônio-
40, utilizando proporções conhecidas em termos de taxas de troca conhecidas.
7.3. Termoluminescência
A termoluminescência, apesar de ser menos precisa que o Carbono 14, tem
suas vantagens porque pode datar restos inorgânicos e alcança datas mais antigas
que 50.000 anos. Vejamos as bases desse método.
Os elementos minerais sofrem o bombardeio dos raios cósmicos e se
carregam de radioatividade. Descobriu-se que quando um mineral, como um pedaço
de silex, ou o barro com o qual se fabrica cerâmica, são aquecidos acima de uma
certa temperatura (entre 350 e 400 graus C), perdem a radioatividade. Diz-se então
que o relógio desse objeto foi colocado no zero. A partir deste momento, começam
novamente a acumular radioatividade. Se o homem pré-histórico colocou pedras em
volta de uma fogueira, ou esquentou um pedaço de silex para poder lascá-lo melhor,
ou cozinhou uma vasilha de cerâmica, como emprega altas temperaturas, raramente
alcançadas em fogos naturais de floresta, fez com que o relógio desses objetos fosse
para o zero. As peças começam novamente a ser bombardeadas pelos raios cósmicos
e vão acumulando, novamente radioatividade. Quando são retiradas de uma
escavação, pode-se medir sua radioatividade. Conhecendo-se a taxa anual de
radioatividade acumulada na região de pesquisas (essa taxa varia segundo a região,
o sítio, a camada de sedimentos que recobria a peça analisada e pode ser medida
colocando-se dossímetros no mesmo lugar de onde foi extraída a amostra a ser
datada, deixando os mesmos no local durante um ano) pode-se calcular quantos
anos passaram entre o momento do aquecimento pelo homem pré-histórico e a
descoberta da peça pelo arqueólogo.
8. IDADE DA CRIAÇÃO
Têm sido feitas tentativas de calcular quando ocorreu a criação, mediante a
soma dos anos dados nas genealogias, o que também nos diria quando Adão veio à
existência e quanto tempo se passou até o nascimento de Noé.
8.1. As genealogias bíblicas
Desde o século 1º d.C. até o presente, a maioria dos intérpretes examinou as
genealogias da Bíblia e disse que elas podem ser usadas para calcular a idade da
Terra.
A primeira genealogia usada dessa maneira está em Gênesis 5, que trata dos
descendentes de Adão até o nascimento de Noé. Assim, partindo-se do pressuposto
de que Gênesis 1 é um registro de seis dias literais e as genealogias ilustram relações
pai-filho sem lacunas, então parece que se pode calcular o tempo desde a Criação até
o Dilúvio. Diante disso, segundo a genealogia do capítulo 5, o período transcorrido
desde Adão até Noé seria de 1056 anos.
A próxima genealogia usando o mesmo padrão está em Gênesis 11. Ali, lê-se
que o filho de Noé, Sem, foi pai de Arfaxade dois anos depois do Dilúvio, este que
ocorreu quando Noé tinha 600 anos (Gn 7.11). Os nomes e as idades continuam até
Terá, o pai de Abrão, proporcionando assim uma maneira de calcular o tempo entre
o dilúvio e o nascimento de Abraão, que totaliza mais 893 anos. Assim, a partir do
texto bíblico, teriam se passado da criação até Abrão 1949 anos.
De Abrão em diante, porém, não é um processo tão simples. Não existem mais
genealogias como Gênesis 5 e 11, que listam a idade do pai no nascimento de seu
filho, de modo que é necessário rastrear referências a eras em eventos significativos,
comparar e depois calcular juntos. Esse processo nos leva de Abraão a Davi; de Davi
aos reis de Judá até o exílio; e do exílio aos dias de Jesus. Ao final, de Abraão até
Cristo, teríamos mais 2053 anos.
Portanto, somando todos os períodos bíblicos, chegamos a 4000 anos
separando Adão de Cristo. Veja abaixo:
Ocorre que as medições pelos métodos do Carbono-14, do Argônio de
Potássio e da Termoluminescência mostram que para a arqueologia é impossível
datar a cronologia bíblica considerando como ponto de partida o número de anos
vividos pelos dez patriarcas apresentados nos capítulos 5 e 11 do livro de Gênesis.
Para muitos estudiosos, os “dez patriarcas” são apenas representativos, talvez um
simples esboço dos povos e raças que então existiam.
8.2. Interpretações que tentam reconciliar a ciência com Gênesis
Preliminarmente, é importante ressaltar que as visões críticas à narrativa
bíblica e as dúvidas acerca de seu caráter histórico só começaram a surgir com
expressão relevante no século XIX. Até então, quase todos os comentaristas bíblicos
consideravam que a Bíblia era um documento que contava definitivamente a origem
do mundo.
Tão definitivo, de fato, que números e intervalos específicos eram dados
regularmente. Na igreja primitiva, essas estimativas foram fornecidas por Cipriano,
Irineu, Clemente de Alexandre, Júlio Africano, Orígenes, Lactâncio, Crisóstomo,
Jerônimo e Agostinho, os quais consideraram a idade da Terra em menos de 6.000
anos a partir da data da narrativa de sua criação.
Esses sistemas de datação continuaram através da igreja medieval e
persistiram até o século XVIII com o conhecido Arcebispo Ussher, este que foi
apenas um dos muitos estudiosos da Bíblia que concordaram que a idade da Terra
era inferior a 10.000 anos de idade.
No início do século XIX, no entanto, as novas ciências da geologia e
paleontologia começaram a exercer uma influência sobre as interpretações do
Gênesis. James Hutton, George Cuvier, Charles Lyell e outros argumentaram que a
história da Terra era muito mais antiga do que 10.000 anos. Eles basearam essa
visão em suas novas interpretações das camadas rochosas e dos fósseis dentro
delas.
Tornou-se óbvio que a visão tradicional e a nova visão não podiam ser
precisas, já que forneciam duas histórias concorrentes da Terra.
Porém, há uma observação importante: não foi simplesmente uma questão de
diferenças na escala de tempo, mas de diferenças nos eventos que acontecem
durante essas escalas de tempo. Todos entendiam as implicações da profunda
mudança de idade. Na nova visão da geologia, a Terra tinha uma “história profunda”
com uma série de eventos ocorrendo nela que eram radicalmente diferentes dos
eventos registrados em revelação especial.
Embora os não-cristãos já tivessem designado Gênesis para o reino do mito,
essas diferenças criaram uma questão importante para os cristãos: como a história
em Gênesis se ajustava à nova história da Terra? E o que significou para as doutrinas
da Revelação e Criação?
Uma resposta foi questionar as descobertas geológicas. Isso foi feito por uma
série de "geólogos escriturísticos" com sucesso limitado.
A outra resposta foi mudar a interpretação do Gênesis.
1. O grande hiato – Existiu um grande hiato de tempo entre Gn 1.1 e 1.2, no
qual todas as eras geológicas aconteceram. Isto explica a grande idade da
terra, aliviando o problema de uma criação que aconteceu aparentemente há
6.000 anos, como indica o cálculo das genealogias bíblicas.
