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07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR
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O POVO E O MILITAR NAS CHARGES DO PERIÓDICO SUÉCO-URUGUAIO MAYORIA.
Luiz Fernando dos Reis Sossio.1
Resumo:
O presente artigo se propõe a trabalhar com as charges publicadas no periódico
Suéco-uruguaio intitulado Mayoria, editado e produzido durante os anos de 1982-1984.
Essa publicação foi, realizada por uruguaios exilados na Suécia e que tinham como ideal
as denúncias feitas contra o regime ditatorial, apresentando uma opinião de oposição ao
regime cívico-militar implantado no Uruguai (1973-1985). Nas charges buscaremos
compreender quais são as representações que os produtores das mesmas fizeram sobre o
uso de povo e sobre o próprio militar e sua instituição. Optamos por analisar as imagens
partindo de discussões apresentadas por alguns historiadores acerca do uso de imagens e
charges como fonte histórica. Dessa maneira, buscaremos apontar elementos que nos
possibilitem entender sua própria produção e, consequentemente, as intencionalidades
dos chargistas ao representar negativamente a imagem do militar.
Palavras-chave: charge; Mayoria; ditadura cívico-militar.
Abstract:
This article proposes to work with the cartoons published in the periodical
Swedish-Uruguayan titled Mayoria, edited and produced during the years 1982-1984.
That publication was held by Uruguayan exiles in Sweden who had as ideal the
allegations made against the dictatorial regime, presenting an opinion in opposition to
civil-military regime implanted in Uruguay (1973-1985). In cartoons seek to understand
what are the representations that the producers did the same on the use of the people and
the military and his own institution. We chose to analyze the images starting from
discussions presented by some historians about the use of images and cartoons as a
historical source. In this way we point out elements that enable us to understand their
1 Pós-graduando do curso de especialização em Patrimônio e História da UEL – Universidade Estadual de Londrina. [email protected]
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own production, and consequently, the intentions of cartoonists to represent the negative
image of the military.
Keywords: cartoons; Mayoria; civic-military dictatorship.
No presente artigo pretenderemos trabalhar com charges publicadas no periódico
Suéco-uruguaio Mayoria. A publicação do periódico acompanhou os anos finais da
ditadura cívico-militar do Uruguai (1973 - 1985) sendo produzida durante os anos de
1982 até 1984, por uruguaios exilados na Suécia. Pretendemos pensar a publicação do
periódico entendendo os motivos de sua publicação, quais foram seu publico alvo a ser
atingido assim como o conteúdo inserido nesse periódico. Buscamos refletir
especificamente sobre as charges produzidas buscando analisar principalmente a
imagem criada dos militares e de uma representação de povo.
No ano de 1973 Juan Maria Bordaberry (presidente do Uruguai desde 1972),
junto com os militares das três forças armadas (Exército, Aeronáutica e Marinha)
instaurou uma ditadura cívico-militar que perdurará até o ano de 1985. Esse golpe
ocorrido no Uruguai ficou conhecido como pacto de Boiso Lanza – pois a negociação
entre os militares e Bordaberry aconteceu em uma base militar com o mesmo nome
(DEMASI, 2009, p.32). Com a consolidação da ditadura cívico-militar no Uruguai no
ano de 1973, a censura se tornou ação presente em todo o país. Podemos pensar que um
dos meios mais atingidos foi o da mídia impressa. Jornais, revistas e periódicos em
geral foram fechados e alguns casos – como do El popular – tiveram suas sedes
completamente destruídas. Integrantes desses jornais foram presos e posteriormente
exilados. Dentre os diversos países de exílio, a Suécia foi escolhida por alguns
uruguaios, como no caso de Rodolfo Porley – editor-chefe do Mayoria durante todo o
processo de publicação do periódico. A consolidação dessa mídia só foi capaz com a
ajuda de outros uruguaios exilados na Suécia, assim como com parte da imprensa sueca.
Nesse periódico se pretendia publicar noticias que contribuíssem tanto para
informações do Uruguai direcionadas a uruguaios exilados em outros países, assim
como funcionar como meio de denúncia dos atos que acorriam no Uruguai ditatorial.
Suas publicações somente terminaram em 1984, pois foi neste mesmo ano que se
encerrou o período de ditadura neste país – portanto, sem um governo para ser criticado
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e denunciado, não havia mais porque continuar fazendo um periódico com esse
objetivo. Mas, para além dessas publicações associadas às denuncias, Mayoria não
queria perder a característica de um periódico que atendesse uma diversidade de
público, deste modo eram publicadas colunas abordando temas sobre esporte e também
colunas de humor – eram publicadas charges e textos com tons humorísticos e críticos,
principalmente sobre os militares e sua forma de governar o país sobre esta última
questão podemos pensar sobre o uso da imagem para dar legitimidade à fala de uma
população.
