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REFLEXÃO CRÍTICA: O PLANETA EM PERIGO Universidade do Algarve - Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) Curso Superior de Educação Social Ano letivo de 2014/2015 3.º Ano 1º Semestre Unidade Curricular: Desenvolvimento e Participação Docente: António Fragoso Discente: Cláudia Brito Número: 47027

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REFLEXÃO CRÍTICA: O PLANETA EM PERIGO

Universidade do Algarve - Escola Superior de

Educação e Comunicação (ESEC)

Curso Superior de Educação Social

Ano letivo de 2014/2015

3.º Ano – 1º Semestre

Unidade Curricular: Desenvolvimento e Participação

Docente: António Fragoso

Discente: Cláudia Brito

Número: 47027

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“Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas

mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há

reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá

raça humana”.

Albert Einstein

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Conscientes de que o planeta se encontra em perigo, os países membros da ONU

(Organização das Nações Unidas), acordaram, recentemente, em declarar a década de

2005/2014 como “ A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável”.

Espera-se que, através da promoção de uma educação socio ambiental emancipatória e

transformadora, indivíduos, organizações e governos, conscientizados, possam, através

das suas ações/decisões, estabelecer um paradigma de vida sustentável.

Como se sabe através da história, a preocupação com a proteção da natureza, fez-se sentir,

por parte de pequenos grupos com tradições aborígenes e religiosas, na antiguidade

ocidental e noutras partes do mundo. Mas, é a partir do século XVIII, com Revolução

Industrial (que surge inicialmente na Inglaterra), com a substituição de métodos de

produção artesanais para a produção com máquinas, com o uso crescente da energia a

vapor, com o aumento de fábricas, etc., que os efeitos deletérios da ação humana, pouco

visíveis, começam a afetar a natureza. Seria, no entanto, preciso esperar pela terceira

Revolução Industrial, (século XX), pela expansão do sistema Capitalista americano, que

substituiu o tipo de energia utilizada (a máquina a vapor e o carvão foram trocados por

automóveis, petróleo e seus derivados) e o tipo de indústria (produção de mercadorias em

larga escala), para que esses efeitos fossem correntemente observáveis. A poluição do ar,

da água e dos solos devido ao crescimento da indústria, a acumulação de lixos e o

congestionamento de tráfego devido à crescente urbanização, o uso indiscriminado dos

recursos naturais, são algumas das causas e efeitos deste novo modelo industrial.

Ainda que fossem observáveis, não houve, ao princípio, a preocupação em minimizar os

danos ambientais causados pela indústria, pois o que se valorizava era a produção de bens,

os empregos e o progresso. Na verdade, o lixo e a fumaça eram encarados como

subprodutos do progresso e da prosperidade.

Porém, o primeiro sinal de alerta surgiria, no final da década de 50, altura em que o Japão

tentava a todo o custo acompanhar o crescimento industrial da Europa Ocidental e do

norte da América, com uma catástrofe que ficou conhecida como a” Doença de

Minamata”. Percebeu-se que o consumo de peixe envenenado da Baía de Minamata (os

peixes incorporavam o mercúrio dos efluentes que a fábrica de produtos químicos “

Chisso“ libertava na baía), estava a provocar estranhos sintomas, (ataques,

descoordenação dos membros, tremores, etc.), e às vezes a morte dos gatos e das pessoas

que o consumiam. Apesar disto, a Chisso Corporation, não deu ouvidos às queixas das

vítimas (não existiam leis que penalizassem a empresa) e continuou com a sua atividade

poluente, mas lucrativa, por mais uma década, “engordando” o número de vítimas.

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Apesar deste alerta, que foi considerado um problema à escala local e não global, o mundo

só despertaria para uma consciência ecológica na década de 70, mais especificamente em

1972 com a Conferência de Estocolmo.

Obviamente que houve uma série de acontecimentos, além da doença de Minamata, que

contribuíram para que a consciência ecológica (movimento ecológico) nascesse na década

de 70. Dentro destes destacarei apenas alguns, porque bem explorados, seriam centenas

com certeza e não caberiam nesta reflexão. Convém referir as manifestações, em defesa

do ambiente, após a II Grande Guerra, contra o uso da energia nuclear, depois de

conhecidos os efeitos desastrosos, tanto para humanos (mortes em grande escala devido

à radiação, ferimentos graves decorrentes das explosões, cancros, etc.) como para o

ambiente, do lançamento das duas bombas atómicas, em 1945, pelos E.U.A, nas cidades

japoneses de Hiroshima e Nagasaki.

