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Anais do IX Encontro do Grupo de Pesquisa Educação, Artes e Inclusão – 01 e 02 de outubro/2013 Florianópolis – CEART/UDESC – ISSN: 2176-1566 O PROCESSO CRIATIVO COMO ATO COMUNICACIONAL E SUA POSSIBILIDADE PARA MEDIAÇÕES Eliane Cristina de Castro RESUMO O artigo busca refletir o processo criativo enquanto ato de comunicação e a análise de obra em rede como ferramenta para novas possibilidades de mediação. Como recorte de pesquisa, a análise se direcionou para a obra “No mundo não há mais lugar”, da artista paranaense Eliane Prolik, exposta na XXV Bienal Internacional de São Paulo (2002). A metodologia da pesquisa buscou de forma qualitativa identificar pontos em teorias, documentos e na entrevista com a artista, a fim de conectá-los e subsidiar a análise das fases da lógica criativa e da percepção artística. Como possível hipótese as relações traçadas nos sistemas interativos artísticos permitem informações internas e externas que transformam meios e diante da comunicabilidade da obra podem auxiliar na fundamentação de ações de mediação em obras de arte contemporâneas. Palavras-chave: redes de criação, mediação, comunicação, arte paranaense. ABSTRACT The article reflects upon the creative process as an act of communication and the network analysis of the artwork as a tool for new possibilities of mediation. This research aims at the direct analysis of the artwork "There isn’t any more room in the world", by an artist from Paraná called Eliane Prolik, artwork which was exhibited at the XXV International Biennal of São Paulo (2002). The research methodology sought to qualitatively identify points in theories, documents and interviews with the artist in order to connect all the gathered data and ground the analysis of the creative logic and artistic perception phases. Having as a possible hypothesis, the relationships drawn from artistic interactive systems allow internal and external information that transform media and, regarding the communicability of the artwork, can assist the grounds of mediation actions on contemporary works of art. Keywords: networks of creation, mediation, communication, art from Paraná

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Florianópolis – CEART/UDESC – ISSN: 2176-1566

O PROCESSO CRIATIVO COMO ATO COMUNICACIONAL E SUA POSSIBILIDADE PARA MEDIAÇÕES

Eliane Cristina de Castro

RESUMO O artigo busca refletir o processo criativo enquanto ato de comunicação e a análise de obra em rede como ferramenta para novas possibilidades de mediação. Como recorte de pesquisa, a análise se direcionou para a obra “No mundo não há mais lugar”, da artista paranaense Eliane Prolik, exposta na XXV Bienal Internacional de São Paulo (2002). A metodologia da pesquisa buscou de forma qualitativa identificar pontos em teorias, documentos e na entrevista com a artista, a fim de conectá-los e subsidiar a análise das fases da lógica criativa e da percepção artística. Como possível hipótese as relações traçadas nos sistemas interativos artísticos permitem informações internas e externas que transformam meios e diante da comunicabilidade da obra podem auxiliar na fundamentação de ações de mediação em obras de arte contemporâneas. Palavras-chave: redes de criação, mediação, comunicação, arte paranaense. ABSTRACT The article reflects upon the creative process as an act of communication and the network analysis of the artwork as a tool for new possibilities of mediation. This research aims at the direct analysis of the artwork "There isn’t any more room in the world", by an artist from Paraná called Eliane Prolik, artwork which was exhibited at the XXV International Biennal of São Paulo (2002). The research methodology sought to qualitatively identify points in theories, documents and interviews with the artist in order to connect all the gathered data and ground the analysis of the creative logic and artistic perception phases. Having as a possible hypothesis, the relationships drawn from artistic interactive systems allow internal and external information that transform media and, regarding the communicability of the artwork, can assist the grounds of mediation actions on contemporary works of art. Keywords: networks of creation, mediation, communication, art from Paraná

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1. Introdução

O foco principal deste artigo é refletir sobre as possibilidades mediativas de

uma análise de obra de arte contemporânea baseada na estrutura de rede. A

investigação estará direcionada ao processo criativo e as relações de comunicação

envolvidas em suas fases. Para essa proposição o conceito de rede, será usado

conforme Musso (2004), como uma ferramenta construída e pensada para operar

uma ação, permitir passagem a atos e realizar um trabalho de interesse público.

