O MERCADO NACIONAL DA OVINOCULTURA

Vivian Lara Celso da Costa Carrer Augusto Hauber Gameiro Ricardo Firetti

A Origem e o Desenvolvimento da Ovinocultura Brasileira

As origens da criaccedilatildeo de ovinos no Brasil reportam-se em especial agrave influecircncia

espanhola durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo Inicialmente voltados para a produccedilatildeo de

latilde os maiores rebanhos eram criados na Regiatildeo Sul Aos poucos contudo ajustando-

se agraves necessidades do mercado nacional os animais foram sendo adaptados para

duplo propoacutesito ou seja produccedilatildeo de latilde e de carne No iniacutecio da deacutecada passada foi

verificada uma tendecircncia de queda nos preccedilos da latilde nos mercados internacionais

ocasionada pelo aumento da oferta e melhoria na qualidade das fibras sinteacuteticas Aleacutem

disso o incremento na produccedilatildeo de outras mateacuterias-primas alternativas ao tecido

natural acentuou esta mudanccedila de perfil do mercado Como consequumlecircncia da

inevitaacutevel crise mundial que atingiu as criaccedilotildees de ovinos lanados programas de

engenharia geneacutetica passaram a buscar novos padrotildees de animais que fossem

especializados tambeacutem na produccedilatildeo de carne (MARTINS 2006)

Diante deste cenaacuterio os ovinos deslanados dedicados ao consumo da carne

surgiram como alternativa viaacutevel propiciando o desenvolvimento da ovinocultura em

regiotildees brasileiras onde ateacute entatildeo a criaccedilatildeo destes animais natildeo tinha expressatildeo

econocircmica (MARTINS 2006) Dessa maneira a criaccedilatildeo de ovinos vem se destacando

a cada dia e jaacute se tornou mais uma alternativa para o produtor rural A produccedilatildeo

nacional de carne de ovinos de 2003 a 2005 cresceu cerca de 65 significando o

maior avanccedilo relativo dentre os principais tipos de carne embora ainda represente

apenas 5 do volume total (NOGUEIRA e NOGUEIRA 2005) Esse expressivo

aumento da produccedilatildeo de carne ovina no Brasil pode ser explicado pela implantaccedilatildeo e

expansatildeo da ovinocultura de corte em outras regiotildees do paiacutes que vem acontecendo

desde 1992 com muito sucesso Como eacute o caso do Norte Sudeste Centro-Oeste e

Sul regiotildees que apresentam territoacuterios amplos e com enorme potencial para a

exploraccedilatildeo semi-intensiva e intensiva dos ovinos de corte (SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO

2006)

A Evoluccedilatildeo do Rebanho

A aacuterea territorial brasileira possibilita um crescimento numeacuterico dos rebanhos

ovinos mas para isso eacute fundamental que as accedilotildees natildeo sejam focadas somente na

produtividade mas tambeacutem no maacuteximo retorno econocircmico Sendo assim o custo de

produccedilatildeo a diversificaccedilatildeo da produccedilatildeo a qualidade de produtos e serviccedilos a

constacircncia da oferta a logiacutestica e a competitividade satildeo primordiais para o

crescimento e desenvolvimento da ovinocultura de corte (SIMPLICIO amp SIMPLICIO

2006)

O rebanho brasileiro presenciou uma queda significativa de 25 na primeira

metade da deacutecada de 90 acompanhando uma tendecircncia mundial devido agrave grave crise

que afetou o mercado da latilde Observou-se uma forte reduccedilatildeo dos rebanhos do paiacuteses

produtores forccedilados a mudar o perfil de produccedilatildeo devido agrave retraccedilatildeo na demanda

mundial de latilde Houve um maior direcionamento do sistema para a produccedilatildeo de carne

tornando-o mais flexiacutevel diante do mercado A queda no efetivo ovino nacional deveu-

se agrave reduccedilatildeo do rebanho na regiatildeo Sul maior produtora de latilde do paiacutes (TURINO

2008)

Dados do IBGE apresentados no ANUALPEC 2006 mostram a evoluccedilatildeo do

rebanho ovino no Brasil que apresentava respectivamente em 1997 cerca de

14568745 e em 2006 segundo uma estimativa do Instituto FNP 17105572 cabeccedilas

de ovinos Isso representa um aumento de 174 num periacuteodo de nove anos

(ANUALPEC 2006) A Figura 1 mostra como se deu a evoluccedilatildeo

Rebanho Ovino Brasileiro

14

14515

155

16

16517

175

1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008

anos

milh

otildees

deca

beccedila

s

FIGURA 2 - Evoluccedilatildeo do rebanho ovino brasileiro de 1997 a 2006 (em milhotildees de cabeccedilas)Fonte IBGE visto em ANUALPEC (2006)