Outro acontecimento que foi fundamental para despertar a consciência ecológica de

milhares de pessoas e para o surgimento do ambientalismo moderno foi o livro “ Silent

Spring”, editado nos anos 60, pela bióloga Rachel Carson, que advertia para a

perigosidade do uso indiscriminado dos pesticidas. Ainda que duramente criticado por

cientistas, serviu como ponto de partida, para a criação de políticas governamentais nos

anos 70 e de organizações defensoras do ambiente, como é o caso da “ Environmental

Protection Agency”.

Ainda hoje, passadas cinco décadas sobre o surgimento do livro de Rachel Carson, ele

continua a suscitar debates polémicos, uma vez que, na nossa sociedade globalizada, as

práticas denunciadas pela autora por empresas químicas continuam a ocorrer a um nível

superior às registadas nos anos 60. Segundo a Colisão Nacional Contra o Abuso de

Pesticidas, produz-se, atualmente, pesticidas a um ritmo três mil vezes mais rápido do

que nessa altura.

Aos anteriores desastres, podemos adicionar outra catástrofe - a maré negra causada pelo

petroleiro Torrey Canyon – que colidindo com um recife, derramou, em 1967, cerca de

119 mil toneladas de óleo na costa sudoeste do Reino Unido, afetando gravemente a fauna

e a flora. Se o petroleiro Torrey Canyon permanecerá para sempre na história das marés

negras como um símbolo de devastação, muitos outros petroleiros (Atlantic Empress,

1979; M.T.Haven, 1991; Prestige, 2002, etc.), uns com mais, outros com menos impacto,

provocariam gravíssimas consequências ambientais. Obviamente que as consequências

destes, como de outros desastres, nunca poderão ser concretamente mensuráveis.

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Quer isto dizer que das consequências das catástrofes ambientais, algumas só se

manifestarão a longo prazo (ex. Love Canal). Seguindo este raciocínio, e sabendo que nas

últimas décadas o uso de pesticidas sofreu um considerável aumento, podemos ter uma

vaga ideia de como isso afetou o ar, os solos e a água do nosso planeta.

Os desastres anteriormente mencionados foram condição sine qua non para que o

movimento ecológico eclodisse na década de 70. No que a ele se refere, dois factos são

curiosos: o primeiro, é o facto de ter surgido nos E.U.A (país capitalista por excelência),

e, o segundo, o facto de se tratar de uma iniciativa das populações. Quer isto dizer que,

percebendo os perigos que o planeta enfrentava, foram as populações, primeiro na

América e depois um pouco por todo o mundo, que se organizaram na defesa do ambiente,

e pressionaram governos para que se adotassem politicas de proteção ambiental e para

que se colocassem os problemas ambientais na agenda internacional.

Este movimento fez, como se sabe, que cientistas, organizações, pensadores e ativistas

começassem a multiplicar-se a um ritmo alucinante, na defesa do ambiente.

Em 1972, é realizada, a primeira Conferência sobre o meio Ambiente Humano (também

conhecida como Conferência de Estocolmo), pelas Nações Unidas, com os objetivos de

alertar nações para a degradação ambiental e para a necessidade de se implementarem

eco- políticas para preservar o meio ambiente, à escala global.

Na América, por exemplo, o presidente Nixon, devido à situação em que o país se

encontrava (altos níveis de poluição) e às pressões do movimento ambientalista, viu-se

forçado a criar a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e leis que protegessem o meio

ambiente. Entre essas leis, destaco: a Lei do Ar Puro (que controlava a poluição

atmosférica), a Lei das Espécies Ameaçadas, a Lei da Água Potável e a Lei de Controle

Ambiental Federal de Pesticidas. Apesar disso, nos anos 80, devido à crise petrolífera de

1973 que potenciou as ideias neoliberais (fomentando a liberdade e a competitividade de

mercados), assiste-se a um retrocesso na defesa do ambiente. Regan considerou que a

preocupação com o ambientalismo era excessiva e defendeu a expansão do

neoliberalismo, para evitar o desemprego e a desigualdade.

Nem mesmo a explosão nuclear de Chernobil (Ucrânia), em 1986, que produziu uma

nuvem de radioatividade que atingiu vários países (União Soviética, Europa Central,

Escandinávia e Reino Unido) e afetou desastrosamente o ambiente e um número

incalculável de pessoas, nos fez mudar de paradigma.