Como recorte o estudo investigou a obra “No mundo não há mais lugar”, da

artista paranaense Eliane Prolik, exposta na XXV Bienal Internacional de São Paulo

(2002).

As considerações teóricas sobre o processo de criação, redes e comunicação,

pretendem ampliar um melhor entendimento sobre o percurso criativo da artista

paranaense, o público considerado e refletir as possíveis mensagens encontradas

no processo de comunicação da obra. O entrelaçar da poética pessoal da artista, as

tendências em que o processo estaria submetido e a rede de relações que integra

artistas e circuito de arte, são elementos que foram observados e inseridos no

estudo como suportes para desvelar a trama criativa.

2. Criação como ato comunicativo

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Conforme Salles (2004) pode-se reconhecer o processo de criação como um

ato permanente de tomada de decisão e por meio de sua produção final – obra –

tornar-se um elemento transformador do meio social. Pensamento que segunda a

autora refere-se a gênese criativa e a impossibilidade de se encontrar um primeiro e

um último instante como desencadeador de todo o processo criativo. Pode-se

hipotetizar que a obra como objeto provém de uma vivência entrelaçada de

conhecimentos e pode se estender por meio de seu público, como um ponto de

passagem.

Diante do processo de criação, a poética insere-se como um elemento principal

para investigar as mensagens comunicadas na obra de arte contemporânea.

Salles sugere que, a poética pode ocorrer por meio das relações estabelecidas

entre sensação e percepção. Elementos indissociados da memória que auxiliam na

construção dos projetos artísticos. Assim, a investigação poderá reconhecer as

lembranças, a percepção de mundo e os propósitos pessoais que levam artistas em

hipótese, a se comunicar através da obra de arte.

Ao traçar esse percurso de reconstrução, o pesquisador poderá encontrar

pontos nesta rede de pesquisa entre meio, obra e sistema de arte. Dessa maneira,

convém observar esse circuito conforme Cauquelin (2005), a autora reconhece a

existência de um sistema onde a obra passa a ser pensada para o público, vindo a

sugerir a relação entre arte e comunicação. Em conotação ampliada o processo de

criação direciona-se para o circuito de arte, por meio de uma comunicação no

contexto da obra.

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Para melhor exemplificar esse apontamento, podemos traçar um paralelo

simplificado entre a arte do século XX, onde Duchamp contesta o sistema de arte e

parte em busca de uma ruptura; e a arte pop e mercantil de Andy Warhol que se

integra a rede comercial e comunicacional utilizando todos os recursos disponíveis

para se estabelecer no circuito. Uma mudança significativa que inseriu uma nova

postura aos artistas, sobre tudo ao seu processo criativo, deflagrado diante dos

sistemas dominantes de consumo e comunicação.

Em continuidade, o artigo insere a necessidade de investigar pequenos indícios

na montagem da obra como: método de construção, técnicas aplicadas e matéria

escolhida. Elementos que podem auxiliar na identificação de tendências artísticas e

ampliar a rede de pontos na trama investigativa. Mas também poderá permitir ao

pesquisador reconstruir o caminho idealizado pelo artista, se aproximar da poética e

viabilizar fundamentações para seus propósitos.

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3. No mundo não há mais lugar

Diante do convite feito para participar da XXV Bienal de São Paulo (2002), com

a temática Iconografia Metropolitana, de curadoria do alemão Alfons Hug, a artista

paranaense Eliane Prolik, iniciou seu processo de criação tendo como intenção

atingir o público visitante da bienal.

Como tendência do processo, o direcionamento proposto pela artista, enfatiza

a comunicação entre obra e visitante. Um público diverso, numeroso que será

essencial para as relações de troca viabilizadas pela poética da obra.

Em entrevista, Eliane Prolik relata a preocupação de possibilitar ao público a

distribuição de algo que fosse muito pessoal, uma partilha de sua própria

experiência. Dessa maneira, pode-se observar que a proposição da artista busca

uma produção interativa, onde a comunicação será direta ao público e esse passará

a agente da criação. O fluxo de informação tende a ocorrer por meio de uma

possibilidade instantânea de troca, vindo a valorizar a subjetividade do interator.

