O Sheik de Sophie

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O Sheik de Sophie Por Alexandra Sellers CAPÍTULO UM À exceção do homem no cavalo negro, Sophie ficava sozinha na praia todas as manhãs. Ao alvorecer, ela corria um quilômetro à beira- mar, ida e volta, do hotel à rocha. Descobrira bem depressa que, no calor dos Emirados Barakat, o começo da manhã era o único momento em que podia se exercitar. A cada manhã, ela via o cavaleiro de expressão ríspida montado no puro-sangue. Ele vinha de um ponto distante além da rocha, o marco final. Quando estava a meio caminho da volta, cruzava novamente por ela. Na primeira manhã, praticamente não a notou ao passar com sua túnica branca esvoaçante, levantando areia atrás de si. No dia seguinte, ele foi pela água, erguendo uma nuvem de gotas que capturava o rico nascer do sol e envolvia o homem e seu corcel numa nuvem reluzente. Sophie o cumprimentou erguendo uma das mãos. Ele respondeu

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O Sheik de SophiePor Alexandra Sellers

CAPÍTULO UM

À exceção do homem no cavalo negro, Sophie ficava sozinha na praia todas as manhãs.Ao alvorecer, ela corria um quilômetro à beira-mar, ida e volta, do hotel à rocha. Descobrira bem depressa que, no calor dos Emirados Barakat, o começo da manhã era o único momento em que podia se exercitar.A cada manhã, ela via o cavaleiro de expressão ríspida montado no puro-sangue. Ele vinha de um ponto distante além da rocha, o marco final. Quando estava a meio caminho da volta, cruzava novamente por ela.Na primeira manhã, praticamente não a notou ao passar com sua túnica branca esvoaçante, levantando areia atrás de si. No dia seguinte, ele foi pela água, erguendo uma nuvem de gotas que capturava o rico nascer do sol e envolvia o homem e seu corcel numa nuvem reluzente. Sophie o cumprimentou erguendo uma das mãos. Ele respondeu com um aceno de cabeça digno da realeza.Na terceira manhã, ele observou Sophie com os olhos negros semicerrados, enquanto passava por ela lentamente e mais perto do que antes. Seu olhar ameaçador a fez perder o fôlego e tropeçar na areia. O estranho provavelmente encurtou a distância que percorria, porque se virou, aproximando-se dela outra vez, só que por trás, como se tivesse a intenção de amedrontá-la.Sophie se perguntou se o cavaleiro não gostava de sua presença naquela praia, pois sem ela cavalgaria solitariamente. Ela se informou de novo no hotel e lhe disseram que a praia estava à disposição dos hóspedes até a

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rocha. Portanto, não estava invadindo território alheio e não deixaria de correr só porque aquele homem queria o mundo todo para ele. Era difícil crer que os outros visitantes não quisessem sair para ver o nascer do sol. Sabia que havia pouco turismo nos Emirados Barakat, mas um deserto tão grande numa praia linda como aquela era quase inacreditável.Ou talvez os modos do cavaleiro tivessem espantado a todos.Sophie nunca imaginara ou estivera em um lugar tão belo. O mar se transformava misteriosamente de verde-esmeralda para turquesa e então safira, como se mudasse de humor sem que as pessoas percebessem. Além da praia, despontava uma escarpa coberta de árvores, cuja sombra aliviava o calor intenso do dia.Longe do mar, a praia era da areia mais fofa e macia. À beira d’água, tornava-se firme sob os pés, onde as pegadas ficavam por apenas alguns minutos antes de a maré subir e apagá-las. Os rastros do cavalo não desapareciam tão facilmente. Eram mais profundos na areia molhada, cada um moldando um vale minúsculo de areia. Quando o mar os banhava, em vez de destruir os buracos, formava milhares de pequenas poças, num padrão que se estendia ao longo do caminho.Desde a primeira ida à praia, ela sentira o impulso de ultrapassar o marco do hotel, seguir as pegadas até sua origem e descobrir de onde vinha o tal cavaleiro. Todas as manhãs, voltava relutante, como se tivesse dado as costas a algo de grande importância.Na volta, o mar apagava suas pegadas de ida, mas as do corcel ainda eram visíveis.No quarto dia, quase chegando à rocha, a rotina dela foi quebrada pela ausência de sinais do cavaleiro. A praia estava tomada pela luz do sol. A sombra de Sophie se esticava longa e estreita em direção às árvores. Mas não havia marcas na areia à frente.Talvez ele não apreciasse mesmo sua presença. Estaria cavalgando em outro lugar? Ficou desapontada. Gostara de partilhar o belo nascer do sol com o estranho, mesmo que aparentemente não fosse bem-vinda.

Sophie chegou à rocha e, em vez de voltar, continuou a correr.

CAPÍTULO DOIS

Após um ou dois minutos, ela avistou o cavalo negro aproximando-se. Pressentiu que logo estaria perto e esse pensamento trouxe uma sensação de perigo. Teria ela invadido propriedade privada? E se o estranho achasse que ela o procurava? Sophie parou e logo deu meia volta em direção ao hotel. A rocha não estava distante, mas, mesmo que chegasse lá antes que

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ele a alcançasse, suas pegadas revelariam que estivera naquele ponto.O cavalo estava cada vez mais perto. Sophie sentia as batidas poderosas dos cascos na areia. As vibrações subiam por sua espinha. Sentiu medo e, por conta própria, apressou-se. Corria como se sua vida dependesse disso, ou como se o estranho fosse um caçador, e ela, a presa.O cavaleiro ultrapassou-a, tão perto que ela pôde ouvir a respiração do cavalo. E então parou de repente, virando-se de tal maneira que o cavalo e sua montaria bloquearam o caminho de volta para o hotel. Ela parou. Por um momento se encararam, o silêncio quebrado apenas pelo som das ondas e batimentos do coração de Sophie. Faltavam ainda vinte metros para ela alcançar a rocha._ O que faz aqui? _ A voz áspera do estranho combinava com o rosto de feições fortes.Território dele ou não, o tom a aborreceu. Como sabia que ela não tinha se enganado?_ E quem quer saber?Ele sorriu._ Eu quero! Como ousa vir aqui?Ela desconhecia completamente o país e seus costumes. Não tinha ideia do que significava invadir uma propriedade privada nos Emirados Barakat. Ou quais eram os direitos de um proprietário quando encontrava um invasor. Pelo modo como a olhava poderia ter sobre ela direito de vida e de morte, pensou Sophie, com um toque de sarcasmo.Tal pensamento despertou nela rebeldia._ Se quer que eu saia de suas terras, tire o cavalo do meu caminho _ disse, com modo rude.O homem ergueu a cabeça com uma fúria quase real. Era poderosamente belo, parecia um guerreiro do deserto. Ela podia imaginá-lo nos exércitos do grande Saladino, marchando para combater os infiéis. Tremeu involuntariamente quando o olhar dele a penetrou como uma faca._ Não é prudente para uma pessoa como você usar este tom de voz comigo _ respondeu o estranho, com desdém.A despeito do calor crescente, Sophie estremeceu._ Uma pessoa como eu? _ repetiu. _ Há algo que não sei ou o simples fato de ser uma mulher me desqualifica como parte da humanidade?Ela se desviou do cavalo para continuar seu caminho, mas, sob o domínio do cavaleiro, o animal moveu-se para bloquear de novo sua passagem. Sophie apertou os lábios e olhou para a praia. Não havia ninguém._ Não é por ser mulher _ disse ele com frieza.Ela vestia short cinza e um top que revelavam uma boa parte de seu corpo. Perfeitamente respeitáveis em Vancouver, mas inadequados para os costumes daquele lugar.O coração de Sophie começou a disparar. O inglês dele era fluente, o que

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significava que recebera educação. Mas, de algum modo, quando olhou de frente aquele rosto moreno, tudo o que viu foi poder absoluto. Ela se virou mais uma vez, e de novo o estranho manobrou o animal para impedir sua passagem._ Deixe-me voltar!_ Não devia ter vindo aqui. Por que veio?Ele estava tão à vontade montado no cavalo, que parecia ter nascido em cima dele. Segurava a rédea de modo leve, quase negligente. Mas aquela mão seria firme quando necessário, refletiu ela. A outra mão repousava no quadril com ar arrogante, enquanto lançava um olhar de desdém para Sophie._ Talvez não tenha notado que estou tentando sair de suas preciosas terras._ Não me refiro à praia, e você sabe disso.Sophie olhou para cima._ Quer dizer que estas terras não são suas? _ O medo aumentou. _ Então qual é o problema? _ Ele ergueu o braço e apontou a distância._ Minha propriedade começa naquele ponto, e você sabe disso._ Esta informação não consta do manual de orientação do hotel _ respondeu, ríspida. _ Será que não está se dando importância demais?

