Opinião | Octávio Carmo| Henrique D. Manuel Linda ... · 04 - Editorial Octávio Carmo 06 - Foto...

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04 - Editorial Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião - D. Manuel Linda - Marcelino Paulo Ferreira24 - Semana de... Henrique Matos26 - Dossier Fátima 2017

28 - Entrevista Irmã Ângela Coelho72 - Multimédia74 - Estante76 - Concílio Vaticano II78- Agenda80 - Por estes dias82 - Programação Religiosa83 - Minuto Positivo84 - Liturgia86 - Fundação AIS88 - LusoFonias

Foto de capa: AEFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Contra a Culturada Violência[ver+]

Papa Franciscoem novaentrevista[ver+]

A mensagem deFátima, 100 anosdepois[ver+] D. Manuel Linda | Marcelino Ferreira| Octávio Carmo| HenriqueMatos|Fernando Cassola Marques |Manuel Barbosa | Paulo Aido | TonyNeves

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Fátima do mundo

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

Faltam dois meses para a visita do PapaFrancisco a Fátima, assinalando o Centenáriodas Aparições que deram um novo rosto aocatolicismo em Portugal e, também, no mundo.Do Papa podemos esperar muito - até porque jános habituou às surpresas -, pela suacapacidade de atrair e de conquistar multidões,de emocionar e de falar aos mais simples, aquem não se sente ouvido ou não tem voz. A suapresença na Cova da Iria não virá propriamente“validar” as Aparições, uma questão encerradahá muito tempo por parte da hierarquia católica,mas será uma peregrinação com janelas abertaspara o mundo. Estará ao lado dos peregrinos,um como eles, sem precisar de rebaixar-se ou dedeixar de ser quem é, unido pela mesmadevoção à Virgem Maria e pela certeza da suaproteção.Esta é uma oportunidade para aprendermos.Para conhecermos melhor Fátima, para lá dasconstruções epidérmicas do que julgamos saber,tantas vezes. E também uma oportunidade paraconhecermos melhor o Papa Francisco, porque aespuma dos dias e a rapidez das redes sociaismuitas vezes impedem de ver além dasaparências, das crispações e das falsificações.Eu sei que pode ser difícil de imaginar algo novoem relação a realidades que julgamos conhecertão bem como Fátima e o Papa Francisco. Masimaginemos um álbum que toda a vida ouvimosnum pequeno rádio, num portátil ou mesmo no

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telemóvel, e que, de repente, opodemos ouvir numa aparelhagemque nos deixa sem voz: calados,ouvimos melhor a letra – e algumaspalavras que sempre cantamos mal-, os instrumentos, o ambientesonoro, a produção. A música torna-se outra, volta a ser ela própria edeixa de ser aquela coisa vaga queouvíamos na

nossa cabeça. Talvez o próximo 13de maio seja a amplificação de quetanto precisamos.P.S. – “Sede prudentes como asserpentes e simples como aspombas”, pedia Jesus Cristo aosdiscípulos, nos Evangelhos. Não hálugar para a ingenuidade perante aescolha de agendas e temposmediáticos.

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Pedro A. Pina/RTP – Festival da Canção 2017Um grande evento de comunicação, este ano nos 60 anos da RTP

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"Eu penso ter feito aquilo que tinha prometido: estarpróximo das pessoas, tentar fazer tudo para estabilizaro país politicamente, economicamente, socialmente,ajudar o sistema financeiro, apoiar o controlo dodéfice, estabelecer as relações internacionaisfundamentais, sobretudo no quadro europeu e daCPLP, e ter sempre presente as comunidades deportugueses espalhadas pelo mundo". (MarceloRebelo de Sousa, no primeiro ano de eleição comopresidente da República) “…Extrema-direita e extrema-esquerda são duas facesde uma mesma moeda: uns gostam de Salazar, outroscopiam os seus métodos” (João Miguel Tavares,Público de 9/3/2017) “A vida é sagrada à luz do direito natural e desta leiconstitucional. Portanto, temas como a eutanásia, oaborto e as barrigas de aluguer não podem serdiscutidas na esfera da escolha pessoal protegidapela privacidade” (Henrique Raposo, RR 3/3/2017). “Em todos os campeonatos, levo para casa um poucode areia da caixa de saltos e guardo-a junto àsmedalhas e distinções que vou conseguindo” (NelsonÉvora, campeão europeu de triplo salto em pistacoberta, 5/3/2017) “Não deixemos que nos convençam facilmente que osalário mínimo não pode subir, a menos que façamosparte dos muitos que heroicamente conseguemalimentar uma família com o seu parco valor”(Mensagem para a Quaresma da Comissão NacionalJustiça e Paz, 9/3/2017).

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Superar a cultura da violência

A Comissão Nacional Justiça e Paz(CNJP) alertou para uma “cultura deviolência” que se reflete nosrelacionamentos domésticos ou nafalta de ajuda aos refugiados emarginalizados.“Vivemos num tempo mergulhadonuma crise que não se esgota nosfatores económicos e sociais emque muitas vezes nos focamos, masse caracteriza por uma crescenteausência de valores morais ecivilizacionais, dados por adquiridosnas últimas décadas”, assinala areflexão para a Quaresma de 2017do organismo laical da IgrejaCatólica, enviada à AgênciaECCLESIA.65,3 milhões de deslocados em

todo o mundo, 21,3 milhões derefugiados, são dados estatísticosevocados pela reflexão quaresmal.“Até que ponto seremos nós,enquanto cristãos, sinais coerentese corações abertos que resistamaos discursos xenófobos quegrassam por quase toda a Europa?”, questiona a CNPJ.A nota observa que a violênciadoméstica não se extinguiu com umageração de homens e mulhereseducados “numa nova sociedade”,como se pensava há uns anos.A “prevalência da violência nonamoro”, entre os mais jovens, acrescente violência doméstica em“todos os extratos sociais” e o

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bullying nas escolas e nas relaçõessociais fazem “soar os sinais dealarme”.Para a CNJP, que tem a finalidadepromover e defender a Justiça e aPaz, a crise de valores “é bempatente”, também, na proliferaçãode uma cultura de violência que emPortugal encontram “num crescendosistemático e preocupante”.No documento ‘O «outro» é um doma que nos devemos dar’, acomissão recorda que o PapaFrancisco pede uma aproximação àfesta da Páscoa com “alegriaautêntica” de uma vida “maiscoerente em que o “moralismo” dêlugar ao testemunho”.Neste contexto, o organismo laicalda Conferência EpiscopalPortuguesa destaca que dados daautoridade tributária, de outubro de2016, mostram que, em média, orendimento dos que se situam noescalão mais alto do IRS era 142vezes superior ao do escalão maisbaixo.Com este alerta, pretende-se queos católicos se pensem em quemedida replicam nas suas relações “o

universo mundano e desigual” deuma sociedade “distinguida eetiquetada” entre pobres e ricos,bem e malsucedidos, poderosos esem influência, sábios e ignorantes.A Comissão Nacional Justiça e Paz,no contexto do debate pelalegalização da eutanásia, incentivatambém a que os cristãos sejam “osprimeiros” a bater-se pelo “reforçodo serviço nacional de saúde” paratodos, a fim de que “os cuidadospaliativos não sejam privilégio”.A defesa pelo apoio às famílias com“mais dificuldades em acompanharos seus”, pelos “apoios à vida comdeficiência” e a luta por “leis laboraismais compatíveis com a conciliaçãotrabalho e família”, são assuntosidentificados, entres outros, eprecisam de uma voz ativa.Durante o atual tempo litúrgico depreparação para a Páscoa é pedidotambém que se elimine “acumplicidade do coração com acorrupção” que “defrauda os maispobres e frágeis dos seus direitos”.

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Santuário e autoridades civisultimam preparativos para visita doPapaO reitor do Santuário de Fátimadisse no V Workshop Internacionalde Turismo Religioso, a decorrer noCentro Pastoral Paulo VI, que seantecipa uma grande participaçãode peregrinos na visita do Papa, emmaio. "Se esperamos por muitas egrandes peregrinações jubilares, em2017, a maior será sem dúvida a de12 e 13 de maio, com a presença doPapa Francisco”, disse o padreCarlos Cabecinhas.O responsável recordou que“receber visita do Papa não é umanovidade para a cidade de Fátima”,que se tornou o “mais significativodestino religioso português”. “Anossa expectativa é que sejammuitos aqueles que acorrerão aFátima para ver, saudar e ouvir oPapa e para rezar com ele. E nãotemos dúvidas de que muitos dosperegrinos que acorrerão a Fátima,nestes dias, virão do estrangeiro”,reforçou.Para os peregrinos que não possamaceder ao recinto haverá ecrãsgigantes no espaço envolvente àBasílica da Santíssima Trindade.O capitão Carlos Canatário, daGNR, disse por sua vez que seprevê a

presença de pelo menos 500 milpessoas, tendo como preocupaçõesfundamentais a “segurança” damultidão e o apoio aos cidadãos. Oresponsável sublinhou a importânciada utilização de “vias alternativas”nos acessos à freguesia de Fátimae ao Santuário e adiantou que vãoexistir “bolsas de estacionamento”fora da Cova da Iria, precavendo asobrelotação dos parques maispróximos.A partir do dia 11 de maio haverácontrolo de entrada de carros naCova da Iria e a partir do dia 12 amesma será interdita, exceto paraviaturas devidamente credenciadas.O comandante Mário Silvestre, daProteção Civil, assinalou que oplano de operações já estádelineado, começando a 5 de maio,com mais de 560 operacionais.

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Papa envia mensagem a MarceloRebelo de Sousa e ao povo português

O Papa Francisco enviou aopresidente da República Portuguesae ao povo português uma ‘carta deagradecimento’, na sequência dafelicitação endereçada por MarceloRebelo de Sousa a Francisco, porocasião do seu 80.º aniversário. Namensagem, publicada pela páginaonline da Presidência Portuguesa, oPapa argentino “agradece decoração” os “votos” de parabéns,feitos quer “em nome pessoal” querda “dileta nação” portuguesa.“No desejo de corresponder à suaamabilidade, retribuo as cordiaissaudações e invoco a proteção doAltíssimo sobre todo o PovoPortuguês e quantos o servem ehonram na realização dos nobres

destinos que lhe cabem na História,propiciando a pacífica convivênciados povos e uma acrescidaprosperidade nacional”, escreveFrancisco.Dias depois de tomar posse comopresidente da República, MarceloRebelo de Sousa esteve com oPapa no Vaticano, a 17 de março de2016. Em maio, haverá ocasião paraum segundo encontro, já queFrancisco visita Portugal e oSantuário de Fátima, para celebrarcom as comunidades católicas dopaís o Centenário das Aparições deNossa Senhora, na Cova da Iria.A confirmação da visita chegou a 15de dezembro de 2016, precisamentedois dias antes do Papa argentinocumprir 80 anos de vida.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Música Sacra no Alentejo

Os Romeiros - São Miguel, Açores

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Papa admite debate sobre ordenaçãosacerdotal de homens casados

O Papa afirmou numa entrevista aosemanário alemão ‘Die Zeit’ que ocelibato “opcional” para os padrescatólicos “não é uma solução” paraa crise de vocações, mas admitiuvalorizar o papel dos homenscasados, neste campo.Francisco referia-se em particular à

proposta de ordenar os chamados‘viri probati’ (“homens testados”– expressão que designa homensde confiança casados, decomprovada fé e virtude). “Teríamosde considerar que tarefas poderiamdesempenhar, por exemplo nascomunidades isoladas”, disse.

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Atualmente, a Igreja Católica de ritolatino admite homens casados aoprimeiro grau do sacramento daOrdem (diaconado,sacerdócio, episcopado). O ConcílioVaticano II (1962-1965) restaurou odiaconado permanente, a quepodem aceder homens casados(depois de terem completado 35anos de idade), o que não acontececom o sacerdócio.O diaconado exercido porcandidatos ao sacerdócio só éconcedido a homens solteiros.O Papa admitiu que a quebra donúmero de candidatos aosacerdócio é um “enorme problema”para a Igreja Católica e defendeuque é necessário “trabalhar com osjovens que procuram orientação”,tema que vai estar no centro dopróximo Sínodo dos Bispos, em2018. “Muitas paróquias estão nasmãos de mulheres dedicadas quenos domingos conduzem asorações. É um problema a falta devocações. É um problema que aIgreja deve resolver”, assinalou.O pontífice referiu que onde não hásacerdotes falta a Eucaristia e "umaIgreja sem Eucaristia não tem força".Francisco observou ainda que, nospaíses ocidentais, o problema é

agravado pela baixa taxa denatalidade, porque “se nãohá crianças, não haverásacerdotes".O Papa lamenta que alguns jovensnão sejam sacerdotes “porvocação”, o que tem trazidoproblemas à Igreja.A entrevista abordou depois acomissão de estudo sobre a históriado diaconado feminino, explicandoque a decisão surge como respostaà questão sobre se essas mulheresforam “ordenadas ou não”. “Trata-se de explorar o tema, não de abriruma porta. O tempo dirá o que acomissão vai apurar”, precisou.O celibato é obrigatório para ossacerdotes na Igreja Católica de ritolatino; em várias Igrejas orientais emcomunhão com Roma podem serordenados homens casados, masnão é consentido casar depois daordenação.No Sínodo dos Bispos de 2005considerou-se que a ordenaçãosacerdotal dos ‘viri probati’ não seriauma solução, dando como exemploa situação que se vive nas IgrejasOrientais ligadas a Roma “que têmpadres casados, mas que sofrem,apesar disso, de crise devocações”.