2. Dia = era – Os dias de Gênesis não foram de 24h, mas sim, eras vastas. Esta
teoria às vezes é combinada com a supracitada. Imensas eras existiram entre
os vss. 1 e 2.
3. Dias + intervalos – Os dias da criação correspondiam ao espaço de tempo de
24 horas, tal como consideramos hoje, porém não foram subsequentes. Assim,
o dia 1 (Gn. 1:1) não teria sido tão logo sucedido pelo dia 2 (Gn 1:2), havendo
entre ambos um grande intervalo de tempo. O mesmo ocorreria entre os
demais dias da criação.
4. Criação do Éden somente – A criação de Gênesis tenta nos informar somente
sobre a criação de Éden, em seis dias literais. O resto da criação não está
descrito na Bíblia.
5. Eras concorrentes e sobrepostas – Deus, sendo um ser além e fora do
tempo (atemporal), criou tudo em tempos curtos e longos, concorrentes e
sobrepostos. Não podemos delinear dias ou eras distintas e separadas, e
qualquer discussão de tempo em relação à criação é artificial.
6. O dia revelador – Os dias tal como narrados pelo autor de Gênesis são
literais, posto que Deus teria revelado a Moisés o esboço da criação em 6 dias.
Todavia, como Ele realmente criou e quanto tempo levou são fatos não
revelados pelo Criador.
7. A semana dividida ou simetria dupla – A descrição de Gênesis incorpora
um método literário pelo o qual o 1º dia é paralelo ao 4º, o 2º ao 5º e o 3º ao
6º, e estes pares são complementares. O fator tempo, segundo essa teoria, é
artificial.
Estas teorias, segundo Champlim (1997), são tensões em buscar dar a melhor
resposta aos questionadores. Para ele, a simples leitura do registro de Gênesis
mostra que o escritor pensava em dias literais, e bem provavelmente de um tempo
relativamente recente. Estas teorias são tentativas de incorporar a história de
Gênesis dentro dos ensinamentos da ciência moderna. Elas são argumentações
teológicas e filosóficas, embora tenham elementos verdadeiros.
Temos um mysterium tremendum que as teorias dos
homens, e suas cosmogonias são infantis demais
para explicar. Portanto, as diversas tentativas de
reconciliar a história de Gênesis com a ciência
moderna são fúteis. Também a explicação da
própria ciência sobre tudo isto é essencialmente
fútil, embora perfeitamente legítima. Todas as
explicações são simplesmente gritos na noite
misteriosa das obras de Deus. Mas é legítimo gritar e
procurar cada vez mais, por entendimentos mais
aperfeiçoados (CHAMPLIM, 1997, pg. 941, vol.1).
8.3. Doutrinas cristãs ligadas à história da Terra
Os esforços empregados por muitos estudiosos de tentar substituir a linha do
tempo de Gênesis pela linha do tempo científica sob o paradigma convencional de
bilhões de anos impõe necessariamente a substituição de todos os eventos que
acompanham a cronologia bíblica. Assim, esse deslocamento acaba por afetar
inevitavelmente as doutrinas que dependem destes eventos.
Por exemplo:
1. Deus revelou com precisão a história do universo e o papel do homem
nele. Alegorizar ou “des-historicizar” qualquer um desses eventos históricos
é questionar a capacidade da revelação especial de falar claramente sobre a
história.
2. Deus criou o universo inteiro totalmente funcional em seis dias normais.
Aumentar grandemente o tempo e alterar significativamente os eventos
transforma a doutrina da criação em um processo lento, indireto e cheio de
morte; isso, por sua vez, transforma a nossa visão sobre Deus e Sua natureza.
3. Deus formou Adão e Eva à Sua imagem no início de tudo, garantindo assim
que Sua imagem fosse refletida em algum lugar do universo em todos os
pontos de sua história. Se alguém coloca longas eras antes da criação do
homem, isso significa que a imagem de Deus está ausente da criação durante
quase toda a sua história.
4. Deus amaldiçoou a criação como resultado do pecado de Adão, levando a
morte e a corrupção a um mundo perfeito. Dizer que houve bilhões de anos
de corrupção e morte antes do pecado de Adão significa que Deus criou um
universo cheio de morte. Isso não muda apenas a visão da queda, mas a
natureza da nossa redenção por Cristo.
5. Deus julgou o mundo inteiro com uma inundação global, matando todas
as criaturas terrestres, pássaros e pessoas. A ideia de um dilúvio local não
apenas viola a história revelada em revelação especial, mas nega a realidade
passada do julgamento global no espaço e no tempo, lançando dúvidas sobre a
universalidade do julgamento por vir.
6. Deus controla providencialmente cada momento da história, começando
com a criação e a queda, guiando-a para a redenção em Cristo e conduzindo
tudo para a nova criação. Se a linha do tempo do universo não é a linha do
tempo da Bíblia, então a providência de Deus é esvaziada de seu significado e
propósito: ela assume a responsabilidade por bilhões de anos de vazio,
silêncio e morte.
8.4. A medição do tempo por Deus
A balança volta ao equilíbrio quando levamos em consideração a forma que
Deus utiliza para medição de tempo. Para Ele, um dia é como mil e o inverso é
proporcionalmente verdadeiro, conforme nos anuncia o apóstolo Pedro em sua
segunda epístola, capítulo 3, verso 8: “Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um
dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia”.
Não podemos solucionar todos os nossos problemas de conhecimento
simplesmente voltando-nos para algum texto de prova para extrair dali a
interpretação que satisfaça nossas exigências de conforto mental. Nossos métodos
nem sempre nos atendem, o que pode nos frustrar. Muitos mistérios ainda nos serão
revelados, mas temos que minimizar a pretensão de termos respostas para tudo,
pois muitos não o serão: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus,
porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que
cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt. 29.29).
Em nossos olhos existe um tipo de estrabismo ou hipermetropia que nos
impede de ver com clareza. Tais “defeitos oculares” um dia desaparecerão na glória:
“Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face;
agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido” (1
Co. 13.12). No mais, o Todo Poderoso não pode ser de todo conhecido. Seria muita
pretensão da ciência e de seus postuladores querer fazê-lo: “Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus
juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm. 11.33).
9. A ARQUEOLOGIA E A BÍBLIA
A arqueologia provê um testemunho secundário e confirmatório a toda
história da Bíblia desde os dias mais remotos. Importantes colaborações e fatos
adicionais acerca de cada período bíblico têm sido descobertos, desde o período
adâmico, passando pelo período patriarcal, cananeu, monárquico, da dupla
monarquia, exílio, pós-exílio, selêucida, helenista e até o período romano, em
especial lugares, cultura, governo, religião e personagens mencionados no Novo
Testamento.
9.1. Fundo histórico do Novo Testamento
Os livros originais do Novo Testamento são chamados de autográficos. Os
estudiosos bíblicos defendem que os mesmos foram escritos entre 40 e 80 d.C., isto
é, logo após Jesus ter subido aos céus. Isto significa que os fatos foram relatados com
variações mínimas de como realmente ocorreram, minimizando o chamado “efeito
telefone sem fio”. Ademais, se fossem muito discrepantes, aqueles que presenciaram
tudo não permitiriam a sustentação dos relatos falsos (veja Lucas 1.1-4 e Atos 1.1-
3).