CAPÍTULO TRÊSO estranho reagiu contrariado. Mas o insulto não o atingiu, e Sophie ansiava por apagar daquele homem a expressão de desdém e autossatisfação._ Não sabia que você é um dos Senhores do Mundo. Deve ser uma tortura _ ela acrescentou com sarcasmo._ Pare com este jogo! _ exigiu de modo rude. _ O que espera ao chegar aqui e cruzar meu caminho?_ Você está sonhando! _ gritou Sophie, indignada, mas percebeu que não tinha razão.Mal sabia por que havia atravessado o limite do hotel. Talvez, inconscientemente, porque esperava encontrá-lo, mas jamais admitiria. Imaginou quantas mulheres ele havia seduzido e expulsado daquelas terras. Era insuportável que ele considerasse Sophie uma delas._ Que direito tem de achar que vim aqui atrás de você? Tem certeza de que não foi você que veio procurar por mim?Antes que ela fizesse qualquer movimento o cavalo se mexeu para mantê-la prisioneira. Isso mostrava como ele a tinha nas mãos. Agora estava em pé ao lado do joelho dele, com um misto de medo e indignação. O cabelo ruivo e as belas pernas a tornavam ainda mais atraente. O estranho mirou o rosto de Sophie. Os olhos escuros dela estavam mais

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suaves, e seus lábios pareciam tocados pela inocência. Não era de admirar que a primeira impressão que o cavaleiro tivera fosse falsa. Nada da sua verdadeira natureza era evidente. Parecia tudo o que um homem poderia desejar, agora mais do que nunca._ É claro que vim procurá-la _ afirmou.A resposta simples e direta a deixou amedrontada. Sophie olhou para ele fixamente. O sol batia nas costas do estranho, e ela ficou duplamente cega. Primeiro porque os olhos dele cintilavam, depois por causa do sol, que abraçava sua figura máscula._ O… O quê? _ balbuciou, perplexa e amedrontada._ Não pude acreditar em meus olhos quando a reconheci. Pergunto de novo: por que veio?_ O que você quer? _ ela sussurrou.Os olhos dele luziram ao se fixarem nos de Sophie._ Você sabe o que eu quero.Ela prendeu a respiração. O sol já estava alto, mas um arrepio de excitação a varou dos pés à cabeça._ E sem dúvida acha que só precisa me pedir! _ disse em tom ríspido, aborrecida com a própria fraqueza._ Não _ desdenhou ele. _ Mas, quando você se jogou tão obviamente no meu caminho, percebi que desejava algo em troca. Quanto quer? Advirto que não pagarei nada exorbitante.A boca de Sophie nunca se abriu tão indignada. Por segundos ela simplesmente emudeceu._ Quem, diabos, você pensa que é? E quem pensa que sou?_ Sei quem é você, Sophie, muito mais do que imagina.Se tivesse jogado um balde de água fria nela não ficaria mais desorientada. Sophie arfou e pulou para trás, o pânico a invadiu._ O… O quê? _ balbuciou._ Por que está fingindo ignorância? Acha que sou tão idiota assim?A respiração dela tornou-se lenta e assustada._ Quem é você? _ perguntou. _ Como sabe meu nome?Ele riu e jogou a cabeça para trás, mas o som não era agradável. Era um riso de pura indignação e ameaça._ Deixe-me em paz! _ ela gritou. Por instinto, virou-se e correu.Só voltou a pensar no que acontecera depois de ultrapassar o marco do hotel. Diminuiu a velocidade, tentando ouvir o som das patas do cavalo, mas escutou apenas o grito de uma ave marinha.Quando olhou para trás, a praia estava vazia.

CAPÍTULO QUATRO_ Alôôô _ Zoe cantarolou ao telefone. _ Surpresa! Está se divertindo?

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A irmã sempre queria que todos se divertissem._ Você estava certa, isto aqui é fabuloso _ disse-lhe Sophie. Estava deitada na cama em uma suntuosa suíte do Sheik Daud Hotel. Passara meia hora tentando entender o que havia acontecido, então telefonara para a gêmea em Vancouver._ Seria esperar muito supor que você já perdeu sua virgindade obessiva? _ brincou Zoe.Apenas sorriu. A irmã era mais obcecada por sua vida sexual do que ela própria. Era apenas uma questão de prioridades, Sophie queria que o sexo tivesse algum significado. Mais do que significado... queria fazer amor, não sexo. E somente com o marido ou pretendente com quem fosse se casar. .Ela riu._ Escute, Zoe, uma coisa muito estranha acabou de acontecer._ Oh, ótimo! Foi um homem?_ Sim. _ Sempre achei que você cairia por um desses homens-alfa. Conte-me tudo!_ Diga-me primeiro uma coisa, Zoe… quando você esteve aqui no ano passado, se divertindo tanto, quem era você?A risada que chegou aos ouvidos de Sophie era tudo o que precisava ouvir. Sua gêmea era incorrigível._ Já descobriu? Alguém a reconheceu? Confesso que peguei seu passaporte emprestado, Soph._ Sinceramente, gostaria que parasse de fazer isto! Você não faz ideia de como é constrangedor._ Não faço mesmo _ concordou Zoe, melancólica. _ Mas acho que seria divertido se, de vez em quando, você se passasse por mim e fizesse alguma coisa bem estarrecedora, para me obrigar a dar explicações._ Teria de me esforçar muito para pensar em algo que você considerasse estarrecedor _ respondeu Sophie secamente.Zoe riu de novo, admitindo que a irmã atingira o alvo.Era um clássico caso de Gêmea Boa / Gêmea Má, só que Zoe não era realmente má, apenas muito excêntrica. Sonhava com uma vida de aventuras. Para isso, compreendeu muito cedo que precisava se casar com um milionário. Sua escolha recaiu em um dos homens mais ricos do Canadá, quase três vezes mais velho do que ela. Já em idade avançada, ele decidira se candidatar ao Congresso. Recém-saída da universidade, Zoe fora trabalhar na campanha eleitoral.Casou-se com ele e, quando Hamilton Brougham venceu a eleição, Zoe havia alcançado o status que desejava. Mas a posição que conquistara também tinha suas restrições. Ao casar-se com Ham, prometera a ele que sua vida particular jamais traria constrangimentos à carreira política do marido.

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Nessas horas entrava em cena a figura de Sophie. Às vezes, quando Zoe precisava apagar seus rastros, fingia ser a irmã mais sóbria. Em vários momentos, Sophie confirmara a jornalistas que sim, era ela na foto, dançando dentro de uma fonte da cidade…_ Então, em que encrenca estou metida aqui nos adoráveis Emirados Barakat? _ perguntou Sophie, agora séria._ Oh, doçura, não há encrenca nenhuma! _ protestou Zoe. _ Eu só queria me divertir._ Começo a perceber por que você insistiu tanto para que eu tirasse férias justamente agora e neste lugar. Fui uma idiota em não ter percebido antes _ disse Sophie._ Não é assim, de jeito nenhum. Quem você conheceu? O que eles disseram? Não é o hotel, é? Paguei por todos os danos, e bem caro. Assim, se eles disserem uma palavra, querida, pode mandá-los..._ Não é o hotel, Zoe, eles foram extremamente discretos. Trata-se de um sujeito moreno e mal-humorado na praia. De olhos, cavalo e humor negros.Ouviu a irmã suspirar._ Aaaah... Tinha me esquecido do sheik...

CAPÍTULO CINCOPelo tom de voz de Zoe, Sophie percebeu que a irmã não se esquecera do sheik._ É melhor se lembrar bem rápido e me dizer em que encrenca estou metida _ disse, dando um ultimato. _ O que fez a ele?Zoe deu uma risada quase forçada, que não ajudou Sophie a reconquistar a paz de espírito._ Fazer a ele? Quem poderia fazer alguma coisa contra o sheik Sharif Wahid ibn Arif al Farid? Ele tem um coração de pedra.Assim que a irmã citou a palavra coração, Sophie fechou os olhos, horrorizada._ Oh, Deus, Zoe, você não fez isso!_ Ora, vamos, Soph, você o viu. Deve ter percebido que é irresistível._ Zoe, isto é… mas… está me dizendo que o homem acha que dormi com ele?! _ exclamou Sophie._ Conte logo, ele deu sinais de querer mais?_ Ele deu sinais de me querer fora de suas terras.Zoe suspirou._ Bem, seja como for, não precisava ser tão hostil. Ele lhe disse que é um Companheiro da Taça?_ O que é um Companheiro da Taça? _ perguntou Sophie, o coração ainda mais apertado._ É o equivalente aos nossos ministros de Estado. Nomeados pelo príncipe,

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eles o aconselham em diversas áreas do governo. São muito aristocráticos e influentes. Por isto precisei ser tão cuidadosa, seríamos notícia em todos os jornais se a história vazasse._ Oh, maravilha _ disse Sophie. _ Então é adeus às minhas corridas matinais._ A menos que você recomece de onde parei. Mas meu conselho é que escolha outro homem. Como já deve ter percebido, é muito difícil lidar com o sheik Sharif._ Zoe, por que ele virou seu inimigo? Por favor, diga-me a verdade.A risada da irmã de Sohie não escondeu completamente sua irritação._ Acredita que ele ficou profundamente ofendido… foi bem severo, na verdade... ao descobrir que sou casada? Como se isto fosse da conta dele! Também não gostou quando disse que era um maldito puritano._ Puxa, por que será?Notando a desaprovação da gêmea, Zoe logo acrescentou:_ Presumi que nossa diferença de corte e cor de cabelo o enganaria._ Presumiu nada, e sabe disso._ Soph, se encontrá-lo de novo, não me denuncie, está bem? Ham detestaria isso e você sabe que ele está prestes a ser nomeado para um cargo no ministério.Ela descobria agora o que a levara a cortar e tingir de vermelho os longos cabelos louros. Estava cansada de levar a culpa no lugar de Zoe. Mas, pelo visto, isso não a ajudaria a evitar o sheik.Sophie suspirou profundamente._ Então, um dos mais poderosos e influentes homens desse país não só acredita que dormi com ele, como também acha que traí meu marido?_ Não é engraçado? E aí está você, uma virgem!_ Aqui estou eu, uma virgem _ concordou Sophie.* * *O sheik Sharif al Farid desceu do cavalo e, com um resmungo, atirou as rédeas para o cavalariço. Então entrou na casa, com um semblante tão furioso que o serviçal desapareceu discretamente.Inquieto, andou até o ponto mais distante da sala e parou por alguns minutos diante de uma antiga escrivaninha, olhando para o vazio.Fazia quase um ano que a vira pela primeira vez, rodeada de comerciantes e meninos de rua no Mercado Sabzi. Parecia aterrorizada. Ele a socorrera, mesmo que não estivesse realmente em perigo, explicando à multidão que era uma turista._ Não estão habituados a ver cabelos como os seus _ explicara a ela mais tarde, no pequeno café onde a levou para que se acalmasse. _ O hotel não a informou que este trecho não está incluído no roteiro de lugares seguros? _ Nunca obedeço a essas normas _ ela dissera. _ Só estragam a diversão.Não sabia por que se sentira atraído, mas ela deixou claro que a atração era

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recíproca. Só mais tarde compreendeu que nutriam sentimentos diferentes.E agora estava de volta. Mal podia acreditar em tanta ousadia. Exibindo-se para ele e fingindo ignorância... por quê? Não compreendia o risco que corria? Pensava que  era um idiota completo?Talvez ela imaginasse que o disfarce seria suficiente para evitá-lo ao buscar novas e impensadas aventuras.Não conseguiria evitá-lo. Deixara ela partir uma vez. Mas não escaparia novamente. Agora ele faria justiça.

