Vol.2 Sophie Jordan- Vanish

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Vanish

Sophie Jordan

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Para salvar a vida do garoto que ama, Jacinda fez o impensável: traiu

o segredo mais bem guardado de sua espécie. Agora ela precisa voltar

para a proteção do clã sabendo que pode nunca mais ver Will — e o

pior, porque a mente dele foi sombreada, as memórias de Will sobre

aquela fatídica noite e o porquê dela ter que fugir se foram.

De volta para casa, Jacinda é recebida com hostilidade e precisa se

esforçar para provar sua lealdade, para o seu bem e de sua família.

Entre os poucos que ainda falam com ela estão Cassian, o herdeiro que

sempre a quis, e sua irmã, Tamra, que foi transformada para sempre

por uma reviravolta do destino. Jacinda sabe que precisa esquecer Will

e seguir em frente — que se ele conseguir se lembrar e manter a

promessa de encontrá-la, só colocaria os dois em risco. No entanto, ela

se agarra à esperança de que algum dia eles ficarão juntos novamente.

Quando a oportunidade de seguir seu coração chega, ela vai arriscar

tudo por amor?

Na dramática sequência de Firelight, da autora best-seller Sophie

Jordan, o amor proibido queima mais ardente do que nunca.

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Algumas vezes eu sonho que estou caindo.

Claro, eu começo voando nesses sonhos. Porque é isso o que eu

faço. O que eu sou. O que eu amo.

Há algumas semanas atrás, eu teria dito que é a coisa que mais

amo nesse mundo, mas muita coisa mudou desde então. Tudo, na

verdade.

Nesses sonhos, eu estou correndo pelos céus, livre como eu

deveria ser. E então algo acontece, porque de repente estou descendo

em parafuso. Eu fico presa no ar, meus gritos comidos pelo vento

raivoso. Eu despenco. Uma humana sem asas. Somente uma garota,

de jeito nenhum um draki. Impotente. Perdida.

Eu me sinto desse jeito agora: eu estou caindo e eu não posso

fazer nada. Eu não posso parar nada disso. Eu estou presa no velho

pesadelo.

Eu sempre acordo antes de bater no chão. Isso tem sido minha

salvação. Só que esta noite eu não estou sonhando. Esta noite eu

bato no chão. E cada batida é tão dolorosa como eu esperava.

Eu descanso minhas bochechas contra o vidro gelado da janela e

observo a noite passar por mim. Enquanto Cassian dirige, meus olhos

tencionam através da escuridão imóvel, percorrendo sobre os metros

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de rochas e casas de estuque1, procurando por uma resposta, uma

razão para tudo que aconteceu.

O mundo parece prender a respiração enquanto nós diminuímos

para um sinal de pare. Meu olhar desvia para o céu escuro sobre nós.

Um profundo mar sem estrelas acenando um promissor santuário.

A voz de minha mãe se projeta para frente do banco de trás,

baixa e sussurrante, enquanto fala com Tamra, tentando obter uma

resposta dela. Eu afasto minha bochecha do vidro e olho por cima de

meu ombro. Tamra estremece nos braços da mamãe. Seus olhos

vagos encaram à frente, a pele de seu corpo pálida.

— Ela está bem? — eu pergunto de novo, porque eu preciso dizer

alguma coisa. Eu tenho que saber. Eu fiz isso com ela? Isso também é

minha culpa? — O que há de errado com ela?

Mãe franze sua sobrancelha e balança sua cabeça para mim

como se não devesse falar. Eu deixei as duas para baixo. Eu quebrei a

regra inquebrável. Eu revelei minha verdadeira forma para os

humanos, pior, caçadores, e todos nós vamos pagar por esse erro. O

conhecimento me impressiona, um peso esmagador que se afunda

profundamente em meu lugar. Eu olho para frente novamente,

tremendo incontrolavelmente. Eu cruzo meus braços prendendo

minhas mãos ao meu lado como se isso pudesse detê-las.

Cassian me alertou que haveria um acerto de contas por causa

do trabalho desta noite, e eu imagino que qualquer coisa que seja já

começou. Perdi Will. Tamra está doente ou em choque ou talvez algo

pior. Mamãe dificilmente pode olhar para mim. Cada respiração

minha é um sofrimento, os eventos da noite queimando dentro de

minhas pálpebras. Eu, desprendendo da minha pele humana e

manifestando em frente à família de Will. Meu voo desesperado pelo

ar crepitante e seco para alcançá-lo. Mas se eu não tivesse me

manifestado - não tivesse voado para o lado de Will - ele poderia estar

morto, e eu não podia suportar esse pensamento. Eu nunca veria Will

novamente, não importa sua promessa de me encontrar, mas ao

menos ele está vivo.

1 http://gazetaonline.globo.com/_midias/jpg/232785-4b61c7edc14be.jpg

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Cassian não diz nada ao meu lado. Ele falou tudo que precisava

para fazer mamãe entrar no carro conosco, para fazê-la entender que

voltar para a casa que fugimos era a única opção viável. Seus dedos

seguram firmes no volante, os nós dos dedos brancos. Eu duvido que

ele vá relaxar seu punho até que nós estivermos livres e longe de

Chaparral. Provavelmente não antes de nós estarmos salvos e de volta

ao clã. Salvos. Eu sufoquei um riso, ou poderia ser um soluço. Será

que eu me sentirei segura novamente?

A cidade passou voando, casas diminuindo à medida que nos

aproximamos da saída da cidade. Nós iríamos embora logo. Livre

desse deserto e dos caçadores. Livre de Will. Esse último pensamento

pinça fresco na ferida que já sangra em meu coração, mas não há

nada a se fazer sobre isso. Poderia existir algum futuro para nós? A

draki e um caçador de draki? Um caçador de draki com o sangue de

nossa espécie correndo em suas veias.

Essa é parte de tudo que ainda esbarra na minha cabeça, se

recusando a penetrar. Eu não posso fechar meus olhos sem ver os

fragmentos cintilantes de sangue púrpuro na noite. Como o meu.

Minha cabeça dói, lutando para aceitar essa verdade terrível. Não

importando o quão válida seja a explicação de Will, sem importar que

eu ainda o amo, isso não muda o fato de que o sangue roubado de

minha espécie pulse em suas veias.

Cassian exala lentamente à medida que deixamos os limites da

cidade.

— Bom, então é isso — minha mãe murmura com a distância

que cresce entre nós e Chaparral.

Eu viro e a encontro olhando para trás através da janela

traseira. Ela está deixando todas as suas esperanças de um futuro

melhor em Chaparral. Era onde estávamos fazendo um novo começo,

distante do clã. E agora estamos indo de volta para o meio deles.

— Desculpe-me, mãe — eu digo, não só porque eu deveria, mas

porque eu quero.

Mãe balança sua cabeça, abrindo sua boca para falar, mas nada

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sai.

— Nós temos um problema. — Cassian anuncia. Bem à frente,

vários carros bloqueiam a estrada, nos forçando a diminuir.

— São eles — eu me viro para proferir com os lábios

entorpecidos ao passo que Cassian se aproxima.

— Eles? — exige minha mãe. — Caçadores?

Eu dou um aceno duro. Caçadores. A família de Will.

Evidentes farois perfuram o escuro e iluminam o rosto de

Cassian. Seu olhar se movimenta para o espelho retrovisor e eu posso

dizer que ele está pensando em fazer o retorno, correndo para outra

direção. Mas é tarde demais para isso - um carro se move para

bloquear nossa fuga e várias pessoas ficam em frente ao nosso carro.

Cassian pisa no freio, suas mãos flexionando o volante, e eu sei que

ele está lutando contra o impulso de destruí-los. Eu procuro por um

vislumbre de Will, sentindo-o, sabendo que ele está aqui entre eles,

em algum lugar.

Vozes duras e cortantes gritam para nós sairmos do carro. Eu

fico parada, meus dedos quentes chamuscando em minhas próprias

pernas, apertando-as tão profundamente - como se eu estivesse

tentando alcançar meu draki enterrado debaixo de minha pele.

Um punho bate em nosso capô, e depois eu vejo - o contorno de

uma arma na escuridão.

O olhar de Cassian se encontra com o meu, comunicando o que

eu já sei. Nós temos que sobreviver. Mesmo que isso signifique fazer

somente o que nossa espécie pode fazer. Aquela única coisa que eu já

fiz e que nos colocou nessa confusão essa noite em primeiro lugar. E

por que não? Não é que nós não podemos revelar mais o nosso

segredo.

Acenando, eu me movimento, saindo do carro para encarar

nossos inimigos

O primo de Will, Xander, dá um passo à frente empurrando seu

rosto presunçoso para mim. — Você realmente achou que conseguiria

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escapar?

Uma dor forte enche meu peito, com a raiva que esses monstros

me fizeram passar essa noite. Cinzas se reúnem no fundo de minha

garganta, e eu deixo a queimadura picante crescer, me preparando

para qualquer coisa que vier.

Um caçador bate um punho na janela de trás, gritando com

minha mãe e Tamra. — Saiam do carro!

Mamãe sai do carro com toda a dignidade que ela consegue

reunir, trazendo Tamra com ela. Minha irmã ficou ainda mais pálida

desde o Big Rock; sua respiração ofegante raspa o ar. Seus olhos

castanhos âmbar, igual aos meus, parecem nublados, quase

transparentes enquanto ela olha o espaço. Seus lábios afastados, mas

nenhuma palavra escapa. Eu me aproximo e coloco uma mão,

ajudando a mãe a segurá-la. Tam está gelada ao toque, sua pele

quase não é uma pele. Mármore frio.

Cassian encara Xander, majestoso como o príncipe que ele

essencialmente é. Lampejos de luz obscurecem o preto púrpuro dos

fios de seus cabelos.

Eu molho meus lábios, imaginando como eu posso convencer

Xander que ele não me viu manifestar. — O que você quer?

O primo de Will levanta um dedo em minha direção. — Nós

vamos começar com você - sendo você o que diabos seja.

— Fique longe dela — comanda Cassian.

A atenção de Xander muda para Cassian. — E depois nós vamos

para você, garotão... e como que você caiu daquele penhasco com Will

e não teve nenhum arranhão.

— Onde está o Will? — eu deixo escapar. Eu preciso saber.

Xander empurra um polegar para um dos carros das

proximidades. — Desmaiado lá trás. — Eu olho de soslaio na

escuridão e noto uma figura caída na parte de trás de um carro. Will.

Tão perto, mas ele poderia muito bem estar a um oceano de distância.

Quando o vi da última vez, ele estava prometendo me encontrar de

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novo. Ele estava machucado, mas consciente. Eu tremo só de pensar

o que sua própria família pode ter feito para mudar isso.

— Ele precisa de um médico — eu digo.

— Mais tarde. Depois de eu lidar com vocês dois.

— Olhe — Cassian começa, se colocando a minha frente. — Eu

não sei o que você acha.

— Eu acho que você precisa se calar. Sou eu quem falo por aqui!

— Xander agarra seus ombros. Grande erro. Cassian resmunga, sua

pele piscando como um carvão brilhante. Há uma onda de movimento

e em seguida Xander está de costas no chão, sua expressão tão

surpresa quanto à outra meia dúzia de pessoas ao nosso redor.

— Peguem-no! — grita Xander.

Os outros se convergem para Cassian. Eu grito, vislumbrando o

rosto de Cassian em meio aos caçadores. Eu me encolho ao som das

batidas dos punhos e avanço em sua direção, determinada a ajudá-lo,

mas mãos me seguram.

Um rosnado animal estrondeia no ar. É Cassian. Vários

caçadores o seguram. Angus sorri enquanto deixa suas botas em suas

costas. Com a sua bochecha pressionada no asfalto. O olhar de

Cassian se emparelha ao meu. Seus olhos escuros tremem e as

pupilas diluem em fendas verticais.

Vapor de ar passa pelos meus lábios, mas eu o reprimo e sacudo

minha cabeça, convencendo-o a adiar, esperar, ainda acreditando, na

esperança de poder convencê-los de uma saída. Que ele não precisa

se revelar como um draki, também. Talvez eu ainda possa protegê-lo.

Talvez ele possa sair daqui com mamãe e Tamra.

Um beijo frio de uma arma cava minhas costelas e eu congelo.

Minha mãe grita e eu levanto minha mão impedindo-a de fazer

qualquer coisa tola para me ajudar. — Fique com Tamra, mãe. Ela

precisa de você!

Um olhar escuro de Xander perambula em cima de mim com

desdém. — Eu sei o que eu vi. Uma aberração com asas.

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É uma batalha não deixar o medo me engolir em uma lava de

fogo - um choque eu não me transformar na minha pele de draki

neste momento.

— Jacinda — Cassian grita meu nome, me relembrando de sua

luta.

Xander continua falando. — Não se preocupe, eu não vou te

matar. É somente uma arma tranquilizante. Nós iremos mantê-la viva

para descobrir que diabos é você.

Agora eles estão batendo em Cassian enquanto ele luta para se

livrar.

— Pare! — eu empurro, passando Xander, mas Angus me

bloqueia. Eu assisto em agonia enquanto eles continuam a chutá-lo.

— Pare! Por favor, pare! — meu coração se torce. São eles ou

nós.

Fogo estoura em meus contratantes pulmões e sobe em minha

traqueia.

Eu não posso deixar eles nos pegarem.

Antes que eu possa liberar minha respiração ardente, uma

súbita rajada de frio rodopia ao meu redor. Um frio anormal. Eu

tremo contra a mudança rápida de temperatura.

Enquanto eu giro ao meu redor, minha garganta contrai com a

visão de Tamra. Ela está sozinha, mamãe olhando com seus olhos

arregalados a vários metros atrás dela.

O rosto de minha irmã é um pálido morto, seus olhos não mais

os seus. Não como eu. O gelo cinza esfria meu coração. Um ar rola

para fora dela como vapor. Exceto que é gelado. A névoa fria cresce,

incha em uma nuvem sempre em expansão em torno de nós.

Ela arqueia seu corpo em uma onda sinuosa, dilacerando sua

blusa, rasgando-a em um movimento feroz com suas mãos. Mãos que

de repente piscam e brilham com reflexos perolados brilhantes.

Eu somente vi tal cor em uma outra alma. Outro draki. Nidia: o

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shader do nosso clã. Eu vejo como as raízes do cabelo de Tamra se

transformam em um branco prateado que sangra pelo resto de seu

cabelo.

O vapor se intensifica, uma névoa de refrigeração que me faz

lembrar casa, do nevoeiro que cobre o município em um cobertor

fresco. Blindando-nos dos intrusos, de qualquer um que nos caçaria e

nos destruiria; obscurecendo a mente daqueles que tropeçam em

nosso santuário.

— Tamra! — eu a alcanço, mas Cassian já está lá, livre de seus

agressores, seus fortes braços me puxando de volta.

— Deixe-a — ele diz.

Eu olho em seu rosto, reconhecendo uma satisfação profunda e

primordial brilhando em seus olhos. Ele está... Contente. Feliz com o

que está acontecendo. O que não pode estar acontecendo. Tamra

nunca se manifestou antes. Como isso pode estar acontecendo agora?

Em um instante em que eu desvio o olhar, está feito. Até o

momento em que olho para Tamra, ela já se elevou vários metros do

chão. Suas asas finas batem em suas costas, as pontas irregulares

espreitam acima de seus ombros prateados.

— Tamra. — Eu respiro, absorvendo a visão dela, lidando com

essa nova realidade. Minha irmã é um draki. Depois de tanto tempo.

Depois de pensar que nunca teríamos isso em comum. Mais do que

isso - ela é uma shader.

Seu olhar estranhamente calmo varre sobre todos nós na

estrada. Como se ela soubesse exatamente o que fazer. E eu imagino

que ela saiba. É um instinto.

Eu não posso me mover à medida que eu a observo, tão bonita

quanto aterrorizante, com sua pele tremeluzente, seu cabelo

esvaziado de qualquer pigmento. Ela ergue seus braços magros, névoa

percorre sobre nós como uma corrida quente de fumaça. Tão densa

que eu mal posso ver minha própria mão ante meu rosto. Os

caçadores estão completamente escondidos, mas eu os escuto

enquanto eles chamam e gritam, esbarrando uns nos outros,

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tossindo, caindo na estrada como vários dominós. Primeiro um,

depois outro e outro, então nada.

Eu me tenciono por um barulho no silêncio sepulcral enquanto a

névoa de Tamra faz o que ela supostamente tem que fazer e sombreia,

mascara, encoberta... tudo no seu caminho, todos os humanos

próximos. Will.

Eu me livro de Cassian e luto desesperadamente através do

vapor frio que anuvia tanto o ar quanto a mente. Caçadores

espalhados aos meus pés, abaixados pela obra de Tamra. Eu não vejo

nada através da extensão da névoa; meus braços balançam

descontroladamente dentre o beijo frio da neblina , tateando,

buscando o carro onde Will está.

Então eu o vejo caído no banco de trás do carro. A porta do

motorista aberta, escancarada, deixando a neblina entrar. A névoa de

fumaça envolve-se em torno de seu sono de uma forma quase terna.

Por um momento eu não consigo me mover. Apenas olhar,

estrangulada na minha própria respiração. Mesmo machucado e

surrado, ele é lindo.

Com essa ação meus membros se incendeiam. Eu abro a porta

de trás e o alcanço. Meus dedos trêmulos deslizam pelo seu rosto e

alisam seus fios cor de mel, tirando de sua testa. Como seda contra a

minha mão.

Eu estremeço enquanto Cassian chama meu nome. — Jacinda!

Nós temos que ir! Agora!

E então ele me acha, me arrasta para longe em direção ao nosso

carro. Sua outra mão agarra Tamra. Ele a empurra para mamãe. Seu

novo corpo brilhante ilumina a noite no deserto, nos mostrando um

caminho através da grande névoa ondulante.

Em breve ela irá desaparecer. Quando Tamra tiver ido embora.

Quando nós escaparmos. A névoa irá dissipar. E com isso, também a

memória dos caçadores.

Uma vez eu sugeri a Tamra que seu talento só não se

manifestara ainda. Que ela teria somente um início tardio. Mesmo

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que eu não acreditasse nisso, eu disse a ela. Para dar esperança.

Mesmo que, no fundo, como o resto do clã, eu pensava que ela era

uma draki extinta. Em vez disso, ela é uma das mais raras e

valorizadas de nossa espécie. Assim como eu.

Atrás do volante, Cassian liga o motor e então estamos nos

lançando na auto-estrada. Eu olho para trás de nós através do vidro

traseiro. Não, eu não posso pensar nele agora - dói demais.

Mudo meu olhar de direção, passando sobre a versão pálida de

minha irmã, e eu tenho que desviar o olhar. Alarmada com a visão de

minha própria irmã gêmea, agora tão estranha para mim como este

deserto.

Eu respiro estremecido e profundamente. Nós estamos indo para

casa, para as montanhas e a névoa e tudo me é familiar. O único

lugar seguro para ser quem eu sou. Eu estou voltando para o clã.

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Omunicípio encoberto do nosso clã se eleva quase

magicamente no ar da noite nebulosa. A estreita estrada de terra se

abre mais ampla entre as imponentes, entrelaçadas árvores e lá está

ele. Cassian suspira ao meu lado e o aperto no meu peito se alivia um

pouco. Casa.

No início parece simplesmente um imponente emaranhado de

videira e amora, mas em uma inspeção mais próxima você pode ver

que isso é realmente um muro. Atrás dele, o meu mundo se esconde

em segurança. O único lugar que sempre pensei que poderia viver.

Pelo menos até antes de Will.

Um guarda está de plantão na entrada arqueada. A névoa de

Nidia flui em um vapor espesso ao seu redor. Reconheço Ludo de

imediato. Um dos bajuladores de Severin, um draki Onyx que gosta

de exibir seus músculos. Seus olhos reviram quando nos vê. Sem

uma palavra ele se desloca para o município.

Um guarda é uma visão peculiar. A casa de Nidia é posicionada

na entrada para um propósito - de modo que ela pode marcar a

chegada e saída de qualquer um. Nós a temos, e as guaritas. Um

guarda é uma precaução adicional, e eu me pergunto a razão.

Fizemos isso? Será que a nossa partida não sancionada desencadeou

uma hiper vigilância em segurança?

Cassian estaciona na frente da casa de Nidia. Ela já está do lado

de fora da porta, esperando como se ela sentisse nossa chegada. E eu

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acredito que ela tenha. Esse é seu trabalho no final das contas.

Ela está parada tão serenamente; suas mãos entrelaçadas em

sua cintura. Os fios grossos de seus cabelos prateados pairam sobre

um dos seus ombros. Cabelo quase idêntico ao de Tamra. Meu olhar

muda involuntariamente para a minha irmã no banco de trás, agora

também uma shader. Mamãe toca em um cacho do seu cabelo como

se verificasse para ver se era real. Eu a assisti fazendo isso várias

vezes agora.

— Você voltou para casa, para nós — murmura Nidia enquanto

saio do carro. O sorriso dos seus lábios não condiz com seus olhos, e

eu relembro a noite que escapamos para longe do clã - sua sombra na

janela e minha certeza de que ela nos deixou ir, nos deixando

escapar. — Eu sabia que você iria. Sabia que para você ficar, você

teria que ir, desta forma você aprenderia que este é o lugar onde

pertence.

Eu absorvo o meu redor, minha pele saboreando o ar molhado -

e acho que ela está certa. Meu corpo arrepia pelo sentimento

estimulante da terra abaixo de mim. Aqui é meu lar. Eu examino as

ruas involuntariamente procurando por Az, ansiosa para ver minha

melhor amiga, mas ninguém está do lado de fora.

Mamãe envolve um braço ao redor de Tamra como proteção à

medida que elas saem do carro. Nidia se movimenta para frente para

ajudá-la. Minha irmã mal pode andar. Seus pés deslizam ao chão

entre elas.

— Então você finalmente decidiu se mostrar, hein? — Nidia

acaricia uma mecha dos cabelos prateados tirando das bochechas

pálidas de Tamra. — Considerando que isso seria somente uma

questão de tempo. Gêmeos é uma raridade para a nossa espécie - e eu

sabia que Jacinda não poderia ter um talento e você não.

Cassian deu a minha irmã um extenso olhar, uma garota que ele

- e todo o clã - repudiaram como sem valor. Eu posso somente supor

seus pensamentos. Agora, com um dos mais poderosos e desejados

talentos dentre nossa espécie, ela representa a segurança futura de

nosso clã.

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Como se sentisse meu olhar, Cassian olha em minha direção. Eu

mudo minha atenção para os outros e os sigo para dentro.

Dentro da casa, o cheiro familiar me invade. O prolongado aroma de

peixe frito se mistura com o confortante odor de ervas secas da janela

da cozinha. Um simples calor ondula através de mim, e eu me livro da

sensação, me lembrando que este é um regresso tenso a casa. Eu

ainda tenho Severin e os anciões para enfrentar. Quando eu os deixei

eles estavam à beira de ordenar o corte de minhas asas. Isso não é

algo que eu possa esquecer.

— Aqui está. Você não está com frio? Eu me lembro dos dias

iniciais da minha primeira manifestação. Eu nunca imaginei que eu

fosse sentir o calor de novo. — Nidia coloca sua mão delicada e cheia

de veias contra a testa de Tamra. — Vamos pegar para você um chá

de raiz. Líquidos a ajudarão se restaurar. E descanse. — Ela se move

para dentro da cozinha e coloca um líquido fumegante de uma

chaleira em uma caneca.

— Restaurar-me da maneira que eu costumava ser? — Tamra

fala estridente do sofá, com a voz enferrujada pelo desuso. Estas

palavras são mais do que ela disse uma vez que deixamos Chaparral.

Eu libero uma respiração irregular, aliviada por ouvi-la falar

novamente. Boba talvez, mas levanta meu coração, feliz em saber que,

pelo menos, esta parte dela está inalterada.

Nidia segura a caneca fumegante aos lábios de Tamra. — É isso

que você quer?

Tamra tem o olhar afiado para mim, Cassian, e depois para mãe,

seus olhos gelados cauteloso. — Eu não sei — ela sussurra antes de

tomar um gole da caneca e estremecer.

— Muito quente? — Nidia vagueia a mão sobre a caneca,

enviando uma névoa de resfriamento sobre o chá quente.

Mamãe se abaixa ao lado de Tamra, sentando perto, quase como

se quisesse protegê-la. Seu olhar trava em Cassian. — E agora? —

sua voz desafiante, como se ele fosse a razão, e não eu, de nós

estarmos de volta. — Eles estarão aqui a qualquer momento. O que

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irá acontecer? Você nos verá sermos punidas?

Como o filho do alfa de nosso clã, Cassian carrega uma

influência significativa. Ele é o próximo na linha, primeiro a assumir o

controle do clã.

Afundada na cadeira, eu observo seu rosto. Alguma coisa vacila

em seus olhos negros e suaves. — Eu prometi a Jacinda que iria

protegê-la. Eu farei o mesmo para Tamra. E você.

Mamãe ri então. O som ressoa profundo e seco. — Obrigada por

me colocar nisso, mas eu não acho nem por um momento que você se

importe comigo.

— Mãe — eu começo a dizer, mas ela me interrrompe.

— E está tudo bem. Enquanto eu tiver sua palavra que você

manterá Jacinda e Tamra a salvo. Elas são tudo que eu me importo.

— Eu dou minha palavra. Eu farei tudo que estiver em meu

poder para proteger suas filhas.

Ela acena com a cabeça. — Eu espero que sua palavra seja

suficiente. — Olhando novamente em direção a Tamra, ela me parece

cheia de arrependimento, e eu sei que ela está lamentando a perda da

sua única filha humana.

Eu me viro, escorrego uma mão para baixo da minha coxa, e a

prendo entre eu e o assento, repentinamente incômoda com a certeza

que ela lamenta a mim também. Que ela o tem feito há anos.

É uma coisa difícil, ouvir minha mãe negociar e pleitear nossa

segurança - por mim. Porque eu estraguei tudo. A memória da minha

última noite com Will se repete em minha cabeça. O clã tem todo o

direito de estar com raiva de mim. Eu quase nos matei, a todos nós, a

todos do clã - e por um garoto que eu conheci somente há algumas

semanas. Se não fosse pela névoa de Tamra, nosso segredo estaria em

mãos inimigas - nossa maior defesa teria acabado.

Um banho de água fria nas minhas costas desliza pelo meu

couro cabeludo com a inesperada realização impressa em mim. Will

não irá se lembrar. Mesmo inconsciente no carro, ele estava bem

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próximo da névoa. Ele deve ter sido sombreado. Eu esesperadamente

espero que alguma parte de nossa última noite juntos se mantenha

com ele, suficiente para ele saber que eu simplesmente não sumi de

sua vida. Ele tem que se lembrar porque fui embora. Ele deve.

Eu ainda estou tremendo, lutando com a ideia de que Will não

irá se lembrar do que aconteceu comigo, quando os anciões chegam,

entrando à pequena casa de Nidia sem bater. Eles enchem a sala de

estar, aglomerando o pequeno espaço com suas formas muito altas.

— Você voltou. — Severin declara, e eu me sobresalto com o som

profundo de sua voz, mesmo quando eu espero por isso.

Desde que nós fugimos de Chaparral, eu estive ouvindo-o em

minha cabeça, imaginando sua voz ressoando em meus ouvidos

enquanto ele me sentencia com o corte de minhas asas pelos meus

crimes. É com uma aborrecida aceitação que eu o enfrento.

Vários anciões aparecem gradualmente atrás de Severin, suas

posturas iguais pelas suas rigidezes. Eles não vestem nada especial

para marcar seus status. Suas influências inerentes, as

características educadas em impassibilidade, são o que os

identificam. Não me lembro de uma época em que eu não soube como

escolher um ancião do resto de nós.

Severin nos verifica com um amplo movimento e seu olhar se

detém sobre Tamra. Seus olhos cintilam, o mais básico movimento, o

único sinal exterior que ele demonstra que está surpreso com a

mudança de sua aparência. Ele a examina, não deixando passar

nada. Não os olhos cinza prateados. Não o choque perolado de seu

cabelo. É a mesma forma que ele olhou para mim por tanto tempo.

Estou apreensiva com o impulso louco de me mover entre eles, para

bloqueá-la de seu olhar perfurante.

— Tamra. — Ele respira o seu nome como se ele estivesse

provando-o pela primeira vez. Ele dá um passo perto para descansar

sua mão sobre seu ombro. Eu olho para sua mão sobre minha irmã e

algo agita em meu estômago. — Você se manifestou. Como é

maravilhoso.

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— Então, eu acho que ela importa para você agora. — É tarde

demais para retirar as palavras desafiadoras de volta. Rasgam-se de

meus lábios com a velocidade de tiros.

Severin olha para mim. Seus olhos frios, molhados com a

escuridão da noite. — Tudo - todo mundo - neste clã é importante

para mim, Jacinda. — Sua mão possessiva ainda permanece em

Tamra enquanto ele fala, e eu quero arrancá-la de cima dela.

Sim. Alguns de nós só importa mais.

— É muito injusto de você sugerir algo diferente — ele

acrescenta.

Eu resisto ao impulso de me pressionar perto de Cassian,

odiando o fato de me aparentar intimidada enquanto seu pai me

encara. Eu seguro o meu chão e mantenho os meus olhos travados

em Severin. Meu coração dói, uma massa torcida no meu peito. Eu

traí a minha espécie. Eu perdi Will. Deixe-os fazer o seu pior.

Um canto da boca de Severin se curva para cima com a lenta

ameaça. — É bom ter você de volta, Jacinda.

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Eu estou detida no meu antigo quarto como uma prisioneira.

Os anciões conduziram o caminho e me seguiram pelas costas. Não

parece importante eu ter voltado voluntariamente. Cassian mostrou

esse ponto ao falar com eles. Ele disse mais de uma vez. Mas somente

é importante que eu tenha fugido que eu tive a coragem de escapar -

uma conveniência valiosa para quem teve a audácia de fugir quando o

clã tinha planos específicos para mim.

Entrando na casa de minha infância - o sentimento é estranho.

O espaço parece ser menor, mais restrito e eu fico com raiva de mim

mesma. Essa casa já foi suficiente antes. Eu respiro o ar envelhecido.

Provavelmente ninguém esteve aqui desde que fugimos no meio da

noite.

Eu encaro o sofá, a almofada do centro com um espaço

permanente. É o lugar de Tamra, seu santuário. Marginalizada pelo

clã como um draki extinto, ela se perdia por horas na frente da

televisão. Parece errado aqui sem ela, mas eu entendo que tem que

ser desse jeito por agora. Severin ordenou Tamra ficar com Nidia.

Mamãe não discutiu, e eu sei que ela pensa que outra shader irá

saber melhor como tomar conta de Tamra durante a adaptação de

seu talento.

— Vocês vão nos colocar para dentro também? — mamãe

estoura com os anciões que se prolongam dentro de nossa casa. Seus

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21

rostos, que eram tão familiares e inofensivos comigo à medida que

crescia, observam-me com condenação.

Lentamente, eles viram e saem.

— Você viu Cassian saindo com Severin? — mamãe pergunta,

correndo para a janela. Eu aceno enquanto ela divide as cortinas. —

Com esperança ele irá persuadi-lo de não... nos punir tão duramente

por termos partido.

— Sim. — Relembrando o encanto de Severin sobre Tamra, eu

acho que há uma possibilidade eminente dele ser tolerante conosco.

Com um resmungo, mamãe deixa as cortinas caírem de volta ao

lugar. — Dois deles ainda estão lá fora.

Eu olho para fora da janela e espio os dois anciões parados em

nossa porta da frente. — Eles não parecem ir embora nas próximas

horas. Acho que eles querem garantir que nós não fujamos

novamente.

— Tamra está com a Nidia — mamãe diz como se isso fosse

razão suficiente de nós ficarmos onde estamos. E é. Mesmo se eu

quisesse deixar o clã, eu nunca iria sem a minha irmã. Especialmente

agora. Meu peito de repente se aperta com o pensamento do que ela

deve estar passando. Ela deve estar tão confusa, tão... Perdida.

— Eu nunca iria embora sem Tamra. — Mamãe diz repetindo

meus pensamentos. Seu olhar exaltado dispara para mim como se eu

estivesse implicado que deveríamos. Eu desvio o olhar, para baixo em

direção as minhas mãos, atrás para a janela, qualquer lugar sem ser

para ela. Eu não quero que ela veja que eu sei a outra coisa que ela

não está dizendo. Que eu compreendo o que seu olhar raivoso me diz.

Mas eu iria embora sem você.

Talvez eu não esteja sendo justa. Talvez seja a minha culpa e ela

não se sente dessa maneira.

Mamãe suspira, e eu a olho de novo, observando enquanto ela

tira suas mãos de seus cabelos. Tem alguns fios grisalhos na massa

de seus cabelos ondulados. Um início. — Eu não acredito que nós

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estamos de volta aqui — ela resmunga. — Bem onde nós começamos.

Pior que antes.

Eu me encolho, sentindo isso como um golpe contra mim.

Porque é minha culpa nós estarmos de volta em casa. Tudo isso é

minha culpa. Eu sei disso. E ela também.

— Eu estou cansada — digo. Não é uma mentira. Eu não acho

que eu tenha dormido desde que deixamos Chaparral, meus

pensamentos muito distorcidos com tudo que aconteceu. Em todos os

meus erros colossais. Em Will - imaginando onde ele está, o que ele

está fazendo, pensando, lembrando. Ou ainda, falhando em lembrar.

Eu me movo em direção ao meu quarto, me sentindo mais velha

do que jamais senti.

— Jacinda.

Eu paro e olho sobre meu ombro para a direção do som do meu

nome. O rosto de minha mãe é indecifrável, moldado por sombras. —

Você está... — eu a escuto tomar fôlego antes de continuar. — Aquele

garoto. Will

— O quê que tem ele? — mesmo que Will seja a última coisa que

queira falar agora, eu devo respostas a ela. Mesmo que isso signifique

mexer em uma ferida aberta.

— Você será capaz de esquecê-lo? — o toque de esperança em

sua voz é inconfundível.

Meus pensamentos se voltam para o Big Rock. À visão de Will

descendo a encosta rochosa em linha reta, se agarrando na tarde da

noite. Não havia nenhuma escolha. Eu tive que me manifestar. Eu

tive que salvá-lo. Mesmo que os caçadores me testemunhassem

fazendo.

Eu não tive escolha naquela ocasião. E eu tenho uma escolha

agora. — Eu tenho que esquecer — eu respondo.

O olhar âmbar da mãe brilha com o conhecimento. — Mas você

pode?

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23

Dessa vez eu não respondo. Porque as palavras não significam

nada. Eu terei que mostrar a ela, provar que ela pode confiar em mim

novamente. Provar a todos.

Voltando, eu continuo em direção ao meu quarto, passando por

fotos emolduradas da família que um dia fomos. Completa com um

bonito pai e uma mãe sorridente e duas irmãs felizes que nunca

imaginaram o quão diferentes poderiam ser. Como poderíamos saber

a realidade que estava nos esperando?

Chutando meus sapatos, eu mudo para uma velha camiseta e

shorts da minha gaveta da cômoda. Meus olhos quase não

vislumbram o brilho das estrelas que mancham o teto antes das

minhas pálpebras se fecharem.

Parece que foi somente há alguns minutos e alguém me sacode

me tirando do confortável abraço do sono.

— Jacinda! Acorde!

Eu coloco o travesseiro em minha cabeça e espio o vulto de Az.

Emocionada como eu estou em vê-la, eu preferiria puxar o travesseiro

de volta a minha cabeça e afundar de novo para meu sono, onde a

culpa e tristeza não pode me encontrar.

— Az — eu esfrego o canto dos meus olhos sonolentos e sujos —

Como você conseguiu entrar aqui?

— Meu tio Kel está em serviço na sua porta da frente. Ele me

deixou entrar.

Isso mesmo. O tio de Az era um dos anciões que me encaravam

como se eu fosse algum tipo de criminosa. E eu acho que eu sou. Eu

estou presa dentro de casa, no final das contas.

— Bom te ver — eu resmungo cansada.

— Bom te ver? — ela me bate com o travesseiro. — Isso é tudo

que você pode dizer depois de me abandonar e me deixar aqui sozinha

enquanto você fugia para quem sabe onde?

— Mamãe foi meio que insistente. — Agora não era a hora de

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explicar porque eu fui embora - o que o clã planejou para mim. Talvez

ainda estivessem.

Então eu me lembro que Az estava comigo naquela manhã em

que eu quase fui capturada por Will e sua família. Nós duas

quebramos as regras sagradas por escapulirmos da nossa área para

voarmos na luz do dia. Eu me sento, encaro-a com preocupação,

olhando-a completamente. — Você não ficou em problemas, ficou?

Por sair escondido daqui comigo?

Az rola seus olhos. — Eles mal pouparam para mim um

pensamento depois que acordaram e descobriram que você tinha ido.

A não ser me interrogar sobre isso.

Eu exalo e me deixo cair de costas na cama, aliviada. Pelo menos

eu não tenho isso em minha consciência também.

Az empurra uma longa mecha de seus cabelos negros com listas

azuis do ombro e se inclina em minha direção, seus olhos brilhando

de emoção. — Você não tem ideia de como tem sido desde que você se

foi. Porque você se foi!

Eu me rolo e abraço o travesseiro. — Desculpe-me, Az. —

Aparentemente minha consciência não estava totalmente isenta.

Reconheço que eu pensei pouco em Az enquanto estive fora. Eu tinha

bastante para me preocupar tentando passar por todos os dias em

Chaparral.

Um cansado suspiro sobe de dentro de mim. Desculpar-me

parece ser tudo que faço hoje em dia.

Az inala. — Bem, pelo menos você está em casa. Talvez as coisas

voltem ao normal agora.

Eu penso em Will e em como eu traí minha própria espécie por

ele, em minha irmã e em como ela deve se sentir perdida, nos anciões

parados de guarda na minha porta. Eu duvido que tudo algum dia

volte ao normal de novo. E ainda, por tudo isso, eu estou aliviada em

estar onde meu draki possa florescer.

— Tem sido realmente bem ruim por aqui. Severin impôs toque

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de recolher. E ele aumentou o controle no nosso tempo de recreação!

Você pode acreditar? Nós temos a permissão de jogar airball2 uma vez

por semana. Uma vez! Tem sido somente escola e trabalho, escola e

trabalho. Ele é um ditador!

Isso é tudo por minha causa? Por que a mamãe nos levou e

fugiu? Eles estavam preocupados que outros fizessem o mesmo?

— Pelo menos nós ainda podemos voar — ela resmunga. — Não

sei o que eu faria sem isso. Ainda que em grupos de voos agendados,

naturalmente. Isso não mudou. Mas ele limitou nosso horário no ar.

— Você tem visto Cassian? — eu pergunto.

Az levanta uma elegante sobrancelha. — Desde quando você fica

de olho nele?

— Desde que foi ele quem nos achou e nos trouxe de volta.

— Cassian foi ao seu encalço? Foi onde ele estava esse tempo

todo? O boato era que ele estava fazendo seu tour. — Ela levemente

ri. — Cara, oh, cara, ele ainda está mal por você.

— Não por mim — corrijo rapidamente. — Ele não está mal por

mim. Se ele algum dia realmente me quis...

— Se?

Eu a encaro e continuo. — Se ele realmente me quis é somente

porque eu sou a que respira fogo do clã. — Uma conveniência, a

melhor arma do clã. Mas então, não mais. Isso mudou. Agora temos

Tamra. Tamra, que sempre ansiou por Cassian. Talvez ele finalmente

retorne com seus sentimentos.

Esperança enche meu peito com a possibilidade. E alguma outra

emoção. Alguma coisa que não consigo identificar. Alguma coisa que

eu nunca senti antes.

— Qualquer que for a razão, toda a garota desse clã mataria

para ter Cassian olhando para ela do jeito que ele olha para você. —

Ela amarra a cara e se arremessa de costas na minha cama. — Talvez

2 Algum jogo aéreo, jogado no ar, voando

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até mesmo eu.

— Você? — eu pisco.

— Sim. Não se preocupe. Isso não é um caminho para culpa. Eu

nunca pensei de verdade que tinha uma chance. Ninguém pensou. —

Ela pisca os olhos para mim. — Não com você por perto.

Eu suspiro. Ela soa muito parecida com Tam. A velha Tam.

Aquela que por tanto tempo quis a atenção de Cassian e aceitação do

clã. Aquela que observava pelos cantos ansiosamente enquanto eu

conseguia ambos. Até nós nos mudarmos para Chaparral e ela

encontrar uma nova vida lá. A qual tirei dela na noite em que

mergulhei do penhasco atrás de um caçador de draki.

Az dá uma olhada em volta como se ela tivesse escutado meus

pensamentos. — Onde está Tamra?

— Você quer dizer que não ouviu?

— Ouviu o quê?

— Ela está com Nidia. — Meus lábios se torcem em um sorriso

mesmo que meu estômago me dê uma guinada nauseante na

reviravolta que certamente virá, agora que minha irmã está no

caminho de se tornar a próxima shader do clã. — Se recuperando.

— Recuperando de quê?

— Tamra se manifestou. Ela é uma shader.

Os olhos de Az reviram-se. — Sem chance! — ela assobia por

seus dentes e arranca de seus lábios. — Acho que você não é mais o

único prêmio por aqui então.

— Acho que não — eu murmuro, sem saber inesperadamente se

isso é uma coisa boa ou ruim. Eu sempre quis ser uma típica draki.

Não extraordinária. Nada de a grande respira-fogo do clã sobre o

constante olhar minucioso e pressão. Agora eu aprecio que a minha

singularidade deve ser a única coisa que me mantêm segura. Mas eu

também sei que a nova descoberta do talento de Tamra significa que o

clã irá nos manter ambas mais firmemente presas.

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Az continua. — Imagino se Cassian vai dar uma segunda olhada

agora.

O chão range me alertando da presença de outra pessoa. Eu

olho para cima, meu rosto se tornando quente pela possibilidade da

mãe ter ouvido muito da nossa conversa. Só que não é minha mãe. É

pior.

O calor desce pelo meu pescoço. — Como você chegou até aqui?

— eu exijo, sabendo que mamãe não o deixaria entrar no meu quarto.

Pelo menos não sem me avisar.

Cassian olha para mim atentamente, seus olhos mais pretos do

que púrpuro neste momento. O púrpuro só se mostra quando ele está

emocionado. Uma raridade é o que parece.

— Como você chegou até aqui? — eu repito. E então eu percebo

que é uma questão idiota. Ele é um deles. Um dos meus captores. O

futuro líder deste clã, o príncipe pode ir e vir quando quiser. — Onde

está minha mãe? — eu pergunto, esforçando um vislumbre além de

sua grande estrutura.

— Conversando com meu pai.

Minha pele se arrepia com isso. Severin e minha mãe nunca

foram uma boa combinação. Eu luto com o desejo de sair rápido do

quarto, para achar a mãe e a proteger. Na verdade é ridículo. Mamãe

que é a grande protetora - sempre cuidando de mim. Mesmo quando

não quero que ela o faça.

Então eu fico onde estou, ansiando para ouvir o que Cassian

veio dizer. Pelo menos eu espero que ele me diga o que está

acontecendo. O que vai acontecer comigo. Eu preferia ouvir por ele a

Severin. Desde o Big Rock, nós estamos nisso juntos. Eu tenho que

acreditar nisso.

Ele olha para Az intencionalmente, como se esperasse que ela

fosse embora. Para que eu fique sozinha com ele? Não obrigada. Eu

deslizo para perto dela na cama. Seu olhar se estreita. Mensagem

recebida.

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— Bem? Você falou com seu pai. Qual é o veredicto? — eu

respiro profundamente, pronta para acabar com a agonia e descobrir

se vou ou não ter que sofrer o corte das asas. Será que Severin sabe

que eu me revelei para os caçadores? Cassian contou a ele sobre isso?

Minha pele fica espinhosamente quente com a específica ideia. Sem

chance de a mãe ter se voluntariado com essa informação.

— Tudo vai ficar bem, Jacinda.

Eu dobro minha cabeça. — Então eu não vou ser punida?

— Eu os convenci que você quis voltar. Eu disse que você

ansiava voltar para a vida no clã. Que você irá se comportar e ser

mais condescendente.

Seu lábio superior se torce fracamente e eu me lembro do que

ele me disse antes em Chaparral quando ele me achou, que ele

gostava de mim porque eu era diferente de todos aqui. Agora ele quer

que eu seja igual.

Eu respiro rispidamente por meu nariz. Condescendente.

Submissa. Humilde. Obediente. Será mesmo que eu tenho isso em

mim?

— Condescendente? Jacinda? — Az dá risadinhas, inconsciente

da tensão. — Eles caíram nessa?

Cassian lança um olhar duro para ela, depois olha de volta para

mim. Esperando. O que? Ele espera ouvir minha concordância?

— Oh — Az se controla, olhando entre nossas duas expressões

sérias. — Bem, claro. Eu tenho certeza que Jacinda será mais...

Quero dizer, eu tenho certeza que ela percebeu que pertence aqui.

Seu pai tem que ver isso. Por que ela gostaria de ficar lá fora - em um

mundo no qual ela nunca poderá se encaixar?

No meu silêncio, Az move para mim um olhar questionador. Eu

desejo poder explicar a ela que eu talvez tenha encontrado uma razão

para viver lá fora, junto aos humanos. Isso tomará um tempo para

convencer Az a entender como eu pude me apaixonar por Will, e por

alguma razão eu não quero falar sobre isso na frente de Cassian.

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No entanto, do jeito que as narinas de Cassian se alargam, não

está longe de seus pensamentos. Sob a pele morena de seu rosto,

lampejos de carvão - como uma criatura nadando abaixo da superfície

da água. Um animal que eu devo apaziguar.

Eu me lembro da força desse animal, da sua grande estrutura

brigando com Will no topo do Big Rock. Da violência incontrolada

enquanto os dois rolavam entrelaçados, numa confusão empilhada na

extremidade daquele penhasco - eu me arrepio e pressiono uma mão

no meu estômago, um pequeno enjôo pela memória. Eles queriam se

matar.

Eles quase conseguiram.

— Você irá ficar aqui com sua mãe. — Cassian anuncia quando

se torna claro que eu não irei dar o consentimento que ele procura de

ser uma pequena, humilde e condescendente draki. Não é que eu não

queira dizer as palavras. Eu simplesmente tenho medo de prometer

algo que eu não possa cumprir. — Você pode começar a ir à escola de

novo. E trabalhar. Escola, trabalho e casa. Sua irmã vai ficar com

Nidia.

Isso me dá um começo. Eu não acho que a separação vai ser

permanente. Eu não posso me lembrar de uma época que Tam e eu

dormimos mais de um quarto de distância uma da outra. Mesmo que

isso me perturbe, eu acho que faz sentido. Nidia tomará conta de

Tamra. Ela dará o suporte e a orientação que ela precisa agora. Tudo

que eu e mamãe não podemos dar.

Eu digo a mim mesma que isso é tudo que está acontecendo. O

clã não está tentando nos separar.

— Tamra, uma shader. — Az balança sua cabeça, maravilhada.

— Espere até eu contar a todo mundo. Isso é fantástico. — Minha

amiga aperta meu braço com um feliz entusiasmo. — Hey, eu tenho

que ir.

Ela pula da minha cama com uma ânsia evidente para começar

a espalhar a novidade, que o futuro do nosso clã está garantido. Que

nós temos uma nova shader que pode substituir Nidia algum dia.

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Desde que Tamra não se importe em estar ligada ao clã pelo

resto de sua vida. E porque ela se importaria? Uma vez que ela tenha

tempo para lidar com a mudança, ela irá perceber que não é mais

invisível entre o clã - e que ela tem uma chance com Cassian.

Saltando pela porta, Az chama por seu ombro, — Voltarei

depois.

E eu estou sozinha com Cassian, depois de tudo. Obrigada, Az.

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Nós não havíamos ficado sozinhos desde Chaparral. Em

nosso caminho até aqui, nós quatro ficamos confinados apertados no

carro, raramente falávamos, parávamos apenas para colocar gasolina,

ir ao banheiro e pegar alguma coisa para comer. Mas agora éramos

apenas nós dois.

Eu apenas fiquei olhando, temendo a torrente de advertências

que eu estou convencida que ele jogará em cima de mim. Por razões

óbvias: expor-me para os nossos maiores inimigos. Amar um desses

inimigos. E pior ainda, amar Will depois de ver o sangue dele. Como

eu poderia explicar para Cassian que Will não é um dos caras ruins?

Ele era apenas uma vítima de seu nascimento. A transfusão de

sangue foi forçada nele quando ele estava doente. Mas qual é a real

importância de eu explicar qualquer coisa? Eu não irei vê-lo

novamente.

No silêncio eu conseguia ouvir a voz abafada de nossos pais. O

tom era quente.

— O que você contou para o seu pai?

Eu escorreguei para fora da minha cama, de repente, consciente

de que eu estava na minha cama... E que ele estava muito próximo a

mim, ameaçadoramente perto de mim.

Ele não se moveu, e eu precisava encostar nele para chegar no

cadeira estofada perto da janela.

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— Você pergunta se eu contei para eles que você se revelou para

os humanos? — o olhar dele me cortou. — Para os caçadores?

Eu lutei para não me encolher. Isso parecia mais terrível quando

ele falava. Eu queria poder negar isto.

— Yeah. Sim — sentando na cadeira perto da minha janela, eu

tentei agir casualmente, despreocupada com o lembrete dele,

despreocupada sobre tudo. Especialmente ele. Aqui no meu quarto,

me olhando como se me consumisse, queimando, fazendo com que

meus pulmões empurrassem e se contraíssem. — Você contou isso

para seu pai?

Que eu fiz a única coisa que poderia arruinar a todos nós. Não

apenas nosso orgulho, mas nossa espécie inteira.

O olhar dele me varreu, sem perder nada. Não a bagunça

emaranhada do meu cabelo caindo pelos meus ombros. Não meus pés

descalços espreitando debaixo das minhas pernas dobradas. Se ele

havia contado para eles o que aconteceu, se ele contou tudo para ele,

como eles poderiam não me punir? Até mesmo uma parte de mim

acreditava que eu merecia isso. Eu traí meu tipo.

Não que iria mudar qualquer coisa que eu fiz mesmo se eu

pudesse. Eu sei disso. É uma realização estranha. Sentir culpa não

significa que eu me arrependa de algo. Maior do que qualquer culpa

que eu sinta, eu sinto uma dor em meu coração por ter perdido Will.

Eu não consigo nem imaginar que dor eu sentiria se eu não tivesse o

salvado. Se ele realmente tivesse morrido ali no deserto.

Finalmente, Cassian me respondeu:

— Eu não poderia guardar isso deles, Jacinda. Não isso. Isso

afeta todos nós.

Afundei um pouco nas pequenas almofadas. Quase como se eu

estivesse desapontada com ele. Eu não sei por quê. Mesmo com a

nossa amizade do passado, eu não esperava lealdade dele. O clã fica

em primeiro lugar quando se trata de Cassian. Ainda assim, Tamra

deixou os caçadores nas sombras. Eles não iram se lembrar. Será que

ele não podia guardar esse segredo? Isso seria uma coisa tão ruim de

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fazer?

Desolação me lavava, me percorrendo como água gelada. Eu

quase acreditei que ele se importava comigo, que ele iria me proteger.

Como ele me prometeu. Ao contrário, ele me jogou aos lobos.

— Eu precisei contar a ele que você se revelou aos caçadores,

mas eu não disse a eles tudo. Eu não contei sobre ele.

Eu olhei para ele com frieza; dizendo a palavra que ele não

conseguia fazer-se dizer:

— O que você quer dizer Will?

Alguma coisa passou pelo rosto dele. Por um segundo as

pupilas dele tremeram, encolheram em um flash para estreitas

fendas. Depois nada. Ele voltou a ser o impassível Cassian de novo.

— Yeah. Eu não contei a eles sobre o sangue.

Isso me atingiu como um tiro de vergonha impotente. O sangue

de Will. O sangue que é da mesma cor que o meu. Eu assenti.

— Eles iriam caçá-lo até o final se soubessem. Eu suponho que

eu devo a você por isso.

— Você não está apaixonada por ele — ele disso isso tão de

repente e com tanta força que eu rapidamente me remexi. — Você

nem o conhece. Ele não conhece você. Não como eu conheço.

O peito dele subiu e abaixou com respirações serrilhadas.

Eu não disse nada em um silêncio estranho que seguiu. Tensão

nos cercava, tão densa quanto a névoa de Nidia que pressionava em

minha janela. Eu olhei para baixo para minha mão, notando as

pequenas meias luas cravadas pelas minhas unhas sem eu ao menos

notar.

Ele soltou um suspiro pesado.

— Olhe para mim, Jacinda. Diga alguma coisa.

Eu forcei meu olhar de volta para ele. Ele espera que eu

concorde que eu não amava Will? Determinada em não discutir meu

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sentimento por Will eu disse:

— Tamra os deixou na sombra. Por que você teve que dizer

qualquer coisa para eles? Eles iram me ver como uma criminosa — eu

acenei com um braço. — Eu estou praticamente em prisão domiciliar!

Eles não irão me perdoar nunca!

— Eu precisei contar para eles. E se alguns dos caçadores se

lembrarem de algo? Tamra não sabe usar seus poderes direito ainda.