Todavia, por terem sido escritos em material perecível, os originais não
subsistiram ao tempo. Além disso, com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. e a
expulsão dos cristãos da cidade, muitos documentos históricos foram igualmente
destruídos, dentre eles os relatos sobre a vida e obra de Jesus.
Isto não significa, porém, que não podemos saber o que foi escrito
originalmente. Todos os livros foram copiados à mão e passados adiante. A ciência
da Crítica Textual nos ajuda a chegarmos a essa definição. Existem algumas técnicas
que podem ser aplicadas para se chegar ao texto original, como a comparação de
todas as cópias e a reconstrução do texto pelo “texto majoritário”.
Somente em grego, mais de 5 mil manuscritos já foram descobertos, vários
deles datados de antes do ano 300 d.C. Já em outras línguas, existem 15.000
manuscritos, todos datados dos primeiros séculos da era cristã. Nenhum outro texto,
seja histórico ou religioso, possui mais de uma dúzia de cópias que tenham
sobrevivido até a nossa geração.
Apesar do grande número de cópias, as diferenças nos textos são
consideradas irrelevantes pelos especialistas, visto que nenhuma delas afeta a
autenticidade dos relatos bíblicos, tampouco altera as doutrinas cristãs.
Assim, os estudiosos modernos são capazes de reconstruir 99% do N.T. com
extrema confiança. Além das cópias, há um enorme número de referências que são
feitas aos escritos neotestamentários pelo escritos dos cristãos. Na verdade,
poderíamos reconstruir a maioria do N. T. somente a partir destes escritos. Dr. Dan
Wallace (2011), um dos mais importantes estudiosos atuais, contribui:
Agora, se você destruísse todos os manuscritos, nós
não seríamos deixados sem testemunha. Isso porque os
líderes cristãos antigos conhecidos como Pais da Igreja
escreveram comentários sobre o Novo Testamento. Até
a presente data, mais de 1 milhão de citações do Novo
Testamento feitas pelos Pais da Igreja foram
registradas. “Se todas as outras fontes para o nosso
conhecimento do texto do Novo Testamento fossem
destruídas, [as citações patrística] seriam suficientes
por si só para a reconstrução de praticamente todo o
Novo Testamento.” (Broocks, 2014, pg.158-159)
9.1.1. Confirmação da vida e obra de Jesus de Nazaré
Nesta mesma linha de raciocínio, a vida e o ministério de Jesus de Nazaré na
Palestina durante os primeiros anos da era cristã podem ser confirmados.
É bem verdade que a arqueologia não encontrou até os dias de hoje nenhum
artefato pessoal de Jesus, tampouco a estribaria onde Ele nasceu ou a casa onde
morou. Todavia, é importante lembrar que, no ano 70 d.C., Jerusalém e grande parte
de Israel foram destruídas pelos romanos. Assim, a probabilidade de as evidências
materiais terem se perdido é grandiosa. Além disso, é possível deduzir que, caso
tivesse sobrevivido à destruição qualquer objeto relacionado à vida de Jesus,
certamente este seria idolatrado por seus seguidores. Do ponto de vista cultural e
político, isto não seria permitido de maneira alguma pelas autoridades da época, as
quais desejavam a qualquer custo exterminar tudo aquilo que preservasse a
memória de Cristo, inclusive os próprios cristãos. Já do ponto de vista teológico, não
seria irrazoável concluir que, de acordo com a própria história da Igreja Cristã que
se desenvolveria tempos depois, tais artefatos seriam objetos de adoração muito
maior do que o próprio Cristo, razão pela qual os mesmos providencialmente se
perderam.
Cumpre ressaltar, ainda, que as ossadas de Jesus, bem como qualquer
material orgânico de Sua matéria física decomposta, jamais foram encontrados nas
buscas feitas não só nos tempos atuais pelos cientistas modernos, mas por todo o
transcorrer da era cristã, especialmente no tempo em que sua morte ocorreu. Como
dito anteriormente, as autoridades judaicas e romanas da época, as quais enviaram
Jesus a Pôncio Pilatos e o conduziram à Sua crucificação, certamente buscaram o
corpo de Cristo.
Era política de Estado do Império Romano que, toda vez que um inimigo de
Roma que tivesse muitos seguidores fosse punido com morte, seu corpo fosse
colocado em lugar público para apodrecer, evitando, assim, o culto ao sepulcro.
Assim, diante da magnitude do movimento que Jesus liderava, certamente os oficiais
da época buscaram o Seu corpo para exterminar a idolatria à Sua figura. No entanto,
nem naquele tempo, nem nos séculos posteriores, qualquer vestígio do corpo físico
de Cristo foi encontrado.
Vale lembrar que, conforme relatado por Mateus em seu Evangelho, após José
de Arimateia ter alcançado a concessão de Pilatos para por o corpo de Jesus no
túmulo de sua família (27.57-58), os príncipes dos sacerdotes, temendo o
cumprimento da profecia de Cristo de que, ao terceiro dia, ressuscitaria, sugeriram
ao governador que pusesse guardas para vigiarem o sepulcro (27.62-66). Todavia,
Jesus, de fato, ressuscitou dentre os mortos no terceiro dia, razão pela qual, após
terem sido informados pelos guardas sobre o que viram, os príncipes dos sacerdotes
os compraram com propina para espalharem pela cidade a falsa notícia de que o
corpo havia sido furtado pelos discípulos (28.1-15).
Outro ponto interessante é que a forma como os Evangelhos informam que
Jesus foi crucificado está em conformidade com aquilo que a arqueologia já
descobriu sobre a tradição romana de crucificação. Em 1968, foi encontrado em um
túmulo perto de Jerusalém o osso de calcanhar de um homem judeu, que foi
crucificado no começo do primeiro século d.C., perfurado por um grande prego de
aproximadamente 18 cm. Isto confirma os detalhes relatados na Bíblia sobre a
morte de Jesus por crucificação, quando Cristo, já ressuscitado, mostra a marca dos
cravos nas mãos e nos pés (Lc. 24.40).
CALCANHAR DE UM HOMEM JUDEU CRUCIFICADO NO SÉC. I d.C.
Além disso, era tradição romana quebrar as pernas dos condenados à
crucificação, para que a morte fosse acelerada pelo peso do corpo a pressionar os
pulmões. Na crucificação de Cristo, os outros dois condenados que estavam ao seu
lado tiveram suas pernas esmagadas, porém, conforme o relato de João, Jesus teve
seus ossos intactos, visto que já havia entregado o espírito (Jo. 19.28-37). Isto
confirma não só o cumprimento da profecia de Salmos 34.20, como evidencia que
Jesus, que estava morto, ressuscitou no mesmo corpo, porém glorificado, razão pela
qual jamais será possível encontrar qualquer vestígio de sua morte.