CAPÍTULO SEISO rei Daud mandou erguer estes jardins há mais de sessenta anos em honra de sua esposa estrangeira, a quem chamava de Azizah _ explicou o guia.Sophie estava com um pequeno grupo de pessoas no jardim, passeando ao largo de uma série de lagos e canais. A água descia em pequenas cascatas, enquanto os visitantes seguiam no sentido contrário._ O nome Bostan al Sa’adat significa “Jardim da Alegria”. Levou vinte anos para ser construído e ainda não atingiu o grau de perfeição idealizado por seus projetistas, por isso continua em constante evolução...Sophie passara dois dias evitando completamente a praia. No terceiro, estava realmente sentindo falta de exercício. Mas Zoe estava certa… havia muito para ver nos Emirados Barakat e, se havia algo capaz de fazê-la esquecer o sheik Sharif al Farid eram as fabulosas fontes e jardins, um testemunho do amor do sheik Daud por sua Azizah.Sophie ficou alguns metros atrás do grupo, encantada por uma graciosa fonte em diversas camadas, cujas águas pareciam cantar.Estava aborrecida por precisar de uma distração para esquecer aquele homem. Mas a verdade é que mesmo assim ele não saía de sua cabeça. A imagem do sheik a assombrava... Não conseguia parar de se perguntar se o veria de novo e, neste caso, como reagiria. O fato de ele pensar que ela se sentira atraída sexualmente por sua figura a enfurecia, mesmo sabendo que na verdade Sharif se referia a Zoe._ Bom dia, Sophie.Ela mal respirou quando aquele deus moreno surgiu por trás de um arco florido, como se brotasse de seus pensamentos. Impediu-a de acompanhar o resto do grupo, que atravessava um portão. Era o próprio sheik. O corpo dela se arrepiou de medo, enquanto os outros turistas saíam de seu campo de visão._ Bom dia, sheik al Farid.Ele ergueu as sobrancelhas e sorriu, com desdém._ Vejo que o tempo melhorou sua memória. Mas esqueceu que me chamava de Sharif?Ela mordeu o lábio inferior. Não imaginava chamar pelo primeiro nome

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aquele pilar moral da humanidade, mesmo que fosse para salvar a reputação de Zoe. Aprendera que não havia estátuas nos jardins islâmicos, mas Sophie via o sheik como um modelo perfeito para elas. Tal qual uma escultura de mármore, ele parecia pulsar de vida. Mas permaneceria frio e impassível se ela o tocasse.Talvez não. Não tinha certeza sobre o que seria pior._ Não seria conveniente após tanto tempo, não é? _ disse ela.Ele riu com vontade. Sophie sentiu a força de sua personalidade e, inconscientemente, compreendeu a fraqueza de Zoe. Mesmo que isso não significasse nada, pois sua irmã era quase sempre fraca._ Está preocupada com o rumo dos acontecimentos? Neste caso, você mudou mais do que seus cabelos._ Deixe-me em paz _ foi tudo o que ela pôde dizer, ao tentar se desviar dele.Mas o sheik a segurou pelo pulso. Sophie respirou fundo e fechou os olhos. Então, temendo o que ele poderia pensar de sua reação, voltou a abri-los com esforço.Por um momento se olharam sob o sol. Só a música da fonte era audível. A distância, a única pessoa visível era um jardineiro, andando em meio às plantas. O mundo era todo deles._ Não corre mais na praia, Sophie?_ Naturalmente você aprovou a mudança.Ele cerrou o maxilar._ Espera que eu ceda a seus caprichos desse jeito? Não dará certo. Cuidado, sempre recupero o que é meu. Não importa como...

CAPÍTULO SETE

Presos aos seus olhos, os de Sophie reluziram. Ele cerrou os dentes ao perceber um ar de excitação, quase desejo, naquele olhar amendoado._ Está me ameaçando? _ sussurou ela.Sharif estava zangado e confuso. Acreditara que, quando a reencontrasse, veria a mesma mulher de antes. Recordava o brilho calculista dos seus olhos. Dizia para si mesmo que sua mente inventara a doçura daqueles lábios.  Mas percebera que a presença dela o atraía agora mais do que nunca. O desejo era forte demais.Antes, quando pensava em Sophie, concluíra que ela o manipulara, brincando com seu ego e usando da sedução para convencê-lo de que estava mesmo envolvida. Percebia que era muito mais perigosa do que imaginara. A malícia não transparecia naqueles olhos. Mesmo agora, com a sua experiência, quase jurava que podia ver ali um coração puro e honrado.

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No passado, ela despertara seu interesse, sua libido, e ele sentira um leve clima de possibilidades maiores. Hoje, provocava nele uma desconfortável sensação de posse, e ouvia a clara promessa de algo eterno.Sabia que era mentira e não se enganaria de novo.Mas, contra a vontade, sua mão apertou mais ainda o pulso de Sophie, puxando-a contra seu corpo._ Não _ protestou ela com um suspiro.De repente, ao tomá-la nos braços, Sophie prendeu a respiração. Olhou o rosto dele para saber até que ponto estava zangado, com que intensidade Zoe o magoara, e qual seria sua vingança.Os olhos negros de Sharif a incendiaram quando ele a curvou sobre seu braço forte e aproximou seus lábios dos dela. _ Não _ sussurrou de novo, apavorada com o que aconteceria caso se deixasse levar por aquele sentimento desconfortável e pouco familiar que a ameaçava. Era como uma torrente rumo a um território totalmente desconhecido.Ele a encarou, com toda a fúria de um desejo negado._ Não? _ A voz era áspera. _ Não foi por isto que veio?_ Não se iluda pensando que vim de tão longe para passar mais tempo na sua cama!_ Então nenhum de nós ficará desapontado. O que você quer desta vez, Sophie? Você acha que vou pagar esse preço?_ Preço! _ exclamou, e de repente foi tomada pela fúria. _ Como ousa! Solte-me!Os lábios de Sharif recuaram enquanto dominava suas emoções e recuperava a razão. Não era isto que pretendia fazer e sentia raiva dele mesmo por revelar sua fraqueza. Sabia que ela era uma farsa, uma mentira. O fato de não ter recebido notícias antes demonstrava que não se arrependera do que fizera.Não pretendia fazer amor com ela. Não pensava em sua figura havia meses, até o momento em que a reconhecera na praia. Por ter feito papel de tolo uma vez, convencera-se de que estava imune a seus encantos..Mas, a despeito de tudo o que sabia, ela ainda poderia seduzi-lo, e mais profundamente do que antes._ Você percebe que sou tão idiota como da última vez _ admitiu ele, cinicamente. _ Tão disposto quanto nunca a cair na sua armadilha. Mas você está errada em relação ao lugar. Este não é bem o Jardim do Éden, Sophie._ E você não é bem Adão! _ Os olhos dela faiscaram de raiva, vidrados nos dele. _ Que interessante, a serpente fala!_ Seja qual for meu papel, parecemos concordar que você é a Eva, _ admitiu ele, com inesperado senso de humor._ Acredite, se sou Eva, não tenho maçãs para lhe dar! _ Então desejou não

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ter falado aquilo, porque os olhos do sheik se estreitaram e seu olhar a fez ficar nervosa._ Acha que esqueço tão facilmente? Você tem… uma maçã, você disse?... que muito me interessa. Creia que desta vez não aceitarei um não como resposta.

CAPÍTULO OITOSophie piscou para ele, consternada, e uma pequena e traiçoeira dúvida assaltou sua mente. Mas ela a ignorou._ Não sei do que está falando!Os olhos do sheik haviam perdido qualquer traço de humor._ Não aumente seus pecados com mais mentiras _ disse, sem ânimo. _ Você sabe muito bem do que se trata._ O que é?! _ exclamou, sentindo-se provocada.O que sua gêmea poderia ter feito de tão grave que não assumiria nem para ela? Nunca Zoe deixara de lhe contar as aventuras em que se metera em seu nome._ O que você está imaginando?Ele se recompôs e retirou o braço que a amparava, mas sua mão impiedosa continuou a segurar firme o pulso de Sophie. _ Venha _ disse ele.Ela pensou que iria pelo bem de Zoe. Mas depois, lembrando-se do que fizera, soube que este não era o motivo.* * *Meia hora depois, estavam de volta à praia, o Land Rover do sheik cruzando os largos portões de um muro branco. A construção cercava um pátio com lajotas de terracota.O sheik dirigia. Sophie não sabia bem o que esperar daquele mundo _ luxuosos veículos esportivos ou imponentes limusines, mas se surpreendeu por estar a bordo de um carro comum. Agora, sob os arcos de uma garagem, percebeu que havia automóveis que correspondiam mais a suas expectativas… uma limusine Mercedes e um esportivo clássico, entre outros.O sheik Sharif al Farid freou e desligou o motor. Por um instante, Sophie olhou em volta. Sombras de palmeiras cobriam o pátio e, tirando o canto dos pássaros, não se ouvia mais nenhum som. Ela suspirou. Depois do calor e barulho das ruas da capital dos Emirados, havia uma doce promessa de tranquilidade naquele lugar.Ele a levou para dentro da casa, seguindo para uma sala bem mobiliada com uma série de janelas em arco que davam para um pátio. Sophie notou que a residência havia sido construída seguindo o padrão tradicional do Oriente Médio. Em torno de um pátio central, água e plantas em profusão amenizavam o clima áspero do deserto.