Estimativas do Instituto FNP presentes no ANUALPEC 2006 mostram que a

regiatildeo brasileira com o maior rebanho de ovinos eacute a Nordeste com 10129267

cabeccedilas e a regiatildeo com o menor rebanho eacute a Norte com apenas 554103 cabeccedilas A

regiatildeo Sudeste possui 678991 cabeccedilas de ovinos e ocupa portanto a penuacuteltima

posiccedilatildeo das regiotildees produtoras de ovinos Tabela 1 No entanto a regiatildeo que

apresentou o maior crescimento de 2005 para 2006 foi a Sudeste cujo aumento dos

rebanhos de ovinos foi de 106 seguida pelo Centro-Oeste que teve um

crescimento de 104 (ANUALPEC 2006) Nos dois casos (ALENCAR e ROSA

2006) o objetivo eacute a produccedilatildeo de carne utilizando-se de sistemas mais intensivos de

criaccedilatildeo (com suplementaccedilatildeo) e de raccedilas que apresentem bom ganho de peso e

rendimento de carcaccedila (Santa Inecircs Dorper Dorset Texel etc)

TABELA 1 ndash Rebanho ovino no Brasil efetivo por regiotildees (em cabeccedilas)Regiotildees Cabeccedilas em 2005 Cabeccedilas em 2006

Norte 507692 554103

Nordeste 9396583 10129267

Sudeste 613658 678991

Sul 4592592 4691472

Centro Oeste 952611 1051739

Brasil 16063135 17105572

Fonte IBGE visto em ANUALPEC (2006) referindo-se a estimativas do Instituto FNP

Segundo FERREIRA (2006) de todo o montante do Brasil a regiatildeo Nordeste

deteacutem 59 do rebanho Ainda segundo FERREIRA (2006) eacute possiacutevel prever que a

tradiccedilatildeo dos nordestinos nesse tipo de cultura aliada a um conjunto de accedilotildees dos

setores puacuteblicos e privado podem fazer surgir na regiatildeo um grande celeiro produtor de

ovinos e caprinos para atender agrave crescente demanda interna e externa pela carne

desses animais (FERREIRA 2006) A despeito de sua maior participaccedilatildeo comparativa

no rebanho brasileiro de ovinos na regiatildeo Nordeste a produccedilatildeo eacute tipicamente voltada

para subsistecircncia representando uma importante fonte de alimento para as

populaccedilotildees do meio rural (VASCONCELOS amp VIEIRA 2005) repercutindo portanto

em uma baixa eficiecircncia Segundo UBIRACI ALVES que trabalha no desenvolvimento

da ovinocaprinocultura na regiatildeo Nordeste visto em FERREIRA (2006) apenas 10

da produccedilatildeo desses animais estaacute organizada para servir agrave induacutestria o restante ainda

segue o uso de praacuteticas primaacuterias e natildeo tecnificadas (FERREIRA 2006)

Por sua vez no Sul do paiacutes existe a forte presenccedila de ovinos de raccedilas lanadas

que satildeo mais adaptados a baixas temperaturas predominantes na regiatildeo onde a

produccedilatildeo eacute destinada para produccedilatildeo de latilde e carne Na regiatildeo Sudeste os rebanhos e

ovinos satildeo direcionados para produtos com maior agregaccedilatildeo de valor destacando-se

atualmente na produccedilatildeo cortes especiais

O enfoque da produccedilatildeo daacute-se de maneira diferenciada em razatildeo da proximidade

com a cidade de Satildeo Paulo que eacute o maior e mais exigente mercado consumidor do

paiacutes Dessa forma as atividades vecircm crescendo nos uacuteltimos anos no estado de Satildeo

Paulo sendo que dados do IBGE mostram que o rebanho de ovinos no Estado de Satildeo

Paulo cresceu cerca de 52 num periacuteodo de 10 anos passando de 239361 em

1997 para 364646 cabeccedilas de ovinos em 2006 (ANUALPEC 2006) Segundo OJIMA

(2006) esse crescimento deu-se tanto pelo aumento efetivo dos rebanhos quanto pelo

incremento do nuacutemero de propriedades rurais destinadas agrave atividade (OJIMA 2006)

Este fato pode tambeacutem ser atribuiacutedo ao investimento em reprodutores e matrizes de

comprovado meacuterito geneacutetico (OJIMA et al 2006)