Analisaremos portanto no Mayoria, somente algumas poucas charges que podem
nos oferecer questionamentos sobre seu uso e suas funções no momento de sua
publicação. Optamos então em trabalhar com a representação do povo e do militar –
assim como do próprio presidente Gregorio Álvarez (único militar de fato que ocupou a
presidência durante o regime ditatorial².) – pelos produtores das charges. À partir delas
buscamos entender o qual a intenção de se utilizar essa imagem de povo – que não
poderia fugir da própria questão do que seria o povo pra quem produz essas imagens – e
consequentemente a de criticar e constantemente ironizar a imagem do militar.
Entendemos que a charge, neste caso, está vinculada a crítica das ideias da
oposição. Também partimos do pressuposto que tais charges não têm como
característica principal o ato de fazer o leitor rir somente. Tentamos entender que as
charges se tornam arma importante na luta política pelo fato de expor determinados
atores políticos por meio de uma linguagem mais acessível, que é a imagem. Por outro
lado, podemos pensar que as charges também foram utilizadas para legitimar um
determinado discurso a partir de representações de grupos sociais específicos como, por
exemplo, o próprio povo.
Acreditamos que o uso de imagens como fonte histórica pode proporcionar ao
historiador outros tipos de análises que vão além do texto escrito somente. A produção
de imagens é, antes de tudo, parte de uma construção do próprio idealizador da mesma.
Vemos que quando diversos chargistas representam um mesmo tema, suas
representações são completamente distintas umas das outras – exemplo disso são as
produções cinematográficas, que produzidas em tempos diferentes dificilmente se
parecerão, tendo em vista o tempo de quem produz, qual sua intencionalidade, qual seu
público alvo, etc. O mesmo acontece com as charges, pois não são produzidas de forma
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neutra. O fato de estar vinculada à um periódico de oposição ao regime cívico-militar
como Mayoria, já nos diz acerca das charges publicadas. A maneira de enxergar a
sociedade e as suas produções se alteram com o tempo, e tendo em vista esta ideia,
podemos nos questionar sobre tais produções estarem sendo feitas pelos exilados
uruguaios, o que se pretendeu passar como mensagem para quem visualizou as imagens.
As charges que iremos analisar são reflexões do momento em que foram
produzidas e foram utilizadas pessoas e situações reais para tal produção. Além deste
fato, as imagens não se apresentam por si somente, mas tem sempre em seu conjunto as
mãos do homem que direciona o olhar do receptor sempre para onde o produtor ou
criador quer mostrar. Neste sentido, Peter Burke aponta que “[...] deve-se aconselhar
alguém que planeje utilizar o testemunho de imagens para que se inicie estudando os
diferentes propósitos dos realizadores dessas imagens.” (BURKE, 2004, p.24).
A utilização das charges tem aparecido com frequência nos estudos
historiográficos e podemos perceber que o seu uso em periódicos ou revistas está
associado muitas vezes à momentos de conflitos políticos ou sociais. Sempre que
vislumbramos este recurso – seja ele de ordem política ou não – podemos destacar que
existe sempre um “alvo” a ser atingido, seja ele para ser criticado ou exaltado. Na
maioria das vezes esse alvo é uma instituição, uma pessoa e até mesmo um grupo social
que irá representar um todo a ser criticado Sendo assim, quem se destaca como
personagem para ser caricaturado é sempre o líder que está atuante no poder ou algum
objeto que consiga representar um todo maior. Por conta de sua característica imagética,
a charge acabou tornando-se uma forma muito utilizada de veicular posicionamento e
opiniões no tocante às experiências políticas ditatoriais. Podemos entender a charge
como ferramenta com duas funções, quais sejam: apresentar uma imagem negativa de
seu oposto como forma de desvalorizá-lo e/ou utilizá-la para transformar algo
considerado sério e formal em algo risível e passível de informalidade e aproximação
com o receptor que a observa.
Algumas características em relação a esta tipologia de imagem devem ser
ressaltadas antes de entrarmos na análise propriamente dita. Podemos entendê-la como
linguagem e assumindo tal significação percebemos que estas usam de certos artifícios
em suas representações, como por exemplo, a forma irônica e/ou depreciativa de como
ela representa determinados atores políticos e sociais. As metáforas se encontram
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presentes em quase todas as charges, já que apresentam algumas ideias pautadas em
figuras que estão mais próximas do público leitor³.