E se isso não durar? E se ela não apagou tudo direito?

Eu assenti, o movimento de alguma forma doloroso, tão doloroso

quanto o aperto em meu peito.

— Eu entendo. Está tudo bem.

— Claramente não está bem. Você está chateada.

Eu pressionei uma mão em meu peito

— E você não estaria Cassian? Eu serei tratada como uma

traidora o resto da minha vida.

Ele moveu a cabeça dele vagarosamente, um músculo dele

travando em sua mandíbula.

— Eles irão esquecer e perdoar. Eventualmente.

— Você não pode saber isso.

Ele disse que iria tentar tudo que ele podia para me manter

salva, mas até eu sei que ele não está no controle total daqui.

— O fato de que Tamra está aqui, que ela é uma Shader, isso irá

apaziguá-los. Agora que vocês duas voltaram.

Mesmo após dizer a eles o que eu fiz? Eu olhei para ele

desconfiada, com medo de derrubar minha guarda.

— Então eu não estou com problema?

— Eu não disse isso. — Alguma coisa apareceu no rosto dele

enquanto ele dizia isso. Um resquício de sorriso brincava na boca

dele. — Você se revelou para um humano, Jacinda. A família dele era

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de caçadores.

E por isso, eu precisava pagar. Eu assenti, aceitando isso.

— Você tem muito que compensar — ele adicionou, totalmente

sério de novo.

— E se eu não conseguir?

Eu não estava mais certa se eu tinha isso em mim para provar

eu mesma para alguém mais. Nesse momento, o pensamento de

nunca ver Will novamente me dava vontade de chorar e me fazia

sentir machucada e cansada. Mesmo uma parte minha estar feliz por

estar de volta no clã, eu não estava na exata condição de bajular

ninguém.

— Então as coisas serão difíceis para você. Mais difíceis do que

elas teriam que ser. E a sua mãe... — a voz dele despareceu, mas a

ameaça perdurou.

Meus olhos apertaram, a pele pinicou e apertou.

— E minha mãe?

Ele olhou sobre os ombros dele como se ele pudesse vê-la onde

quer que ela estivesse na casa.

— Não há amor para ela. Eles a culpam por pegar você e Tamra.

Eles estão falando sobre banimento.

Eu aspirei bruscamente.

— Isso não é justo. Fui eu que...

— Foi ela que levou você embora. Você não teria partido por sua

própria vontade. Vamos lá, Jacinda. Tudo isso teria acontecido sem

sua mãe te puxando para algum deserto?

Eu engulo seco e olho para trás para além da janela. Eu odeio

não conseguir argumentar esse ponto com ele. Eu odeio ver a lógica

dele, tão cruel quanto ele.

— Nenhum de nós é como uma ilha. Pense nisso. As ações de

um afetam todos.

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Eu acho que eu não sou como o resto dele. Por que fui eu que

entreguei todos.

Eu afaguei suavemente minha boca, falando através dos meus

dedos:

— Você nunca se cansa disso? Você nunca quis o que você

realmente quis? Você não acha que você merece isso de vez em

quando? Por que você precisa colocar o clã acima de tudo? Acima da

vida de alguém? Você alguma vez coloca algum limite? Você pode

racionalizar o sacrifício de um, mas e quando for dois? Três? Quando

você irá dizer chega?

Eu balancei minha cabeça.

Cassian me encarou.

— Esse é o jeito que somos. Foi desse modo que nós

conseguimos sobreviver esse tanto. O fato é que você questiona isso

quando ninguém mais faz. — Ele inclinou a cabeça para lado. — Mas

talvez seja isso que faça você tão especial. O porquê eu estar aqui

conversando com você. O porquê de eu me importar.

Eu engoli contra o aperto em meu pescoço e segurei o olhar dele.

— Então você... — eu lutei pela palavra certa, uma palavra que

não faria meu rosto aquecer insuportavelmente e me resolvi, —... você

gosta de mim por que eu sou o tipo de pessoa que coloca todos nós

em perigo?

Um raro sorriso brincando nos lábios dele de novo.

— Você não é um aborrecimento, isso eu tenho certeza.

— Cassian.

Meus nervos entraram em colapso enquanto o próprio Severin

entrava no meu quarto ficando ao lado de Cassian. Os dois deles... no

meu quarto. Não é algo que eu tenha previsto. Cassian é uma coisa.

Severin, outra.

Mamãe estava atrás de Severin, o rosto dela duro com rebeldia.

Eu suponho que quaisquer coisas que eles discutiram elas não

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terminaram bem para ela.

— Nós terminamos por aqui, Cassian.

O olhar de Severin descansou em mim. Eu me senti encolhendo.

Mas eu não mostrei isso. Eu me forcei a segurar o olhar dele, fingindo

que ele não me fazia me sentir fraca e trêmula por dentro, que eu não

merecia ser censurada.

Severin acenou de Cassian para a porta.

— Me espere lá fora.

Cassian me deu um longo olhar e saiu.

Mamãe adentrou mais no quarto, os finos braços dela cruzado

sobre o peito dela. Ela perdeu peso. Eu imagino como ela conseguiu

perdê-los. Ela sempre teve curvas.

Severin olhou para ela com frieza.

— Eu gostaria de ter uma palavra com Jacinda.

— Então você terá que fazer isso na minha frente.

Os lábios de Severin se curvaram sobre seus brancos dentes.

— Você já se provou ser uma mãe com a paternidade duvidosa,

Zara. Não há necessidade de se comportar como se você se

importasse com sua filha agora.

Um olhar aflito passou sobre o rosto da minha mãe antes que

ela se controlasse e o mascarasse, mas a palidez continuava lá,

fazendo os olhos delas se destacassem como gigantescas piscinas

brilhantes.

Desde que papai foi assassinado, Tamra e eu éramos tudo que

ela tinha. Toda decisão que ela tomava era para o nosso bem... ou

pelo menos o que ela pensa que era o melhor para nós. Ela pode ter

cometido alguns erros, mas eu nunca duvidei do amor dela por mim.

Uma rápida onda de raiva me atingiu no coração, eu avisei:

— Não fale da minha mãe desse jeito.

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Severin olhou de volta para mim, olhou para baixo para mim,

como seu eu fosse uma sujeira nos pés dele.

— Tome cuidado, Jacinda. Você está perdoada por suas ofensas.

Um fato que você pode agradecer a Cassian por isso. Eu posso

rapidamente ver você sendo punida. — Ele olhou para mamãe de

novo. — E você está banida.

— Não me faça nenhum favor — eu rebati, incapaz de atingir o

tom certo de remorso com Severin

— Jacinda — minha mãe disse em uma voz baixa, agarrando

meu braço com os dedos frios dela.

A expressão de Severin endureceu.

— Preste bem atenção. Você está sobre gelo fino, Jacinda. Eu

espero um comportamento perfeito vindo de você agora...

O rastro da voz dele deixava a ameaça deliberada, explícita. Eu

podia praticamente ouvi-lo dizer, Ou eu irei cortar suas asas.

Eu me recusei a mostrar o quanto ele me afetou, que a ameaça

realmente funcionou, mandando um raio de medo que me fez sentir

minha pele apertar e um arrepio quente passar pela minha pele, uma

serpente se contorcendo para libertar-se.

— Ela não trará nenhum problema. — Minha mãe disse em uma

voz que nunca ouvi usar antes. Ela soava quase derrotada.

A boca de Severin se curvou em um sorriso presunçoso

— Talvez dessa vez você faça um trabalho melhor mantendo ela

na linha.

Com um aceno frio, ele saiu, o som dele baqueando, saindo de

nossa casa.

Uma casa que não parecia mais um lar. Apenas uma casa que

não é mais nossa. Não se Severin pode marchar para dentro e emitir

comandos e ameaças como se ele tivesse todo o direito.

Pela primeira vez eu me pergunto se isso é o que o clã se tornou

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ou se ele sempre foi desse modo?

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Por um momento, nós ficamos em silêncio e então mamãe

desabou na minha cama com uma fraqueza que me deu um aperto no

coração. Faz um bom tempo que ela se manifestou pela última vez -

anos. Ela começou a aparentar a idade dela.

Ela pegou o urso maltratado que papai me deu no meu sétimo

aniversário e que estava emaranhado entre lençóis e almofadas. Eu

me esqueci dele quando partimos com tanta pressa e agora eu estava

feliz que eu deixara isto aqui. Agradecida que havia alguma coisa que

eu amava e familiar esperando por mim aqui.

Mamãe o puxou por uma orelha do emaranhado com um suspiro

silencioso. Era um som de derrota. De repente os ombros dela caíram.

Então era isso? Ela havia desistido?

Finalmente ela falou e a voz dela era tão vazia e inexpressiva

quanto seus olhos:

— Eu quero você a salvo, Jacinda. Eu não quero machucá-la.

Eu assenti

— Eu sei.

— E agora eu começo a pensar que eu posso ter sido quem te

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causou seu maior sofrimento.

Eu balancei minha cabeça ferozmente, eu não gosto dessa nova,

derrotada versão da minha mãe. Ela é alguém que eu não conheço.

Que eu não quero conhecer. Com tudo mais mudando, eu preciso que

ela permaneça constante.

— Não. Isso não é verdade.

— Eu obriguei e empurrei você em cada centímetro do caminho,

você gostando disso ou não, tudo pensando em proteger você. — Ela

balançou a cabeça dela. — Talvez eu tenha feito tudo piorar. Agora

nós estamos de volta.

Ela movimentou a mão apaticamente.

— Você continua como apenas uma escrava para o clã. Só que

dessa vez é pior. Eles não mais tratarão você como um grande

presente concedido a eles. Eles irão tratá-la como uma arruaceira.

— Mãe? — minha voz tremeu um pouco e eu limpei a garganta

— O que você está dizendo?

Ela olhou para cima do urso.

— Não deixe eles te tratarem como um cão maltratado pelo resto

da sua vida. Siga as regras. Abaixe a bola. Volte ao topo. Faça o que

você tiver que fazer.

— Você realmente quer ficar aqui? Você quer que Tamra fique

aqui?

— Levar você para Chaparral... Eu estava perseguindo um

sonho. Alguma coisa que nunca existiu. Não para você ou até mesmo

para Tamra. Ela estava destinada a ser um Draki e eu nem ao menos

sabia disso. — Ela segurou um riso, pressionando os dedos nos lábios

dela para prendê-los. — E você... bem você tentou o tempo todo me

falar que você não podia ser nada mais senão um Draki. Que você

precisava estar aqui. Eu apenas não queria ouvir isso. Eu sinto

muito, Jacinda.

Eu sentei do lado da minha mãe na cama. Ela poderia ter me

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enfurecido no passado, mas eu não aguentava vê-la desse jeito. Eu a

quero de volta. Eu sinto falta da vivacidade dela. Eu sinto falta dela.

— Não se desculpe. Nunca se sinta culpada por ser uma mãe

que ama tanto suas filhas que sacrificaria tudo por ela.

Eu segurei a mão dela, apertei os dedos gelados e de repente eu

me lembrei que ela estava sempre fria aqui. Sempre tremendo na

névoa perpétua e ventos. A mesma névoa e vento que é um lar para

mim, a qual eu levantava meu rosto para sentir melhor e

experimentar. Ela não amava isso. Nunca havia e nunca iria.

— Nós iremos descobrir um jeito de viver aqui. Felizes. Eu não

vou viver com a minha cabeça baixa e nem você.

Ela me deu um sorriso vacilante e me lembrou gentilmente:

— A cabeça da sua irmã não precisa ficar mais abaixada aqui.

Isso é verdade. Tamra está no topo agora. E ironicamente, eu

não. Pelo menos não no momento.

Mamãe afagando a minha bochecha com as costas da mão dela.

— Eu vivi aqui pelo seu pai. Eu posso fazer isso pelas minhas

garotas. É um pequeno preço a se pagar — ela inspirou. — Eu amei

seu pai demais. Mas esse amor não era nada como quando eu me

senti quando nos unimos. Algumas coisas acontecem, mudam

quando vocês se unem naquele círculo. Era como se nós nos

tornássemos conectados.

Sua expressão se tornou mais melancólica.

— Alguns dias, eu não podia dizer quais era as minhas emoções

quais eram as dele. — Seu olhar âmbar escureceu. — Mesmo no

ultimo dia... eu senti... eu sabia que alguma coisa estava errada

mesmo antes de qualquer um me contar. E eu fiquei por tanto tempo

dizendo a mim mesma que o vazio que eu senti não era nada, não era

ele morrendo. Que ele ainda podia estar vivo lá fora, apenas fora do

meu alcance, então eu não poderia mais senti-lo.

Eu olhei extasiada para ela.

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— Por que você nunca me disse nada?

Ao menos a parte de sentir que alguma coisa estava errada no

último dia dele. Claro que eu sabia que muitos dos Draki unidos

formam uma conexão. Historicamente, dragões ficam unidos para

vida inteira e é dessa antiga característica que vem a ideia por de trás

da união. Para alguns casais Draki elas são mais profundas.

Aparentemente meus pais foram um desses.

Ela encolheu os ombros

— Você era apenas uma garota. Eu não queria que você

soubesse que eu senti o... medo dele. A dor dele. Eu quase morri por

causa disso, Jacinda. Eu estava com medo que se eu contasse isso

para você, você iria pensar que eu senti...

— A morte dele.

Eu completei. Minha cabeça doía, minhas têmporas latejavam

enquanto eu processava isso. Bem fundo na minha alma, eu ainda

tinha esperanças que ele ainda estivesse vivo. Que ele pudesse estar

em cativeiro em algum lugar. Eu não sabia o que pensar mais.

Ela hesitou, mas assentiu.

— Então porque você está me contando isso agora?

Eu demandei. Mamãe estivera praticamente na cabeça de papai

no final... E ela guardou isso pala ela mesma?

— Você precisa saber — ela colocou uma mecha de cabelo para

trás da minha orelha. — No caso de você se unir com alguém aqui.

Meus olhos se arregalaram já adivinhando a direção que ela

estava indo. Eu não podia acreditar nisso. Ela não poderia estar me

sugerindo para eu me unir com Cassian.

— Você irá sentir...

— O que?

Ela fixou os olhos dela em mim.

— Vai ficar tudo bem, Jacinda.

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Bem?

— Por que uma vez que nós estejamos ligados não irá importar

se eu não o amo? Por que eu vou sentir alguma coisa falsa e eu

poderei mentir para mim mesma que isso é amor?

Ela balançou a cabeça dela firmemente.

— Você se sentirá conectada. Uma vez que isso acontecer, irá

realmente importar por que ou como isso aconteceu?

Sim!

— Importava para você antes. — Eu digo entorpecida.

— As coisas são diferentes agora. Nós estamos presas aqui. Você

precisa fazer disso o melhor possível.

— Eu estou. Eu vou. Mas isso não significa que eu tenha que me

unir.

Eu fechei meus olhos e esfreguei minhas pálpebras, tentando

aliviar a dor lá. Eu realmente tentava ter uma conversa com a minha

mãe sobre as vantagens em me ligar para escapar da desaprovação do

clã?

— Você pode ser feliz aqui, não pode? Cassian... — ela parou. Eu

assistir a garganta dela funcionando, incrédula sobre o que ela estava

dizendo. — Cassian não é uma pessoa ruim. Ele não é... Quase igual

ao seu pai.

Quase igual. Eu recuei, certa que minha mãe havia sido

abduzida por aliens.

— O clã ira esquecer tudo se você e Cassian apenas...

— Não! Mãe, não!

Eu resisto à tentação de cobrir minhas orelhas com as mãos. Eu

não estou ouvindo isso. Não vindo dela.

— Eu não estou dizendo agora. Mas com o tempo...

— Eu não acredito que você está dizendo isso!

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Ela pegou as minhas mãos, falou para mim em uma voz dura:

— Eu não posso mais te proteger, Jacinda. Eu não tenho

nenhum poder aqui.

— E por que Cassian pode é razão o suficiente para me dar em

troca?

— Eu não estou sugerindo nada que você nunca tenha

considerado. E já vi você com ele. Existe alguma coisa lá.

Eu assenti vagarosamente.

— Talvez. Uma vez. — Quando não havia mais ninguém.

Nenhuma alternativa para me tentar. Antes de eu conhecer Will. —

Não mais.

— Por causa de Will. — Os olhos de mamãe brilharam por um

momento com a antiga vitalidade dela. — Você não pode ficar com ele.

Isso é impossível, Jacinda. Não há nenhuma chance. Ele não é um de

nós.

Ele não é um de nós. Eu evitei realmente pensar sobre isso,

aceitar isso, mas as palavras me encontraram agora, cavou fundo e

me atingiu no meu coração que já doía.

Eu inalei fracamente.

— Impossível ou não, eu não considero mais ninguém. Eu

prefiro ficar sozinha.

— Oh, não seja ingênua! Ele é um humano! Um caçador!

Esqueça-o! Existirá mais alguém!

Por um momento, a conversa soou estranhamente parecida

como quando mamãe tentou me convencer a deixar meu Draki ir,

deixá-lo definhar. Agora ela quer que eu abrace meu Draki e esqueça

Will. Eu balancei minha cabeça.

Só que ela está certa. Mais do que ela jamais perceberia. Sair

com Will foi burrice. Foi errado. Eu sabia disso. Ele era mais do que

um humano intocável. Ele era mais do que um caçador. Ele era muito

pior.

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Sangue Draki corria pelas veias dele. Um Draki - provavelmente

vários - morreu para sustentar a vida dele. Mesmo que o pai dele

tenha sido responsável por esse ato terrível, como eu poderia olhar

novamente para os olhos de Will? Tocá-lo? Segurá-lo? Beijá-lo?

Eu suponho que seja uma boa coisa eu nunca mais ver o rosto

dele novamente. Eu preciso parar de esperar, nas mais sombrias

sombras do meu coração, que ele irá manter a promessa de me

encontrar.

— Eu tenho que deixá-lo. — Eu murmurei, minha voz suave.

Mamãe me estudou, a expressão dela não convencida. Mas eu

não precisava convencê-la tanto quanto eu preciso convencer eu

mesma.

Aquela noite na minha cama, eu encarei as estrelas brilhantes

que papai me ajudou a colocar quando eu decorei o teto anos atrás e

gradualmente eu comecei a me sentir segura de novo. Da maneira

que eu me senti quando eu era pequena, meus pais dormiam apenas

no corredor abaixo de mim. Tão segura. Tão protegida.

Eu libertei meus pensamentos e encontrei Will. Ele estava

esperando no meu coração sem guardas.

Cochilando, meio dormindo, eu lembrei. Lembrei dele, de nós,

nos momentos antes do mundo cair ao meu redor. Um sorriso tocou

meus lábios enquanto eu me lembrava de tudo. Eu lembrei até a

saudade se tornar demais. Até a vontade de ter ele se tornou demais,

enquanto lágrimas salgadas escorriam pelas minhas bochechas.

Não acabou. Nós não estamos... Eu irei vir por você. Eu irei te

encontrar. Eu vou. E nós estaremos juntos de novo.

— Não — eu sussurrei para o silêncio do meu quarto, mesmo

com meu coração sangrando. Uma parte traiçoeira de mim sempre

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iria esperar isso. — Nós não iremos.

Mas então eu acordei para uma horrível verdade novamente,

atingida por facadas de dor no meu coração. Ele não irá ter essas

memórias. Ele não irá se lembrar de ter feito essa promessa para

mim.

Eu passei meus dedos tremendo pelos meus lábios. Você não irá

se lembrar de mim indo. Você não irá lembrar por que eu tive que ir.

Você irá apenas pensar que eu deixei Chaparral. Que eu deixei você.

Virando meu rosto, eu mordi minha almofada, sufocando o

soluço que queria sair do meu peito.

Será que ele ao menos ainda pensa em mim? Desesperadamente

eu queria saber o quanto ele conseguia lembrar? O quanto de mim

havia ido? Tamra era nova nisso. Ele conseguiria me tirar

completamente da memória dele? Eu mexi minha cabeça com o

pensamento. Eu mordi meu lábio até eu sentir gosto do meu próprio

sangue. Eu soltei a ferida, e falei para mim mesma que eu estava

ficando paranoica. Eu nunca ouvi falar de um Shader que

conseguisse apagar semanas da mente de uma pessoa. Isso é

impossível. Isso não pode acontecer.

No momento, eu sabia. Eu precisava perguntar para Tamra. Eu

precisava descobrir quanto da memória de Will ela pegou. Quanto ela

me apagou do coração dele.

Rolando para o outro lado, eu senti uma pequena sensação de

conforto. Amanhã, eu irei perguntar para ela amanhã.

De algum jeito essa decisão me fez sentir melhor. Deu-me

alguma coisa para olhar para frente mesmo que nada que ela diga

possa mudar algo.

Will ainda estará a quilômetros de Chaparral. E eu continuarei

aqui.

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Quando saí para a varanda na manhã seguinte, eu soltei um

profundo suspiro de alívio, agradecida de ver que nossos cães de

guarda foram mandados embora. Eu suponho que Severin decidiu

que nossa conversa de ontem foi suficiente para me manter na linha.

Ainda era cedo. Um espesso nevoeiro mantinha-se baixo no

chão, envolvendo minhas panturrilhas e que ia levantando-se à

medida que eu me aproximava do chalé de Nadia, determinada a

pergunta a Tamra se ela acha que ela foi bem sucedida mexendo na

mente de Will e dos outros. Foi à primeira vez dela, afinal. Como ela

podia ter certeza do que ela estava fazendo?

O cachorro de Jabel começou a latir. Eu acelerei o passo,

imaginando as cortinas se mexerem. Eu não queria ficar presa

conversando a com a tia de Cassian. Eu olhei por cima do meu

ombro, me perguntado se ela foi à razão de Severin ter mandado os

guarda costas para casa. Isso era conveniente, afinal das contas, ter

os olhos atentos da irmã dele apenas na calçada da frente.

Eu deveria prestar atenção para onde eu estava indo. Um

gemido escapou de mim enquanto eu colidia duramente em outro

corpo.

Mãos me alcançaram e me firmaram. Eu soprei uns fios de

cabelo do meu rosto e olhei para Corbin. Filho de Jabel.

— Jacinda — ele me cumprimentou. — Bom ter você de volta.

A boca dele levantou em um sorriso que não parecia ser real,

mas também nunca foi. Corbin e eu temos a mesma idade, nós

estivemos nas mesmas classes da escola desde o primário. Mas nós

nunca fomos próximos. Ele sempre foi o mal-intencionado, roubando

na escola e nos jogos. Pregando peças cruéis nos mais novos. Quando

se tornou claro que eu era uma respiradora de fogo, ele de repente

mudou o tom dele e tentou se aproximar de mim, mas até então eu já

sabia quem era o real Corbin.

Ele lembrava o tio dele Severin. Muito mais do que Cassian. São

os olhos. Corbin e Severin têm os mesmos olhos mortos. Se possível,

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ele cresceu mais em minha ausência. Ele está tão alto quanto Cassian

agora. Eu me livrei do aperto das mãos dele e tentei não aparecer

intimidada.

— Para onde você vai? — ele perguntou

Eu me arrepiei, pensando em como a mãe dele está nos

espiando enquanto ficamos aqui. Como ele estava provavelmente

esperando para me emboscar quando saísse de casa.

— Por quê? Você foi atribuído para ser meu guarda?

Ele me deu o que eu acho que é um sorriso de flerte.

— Você precisa de um guarda-costa?

Eu balancei minha cabeça, lamentando minha defensiva. Se eu

agisse como uma prisioneira, seria assim que eles iriam me tratar.

— Eu estou indo ver minha irmã.

Para satisfazer meu medo mórbido de que Will não se lembra da

nossa última noite juntos. Que ele se lembra é que eu simplesmente

desapareci.

— Oh — ele afundou as mãos dele mais fundo nos bolsos. — Eu

irei andar com você.

Eu não vi como recusar isso, eu dei os ombros suavemente e

continuei a névoa torcendo em volta do meu tornozelo. Nós andamos

passando pelas casas com as janelas fechadas contra a manhã. Eu

não me lembrava do clã ser tão quieto desse jeito. Mesmo de manhã

havia usualmente alguma atividade. Isso me deu uma sensação de

estranheza. De repente a parede de videira não parecia estar nos

protegendo, mas nos prendendo dentro.

— Tão quieto — eu murmurei.

— Yeah. Ainda no toque de recolher. Você não pode deixar sua

casa até as sete.

— Então o que você está fazendo vagando...

— Eu sou parte da patrulha da manhã. — Ele fez um gesto para

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a braçadeira azul em volta do braço. Eu não havia notado isso antes

— Patrulha. — Eu ecoei entorpecida, encarando o pedaço azul

de tecido. — Eu não sabia. Eu deveria voltar depois das...

— Nah, eu não irei te delatar.

Delatar-me?

Ele sorriu como se isso fosse um presente. Não consigo reunir

um sorriso em troca. Eu não quero presentes dele. Amanhã eu irei

com toda certeza sair depois das sete.

Eu me virei e continuei andando.

— Bem legal sobre sua irmã — ele disse, mantendo o ritmo

comigo.

— Yeah.

Ele deu um olhar com seus olhos escuros como a noite.

— Você não soa feliz sobre isso.

— Honestamente, eu não tive tempo para processar isso.

Ele assentiu como se ele entendesse isso.

— Vai ser um grande ajuste.

— Sim. Nidia vai ajudar Tamra a passar por tudo isso.

— Eu queria dizer um ajuste para você. — Ele inseriu

suavemente, a voz dele tão escorregadia quanto óleo.

A pulsação do meu pescoço acelerou erraticamente.

— Para mim?

O sapato dele escorregou em um cascalho solto no chão. O som

irritou meus nervos.

— Yeah. Você não é mais o cão no topo por aqui.

Eu acelerei meu passo enquanto nós passávamos pelo centro,

pela escola e pela sala de reuniões, ansiosa para chegar a Nidia.

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— Nunca foi assim.

— Yeah, foi sim. Mas agora há duas de vocês. Você conseguiu

alguma competição.

Eu parei e o encarei, mesmo que uma parte de mim queria

andar mais rápido e deixá-lo para trás. Isso ou socá-lo.

Ele arqueou a sua sobrancelha dourada.

— Eu estou apenas dizendo — ele moveu uma mão. — Cassian

não pode ter duas de vocês.

Eu o encarei. Ele não se moveu. Nem sequer desviou o olhar.

Eu cruzei meus braços acima do meu peito e decidi ir direto ao

ponto.

— Significa que você tem uma chance de ter uma de nós agora?

Ele sorriu aquele não sorriso novamente, eu de repente o

detesto, essa ganância, o garoto sedento por poder que vê minha irmã

e eu como um meio para subir na hierarquia. Eu desprezo que ele

pense que pode possuir qualquer coisa que Cassian não queira. Por

que é tão simples quando Cassian escolhendo e Corbin pegando

qualquer resto deixado como qualquer cão faminto. Meus músculos

ficaram tensos de raiva. Absurdamente.

Eu rosnei e virei, voltando a andar novamente, meus passos

mais rápidos, passos duros no chão.

— Isso não vai acontecer. — Eu falei rapidamente por cima do

ombro.

— Você não pode correr disso, Jacinda. Não mais.

— Do que? — eu girei, pretendendo entender perfeitamente o

que quer seja que ele está insinuando.

— Se você não se juntar com Cassian, eu serei o próximo para

quem meu tio irá olhar. Nós podemos ser bons juntos, Jacinda.

— Você só pode estar brincando.

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Seu peito encheu com convencimento.

— Minha linhagem tem liderado esse clã pelos quatro últimos

séculos. Nem mesmo seu pai poderia usurpar o poder da minha

família

— O que você sabe sobre o meu pai? — eu demandei,

enfrentando-o.

— Apenas o que foi me falado. Antes de ele desaparecer, ele

constantemente desafiava meu tio. Sem sucesso. Minha família é a

melhor escolha para comandar esse clã. Nós sempre fomos os mais

fortes... e vamos crescer mais forte ainda com um respirador de fogo e

um Shader adicionado a nossa linha.

Eu sinto meu rosto começar a ficar úmido e frio com o

pensamento de Corbin e eu, tive que admitir para mim mesma que a

ideia de ficar com Cassian nunca me fez sentir tão mal.

— Você é louco — eu continuei andando, alívio me inundou

quando ele não me seguiu

— Você não decide mais nada agora, Jacinda! — ele diz atrás de

mim — Você perdeu sua chance. Vai ser eu ou Cassian.

Eu sei que isso não é uma ameaça vazia. Ele é o sobrinho

favorito de Severin, afinal. Ele sabe das coisas. Coisas que eu não sei.

E diferente de Cassian, ele não está tentando me ajudar por trás das

cenas.

Eu falei para mim mesma que eu deveria estar agradecida que

ele me contou os planos dele. Agora eu poderia agir para ter certeza

que isso nunca aconteceria. Tamra e eu não iremos ser forçadas a nos

unir com alguém. A não ser que nós quiséssemos, claro, eu estremeço

pensando que Tamra definitivamente iria querer se unir a Cassian.

A voz de Corbin me segue através da névoa:

— Fale para Tamra que eu irei passar mais tarde.

E isso me fez tremer.

Eu deveria querer que ele fizesse par com Tamra. Para me

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separar da horrível perspectiva de ficar com ele. Mas eu não desejaria

isso para meu pior inimigo, muito menos para minha própria irmã.

Eu caminho para Nidia com passos firmes, trabalhando para me

convencer que o clã não é algo como um regime fascista no qual os

habitantes sofrem total subjugação. Não é. É o único lugar que o meu

Draki pode viver em liberdade. Eu diminuo a velocidade enquanto eu

atingia o chalé, notando uma figura solitária parada como guarda em

frente ao arco da entrada do clã. Enquanto eu me aproximava, eu

reconheci Gil, um amigo de Cassian.

Eu acenei para ele em saudação.

— Indo ver sua irmã? — ele falou.

Eu assenti, então da sua carranca ele foi para um sorriso bobo.

— Diga a ela que eu mandei um oi.

— Oi — eu ecoei.

Gil nunca prestou atenção na minha irmã antes. Pelo que eu

saiba, ele nunca ao menos falou com ela antes. Ele é um dos muitos

que olha para o que ela é e não para ela. Agora ele quer que eu passe

um oi?

Nojo passou por mim. Assim como é comigo, ninguém liga

realmente para Tamra. Eles não ligam para a garota, só para o

talento.

Assim que bato Nidia atende a porta. Com um aceno, ela me

levou para dentro do chalé que sempre cheirou a ervas e pão fresco.

Meu refúgio de tantas vezes. Especialmente depois que papai morreu.

Agora refúgio de Tamra.

Eu entrei dando boas vindas ao calor. E parei congelada.

Eu não era a única visita nessa manhã.

Minha irmã relaxando no sofá. Um cobertor sobre ela enquanto

ela segura uma caneca entre as mãos. Ela não parece mais como

minha gêmea. Cabelo gelo, não mais vermelho, fluía pelos ombros

dela. Ela ainda conseguia deixá-los perfeitamente arrumados, melhor

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do que jamais conseguiria deixar o meu cabelo. Eu me perguntava se

Nidia tinha uma chapinha. Era incrível como uma nova cor de cabelo

pode mudar tudo sobre ela. Até o rosto dela parece diferente, mal

lembra o meu. Especialmente com esses olhos cinza congelados.

Meu olhar foi para o visitante dela, sentando tão próximo,

relaxado em um banquinho ao lado do sofá. Cassian sorria para

minha irmã de um jeito fácil, sem barreiras. Era o sorriso que ele

usava quando nós éramos crianças despreocupadas.

Um pequeno arrepio percorreu pela minha espinha, deslizando

pelo meu cabelo e ondulando pelo meu couro cabeludo. Eu me

abracei como seu eu procurasse calor, mas era outra coisa, eu

precisava de outra coisa.

Eu olho para minha irmã sorrindo para Cassian e senti uma dor

na boca do meu estômago. Naquele segundo, eu me senti mais

sozinha do que nunca. Eu não poderia sentir mais falta de Will.

Will entendia a solidão. Sobre ser a parte, separado do mundo

que você habita. Um estranho entre seu próprio tipo. Will entedia

isso. Ele me entendia.

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Nidia anunciou minha chegada:

— Tão legal de sua parte nos visitar, Jacinda. Você gostaria de

um chocolate quente?

Eu assenti e rapidamente me encontrei sentada em uma cadeira

com uma caneca na mão. Tamra ainda estava sorrindo, mas parecia

mais insegura quando ela virou para mim, esperando eu falar.

Naqueles estranhos olhos esconde a mesma cautela que eu sinto. Nós

não sabemos mais o que dizer uma para a outra ou como se

comportar. Nós não conhecemos uma a outra mais. Eu estive apenas

supondo como ela se sentiu sobre se manifestar de repente. Eu

realmente não sei.

— É bom ver você em pé — eu finalmente disse, e então menti.

— Você parece bem.

— Eu me sinto bem — Tamra respondeu em uma voz que soava

amigável, mas distante. Eu queria acabar com essa distância. Sentar

perto dela e lembrá-la o que nós éramos uma para outra. — Nidia

está tomando conta de mim muito bem.

— Nós sabíamos que ela iria. — Cassian ofereceu, e eu queria

socá-lo.

Nós?

Eu me mordo impedindo a réplica de que nós também teríamos

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cuidado bem dela. Mamãe e eu. Nós sempre cuidamos uma das

outras... Exceto que o clã não nós deixaria mais. Eu não tenho

certeza quem eles consideram uma pior influência: mamãe ou eu. Eu

encarei a pálida versão de luz da lua da minha irmã e refleti se ela

ainda iria querer ficar com a gente. Será que ela sente nossa falta?

Será que ela quer ficar aqui?

— Você parece bem também, Jacinda. — Tamra adicionou, e eu

sabia que ela estava mentindo.

Ela nunca foi fã do meu guarda-roupa de camiseta e jeans. E o

resto de mim... Eu dei a mim mesma uma inspeção rápida enquanto

eu escovava meus dentes essa manhã. As sombras abaixo dos meus

olhos pareciam contusões, mesmo meus lábios pareciam pálidos, sem

cor. É engraçado pensar que eu pareço com o meu pior aqui, nas

montanhas frescas que sempre me revitalizaram tanto, nas brumas e

nas montanhas que eu pensei que precisava para manter meu draki

vivo.

— Obrigada — eu disse.

— Eu começo meu treinamento amanhã. — Tamra se colocou

um pouco mais alta na almofada do sofá. — Com a Nidia e Keane.

Eu assenti. Keane é o melhor lutador do clã. Nenhum draki voa

alto sem passar pelo menos uma vez nas cordas com ele.

— Eu aposto que você está ansiosa por isso — então eu sorri,

realmente feliz que ela vai saber como é voar. Que ela iria

experimentar o vento, o céu e as nuvens. Eu sei como isso é

maravilhoso e agora ela também irá. Pelo menos nós teremos isso em

comum. Ela irá entender sobre o que eu estive falando esse tempo

todo, ela irá entender por que eu tive que manter meu draki vivo. É

um conceito estranho. Eu consegui enrolar minha cabeça com isso

enquanto eu encarava a estranha que minha irmã se tornou. Tamra

voando. Tamra finalmente entendendo por que eu não conseguia

desistir. Por que eu não consegui deixar meu draki esvaecer.

Nidia falou então, e suas palavras eram como uma onda de

vento frio:

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— Eu sei que vocês duas estão destinadas a grandes coisas.

Vocês são crianças tão especiais... E gêmeas são tão raras entre nosso

povo. — Meu olhar foi para ela enquanto ela sentava no assento da

janela, e pegava o tricô descartado dela. Agulhas faziam click, clack

enquanto ela sorria e balançava a cabeça, claramente satisfeita

consigo mesma. — Uma respiradora de fogo e uma Shader.

Diversos raios de luz passaram direto através da janela para as

costas dela. O cabelo prateado dela refletia como se diamantes

estivessem enterrados na densa massa.

— Eu ainda não posso acreditar nisso. — Tamra disse

maravilhada, aparecendo atordoada e um pouco tonta.

— Acredite. — Cassian disse, apertando os ombros dela.

Eu encarei a mão larga dele, as pontas arredondas dos dedos

nos ombros delicados dela, e eu não consegui parar de imaginar se

ele já havia tocado nela antes. Eu sei que ele não fez nos últimos

cinco anos. Mas eu imagino que antes disso, então. Quando nos

éramos crianças, quando você só gostava de quem você gostava e

brincava junto.

As coisas eram simples então. Antes de eu me manifestar e

Tamra não. Antes de ela se tornar um draki disfuncional aos olhos do

clã. Eu respirei profundamente e disse para mim mesma que estava

tudo bem se ele tocá-la. Isso não significa nada, e mesmo se

significasse, mesmo se Tamra acabar ficando com Cassian, seria tão

ruim assim? Ela iria conseguir o que - quem - ela sempre quis. Eu

não posso invejá-la por essa felicidade. Não quando ela teve tão

poucas até agora.

E isso não significa que eu irei terminar com Corbin. Não

importa o que ele disse. Eu ainda poderia ser a respiradora de fogo do

clã sem me unir a ninguém. Corbin estava errado sobre isso.

Umedecendo meus lábios eu disse:

— Eu devo um grande obrigado a você Tamra.

Ela piscou seus olhos congelados:

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— Pelo que?

— Por nos salvar em Chaparral. — Por me salvar aqui, eu penso,

mas não falo.

Sem ela, o clã provavelmente teria desencadeado toda sua raiva

em mim.

— Você está me agradecendo? Isso é inesperado. Eu não achei

que você apreciaria se eu mexesse nas memórias de Will.

Eu inspirei.

— Você fez o que precisava ser feito. Eu sei disso.

— Yeah. Eu fiz.

Eu estremeci, certa de que ela estava implicando que eu não fiz.

Eu não fiz o que deveria ter feito. Eu me manifestei diante dos

caçadores para resgatar Will. Ela não concordaria em me perdoar por

ter feito isso.

Eu olhei desconfortavelmente para Nidia na janela. Concentrada

no tricô, mas eu não sou tão idiota para pensar que ela não está

observando cada palavra dita e não dita.

Como se para ter certeza que eu entendi o que ela quis dizer,

Tamra perguntou:

— Mas você não fez, fez? Você não fez o que deveria ser feito.

— Tamra — Cassian disse advertindo. Como se ele estivesse

tentando me proteger. Da minha própria irmã. A ironia disso não

estava perdida, eu passara anos protegendo Tamra dele. Mesmo ele

não sabendo disso, ele a machucava constantemente com a sua fria

indiferença.

— Fique fora disso. — Eu rosnei.

— Venha, Cassian. — Com uma balançada de cabeça, Nidia

levantou e foi até a porta.

Cassian assentiu. Juntos, eles foram para fora, nos deixando

sozinhas para conversar. Eu fiquei mais próxima do sofá.

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— Eu não quero brigar com você.

Seus traços ficaram mais suaves.

— Nem eu.

— Então — eu disse sem muita convicção, sentando na frente

dela. — Como você está indo? Como você está lidando com tudo...

isso?

— Muito bem. — Ela olhou para fora enquanto o ar ficava cada

vez mais enevoado. Depois de um minuto ela olhou de volta para mim

com os olhos congelados dela.

— Venha com a gente hoje à noite. Nós nunca voamos juntas.

Eu quero você lá.

— Claro — eu concordei. Voar sempre revigorava meu espírito,

me dava força, eu podia usar isso hoje. — Quando Nidia irá começar

a treinar você?

— Na verdade a gente já começou — ela disse com uma risada.

— É basicamente ela falando muito e me dando ocasionais

demonstrações. Ela disse que eu vou começar a tentar logo.

Eu não podia pensar um melhor jeito de entrar no assunto.

— Sobre isso, quantos danos você acha que fez naquela noite?

Ela piscou com aqueles olhos cristalinos, parecendo estar em

outro mundo. Como se aqueles olhos olhassem para mim através de

um véu enquanto a real Tamra se escondia atrás dele, enterrada

longe.

— Dano?

Eu estremeci. Tarde demais, eu percebi que devia ter escolhido

uma palavra melhor. Uma palavra que retomasse coisas boas. O

talento dela é um dom. Cada talento draki é um dom. Isso é o que nos

é ensinado desde a escola primária de todo jeito. Mesmo os melhores

talentos criados para machucar. Como os respiradores de fogo.

Ela é uma Shader. Um draki que não precisa machucar

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ninguém para proteger e salvar vidas. Eu gostaria de ser tão sortuda.

Eu tentei me recuperar rapidamente.

— Eu quero dizer se você sabe a extensão do que... — eu

movimentei uma mão, — do que você fez naquela noite?

Ela olhou intensamente com os olhos fantasmas dela, me

fazendo contorcer.

— Você limpou as memórias deles, mas você sabe o quanto você

apagou? — eu puxei a borda da almofada. — Você tem alguma ideia...

— Isso é sobre o Will, não é? — ela passou a mão no cabelo

prateado dela. — Você que saber o quanto de você eu apaguei das

memórias dele, é isso não é?

O som afiado dela nas minhas orelhas me fez ficar nervosa...

Como um elástico pronto para ser solto e bater direto no meu rosto.

Eu balancei minha cabeça, sabendo instantaneamente que eu não

iria querer ouvir o que ela estava para dizer.

— Nã-não...

— Você não deixou nada disso para trás, deixou? — ela

perguntou calmamente, mas as palavras soavam como se ela

estivesse gritando. — Você ainda está presa a ele.

— Não — eu neguei, mas a minha voz soava pequena e fraca. Eu

não consegui nem me convencer. — Isso não é a verdade, eu sei que

eu tenho que deixá-lo, mas eu não posso apenas desligar isso. Eu

gostaria disso.

Ela suspirou.

— Eu acho que posso entender isso. Eu quis alguém por muito

tempo que eu não tinha chance nenhuma de conseguir. — Ela estava

falando de Cassian, obviamente. — Mas você nunca pode esquecer

que ele é um humano. Você não pode continuar amando um cara que

caça nossa espécie.

Um suspiro afiado de ar surge atrás de mim. Fiquei em um pulo

em meus pés e virei, dando de cara com Az e Miriam, irmã da

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Cassian, na porta da frente.

Nidia estava atrás delas, sua expressão de choque e remorso.

— Tamra, você tem mais... Visitantes — ela disse sem jeito.

Cassian estava lá também, elevando-se sobre todos eles. O olhar

nos olhos dele me fez sentir idiota e patética. Eu fecho os olhos em

sofrimento, de repente desejando que Az soubesse sobre Will através

de mim e não andando deste jeito para verdade. Eu abri meus olhos

novamente vendo o rosto dela, sentindo meu estômago contorcer.

Eu fiz um movimento em direção a ela.

— Isso é verdade? — ela demandou, olhando apenas para mim.

— Você se apaixonou por um caçador? Um desses... cachorros que

nos perseguiram na floresta? Que tentou nos matar?

Eu conseguia ver nos olhos dela que a memória disto ainda a

perseguia, e eu sabia com uma contorção doentia no meu coração que

ela nunca acreditaria que Will era outra coisa se não um animal.

— Por favor, Az. Deixe-me explicar. Will não...

— Isso não tem preço. — Miram nos cortou com prazer.

— Miram — Cassian repreendeu a sua irmã. Ela apenas deu os

ombros.

Az deixou a cesta dela cair, ela estava chorando. Frutas e

muffins caíram no chão enquanto ela virava e fugia.

— Az — eu sussurrei, o olhar de traição no rosto dela penetrou

na minha mente. Outra memória de culpa.

Miram ficou. Um sorriso irônico surgiu no rosto dela, ela estava

mais animada do que eu jamais havia visto. Visiocrypter não mostram

muito suas emoções. Eles não demonstram quase nada. Faz parte da

natureza deles. Tranquilos, como cabelos cor de areia e olhos da

mesma cor. Eles são indescritíveis, feitos para se misturarem a

qualquer ambiente.

— Oh, isso é tão bom — ela disse, — eu mal posso esperar para

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contar para todo mundo.

— Miram — Cassian disse advertindo ela, mas ela já havia ido.

Ela se moveu tão rápido, que eu não tinha certeza se ela apenas

ficou invisível.

Cassian se moveu para o meu lado e olhou para baixo para mim.

— Eu irei falar com ela.

Por um momento, eu me deixei absorver sua proximidade e me

confortar com as palavras tranquilizadoras. Então, eu parei e dei uma

pequena chacoalhada na minha cabeça. Mesmo se Cassian quiser

fazer isso, eu não posso esperar que ele controle sua irmã mais nova.

Mesmo assim, enquanto eu assistia ele tomar longos passos em

direção a porta, eu não pude me conter de ter esperanças que ele

poderia fazer com que ela não espalhasse o que o próprio Cassian

tentou manter em segredo do clã. Para o meu bem. Mas eu duvidava

que ele conseguisse.

Miram nunca foi minha fã. Combinado com o amor dela por

fofoca essa notícia provavelmente já foi espalhada por metade da

cidade. E ela é uma Visiocrypter. Ela pode ficar invisível toda vez que

ela desejar. Por mais que eu odeie estereótipos, tais draki são

traiçoeiros de natureza.

O que Cassian estava tentando era me poupar do inevitável.

Todo mundo saberia que a respiradora de fogo do clã deu o coração

dela para um caçador. Eu posso ter sido perdoada e ter sido poupada

de cortarem minhas asas, mas isso nunca será esquecido, nunca

mais eu serei vista como alguém que realmente pertence aqui.

Pânico surgiu no meu peito enquanto eu escutava os passos de

Cassian desaparecerem para longe. Eu me apressei até a porta e olhei

para ele até ele desaparecer na névoa da manhã.

Eu me virei, eu olhei para o olhar de pena de Nidia. Desde

quando eu virei alguém que se deve ter pena? Isso é algo novo.

Evidentemente, eu não sou mais para ser invejada. Tamra olhou para

baixo para sua caneca, incapaz de encontrar meu olhar. A

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inquietação nervosa nas mãos dela me dizia o quanto ela se sentia

culpada pelo o que ela disse que Az e Miram ouviram.

— Hey — eu forcei minha voz para soar normal, até mesmo

alegre. — Não fique assim tão triste.

Ela levantou o olhar dela. Os olhos dela brilhavam como gelo.

— Eu sinto tanto, Jacinda. Pelo o que eu disse... Pelo que elas

ouviram...

Eu me movi, indo até ela e me abaixando ao lado do sofá e a

abraçando.

— Isso não é sua culpa. — Eu fazia pequenos círculos em suas

costas. — Nada disso é sua culpa.

A única pessoa que eu podia culpar era eu mesma.

Escola no clã não é nada como no mundo humano. Nós vamos a

ela o ano todo, mas nunca o dia inteiro, apenas alguns dias da

semana, dependendo do curso. Todos têm tarefas que atender para

que o clã continue funcionando. Nós cultivamos vários alimentos,

deixamos linhas nos córregos das montanhas para pescar peixes,

ocasionalmente caçamos carne. Nós também reparamos e fazemos a

manutenção da nossa estrutura, nossas cercas, e claro, da nossa

parede lá de fora sempre cultivada para parecer pertencente ao

terreno de selva.

Mesmo que nós compramos esporadicamente suprimentos no

mundo humano, o clã precisa ser autosuficiente. Isso é por que,

depois das minhas aulas, eu vou para livraria fazer minha parte e

retornar ao dever que foi me dado.

Cuidar dos detalhes da biblioteca é uma das tarefas mais

almejadas. É melhor que arar as plantações ou cuidar do esgoto do

clã. A biblioteca fica ao lado da escola. Os dois prédios estão ligados

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por uma passagem. A porta dá um único sinal sonoro silencioso

avisando que eu entrara ansiosa para ver a bibliotecária, Taya, uma

das mais antigas draki de terra no clã. Ela não fala muito, preferindo

as páginas de um livro a uma real companhia, mas nós

compartilhávamos uma camaradagem durante os anos que eu fui

resignada para ser a ajudante dela.

Eu sempre a achei um fonte de informações. Ela não é

simplesmente a bibliotecária do clã. Ela também serve como uma

historiadora, responsável por arquivar qualquer evento significante no

Livro de Tradições do clã. Ela levanta o olhar deste livro, a caneta

posicionada em sua mão em cima do enorme volume de couro. A

página vira sem nenhum toque, abaixando suavemente como uma

batida de asa de mariposa. Ela nunca realmente toca a página. Como

um draki de terra ela tem influência sobre qualquer material

originado da terra. Já que a página de um livro deriva das árvores, ela

praticamente não tem que segurar nada diretamente em toda

biblioteca.

Ela aperta os olhos enquanto eu me aproximo, o único draki que

eu conheço que precisa de óculos. Como todos os draki têm uma

excelente visão, eu tenho certeza que isto é uma consequência dos

séculos que ela passou debruçada sobre os textos em luz baixa.

— Jacinda — ela disso ocamente, em um tom que eu nunca ouvi

dela antes.

Ela não mudou sua expressão, nem um único movimento. Ela

nem ao menos se mexeu em sua mesa. Ela estava completamente

indiferente comigo. E eu sabia que ela sabia... Provavelmente ouviu os

sussurros espalhados pelas enevoadas do clã desde ontem. Eu passei

a maior parte do dia escondida, esperando com todas as esperanças

que Cassian conseguisse conter sua irmã. Mamãe havia saído, mas

quando ela voltou, eu vi o olhar em seu rosto carrancudo e sabia que

o trabalho de Miriam foi bem sucedido.

— Oi Taya — eu parei para inalar profundamente o cheiro de

livros e mofo me dando boas vindas. — Eu senti falta desse lugar.

Um silêncio estranho permaneceu no ar.

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— Então — tento dar um sorriso. — O que você tem para mim

hoje?

Taya piscou.

— Ninguém te disse nada?

— Disse-me o que?

Seus lábios se contorceram com infelicidade, não por causa de

qualquer que fosse a notícia que ela iria dar, mas por que ela teria

que contar.

— Sua posição foi preenchida.

— Preenchida? — eu ecoei.

— Isso mesmo — ela assente rapidamente.

Então eu ouvi algo. Meu coração afunda quando um suave

zumbido agitado surge na quietude da biblioteca. É um ritmo, uma

batida pouco notável, e instantaneamente eu sabia a quem pertencia

isso e este alguém estava prestes a virar na esquina.

Miriam apareceu carregando uma pilha de livros. Ela parou

quando ela me viu, seu rosto nada revelando. Naturalmente.

— O que você está fazendo aqui? — os lábios, quase da mesma

cor que sua estranha pele neutra mal se moveram.

— Eu trabalho aqui. Pelo menos eu pensei que trabalhava.

— Você pensou errado. Várias coisas mudaram desde que você

partiu. — Eu estava começando a ver quantas.

Taya olha para trás e para frente entre Miram e eu. Essa é

provavelmente a maior conversa que ela tem em semanas. Com um

sorriso leve e um encolher de ombros de desculpa, sem nenhum

arrependimento real, ela retorna ao trabalho.

— Tchau — Miram moveu os dedos dela para mim.

Sem uma palavra, eu virei e fui direto para porta, passei pela

escola, ignorei os olhares, os sussurros indiscretos e dedos

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acusadores.

Eu estava quase no prédio de convenções quando alguma coisa

me acertou na cabeça. Eu cambalei, com as mãos no rosto, mais

atordoada do que machucada. Era uma bola. Houve uma explosão de

risadas e insultos gritados pelas crianças que fugiam correndo.

Calor me atingiu, se espalhando de dentro para fora. Isso não foi

um acidente. Lágrimas queimaram e apareceram nos meus olhos, o

que me fez ficar furiosa. Eu detesto essa fraqueza que fazia com que

eu desmoronasse com uma brincadeira de uma criança.

Eu me apoiei contra uma pequena parede de pedra que rodeava

o prédio de convenções, pegando um momento para conseguir me

recompor. Eu não vou chorar. Estava difícil conseguir. Quando a dor

pulsante da minha bochecha começou a realmente ter efeito, começou

a doer, o calor cresceu em mim.

Eu fechei meus olhos, respirei fundo, esfriando meus pulmões.

Era um sentimento perigoso, essa raiva, esse fogo crescente dentro de

mim que quer se libertar. Não só por causa de algumas crianças me

atingindo com uma bola. Tudo. Az me ignorando. Ser rejeitada por

Taya... Que eu sempre pensei que gostasse de mim. Eu funguei e

esfreguei meu nariz escorrendo.

Eu não podia esperar menos. Não é menos que eu mereço. Essas

crianças brincando na rua, eu coloquei elas em perigo. Eu não posso

esquecer isso nunca.

Ainda assim, o rosto de Will surge na minha mente. Seus olhos

mutáveis tão claros, tão ternos quando olhavam para mim. Eu

consigo vê-lo tão bem que meu peito se aperta, uma terrível e feroz

dor. Desejo me domina. Pelo som profundo de sua voz me

percorrendo. Pelo jeito que ele me fazia sentir. Não como eu me sinto

agora. Uma criatura inútil, digna de desprezo e ridícula.

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— Bem, vamos ver o que nós temos disponível, que tal? —

Jabel digita em seu teclado e olha para o seu monitor, e eu decido que

não é só a minha imaginação que ela me trata com uma calidez

decididamente menos cálida do que antes. Esperado, eu suponho,

mas ainda é irônico considerando que um pouco mais de um mês

atrás ela me convidou para todas as reuniões de família que ela

recebeu, me enfiando comida e bebida e me sentando entre Corbin e

Cassian. Seu filho e seu sobrinho. De uma maneira ou de outra ela

teria um respirador de fogo na família. Eu sempre soube que este era

o seu objetivo.