Feitas estas considerações, cumpre esclarecer que, apesar de a ciência
arqueológica não ter encontrado as roupas, as sandálias ou qualquer objeto pessoal
de Jesus de Nazaré, não se pode dizer que não há comprovação concreta de sua
existência. Isto porque a história, do ponto de vista acadêmico-científico, trabalha
com a chamada “múltipla confirmação”: quando diferentes autores, que nunca se
leram e nunca trocaram informações, são capazes de afirmar em seus relatos frases,
ditos e ideias exatamente iguais entre eles sobre a vida de Jesus.
Exemplo disto se encontra no próprio N.T.. Segundo os estudiosos bíblicos,
Marcos, o primeiro autor dos Evangelhos, produziu seu texto por volta de 63 d.C..
Muito embora não tenha sido discípulo de Jesus, Marcos conviveu com o apóstolo
Pedro, sendo até considerado por este seu filho na fé (1 Pe. 5.13). Por conta disto e
da riqueza de detalhes de seus relatos, acredita-se que o Evangelho segundo Marcos
é, na verdade, a transcrição do testemunho de Pedro, o qual pôde andar e conviver
com Jesus Cristo e, portanto, prestar depoimento idôneo sobre a Sua vida e obra.
Com isso, Marcos, ao descrever como ocorrera a última ceia, por exemplo, foi capaz
de reproduzir a fala de Jesus palavra por palavra (Mc. 14.22-25).
Em contrapartida, Paulo, o autor mais antigo do N.T. que conhecemos, visto
ter iniciado seu ministério por volta de 49 d.C., não teve acesso a nenhum
documento escrito que contasse os eventos ocorridos durante a vida de Jesus, já que
o primeiro Evangelho, aquele segundo Marcos, foi escrito muitos anos depois.
Todavia, ainda assim, o apóstolo Paulo, em sua primeira carta à igreja de Corinto,
reproduziu com exatidão palavra por palavra dita por Jesus na última ceia (1 Co.
11.23-26), confirmando que o fato ocorrera da forma como foi narrada por ambos
os autores.
Podemos ainda citar mais um exemplo dos mesmos escritores. Na epístola aos
Gálatas, a primeira das cartas, escrita entre 49 e 52 d.C., Paulo descreve a “plenitude
dos tempos”, definindo-a como o tempo certo do cumprimento do plano salvífico de
Deus através da vinda do Filho ao mundo (Gl. 4.4).
Marcos, o qual, destaca-se, escreveu seu Evangelho apenas 63 d.C., revela no
capítulo 1, versículo 15, as palavras de Jesus quando iniciou seu ministério após ter
sido batizado nas águas por João Batista: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus
está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho”.
Vê-se, portanto, que ambos os autores narram com fidelidade o plano divino
de redenção do homem, caracterizado pela vinda de Jesus Cristo no tempo certo de
Deus, sem nunca terem sido fonte de informação um do outro.
Estes são apenas um exemplo das evidências colhidas pela ciência na
chamada “múltipla confirmação”. Não só testemunhos cristãos dão conta de que
Jesus de Nazaré viveu, morreu e ressuscitou, como também fontes não-cristãs dos
primeiros séculos d.C. demonstram a historicidade dos Evangelhos e dos relatos
sobre a vida e obra de Jesus, conforme será explorado adiante no ponto 9.1.2.
Além destes testemunhos que confirmam a existência do Jesus histórico, a
arqueologia já conseguiu colher evidências da vida de vários personagens que estão
intimamente relacionados à vida de Cristo.
O primeiro deles é justamente Paulo de Tarso, novamente citado aqui, que é
responsável pela construção teológica e doutrinária acerca do Evangelho de Cristo,
bem como de sua expansão pelo Ocidente.
Em Atos 18, Lucas narra a chegada de Paulo em Corinto, quando este
conheceu Priscila e Áquila, passando a residir com eles e a pregar o Evangelho na
região. Depois de certo tempo, porém, os judeus que ali estavam e que ouviam sobre
os feitos de Paulo, levaram-no ao tribunal para ser julgado por Gálio, procônsul da
Acaia (Atos 18.12-17).
Como sabemos, Lucas se preocupava em narrar os fatos com fidelidade
jornalística-investigativa, razão pela qual o autor fez questão de identificar com
exatidão quando Paulo foi levado ao julgamento e quem seria o seu julgador.
Tratava-se de um personagem histórico chamado Lúcio Júnio Gálio Aneano,
um senador romano que era irmão do conhecido filósofo Sêneca. Segundo a
histórica, Gálio exercia do mandato de proconsul da região da Acaia durante o
reinado do imperador romano Claudio, responsável pela expulsão dos judeus de
Roma entre 51 e 52 d.C.
Em 1885, foram encontrados no Templo de Apolo em Delfos, na Grécia, nove
fragmentos de uma carta escrita por Cláudio, que ficou conhecida como a “Inscrição
de Delfos”. No texto, o imperador romano demonstra seu interesse na cidade e
menciona o nome de Gálio, procônsul da Acaia, que comandava aquela região em
favor de Roma.
Essa descoberta contribuiu para a confirmação da vida e da jornada de Paulo,
permitido à ciência bíblica a datação dos eventos ocorridos durante as viagens
missionárias do apóstolo.
E por que isto é importante?
Dos 27 livros do N.T., 13 foram escritos por Paulo na forma de epístolas. Além
disso, o apóstolo é citado com frequência em Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, e
é considerado um dos possíveis autores da carta aos Hebreus, por conta da forte
semelhança da produção textual desta com as demais cartas. Isto significa que, ao
ser comprovada a vida do apóstolo Paulo, mais da metade do N.T. ganha
confirmação científica. Portanto, se a vida e a obra de Paulo são confirmadas, assim
também se confirma aquilo que se sabe sobre a vida e a obra de Cristo.
INSCRIÇÃO DE DELFOS
Além de Paulo, a arqueologia já conseguiu recolher provas da existência de
outra figura de extrema importância para o histórico de Jesus narrado nos
Evangelhos: Pôncio Pilatos.
Pilatos foi governador da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C. e ficou conhecido
por ser aquele quem condenou Jesus à morte. Além das inúmeras citações a seu
nome e a seu mandato presentes nos escritos de historiadores dos primeiros séculos
da era cristã, um achado arqueológico recente confirma mais uma vez a sua
existência.
Em 1961, arqueólogos encontraram em Cesareia Marítima um fragmento de
pedra calcária, na qual está gravada a seguinte inscrição: “Pôncio Pilatos, prefeito da
Judeia, dedicou ao povo de Cesareia um templo em honra a Tibério”.
Segundo a inscrição, Pilatos ergue um templo na cidade em homenagem ao
imperador romano Tibério, que reinou entre os anos de 14 e 37 d.C. Esta evidência
está em consonância com a cronologia bíblica, uma vez que Lucas, em seu
Evangelho, refere-se a Pôncio Pilatos como sendo governador durante o reinado de
Tibério (Lc. 3.1).
PLACA DE PILATOS
A arqueologia também já conseguiu identificar a existência do sumo sacerdote
Caifás, mencionado nos Evangelhos como aquele quem presidiu o julgamento de
Cristo antes de entrega-lo a Pôncio Pilatos (Mt. 26.57; Jo. 18.13-14;24).