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Papa renova alerta contra onda depopulismo na EuropaO Papa Francisco reforçou os seusalertas contra o populismo e onacionalismo, na Europa, numaentrevista publicada pelo semanárioalemão ‘Die Zeit’. “O populismo émau e no final acaba mal, como no-lo mostra o século passado”,alertou, numa alusão ao regime nazie às guerras mundiais.Francisco admitiu estar preocupadocom a onda de populismo naEuropa, recordando os discursosque pronunciou em Estrasburgo,junto do Parlamento Europeu e doConselho da Europa, e na receçãodo prémio Carlos Magno, queconsidera a síntese do seupensamento sobre o Continente.Na entrevista ao ‘Die Zeit’, o Paparecorda a ascensão ao poder deAdolf Hitler nos anos 30 do séculoXX. “A Alemanha estavadesesperada, a crise económica de30 era... e um jovem disse ‘euposso, eu posso, eu posso’.Chamava-se Adolf, e isto acabouassim, não? Conseguiu convencero povo de que ele podia. Por trásdos populismos existe sempre ummessianismo, sempre. É tambémuma justificação: preservar aidentidade do povo”, alertou.

Francisco aludiu a figuras comoSchuman o Adenauer, os “grandesdo pós-guerra” que imaginaram aunidade europeia, com uma ideia“não populista”. “Imaginaram umafraternidade de toda a Europa, doAtlântico aos Urais. E estes são osgrandes líderes – os grandeslíderes – que são capazes de levarem frente o bem do país, semestarem eles no centro. Sem seremmessias”, observou.O Papa defende que hoje “todo omundo está em guerra”, numa“terceira guerra mundial aospedaços”.“Isto faz-se com as armas modernase existe toda uma estrutura defabricantes de armas que ajuda. Éuma guerra. Mas –sublinho – nãoquero dizer que esta situação seja amesma de [19]33, não! Este é umexemplo que dei para explicar opopulismo”, acrescentou.

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Vaticano apresenta contasO Vaticano apresentou no últimosábado as contas relativas a 2015,referindo que o governo do Estadoapresenta um resultado positivo de59,9 milhões de euros e a Santa Séum défice de 12,4 milhões.De acordo com um comunicado daSecretaria para a Economia doVaticano, as principais fontes dereceita da Santa Sé são, para alémdo rendimento de investimentos, ascontribuições feitas pelas váriasdioceses de todo o mundo, nostermos do 1271 do Código deDireito Canónico (CDC), 24 milhõesde euros, e o “contributo do Institutopara as Obras de Religião” (IOR),50 milhões de euros, sendo adespesa mais significativa o custode pessoal.O Governo do Estado da Cidade doVaticano tem na receita das“atividades culturais”,nomeadamente os Museus doVaticano, o maior contributo para oresultado positivo de quase 60milhões de euros, em 2015.De acordo com a Sala de Imprensada Santa Sé, “as contas anuais de2015 representam a primeirainformação financeira tomada emconformidade com as Políticas deGestão Financeira do Vaticano(VFMP, sigla em inglês), aprovadaspelo Papa Francisco a 24

de outubro de 2014, que sebaseiam nos Princípios deContabilidade Internacional para oSetor Público”.O comunicado, divulgado pela Salade Imprensa da Santa Sé,acrescenta que a Secretaria para aEconomia do Vaticano informou oConselho para a Economia que aaplicação da VFMP está“francamente em curso”,acrescentando que serãonecessários “alguns anos” parafique concluído o processo de“atualização de uma revisãocontabilística completa”.“As Contas Anuais Consolidadas de2015 representam um passoimportante, seja para as reformaseconómicas, seja para o percursode adoção da nova política, queestá a progredir bem”, acrescenta ocomunicado.

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Papa em retiro de Quaresma

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Desconstrução ou destruição?

D. Manuel Linda Bispos das Forças Armadas e Forças de Segurança

Eu sei que há quem adira ao Islão. Mas nuncatinha falado com um desses convertidos. Até que,há dias, uma viagem me colocou perante umaguia turística que fazia gala de mostrar a suanova condição de muçulmana: lenço a tapar todaa cabeça, com excepção de parte da face, eroupas suficientemente largas para ocultarem asua anatomia feminina. Meti conversa. Disse-meque era trintona, nascida numa aldeia perdidanas montanhas do Norte de Portugal e que tinhafeito “todas as comunhões”. Pareceu-meinteligente, culta e bonita. À pergunta sobre asrazões da conversão, respondeu: “O Ocidenteestá podre. As pessoas não conhecem outra leique não seja o seu desejo. Não há normas, nemDeus, nem o Bem. No Islão, encontro tudo isso”.À noite, entrei na internet para ler o correio. E napágina de abertura, este título sensacionalista:“Morte, sexo e droga: as novas lutas do PartidoX”. O texto, porém, referia estas temáticas commais serenidade. Não obstante, direta ouindiretamente, apontava-se para aí. Tudoembrulhado no costumado eufemismo: “moçõespara um diálogo aberto e sereno”. Mas que sepoderia traduzir por outra expressão, menossuave, mas mais autêntica: núcleo primeiro dabola de neve que se transformará em avalanchee arrastará consigo toda a enxurrada.Estes dois posicionamentos perante a vidafizeram-me pensar. A cultura ocidental, de facto,é absolutamente míope: não vê mais nada que

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não seja o indivíduo. Melhor: oumbigo do próprio indivíduo. Masnão reconhece a cegueira. Até dizque o que pretende é defender aliberdade e a autonomia da pessoa,desde que esta não colida comterceiros. E que ninguém é obrigadoa fazer o que não quer.Mas será mesmo assim? É que aobanalizar, acaba por facilitar e atéimpingir. E com fortes prejuízos paraterceiros. Na eutanásia, porexemplo, o pretenso pedido damorte não será, quase semexcepção, o resultado do abandonofamiliar, fruto desta cultura do«descarte»? E ao afirmar-se queestá em jogo “uma questão de

dignidade”, já que “os trabalhadoresdo sexo” se sentem discriminados,não se estará a escancarar aindamais as portas para que se gasteneste domínio o que, porventura,faltará para pão em casa? A filosofia contemporânea fala de“desconstrução”, de mudança pelamudança, de colocar de pernaspara o ar o que se encontrava comos pés bem assentes na terra. Masdesconstrução ou destruição dohumanismo e da pessoa? É que,sem a norma legal balizadora, épreciso ser herói para se vincular àética. E sem esta, que é que ficapara garantir a justeza das relaçõesinterpessoais?

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Quaresma“O princípio e o fim de um processooferecem uma conexão com sentido,uma unidade com sentido, quandoestão interligados um com o outro.[…] Também os rituais e ascerimónias são formas deconclusão”. O filósofo Byung-ChulHan, num ensaio sobre o tempo(Fecha os olhos, por favor ), partedesta afirmação para sugerir umamudança de paradigma ou, pelomenos, uma atenção mais cuidada ànossa maneira de estar no tempo.Urge assumir uma dinâmicatemporal que lhe devolva o seu“aroma”. A Quaresma é essaocasião propícia para abrandar oritmo acelerado e a superficialidadeda nossa vida, acalmar, pacificar,deixar que o amor de Deus ressoeno nosso coração. É um tempo deintrospeção serena, decontemplação, de reconciliaçãoprofunda connosco, com Deus ecom os outros. Fátima: Ano MarianoNão é adequado sugerir aQuaresma como um tempo triste!Antes de tudo, é um tempo depreparação para a Páscoa. “AQuaresma é um novo começo, umaestrada que leva a um destinoseguro: a Páscoa de

Ressurreição, a vitória deCristo sobre a morte”(Francisco, Mensagem para aQuaresma de 2017). Neste sentido,a Quaresma é um “processonarrativo”, por conseguinte, nãoacelerado, antes um tempo comritmo. Assume um ritmo próprio queevolui na preparação ou renovaçãodas promessas batismais e nadinâmica penitencial. Esta,considerada em termos pessoais ecomunitários, pode ser tomadacomo sinónimo de conversão e derenovação cristã. É, pois, sobre ocaráter batismal que se apoia adimensão penitencial da Quaresma.Por isso, a penitência tem de serentendida como um meio ou umfruto e nunca a causa ou origem daconversão. “As penitências não sefazem para sofrermos. Fazem-separa melhorarmos. Para nós,cristãos, uma ‘penitência’ não é algoque custa mas um exercício queajuda a ficar melhor pessoa. […]Abstemo-nos de coisas boas se issonos ajuda a alcançar outrasmelhores” (Nuno Tovar deLemos, Mensageiro do Coração deJesus, março de 2017). Para tal,precisamos de disposições básicassem as quais não há conversãopossível: a chave é o descentrar-se,deixar de estar voltado para si ecolocar o

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centro no essencial.A esmola centra-nos nasnecessidades dos outros; a oração centra-nos no encontro com Deus;o jejum reúne as duas anteriores nacentralidade do essencial. Estaspráticas tradicionais do tempoquaresmal fazem a ponte com o“Ano Mariano” que celebramos apropósito do Centenário dasAparições em Fátima. A oração e apenitência estão entre os pontoscentrais da Mensagem de Fátima:são a resposta dos Pastorinhos àsinterpelações da Senhora (e doAnjo). A primeira aparição mariana(13 de maio de 1917) traz umpedido com um carácter penitencial:“Quereis oferecer-vos a Deus parasuportar todos os sofrimentos queEle quiser enviar-vos, em ato dereparação pelos pecados com queEle é ofendido e de súplica pelaconversão dos pecadores?”.Deixando de lado o que não éessencial (que só se podecompreender no contexto própriodaquelas crianças), há um conteúdoprofundo que se repete hoje:“Quereis oferecer-vos a Deus…pela conversão dos pecadores?”.Eis o essencial que há de orientar aconcretização criativa daspenitências quaresmais: oferecer avida a Deus pela nossa conversão,pecadores e confiantes namisericórdia divina.

Laboratório da FécomtemplaNo contexto mariano que orienta adinâmica pastoral, apropriamo-nosdas palavras de São João Paulo IIna Carta Apostólica sobre o Rosário(RVM), para as aplicar ao tempoquaresmal. Assim, nesta Quaresmasomos também convidados afrequentar a “escola de Maria”, paranos deixarmos “introduzir nacontemplação da beleza do rosto deCristo e na experiência daprofundidade do seu amor” (RVM 1).Da mesma forma, podemos dizerque a fé contemplada “tem em Mariao seu modelo insuperável” (RVM10). Ousamos apresentar duaspropostas concretas para entrar na“casa” e na “escola” de Maria: A ViaSacra: Orai Assim (ediçõesSalesianas) e a recitação do terço,em especial os mistérios da dor.Uma e outra, “a partir da experiênciade Maria”, são “uma oraçãomarcadamente contemplativa” querequerem “um ritmo tranquilo e umacerta demora a pensar, quefavoreçam, naquele que ora, ameditação dos mistérios da vida doSenhor, vistos através daquele quemais de perto esteve em contactocom o mesmo Senhor, e que abramo acesso às suas insondáveisriquezas” (RVM 12).

Marcelino Paulo Ferreira

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Não é bom que o homem esteja só...

Henrique Matos Agência ECCLESIA

A expressão é conhecida e dá conta da intuiçãode Deus ao ver o homem sozinho a vaguear pelojardim do Éden. O criador considerou que faltavaalgo para que o jardim se transformasse emparaíso... Pelas páginas do Génesis é assim quesurge a mulher, criada a partir de um Adãoadormecido que acorda com uma companheira aseu lado. O que importa é olhar a condição atualde homens e mulheres que já não vivem noparaíso nem se alimentam pelo simples esticarda mão que colhe o fruto disponível eabundante.Hoje a vida ganha-se numa luta diária em que otrabalho possibilita a sobrevivência e orendimento determina a o nível de vida. Nesteestado de coisas a mulher, que continua a ser acompanheira do homem, é também a suaconcorrente. Em Portugal, as mulheres estão nadianteira no que toca a qualificações, maspermanecem atrás se falamos de remunerações.Uma desigualdade que continua na aindaescassa presença feminina nos cargos de chefia.O Dia Internacional da Mulher, assinalado estasemana, veio lembrar que a Eva de Adão temsido, ao longo da história, bem mais a sua criadado que a sua companheira.Muito se caminhou na luta pelos direitos e peladignidade, e os frutos já se concretizam em leislaborais e direitos civis, mas ainda assim, pareceque o homem ainda pesa mais no prato dabalança. Ainda se olha para a gravidez como umquebra-cabeças para a produtividade daempresa, e a cozinha assegurada por homensainda é coisa

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gourmet. Para elas, o horáriolaboral não termina ao fim da tarde,mas prolonga-se noite dentro paraassegurar o bom desempenho daempresa doméstica. E esta de quefalamos, é só umadesigualdadezinha... Se olharmosas mulheres de outras latitudes, nãovemos criadas, mas sim verdadeirasescravas... mulheres que vivem nasombra, sem rosto e sem voz.Mas o atraso civilizacional dealgumas regiões do mundo nãopode, entre nós, atenuar a urgênciade olhar a mulher na sua dignidade.E isso, não é dizer que a mulher éigual ao homem, é assumir que édiferente. É nessa diferença quereside a beleza da sua condição e oseu potencial decomplementaridade para com ohomem. Esta noção não seconsegue por quotas, mas apenaspela

mudança das consciências. Na passada semana, esteSemanário dava conta dos muitosrostos femininos que já ocupamlugares de liderança na Igreja emPortugal, na terça feira no Vaticano,o Conselho Pontifício da Culturaapresentava a ‘Consulta Feminina’,um organismo permanente que querdar mais voz às mulheres, compostopor mais de 20 representantes devários países. O objetivo é oferecer“um olhar feminino” sobre aatividade deste dicastério, comoreferiu o seu responsável, o cardealGianfranco Ravasi.Estes dias temáticos têm sempre umdom e um perigo. O dom de nosdespertar a consciência e o perigode que ela adormeça já amanhãquando se assinalar o dia do sonoou da meteorologia.