Eu fico de pé na frente da mesa dela e tento não recuar. Ela não

está me olhando no momento, e por isso estou feliz. Eu sempre evito

seu olhar. Apesar de que os draki hypnos não são capazes de usar

seus talentos em um colega draki, eu sinto como se ela pudesse

entrar na minha cabeça de qualquer forma, sussurrando suas

palavras, tentando influenciar minhas ações.

Um profundo ressoar de vozes flutua do escritório atrás dela.

Severin, tenho certeza. Lá dentro com os antigos. Pelo menos eu não

tenho que vê-lo. Ou pior... Eu não tenho que suportar alguma

observação sobre perder a minha atividade sendo o mínimo do que eu

mereço.

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— Ah, aqui, nós temos algo.

Eu assinto ansiosa para ir embora.

Pegando uma folha de papel, ela começa a escrever, dizendo, —

Há sempre lugar na equipe de estripação. Eu vou te colocar nas

segundas, quartas, e sextas. Estes são grandes dias para a caça e

pesca. Eles podem usar uma ajuda extra.

Meu estômago se revira. A equipe de estripação? Eu devo ter

feito um som porque Jabel me dá um olhar afiado. — Boa demais

para arrancar pele e eviscerar a comida que nos mantém

alimentados?

Eu balanço minha cabeça, mas eu estou certa que o movimento

é lento, pouco convincente. — Não, mas... há algo mais disponível?

Ela volta seu olhar novamente para o papel e assina seu nome

com um floreio. Arrancando-o do bloco, ela o entrega para mim. —

Leve isso com você quando você for se apresentar.

Eu pego a folha e saio do escritório, me perguntando se eu

deveria ter dito alguma coisa sobre precisar de uma nova atividade.

Alguém iria perceber se eu ficasse sem nenhuma por um tempo?

Fora as crianças que jogaram bolas na minha cabeça, todo o

resto tem feito um bom trabalho me ignorando, me tratando como se

eu fosse invisível. Até mesmo a minha melhor amiga me evita.

Como se o mero pensamento a tivesse conjurado, eu vejo Az

enquanto eu desço das escadas. Eu chamo o nome dela e corro para

alcançá-la. Ela me dá uma olhada rápida por cima do ombro antes de

se virar novamente.

Eu estou sem fôlego quando eu a alcanço. — Az, por favor,

espera.

— Por quê? — ela mantém um passo apressado, olhando

somente para frente.

— Vamos lá, Az. Eu posso lidar com muitas coisas, mas não com

você estando brava comigo.

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— Sério? — seus olhos negros azulados voltam para mim. — Eu

não achei que isso importava.

— Claro que você importa para mim.

— Sério? — ela faz um som feio. — Eu importo? Eu não acho

que ninguém do clã é mais importante do que o seu humano! — Ela

pára agora, fúria cintilando em seus olhos amendoados. — Quando

você se revelou para ele, você pensou alguma hora em mim? Em

algum de nós?

Eu olho para o seu rosto, implorando. — Az, não foi assim. O

Will é...

— Will — ela cospe seu nome, suas mãos em punhos ao seu

lado. — Eu nunca pensei que você nos venderia por algum cara. O

tempo inteiro que você foi embora eu me preocupei com você. Até

mesmo quando o Severin impôs as regras idiotas dele e o toque de

recolher e todo mundo começou a reclamar que era por sua causa, eu

disse para eles que eles estavam errados. Você nunca teria ido

embora por vontade própria. Eu tinha certeza que a sua mãe havia te

obrigado. Sequestrado você ou algo assim. Quão estúpida eu fui? —

ela balança a cabeça, seu cabelo ondulando como água ao redor dela.

— E o tempo inteiro você estava provavelmente se pegando com

algum humano... Um caçador!

— Az, por favor.

— Você iria me contar alguma hora?

— Eventualmente. Sim!

Ela ergue as duas mãos no ar como se ela quisesse me empurrar

para longe dela. — Sinto muito, Jacinda. Eu apenas não posso falar

contigo agora. — Ela olha para mim de cima a baixo. — Eu nem te

conheço mais.

Ela gira, com o cabelo com mechas azuis, um toque de cor no ar

esfumaçado. Eu assisto, desamparada, vendo Miram na rua mais a

frente. Ela acena para Az. Eu seguro a minha respiração, pensando

que certamente Az não decidiu andar com ela. Mas Az se junta a ela e

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as duas vão embora juntas.

Eu fico lá de pé por um momento, minha garganta

impossivelmente travada. Então, consciente de quão solitária eu

estou lá no meio da rua, quão patética eu devo parecer encarando a

minha ex-melhor amiga, eu começo a me mover. Um pé na frente do

outro. Esquerda, direita, esquerda, direita.

Eu deveria me apresentar para a minha nova atividade. Isso

seria a coisa responsável a se fazer. Mas eu não ligo. Eu já falhei com

todo mundo. Eu não posso desapontá-los ainda mais.

Eu brinco com o meu jantar, movendo a comida ao redor no meu

prato para fazer parecer que eu estou comendo. Mamãe fez pão de

verdaberry3, mas até mesmo isso não é o bastante para recuperar o

meu apetite.

Eu olho pela janela da cozinha para o sol poente, imaginando

Tamra e os outros reunidos no campo para o voo grupal desta noite.

Ela passou por aqui mais cedo para ver se eu queria ir. Egoísta ou

não, eu não consegui. Eu não estou pronta para ir para o céu com a

minha irmã e todo mundo. Em meus sonhos, quando eu imaginava

como as coisas deveriam ser, éramos sempre nós duas.

— Como foi o seu dia? — mamãe pergunta.

Algo que eu gostaria de esquecer. Ou pelo menos conseguir

chegar até amanhã para que eu possa deixá-lo oficialmente para trás.

Meu olhar vagueia para o lugar vazio de Tamra e eu rapidamente

olho para longe... Somente para me encontrar encarando o espaço

onde o papai costumava sentar.

Não há lugar seguro para olhar. Eu estou cercada pelo vazio. A

3 Deve ser uma fruta inventada pela autora. Provavelmente como um blueberry verde.

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cadeira do papai à minha direita. A de Tamra à minha frente. Restou

somente a mamãe à minha esquerda. E eu.

— Ótimo. — Eu amasso um pedaço de pão entre os meus dedos,

apertando uma verdaberry. Suco verde mancha as pontas dos meus

dedos.

— Use o seu garfo — mamãe diz.

Eu pego o utensílio e apunhalo o pão escuro. Eu não estou

prestes a estourar com ela quando ela parece tão frágil como agora.

Se não tem sido fácil para mim aqui, então eu sei que está sendo duro

para ela. Especialmente já que o clã a culpa por nos levar embora. —

E você? — eu pergunto. — O que você fez?

Ela encolhe os ombros, mexendo seu esguio ombro como se não

tivesse nada que valesse a pena comentar. Eu penso em ser acertada

na cabeça com uma bola e me pergunto se isso aconteceu com a

mamãe também. O pensamento me faz apertar com tanta força o

garfo que as minhas juntas doem. — Foi bom ver a Tamra — ela

oferece.

— Sim — eu replico.

— Ela parece estar... Bem.

— Sim. — Pálida igual gelo.

— Passando bastante tempo com o Cassian — mamãe

acrescenta, me assistindo de perto para ver como isso me afeta. — Ela

parece feliz.

Eu meramente aceno, incapaz de negar isso. Tamra parece feliz.

Mas então ela tinha o Cassian agora. Por que ela não estaria?

Depois de um momento, mamãe acrescenta. — Eu tive um dia

lento na clínica.

— Bem, isso sempre é uma coisa boa — eu murmuro, contente

que a mamãe não perdeu sua atividade na clínica. Sendo um draki

verda - ou uma antiga draki verda - suas habilidades são mais bem

utilizadas trabalhando com os doentes ou feridos, fazendo os

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emplastros e medicamentos que mantém a nossa raça em boa forma

há gerações. Eu não os vejo realocando-a só de pirraça. Fazer isso

seria um desserviço ao clã.

— Reorganizei os remédios — ela voluntaria, sua voz de um

monótono entorpecente. Eu não acho que teve alguém que fez isso

desde que eu fui embora.

Eu aceno lentamente, juntando meus nervos para confessar: —

Eu fui realocada. — Esperançosamente minha voz soou tão sincera

quanto à dela. Eu tenho que contar para ela. Ela descobriria

eventualmente. Se não de mim, então de outra pessoa.

Eu espero ela erguer a sobrancelha, o tom afiado que irá exigir

por que eles fizeram isso. Basicamente, eu espero pela mãe protetora

e vigilante que ela sempre foi.

Ao invés disso, sua voz soa oca. — Você não está mais na

biblioteca?

— Não. — Eu dou uma mordida e mastiga rapidamente, com

medo das próximas palavras. — Eu estou com a equipe de estripação.

Ela olha para cima. — A equipe de estripação?

— Sim. — Eu arranco um pedaço do pão de verdaberry até que

restam somente migalhas. — Eles precisavam de mãos extras.

— E quem te realocou para a equipe de estripação? — ela

pergunta baixinho.

Eu dou uma encolhida de ombros, certa de que será agora que

ela perderá a calma. — Jabel me deu a atividade.

Nada.

Mamãe fica quieta por um longo momento, encarando seu prato

antes de empurrá-lo da mesa e levar seus pratos para a cozinha. Eu

me encolho enquanto ela os joga na pia com um barulho. Mesmo

assim, eu espero. Pronta para ela dizer algo, fazer algo. Marchar pela

rua e enfrentar a Jabel, sua antiga amiga. Eu quase posso imaginar a

gritaria, escutar a minha mãe exigindo o porquê de sua filha ter sido

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dada uma atividade tão baixa reservada para aqueles treinados para

serem parte da equipe de caça do clã.

Isso seria familiar. Isso seria típico.

Nada. Eu me esforço para ouvir um som e detecto o desarrolhar

de uma garrafa, o barulho fraco do cair do vinho dentro da taça.

Depois de um momento, ela reaparece, pára na mesa com uma

taça na mão, o líquido verde escuro perigosamente próximo da borda.

Ela me encara por cima de borda enquanto ela dá um grande gole no

vinho verda.

— Tudo ficará bem — eu digo por que eu não sei o que dizer para

ela. Ela não está agindo nem um pouco minha como mãe. — Eu

estraguei tudo e eles têm que me punir. Tudo irá passar.

Ela toma um lento gole, seus olhos sem emoção. — Sim. Acho

que você está certa. — Ela desaparece para a cozinha novamente.

Quando ela retorna é com uma garrafa cheia de vinho verda enfiada

entre o seu corpo e seu braço. Meu olhar a segue enquanto ela anda

pelo corredor até o seu quarto. A porta se fecha depois dela. Um

momento se passa e eu escuto o zumbido baixo da televisão em seu

quarto.

Eu sento à mesa por um momento e olho ao redor. Para as três

cadeiras vazias. Eu me levanto rapidamente, incapaz de sentar lá por

mais um momento.

Juntando os pratos, eu os levo para a pia. O silêncio na cozinha

é denso, a televisão da mamãe um distante zumbido. Enquanto eu

lavo, meu olhar viaja para a janela da cozinha e eu seguro uma

arfada. Uma tigela escorrega da minha mão, salta para fora da borda

da pia, e se quebra no chão. Mesmo assim, eu não me movo, nem

mesmo olho para investigar a dor lacerante do lado do meu pé.

Meu olhar se fixa sem piscar para o outro lado do jardim seco da

mamãe. Uma forma se destaca no escuro. Os olhos me assistindo

parecem brilhar, cortando a névoa da noite até a minha casa. Até

mim.

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A névoa rodopia, se espalha como fumaça de uma fogueira ao

redor dele. Ela se parte para revelar um rosto - o sorriso curvado de

Corbin. Ele parece presunçoso, feliz consigo mesmo enquanto ele fica

lá de pé descaradamente.

Minha pele arrebenta, os pulmões se contraem e incham,

vibrando com calor enquanto o meu olhar se estreita, lendo

perfeitamente aquele sorriso.

Ele pensa que eu sou dele para ser tomada. Tamra e Cassian

têm um ao outro, e eu estou sem favores para pedir ao clã - o que

mais eu poderia fazer a não ser assumir o único draki que me olha?

Que me quer? Certo? Errado.

Fumaça se acumula no meu peito. Ele provavelmente acha que

eu vou cair de joelhos perante a ele, grata por qualquer migalha que

ele me jogar, uma salvação nesta nova existência sem amigos e sem

luz entre a minha própria espécie.

Olhando para a figura envolta, eu agarro o cabo e puxo as

cortinas no lugar se chocando com um barulho. Mas eu ainda o

imagino lá, o vejo me encarando, assistindo, esperando.

É estranho. Eu estou de volta para o lar que eu tanto ansiava,

em névoas de ar fresco e que beija a minha pele sedenta. Mas o

deserto morto poderia muito bem estar me cercando. De novo. E

desta vez não há um Will para me fazer reviver. Não há nada.

Naquela noite eu me certifico que a janela esteja fechada. Uma

precaução que eu nunca tive antes, até mesmo quando eu estava em

Chaparral, mas por alguma razão eu sinto a necessidade de fazer isso

esta noite, com os olhos brilhantes de Corbin impressos na minha

mente.

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Os dias passam calmamente, como páginas sendo viradas em

um livro, uma depois da outra. Enquanto minha vida se acomoda em

uma rotina, a solidão rói profundamente dentro de mim. O

crepúsculo se instala enquanto caminho para casa do trabalho. A

névoa espessa e a luz fraca do sol lutam para penetrar o ar opaco,

rompendo remendos aqui e ali, protelando a noite.

Eu o escuto antes de vê-lo. Cassian se materializa na névoa na

minha frente, seu macio caminhar na trilha. Ambos paramos e

encaramos um ao outro. Ele vive do outro lado da cidade. Eu posso

adivinhar a razão por ele estar tão ao sul. Eu sei de onde ele está

vindo, onde ele esteve. O mesmo lugar que ele esteve passando a

maior parte de seu tempo.

— Cassian — eu comprimento, torcendo meus dedos até

doerem, esfregando a carne, como se o sangue de todos os peixes que

eu limpei hoje ainda estivesse lá.

— Jacinda. Como você está? — ele diz isso como se nós

fôssemos meros conhecidos. E eu acho que nós somos de alguma

maneira. Nós nos tornamos isso. Já que ele decidiu se concentrar na

minha irmã. De repente eu desprezo vê-lo. Eu me sinto usada,

enganada. Ele nunca me quis. Nunca realmente gostou de mim por

minha causa.

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76

A névoa golpeia meu rosto enquanto eu encaro Cassian, algo

dentro de mim se desvendando, como fitas em um pacote que se

desfaz.

Cassian me encara, seus braços atrás das costas. Como Severin

ou outro ancião me olhando carrancudamente, e eu acho que ele está

no caminho de se tornar um deles.

Minha pele pinica com ressentimento. Eu odeio quando ele me

lembra deles... De seu pai. É uma pílula amarga depois de ele quase

ter me convencido que ele era diferente. Eu queria acreditar nele. As

palavras que ele me disse em Chaparral quando ele estava tentando

me convencer a voltar para casa com ele ecoavam na minha cabeça.

Há algo em você... Você é a única coisa real para mim lá, a única

coisa remotamente interessante.

Mentiras para me fazer acreditar nele. Ou ele mudou de ideia.

De qualquer forma, eu não o interesso mais. Não da mesma maneira

que Tamra.

Finalmente, quando eu não respondo, ele diz — Você tem que

parar com isso.

— Parar com o quê?

Ele abaixa a cabeça, olha para mim através de olhos

assombreados. — Parar de tornar tudo tão difícil para você mesma.

Ficar chorando por alguém...

— Eu não quero ouvir isso. — Eu balanço minha cabeça. — Não

que você realmente se importe, mas eu já larguei isso para trás. — É

mais fácil dizer isso. Apesar de que nós dois sabemos que eu quero

dizer o Will.

— Então por que eu ainda o vejo nos seus olhos?

Um sibilo de dor me escapa.

Eu o ataco com o punho fechado contra o seu peito musculoso,

descontando toda a frustração, cada dor nele.

Ele não se mexe. Eu bato nele novamente. Ainda nada. Ele

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aguenta. Encara-me com seus impenetráveis olhos negros. Com um

grito estrangulado, eu o atinjo várias vezes. Acertando golpes em

qualquer lugar que eu consigo alcançar. Minha visão fica embaçada, e

eu percebo que estou chorando.

Isso só me enfurece mais. Desesperar-me na frente de Cassian,

perder o controle, sucumbir a fraqueza enquanto ele testemunha...

— Jacinda — ele diz, então novamente, mas alto, porque eu não

paro, não consigo parar a agitação dos meus punhos na sólida parede

que ele é. — Já basta!

Ele me para. Eu acho que ele poderia já ter feito isso, mas agora

ele realmente o faz. Ele me puxa para perto, não tanto como um

abraço e sim como uma tranca com o corpo, ambos os braços ao meu

redor.

É desconcertante, nossos corpos tão próximos, pressionados

apertadamente juntos. Nossas respirações caem em um ritmo rápido

e compassado.

Eu puxo minha cabeça para trás, olho para o seu rosto. Vejo-o

como eu nunca vi.

Ele não está mais olhando para mim. Parece como se ele

estivesse olhando dentro de mim, seu olhar sondando. Aceitando-me

como sou. Uma proximidade que eu nunca senti com mais ninguém

desde que eu cheguei aqui me arrebata. E é uma promessa de um fim

para a minha solidão entorpecente. Se eu deixar acontecer. Deixar

isso acontecer.

Eu entro em pânico novamente. Porque é Cassian.

Um soluço estrangula a minha garganta e sai irregularmente dos

meus lábios. Eu fecho meus olhos com uma piscada miserável e longa

e me recomponho novamente. Desvencilhando-me de seu abraço

quente, eu o atropelo para passar.

Ele agarra o meu braço enquanto eu passo e me vira como se

nós estivéssemos dando um passo de dança.

Eu encaro a mão no meu braço. — Me deixe ir.

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Ele fica em silêncio por um momento, seu peito subindo e

descendo por causa de sua respiração. — Sobre o que é isso

realmente? Por que você está correndo de mim?

Eu não digo nada de início, o único ruído é a queda da minha

respiração irregular. Então, eu estouro: — Você mentiu para mim!

Ele corta o ar tenebroso com uma de suas grandes e

arrebatadoras mãos. — Quando eu menti para você?

Eu continuo como se não tivesse ouvido ele. E eu não o escuto.

Não realmente. Finalmente alcancei o limite - o quão rápido ele me

largou quando Tamra se manifestou. — Eu não fui especial para você.

Você somente via a respiradora de fogo. Como todo o resto. Nunca foi

apenas eu. — E agora é Tamra. Só que não é apenas ela também. Ela

é somente um negócio para ele, e todo o resto - a shader preciosa do

clã.

Agora eu sei. Agora eu o vejo pelo que ele realmente é.

— Eu sempre fui honesto com você. — Suas narinas se

inflamam, cumes surgindo na ponte de seu nariz, levantando-se com

a mudança de seu temperamento. Eu deveria me afastar depois disso,

mas eu nunca fiz o que eu deveria fazer.

— Certo — eu cuspo.

Ele está tremendo agora, seus olhos mais roxos do que negros.

— Você quer ouvir uma verdade, Jacinda? Que tal isso? Eu não

consigo olhar para você. Não quando você está chorando por aí como

alguém que precisa estar sob vigilância contra suicídio... Tudo por um

cara que provavelmente já se esqueceu de você e seguiu em frente

para a sua próxima caçada.

Meus dedos se dobram em punhos, cortando minhas palmas. Eu

quero dizer tanto naquele momento - principalmente que o Will não

me esqueceu. Mas eu não deveria discutir sobre o seu motivo. Eu

deveria esperar que fosse verdade. Eu prometi deixar o Will para trás,

mas uma fome desesperada por ele ainda se revira dentro de mim -

uma víbora se contorcendo pelo meu corpo, lançando o seu veneno.

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Eu não tenho o Will. Eu não tenho nada. Nada a não ser uma

vontade frenética de me agarrar em algo, qualquer coisa para me

manter boiando no deserto da minha existência.

Ao invés disso, eu digo: — E eu morta iria te arrasar, não é?

Ele me encara tão rigidamente, incrédulo. — Você acha que eu

te quero morta? — Seus olhos estão arregalados e inquisidores. Ele

me faz começar a duvidar de mim mesma, que talvez ele se importe

comigo. Eu começo a tremer enquanto pensamentos confusos e

sentimentos se rodopiam por mim. — O que você quer de mim,

Jacinda?

Eu olho para a sua mão ainda no meu braço. Minha pele se

inunda com o calor, especialmente onde ele me toca.

— Me deixe ir. — Ele está tão próximo, elevando-se sobre mim,

fazendo eu me sentir pequena quando eu não sou. — Eu tenho que ir

— eu digo mais alto. E eu tenho. Eu tenho que ir. Agora.

Em resposta, sua pele fica embaçada, sua pele mais escura de

draki relampejando embaixo de sua pele humana, me lembrando do

que ele é. Do que eu sou. E eu não consigo evitar me lembrar do

quanto todo mundo pensou que nós éramos perfeitos juntos. Agora

eles pensam isso sobre ele e Tamra.

Seus lábios ondulam em volta de seus dentes, o surpreendente

branco contra a sua pele verde-oliva. — Por quê? Para que você fique

sozinha? É isso que você prefere? Estripar peixes o dia todo e então

chorar no seu travesseiro à noite? É isso que você quer? Já te ocorreu

que eu não me afastei de você igual você se afastou de mim? Você não

é nada mais do que uma garotinha assustada e egoísta que prefere

lamber suas feridas a viver.

Suas palavras atingem profundamente, mirando diretamente o

coração. Muito perto da verdade. Você não é nada mais do que uma

garotinha assustada e egoísta...

Minha visão muda, ficando mais nítida, e eu sei que estou

encarando-o através de pupilas verticais. Vapor se acumula na minha

garganta, queimando pela minha boca e narinas.

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Eu cambaleio um passo para trás. Ele não se move desta vez.

Ele me deixa ir.

Virando-me, eu corro pelo ar úmido até que os meus pulmões

queimam e eu me sinto pronta para explodir o meu peito apertado.

Eu me deleito com isso, um prazer que borda a dor, uma distração

bem-vinda. Mesmo quando eu deixo meu ritmo lento, eu me

comprometo a continuar andando até eu ganhar um pouco da

compostura. Até que eu não sinto mais os braços de Cassian ao meu

redor. Até que eu não escuto mais suas palavras. Garotinha

assustada e egoísta. Garotinha assustada e egoísta.

Maldito seja ele por entrar na minha cabeça. Por talvez ele estar

certo.

Os feixes vermelhos e dourados do crepúsculo penetram através

da névoa. A luz ardente toca a minha pele em relampejos, me

iluminando aqui e ali, lembrando-me de qual é a minha aparência

totalmente manifestada. O que eu sempre serei. O deserto não o

matou. Nada pode matar.

Eu sinto a certeza disso agora. O meu draki nunca vai

desaparecer. Talvez seja tudo o que eu saiba ser agora.

Eu sobrevivi à tentativa da minha mãe de matar o meu draki. Eu

sobrevivi o deserto, caçadores ao meu redor com olhares famintos, o

medo tão espesso que eu podia sentir o seu gosto na minha boca.

Depois de tudo isso, eu sei que o meu draki está aqui para ficar. Eu

não tenho mais que me preocupar sobre perder esta parte de mim. Eu

deveria estar feliz. Aliviada.

Exceto que eu não estou. Meus olhos ardem e eu pisco

rapidamente.

Inalando profundamente, eu me mexo. Estou louca em desejar

um garoto perdido para mim para sempre. Por que eu não posso

seguir em frente e encontrar qualquer felicidade que eu consiga no

clã?

E então eu a vejo, esboçada contra o crepúsculo nebuloso. A

torre em ruínas estende-se através da névoa como uma árvore antiga

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coberta com trepadeiras grossas e enroscada. Não é tão alta como as

outras três torres de vigilância estrategicamente posicionadas pela

cidade, mas é a mais antiga, a primeira, construída quando a ideia de

existir sem um shader parecia impossível, uma realidade para a qual

nós não precisávamos nos preparar.

O tempo mudou esta atitude. Conforme Nidia envelhecia e

nenhum outro shader se manifestava o medo se fincou na próxima

geração de draki que ficaria sem um shader. As outras torres foram

então construídas, mais fortes, mais altas do que antes, em

preparação para os dias que viriam quando nós teríamos que confiar

em nós mesmo para guardar a cidade.

Eu paro na base e olho para cima. As torres de vigilância estão

sempre camufladas com vinhas e bambus, o melhor para misturá-las

com a paisagem natural, mas esta parecia mais natural do que as

outras. E eu amo isso. Amo a impetuosidade dela enquanto ela

retorna para a natureza. Ela não é usada há anos, desde antes de eu

nascer, mas eu me lembro bem desta torre esquecida, minha caça da

infância.

Eu coloco a minha mão no degrau intocado e começo a subir.

Um animal, assustado pela minha intrusão debanda pelas vigas

retorcidas enquanto eu ascendo.

Eu passo pela congestão de folhas. Galhos enroscados me

cutucam, agarram o meu cabelo como dedos afiados enquanto eu

subo cada vez mais alto. Madeira apodrecida range embaixo de mim.

Eu alcanço o topo e caio de costas na madeira coberta por musgo com

um suspiro.

Eu espalmo a mão sobre a barriga, sentindo-me inspirar e

expirar, meus pulmões se expandindo. E tudo volta para mim. Meu

amor por este lugar. Um lugar que eu possa existir com segurança.

Onde eu posso ser eu. Longe de olhares indiscretos.

A copa verde me cobre. Eu observo o céu à deriva acima, através

de aberturas na madeira e na folhagem. Sentando-me, eu cruzo as

pernas e encaro o mundo verde vasto e pulsante espalhado lá

embaixo. O clã está lá. Os telhados verdes aparecendo através da

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névoa de Nidia.

A névoa ondula entre as casas e os edifícios, cobrindo os

campos, rastejando sobre as paredes da cidade e se espalhando por

todo o terreno como um ser vivo, estabelecendo-se espessamente nos

vales e as colinas e nas montanhas menores em um branco

espumoso. Apenas as copas das árvores mais altas furam através do

manto do nevoeiro.

— Imaginei que te encontraria aqui.

Eu me encolho, puxando meus joelhos próximos ao meu peito

enquanto a cabeça escura de Cassian aparece seguida pelo resto dele.

Ele se abaixou ao meu lado, a madeira rangendo em protesto.

— Isso provavelmente é uma armadilha mortal, você sabe.

Deveria ter sido derrubada há muito tempo atrás.

— Seria um sacrilégio. Há muitas memórias gravadas nela — eu

digo. — Ninguém consegue fazer isso.

Ele estica o braço e acaricia uma tábua coberta por musgo. —

Sim. Essa é a verdade. Pergunto-me quantos primeiros beijos foram

roubados aqui em cima.

Alguma coisa se apertou um pouco dentro de mim por causa

disso. Meu primeiro beijo não foi aqui. Foi com Will. Lá fora. Meu

olhar flutua para o mundo vasto espalhado lá embaixo de mim, tão

diferente do deserto onde o meu coração encontrou o Will.

Provavelmente deveria ter sido aqui. Provavelmente teria sido aqui se

eu não tivesse ido embora.

Eu inalo o ar frio e úmido através das minhas narinas. — Por

que você me seguiu?

A voz de Cassian ressoa no ar tão denso quanto à cortina de

noite se fechando em torno de nós, selando-nos para dentro. — Você

achou que eu não iria?

Eu não digo nada. Ele me encara com seu olhar impenetrável. A

chuva começa a cair com vontade então, o tamborilar ampliando o

silêncio que se estica entre nós. A água encontra o seu caminho pelos

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buracos e rachaduras na cobertura acima de nós e cai fria em cima

do meu cabelo. Eu não me importo. Eu nunca me importei com o frio.

Cassian angula sua cabeça, a água se acomodando em seus

elegantes fios escuros como contas de cristal. — Você realmente acha

que eu não me importaria se você estivesse morta?

Eu me afasto, lembrando-me de que eu o acusei de não se

importar com o que acontecesse comigo.

— Eu estive te evitando porque eu só estou malditamente

irritado... — Ele balança a cabeça, espalhando água. Os fios roçam

em seus ombros ritmicamente. — Eu não quero você se arriscando

novamente. O mundo humano... Will. É muito perigoso. — Cassian

pega a minha mão. Eu sinto o pulsar do coração dele através do

simples toque, a batida de sua vida encontrando a minha. — Você

morta... iria me quebrar. — Sua voz chicoteia com força sobre a

batida da chuva. — Tudo que eu já disse para você era a verdade.

Meus sentimentos por você não mudaram, Jacinda. Mesmo se você

me deixa louco, aqui, no clã... Você ainda é a única luz brilhante para

mim.

Eu não sei quem se moveu primeiro.

Talvez tenha sido nós dois. Ou talvez eu apenas não queira

aceitar que pode ter sido eu. Poderia ter sido a minha cabeça se

inclinando para frente, meu rosto molhado erguendo-se para o dele.

Meu coração batendo tão alto que bradava como um tambor em meu

peito.

Seus lábios são suaves ao primeiro toque. Um de nós treme. Eu

ou ele. Ambos? Eu não sei, não ligo.

É um beijo leve, lábios roçando, encostando, experimentando,

quase como se estivéssemos com medo de assustar um ao outro. E

nós estávamos.

Mesmo eufórica como eu me sinto nesse momento, eu não estou

totalmente consciente do que está acontecendo - a estranheza de

estar beijando Cassian. É aterrorizante fazer esta coisa que tem sido

impensável há tanto tempo. Mas eu acho que enterrado embaixo de

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tudo, a tensão sempre esteve latente entre nós. Esta noite eu me

soltei e a tensão se quebrou. Antes de Will, eu me perguntei sobre

Cassian e eu, me perguntei sobre nós - juntos. Eu pensei em talvez.

Mesmo se eu nunca tivesse admitido para mim mesma, eu nunca

poderia por causa de Tamra. Por que haviam comandado que nós

ficássemos juntos algum dia e não perguntado.

Mesmo assim, até mesmo sabendo disso, eu não paro. Eu não

me afasto e corro.

A brincadeira delicada dos lábios dele molhados pela chuva é

doce, excitante. Eu me inclino para ele, sinto o gosto de menta na sua

boca. Meu coração se aquece, se suaviza por ter esta intimidade, esta

conexão com outra alma novamente.

Até que o beijo mudou.

A pressão aumenta de leve. A intensidade se aprofunda em algo

que eu sinto nos meus ossos, a vivacidade repentina da minha carne

e a arremetida de sangue quente. Seus lábios se tornam mais

exigentes, duros e suaves ao mesmo tempo, devorando minha boca.

Eu gemo e ele rapidamente se afasta, roçando meu rosto com

seus dedos. — Isso está bem...

Assentindo, eu o puxo de volta para mim, precisando muito

disso no momento. Eu não consigo sentir nada a não ser uma

melhora na dor que esteve me devorando por dentro desde que eu

deixei Chaparral.

Ele abraça a sua fome.

Sons animais estranhos vêm dele. Ou sou eu?

Vibrações retumbam do meu peito, subindo e contraindo minha

traqueia. Eu coloco meus braços entre nós e viro as palmas das mãos

em seu peito, desejando o toque, a sensação do outro. Eu desenrolo

meus dedos para que as minhas palmas fiquem retas em seu peito.

Seu coração bate firme e forme.

A mão dele se arrasta pelas minhas costas, enterrando-se no

meu cabelo molhado, pegando mechas grossas, mas eu não ligo. Eu

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me deleito com isso, o conhecimento do desejo de outro por mim - do

desejo de Cassian.

A palma dele se acomoda na parte de trás do meu crânio,

embalando minha cabeça.

Seus lábios deslizam da minha boca para a minha mandíbula

escorregadia. Seus dentes mordiscam ali e eu não consigo me parar.

Eu suspiro, sentindo a puxada na minha carne, a energia na minha

pele e saber que eu não sou totalmente mais humana. Ele trouxe o

draki de volta a vida em mim. Igual Will fez.

O pensamento me faz recuar, sugando uma respiração molhada.

Eu me afasto ofegante com o ar gelado queimando os meus pulmões,

olhando em seus olhos, as pupilas de um roxo profundo, fendas

verticais escuras e finas.

Horrorizada, eu passo uma mão em minha boca que queima

antes de arrastar os dedos contra a minha pele, sentindo a textura

firme e suave e confirmando que eu já estou a meio caminho de me

manifestar. Por causa dele.

Sua própria pele relampeja, um carvão escuro e brilhante. —

Jacinda. — Eu baixo o meu olhar para a boca dele, para os seus

lábios que eu provei com os meus. Eles estão em um tom profundo de

rosa, inchados e com aparência de machucados de beijar. A náusea

se acumula dentro de mim. Não, não, não, não...

Eu balanço minha cabeça selvagemente e murmuro para mim

mesma. Errado. O que eu estou fazendo? Como eu posso fazer isso

com Tamra?

A resposta vem até mim. Eu o beijei, o aproveitei, porque eu

podia. Porque eu estou solitária. Porque ele está aqui, me esperando,

me aceitando. Ele está aqui. O Will não.

É só isso que está acontecendo. Ele não é o que eu realmente

quero. Não é quem eu quero.

— Jacinda — ele sussurra.

— Eu tenho que ir — eu digo rapidamente, enfiando o cabelo

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molhado para longe da cara. — Mamãe irá se perguntar onde estou.

— Isso não é verdade, mas eu digo de qualquer forma.

— Jacinda — ele tenta de novo.

— Não — eu digo, minha voz afiada. — Isso não vai acontecer,

Cassian. Isso não é justo com... — eu me paro.

— Com Tamra — ele fornece.

— E você — eu retorno. — Você merece alguém que possa te dar

tudo. Tamra pode fazer isso.

— Você também pode — ele responde com tanta convicção que

um pequeno arrepio me percorre. — Vamos lá. Você está ficando

gelada — ele responde, interpretando errado o meu arrepio por frio.

Pegando a minha mão, ele me guia para a escadaria e me deixa

descer primeiro.

No chão, ele olha com olhos semicerrados para a chuva no céu.

— Sem voo esta noite.

— Sim.

— Tamra está ansiosa para voar com você. Ela está desapontada

que você ainda não saiu com ela ainda.

— Eu sei.

— Da próxima vez? Você virá?

— Sim — eu digo, com sinceridade.

Nada mudou. Eu tenho que me ajustar novamente à vida no clã.

Eu tenho que esquecer o Will. Eu tenho que esquecer sobre beijar

Cassian. Eu irei esquecer e me ajustar, e tudo ficará bem.

Nós andamos pela chuva até a minha casa. Cassian me segue

até a minha porta. — Te vejo amanhã. — Sua voz está rouca

enquanto ele me encara, seus olhos diferentes, quase suaves. O meu

estômago se embrulha enquanto ele se vira.

— Cassian. — Eu pulo alguns degraus e volto para a chuva,

determinada que ele entenda que nós somos apenas amigos. Nós

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nunca poderemos ser mais do que isso.

Segurando uma mão por cima dos meus olhos, eu olho para ele.

— Obrigada. Estou contente que nós somos... Amigos. — Eu digo a

palavra amigos deliberadamente, deixando que a ênfase que eu dei

mostre o que quero dizer.

Sua boca se curva em um lento sorriso. — Eu nunca quis ser

teu amigo, Jacinda.

Meu coração pula erraticamente em meu peito. De pé na chuva

forte, eu o vejo ir embora.

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A chuva finalmente parou depois de três dias. Sozinha na

minha varanda da frente, eu olho para o meu almoço, o véu cinza

ondulante sofre uma morte súbita. Quase instantaneamente, a névoa

da Nidia chega, como algo vivo, pulsando com respiração.

Rapidamente cobre a cidade. O guarda-chuva que eu usei quando

estava vindo para casa da escola rodopia para o lado da varanda com

a mudança brusca do ar.

Eu havia acabado de retornar da aula de Manobras Evasivas, e

os padrões de voo dançavam na minha cabeça como constelações

enquanto eu mordiscava um pedaço de pão de verdaberry. Eu tenho

que voltar para a minha aula da tarde logo, mas por enquanto eu

aproveito o silêncio. Tirando meus sapatos, eu deixo a névoa deslizar

sobre os meus pés descalços.

Mamãe está no trabalho. Eles continuam escalando-a para

longos turnos, deixando-a em turnos inteiros. Deliberadamente, claro.

Eu a vi tão pouco. Vivendo com Nidia, Tamra a vê ainda menos. Eles

querem dessa forma.

Sem o tamborilar da chuva, o silêncio abrupto parece estranho,

como se o mundo estivesse segurando sua respiração ao meu redor.

Eu abaixo o meu prato e puxo a coberta que está atrás do banco. O

calor seco de Chaparral é uma memória distante, enquanto eu me

cubro com a lã.

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Do outro lado da rua, a figura nublada de Corbin sai de sua

casa. Quando o meu olhar repousa em sua braçadeira azul, algo se

aperta no meu estômago.

Seus olhos imediatamente encontram os meus. Com um aceno,

ele passeia pela rua e para no último degrau da minha varanda.

Segurando uma mão erguida como se estivesse segurando o ar, ele

sorri. — Acho que nós estaremos voando esta noite.

Eu forço um sorriso. Ele é o meu vizinho. Ele não está indo

embora. E nem eu. Apesar de quão desagradável eu o acho, eu tenho

que tolerá-lo. — Sim. A chuva finalmente desistiu.

— Você estará se juntando a nós?

Eu confirmo. Eu prometi que iria... e eu quero. Eu preciso voar

novamente. Especialmente com a irmã que eu pensei que nunca teria

a chance de voar junto. Enfim nós seremos capazes de dividir o céu.

— Sim.

— Bom. — Tons de preto arroxeados brilham em seu cabelo

claro enquanto ele assente. — É bom ver você mudando de ideia,

Jacinda.

Isso eu não posso deixar passar. — Eu não estou mudando de

ideia por sua causa.

Seus lábios tremem. — Mas você está mudando de ideia.

Ele olha pela rua, então, encarando por um longo momento

enquanto ele vê algo vindo na nossa direção pelo vapor frio. — Eu vi

sua irmã esta manhã.

Eu não revelo nada enquanto eu olho para ele, mesmo com a

prudência escoando por mim. Ele mostra suas intenções. Ele quer

uma de nós, está determinado a ter uma de nós.

— Ela e Cassian estavam indo para os orquidários com alguns

outros. Ela parecia... Feliz.

— Ela está — eu digo.

E por que ela não estaria? Ela tem tudo o que ela sempre quis.

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Amizade, aceitação pela sua própria espécie... Cassian. Se eu não

estragar isso para ela. A culpa nojenta que esteve me corroendo pelos

últimos três dias, desde o beijo com Cassian, tira outro pedaço da

minha consciência.

— Eu vou passar por aqui quando o meu turno terminar e nós

podemos ir caminhando juntos para o campo de voo.

Eu me arrepio. Este é o Corbin que eu me lembro. O garoto

arrogante que nunca pede, somente pega. — Eu já tenho planos de

me encontrar com Tamra.

A boca dele se retorce. — Você não pode se esconder atrás da

sua irmã para sempre. — Ele se vira e começa a caminhar de volta. —

Vejo você à noite — ele fala por sobre o ombro.

Eu vejo o vulto dele sumir na névoa trêmula e me pergunto o

que irá custar para que ele me esqueça.

— Você está me evitando.

Eu olho para cima enquanto eu desço os degraus da frente da

escola. Cassian se desencosta de uma coluna e fica ao meu lado. Ele

está certo, claro. Eu tenho evitado-o. Mas eu não admito isso.

— Está chovendo sem parar — eu digo ao invés.

— Eu gosto da chuva — ele responde espessamente, e eu sei que

ele está pensando em nosso beijo na chuva. Algo que eu tive

dificuldade para tirar da minha cabeça.

Eu deslizo um olhar para ele, estudando a descida elegante de

seu cabelo. Minha respiração se acelera. Abraçando o livro ao meu

peito, eu caminho para frente.

Cassian mantém o passo. — Por que você está me evitando?

— Eu não estou te evitando — eu minto. — Eu só não saí do

meu caminho para te procurar. Você esperaria que eu fosse... —

depois do beijo... Culpa quente inunda o meu rosto. Eu lanço um

olhar para ele. — Você não está um pouco velho para ficar andando

pela escola? Você terminou no último semestre.

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— Como mais eu vou te encontrar?

— Hum, eu não sei. Na minha casa talvez?

Eu não consigo evitar me perguntar se ele não quer se arriscar

que Tamra escute sobre ele vindo me visitar em casa. Nós dois vistos

juntos dessa forma... Por aí na cidade - não é uma grande coisa. Isso

pode ser visto como coincidência. Se este é o caso, ele não é tão

imune a Tamra afinal de contas. Eu faço uma pequena careta, me

perguntando por que este prospecto não me enche de um alívio

imediato. Não é isso que eu quero? Que ele goste da minha irmã tanto

quanto ela gosta dele? Eu ando mais rápido.

— Nós precisamos conversar. — Ele me agarra pelo braço e me

obriga a encará-o.

— Sobre o quê, Cassian?

— O outro dia...

Pânico arranha minha garganta. — Foi um erro — eu termino,

determinada que ele veja dessa forma também.

Algo passa em seu rosto. Uma emoção que eu nunca vi nele.

Pensando nisso, emoção vindo dele é bem raro... Ponto.

— Cassian! Espera!

Ambos viramos. Miram está atrás de nós, apressando-se para

nos alcançar.

Eu murmuro algo desagradável. Outros podem estar

amolecendo, mas não Miram. Ela continua me olhando como se eu

tivesse feito algo para ela.

Eu começo a ir, mas Cassian segura o meu braço. Eu encaro

seus dedos, e então olho de volta para o seu rosto. — Ela não chamou

o meu nome. Faça-me um favor e me deixe ir.

Cassian faz uma careta e seus olhos escuros me perfuram. —

Isso não acabou — ele murmura.

— Sim. — Eu aceno, propósito me roubando. — Acabou. —

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92

Torcendo meu braço para me soltar, eu marcho para longe antes que

Miram nos alcance.

Nós nos reunimos no campo de voo no extremo norte da cidade.

Quase trinta de nós chegaram vestidos com as nossas túnicas

normais, vestimentas para descartar facilmente e colocar de novo.

Pinheiros altos protegem a clareira. Atrás do campo, montanhas

se derramam em linhas denteadas em tons mais escuros do que a

noite sombria.

Até mesmo Severin se juntou a nós, apesar de não estar vestido

com a túnica, então provavelmente ele só estava mantendo um olho

em nós e não estava voando esta noite. Ele me vê, e eu não perco o

relampejo de aprovação cruzando seu rosto. Apesar de não querer me

importar, algo se ilumina em meu peito. Foi isso que eu decidi fazer

no final das contas. Colocar tudo para trás de mim. Deixar de lado os

meus desejos egoístas que somente trazem dor para os outros. Seguir

em frente com a minha vida aqui e esquecer os sentimentos que eu

tenho por um garoto que não é certo para mim.

Então isso significa me dar bem com todo mundo. Até mesmo

Severin.

Segurando sua prancheta, o nosso mestre de voo olha para nós,

contando.

Tradicionalmente, nós somos designados a um parceiro de voo.

Alguém de quem nós não podemos nos separar em nenhum

momento. Imediatamente, eu fico ao lado de Tamra, firmando a

minha reivindicação. Esta noite, nós voaremos juntas.

Eu localizo Az e sinto uma pontada no coração quando eu noto

que ela está fazendo par com Miram. Ela me vê também, segura o

meu olhar. Por um momento, eu acho que ela virá, mas então ela

desvia o olhar.

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— Ela mudará de ideia — Tamra diz. — Ela está com medo.

— Com medo? Do quê?

— Que ela te perca.

— Mas é ela que está me evitando!

— Sim, mas ela está no controle disso. Ela não pode controlar

você ou qualquer outra coisa que aconteça. Não ter controle sobre o

que é importante na sua vida... Bem, isso assusta as pessoas.

Eu balanço minha cabeça com um sorriso. — Quando você ficou

tão inteligente?

Ela pisca para mim. — Odeio te dizer isso, mas eu sempre fui a

gêmea mais inteligente.

Eu fungo e dou um soquinho de leve no ombro dela enquanto

uma calidez fácil me inunda. Eu ainda tenho Tamra. Talvez mais do

que eu tive alguma vez antes. Talvez nós sejamos iguais como éramos

quando pequenas, antes que eu me manifestasse. Nós temos algo em

comum novamente. Ficando em pé ao lado de Tamra, eu penso no

papai. O quão feliz ele ficaria se ele pudesse nos ver aqui agora.

Sentindo um inchaço de emoção, eu desvio o olhar. E é aí

quando eu vejo Cassian. Instantaneamente meus lábios formigam

com a memória.

Ele está me assistindo com o seu intenso olhar negro arroxeado.

Eu sinto uma pontada de culpa. Aqui estou eu, ao lado da minha

irmã, curtindo a nossa recém encontrada proximidade com o segredo

do beijo com Cassian pairando mudo entre nós.

— Ei, lá está Cassian! — Tamra acena para ele alegremente.

Enquanto Cassian segue em nossa direção, Corbin acompanha o

passo dele. Um olhar passa entre os dois primos enquanto eles se

aproximam de nós. Não é amigável, mas estes dois nunca fingiram

gostar um do outro. Corbin nunca disfarçou o fato de que ele quer ser

o próximo alfa do clã, que ele acredita ser um melhor candidato. De

alguma forma, ele me lembra muito de Xander, primo do Will.

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— Então vocês duas vieram. — Cassian sorri e eu sei que ele

entende o quão especial, o quão extraordinário isso é para Tamra e

eu.

Eu digo olá em resposta, mantendo a minha voz baixa, como se

isso me tornasse menos notável... Como se tornasse o nosso beijo algo

esquecível, algo que não aconteceu.

— Pensei que nunca pararia de chover — Corbin diz, esfregando

suas mãos em antecipação. — Eu preciso pegar um pouco de vento.

Tamra assente, parecendo como uma criança ansiosa. — Sim,

eu também — ela diz como se estivesse fazendo isso há anos. Eu luto

contra um sorriso.

— Já tem um parceiro, Cassian? — Corbin pergunta.

Cassian hesita. — Não.

— Legal. Você e eu então.

Eu faço uma careta, me perguntando quando foi a última vez

que estes dois fizeram dupla durante um voo. Eles são tão

competitivos...

Eu não reflito por muito tempo porque o nosso mestre de voo

nos chama para o centro do campo escurecido. As luzes do perímetro

alinham a beirada, estão lá para quando pousarmos e quando nós

jogarmos um jogo noturno de bola no ar. Não que seja necessário. A

maioria de nós possui uma excelente visão noturna. Eu atiro um

olhar para Tamra. A maioria de nós. Isso ainda é novo para ela.

Nós ficamos com os nossos pares. Quando os sinais são dados,

cada um de nós tira a túnica, manifestamos, e levantamos voo dois de

cada vez. Tamra e eu esperamos atrás de Cassian e de Corbin, mas

eu nem olho para eles.

Ombro a ombro com a minha irmã, eu absorvo o significado

deste momento. Nosso primeiro voo juntas. O papai sempre esperou

que nós fizéssemos isso. Quebrou o coração dele quando nós nunca

fizemos. Nós ouvíamos embevecidas em nossas camas enquanto ele

nos falava sobre voar, a mamãe sorrindo complacentemente, nunca

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captando, nunca entendendo o amor dele pelo céu e o vento. Mesmo o

papai a amando muito, ele queria que nós fôssemos iguais a ele. Pelo

menos na maneira em como ele amava voar. E esta noite nós

seríamos.

Antes de nós tirarmos as nossas túnicas, a mão de Tamra se

estica e aperta a minha. Ela parece tão feliz, tão em paz consigo

mesma, que eu sei que isso é certo. Eu, aqui com o clã - onde eu

deveria estar, eu posso acreditar que tudo ficará bem.

Deixando as nossas túnicas para trás, nós deveríamos deixar as

nossas camadas, também.

O puxão familiar começa no meu peito enquanto o meu exterior

humano se derrete, sumindo, substituído pela minha pele mais

grossa de draki.

Eu inclino o meu rosto para a noite, sentindo as minhas

bochechas se apertando, os ossos se esticando e se acentuando.

Minha respiração muda, se aprofunda, enquanto o meu nariz muda,

cartilagem se quebrando enquanto os sulcos aparecem ao longo do

canal do nariz. Meus membros se soltam, se estendendo. Este

arrastar dos meus ossos me dá uma sensação boa, como um bom e

longo alongamento depois de estar preso dentro de um carro por

horas intermináveis.

Minhas asas se empurram atrás de mim, e eu suspiro,

aproveitando a libertação delas. Elas se desenrolam com um

sussurro, um pouco mais longas que a extensão das minhas costas.

Eu as trabalho, deixando as camadas de dourado como fogo no ar.

Bem lá em cima no céu, eu noto as nuvens se mexendo, como

fumaça na noite escura. Eu mal posso esperar para passar por elas,

sentir o vapor na minha pele. Eu olho para o meu corpo; minha pele

brilha como luz pelo âmbar. O meu olhar vagueia até a minha irmã e

a minha respiração fica presa com a visão dela. Ela é linda com a sua

pele prateada iridescente - a lua para o meu sol.

— Pronta? — eu pergunto em nosso discurso draki estrondoso, a

única linguagem que eu posso falar na manifestação total dada as

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mudanças nas minhas cordas vocais. Mas esta é a primeira vez que

Tamra pode responder na língua antiga de nossos antepassados, os

dragões verdadeiros.

Os olhos dela - íris mais largas e pupilas escuras verticais - me

encaram de volta. — Sim — ela responde, e eu sei que ela esteve

desejando por isso a vida inteira.

Ela se lança suavemente da terra. Eu me empurro com as solas

dos meus pés no ar úmido, deixando Tamra subir mais alto para que

eu possa assistir, deslumbrada com a visão dela: a pérola prateada

que é sua pele draki; as asas leves que cintilam como lençóis de gelo

reluzente.

Ela brilha como uma estrela branca contra a noite escura.

Olhando para trás, ela chama, — Vamos lá, eu pensei que você fosse

rápida. Mostre-me!

Eu sorrio abertamente, e o vento passa por mim enquanto eu me

apresso para alcançá-la em um rodopio crescente. Parece uma

eternidade desde a última vez que eu fiz isso. Mesmo sem o gosto do

sol na minha pele, é uma sensação maravilhosa voar novamente.

Tamra se move cuidadosamente, sem confiar em sua própria

habilidade, e nas correntes de ar que passam fazendo barulho por

nós. Nós ficamos em último no grupo.

Outros passam chicoteando por nós, seus gritos perdidos no

vento que ruge enquanto eles rodopiam em um turbilhão de cores: O

azul iridescente de Az com pintadas de rosa; o bronze cintilante do

meu colega draki de terra. Eu vejo Miram, sua pele um bronzeado

leve. O ônix entre nós são os mais difíceis de detectar, a sua pele de

um negro e roxo iridescente se misturam bem com a noite. Outra

razão de por que, historicamente, eles são nossos melhores lutadores.

Ninguém os vê chegar.

Eu diminuo a velocidade, identificando Corbin e Cassian, voando

a uma velocidade incrível pela noite, o vento zunindo para um tom

estridente ao redor deles enquanto eles correm em ziguezagues

selvagens para alguma linha desconhecida de chegada. Tecendo e

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desviando um do outro, quase colidindo. Eu balanço minha cabeça.

Ainda os mesmos meninos idiotas se mostrando para o clã... Ou neste

caso, Tamra. Ou você, uma voz sussurrou na minha cabeça, mas eu

rapidamente a abafei com um golpe cruel.

Tamra grita novamente. — Jacinda! Vamos!

Eu coloco minhas asas para trás e avanço, temperando a minha

velocidade quando eu escuto as asas da minha irmã bater com força

para acompanhar.

Lado a lado, nós voamos juntas. Isso é o bastante, eu acho. Mais

do que eu havia sonhado. Enquanto todos nos deixam para trás, nós

não ligamos. Nós rimos e giramos no vento, passando pela noite

vaporosa, movendo e manipulando o ar como duas crianças

explorando a água ou nadando em uma piscina.

Uma alegria de infância que nós nunca sentimos. Até agora.

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— Por que você não volta para casa? Podemos assar algumas

sementes de raiz e assistir filmes. — Sugiro quando Tamra e eu

andamos de volta do campo.

Meu corpo ainda formiga, acordado e vivo do nosso voo recente

de uma maneira que eu não tenho sentido desde... Eu franzo o cenho,

proibindo a memória de se intrometer e arruinar meu novo sentido de

paz.

— Claro — diz ela.

Eu sorrio, pensando em todas as noites quando mamãe, Tamra,

e eu gostavámos de nos espremer no sofá e assistir a filmes e, em

seguida, eu me lembro o pouco que eu vi mamãe recentemente. Ela

provavelmente está dormindo, elimininada de seu longo turno.