O estado de Satildeo Paulo apresentava um rebanho em 2006 segundo

estimativas de 364646 o que representava 213 do efetivo nacional (ANUALPEC

2006) O estado detentor do maior rebanho de ovino no paiacutes eacute o Rio Grande do Sul

que em 2006 possuiacutea cerca de 3973429 (ANUALPEC 2006) A regiatildeo sul foi

tradicionalmente dedicada agrave produccedilatildeo de latilde mas vem sendo registrado nos uacuteltimos

anos um aumento efetivo nos planteacuteis de raccedilas especializadas na produccedilatildeo de carne

(SILVA 2002) pois segundo SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO (2006) os estados da regiatildeo

sul tecircm investido no sentido de tornar a ovinocultura de corte uma atividade econocircmica

viaacutevel (SIMPLICIO amp SIMPLICIO 2006)

Em segundo lugar estaacute a Bahia com 3732053 e em terceiro o Cearaacute com

2044213 cabeccedilas de ovinos (ANUALPEC 2006) Como pode ser observado na

Tabela 2 que apresenta os principais Estados produtores de ovinos em 2006

TABELA 2 ndash Principais estados produtores de ovinos no BrasilEstados Cabeccedilas em 2006

Rio Grande do Sul 3973429

Bahia 3732053

Cearaacute 2044213

Piauiacute 1643221

Pernambuco 1122402

Rio Grande do Norte 531344

Paranaacute 508361

Mato Grosso do Sul 505001

Paraiacuteba 438618

Satildeo Paulo 364646

Mato Grosso 350621

Fonte IBGE visto em ANUALPEC (2006) referindo-se a estimativas do Instituto FNP

Na regiatildeo Sudeste como dito acima os rebanhos ovinos satildeo direcionados

para produtos com maior agregaccedilatildeo de valor destacando-se atualmente na produccedilatildeo

de queijos e cortes especiais O segmento de leite e derivados por exemplo deve

apresentar um leque de produtos diferenciados jaacute que o consumo de leite de cabra

ainda eacute incipiente e em muitas vezes demandado apenas por pessoas que

apresentam alguma intoleracircncia ao leite de vaca

O Consumo

As pessoas vecircm se adaptando a novos haacutebitos de consumo o que tem

favorecido o crescimento da demanda pelas carnes de ovinos e seus derivados

(SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO 2006) Vale ressaltar que para atender a demanda por

carnes de cordeiros no estado de Satildeo Paulo seria necessaacuterio um rebanho da ordem

de 28 milhotildees de cabeccedilas (SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO 2006) Assim hoje parte da

demanda interna eacute suprida pelas importaccedilotildees que entre 2005 e 2006 cresceram

48 de 47 mil toneladas para 7 mil toneladas segundo dados do Ministeacuterio do

Desenvolvimento Induacutestria e Comeacutercio Exterior (MDCI) (MELO 2007)

Com tudo eacute fundamental que se tenha em mente a importacircncia em se

aproveitar o aumento da demanda e os amplos territoacuterios nacionais para aumentar a

produccedilatildeo e a disponibilizaccedilatildeo de carnes de animais mais jovens isto eacute cordeiros para

os consumidores com constacircncia na oferta seguranccedila alimentar e a preccedilos

competitivos favorecendo o fortalecimento das atividades e a conquista e expansatildeo

dos mercados (SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO 2006) Assim segundo MELO (2007)

dentro de alguns anos o Brasil pode tornar-se um grande produtor de carne ovina

Dentro do segmento caacuterneo a tendecircncia eacute oferecer cortes especiais para redes

de supermercados e restaurantes que atendem consumidores de classe meacutedia - alta

(OJIMA 2006)

Apesar do consumo de carne ovina apresentar tendecircncia positiva de

crescimento (SIMPLICIO amp SIMPLICIO 2006) o presidente da Associaccedilatildeo Paulista de

Criadores de Ovinos (ASPACO) e da Cacircmara Setorial Especial de Caprinos e Ovinos

de Satildeo Paulo Arnaldo dos Santos Vieira Filho acredita na existecircncia de demanda

reprimida (MELO 2007) O consumo brasileiro estaacute estagnado em 700 gramas per

capita anual o que eacute considerado pequeno perante a Argentina que apresenta 14 kg

Europa com 27 kg e a Nova Zelacircndia e Austraacutelia com 422 kg e 202 kg por habitante

por ano respectivamente (ALENCAR amp ROSA 2006)

Enquanto as carnes bovina e de frango (Tabela 3) apresentam um consumo

anual per capita de 2089 kg e 3429 kg respectivamente apenas 065 kg de carne

ovina eacute consumida anualmente (FAO 2005) Isso acontece pois o consumo de carne

ovina eacute influenciado principalmente pelo preccedilo do produto pela renda per capita dos

consumidores e pelos preccedilos das carnes concorrentes (SIMPLICIO amp SIMPLICIO