Em 1990, trabalhadores de uma estrada em Jerusalém tropeçaram em uma
caverna antiga contendo 12 caixas de calcário com ossos de mortos. Um desses
ossuários, particularmente ornamentado, estava inscrito “José, filho de Caifás”.
Dentro dele havia ossos de um homem de 60 anos de idade, aproximadamente a
idade de Caifás quando morreu, e foi enterrado no primeiro século da era cristã, de
modo que os especialistas consideram que os restos mortais encontrados são os
mesmos do sumo sacerdote.
OSSUÁRIO DE CAIFÁS
Deste modo, mesmo que a arqueologia não tenha ainda alcançado evidências
sobre o andar de Jesus, ela já alcançou evidências sobre as Suas pegadas,
comprovando cientificamente a existência e os feitos de grandes homens que
atuaram por Ele ou fizeram parte de Sua história.
9.1.2. Confirmações do Novo Testamento por fontes não-cristãs
Contribuindo para a verificação da existência do Jesus histórico pelo método
da múltipla confirmação, diversos historiadores não-cristãos dos primeiros séculos
registraram em seus escritos fatos sobre a vida e a influência de Cristo em
conformidade com os relatos do N.T.
A) Cornélio Tácito – historiador romano e governador da Ásia em 112 d.C.
Cornélio, como um cuidadoso historiador que tinha acesso aos documentos
romanos oficiais, descreve em seus manuscritos a perseguição dos cristãos causada
pela falsa acusação feita pelo imperador Nero de que os mesmos tinham incendiado
Roma:
“Cristus (Cristo), que deu origem ao nome fora morto por Pôncio
Pilatos, procurador da Judeia no reinado de Tibério; mas a
perniciosa superstição, reprimida por um tempo, irrompeu
novamente, não somente na Judeia, onde o engano começara, mas
também pela própria cidade de Roma”
B) Suetônio – historiador oficial de Roma em 125 d.C.
Suetônio refere-se aos cristãos como promotores de distúrbios em Roma,
razão pela qual foram expulsos da cidade. Ainda, identifica a seita dos cristãos como
sendo derivada da “instigação de Cristo”.
C) Plínio, o Moço – governador da Bitínia em 112 d.C.
Ao escrever ao imperador romano Tibério buscando orientações sobre como
interrogar os cristãos, a quem perseguia, Plínio relata que os mesmos não adoravam
o soberano de Roma, nem negavam seu líder, Jesus Cristo, mesmo sob extrema
tortura.
Em seus escritos, Plínio descreve os cristãos como “aqueles que amavam a
verdade a qualquer custo”.
“Os cristãos tinham um hábito de se reunirem num dia
determinado, antes do alvorecer, quando cantavam
alternadamente os versos de um hino dedicado a Cristo como
para um deus (...)”
D) Luciano de Samósata – historiador
Luciano viveu em Samósata, na Síria, um século depois de Cristo. Em seu livro
“O Peregrino Passageiro”, relata que jesus era adorado por seus seguidores:
“[Jesus foi] o homem que fora crucificado na Palestina porque
havia introduzido esse novo culto no mundo”
E) Talus – historiador pagão de 52 d.C.
Os relatos de Talus foram registrados pelo escritor cristão Júlio Africano em
215 d.C.
Talus, que viveu em 52 d.C., relata que houve uma escuridão sobrenatural
cobrindo a face da Terra durante a páscoa de 32 d.C. Júlio, ao contar este relato,
opina:
“Talus, no terceiro livro de suas histórias, explica que tal escuridão
foi causada por um eclipse solar, o que, para mim, não parece uma
explicação razoável”
Atualmente, os astrônomos modernos confirmam que Júlio Africano estava
certo em sua consideração, uma vez que um eclipse solar normal não poderia
acontecer simultaneamente à lua cheia, fase em que esta se encontrava no momento
da páscoa. Isto porque o sumo sacerdote calculava cuidadosamente a posição da lua
cheia, uma vez que o calendário litúrgico judaico depende da exatidão da posição
lunar.
Portanto, o relato de Talus confirma a passagem de Lucas 23.44.
F) Flávio Josefo – historiador e sacerdote fariseu
Josefo nasceu em 37 d.C., logo após a morte de Cristo, testemunhando os
acontecimentos subsequentes e relatando fatos sobre a vida de Jesus, Thiago, João
Batista e outros.
“Por essa época, apareceu Jesus, um homem sábio, se é
correto chamá-lo de um homem, porque fazia obras
maravilhosas, um mestre de quem os homens recebem a
verdade com prazer. Ele atraiu a si muitos judeus, bem como
muitos gentios.
Ele era o Cristo, e quando Pilatos, por sugestão dos principais
homens do nosso meio, o condenou a morrer na cruz, aqueles
que o amavam desde o princípio não o abandonaram: porque
ele apareceu-lhes novamente vivo depois do terceiro dia,
como os divinos profetas haviam predito, tanto estas como
milhares de outras coisas maravilhosas sobre ele.”
9.2. O fundo histórico do Velho Testamento
Nestes últimos anos, os arqueólogos, filósofos e historiadores tiraram o véu
que por séculos escondia um período de 5.000 anos (a grosso modo) da história
antes da era cristã.
Por muito tempo, o Velho Testamento era a única história conhecida de uma
civilização antiga. O conhecimento das civilizações anteriores e contemporâneas de
Israel ficou apagado por muitos séculos. Fora do V.T., nada se sabia dos 1.000 anos
da história do povo hebreu antes de Heródoto (século V a.C.), importante historiador
grego, considerado pelo filósofo Cícero o pai da História, que revelou as primeiras
conquistas dos persas na Grécia e as várias formas de governo até a retomada do
poder pelos gregos.
Devido a essa lacuna no conhecimento, levantaram-se dúvidas sobre a
verdade das referências bíblicas a respeito das nações contemporâneas. Para os
eruditos seculares, o V.T. sem apoio de documentos contemporâneos não tinha valor
histórico.
Todavia, as descobertas arqueológicas aumentaram tanto o escopo do
conhecimento da história antiga que os cientistas e teólogos reconhecem hoje que o
judaísmo é uma religião relativamente moderna, e que havia civilizações já antigas
quando Abrão saiu de Ur para ir à terra desconhecida (Gn. 12.1; Hb. 11).
Descobertas arqueológicas revelam os segredos e os mistérios das muralhas,
outeiros, templos, monumentos, túmulos, pirâmides e palácios do Egito e das
bibliotecas, estátuas e literaturas nas ruínas da Babilônia. Traduções de tabuinhas,
cilindros, rolos, pedras, alabastro, tijolos, óstracas, monumentos e papiros
desvendam os mistérios que tinham ficado escondidos nas línguas mortas por
longos séculos. Tais descobertas vêm ajudando historiadores a reconstruir a história
esquecida do Egito e da Assíria-Babilônia.
Compreende-se que os livros do V.T. são relativamente modernos em
comparação a alguns documentos descobertos pelos arqueólogos. Moisés e Abraão
não pertencem mais a uma época desconhecida. É possível reconstruir, em grande
parte, os movimentos políticos, sociais e religiosos dos tempos antigos. Entendemos
melhor os limites territoriais das nações nos vários períodos da história à luz da
ciência arqueológica.