Quando eu saí depois do jantar ela mencionou que iria para a cama

após o banho.

— Talvez mamãe possa se juntar a nós.

— Yeah — eu dei cobertura. — Se ela ainda estiver acordada.

Tamra envia-me um olhar. Eu sei que ela está pensando: Minha

mãe sempre costumava esperar por nós se estivéssemos fazendo

alguma coisa. Mas isso foi antes. Quando ela sentiu que tinha algum

controle sobre o nosso mundo.

Eu abro minha boca para explicar a situação com a mamãe, mas

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paro... fecho a boca e ouço, olhando para as ondas de névoa leitosa

rolando em torno de nós, mais grosso que o normal.

— Jacinda?

— Algo está errado. — Eu digo baixinho, segurando sua mão.

Mesmo que nenhum alarme soe no ar, alguma coisa está

errada. O município é um silêncio assustador. Tem ainda meia hora

até o toque de recolher, mas ninguém está andando, exceto aqueles

de nós retornando do campo de voo. Eles estavam tendo uma noite de

torneio de Jako no centro, mas quando passamos no centro da

cidade, o prédio está escuro. O tilintar de pedras preciosas usadas no

jogo não pode ser ouvido. Nem os gritos habituais de derrota ou

vitória quando alguém bate a pedra preciosa de outro jogador para

fora da placa.

Então, através da névoa, um dos anciãos aparece. É quase

ridículo ver a sua digna figura.

— Tamra. Você é necessária. Vá de uma vez para Nidia. Rápido.

Não passa pela minha mente ficar para trás. Nós corremos pela

cidade, deixando o ancião para trás. Os nossos passos no caminho.

Uma pequena multidão se reuniu diante da casa que Nidia. Severin e

outro ancião, dois guardas com suas braçadeiras azuis, Nidia e Jabel.

É a combinação de Nidia e Jabel que me alerta para a situação,

solavancos me param. Alguém entrou no clã.

Tamra continua a alguns metros e depois pára quando ela

percebe que eu não estou com ela. Ela olha para mim e depois para o

grupo, claramente incerta. Eu não posso falar. Não posso dizer nada.

Meu corpo não se move.

Nidia e Jabel somente se juntam por uma razão, quando um

invasor entra no clã. Nidia pode ser mais valorizada pela sua

capacidade de sombrear a mente, mas Jabel é útil, também. Como

um draki hypnos, ela fascina, entra na cabeça de um ser humano

para preencher as lacunas vagas que Nidia deixa.

As batidas do meu coração assumem um ritmo desesperado.

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Chamas de calor queimando selvagem o fogo no fundo da minha

garganta.

Me esforço para ter uma ideia boa do invasor. A maior parte de

sua figura está bloqueada pelos outros e uma névoa espessa de

neblina. Eu identifico as costas, o contorno de ombros largos. Eu

engulo contra o escaldão na minha garganta e dou um passo mais

perto, minhas mãos cerradas em punhos com tanta força que quebra

uma unha e farpas contra a carne macia de uma palma.

Passos rápidos atrás de mim e eu olho por cima do meu ombro.

Vários outros nos seguiram. Cassian, Corbin, Miram, e Az...

— Tamra! — Severin a vê então. Ele grita com ela como se ela

fosse um animal para ser ordenado, ondulando nitidamente com uma

mão. — Vem!

Tamra avança para o grupo e bloqueia o pouco de visão que eu

tenho. Franzindo a testa, me aproximo, os meus passos lentos,

acalmando, até parar quando Tamra gira ao redor. Seu olhar colide

com o meu.

O sangue surge em minhas veias.

Seu rosto diz tudo.

Não. Não, não, não...

Não pode ser ele.

Eu começo a balançar a cabeça, querendo negar, mas

principalmente querendo que Tamra vire e aja com naturalidade para

Severin e os outros não acharem suspeitos.

E então a multidão se desloca e eu vejo Will. O meu olhar

devora-o, olhos fixos com tanta força que dói. O teimoso cabelo

castanho mel ainda cai sobre a sua testa. A mandíbula rígida parece

tão implacável como sempre. Ele está aqui. Will manteve a sua

promessa para mim. E então eu penso, não. Não pode ter se lembrado

da promessa. É impossível. Tamra o sombreou. Talvez ele esteja aqui

acidentalmente. Talvez ele se perdeu de seu grupo e tropeçou no

nosso...

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Os meus lábios se movem, mas não digo nada. Não me atrevo.

Balanço a cabeça, eu me pergunto se eu estava imaginando

conjurado onde ele não estava.

Por um momento, a alegria me encheu, antes que o terror de vê-

lo aqui no município, a poucos metros de Severin, bate em mim.

Ele se vira para responder alguma coisa que Nidia pergunta,

provavelmente os detalhes de como exatamente ele se perdeu,

sozinho, tão longe, em cima da montanha, longe de qualquer estrada

principal. Eu olho fixamente para ele, fazendo as linhas esculpidas de

seus antepassados se aprofundar na sombra da noite, no redemoinho

perpétuo de nevoeiro.

Então ele me vê, e eu sei que não é apenas simples

reconhecimento. Seus olhos brilham avelã com profunda satisfação,

de tal forma que eu sei que ele se lembra.

De algum jeito. De alguma forma. Ele se lembra de tudo.

Lembrou-se de sua promessa para mim, e ele a manteve.

Ele está aqui por mim.

Felizmente, minha irmã para de olhar de boca aberta para mim

antes que alguém perceba e começe a pensar sobre o seu

comportamento. Eu dou uma rápida agitação à minha cabeça,

advertindo Will para tomar cuidado, para não mostrar qualquer

reconhecimento. Ele mexe a sua cabeça, um imperceptível aceno, e

sei que ele entendeu.

Cada fibra do meu ser queima em impulsos para atravessar a

distância que nos separa. As minhas mãos abrem e fecham sobre o

meu lado, ansiando para tocar, senti-lo. Sentir que é realmente ele.

Aqui. Agora. Para ter sua voz ondulando através de mim como antes.

Essa pancada de veludo me reviveu como em Chaparral, me pegou no

meu tempo lá, enchendo a extensão de meus dias e depois, encheu

meus sonhos desde então.

Qualquer outra coisa vai para longe enquanto eu olho para ele.

Onde estamos. O perigo que ainda ameaça...

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No fundo, eu sei que Tamra não vai revelar a identidade de Will,

e não apenas por causa de sua lealdade a mim. Minha irmã não é

uma assassina, e ela sabe que uma palavra dela iria acabar com sua

vida. Certo ou errado, ela não faria isso. Não é por ela.

Mas isso não significa que ele está seguro.

O ar se agita quando alguém passa ao meu lado e me viro para

ver Cassian olhando através da distância para Will. Por um momento,

eu realmente esqueci que havia alguém que poderia reconhecer Will.

Eu sigo o seu olhar, o ar se torna difícil de respirar, muito grosso para

arrastar dentro do meu pulmão restritivo enquanto eu processo que

Cassian está olhando para Will aqui em seu território. O garoto que

quase morreu quando eles rolaram de um penhasco. Espirais de

sofrimento como uma serpente na boca do meu estômago.

Nada impede Cassian de terminar essa luta. Ele não é como

Tamra. Dentro dele está sua própria essência para matar. Draki onyx

vem matando por milhares de anos. Isso é o que eles fazem melhor.

Agora, neste momento, eu estou presa em um pesadelo vivo.

Eu olho de volta para Will. Dois sentinelas armados que eu ia

para escola primária ladeando ele como se ele fosse um prisioneiro.

Se ele tiver sorte, eles não vão vê-lo pelo que ele é... o que ele significa

para mim. Nidia vai simplesmente sombreá-lo como inútil que ele

parece ser e enviá-lo em seu caminho. Contanto que eu fique calma.

Enquanto Will não der pistas. Enquanto Cassian não dizer ou fizer

nada.

Eu espreito um olhar temeroso para Cassian, silenciosamente

desejando que ele não diga nada para manter a vida de Will em

silêncio e o poupar.

Sua expressão está apertada, quase dolorosa enquanto ele olha

fixamente para mim. — Por favor — eu faço com a minha boca, tudo

que eu ouso dizer com Miram a passos de nós, com os braços

cruzados sobre o peito em uma pose de militante.

— Andarilho? — ela pergunta.

Ainda olhando para mim, Cassian responde: — Parece que é.

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— Eles vão tentar usar Tamra nele? — Corbin pergunta em voz

alta.

— Provavelmente — Miram diz, esticando na ponta dos pés, na

tentativa de espreitar o grupo para ver o andarilho.

Eu resisto a me aproximar, e não olhar com muita curiosidade e

alertá-los que Will e eu não somos estranhos.

— Ele é jovem. — Miram reflete. — Bonito, também.

Az bufa. — Para um ser humano, eu acho.

— Para um ser humano. — Miram concorda, enviando-me um

olhar malicioso. — O que você acha, Jacinda? Você é a especialista

em seres humanos bonitos. Como ele se compara?

Meu rosto formiga com calor, e eu luto para olhar indiferente,

calma diante de sua piada.

— Já chega, Miram. — Cassian repreende.

— Olha — Corbin rapidamente diz: — Eles estão levando-o para

casa. — Ele ri baixo. — Esse cara não vai saber o que o atingiu.

Will não olha na minha direção enquanto é conduzido para

dentro da casa, mas eu sei que ele é tão consciente de mim como eu

sou dele. Todo o meu corpo zumbe em resposta a ele. O que ele estava

pensando? Ele deveria saber o quão perigoso seria para ele estar em

qualquer lugar perto do clã. A verdade é dolorosa de enfrentar.

Enquanto que eu tentei esquecê-lo, ele nunca esqueceu de mim. Isso faz

dele mais forte do que eu? Ou mais fraco?

Todo mundo vai para dentro, exceto os dois guardas. Eles

permanecem apenas fora da porta. Se tudo correr bem, Nidia vai fazer

o que ela faz de melhor, assistida por Jabel. Tamra, também, eu

suponho. Então um pensamento de pânico me bate de que o talento

de Jabel vai trabalhar nele. E se ela tiver sucesso e ele sair de lá

confuso e desnorteado, com a cabeça cheia de mentiras, incapaz de

discernir a realidade da ficção?

Eu torço meus dedos até que começa a doer. Não há nada que

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eu possa fazer, exceto esperar. E espero que ele se lembre de novo.

E então o que? Ele sabe onde é o clã... onde estou. Ele me viu.

Ele vai voltar. Se ele for pego novamente eles vão saber que ele é

diferente, que o sombreamento não funciona nele.

— Vamos. — Cassian pega no meu braço. — Eu vou levar você

para casa.

Eu resisto apenas por momento. Claro que eu deveria ir. A

última coisa que devemos fazer é ficar aqui e dar motivo para alguém

suspeitar que o invasor significa algo para mim.

Me viro, e deixo Cassian me levar para longe. Um pensamento

passa pela minha cabeça e bate com o meu coração trovejando: Ele

cumpriu sua promessa. Ele veio para mim. Incapaz de me conter, eu

começo a olhar por cima do meu ombro, mas a voz de Cassian me

pára. — Não olhe para trás, Jacinda.

Eu forço meu olhar para a frente. Ele está certo. O fato de que

Will se lembra e veio para mim não muda nada. Eu não posso ir com

ele. Eu não vou deixar meu coração sobrepor a lógica. Nada mudou.

Nós somos uma combinação perigosa. Como fogo e óleo.

Cassian não diz mais nada até chegarmos a minha casa. —

Onde está sua mãe? — pergunta ele

Eu movimento para que ele espere eu ir ver minha mãe. Ela está

dormindo com a televisão ligada em seu quarto, suas feições

relaxadas de modo que eu nunca mais vi.

Eu silenciosamente passo pela cama e desligo a TV. Fechando a

porta volto marchando para a sala de estar.

Seu olhar escuro líquido me corta. — Como foi que ele

encontrou?

— Tenho certeza que foi pura sorte. Ele ficou muito perto do

município e a patrulha o apanhou. — Eu introduzi rapidamente, não

querendo que ele percebesse que Will poderia ser resistente ao

sombreamento.

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Ele me atira um olhar exasperado. — Jacinda, ele não é nenhum

andarilho inocente.

— Yeah. Eu sei. — Cruzo os braços sobre o peito. — Ele é um

caçador. — Um pesado silêncio se estende e eu olho para ele. —

Então, por que você não disse nada?

— Como você sabe que eu não vou?

— Você vai?

Ele coloca sua mandíbula em um ângulo teimoso, como ele

deseja dizer que sim, mas então ele sopra uma respiração profunda e

rapidamente olha para longe, e eu não posso dizer se ele está mais

nervoso comigo ou com ele mesmo.

— Assim você pode me odiar? Para que eu possa vê-los

matando-o? Eu não teria qualquer satisfação nisso.

Eu só posso olhar, já não tão surpresa que Cassian pode

realmente cuidar de mim. De mim e não simplesmente o que eu sou.

Ele não é meu inimigo. Eu acredito que ele quer me ajudar. Por que

mais ele se preocupa em proteger um garoto que ele não deveria

sequer se preocupar?

— Você tem que deixá-lo ir, Jacinda.

Concordo com a cabeça, mas o movimento é doloroso, faz a

minha têmpora pulsar. — Eu sei.

— Mas ele precisa saber disso — ele diz, a voz carregada de

significado.

Encontro o seu olhar, a compreensão aparecendo lentamente. —

Você quer que eu fale com ele?

— Uma vez que ele esteja a uma boa distância do clã, é preciso

confrontá-lo e explicar que está tudo acabado entre vocês dois. Sei

que ele pode estar confuso depois de ter sido protegido, mas é preciso

chegar até ele.

Eu não posso olhar para ele naquele momento, não com aquilo

que eu suspeito, que Will não pode ser sombreado. Cassian iria estar

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tão disposto a deixá-lo ir se pensasse isso?

Cassian chega mais perto e vira meu queixo para olhar para ele.

— Diga a ele para convencer sua família que esta área está seca. Que

não há mais qualquer draki aqui. Que estamos em movimento. Eles

vão ouvi-lo. — A implicação pendurada lá, não falada. Eles vão ouvi-lo

por causa do sangue. Porque ele é ligado a nós. Cassian abaixa seu

rosto tão perto que eu posso sentir sua respiração na minha face, e a

memória do nosso beijo se intromete. Se isso não é suficiente para me

fazer recuar, as palavras seguintes são. — Se eu vê-lo aqui

novamente, não vou esconder a verdade, mesmo você me odiando por

isso. Eu não vou protegê-lo novamente. Entendeu?

Eu aceno, um caroço obstruindo minha garganta.

— Vamos lá. — Ele abre a porta da frente para a noite enevoada.

— Para onde vamos? — eu pergunto.

— Eles provavelmente vão deixá-lo no lugar de sempre. Quero

que você fique à sua espera quando ele sair.

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Eu respiro saboreando o silêncio onde eu estava encondida

numa árvore, a casca áspera arranhando as minhas pernas nuas,

agulhas me cutucando por todos os lados enquanto eu observo

atentamente o local onde os intrusos que foram sombreados são

sempre deixados. Não é muito longe da estrada pública que esculpe

profundamente a montanha, o único caminho oficial a esta altura.

Meu coração ainda ressoa em meus ouvidos da minha corrida louca

para chegar aqui primeiro.

A patrulha se move calmamente pela floresta, mas mesmo

assim, eu ouço o farfalhar leve enquanto se aproximam. Ludo rompe

através das árvores com Will pendurado no ombro, Remy logo atrás

dele. Estremecendo, eu vejo como Ludo joga Will sem cerimônia no

chão duro. Isso deve ter doído. Se Will fingia estar inconsciente e está

realmente acordado, como eu suspeito, ele fez um bom trabalho

mascarando qualquer reação ao tratamento áspero.

Os dois draki olham para ele por um momento. Remy o cutuca

fortemente com sua bota.

— Vamos lá — diz Ludo. — Estou com fome.

Espero alguns minutos depois que eles saem, verificando as

árvores para ter certeza que nada se move e que eles realmente se

foram. Will está no chão, imóvel, inativo ainda, eu não posso esperar

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mais.

Eu desço e corro na direção dele. Talvez eu esteja errada. Talvez

ele não esteja fingindo. Talvez ele possa ser sombreado.

Eu pairo acima dele, segurando as minhas mãos na minha

frente, sem saber onde tocar.

— Will. — Seu nome escapa em um silêncio. Como se eu

estivesse com medo de dizer isso em voz alta. Como se dar voz ao

nome faria sua existência aqui falsa, fazê-lo desaparecer em uma

nuvem de fumaça, nas névoas que nos cercam. Como muito de mim

desapareceu desde que voltei aqui.

Na escuridão, seus olhos abrem. Eu me arremesso para trás,

assustada. Ele sorri com aqueles lábios bem esculpidos para mim.

Lábios cuja forma e textura estão permanentemente gravadas na

minha memória.

Eu suspiro aliviada e digo o nome dele de novo, mais firme desta

vez. — Will. — Ele se levanta em um movimento fácil, com nenhum

dos efeitos duradouros de alguém que foi sombreado, confirmando

que eu estou certa. O seu sangue draki o deixou imune. Ele se move

em direção a mim e eu o encontro no meio do caminho, mas então eu

me lembro do que preciso fazer. Eu rapidamente dou um passo para

trás antes de chegarmos mais perto.

Levantando a mão para afastar-lo, eu exijo em um sussurro: —

O que você está fazendo aqui?

— Procurando por você. — O som de sua voz me faz tremer. O

estrondo de veludo.

Sinto arrepios ao longo de minha pele e me diz tudo que eu já

sei. Ele não se esqueceu de mim. Ele ainda me quer. Eu engoli o

caroço em minha garganta.

É a mesma coisa. Do jeito que sempre foi em torno dele. A ideia

de esquecê-lo e colocá-lo para fora da minha vida é mais fácil quando

eu não estou diante dele.

— Você não deveria ter vindo.Você corre risco demais.

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— Jacinda. — Ele olha para mim como se eu tivesse perdido

minha cabeça. — Sou eu. — Ele agarra minha mão, e me puxa para

frente.

E eu não posso não ter isso. Certo ou errado, egoísta ou não.

Vou pegar isto. Roubar um momento com ele. Caso seja só isso. Eu

vou fazer durar. Torná-lo suficiente.

Ele me transporta para os seus braços e me segura com tanta

força, que me pergunto se ele não poderia quebrar uma costela. Eu

olho para a sombra de seu rosto e anseio para ver mais dele, mais do

que a luz suave da lua revela para mim.

Mas eu não posso. Isso terá de ser suficiente.

Pressiono a palma da mão no seu rosto, saborear o arranhar das

cerdas. Meu coração se enche com a sensação do simples toque da

sua carne contra a minha mão. Algo que nunca pensei sentir

novamente.

— Você se lembrou de mim. — Eu sussurro, buscando seus

olhos que brilham no escuro. — Você se lembrou daquela noite.

— Quando todo mundo acordou confuso, eu descobri o que

aconteceu. Lembrei de você me dizendo sobre Nidia e percebi no que

Tamra se tornou. Então eu fingi que estava tão confuso quanto todos

os outros. — Ele riu uma vez, o som áspero, uma leve arranhada no

ar. — Meus primos ainda não sabem o que diabos aconteceu com

eles.Tudo o que podem adivinhar é que alguém deu-lhes um roofie4.

— Só você pode se lembrar?

Meus ombros caem de alívio quando Will acena que sim. —

Yeah. Aquela noite é um completo vazio para eles.

Para eles. Olho para a forma dele no escuro profundo, no brilho

dos seus olhos enquanto eu deixo afundar porque somente Will é tão

especial.

4 Roofie é um termo para Rohypnol, um sedativo que foi feito no início de 1970 pela Roche e foi usado nos hospitais só

para sedação profunda. Agora é uma bastante infame droga de estupro. Também foi conhecido por ser utilizada para fins recreativos.

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110

O sangue.

— É porque você é como nós — sussurro.

— O quê? — ele tensiona contra mim e algo vibra em sua voz

que me diz que ele entendeu o que quero dizer. Mais do que ele

gostaria.

Eu sugo uma respiração, forçá-la na minha garganta

excessivamente apertada. — Bem, você é bastante como nós

aparentemente. Um talento shader não funciona em outros drakis.

Você deve ter sido transfundido com sangue draki suficiente para

formar uma resistência a ser sombreado. Isso explicaria como você

está tão ligado a nós... tão bom em rastrear-nos. Você é como nós.

Nós não dissemos nada por um longo tempo, e fico pensando se

ele está pensando no que eu sou.

De que outra forma ele é diferente? De que outra forma ele não é

como os seres humanos? Como ele gosta de mim? Como um draki?

Eu balanço a cabeça. É demais para ponderar. E não há

nenhuma maneira de saber. Não agora. Não sei se é algo que algum

dia vamos saber. Mas então, não importa, não é? Porque nós só

temos o agora. Para nós, não haverá amanhã. Sem futuro.

— Isso te dá nojo? — pergunta ele. — Eu te dou?

Eu sei o que ele está perguntando, mas a resposta não é

simples. — Eu sei que você não fez nada disso acontecer, e você está

vivo, como resultado... mas o sangue roubado flui através de você.

Draki foram massacrados... para você.

— Eu sei. — No escuro, com os olhos brilhando sem sequer

piscar. — Eu não posso negar tudo o que você está dizendo. Eu não

sabia o que meu pai estava fazendo comigo até que tudo estava

acabado. Você sabe disso, certo? Você tem que acreditar nisso.

— Eu acredito.

Sua respiração saía pesadamente. — Às vezes, à noite, eu sinto

eles. Nos meus sonhos.

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111

Eu aperto meus olhos fechados por um breve momento e tenho

que dar voz ao medo roendo dentro de mim. — É o meu pai.

— Não! Não é possível. Não pense nisso nem por um segundo.

Nós só começamos a caçar nesta área um pouco mais de um ano

atrás.

Ondas de alívio passam através de mim. — Você nunca poderia

me dar nojo, Will. Eu gosto demais de você.

Sua mão se move ao longo da minha coluna e eu tremo, me

lembrando o que eu vim fazer aqui.

— Como você me encontrou? — pergunto, enrolando, dizendo a

mim mesma para me afastar, para desembaraçar-me da sensação

maravilhosa de seus braços em volta de mim. Para soltar antes que se

torne muito dificil.

Muito difícil? Eu quase ri. Já está muito dificil.

— Esta é a terceira vez que eu estive aqui procurando por você

— ele admite.

— Sozinho? — eu fico tensa e olho para as sombras espessas,

quase como se eu esperasse um caçador aparecer lá.

— Eu estou sozinho agora. — Ele me garante. — Eu vim da

última vez com a minha família. Eu escapei enquanto eles estavam...

— Caçando. — Eu forneci, minha voz dura.

Eu tremo só de pensar em caçadores nestes bosques. Tão perto

do município. Agora eles têm rostos. Eles não são mais o vago bicho-

papão dos pesadelos. Eu posso vê-los. Seu pai. Seus tios. Seus

primos, Xander e Angus. Eles estavam aqui. Recentemente.

Eu balanço a cabeça, a raiva crescente em mim que ele se

atreveu a voltar. Ele arriscou muito. E não apenas a si mesmo. Ele

colocou toda a vida do meu clã em perigo. — É muito perigoso para

você estar aqui. Você não deveria ter vindo. Se soubessem o que você

era esta noite...

Eu balanço a cabeça. Perdê-lo porque eu não posso vê-lo

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novamente é uma coisa, mas perdê-lo porque ele está desaparecido,

morto por meus irmãos...

Isso, eu não poderia suportar. Teria me destruido.

— Eu simplesmente parecia um cara caminhando na montanha.

— Tamra e Cassian reconheceram você.

— E eles não disseram nada.

Concordo com a cabeça. — Por mim. Eles continuaram em

silêncio por mim. Eu prometi que iria fazer você convencer sua família

a parar de caçar nesta área. — Eu inalo uma respiração profunda. —

E eu prometi que iria ter certeza que você nunca mais voltaria aqui

outra vez.

— Você prometeu isso? — sua voz me dava chicotadas. — Para

quem? Cassian? Eu não estou surpreso que ele queira ter certeza de

que eu nunca mais chegaria perto de você novamente.

Eu quero negar, quero dizer que Cassian quer que Will

desapareça simplesmente porque é a coisa certa. A única coisa

segura. Não se trata de ciúme ou posse. Fechei os olhos em um piscar

de agonia, não digo nada. Pouco tempo atrás, Cassian estava me

segurando como Will me segura agora. Deixei que ele me abraçasse.

Me beijasse.

Com um som sufocado, me afasto de Will, sentindo-me como

uma traidora. Mesmo que fosse a solidão, a minha própria

vulnerabilidade que me levou para os braços de Cassian... Eu gostei.

Will me puxa de volta. — O que você quer? Você quer que eu

saia e nunca mais volte?

Eu vou sem resistência para seus braços. Estou muito fraca. Eu

perdi muito dele. Eu pensei que poderia deixá-lo para trás, encontrar

um futuro dentro do clã e ao mesmo tempo que a perspectiva matou

uma parte de mim, isso, agora, poderia ser pior. Segurando-o,

cheirando seu cheiro familiar, tê-lo por um tempo curto e depois

despedir-se tudo de novo. É um mergulho de volta para o inferno.

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Eu olho através da escuridão, comemorando o que eu posso ver

do seu rosto. A dolorida beleza dele. Os olhos profundamente

definidos sob sobrancelhas escuras. O cabelo que constantemente se

rebela, caindo sobre a testa, implorando por minha mão a escová-lo

de volta. Sua boca, seus lábios.

Eu entrego tudo à memória, determinada a marcá-lo em minha

alma para aqueles momentos tranquilos, sozinha, no escuro, quando

eu posso refletir.

Seus dedos flexionam em meus braços. — Então você está

desistindo de nós, Jacinda?

Eu procuro seu rosto nas sombras. — É perigoso. Não só para

nós. Para outros, também. Inúmeras vidas.

Suas mãos deslizam para cima dos meus braços, para o meu

rosto, e isso é muito. Suas palmas largas. Seus dedos fortes tão

macios enquanto que me seguram. Meus olhos ardem. Eu pisco eles

ferozmente na tentativa de secá-los.

— Onde está a sua fé? — seus polegares pressionam suavemente

em meu rosto. — Nós podemos descobrir uma maneira.

Eu balanço a cabeça. — Você não sabe o que tem sido.

— Eles te machucaram? — sua voz avança lentamente, e suas

mãos apertam levemente. — Quando você voltou, eles...

— Não — eu digo rapidamente. — Eu estou bem. Não que eu não

mereça punição. Will, eu me revelei para os caçadores.

— Vamos torná-lo apenas você e eu então. Nenhum clã. Sem

caçadores. Nós não temos que arriscar mais ninguém.

— O que você está dizendo?

— Fuja comigo.

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Por um momento, enquanto eu absorvia o que ele estava

dizendo, deixo a esperança tecer seu caminho em meu coração

batendo. Eu. Will. E nada mais. — Como? Aonde iríamos?

— Qualquer lugar.

Eu esvazio por dentro. Pensei que ele poderia ter um plano real.

Pensei que poderia haver uma chance. — É apenas um sonho, Will. —

Eu aliso sua bochecha. — Um lindo sonho.

Ele sai do meu toque como se relutante em tomar meu conforto

e vir com uma rejeição. — Não tem que ser. Pode ser real, Jacinda.

Venha comigo. Torne isso real.

Frustração sobe através de mim sendo alimentada como uma

esperança impossível. — Como? — eu exijo. — Aonde vamos? Como

vivemos?

— Minha avó. Ela nos ajudaria, nos hospedaria por um tempo.

Eu pisco. — Sua avó? — Essa é a primeira vez que ouço sobre a

avó, mas então Will e eu ainda não conhecíamos muitas coisas sobre

o outro. Sabíamos as grandes coisas. Os segredos. As coisas

pequenas se perderam dentro de tudo isso, e meu coração dói por

todas as coisas pequenas a espera de ser descoberta se pudéssemos

estar juntos. Se apenas tivéssemos o tempo, a chance... Se apenas

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levássemos uma vida normal, sem complicações.

— Não ficaríamos com ela para sempre. Meu pai eventualmente

descobriria onde fui e vim depois, mas ela nos daria algum dinheiro

para começar nossa própria vida.

Balanço minha cabeça, ainda tentando embrulhar meus

pensamentos ao redor do que ele está dizendo. — Por que sua avó nos

ajudaria e não contaria ao seu pai?

— Ela é a mãe da minha mãe e não exatamente uma fã do meu

pai. Depois que mamãe morreu, papai nunca a deixou me ver. Ele

disse que ela era muito intrometida. E quando eu fiquei doente... —

Suas feições se apertaram. — Bem, ele não a deixava chegar perto.

Eu ouço o que ele não está dizendo. O pai de Will nunca quis

sua sogra pendurada ao redor enquanto ele estava infundido com

sangue draki.

Uma pontada me enche, pensando como Will deve ter precisado

dela enquanto crescia, uma conexão para a mãe que ele perdeu. E

então quando ele ficou doente, tudo o que ele tinha era seu pai, que

não era exatamente um cara afetuoso e carinhoso. Imagino o rosto

jovem de Will, e algumas rachaduras soltam dentro de mim.

Aquela solidão dentro dele fala comigo, encontra o lugar dentro

de mim que espelha suas feridas.

— Ela não está muito longe, em Big Sur.

— Eu não posso — eu digo, mas as palavras cravam um gosto

horrível em minha boca.

— Quer dizer que você não vai — ele acusa. — É Cassian? Vocês

dois...

— Não — eu estalo. — Não é assim, Will. Ele tem sido um bom

amigo para mim quando tão poucos são agora.

— Um amigo? Certo. Tenho certeza que é tudo o que ele quer de

você.

— Bem, isso é tudo que eu quero. — Meu rosto queima enquanto

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recordo o beijo. Um beijo que foi um lapso momentâneo da minha

parte, uma traição para cada um, realmente. Will. Tamra. Até mesmo

Cassian. Mesmo para mim.

Ele deixa cair à cabeça até nossas testas se tocarem. — Então

você não quer Cassian... E ainda quer que eu simplesmente

desapareça de sua vida? — ele sussurra.

Desta vez eu apenas posso assentir contra ele. Dói demais

pronunciar a mentira. Estar com ele - agora - é a mais viva que me

senti desde que retornei aqui. Desde que me enganei em pensar que

poderia esquecê-lo.

Como se ele me sentisse enfraquecendo, ele desliza suas mãos

mais distantes ao longo de minhas bochechas, dedos mergulhando

profundamente em meus cabelos, brincando suavemente com as

ondas. — Você está pronta para desistir de nós? Você realmente quer

que eu desça a montanha e nunca mais volte? Para esquecer você?

No limar cruel de sua voz, o cenário que suas palavras pintam,

eu tremo. Não. Não, eu não quero. Mas tem de ser assim...

— Diga-me Jacinda. Diga-me isso e eu vou. É isso que você

quer? Nunca me ver de novo?

Um soluço engasga em minha garganta, trai minha resolução. —

Não. Não.

Então ele está me beijando. Profundo e faminto. Suas mãos

enterradas em meu cabelo.

Seus lábios sentem-se frios, um choque contra meu próprio

calor perpétuo. A queimadura ferve no meu centro, e me mantenho

completamente parada. Sensações me esmagam. Ele desperta tudo

em mim que tenho estado tentando tão duro reprimir, e eu respondo,

beijando de volta com igual fervor, um animal faminto. Por ele.

De repente certezas correm através de mim, quase aterrorizantes

em sua certeza total.

Não posso desistir dele.

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Ele é a outra parte de mim. Ele entende o que se sente ao ser

separado de tudo e de todos, rejeitar outros caminhos desenhados

para você. Somos os mesmos. Dois lados de uma mesma moeda.

Ele pede por ar tempo suficiente para sussurrar em meu ouvido.

— Vamos descobrir uma maneira... — Um tremor me atormenta. Ele

me beija, e estou agarrada a ele então, fogo explodindo dentro do meu

peito, agarrando minha garganta. Ele envolve um braço ao redor de

mim para me levantar e impedir que eu caísse.

Cores correm, manchas dançando diante de mim no escuro

enquanto sou arrastada na maré dele - me perdendo para a mágica

de sua boca e de suas mãos em mim.

— Tamra — eu suspiro, pensando em minha irmã e nossa

recém-descoberta proximidade. — Não sei se posso deixá-la.

Então algo dentro de mim se transforma, levanta como o virar de

uma fechadura. Tamra não precisa de mim. Ela tem um lugar entre o

clã. Ela tem Cassian. E talvez se eu partir, Cassian iria finalmente ver

o que sente por ela. Talvez eu precise ir para que eles possam ter sua

chance.

Mamãe, no entanto, é uma situação diferente. Verdade, ela

ficaria feliz em eu escapar do clã. Ela pode até mesmo querer partir

comigo. Mas eu poderia fazer isso? Fazê-la escolher entre Tamra e eu?

Ou estou apenas com medo de descobrir que ela não me escolha?

— Jacinda. — Will suspira calorosamente contra minhas

bochechas como se pudesse ler meus pensamentos. — Basta pensar

nisso. É tudo que estou pedindo...

Por agora. Ele não diz, mas eu ouvi. Ele não vai desistir de mim.

Ele quer que fiquemos juntos. Não importa o quanto tentei afastá-lo.

Júbilo queima através de mim. Eu me deleito nele e aceno

levemente. — Preciso de algum tempo.

— Vamos nos encontrar novamente. Duas semanas.

Minha respiração se prende. Duas semanas. Tanto tempo. E

então me lembro que leva sérias manobras para ele viajar até aqui.

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Não é fácil para ele desaparecer de sua família sem alertá-los para o

que está fazendo.

Ainda assim, o fato de que Will está me deixando novamente

afunda em mim pesadamente. Duas semanas parece como uma vida.

Eu engulo densamente, me agarro forte em sua camiseta, puxando-a

de seu peito quente.

Ele olha ao redor para a pequena clareira sombria onde estamos.

— Mesmo lugar, tudo bem?

É uma solução. Por agora. Ainda não precisava de nenhuma

decisão, mas a promessa de ver Will novamente está lá. Vou ter isso

de novo - suas mãos no meu rosto, o gosto dele nos meus lábios.

É o suficiente. Suficiente para me manter indo por mais duas

semanas.

— Tudo bem — eu concordo com voz trêmula, não querendo

revelar o quanto não quero que ele vá. Ele vai ver que sou fraca e

tentar me convencer a ir com ele neste mesmo instante. E não posso

fazer isso tanto quanto ele me seduz.

— Estamos combinados então. — Ouço a confiança em sua voz.

Ele pensa que da próxima vez que encontrá-lo aqui será para fugir

com ele.

E talvez seja.

— Meio dia — eu digo. Será mais arriscado durante o dia, mas

pelo menos então verei o flash de seus olhos mudarem de ouro para

verde para marrom. Verei o marrom polido de seu cabelo. Anseio por

isso.

— Estarei aqui.

— Eu também. — De alguma forma. Nada poderia me afastar. E

talvez essa seja a minha resposta para a decisão que eventualmente

tenho que fazer.

Se não aguento viver sem ele, que escolha há?

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Eu agacho exatamente do lado de fora da cidade, me

escondendo na alta grama de verão e juntando minhas forças

enquanto eu encaro a solitária figura parada de sentinela na entrada.

Cassian o distraiu mais cedo para então eu passar por ele.

Eu mordo a beirada do meu polegar, pensando sobre o que

Cassian me disse sobre voltar à cidade. Não será um problema. O

guarda não vai querer que o clã saiba que ele deixou você passar por

ele mais cedo.

Na esperança dele estar certo sobre isso eu paro e ando com

passos certos e largos na direção do arco da entrada. Se não estou

cem por cento confiante, então pelo menos faço um bom trabalho

fingindo.

— Ei, Levin — eu digo, minha voz fácil e casual. — E aí?

Levin salta reto em direção ao som da minha voz, seus olhos

azuis claros vibrantes se abrem. — Jacinda! O que você — seu

luminoso olhar oscila através de sua culpa, como se o próprio Severin

estivesse testemunhando sua falha. Em uma voz mais baixa, ele fala

de modo confuso, — o que você está fazendo do lado de fora dos

muros?

Eu empurro minhas mãos mais profundamente nos bolsos do

meu jeans. — Somente caminhando. — Eu chuto pedras com meu pé.

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— Como você estava fazendo mais cedo. Certo? Quando você deveria

estar parado de guarda.

Mesmo no escuro, com a névoa molhada rodando ao nosso redor

em cachos importunos, eu compreendo o rubor vermelho de sua

feição. — Hum, sim.

— Olhe. Não é grande coisa. — Eu encolho meus ombros. —

Quero dizer, eu não irei falar nada... — eu deixo minha voz

enfraquecer, uma implicação clara.

— Sim — ele diz rapidamente. — Eu também não. Vá. — Ele se

movimenta atrás de mim. — Continue.

Sorrindo, eu passo por ele. — Obrigada.

Perto da casa de Nidia, eu hesito, um sorriso escapando de

minha boca. As janelas estão escuras. Nidia e Tamra devem estar

ambas exaustas, apagadas depois de seus esforços para sombrear

Will hoje.

Eu olho para o céu, imaginando minha irmã como eu a vejo,

cortando através da noite sólida, eufórica com o que ainda é tão novo

e maravilhoso para ela.

Um som emerge no misterioso silêncio da noite. Ruído de

cascalho embaixo do peso do pé de alguém. Meu pulso salta contra

meu pescoço. Eu paro, com um primeiro pensamento de que Levin

mudou sua opinião e me seguiu, determinado a me entregar.

Deixando um sorriso em meus lábios, eu me viro, pronta para

persuadi-lo novamente para esquecer que ele tenha me visto voltando

furtivamente para a cidade.

Mas ele não está lá.

Franzindo minhas sobrancelhas eu localizo a figura nebulosa de

Levin ainda em guarda na distância. Eu viro todo o círculo,

observando profundamente as ondulações cinza da névoa me

rodeando como uma corrente sem fim. Vapor perfura minha pele em

uma umidade fina e brilhante.

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Mas ninguém está lá.

O vento muda, e a névoa sopra para outro lado. Uma mecha

enquadra no meu rosto, se mexe e faz cócegas na minha bochecha.

Estalo.

Esperando ver alguém afinal, eu giro na direção do galho

quebrando, um longo maço de cabelos bate no meu rosto.

— Olá? — minha voz soa alto na noite. — Quem está aí?

Com um olhar fixo através do ar que quebra como uma fumaça,

eu espero por um membro da patrulha dar um passo à frente, mas

ninguém dá. Calor aumenta sob minha pele esticada, meu instinto de

lutar-ou-voar me motiva. Uma patrulha não esconderia sua presença.

Ainda, a sensação de que eu não estou sozinha persiste.

Abraçando-me, eu esfrego minhas mãos sobre meus braços.

Tornando a me virar, eu mantenho meu caminho, cortando

rapidamente através da neblina da noite, ansiando alcançar minha

casa.

Eu estou quase no centro da cidade, quando uma voz abre

caminho através do som dos meus passos.

— Ei.

Eu salto para parar, viro e vejo Cassian se materializar a partir

da névoa.

— Você esteve me seguindo pela cidade? — eu exijo. — Por que

você não disse alguma coisa?

— O quê? — ele franze a sobrancelha. — Não, eu estive te

esperando aqui.

Eu o encaro suspeitosamente, lançando outro olhar sobre meus

ombros como se eu fosse achar alguém lá à espreita, me observando.

Eu regresso de volta enquanto Cassian pergunta — Você fez?

Você disse a ele para nunca mais voltar aqui?

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— Sim. Eu disse. — E fiz. Pelo menos a princípio.

Abaixando meu olhar, eu retomo meu ritmo, cruzando meus

braços a minha frente.

Ele cai na marcha ao meu lado. — Você está bem?

— Eu vou ficar bem. — Eu balanço minha cabeça. — Tem sido...

muito hoje.

— Eu sei que foi. — Ele pára e me encara, ambas as mãos em

meus ombros. — Você fez a coisa certa.

A coisa certa. Eu não sei o que é isso mais. Um nó entala em

minha garganta. Eu não posso falar, não posso proferir outra

mentira. Eu só aceno com a cabeça com movimentos. Encolhendo

meus ombros do seu aperto, eu me viro, impaciente para ficar longe

dele. Sua presença me rodeia em confusão... Me preenche com culpa.

Sobre o beijo. Sobre as mentiras que eu contei hoje à noite. Sobre a

possibilidade de deixar o clã para sempre estragando sua confiança

em mim.

Ele mantém o passo comigo, e eu deslizo um olhar rápido para

ele, desesperadamente querendo ficar sozinha neste momento.

Ele parece entender. — Eu irei te acompanhar até sua casa para

que você não seja intimada se nós formos parados. Eu posso dizer a

eles que eu estava escoltando-a para ver Tamra ou outra coisa.

São com essas palavras que eu sei com o que minha vida

pareceria se eu ficasse aqui. Não seria uma vida ruim. Cassian seria

sempre meu amigo, sempre me daria apoio, e ele me ajudaria a

reconquistar a aceitação entre o clã. E eu eventualmente poderia - se

eu pudesse fazer minha parte.

Se eu pudesse esquecer Will.

Se eu pudesse fingir que eu não sou infeliz por dentro. Isso tudo

depende de mim.

Com meus dedos eu toco meus lábios onde eu ainda posso senti-

lo. De alguma forma eu acho que não poderei nunca esquecer. Essas

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últimas semanas, eu me convenci que eu poderia colocá-lo de lado...

Que eu tinha. Hoje à noite me provou que estou errada. Ele sempre

esteve aqui. Ele sempre estará.

Dias depois eu parei na porta da minha mãe, batendo

gentilmente. — Mãe — eu chamo.

O baixo som da sua televisão passa por sua porta. Seu turno

terminou há muitas horas atrás, então eu sei que ela já está em casa

por um tempo. Ela está provavelmente com fome, eu não vi nenhum

prato na pia.

Com outra batida, eu empurro para abrir a porta e entro no

quarto escuro. Ela está deitada na sua cama com seu roupão de

banho, seus olhos fixos na televisão. Eu pisco com a cama desfeita.

Mamãe sempre arrumou a cama. Eu nunca vi sua cama desfeita até

tão tarde nesses últimos dias.

Um copo meio cheio de vinho de verda ocupa seu criado mudo.

Ao lado do copo está a garrafa. Ultimamente o vinho tem sido tudo

que a sustenta. Não muito pelo o que nos mantêm. Eu imagino o

porquê deles não terem lhe impedido de pegar tanto para casa da

clínica. Isso é usado na maioria das vezes em propósitos curativos,

não para consumo aberto.

— Ei, mãe.

Ela muda sua atenção para longe da reexibição do seriado. —

Oi, Jace. Teve um bom dia? — Seus olhos são entorpecidos e sem

vida.

A pergunta é mera rotina. Algo para dizer.

E como eu poderia responder para uma mãe que está apagada?

Existe alguma coisa que eu possa dizer - fazer - para trazê-la de volta

para mim?

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— Ótimo. Bom. — Eu limpo minha garganta, determinada a

fazer qualquer coisa que eu possa para despertá-la. Como eu posso

deixá-la desse jeito? Se eu fugir com Will, quem irá tomar conta dela?

— Eles estavam jogando jako no recreio hoje à noite. O torneio foi

interrompido na última noite. Pensei que você gostaria de ir e ver -

talvez jogar.

— Não — ela diz rápido. — Eu não quero estar perto de uma

multidão.

Claro, eu pensei. Tudo que você tem feito é aparecer no trabalho,

visitar ocasionalmente Tamra, e beber até dormir toda a noite.

Socializar entre o clã que tirou suas filhas de você pode não ser uma

ideia de ter um bom tempo.

— Bem, nós poderíamos ter uma noite só de garotas — eu

sugeri. — O que acha se eu cozinhar?

Seu olhar se dirige para mim e eu imagino se ela percebeu que

não tem cozinhado por mais de uma semana.

— Claro — ela murmura, mas as palavras são soltas, relutantes

e eu sei. Ela não quer companhia. Nem a minha.

Deixando um sorriso no meu rosto, eu finjo que não notei sua

relutância. — Excelente. Eu irei te avisar quando o jantar ficar

pronto. — Eu gentilmente fecho a porta atrás de mim e me dirijo à

cozinha.

Enquanto eu encho uma panela de água, eu escuto um som. Um

rangido no assoalho.

Eu viro rapidamente. — Mãe?

Nada.

Então eu escuto de novo, outro rangido no assoalho. Eu dou

alguns passos para dentro da sala de estar.

— Alô? — eu espero por alguns momentos, encarando a sala

vazia. Balançando minha cabeça, eu viro para a cozinha, esfregando a

carne espinhosa de trás da minha nuca. Não é a primeira vez que eu

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penso escutar alguém em casa. Eu suspiro, percebendo que não é

surpresa eu estar tão apreensiva com todas as coisas que

aconteceram durante os dois últimos meses.

Meus pensamentos se voltam para mãe, e a raiva borbulha

dentro de mim com sua total falta de interesse em... tudo. O

pensamento desafiador desliza por minha cabeça, em que eu nem

deveria me importar em deixá-la saber quando o jantar estiver pronto.

Mas depois essa raiva diminui e eu fico somente triste. Porque ela

nem se importaria.

Minha mãe desapareceu para mim. Nem mesmo é ela naquele

quarto. É seu fantasma e eu sei que eu tenho que pelo menos tentar e

trazê-la de volta. Que eu não posso considerar ir embora antes disso.

Eu localizo Az através da janela da minha sala de estar. Eu

somente a vejo na escola e ela normalmente está com outra pessoa. A

necessidade de falar com ela sozinha, antes de ver Will novamente e a

possibilidade de deixar o clã para sempre, surge dentro de mim.

Agarrando meus sapatos, eu sento no sofá e me atrapalho com

os laços, determinada a acabar com essa distância entre nós. Eu

sinto sua falta e quero as coisas certas.

A batida na porta faz meu coração pular. Az. Aparentemente não

precisarei segui-la pela a rua. Ela veio por mim.

Preparada para rastejar, eu abro a porta rapidamente,

esperando que Az tenha mudado seu sentimento e seja esse o motivo

de estar aqui. Afinal das contas, nós já tivemos nossas brigas antes,

mas nenhuma como essa. Ela não pode ficar com raiva de mim para

sempre.

Só que não é Az na minha porta da frente.

— Jacinda. — Um canto da boca de Cassian levanta enquanto

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ele diz meu nome. É um daqueles seus raros sorrisos e me afeta

mesmo quando não deveria. Eu me inquieto, trocando meus pés. Eu

não quero isso. Eu não o quero. Talvez se minha irmã não fosse

totalmente apaixonada por ele. Talvez antes da volta de Will em que

eu fui fraca o suficiente para abraçar Cassian e todos os seus meio

sorrisos. Agora não. Agora eu quero mais.

Eu quero Will.

Eu balanço minha cabeça na medida em que Cassian anda para

dentro da minha casa. Tanto para pegar Az sozinha. Eu olho para

fora da porta e vejo sua figura pequena na distância. Fechando a

porta eu cruzo meus braços e o encaro.

Sua sombra cai sobre mim, invadindo, perto. Eu estou presa no

lugar. Apesar de tudo eu não pareço que consigo me mexer. — O que

você quer?

Ele não fala. Fica somente muito perto, seus olhos percorrendo,

sondando tão profundamente em mim, me testando contra o

pensamento dele me ver. Meu eu real sob todas as coisas. Sob a

garota. Sob o draki. Passando os ossos e a carne e a chama. E ainda

se ele realmente me vê, então ele deveria saber que eu não poderia

dizer adeus a Will. Ele saberia que eu menti para ele. Ele deveria

saber que eu me esforço ao ter que encará-lo agora, minha falsidade

uma coisa feia entre nós.

Meu olhar pára em sua boca, os lábios que me beijaram. Meu

olhar prolonga-se até meu peito se comprimir, minha respiração se

apertar. Ele levanta suas mãos e eu recuo.

Sentindo-me boba, eu me mantenho no chão enquanto seu

dedão toca levemente minha bochecha.

— O que você está fazendo? — eu sussurro.

— Te tocando.

Os seus dedos deslizam sobre minha mandíbula, sobre meus

lábios inferiores, tão macios, persuadindo, e eu sei o que ele quer. Eu

sinto em seu toque. Vejo no jeito que seus olhos escuros me devoram.

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127

Ele suspira meu nome.

Por um segundo, eu me inclino e então de repente eu estou me

afastando de Cassian.

Não é uma onda repentina de consciência que nos separa.

É uma respiração. E eu sei que nós não estamos sozinhos.

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128

Eu giro e travo meu olhar com minha irmã. Seu rosto está

corado, suas bochechas uma cor rosada que parece quase obscena

em sua pele translúcida.

Minha pele vai de fria para quente. — Tamra — eu apenas me

escuto dizendo seu nome, e o sinto subir pela minha garganta em

uma aflita súplica. Seus gelados olhos pálidos movem-se de um lado

para outro entre Cassian e eu.

— O que? — ela desafia, sua voz dura, cruel, uma forma

estranha para com o jeito que ela aparenta - abalada e frágil, ainda

mais estranhamente pálida que o normal.

— O que é isso? O que é tão malditamente especial nela? — ela

olha somente para Cassian enquanto ela exige. — Me conte!

— Nada — eu começo a falar. — Nada, Tam...

Ela muda para mim. — Eu estou falando com Cassian, Jacinda!

— sua atenção volta para ele. — Eu quero dizer, eu realmente quero

saber. Nós temos o mesmo rosto! — ela lança essas palavras com

fervor. — Bem, a maior parte. — Ela agita em suas costas uma mecha

do seu cabelo prateado. — E agora eu não sou somente uma draki de

verda, mas eu tenho um talento que concorre com o de Jacinda.

Então o que é? — seu pálido olhar brilha com um vislumbre quente

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129

de emoção, procurando em seu rosto, desesperadamente e faminta

por uma resposta.

Cassian fica parado lá por um longo momento, eu sofro em

silêncio, esperando ele dizer a ela que não há nada especial sobre

mim, que é somente um hábito que o mantém voltando para mim.

Tamra balança sua cabeça devagar. — Só me diga. — Sua

próxima pergunta sai pequena, um sussurro franco que faz meu

coração se torcer em dor. — Por que não eu?

Cassian finalmente responde, sua voz baixa e angustiada. — Eu

não sei. Eu tentei... desde que você voltou. Eu tenho tentado... Mas

você simplesmente não é ela.

Suas palavras fazem alguma coisa dentro de mim que eu

gostaria que não fizesse. Por um momento eu deixo o calor enrolar-se

no meu coração. Eu me deixo acreditar que eu sou especial para ele.

Que eu sou mais que um respira-fogo que ele foi instruído a preferir.

Tamra aparenta ter sofrido um golpe. A mancha vermelha

desvaneceu na curva pálida de sua garganta. — Sim? Muito ruim ela

não sentir o mesmo. Nunca será você, você sabe. Não para ela. Pense

sobre isso. Quando ela estiver com você será ele quem ela estará

sentindo falta.

Assim ela se foi. Saindo rápido pela porta.

Eu encaro o local onde ela esteve há um momento atrás. — Por

que você fez isso?

— Falar a verdade, você quer dizer?

— A verdade? Eu pensei que vocês dois...

— Não — ele disse simplesmente, de forma honesta, agitando

seus cabelos pretos. — Eu tentei... mas eu não posso.

Eu fecho meus olhos em uma longa e dolorosa piscada. Abrindo-

os eu o encaro. — Ela está certa. Será sempre Will.

— Não — ele contesta com uma confiança exasperada. — Ele foi

sua fuga. Quando você parar de fugir, você verá que é a mim que você

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130

pertence. Eu posso ter duvidado disso antes, mas depois você me

beijou na torre...

— Isso — eu digo rispidamente, — foi um erro. Um sério lapso

de julgamento.

— Talvez Will seja o erro.

Eu recuo com o comentário.

— Vamos fingir por um momento que você consiga ficar com seu

precioso Will. Que você desistiria do seu clã, de sua família, de sua

vida para ficar com ele. Você não acha que um dia você poderia

acordar e olhar para ele e perceber que ele é somente um caçador

com sangue em suas mãos? Um caçador com sangue roubado nas

suas veias?

Eu agito minha cabeça. — Não! Eu não quero ouvir isso...

— Porque é a verdade. Você acha que pode viver com isso?

Quando a fantasia acabar, quando essa primeira comoção

emocionante de estar com ele se enfraquecer... você irá lembrar só o

motivo dele ser errado para você.

— Eu não sei por que nós sequer estamos falando sobre isso. Eu

nunca mais irei vê-lo novamente. — Eu falo, minha voz tremida pela

mentira.

Ele me olha fixamente, tão intenso que eu tenho medo dele

detectar minha falsidade. — Eu só não quero mais nenhum

desentendimento entre nós — ele diz firmemente.

— Eu entendo a situação perfeitamente. Você e eu, isso não vai

acontecer. — Eu movo em direção à porta. — Você realmente deveria

ir atrás de Tamra. Ela está chateada.

— E eu sinto muito por isso. — Ele exala, seu largo peito se

levanta. — Mas eu não me arrependo de nós.

