Observatório da Imprensa - Jornalismo Cidadão
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Sábado, 19 de Abril de 2014 | ISSN 1519-7670 - Ano 17 - nº 794
JORNALISMO-CIDADÃO
Pessoas comuns que estão na hora certa eno lugar certoPor Leonardo Pujol em 18/06/2013 na edição 751
Com a ascensão e a proliferação da internet no planeta, o jornalismo vem sofrendo uma transformação
incrível. Isso acontece através de pessoas comuns que estão na hora certa e no lugar certo. Testemunhar
um acidente ou relatar a precariedade de uma determinada rua, por exemplo, chama a atenção do
cidadão de tal forma que ele hoje passa a ser um narrador de fatos, e não somente um mero espectador.
Para isso, é fundamental que ele tenha em mãos a ferramenta adequada para o compartilhamento, quase
sempre um smartphone.
É comum encontrarmos na web sites em que os internautas postam textos, fotos e vídeos de
acontecimentos que julgam ser relevantes. Esse tipo de publicação ocorre geralmente em sites de redes
sociais, como Facebook, e microblogs, como o Twitter. De olho nessa prática atual, veículos tradicionais
desenvolveram canais virtuais para esse tipo de contribuição, como o Você, no G1, e o IReport, CNN. A
interação entre cidadão e jornalista está inclusa no jornalismo-cidadão.
O jornalismo-cidadão, segundo os autores Ana Carmen Foschini e Roberto Romano Taddei, é dividido em
braços, entre eles o cívico, o participativo, o colaborativo e o grassroots. A cada termo, uma maneira de
fazer. Mas como a imprensa trabalha com essa atual realidade? Oferece perigo? Ajuda? São questões que
a princípio podem parecer simplórias, mas que rendem um estudo muito mais complexo do que pode ser
descrito.
Polêmica no meio jornalístico
Daniel Scola, jornalista e âncora do programa Gaúcha Repórter (Rádio Gaúcha/Porto Alegre), afirma que a
interação da rádio com o ouvinte é fundamental “desde sempre”. O espaço do receptor em seu programa
permite trabalhar o assunto de um formato diferente, trazendo o público para a roda de debate. Isso
poderia se enquadrar na categoria de jornalismo participativo (somente com comentários e opiniões), mas
sua ideia vai além. “Hoje, com rede social, telefone celular, torpedo, ninguém mais é dono da informação.
O que eu gosto é de pegar o dado que vem do ouvinte, trazer um especialista e fazer um cruzamento de
informações, vendo ela por todos os lados e analisando o impacto que isso causa à sociedade. Hoje o
ouvinte é uma espécie de pauteiro”, afirma.
Scola conta que 50 a 60% do conteúdo transmitido no seu atual programa é oriundo de ouvintes. “Chamo
de informação compartilhada. É tu compartilhares uma informação que tu deténs”, explica. No matutino
programa Gaúcha Hoje, que foi apresentado por Scola durante oito anos, ele diz que 90% das informações
de trânsito, ocorrências policiais e de prestação de serviços vinham dos ouvintes. Nota-se então, que hoje
em dia o cidadão tem cada vez mais o poder nas mãos para pautar a imprensa, que desencadeia as mais
diversas opiniões entre o público.
Todo o progresso da internet e das evoluções dos dispositivos tecnológicos causa alvoroço nos meios
midiáticos. Recentemente, o Chicago Sun-Times demitiu toda sua equipe de repórteres fotográficos e deu
aos jornalistas smartphones. Polêmica no meio jornalístico! A Rede Globo não pronuncia mais as palavras
“Twitter” e “Facebook”, se dirigindo a elas como “rede social de mensagens curtas” e “uma grande rede
social”, respectivamente. No livro Jornalismo digital: audiovisual, convergência e colaboração, de Demétrio
Soster e Walter Lima Junior, há uma ideia do presidente da CNN, John Klein, sobre a concorrência da web.
Histórico “não é muito bom”
Leia-se que “o maior desafio mercadológico da Cable News Network hoje não são as novas emissoras
dedicadas à informação em tempo integral, como é o caso da Fox, mas ser mais confiável que redes
sociais em vertiginoso crescimento, como Facebook e Twitter”. O trecho segue. “Na opinião do presidente
da CNN, portanto, a concorrência jornalística é menos preocupante que ambientes de produção
colaborativa de informação.” Eternas discussões.