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Bem à frente, do outro lado do pátio, um elegante arco se abria com vista para o mar._ Isto é tão bonito! _ ela suspirou.Por todo lado, havia antiguidades vistas normalmente em museus ou revistas _ uma coleção de espadas e adagas com pedras preciosas, vasos e ânforas de bronze, pinturas rebuscadas em madeira e tapeçarias nas paredes.Fascinada, ela admirava cada objeto._ Você já viu os meus bens antes. _ A voz gelada tirou-a do transe em que se encontrava.Ela olhou nervosa para o sheik. Embora Zoe não dissesse, era provável que tivesse passado a noite ali. Quantas noites? Quanta intimidade a irmã teria com o lugar? Sophie não saberia dizer._ Já? Bem, vale a pena apreciá-los pela segunda vez _ disse. Não era a única oportunidade em que precisava ser rápida para descobrir o que Zoe tinha feito, mas, de alguma forma parecia diferente agora; nunca havia se sentido em perigo. Mas Zoe também jamais se envolvera com um homem como o sheik al Farid. Ele nada tinha de tolo, e deixava Sophie nervosa._ E uma terceira e uma quarta _ completou ele, de voz suave e olhos enigmáticos._ O que significa isto?Mas Sharif al Farid já se voltava para um criado, dando-lhe algumas ordens.Sem saber, Sophie foi atraída por uma magnífica pintura a óleo, retratando um homem de turbante, com olhos escuros e atraentes como os do sheik._ Oh! _ suspirou. Mais do que segui-la, os olhos da pintura pareciam enxergar dentro dela. _ É… um parente seu?Sharif al Farid sorriu._ Qual é o seu jogo agora, Sophie? Acha que pode me convencer que a confundi com outra por causa da quantidade de mulheres que já se colocaram diante desse quadro?Ela não se acovardou._ Talvez eu tenha estado em frente de tantos retratos de ancestrais que esqueci o seu _ sugeriu._ Nisso eu posso acreditar _ insinuou ele, de maneira tão clara que ela teve vontade de agredi-lo. _ Como está seu marido? Você consegue finalmente mantê-lo a distância?

CAPÍTULO NOVE

_ Vá para o inferno!

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Sharif al Farid deu um sorriso forçado e balançou a cabeça._ Não por você, minha tentação.De repente, Sophie foi tomada pelo medo. Havia alguma coisa ali que não compreendia. O que, exatamente, ocorrera entre Zoe e o sheik Sharif al Farid? Tinha de ser mais do que o encontro casual que Zoe dera a entender. Por que a irmã a enviara para lá, onde certamente a confundiriam com ela e encontraria esse estranho?_ Por que me trouxe aqui, sheik al Farid? Se tem algo a dizer, diga logo, porque eu quero voltar para o hotel _ disse Sophie, com um fio de voz, lutando para manter a calma.O sheik ergueu as sobrancelhas em sinal de desdém, como se ela não percebesse algo óbvio._ Voltar para o hotel?Como um rei, ele ergueu o queixo, intimando-a para que o seguisse. Atravessou a sala e abriu uma porta. Sophie percebeu que cada uma das janelas era na verdade uma porta... Quando todas estivessem abertas, o cômodo se abriria para o pátio através de uma série de arcos.Ela o seguiu para fora da sala, saindo de um ambiente refrigerado para outro mais quente, e daí para o clima ameno das sombras do pátio. Ele parou diante de outra porta em arco. Sophie admirou a profusão de plantas e flores que se derramavam pelas varandas, viradas para quatro canais que abasteciam uma fonte no centro do pátio. A água fluía por uma série de bacias de tamanhos diferentes, apoiadas em leões de pedra._ É uma cópia da fonte do Palácio de Alhambra? _ perguntou, esquecendo de tudo o que passara até ali diante da obra maravilhosa._ Foi construído numa data anterior _ ele sorriu sem vontade. _ Vejo que está mais informada do que antes. O que mais você pesquisou?Ela cerrou os dentes._ O que lhe dá a certeza de que sabe de tudo? _ perguntou Sophie._ Há um ano você não sabia nada dos tesouros de Alhambra, esqueceu?Ela não tinha resposta. Não dava para dizer a ele que se diplomara em arte e arquitetura na universidade, enquanto Zoe havia feito ciência política.O sheik abriu a porta e a fez entrar num quarto. Sophie se arrepiou ao passar por ele, sentindo uma mistura de emoções que nunca experimentara antes.Então subitamente parou e olhou em volta do cômodo. Suas coisas estavam por toda parte… a mala estava aberta, e seu conteúdo distribuído em pilhas arrumadas sobre a cama ou penduradas no armário.Alguém entrara no hotel para pegar sua bagagem e a trouxera para cá.

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Era claro que haviam feito uma busca minuciosa em cada bolso.Surpresa, recuou, esbarrando no peito de Sharif. Sentiu que as mãos dele envolviam seus braços com firmeza. Percebeu que o corpo do sheik exalava uma mistura peculiar de colônia e suor masculino. Tentou se afastar, mas estava presa. Sentiu-se tonta, certa de que desmaiaria de medo. Seus nervos estavam à flor da pele, como se uma corrente elétrica a atravessasse.Na mente de Sophie, as perguntas se sobrepunham fora de ordem.

_ Por que trouxe minhas coisas para cá? Como as pegou? _ perguntou finalmente.

CAPÍTULO DEZ

Como se estivessem distantes demais um do outro, sentiu que a mão de Sharif a conduzia firme e cuidadosamente para mais perto. Quando ficaram frente a frente, o sheik a tomou em seus braços. Sophie olhou para ele e abriu os lábios em busca de ar...Os olhos dele examinaram seu rosto com uma volúpia que a fez estremecer. Lentamente ele a puxou contra seu corpo, envolvendo-a mais uma vez. Ela tentou mantê-lo a distância, as mãos contra o seu peito, mas era como se empurrrasse uma parede...Ele sussurrou uma jura de amor, aproximando-se dos lábios de Sophie, que resistiu, mas logo fechou os olhos e desfrutou do prazer daquele beijo. Por um momento, ela se deixou levar por aquela sensação maravilhosa, como se nada mais existisse. Mas só por um momento. Então uma voz em pânico advertiu: Na verdade é Zoe quem ele está beijando. Pensa que sou ela e está ressentido.Embora o calor daquele homem a incendiasse, Sophie empurrou o peito do sheik com força, tentando se desvencilhar. Mas ele logo a soltou de seus braços, como se também tivesse recuperado a razão. Ela recuou e viu que Sharif tentava recuperar o fôlego e o controle emocional._ Eu a chamei de Eva? _ perguntou em voz baixa, balançando a cabeça. _ Você é muito mais perigosa. Como consegue manter intacta essa suavidade, ainda mais com um homem que a conhece tão bem?Sophie sabia a resposta, mas preferiu guardá-la._ Não me toque de novo, sheik Al Farid _ limitou-se a dizer. _ O que aconteceu no passado não lhe dá o direito de tirar conclusões sobre mim agora._ Se você mudou, há uma forma de comprovar isso _ ele retrucou._ Se me trouxe para cá achando que é um amante tão maravilhoso que

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eu ficaria feliz em repetir a experiência, não estou interessada _ falou em tom firme, apesar do medo. Não temia apenas o que ele pretendia, mas o que aquele beijo revelara sobre seus próprios sentimentos._ É tão idiota que pensa que está aqui para o meu prazer?Sophie piscou._ Você sinalizou isso _ respondeu, irritada._ Sua presença não me alegra, Sophie. Quanto mais depressa se for, melhor para mim. Disse que é uma sedutora, mas não perca seu tempo tentando me fazer baixar a guarda novamente. Mesmo que fizéssemos amor mil vezes, não confiaria novamente em você fora do meu raio de visão. Nesta casa, você será vigiada a cada segundo.Se nós fizéssemos amor mil vezes… _ Então você tem dois segundos _ respondeu Sophie, indo até a cama e jogando seus pertences nas malas abertas. _ Quero sair daqui, agora!_ E você está muito mal acostumada, querendo as coisas sempre do seu jeito. Mas não desta vez, Sophie. Desta vez você me obedecerá.Ela levantou a cabeça, mas as mãos continuaram a fazer a mala._ Você não sabe nada sobre mim!_ Não tenha medo; o que não sei, você terá a chance de me ensinar.Ela tremeu._ O que é? O que você quer?_ Já lhe disse, quero o que é meu _ respondeu o sheik, com um sorriso que a deixou tonta de inquietação._ Não sou sua! _ gritou Sophie, desesperada. Calafrios percorreram seu corpo com tanta intensidade que a fizeram bater o queixo. _ Já lhe disse antes, sou casada! E, se não me fiz entender claramente, meu marido é um homem muito influente, assim, se você…O modo frio com que ele sorria e seus olhos cheios de desdém a fizeram interromper a ameaça.

_ Você? _ repetiu, com tamanho desprezo que a fez sentir desgosto. _ Que fantasia é essa? Não é você que eu quero, Sophie. Você sabe muito bem o que é.