Os usos dessas formas de linguagem se pautam muito a respeito de como a
imagem deve chegar ao público receptor, pensando que deve chegar de maneira clara e
de fácil compreensão por qualquer pessoa, atingindo assim um número maior de
pessoas, que a própria notícia escrita dificilmente atinge. Dessa maneira, outra
característica constante nas charges é o aparente estereótipo criado sobre as personagens
apresentadas ao receptor. O gorila, foi o que ficou mais claro nas personificações feitas
do militar durante os diversos regimes surgidos em alguns países da América Latina.
Porém essa imagem sobre os militares não foi criada exclusivamente durante os regimes
ditatoriais, mas sim como nos conta Rodrigo Patto Sá Motta, durante o governo
peronista, alguns setores da sociedade já estavam insatisfeitos, o que direcionava para
um iminente golpe militar na Argentina. Diz o autor:
A expressão teria sido criada por um humorista para se referir ao esperado golpe militar que deporia Juan Perón. “Os gorilas estão chegando”, teria dito ele em sketch que parodiava filme hollywoodiano então em cartaz, estrelado por Clarke Gable e Ava Gardner. O filme (Mogambo) é ambientado na selva africana e um dos personagens, pesquisador e cientista, ao ouvir qualquer barulho proveniente das matas, dizia, atemorizado: “devem ser os gorilas, devem ser”. (MOTTA, 2007, p.199)
Essa imagem acabou ficando fortemente associada ao militar, estendendo-se ao
longo do período dos regimes ditatoriais e utilizado por outros países, como é o caso das
próprias charges publicadas no Mayoria. É justamente nesses momentos de conflitos
que se cria a necessidade de diferenciar-se do outro a ser combatido, pois a partir do
momento em que a imagem do opositor é posta em situação de ultraje, automaticamente
se exalta a de quem está criticando; como diz GOODWIN, essa “é uma maneira de
menosprezar ‘eles’ de modo que ‘nós’ sejamos valorizados.” (GOODWIN, 2011,
p.541). E sendo o outro menosprezado, depreciado há uma possibilidade de que isso se
concretize. Como nos lembra Rui Zink:
[...] durante a guerra, o estereótipo do adversário tende a calcificar-se, a cristalizar-se, com a bênção dos poderes político, econômico, religioso. Em tempo de guerra, há uma espécie de militarização da sociedade, a ética militar estende-se a todos os domínios. Tornamo-nos todos, quase sem nos darmos conta, militantes e soldados de uma guerra, em que é fundamental manter a visão “simples e clara”, para não baixar o moral das tropas. (ZINK,2010, p.53)
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Vemos que a própria produção das charges do periódico Mayoria esteve
relacionada aos períodos de conflitos sociais e políticos. Apesar do fato de o periódico
ter sido produzido fora do território uruguaio, suas publicações estavam totalmente
ligadas às informações do Uruguai, e assim foram também as produções das charges.
Ao longo das charges veremos que em algumas imagens, o militar está associado
à personalidade do gorila, ao ponto mesmo do militar ser propriamente o animal gorila
enquanto que em outros momentos a imagem do militar está intimamente ligada à sua
derrota como governante. Derrota essa, que só será possível, pois é o povo –
representado a partir da imagem da panela – que conseguirá derrotá-lo.
Como vemos na imagem 1, não somente a imagem do general é associada à
figura do gorila, mas o seu próprio nome já nos indica a intencionalidade do chargista.
Percebemos que na charge é bastante ressaltada a possível falta de discernimento do
General Gorilón em relação ao entendimento do que seria necessário ao povo uruguaio,
ao ponto mesmo de uma pequena garota ironizá-lo, pois para a menina, a fala do
General foge totalmente da pergunta feita por ela, ressaltando que os militares apenas
falam sem chegar à alguma conclusão. A fala final da garota nos dá uma ideia de que
ela, enquanto cidadã uruguaia, saberia mais que o General, afirmando que o que ele fala
Imagem 1: Mayoria (17 de maio de 1984) p.3
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não era coerente com a situação colocada por ela, ou então que ele estaria supostamente
surdo e não quisesse ouvir os questionamentos da menina.