— Não existe nós — eu assobio, apertando minhas mãos em

punho.

Ele se mexe para a porta, seus passos fáceis e relaxados. — Eu

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posso ser paciente. Nós temos tempo. — Assim, ele se foi, a porta

escancarada atrás dele.

Tempo é a última coisa que eu tenho aqui. Logo eu irei me

encontrar com Will. E eu irei embora com ele. Eu alcancei essa

decisão com uma cega brilhante clareza. Qualquer dúvida que eu

tinha prolongado sobre isso, se foi completamente.

Depois do meu turno do dia seguinte, eu me dirigi à casa de Az

do lado oposto da cidade. Eu precisava vê-la. Eu precisava fazer as

coisas certas antes de partir. Pelo menos, o máximo que eu conseguir.

Ela abriu a porta para mim. Com uma sobrancelha arqueada ela

me encarou por um longo período antes de me indicar para entrar

com um elegante movimento de suas mãos.

Ela andou silenciosamente para o seu quarto acima nas

escadas, seus longos cabelos listrados em azul zuniam num balanço

líquido em suas costas. No topo das escadas eu fiquei encurralada

quando sua mãe me localizou enquanto ela saía da cozinha.

— Jacinda! — Sobha me puxou para um abraço. Eu não a

abraço de volta de imediato, muito surpreendida. Eu me esqueci como

era bom sentir ter outro membro do clã me demonstrando tal

cordialidade. — Já era tempo de você aparecer. Eu me lembro quando

você estava aqui praticamente toda a noite.

Eu me lembro desses dias também. Depois de eu me manifestar

e Tamra falhar na sua, minha amizade com Az cresceu ainda mais.

Nós éramos inseparáveis.

— Mãe — Az repreende.

— Oh, eu não irei te segurar. — Ela me dá uma tapinha

carinhosa sobre o ombro. — Pode subir.

O quarto de Az é como tudo que lembro. Luminosos pôsteres do

oceano com cores rosa e azuis. Eu me aproximo de uma foto da praia

de Carmel. Como garotas, nós conversávamos sobre ter nosso tour

juntas e ir para lá. Antes, quando eu pensava que o clã nos permitiria

a ir. Agora eu percebo que sempre foi pouco provável. Eles me

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valorizavam muito para algum dia arriscar me perder, e todos nós

sabíamos que algumas vezes os draki nunca voltavam de seus tours.

Ainda, nós sonhávamos, acreditando que quando nós fizéssemos

dezessete anos seria a nossa hora. Nossa vez. Como vários outros

draki antes de nós, iríamos nos aventurar lá fora e viver por um ano

junto aos humanos, aprendendo o jeito do mundo exterior antes de

voltarmos para nosso clã.

Sorrindo, eu esfrego a palma de minha mão contra a fotografia

gelada do papel. A praia se posiciona contra uma ladeira verdejante

parecendo como algo tirado de uma revista de viagem italiana. Talvez

Az ainda consiga nadar abaixo dessas águas azuis cor do céu em sua

total forma manifestada. Só que sem mim.

Eu me deixo cair sobre seu colchão, puxando um felpudo

travesseiro em forma de coração do monte no topo da sua cama. Eu o

abraço no meu peito. — Eu senti saudades desse quarto.

Ela fica parada na sua janela, sua pose dura, seu braço fino

cruzados sobre seu peito. — Sim — ela fala de modo áspero. — Eu

não teria adivinhado isso.

— Eu senti falta de você — eu adiciono, determinada a chegar a

um ponto. Eu não tenho tempo para muito mais.

— Você tem um jeito engraçado de mostrar isso. Você foi embora

e...

— Eu não escolhi partir daqui — eu insiro, mas ela me ignora e

continua falando.

— E se apaixonou por um humano. Você se manifestou na

frente dele. — Ela pressiona sua mão sobre seu coração. — Eu não

acredito que você colocaria todos nós em perigo desse jeito. A Jacinda

que eu conheço nunca...

— A Jacinda que você conhece não suportou ficar parada e vê-lo

morrer. — Meus dedos doeram onde eles agarraram o travesseiro. —

Não quando eu podia fazer alguma coisa sobre isso. Ele caiu de um

penhasco Az. Não tinha tempo para pensar. Eu só agi. — Eu olho

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duramente para ela, implorando, querendo que ela entendesse.

Ela me estuda por um longo momento antes de perguntar, —

Você teria ficado lá? Se Cassian não tivesse ido atrás de você? — sua

voz não é mais brava agora, só machucada, e eu quero mentir. Eu

quero poupá-la de qualquer outra dor, mas eu já menti muito nesses

dias.

— Sim. Eu acho que teria ficado.

Depois de um longo tempo, ela balança sua cabeça. Com um

suspiro alto, ela cai ao meu lado e me dá um brincalhão empurrão. —

Eu espero que ele seja quente pelo menos.

Um sorriso surge em minha boca. Essa é a engraçada e peculiar

Az que eu amo e lembro. Meu sorriso desliza e eu a olho atentamente,

querendo que ela nunca se esqueça desse momento, dessas palavras:

— Ele é realmente especial, Az. Aquele dia que nós escapamos e os

caçadores nos perseguiram, ele me viu; ele me deixou ir. Ele é a razão

de eu ter escapado. Ele se importa comigo pelo que sou. Não por

causa do que eu sou — eu rio um pouco rouca. — Eu nunca fui capaz

de dizer isso sobre nenhum outro garoto. Embora, ultimamente, a

maneira que Cassian vem olhando por mim - não, eu empurro esse

pensamento para longe. Eu estou indo embora com Will.

Ela olha para baixo em suas mãos e acena lentamente. — Eu

acho que eu posso entender isso.

— Eu preciso que você entenda — eu sussurro com fervor. — Eu

realmente preciso.

Ela levanta seu olhar ao meu e eu leio o silêncio questionador

em seus olhos. A pergunta que eu não respondi. Quando eles vierem

a ela, eu quero que ela os olhe no rosto e diga com toda honestidade

que ela não sabia nada sobre meus planos.

— Eu entendo — ela finalmente diz.

Eu não consigo parar então. Eu a puxo perto para um abraço.

Espremendo-a eu digo — Obrigada. — Minha voz se fecha e ela

acaricia com sua mão meu cabelo.

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— Ei. Está tudo bem. Eu não estou brava mais. Quando eu

alguma vez consegui ficar brava com você? Eu acho que esse foi

definitivamente um recorde.

Eu começo a rir e o som se transforma em um molhado soluço.

— Só se lembre da próxima vez que eu te repreender.

— Planejando já uma próxima vez? — ela provoca.

Alguma coisa aperta em meu peito. — Apenas no caso — eu me

esquivo.

— Oh Jacinda. — Ela balança sua cabeça para mim. — Tanta

tristeza e melancolia. Não se preocupe sobre o que nem ao menos

aconteceu. Só viva o momento.

Eu fungo e passo uma mão no meu nariz. — Eu estou. — Meu

olhar varre o quarto, procurando, o aperto no meu peito se alivia

quando eu localizo o que tenho buscado sobre sua mesa. — Agora. O

que acha de um jogo de cartas?

Eu fico com Az até que sua mãe vem e me alerta que faltam vinte

minutos para o toque de recolher. Com um adeus rápido e a

promessa de vê-la amanhã, eu parto, meu coração mais leve por ter

feito as pazes com Az. Esperançosamente ela irá se lembrar de hoje à

noite e entenderá quando ela ouvir que eu parti.

Quando eu chego em casa, eu me dirijo ao salão, ansiando por

um banho. Colidir com a minha irmã saindo de seu quarto é a última

coisa que eu espero.

— Tamra, eu não sabia que você estava vindo.

Seu rosto não demonstra nenhuma expressão e é assim que me

lembro de quando éramos crianças - quando ela ficava muito brava

comigo e tentava parecer tão severa - que eu precisava brigar por um

sorriso. — Ainda é minha casa, Jacinda. Eu cresci aqui.

— Claro.

Um estranho momento estendeu-se entre nós enquanto nós

estávamos paradas no pequeno espaço do corredor. Ela finalmente

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quebra o silêncio se movimentando para trás para sua porta. — Eu

precisava pegar algumas coisas.

Eu aceno, não tendo nada a dizer... Tudo a dizer. E ainda as

palavras falham.

Ela começa a se mover passando por mim, e eu a observo, meu

coração em minha garganta, pensando na horrível cena com Cassian.

E ainda assim, apenas confirma que deixar Tamra poderá ser a

melhor coisa para ela, poderá dar apenas o que ela precisa. Uma vida

onde ela é capaz de brilhar sua própria luz. Sem a mim para

compartilhá-lo.

Ela se vira como se fosse atingida por um pensamento. — Eu

chequei nossa mãe. O que está acontecendo? Ela não me parece bem.

— Ela não está — eu respondo o assunto com naturalidade

antes que eu possa pensar sobre esconder a verdade.

Quando eu for, melhor Tamra saber sobre o que está se

passando com a mãe. Mamãe irá precisar dela. Elas irão precisar uma

da outra. — Eles estão a fazendo trabalhar longas horas. Punindo-a,

eu acho.

A voz de Tamra sai fraca. — Eu não sabia.

— Você poderia amansá-los. Talvez você pudesse convencê-los a

pegar mais leve com ela um pouco.

Ela acena com a cabeça. — Eu irei tentar.

— E ela está bebendo bastante, pegando escondido o vinho

verda da clínica...

— Isso não parece como ela.

Eu não gosto da acusação que eu escuto de sua voz. Como seu

eu estivesse mentindo ou que eu fosse a razão de nossa mãe ter

consolo com uma garrafa. — Eu venho tentando fazer com que ela

coma, pelo menos. Mas ela tem tido um tempo difícil ao longo das

últimas semanas. Ela está deprimida.

— Por que você não me contou nada disso?

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— Você não perguntou.

Ela pisca e eu sei que eu a machuquei. Talvez injustamente.

Tamra não perguntou o que aconteceu com ela, afinal. Ela não pediu

para morar com Nidia e deixar mamãe. Ela simplesmente está

tentando cooperar. Como eu estou. — Olhe — eu digo, — só não se

esqueça dela. Ela precisa de você. — Porque eu não estarei aqui.

Tamra olha para mim com curiosidade antes de acenar

lentamente. Ela se move até a porta. Sua mão está na maçaneta

quando eu me escuto deixar escapar, — Eu sinto muito, Tamra.

Ela olha sobre seu ombro. Um vislumbre de seus olhos e eu sei

que ela entende sobre o que eu estou falando. Isso está entre nós

desde que eu entrei em casa. Cassian.

— Pelo o que? Ser o que ele quer?

— Eu não sou — eu insisto. — Ele só não sabe disso.

— E ele nunca saberá. — Ela não parece com raiva quando diz

isso. Simplesmente cansada, derrotada. Ela me lembra um pouco

com mamãe nesse momento, ou pelo mesmo com o que mamãe tem

sido ultimamente. De novo, eu não consigo parar de imaginar se

minha saída poderá ser a melhor coisa para ambas. Ter-me por perto

não fez a vida mais fácil para nenhuma das duas.

— Boa noite, Tam — eu falo, mas o que eu realmente me escuto

dizendo é adeus. Logo eu terei ido embora.

— Boa noite, Jace. — Com um aceno, minha irmã deixa a casa.

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Depois que Tamra partiu, eu tomei banho e coloquei minhas

calças de pijamas e um top. A televisão piscou uma luz azul no

corredor do quarto da mamãe.

Enquanto eu caminho no corredor escuro, o piso de madeira

range sob meus pés. Eu tenho uma lembrança minha de anos atrás,

nas pontas dos pés no mesmo corredor indo ao quarto de meus pais.

Nunca Tamra. Só eu. Eu gostava de rastejar com cuidado nos lenços

frescos de sua cama e me fazer sanduíche entre eles, me sentindo tão

segura e amada com seus braços em volta de mim.

Pela manhã, eu sempre acordava com um discurso sobre a

necessidade de ser uma menina grande e dormir na minha própria

cama. E ainda alguns dias mais tarde eu iria encontrar o caminho de

volta do quarto de meus pais. Eles nunca me afastaram.

Eu olho em torno desse quarto agora, mamãe tão sozinha

naquela cama enorme. Eu sempre me senti em paz aqui, com eles na

cama. Nada podia me tocar então.

Eu me movo para desligar a televisão.

— É tudo minha culpa.

Eu congelo no som da voz da minha mãe. Seu tom é tão suave,

eu me aproximo da sua cama. — O quê, mãe?

— Nada disso teria acontecido se não fosse por mim. — Seu

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olhar se fixa cegamente na televisão sem olhar em minha direção. —

Eu deveria ter levado vocês a qualquer lugar, mas eu levei vocês lá.

A princípio eu não entendo. — Onde?

— Porque eu fui egoísta e queria me lembrar…

— Lembrar de que?

— Seu pai. — Ela vira seu rosto para o travesseiro em seguida,

abafando o som do que eu suspeito serem lágrimas. Isso me abala.

Eu não consigo me lembrar de mamãe chorando.

Nem mesmo quando papai desapareceu.

— Chaparral. Foi o único lugar que seu pai e eu sempre

estivemos juntos. Mesmo que apenas por alguns dias, antes dele me

persuadir a voltar para aqui. Éramos somente nós dois lá. Sem clã.

Apenas nós no céu do deserto.

Eu resisto a dizer que eles não passaram despercebidos. Pelo

menos ela não passou. Ela foi vista voando. Foi por causa dela que a

família de Will se mudou para lá.

Enquanto a maioria das pessoas rejeitou a visão de um draki

como um estranho pássaro, ou um dispositivo inventado - um

suposto OVNI - outros tomaram nota. Caçadores prestaram atenção a

tais relatórios.

Mas eu não posso culpá-la. Eu entendo o que é querer assumir

riscos por alguém que você ama... Quebrar regras para estar com

alguém que você ama. Eu angulo minha cabeça estudando minha

mãe. Eu sempre pensei que era como meu pai, mas talvez eu seja

mais filha de minha mãe do que eu alguma vez imaginei.

— Não é sua culpa. — Eu digo, desligando a televisão e me

movendo para cobri-la com o cobertor que ela chutou para fora.

Ela resolve voltar a dormir sem um som. Depois de um momento

encarando-a sua figura sombria, eu me deito na cama junto a ela,

embaixo dos frescos e familiares lençóis. Eu me posiciono perto, para

que assim eu possa sentir seu calor.

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Deslizando uma mão entre minha bochecha e o travesseiro, eu

fecho meus olhos e procuro a paz que uma vez eu achei aqui.

Mesmo que eu tenha feito minha escolha há alguns dias, minha

mão treme enquanto eu assino meu nome na carta. É isso. Não tem

como voltar atrás a partir desse momento. Depois de dobrar

cuidadosamente o papel de quatro maneiras, eu o coloco sobre meu

travesseiro ao lado da primeira nota que escrevi. Eu imagino que

mamãe e Tamra merecem cada uma sua própria carta.

Por um segundo eu escuto o ranger de uma tábua e endureço,

olhando por sobre meu ombro, com medo de mamãe estar de volta do

trabalho mais cedo. Eu olho a porta aberta do meu quarto e espero

por vários minutos, mas nada. Nenhum som. Suspirando, volto

minha atenção às cartas, esperando que o constante mal-estar, a

sensação de estar sempre sendo assistida vai me abandonar uma vez

que eu for embora daqui.

Ambas as notas são breves, ao ponto. Eu falo com a mãe e

Tamra quanto eu as amo. Quanto eu irei sentir falta delas. Eu peço a

elas para não se preocuparem comigo, que eu estou buscando minha

própria felicidade, e que eu espero que elas façam o mesmo.

Meus olhos queimam, eu passo uma mão suave sobre as cartas,

o papel enrugado sob meus dedos. Eu não especifico onde estou indo

- ou com quem. Mas elas irão saber. Elas irão ler entre as linhas. E

eu espero que elas entendam. Endireitando-me eu pego minha

mochila no chão. Com um rápido olhar ao redor do meu quarto de

infância, eu deixo tudo para trás.

— Aonde você vai com tanta pressa? — Por um momento eu

considero fingir que não ouvi Corbin atrás de mim. Eu conseguira

evitá-lo recentemente. — Jacinda! Espere.

Suspirando eu paro. Eu tenho que pelo menos aparentar que

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estou tentando voltar a assimilar a vida no clã e falar com ele. Ao

invés de me apressar a escapar, como estou.

Eu enfrento Corbin. — Para Nidia.

— Tamra não está lá. Ela está trabalhando fora, no campo de

voo. Nós podemos nos juntar a ela se você quiser.

— Eu não estou no humor — eu respondo e viro, continuando

em direção a Nidia. Já é quase meio-dia.

Só que Corbin não vai embora.

Eu percebo que talvez eu realmente tenha que entrar na casa de

Nidia para assegurar minha afirmação se ele não sair. Não que eu

tenha um plano em como eu vou passar pela guarda em serviço, de

qualquer forma. Eu só estou confiando que a solução se apresente

para mim.

— Você quer ir ao recreio mais tarde? — Corbin pergunta, como

se isso fosse uma possibilidade. Como se eu tivesse amolecido com

ele.

— Não, obrigada.

— Jacinda, quando você vai desistir de jogar tão duro?

Eu continuo andando, minha irritação evidente com cada passo

dissonante. — Eu não estou jogando nada.

— Bem, você vai ser emparelhada com alguém eventualmente.

Minha pele aperta, espeta com isso. Porque ele provavelmente

está certo. O clã não irá me permitir permanecer sem par por muito

mais anos. Ou eu escolho alguém - que Severin aprove, claro - ou eu

serei designada para alguém. Mais uma razão para eu colocar uma

distância entre eu e o clã.

— Cassian não irá...

— Eu não me importo sobre Cassian — eu solto, odiando a onda

de calor no meu rosto com a óbvia mentira.

Ele tem estado em minha cabeça desde que eu voltei para cá,

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logo ali ao lado de Will.

Eu julguei mal Cassian. Ele não me quer porque eu sou o

respira-fogo cobiçado do clã. Ele não é como eu sempre pensei. Pelo

contrário, ele poderia querer Tamra, minha irmã gêmea, agora uma

draki semelhante, se não mais relevante, com mais status.

Impossível como parece, Cassian me quer. Por mim.

Essa realização só me enfurece. Meu coração pertence a Will. Eu

não preciso de Cassian complicando as coisas... Tornando difícil o

que deve ser fácil. Por que ele não pode simplesmente querer Tamra?

Pensamentos de Will e Cassian tem se entrelaçado como cordas

irremediavelmente atadas. Só que hoje isso termina. Hoje eu escolho.

Corbin pára. Eu paro também e o encaro frente a frente com

toda a frieza que eu sinto em meu coração quando eu olho para ele.

— Bom saber que você não se importa com Cassian — ele

anuncia. — Isso quer dizer que não há nada no nosso caminho.

Eu balanço minha cabeça. — Olhe Corbin, você e eu, não vai

acontecer. Nunca.

— Nós veremos — ele murmura com um sorriso manhoso, como

se soubesse algo que não sei. Ele movimenta um olhar sobre meu

ombro, como se visse alguma coisa lá. Eu sigo seu olhar, mas não

vejo nada. — Diga oi a Nidia por mim.

Ele vai embora então e eu continuo seguindo para a casa de

Nidia, mais convencida do que nunca que eu preciso partir.

O guarda em serviço não é Levin dessa vez. Infelizmente para

mim, esse realmente parece como se estivesse levando a sério seu

trabalho - até mesmo me encara duramente enquanto eu bato na

porta de Nidia, minha mente trabalha febrilmente em um plano para

passá-lo e encontrar com Will.

Eu bato de novo. Sem resposta. Sentindo seu olhar sobre mim,

eu casualmente retorno para a rua como se estivesse voltando para o

centro da cidade. Uma vez que estou longe o suficiente e ele não pode

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me ver, eu oscilo uma curva rápida à esquerda para alguns arbustos.

O coração batendo, eu empurro a espessa folhagem que se encontra

atrás de várias casas e contorno, chegando à parte de trás da casa de

Nidia.

Olhando em volta loucamente, eu me certifico que não há

ninguém nas proximidades antes de rapidamente tirar minhas

roupas. Com uma respiração profunda, eu me deixo ir.

O familiar puxão começa no meu centro, um apertado calor no

peito. O ar úmido me rodeia, alimentando meu draki.

Meu humano exterior desaparece, enterra-se enquanto meu

rosto se aperta, minhas bochechas se afiam e alongam...

Transformada. Minha respiração muda, se torna mais profunda, mais

quente como cristas que se empurram para fora da ponte do meu

nariz. Meus músculos se soltam, se estendem, eu volto meu rosto

para o céu apreciando a sensação do vento molhado.

Minhas asas crescem. Eu suspiro à medida que elas se libertam,

se abrem com um sussurro suave no ar, curtindo a liberdade. A pele

de meu draki vislumbra um ardente ouro refletindo o pouco da luz do

sol que filtra da névoa da tarde.

Arrebentando minhas roupas eu as coloco em minha mochila e

olho em tom de acusação para a parede de hera emaranhada, doente

pela sua visão. Cansada de viver em uma cela.

Enrolando a alça da minha mochila em volta do meu braço, eu

me preparo.

Em um movimento fácil, eu me estico, me lançando sobre o

muro do perímetro.

Já manifestada eu não me importo em pousar sobre meus pés.

Eu mergulho na floresta, cortando o ar, a tecelagem entre as árvores.

Eu não vou muito longe. Só longe o suficiente para deixar o clã para

trás.

Com uma respiração triunfante, eu me aproximo do chão,

deleitando a extensão de minhas asas, como duas grandes lonas

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atrás de mim. Estabelecendo-me sob as esferas de meus pés, eu me

dobro atrás de uma árvore grande e saio de minha manifestação.

Minhas asas se dobram juntas. Eu as recolho, atraindo para as

profundezas de meus ombros.

Uma respiração pesada sai de meus lábios. Não por exaustão.

Eu sou feita para muito mais esforço. Isso é tudo adrenalina. Medo e

excitação correm por mim e ferve em minhas veias.

Eu me visto rapidamente, esfaqueando minhas pernas

desajeitadamente em meus shorts, durante todo o tempo ouvindo um

alerta distante... Qualquer indicação de que eu tenha sido vista

deixando a cidade. Nada.

Depois de alguns minutos minha respiração se acalma. Eu

consegui. Eu escapei sem ser percebida.

Atrelando minha mochila sobre um ombro, eu saio detrás da

árvore e sigo em direção a clareira. Para Will.

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Muito tempo já se passara. Olho para cima para as árvores,

espreito através dos ramos, e absorvo a luz do sol filtrando para baixo

entre as pausas e intervalos. A luz insignificante se instalou na minha

pele humana e ficou lá, plana, não igual quando ele pega na minha

pele draki e brilha como uma chama.

Pássaros gorjeiam, falando uns com os outros nas chamadas

sobrepostas. O vento assobiava lento e baixo entre as árvores altas.

Will, onde está você?

Abraçei a mim mesma, esfregando minhas mãos para cima e

para baixo nos meus braços. Passou-se quase uma hora, e eu ainda

esperava, meu coração afundou, desânimo arrastando-se em meu

coração. Ele não virá.

Eu estarei perdida em breve. Se ele não vier... se eu não estou

indo, então eu não posso ficar muito mais tempo. A não ser que eu

queira ser pega.

Ainda assim eu hesitei, alternando entre sentada, em pé, e

andando a clareira onde eu o vi pela última vez. Abraços e sussurros,

sonhos e promessas. Sonhos impossíveis, mas ainda assim me deu

esperança.

Dou uma olhada ao redor, estudo o urgir de floresta, como se ele

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fosse emergir das sombras a qualquer momento.

Eu não sei bem quando percebo isso, mas eu ainda caio

totalmente imóvel. E ouço.

Silêncio total. Antinatural.

Eu não estou sozinha. Minha pele arrepia com a consciência

deste fato. Alguém chegou. Emoção borbulha em meu peito, e eu

sinto como se tivesse tomado um dos refrigerantes de laranja com gás

que papai sempre me comprou em nossas viagens para a cidade.

Will. Meu olhar percorre a orla de árvores e arbustos ao redor de

mim, com fome para vê-lo. E, ainda assim algo me impediu de dizer o

seu nome.

De chamá-lo.

O silêncio pairou, balançando entre esta estranha coisa viva,

respirando ameaçadoramente em volta de mim.

E então eu percebo quem está lá fora... Não é Will. Will teria se

revelado. Ele não faria isso comigo.

Um som rompe o silêncio. Algo de errado no contexto. Nenhuma

chamada de pássaro, sem barulho de vento por entre as árvores

envoltas em névoa.

Um galho racha. Apenas uma vez. Como se um corpo se

movesse, testando o seu peso, e parou. Meu olhar se concentra

naquele local, olhando fixamente para a densa folhagem.

— Quem está aí? — eu finalmente pergunto.

Nada.

Inúmeras possibilidades corriam através da minha mente. Será

que alguém me seguiu? Corbin? O guarda? Ou é um caçador? Um

dos familiares de Will?

Ocorreu-me que esperar para descobrir era uma má ideia. Eu

empurro entre as árvores, os ramos me arranhando enquanto me

direciono para longe da clareira e longe do Município. Apenas no

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caso, de ser um caçador... Eu não posso levá-los para lá.

E lá estava novamente. Passos mantendo um ritmo constante

atrás do meu. Gratificada por não ser paranoica, eu dirijo os meus

pensamentos em perder quem quer que esteja me seguindo.

Definitivamente não era um amigo. Um amigo anunciaria a si mesmo.

Ondas de calor atravessam minha pele. Eu ando rapidamente,

mergulhando mais fundo na floresta. Meu coração bate a cada passo

que dou.

Eu tropecei através da grama alta, perguntando como um dia

que prometia tanto poderia mudar tão horrivelmente em outra coisa.

Eu deveria estar nos braços de Will, mas ao invés disso eu estou

jogando algum tipo de jogo de gato e rato. As montanhas cobertas de

neve apareciam para mim através das treliças de ramos.

Cansada de sentir como uma presa, eu girei abruptamente. —

Saia! Eu sei que você está aí.

Silêncio.

Eu vasculho as árvores, procurando.

Então eu a vejo. Uma figura saindo de trás de uma árvore.

— Miram. — Eu respiro seu nome. Eu acho que eu deveria estar

feliz, ela mostrou-se a mim. Ela não precisava.

— Pensei que você nunca pararia. O que você está fazendo aqui?

— ela exige, apoiando o punho na cintura e olhando em volta com

expectativa. — Encontrando alguém?

— Não — eu digo rapidamente.

— Então por que você iria esgueirar...

— Eu só queria um tempo sozinha. — Olho de cima a baixo. —

Eu acho que isso não vai acontecer.

Ela ergue a cabeça, diz levemente e suavemente: — Eu não

acredito em você.

Eu tento um olhar inocente. Espero que funcione. — Por que

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não?

Ela sorri muito e puxa algo do bolso. Leva-me de um momento

para entender o que é que ela detém. Papel. Duas folhas de papel

dobrado.

— As minhas cartas — eu digo entorpecida. — Você foi dentro da

minha casa? No meu quarto?

Ela agita as cartas no ar. — Muitas vezes. É incrível as coisas

que sei que ninguém mais sabe. As coisas que as pessoas deixam.

Quem quer ser um engolidor de fogo quando você pode ser invisível?

Em seguida, isso fica claro. — Você tem estado me espionando!

— Os sons... a sensação de estar sempre vigiada. Não foi minha

imaginação. Isso era ela.

Ela acena alegremente, nem um pouco envergonhada.

— Por quê? — eu balanço a cabeça. — Por que você me odeia

tanto?

Seu rosto se aperta. — Durante anos eu vi o orgulho que o clã

tinha de você, até mesmo minha própria família a tratou como uma

grande salvadora, me olhando como se eu fosse algo menos, sem

importância. E enquanto há apenas... — ela levanta a mão, cada um

de seus dedos espalmado. — Cinco visiocrypters no clã. Nós somos

especiais também, você sabe.

Eu suspiro. — Sério? É por isso que você é tão desagradável

para mim? Porque você não recebe atenção suficiente?

— Oh, cale a boca, Jacinda. Eu não sei por que você está agindo

tão presunçosamente. Você é uma traidora. Você nunca vai ser

confiável novamente. Porque você acha que meu pai me pediu para

ficar de olho em você?

— Severin a colocou nisso?

Ela acena com a cabeça. — Eu não pude concordar com rapidez

suficiente.

Aspiro, forçando-me a bloquear o fluxo amargo de suas palavras.

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148

A única coisa que podia me concentrar era o zumbido repentino de

avião no ar.

Distante, mas dolorosamente familiar.

O momento tornou-se como outro há muito pouco tempo,

mesmo se parecesse como se uma vida se passasse desde então. Uma

vida inteira desde que uma flecha rasgou através da minha asa.

Desde que eu fui a presa, caçada nesta mesma montanha. Uma vida

inteira desde que eu vi pela primeira vez Will. Desde que ele me

poupou, me salvou, e reivindicou um pedaço do meu coração.

Só que desta vez os caçadores estavam muito próximos... muito

perto do clã. Eu sabia que o município devia estar ciente e em grande

escala de alerta.

Miram vira a cabeça. — O que é...

— Sshh. — Eu levanto uma mão no ar e ouço mais

cuidadosamente. O aumento da névoa, rolos de um vapor espesso aos

meus pés e eu sei que está vindo de Nidia.

O clã deveria estar bloqueado, totalmente encoberto, enterrado

na sombra entorpecente de Nidia. Tamra provavelmente tinha uma

mão nisso, também.

Ansiedade rasgou através de mim. Os helicópteros não podem

ver nada do clã de sua vista. O que significa que eles poderiam enviar

as suas unidades de terra para investigar a área mais

profundamente.

O zumbido do avião crescendo mais alto, mais perto.

Os olhos de Miriam creceram. — São helicópteros?

Concordo com a cabeça. — Yeah. Vamos. Temos que ir. — Pego

sua mão e puxo-a depois de mim.

— Para onde vamos?

— Longe do município. — Eu corro, arrastando-a atrás de mim.

— Eles não podem nos ver através das árvores. E a névoa — ela

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reclama. — Estamos fora de vista.

Eu continuo correndo, empurrando mais forte, não me

preocupando em dizer a ela que onde há helicópteros, unidades de

terra não ficam muito atrás. Eu sei disto porque vivenciei em primeira

mão.

— Jacinda, fale comigo! — pânico em sua voz.

Eu precisava dela calma. Calma, tranquila e pronta para fazer

tudo o que eu disser a ela. — Está tudo bem, Miram — eu digo. —

Basta se manter em movimento.

— Eu nunca estive tão longe do município... Não deveríamos

estar indo para casa? Não longe deles?

— E levar os caçadores direto para o clã? — eu balanço a

cabeça. — Não.

Isso é tudo que eu posso explicar porque à direita eu ouço outro

som. O som de motores. O zumbido distante rosnando o seu caminho

em direção a nós. Meu peito arde, fogo comendo minha traqueia.

— Jacinda! — Meu nome explode de seus lábios. Ela liberta seu

braço livre e pára, olhando para mim, esfregando seu pulso. — O que

está acontecendo?

Ela fala muito alto. Eu pego seus dois braços e dou um aperto

pequeno, desesperada para fazer o meu ponto. — Olha, isso não são

helicópteros aleatórios. — Faço uma pausa para respirar. — Eles são

caçadores. Eles estão na montanha procurando para nós.

Seus olhos crescem enormes em seu rosto pequeno, e eu

percebo o quão jovem ela é. Apenas um ano mais nova do que eu sou,

mas ela parecia mais jovem. Eu me sentia mais velha.

Enquanto eu olho para a irmã de Cassian, isso me bate forte.

Não posso deixar que nada aconteça a ela. Eu tenho que protegê-la. Eu

não me deixo refletir o porquê disso. É apenas algo que tenho que

fazer. Eu tenho que salvá-la, nova como ela é. Eu tenho que mantê-la

segura. Para ele.

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— Ouça-me — eu comando.

E ela faz. Por mais impossível que pareça, seus olhos crescem

ainda mais, mais expressivos do que eu já vi. Infelizmente é terror que

eu lia ali.

Não é nenhuma surpresa o que aconteceu em seguida. Suas

pupilas diminuem para as fendas verticais, estremecendo com medo.

— Pare, Miram — eu assobio, sacudindo-a. — Agora não.

— Eu não posso — ela cospe, seu discurso se perdendo,

alterando os dentes.

Seus olhos draki ficam selvagens com seu medo, procurando em

todos os lugares, todos ao seu redor, em qualquer lugar, exceto em

mim. Sua pele pisca, uma cor neutra brilha como café com leite. Não

muito diferente da cor da sua carne humana, exceto pelo brilho

iridescente. E eu sei que é tarde demais. Ela perdeu para seus

instintos.

— Ok, tudo bem — eu atiro, escavando meus dedos em seus

braços e sacudindo-a fortemente, tirando o seu olhar de volta para

mim. — Olhe para mim, Miram. Você pode ficar invisível?

Em vez de me responder, ela libera um agudo gemido.

— Silêncio! — Frustração ferve em mim em um escuro e perigoso

borbulhar. O familiar calor passando através de mim.

— Eu não faço bem sob pressão — ela lamenta.

Por um momento eu queria infligir um dano corporal nela.

Dou uma olhada ao redor; avaliando, ouvindo, e julgando o quão

perto os caçadores estão. O zumbido dos motores mais perto. Olho

para as árvores e tristemente anuncio, — Tire a roupa.

— Q-quê? — ela pergunta, sua voz se perdendo no gutural

ressoar da fala draki.

— Tire a roupa. Vamos nos esconder nas árvores — eu explico, o

meu inglês começando a desaparecer, tornando-se um som grosso e

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truncado enquanto minhas cordas vocais se alteram.

Eu a solto e arranco minha roupa. Meu coração se sente como

chumbo no meu peito, um peso dolorido. Aqui estou eu. Novamente.

Correndo dos caçadores.

Depois de um momento atordoado, Miram desajeitadamente tira

as roupas; suas asas, semelhante a vidro límpido com veias de cor de

osso e primavera livre. Seu medo tinha poder sobre ela e estava se

manifestando, sem pensamento, sem deliberação, transformando seu

rosto, ângulos afiados, alongado.

Eu levanto o meu queixo e inalo, aspirando o ar em meus

pulmões apreensivos. Minha pele se desvanece, pele draki emerge em

uma corrida em chamas.

Faço uma bola com minhas roupas e de Miram e encho a minha

mochila, enfiando em um buraco profundo, apressadamente jogando

folhas e sujeira sobre eles com mãos agitadas. O gosto tóxico de medo

atacando a minha boca. Não havia razão para combatê-lo mais.

Atirando a cabeça para trás, eu libero um pequeno gemido

quando minhas asas empurram para fora dos meus ombros, as

gêmeas asas se atirando em direção ao ar. Meus dedos dos pés

levantaram do chão.

Como isso aconteceu? Era para eu ver Will... Estar em seus

braços agora. Como tudo isso se tornou tão terrivelmente errado?

Onde está Will? Será que ele sabia o que está acontecendo? Como ele

poderia deixar sua família subir a montanha hoje? Hoje, de todos os

dias?

Agarrando a mão de Miram, eu decolei, fomos tragadas para o

vento e o ar. Senti os longos fios do meu cabelo levantar dos meus

ombros durante uma tempestade de fogo.

Miram não resiste. Ela já está lá, agindo sobre os instintos que o

voo demanda, escapar.

Eu a impeço, agarrando sua mão para evitar que ela ascendesse

e subisse mais que as copas das árvores, para a linha de visão dos

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helicópteros.

Nossas asas bateram o ar, agitando as folhas e fazendo mais

barulho do que eu gostaria. Enfio-a em uma árvore e a sigo,

apertando entre os ramos.

Nossos olhares se conectam através do espinheiro de pinheiros e

galhos. Ela olha para mim sem a animosidade habitual. Seus olhos

estão selvagens com o medo, a fatia fina de suas pupilas

estremecendo com seu terror. Eu imagino os meus próprios olhos

com a mesma aparência.

Agachada no alto das árvores, eu inclino a minha cabeça para

uma audição aguçada. Eu sei o momento antes deles romperem as

árvores que eles estão aqui, em cima de nós, que eu vou ter que ser

mais silenciosa do que sou agora e esperar mantê-los longe de atirar

sobre nós.

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Eles avançam lentamente, rastejando na verdade, sobre o

chão da floresta como uma infecção lenta se espalhando. Uma vez

que a frota de bicicletas sujas e vários caminhões e SUVs apareciam

brilhando à vista, percebo por que eles não estão se movendo mais

rápido.

Pavor afunda através de mim quando eu vejo que eles estão

prestando uma particular atenção próxima às árvores. As mesmas

árvores onde nós estavamos escondidas.

O agarre de Miram no meu braço se intensificou, cravando suas

garras em minha carne, e eu sei que ela entendeu isso também.

Molhei meus lábios e perguntei a Miram o mais silenciosamente

possível se ela poderia ficar invisível. Mesmo tranquila como estava,

estremeço no estrondo gutural da minha pergunta. Eu sei que ela

podia. Ela é uma Visiocrypter. Isso é o que ela faz. Mas ela pode

agora? Quando ela mais precisava? Ela pode fazê-lo e mantê-lo sob

pressão?

Ela me olhou por um momento. Muito tempo antes de dar um

aceno menos do que convincente. Ela respira fundo e brilha seu corpo

ante meus olhos, o tom neutro da sua carne draki escurecendo até

parecer que ela se foi, desapareceu.

Eu ainda a sinto ao meu lado, segurando meu braço. Olho para

baixo, os caçadores muito abaixo. Vários usando uma engenhoca em

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seus rostos que se assemelhavam com óculos pesados. Eu estreito

meus olhos, questionando sobre esse dispositivo, quando apontam

para mim. Eu vi minha cota de filmes de espionagem.

— Não — eu sussurro.

Óculos infravermelhos. Considerando que detectam o calor do

corpo, eu devo estar brilhante como uma fogueira em nosso

esconderijo. Miram não está segura ou, até mesmo invisível.

Miram fica tensa ao meu lado. — O quê?

Eu não tenho tempo para explicar. Um caçador grita,

apontando: — Ali! Nessa árvore!

Um lançador estala e assobia enquanto uma rede voa através do

ar. Fui atingida. Fomos atingidas desde que Miram não saiu do meu

lado.

Havia muitas ramificações. A rede não pode fechar em torno de

nós adequadamente. Em vez disso, nos emaranhou

irremediavelmente juntas, nos impedindo de simplesmente voar.

Miram fica maluca, batendo suas asas ferozmente, tornando mais

difícil se livrar da malha de corda.

Ela se debate como um pássaro preso, choramingando como um

animal selvagem. Flashes de cor tênue, explosões de luz pálida, em

um momento e no seguinte.

— Se controle — eu rosnei, — você está... materializando... eles

podem ver você.

Abaixo de nós, eles gritam instruções para o outro, estratégias,

fazendo o que eles fazem melhor. O que treinaram a vida inteira para

fazer. Caçar draki.

Não há tempo. Eles nos tirarão desta árvore em questão de

segundos.

Instintos tomam controle. Carvão e cinzas enchem a minha

boca. A fumaça sai pelas minhas narinas, baforadas de meus lábios.

A fumaça se levantando no meu peito, com fome para defender e

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proteger.

Eu separei meus lábios e soprei uma fita fina de fogo, apenas o

suficiente para queimar através da malha perto do meu rosto. Apenas

o suficiente para engasgar com o calor, bordas cauterizadas e

rasgando um buraco grande o suficiente para espremer através dele.

Com metade do meu corpo livre, eu volto para puxar uma Miram

invisível para fora depois de mim. Ela ainda está piscando dentro e

para fora, uma luz piscando.

Isso foi quando eu fui atingida. Um arpão raspa minha coxa. Dor

é lançada através do meu corpo. Eu golpeio uma mão sobre a carne,

rasgada e molhada.

Sobre seus rápidos tiros, eu caio. Assim como nos meus

pesadelos. Estou mergulhando em direção ao chão. Emaranhada na

rede e Miram, também.

Aterrissamos sem fôlego em uma pilha. Meus pulmões pesados,

contraindo com o calor, o ar em volta de mim fino e quebradiço como

gelo, em comparação com o calor intenso espumando dentro de mim.

Instantaneamente, eles nos cercaram. Figuras vestidas de preto

com seus óculos infravermelhos. Armas prontas. Eles gritam em suas

vozes rígidas. E eu vejo um rosto. Um que eu nunca poderia esquecer,

não importa o quanto eu poderia querer bloqueá-lo da minha

memória.

Olhando para o rosto implacável de Xander, eu sei quem esses

caçadores são. Como se houvesse sempre uma dúvida. Sei que Will

não pode estar muito longe. Exceto que isto não me enche de alívio.

Foi mais perto do desespero.

O que Will pode fazer? Ele não pode fazer nada para me ajudar

sem arriscar-se, sem expor que eu sou mais do que eu aparento.

Ainda assim, eu procuro ao redor para ter um vislumbre dele,

mas eu não deveria.

Mais veículos chegam, uma parada brusca, a pulverização de

terra em meio à névoa espessa.

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Miram fala febrilmente no meu ouvido, seu pânico palpável, um

vento quente que posso provar, amargo e acre no ar. — Jacinda,

Jacinda! O que fazemos? O que fazemos?

— Cale a boca, Miram. — Eu assobio, a língua draki grossa na

minha boca.

Os helicópteros circulavam como abutres negros, balançando as

árvores em um frenesi em torno de nós. Meu cabelo golpeava

descontroladamente o ar.

Um dos caçadores tirava seus óculos de proteção para uma

melhor olhada para mim. Ele andou mais perto e me estimulou com a

ponta afiada de sua arma. Um rosnado inchou do meu peito muito

sombrio e ameaçador. Um som que eu nem sabia que era capaz. Ele

estimulou a forma indefinida de Miram junto de mim. — Que

inferno... — sua voz desaparece quando outro caçador gritou para ele.

— Carl, recue. Nós não sabemos o que temos aqui ainda.

O caçador obedece, se afastando de nós.

— Miram — rogo, — fique invisível. Foco.

Seus olhos seguraram os meus, as pupilas verticais

estremecendo, desaparecendo e reaparecendo com o resto dela. Ela é

como a água ondulando, aparentemente amorfa, em constante

alteração, vindo e indo novamente.

Corpos saindo dos veículos. Eu rasgo a minha atenção de volta

para esses homens com os rostos implacáveis, pesquisando entre

eles, à procura de uma chance, uma esperança.

Will não está entre eles. Mesmo com alívio me percorrendo, não

podia deixar de me perguntar por quê. Por que ele não está aqui?

Onde ele está?

Eu reconheço o homem caminhando na frente do grupo. O pai

de Will. Ainda bonito e bem cuidado, mesmo no seu traje de caça. Um

fio quente de terror arrepia o meu núcleo. Porque eu sei o que este

homem é capaz.

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Ele parece diferente. Não é o homem cordial que me acolhera em

sua casa quando ele pensou que eu era uma menina normal. Seus

olhos brutalmente frios me avaliando, me vendo como uma criatura.

Presa. E eu o via. Realmente o via. Ele não terá nenhum problema

acabando com a minha vida.

— O que temos aqui, rapazes?

— Nós temos dois... bem, nós achamos.

Mr. Rutledge olhou duro para nós por um momento. Miram está

fora de controle perto de mim, e eu sei que é inútil dizer a ela para

manter isso por mais um pouco.

Ela está com muito medo. Com muito pânico.

Eu faço a varredura da espessura das árvores, cada batida do

meu coração um baque alto, reverberando em meu peito. Meu afiado

olhar pula sobre cada caçador, com fome pela visão de um rosto.

Contra toda a sanidade, ainda tenho a esperança. Will, onde está

você?

Xander dá um passo perto de seu tio e em direção a Miram. —

Essa é uma daquelas invisíveis. — Ele aponta para mim. — Sabe que

tipo essa daqui é?

Mr. Rutledge me estuda sem responder, a sua cabeça inclinada

como se pudesse me dissecar com os olhos. E eu suponho que ele

podia. Tenho problemas em encontrar o seu olhar - este homem que é

pai de Will, que assassinou o meu tipo e infundiu seu sangue de vida

em seu filho. Por que ele é um monstro. Mas por causa disso seu filho

vive, o garoto que eu amo.

É uma realidade distorcida, e eu não posso deixar de ouvir

Cassian na minha cabeça insistindo que um dia essa mesma coisa

seria o buraco entre Will e eu. Mr. Rutledge estende uma mão e

movimenta com os dedos, aparentemente chegando a uma decisão.

Instantaneamente, aparece uma arma, colocada na mão. Uma arma

de algum tipo. Eu não sei nada sobre elas, exceto que elas

machucam. Elas destroem.

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Ele aponta.

Miram agita freneticamente, olhando com horror assim como eu.

Só que eu não pude simplesmente assistir. Não quando o núcleo

de mim é uma arma.

Uma quente tensão rola em mim. — Pare. — Eu rosno, mas eles

não podiam me compreender, empurro Miram para longe de mim

para que eu possa fazer o que precisava ser feito.

O que eu nasci para fazer. Mas nós estamos emaranhadas na

rede, e ela não para de se agarrar a mim, pedindo em baixo estrondo

de fala draki.

Sacudindo o cabelo do meu rosto, eu separo os meus lábios e

sopro.

Fogo luta o seu caminho até a minha garganta. Minha traqueia

estremece com a fúria do calor. O vapor se solta das minhas narinas

um instante antes de estourar as chamas de meus lábios. Com um

rugido explode de arcos de calor através do ar. Os caçadores gritam,

dançando em volta das chamas de longo alcance.

A rede cai de nós, incinerada para tufos de cinzas. O gosto de

carvão e cinza enche minha boca. Eu agarro o braço de Miram e a

levanto do chão.

Ela é pouco cooperante, um peso morto em seu medo.

Meu rosto se inclina para o céu, ansiosa para escapar, liberdade,

fome de vento, mas não sem ela. — Levante! — eu choro. — Vamos lá!

Voe!

Ela começa a subir, seus movimentos lentos. Com todas as

minhas forças, eu a ergo, pronta para subir mesmo que isso

signifique carregá-la.

Meus pés saem do chão, logo quando sou atingida. Dor irrompe

em minha asa, sofrimento através da membrana. Eles são enganosos;

asas draki parecem moles, mas são realmente muito fortes, atadas

com inúmeros nervos que as tornam ainda mais sensíveis. Estou em

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agonia.

Giro meu corpo no ar, eu rasgo o pequeno arpão da minha asa,

arremesso-o até que empala no chão macio.

Eu colapso de volta para baixo, cabeça baixa, em dor.

Miram aparece do meu lado, tropeça, se perdeu de mim em

nossa queda.

O pai de Will vem mais próximo, a sua arma apontada para

mim. Seus olhos são frios. Ele não sente nada.

Há um apito quando eu sou atingida novamente. Na coxa. Desta

vez, a dor é menor, e não outro arpão. Jogo meu olhar para baixo,

para repousar sobre o dardo saliente na minha carne vermelho-ouro.

Eu arranco e olho para ele, vendo que contém um frasco. Um frasco

agora vazio.

Um segundo apito corta o ar. Meu olhar se desvia, assistindo

quando o dardo acerta com uma conversão sólida para dentro do

corpo de Miram. Ela grita. O som é confuso, atordoado, como só

alguém que nunca sofreu a dor física pode sentir.

E ainda assim eu sei que é mais do que a dor. É o medo, o

horror de ser tratado como um animal sem valor. Algo a ser caçado,

capturado, e finalmente destruído.

Eu me arrasto para o lado dela. Ela despenca contra mim, as

lágrimas úmidas no meu ombro, um silvo arrepiante sobre a minha

carne escaldante.

Eu grito com os caçadores, embora eu saiba que eu

provavelmente pareça mais animal para eles com os meus estranhos

sons e rosnando. Mais uma besta que precisavam exterminar. Eu

tremo, murchada por dentro e com a sensação de seus olhos frios e

apáticos em mim.

Em alguns instantes, a minha visão fica difusa. Minha cabeça

está quente, isolada. E de alguma forma eu não me importo mais. Eu

me sinto bem por toda parte, formigando.

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Os caçadores se mexem, manchas negras dançando. Um rugido

enche meus ouvidos, mas não alto o suficiente para cobrir os soluços

arfandos de Miram. Aqueles que ouço.

Aqueles que eu sempre ouvirei.

Eu aperto a mão dela, ou pelo menos tento. Meus músculos

estão tão cansados, fracos e lentos. Eu não tenho certeza se eu faço

nada mais do que cobrir seus dedos com os meus. Então, ela não está

mais comigo. Eles a levam, arrastando-a do meu lado. Estendo a mão

para ela, mas eu estou muito lenta. Suas garras fixas através da

terra, deixando ranhuras profundas no solo. Seus gritos não soam

mais tão perto, mas eles ainda estão lá, desaparecendo na distância

como um vento morrendo.

— Onde você a está levando? — eu grito na minha língua

gutural. — Miram! Miram!

Então eles vêm a mim com as mãos, tateando.

— Cuidado que esse pode queimá-lo. — Um dos caçadores

aconselha.

Figuras desfocadas me cercam. Eu luto com a sensação da droga

que me faz querer enrolar em uma bola pequena com um sorriso no

meu rosto e dormir.

Eu me levanto de joelhos em uma última tentativa de fuga...

para fugir, abro minhas asas e levando para o céu. Eu grito e caio de

volta, de cara na terra argilosa. Inútil. Dor incendeia através da

membrana da minha asa, no fundo dos meus músculos.

Fluxos de sangue quente deslizando pelas minhas costas e se

agrupando na base da minha espinha. Sinto o gotejamento. Cheiro a

intensidade.

Eu derrubo minha cabeça. Meu cabelo cai em uma cortina de

fogo em volta de mim. E eu vejo isso. Vejo o brilho revelador do meu

sangue, um roxo brilhante escorrendo como tinta derramada no chão.

Ainda assim, eu combato a letargia ameaçando me engolir. Meus

braços se apertam tentando levantar-me de volta para cima. Meu

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corpo é tão pesado. Chumbo.

O que havia no frasco?

Desesperada fúria flui através de mim, bolhas ao longo de

minhas veias. Eu quero me libertar, queimá-los todos, puni-los pelo

que eles estão fazendo para mim - e tudo os que pretendem fazer.

Coisas tão terríveis que nunca nos foi diretamente dito. Ninguém nos

senta na escola primária e explica o que realmente acontece uma vez

um caçador nos captura e transforma-nos à enkros, mas eu sei. Eu vi

a sala de estudo do pai de Will - os móveis cobertos com pele de draki.

Eu abro minha boca e libero outra rajada de fogo - minha última

esperança. Um fio fino de chamas derrama pelos meus lábios. Desta

vez, o sopro ardente murcha quase no momento em que é lançado e

morre em um rastro de vapor.

— Will — eu grasno, minhas pálpebras pesadas, impossível de

realizar mais.

Mãos duras como garras por todos os lados, levantando-me. Viro

a cara e tento golpear chamas nos braços, mas só sufoco um riacho

fraco de vapor.

O que eles fizeram comigo?

Eles amarram minhas mãos, meus pulsos espremidos com tanta

força que o sangue deixa de fluir. Mesmo grogue, eu sinto essa nova

dor. Eu estou virada no meu estômago.

Novamente, eu sou apenas um animal, uma besta. Um grito

sobe na garganta enquanto minhas asas são obrigadas a se

apertarem uma contra a outra, impedindo-os de movimento,

impedindo-me de voar.

Sou jogada através do ar, atingindo o solo duro e liso. A

superfície é fria e gelada contra minha carne quente. Não suja.

Portas se fecham. Eu estou na parte de trás de um veículo. Uma

van. Ela começa a se mover, batendo sobre o chão, tecendo através de

árvores e folhagens, o arranhando. Levando-me mais longe do clã.

Mais longe de casa.

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Eu não posso mais lutar. Minhas pálpebras dissipando sobre os

olhos cansados. Mesmo com o desconforto do meu corpo, com o

pulsar picando na minha asa, vibrando no fundo das minhas

escápulas, eu não posso resistir ao efeito sonífero da droga. Prenso as

bochecha no chão de metal frio e deslizo no sono.

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Dor me cumprimentou quando eu acordei.

Eu dou várias piscadas lentas antes de conseguir abrir

completamente os olhos. O tormento na minha cabeça rivalizava com

o intenso latejar em qualquer outro lugar no meu batido e quebrado

corpo, e eu tenho que fechar meus olhos novamente por alguns

instantes antes de abri-los novamente.

Minhas asas pulsam. Eu tento mover as membranas e os

solavancos de dor se profundam, irradiando ao longo do meu corpo.

Eu esqueci que elas foram amarradas juntas. Eu me enrolo em uma

pequena bola e gemo ante o meu sofrimento.

Depois de um tempo e várias respirações profundas, eu levanto

minha cabeça, desgrudando minha bochecha do chão de metal frio da

van. Sacudo a cabeça, perguntando se eu estou mesmo acordada,

imaginando se tudo isso é um pesadelo.

Eu pego o som de um gemido nas proximidades. Viro-me, Miram

se pressiona ao longo de uma parede mais distante da van. Com

grande esforço me levanto, tão contente de vê-la que por um momento

a dor não importa. Pelo menos estamos juntas nesta caixa de metal.