CAPÍTULO ONZE

 Sharif voltou à grande sala de estar com Sophie à sua frente. As mãos do sheik a empurravam, segurando seu braço com força. Ela se sentia curiosa e hesitante. O que quer que Zoe tivesse feito, não poderia ser tão grave. Portanto, ou ele fazia tempestade em copo d’ água ou estava completamente equivocado.Ele parou diante de um belo e antigo gabinete vermelho-rubi. Soltou o

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braço de Sophie e abriu duas portas no centro do móvel. Lá dentro, ela constatou que havia mais uma série de tesouros. Peças muito pequenas ou valiosas demais para ficarem desprotegidas. Cada uma apoiada em um suporte. Um cavalo minúsculo em ouro, uma miniatura de adaga cravejada de pedras preciosas, uma tigela delicadamente pintada. Um dos pedestais estava no centro e no alto do gabinete, como se guardasse o melhor da coleção. Mas estava vazio.O sheik concedeu-lhe um momento para apreciar seus tesouros. Então se virou para ela com as sobrancelhas erguidas e deu um meio sorriso. Por um instante, os olhos dele arderam com tanta raiva que Sophie recuou involuntariamente._ Agora sei que a Tigela de Jade não está em sua bagagem, nem no cofre do hotel, e penso que voltou para tentar vendê-la _ concluiu sombrio. _ Mas estou disposto a pagar uma soma razoável por sua devolução. Onde ela está? _ Sentiu-se tomada de raiva e desapontamento pela acusação injusta... Sabia que Zoe era capaz de fazer muitas coisas, menos roubar um objeto daquela casa. Lançou um olhar furioso para ele._ Está acusando minha... quer dizer, a mim de furto?Por pouco ele não riu._ Está negando?_ Sim, eu nego! É claro que nunca roubei sua tigela! Que tipo de tigela é essa, afinal?Sophie preferia que ele parasse de sorrir com aquele maldito ar de superioridade. De repente, ficou furiosa com Zoe, por colocá-la naquela situação constrangedora. Os dois a estavam deixando doente. _ Lembro que você apreciou mais os outros tesouros do que a tigela. Ficou surpresa ao saber que era o patrimônio mais valioso da família. A encomenda de meu antepassado ao maior artista de sua época a impressionou menos do que o cavalo em ouro, esculpido por um artesão inferior... Mas você sabia que era preciosa o suficiente para levá-la. Queria me punir? A perda do cavalo significaria pouco para mim, mas a Tigela de Jade é insubstituível. Que proveito esperava tirar disso? Você a vendeu, Sophie? _ perguntou o sheik gentilmente. _ Espero que tenha entendido bem seu valor.A sensação de perigo fez Sophie sentir calafrios em todo o corpo._ Eu nunca toquei na sua maldita tigela! _ repetiu. _ Não faço ideia de onde esteja! Provavelmente você a perdeu!Sharif ignorou tudo o que ela disse, como se não valesse a pena responder._ Bem, você terá todo o tempo para lembrar.Algo no tom de voz dele a paralisou, como se o perigo a rondasse bem perto._ O que significa isso? _ exigiu, em tom abafado, quase inaudível.

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Com um olhar de viés para ela, o sheik fechou as portas do gabinete. Ele se virou e pôs a mão no braço de Sophie, mas como se o toque o queimasse voltou a soltá-la... Ela esfregou o local que ele havia apertado antes... Doía como se tivesse tomado um choque.

_ Não é evidente? Você é uma mulher educada e inteligente. Deve ser desnecessário avisar que não deixará esta casa até que eu tenha de volta o que é meu.

CAPÍTULO DOZE

Já tarde da noite, Sophie se revirava, insone e desconfortável, naquela cama estranha.O dia transcorrera entre sonhos e pesadelos. A casa e o jardim eram mais belos do que Sophie poderia imaginar em seus sonhos mais recônditos, mas uma nuvem de suspeita pairava sobre ela. E transformava a expressão mais gentil numa declaração de guerra aos olhos de Sharif al Farid.E os olhos do sheik a rondavam, sempre vigilantes. Não satisfeito em pôr um dos criados de guarda, ele mesmo a vigiava. À exceção do quarto, não ia a lugar algum sem ele. E quando ela entrava em seu aposento, a porta era trancada a chave. Sharif sentava-se no pátio, tomando conta. A presença dele, mesmo invisível, era tão intensa que Sophie não conseguia repousar. Era obrigada a sair e, quando isso acontecia, tinha de se manter em seu raio de visão.Odiava aquilo, a proximidade com ele a enlouquecia. Sentia a pele contrair-se como se estivesse num campo de força. E, quando ela se queixava, o sheik apenas repetia sem remorso, tal qual um mantra:_ Se não gosta, sabe qual é a solução.

Apesar de dizer que não a desejava, sabia que o sangue dele fervia de desejo quando pousava os olhos negros sobre ela. Então ela se lembrava das palavras de Sharif: Se fizéssemos amor mil vezes. Sabia que não era ela, Sophie, que ele queria, mas Zoe. Estava se lembrando de quando tinham feito amor, era tudo. Zoe provavelmente era uma amante sensacional e, se Sophie cedesse à tentação, ele ficaria extremamente desapontado com sua inexperiência.Percebendo para onde seu pensamento a levava, Sophie se sentou e socou o travesseiro com raiva. Cederia à atração? Que atração? Não sentia nada pelo sheik de Zoe, a não ser uma raiva completamente justificável! E, mesmo que ele fosse atraente, não esperaria todos esses

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anos para desperdiçar sua virgindade com alguém que a desprezava, e desprezava a si mesmo por desejá-la.Ela se jogou na cama de novo. O que a enfurecia era saber que ele estava dormindo _ se é que dormia _ no quarto ao lado. A porta de comunicação entre os dois quartos estava ligeiramente aberta, mas nada se escutava. Estaria ouvindo o revirar dela na cama? Será que imaginava que ela não conseguia dormir por sua causa?Quanto tempo aquilo ia durar? Dissera-lhe que, onde se hospedara, acreditavam que ela havia feito uma longa excursão pelo país e ficaria fora muitos dias. Se um Companheiro da Taça garantisse que ela estava viajando, ninguém comunicaria seu desaparecimento à embaixada do Canadá. Se fosse verdade, não podia esperar ajuda dos funcionários do hotel. Estava certa disso.Ele não a deixava telefonar e, enquanto não ligasse para a irmã, nada poderia lhe contar. Às vezes ficava indecisa, mas sabia que não podia correr o risco de revelar a verdade ao sheik. Tendo Zoe retirado ou não a maldita tigela, e Sophie acreditava na sua inocência, a divulgação da verdade causaria um problema terrível para Hamilton Brougham.Quando perguntava ao sheik por que tinha tanta certeza de que havia sido ela que retirara a tigela, ele apenas sacudia a cabeça, fitando-a com olhos acusadores._ Você sabe que eu sei, Sophie _ dizia ele. _ Quando você entender que não vai escapar com seus argumentos inúteis, então chegaremos a algum lugar.A despeito do que o sheik dissera, tinha certeza de que ainda desejava Zoe. Mas, por mais que ele quisesse a irmã de novo em sua cama, Sophie compreendia que não faria amor com ela sabendo que era casada. Era parte de seu próprio código de honra. Pela primeira vez Sophie ficara contente com as mentiras de Zoe. Ser casada podia ser seu único escudo contra Sharif al Farid.Franziu as sobrancelhas procurando uma ideia que a fizesse sair daquela situação. Haveria uma forma de fugir dali? Ele a chamara de sedutora. Ele a deixaria ir se fosse tentado além da medida?Poderia convencê-lo de que ela acarretaria problemas demais enquanto estivesse ao seu lado?

CAPÍTULO TREZE

Na manhã seguinte, Sophie acordou cedo, tomou um banho e vestiu um conjunto de lycra verde e preta, que aderia a cada curva de seu corpo como se fosse uma nova pele. Esperava que ele ainda estivesse na cama, mas, ao abrir a porta do pátio, notou que Sharif estava à sua espera. Ela surgiu com uma pequena toalha

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enrolada no pescoço e uma garrafa de água presa ao quadril por um cinto._ Quero correr na praia _ disse ela. _ Há dias que não me exercito por sua causa e estou ficando com o corpo mole._ Não diria isso _ devolveu ele com cinismo.Era tarde para correr com conforto, o sol já estava quente demais, e ela não esperava nada além de uma boa discussão. Mas ele deu de ombros e se virou para cruzar o pátio. Então ela o seguiu. Descalço, de short cor de areia e camiseta, não estava vestido adequadamente para correr, e Sophie se perguntou o que ele pretendia. Sharif a guiou através de uma abertura em arco que dava para um amplo terraço de onde se avistava o mar.A casa ficava no alto de uma escarpa, com vista panorâmica. De lá Sophie podia ver toda a praia e a cidade, Barakat al Barakat. Pensou ter reconhecido até as paredes brancas do hotel contra o penhasco. O cheiro do mar vinha numa brisa fresca que provavelmente não sentiria na praia.O penhasco era incrivelmente íngreme naquele ponto, caindo por quase dez metros antes de a inclinação diminuir, permitindo que a vegetação crescesse. Qualquer tentativa de fugir por ali seria estupidamente perigosa.Por um momento, Sophie se perguntou se a intenção dele era fazê-la se exercitar no terraço. Se o seu objetivo era esse, não aceitaria. Estava disposta a causar o maior número de problemas. Se esperava que ela fosse uma dócil refém, em breve teria de rever seu ponto de vista. Mas ele a guiou até uma pesada porta de madeira na muralha da propriedade. Abriu a tranca de ferro e passou. Alguns metros ao longo da margem do penhasco, o sheik parou. E Sophie se deparou com a mais íngreme e longa escada que já vira.Sem uma palavra, Sharif começou a descer.* * *Quarenta e cinco minutos depois, suando e sem fôlego, Sophie se arrastou pelo topo da escada novamente. O cabelo estava encharcado, o conjunto de lycra molhado e a toalha, pingando. A garrafa de água esvaziara. Ele havia corrido ao lado dela, descalço e paciente, em uma corrida de ida e volta até o marco da rocha.A pele morena do sheik luzia de suor, e seus olhos brilhavam. Cada músculo das pernas e dos braços se destacava. Era a própria imagem da saúde e da virilidade. Mas Sophie estava visivelmente exausta.Primeiro round para o sheik.* * *_ Você está feliz só de me manter aqui para sempre, não está? _ perguntou irritada, na noite em que se  sentaram juntos para jantar.Sentia-se furiosa por ele insistir em tratá-la como hóspede e não a prisioneira que era, ao oferecer-lhe gentilmente uma bebida e falar da refeição servida.