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Em 2017, Portugal vai receber uma visita de Francisco centrada naCova da Iria, a 12 e 13 de maio, no Centenário das Aparições. Trêscrianças foram os responsáveis por receber a mensagem da VirgemMaria, vivendo acontecimentos que mudaram para sempre o rosto daCova da Iria e da Igreja Católica.Passados 100 anos, ainda há muito a descobrir na vida e aespiritualidade dos seus protagonistas. Os mais novos, Francisco eJacinta Marto, foram beatificados em maio de 2000. 17 anos depois,espera-se que a sua canonizaçãoaconteça no Centenário das Aparições, comoexplica nesta edição do Semanário ECCLESIAa irmã Ângela Coelho, postuladora daCausa de Canonização dos pastorinhos.

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Mensagem de Fátima e seusprotagonistas A postuladora da causa de canonização dos Beatos Francisco e JacintaMarto admitiu à Agência ECCLESIA que o Papa traga “novidades” sobre acanonização dos dois pastorinhos, durante a sua visita a Fátima. A irmãÂngela Coelho fala ainda da importância da figura dos três pastorinhos e daatualidade da mensagem de Fátima, 100 anos depois das Aparições naCova da Iria.

Entrevista conduzida por Lígia Silveira e Luis Filipe Santos Agência ECCLESIA (AE) – A«Mensagem de Fátima» está acomemorar o seu centenário. Comose fala, nos dias de hoje, sobre estetema?Ângela Coelho (AC) – Falar 100anos depois de Fátima é… umtentar de novo. Repetir comlinguagens e formas novas aquiloque Nossa Senhora e o Anjo vieramtrazer à Cova da Iria. Não apenaspara Portugal, mas para o mundointeiro. Tenho sentido nos últimosanos um interesse maior por todasestas temáticas e assuntos. AE – Como falar ao homemcontemporâneo sobre esteacontecimento que mudou vidas decrianças e adultos. É necessáriouma linguagem que diga algo denovo?AC – As necessidades do serhumano são muito constantes aolongo da vida e das épocashistóricas. Falo no exemplo desermos aceites e compreendidos…A necessidade

de sermos felizes e realizados. Determos paz e estarmos bemconnosco próprios, com os outros ecom Deus. Apesar do ser humanoter mudado em termos delinguagem, na forma de comunicar ena compreensão do próprio mistério,as necessidades são as mesmas.Portanto, falar de Fátima cem anosdepois, apesar de tudo, não é assimtão difícil porque o que Fátima traz éuma resposta às necessidadescomuns ao ser humano. AE – No entanto, essas respostasnecessitam de novas ferramentas…AC – Os agentes da pastoral daMensagem de Fátima têmaproveitado todas as ferramentasque a ciência teológica nos dá.Temos aproveitado também osconhecimentos da Psicologia,Sociologia e da forma das pessoasse relacionarem entre si. A grandedificuldade está, provavelmente eaparentemente, nalgumas coisasfaladas há cem

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anos atrás e que, hoje, estão forade moda. Esse tem sido o nossomaior desafio. Todavia, não sintoque seja desfasado daquilo quehoje seja necessidade do serhumano. AE – O contexto histórico eradiferente…AC – Os fatos que nos rodeavam efaziam notícia eram diferentes. Masse repararmos, há cem anosvivíamos numa guerra mundial e,hoje, não sei se esse medo nãoestá também presente. Talvez aindamais… A globalização traz-nosnotícias ao minuto e isso gera maismedo e ansiedade. Embora nãoestejamos a viver a I GuerraMundial, os eventos de terrorismo eas perseguições sentidas tambémnos causam esse medo einsegurança. Parece que se senteuma falta de confiança no futuro euma grande insegurança face aoterrorismo. AE – A «Mensagem de Fátima» dáresposta a esses problemas?AC – Aponta caminhos… Não gostode absolutizar respostas porque aúnica resposta é Jesus Cristo. Ele eo seu Evangelho são a resposta e ocaminho para os problemas dequalquer ser humano em todas asépocas. Obviamente, a «Mensagemde

Fátima» porque sublinha aspetosfundamentais do Evangelho –adaptados à nossa mentalidade eao nosso contexto – tem implicaçõesmuito concretas. O apelo à oração éum apelo que Jesus lança, masFátima também aponta esse apelo àoração. Uma forma de oraçãosimples, mas adaptada ao nossotempo de vida e ao nosso ritmo: Aoração do Rosário.Na «Mensagem de Fátima», adimensão de compaixão esolidariedade é muito forte tal comono Evangelho. É fundamental ter aconsciência que pertenço à famíliahumana e sou responsável pelomeu ‘irmão’ e ‘irmã’. Cristo e o seuEvangelho são o centro, todavia na«Mensagem de Fátima» estesvalores também aparecem. AE – Então a «Mensagem deFátima» é um apêndice doEvangelho. Uma página branca quese vai construindo…AC – Eu diria que a «Mensagem deFátima» é uma tela que se vaitecendo com diversos fios que doEvangelho recolhemos. Esta telabelíssima com cem anos deconstrução está a ficar cada vezmais lindíssima. Precisamenteporque é tecida com os fios daspáginas do Evangelho.

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AE – Quem teceu essa tela foi aIrmã Lúcia?AC – Foi a Irmã Lúcia, Francisco eJacinta e cada um de nós. AE – Mas a Irmã Lúcia é aprotagonista visto que era ela quefalava com Nossa Senhora?AC – A Irmã Lúcia tem umprotagonismo especial em toda estahistória da «Mensagem de Fátima»porque é a interlocutora de NossaSenhora. Mas também porque ficacá mais algum tempo, até 2005,para difundir e espalhar ao mundo adevoção ao Imaculado Coração deMaria. Obviamente que não tiro, deforma alguma, o protagonismo àJacinta e ao Francisco porque foramos primeiros a viver em plenitudeaquilo que Nossa Senhora veiodizer. Digo em plenitude porque aIgreja beatificou-os no ano 2000. AE – Podemos confundir asmemórias da Irmã Lúcia com a«Mensagem de Fátima»?AC – Não podemos confundir…Mas, obviamente que as memóriasda Irmã Lúcia são o registo do serhumano mais credível e fielrelativamente àquilo que foiacontecendo em 1917. Todavia,considero que a «Mensagem

de Fátima» é muito para além dissoque a Lúcia regista, escreve erecorda. A «Mensagem de Fátima»é também o peregrino que a atualizaem cada tempo.Se a «Mensagem de Fátima» fossesó as memórias da Irmã Lúciapodíamos concluir que ela estavaterminada no dia da sua morte. Ofenómeno de Fátima ultrapassa,enormemente, a vida e as memóriasda Irmã Lúcia.

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AE – Sem esquecer também opapel desempenhado pelo cónegoFormigão.AC – O cónego Formigão teve umpapel importantíssimo. Como os trêsvidentes eram crianças, à partida acredibilidade das aparições, noprimeiro olhar, era muito pequena.O cónego Formigão foiextraordinário. Ele aproxima-se dofenómeno, primeiro com algumaprudência. Chega a Fátima em setembro de1917.

De longe, observava o fluxo deperegrinos… Posteriormente,interroga os videntes. A partir destemomento ele acredita naquilo queestá a acontecer. Ele acredita que éalgo que vem de Deus e nãoprodução fabricada ou mentira dascrianças.Quando interroga ascrianças, regista tudo. Ele interrogacomo quem acredita… Isto faz todaa diferença. É muito diferentesermos interrogados

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por alguém que acredita e por quemnão acredita. Os pastorinhostiveram interrogatórios destes doistipos. Perante esta situação, aatitude de quem está a serquestionado é completamentediferente. Os “pequeninos” intuíramisso e abriram o seu coração a estehomem. AE – Interrogatórios essenciais paracompreender o fenómeno.AC – Ele dá-nos uma fonte deprimeira grandeza. Como era umsacerdote respeitado do Patriarcadode Lisboa, com uma formaçãoprofunda feita em Roma, vai ajudarà credibilidade destes videntesdiante da autoridade eclesiástica. Apartir do momento que a Igrejaautentica estes acontecimentos diz:“Aqui Deus teve uma intervenção”. AE – Mas demorou algum tempoaté se chegar a esse patamarAC – É normal. Foi necessáriointerrogar muitas pessoas. Estacomissão teve como um dosmembros mais importantes, ocónego Formigão. AE – Ele sonhou um novo Santuáriode Lourdes (França) na Cova daIria?AC – Ele percebe que um fenómenosemelhante se estava a passar. D.José Alves Correia até começa acomprar terrenos circundantesporque sabia da experiência deLourdes. Em Fátima,

os intervenientes quiseram evitaresse fenómeno dos terrenos juntoao Santuário de Lourdes. AE – Podemos, quando se fala na«Mensagem de Fátima», correr orisco de nos fecharmos numanomenclatura em que só a Igreja eos cristãos percebam? Esquecendoaqueles que não conhecem aspropostas da mensagem?AC – Estamos num contexto de fé.No entanto, a nomenclatura que éfalada em Fátima toca nasnecessidades mais profundas do serhumano. E isso é universal. Mas seolhamos para Fátima de formasuperficial, corremos o risco de overmos como fenómeno sociológico.No fundo há diversos olhares quepodemos ter sobre o evento Fátima.Todavia, somos todos desafiados aaprofundar este acontecimento. AE – Aprofundar o acontecimento eos valores inerentes.AC - Os valores aqui propostos sãouniversais. Como a compaixão pelomeu irmão que sofre, o sentir-meresponsável pela história… Isto éuma linguagem para crentes e nãocrentes. O Papa Francisco temfalado muito disso. Mesmo adimensão ecológica. Todos nóshabitamos este planeta e somosresponsáveis por ele. A paz é umbem universal.

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AE – Os peregrinos falam muito nadimensão do silêncio e da paz.AC – Completamente verdade. Omundo está cheio de ruído e o ritmoda nossa vida é frenético. Somosassolados por sons vindos de todoo lado. Outrora só tínhamos a rádioe a televisão. Agora, com a internet

estamos a ficar dependentes.Estamos, constantemente, a serbombardeados por atrativosexteriores a nós. Isto impede-nos aconcentração e prejudica a reflexão,concentração e silêncio. AE – Fátima é um bom sítio paracomeçar um caminho de fé?AC – Sim. Para algumas pessoas éum sítio maravilhoso. Algumaspessoas chegam aqui apenas paraacompanhar e depois sãosurpreendidas. Muitos chegamdistraídos… Depois olham paraaquela imagem pequenina, naCapelinha das Aparições, e algumacoisa acontece. Fátima pode ser umexcelente ponto de partida. AE – É possível viver o silêncio nasgrandes celebrações, especialmenteas de maio e outubro?AC – No Santuário de Fátima vivem-se

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momentos diferentes. Aqui há tempopara tudo. Os peregrinos sabemisso e buscam o santuário conformeas suas necessidades. Todavia, nasgrandes celebrações eu percebo adimensão comunitária da fé. Rezarem conjunto tem tambémimportância, na minha forma deviver a fé. AE – A «Mensagem de Fátima» estátatuada no rosto dos peregrinos?AC – Está refletida uma dimensãoda «Mensagem de Fátima» que é aconfiança em Nossa Senhora. Oolhar de certos peregrinos acontemplar

Nossa Senhora de Fátima mostra acerteza e a confiança naquelapessoa. O que traz a Fátima a maiorparte dos peregrinos é estaconfiança em Nossa Senhora. É oespecífico do Santuário.Posso referir também que muitosperegrinos buscam o Santuário deFátima para o Sacramento daReconciliação. AE – A «Mensagem de Fátima»também é emotiva, bastavisualizarmos o momento do adeuse os lenços que acenam, juntamentecom as lágrimas, a Nossa Senhora.AC – A «Mensagem de Fátima» éemotiva… Nós somos afeto e aPsicologia tem vindo a demonstrarisso. A afetividade é uma portaexcecional para a vida. Enquantonão formos tocados no coração nãoexiste conversão e mudança.