Contribuindo riquissimamente com a historicidade da Bíblia, muitas
referências foram confirmadas pela arqueologia: Ur dos caldeus e dos sumerianos,
Ereque da Babilônia, entre outras cidades. A descoberta de 20 mil inscrições em
Mari, na Síria, representando a correspondência diplomática do último rei da cidade
com o seu embaixador, Zimri-Lin, e com o famoso Código de Hamurabi (XVIII a. C.),
as milhares de inscrições em tábuas de barro de Nuzi (XV a.C.) e o Código de
Esnunna (XX a.C.). Todas essas são detentoras de grande fundo histórico e nos
permitem aproximar dos valores da sociedade e religião dos vizinhos de Israel no
período patriarcal.
UM DOS TABLETES DE MARI
As tábuas de argila de Mari descrevem práticas de adoção e herança semelhante àquelas
relatadas na Bíblia. Fazem também menção a sacrifício de animais quando alianças entre
povos eram feitas e nos revelam nomes utilizados na época como: Noé, Abraão, Labão e Jacó,
mencionando também as cidades de Naor (Gênesis 11.22-25) e Harã (Gênesis 11.31).
CÓDIGO DE ESHNUNNA
CÓDIGO DE HAMURABI
9.2.1. O sol em Qumran
Julgava-se por algum tempo que o período dramático das descobertas
arqueológicas havia se esgotado, mas em 1947 um facho de luz brilhou sobre as
cavernas profundas de Qumran às margens do Mar Morto. Neste local, foram
encontrados manuscritos bíblicos – chamados Manuscritos do Mar Morto – e outros
documentos antigos que abriram novos campos de investigação. Foi descoberto,
ainda, a cópia mais antiga do Rolo de Isaías, quase 1.000 anos mais antigo do que
qualquer outro manuscrito completo do texto massorético, juntamente com
milhares de pedaços e fragmentos de manuscritos bíblicos de quase todos os livros
do V.T. Outros documentos achados nas cavernas ajudam no esclarecimento do
ambiente histórico dos essênios, integrantes de uma seita judaica que preservou
esta literatura no período do N.T.
MANUSCRITOS DO MAR MORTO
9.2.2. Jardim do Éden: narrativa alegórica ou verdadeira
origem do mundo?
Ao longo deste módulo, nós já conseguimos demonstrar arqueologicamente a
história bíblica narrada no V.T., em especial:
- A vida dos patriarcas de Israel e sua genealogia;
- A vida e o reinado de Davi e Salomão;
- A divisão entre o Reino do Sul e o Reino do Norte e seus respectivos reis;
- A conquista de Israel pela Assíria;
- A conquista de Judá pelo rei Nabucodonosor e o exílio na Babilônia;
- O pós-exílio com a libertação do povo hebreu por Ciro, o Grande, e a
reconstrução de Jerusalém.
E quanto à narrativa anterior?
Não é raro ouvir de ateus, e até de cristãos, que os relatos bíblicos sobre o
Éden, Adão e Eva, a Queda e o dilúvio são fantasias, alegorias ou metáforas. A
historicidade e a credibilidade de tais narrativas são totalmente esvaziadas por
aqueles que veem mais sentido na teoria evolucionista para explicar a origem do
mundo.
Entretanto, o que a própria comunidade científica insiste em desconsiderar é
que a arqueologia já encontrou diversas evidências que confirmam uma origem
diferente daquela sugerida por Darwin e seus discípulos.
Antes, porém, de adentrarmos nas referidas descobertas arqueológicas, faz-se
necessário definir alguns conceitos relacionados à pesquisa científica:
- EVIDÊNCIA: Elementos que aparecem em determinado campo e permitem a
construção de uma hipótese lógica acerca do evento.
- FATO CIENTÍFICO: Descrição objetiva da evidência.
- HIPÓTESE DE TRABALHO: Duas ou três interpretações acerca da descrição
objetiva, isto é, do fato científico.
- TEORIA: Uma única interpretação acerca do fato científico.
- LEI: Possibilidade de repetição do processo em laboratório.
Estes são os conceitos básicos que devem ser observados por aquele que se
dedica a empreender uma pesquisa científica. Todavia, quando se trata de pesquisa
histórica, o processo é diferente. Sendo história, não se pode ter uma lei, pois o
processo não pode ser repetido em laboratório. O mesmo vale para a teoria, uma vez
que não se pode haver uma única versão dos fatos. Portanto, sendo história,
trabalha-se somente com evidências, fatos científicos e hipóteses de trabalho.
Dito isto, passemos às descobertas arqueológicas.
Existem alguns fatos históricos relacionados à origem das civilizações que
são consenso entre os estudiosos e podem ser encontrados como verdadeiros em
todos os livros de História:
(i) Uma das primeiras formas de escrita da humanidade é a escrita
cuneiforme;
(ii) Os primeiros documentos produzidos nesta escrita são
encontrados na região da Mesopotâmia, onde hoje é o Iraque;
(iii) Com base nisto, têm-se que a primeira cidade que surgiu como
civilização na Mesopotâmia foi Eridu.
Diante desses fatos conhecidos, os historiadores, dedicados a verificar a
historicidade do relato de Gênesis acerca da origem do mundo, traçaram as
seguintes premissas como linha de investigação:
A) Se a história de Adão e Eva for verdadeira, estes estão no topo
genealógico de todas as civilizações do mundo.
Considerando o registro de Gênesis verdadeiro, temos a premissa de que o
primeiro casal deu origem a toda a humanidade e está no topo da linha genealógica
de todas as civilizações.
B) Logo, se for verdade, os primeiros povos da Mesopotâmia são seus
descendentes e estão cronologicamente próximos do primeiro casal na linha
genealógica.
Sendo incontroverso que as primeiras civilizações surgiram na Mesopotâmia,
temos que, se Adão e Eva existiram, tais povos são seus descendentes próximos na
linha genealógica da humanidade.
(iii) Por fim, se a Queda e o Dilúvio de fato aconteceram, tais eventos
permaneceram na memória destas primeiras civilizações.
Se a História pode nos relevar uma constante é esta: todo evento histórico
demasiadamente trágico deixa marcas nas gerações seguintes. Exemplo claro disso é
o Holocausto dos judeus no século XX. Os filhos e netos daqueles que sobreviveram
ou padeceram no evento guardam a memória vívida da tragédia e a recontam até os
dias de hoje, por se tratar de um grande trauma que marcou a história de seus
antepassados.
Portanto, considerando a magnitude dos eventos relatados em Gênesis, quais
sejam, a entrada do pecado no mundo, a expulsão do primeiro casal do paraíso e a
inundação global que destruiu todo ser vivo, exceto aqueles poucos que se salvaram
dentro de uma grande embarcação, certamente as primeiras civilizações, que
descendem daqueles que viveram os eventos, recontariam tais acontecimentos.