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_ Tão feliz como você em ficar _ comentou ele. _ Abdullah pediu-me para perguntar como prefere o seu bife._ Se for verdade, então você está odiando _ retrucou Sophie com amargura. Depois de ter falado, percebeu que aquilo era mentira. Odiava apenas o fato de ele a tratar com desconfiança e suspeita. Baixou os olhos, para que o sheik não lesse a verdade contida neles. E continuou a esconder essa verdade dela própria. _ Por que não me deixa ir embora?_ A solução está em suas mãos. Quando me disser onde está a Tigela de Jade, poderá ir. O bife está no ponto?_ Não acha que diria se soubesse onde está essa maldita coisa?! _ explodiu._ Sei que pretende receber mais pela peça. Prefere malpassado?_ Oh, pelo amor de Deus! Não me importo se queimar o maldito bife até virar cinzas! Por quanto tempo acha que poderá me manter aqui? Meu voo de volta para casa sai em menos de uma semana!_ Então vai ter de colaborar comigo se quiser que o avião não parta sem você._ Tenho um emprego e preciso voltar!_ Disse a Abdul que você prefere o bife ao ponto._ Prefiro sua cabeça numa bandeja!_ Certamente valeria muito a pena se fosse para vê-la na dança dos sete véus _ brincou Sharif .Segundo round para o sheik.

CAPÍTULO CATORZE

O impasse entre os dois durou dias. Nesse tempo, Sophie aprendeu a amar a casa, o calor e a beleza do lugar. Apenas o sheik, como a serpente no Éden, estragava o prazer que sentia. Na presença dele, ficava abalada, nervosa, como se estivesse perto demais de uma fonte de energia.Mas nem isto era uma verdade absoluta. Quando esquecia os motivos que a prendiam, gostava de estar ao lado dele. Mais, muito mais do que admitiria. Nesses momentos, às vezes sentia-se no paraíso. Mas seu temor voltava ao tomar consciência desses sentimentos, e ficava mais desesperada para fugir. A ansiedade de Sophie crescia, mas o sheik não aparentava impaciência. Parecia convicto de que ela cederia mais cedo ou mais tarde, não importando o momento._ Não tem trabalho a fazer? _ perguntou ela certa vez. _ Ser rebaixado de Companheiro da Taça a cão de guarda é muito triste!_ Os Companheiros da Taça de um príncipe devem demonstrar que são mais flexíveis do que os homens comuns _ respondeu, gentilmente._ Flexíveis? _ ironizou. _ Quanta flexibilidade acha que tem ao insistir

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em um ponto de vista não importando se é certo ou errado?Ele ergueu as sobrancelhas, convidando Sophie a continuar. Levada por emoções conflitantes, Sophie prosseguiu de maneira estúpida:_ Agora, se você dissesse surdo, eu compreenderia! Os Companheiros da Taça são surdos à opinião de qualquer outra pessoa ou só a declarações de inocência?_ Não são surdos em situações normais _ respondeu ele com serenidade, como se ela esperasse mesmo uma resposta._ Oh, que pena! _ Estava ficando cada vez mais sarcástica, mas Sharif apenas a observava, mastigando calmamente. _ Este parece ser seu traço mais forte.Sharif discordou, sacudindo a cabeça._ Meu traço mais forte é a persistência. Quando o camundongo finalmente sair da toca, estarei à sua espera. Tentar ganhar tempo não vai lhe ajudar, Sophie. Fique certa disso.Mas a maneira como os olhos do sheik a seguiam quando não estavam de guarda desmentia tal pensamento. Sophie tinha quase certeza de que ele também se incomodava com a permanência dela naquele local. Sabia que estava blefando para convencê-la de que não havia saída. Era uma guerra de nervos.Mas Sophie tinha outras armas à disposição naquela guerra.* * *Não fora à toa que passara todos aqueles anos observando os flertes de Zoe. Aprendera como se fazia. Nunca se utilizava dos truques dela, porque sabia que não iam longe. Mas nada disso incomodava a irmã. Se um homem é idiota o bastante para acreditar, isto é problema dele, explicara a gêmea certa vez. Os homens que ela tratava assim geralmente reagiam de duas formas: ou dançavam conforme a música, como marionetes, ou sumiam, por saberem que era impossível possuí-la.O plano de Sophie era bastante vago. Era mais ou menos assim... Sharif não faria amor com “Zoe”, agora que sabia que ela era casada. Mas estava visivelmente atraído. Tudo o que Sophie tinha de fazer era manipular essa atração até que ele não suportasse mais tanto desejo. Então, ou ele faria o que ela pedisse _ deixando-a partir _ ou a mandaria embora porque não  suportaria tamanho desejo. De qualquer maneira, seria uma mulher livre.Mas ignorava aquela pequena voz interna advertindo-a  de que o sheik não era o tipo de homem com quem se pudesse brincar. E, de modo igualmente perigoso, desconhecia a própria motivação. A figura máscula de Sharif despertara em Sophie seu instinto feminino. Inconscientemente, ela o desafiava para que provasse o quanto era viril.

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Sharif al Farid tinha seus próprios motivos, tanto conscientes como inconscientes. Não havia chance de ele recusar um desafio como aquele, não quando o desafiante era Sophie.Nunca na história da sedução feminina existiu um plano com mais probabilidade de se voltar contra a própria criadora.

CAPÍTULO QUINZESophie sentou na cama, concentrada em ouvir os sons de fora. Era noite de lua nova, e a escuridão, quase total. Lá fora, além das janelas abertas e das sombras do pátio, a luz das estrelas beijava uma flor entreaberta.Algum inseto ou pássaro noturno fazia um chamado monótono. Uma brisa leve soprava pela janela, mas a noite era quente: Sophie estava coberta apenas por um leve lençol. E movia-se com o máximo cuidado, pois Sharif a advertira de que tinha um sono muito leve. Estendeu a mão para o copo de água que estava sobre a mesinha de cabeceira e mergulhou nele as pontas dos dedos. Então massageou o couro cabeludo, ao longo da linha dos cabelos, mergulhando os dedos na água repetidamente.Despejou um pouco da água na palma da mão e borrifou-a no pequeno top de seda que vestia como camisa de pijama. Depois na nuca, testa e face. Para tornar a coisa ainda mais realista, borrifou água no meio do travesseiro.Quando se deu por satisfeita, pegou a jarra de água e encheu o copo de novo. Então os deixou onde estavam antes e se deitou. Agora o problema era manter o tom de voz baixo o suficiente para a criada não ouvir, mas alto o bastante para acordar Sharif.Ela gemeu baixinho, e começou a bater os pés no lençol.* * *Atormentado pela indecisão, Sharif continuava  acordado, ouvindo de sua cama os leves gemidos que vinham do quarto ao lado. Fora um idiota por trazê-la para casa. Só agora, que já caíra em sua própria armadilha, compreendia como seus sentimentos eram confusos.Há muito tempo ela provara que não valia nada, rindo e debochando dele. Quando a condenou mostrou uma raiva intensa e a indignação típica dos inocentes. Quando Sophie desaparecera com a Tigela de Jade, ele dera o caso por encerrado, como uma dura experiência. Ficara convencido de que havia esquecido o incidente.Mas isto foi antes de ela voltar. Agora percebia que jamais conseguiria sufocar a paixão por Sophie, nem a convicção irracional de que deveria ser sua.

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Então por que a trouxera? Compreendia agora que não fora apenas para descobrir onde estava o mais importante item da herança familiar, embora fosse isso que dissera para si próprio. Nem mesmo por que uma proximidade tão grande lhe permitiria ver as falhas no caráter de Sophie, e, através delas a alma vazia que mataria seu amor.Trouxera-a para casa por uma única razão… porque, em seu coração, estava destinada a ele. Agora Sharif sabia que nunca mais teria o direito de chamar outro homem de idiota.Finalmente dormiu, apenas para sonhar com ela. No sonho, ela era tudo o que parecia ser, a beleza física e a interior em perfeita harmonia. O coração explodia de desejo, louco para a proteger e amar.* * *O sonho foi interrompido pelos suaves gemidos de Sophie. Então, de repente, estava completamente acordado. Os  sons eram reais, embora muito baixos, e vinham do quarto dela. Sentou-se em meio a uma escuridão tão densa quanto um cobertor e olhou o relógio.Duas horas da madrugada._ Não _ implorava ela, suavemente. _ Oh, por favor, não! Ele ouviu um som diferente, como se ela estivesse chorando._ Por favor!Ele se levantou num pulo e ouviu atentamente. Silêncio._ Sophie? _ sussurou em voz rouca.Não teve resposta. Apenas um grito abafado.

CAPÍTULO DEZESSEIS

Sharif estava certo de que não havia um intruso ali. Mas, mesmo assim, dirigiu-se silencioso e em tempo recorde para a porta que dividia os dois quartos.