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AE – A mensagem está centrada oubaseada em três segredos. Esselado enigmático dá-lhe outracaracterística?AC – A Irmã Lúcia dizia: “Às vezesdamos mais atenção ao pouco quenão conhecemos e não tomamosem devida consideração o tanto quejá sabemos”. O fato de existirem trêspartes do segredo suscitacuriosidade. Em Agosto, ospastorinhos foram presos por causado segredo. As crianças se nãoestivessem convencidas daverdade… não aguentariam apressão psicológica. O segredo éum dos grandes critérios deautenticidade das aparições. AE - Se a «Mensagem de Fátima»fosse um livro, podíamos dizer queesse livro foi concluído em 2000?AC – Ainda se está a escrever. Sepensarmos no conhecimento sobreos acontecimentos, sem dúvida, foiencerrado em 2000. Mas consideroque a «Mensagem de Fátima» émuito para além do que ospastorinhos viram e ouviram, pensoque é um livro que está a serescrito. Com capítulosinteressantes. Um deles foi, semdúvida, o ano 2000, data dapublicação do segredo e da

beatificação da Jacinta e doFrancisco. Outro capítulo importantefoi a morte da Lúcia de Jesus, em2005, data da morte da últimavidente. Outro capítulo foi oencerramento do processodiocesano da Irmã Lúcia, a 13 defevereiro último. AE – Voltemos ao ano 2000, datada beatificação de Jacinta eFrancisco. Dezassete anos depois,não haverá novidades?AC – Espero que haja, neste ano,alguma novidade acerca dospastorinhos Jacinta e Francisco. AE – Refere-se à canonização?AC – Sim, que é o que maisdesejamos. AE – E sobre a Lúcia?AC - Penso que a novidade, em2017, já aconteceu e foi a 13 defevereiro. Este ano, não estou àespera de mais nada sobre a Lúciade Jesus, relativamente ao seuprocesso. Em Roma, segue-se aabertura do processo diocesano porparte da Congregação da Causados Santos. O primeiro momento vaiser um decreto de validade jurídica,ou seja, um ou dois oficiais naCongregação vão olhar para osdocumentos com o único

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objetivo de ver se as formalidades eas normas da Sanctorum Mater , ainstrução que rege estes processos,foram cumpridas. Observar 15483páginas vai demorar algumassemanas e o decreto da validadejurídica demora meses.Posteriormente, o postuladorromano tem acesso à cópia públicae pode redigir a Positio, umdocumento que sintetiza entre 500 amil páginas o que foi entregue naCongregação. Tem de ser umdocumento muito bem feito porquenos dá as virtudes principais deLúcia de Jesus.

AE – Há dois dados importantes.Um sobre a Irmã Lúcia que seencontra em fase primária. O outroé a canonização de Jacinta eFrancisco. Nesta maratona, acanonização dos dois pastorinhosestá mesmo na reta final. O papa vaitrazer novidades no próximo mês demaio?AC – O Papa pode trazer novidades.Eu não sei. De facto, o estudo domilagre prossegue, mas ainda nãoestá concluído. Falta a análise deuma comissão. Caberá ao Papadecidir onde e quando queranunciar e fazer a canonização. Aocorrência deste presumível milagre– é assim que me tenho de referir aele, pois ainda não está dito que éum milagre.

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AE – Milagre que, no seu entender,tem todas as condições para servalidado?AC – Sim, tem todas as condições.Por isso é que eu decidi começar aestudá-lo. Acredito nele desde oinício. Quando chegaram àpostulação, há quatro anos, osprimeiros documentos, fui investigare pareceu-me que tinha condiçõespara ser estudado e aprofundado.

AE – Estamos a falar de umacriança brasileira?AC – Sim, uma criança do Brasil. Sefor este o milagre aprovado que nosconduz à canonização, será ummilagre muito bonito. Duas criançascuidam de uma criança. AE – E o Papa Francisco podeanunciar?AC – Pode. Da parte da postulação

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fizemos e preparámos tudo paraque fosse possível este ano. Ascomissões, em Roma, estão aestudar e, de facto, está a correrbem. Falta concluir o estudo. Tenhofortes expetativas e esperança quevá acontecer este ano, em 2017, acanonização do Francisco e daJacinta. Será o papa Francisco aescolher quando anunciar e ondefazer. AE – A festa de maio tem a garantiada presença do Papa Francisco. Osantuário de Fátima poderá viveroutra festa em outubro, a 12 e 13?AC – Poderá viver ao longo desteano. De facto, depende mesmo dosanto Padre. As condições estãocriadas e se a próxima comissão dero seu parecer positivo, as condiçõesestão criadas para que o santoPadre tome a decisão quandoentender. AE – Estamos a conversar no DiaInternacional da Mulher. Podemosdizer que a «Mensagem de Fátima»tem um lado feminino?AC – Através de Nossa Senhora epela Lúcia. São as duas grandesfiguras femininas que atravessam amensagem. A figura materna daVirgem Maria, mãe de Jesus, daIgreja e de cada um de nós, por umlado,

e a forma feminina de a Virgem seexprimir com palavras tão bonitascomo as que dirige à Lúcia «Nãotenhas medo, eu nunca te deixarei»;«O meu coração será o teu refúgio»- esta forma tão bonita de exprimir averdade do Evangelho. Por outrolado a Irmã Lúcia, mulher que ficamais tempo com uma dimensãoimportante e um protagonismoespecial em toda a Mensagem. AE – Destaca também o lugar damulher na Igreja?AC – É uma dimensão que podemosconcluir. A irmã Lúcia vibra, nosseus escritos, quando o Papa PauloVI atribuiu o título de Doutora daIgreja a Santa Teresa de Ávila. Elajá era carmelita e vibra com isso.Percebe que a mulher tem esteespaço dentro da Igreja, naparticipação pelo batismo nosacerdócio, tem esta missão deanunciar o Evangelho e a Boa Nova.A Igreja estava a reconhecer isso,não apenas no II Concílio Vaticano,mas atribuindo o título de Doutorada Igreja a Teresa de Ávila. Lúciasente-se mais confortável com o seuministério de espalhar a mensagemde Fátima, ainda que com os seuslimites próprios da clausura.

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AE – E os Papas? Que papéisdesempenham na «Mensagem deFátima»? Paulo VI, João Paulo II,Bento XVI? O papa Francisco viráem maio…AC – Na minha opinião, começamais cedo e com um fenómenointeressante com Pio XI. Sublinhoeste facto porque autenticou, aindaque indiretamente, o fenómeno queestava a acontecer.Em 1929, estamos a falar do anoanterior à aprovação por parte deD. José Alves Correia, o papa Pio XIbenze uma imagem de NossaSenhora de Fátima, que estava noColégio Português, em Roma feitapelo escultor José Ferreira Thedimque fez a escultura de NossaSenhora da capelinha. Este sinal éuma aprovação implícita daqueleacontecimento.Pio XII tem uma grande relação comFátima. É o primeiro a considerar-seo Papa de Fátima, não só porqueEugenio Pacelli foi ordenado bispo a13 de maio de 1917, ele fica comuma ligação forte afetiva aoacontecimento Fátima, mas é oprimeiro Papa a tentar cumprir opedido de Lúcia sobre aconsagração do mundo aoImaculado Coração de Maria. Háuma célebre fotografia em que,acompanhado pelo seu secretárioMontini, Pio XII ao microfone darádio, fala aos

portugueses sobre isto.A partir de Paulo VI, a grandeligação dos Papas a Fátima é a suapresença. A sua presença é umaaprovação e um exprimir a atençãoda Igreja ao que aqui foi sucedendo.João Paulo II tem uma história única– seria mais um capítulo quefalávamos no livro sobre a«Mensagem de Fátima». AE – João Paulo II tinha uma grandedevoção mariana…AC – Verdade e o seu lema é TotusTuus, mas o seu plano pastoral paraa Igreja universal não incluía Fátima,até àquele dia 13 de maio de1981… Depois de despertar naclínica Gemelli e percebendo agravidade do sucedido, atribuiuimediatamente à proteção de NossaSenhora de Fátima o desfechodiferente do previsto que era a suamorte. Ele diz: «o Papa parou nolimiar da morte devido àquela mãomaterna que desviou a bala». AE – Aos olhos da razão é difícil deentender. A mão de Nossa Senhoradesviar uma bala…AC – É uma linguagem simbólica. OPapa quando fala na mão, fala emtodo o ser da Virgem Maria que oprotege.

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É bonito perceber que, atribuindo aela uma proteção especial, estendea intercessão a milhões deperegrinos que ao longo dos anospassam pelo santuário e rezam peloPapa porque desde o início a figurado sucessor de Pedro foi importantena Mensagem de Fátima. Mas muitoantes de se conhecer a terceiraparte do Segredo já aqui se rezavapelo Papa e o amor

da Jacinta pelo Papa é conhecidodesde o início, ainda que não sesoubesse o segredo.Quando o Papa fala na mão é numalinguagem metafórica querepresenta a proteção de NossaSenhora. É interessante que ele falana mão e é na mão que ela traz orosário. A oração que mais se rezaem Fátima é o rosário.

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AE – E o cardeal Ratzinger, BentoXVI, que escreveu o comentárioteológico à terceira parte dosegredo.AC –Foi fundamental. Eu costumavapensar que João Paulo II entra emFátima pelo coração e depois vaiintelectualizar Fátima. O cardealRatzinger foi diferente: entraintelectualmente e, em 2010 quandovem à Cova da Iria, é o coração queé apanhado pela expressão decarinho da multidão a 13 de maio.Penso que naquela altura, eleprecisava dessa manifestaçãocarinhosa.Devemos muito ao cardealRatzinger. É curioso que a Lúciaescreve no seu diário os encontroscom cardeais, bispos, chefes deestado ou pessoas da cultura, não onome, mas os encontros e sinto queo faz para proteger a pessoa.Exceto com o cardeal Ratzinger….Regista a conversa

em outubro de 1996, no contextoda sua vinda à Cova da Iria. Elaregista que as pessoas presenteslhe perguntaram qual a essência damensagem, para onde apontava. Eela responde «Creio, na minhaopinião, que tudo na mensagem épara conduzir para a fé, para aesperança e para a caridade». Comsimplicidade ela pergunta ao cardealRatzinger «Parece-lhe bem, suaeminência?» Ele, muitoatentamente, diz-lhe «Sim, a irmãrespondeu muito bem. É issomesmo».É interessante que esta mesmafrase, no comentário ao segredo, noano 2000, preparada pelo cardealRatzinger, ele regista o mesmo. Ébonito ver que depois serão estesos temas das encíclicas de BentoXVI – a fé, a esperança e acaridade. Vejo nisto, o fio condutordo acontecimento Fátima.

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AE – A irmã Ângela vibra com isto…AC – Ai, vibro (risos). É a minhavida. AE – Quando foi a primeira vez queteve contacto com a mensagem deFátima?AC – No colo da minha mãe e nosbraços do meu pai. Eu cresci a veros meus pais de joelhos diante daimagem de Nossa Senhora deFátima a rezar o terço. Para umacriança de nove anos a figura do paié sempre importante. O meu eradono de uma empresa, comfuncionários a seu cargo. Para mimo meu pai era mesmo muitoimportante porque mandavanaquelas pessoas. Ver aquelehomem de joelhos diante daquelaimagem fazia-me pensar que ela éque devia ser mesmo importante.Lembro-me destes raciocínios…Nossa Senhora era membro dacasa, assim como Jesus. Havia umcrucifixo lindíssimo. Foi com osmeus pais

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que eu aprendi quem era Nossasenhora de Fátima. Era umadevoção muito séria porque osmeus pais gostavam de estudar,informar-se e conhecer. Tinhamuma vivência muito coerente da vidacristã. Rezávamos todos os dias oterço em família. AE – O que é que os seuspacientes lhe ensinam sobre aMensagem de Fátima?AC – A confiança, a serenidade,alguns deles que o sofrimento não éinútil e em vão, ainda que conduza àmorte. AE – Mesmo alguns não crentes?AC – Alguns não crentes não moensinam explicitamenterelativamente a Fátima. Para algunsnão crentes a vida está resolvida.Estão a caminho do nada, da morteque é o fim. AE – Ou de uma pergunta…AC – Ou de uma pergunta. Algunsnão crentes naquele momentocolocam a pergunta. Avulnerabilidade dos doentes ensina-me a ser atenta, presente, a tentardar respostas, respeitar o percursoque cada um faz. Estimulam-memuito à compaixão.Quando vejo um doente pensomuito na Jacinta. É quem mais meensina a cuidar dos meus pacientes,porque esteve muito sozinha nohospital.