Convém situar que a obra “No mundo não há mais lugar”, 2002, foi concebida

para dialogar com a obra “Gargue”, 2002, com o ícone cosmopolita da arquitetura

moderna, o prédio da bienal, Pavilhão Ciccillo Matarazzo e o público.

A obra Gargue (figura 1) é uma escultura translúcida de dez metros de altura

por cinco metros de comprimento e um metro e trinta de largura, confeccionada em

camadas de véu branco. Com vários recortes de palavras nas camadas, busca

imprimir em sua visualidade, fonemas que remetem a fases de aprendizado da fala

infantil. Ainda durante o transitar pela obra, a fala dos espectadores ressoa de um

lado ao outro por meio de microfones que reverberam em caixas de som instalados

nas extremidades do corredor. Em hipótese, como se o túnel simula-se

metaforicamente uma garganta, local de passagem dos sons.

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...com a Gargue, havia a intenção de construir um espaço que se prolongasse, diluído pelo ar e com uma ação de ponto ou de filtro, relacionando o que era tênue com o monumental. A leveza da escultura, o branco da matéria, a extensão e condução da arquitetura dissipavam e agrupavam silêncios, interioridades, deslocamentos num percurso que propunha compartilhar a origem da linguagem das palavras com um rarefeito ato de enxergar (MESQUITA, 2005, p. 100).

Figura 1: Gargue, 2002. Filó, estrutura de ferro, cabo de aço e equipamento sonoro.

5,00x2,00x1,30m. Fonte: Mesquita, 2005

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Em continuidade com essa rede investigativa, a obra “No mundo não há mais

lugar” (figura 2) e conforme a artista é uma proposição poética pensada para estar

acessível às pessoas. Em metáfora, Eliane Prolik relaciona esta obra ao fato da

bienal apresentar uma situação específica no sistema de arte brasileiro, um evento

onde pessoas ligadas ao circuito ou não buscam digerir tudo aquilo que vê, agora

segundo a artista, pode-se digerir não só visualmente.

Como um paradoxo, as obras combinam a experiência da arquitetura e da

vivência interior enquanto um espaço externo e outro interno.

Conforme descreve Agnaldo Farias, sobre as obras na bienal:

Enquanto o primeiro é uma atmosfera intangível, um cancelamento do espaço arquitetônico onde está instalado, este é excessivamente material, um concentrado energético, além de um considerável obstáculo à expressão verbal daquele que o colocar na boca (MATUCK, 2010).

A pesquisa observou o espaço latente dessas criações e a entrevista com a

artista revelou influências do movimento neoconcretista e de artista como Lygia

Clark e Rachel Whiteread, em suas produções.

Esta perspectiva vem de encontro com a afirmação de SALLES (2004, p.38),

sobre a pertinência da produção artística em seu contexto social: “O artista não é,

sob o ponto de vista um ser isolado, mas alguém inserido e afetado pelo seu tempo

e seus contemporâneos.”

Como linha de conexão com o pensamento da autora, Eliane Prolik ressalta

nos conceitos dessa obra, relações pertinentes á sociedade contemporânea: o

efêmero, a multidão, o transitório e a relação física do corpo no planeta.

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Para Salles (2005), a respeito da construção da obra de arte, itens como esses

levantados na pesquisa da artista paranaense, tendem a permear o processo

criativo e fazer da confecção da obra um sistema aberto que troca informações com

seu meio.

..... Fig

ura 2: No mundo não há mais lugar, 2002 . Balas, cápsulas e máquinas.

Fonte: Mesquita, 2005.

“No mundo não há mais lugar” é uma cápsula transparente, que contém uma

escultura no formato do molde do espaço interno vazio da boca da artista. Uma bala

produzida de forma artesanal, como uma prótese dentária. Essa cápsula contém em

seu invólucro uma etiqueta com a frase “No mundo não há mais lugar” e sua

distribuição ocorre por meio de um dispenser, uma máquina de brinquedos que

libera a cápsula mediante a colocação de uma moeda.