— Miram — eu sussurro, arrastando-me mais perto dela,

aliviada que ela está aqui.

Ela está visível, é claro. Seus olhos cravados nos meus.

Molhei meus lábios secos. — O que...

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164

— O que aconteceu? — Miram termina a minha pergunta. —

Você — ela diz. — Você sempre acontece. Eu suponho que não é uma

surpresa que este seria o seu destino, mas eu não posso acreditar que

também estou aqui. Que você me arrastou para isso...

— Nós vamos sair dessa — eu prometo. É tudo que posso dizer,

tudo que eu posso acreditar.

— Sim — ela rosna. Os sulcos do seu nariz flexível com emoção

quente. — E como você vai providenciar isso?

— Eu escapei antes.

— Okay. — Ela balança a cabeça violentamente, jogando areia

do cabelo castanho descontroladamente ao redor, a cor neutra de sua

carne draki. — Como? Como vamos fazer isso? Como você fez da

última vez?

Will. Will é como eu escapei. Exceto que ele não está aqui. Eu

tenho que descobrir uma maneira de sair disto por mim mesma. Para

nós duas.

Miram enche o silêncio, sua voz estranhamente plana. — Eles

estão nos levando para os enkros. Estamos tão boas como mortas.

— Você não sabe disso — eu sussurro, testando os laços de

plástico em meus pulsos com os dentes. Inútil.

— Oh, cai na real, Jacinda. Onde mais poderíamos estar indo?

Vivas? Eles não nos mataram. Claramente há uma razão para isso.

Eles estão salvando-nos para alguma coisa. Para... eles. — Eles. Os

monstros dos pesadelos da infância. Calor surge ao longo de minha

carne.

Ela está certa. Eu sei que isso é certo. É assim que os caçadores

vivem. Eles florescem com a venda de minha espécie. Eu não posso

negar isso.

— Quanto tempo eu estou fora? — pergunto, transformando a

minha atenção para o nosso meio e concentrando em algo que eu

possa controlar. Avaliar a situação em que estamos para que eu

possa elaborar a um plano.

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165

Exceto que não há muito para ver. Apenas uma pequena janela

posicionada no alto da porta traseira da van. Incrivelmente pequena.

Ele só deixa a luz entrar. Nada mais.

— Eu não sei. Acordei horas atrás.

— Eles têm de parar, eventualmente — eu digo, mais para mim

do que ela.

— Sim, assim que eles pararem. Então o que? As portas não vão

abrir até chegar onde quer que seja que eles estão nos levando. E

nesse ponto... — sua voz desapareceu.

Eu faço uma careta, liberei uma respiração lenta contra a agonia

incessante das minhas asas amarradas. — Eu não estou desistindo.

Eu tenho o fogo, e você pode ficar invisível. — Se ela pudesse

concentrar o seu talento e não ceder a seus medos. — Não há

nenhuma razão para que alguém seja capaz de nos derrotar.

— E ainda assim eles fizeram. — Miram arqueou uma

sobrancelha fina, e bronzeada como o resto dela. Os sulcos do seu

nariz tremeram com a respiração, com raiva enquanto ela olhava para

mim. — Então, gênia, como é que vamos sair dessa?

Will. O pensamento dele está lá novamente, mas eu não vou

dizer isso. Não me atreveria. Por que eu iria querer plantar essa

esperança? Mesmo em mim mesma. Eu não tenho nenhuma ideia de

onde ele está, por que ele não me encontrou. Por enquanto, eu preciso

confiar em mim.

Eu balanço a cabeça. Ainda assim, eu não posso parar o desejo

de rastejar. Ele tem que saber. Até agora, ele tem que ter ouvido falar

do engolidor de fogo que seu pai capturou.

É isso que me mantém calma enquanto lanço a cabeça no reino

nebuloso dos meus pesadelos, o vento entrava na van e enviava

temores pelo meu corpo.

Eles não param por nós. Não para nos alimentar ou nos

oferecem a chance para aliviar a nós mesmas. Mas então por que eles

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166

nos proporcionariam tal cortesia? Nós somos apenas animais para

eles.

A van é quente e sufocante, uma caixa de metal zumbia

desapaixonadamente.

Miram e eu deitamos nos nossos lados, torrando sobre o chão de

metal quente como dois peixes secos jogados fora do mar,

desesperados para voltar à água. Nós paramos a muito tempo de falar

uma com a outra, também infelizes com nossas mãos amarradas e

asas prejudicadas.

Não posso me mover sem espelhar dor pelo meu corpo. Eu

continuamente lambia os meus lábios rachados, engolindo contra o

sofrimento da minha boca seca. Respiração de fogo gravemente me

esgotando. Meu interior estava se encolhendo, desesperada por água.

Mas eu não parei. Estava reservando a minha força, esperando

que as portas da van se abrissem para que eu podesse estourar uma

chama de fogo.

Digo a mim mesma isso. Acreditando que posso chamar fogo

suficiente mesmo sendo mais difícil de fazer.

Eu já não sinto minhas asas. Eu tento não pensar sobre isso,

sobre o que isso pode significar. Não pode ser bom. Deitada de lado,

apertei meus braços perto do meu peito, eles queimavam, formigavam

com alfinetadas de dor.

A van diminui. Eu deslizo um pouco quando o veículo vira.

Paramos. Eu não posso nem convocar muita atenção. Já

paramos antes. Ninguém abriu a porta para nos verificar. Eles só

abasteceram, fizeram tudo o que precisavam fazer, e nos deixaram

assando atrás.

Isso não significa que as portas se abrirão agora. Ainda...

Eu ergo minha cabeça e sussurro o nome de Miram, só para ter

certeza que ela está acordada. O som sai como um coaxar. Ela não

responde. Não se move. Arrasto-me mais perto e empurro uma de

suas pernas elegante com meu pé. — Miram!

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Ela geme e abre os olhos. — O quê?

— Paramos.

— E daí? — ela diz.

Eu ergo minha cabeça, ouvindo como o condutor e passageiro

batem as portas fechadas. Vozes. As palavras indecifráveis.

Ela luta para uma posição sentada, empurrando para cima,

usando os braços rumo a alavancagem. — Acha que estamos aqui? —

ela pergunta isso com uma indiferença que eu não tenho certeza se

ela sequer se importa se esse fosse o caso.

Sacudo a cabeça, cada músculo meu agonizando, bem

apertados, vibrando em prontidão. Minha orelha tensiona, seguindo o

som dos passos, a caminho de cascalho debaixo dos seus pés à

medida que circulam a van. Um ri, o som desvanesse à medida que

andam, deixando a van. Deixando-nos.

Depois de um momento eu libero a minha respiração, sem saber

que eu estivera segurando. — Eles foram embora — eu sussurro,

então, percebendo que não há necessidade disso, repito mais alto, —

eles se foram.

— Provavelmente para alimentar as suas bundas gordas — ela

resmunga. — Eu mataria para comer alguma coisa.

Com um suspiro, ela resolve voltar para o chão van. Eu olho

para ela. Realmente olho para ela. Sempre pequena, ela aparece

magra, rosto magro, sua respiração áspera. Peito elevando-se alto,

trabalhando a cada respiração. Talvez o meu tempo no deserto me

preparara para isso. Calor árido. Desconforto. Miséria.

Porque Miram não está aguentando bem, e ela nem mesmo foi

atingida com um arpão na asa.

Eu tenho que tirá-la daqui. Em breve. Ou estes caçadores

estarão chegando ao seu destino com uma draki morta.

De repente, há um som agudo na porta. Eu fico agachada, uma

onda de adrenalina protelando a dor. Alguma coisa raspa contra a

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porta de metal. O barulho de metal levanta os minúsculos pêlos em

minha nuca. Meu olhar vai para as portas. Aspiro, preparando-me,

deixando o calor construir e se reunir no meu núcleo.

Fraca e ressecada como eu estou, o esforço me dá náuseas, me

deixa tremendo e esgotada. Eu não estou com força total, mas tem

que ser suficiente. Vou ter apenas uma chance. Eu tenho que estar

pronta para quem abrir a porta.

— Miram — eu digo, desejando que ela pudessese recompor,

ficar invisível e manter isso. — Prepare-se.

Ela dá um pequeno aceno de cabeça.

Vapor saindo do meu nariz.

Separo meus lábios, olhando tão duramente para a porta que

meus olhos começam a doer. Há um baque seguido por um som de

sucção quando a porta é puxada aberta. O meu coração aperta no

meu peito em chamas. Luz do meio-dia derrama dentro da van em

quentes raios, momentaneamente me cegando. Eu não me importo,

não posso hesitar e perder a minha chance.

Eu procuro profundamente, encontro calor latente onde eu

temia que alguém suportaria. Fogo aquece minha traqueia, explode

livre em uma rajada de fogo. É o suficiente.

A figura delineada na luz da tarde mergulha para o chão com

um grito.

Eu salto a partir da van e consigo manter o equilíbrio nas pernas

instáveis, é especialmente difícil fazer com as mãos e asas amarradas.

Eu me curvo procurando nos bolsos do caçador por uma arma,

algo para cortar a corda em meus pulsos. E eu congelo.

Não é um dos vários gélidos caçadores vestido de preto que me

caçaram como um ganso de férias e me jogaram na parte traseira de

uma van. É Will.

Eu solto um som afiado e estrangulado, do fundo da minha

garganta. Eu sufoco o seu nome, um som que não compreendo.

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Mas ele não precisa entender. Ele sabia. Ele está aqui por mim.

Isso é tudo que importa. E que eu não o incinerei.

Ele está em seus pés, deslizando as mãos para cima dos meus

braços trêmulos como se verificasse se sou real, que estou diante

dele. — Jacinda!

Alívio corre por cima de mim. Minha adrenalina se eleva, dor e

cansaço somem, fechando-me em um apertado e implacável punho.

Eu me entrego, caindo em seus braços, deixando que ele me salvasse,

me salvasse de sua espécie, da agonia que gritava através de cada

partícula do meu ser.

Cuidadosamente ele envolveu um braço em volta de mim,

olhando por cima do meu ombro para minhas asas amarradas. Eu

sinto seu estremecimento quando ele percebe.

Ansiedade irradia dele, concentrando seus movimentos

enquanto ele lida comigo, tentando guiar-me para longe da van. Seus

olhos mudam, analisando o estacionamento de caminhões, na maior

parte vazio.

Eu volto, olhando dentro da van. — Miram — eu digo, a urgência

na minha voz aguda. — Vamos.

Ela paira nas sombras agora, onde a luz solar não chega,

ferozmente balançando a cabeça de lado a lado.

— Miram! — eu repito o nome dela, soando como um pai

tratando uma criança que se recusa a obedecer.

Ela balança a cabeça mais forte, os olhos fixos em Will. — Eu

não vou com ele.

— Não seja estúpida. Ele está aqui para nos ajudar.

— E se for uma armadilha? E se ele está apenas enganando-a

para ir junto humildemente, como um cordeiro ao matadouro?

— Você sabe mesmo quão ridículo isso soa? Por que eles fariam

isso? Nós já somos seus prisioneiros. — Eu me movo entre as portas

abertas da van, rogando com meus olhos. Ainda assim ela balança a

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cabeça, encolhe as costas contra a parede mais distante, como se eu

fosse a ameaça. — Você se arisca a permanecer nesta van em vez de

ir com a gente?

Will puxa meu braço. — Jacinda! Eles estarão de volta a

qualquer segundo. Esta é a nossa única chance!

— Miram, por favor — eu imploro. — Confie em mim.

Ela sacode o queixo uma vez para Will. — Eu não confio nele. —

Então seus olhos fixam de forma constante em mim. — Ou em você.

Raiva se espalha meu sangue. Ela não confia em mim. Ela é a

única que esteve me espionando!

A voz de Will soa dura perto da minha orelha. Flexionando os

dedos no meu braço, já não tão gentil. — Jacinda, eles estão vindo!

Eu vou. Empurrando-me para longe, eu a deixei.

Mas não sem seus grandes olhos assombrados impresso em

minha alma.

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Will me arrasta pelo estacionamento. É uma sensação

estranha. Correr em plena luz do dia completamente manifestada no

mundo humano. Como uma coisa estranha, proibida. Qualquer um

pode me ver.

Não que eu tenha uma escolha.

É ou permanecer na van, um prisioneiro que aguarda sua

execução, ou arriscar o traço de quinze segundos para o abrigo da

floresta à espera. Para mim, é uma escolha óbvia. Porque Miram não

conseguia ver isso também?

Will e eu mergulhamos nas grossas árvores na beira do

estacionamento. Em um momento, o asfalto rachado queima sob os

meus pés, no próximo é o solo, produzindo sussurros do chão da

floresta.

Um sentimento de desolação surge dentro de mim, sufocando.

Eu olho por cima do meu ombro, enquanto posso ver a van através da

prensa de folhagem.

Eu deixei Miram. Eu falhei com ela. Falhei com Cassian.

Eu pisco os olhos que ardem e digo a mim mesma que é a

repentina luz do sol.

A dor varrendo incompreensivelmente, martelando meu corpo.

Não essa tristeza invadindo pela garota que deixei para trás e o que

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será dela.

O Land Rover de Will não está longe. Ele me ajuda a entrar. Eu

me apoio no banco do passageiro, atenta para sentar para frente. É

impossível me inclinar com minhas asas apertadas no limite.

Há um lampejo de luz na mão de Will e eu percebo que ele está

segurando uma faca. Ele bate fortemente através de minha corda no

pulso e eu suspiro. Exceto que o alívio é breve, eclipsado enquanto o

sentimento corre de volta para minhas mãos num dilúvio causticante

de agonia. Eu gemo. Deixo minha cabeça descansar.

Will me dá uma garrafa de água e se move para verificar minhas

costas, seus dedos suaves sobre os meus ombros nus. Eu bebo

bastante, ruidosamente, a água escorrendo pelo meu queixo e

garganta.

Sobre os meus goles, eu o ouço respirar fundo, enquanto corta

as correntes. — Você está machucada. — A maldição acompanha

isso, sussurrando com uma raiva que nunca ouvi vindo dele. E algo

mais. Arrependimento? Culpa?

— Eles atiraram na minha asa. — As palavras saem como um

ruído da minha garganta. Ao som gutural, eu lembro que ele não

consegue me entender.

Ele fica quieto por um momento, e então ele diz rapidamente,

como se lembrando do perigo invadindo todos ao nosso redor. — Não

parece tão ruim. — Sua voz está um pouco grossa e eu sei que ele

está mentindo. Parece ruim.

Com um empurrão final de sua mão, minhas asas tombam

livres. Novamente, agonia. Vermelho quente como sangue fresco corre

de volta para os abusados apêndices. A sensação faz as bordas de

minha visão ficar cinza, minha cabeça gira. Eu abro minha boca num

grande grito silencioso.

Essa dor é pior que da outra vez em que fui golpeada, a primeira

vez que caçadores me perseguiram. A dor foi intensa, mas eu me

curei.

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Mamãe tratou a ferida... Mamãe. Ela deixou seu quarto? Ela ao

menos notou que fui embora? As notas não estarão esperando por

ela.

Os olhos ansiosos de Will passam rapidamente por mim, e para

o aperto em torno das árvores. — Nós temos que ir... Jacinda, você

pode mudar?

Ele está perguntando se eu posso me transformar.

Eu aceno com a cabeça primeiramente. O medo foi embora - não

posso me forçar a permanecer como um draki mais. No momento há

apenas dor... e mais dor a vim enquanto forço minhas asas para se

fundir de volta dentro de mim. Especialmente a asa ferida. Mas não

há escolha. Ele não pode dirigir para fora daqui comigo sentada no

banco da frente em completo manifesto.

Eu dou um gole profundo e aperto a beira do assento com meus

dedos sangrentos e escorregadios, enterrando meu draki,

empurrando-o de volta para baixo, escondendo-o afastado.

Minha aparência relaxa e se solta, ossos descontraídos. Minhas

asas estremecem, tremendo por seu abuso recente. Uma asa se

estabelece entre meus ombros com facilidade. A outra possui vida

própria, trêmula, resistindo à transformação... À dor. Lágrimas

escorrem por minhas bochechas em trajeto de vapor. Eu arqueio meu

pescoço, luto contra o grito que borbulha lá.

Com meu draki finalmente enterrado, eu respiro novamente,

alivio o aperto do movimento súbito, e amasso contra o banco.

Will joga um cobertor em cima de mim. Mesmo que eu estivesse

presa numa van quente e abafada por um dia, eu me aconchego no

tecido áspero, satisfeita pelo conforto.

— Jacinda, você está bem?

Eu tento continuar o abalo trêmulo, mas quanto mais eu resisto,

mais fortemente o tremor me atormenta. — Só me tire daqui. — As

palavras soam enferrujadas, anormal.

Com um único aceno, ele está em volta do caminhão e dentro do

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carro num instante. Logo, ele está guiando o veículo para fora da

floresta, através das árvores grossas até ele alcançar uma estrada

pequena de um país levando em algum lugar. Qualquer lugar. Para

longe. Nada mais do que isso realmente importa.

Eu deslizo fracamente no banco, estendo uma mão, e limpo o

vidro aquecido pelo sol da janela. As pontas de meus dedos rangem

enquanto eles deslizam contra a superfície lisa. Miram.

— Onde você estava? — eu consegui botar para fora com uma

voz áspera.

— Eu não pude vim. Papai marcou uma caçada do nada. Desde

que a descobriu, ele está obcecado por essa mesma área. Ele me

incluiu num grupo que ele enviou para o outro lado da montanha. Eu

esperava que se eu não aparecesse, você poderia simplesmente ter

seguido de volta para casa. Eu não achei que eles pudessem se mover

para tão perto do clã. Deus, Jacinda. Eu sinto muito.

Eu aceno entorpecida. — Você não sabia.

Ele libera uma respiração pesada e eu sei que minhas palavras

não fizeram nada para aliviar sua culpa. Se eu pudesse falar mais

para fazê-lo se sentir melhor, eu faria. Eu somente estou muito

machucada.

Eu levanto minhas pernas em cima da cadeira e abraço meus

joelhos, pensando na garota que deixei para trás. Pensando no rosto

de Cassian quando ele descobrir.

— Você não podia ter ajudado-a. — Will diz, lendo meu

pensamento. — Ela não deixaria.

— Eu poderia ter a forçado.

— E causado uma cena? Você mal podia caminhar sozinha. Eu

praticamente tive que carregar você.

Isso não me conforta. Eu ergo minha cabeça, apreciando a brisa

fresca do ar-condicionado no meu rosto.

— Descanse agora, Jacinda. Você está salva.

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Salva. A palavra viaja por minha mente até que eu me sinto tão

tonta que eu tenho que fechar meus olhos. Minhas pálpebras

afundam tão incrivelmente pesadas. Rajadas de flashs coloridos

contra o preto sólido, mas ainda é melhor do que abrir meus olhos

novamente e encarar o mundo.

Em algum lugar entre os pensamentos sobre Miram, segurança

e a dor incomodando meu corpo, eu me rendo ao sono.

Eu acordo em um quarto, na maior parte escuro. Uma luz fraca

laranja abraça uma parede. Eu sento, estremecendo ao puxar minhas

costas. Com a dor, se torna realidade.

— Will?

— Estou aqui.

Eu sigo o som de sua voz desencarnada e o localizo. Sua forma

escura se desenrola a partir de uma cadeira no canto.

— Onde nós estamos?

— Num hotel. Nós estamos a salvo.

Eu cuidadosamente me manobro numa posição sentada,

mordendo meus lábios contra a dor nas minhas costas frágeis. Ainda,

não é nada comparado a antes. Eu posso ao menos me mover sem

sentir a irresistível necessidade de gritar. — Como chegamos aqui?

— Você estava exausta. Precisava descansar. Em uma cama

real. Comida, água...

Em mencionar comida, meu estômago ronca.

— Eu fiz você comer um pouco antes de desmaiar. — Ele

acrescenta. — Você se lembra? Você comeu um burrito5 e refrigerante

em menos de um minuto antes de cair na cama. Você não se moveu

daquele lugar. Nem quando eu limpei e enfaixei suas costas. Eu

estava tão preocupado.

5 Comida mexicana, uma tortilla de farinha geralmente recheada com carne, ou incluindo, por exemplo, em outros

países: arroz, feijão, alface, tomates, entre outros.

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Eu balanço minha cabeça. — Eu não me lembro de nada disso.

— Você passou por muita coisa.

Eu aceno. Dormir deve ter sido o jeito de meu corpo se curar. —

Por quanto tempo eu dormi?

— Oito, dez horas.

Meu corpo inteiro fica tenso. — Dez horas! Que horas são?

— Por volta de uma hora da manhã.

Um caroço grosso sobe em minha garganta. Por hora, Miram

deve estar bem longe. Ela não tem o luxo de uma cama ou comida. Eu

balanço minhas pernas sobre a cama, minha cabeça cheia de

pensamentos sobre alcançá-la. Salvando-a. Como eu pude deixá-la?

— Calma aí. — Will senta atrás de mim na cama, sua mão

quente no meu ombro. É um toque que eu me lembro. É um toque

que eu quero me encostar, absorver e esquecer todo o resto. — Onde

você está indo?

— Buscar Miram. — Onde mais? Um arrepio passeia por minhas

pernas nuas enquanto o lençol desliza para o lado. Eu olho para

baixo e vejo que estou vestindo somente uma camiseta branca que

deve pertencer a Will.

— Eu te ajudei a colocar isso. — Ele explica, com um tom leve de

vermelho colorindo seu rosto.

— Obrigada. — Eu murmuro, lembrando que eu não tinha muito

comigo quando caí no sono no banco passageiro. Apenas aquele

áspero cobertor. Eu enrolo meus dedos em torno da bainha da

camisa, de repente me sentindo consciente de mim mesma. Aqui

estou eu. Sozinha em um quarto de hotel com Will, mas essa solidão

não é algo que eu possa desfrutar. Não com tudo que aconteceu.

— Miram é sua amiga? — ele pergunta silenciosamente,

paciente.

Eu recuo. — Meio que amiga.

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Ele me encara severamente, momentos se alongando entre nós.

— Eu sinto muito. Jacinda, ela se foi. Não há como ajudá-la agora.

— Não! — eu balanço minha cabeça bravamente, um

emaranhado de cabelo caindo em minha boca. Eu o retiro de lá. — É

minha culpa ela estar lá fora...

— Como é sua culpa se ela não quis vir conosco? Não havia

nada que você pudesse fazer.

Eu ignoro sua lógica, pensando apenas em Cassian quando

descobrir que sua irmã está perdida. — Você pode fazer algo! Você é

um deles...

Ele recua, mas eu não me importo. Pela primeira vez isso não

torce meu estômago em nós. A culpa não fita seu caminho através de

mim, porque eu estou apaixonada por um dos monstros que pode me

caçar, me arremessar na parte de trás de uma van, amarrar minhas

mãos e asas, e depois me vender por partes. Nessa situação, o que ele

é pode ser uma ajuda.

— Não, Jacinda. Está feito. Ela já foi entregue...

Entregue. Como se ela fosse mercadoria, um objeto inanimado.

Um pacote. Eu sinto algo fulminando dentro de mim, afastando-se

dele.

— Você não vai me ajudar, você quis dizer. — Eu anuncio,

minhas palavras como uma forte mordida.

O ar condicionado perto da larga cortina da janela vem á vida,

um ruído alto no pequeno quarto. Uma corrente de ar gelado flutua

sobre mim, mas nem isso alivia minha pele ou acalma meus nervos.

Na escuridão, sua aparência parece tensa e apertada, dolorosa,

que ele não possa - não vai - me dar as palavras que eu preciso

desesperadamente ouvir. — Eu não posso. — Ele repete. — Ela está

na fortaleza agora. Nada escapa daquele lugar.

Nada escapa daquele lugar. Quer dizer que drakis capturados

vivem lá? Como prisioneiros? Eles não os matam imediatamente?

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Um flash de meu pai irrompe. Ele cai em minha mente lotada. A

imagem de seus olhos rindo, seu belo rosto que já não me lembro tão

claramente, enche a minha cabeça. Deitada na cama tarde da noite,

eu ás vezes acendo a luz e alcanço uma foto dele, algo real, algo que

eu possa segurar em minhas mãos. Prova de que ele existiu, que eu

me lembro dele e que ainda o vejo, que eu nunca vou esquecer todas

as coisas maravilhosas que ele me ensinou. Que eu nunca o esqueci.

Nunca me esqueci de seu amor.

Não tenho problemas em ver seu rosto agora, mas eu empurro a

memória de lado, não me atrevendo em ter esperanças em algo tão

improvável - tão impossível - como meu pai estar vivo após todos

esses anos.

— Mas Miram está viva? Eles não vão matá-la, é isso que você

está dizendo. — Eu encaro seus olhos profundamente, sua cor

perdida para mim na sombra do quarto.

Ele se contrai, como se lamentasse ter insinuado aquilo. — Sim.

— Ele admite com um suspiro pesado. — Ela vai viver. Se você puder

chamar isso de viver. Eu não acho que eles já viram tantos drakis que

podem ficar invisíveis. Só poucos. Eles vão fazer testes nela... Colher

amostras. Ela vai viver. Por um tempo, de qualquer jeito.

Um sentimento doentio incha no meu estômago, mas com ele se

mistura o alívio. Eu deliberadamente me impeço de perguntar o que

eles poderiam ter feito comigo. Eu sei, por Will, que eles nem ao

menos acreditam que respira-fogos existem mais. Agora eles sabem

que existimos. Eu existo.

O que ele está me contando sobre os enkros é mais do que eu

soube um dia e isso me dá esperanças por Miram.

— Então há uma chance. — Ele começa a balançar sua cabeça,

mas eu o corto. — Há uma chance. — Eu o encaro atentamente. —

Com sua ajuda, há uma chance. — Minha mão alcança a polegada

nos separando e o agarra.

— Mas não tem. Não há chance. — Sua voz é profunda, aquele

veludo rumor de meus sonhos suplicando-me a aceitar, a deixar

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Miram ir.

Eu não consigo. Eu vejo o rosto de Cassian, de minha mãe, de

minha irmã... Os três deles quando se perguntarem o que aconteceu

conosco. Meu coração se aperta com uma dor que faz tudo que eu já

suportei parecer algo tão pequeno. Miram está perdida. Por minha

causa. Eu não posso simplesmente correr para longe com Will

fingindo que isso não aconteceu.

Algo dentro de mim morre, desfiando como o último pedaço de

uma corda desgastada que não pode mais aguentar. Meu aperto

afrouxa em sua mão, dedos deslizando livremente. Eu me afasto.

Ele agarra minha mão de volta, laçando seus fortes dedos nos

meus, pressionando nossas palmas juntas num beijo. — Jacinda. —

Ele sussurra.

Eu travo meus olhos nele, vejo a necessidade ali, leio a pergunta

silenciosa que ele está questionando a mim. Sei que ele quer certeza

de que ainda estamos no objetivo de nosso plano.

Uma parte de mim demora a dar a ele a certeza que ele quer.

Isso poderia ser tão fácil. Nós estamos aqui. Juntos. Eu já estou livre

do clã. Livre...

Mas eu estou? Eu realmente estou?

Eu sei a resposta em meus ossos, no fundo do meu intestino.

Mesmo se isso não se igualar com o que meu coração sente. Exceto o

jeito que ele me encara, como agora... Eu não consigo dizer as

palavras.

— E-eu vou tomar um banho. — Eu digo apressadamente. — E

depois irei voltar a dormir. E-eu ainda estou cansada. — Não é uma

mentira. Sinto como se pudesse dormir mais outras dez horas.

Por um segundo eu acho que ele vai me pressionar, exigindo que

tenhamos essa conversa agora. E eu não posso. Não agora. Eu não

posso contar a ele que de jeito nenhum, eu vou fugir com ele.

Como eu posso ficar com ele? Como posso me sentir livre se eu

sujeitei mamãe e Tamra para o tormento mais uma vez? Exatamente

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como com papai. A dúvida, nunca saber com certeza. A espera,

suportando o passar dos dias até você finalmente ter de admitir que

ele foi embora e nunca mais voltará. Eu não posso fazer isso com elas

novamente. E há Miram. Eu tenho a responsabilidade pela família

dela também.

Após um momento, ele diz. — Eu tenho algumas roupas que

você pode vestir. Outra camisa. Algumas suadas, também.

Eu aceno, aliviada que ele vai deixar o assunto morrer. Por

enquanto.

Ele se levanta e eu assisto enquanto ele se embaralha em sua

mochila e sai com a roupa. Eu pego a pilha de roupa, ambos

agradecidos e arrependidos quando nossas mãos não se tocam dessa

vez.

Saindo de sua sombra, eu entro na luz do banheiro, fechando a

porta na frente dele com um clique suave.

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Depois do banho, eu me enrolo na cama, levantando meu

cabelo onde está preso debaixo de mim e deixando-o cair sobre meus

ombros. Por um longo tempo, eu ainda me seguro em silêncio debaixo

dos lençóis, enquanto faço meu melhor para ignorar Will perto de

mim. Eu espero conseguir dormir, pelo momento em que meus

pensamentos perturbantes e desvairados possam repousar.

Apesar de já ter dormido muito, eu ainda estou cansada. Meu

corpo derrotado deveria ser capaz de voltar a dormir. Deveria.

— Por quanto tempo você pretende ficar adormecida?

E é por isso que eu não consigo.

Sua voz silenciosa roça a parte de trás de meu pescoço e minha

pele enruga num arrepio.

Ele é o motivo de eu não conseguir dormir. Eu tenho feito meu

melhor para bloqueá-lo de meus pensamentos. Impossível, lógico.

Como eu devo ignorar que Will está a centímetros de distância? Will,

quem eu tenho ansiado desde o momento em que poupou minha vida,

meses atrás naquela caverna... Antes mesmo de eu compreender que

era saudade o que eu sentia.

Eu abro minha boca, mas então percebo que falar só confirma

que estou acordada. Eu selo meus lábios fechados. Porque eu não

posso falar. Não quando eu não posso falar o que ele quer ouvir.

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182

O que eu mesma gostaria de poder dizer.

Suas mãos fecham em meus ombros, e um suspiro escapa de

mim. Tanto para fingir estar dormindo.

Eu não resisto quando ele me roda. Nós afundamos no centro da

cama, praticamente peito a peito. Seus olhos brilham no escuro. Os

movimentos de suas mãos, se erguendo.

Minha respiração fecha em meus pulmões enquanto ele desliza

suas mãos no emaranhado de meu cabelo úmido, me segurando, seu

rosto tão perto que nossos narizes roçam um no outro. O cheiro do

shampoo de framboesa, cortesia do hotel, roda em torno de nós.

Olhando um para o outro, nós não falamos.

Eu gosto de sua respiração, seus lábios tão perto dos meus.

Quando seus olhos viram em direção da minha boca, meu estômago

gira. Calor familiar me atola. Eu mordo meu lábio para manter

qualquer som que escape.

E então eu só posso pensar que esse é o Will.

Will, quem eu desejei e pensei ter perdido de mim. Will, com

quem eu tanto sonhei. Will, que me salvou mais uma vez, quem eu

salvei por um grande risco. Quem me amou quando não devia me

amar, com toda a razão. Quem eu amo, apesar de todas as razões de

que eu não deveria.

Will, quem eu tenho que abandonar. De novo.

Eu ergo minhas mãos em seu peito. Achatando minhas palmas,

eu tento não acariciá-lo, tento achar a força para empurrá-lo. Será

difícil suficiente dizer adeus para ele amanhã.

Mas então ele me beija, e eu sei que não consigo afastá-lo.

Sua mão atrás da minha cabeça desliza para meu rosto, sua

palma quente raspa em minha bochecha enquanto ele faz meu

gemido desaparecer.

O beijo ainda parece novo. Como a primeira vez. O toque de sua

boca manda ondas de sensações por cada nervo. Eu agarro seus

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183

ombros, apertando, dedos enrolados nos músculos definidos de seu

corpo. Eu me seguro pela querida vida, a mera textura e gosto de sua

boca me devastando completamente.

Meu corpo queima, pele puxando e ondulando, derrotada,

pronta para desvanecer.

Talvez seja por onde estamos, as circunstâncias do que nos

trouxe até aqui... Ou o fato que eu posso nunca mais vê-lo

novamente, mas eu não consigo largá-lo. Minha boca se move sobre a

dele, mordendo, sugando.

Suas mãos vagueiam por minhas costas, me puxando para mais

perto.

Eu me aproximo, enrolo meus braços em seu pescoço.

Embaraçando seu cabelo em meus dedos, eu aprofundo o beijo, sem

me importar quando seu peso rola fortemente sobre mim, afundando-

me mais profundamente no colchão.

Meu corpo envolve o dele, instintivamente recebendo-o. Eu

respiro num som voraz, sem pensar em que estamos nos movendo

para longe demais, rápido demais. Há somente necessidade. Desejo.

Estou cansada de ser negada.

Ele pega minha cabeça com ambas as mãos, me beijando

cuidadosamente, dando pequenas mordidas em meus lábios. Seus

dedos pressionam a carne macia de minha bochecha, segurando meu

rosto ainda para ele.

Rosnando, eu luto para mover minha cabeça, para prová-lo

como ele me provou, mas ele me segura, me prendendo... Um

delicioso tormento que me faz contorcer abaixo dele.

Isso não é suficiente. Nem mesmo de perto.

Fogo espuma em meu centro, e eu me esforço para contê-lo,

para esfriar meus pulmões.

Eu choramingo quando ele desliza uma mão debaixo da minha

camisa, acariciando minhas costas, em extensas passadas de mão.

Ele levanta seus lábios do meu para dizer. — Sua pele... Tão...

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184

Quente.

Eu suspiro pesadamente contra nossas bocas fundidas

enquanto sua mão se movimenta, roçando minhas costelas, a pele

trêmula de meu estômago.

Eu rasgo minha boca livre e arqueio meu rosto para longe dele

para liberar uma respiração fumegante que eu não posso aguentar

por muito mais tempo.

Ele arrasta um beijo gelado nas curvas de minha garganta, sua

língua traçando o nervo lá... Apenas escalando a ardência dentro de

mim.

Sua boca se ergue do meu pescoço. Ar gelado acaricia a carne

molhada. Eu engulo em seco o ar frio, desesperada para apagar o

inferno queimando em mim.

Eu sinto seu olhar fixo. Eu olho para cima e mergulho

diretamente em seu olhar.

Mesmo na escuridão do quarto, seus olhos brilham. Ele me

encara com tal intensidade que eu levanto minha mão trêmula para

traçar o contorno sombreado de seu rosto, acariciando a linha mal

registrada e ângulos masculinos com a ponta do dedo. Eu escovo as

sobrancelhas escuras acima dos olhos que veem através de mim.

Meus dedos se movem, relaxando em sua boca levemente

inchada de beijar. Seus lábios se mexem embaixo de meu toque. —

Venha comigo, Jacinda. — As palavras resmungam através de meus

dedos, pelo meu braço, enraizando em meu coração. E eu fico gelada.

Porque ele sabe. Ele sabe o que está acontecendo em minha

cabeça. Quando eu escapei para o banheiro essa noite, ele ouviu o

que eu não estava dizendo, as palavras que eu não quis falar em voz

alta.

Eu não posso ir com ele. Eu não posso fugir e ficar com ele

nessa perfeita fantasia que nós criamos em nossas mentes.

— Eu não posso. — Eu sussurro. Depois, mais alto. — Não

posso.

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Eu empurro seus ombros até que ele role de cima de mim.

Mesmo no quarto escuro, eu posso ver a mudança em sua expressão.

Ele parece irritado, sua expressão como granito. — Como você pode

voltar lá?

— Eu não posso não voltar. Eles têm que saber sobre Miram... E

eu não posso deixar mamãe e Tamra se perguntando o que aconteceu

comigo.

— Nós podemos mandar uma carta. — Ele resmunga.

— Isso não é uma piada. — Eu estalo.

— Você está me vendo rindo? — Prendendo minhas mãos, ele

inclina seu rosto perto do meu. — Porque você está lutando contra

isso? Contra nós?

Eu balanço minha cabeça. — Eu não posso simplesmente partir

com coisas como essa.

— Você pode nunca sair de novo. Você já pensou sobre isso? —

suas mãos se apertam sobre as minhas. — O que eles vão fazer

quando você chegar lá e contar que foi pega por caçadores? Que

Miram está perdida?

Eu tremo. Ele está certo. Isso pode ficar feio. Mas não totalmente

injusto da minha parte. Afinal de contas, meus desejos egoístas

levaram a isto. Se eu tivesse escutado Cassian e acabado isso com

Will, nada disso jamais teria acontecido.

Com certeza, Miram teve sua parte também. Eu não estou acima

segurando sua responsabilidade por seu envolvimento. Ela não

deveria ter me espionado. Quer dizer, ela não merece o destino que a

espera só porque ela é uma garota intrometida e rancorosa.

— Eu vou voltar.

— Mesmo se isso significar que nunca ficaremos juntos

novamente?

Ele sabe exatamente o que dizer. As palavras que mais vão me

machucar. A probabilidade de nunca vê-lo novamente, ouvindo sua

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voz, abraçando-o...

Eu umedeço meus lábios, engulo, e digo palavras que nunca

pensei ser possível dizer. Palavras que ecoam o que está em minha

cabeça, e não em meu coração. — Mas nós não pertencemos

realmente um ao outro, Will.

Ele se afasta, deixando minha mão cair como se fosse algo que

ele não suporta mais tocar. — Você não quis dizer isso.

Eu aceno uma única vez, o movimento doloroso, tudo que posso

conseguir. — É insano... O que nós somos... — O que não somos. —

Você não pode negar...

Ele se lança para fora da cama num movimento irritado. — Você

sabe a diferença entre você e eu, Jacinda? — ele morde, sua voz

desconhecida a mim e um pouco assustadora.

Eu me encontro numa posição sentada, piscando para este Will,

raivoso e desconhecido.

— A diferença é que eu sei quem eu sou.

Eu me irrito. — Eu sei quem eu sou!

— Não. Você sabe o que você é. Você não descobriu quem você é.

— Eu sou uma pessoa com senso suficiente para perceber que

eu não posso viver feliz para sempre com um caçador - alguém com o

sangue de matador de draki correndo por suas veias! — Eu bato uma

mão em minha boca no momento em que isso sai de meus lábios.

Ele para, me encarando num silêncio assustador.

Terrível não descreve como eu me sinto nesse momento. Eu

disse a ele que seu sangue não importava para mim, e eu realmente

quis dizer isso. Ele não tem culpa por ser o que é, por isso é muito

injusto jogar isso na sua cara. Sem o sangue draki, ele provavelmente

estaria morto, e eu certamente não desejo que isso tivesse acontecido.

E ele era apenas uma criança na época. Uma criança doente,

morrendo. Não foi como se ele tivesse qualquer escolha em seu

método de tratamento. Como eu pude jogar isso na cara dele?

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— É isso, não é? O que realmente aborrece você.

Eu balanço minha cabeça, pisco contra a ardência em meus

olhos.

Ele continua. — Você acha que se ligar a algum príncipe draki,

com Cassian, faz sentido?

Eu mal respiro por meu nariz. — Talvez. — Eu sussurro, sem

nem ter certeza do que estou falando. Mesmo se com Cassian fizesse

sentido, ele não é o certo para mim. Eu nunca trairia Tamra desse

jeito.

Ele acena, falando numa voz tão amortecida que eu sinto frio por

dentro. — Seria fácil apenas aceitá-lo. Eu posso entender isso. — Ele

se movimenta entre nós. — Mais fácil que isso... Nós. — Ele dá um

passo mais perto. Suas pernas afundam o colchão. Sua mão abaixa

para tocar meu rosto, em seguida de seus suaves dedos em minha

bochecha. Eu resisto inclinando-me para a mão, resistindo a render-

me a atração que ele tem sobre mim. — Apesar de que você nunca vai

amá-lo. Não como me ama. Certo ou errado, essa é a verdade. Sempre

será desse jeito.

Mas não pode ser. Eu não posso deixar.

Com uma respiração trêmula, eu viro meu rosto de sua mão e

olho para o relógio digital na mesa de cabeceira. — Eu não vou voltar

a dormir agora. Porque não começamos mais cedo?

Ele ri. O som é baixo e melancólico, tremendo sobre minha pele.

— Certo. Vá para casa. Fuja, Jacinda. Mas isso não mudará nada.

Você não me esquecerá.

Ele está certo. Mas eu tenho que fazer meu melhor para tentar.

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— Pare aqui. — Anuncio, olhando a floresta silenciosa que

nos rodeia, satisfeita que estejamos em segurança, distante o

suficiente do terreno. Longe o suficiente que não correremos risco de

Nidia nos detectar. Ao menos eu espero que não.

Eu esfrego minhas mãos suadas contra o tecido macio da calça

de moletom que eu uso e olho pelo parabrisa sujo com manchas. Nós

falamos pouco desde que deixamos o hotel.

Não há mais nada a dizer. Ainda assim, o silêncio me mata,

torcendo como uma lâmina em meu coração. Eu odeio isso, odeio que

tenha que terminar deste jeito. Odeio que isso tenha que terminar.

Will desliga o motor. Eu fecho meus olhos e inalo seu perfume

almiscarado e limpo, ouço o seu suave suspiro ao meu lado...

Memorizo essas coisas, enquanto essas são as últimas memórias dele.

— Eu voltarei em uma semana.

Nisso, eu me viro para encará-lo fortemente, abrindo a boca para

protestar.

— Não me diga que não. — Ele diz severamente. É uma voz que

eu nunca o ouvi usar. Ao menos comigo. Ele se inclina para frente,

segurando o volante como se fosse dobrar com as próprias mãos. —

Verei o que posso fazer a respeito de sua amiga. O que posso

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descobrir...

Por um momento, eu não consigo pensar em quem ele está

mencionando. Minha amiga? Então eu entendo. Ele quer dizer Miram.

— Eu pensei que você tivesse dito que não tivesse esperanças.

Seus olhos se viram para mim. Na luz do nascer da manhã, eu

vejo a cor deles. O ouro, e o marrom, e o verde. — Por você, eu faria

qualquer coisa. Especialmente se isso significar que eu verei você

novamente.

— Não se arrisque.

— O que você acha que estou fazendo aqui, Jacinda? — seu

olhar procura o meu e eu me sinto estúpida. É lógico que ele está se

arriscando. Eu não sou a única com algo a perder. Com tudo a

perder. — Acho que você vale a pena, apesar de tudo.

Suas palavras torcem em mim, me fazendo sentir como um

derrotista por desistir de nós. Mas então eu penso em tudo - todo

mundo - que estou colocando em risco. As vidas afetadas se eu

escolher Will agora mesmo. E eu não posso fazer isso. Não é apenas

sobre mim.

— Uma semana. — Ele repete, e eu penso sobre isso.

Esse pode ser somente seu jeito de me ver novamente, de tentar

ter mais tempo comigo... De mudar minha mente, mas também pode

ser a única chance de Miram. Eu agarro a maçaneta da porta,

empurrando para fora.

— Jacinda?

Ao pronunciar meu nome, eu o encaro, sentindo um aumento do

desejo familiar.

— Ao meio dia. Uma semana a partir de hoje. — Eu concordo.

— Eu estarei aqui. — Ele acena, sem sorrir, não mostrando

nenhuma expressão enquanto segura meu olhar como refém. Sua

mão descansa sobre a minha no banco. Minha pele formiga,

aquecendo sob sua mão. Eu fecho meus olhos num piscar aflito, a

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parte egoísta de mim ainda deseja ir com ele.

Eu deslizo minha mão livre e caminho para fora do Land Rover.

Por um momento eu encaro a floresta, profunda e silenciosa, o grupo

de pinheiros altos lançando uma sombra extensa. O vento sopra,

arrastando as folhas. Eu sinto seu olhar fixo em mim, mas eu não

olho para trás. É muito tentador. Difícil demais continuar andando se

eu olhar.

Com uma profunda respiração, eu começo a correr. Espreitando

através das árvores que me pressiona como amigos familiares. Apesar

de que não pareçam mais tão amigáveis. Elas parecem como as

paredes de uma prisão.

O guarda me faz esperar no portão, falando em seu rádio e

conversando numa voz baixa com alguém. Severin, tenho certeza.

Quem mais poderia ser?

Eu olho para o garoto enquanto permaneço coberta sob o arco

de hera, esperando... Como um estranho que pode ou não ser

concedida a entrada.

Eu encontro Nidia pairando na porta aberta de seu chalé, me

encarando com um olhar ilegível. Até mesmo ela não vem para frente

para se encontrar comigo, e me pergunto se a perdi também.

Minha irmã não está em nenhum lugar visível, e não posso

deixar de me perguntar se ela está dentro daquele chalé. Se ela sente

que estou aqui, que eu voltei, e simplesmente não se importa. Se ela

pensa que eu a abandonei. O pensamento me faz sentir um pouco

doente, oca por dentro. Especialmente desde que ela foi uma grande

parte do motivo por eu ter voltado. Tamra e mãe.

Severin chega, varrendo-me com seu olhar negro, insondável

como o espaço escuro e sem fim.

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Vários anciãos o acompanham, sem fôlego, tentando

acompanhá-lo com seus passos longos.

Cassian não tem problemas. Ele está ali também, ao lado de seu

pai, seu olhar faminto deslizando sobre mim como se buscando a

confirmação que eu realmente voltei, viva e bem.

Ao menos alguém se sente feliz em me ver.

Cassian dá passos a frente e agarra meus braços. — Jacinda.

O som sussurrante de meu nome completo de alívio, esperança e

expectativa me faz olhar sobre meu ombro, desejando que eu ainda

estivesse com Will, desejando que eu não carregasse tais notícias

trágicas.

Suas mãos deslizam de meu braço para minhas mãos, seus

dedos se enrolando nos meus.

— Onde está Miram? — Severin questiona a pergunta. Cuja

pergunta eu retornei para casa para responder. Eu olho de relance

para ele, depois de volta a Cassian. Cassian com seu olhar profundo,

procurando. Ainda esperançoso. Sempre esperançoso. Seus polegares

se movem em pequenos círculos sobre as costas de minha mão.

Em minha hesitação, outros começam a exigir a mesma coisa.

Onde está Miram? Onde está Miram?

— Eu-eu — lambo meus lábios secos.

— Onde está minha filha? — a voz de Severin quebra no ar.

Então eu digo. Cuspo as palavras como um terrível veneno que

eu preciso remover. — Caçadores a pegaram.

Mas o veneno não me deixa. Ainda está lá, bombeando através

de meu sangue. A culpa. O conhecimento horrível que causei isso.

Os polegares de Cassiam continuam lá, parando de se mover,

mas eu não olho para cima. Não posso encontrar seu olhar.

Eu balanço a cabeça, o movimento doloroso. — É verdade.

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Suas mãos soltam a minha, mal se tocando.

— Mas você conseguiu escapar? — Severin zomba. —

Milagrosamente.

Meus olhos queimam com picadas de ardência.

As mãos de Cassian caem por completo agora.

Minhas mãos se abaixam, dedos contraídos, vazias em meu

lado. E eu não sei exatamente de onde a súbita dor vem. Que Miram

está perdida... Talvez para sempre? Que eu sou responsável por isso?

Ou por sentir Cassian afastando-se de mim.

De alguma forma, ele se tornou especial para mim. Talvez ele

sempre fosse. Mesmo que eu não saiba o que nós somos um com o

outro. Eu sei que eu me importo com ele. Que eu não posso suportar

perder ele e Will.

Sem tocar, eu olho para seu rosto, procurando um sinal de que

ele não me culpa... me odeia.

Severin se move entre nós e segura meu braço. Seus dedos são

longos e grossos, cobrindo quase todo o meu bíceps, e eu me lembro

que ele é o alfa de nosso Clã por uma razão. O maior e mais forte

draki de nós. Um dia, o alfa será Cassian, mas até isso é Severin. E

eu estou a sua mercê.

Ele me puxa e eu me contenho em recuar de sua garra nem um

pouco gentil. Experimentei dor pior ao longo dos últimos dias. Talvez

eu até mereça isso. Afinal de contas, eu disse a ele que sua filha foi

pega por caçadores. Eu poderia muito bem ter anunciado a morte

dela.

Meu pé tropeça para acompanhá-lo. Os outros ficam para trás.

Eu luto contra o desejo de olhar e ver se Cassian está me seguindo

também.

— Onde estamos indo? — Atrevo a perguntar e depois me

arrependo quando Severin me dirige um olhar de puro ódio. Eu nunca

vi tal emoção vindo dele. Nunca foi pessoal antes. Eu estava

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simplesmente a um passo da morte. Uma ferramenta para ele usar e

manipular.

A cidade está silenciosa enquanto nós cortamos uma linha

através da névoa e seguimos abaixo para Main. Quase não há pessoas

fora de casa. Estranho essa falta de atividade ao meio-dia. Isso me

lembra o silêncio tumular após o desaparecimento de meu pai. O Clã

estava bloqueado por mais de um mês depois, ninguém saindo de

suas casas. Apenas as necessidades mais básicas foram atendidas, os

trabalhos mais importantes realizados para o funcionamento do dia-

a-dia do clã. Eu me lembro de algumas crianças reclamando que era

a hora mais chata. Eu somente pensava que era a hora mais

miserável.

Todas aquelas inundações de volta agora, correm por cima de

mim numa maré amarga de memória. Eu estou lá novamente. Só

então eu acreditei na promessa de um futuro melhor. Que papai pode

realmente voltar. Porque é o que mamãe sussurrou em nossos

ouvidos, o que ela poderia repetir muitas e muitas vezes, enquanto

colocava Tamra e eu para dormir a noite. Agora eu sei a verdade. Ela

estava ou mentindo para nós, ou para si mesma porque ela não sabia

de nada.

De repente, ela é a única que eu quero ver. Como então, eu

quero mamãe para me confortar. Abraçar-me e me dizer que tudo

ficará bem. Mesmo que eu saiba mais. Mesmo que eu não acredite

mais nisso.

Os olhos de mamãe é piscina morta, piscando com dificuldade

de volta a vida quando eu entro em casa com Severin ao meu lado. Os

outros permanecem na varanda. Exceto Cassian. Ele foi embora.

Mamãe me encara como se não me conhecesse, não me visse.

— Mãe. — Eu agacho ao seu lado na cama.

Seus olhos sem vida giram para meu rosto. Ela levanta a mão e

escova o emaranhado de meu cabelo.

— Mamãe, sou eu. — Eu digo. — Estou de volta. Eu estou bem.

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Ao menos seus lábios se movem. Ela murmura meu nome. O

odor me acerta. Eu olho o criado-mudo, localizando a garrafa de

vinho Verda.

Severin bufa. — Duvido que ela sequer tenha percebido que você

estava sumida.

Eu olho para o rosto duro dele, e então olho de volta para

mamãe. Eu fiz isso? Fiz coisas tão ruins que a fez se afogar numa

garrafa?

Pés batem da parte de fora. Trazendo vozes.

Tamra emerge no quarto, Az sobre seus calcanhares. Eu levanto,

minha respiração num arrepio, incerta do que esperar dela, de

qualquer um deles.

— Você está viva. — Tamra engasga. Seu cabelo não está na

perfeição habituada. O cabelo grande branco prateado está crespo e

selvagem como o meu cabelo. De fato, ela parece uma bagunça

completa da cabeça ao dedo do pé. Mais como eu num par rasgado de

jeans e camiseta.

Eu aceno. — Estou viva.

Momentos passam e ela não se move. Não fala enquanto nos

encaramos. E então estamos nos braços uma da outra. Soluçando.

No começo eu acho que as lágrimas são dela, o ruído feio parece

todo dela. Mas então eu sinto a umidade em minhas bochechas, as

vibrações em minha garganta e em meu peito. Eu estou chorando

com ela.

Az está aqui também, passando suas mãos pequenas em minhas

costas ferida.

— Me desculpe, Tam. — Eu digo.

— Não, você que me desculpe! Eu sempre te culpei por tudo e

simplesmente a coloquei nisso! Eu estou tão aliviada por você não

estar morta... Tão feliz por você ter voltado!

Eu fecho os olhos em alívio. Isso. Isso é porque eu voltei. Porque

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uma parte de mim sempre estará ligada a Tamra. Eu não poderia

deixá-la com medo, para sofrer com o mistério de meu

desaparecimento...

— Sim, ela está viva, mas Miram está perdida. Minha filha. — A

voz de Severin se intromete e nós três nos separamos. Eu o encaro,

sendo cuidadosa com ele como qualquer animal ou predador. Sua

atenção se estabelece em mim. — Isso não vai ficar sem punição. Não

desta vez. Você usou sua última chance, Jacinda.

O assoalho range, chamando minha atenção para a porta do

quarto. Cassian está parado lá, sem pisar para dentro. Mas ele está

ali. Ele voltou. Algo treme dentro de meu peito.

— O clã deve se reunir em uma hora. — Meus olhos se rompem

ao som da voz de Severin. — Você vai falar para seus transgressores,

para que todos possam ouvir.

Eu vou enfrentar um julgamento público?

Tais eventos não eram comuns na vida de um clã. Eu recordo de

somente um ou dois julgamentos públicos em toda minha vida, mas

raramente alguém transgride.

Os olhos negros de Severin estreitam em mim. — Não se atrase.