2006) assim quando se leva em consideraccedilatildeo o preccedilo e a preferecircncia dos

consumidores brasileiros as carnes de frango e bovina satildeo mais baratas e portanto

mais consumidas

TABELA 3 - Consumo de carnes no Brasil (em kg ano per capita)Ano Carne Ovina Carne Bovina Carne de Frango

1998 065 2012 2564

1999 069 2035 2713

2000 069 2099 2825

2001 065 2170 2919

2002 063 2219 3029

2003 062 2201 3159

2004 064 2141 3297

2005 065 2089 3429

Fonte FAO (2005)

Como visto anteriormente apesar da demanda por carne ovina ser bastante

pequena ela vem crescendo entre 2003 e 2005 com um aumento de 53 (FAO

2005) Segundo SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO (2006) para que o mercado seja

conquistado e mantido estaacutevel ou crescente eacute imprescindiacutevel a) que se mantenha a

oferta constante do produto b) que este seja proveniente de animais jovens e bem

acabados c) que a carcaccedila apresente boa conformaccedilatildeo e tamanho compatiacuteveis com

as exigecircncias de cada mercado e e) que os preccedilos sejam competitivos (SIMPLICIO amp

SIMPLICIO 2006)

Um grande problema que a comercializaccedilatildeo de ovinos apresenta eacute quanto a

origem da carne comercializada pois haacute falhas severas na padronizaccedilatildeo A carne de

ovino pode ser de vaacuterias origens (nem sempre recomendadas) importada de

frigoriacuteficos nacionais certificados ou ser clandestina obtida no que chamam

popularmente de ldquofrigomatordquo (ALENCAR amp ROSA 2006)

A carne importada destina-se principalmente a restaurantes e churrascarias

cujo consumo se restringe a poucos cortes (por exemplo carreacute lombo e pernil) Esse

haacutebito pode ser consequumlecircncia da falta de confianccedila na qualidade e padronizaccedilatildeo da

produccedilatildeo nacional e tambeacutem em funccedilatildeo do preccedilo da carne importada agraves vezes

menor que a carne produzida internamente e podendo ser comercializada por

frigoriacuteficos certificados (ALENCAR amp ROSA 2006) O preccedilo da carne importada

segundo SIMPLIacuteCIO amp SIMPLIacuteCIO (2006) eacute menor que o da produzida no Brasil pois

a qualidade da importada eacute na maioria das vezes inferior isso em virtude da carne

importada ser oriunda muitas vezes de animais idosos e de raccedilas exploradas

primordialmente para produzir latilde (SIMPLICIO amp SIMPLICIO 2006) Aleacutem disso os

paiacuteses exportadores de carne ovina vendem os melhores cortes para paiacuteses que

pagam melhor restando ao Brasil produtos de menor qualidade (ALENCAR amp ROSA

2006)

O abate e a produccedilatildeo

Com um efetivo ovino representado por cerca de 1385 milhotildees de cabeccedilas o

Brasil tem aumentado crescentemente sua produccedilatildeo de carne ovina ao longo desta

deacutecada apresentando uma projeccedilatildeo para 2008 da ordem de 123 mil toneladas

segundo estimativas da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para Agricultura e

Alimentaccedilatildeo (FAO) Segundo dados disponibilizados pelo Serviccedilo de Inspeccedilatildeo Federal

do Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento (SIFMAPA) e relatados por

SOUZA (2008) e presentes na Figura 2 eacute possiacutevel observar que o volume de abates

mais que duplicou desde 2002 perfazendo neste primeiro semestre de 2008

aproximadamente 1245 mil cabeccedilas que por sua vez representam algo em torno de

2 mil toneladas de carne ovina considerando carcaccedilas de 16 kg

FIGURA 2 - Volume de abates inspecionados Jan-Jun em mil unidades

Em relaccedilatildeo ao mesmo periacuteodo de 2007 o volume de abates no primeiro

semestre de 2008 sofreu uma pequena retraccedilatildeo de 33 paralisando a tendecircncia

crescente e firme existente ateacute entatildeo que estava relacionada a um aumento da

produccedilatildeo da formalizaccedilatildeo e do consumo de carne ovina no mercado domeacutestico No

entanto os nuacutemeros atuais indicam uma deficiecircncia no fornecimento de animais para

abate em alguns estados segundo as variaccedilotildees percentuais apresentadas na Tabela

4

TABELA 4 - Taxa de crescimento do abate inspecionadoEstados 2007 2008 Variaccedilotildees