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Cada elemento da obra se insere na trama investigativa como um ponto da

rede que poderá desenvolver possibilidades de mediação, vindo a auxiliar na

recepção da obra contemporânea. Em hipótese, quanto maior o número de pontos

de uma rede, maior a abrangência de participantes. Seu funcionamento passa a

seguir um fluxo multidirecional, onde as trocas de informação são interligadas pela

subjetividade do próprio integrante, vindo a fortalecer e ampliar a rede proposta.

Na obra em questão, a ingestão da escultura permeia uma tendência do

processo de criação contemporâneo, o público passa de observador passivo para

interator. Ou seja, o corpo do espectador é solicitado a completar o processo criativo

da artista. A degustação, como comunicação sensorial direta, reverberará ao

complexo sistema de inter-relações que é o corpo humano. Seu efeito poderá

rememorar lembranças de infância ou simplesmente emoções do cotidiano, uma vez

que a obra em sua maneira simplificada é uma bala. Um doce de infância.

As relações corporais são conectadas a essa trama também por meio da

construção da máquina, segundo a artista: “Elas não são mais aquelas que se

encontra para distribuição dos outros brindes, das outras coisas, mas discutiam com

a própria coluna...” (CASTRO, 2010, p.40). A referência arquitetônica está

direcionada aos projetos que buscam confortar o corpo humano. Assim, a máquina

foi alterada, a altura do dispenser para a saída da cápsula esta relacionada á

posição da boca no corpo, confirmando a corporalidade e a essencialidade da

interação com o público.

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Em contra partida, o conjunto: cápsula, frase e cor, quando se observado pela

ausência da interação, podem permitir uma leitura visual. A cor utilizada na escultura

tem a intenção de aproximação com a cor do planeta Terra visto do espaço, as

cápsulas denotam a ideia de multiplicidade que indiciam a falta de espaço no mundo

e o nome da obra completam a mensagem dessa estrutura como descreve Prolik

(CASTRO, 2010, p. 37): “...a frase No mundo não há mais lugar, acho que coloca

em cheque, esse encapsulado, a questão da multiplicidade delas serem muitas e de

nós estarmos numa sociedade de ser uma entre tantas outras pessoas no mundo...”

Segundo, Santaella (2004) diante das problematizações do corpo, a arte não

se encontra a margem das discussões sociais, ao contrário é a esfera da cultura que

toma a dianteira fazendo imergir complexidades. Pois são os artistas que

conseguem dar forma a interrogações humanas que outras linguagens da cultura

não podem explicitar. Em paralelo, pode-se hipotetizar que a obra de arte por meio

da poética da artista paranaense, vai além de revelar tendências, mas

principalmente busca observar e questionar os sintomas que surgem no fluxo da

sociedade contemporânea.

Em suposição, a análise em rede de uma obra de arte contemporânea, pode

desvelar uma crítica social intrínseca nos conceitos do objeto de arte.

Convém reconhecer, nesse artigo que obras interativas contemporâneas, como

essa em questão e a investigação de suas tramas, podem apresentar leituras

iniciadas em diferentes pontos da rede investigativa. Conforme Cauquelin (2005), a

obra contemporânea apresenta mensagens que estão permeadas nos elementos da

estrutura, cada entrada remete a uma saída, que pode retomar de maneira circular a

entrada ou se estender para outras direções. Na criação de Eliane Prolik os

mecanismos que compõem o processo criativo e a poética da artista agem de

maneira interdependente e podem possibilitar reflexões distintas ou em conjunto.

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Essa complexidade de linguagens e mensagens permeiam o processo de

criação e a produção da obra. Dessa maneira, poderá viabilizar ao pesquisador

novos percursos de leitura autônomos nas obras de arte construídas por

percepções, poéticas, sistemas, redes e símbolos da sociedade contemporânea.

4. Considerações

Diante da pesquisa efetuada, observou-se que processo de criação e

comunicação convergem na produção artística contemporânea.