Nesta outra charge (imagem 2) o protagonista também é um militar – notamos
isto pelo fato de que as vestimentas deixadas em cima da cadeira são trajes utilizados
pelos militares, como por exemplo, o quepe e o próprio paletó. Porém, esta charge não
se remete somente à figura do militar em geral, mas sim a de um militar específico, o
próprio General Gregorio Álvarez – então presidente do Uruguai. Na charge vemos que
a moça que está acompanhando o presidente o chama de “Goyo” – maneira como este
era chamado popularmente. Há também o aspecto da fisionomia do personagem, seu
bigode era bastante característico e esse será uma característica que acompanhará a
imagem do presidente em outras produções. Outro aspecto que podemos analisar sobre
a fala da moça, se trata da próprio maneira como Gregorio Álvarez é questionado, sobre
não ser mais autoritário e rígido quanto antes, fazendo portanto uma analogia a forma
que o governo estava se posicionando politicamente, mudando sua postura,
principalmente no final do governo ditatorial.
Tanto Gregorio Álvarez quanto os militares em geral são retratados de forma
que suas imagens fiquem caracterizadas negativamente. Nas próximas três charges
iremos observar que a figura do militar é associada ao gorila mas, para além disto,
veremos que também estará atribuída à derrota.
Imagem 2: Mayoria (08 de março de 1984) p.15
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Imagem 3: Mayoria
O mesmo militar apresentado anteriormente (General
retratado em outra charge (imagem 3), dessa vez porém ele não está
uma menina, mas sim estaria mandando prender três pessoas que possivelmente seriam
consideradas subversivas, pelo fato de estarem carregando consigo
panelas – pensando que e
produz barulho, mas também remete à ideia de sobrevivência
aparece com esse mesmo objetivo
capaz de diferenciar subversivos com suas panelas, de pessoas
fazendo um carregamento de mudanças o
de atacarem os militares.
chargista remetendo aos três reis magos, que levaram presentes
– para Jesus Cristo recém nascido, mas que neste caso específico podemos refletir que
esses outros presentes – agora são panelas
um grupo grande de pessoas que iriam realizar algum tipo de ato contra os militares, e
por isso a acusação do general.
acompanham não compreendem a ordem dada pelo General entendendo assim que ele
não teria um critério para autuar ou acusar as pessoas que estavam na oposição ao
regime ditatorial.
Voltando a imagem associada diretamente ao General Gregorio Álvarez,
percebemos que nas duas charges q
a mesma, ou seja, o militar no fim, estará completamente acabado e derrotado. Em uma
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Mayoria (26 de janeiro de 1984) p.16
O mesmo militar apresentado anteriormente (General Gorilón
retratado em outra charge (imagem 3), dessa vez porém ele não está conversando com
uma menina, mas sim estaria mandando prender três pessoas que possivelmente seriam
consideradas subversivas, pelo fato de estarem carregando consigo, em seus camelos,
pensando que essa poderia ser usada como arma, como instrument
produz barulho, mas também remete à ideia de sobrevivência – e que em outras charges
aparece com esse mesmo objetivo. Novamente vimos a ideia de que o militar não seria
capaz de diferenciar subversivos com suas panelas, de pessoas que poderiam estar
fazendo um carregamento de mudanças ou utilizando panelas para outros fins que não o
Do mesmo modo percebemos a referência utilizada pelo
chargista remetendo aos três reis magos, que levaram presentes – incenso, ouro e mirra
a Jesus Cristo recém nascido, mas que neste caso específico podemos refletir que
agora são panelas – estariam sendo levadas possivelmente pra
um grupo grande de pessoas que iriam realizar algum tipo de ato contra os militares, e
r isso a acusação do general. Vemos no canto direito da charge que os soldados que
acompanham não compreendem a ordem dada pelo General entendendo assim que ele
não teria um critério para autuar ou acusar as pessoas que estavam na oposição ao
Voltando a imagem associada diretamente ao General Gregorio Álvarez,
percebemos que nas duas charges que veremos a seguir a mensagem a ser transmitida é
militar no fim, estará completamente acabado e derrotado. Em uma
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Gorilón) volta a ser
conversando com
uma menina, mas sim estaria mandando prender três pessoas que possivelmente seriam
em seus camelos,
como instrumento que
e que em outras charges
. Novamente vimos a ideia de que o militar não seria
que poderiam estar
utilizando panelas para outros fins que não o
Do mesmo modo percebemos a referência utilizada pelo
incenso, ouro e mirra
a Jesus Cristo recém nascido, mas que neste caso específico podemos refletir que
estariam sendo levadas possivelmente pra
um grupo grande de pessoas que iriam realizar algum tipo de ato contra os militares, e
da charge que os soldados que
acompanham não compreendem a ordem dada pelo General entendendo assim que ele
não teria um critério para autuar ou acusar as pessoas que estavam na oposição ao
Voltando a imagem associada diretamente ao General Gregorio Álvarez,
agem a ser transmitida é
militar no fim, estará completamente acabado e derrotado. Em uma
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das imagens (imagem 4) é representado o processo do regime ditatorial dividido em três
modelos de governo principais; percebe-se que esta divisão é apresentada tanto pelo
“chapéu” de Gregorio Álvarez como também pela legenda que segue cada quadro da
charge. Tanto um quanto o outro seriam indicadores do momento específico do regime e
ao mesmo tempo o momento que estava vivendo Gregorio Álvarez, sendo que o último
fica denominado como uruguayazo e no lugar de seu quepe de militar está uma panela,
indicando que Gregorio Álvarez teria apanhado da população e consequentemente seria
ela mesma vencedora do possível conflito existente no Uruguai.