Você não quer que eu mande uma escolta. — Ele se vira para ir

embora. Na porta, ele pausa, avaliando seu filho. — Na verdade,

Cassian. Pensando duas vezes, porque você não fica para ter certeza

de que ela estará na hora certa?

Ele quer dizer para ter certeza que eu não escape.

O alívio que eu senti ao ver Cassian desaparece. Ele está para

ser meu carcereiro.

— Vai ficar tudo bem. — Tamra aperta meu braço, puxando

minha atenção de volta para seu rosto sério. — Eu estarei com você.

— Eu também. — Az canaliza.

Eu sorrio para ambas. — Tenho tanta sorte em ter vocês.

Eu olho de relance para minha mãe. Surpreendentemente, ela

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está se empurrando para cima da cama. Eu agarro seu braço para

ajudá-la a sentar direito.

— Eu vou fazer um pouco de chá. — Az rapidamente se

voluntaria, apressando-se a sair do quarto.

Cassian assiste em silêncio da porta enquanto Tamra e eu

cuidamos de nossa mãe.

— Um pouco de privacidade, por favor. — Tamra pede

bruscamente sem olhar para ele. Instantaneamente, eu me lembro da

última vez que nós três estivemos no mesmo quarto juntos. As

palavras feias... Aparentemente, minha irmã também não esqueceu.

Pelo canto do olho, eu observo ele desaparecer. Ouço seus

passos. Ele não foi para longe. Apenas para a sala de estar. Ele tem

suas ordens. Ele é minha escolta para a assembleia, afinal de contas.

Ele não irá embora.

Como se ela pudesse ler minha mente, Tamra diz. — Nós vamos

estar com você, Jace. Mamãe e eu. Nós vamos ficar como uma família.

Eu olho para minha irmã enquanto ela se agacha perto de

mamãe. Mamãe está olhando para mim também, seu olhar mais

lúcido, mais familiar do que o estranho das últimas semanas. Mais

como a mãe que eu conheço.

— Você voltou. Você se voluntariou a voltar. Isso tem que

significar algo. — Ela diz, me fazendo sentir menos preocupada. E

aliviada. Ela sabia que eu tinha ido embora. Ela sabia, e se

importava. — Você não é anormal. Severin não está pensando

racionalmente. Eles vão ver isso. Ninguém foi punido injustamente

antes.

Eu estou atentada a perguntar. Qual é a justiça?

Eu não sou inocente. Eu fiz coisas que não deveria.

Mas então mamãe pega minha mão e sua aderência é quente e

firme. Parece do jeito que ela fazia quando eu era pequena e ela era

meu mundo inteiro. Quando ela e papai podiam fazer tudo dar certo

com o toque de uma mão.

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De repente, eu não me sinto tão sozinha. Seja o que acontecer,

eu sei que tenho minha família. Isso me fortalece, me faz pensar que

eu posso lidar com qualquer coisa.

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Tamra segurou minha mão enquanto caminhávamos para o

centro da cidade. Os outros estão fora, andando em um fluxo

constante na mesma direção. Eles olham claramente para mim pela

névoa da crítica - até mesmo apontam para mim. Eles não parecem se

importar que eu possa vê-los fazer isso. E porque deveriam? Aos seus

olhos eu sou aquela que fez algo errado e que estava indo a frente do

clã para um julgamento público.

Tamra dá na minha mão um aperto tranquilizador. Mantemos

nosso ritmo lento o suficiente para mamãe. Ela caminha ao meu lado

olhando as faixas de luz que atravessam a névoa. Como uma toupeira

emergindo durante o dia.

Quando chegamos ao salão de reuniões, já está lotado. O

zumbido baixo das conversas morrem quando entro no campo de

visão. Partes de corpos se separam e me permitem andar e subir os

degraus da frente.

Severin fica lá atrás no parapeito de pedra. Os anciãos estão em

meia dúzia lá também, fantoches atrás dele. Eu não sou estúpida. O

público não vai decidir nada. Aconteça o que acontecer será ao seu

comando.

Cassian não se movimenta para estar entre eles. Eu acho que ele

não pode. Ainda não. Ele não tem a verdadeira capacidade oficial. Ao

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invés disso, ele assume uma posição na frente dos espectadores

reunidos. Eu solto meus dedos para liberar minha mão de Tamra e

subir os degraus, mas ela reforça seu aperto. Não se deixa ir.

— Eu vou com você — ela diz.

Az acena encorajadamente atrás dela. Como se ela acreditasse

no melhor.

— Não. Eu tenho que ir sozinha. — Duvido que deixem qualquer

um estar comigo lá de qualquer maneira. Olho para Tamra, mamãe e

Az. — Esperem aqui. — Dou um sorriso vacilante para elas. — Estarei

de volta. Tudo ficará bem. — Digo para elas também. Eu não tenho

certeza do que está para acontecer. Meu estômago dá reviravoltas,

mergulha em uma armadilha doentia. Ainda assim eu não posso me

arrepender de ter voltado. Eu precisava fazer. Por minha família. Por

Miram e Cassian.

Quando eu fico ao lado de Severin, meus delitos são lidos. Ele

começa pelo menor.

Negligência ao mostrar-se para o serviço.

Abandonando o clã sem autorização.

Eu estremeço, pensando na reação da multidão se soubessem

por que eu o deixei. Para quem. Isso seria ainda outra infração. A voz

de Severin rolou.

Voo durante o dia.

Contato com os caçadores.

Sua voz picava o ar, dura, sem emoção. Eu não posso parar o

pensamento amargo que invade minha cabeça: É claro que ele não vai

falar que é o único a designar Miram para me espionar.

— Temos essas regras para a segurança e preservação do nosso

clã. Para a proteção da nossa raça. Quando um de nós se mantém

separado e acima das leis do clã, coloca em perigo todos nós Drakis.

Estou com meus ombros para trás e olhando a multidão de

meus irmãos. Suas expressões tão extasiadas, então... Expectantes.

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Algo grande vai acontecer e eles sabem disso... Salivam por isso.

Todos eles. Eu examino os rostos familiares, meus velhos amigos,

vizinhos e professores. De repente eles parecem desconhecidos para

mim. Anseio por alguém que aquece meu coração. Alguém que não

tem lugar aqui. Will.

Severin continua: — Isso é precisamente o que aconteceu.

Miram, minha própria filha está perdida para sempre. Assim como eu

estou aqui, ela está a mercê dos enkros, sofrendo atrocidades

indescritíveis. Jacinda deve pagar pela sua culpa nisto.

Há um leve som no meio da multidão quanto a isso... um

murmúrio geral, em reconhecimento. Eu engulo dolorosamente,

olhando para frente, evitando olhar para minha família, para Tamra e

mamãe, para Az... Cassian.

Eu me estico tão duramente como um fio esticado esperando o

veredito final, sabendo que vim para isso. Não serei poupada. Não

desta vez. Não novamente. Severin decidiu meu destino.

Eu faço um som, um estrangulado grasnar. Quem eu estou

enganando? Sua decisão foi tomada no momento em que voltei sem

Miram. Ainda assim o imbecil anuncia: — Não há escolha a não ser

cortar as asas de qualquer draki cuja insubordinação continua a nos

colocar em risco. — Ele se movimenta para mim com uma girada de

sua mão. — De acordo com a antiga tradição, qualquer draki que

arrisca o clã perde o dom de voar por quanto tempo for necessário. —

Um silêncio recai, um silêncio tão ensurdecedor que realmente posso

ouvir o fluxo sanguíneo correndo pela minha cabeça.

Quanto tempo for necessário. Significando o tempo que leva para

consertar minhas asas. Caso cure. Às vezes as asas quebradas ou

feridas não curam corretamente, deixando um draki

permanentemente aleijado.

O ar se tornou um grito vindo de Tamra. Sua voz estridente

reverbera sobre o silêncio sussurrante. — Não! Não! Você não pode

fazer isso! — a face queimando com uma cor que nunca vi nela desde

que ela se manifestou. — É bárbaro! Deixe-a em paz! Não há nada de

paz sobre isso! — Nossa mãe a segura e envolve Tamra em um

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abraço. Segurando-a quando ela parece a ponto de subir os degraus.

Tamra luta por um tempo antes de enterrar o rosto contra

mamãe. Os olhos de mamãe não estão mais mortos, não mais vazios.

Mas eu quase desejo que estivessem. Pior que isso. Estão cheios de

dor e angústia.

Severin ignora a explosão, apenas um imperceptível tic em sua

mandíbula mostra que ele escutou a reprovação de Tamra. É Tamra.

Ele ainda precisa dela, vai suportar sua interrupção.

Seu próximo comando me corta em fatias, um corte profundo.

— E Zara deve assumir a responsabilidade também. — Severin

olha para os anciãos como se pudessem objetar dele arrastar minha

mãe para isso, antes de acrescentar, — Zara abandonou seu papel de

mãe e suas responsabilidades para com a menina e o clã.

Esta eu não esperava.

— O que? – grito, procurando freneticamente onde minha mãe

está, com os olhos espantados, alerta e piscando.

Severin continuou no mesmo tom aborrecido. — Ela será banida

e deve deixar o clã e suas bases de uma vez. A partir deste dia,

portanto, ela deve deixar de ser considerada uma Draki e deve fazer

seu caminho no mundo humano. — Os lábios de Severin enrolam-se

envolta de seus dentes em um sorriso de escárnio. — Como sempre

foi o seu desejo. — Ele acrescenta com um gosto de vitória, e eu sei

que ele está gostando disso.

— Espere — eu choro. — Eu vou com ela, pode banir a mim

também.

Os lábios de Severin se dobram em uma curva lenta. — Você não

tem voz na sua punição. Além de que... — olha-me friamente, e eu me

sinto rasgada sob a luz do seu escrutínio, — você ainda serve a um

propósito.

Maldições voam dos lábios de Tamra. Az se agarra ao seu braço,

ajudando a contê-la. Eu não sei o que é pior. A ameaça implícita de

que ele vai me dar para me reproduzir, o corte das minhas asas ou

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202

perder minha mãe. Cada um deles é horrível em formas diferentes.

Todos vão matar uma parte de mim.

Isto, combinado com Will, além de deixar o sonho de partir

levando a culpa pelo destino de Miram, é muito. O que mais pode

acontecer? O que mais posso suportar?

Eu congelei, estranhamente parada, enquanto tudo chicoteava

por mim como um borrão. A vida fora de controle e eu no centro de

tudo.

Olho ao meu redor, na névoa rodopiante de Nidia, a camuflagem

do nosso clã. Eu fantasio sobrevoando-a e escapando com minha mãe

e Tamra.

Só que é isso. Uma fantasia.

Com o movimento de Severin, um par de guardas com suas

algemas repugnantes chegam para escoltar mamãe para longe. —

Veja que ela não leve nada, além da roupa dela. Não pode levar joias

consigo.

— Mamãe! — Tamra grita, então procura desesperadamente

Severin. — Espere! Por favor, deixe-me falar com ela. Apenas um

momento sozinha.

— Assim ela pode dizer como entrar em contato com ela? —

Severin balança a cabeça. — Sinto muito, mas não. Como eu disse,

ela agora é um ser humano, e não uma Draki consorte de seres

humanos. — Seus olhos caem sobre mim. Como se dissesse que não

errou na acusação ali. Com um toque de seus dedos, minha mãe é

arrastada. Eu pulo na frente, mas uma mão forte no meu braço me

impede. Eu tento encontrar o olhar da mamãe. Transmitir algo, pegar

algo dela, aonde ela vai? O que ela vai fazer? Como eu posso

encontrá-la novamente? Será que eu vou encontrá-la novamente?

— Tragam os cortadores.

Este comando move os que me rodeiam. Mais movimentos em

borrões, mais vozes murmurando. Eu estico meu pescoço, mas não

consigo ver mamãe, não posso mais encontrá-la no turbilhão de

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atividades.

Ambos meus braços são presos e sou arrastada em direção a um

bloco que noto pela primeira vez, posicionado a poucos metros do

palco.

Ninguém presta atenção a minha irmã quando ela implora para

eles pararem. Eu sou forçada de joelhos em cima da superfície de

madeira. Aparentemente, eles não querem que ninguém perca o

espetáculo. E esse é o modo do clã, eu percebo. Pelo menos enquanto

Severin é alfa. Governando por meio do medo, por meio da

intimidação, através de ameaças, tanto ditas como indiretas. Esta é a

maneira de Severin e continuará sendo enquanto ele estiver no

comando.

Estão mandando eu me manifestar.

Eu empino meu queixo, e olho para frente. Eles não podem me

obrigar. O comando vem mais alto. Ainda assim eu desafio. Porque

tornar mais fácil?

Ondas sombrias de satisfação passam por mim com a cara de

Severin ficando vermelha de raiva. Ele cai fortemente ao meu lado,

lembrando-me da sua força e poder.

Ele fala palavras duras em meu ouvido, sua grande mão

descendo pela minha nuca. — Estou certo que posso conseguir que se

manifeste para sua irmã. Ela é tão inexperiente. Seria uma coisa fácil

inspirar medo nela. Então, qual é que vai ser? Você? Ou Tamra? De

qualquer forma alguém estará com as asas cortadas hoje. — Dirijo

meu olhar em seu rosto, o ódio que ele emana em mim em ondas de

calor.

Eu sussurro rouco: — Você não iria...

Seus dedos pressionam fundo em meu crânio. — Ela ainda pode

servir em seu propósito incapaz de voar.

Olhando em seus olhos negros, eu não sei se ele está blefando

ou não. Mas eu não vou correr o risco. Estremeço ao seu toque. Não

digo nada. Não vou dar a ele a satisfação de ouvir minha aceitação.

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Puxo uma respiração funda e me manifesto.

Minha carne humana desaparece tão rapidamente que eu não

tenho tempo de desabotoar minha camisa antes que minhas asas

empurram livres, rasgando o tecido com um som terrível que imita o

alongamento rápido e os estalos dos meus ossos.

Meus tremores ferem minhas asas, inclinando para baixo.

Parece quebrada. Já cortada. Um sorriso melancólico torce meus

lábios. Ninguém se importa. Está prestes a ser esmagada de qualquer

maneira.

Mesmo assim, é provavelmente minha melhor manifestação.

Raiva e medo o aceleram. Tremo por ambos. Raiva do poder de

Severin. Medo para o que estou a ponto de suportar. O gosto acre em

cada gole de ar.

Se eu não fosse presa por ambos os braços, eu provavelmente

teria perdido o equilíbrio e caído fora do bloco. O terror me atravessa

em ondas de calor me fazendo piscar. Eu só posso sentir isso. Viver

esse momento. Suportar...

Alguém chega trazendo os cortadores, e depois isso é tudo o que

posso ver. O brilho das lâminas avançando em minha direção. Eles se

parecem com cortadores de cerca de grande porte.

Eles parecem dolorosos.

A multidão é um rugido ensurdecedor agora, uma mistura de

aplausos e incentivo e de protesto afiado. Pelo menos eu acredito

escutar alguns gritos de protesto. Eu quero acreditar que nem todos

concordam que eu mereça esse castigo. Nem todo mundo tem sede do

meu sangue.

Os gritos da minha irmã e as maldições queimam em meus

ouvidos, e eu sei que ela está lá, atormentada com o que está

acontecendo.

O que está para acontecer.

Eu não posso ajudá-la. Eu chamo por ela, embora saiba que ela

não pode me ajudar.

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Ninguém pode.

Ela grita meu nome de novo e de novo. Lágrimas escorrem por

meu rosto, deslizando em minha carne superaquecida. Então, no

louco frenesi, eu vejo o rosto de Cassian, seus olhos profundos,

austeros e vivos em mim. Ele está no palanque agora, onde ele não

deveria estar, empurrando seu caminho através dos anciãos para me

alcançar. Lembro-me então. Ouvir sua profunda voz de semanas

atrás na promessa de me proteger. Ou pelo menos tentar. Ele acha

que pode agora? É tarde demais.

Só que ele não se aproximou de mim. Ele ficou tão próximo de

seu pai, agarrando seu braço com seu manto volumoso e falando

furiosamente, seus lábios se movendo rápido, as cores de suas

bochechas altas se colorem com seus movimentos frenéticos para

mim.

Eu não posso escutar suas palavras acima do barulho, mas vejo

que Severin está escutando... e então ele olha para mim de novo, o

olhar pensativo, considerando. Eu grito quando sou forçada a me

virar e me apresentar para o clã. Meus olhos voam

descontroladamente, não vendo nada, mas as portas duplas da

câmara de reunião estão a minha frente.

É isso.

Mãos agarram minhas asas e estica a fina corda das membranas

desconfortavelmente esticadas, eu suspiro com o quanto isso dói na

minha asa ferida. Comprimo meus lábios e vapor escapa das minhas

narinas. Dedos vasculham procurando o melhor lugar para cortar.

Bile surge em minha garganta. Eu me sinto violada, devastada pelo

levantar bruto.

Instintivamente, o fogo surge no fundo da minha garganta,

pronto para se defender, para me proteger. Eu mordo meu lábio até

que o gosto de sangue flui sobre meus dentes. Acobreado doce, ele se

mistura com o sabor de carvão e cinzas.

Uma mão dura empurra minha cabeça para baixo até meu

queixo tocar o peito. A pose força minhas costas em uma curva alta.

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Minhas asas se esticam acima de mim, expostas, as folhas finas

prontas para o corte perfeito.

Eu assobio, tremo violentamente quando a primeira dica do frio

aço toca um dos tendões da minha asa direita.

As mãos me apertando ficam mais duras, espremem até que eu

não posso sentir o sangue nos meus bíceps...

— Não se mova — uma voz avisa. — Eu odiaria tirar sua asa

inteira.

Eu engasgo com um soluço que seguro ainda. Então estou livre.

Ninguém me toca mais. Sem o frio beijo do aço nas minhas asas,

pronto para quebrar e cortar...

Eu tropeço fora do bloco. Caio no concreto. A picada de lágrimas

em meus olhos, nublando a visão de Cassian de pé acima de mim,

olhando com olhos estranhamente brilhantes, o peito elevando-se em

respirações quentes. A voz de Severin explode através do ar,

silenciando os murmúrios do clã.

— Uma alternativa para o corte da asa foi proposto e

considerado aceitável.

Minha cabeça ricocheteou na direção de Severin. Ventos de

esperança em meu coração e eu só posso pensar que aceitarei isso.

Seja o que for. Qualquer alternativa seria melhor.

O que poderia ser pior do que ser machucada, potencialmente

aleijada por toda a vida?

— Se Jacinda concordar em se unir neste dia com Cassian, ela

deve ser poupada...

Todo calor foi drenado do meu corpo. Estou fria por dentro.

Levanto tremendo, ficando distante como uma estátua com vista para

o mar de rostos atordoados. No entanto, nenhum me surpreendeu

mais do que a mim.

Meu olhar encontra o de Cassian. Seus olhos tão frios quanto eu

me sinto por dentro, negros, sem nenhum sinal de luz. Sem vento.

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Nem céu. Nada. Seus lábios espremidos em uma linha reta, como se

para impedir de se explicar porque ele fez isso.

Isso? Isso é o que ele ofereceu ao seu pai como solução? Porque

ele fez isso? Será que ele realmente quer se unir a mim? Ou ele está

fazendo um grande sacrifício? Ele não parece feliz com isso... Sobre se

perder para me salvar.

— Ela concorda. — Cassian anuncia, olhando nos meus olhos,

desafiando-me a discordar. Porque ele sabe que eu não posso. Não

com a alternativa diante de mim.

Ninguém espera por mim para confirmar a afirmação de

Cassian. Eu sou levada para longe. Os anciãos me lançam para os

braços de suas companheiras, as fêmeas sempre felizes em servir o

clã. A mesma coisa que eles esperam que eu me torne. Complacente,

obediente. Eu quase ri dessa imagem. Que nunca poderia ser eu.

Eu ergui minha cabeça para olhar direito como descer os

degraus, tentando um vislumbre do rosto de Tamra, a necessidade de

vê-la. Gelo transpassa meu coração quando finalmente a vejo. Tudo

nela é uma total palidez. O cabelo dela. Seu rosto. Mesmo seus olhos

são gelo, límpidos e incolores.

Seus lábios ligeiramente abertos com palavras que não surgem.

E mamãe. No pesadelo dos últimos momentos, me esqueci dela. Eu

olho para ela, mas é claro que ela se foi. Seu banimento não foi

revogado só porque eu fui poupada. Poupada. Fui realmente?

Fecho meu olhar em Tamra quando passo, tentando transmitir

minhas desculpas, que eu não quero que isso aconteça, que não vai

acontecer. Não vai.

Mas enquanto eu sou puxada percebo que é uma mentira. Eu

não posso parar nada disso. Talvez eu tenha brincado comigo mesmo

pensando que eu poderia controlar qualquer coisa, que eu jamais

poderia evitar o destino que o clã escolheu para mim há muito tempo.

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208

A noite está tranquila, mesmo com todos que me cercam

por todos os lados. Essa névoa parece mais escura, mais cinza do que

seu usual giz branco, e me pergunto se isso tem a ver com o humor

de Tamra.

Estou sendo levada para o campo de voo. Mato alto ondulando

contra minhas pernas à medida que avançamos para o centro. As

montanhas sentam em um testemunho silencioso, ótimas formas

irregulares salpicando contra o horizonte.

Vestida com um manto amarelo exuberante, sinto-me como um

cordeiro proverbial sendo levada ao matadouro. Quando chegamos ao

local onde gerações de Draki têm sido unidos, eu localizei o círculo de

arestas de titânio no chão. Não é difícil de fazer. Delineando as safiras

que brilham na noite, um belo azul hipnotizante. Safiras apenas, uma

das mais fortes pedras sobre a terra, a borda do círculo de titânio. O

anel simboliza a união indissolúvel entre dois Drakis.

Olhei para longe do círculo como se fosse guiada em direção a

ele. Eles estão na posição fora dela. Cassian já espera do outro lado

do ringue, vestindo um manto de preto brilhante. Olho por um

instante seu rosto, totalmente manifesto como eu estou.

O clã está em silêncio, observando extasiado.

Eu não olho ao meu redor. Eu não olho para Tamra, mas eu sei

que ela está aqui. Assistindo ao lado de todos os outros como me

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preparam para o vínculo com Cassian. Eu sinto seus olhos em mim.

Mãos removem nossas capas e somos direcionados para beber

do cálice cerimonial. Meus lábios abraçam a borda da taça que

gerações de Drakis beberam para selar seus vínculos. Meus próprios

pais. Eu pisco os olhos ardendo. Isso é mais difícil do que imaginava.

Fazendo isso e, em seguida, dizendo a mim mesma que não significa

nada, é mais difícil de acreditar do que eu pensava.

Não é uma união verdadeira. Eu não estou entrando no vínculo

livremente, por isso não conta.

Exceto, lembro-me das palavras da minha mãe. Algo acontece,

algo muda quando você está ligado nesse círculo Jacinda.

Ela estava certa? Será que com isso as coisas mudam? Um rosto

surge em minha mente. Não posso deixar que esta cerimônia tire

qualquer pedaço dele de mim e substitua por Cassian. Eu não posso.

Eu não vou.

Lambi a última gota de vinho dos meus lábios e observei como

Cassian bebia no cálice de joias, seus lábios tocando a mesma borda

da qual eu tomei meu gole.

Severin fala, mas eu deliberadamente bloqueei suas palavras,

sua voz. Eu já participei de cerimônias de vínculos antes. Eu sei o que

ele está dizendo. Eu não quero ouvi-lo dizer as palavras.

Em seguida ele aparece. Com a caixa de joias da minha família.

Eu luto para segurar o caroço repentino na minha garganta e

olhar o cofre duro, o pensamento na pedra âmbar já perdida no

momento em que foi vendida quando estávamos em Chaparral. Sinto

uma onda de posse quando um ancião mergulha as mãos entre os

itens. Não é do seu direito. Geralmente um dos pais do casal

vinculado faz isso, mas neste caso eu estou sem um pai.

As joias de Cassian são trazidas. Seu pai escava dentro da caixa

de sua família. As joias são puxadas livres, ao mesmo tempo. Eu

pisco na pérola negra removida da caixa de Cassian. Perfeitamente

redonda que enche a palma da mão de seu pai. Uma pedra âmbar é

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escolhida dentro da caixa da minha família. Lembro-me de cada joia

na caixa e que o âmbar é a última do lado esquerdo. Sei por que

escolheram essa. É a pedra que mais me representa. O âmbar e a

pérola são erguidos no ar, exibidos para o clã. A joia de cada uma das

caixas de nossas famílias. Duas joias para começar nosso legado

juntos. Nossa própria família.

O nó na minha garganta cresce e não importa o quanto eu tente,

não consigo engolir. Juntos, unidos, as duas pedras projetam um

brilho diferente, uma energia completamente diferente. Escuto sua

canção sussurrando e vejo como elas são colocadas em uma nova

caixa. Verniz preto com esculturas de fogo rodeando por cima da

tampa. Este é nosso... Minha e de Cassian. E me pergunto há quanto

tempo ela foi feita para este momento.

Então é a hora. Devemos começar nossa subida. Nosso último

voo como indivíduos independentes. De olhos fechados, levanto-me do

chão e voo. Ignoro a pontada de dor na minha asa machucada e subo,

subo. Subo.

Face angulada na direção do vento, frio e úmido. O luxuriante

gosto do céu novamente, a despeito a mim mesma. Apesar de não

querer saber nada sobre este momento. Voar sempre foi meu

bálsamo. Eu não posso resistir à doçura dele... Não depois de saber

que quase perdi isso quando eu cheguei tão perto de um corte de asa.

Trabalho minhas asas, golpeando o ar, me leva mais alto e mais

alto. É como se estivesse correndo para longe de tudo, esforçando-me

para chegar o mais longe possível do clã.

Fecho meus olhos, saboreando o vento em alta velocidade

batendo contra meu rosto. Por um momento, o pensamento pisca na

minha mente para apenas continuar a se derreter, desaparecer no

céu. Nunca descer. Pelo menos não no clã.

Então vejo Cassian, serpenteando por entre o nevoeiro e nuvens

comigo. O brilho de suas grandes asas mais escuras que a noite, as

velas poderosas de ônix piscando com nuances de roxo. Seu olhar

encontra o meu à medida que rodamos e rodamos para cima. E eu

sei. Ele conhece meus pensamentos. Ele sabe, mas seu rosto não

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revela nada. E então eu entendo. Sinto-o no fundo do meu peito onde

habita o fogo e as cinzas. Ele iria me deixar ir. Fugir para a noite,

desaparecer entre a névoa e as nuvens.

A escolha está em minhas mãos.

Eu imagino isso. O imagino perdido de volta para o clã sem mim.

De frente para todos, envergonhado e abandonado. Claro que eles

viriam atrás de mim. Eu provavelmente não iria muito longe. Não é

uma grande oportunidade realmente.

De repente ele pára. Flutua a deriva. Eu paro também,

impulsionando o ar. O encaro. Vários centímetros nos separam.

Nuvens noturnas, abaixo de nós, acima de nós. Filetes frios de vapor

flutuam em torno de nós como uma fumaça gelada.

Pego vislumbres do seu rosto através do ar nublado. Um flash de

carvão brilhante, olhos como obsidianas.

— Não será real — digo. Minha voz é levada pelo vento, e eu não

tenho certeza que ele escutou até que ele me responde: — Será real o

suficiente.

Real o suficiente? Para ele? É o que ele está dizendo? Será que

ele pensa que o vínculo onde um só está plenamente a desempenhá-

lo? Para qualquer um de nós? Ou ele está seguro que essa conexão de

alguma forma nos liga juntos?

Já perdi muito nesse dia. Will. Mãe. Olho para baixo. Tamra

aguarda lá, lá embaixo tão traída quanto eu pelo clã. Levanto meu

olhar para Cassian. Não vai ser real. Isto não será real.

Nado através do ar em sua direção. É a única resposta que ele

precisa.

Por enquanto é isso que devo fazer. O que o momento exige.

Seus olhos suavizam ao me abraçar, fazendo aquilo que os

drakis tem feito ao longo dos milênios. Suas mãos gentilmente

descansam onde me tocam. Nas minhas costas, na união entre

minhas asas, e outra no meu quadril. Por tudo isso, seu olhar não é

menos intenso, me perfuram como se estivesse memorizando tudo

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sobre meu rosto, tudo sobre esse momento.

Fecho meus olhos e tento esquecer. Penso somente em Will. Que

o verei novamente. O corpo de Cassian é uma rocha sólida contra o

meu, e eu me recordo que ele é fabricado para ser um guerreiro. Duro

e inflexível, mas sinto-me segura em seus braços, não menos

ameaçadores pelo seu poder, sua força.

Rebocados um contra o outro, começamos nossa descida. Meu

estômago cai arremessado para meus pés. É como um sonho, ou

pesadelo. Estou caindo, incapaz de levantar. Para pegar a mim

mesma. Estou caindo e não há nenhuma ajuda para mim.

Onde se subiu dois, descemos como um só. Isso é o ato de

união. Isso é o que devemos fazer. O que isso tem tudo a ver.

Eu sempre achei o rito de vínculo romântico, algo especial que

eu partilharia um dia com alguém. Mesmo assim, estava distante. A

perspectiva distante. Mas agora é real. Está acontecendo comigo

agora. Os braços de Cassian me seguram à medida que caímos. O ar

ruge passando por nós em círculos velozes, caindo, empurrando para

o chão. Meu cabelo voa do meu couro cabeludo. Os cabelos de

Cassian provocam lágrimas ao baterem em meu rosto e palpitam

como fitas escuras de sua cabeça.

Olhamos-nos, nariz contra nariz, o uivo do vento forte como um

trem de carga em nossos ouvidos torcem como em espirais em direção

ao clã que nos espera abaixo. Não é somente ele segurando a mim.

Abraçamos-nos perto. Nossas pernas um emaranhado entre nós. É

como se na verdade estivéssemos um entrando no outro nesse

momento... como se estivéssemos mergulhando para nossa morte. Eu

acho que esse é o ponto. O ato é para simbolizar a morte dos nossos

egos independentes e o início da nossa união como um.

Eu não respiro. Nem mesmo se eu quisesse. Movemo-nos a uma

velocidade incompreensível, o ar muito rápido para comprimir meus

pulmões. De repente, as nuvens clareiam. A névoa se dissipa.

Centímetros antes de colidir contra a terra dura temos nossas asas

nos puxando para cima e aterrisando com cuidado dentro do círculo

de pedras.

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213

Juntos. Um nos braços do outro. Drakis ligados.

Não encontro minha irmã em qualquer lugar durante as

festividades que se seguem. Eu estou constantemente rodeada,

tostada, empanturrada com alimentos e felicitações.

Como se eu não estivesse no palco há pouco tempo atrás para

cortarem minhas asas. Agora eu tenho que me provar. A união com

Cassian convence meu clã que passei a ser um deles. Mesmo que eu

não confie em ninguém totalmente, no entanto, eles confiam no

processo de vínculo... e eles confiam em Cassian. Através da festa, eu

procuro por Tamra, mas não consigo encontrá-la. Preciso vê-la.

Preciso ter certeza de que ela está bem. Que nós estamos. Sinto meu

rosto se apertar, meus olhos doloridos.

— Venha. — Cassian murmura ao se levantar da longa mesa

onde nos sentamos. Sua grande mão envolve a minha, a palma

calejada e áspera contra minha pele. — É tarde.

Mais gritos alegres e deixamos a festa juntos. Mas não antes de

eu localizar Severin, bebendo e sorrindo. Aparentemente os seus

pensamentos pela filha são esquecidos. Seu olhar encontra o meu e

ele levanta a taça em um brinde silencioso, feliz por me ter em sua

família, a seu ver, finalmente. Ele pensa que ganhou. Que fui abatida.

— Indo já? — passamos por Corbin em nosso caminho.

— Jacinda está cansada, ela teve um longo dia. — Cassian

responde com uma voz que não revela nada.

Corbin olha para seu primo, suas pupilas se tornando fendas.

Alarmes me assaltam por dentro com a implicação de que Cassian e

eu estamos unidos agora.

— Cuidado com sua boca. — Cassian adverte, com sua voz

grossa, sua mão ao redor da minha apertando levemente. Sua raiva

vem a mim verdadeiramente com força, pesada como uma grande

rajada do nevoeiro. E é mais do que raiva. É a posse, a necessidade.

Tenho medo das sensações bombardeando e passando da minha

mão para a dele, desesperada para cortar o contato, qualquer coisa

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para diminuir a ligação entre nós. É isso então? O que mamãe falou?

A conexão? Estamos sempre um no termômetro emocional do outro?

Ótimo!

Corbin dá um largo sorriso e fica de lado. — Claro.

Puxando minha mão, Cassian anda em uma linha dura

passando por seu primo, levando-nos longe. Eu o sigo, fechando-me

em um casulo adormecido, na esperança de mantê-lo fora e minhas

pernas se movem automaticamente. Somente quando damos um

passo na minha varanda, posso perceber onde estamos.

— Esta é a minha casa — eu digo.

— Meu pai disse que vamos viver aqui.

Eu pisco olhando ao redor. Vou morar com Cassian aqui? Na

casa em que cresci? E então eu entendi. Ninguém mais vive aqui. Sem

meu pai. Tamra com Nidia. Severin fez com que minha mãe ficasse

fora de circulação. Somente eu estou aqui. E agora meu companheiro

vinculado.

Olho para a porta da frente como se eu não reconhecesse. E eu

acho que não. A casa não é mais minha. É de Cassian agora. E por

extensão de Severin também. Um mundo estranho e novo aguarda do

outro lado. Um futuro com Cassian.

Meu estômago se rebela, agita acidamente. Não. Meu futuro não

é isso. Não é algo que me é imposto. Meu futuro é meu. Algo da

minha escolha. Alguma coisa, eu percebo que inclua Will. Eu sei

agora mais do que nunca. Agito minha cabeça. Como eu poderia dizer

a ele que nós não pertencemos um ao outro? Ele é... o único. Não

importa o que ele é, o que eu sou... eu vou encontrar uma forma de

estar com ele novamente. Cassian abre a porta e juntos entramos na

casa.

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215

Apesar da hora tardia, tomei um banho, deixando a água

morna acalmar meus músculos cansados e abusados. Eu demorei,

imersa em água muito tempo depois de a minha pele enrugar como

uma ameixa seca, e eu admito para mim mesma que é mais do que o

relaxamento me segurando refém no banheiro.

Não ouço nada do lado de fora. Saindo da água, eu me seco e me

visto, deixando o santuário do banheiro, pronta para enfrentar

Cassian. Uma centena de palavras diferentes queima na minha

língua, prontas para se derramar livre.

Eu entro no meu quarto, feliz por não encontrá-lo lá. Com um

estremecido sopro, eu passo pelo corredor até a sala. Ele estava

largado no sofá quando eu entrei na sala.

Seu olhar desliza em mim, demorando-se sobre a queda do meu

cabelo molhado. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele

pergunta: — Qual é o quarto que você quer que eu durma?

Eu pisco mesmo que isso seja tão Cassian. Direto ao ponto.

Ele continua: — Eu imagino que você ainda vai querer dormir no

seu quarto. Eu posso pegar o de Tamra ou da sua mãe.

Inundações de alívio passaram através de mim. Não posso negar

que eu estava preocupada com este momento, penso em suas

expectativas. Penso na minha reação a ele com esta nova... coisa entre

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216

nós.

— Quarto de T-Tamra — eu falo. Te-lo passando as noites no

quarto da minha irmã me pareceu de alguma forma como se fosse

apropriado.

Continuamos de pé onde estávamos olhando um para o outro,

nenhum dos dois se movendo. E ainda as palavras não ditas voavam

entre nós. Eu apertei minhas mãos, terminei torcendo meus dedos até

que eles estavam dormentes.

Havia muito que eu não entendia: por que ele está fazendo isso,

por que ele não empurra a questão da intimidade agora que estamos

ligados. Eu não sou nenhuma idiota. Apesar de eu não concordar com

qualquer coisa, eu sei que certas expectativas vêm com o ato de

união. Somos ensinados a importância da procriação desde o primeiro

dia na escola primária. O clã deve viver.

Na cozinha, a máquina do gelo fez burburinhos e eu quase pulei

ao som repentino. Seus olhos dardeando ao redor como um pássaro

inquieto, procurando um lugar para pousar.

Ele está nervoso, também, eu percebo ou talvez eu sinto. A

primeira definitivamente. Eu nunca vi Cassian nervoso antes.

Acho que eu deveria agradecer, exprimir a minha gratidão a ele

por me salvar de cortarem minhas asas. As palavras se prendem na

minha garganta.

Ele finalmente pigarreia. O som é alto e surpreendente. — Sei

que levará tempo para que isso pareça real para você.

Eu só posso olhar. Tempo? Ele acha que o tempo vai me ajudar a

aceitar? Será que um prisioneiro, um preso, alguma vez se acostuma

com sua cela? Ou talvez ele pense que com o tempo vou começar a

confundir a nossa conexão com outra coisa? Algo mais?

— Eu sei que você está preocupada com esta noite.

É claro. Estamos conectados. Ele conhece os medos tropeçando

através de mim, fazendo-me saltar para fora da minha pele.

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217

— Eu vou dar tempo a você, Jacinda. Eu posso ser paciente.

Temos tempo de sobra para... o que quer que pareça certo.

Então eu vou ter uma prorrogação. Mas por quanto tempo?

Quanto tempo posso mantê-lo na distância de um comprimento de

braço? Oh, Cassian nunca forçará a questão, mas quanto tempo

posso fingir que somos realmente um casal ligado diante do olhar

atento do clã? Diante de Severin.

Quanto tempo antes de eu afundar e fazer o que é fácil, esquecer

o que eu realmente quero... quem eu realmente sou? Esquecer Will.

O rosto de Will materializa-se em minha mente, e a resposta vem

a mim de forma clara. Nunca.

Eu não tenho que fingir que estamos verdadeiramente ligados

por muito tempo, afinal. Eu inalo uma respiração fortalecedora.

Apenas uma semana e eu vou ser livre.

Escorregando na cama, eu suspiro, apreciando a familiaridade

reconfortante de meu travesseiro gordo. A consoladora fofura que

cheira lavanda, e me rodeia e faz lembrar minha mãe. As estrelas

brilham no meu teto, mesmo depois de todos estes anos. Elas ainda

estão aqui. Mesmo quando papai não está. Como isso aconteceu?

Como é que eu perdi tanto? Pai. Mãe.

Eu viro o meu rosto no travesseiro e solto um grito áspero em

suas profundezas. Não Will, no entanto. Eu não vou perdê-lo,

também. E eu não vou perder a minha irmã.

Amanhã. Eu vou encontrar Tamra e dizer tudo a ela. Tudo. Sem

mais segredos.

Eu vou dizer a ela sobre o plano de Will para esperar fora do clã

por mim daqui uma semana a partir de agora. Eu vou pedir a ela para

se juntar a mim quando eu encontrá-lo. Eu vou pedir a ela para fugir

com a gente.

Venha conosco onde quer que formos. Podemos encontrar a

mamãe.

Eu tremo um pouco com a perspectiva, um pouco assustada por

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218

confessar tantos segredos para ela... Medo de que eu poderia perdê-

la, também. Eu não poderia suportar isso.

Eu agarro o travesseiro apertado, tentando me convencer de que

isso não vai acontecer. Tamra tem que estar bastante desiludida com

o clã para concordar em sair.

Eles baniram mamãe. Quase cortaram as minhas asas. E agora

o único draki que ela quis para ela está ligado a mim. Como ela

poderia querer ficar?

Esfrego meu rosto contra o travesseiro, minha mão deslizando

por baixo e meus dedos escovando a borda áspera de um papel.

Meu coração bombeia no meu peito, eu fecho a minha mão ao

redor do pedaço de papel. Sentada, eu viro a lâmpada, ansiosamente

escovando o emaranhado de cabelo molhado dos meus olhos para que

eu possa ver.

É apenas um pequeno pedaço na verdade. Algo arrancado de um

envelope antigo. Quatro palavras olhavam para mim, escrito às

pressas na mão da mamãe.

Lembre-se da Palmeira

É uma pista. Uma dica. Eu abraço o papel no meu peito, meus

olhos se esforçando na escuridão do meu quarto. Mamãe deixou isso

para mim. Ela está tentando me dizer aonde ela vai. Onde posso

encontrá-la!

E não faz absolutamente nenhum sentido para mim.

Ainda assim, me dá esperança. Um canto da minha boca começa

a enrolar. Mamãe está lá fora, esperando por mim. Ela não teria

escrito isto, a menos que ela pensou que eu poderia descobrir.

Eu aperto meus dedos ao redor do pedaço de papel. Eu vou

lembrar. Ou Tamra irá. E juntas vamos encontrar a nossa mãe. Eu

não estou derrotada. Severin não ganhou.

***

Eu não vejo Tamra no dia seguinte. Ou no depois. A semana se

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arrasta ao longo, e com ele a minha ansiedade cresce, algo escuro e

sombrio enchendo meu coração.

Esqueci que era costume para os casais recém-ligado a

sequestrarem a si mesmos em sua casa, não vendo ninguém, sem

fazer nada, exceto familiarizar-se com sua nova vida juntos. A lua de

mel. Isso é esperado no clã. Severin esperava, e desde que eu prometi

o ato de submissão obediente, não tenho escolha, exceto

desempenhar o meu papel.

Membros do clã vêm e vão, nunca se anunciando. Eu ouço seus

passos, seus sussurros na frente da casa enquanto deixam alimentos

e presentes na varanda. Tudo e qualquer coisa para tornar o nosso

tempo juntos especial.

Em nosso último dia de solidão forçada eu saio na varanda para

coletar uma cesta de pães recém-assados e bolos que avistei Nidia

deixando mais cedo, e também um jarro de limonada que alguém

deixou lá fora.

Com o cesto preso no meu braço e abraçando o jarro contra

mim, eu pego o movimento do outro lado da rua. Eu fico quieta e olho

a fonte.

Corbin inclina-se contra um poste em sua varanda, com os

braços cruzados sobre o peito. Ele olha para mim como ele sempre

fez. Presunçoso e determinado.

Sacudo a cabeça e começo a girar. Não faz sentido o porquê dele

ainda me olhar dessa maneira. Não depois de eu ter me ligado a

Cassian. Não somos nada um ao outro. Agora ele tem que saber

disso. Agora ele tem que desistir de sua obsessão estúpida.

Então Jabel anda em sua varanda e chama por ele. Quando ela

vê Corbin olhando, ela segue seu olhar e franze a testa.

Sua voz flutua do outro lado da rua, tocada com censura. Casais

unidos devem ser deixados sozinhos durante esse tempo, e eu acho

que o intenso olhar de Corbin não corresponde exatamente isso.

— Corbin — ela chama, com a voz mais pesada. Quando seu

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olhar encontra o meu me dá um meio sorriso.

Eu tinha um laço com Cassian. Ante aos seus olhos eu tenho

reafirmado meu compromisso com o clã. Eu sou parte de sua família

agora. Talvez isso diminua a dor de perder Miram.

Ela ordena Corbin para dentro. Ainda assim, ele não se move.

Apenas olha para mim daquela maneira consumidora dele que me

assusta. Mas agora eu estou ligada ao seu primo, além do seu

alcance.

Então, por quê? Ele não sabe que é tudo uma farsa. Ele não

pode saber disso. E ainda assim ele olha.

Dirijo-me para dentro, minha carne pinica, ainda sentindo o seu

olhar vigilante.

Cassian e eu comemos juntos em silêncio, a nossa última

refeição sozinhos. Então eu percebo que todas as restantes noites

desta semana vão ser assim. Ele. Eu. Sozinhos.

Vamos por caminhos separados durante o dia, realizando os

nossos deveres, socializando, vivendo. Mas as nossas noites são

reservadas um para o outro. Minha pele arrepia, calor cravando

profundo sob a pele.

Até, é claro, eu fazer a minha fuga.

— Você tem planos para amanhã?

— Eu vou ver minha irmã — eu respondo sinceramente, antes

que eu possa pensar que talvez não devesse mencionar Tamra.

Ele balança a cabeça, raspa os dentes de um garfo ao longo de

seu prato. — Talvez eu deva ir com você.

— Eu não acho que é uma boa ideia — eu rapidamente digo.

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Ele acena com a cabeça de novo, lentamente, processando. – Ok.

Eu esfaqueio um pedaço de peixe no meu prato. Eu não preciso

dele por aí quando eu contar a minha irmã que pretendo fugir com

Will e quero que ela venha conosco.

— Por enquanto — acrescenta.

Eu olho para cima, franzindo a testa. — O que você quer dizer?

Ele continua: — Eu não posso me esconder de sua irmã para

sempre. Temos que fazer as coisas direito.

— Você acha que pode acontecer? — eu pergunto, olhando

fixamente para ele. — Que você pode fazer as coisas direito com

Tamra?

Ele faz uma careta, movendo em sua cadeira à minha frente. —

Eu espero que sim. Ela é sua irmã e eu sou seu...

Olho para ele, meu olhar afiado, cortante. Não diga isso. Nós não

somos isso. Você não é meu companheiro escolhido.

— Nós somos uma família agora. Todos nós.

Eu não digo nada. Agarrando meu prato, eu levanto, entro na

cozinha e começo a esfregar os pratos com intensidade febril.

Cassian se junta a mim. Lado a lado, eu lavo e ele seca. Nós

trabalhamos em silêncio, caindo em um ritmo. Eu estremeço quando

penso que meus pais faziam a mesma coisa há anos, de pé neste

mesmo lugar. Ligados. Conectados.

Só que nós não somos meus pais. Nem de perto. Nós não rimos e

conversamos. Nós não compartilhamos histórias sobre o nosso dia.

Eu não permito isso. Sinto certa tristeza vagando para fora dele e

estabelecendo profundamente em mim, misturando-se com a minha

própria dor por Will e mamãe. E isso só me faz mais brava. Eu não

deveria ter de sentir suas emoções. Eu tenho o suficiente das minhas

emoções para lidar.

Ao realizarmos a nossa tarefa mundana, penso no amanhã.

Quando eu verei Tamra novamente. Quando podemos falar sobre

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como vamos deixar este mundo para trás para sempre. Um mundo

que rouba de você e não dá nada em troca.

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Eu levanto cedo e não me preocupo com café da manhã.

Nenhum som sai do quarto de Cassian quando escapo da casa. Corro

através do município, através de ruas que estão na sua maioria vazia,

o ar da madrugada espessa como pó de giz, quieto e silencioso, exceto

pelos meus passos trovejantes e a respiração ofegante de trovão.

Enquanto eu me apresso pela Main, meu espírito se levanta

quando a casinha de Nidia entra na minha vista. Então minha alegria

é esmagada.

Meu coração se esmaga quando os passos de Corbin entram no

meu caminho, aparecendo do nada. Por trás de uma sebe, eu acho.

Como se ele estivesse à espreita. Ele agarra meu braço e me arrasta

debaixo de uma das muitas guarnições sempre verdes na metade

inferior do Main. Ele me aperta contra a casca áspera, me prendendo

entre a enorme árvore e seu corpo.

— Tire suas mãos de mim — eu assobio. Meu corpo reage

instantaneamente, o instinto chutando. Fogo entra em erupção no

meu núcleo, fumaça comendo minha garganta. O sabor de cinzas e

cinzas reveste minha boca.

— Vamos esclarecer uma coisa.

Eu não escuto, não me importa ouvir o que quer que ele tenha a

dizer.

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Tremendo de raiva, eu olho para baixo em suas mãos em meus

braços. Emoção varre-me em uma queimação. — Você ousa me tocar?

Cassian vai matar...

— Oh, muito comovente. Estou impressionado. Eu quase

acredito que você e Cassian são um casal verdadeiro, em vez da

charada que você está jogando.

Frio me percorre, ensopando meu calor. — O-o que você quer

dizer?

Corbin inclina-se, escovando seu nariz na minha bochecha, e

inala drasticamente. Eu me encolho ante o contato e pisco fortemente

uma vez. — Eu sei a verdade — ele sussurra, sua voz em uma grosa

raspa no meu ouvido. — Você não é dele. Você nunca foi dele. Você

sempre se guardou dele. A Ligação com ele não mudou isso.

Eu abro minha boca para negar isso, mas não posso. Eu não

posso dizer as palavras, não posso insistir que Cassian e eu estamos

apaixonados. Dizer estas palavras, com Will no meu coração... Eu

simplesmente não posso. Se é bom para mim ou não. Em vez disso eu

rosno, — Fique longe de mim.

— Eu vejo em seus olhos. Ele seria uma parte de você. Mas você

é a mesma. Inalterada.

É estranho, mas eu quase espero que ele esteja certo.

Seus olhos brilham para mim. — Ainda assim intocada. — Sorri

então, uma torção cruel dos seus lábios. — O que significa que ainda

há uma chance para nós.

Eu bufo. — Você está louco.

— Fique dizendo isso a você mesma. Só eu sei a verdade, e logo

todo mundo vai, também. Se eu sozinho tiver que fazê-los ver. Eu vou

provar isso. E então eu estarei lá para fazer o que meu primo é muito

covarde para fazer.

Eu não posso respirar quando olho para seu rosto. Se eu não

sabia que eu precisava ficar longe, muito longe, isso só confirmava.

Corbin é louco o suficiente para fazer exatamente o que ele diz.

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Ele aproxima sua cabeça... como se ele realmente fosse me

beijar. — Eu ainda reivindico você.

Eu não penso. Apenas reajo. Eu parto meus lábios e solto fogo

que espuma no meu núcleo, fazendo com que minha pele se contraia

e atiro ferozmente.

Vapor derrama de meus lábios em uma fita fina. Satisfação

incha dentro de mim quando o vapor quente escalda-o. Ele uiva,

segurando o lado direito do rosto.

Aproveito a minha oportunidade e espremo para fora entre ele e

a árvore.

Eu corro o resto do caminho para Nidia e seus gritos me

perseguem.

— É você e eu, Jacinda. Você vai me pertencer! Você não pode

correr para sempre!

Eu dou uma súbita parada na porta de Nidia e resisto ao

impulso de bater a madeira com o meu punho. Ainda é cedo. Não faz

sentido bater na porta, como se os lobos selvagens estivessem me

perseguindo.

Eu descanso uma mão contra a porta, a outra no meu coração,

controlando minha respiração. Quando a porta abre, eu paro quase

caindo no chão.

Tamra está lá, seus avermelhados olhos inescrutáveis, mas eu

sei que ela está sofrendo tanto quanto eu estou.

— Vamos fugir — eu digo abruptamente. Apenas assim. Sem

alívio, sem trabalho.

Segurando minha respiração, eu espero e tenho esperanças que

não estou louca em pensar que ela vai sequer considerar a arriscada

aventura. Que ela vai mesmo querer entregar seu novo status com o

clã. Parece que espero para sempre ela me responder, falar, dizer

qualquer coisa.

— Em quanto tempo nós podemos ir embora?

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Eu libero uma respiração irregular, quase choro de alívio e então

percebo que a parte difícil ainda falta. Eu tenho que explicar Will.

Dou uma olhada por cima do meu ombro, tendo certeza que

Corbin se foi, e então eu viro e olho incisivamente dentro da casa.

Tamra rapidamente se move e leva-me a seu quarto, o que antes era o

quarto de reposição de Nidia. O quarto não tinha a sua marca ainda.

Ela transferiu muito pouco de seu antigo quarto em nossa casa para

esse. Mesmo a mesa de costura de Nidia ainda ocupa um dos lados.

Eu me sento na cama desfeita, as cobertas em um emaranhado

abaixo de mim.

Ela fecha a porta suavemente. — Então como vamos fazer isso?

Eu me abraço, encontro o seu olhar e digo a única palavra que

deve explicar tudo. — Will.

Ela me olha por alguns instantes e depois pergunta em uma

surpreendente voz. — Você foi vê-lo?

Concordo com a cabeça.

— O dia que Miram e você... — sua voz desaparece. Chupando

uma respiração, ela pergunta o que eu estive temendo, — Você estava

se encontrando com Will então?

Novamente, eu aceno de cabeça. Ela suspira, e o som parece

cansado.

— Eu deixei cartas para você e para mamãe, mas Miram as

pegou, e ela me seguiu. Em seguida, vieram os caçadores...

Ela balança a cabeça.

— Você está muito zangada? — pergunto inquieta.

— Eu não sei. Talvez. Eu estou tão cansada. Cansada de ser

louca. Eu só quero sair daqui. Encontrar mamãe e nunca mais voltar.

— A dor em sua voz me faz sentir ainda pior. Porque eu a coloquei ali.

Pelo menos em parte. E porque eu não posso prometer paz. Pelo

menos não ainda.

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— Há algo que tenho que fazer antes que possamos encontrar a

mamãe. Eu esperava que você me ajudasse. — Com o seu talento

especial, a ajuda de Tamra poderia ser a diferença entre a vida e a

morte.

Cautela enche seu olhar esfumaçado. — O quê?

— Eu estou indo resgatar Miram. — E então eu estaria quite

com o clã. Com Cassian. Comigo mesma.

Seus olhos se ampliaram. — Miram? Mas ela não está com os

enkros?

Concordo com a cabeça. — Mas eles não a mataram ainda. Eu

acho. Não por um tempo. Eles vão querer fazer algumas... — eu me

encolho ante a impureza da palavra experimentos e substituí por, —

observações.