Num contexto reconhecido pelos autores que subsidiaram esse estudo, a

sociedade formada pelos sistemas de comunicação e por redes, acaba por integrar

todos os processos e, também, as fases da criação artística. Dessa forma, os

processos comunicativos presentes e identificados em futuras obras podem oferecer

um conjunto de trocas, tendo como resultado uma rede inserida e próxima do

integrante.

O conhecimento das fases do processo de criação e da aproximação com as

possíveis mensagens da obra podem gerar possibilidades de mediação que irão

auxiliar na recepção e compreensão da obra de arte contemporânea.

Contudo, a arte contemporânea tende a ser passageira ao público, como um

entretenimento torna-se processo de passagem á outras atividades. Em contra

partida, nota-se a necessidade de integrar a sociedade, independente de suas

diferenças. Fator que em hipótese pode ser alcançado pela atividade artística e o

uso das redes.

Para uma melhor compreensão, convém ampliar o sentido de arte, conforme

Cauquelin (2005, p. 161, grifo da autora):

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“Aonde quer que se vá, não importa o que se faça para escapar, a arte está presente em toda parte, em todos os lugares e em todos os ramos de atividade. Querendo-se ou não, a sociedade tornou-se uma ‘sociedade cultural’.”

Como uma sociedade cultural, há uma necessidade imperativa em “ser

criativo”. Seu resultado é uma produção artística, por vezes denominada em nossa

sociedade como “solução criativa”. Supostamente, esse advento de processar

criativamente, poderá ser melhor aproveitado se partir de uma construção com

características de rede, onde a reunião simbólica de diferenças e a soma de

informações permitam a construção de conhecimento, vindo a findar nos propósitos

da criação.

Para exemplificar essa hipótese, observa-se que a investigação da obra da

artista paranaense Eliane Prolik, permitiu desvendar uma rede de informações. Essa

trama apresenta diversos pontos que tendem a agir como estímulos, impulsionando

e mantendo o fluxo de trocas da rede.

Cauquelin (2005) reconhece o tempo contemporâneo como uma sociedade de

comunicação e informação, momento onde o fazer criativo torna-se uma atividade

requisitada e talvez a única a assegurar a igualdade dos integrantes no

funcionamento das redes. Como possível hipótese, a comunicabilidade da obra de

arte ao se tornar regra, viabilizará um fluxo horizontal de trocas, diferenças e

vontades.

Como um conjunto, processo de criação, redes e sociedade, deve ser levado

em consideração dentro da sua contextualização. Assim poderá se descortinar um

panorama amplo dos processos sociais e artísticos. Ainda, há a necessidade da

continuação desse tema em futuras pesquisas, para um maior aprofundamento no

ato criativo e nas suas relações comunicacionais com a sociedade.

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Referências

BOGDAN, R.; BIKLEN Sari K. Investigação Qualitativa em Educação. Portugal: Porto, 1994.

CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução [tradutora Rejane Janowitzer]. São Paulo: Martins, 2005.

MATUCK, Artur. XXV Bienal Internacional de Artes de São Paulo. Disponível em http://www.cidade.usp.br/educar2002/modulo11/0010/upload_aula/bienal.ppt. Acesso em: 23 jul. 2010.

MESQUITA, Ivo (org.). Eliane Prolik: Noutro lugar. Curitiba: E. Prolik, 2005.

MUSSO, Piere. A filosofia da rede. em parent, A (org). Tramas da rede. Porto Alegre: Sulina, 2004

CASTRO, Eliane C. Criação um ato comunicativo. Curitiba: UNESPAR/FAP, 2010.

SALLES, Cecília A. Gesto inacabado. São Paulo: Annablume, 2004.

SALLES, Cecília. Redes da Criação: Construção da obra de arte. São Paulo: Horizonte, 2006.

SANTAELLA, Lucia. Corpo e comunicação: sintoma da cultura. São Paulo: Paullus, 2004.

ELIANE CRISTINA DE CASTRO Professora licenciada pela Faculdade de Artes do Paraná. Com especialização em História da Arte Moderna e Contemporânea pela Escola de Música e Belas Artes. Colaboradora do Núcleo de pesquisa em Arte e Tecnologia (NATFAP).