Os olhos dele já estavam habituados à escuridão. Evitou a mesinha com tampo de bronze junto à porta. Pouco depois, debruçava-se sobre ela, que chorava em seu sono.

_ Sophie _ disse ele, firme e calmo, a mão em seu ombro.

Sentou-se na cama ao lado dela e acendeu a luz. O rosto e os cabelos de Sophie estavam molhados de suor e ela havia afastado o lençol, revelando suas longas e belas pernas.

_ Sophie _ murmurou, num tom de voz diferente.

As pálpebras dela se agitaram um pouco e então os olhos se

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abriram completamente, fixados em Sharif. Ao olharem-se intensamente, soube, pela primeira vez, que descobrira a verdade sobre Sophie. Cerrou os dentes e engoliu em seco, decidido a saber de tudo.

Sophie havia se preparado para duas hipóteses. Se Sharif tropeçasse na mesa, estrategicamente posicionada junto à porta, derrubaria o tampo de bronze, e ela poderia gritar até acordar toda a casa. Com isso esperava que os criados entrassem no quarto para testemunhar a cena. Como seria humilhante para ele!

Mas, se evitasse a armadilha da mesa e chegasse à cama, ela o abraçaria. Então, chorando, contaria o seu sonho, fingindo que o confundia com o marido apenas para despertar-lhe o desejo sexual. Daí subitamente “acordaria”, dando nele um empurrão indignado.

Em qualquer dos casos, Sharif certamente começaria a achar que ela era problema demais e não compensaria a recuperação de sua preciosa Tigela de Jade.

Mas quando ele se sentou ao seu lado na cama naquela escuridão… grande, másculo e perto demais, Sophie perdeu a coragem. Ao acender a luz, ela “acordou” na mesma hora. Seu suspiro ao vê-lo tão próximo não foi fingimento.

Poderia ter gritado. Mas, quando o olhar dele a sondou, tão profundamente como ninguém jamais o fizera, o impulso de soltar a voz morreu na garganta. Ela observou que seu futuro estava naqueles olhos.

_ O que houve? _ perguntou ao se sentar. Sophie afastou-se dele até suas costas encostarem a parede. _ Que horas são? O que você quer?

_ Calma _ pediu o sheik,suavemente _, você estava tendo um pesadelo.

_ Pesadelo? _ o coração dela disparou, como se quisesse sufocá-la. O suor brotou de sua testa, e desta vez não era água. Que idiota tinha sido de começar aquilo!

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Os olhos escuros dele ardiam intensamente sobre a pele de Sophie. Era como se ela os despertasse da privação imposta pela disciplina rigorosa a que o sheik se submetia _ e que ela estava apenas começando a compreender. Ninguém nunca a olhara antes com uma paixão tão intensa e evidente.

De repente, ela sentiu como se tivesse sangue demais pulsando por todo o seu corpo. A boca estava desesperadamente seca, e molhou os lábios com a língua, numa tentativa de mantê-los úmidos. Parecia não ter ar suficiente.

Uma das alças do top escorregou e ela prendeu a respiração. Seus seios estremeceram com a carícia suave da seda. Subitamente, percebeu que havia afastado o lençol com os pés e que uma das pernas estava nua até o quadril. A renda delicada da pequena calcinha fazia um contorno macio sobre seu quadril bronzeado. Ela gelou, sem saber se mexia o corpo para se recompor ou se continuava na posição em que estava.

O olhar de Sharif esquentou todo o seu corpo, passou pelos lábios e seguiu até os olhos.

_ Talvez não tenha sido bem um pesadelo _ murmurou o sheik.

CAPÍTULO DEZESSETE

A luz suave da lâmpada parecia deixar a mão dele ainda mais poderosa. Ele a moveu quente e pulsante em direção a Sophie. Miríades de sensações afloraram de sua perna ao sentir que Sharif aprisionou-lhe o tornozelo com um toque possessivo. Ele olhou para o rosto dela, saboreando cada emoção ali refletida._ Sharif _ ela sussurrou, num misto de resistência e convite.Ele não sorriu. Sua mão libertou o tornozelo, encostando-se no pé de Sophie. O calor do sheik lambeu todo o corpo dela. Então, muito delicadamente, ele começou a massagear-lhe os dedos dos pés.Ela estava hipnotizada. Nunca fora acariciada nos pés antes, e estava completamente despreparada para ser dominada de maneira tão poderosa e imediata. Viu a mão do sheik massagear-lhe o peito do pé. E então, lentamente, voltar para o tornozelo, a perna, o joelho._ Você não está…  esquecendo algo?Ele sorriu para ela, o primeiro sorriso genuíno que recebera dele desde que o encontrara. O gesto fez Sophie se derreter. O coração protestou que não era justo que ela o encontrasse assim, achando que Zoe estava naquela

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cama. Será que teria alguma chance se fosse ela mesma?_ O que estou esquecendo?_ Pensei… que não dormisse com mulheres casadas.A mão dele estava agora na coxa de Sophie, acariciando-a com suavidade. Isso a fez lamentar não ser Zoe._ Você é tentação demais _ murmurou ele, com a voz embargada. _ Além disso, já somos amantes e só quero mais uma noite, Sophie. É tudo o que peço, daí você voltará para casa e esqueceremos tudo.Ela sentiu uma fisgada de dor, sabendo que a irmã vencera de novo. Ele não era o primeiro homem a esquecer seus princípios por Zoe, mas era o único cuja derrota partiria o coração de Sophie._ Esqueceremos? _ murmurou com o coração apertado. _ Acha que conseguiremos?_ Você duvida? Quando nos encontramos na praia, você não lembrava de mim.Ela suspirou, triste._ Então você quer apenas me tirar do seu caminho?A mão dele estava agora no braço de Sophie e ele a puxou para junto de seu corpo. Ela não podia lutar contra o prazer que sentia. Aquele toque envolvia-lhe o corpo e a alma. Ele a deitou sobre suas pernas, curvando-se para olhar o rosto.Ela viu naquele olhar tudo o que sempre quisera num homem… paixão, ternura,  nobreza e integridade… e um profundo desejo.Os braços de Sharif a seguravam de um modo no qual jamais havia sido tocada, e seu coração ardeu entre a dor e o desejo._ Tirar você do meu caminho? _ repetiu, como se fosse ridiculamente impossível.O coração de Sophie bateu mais forte, mas ele sorriu. Ela percebeu que havia se enganado sobre o significado das palavras dele._ Sim, Sophie, vamos desfrutar do nosso amor apenas mais uma vez.Os lábios dela se abriram indecisos e, como se não pudesse esperar mais, ele se curvou, dando-lhe um beijo ardente e apaixonado. Sentiu como se pequenas chamas de calor saíssem de seus poros.Ele sussurrava palavras de carinho que  abalavam o coração de Sophie._ Você é minha alma. _ As mãos dele eram como chamas, lambendo-lhe a cabeça,  costas e seios. _ Você é minha, Sophie. Diga que você é minha.Sophie suspirou e quase desmaiou. Quantas vezes havia se perguntado se isto um dia aconteceria com ela. E ali estava a resposta.Uma resposta marcada pela dor. Sharif traíra seus princípios pela paixão, mas ela também conseguiria?

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CAPÍTULO DEZOITO

Fazer a pergunta era respondê-la. Sharif queria apenas uma noite de amor. Ele não acreditava realmente no que dissera, não com seriedade.Mas o que ela sentia por ele era sério demais. Acreditava que levaria meses, até anos, para compreender realmente o que era o amor. Mas a conhecê-lo por alguns dias viu que estava enganada.O amor podia acontecer num instante. E se convencera disso desde a primeira manhã, ao vê-lo  galopar o cavalo negro… Mas amá-lo não era o bastante. Podia continuar a fazer amor com ele com toda a  paixão, quando tudo o que ele queria era seu corpo por uma noite, pois na verdade a desprezava… ou pensava que desprezava? Por mais doce que fosse fazer amor com ele, como Sophie poderia se trair assim?Sharif murmurava em seus ouvidos carícias ternas e deliciosas. Por um longo  momento, Sophie se entregou, encantada por seu toque e pela paixão intensa que sentia._ Minha adorada _ sussurrava. Ahsheqi. O coração dela se contraiu de dor ao sentir aquele amor impossível. Deu um suspiro e, quando tentou se afastar, ele a libertou._ Sharif _ disse calma _, preciso lhe contar uma coisa.Ele a observava com expectativa, sem sinal de surpresa, apenas uma espécie de satisfação. Sophie se perguntou, vagamente, se Sharif pensava que ela confessaria o paradeiro do objeto desaparecido.Esforçando-se para compreender melhor o que acontecia, Sophie percebeu que, se fosse necessário, Zoe tinha de pagar pelos próprios pecados. Naquele momento não poderia salvar a irmã das consequências de suas ações. Nem apenas dizer não. O preço era alto demais._ Perdoe, mas não posso fazer amor com você _ começou. Será que ele pensaria que o que estava prestes a dizer era apenas mais uma mentira, outra tentativa de manipulação? _ Sei que você acha que fizemos isto antes, mas não fizemos. Também não sou casada, não sou quem você pensa. E eu sou…  virgem.Sentiu a tensão crescer nele, no modo como a abraçou e apertou contra o corpo. Por um momento, olhou-a fixamente, aparentando uma raiva intensa. Sophie percebeu que estaria perdida se a paixão o dominasse agora. Não teria  forças para recusar pela segunda vez algo que estava tão desesperada para experimentar.E, por um louco e embriagado instante, preferia se entregar a este

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destino do que ao futuro vazio que a esperava._ Virgem?! _ ele repetiu, com voz áspera.Sophie engoliu em seco, não conseguia dizer mais nada. Podia apenas olhá-lo, meio hipnotizada. Os olhos dele se abriram e então semicerraram, com uma emoção que ela não conseguiu descrever. Nunca presenciara um calor tão intenso quanto aquele, que saía dos olhos negros do sheik. Seu olhar estava preso ao dele.O coração dela disparou. Tarde demais, Sophie compreendeu que Sharif era um homem que havia sido enganado duas vezes. E o conhecia suficientemente bem para saber que não aceitaria isto facilmente.