Bahia 8718 9606 101

Cearaacute 1039 312 -699

Goiaacutes 4728 4276 -95

Mato Grosso do

Sul

6694 11959 786

Minas Gerais 503 6869 12656

Rio Grande do

Norte

690 1336 936

Rio Grande do Sul 100571 83955 -165

Satildeo Paulo 4507 3107 -311

Sergipe 283 1706 5028

Tocantins 380 987 1597

Fonte SIFMAPA elaboraccedilatildeo DAS Consultoria

De acordo com a Tabela 4 alguns Estados apresentaram mudanccedilas

significativas em relaccedilatildeo agrave quantidade de animais abatidos o que impactou fortemente

os resultados do primeiro semestre de 2008 Enquanto que em Estados como Bahia

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Rio Grande do Norte Sergipe e Tocantins o

volume de abates se elevou de forma consideraacutevel estando fiel agrave tendecircncia geral

estabelecida em anos anteriores alguns outros Estados como Cearaacute Goiaacutes Satildeo

Paulo e Rio Grande do Sul tiveram uma retraccedilatildeo consideraacutevel na quantidade de

ovinos abatidos durante os seis primeiros meses do ano que impactaram

negativamente no volume total especialmente no caso do Rio Grande do Sul que

fechou o semestre com um deacuteficit de quase 17 mil cabeccedilas em relaccedilatildeo ao mesmo

periacuteodo do ano passado considerando que os gauacutechos satildeo os maiores produtores

como mostrado na Figura 3 abaixo (SOUZA 2008)

Produccedilatildeo de carne ovina por Estado de janeiro a julho

Rio Grande do Sul6740

Goiaacutes 340Minas Gerais

550Bahia 770

Mato Grosso doSul 960

Satildeo Paulo 250 Outros 390

FIGURA 3 - Participaccedilatildeo na produccedilatildeo domeacutestica de carne ovina Jan-Jun

A Figura 3 mostra claramente a importacircncia do Rio Grande do Sul em relaccedilatildeo agrave

produccedilatildeo nacional sendo responsaacutevel por quase 68 da produccedilatildeo e o principal

fornecedor de carne ovina para o mercado da regiatildeo Centro-Sul Em seguida se

encontram o Mato Grosso do Sul que ocupou a colocaccedilatildeo da Bahia seguida por

Minas Gerais que abateu quase 7 mil cabeccedilas e surge como um forte player no

mercado domeacutestico superando Goiaacutes e Satildeo Paulo

Importaccedilotildees

O maior volume de carne ovina importada eacute originado do Uruguai sendo

responsaacutevel por 98 de toda a compra externa efetuada pelo Brasil sendo essencial

para o atendimento da demanda do mercado domeacutestico e correspondendo a cerca de

60 do total de carne ovina formal consumida no paiacutes (SOUZA 2008)

FIGURA 4 Volume importado e valor de produtos caacuterneos ovinosem mil toneladas e em milhotildees de doacutelares

De acordo com a Figura 4 o volume importado de produtos caacuterneos ovinos tem

mantido um crescimento regular e constante desde 2004 atingindo 371 mil toneladas

neste primeiro semestre de 2008 superando em 261 o mesmo periacuteodo de 2007

sendo estimulado tambeacutem pelo deacuteficit na oferta interna Observa-se que a tendecircncia

de valorizaccedilatildeo da carne ovina importada permanece segundo SOUZA (2008)

havendo um descolamento do valor em relaccedilatildeo ao volume a partir de 2004 o que

resultou em um valor de aproximadamente 101 milhotildees de doacutelares em 2008 64

superior ao mesmo periacuteodo de 2007 (MDIC 2008)

No entanto segundo SOUZA (2008) esse fenocircmeno natildeo eacute apenas um reflexo

da valorizaccedilatildeo da carne ovina no mercado internacional em consequumlecircncia da oferta

limitada por parte dos principais exportadores mas tambeacutem resultado da mudanccedila da

demanda brasileira em relaccedilatildeo aos produtos caacuterneos ovinos importados como fica

evidenciado nas Figuras 5 e 6

Participaccedilatildeo percentual nas importaccedilotildees de janeiro a junho de1998

Cortes com osso2680

Carcaccedilas mutton2570

Carcaccedilas cordeiro5

Ovinos vivos3940

Cortes sem osso310

FIGURA 5 ndash Importaccedilatildeo de diferentes produtos da ovinocultura durante o periacuteodo de janeiro ajunho de 1998 Fonte MDIC elaboraccedilatildeo DAS Consultoria