O contacto com a morte sempre mecoloca questões interessantes e faz-me pensar o quanto posso serexpressão da ternura que sinto na«Mensagem de Fátima», estacompanhia que sinto que NossaSenhora é na minha vida, o quantoposso ser para estes doentes apresença terna e esta companhiaserena. AE – Como consegue dialogar entrea face da ciência e a fé?AC – No meu interior? Não sãoincompatíveis nem estão sempre emcontradição. Houve momentos emque era mais difícil. O meioacadémico médico não é o maiscrente entre os meios universitários.Nessa altura eu colocava questões.Hoje convivo muito pacificamente. Omistério está sempre presente querna ciência como na fé. Eu sou amesma pessoa, a crente e a médica.Não são duas pessoas. Eu gostomuito da expressão de João Paulo IIna Carta encíclica Fides etRatio porque me ajuda a perceberisto: «a razão e a fé são duas asaspelos quais se eleva o pensamentohumano». Uma sem outra nãosobrevive. Mais do que o conflitoentre a fé e a ciência eu vejo asinergia entre ambas.Graças a Deus vivo numa época emque a Igreja já admitiu que não tem

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resposta para tudo. A ciência tem oseu lugar para dar respostas quecompetem à ciência e não à fé.As questões essenciais sãocomuns: de onde venho, quem soueu, para onde vou, qual o sentidoda minha existência. Isto é comumao crente e ao não crente. Asrespostas são diferentes mas nãotêm de ser incompatíveis, nãopodem ser incompatíveis.A fé dá-me um sentido e isso, sim, aciência não me dá. A fé faz-melevantar o olhar sabendo que habitoo mistério. Mas também a ciênciasabe isso e os cientistas têm umgrande sentido de humildade e,muito menos, a resposta última paratudo. AE – Para isso existem os milagres…AC – Também existem os milagres.Mas, só para concluir a questão daciência e da fé…. No mistério pode-se habitar, nas contradições é quenão. O mistério que a fé me dá éhabitado por mim, acompanhadapor Cristo. Pode ser confortável masé também desinstalador porque esteCristo não me deixa em paz no queem mim é egoísmo e busca própria.Nem sempre Cristo facilita econforta. Cristo exige, empurra eincomoda cá dentro, em especialdentro das minhas forças

de idolatria e egoísmo. Estasensação de que a fé é umacapinha que tudo protege e confortanão é verdade. AE – Os milagres podem ajudar aexplicar as dúvidas que os médicospossam ter… Se é milagre nem aciência sabe explicar…AC – Nunca uma comissão demédicos me diz que é milagre. Umacomissão de médicos diz que deacordo com a arte médica atual aciência não explica esta cura ou aforma como esta cura ocorreu, avelocidade ou a ausência desintomas e sequelas.A ciência nunca me dirá que émilagre. A ciência diz-me se temexplicação ou não. Quem me diz queé milagre é a Teologia. São duasáreas diferentes. Não é correto dizerque a ciência reconhece o milagre.Provavelmente pela minhaformação, estes dois camposestiveram muito claros, desde oinício. Eu como médica, procuravaum evento, fosse de cura ou não,em que a arte médica atual nãotivesse explicação. AE – Nessa altura quem fala maisalto? A médica ou a religiosa?AC – Talvez a religiosa. A médicatambém teve o seu percurso afazer.

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A questão dos milagres, para aminha parte crente, não oferecequestão. Para a parte científica sim.Quando estudamos medicinafazemo-lo para explicar, tratar, paraa vida, para o conforto e, se nãoconseguirmos dar mais vida, paraaliviar o sofrimento da pessoa. Amorte não se tira. Como médica, tivede fazer o meu caminho. Confessoque fui ajudada por Jesus. AE – A Igreja ainda não percebeutodas as vertentes que a«Mensagem de Fátima» pode trazerà pastoral?AC – Tem sido um crescente…. AE – Há sectores da pastoral quepodem crescer mais à luz damensagem?AC – Acho que sim. Foi claro,quando decorreu a viagem daVirgem peregrina pelas diocesesportuguesas, em 2015/2016, opoder atrativo desta imagem e amensagem.Obviamente, que conhecer amensagem implica estudo,dedicação e aprofundar, emparticular pelos agentes da pastoral.Os bispos ficaram maissensibilizados, os sacerdotes, oscatequistas, pessoas responsáveispela liturgia. Se nos dedicarmos eaprofundarmos percebemos umgrande potencial evangelizador,

porque quase todas astemáticas estão concretizadas na«Mensagem de Fátima». Servindo-se do poder atrativo de Nossasenhora podemos chegar aoessencial do evangelho. AE – Em que áreas?AC – A pastoral infantil parece-meum campo com muito potencial, emespecial na vida sacramental. OFrancisco e a Jacinta, nesta faixaetária, são modelos para a vida. Avida eucarística, mas também adimensão caritativa. A entrega aooutro através de gestos simples departilha. Os pastorinhos sãomodelos para o desenvolvimento dacaridade, da partilha e da vida deintimidade com Deus.

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AE – E Na pastoral familiar?AC - É algo em que podemoscrescer e aprender mais. Foi navida familiar que os pastorinhosaprenderam os grandes valorescristãos, não foram trazidos porNossa Senhora. Viveram-nos, sim,agora com outra profundidade esentido. Sabemos, por exemplo, queantes das Aparições, rezavam oterço a correr…mas sabiam o queera o terço e rezavam-no. Ocontexto, os laços e estruturafamiliar é o primeiro solo em que afé se desenvolve.Nos jovens, eu entraria emdimensões da mensagem, porexemplo, na radicalidade eseguimento de Cristo. Encontrarestímulos para o compromissoé algo que se encontra namensagem. AE – A mensagem de Fátima apelatambém a valores ecológicos.Podemos dizer que a azinheira naesplanada no santuário é um sinaldisso. Se a azinheira falasse, o quediria ao longo destes 100 anos?AC – Ela não foi só testemunhade um acontecimento, há que apreservar, que é expressão deuma vida que Deus nos dá paraguardarmos. Aquela azinheiraestá protegida. Se não

estivesse, já ali não estava. É umapelo à proteção que temos decuidar do planeta que foi dado porDeus e se não cuidarmos nãosobrevive.

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AE – Aquela azinheira já assistiu amuito sofrimento e alegria…AC – Já absorveu, como metáfora,do Deus que nos acolhe. Se falassecontaria muitos dos segredos doscorações que por ali passam.

AE – O que é que a azinheira vaidizer em 2117?AC – Penso que Fátima vaicontinuar a ser um local ondeperegrinam as dores e as alegriasdo coração humano dos que aquivêm em busca de Nossa Senhora eda dimensão comunitária da fé. AE – Em 2117, a azinheirapode não estar ali, mas a «Mensagem deFátima» continua cada vez mais na vida dos peregrinos AC – Acho quesim. Tal como o Evangelho que2000 anos depoisparece ainda maisvivo do quequando foi escrito nos primeirosséculos. A Mensagem de Fátimafala ao ser humano, que buscarespostas para se entender,para entender asua existência na

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existência naTerra.

35 anos comoreitor doSantuário deFátima

Na hora da despedida do Santuáriode Fátima, monsenhor LucianoGuerra revelou à AgênciaECCLESIA alguns traços da suapersonalidade e o trabalho realizadodurante 35 anos (1973 a 2008)naquele altar mariano. Recordamosalguns excertos da entrevistarealizada em outubro de 2008 AE – Passados 35 anos como reitornão merecia um ano sabático, umano de descanso?LG – Isto é descanso. O grandepeso desta responsabilidade passapelo decidir. Dar a resposta do simou do não. É uma responsabilidademuito grande. Com o tempo fui-medando conta desta realidade, masDeus deu-me um dom grande:consultar. Os capelães foram ogrande suporte da administraçãodas finanças do Santuário. Assim, otrabalho torna-se mais fácil. Asgrandes questões foram decididasem colégio.

AE – As pessoas que o conhecemrealçam que monsenhor LucianoGuerra pensa até dez antes detomar uma decisão.LG – Gosto de fazer isso, mas oimpulso imediato é para agir eresponder. Estou convencido que aspessoas devem evitar, a todo ocusto, a precipitação. Precipitar-se éa passagem à fase da ação ou dapalavra antes de ter o pensamentobem apurado. AE – Sempre viveu num ambientemariano?LG – Sim... Na minha terra rezava-se o Terço todos os dias. Em casanão se rezava o terço diariamenteporque tínhamos muitos afazeres:padaria, loja de comércio epropriedades. Ao jantar rezávamosum bocadinho – dois a três minutos- e aos domingos íamos à missa.

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AE – Um ano antes do 25 de Abrilde 1974 é nomeado reitor dosantuário de Fátima. É possível falarde uma «Fátima» antes de ser reitore outra «Fátima» após a sua saída?LG – É muito difícil fazer esseexercício de memória porque nãocostumo demorar nada no passado.Só gosto da história para captardela o que acontece no presente.Quando cheguei estávamos no Pós-Concílio... AE – Voltando ao início do seutrabalho no Santuário de Fátima...LG – Ao nível de funcionários temosmais do dobro. Quando chegueitínhamos dois milhões deperegrinos e, hoje, calculamos entrequatro a cinco milhões. Por outrolado, purificámos o ambiente aapurámos mais a palavra. Passadosalguns anos (menos de dez)criámos o Centro Pastoral Paulo VI.As duas casas de retiros (Dores eCarmo) foram renovadas. As peregrinaçõesestrangeiras começaram a serconvenientemente acolhidas.Começou-se a publicar aDocumentação Crítica de Fátima.Foi feita a cobertura da Capelinhadas Aparições. Temos a Igreja daSantíssima Trindade. Além disso, osValinhos e Aljustrel foramacarinhados: as casas

dos videntes foram restauradas comfidelidade. Comprámos terrenosjunto à Casa da irmã Lúcia com aintenção de fazer lá um CentroPastoral sobre a Família. Esperoque o meu sucessor se dedique aisso se achar conveniente. AE – Um novo centro pastoral?LG – Sim. Para acolher grupos e,em simultâneo, reflitam sobre osproblemas da família.

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Música para asMemórias daIrmã Lúcia

O projeto artístico “Tropário parauma pastora de ovelhas mansas”,uma iniciativa integrada nascomemorações do Centenário dasAparições, vai ser apresentada noCentro Cultural de Belém em Lisboae na Casa da Música no Porto.O Santuário de Fátima anunciouque

esta obra musical inédita, estreadana Basílica de Nossa Senhora doRosário de Fátima em abril de 2016,vai ser agora apresentada noCentro Cultural de Belém, emLisboa, a 18 de março, pelas 21h00,e na Casa da Música, no Porto, a26 de março, pelas 18h00.Este é um projeto musical quereúne

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o trabalho de seis compositorescontemporâneos “desafiados apensar Fátima do ponto de vistamusical”. O projeto iniciou o ‘CicloOuvir Fátima’ e propõe uma leituramusical das ‘Memórias da IrmãLúcia’, juntando um coro − OfficiumEnsemble, acordeão − OctávioMartins, e piano − João Lucena eVale, sob a direção artística domaestro Pedro Teixeira.A coordenação do projeto decomposição esteve a cargo deAlfredo Teixeira.“O Tropário começa com umadeclaração da própria Irmã Lúciasobre o que é escrever umamemória, segue-se a Aparição doAnjo, os

Pastorinhos, a Senhora e, depois, oAdeus, a partir da despedida daIrmã Lúcia da sua terra natal, o queconfere a este tropo a própriaexperiência do peregrino, já que acerimónia do adeus é, porventura, aque melhor expressa a relação entreo peregrino e Fátima”, assinala umanota da sala de imprensa doSantuário.O padre Vítor Coutinho,coordenador da ComissãoOrganizadora do Centenário dasAparições de Fátima, afirmou queesta obra é “uma oportunidadeprivilegiada para revisitar os lugaresmais significativos de Fátima, da suahistória e do seu presente”.

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Peregrinos comacessibilidadesmelhoradas pelocentenário

A Câmara Municipal de Ourém(CMO) informa que iniciou, atravésde “meios próprios”, obras nacidade de Fátima com o objetivo dedotar a cidade de “melhoresinfraestruturas” pelo Centenário dasAparições.No seu sítio na internet, o municípioexplica que as obras vão serrealizadas à medida que o“orçamento o permite” mas aindanão tem “conhecimento” do valor acomparticipar pelo Governoportuguês.Está em curso a reabilitação devárias ruas do centro urbano deFátima e a sinalização horizontal daárea urbana de Fátima e a CMOaprovou a autorização da despesapara realização do “investimentoadicional de cerca de 1.350.000euros”, a 03 de março, em reuniãode câmara extraordinária.

As obras que vão começar naspróximas semanas vão decorrertambém no lugar da Cova da iriacomo a beneficiação da AvenidaBeato Nuno e a reabilitação urbanada Rua de São José.No projeto estão também incluídas abeneficiação da Rua S. Vicente dePaulo e a reabilitação urbana Ruade São Paulo ambas no lugar daCova de Iria.“Entretanto a Câmara aguarda aformalização do apoio prometidopelo Governo, que se estima ser de1 milhão de euros”, acrescenta omunicípio.Na sua página na internet, a CMOurém recorda ainda queapresentou um plano de intervenção“no valor global de 5 milhões deeuros” e já foi “aprovadoverbalmente a alocação de 1 milhãode euros no imediato”.

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‘FÁTIMA. Olhares...’, recordar e reler(também) a Cova da Iria‘FÁTIMA. Olhares...’, convite arecordar (também) a Cova da IriaO Consolata Museu Arte Sacra eEtnologia tem patente a exposiçãotemporária ‘FÁTIMA. Olhares...’onde se podem ver e recordardiversos espaços e locais, até dia16 abril.Para além de fotografias atuais, aexposição apresenta “fotografiasinéditas da Cova de Iria”, folhetosturísticos, mapas, materiaisescolares das Escolas Primáriasencerradas e brinquedos entreoutros objetos de interesse.“São testemunhos e memórias devários momentos da história local ecom isso se assinala o Centenáriodas Aparições de Fátima naperspetiva da comunidade local, deonde muitos são originários ou quepor motivos profissionais e pessoaisaqui vieram residir”, explica o museudos Missionários da Consolata.A exposição temporária ‘FÁTIMA.Olhares...’ foi realizada em parceriacom a Liga dos Amigosdo Consolata Museu e aUniversidade Sénior de Fátima -Centro de Estudos de Fátima.Aos alunos foi feito o desafio defotografar “espaços-memória” deFátima, Cova de Iria e arredores,

peregrinações, serviços e locais queao longo dos anos se foramtransformando.A exposição pode ser visitada das10h00 às 17h00 até ao dia 16 abril,(quase) todos os dias da semana,porque o Consolata Museu ArteSacra e Etnologia encerra àsegunda-feira.