Cumpre observar, porém, que, por mais que com o passar do tempo a
narrativa dos eventos incorpore detalhes que não ocorreram ou perca detalhes
verídicos, assumindo assim o caráter de mito, alguns elementos da história original
sempre permanecem, o que contribui para que os estudiosos verifiquem se tais
relatos possuem historicidade ou não.
Assim, a partir destas premissas, a comunidade arqueológica, ao estudar a
região da Mesopotâmia, buscou encontrar elementos que respondessem aos seus
questionamentos.
Foi numa destas empreitadas que certos arqueólogos que escavavam as áreas
correspondentes às antigas cidades de Eridu e Urik encontraram diversos tabletes
datados do ano 3.000 a.C. que contêm relatos da origem dos povos sumerianos que
habitava aquela região.
Um dos vários tabletes encontrados em Eridu e Urik,
antigas cidades da Mesopotâmia
Nestas inscrições, vários elementos se repetem e revelam uma semelhança
extraordinária com o registro de Gênesis, os quais serão esmiuçados a seguir:
1
EM VÁRIOS TABLETES, HÁ A AFIRMAÇÃO DE QUE AQUELES POVOS SÃO
DESCENDENTES DAQUELES QUE NASCERAM “NO PARAÍSO IDÍLICO DE
DILMUN” E QUE SOBREVIVERAM AO “GRANDE DILÚVIO”.
Um “paraíso idílico” se refere a um lugar bucólico, puro e ideal.
Não se trata de qualquer paraíso, pois os sumérios são específicos ao
indicarem que seus antepassados vieram daquele localizado em Dilman,
cujo nome, traduzido ao português, significa “terra do sol nascente”.
No tablete intitulado “Enki e Ninhursag”, Dilmun é descrito como um lugar
puro, sem doença, sofrimento ou morte, mas cheio de paz, bênção e
fertilidade.
As inscrições ainda trazem uma lista de reis sumerianos que governaram
Eridu por muito tempo, cuja dinastia é brutalmente interrompida na
narrativa pela frase “então veio o dilúvio”.
RELATO DE GÊNESIS (Capítulo 2)
A Bíblia trata a partir do verso 8 acerca de um paraíso idílico, criado por
Deus na forma de um jardim, no qual colocou o homem que havia criado para o
lavrar e o guardar.
Precisamente no versículo 8, o autor informa que o jardim foi plantado no
lado oriental, isto é, na banda do sol nascente.
Segundo a teologia, o mundo original foi criado totalmente perfeito e
bom aos olhos do Criador (“e viu que Deus que era bom”, expressão que se repete
em todo o relato de Gn. 1). Isto significa que a morte e o sofrimento não existiam,
passando a existir somente após a entrada do pecado no mundo pela desobediência
de Adão e Eva (Gn. 3).
O local onde fora plantado o jardim era extremamente fértil, segundo
informa o versículo 9 quando diz “e o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore
agradável à vista e boa para comida”.
Em Gênesis 5, está registrada a genealogia de Adão até Noé, tendo se passado
aproximadamente 1.056 anos, conforme vimos neste módulo. Já em Gn. 7.21-23,
conta-se que o dilúvio extinguiu todo ser vivente da face da terra, inclusive os
seres humanos, tendo sobrevivido apenas Noé e os que estavam com ele na arca.
Mais a frente, no capítulo 10, o autor informa sobre a descendência de Noé e as
gerações após o dilúvio, a partir das quais foram divididas as nações.
2
DILMUN ERA LOCALIZADA NA REGIÃO DE EDINU
A palavra Edinu possui a mesma raiz etimológica que a palavra hebraica Eden
e ambas significam “planície”, bem como “um local abundantemente regado”.
RELATO DE GÊNESIS (Capítulo 2)
No mesmo verso 8, o autor informa que o jardim foi plantado na região do
Éden.
A Bíblia ainda revela que a região do Éden era abundantemente regada
por águas, descrevendo, a partir do verso 9, a bacia hidrográfica que cortava o
local, consistente em quatro grandes rios: Pisom, Giom, Tigre e Eufrates.
3
O PRIMEIRO HOMEM QUE HABITOU ALI, A DEPENDER DA INSCRIÇÃO,
CHAMAVA-SE ADAPA OU ADAMA
Alguns nomes próprios sofrem variações ao serem utilizados em outras
línguas.
Ex.: João (português) = John (inglês) = Juan (espanhol) = Jean (francês).
O mesmo ocorre no caso de Adapa ou Adama, os quais são variações da
mesma raiz etimológica do hebraico Adam (Adão, em português), todos
significando “homem”.
Adapa foi formado pelo pó da terra e andava nu por Dilmum.
RELATO DE GÊNESIS (Capítulos 1 e 2)
No capítulo 1, a partir do verso 26, há o relato da criação do primeiro
homem. O relato continua no verso 7 do capítulo 2, quando o autor conta que Deus
o formou do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida. Mais
adiante, quando é narrado o momento da criação da primeira mulher, o nome
daquele primeiro homem é revelado: Adão.
Antes da Queda, ou seja, antes do primeiro homem (Adão) e a primeira
mulher (Eva) serem expulsos do Jardim, ambos costumavam a andar nus e não
se constrangiam, conforme registrado está em Gn. 2-25.
4
ADAPA FOI TENTADO A COMER A COMIDA
PERMITIDA SOMENTE AOS DEUSES
Os sumérios contavam que os deuses apresentaram a Adapa um alimento
proibido que só aqueles podiam consumir para ter a vida eterna e o
conhecimento pleno.
Quem ajudou Adapa foi Ningishzida, cuja tradução significa “senhor da
árvore cobiçável”.
RELATO DE GÊNESIS (Capítulo 2 e 3)
Em Gn. 2.16-17, Deus permite que Adão coma livremente de toda árvore do
Jardim, porém o proíbe de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e
do mal.
Porém, conforme o relato do capítulo 3, tanto Adão quanto Eva são
tentados a comer do fruto da árvore, quando a serpente argumenta no verso 5:
“Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos e
sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”.
5
NINGISHZIDA É REPRESENTADA POR UMA SERPENTE DIABÓLICA
Nas inscrições sumerianas, a figura de Ningishzida é frequentemente
representada pelo desenho de uma serpente.
RELATO DE GÊNESIS E APOCALIPSE
Quando o primeiro casal é tentado a comer do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal, quem o persuade a desobedecer a Deus é a
serpente, que, segundo o verso 1 deste capítulo, era mais astuta que todas as
alimárias do campo que Deus tinha feito.
Mais à frente, quando Deus questiona a desobediência de Adão e Eva, Ele
amaldiçoa a serpente (Gn. 3.14-15).
Em Apocalipse 12.9, a identidade da serpente é revelada, sendo ela o
próprio Diabo.
6
NINGISHZIDA, A SERPENTE, ESTAVA ENVOLVIDA NUMA REBELIÃO DE
SERES ANGELICAIS, CHAMADOS ANUNNAKIS, OS QUAIS QUERIAM SER
IGUAIS AOS DEUSES.
Parte dos Anunnakis se rebelaram reclamando o direito de serem divinos.