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Além dos desastres ambientais já mencionados, muito outros, que afetaram gravemente

o planeta, ficaram registados na história: a destruição de florestas tropicais, a caça às

baleias, etc. Perante estas e outras catástrofes ambientais, que deixaram o nosso planeta

em perigo, é legítimo perguntarmos se cinco décadas (desde a tomada de consciência nos

anos 70), não terão sido suficientes para mudar de paradigma?

Para compreendermos a resposta a esta pergunta, temos de recuar no tempo e perceber

que, a partir da década de 80, duas ideologias – Novo Liberalismo e Ambientalismo –

completamente antagónicas, lutam por interesses distintos.

Apesar da Conferencia de Estocolmo (1972); do Relatório Brundtland (1987); da Eco 92

no Rio de Janeiro, onde foram elaborados importantes documentos: a Carta da Terra e as

convenções de biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas; do Protocolo de

Kyoto (1997) no Japão; dos milhares de protestos e alertas de ativistas, ONG`S e

cientistas; das políticas ambientais adotadas e respeitadas por diversos países, estamos

muito longe de alcançar os objetivos da ideologia ecologista. Quer isto dizer que, se o

movimento ambientalista conseguiu, durante um curto período de tempo, que houvesse

uma verdadeira preocupação com planeta, o neoliberalismo, vem, desde a década de 80

até aos nossos dias, travando esse percurso que nos levaria a uma mudança de paradigma.

O êxito do capitalismo, no período do neoliberalismo hegemónico, como sabemos, tem

dependido da intensa exploração/degradação dos recursos naturais (matérias primas) do

planeta, ainda que se esconda sob terminologias (obscuras), como desenvolvimento

sustentável. Outro fenómeno bastante perigoso, que começámos a assistir, a partir do

século XXI, é a privatização de sectores da natureza (mercados de água, por exemplo).

Um outro exemplo de privatização, é a indústria da semente, que se encontra nas mãos de

meia dúzia de empresas (ex. Monsanto), que, com os direitos de propriedade sobre

sementes hibridas e transgénicas, comercializa e acumula capital. Logicamente, ninguém

deveria de pagar para ter sementes, água, etc., porque não se trata de produtos fabricados

pelo homem mas de recursos naturais.

Apesar de sermos constantemente alertados para os gravíssimos problemas ambientais

que ocorrem no nosso planeta: aquecimento global, para o perigo das desflorestações (a

redução do oxigénio provoca um aumento do CO2), do buraco do ozono, da poluição dos

solos, das águas (perda de fauna e flora) e do ar (da combustão de petróleo, gás e carvão

nos países industrializados), etc., que têm repercussões na saúde pública das populações,

a humanidade parece estar adormecida e hipnotizada por um capitalismo voraz (sem

regulamentação Estatal), quase hegemónico.

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Por outras palavras, a consciência ecológica precisa de sair do seu estado de latência e ser

verdadeiramente (re) despertada para que, globalmente, se trace urgentemente um

“caminho” que evite ameaças para o equilíbrio biodinâmico dos grandes sistemas do

planeta e para a humanidade.

Quando se fala em capitalismo quase hegemónico, estamos a falar de um paradigma de

desenvolvimento dos países industrializados (ex. América, Europa e Japão), que servindo

de modelo a alguns países (BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), para

alcançarem o progresso e a prosperidade, que não pára de se expandir.

Podemos facilmente perceber que, se na atualidade o planeta já se encontra em perigo,

com estes “novos” mercados emergentes, a situação daqui por diante tende a agravar-se

com a disputa internacional pelos recursos naturais e com a geração de efluentes e

resíduos em quantidades tão descomunais que os ecossistemas da terra não conseguirão

mais processá-los.

Quer isto dizer que é inevitável que se assuma globalmente um novo paradigma de

desenvolvimento, (diferente do atual que ameaça toda a humanidade com uma busca

insana pelo lucro), outras formas de produção, com novas políticas. Pois como sabemos

se não houver globalmente uma alteração dos comportamentos/ações/decisões, os solos

continuarão a ser castigados com produtos químicos (têm repercussões na alimentação e

saúde das populações), a poluição atmosférica será tão densa que trará inúmeras doenças

(ex.China), os recursos hídricos além de comprometidos poderão esgotar-se, etc. É por

isso inevitável que organizações internacionais de defesa pelo ambiente lutem para que

todos os países, sem exceção, obtenham uma verdadeira consciência ambiental, se

comprometam e respeitem um acordo global para que o planeta continue a ser habitável.

Como diz Edgar Morin, “o desenvolvimento local favorece a melhoria global e a melhoria

global favorece o desenvolvimento local”, é por isso fundamental que, onde nos

encontramos, façamos “a mudança”.