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História online

A Documentação Crítica de Fátimajá concluiu a primeira fase da ediçãodos documentos relacionados comos acontecimentos de Fátima, em1917, a evolução do Santuário e aexpansão da mensagem, emPortugal e no mundo, desde 1917 a1930.Este projeto, já presente nopensamento dos bispos da dioceserestaurada de Leiria, D. José AlvesCorreia da Silva (1920-1957) e D.João Pereira Venâncio (1958-1972),e reiniciado em 1985, por D. AlbertoCosme do Amaral (1972-1993), como patrocínio científico da Faculdadede Teologia da UniversidadeCatólica Portuguesa (UCP), atravésdo Centro de Estudos de HistóriaReligiosa, e de uma ComissãoCientífica.O projeto começou a concretizar-se,em 1992, com a edição do primeirovolume, Interrogatórios aos videntes(1917); e em 1999, do segundovolume, Processo CanónicoDiocesano (1922-1930). Seguiram-se 12

tomos, em três volumes,correspondentes a três períodoscronológicos: vol. III (Das apariçõesao Processo Canónico Diocesano,1917-1922), em três tomos; vol. IV(Do início do Processo CanónicoDiocesano à criação da capelania,1922-1927), em quatro tomos; vol. V(Da criação da Capelania à Cartapastoral de D. José, 1927-1930), emseis tomos.No tomo sexto do volume V, edita-sea documentação do quadrimestre de1 de setembro a 31 de dezembro de1930, que tem o seu auge na CartaPastoral do Bispo de Leiria, D. JoséAlves Correia da Silva, de 13 deoutubro de 1930, em que eledeclarou “como dignas de crédito asvisões das crianças na Cova da Iria,freguesia de Fátima, desta Diocese,nos dias 13 de maio a outubro de1917”, e permitiu “oficialmente oculto de Nossa Senhora de Fátima”.A introdução deste tomo é do padreDavid Sampaio Barbosa, da UCP,

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Polo de Lisboa, atual presidente daComissão Científica. Ao todo, são273 documentos: 41 cartas, 5documentos oficiais, 222 artigos deimprensa, 4 notas e um testemunho,em 483 páginas.Nos 15 tomos, em 8217 páginas,são editados 3811 documentos,segundo os seguintes tipos: 1086cartas, 4 livros ou opúsculos; 2memórias; 62 notas; 2322 artigos deimprensa; 66 testemunhos; 211documentos oficiais; 33 fotografias e25 interrogatórios.

A Comissão do Centenário dasAparições de Fátima(COCAF)solicitou à Comissão Científica queorganizasse um tomo com umaseleção de documentos de 1917 a1930, em língua portuguesa: 138documentos e um anexo, segundoas seguintes tipologias: 53 cartas;25 artigos de imprensa; 24 ofícios;19 testemunhos; 13 interrogatórios;3 notas; 1 livro. Ao todo 656páginas.Este tomo está disponível online,para leitura e download.

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Fátima dospequeninos...

A Casa das Candeias é um espaçoque remete para a vida eespiritualidade dos pastorinhosFrancisco e Jacinta Marto. Um localinterativo que desafia os mais novosa conhecer a vida dos dois videntesde Fátima e do Papa S. João PauloII, que os beatificou no ano 2000 naCova da Iria. Foi ele que se referiuaos dois pequenos pastores como“duas candeias que Deus acendeupara iluminar a humanidade nassuas horas sombrias e inquietas”.Aberto ao público em 2014, esteespaço tem registado uma grandeprocura pelas crianças que alicontactam com a mensagem deFátima, proposta pelas peçasinterativas e pelas projeçõestemáticas.A “Casa das Candeias”, épropriedade da Fundação Franciscoe Jacinta Marto e é dinamizadapelas religiosas da Aliança de SantaMaria, que ali acolhem os grupos devisitantes e com eles aprofundam osacontecimentos de Fátima,particularmente o que se

relaciona com os dois videntes jábeatificados.Neste núcleo museológico podemver-se, entre outras peças, umgarfo, uma caneca e um banco dacasa da família Marto; o lenço quepertencera à Jacinta e o saco dofarnel do Francisco. Ali encontramosainda a veste batismal e os registosde batismo dos videntes e o seudecreto de beatificação. Tambémpeças pertencentes a S. João PauloII, um terço, umas vestes e sapatose um ramo de oliveira usado peloPapa no Domingo de Ramos de2005.“Este espaço é importante tambémpara o Santuário de Fátima, namedida em que, pela linguagem dabeleza e da arte, consegue dar aconhecer os Pastorinhos e aMensagem de Fátima, como lugarde divulgação e que pode sercomplementar à experiência que osperegrinos fazem no Santuário”considera o padre CarlosCabecinhas, Reitor do Santuário deFátima.Segundo o bispo da diocese de

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Leiria-Fátima “entrar nesta Casa eentrar com o coração, significaentrar numa história de amor dedimensão universal na qual tiveramum protagonismo duas crianças quese deixaram seduzir pela Senhorada Azinheira, pela Senhora daMensagem, (…) uma mensagemque eles próprios procuraram viver”.O testemunho dos dois videntes deFátima é um impulso para oitinerário cristão dos mais novoscomo refere a Postuladora da suaCausa de Canonização “a luz destascandeias, que aceitaram o desafiode oferecer as suas vidas a Deus,permanece como memória de umpercurso de santidade que nosdesafia também hoje. É essa luz quepretendemos aqui evocar, nestaCasa das Candeias”. A Irmã ÂngelaCoelho considera que este é umespaço que evoca o

itinerário de santidade dospastorinhos.Na Casa das Candeias já seaguarda pela canonização deFrancisco e Jacinta, junto de umfragmento da costela pertencenteao Francisco e outro de cabelo daJacinta, guardados em duascandeias de prata, e do quadrooficial da beatificação, já há umespaço à espera de ser preenchidocom o documento mais aguardadopelos devotos: o livro do decreto decanonização de Francisco e deJacinta Marto. Aberta todos os dias, das 9:00 às13:00 e das 14:00 às 18:00, a Casadas Candeias situa-se na Rua de S.Pedro e é de entrada livre. Para visitas de grupos e outrasinformações, deve se contatada aFundação Francisco e JacintaMarto: [email protected]

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Fátima:Mexicanoscelebramcentenário dasaparições eafirmam devoção

ao rosário A devoção a Fátima está muitopresente nos cristãos mexicanosque, tendo uma forte ligação àVirgem da Guadalupe “amam NossaSenhora de Fátima” e estão “muitofelizes” com a celebração docentenário.“As pessoas amam Fátima. Euagora trago muitos pedidos, tantode oração como de imagens elivros, porque é uma invocação queas pessoas sentem como muitopróxima”, afirma à AgênciaECCLESIA Mercedes Covarrubias,organizadora de peregrinaçõesmexicana de passagem por Lisboa.As memórias ligadas a Fátima foramconsolidando o crescimento pessoalde Mercedes que conheceu osantuário mariano português há 10anos.“Sem saber realmente o quesignificava o rosário, quando eramuito pequena, tinha um particularcarinho pelo rosário e pela proteçãoque me dava. À medida que cresci

e avancei, descobri este pedido deMaria, através de Fátima, darecitação do terço, das promessasque Ela nos fez através da oraçãodo rosário. Este amor maternaltorna-se visível para os maissimples, os mais humildes”.No México decorre uma campanha«Rosário, milagre pelo México», emque a organizadora esteveenvolvida, que tinha por objetivoprocurar “um milagre neste paisbaseado no amor, na união e napaz”.“Estive ligada a um movimento, noMéxico, que promove, através dahistória de Fátima, a consagraçãoao Imaculado Coração de Maria”,assinala Mercedes, facto que a levaa viver o centenário “com muitaemoção”.“Fátima, para mim, é um dosgrandes sinais do amor de Maria, naminha vida, representa esse amorde Maria, que está perto de nós,cuidando de nós e guiando-nos”.

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A campanha, que decorre entre 12de dezembro de 2016 e 13 demaio, desafia os mexicanos aunirem-se, pedindo à VirgemGuadalupe uma nova nação deamor, paz e união.A organizadora prevê estar emFátima, a 13 de maio, com um grupode peregrinos, que antecipa já“muita expectativa, muita alegria”.

A proximidade a Fátima é um reflexodo amor que os mexicanos tiveram aJoão Paulo II.“É um caminho que se redobra, comestes sinais tão claros da proteçãomaterna de Maria a alguém que foitão amado pelo México como foiJoão Paulo II, São João Paulo II”.

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Um livro e umperegrino

Sozinho em Fátima com um únicolivro. Bastam algumas páginas paracriar fortes sintonias com aMensagem de Fátima, os lugares,os sons e o que habita Fátima.O livro intitula-se “Fátima – Souperegrino” e pode ser a ferramentapara que qualquer pessoa faça aexperiência de estar ‘sozinho emFátima’.“Aqui não sou jornalista ou escritor.Sou apenas peregrino. E esperoque a presença de cada um de vósneste momento seja mais do queser meu amigo. Seja o reconhecer operegrino que há dento de cada umde nós”.Foi assim que António Rego sereferiu a este projeto editorial nomomento da sua apresentaçãopública, em Lisboa, acrescentandoque escreveu um livro sobre oslocais e a espiritualidade de umsantuário mariano onde “a vida e arealidade se antepõem à doutrina”.“Os factos são mais importantes queas análises, o peregrino é odepósito

mais sagrado de todo este tesouro eque, sem a chave da fé, Fátima nãoé porta que se abra”, disse ocónego António Rego na sessão deapresentação da obra.António Rego diz que entrou “comoperegrino” no Santuário paraescrever um livro, colocando-se “aolado, dentro, mais um entre os cincomilhões, que em cada ano sentemFátima como chão sagrado e altardo mundo”.Na apresentação da obra, MariaJoão Avillez afirmou que o livro‘Fátima – Sou peregrino’, de Antóniorego, é um o “melhor dos mapasespirituais feito pelo mais inspiradodos guias, com a luz que ilumina oseu verbo a confundir-se com a luzdas velas a no alumiar do nossoperegrinar”.“A partir de hoje que recomendoabsolutamente que não voltem aFátima sem e este livro no bolso”,afirmou a jornalista.Maria João Avillez considera que o

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livro editado pela Paulinas Editora éum instrumento de “descoberta,reflexão e de reencontro” comFátima“Ainda há coisas, lugares e históriasque não sabíamos desta formidávelhistória eu é Fátima, ou sabíamosmal e pobremente e que o padreRego, levando-nos pela mão e pelocoração, nos conta ou ensinanestas páginas, mas valorizando-aspelo

enquadramento espiritual e religiosoque ele sempre lhes confere”,sublinhou.O livro ‘Fátima – Sou peregrino’permite o “reencontro com osmundos que constituem o universode Fátima”, tando “geografia derefúgio” ou “lugar de recolhimento”como “ressonante altar do mundo”ou palco de “grandesacontecimentos”.

nos conta ou ensina nestas páginas, mas valorizando-as pelo 63

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nos conta ou ensina nestas páginas, mas valorizando-as pelo

O Papa Francisco concedeu aoSantuário de Fátima um AnoJubilar, no contexto dos 100 anosdas Aparições de Nossa Senhora,com indulgência plenária até 26 denovembro. “Confissão sacramental,comunhão eucarística e oraçãopelas intenções do Santo Padre”,são as condições que os fiéis“penitentes e animados decaridade” devem cumprir paraobter a indulgência plenáriaconcedida pelo Papa Francisco.

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Oração Jubilar de Consagração Salve, Mãe do Senhor,Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!Bendita entre todas as mulheres,és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,és a honra do nosso povo,és o triunfo sobre a marca do mal. Profecia do Amor misericordioso do Pai,Mestra do Anúncio da Boa-Nova do Filho,Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos. Mostra-nos a força do teu manto protetor.No teu Imaculado Coração,sê o refúgio dos pecadorese o caminho que conduz até Deus. Unido/a aos meus irmãos,na Fé, na Esperança e no Amor,a ti me entrego.Unido/a aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,ó Virgem do Rosário de Fátima. E, enfim, envolvido/a na Luz que das tuas mãos nos vem,darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos. Ámen.

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O que podemosesperar do PapaFrancisco emFátima?

'Com Maria peregrino na esperançae na paz'. É assim que se apresentao Papa Francisco, que nos dias 12e 13 de maio vai visitar o Santuáriode Fátima, no centenário dasAparições, em espírito de"peregrinação". A convite dopresidente da República e dosbispos portugueses, Francisco vaiassim tornar-se o quarto Papa avisitar a Cova da Iria, num anoparticularmente simbólico.As aparições na Cova da Iria têmsido uma referência de intervençõese gestos do Papa: Francisco pediuaos bispos portugueses queconsagrassem o seu pontificado aNossa Senhora de Fátima, o queaconteceu em 13 de maio de 2013,dois meses após a eleição dosucessor de Bento XVI.Antes, a 17 de março, quandopresidiu pela primeira vez àrecitação do ângelus, o Papasublinhou a “misericórdia” de Deusevocando uma passagem da

imagem da Senhora de Fátima pelacapital da Argentina : “Lembro-me,mal tinha acabado de ser bispo, noano de 1992, chegou a BuenosAires Nossa Senhora de Fátima eorganizou-se uma grande Missapara os doentes”O Santuário de Fátima recorda oacolhimento feito, a 19 de abril de1998, por D. Jorge Mario Bergoglio,atual Papa Francisco, à imagem daVirgem Peregrina de Fátima, noâmbito de uma peregrinação daimagem à Argentina. O entãoarcebispo de Buenos Aires acolheua imagem da Virgem Peregrina,oriunda do Santuário de Fátima.Nos anos seguintes, o Paparecordou por diversas vezes amemória das aparições de Fátima eevocou alguns dos conteúdoscentrais das aparições aos trêsvidentes, os Beatos Francisco eJacinta e a irmã Lúcia, que tiveramlugar na Cova da Iria entre maio eoutubro de 1917.