Após o julgamento, os Igigi, como eram chamados os rebeldes e que eram em
número de 300, foram punidos e separados dos demais Anunnakis bons e
fieís, os quais perfaziam o número de 600. Assim, 1/3 dos Anunnakis
caíram por sua rebelião.
RELATO DE GÊNESIS, ISAÍAS E APOCALIPSE
Quando a serpente convence Eva a comer do fruto no capítulo 3 de Gênesis,
ela defende como boa razão para a desobediência o fato de ser como Deus,
indicando que a divindade de Deus era algo cobiçado.
Já em Isaías 14.12-15, o profeta revela a origem do Diabo, quando
descreve a sua intenção de ser semelhante ao Altíssimo, razão pela qual foi
levado ao mais profundo do abismo.
Em Apocalipse 12.3-9, encontra-se o registro acerca da rebelião de anjos
liderados por Lúcifer e a sua batalha contra os anjos de Deus. Após terem sido
derrotados, 1/3 dos anjos foram precipitados juntamente com Lúcifer,
definido na passagem como “a antiga serpente, chamada o Diabo”.
7
OS POVOS SUMERIANOS, DESCENDENTES DAQUELES QUE NASCERAM
NO PARAÍSO DE DILMUM, EM HOMENAGEM À SUA ORIGEM,
NOMEARAM OS RIOS DA MESOPOTÂMIA COMO TIGRE E EUFRATES.
No Brasil e em outras partes do mundo, ocorre certo fenômeno social quando
cidades são povoadas por imigrantes. Estes, como forma de homenagear suas
origens, costumam a utilizar nomes que remetem ao seu lugar natal (Ex.:
Nova Trento, Novo Hamburgo, Nova Iorque, etc.).
Este mesmo fenômeno foi verificado nas civilizações de Eridu: sendo
descendentes do casal expulso do paraíso do Éden, os sumerianos
escolheram os mesmos nomes de dois rios que cortavam o Jardim para
nomear aqueles localizados na região (Gênesis 2.10-14).
Vê-se que estes fatos científicos demonstram que aquelas civilizações possuíam
um relato de sua origem muito semelhante com aquele registrado na Bíblia.
Todavia, não foi apenas entre os sumerianos que a narrativa de Gênesis
encontrou semelhanças. Antropólogos sociais, ao estudarem culturas fora da
Mesopotâmia, identificaram mitos populares entre os hindus, os chineses, os
africanos e até os índios americanos que carregam inúmeros pontos de
convergência com a história do Éden e do dilúvio.
Todos estes mitos provenientes de culturas ao redor do mundo possuem como
pontos centrais:
- Um casal feito do pó da terra que nasceu e foi expulso de um paraíso
idílico;
- Um dilúvio que cobriu toda a terra e do qual pouquíssimos se salvaram;
- A construção de uma torre que confundiu a língua de todos (Gn. 11.1-4);
- Um fratricídio original (Gn. 4.8);
- Um fruto proibido.
Diante disso, pode-se concluir que a história relatada em Gênesis não é uma
lenda, e sim um fato histórico tão real que originou todos os demais relatos
que testemunham para uma origem comum. Trata-se, portanto, de uma narrativa
não só do povo hebreu, mas de todos os povos que derivaram dos mesmos eventos.
Isto porque, apesar das diversas semelhanças, há ainda certas diferenças
cruciais que demonstram que a história original é aquela retratada em Gênesis:
1
TODOS OS MITOS SÃO BASEADOS NO POLITEÍSMO.
A história contada na Bíblia é a única que estabelece uma crença monoteísta.
Isto significa que, se Moisés, autor de Gênesis, tivesse partido destes mitos como
inspiração para sua narrativa, a Bíblia também teria base politeísta.
2
TODOS OS MITOS INFORMAM QUE
OS DEUSES NASCERAM DEPOIS DO UNIVERSO.
Segundo estes muitos, as forças caóticas do universo são eternas, sem início e
fim, as quais em determinado momento criaram os deuses. Estes, por sua vez,
teriam criado a Terra em momento posterior.
Já na bíblia, conta-se a história de um Criador de todas as coisas. Deus, que é
antes de tudo, criou o universo e tudo que nele há.
Até a época de Albert Einstein, cria-se que o universo é eterno, ou seja, não teve
um começo. Até mesmo Isaac Newton, que cria em Deus, trabalhava com essa tese.
Einstein, porém, começa a mostrar que houve um ponto inicial para a existência do
Universo (através da teoria do Big Bang).
Hoje, todo e qualquer físico admite que o universo teve um começo. E o único
livro da antiguidade que retrata isso é a bíblia através do relato de Gênesis.
3
NOS MITOS MESOPOTÂMICOS, OS DEUSES CRIARAM O PARAÍSO IDÍLICO
PARA SEU PRÓPRIO GOZO E A HUMANIDADE PARA SEU SERVIÇO,
SUBSTITUINDO AQUELE 1/3 DE ANNUNAKIS QUE SE REBELARAM.
A Bíblia registra que o jardim plantado no Éden foi criado por Deus para o
benefício do homem e que este não foi criado para o capricho do Criador, o que é
absolutamente contrário ao que os mitos declaram, mostrando que Gênesis jamais
pode ser considerado uma cópia.
4
NOS MITOS MESOPOTÂMICOS, A HUMANIDADE FOI DESTRUÍDA PORQUE
SEU BARULHO PERTURBAVA O SONO DOS DEUSES.
A narrativa bíblica informa uma história totalmente distinta. A humanidade e
toda a criação vivente foi destruída por meio de um dilúvio global por conta da
corrupção derivada do pecado.
5
A DIFERENÇA MAIS CRUCIAL
Nenhum destes mitos, nem os mesopotâmicos nem aqueles encontrados ao
redor do mundo, tem o poder de transformar a vida de quem os conhece.
A Bíblia é o único registro que, além de contar a história, tem o poder de
transformar vidas.
Conclui-se, portanto, que a narrativa de Gênesis não é uma cópia ou uma alegoria
inspirada em outros mitos, e sim o relato mais próximo do fato científico como de
fato ocorreu.
10. CONCLUSÃO
Após concluídos nossos estudos, os quais não esgotam de maneira alguma
todas as descobertas científicas já conquistadas acerca dos registros bíblicos,
cumpre esclarecer o propósito desta ciência.
À arqueologia bíblica não cabe “provar” a Bíblia ou confirmar sua autoridade
e credibilidade. Sendo um livro também teológico e religioso, muito de seu conteúdo
tem como base a fé, esta que jamais poderá ser confirmada por qualquer ciência.
Todavia, é possível através do método histórico-arqueológico compreender o
contexto bíblico e verificar a veracidade ou pelo menos a “plausibilidade histórica”
de alguns eventos nela descritos.
Sendo assim, têm-se um axioma lógico: se a história é real, a teologia que se
sustenta nessa historicidade também o será.
Portanto, por tudo o que vimos e por tudo o que a arqueologia já conseguiu
encontrar e confirmar, chegamos à conclusão que a Bíblia que acreditamos ser a
Palavra de Deus é um registro histórico confiável e que a fé que se sustenta em sua
historicidade não é em vão. E glória a Deus por isso.