Participaccedilatildeo percentual nas importaccedilotildees de janeiro a junho de2008

Cortes com osso8750

Ovinos vivos 210

Carcaccedilas mutton520

Cortes sem osso420

Carcaccedilas cordeiro1

FIGURA 6 ndash Importaccedilatildeo de diferentes produtos da ovinocultura durante o periacuteodo de janeiro ajunho de 2008 Fonte MDIC elaboraccedilatildeo DAS Consultoria

Eacute importante observar que segundo os dados do MDIC (2008) relatados por

SOUZA (2008) enquanto que no final da deacutecada de 1990 a demanda brasileira estava

concentrada em animais vivos e em cortes e carcaccedilas de ovinos adultos de menor

valor tendo como principal destino a populaccedilatildeo rural da regiatildeo Sul do paiacutes

atualmente haacute uma maior demanda por produtos de melhor qualidade direcionados

para o mercado consumidor existente nos grandes centros com maior poder aquisitivo

e mais exigente

A mudanccedila no perfil da demanda tem ocasionado na importaccedilatildeo crescente de

produtos de maior valor agregado como cortes com e sem osso e em uma reduccedilatildeo

acentuada nos embarques de ovinos vivos e de carcaccedilas principalmente de animais

adultos ou mutton

A envergadura econocircmica da ovinocultura nacional eacute considerada incipiente

em grande parte por conta dos abates clandestinos Segundo Raimundo Nonato Braga

Lobo pesquisador da Embrapa Caprinos os abates oficiais representam apenas de

2 a 10 dos abates totais Isso se deve em parte pela existecircncia de poucos

frigoriacuteficos para abates de ovinos (ALENCAR amp ROSA 2006) Aleacutem disso o mercado

da carne e dos animais eacute totalmente diferente das demais espeacutecies como bovinos

suiacutenos e aves Ele eacute informal natildeo existindo fontes padronizadas eou oficiais que se

consultem e forneccedilam a cotaccedilatildeo dos produtos

Preccedilos da carne ovina e caracteriacutesticas do produto

Segundo FARIA amp SILVA (2006) foi realizada uma pesquisa nas cidades de

Pirassununga e Santos - SP sendo na primeira em um pequeno mercado enquanto

na segunda em um estabelecimento de grande porte filial de uma grande rede de

supermercados Eacute importante tambeacutem notar a diferenccedila do contingente populacional

entre as duas cidades sabendo-se que a populaccedilatildeo estimada em 2005 pelo IBGE em

Pirassununga eacute de 69950 habitantes sendo que Santos possui 418316 habitantes

A pesquisa consistiu em levantar alguns dados sobre a carne ovina

comercializada nos estabelecimentos de pequeno e grande porte Assim foram

elaboradas algumas questotildees como preccedilo formas de comercializaccedilatildeo procedecircncia e

meacutetodos de abate e direcionadas aos funcionaacuterios Em estabelecimentos pequenos

haacute a comercializaccedilatildeo de carcaccedilas de origem desconhecidas ou seja oriundas de

abates clandestinos que natildeo possuem uma marca certificada com valores inferiores

as de abatedouros ou frigoriacuteficos regulamentados (R$ 1200 kg) e satildeo

comercializadas com menor disponibilidade de cortes atendendo uma populaccedilatildeo com

menor poder aquisitivo

Por outro lado estabelecimentos de grande porte apresentam carne de origem

confiaacutevel atendem uma grande parcela dos consumidores apresentam maior

diversidade de cortes e com maior preccedilo (em meacutedia R$ 1600) devido os

processamentos e a qualidade assegurada O preccedilo de varejo alcanccedilado pela carne

de cordeiro ultrapassa com frequumlecircncia o valor de R$ 10000 a arroba enquanto a

carne de animais adultos oscila entre R$ 7000 e R$ 8000 a arroba Devido a este

diferencial no preccedilo os esforccedilos das entidades de pesquisa e de assistecircncia teacutecnica

no Brasil estatildeo voltados para o desenvolvimento de tecnologias que possibilitem a

produccedilatildeo de animais precoces prontos para abate aos seis meses de idade e

capazes de alcanccedilar no mercado uma melhor remuneraccedilatildeo (FARIA amp SILVA 2006)

Algumas instituiccedilotildees como o Instituto de Zootecnia de Nova Odessa a

ASPACO - Associaccedilatildeo Paulista de Criadores de Ovinos e a ACCOBA ndash Associaccedilatildeo de

Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia realizam estudos que podem servir para

balizar os preccedilos mas natildeo podem ser considerados absolutos Em meacutedia os preccedilos

satildeo semelhantes nas diferentes regiotildees do paiacutes mas como pode ser visto na Tabela