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“Este mês de Maria convida-nos amultiplicar diariamente os atos dedevoção e imitação da Mãe deDeus. Rezai o terço todos os dias!Deixai a Virgem Mãe possuir ovosso coração, confiando-Lhe tudoquanto sois e tendes! E Deus serátudo em todos”(14 de maio de 2014) “Neste dia de Nossa Senhora deFátima, convido-vos a multiplicar osgestos diários de veneração eimitação da Mãe de Deus. Confiai-Lhe tudo o que sois, tudo o quetendes; e assim conseguireis ser uminstrumento da misericórdia eternura de Deus para os vossosfamiliares, vizinhos e amigos. Atodos abençoo no Senhor.(13 de maio de 2015)“Nesta aparição, Maria convida-nosmais uma vez à oração, à penitênciae à conversão. Pede-nos para nãoofendermos mais a Deus; advertetoda a humanidade sobre anecessidade de abandonar-se aDeus, fonte de amor e demisericórdia. A exemplo de São JoãoPaulo II, grande devoto de NossaSenhora de Fátima, coloquemo-nosatentamente à escuta da Mãe deDeus e imploremos a paz para omundo”(11 de maio de 2016)

“Neste ano do centenário dasaparições de Nossa Senhora emFátima, confiemo-nos a Maria, mãeda esperança, que nos convida avirar o olhar para a salvação, paraum mundo novo e uma novahumanidade”(22 de fevereiro de 2017)

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A visita do Papa Francisco a Fátima pode ser inédita, mas no caso daimagem venerada na Capelinha das Aparições, este é um reencontro. A 12de outubro de 2013, o Papa recebeu-a solenemente, na Praça de SãoPedro.Diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, o Papa recitou um ato deentrega, que ajuda a entender o que podemos esperar da visita deFrancisco à Cova da Iria:(…)Ensina-nos o teu amor de predileçãopelos pequenos e pobres,pelos excluídos e sofredores,pelos pecadores e os de coração transviado:reúne a todos sob a tua proteçãoe a todos entrega ao teu amado Filho, Jesus nosso Senhor.Amen.

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Liturgia onlinewww.liturgia.pt Em pleno tempo de preparaçãopara a Páscoa e dada anecessidade de cada vez maisprecisarmos de saber o porquê dascoisas, o seu significado e sentido,esta semana a minha propostapassa pelo sítio do SecretariadoNacional da Liturgia (SNL), que é oórgão executivo da ComissãoEpiscopal de Liturgia. É certo, quenão é a primeira vez que apresentoeste espaço mas como temos aonosso dispor um dos melhores,senão o melhor, sítio da internetreferente à temática da liturgia,escrita em português, consideroconveniente e acima de tudo,pedagógico, olharmos de novo paraeste portal.Na página inicial temos todo oconjunto de informações, que vãopara além dos habituais destaquese que nos permitem descobrir estetremendo espaço litúrgico virtual. Ocalendário é uma ferramentapoderosíssima e que nos possibilitaaceder à agenda litúrgica diária coma indicação das leituras própriaspara cada dia, bem como o próprioofício da celebração da missa.As primeiras quatro opções

correspondem a textos litúrgicos quesão utilizados nas nossascelebrações, disponíveis paraconsulta livre (acesso integral emformato pdf). Em “Missal”encontramos os textos utilizados namissa. Desde o ordinário, passandopor todos os lecionários (dominicais,feriais, etc.) e ainda livro completoda oração universal. Em “rituais”dispomos de um manancial de livroslitúrgicos que são utilizados nasrestantes celebrações.Nomeadamente as celebrações doBatismo, Matrimónio, Penitência ebênçãos; de iniciação Cristã dosadultos; da Sagrada Comunhão eculto do mistério Eucarístico, entreoutros. Em “Pontificais” os textosque dispomos são referentes àdedicação da Igreja e do Altar, daordenação do Bispo, dosPresbíteros e Diáconos, dainstituição dos Leitores e dosAcólitos, entre outros. Por último em“Liturgia das Horas” vamos aoencontro do texto completo daInstrução Geral sobre a Liturgia dasHoras, onde, dividido por temposlitúrgicos podemos consultar, ler,rezar e meditar o ano todo.No item “música”, temos apossibilidade de aceder às diversaspublicações que vão sendo editadas

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pelo secretariado na área musical eainda, a um enorme conjunto deficheiros em formato áudio (mp3)das músicas para animação daliturgia.Duas opções, localizadas no final dapágina, que contribuem para aelevada qualidade deste sítio, sãoas “questões” e “consultório”. Aquiprocura-se de uma maneira séria ecom a ortodoxia exigida aosresponsáveis por este secretariado,responder a questões, informar eexplicar tudo o que diz respeito noâmbito da liturgia. Desde temas quese prendem com a celebração, e osdiáconos, passando pelos ministrosextraordinários da comunhão, as

músicas e outros de carácter maisdiverso. Informa ainda sobreuma quantidade enorme de temaslitúrgicos que de uma maneira ou deoutra passam ao lado da maioriados cristãos.Para finalizar, em “livros”, acedemosao catálogo completo de todas aspublicações editadas pelo SNLpodendo ser adquiridas diretamenteonline.Fica aqui lançada a sugestão, useme abusem deste espaço,adicionando-o aos favoritos poiseste é certamente uma página aconsultar várias vezes.

Fernando Cassola [email protected]

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Temas do disco Saboreai e vede apoiam projeto solidário

O duo DB Canto apresentou estedomingo o Cd ‘Saboreai e Vede’,com salmos para os temposlitúrgicos da Quaresma e daPáscoa, num concerto na igrejamatriz de Reguengos, naArquidiocese de Évora. “Estadiversidade e a escolha não foi fácilmas em ligação com as edições(Salesianas) escolhemos trêstempos - Quaresma, Tríduo Pascale a Páscoa. Estes salmos não secingem só a estes tempos sãotransversais e ajudam

sempre em todo o esplendor deDeus e escolher o caminho certo”,disse Miguel Vilela à AgênciaECCLESIA.Os arranjos apresentam o estiloclássico, o jazz, o pop e também oblues, onde a guitarra, a bateria e obaixo são acompanhados, porexemplo, pelos violinos, o órgão e ovioloncelo. A diversidade de estilosvai de encontro “à união daspessoas” que participaram noprojeto porque começaram comduas e terminaram

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“70 pessoas entre músicos e coros”.“Não fazia sentido ter um estilomusical, cada um de nós tem o seuestilo. Nós gostamos de muitos e aideia foi se conseguirmosdiversificar o estilo musical se calharvamos conseguir que estas musicassejam cantadas, evangelizadas pormais pessoas de uma forma maismoderna”, desenvolveu oentrevistado.Para além de Miguel Vilela, o duoDB Canto ficam completo com GiCoelho e nos concertos deapresentação – Porto, Lisboa eÉvora – às suas vozes associaram-se os coros Salesianos dessaszonas, que possibilitou que aspessoas “aprendam as músicas e ascantem”.A venda do novo trabalho do duoDB Canto tem também um fundosolidário e por cada cd vendido vaiser doado 1 euro para o projetosolidário ‘Reconstruir sorrisos’, paraa reconstrução do dormitório do larjuvenil dos Salesianos emMirandela, na Diocese de Bragança-Miranda.Neste contexto, surge também umconcerto com “umaresponsabilidade um bocadogrande” no dia 19 de março, Dia doPai, quando o duo apresentar otrabalho no Auditório Municipal deMirandela com a

Orquestra Energia da FundaçãoEDP, onde estão crianças apoiadaspelos Salesianos.“Estamos a doar um euro para esseprojeto. Tem corrido muito bem evamos dar o feedback emMirandela”, acrescentou MiguelVilela apelando à adesão daspessoas porque querem encher asala nesse concerto”.À Agência ECCLESIA, Gi Coelhocontextualizou que o duo écomposto por um casal casado há11 anos e que se conheceu quandoeram catequistas e andava no grupode jovens no Centro Juvenil doColégio dos Órfãos no Porto. “Aligação à música sempre esteve nanossa vida ao serviço da Igreja, eradessa forma que colocávamos osnossos dons e o que tínhamos paradar aos outros”, acrescenta.O nome ‘DB Canto’ foram buscá-loao fundador dos Salesianos, DomBosco, porque é algo que osidentifica e querem “transportar”para onde forem e considera que amúsica que fazem “é muito atual” ecapaz de “agradar aos jovens e àscrianças de hoje”.‘Saboreai e vede’ conta ainda com aparticipação de artistas católicoscomo a Banda Jota e cantautoraClaudine Pinheiro, ligada aoMovimento Juvenil Salesiano.

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II Concílio do Vaticano: Recordaro carisma do cardeal António Ribeiro

A morte do Cardeal António Ribeiro “veio roubar àIgreja em Portugal uma das suas figuras maiscarismáticas nestas três últimas décadas do séculoXX” - escreveu o padre A. Jesus Ramos, diretor doCorreio de Coimbra, a 26 de março de 1998, naquelejornal diocesano. Após prolongado sofrimento, no dia24 de março de 1998, faleceu, em Lisboa, estehomem nascido em S. Clemente de Basto, na diocesede Braga, a 21 de maio de 1928. Depois defrequentar os seminários daquela diocese foiordenado a 5 de julho de 1953. O então arcebispo deBraga, D. António Bento Martins Júnior, mandou-oestudar para Roma onde se doutorou na PontifíciaUniversidade Gregoriana com a tese «A Doutrina doEvo em S. Tomás de Aquino. Ensaio sobre a duraçãoda alma separa».Depois de uma séria formação humanística, filosóficae teológica, o doutor António Ribeiro cedo foi lançadopara a ribalta da Comunicação Social. De 1959 a1964 apresenta, aos sábados, na RTP, o programa«Encruzilhadas da Vida», em que debate temas deatualidade, frequentemente sugeridos pelos própriostelespectadores. Nos três anos seguintes (1964/67) éo rosto do programa, no mesmo canal televisivo, «Diado Senhor». “Demonstrou as suas qualidades decomunicador, aliadas a um apurado sentido crítico e auma rara capacidade de leitura cristã dosacontecimentos” – referiu o diretor daquele semanáriode Coimbra.Para além de trabalhar na área da ComunicaçãoSocial, o futuro bispo auxiliar de Braga (eleito a 3 dejulho de 1967) foi assistente nacional e diocesano daLiga Universitária Católica e ainda das

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associações profissionais demédicos, farmacêuticos, juristas,engenheiros e professores. Nosúltimos três anos antes de sernomeado bispo foi professor deFilosofia Social, Filosofia Moral ePsicologia Social e director doInstituto de Cultura SuperiorCatólica.“Ninguém estranhou, deste modo,que o jovem sacerdote fossechamado a assumir o múnusepiscopal aos trinta e nove anos deidade. A Igreja escolhera-o parasuceder, na diocese moçambicanada Beira, ao carismático D.Sebastião Soares de Resende. Erauma tarefa difícil, o que demonstrabem a confiança que a Santa Sénele depositava. Só que Deusescreve direito por linhas tortas.

A sua figura ao mesmo tempoaberta e tranquila, a serenidade dasua postura perante os problemasmais difíceis e a prudência firme dassuas posições eram necessárias emPortugal num período que, naquelefinal dos anos sessenta, seadivinhava conturbado a diversosníveis” – redigiu o padre A. JesusRamos no «Correio de Coimbra» de26 de março de 1998. E acrescenta:“O regime de então, emboracomeçando a dar sinais de algumaabertura, mesmo em matériareligiosa, não permitiu que o novobispo fosse para Moçambique,sendo nomeado auxiliar de Braga,onde foi ordenado em setembro de1967.