O começo do texto remete o leitor a pensar em pessoas que estão na “hora certa e no lugar certo”. No
condomínio Viva Rossi, localizado na zona norte da capital gaúcha, houve um exemplo claro dessa
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situação. Um vídeo postado no YouTube, sábado, dia 11 de maio, gerou revolta em grande parte da
população. Na gravação feita por celular, uma mulher aparece agredindo, junto com o filho, um filhote de
poodle toy. O vídeo foi gravado por um vizinho da agressora. A repercussão veio através da publicação que
ele fez no seu perfil pessoal do Facebook. Pela postagem, seus amigos tiveram conhecimento da violência
e compartilharam as imagens. Esse compartilhamento em massa desencadeou uma visibilidade imensa
que chegou ao conhecimento da mídia local, que a reproduziu e pautou, inclusive, a imprensa nacional.
Não só em Porto Alegre, mas em todo o Brasil houve manifestações de repúdio contra a mulher, Fernanda
Vanacor. O caso foi parar na polícia. Ela foi indiciada por crimes de maus-tratos contra animais, maus-
tratos contra crianças e constrangimento de menores. Protestos foram mobilizados através das redes
sociais. A comoção foi grande a favor do poodle. O cãozinho agredido está sob os cuidados de Bruno
Campelo, subsíndico do residencial onde mora a agressora. Ele diz que o histórico da mulher “não é muito
bom” (por isso o indiciamento de agressão não só relacionado a Rossi – nome dado ao cãozinho –, como
também ao filho menor).
Adorável cãozinho
A violência contra o poodle havia sido flagrada diversas vezes e depois de registrada por um morador com
telefone celular, Bruno foi procurado por vizinhos revoltados. “O pessoal me procurou pra falar sobre a
situação que estava acontecendo no apartamento. Eu fui lá ao apartamento, conversei com eles e peguei
o cachorro. Depois disso me perguntaram se era possível postar no YouTube ou no G1 pra ver se poderia
render alguma coisa e eu disse para postar”, relata Bruno. Entre uma pergunta e outra, retruca que sua
vida não mudou desde a repercussão do caso. “Só não achei que ia repercutir tanto. Achei que poderia
passar algo na mídia local, mas não imaginei que iria exagerar para a mídia nacional. Tanto é que hoje
chegou uma amiga minha dos EUA e disse que viu lá na internet”, confessa admirado.
Na análise do jornalista Daniel Scola, esse é um exemplo claro do poder que as pessoas têm de gerar
informação. “O vizinho identificou uma situação real, fez o flagrante e usou a internet para divulgar isso.
Acho isso fantástico no jornalismo”, expressa. Nessas situações a imprensa faz um diferencial. “O vídeo
somente na internet ficou rendendo polêmica, mas a grande repercussão e impacto social, com pedido de
prisão da mulher e tudo, só veio quando a imprensa se apropriou do produto (que estava à disposição) e
fez disso uma reportagem”, explica Scola. O papel da imprensa nesse caso foi chancelar a informação com
a sua credibilidade. Ele diz que mesmo com as redes sócias, o receptor olha com muita mais atenção uma
determinada situação quando ela é exposta pela imprensa.
Qualquer pessoa pode ser um cidadão jornalista, basta ter uma conexão de internet, créditos no celular
ou qualquer outro tipo de acesso à rede. Para que isso se torne um material jornalístico, os fatos
registrados precisam ser relevantes para a sociedade, seja por texto, foto ou vídeo. Hoje você faz a
notícia e faz a diferença na sociedade. É importante lembrar que nem todos terminam com a sorte de
Bruno Campelo. Mesmo afirmando que sua vida não mudou desde o caso, ele recebeu um novo integrante
na família: o adorável cãozinho Rossi. Entre as perguntas, ele deixa escapar: “A mulher da propaganda do
Datena gostou do que eu fiz e me deu uma super frigideira”, exibe-se sorridente.
***
Leonardo Pujol é estudante de Jornalismo, Porto Alegre, RS; colaboraram Rodrigo Rodembusch, SaraMunhoz e Priscila Valério
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