5 satildeo bastante flexiacuteveis

TABELA 5 ndash Cotaccedilotildees de carne e reprodutores ovinos no Brasil

Produto Valor Minimo Valor Maacuteximo

kg Carne borrego carcaccedila 450 750

kg Carne carneiro carcaccedila 450 750

Santa Inecircs - Reprodutor Base 50000 100000

Santa Inecircs - Matriz Base 30000 100000

Santa Inecircs - Reprodutor PO 100000 300000

Santa Inecircs - Matriz PO 100000 200000

Dorper - Reprodutor PO 300000 500000

Dorper - Matriz PO 400000 800000

Fonte ACCOBA (2006)

Parte dessa diversidade de preccedilos e da grande parcela de abates clandestinos

pode ser explicada pela configuraccedilatildeo dos proacuteprios criatoacuterios Na maioria das vezes as

criaccedilotildees de ovinos para corte satildeo pequenas com ateacute 100 matrizes estando alojadas

em pequenas propriedades No estado de Satildeo Paulo os ovinos estatildeo presentes em

492 municiacutepios com rebanhos variando de 10 a 12000 animais (NOGUEIRA amp

NOGUEIRA 2005) Muitas vezes esta natildeo eacute a atividade principal da propriedade

podendo estar associada agrave citricultura ou agrave bovinocultura de corte por exemplo Nessa

situaccedilatildeo geralmente a venda eacute realizada diretamente para o consumidor final ou para

accedilougues

A oferta de carnes de caprinos e ovinos oriundas de animais abatidos em

frigoriacuteficos industriais licenciados pelos Serviccedilos de Inspeccedilatildeo Federal (SIF) ou

Inspeccedilatildeo Estadual (SIE) se caracteriza como um fator importante para o crescimento

da demanda assegurando aos produtos industrializados um elevado padratildeo de

qualidade sanitaacuteria (SEBRAE-DF 2005)

A questatildeo promocional assume grande importacircncia no aumento da demanda

onde o marketing deve explorar o baixo teor de colesterol da carne e a caracteriacutestica

de faacutecil digestibilidade (Tabela 6) Isto representa um fator importante de atratividade

de mercado visto que o apelo de sauacutede sempre influi de forma relevante no

comportamento do consumidor especialmente naqueles de niacutevel cultural mais

elevado Assim o esforccedilo de marketing deveraacute se concentrar nas classes A e B

inicialmente explorando as vantagens das carnes caprina e ovina em relaccedilatildeo agraves

demais carnes (SEBRAE-DF 2005)

TABELA 6 ndash Composiccedilatildeo nutritiva de diferentes tipos de carne no mercado brasileiroCarne (assada)(100g) Caloria

(kcal)Gordura (g)

Gordura

Saturada (g)Proteiacutena (g) Ferro (g)

Caprino 131 276 085 25 354

Ovino 252 1714 782 24 150

Bovino 263 1714 729 25 311

Suiacuteno 332 2572 932 24 290

Frango 129 375 107 25 162

Fonte UOV (2006)

A demanda por carnes de caprinos e ovinos em cortes padronizados bem

como por viacutesceras devidamente processadas embaladas e comercializadas de forma

resfriada ou congelada vem apresentando crescimento consideraacutevel nas grandes

cidades do Nordeste e do Sudeste do Brasil principalmente nas aacutereas habitadas pelo

segmento populacional detentor de maior poder aquisitivo No entanto o preccedilo da

carne ovina em comparaccedilatildeo com a bovina ainda estaacute longe de se tornar um fator de

competitividade conforme demonstra a Tabela 20 (SEBRAE-DF 2005) Para efeito de

comparaccedilatildeo a cotaccedilatildeo do boi gordo atual eacute de R$360 por kg de peso vivo

(AGROLINK 2007) em Satildeo Paulo enquanto a do ovino eacute de R$450 (ACCOBA

2006)

TABELA 7 - Comparativo de preccedilos de cortes de carne bovina e ovinaCorte Bovino (R$kg) Ovino (R$kg)

Fileacute 1700 3300

Picanha 1400 2000

Contra-fileacute 1100 3000

Carreacute - 1400

Carreacute francecircs - 3500

Pernil - 1400

Fonte SEBRAE-DF (2005)

Outro ponto criacutetico da equalizaccedilatildeo da ofertademanda eacute a baixa produtividade

da ovinocultura de corte no Brasil Algumas das razotildees referem-se ao regime de

manejo da exploraccedilatildeo utilizaccedilatildeo de raccedilas natildeo especializadas e de praacuteticas

rudimentares de manejo somadas a uma assistecircncia teacutecnica deficitaacuteria e a baixos

niacuteveis de organizaccedilatildeo e de gestatildeo da unidade produtiva (VASCONCELOS amp VIEIRA