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Março 2017Dia 11 de março*Lisboa - Lumiar (MonjasDominicanas) - Conferência sobre«Dou-te graças por me haveresfeito tão maravilhosamente. Vidaafetiva e caminho espiritual» porTeresa Messias *Fátima - Centro Pastoral Paulo VI -O Secretariado Nacional para osBens Culturais da Igreja promoveem parceria com o Museu doSantuário de Fátima, a segunda deuma série de Jornadas deConservação e Restauro. *Fátima - Centro Pastoral Paulo VI -Apresentação do livro «Estudocientífico da escultura de NossaSenhora do Rosário de Fátima»integrada nas Jornadas deConservação e Restauro. *Portalegre - Alter do Chão - Aassembleia da Pastoral Social eMobilidade Humana da Diocese dePortalegre-Castelo Branco temcomo tema «Igreja, Casa de todos». *Évora – Benavente - Dia Diocesanodo Adolescente

*Lisboa - Igreja de Cristo Rei(Portela) - Encontro diocesano depastoral litúrgica com o tema«Eucaristia e Missão» *Lisboa - Capela do Rato - Retirosobre a espiritualidade de EttyHillesum na Capela do Ratoorientado pelo padre TolentinoMendonça *Évora - Seminário Maior - Jornadadiocesana do Apostolado da Oraçãoorientada pelo padre Marco Cunha *Évora – Coruche - Encontro daPastoral da Saúde da Diocese deÉvora Bragança - A Diocese de Bragança-Miranda promove as primeirasjornadas da Pastoral Penitenciáriaque inclui uma visita aoEstabelecimento Prisional de Izeda.(11 e 12) *Leiria – Seminário - A OrdemFranciscana Secular (OFS) dePortugal promove encontro deformação inicial (11 e 12) *Aveiro - Seminário de Santa Joana- O Serviço de Espiritualidade doSeminário de Santa Joana Princesa,em Aveiro, promove um curso de«Tai-Chi e espiritualidade». (11 e12)

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Dia 12 Março*Fátima - Conferência sobre «Glóriaa Ti, Rainha da Paz» por MarcoDaniel Duarte *Coimbra - Casa de Santa Zita -Encontro de casais sobre «A alegriado amor e da ternura» promovidopelo Secretariado Diocesano daPastoral Familiar *Lisboa - O Centro Cultural daPonte, do Opus Dei, organiza umacorrida das famílias para angariarfundos para um projecto nosCamarões *Lisboa – Sé - Concerto pelo 4ºaniversário da eleição do PapaFrancisco promovido pela PaulusEditora. *Açores - Salão Paroquial de NossaSenhora dos Anjos, Água de Pau(Lagoa)Apresentação do livro «NossaSenhora de Fátima e o poder daoração» de José de Carvalho, pelocónego José Medeiros Constância,ouvidor de Ponta Delgada. *Semana nacional da Cáritas com otema «Família Construtora da Paz»(12 a 19)

Dia 13 de Março*Lisboa - Capela do Rato - Sessãodo curso «grandes correntes daética ocidental» na Capela do Rato *Porto – UCP - Conferência sobre«A experiência da liberdade» porLaurence Freeman, sacerdotebeneditino e diretor espiritual daComunidade Mundial de MeditaçãoCristã. Dia 14 de Março*Madeira - Funchal (EscolaTeológica) - Conferência sobre«Quem é a Igreja?» pelo padreHéctor Guerra

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- O Mosteiro das Monjas do Lumiar, em Lisboa, volta a

abrir na tarde de sábado para nova conferência dociclo de 2017 «Viver uma mística de olhos abertos».Neste dia Teresa Messias vai falar sobre «Dou-tegraças por me haveres feito tão maravilhosamente.Vida afectiva e caminho espiritual». Após asconferências há sempre um chá a acompanhar asconversas e a celebração da eucaristia. - Antecipando o 4º aniversário da eleição do PapaFrancisco, a Paulus Editora promove a 12 de marçoum concerto e apresenta um trabalho em formato CD,composto por 14 temas marianos; nestaapresentação, vão ser interpretados oito composiçõesde António Cartageno, Manuel Luís, Artur Oliveira,Teodoro Sousa e José Joaquim Ribeiro. Aapresentação está marcada para a Sé de Lisboa,pelas 16h00 de 12 de março. - Entre os dias 16 e 18 o Seminário Episcopal deAngra, na Ilha Terceira, organiza as jornadas deteologia subordinadas ao tema «Cristianismo e aCultura», contando com o responsável peloSecretariado Nacional da Pastoral da Cultura, JoséCarlos Seabra Pereira.«Desafios e sombras de uma cultura cristã»; «Pensarum mundo em mudança» e «Relativismo culturalmoral» são os temas centrais dos três dias. - O auditório do Colégio Pedro Arrupe, em Lisboa, vaiacolher nos dias 17 e 18 de março, a partir das 21h30,a estreia do espetáculo de dança contemporânea'Nisreen', inspirado na história de uma jovem refugiadasíria. A receita deste evento reverte a favor dotrabalho da Plataforma de Apoio aos Refugiados(PAR).

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h30Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo:10h00 - Porta Aberta;11h00 - Eucaristia;23h30 - Entrevista deAura Miguel Segunda-feira:12h00 - Informaçãoreligiosa Diariamente18h30 - Terço

RTP2, 13h00Domingo, 12 de março,13h30 - À espera do PapaFrancisco: A Preparação doCentenário das Aparições de Fátima. Segunda-feira, dia 13, 15h00 - Entrevista a Guilhermed'Oliveira Martins no quartoano da eleição do PapaFrancisco. Terça-feira, dia 14, 15h00 - Informação e entrevista a Carmo Rodeia sobre apreparação da visita do Papa a Fátima. Quarta-feira, dia 15 de março, 15h00 - Informação eentrevista a Rita Coelho sobre o projeto Nisreen, ahistória de uma refugiada síria em dança. Quinta-feira, dia 16, 15h00 - Informação e entrevistade comentário à atualidade com Eugénio Fonseca. Sexta-feira, dia 17, 15h00 - Análise à liturgia dedomingo. Antena 1Domingo, dia 12de março – Quatro anos dopontificado do Papa Francisco e a sua visita aoSantuário de Fátima na celebração do Centenário dasAparições. Segunda a sexta-feira, 03 de março a 17 demarço - 22h45 - Comentários à mensagem do Papapara Quaresma.

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Ano A – 2.º Domingo da Quaresma Partirtransfigurados

Neste segundo Domingo da Quaresma, o Evangelhoda Transfiguração põe diante dos nossos olhos aglória de Cristo, que antecipa a sua ressurreição.Como aconteceu com os apóstolos Pedro, Tiago eJoão, levados «em particular, a um alto monte», acomunidade cristã toma consciência de também ser aíconduzida para acolher de novo em Cristo, como filhosno Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o meuFilho muito amado: n’Ele pus todo o meu enlevo.Escutai-O».É o convite a distanciarmo-nos dos boatos da vidaquotidiana para imergirmos na presença de Deus: Elequer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra quepenetra nas profundezas do nosso ser, paradiscernirmos o bem e o mal e reforçarmos a vontadede seguir o Senhor.Aos discípulos, desanimados e assustados, e a cadaum de nós hoje, desalentados e mergulhados emenormes dificuldades de vária ordem, Jesus diz: «ocaminho do dom da vida não conduz ao fracasso, masà vida plena e definitiva. Segui-o, vós também».Os três discípulos, testemunhas da transfiguração,parecem não ter muita vontade de descer à terra eenfrentar o mundo e os problemas das pessoas.Representam todos aqueles que vivem de olhospostos no céu, alheados da realidade concreta domundo, sem vontade de intervir para o renovar etransformar.No entanto, seguir Jesus exige o regresso ao mundopara testemunhar, mesmo contra a corrente, que arealização autêntica está no dom da vida; exige quenos empenhemos no mundo, nos seus problemas edramas, a fim de darmos o nosso contributo, emcompromisso

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de amor com Deus, com o mundo ecom os homens, para oaparecimento de um mundo maisjusto e mais feliz.A primeira leitura apresenta-nos afigura de Abraão: homem de fé, quevive numa constante escuta deDeus, que sabe ler os seus sinais,que aceita os apelos de Deus e quelhes responde com a obediênciatotal e com a entrega confiada.A segunda leitura inclui renovadoapelo aos seguidores de Jesus, nosentido de que sejam, de formaverdadeira, empenhada e coerente,as testemunhas do projeto de Deusno mundo. Nada, muito menos omedo,

o comodismo e a instalação, nospode distrair dessaresponsabilidade.Aí está a Palavra de Deus a orientaros nossos caminhos, feitos deescuta atenta de Deus e dos seusprojetos, de obediência total eradical aos planos do Pai. Que issoaconteça nesta semana, noencontro contemplativo etransfigurado com o Senhor Jesus enos encontros acolhedores etransformadores que procurarmoscom os próximos que estão bemjunto de nós.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Fundação AIS lança campanha pela Igreja que sofre emÁfrica

Combater a indiferençaSó a Ásia se compara a Áfricacomo o continente com o maioraumento de vocaçõessacerdotais. Este é o lado bomdesta história. O pior é o resto: aviolência, as guerras, a extremapobreza, a fome e a ameaça doradicalismo islâmico. A Igreja emÁfrica precisadesesperadamente da nossaajuda. A Fundação AIS está a promover, aolongo da Quaresma, uma campanhainternacional de apoio à Igreja emÁfrica. Seguindo o lema “a sua fé éa nossa esperança”, esta campanhaprocura dar resposta a inúmerassituações de emergência que secolocam, hoje em dia, em tantospaíses do continente africano queacolhe quase 1.112 milhões dehabitantes. Com esta acção, a AISpretende dar a conhecer, a todo omundo, o sofrimento por quepassam tantos milhares de cristãosvítimas directas do terrorismoislâmico que se tem espalhado,como uma ameaça cada vez maisassustadora, em alguns países nosúltimos anos. Nigéria, Camarões,República Centro-africana, Tanzâniaou Chade, são apenas

alguns desses países queenfrentam já este fundamentalismoque está a alastrar, ameaçandoquase todo o continente. Apesar deo mundo ter estado focado, nosúltimos anos, na perseguição aoscristãos no Médio Oriente, importacentrar também a atenção nocontinente africano que tem estadotão assolado por guerras, terrorismoe pobreza extrema, mas que temoferecido, apesar disso, sinaisestimulantes de novas vocações ede uma vitalidade surpreendente devida comunitária da Igreja. Naverdade, apesar das dificuldades, onúmero de fiéis quadruplicou nosúltimos 35 anos, passado de cercade 55 milhões para os actuais 215milhões. África é, a par da Ásia, ocontinente com o aumento maissignificativo de vocaçõessacerdotais. Violência e fomeMas África é também um continentemarcado pela violência extrema,fome e pobreza. Esta campanha daQuaresma procura sensibilizar oscristãos para esse sofrimento,tantas vezes indizível, de milharesde

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pessoas que vivem nestecontinente. Os 25 países maispobres do mundo são, comexcepção do Afeganistão,africanos… A África subsarianaacolhe actualmente 26 % de toda apopulação mundial de refugiados.A campanha da Fundação AIS temainda como objectivo dar aconhecer o trabalho de sacerdotese de religiosas, por vezes emcondições terríveis, junto daspopulações mais carenciadas. Alémda ajuda material, a Fundação AIStem desenvolvido projectos quevisam apoiar iniciativas dereconciliação e de perdãopromovidos pela Igreja local,especialmente em regiõesassoladas

pela violência tribal e pelofundamentalismo islâmico.Esta campanha da Quaresma nãovisa ser apenas um gestohumanitário de auxílio a populaçõesem risco, mas é também umaresposta dos cristãos de todo omundo – e de Portugal – para com aIgreja necessitada em África. UmaIgreja que precisa, mais do quenunca, da nossa ajuda. As bombas,os conflitos e o terror nãoesvaziaram os seminários nemafastaram os cristãos das igrejasafricanas. A grande ameaça podeestar na nossa indiferença.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Mulheres mártires

Tony Neves Espiritano

Há muito quem creia que isso do martírio é sópara homens. Mas, a história da Igreja desmente-o. Há tantas e tantas mulheres que, em nome dafé e do amor, deram a vida para que outrostivessem mais vida. O martírio é a página maiseloquente da história da humanidade porquefalamos de pessoas que não guardaram as suasvidas porque acharam mais importante oferecê-las a outras para que houvesse mais justiça, paz,fraternidade e liberdade no mundo.Quando estava em Missão por terras do planaltocentral de Angola, a guerra civil fazia razias entreas populações pobres e indefesas. Nosmomentos mais quentes dos combates, quempodia fugir não pensava duas vezes e punha-sea mexer para terras mais calmas. Mas asmissionárias e os missionários decidiram partilhara má sorte de um povo mártir e ousaram ficarpara ser a voz dos silenciados pelos senhoresdaquela terra e daquela guerra. Vou citar apenasdois nomes de mulheres mártires, a quem queroprestar uma merecida homenagem por ocasiãodeste Dia Mundial da Mulher, que celebramos a 8de Março. São elas, a Irmã Lurdes Aguiar,Teresiana, natural do Marco de Canavezes –Diocese do Porto e a Irmã Maria Joaquim,Espiritana, natural de Tondela – Diocese deViseu.A Irmã Lurdes foi assassinada na Missão doCanhe, nas periferias da cidade do Huambo, a 4de dezembro de 1992, um mês antes do iníciodos ferozes combates que arrasariam a cidadedo Huambo. Tinha 72 anos de vida e 43 deAngola. Foi formadora anos a fio, tinha muitasmulheres

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que a admiravam pela sua corageme dedicação a um povo em tempode guerra. O seu coração, com alargueza do mundo, distribuíacomida e roupa todos os dias aospobres que lhe batiam à porta. E foipara defender o armazém queenfrentou os bandidos armados quea matariam naquele trágica noite.Escusado será contar que a cidadeparou para o seu funeral e muitoschoraram a sua partida violentapara a Casa do Pai.Durante a tristemente célebre‘Batalha dos 55 Dias’ do Huambo, aIrmã Maria Joaquim não olhava aperigos e ia, diariamente daComunidade Espiritana à destruída

pediatria do Hospital Central paraacompanhar as crianças que alienfrentavam a morte por doença eguerra. Um dia, já em casa, foiatingida por um obus e morta.Sepultada, primeiro no jardim daCasa, seria trasladada para oCemitério de S. Pedro. São muitasas memórias que recolhi e continuoa recolher da vida e Missão da IrmãMaria, com um curriculum de inteiraentrega ao povo a quem serviu atéao fim.Presto homenagem a todas asmuitas mulheres da minha vida,sobretudo às que deram tudo paraque o mundo fosse melhor.

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