CAPÍTULO DEZENOVE

_ Como é possível? _ perguntou Sharif, em tom exigente._ Não sou quem você pensa _ disse Sophie. _ No ano passado, você conheceu minha irmã._ Irmã _ repetiu ele, com sorriso feroz e olhar invasivo. _ Qual de vocês é Sophie?_ Ela é Zoe, somos gêmeas. Cortei meus cabelos e os pintei porque… _ Mas não havia necessidade de revelar todos os segredos de Zoe.A cabeça de Sharif estava muito perto da dela, os olhos mergulhados nos de Sophie, estudando-a. Inconscientemente, ainda a abraçava de modo possessivo, apertado.. Mas ela sabia que não ia durar. Quando ele finalmente entendesse a verdade…_ Ela a mandou para cá? Por quê?_ Zoe disse que era para eu tirar férias. Mas não sei com certeza no que ela estava pensando. _ Sophie respirou fundo e voltou a mergulhar seus olhos nos dele. _ Você não percebeu?_ Perceber? Eu percebi que as coisas não podiam ser como imaginara. Sabia que havia um mistério a ser desvendado. Você não é a mulher de quem me lembrava. Quanto mais tempo passava com você, mais claro isto se tornava. Ou você mudara mais do que seus cabelos ou...  mentira para mim antes.A mão se moveu pelo braço dela numa carícia hipnótica que a fez tremer de desejo._ Então, esta noite, eu descobri a verdade. Soube que você era outra mulher, uma mulher diferente.Sharif cerrou os dentes e, com um gemido de pesar que a fez perder o fôlego,  diminuiu a força de seu abraço.

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Devia ter aproveitado a oportunidade quando ela surgiu, gritou, tarde demais, o coração de Sophie. Deixara para trás, para sempre, a chance de provar aquela paixão abrasadora. De tocar profundamente a alma daquele homem.. Sabia que deveria seguir seu instinto … um sentimento assim só acontece uma vez na vida. Mesmo que ele não a amasse, você deveria ter aproveitado a oportunidade quando a teve, refletiu, em amarga reprovação.Sharif al Farid teria sido dela por uma noite, se tivesse sido corajosa o bastante para aproveitar a oportunidade que o destino lhe oferecia.Mas desperdiçara a chance de conhecer o paraíso..Os olhos dele ainda a condenavam com acusações e censura. Quando abriu a boca para falar, ela ouviu o som do relógio  na mesa de cabeceira.Não suportaria ouvir seu julgamento. Disse rapidamente:_ Quero ligar para Zoe e perguntar sobre a tigela._ Isto não mudará nada _ afirmou ele, com voz áspera.Mas ela não podia acreditar nisso. Se, pelo menos, provasse que Zoe não roubara a Tigela de Jade, isto mudaria alguma coisa.* * *Zoe riu._ O que, aquela velha tigela verde? Meu Deus, quer dizer que o tempo todo ele achou que eu a roubei?Mas sua voz a traiu._ Então, onde ela está? _ perguntou Sophie com firmeza, e Zoe riu de novo,  como ria quando era apanhada em alguma travessura._ Pense em Carta roubada, Soph, aquele conto de Poe _ provocou. Quando Sophie se recusou a entrar na brincadeira, respondeu, irritada: _ Está na cozinha do sheik. Na prateleira de cima, eu acho, atrás de algumas tigelas maiores. Creio que a governanta dele não é tão boa assim, se não a encontrou depois de mais de um ano._ Foi por isso que me mandou para cá?_ Confesso que estava um pouco preocupada com a tigela. Realmente não compreendi o quanto era valiosa até voltar para cá e pesquisar. Vale uma fortuna, e comecei a pensar que talvez a cozinha não fosse o lugar ideal para guardá-la. Mas não podia me arriscar indo eu mesma, não quando Ham está na situação em que está. Alguém poderia descobrir a história se nos visse juntos._ Oh, Zoe! _ reclamou Sophie, sem conseguir evitar._ Não diga que lamenta. Percebi sua conversinha particular com o sheik no meio da noite. Conte-me, você fez ele superar seus rígidos escrúpulos? Fez amor com você, pensando que era eu? Espero que tenha aprendido uma lição!

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_ Que lição? Por que você fez isto, Zoe?_ Ele e seu maldita moral _ respondeu a gêmea. _ Como podia saber que não devia ter falado de meu marido? Seu querido sheik praticamente me expulsou da cama. Nunca fui tão insultada na vida. Então, como foi com ele? Perdi algo inesquecível?

CAPÍTULO VINTE_ Você a jogou para fora da sua cama? _ perguntou Sophie, espantada. Sabia que nenhum homem jamais fizera isto._ Sua irmã exagera _ disse Sharif, sorrindo. _ Eu me lembro de que ela estava sentada no sofá e tirou os sapatos, dizendo calmamente que o marido os havia comprado e que não calçavam bem._ Oh!Estavam deitados lado a lado na cama de Sophie. O abajur projetava sobre eles um círculo luminoso. Nunca se sentira tão segura._ Zoe parecia não ter ideia de que o fato de ser casada faria diferença para mim e ficou muito zangada quando descobriu isso, ele disse. Tão zangada que, quando vi você na praia, pensei que havia voltado para me vender a tigela em troca dos meus princípios.Sophie riu. Provavelmente não estava muito longe do que Zoe imaginara fazer, mas naturalmente não podia... não com a carreira de Ham por um fio._ Ela teria sucesso se tivesse proposto isso a você? _ perguntou Sophie._ Não fiquei feliz quando descobri o quanto fiquei tentado _ admitiu Sharif._ E, no entanto, você me trouxe para cá._ Talvez porque tenha sido idiota e me iludi. Mas acho que, inconscientemente, sabia a verdade. Na primeira vez em que a beijei, meu coração insistia em dizer que você era inocente _ disse, gentilmente. A mão dele acariciou a face e o braço de Sophie, com um autocontrole tão intenso que o fez tremer. Ele dominara o desejo e seus olhos estavam mais negros do que antes. A emoção de Sharif a tocara no corpo e da alma. Ela tremia inteira, como se o chão faltasse sob os pés.._ No entanto, sabia que a verdade ia além das aparências. Decidi ficar atento. A intuição me dizia que você era aquela por quem esperei a vida toda, que me pertencia.Os lábios de Sophie desenharam um sorriso trêmulo._ Você estava com tanta raiva, tinha tanta suspeita, que pensei que meus sentimentos não significassem nada. Parecia não haver motivo para lhe contar a verdade. Mas esta noite….

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Ele a abraçava com força e ternura. De um modo que ela jamais poderia fugir._ Esta noite, mergulhei em seus olhos e descobri a verdade sobre você _ murmurou, os dedos brincando com um cacho de cabelo curto e brilhante de Sophie, como se enviassem ondas de energia para o corpo dela. A verdade estava lá desde o começo, esperando que eu a revelasse. Você não deu  indicação disto. Disse, “apenas mais uma noite”._ Disse isto para obrigá-la a confessar a verdade. Sabia que não faria amor comigo se fosse parte de uma mentira.Sophie sorriu, com ar sonhador, e se aninhou no corpo dele._ Como parte de uma mentira, não _ ela sussurrou, satisfeita ao ouvir o coração dele disparar.Ele se virou e a beijou. Sophie sentiu que se entregava deliciosamente... Mas ele recuou antes que repetissem o beijo._ Sophie, não vou pressionar você _ disse Sharif. _ Sei que precisa de tempo. Meu amor é certo e intenso, mas é natural que você queira ter certeza. Confiará em mim quando disser que esperarei você até se sentir mais segura?_ Confio em você, Sharif, de todo o coração _ afirmou, suavemente. _ Sorrindo, ela ergueu a mão para beijá-lo. _ E estou segura.* * * _ A tigela verde? _ perguntou a cozinheira Umm Abdullah, na manhã seguinte. _ Ah, sim! Tão bonita, nunca vi nada tão delicado! Era uma pena deixá-la ali, acumulando poeira._ O que você fez com ela? _ perguntou o sheik ._ Ora, é claro que a tirei para usá-la! É pequena demais para misturar molho, mas daqui posso admirá-la. Veja, é grande o suficiente para guardar uma cabeça de alho ou duas._ Sim, estou vendo _ disse Sharif._ É a coisa mais linda que já vi! Veja a rosa esculpida nela, senhor. Quase se pode sentir o perfume! Quando estou cozinhando, paro sempre para admirá-la. Sabe quem a modelou? Se vai levá-la, gostaria de pagar ao artesão para fazer outra para mim.* * *_ Você vai deixar Abdullah ficar com a tigela na cozinha? _ perguntou Sophie, surpresa._ Ela guarda o alho nela _ explicou Sharif delicadamente._ Mas você..._ Aprender lições importantes de onde menos se espera tem sido meu destino nos últimos tempos _ disse Sharif._ E que lição Umm Abdullah lhe ensinou?_ Que um olhar sincero sempre vê o valor das coisas, não importa o que

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as esconda. Agora, quando for à cozinha e vir a Tigela de Jade, isto me lembrará que a joia mais preciosa está  bem diante dos meus olhos.Os olhos dele  revelaram a Sophie a que joia se referia. Sophie riu com ternura, beijaram-se e o sorriso dela tocou o coração de Sharif.Fim