— Então você acha que podem marchar para onde quer que ela

esteja e pedir gentilmente para que a entreguem?

Eu viro minha cabeça e digo lentamente, — Não, mas eu acho

que posso explodi-la para fora. Com a ajuda de Will. E a sua. Devo

isso a ela. — E Cassian, não posso deixar de pensar.

— Você deve a ela? Miram? Ela nunca foi nada além de uma

idiota.

— Ela nunca teria sido levada se eu não tivesse estado lá fora

esperando por Will.

Tamra digere isso, olhando-me mais avaliadora.

— Olha — eu digo. — Vamos chegar à sua fortaleza, olhar... e

então veremos. — Eu mordo meu lábio, esperando que ela não possa

ler meus pensamentos. Que uma vez que eu tiver a fortaleza enkros à

vista, vou entrar. De jeito nenhum estarei me retirando. Estarei

deixando Miram livre... E eu só poderia fazer um pequeno dano no

processo. Meu sangue esquenta com isso, e eu me sinto mais forte,

fortificada. A ideia de levar toda a operação para baixo me dá uma

decidida agitação.

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— Tudo bem — ela concorda, mas a hesitação está lá, clara em

sua voz, lembrando-me de cada vez que eu a arrastei em um esquema

que ela não queria realmente fazer.

— Mamãe deixou uma nota — eu digo feliz em dar algum pouco

de boas notícias.

Seus olhos se iluminaram. — Onde? O que ela diz?

— Eu a destruí. Não queria que ninguém encontrasse, mas dizia:

Lembre-se da palmeira.

— Lembre-se da palmeira? O que isso significa?

Decepção me apunhala. Tamra não se lembra também. — Eu

não sei, mas ela obviamente pensou que iria significar algo para nós.

Tenho certeza que podemos descobrir isso.

— Yeah. — Ela acena, e sua voz soa mais forte, menos

miserável, e estou tão imensamente aliviada que mamãe deixou uma

pista, um bote salva-vidas em um mar turbulento. Algo, qualquer

coisa, para pendurar. O olhar firme de Tamra descansa em mim. —

Quando nós vamos?

— Will espera me encontrar em três dias.

— Três dias — ela murmura, olhando desapontada. — E então

nós temos que encontrar Miram e trazê-la de volta para cá antes de

procurar mamãe? Nós realmente vamos manter mamãe esperando

assim? Por uma menina que nem gostamos?

— Bem, nós não sabemos o que significa a nota de mamãe

ainda. Não sabemos para onde ir. E mamãe saberia que não

poderíamos escapar tão cedo. Ela não vai desistir de nós.

O olhar de Tamra estreita em mim. — Então, você deveria viver

com Cassian por mais três dias? — sua voz como acusadoras garras

através de mim. Como se isto fosse algo que eu fiz deliberadamente.

Algo que quero. É a primeira vez que ela menciona Cassian. É mais

do que falar sobre o estranho garoto que ela foi obcecada ao longo da

vida estar ligado a mim agora.

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Minha mente pisca ante a fria impressão daqueles cortes nas

minhas asas. A memória ecoa através de mim e eu posso provar o

medo, como se estivesse lá de novo. Em cima desse bloco. Será que

ela esqueceu isso?

Um dos lados de sua boca se curva quando ela acrescenta: —

Isso deve ser acolhedor.

— Não é... — Molhei meus lábios. — Não é assim.

Seu olhar penetra e eu mexo na borda de uma coberta torcida,

pensando que eu preciso escolher minhas palavras com cuidado. Sou

capaz de ler a pergunta em seus olhos.

Como é então?

— Ele não tem... Não fizemos nada... Irreversível.

Seus lábios torceram. — Não? Eu pensei que ele seria o mais

ansioso para...

— Sim, bem, eu não estava. — Eu não estou ansiosa para

ninguém, exceto Will.

— Certo. — E eu sei o que ela está pensando. Por que sua voz

carrega uma nota de zombaria. Ela está lembrando aquele momento,

que ela nos interrompeu. Quão perto estávamos. A mão de Cassian no

meu rosto. E ela nem sequer sabe que nós realmente nos beijamos.

Culpa me esquenta.

Eu cruzei os braços por cima do meu peito. — Ele dorme em um

quarto e eu estou no outro, e essa é a maneira como ele vai ficar até

você e eu sairmos daqui.

Ela olha para o lado, olha através da janela do quarto dela na

parede coberta de hera. Não havia muito para ver. — Como é que

vamos passar a guarda de plantão?

Eu não pensara tão longe ainda. Eu estava ocupada demais me

preocupando se Tamra concordaria em fugir comigo ou não.

E então eu sei o que fazer. — Uma distração — sussurro.

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— Sim? Qual?

— Não qual. Quem.

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A risada de Az flutua no ar como sinos tocando suavemente.

Tamra e eu esperamos ansiosamente, escondidas, longe do olhar, de

cócoras atrás da casa de Nidia. A perda repentina de som nos leva a

movermos-nos. Como um par ao redor da casa. Com certeza ela

travou os lábios com a cinquentona - velha Remy. O rapaz está preso

feito cola a Az. Suas mãos apertando e puxando-a para ele, como se

temesse que a menina mais velha pudesse desaparecer de seus

braços. Com as mochilas penduradas em nossos ombros, nós

passamos direto por eles e para fora da entrada. Dou uma olhada por

cima do ombro. Az nos observa, os olhos janelas brilhantes,

ajudando-nos, mesmo quando eu sei que ela está triste por nós

irmos.

Com um aceno de despedida, eu sigo em frente. Minha

respiração escapa dos meus lábios em baforadas quentes. A qualquer

momento eu espero escutar o alarme. Eu espero um Draki da

prefeitura para nos pegar. Nesse caso eu posso esperar o pior castigo.

Duvido que parem o corte da minha asa. Severin virá com tudo para

cima de mim para tirar Tamra de mim também... Para deixá-los sem

sua próxima Shader.

O clã, Severin, saberia que não honrei meu vínculo com Cassian.

Corbin seria rápido em apontar isso. Estremeço e lanço um olhar

sombrio para minha irmã. Ela pega meu olhar e me dá um pequeno

sorriso enquanto salto sobre um tronco caído, em perfeita harmonia

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com uma fuga. Parece perfeito. Estarmos juntas nisso. É muito ruim

que para nos reunir é preciso uma bagunça.

Nossos pés batem suavemente sobre a terra úmida. Nós

cortamos através da névoa, tecemos através das árvores que

conhecemos bem.

Eu lidero a frente de Tamra, ansiosa para deixar o clã para trás,

com fome da visão de Will. Quero senti-lo primeiro. Antes mesmo de

romper as árvores, eu sei que ele está lá, desde o crepitar da minha

pele e o calor tremulante repentino em minha garganta.

E então eu o vejo.

Paro, ofegando duramente, meu olhar o devorando. Ele olha

para mim, e há surpresa em seu rosto. Ele não achava que eu viria, e

agora estou aqui com a mochila nas costas, ansiedade cantarolando

através de mim, meu rosto e meus olhos dizendo tudo que ele precisa

saber.

Não é claro quem é que se move primeiro. Estamos um nos

braços do outro, lábios selados, fundidos, calorosamente fundidos.

Nossas mãos deslizando sobre o outro, reagindo, lembrando-se, quase

como se nós dois estivéssemos verificando se o outro é de carne e

osso. Seus dedos se enroscando no meu cabelo enquanto beijá-lo se

torna mais difícil, batendo nossos dentes. Ele faz um pequeno gemido

contra minha boca, ondas percorrem pelo meu corpo, me desfazendo.

Fazendo-me esquecer de tudo, menos disso. Seus lábios nos meus.

Tamra limpa a garganta. Will me solta e me puxa para trás. Eu sorrio

na batida do meu coração com o gesto de proteção, mesmo que seja

desnecessário.

Envolvo meus dedos em torno do seu braço. — Está tudo bem.

Tamra está vindo com a gente.

— Tamra?

Concordo com a cabeça. — Yeah. Eu vou explicar tudo mais

tarde. É melhor irmos. Antes que notem que fomos embora. —

Assentindo, Will desliza sua mão envolta da minha e caminha em

direção ao Land Rover.

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— Não me diga que esse é o seu humano? O mesmo que a Nidia

sombreou?

Congelei com o som dessa voz.

Giro lentamente, soltando a mão de Will e me abraço. Fogo

emerge dentro de mim com os passos de Corbin através das árvores.

Não há sorriso em seu rosto, mas seus olhos brilham de satisfação.

— Eu sabia que você ia escorregar. E eu estaria lá quando isso

acontecesse. — Cruza seu olhar com Will. — Então é por isso que

você não vai dar qualquer tempo do seu dia para um de nós pobres

coitado drakis.

Tamra diz meu nome hesitante, seus olhos confusos. —

Jacinda? — aceno para silenciá-la, meu olhar fixo em Corbin,

engolindo a bile amarga do que a sua presença aqui significa. O que

eu vou ter que fazer para garantir nossa fuga. Flexiono minhas mãos

do meu lado.

— Você não deveria ter nos seguido.

— Oh, claro que eu deveria. Meu tio vai me recompensar bem

por impedir a engolidora de fogo e a Shader do clã escapar. — Suas

narinas aprofundam e seu olhar negro púrpura me percorre. —

Mesmo Cassian não pode salvá-la agora. Você não é mais dele. Você é

minha, exatamente como eu disse que seria. — Sua voz racha o ar em

seguida, e não há nada hesitante sobre isso.

— Toque-a e eu vou te matar. — As palavras arranham o ar,

escuras e ameaçadoras como o predador que eu conheci meses atrás,

há muito nessas árvores.

Parece ridículo pensar que um humano poderia derrotar um

ônix forte como Corbin. Mas então me lembro. Não é um ser humano

mediano, ele é algo mais... Algo que não deve ser subestimado.

Os olhos de Corbin se ajustam para Will, seu rosto cruel e

odioso da forma que ele olha para seu inimigo de séculos. Sua carne

humana desfoca, desaparece num piscar de olhos. Suas mãos

agarram sua camisa e a rasgam do seu corpo com um rasgo violento,

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revelando sua carne carvão escuro. Seus tendões ondulam quando ele

se lança no ar.

Will está pronto para o ataque, mas eu me jogo antes dele e

libero o calor latente dentro de mim. Ainda não me manifesto,

somente uma explosão de vapor me escapa, não fogo de verdade. E é

mesmo um desperdício. Corbin evita o vapor. Ele voa para trás de

mim antes que eu possa me ligar nele. Eu grito quando ele me chuta

duramente nas costas.

Caio no chão. O impacto é brutal, me choca até os dentes. Meu

queixo raspa na terra. Tossindo, cuspo a sujeira e o sangue. Tamra se

agacha perto de mim, me ajudando a me apoiar. Um rugido enche o

ar, algo se abre dentro de mim. Eu vejo como Will pula alto o

suficiente para agarrar as pernas de Corbin e arrastá-lo para o chão.

Amaldiçoando, Corbin bate suas asas, enquanto tenta levantar

voo, mas Will é tenaz, puxa-o para a terra com toda a sua força. Eles

caem em um emaranhado de pernas e asas batendo. Uma vez no

chão, Will começa a esmurrar Corbin, balançando soco após soco. O

som de osso contra osso enche o ar, um som doentio. Eu assisto,

esquecendo a dor no meu queixo, sentindo somente o giro cruel do

meu coração. O calor aumenta dentro do meu peito e ergue-se em

minha boca.

Corbin se contorce, e logo eles estão rolando, um borrão de

velocidade, até que parecem algo selvagem. Corbin finalmente se

liberta, varrendo para o ar. O sangue escorre por seu nariz estriado, e

seus olhos brilham com uma malícia furiosa. Ele faz círculos acima.

Como um falcão preste a capturar sua presa. Will se agacha. Mesmo

agora, sua expressão é de uma intensidade bela que machuca meu

coração.

Corbin levanta os dedos como garras prontas para atacar. O

brilho das unhas como navalhas. É uma pose para matar.

— Will! — eu grito, o alertando.

Corbin desce como um raio preto. Ele faz contato e golpeia. Will

puxa fora as garras de seu braço com uma mão. Do amontoado em

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235

que Tamra e eu estamos, vejo vários cortes profundos, seu sangue se

revelando... O brilho púrpura brotando entre os dedos.

Corbin viu também, rosna em nossa língua. — Quantos drakis

você matou caçador, de forma que nosso sangue possa fluir em suas

veias?

— Corbin, não! — eu grito.

— Cala a boca Jacinda. Assista enquanto eu dreno cada gota de

sangue draki dele!

Minha garganta aperta, engrossa com o fogo. Minha pela se

rasga e eu manifesto. Sinto-me dar para o meu draki. Apareço ao lado

de Tamra e rasgo os botões da minha blusa. Minhas asas se abrem e

mergulho para Corbin, me esticando para pegá-lo e tirá-lo de Will,

com as mãos contra sua garganta, misturando fogo e fumaça. Meus

dedos se estenderam para alcançar, apenas para agarrar o ar.

Assim como Corbin estava prestes a fazer contato, a mão de Will

voa para cima formando uma poeira de sujeira entre eles. A grande

onda de terra escura, galhos e capim picado, quase tão altos quanto

às árvores que nos rodeiam, empurra Corbin de volta, arremessando-

o a vários metros pelo ar e fazendo-o bater no chão com força

esmagadora.

Suspiro, caindo no chão e cobrindo a cabeça com as mãos para

afastar a terra que chove. Tamra faz o mesmo não muito longe de

mim. Estamos diretamente no seu caminho, mas ainda temos

sucesso contra alguns detritos. Cegada pela nuvem de poeira

encontro Will, nossos olhares se encontram e vejo o espanto que

reflete meus próprios pensamentos.

— Cuidado! — Tamra grita.

Corbin está de volta. Sangue pingando através de um corte na

cabeça. Ele toca levemente e examina os dedos. Sua expressão

transforma-se brutalmente na evidência da sua lesão. Com um grito

ele surge no ar novamente.

Antes de Will ter a chance de fazer... Seja lá o que fosse fazer,

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um raio negro atravessa minha visão. É tão rápido que no começo

acho que são mais detritos que Will jogou no vento. Sigo o objeto, olho

ao redor descontroladamente localizando-o. Ele. Cassian.

Ele bate em Corbin e alfineta o chão. Tensos uns contra os

outros, criaturas antigas, belas e selvagens em sua forma draki, todo

preto com asas de couro tremulando. As mãos de Corbin em garras,

grunhindo. Saliva voa dos seus lábios, enquanto ele tenta trazer suas

garras através da garganta do seu primo. Deixo de respirar, posso

apenas assistir.

Tudo acontece muito rápido. Um mero segundo... mas não posso

me mover. Cassian remexe com uma mão no chão e pega uma pedra

grande. Eu suspiro quando ele traz para baixo com um golpe

selvagem contra a cabeça de Corbin. A cabeça de Corbin pende para o

lado silenciosamente.

Dou um passo hesitante para frente. — Ele está... Você... —

ofegando, as cristas do nariz vibrando, Cassian lança seu olhar sobre

os ombros para mim.

— Não. Ele virá em breve.

Com uma respiração pesada, ele sobe em um movimento único e

fluido, suas asas são grandes velas atrás dele, e eu percebo que ele é

mais natural desse modo, mais confortável como um draki do que um

humano. Por algum tempo eu me senti da mesma forma. Agora eu

não sei o que eu prefiro. O que eu sou mais - draki ou humana.

— Jacinda — Will diz meu nome, chegando ao meu lado.

Estendo meu braço e deslizo em torno dele. Levanto meu olhar para

Cassian, deixo que digam tudo. Deixo que o gesto fale por si. Cassian

olha para ambos e eu me prendo em seu olhar, tentando não deixar

qualquer coisa que ele possa estar sentindo penetrar e me influenciar.

Ainda assim pego um fio dos sentimentos dele. Raiva. Pesar. Tristeza.

As palavras sinto muito surgem em meus lábios, mas não posso

deixá-las sair. Não posso pedir desculpas pela forma que me sinto por

Will.

— Você está indo embora — ele anuncia na sua língua, áspera e

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gutural. Em um piscar de olhos eu manifestei, voltando a minha

forma humana.

— Sim — Tamra está lá me ajudando a deslizar na minha

camisa esfarrapada novamente. Ainda me observando Cassian segue

o exemplo se manifestando diante de mim, vestindo apenas um jeans

rasgado. Ele olha para Tamra. — Ela vai também?

— Eu estou bem aqui — ela estala. — Você não precisa falar

sobre mim como se eu não estivesse.

Sigo o seu olhar para a minha irmã. Seus olhos como lascas de

gelos enquanto ela olha para Cassian... eu acho que sua paixão por

ele pode realmente estar no fim.

— Você vai deixar o clã? — eu não tenho certeza a quem ele está

perguntando.

— Depois de tudo que aconteceu? — aceno com a mão. —

Porque eu iria ficar?

— Porque há coisas maiores e mais importantes do que você

quer — ele afirma, seu olhar passando rapidamente e significante por

Will.

— Você não é ninguém para falar sobre colocar o que quer de

lado. — A voz de Tamra soa venenosa. — Você queria Jacinda e a

certeza de que a tem. Não foi para o clã. Foi para você e ninguém

mais.

— Do que ela está falando? — Will rosna ao meu lado, apertando

minha mão.

— Será que realmente quer fazer isso agora? — lanço um olhar

deles para Corbin. — Ele provavelmente acordará a qualquer

momento e nós estamos muito perto do clã.

Observo os movimentos musculares da mandíbula de Will. Ainda

olhando para Cassian, ele me puxa em direção ao caminhão. — Você

está certa. Vamos sair daqui.

A voz de Cassian me persegue. — Fugir Jacinda. Você é boa

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nisso.

Will endurece ao meu lado, mas é Tamra que vem descolando.

Ela se vira cuspindo toda sua fúria. — Não seja hipócrita! Você quer

saber para onde vamos? E nenhum de nós quer ir, deixe-me

assegurá-lo disso. Vamos resgatar a pirralha da sua irmã que está

tendo apenas o que merece por espionar Jacinda.

— Miram? — seu olhar dispara para mim. — Isso é verdade?

Você está indo resgatar Miram? — seu olhar oscila para Will. — Ela

não está morta?

Will mantém silêncio por um longo momento, e eu prendo a

respiração. Finalmente ele responde. — Ela vive.

Algo passa pelos olhos de Cassian. Uma leveza que não estava

ali segundos atrás. Sinto o seu alívio. — Então eu vou com você.

— O que? — Tamra exige, perseguindo-o enquanto ele vem em

direção ao veículo. — Eu não penso assim!

— Ela é minha irmã — ele devolve com a voz apertada, seus

lábios mal se movendo. Tamra olha impotente para mim e Will, com

os olhos perfeitamente comunicando seu pedido. Não deixem que ele

venha.

— Será perigoso — advirto.

— Jacinda — Tamra sibila.

Cassian apenas me olha, e eu percebo que a ameaça de perigo

dificilmente vai desencorajá-lo. Concentro-me em estudar Will, espero

por ele para decidir. Ele está comandando essa missão. Eu passo meu

polegar contra o interior do seu pulso em um pequeno círculo. Ele dá

um único aperto em minha mão, e em seguida caminha em frente,

guiando-me para o lado do passageiro. — É melhor sair daqui.

Com um aceno triste, Cassian fica na parte de trás do Land

Rover. Tamra sobe resmungando, mas sobe também, certificando-se

de ficar tão longe dele quanto possível. Will liga o carro, deslizando

uma mão sobre a minha como quando estávamos na clareira. Eu

enrosco meus dedos nos dele, vejo manchas roxas nos nós dos seus

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dedos. Dele ou de Corbin, eu não sei, mas meu peito aperta. Tiro meu

olhar do sangue e olho para o rosto de Will ao invés disso, para

aqueles olhos cintilantes de luz e profundidade insondáveis. E digo a

mim mesma que isto é o certo. Will. Eu. Nós, nesta viagem juntos.

Em alguns momentos, estamos nos movendo, os quatro

companheiros mais improváveis para descer a montanha, cortando

através da névoa... O escudo de proteção de Nidia evaporando-se à

medida que descemos. Longe do clã.

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A última vez que fugi do clã só havia desespero. Desolação

na convicção de que eu nunca seria inteira novamente. Que, sem o

clã, eu não seria nada. Não iria fugir, mas minha mãe me fazendo ir.

Desta vez é diferente. Agora eu estou fugindo. Eu. De bom grado.

Tão rápido quanto eu posso. Sem o clã, eu sou livre. Inteira como eu

não tenho sido nas últimas semanas. Esperança transbordando

em meu coração.

Will segura minha mão. Cassian e Tamra estão em silêncio no

banco de trás. Redemoinhos de tensão nos quatro de nós tão

espessos quanto à névoa que deixamos para trás.

Sinto Cassian atrás de mim. Irritado, fortes ondulações de

determinação exalam dele. Ele se mistura com minhas próprias

emoções mais leves. Concentro-me em meus sentimentos e lutar

para afastar Cassian.

Olho para a mão de Will envolvendo minhas mãos. Tão forte.

Lembro-me da perplexidade de Corbin, na sua força, e eu deixei que

se instalassem em uma fossa profunda. Eu vira a evidência de antes.

Quando ele lutou com Cassian no Big Rock, ele aguentou firme. Eu

culpei o seu treinamento, mas agora eu não tenho tanta

certeza. Não depois de hoje. Não depois do que o vi fazer com o chão.

De alguma maneira Will ganhou múltiplos talentos draki através

da transfusão? A força de um draki ônix e o poder de manipular o

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chão e a terra como um draki da terra?

Muito incrível, talvez... mas eu sei o que vi. Ele alavancou

a terra. Assim como um draki da terra pode fazer. Eu não

imaginei isso.

Tamra testemunhou, também. Tudo remonta para o

sangue. Que outra explicação pode haver? Ele é imune à sombra, ele

é extremamente forte, ele pode manipular a terra... Isso é mais do que

qualquer draki sozinho pode fazer.

E começo a me perguntar o que mais se esconde nele? Em seu

sangue?

Eu quero falar com ele sobre isso, mas só quando estivermos

sozinhos. Sabendo como Cassian se sente, eu não quero trazer a

minha suspeita de que Will ganhou algo mais do que uma

segunda vida através de suas transfusões.

Eu medito sobre isso, no prolongado silêncio.

Conversa irrompe uma vez, quando Cassian pergunta:

— Quanto tempo vai demorar em chegar lá?

— Depende se a gente dirigir em linha reta. — Will responde.

— Nós vamos dirigir em linha. — Cassian retorna sem rodeios.

Olho para Will, observo um músculo tencionar seu rosto. Eu dou

um leve aperto nos seus dedos, pedindo paciência. Esta aventura vai

ser bastante difícil. Todos nós devemos tentar conseguir juntos.

Tamra bufa e resmunga: — Sempre no comando.

Olho para ela. Ela se senta com os braços cruzados, encostada

na porta para ficar o mais longe possível de Cassian nos limites do

veículo. Eu me viro e solto um sopro lento.

Vai ser uma longa jornada.

Nós dirigimos por várias horas, parando apenas uma vez para

abastecer e nos alimentarmos. Eu cochilo irregularmente no banco da

frente, fumaça, terror enche minha mente semiconsciente com

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imagens piscando.

Eu estou na van novamente. Com Miram. É quente e sem ar e

meus poros gritam por socorro no espaço apertado. Miram deixa

gemidos engasgar e eu faço o meu caminho com ela em minhas

mãos e joelhos. Só quando eu toco seu ombro e rolo sobre ela, não

é Miram, afinal.

É papai.

Seus olhos estão vidrados, olhando para o nada. Não importa

como eu o chame e sacudo, ele não vai acordar. Ele só está lá como

um pedaço de pedra fria.

Eu me mexo com força, totalmente desperta, ofegante.

Will lá, sua mão fecha sobre a minha. — Você está bem?

Eu pisco fora os vestígios de sono e aceno a cabeça, incapaz de

esconder o quanto o sonho me perturbou. Olhando em volta,

percebo que estamos parados. Ele está de pé fora do carro e

inclinando-se sobre mim.

— Onde estamos? O que estamos fazendo?

— Parando para a noite — diz Will. Eu paro através da

escuridão e observo a figura de Cassian gravada com a noite. —

Vamos lá.

Eu saio do carro. Will toma minha mão. A porta bate com Tamra

saindo, fechando sua jaqueta. — Está frio.

— Eu tenho cobertores, e nós podemos começar uma fogueira.

Eu estremeço na noite fria. É mais frio aqui. Já

posso detectar uma queda na temperatura a partir da nossa

última parada a centenas de quilômetros ao sul.

Na distância, grandes montanhas recortadas, roxo contra o

negro da noite quebram o céu.

Tamra sopra em suas mãos. — Não podemos ficar em algum

lugar com um telhado e quatro paredes?

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— Até estarmos mais longe do clã, devíamos ficar fora de vista.

Mantendo-nos afastado de locais públicos.

Eu viro na voz profunda de Cassian. Seu olhar é um líquido

escuro na noite. Ilegível, como de costume, exceto que eu posso lê-lo.

Eu posso sentir sua raiva. Seu senso de desamparo.

— Ele está certo. — Will balança a cabeça e parece estranho

que eles estão de acordo sobre qualquer coisa. — Vamos montar um

acampamento.

— Vou recolher lenha. — Cassian desaparece entre as árvores, e

sei que ele quer isso. Tempo para si mesmo. Longe da vista de mim

e Will.

Tamra e eu ajudamos a espalhar mantas no chão e criar um

círculo de rochas para o fogo. Will sai e volta com um saco de

aperitivos que pegamos de um posto de gasolina antes.

Tamra toma um saco de batatas fritas e cai em um cobertor.

Cassian retorna e eu pego um cobertor para me sentar,

observando enquanto ele e Will trabalham em obter uma

fogueira. Novamente, isso é estranho, vendo-os trabalhar lado a lado,

sem tentar matar um ao outro. E ainda me dá esperança. Esperança

de que vamos nos unir e tudo ficará bem.

Eles não estão tendo um momento fácil em conseguir o fogo

florescer, pelo menos não rapidamente. Eu chego perto e inclino no

ninho de chamas crepitantes e libero vapor suficiente para que as

rajadas de fogo criem vida. Will e Cassian se jogam para trás.

Tamra ri e avança para mais perto, segurando as mãos. — Bom.

Pensava que levaria metade da noite.

— Acabou o show. — Will murmura, colocando um braço em

volta de mim. Nós resolvemos recuar para o cobertor e o

frio derrete em seus braços.

Cassian agita através do saco de lanches. Eu vejo-o do canto do

meu olho, sentindo o seu desconforto. Ele seleciona uma garrafa de

suco e desaparece entre as árvores. Parte de mim se sente

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culpada, que eu deveria ir atrás dele e tentar aliviar o seu

desconforto. Estamos unidos agora. Falso ou não, não pode ser fácil

para ele me ver com Will.

Mas eu tenho estado muito longe de Will. Eu não quero me

mover, não quero deixar o círculo reconfortante dos

seus braços. Ainda não. Nem nunca.

— Vamos comer. — Ele estica o braço e puxa o saco mais para

nós. — O que é que vai ser? Twinkies? Ou Cheetos?

Não me lembro à última vez que eu comi essas porcarias. Não

desde Chaparral. Eu roubo o pacote de Twinkies de sua mão.

— Eu sabia que você ia pegar isso.

— Por quê?

Seus lábios se movem sobre o meu. — Doces para o doce.

Will se encarrega de ver se estou coberta e me puxa para perto,

ao seu lado. Nós compartilhamos os alimentos e assistimos o passar

das nuvens cinzentas contra a noite escura. Eu bebo refrigerante de

morango até que faz cócegas no meu nariz.

— Eu acho que esse é o encontro que nunca tive a chance deter

— ele murmura, seu hálito quente na minha bochecha.

Eu sorrio, lembrando que o nosso primeiro encontro oficial foi

interrompido por Xander e seus primos.

— Bem, não é o pequeno restaurante grego que me

prometeu, mas até onde encontros vão, eu estou tendo um

momento muito bom.

— Refrigerante de morango, Twinkies, e Cheetos. Você merece o

melhor.

Tamra geme e senta, recolhendo seu cobertor e alimentos.

— Eu vou dormir no carro. Eu não posso sobreviver a uma noite

de vocês dois falando doce. — Ela me envia uma

piscadela enquanto ela se move em direção ao carro e sei que ela não

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está realmente irritada, ela está apenas nos dando a chance de

ficarmos sozinhos.

Estamos em silêncio por vários momentos, envolto nos braços

um do outro, olhando para a noite. — Nós vamos ter, Jacinda. Algum

dia.

Eu viro o meu rosto, meu nariz quase colide com o seu. — O

quê?

— Encontros normais.

Eu sorrio. — Eu não estou segurando minha respiração, Will. Eu

só quero que estejamos juntos. Seguros. Felizes.

Ele passa a mão pelo meu cabelo. — Nós vamos ser.

Nós vamos ser. Depois de chegarmos à fortaleza enkros e Miram

sair. Depois que encontrar mamãe. Relaxo meus pensamentos,

deixo serem levados como as rápidas nuvens se movimentam

acima. Will joga os dedos delicadamente no meu cabelo. Seu toque me

acalma.

— Nós vamos ficar bem. Vou nos colocar dentro e fora de lá. Eu

sei como funcionam os enkros.

Eu sei que deveria pedir a ele para me contar mais sobre eles,

para explicar mais sobre o inimigo que enfrentamos. Eu sei que

deveria dizer sobre Cassian e eu nos ligando, mas meus olhos ficam

pesados, mesmo que eu tente mantê-los abertos. Minha última

visão é de Will, olhos abertos, olhando para a noite.

***

Eu acordo com um arrepio – meus ou de Will, eu não posso dizer

com certeza. Estamos presos nos braços um do outro, onde um de

nós termina e o outro começa é difícil determinar. Mexo me livrando

do conforto de seu corpo e desperto o fogo de volta à vida com uma

rajada de ar. Agachada lá, eu varro meus olhos sobre o nosso

acampamento um pouco e percebo que ainda é apenas Will e eu.

Levantando, eu me movo para o carro e vejo minha

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irmã adormecida na parte de trás, puxo o cobertor até o seu

queixo. Sem Cassian. A noite é cinza azulada na cor. O amanhecer

não está muito longe. Será que ele ficou longe toda a noite?

Franzindo a testa, eu dirijo na direção que tomou. A floresta

densa me engole imediatamente. No entanto, não tenho medo. Nem

da natureza ou da minha solidão dentro dela.

Meus avanços consomem o chão da floresta, terra úmida

amortecidas com agulhas de pinheiro. Os galhos esmagados debaixo

dos meus sapatos e o som dos estalos ganha um ritmo.

Eu passo sem pensar, mas meu curso é definido, caminhando

para algum lugar no fundo do meu subconsciente como eu traço um

caminho cheio de finalidade através das espessas árvores. Sou

levada pelo meu senso de Cassian. Ele está perto, em algum lugar. Eu

sinto isso. Sinto-o. Ao longe, um trovão ronca suavemente.

O estalo é sutil. Há tantos sons ao meu redor que eu não dou

muita atenção. Ruídos fazem parte da floresta.

E depois vem de novo.

Sem realmente parar, eu ouço, virando o meu rosto. Vários

galhos e as folhas quebram sob a pressão de algo pesado. Não é

de pequenos animais.

Nem esquilo correndo pelo mato. Nem Cassian.

A carne na minha nuca treme. Eu paro, prendo minha

respiração, e verifico as formas fantasmagóricas das árvores por todos

os meus lados.

Liberando a respiração levo ar em meus pulmões, eu me

abaixo de cócoras, ficando tão pequena quanto possível.

Meus dedos pastam no solo, preparando-se para empurrar,

aparafusar se necessário. Meus ossos começam a tração familiar, a

pele esticar, prurido a desaparecer e abrir caminho para a minha

pele draki mais resistente.

O som cresce mais alto, pisando através da folhagem.

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Mantendo-me ainda abaixada, eu me torno parte da

paisagem enquanto espero.

Enfim, eu vejo a fonte do ruído.

Um magnífico urso preto aparece entre duas árvores, o brilhante

nariz farejando o chão enquanto ele faz o seu caminho. A

criatura levanta a brilhante cabeça escura, orelhas levantadas,

narinas trabalhando enquanto ele cheira, farejando o ar. Ele me

detecta.

Com um acesso de raiva o enorme urso toma várias medidas

agressivas em minha direção. Eu me levanto, mantenho seu

olhar, deixo-o sentir o animal em mim... Sou aquela criatura como

ele, pronta para lutar de volta. Ele mergulha a cabeça, pronto para

carregar. Nossos olhares se trancam por um momento sem fôlego.

Adrenalina bombeia através de mim rápido e forte.

De repente, há outro som. Cassian cai por entre as árvores,

gritando meu nome enquanto ele chega ao meu lado. Ele pega a

minha mão. Um rugido estrondoso explode do peito de Cassian. Uma

rápida olhada em seu rosto revela que ele está meio manifestado. As

fendas verticais de seus olhos de dragão tremem com ameaça. Seu

poder bruto alimenta em mim, me faz sentir mais forte. Juntos,

enfrentamos o urso, unidos de frente.

Um momento passa enquanto o urso continua nos

prendendo. Com um grunhido, seus escuros olhos inteligentes se

esvaem. Ele se vira e continua o seu caminho, farejando material

mais interessante. Eu respiro mais fácil vendo-o partir, admirando as

ondulações de seus músculos sob o seu casaco de pele grossa,

aliviada que nenhum de nós teve que destruir o belo animal.

Um sorriso sai de minha boca enquanto eu viro o rosto para

Cassian. E isso é quando eu vejo Will. Ele está um pouco além de

nós, nos observando com um olhar que eu nunca vi.

Dúvida. Dor. Está tudo lá, passando por cima das linhas do seu

rosto esculpido.

Eu tiro a minha mão de Cassian e limpo contra minha coxa,

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como se eu pudesse apagar a sensação de seu toque. — Will — eu

paro pouco antes de perguntar quanto tempo ele esteve ali, nos

observando. Isso soaria culpado, e eu não fiz nada de errado. Nada,

exceto esconder a verdade.

Will aponta para Cassian. — Como você sabia que ela estava em

apuros? Você mal foi ao acampamento por cinco segundos antes

de decolar, gritando que Jacinda estava em apuros... você

sabia. Como?

Olho para trás e para frente entre Cassian e Will. Cassian olha

para mim, transmitindo que isto é para eu explicar.

— Jacinda. — Will diz o meu nome com forte ênfase, à espera de

uma resposta. A verdade, por mais que eu não quero que seja.

Fechando os olhos, eu encho os meus pulmões com o ar. Eu

sabia que teria de dizer o que aconteceu em algum ponto. — Alguma

coisa aconteceu quando eu voltei para casa.

Vislumbres de desconfiança nos olhos de Will e eu acho que ele

provavelmente tem uma boa ideia do que vou dizer. Ou pelo menos

que ele não vai gostar.

— O quê?

— Eles decidiram cortar minhas asas.

Um músculo treme em sua mandíbula. — Eles te machucaram?

Eu balanço a cabeça. — Não, mas minha mãe protestou e eles a

baniram.

— E? O que mais? — ele pergunta, sabendo que há mais,

que deixei de fora a parte mais difícil. — Como é que eles não

continuaram com isso e cortaram suas asas?

Eu saí correndo com o resto, pensando que quanto mais rápido

eu falasse, melhor, menos doloroso. — Eles mudaram de ideia quando

Cassian ofereceu uma alternativa.

— Uma alternativa? — Will já não olha para mim. Ele

simplesmente travava olhares com Cassian. Endurece o seu perfil,

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como se ele estivesse preparando a si mesmo.

Eu engulo contra o nó na garganta. — Sim. Como uma

alternativa... ele sugeriu que nos ligássemos.

— Se ligassem? — seu olhar chicoteia de volta para mim. —

Como no casamento? — Para os draki, sim, é a mesma coisa. —

Somente a conexão pode ser mais, pode executar mais

profundamente do que isso, pode ligar um casal emocionalmente...

Nada disso eu digo. Ainda não. Deixe ele digerir uma coisa de

cada vez.

Ele se move e caminha por uma linha dura, parando perto de

uma árvore. Olho, impotente na linha rígida de suas costas saltar

tão de repente como ele se move, batendo com o punho na casca

áspera.

Eu avanço, pego seu braço com os dedos desesperados. — Era

entre uma ligação falsa ou o corte das asas. — Tomo a mão dele,

examinho as juntas rasgadas e sangrando com um silvo. — Por favor,

entenda, Will.

Ele sopra uma respiração profunda e acena lentamente, virando-

se. — Eu entendo. Eu entendo. — Só que ele não olha fixamente para

mim. Ele olha além do meu ombro, para Cassian. — E eu não te

culpo, Jacinda. Uma ligação falsa. — Ele ecoa com um assentimento

de sua cabeça afiada. — Não é real.

Meu peito alivia, parece menos apertado. Will entende. Nós

vamos ficar bem. Nós vamos ficar bem. Eu acredito nisso. Até que a

profunda voz de Cassian se entromete e o sorriso escorrega de meus

lábios.

— Já que você começou, por que não dizer tudo, Jacinda?

Eu olho para Cassian.

— O que você está deixando de fora? — Will pede, seus dedos

soltando os meus, e eu odeio isso, odeio que ele está se afastando de

mim.

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Eu arrebato a mão dele e aperto. — Nada. Você sabe tudo. —

Tudo o que não é bobagem supersticiosa. Nem todo casal draki forma

uma conexão. Não é um absoluto. Por que eu deveria expor isto?

Apenas porque eu imagino que eu tenha uma melhor leitura sobre as

emoções de Cassian ultimamente?

Só porque ele sentia que eu poderia estar em perigo?

— Ele queria saber como eu sabia que você estava em apuros.

Diga a ele por que, Jacinda.

Tensão irradia de Will. Ele fica como um fio puxado apertado, a

ponto de saltar fora.

— Alguns dizem — eu limpo minha garganta. — Alguns

acreditam que uma vez que um casal draki se liga uma... conexão

é formada.

— Conexão? — Will balança a cabeça e algo é inerentemente

perigoso no gesto, como se ele pudesse surgir no ataque.

— Uma conexão emocional. — Eu elaboro.

Will primeiramente não fala, olha para frente para Cassian,

antes que ele repita: — Alguns acreditam? O que você acha? O que é

verdade, Jacinda?

— Bem, é diferente para todos. Nem...

— E como é para vocês dois?

Tenho medo do chicote de sua voz. — É — eu quero mentir. Eu

não quero magoá-lo, mas acima de tudo eu não quero que ele

pense que ele e eu somos nada menos do que antes que eu ligada

a Cassian. Porque não pode ser verdade.

E ainda assim eu não posso mentir. Não para Will.

Com uma andorinha, eu admito. — Desde a ligação... há algo lá.

Eu estive mais sintonizada com Cassian.

Will acena devagar e vai para longe de mim.

— O que você está fazendo? — eu exijo com um toque de pânico

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enquanto ele começa a caminhar para longe de mim.

Oh, inferno, não. Eu não passei por tudo apenas para que ele

possa desistir de nós agora. Eu viro para Cassian. — Você está feliz?

Cassian balança a cabeça, e o que me enfurece ainda mais é a

pena que eu li em seus olhos. — Ele precisava saber. Sinto

muito, Jac...

— Não — eu mordi. — Não sinta pena de mim. Eu não preciso

de sua piedade. Will e eu vamos ficar bem.

Com essa declaração, eu corro atrás de Will. Ele está

andando rápido, cortando um caminho rápido por entre as árvores.

— Hey! Você sabe que há um urso aqui em algum lugar — eu

grito em alerta.

Ele não responde.

— Will! Aonde você vai?

Eu corro para acompanhá-lo. Agarrando seu braço, eu estou

preparada para forçá-lo a parar quando ele gira para me encarar.

— O que eu devo fazer, Jacinda? — ele explode. — Vestir um

sorriso no meu rosto sabendo que você está ligada com Cassian e,

oh, a propósito, que praticamente significa que você está

automaticamente apaixonada por ele?

— Isso não foi o que eu disse! — eu bato meus braços. — Isso

não é verdade!

— Por que você não explica isso para mim? — ele cruza os

braços sobre o peito largo. — O que mais ligada emocionalmente

significa?

— Bem, eu ia explicar isso se você não estivesse sendo tão

idiota! — eu o golpeio no peito.

Ele me encara por um longo momento. Um sorriso em sua

boca. — Okay. Explique.

— Desde que nos ligamos tenho uma leitura melhor sobre

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ele... Eu posso as vezes ter um senso, sentir o que ele está sentindo. É

isso aí. Isso é tudo.

— Você vai por aí sentindo o que ele está sentindo o tempo todo?

— Bem, só as emoções realmente intensas. Não todas as

pequenas coisas.

Ele ainda parece incerto, então eu dou um passo mais perto e

suavizo minha voz, traço meus dedos ao longo de

seu antebraço tenso. — Isso não muda o que sinto por você.

Ele recua e desce seus braços, cortando nosso contato.

Eu não vou deixá-lo se afastar de mim. Nós viemos longe

demais. Eu vou lutar por nós mesmo que seja com ele que eu tenha

que lutar. — Não afeta o modo como eu sinto por você. Você

vai deixar afetar como você se sente?

Ele olha para mim, seu olhar um brilho escuro na noite. Eu não

posso lê-lo. Eu dou um passo mais perto, escovo sua mão com a

minha, apenas o menor dos nossos dedos se junta... testando.

Seu dedo mindinho enrola com o meu e a respiração que eu

segurava escapa em silêncio, a dor no meu coração alivia um pouco.

— Estou aqui — eu lembro. — Com você. Eu deixei Cassian com

o clã. Ele não fazia parte do meu plano de fuga, lembra?

Will suspira e arrasta a mão pelos cabelos. — Yeah. Eu

sei. Deus, Jacinda, estou apenas pronto para nós ficarmos

juntos... sem nada ficando no caminho.

Coloco-me em seus braços. — Estamos. A partir de

agora. Nós não vamos nos separar nunca mais. Vamos salvar Miram e

depois seremos nós dois.

— Nós dois. Seria bom.

Eu expiro em alívio, o desejo insano de chorar vindo até mim.

Até agora eu não percebi o quanto eu estava preocupada que ele

virasse as costas para mim para sempre quando contei a

verdade. Ele confirma tudo o que eu sempre pensava nele, valida

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que isto é certo. Ele. Nós.

Estamos juntos, agarrados um ao outro por vários

minutos. Duas buzinadas finalmente nos separam.

— Tamra — eu acho.

— Tudo bem. Vamos embora. — Will toma minha mão e me leva

para o carro.

— Vocês dois se resolveram? — Tamra pergunta

quando estamos de volta para dentro. Ou ela ouviu os

gritos ou Cassian a atualizou rapidamente.

— Estamos bem — eu digo, e envio para Tamra um olhar de

advertência para mudar de assunto.

— Estamos bem — acrescenta Will, olhando significativamente

para Cassian.

Cassian encara de volta imperturbável.

— Bom. — Tamra acena. — Vamos indo. Quanto mais cedo

salvar a bruxinha, mais cedo estamos livres.

Eu não me incomodo perguntando de quê. Ou de quem. Para

Tamra se tornou tudo a mesma coisa. O clã. Cassian.

Logo estamos nos movendo na rodovia novamente,

mergulhando de cabeça no nascer do sol.

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Várias horas mais tarde, depois que nos livramos do

carro de Will por uma van que já viu dias melhores, eu atiro um olhar

sobre meu ombro para Cassian e Tamra adormecidos na parte de

trás, sob cobertores sobre o enferrujado e amassado chão.

— Quanto tempo mais? — eu sussurro.

— Talvez amanhã à noite. Se nós dirigimos direto e sem parada.

— Bom.

O assoalho ronca abaixo da sola dos meus sapatos e eu enrolo

meus joelhos ao meu peito. Deslocando no assento de vinil

rasgado, tento não perder o assento confortável da Land Rover de

Will. É apenas temporário. Estacionamos seu carro em uma parada

de caminhão, pronto para recuperá-lo após resgatar Miram.

Suspirando, eu inclino minha cabeça para trás sobre o encosto

de cabeça. Quanto mais cedo fizermos isso, quanto mais

cedo Miram e Cassian irem para casa. Quanto mais cedo Will, Tamra,

e eu conseguirmos encontrar mamãe e começar de novo em outro

lugar. Olho pela janela, quase aliviada ao ver a noite clara em torno

de nós. Sem névoa perpétua.

Will pega a minha mão. Seu polegar traça no interior do meu

pulso. Faíscas acendem no meu braço a partir do simples toque. Nós

compartilhamos uma olhada aquecida, e sei que ele sente

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também. Deslizando um olhar sobre meu ombro para a dupla

dormindo na parte de trás, reconheço que poderia ser um pouco

antes de ter alguma privacidade, e isso me incomoda. Estamos

indo para o perigo. Nós não podemos fazê-lo sair.

Como se ele percebesse minhas dúvidas, ele diz, — Eu tenho

feito a entrada anteriormente com meu pai. É fácil entrar.

— Não é em entrar que eu estou preocupada.

— Nós vamos sair. Eles nunca vão suspeitar de

um caçador querendo colocar um draki para fora. Nós entramos, nos

satisfazemos, vamos embora. — Ele acena com a cabeça uma vez, e

eu não tenho certeza se ele acredita no que ele está dizendo ou não.

— Nós vamos escapar. E então nós ficaremos juntos. Sem Cassian.

Os faróis de um carro próximo iluminam a face de Will. Se suas

palavras não foram suficientes, a sua expressão intensa explica para

mim que ele não pode me culpar pelo vínculo, mas ele não está em

paz com isso também. Ele nunca vai estar em paz até que Cassian

volte para o clã e eu... não.

— Eu disse que não é real.

— Eu sei. Você foi forçada a isso. Não significa nada. — Ele

traz a minha mão aos lábios para um beijo carinhoso. — Por que você

não dorme um pouco?

— Tem certeza que você não está muito cansado para dirigir?

— Cassian se ofereceu para ficar no volante por um tempo. Eu

vou acordá-lo em uma hora.

Fechando os olhos, eu estou convencida de que eu nunca

conseguirei dormir.

Esse é o meu último pensamento.

***

Uma mão firme no meu ombro me sacode na consciência. Eu

levanto, olhando em volta, todos os músculos tensos, prontos para

defender, correr, voar.

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— Nós estamos aqui — diz Will.

Quando eu fiquei tão guardada, tão preparada para o ataque? Eu

não tentei descobrir. Basta dizer-me que isso é bom para os

eventos que virão.

Eu olho para a esquerda e a direita. Sentamos estacionado em

uma estrada de terra estreita, árvores ao redor. Tamra se inclina para

frente entre nós e ecoa meus pensamentos. — Não há nada aqui.

Will balança a cabeça. — Você não acha que eu ia de carro

até os portões da frente e buzinar, não é?

Tamra bufa. — Bem, mostre-nos então, líder destemido.

Eu olho quase em confusão para minha irmã. Ela age como

se isto não fosse nada. Como se estivéssemos apenas passando o dia,

cruzando o campo ou algo assim.

Will sai da van. Cassian já está fora, segurando seu rosto até a

brisa como se ele estivesse farejando o ar. Eu acho que

ele provavelmente está.

Will abre as portas de trás da van e joga de lado o cobertor

cobrindo uma vasta gama de armas. Eu já vi o arsenal quando nós

mudamos de veículo, mas a visão ainda me faz inalar fortemente.

Cassian começa imediatamente a manipulação de armas, uma

decisão que deverá tomar e eu vejo, assombrada enquanto ele e

Will conversam sobre a variedade de armas, facas e arcos, pesando os

prós e contras como antigos companheiros.

Tamra e eu rolamos os nossos olhos uma para a outra.

Após alguns momentos, eu limpo minha garganta. — Vamos lá,

armas em punho ou algo assim?

— Sim. — Tamra concorda. — Eu pensei que era suposto ser

apenas um sistema de vigilância da primeira execução. Assim,

podemos ter uma noção do lugar.

— É. Isso é apenas uma precaução. — Will tira um coldre no

tornozelo debaixo do seu jeans , escorregando por dentro a arma. Eu

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tremo um pouco com seus movimentos suaves, lembro que ele já fez

isso antes. Cassian segue o exemplo, e eu me impeço de perguntar

se ele sabe mesmo como disparar uma arma. Elas não são parte da

nossa vida do clã. Mas algo me impede. Pela primeira vez, os

caras estão de acordo. Eu não quero estragar isso.

Will seleciona quatro binóculos e dá um para cada um de

nós. Ele me dá uma piscadela. — Vamos dar uma olhada no esquema

por enquanto, e depois combinar a nossa estratégia.

Batendo as portas fechadas, ele nos leva para fora da estrada.

Grama alta bate em meu jeans enquanto nos movemos através das

sombras das árvores, quase como mãos segurando e tentando nos

parar.

O ar está mais frio aqui do que eu estou acostumada, e eu me

aninhei em meu casaco de lã. Pela primeira vez na minha vida eu

posso realmente precisar de uma jaqueta.

As árvores começam a finar. Will levanta a mão. Paramos. — A

partir daqui nós rastejamos — diz ele, acenando em frente, para onde

não há nada, mas um campo inclinado.

— Eles têm vigias. Eles estão sempre observando. Mesmo

quando você não pode vê-los. Nós não precisamos ser vistos.

Minha pele é apertada e espinhosa enquanto nós rastejamos em

nossas mãos e joelhos, nos movendo na descida do morro. Finalmente

paramos, empoleirados em uma subida. Abaixo, uma pequena

cidade fica situada em um vale.

— Que lugar é esse? — Tamra pergunta, observando com seu

binóculo.

— Crescent Valley. — Will responde. — População: 978.

— Parece morto. — Cassian observa.

— Muito. — Will concorda, apontando para o pitoresco vale

abaixo. — A loja de mantimentos. Escola Crescent Valley, todas as

séries em um só edifício. O salão da comunidade. Joel’s Bar e

Grill. Antonio’s, ali serve uma pizza decente. Eu esperei lá

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quando meu pai e meu tio fizeram saltos. Não mais que dois

podem saltar. E lá, vê que grande edifício? Esse é a entidade que mais

emprega na cidade, CVMS. Crescent Valley Medical Suppliers6.

Eu estudo a inofenciva fábrica de pedra branca encardida.

Menos inócua, a vedação alta, com suas cordas de arame farpado

enroladas na parte superior.

Um guarda uniformizado está na portaria. É a única forma

dentro ou fora que eu posso detectar. O amplo parque de

estacionamento está meio cheio, pontilhado com os carros.

— Eles vendem principalmente produtos médicos. Material

usado no consultório do seu médico. Seringas. Alguns equipamentos

cirúrgicos.

— Isto é o forte enkros? — Cassian pergunta. — É uma fachada?

— Sim. — Will responde, pressionando os lábios em uma linha

sombria. Ele aponta para todo o vale com a mão. — Tudo isso é. Toda

a cidade. Todo mundo está conectado ou relacionado a alguém que

trabalha lá.

Minha pele coça cantarolante calor martelando, meu coração

martelando no meu peito enquanto eu olho para baixo

no vale, no lugar que eu temi por muitos anos, sabendo tão pouco

sobre ele, sem ter qualquer noção do que poderia ser.

Isso é dez vezes pior do que a fortaleza que eu imaginava. É o

mal envolvido em embalagens inocentes.

Ele fica lá, arco arrumado e tudo mais, dentro de uma

comunidade aparentemente normal. Por baixo de tudo, é um lugar de

tormento e morte.

Imagem do meu pai nada diante dos meus olhos. É este o lugar

onde o levaram? E Miram? Estão ambos atrás daquelas paredes?

Determinação rola através de mim em uma

lavagem amarga. Minha. De Cassian. Não importa realmente. Nisto,

6 Fornecedor de medicamentos de Crescente Valley

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nós sentimos o mesmo. De repente é mais do que resgatar Miram.

Sinto Will olhar no meu rosto e eu viro para ele. Ele sabe. Ele

está comigo. Estamos juntos nessa. Em tudo.

— Vamos derrubar isso — resmungo. — Tudo isso.

Ele sorri e calor se propaga através de mim, quão afortunada eu

sou, quão longe eu vim. Eu tenho Will. Eu tenho a minha irmã. Eu

até tenho Cassian. Eu não estou indo para isto sozinha, uma

vítima como Miram. Em cativeiro como pai. Nós vamos nos infiltrar

na fortaleza. Vamos resgastar Miram. Vamos ficar juntos. Agora, eu

estou convencida que tudo é possível.

Continua em 03 - Hidden

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Sobre a Autora:

Sophie Jordan cresceu numa fazenda de cultivo de nozes-

pecan na zona montanhosa do Texas, onde fantasiava com

dragões, guerreiros e princesas. Foi professora de Inglês e autora

best seller do New York Times na categoria de romances

históricos da Avon. Agora vive em Houston com a família.

Quando não escreve, passa o tempo a beber coisas com cafeína, a

falar sobre enredos com quem a quiser ouvir (incluindo os seus

filhos), e a ver séries de crimes e reality shows. Escreve, também,

romances paranormais sob o pseudônimo de Sharie Kohler.

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