2005)

Apesar desses entraves a ovinocultura eacute promissora Considerando que o

tempo entre o nascimento e o abate eacute bem menor em comparaccedilatildeo com a

bovinocultura por exemplo e considerando a possibilidade de criaccedilatildeo em pequenas

propriedades tecircm-se uma alternativa para investimento (ALENCAR amp ROSA 2006)

Aleacutem disso estima-se que na aacuterea destinada a um bovino seja possiacutevel alocar cerca

de dez ovinos e considerando que seja possiacutevel obter trecircs partos a cada dois anos

produzindo dois borregos eacute visiacutevel a intensividade da produccedilatildeo (ALENCAR amp ROSA

2006) quando comparada agrave tradicional pecuaacuteria de corte bovina

O Panorama geral do setor na regiatildeo Sudeste

A regiatildeo Sudeste conteacutem hoje 24 dos rebanhos ovino e caprino do Brasil

(IBGE2005) referindo-se aos Estados SP RJ e MG

Segundo DANEacuteS (2007) o valor do quilo vivo do cordeiro na regiatildeo ficou entre

R$ 250 e R$ 350 Jaacute para o quilo de carcaccedila foram informados preccedilos de R$ 490 a

R$ 1200 sendo mais comuns os valores entre R$ 650 e R$ 700 Muitos informantes

salientaram a diferenccedila entre valores no comeacutercio formal e informal sendo que neste

uacuteltimo os preccedilos satildeo bem superiores

No comeacutercio de animais os preccedilos por matrizes ovinas comerciais e sem

registro ficaram entre R$ 15000 e R$ 30000 e para os reprodutores R$ 60000 Jaacute o

valor para caprinos puros registrados foi de R$ 200000 para o macho e ao redor de

R$ 100000 para a fecircmea (DANEacuteS 2007)

O crescimento dos canaviais em Satildeo Paulo eacute considerado um fator

preocupante para a atividade pecuaacuteria uma vez que muitas propriedades estatildeo

desistindo da atividade para arrendarem suas aacutereas para usinas por causa da maior

rentabilidade

Atualmente a regiatildeo Sudeste representa o maior mercado consumidor de

produtos ovinos e caprinos com alto poder aquisitivo e com grande potencial de

crescimento

Programa Cordeiro de Qualidade

Visto todos esses fatos e necessidades de expansatildeo e de melhoria da

produccedilao e do mercado da ovinocultura o SEBRAE lanccedilou na Feira Internacional de

Caprinos e Ovinos (FEINCO) de 2009 o Programa Cordeiro de Qualidade (Figura 30)

FIGURA 7 ndash Logo do Programa Cordeiro de Qualidade

O programa tem como objetivo disponibilizar ferramentas que auxiliem a

produccedilao de carne de cordeiro de qualidade Uma das iniciativas de grande impacto

foi o lanccedilamento de duas unidades moacuteveis equipadas com aparelhos que seratildeo

responsaacuteveis pelo monitoramento da produccedilatildeo de ovinos com a utilizaccedilatildeo do

ultrassom para medidas de indicadores de qualidade da carcaccedila dos animais Trata-se

do primeiro software do mundo desenvolvido pelos norte-americanos que avalia as

caracteriacutesticas da carcaccedila (aacuterea de olho de lombo espessura de gordura subcutacircnea

e marmoreio) em tempo real Essa iniciativa conta com a parceria entre o Instituto

Biosistecircmico (IBS) a DGT e o Sebrae-SP Com o Cordeiratildeo o criador saberaacute quantos

dias seus animais teratildeo para ganhar o peso necessaacuterio para ir ao abate sem que

tenha um gasto desnecessaacuterio com a nutriccedilatildeo deles Ao mesmo tempo o Cordeiratildeo

tem uma funccedilatildeo de seleccedilatildeo dentro do rebanho porque detecta os lotes que daratildeo

melhores resultadosrdquo destaca Luis Henrichsen diretor do IBS Jaacute o Cordeirinho eacute

equipado com ultrassom microscoacutepio kits para exame de espermograma e outros

aparelhos que compotildeem todo o kit para a realizaccedilatildeo de exames reprodutivos e

sanitaacuterios

Outras ferramentas lanccediladas foram o software de custos de produccedilatildeo e o

Indicador do Preccedilo do Cordeiro que eacute desenvolvido na Faculdade de Zootecnia e

Engenharia de Alimentos da USP

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