Imagem 4: Mayoria (12 de janeiro de 1984) p.16
Em outra charge vemos praticamente a mesma situação da imagem anterior, a
diferença é que a charge já não está mais divida em quadros. Esta imagem 5 mostra
novamente o General completamente derrotado, indicando cansaço e portanto não sendo
mais possível lutar. Junto com o militar esta um médico, possivelmente avaliando o
ferido e dando um diagnóstico, qual seja, o de que dificilmente chegará longe no
exercício de seu poder. Assim, podemos entender que o fim do presidente estaria
próximo, e junto com ele iria também o regime embora. Outra característica que volta a
aparecer na charge é a panela, ela se torna quase que um símbolo da oposição e do seu
desejo de um desfecho para o regime.
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Imagem
E assim como o quepe militar e a bota representam o militar no geral e o grande
bigode nos remete ao Gregorio Álvarez
citado – é a própria panela.
que é o próprio povo uruguaio,
existentes – e somente ele representaria a vitória, devendo ser exposto a
monumento de memória em plena praça pública, como nesta última
podemos ver na seguinte charge
interagir a ponto de machucá
Neste caso específico, o diá
no ano 2000 para lembrar sobre
muito mais um grupo maior de pessoas envolvidas
se identificam.
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Imagem 5: Mayoria (12 de janeiro de 1984) p.16
E assim como o quepe militar e a bota representam o militar no geral e o grande
bigode nos remete ao Gregorio Álvarez, outro objeto presente em algumas
é a própria panela. Notamos que a representação da panela se iguala em dize
que é o próprio povo uruguaio, – tanto que é este objeto o definidor dos conflitos
e somente ele representaria a vitória, devendo ser exposto a
monumento de memória em plena praça pública, como nesta última imagem
podemos ver na seguinte charge, não há outro personagem com que a panela possa
interagir a ponto de machucá-lo, ela não exerce função de ação contra outro indivíduo.
, o diálogo se dá entre a panela enquanto monumento
no ano 2000 para lembrar sobre aqueles que seriam vitoriosos. A panela aqui representa
muito mais um grupo maior de pessoas envolvidas –, e as pessoas que passam por ela
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E assim como o quepe militar e a bota representam o militar no geral e o grande
to presente em algumas charges – já
se iguala em dizer
inidor dos conflitos
e somente ele representaria a vitória, devendo ser exposto até como
imagem. Mas como
não há outro personagem com que a panela possa
nção de ação contra outro indivíduo.
logo se dá entre a panela enquanto monumento – construído
panela aqui representa
as pessoas que passam por ela e
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Essa última charge não nos mostra o que aconteceu com o Uruguai pós ditadura
cívico-militar, e muito menos nos diz quem são os vitoriosos.
dela que esse são os anseios que o chargista deseja
que a panela representasse
“Mayoria”. Quem seria essa maioria? O nome do periódico
específico que ocorreu no Uruguai
1982 aconteceram eleições internas e 80 % dos votos foram destinados aos partidos da
oposição. A panela é um utensílio doméstico,
possível é que comer e matar a fome são para todos, assim como deveria ser o exercício
e as ações políticas.
Portanto devemos pensar
charges como representantes
ocorrido individualmente –
unificador de toda uma nação. Temos que lembrar que do mesmo modo que a charge,
outros tipos de imagens utilizadas como fontes, devem ser problematizadas sobre sua
produção, pois da mesma maneira que a
charges, ajudam a depreciá
vitória de um povo sobre os militares também é passível de ser refletida.
uma instituição com o intuito de destacar o “melhor” da outra. E essa outra se torna
mais destacada ainda quando se faz uso de seu símbolo, no caso a panela, em quase
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Imagem 6: Mayoria (05 de abril de 1984) p.21
Essa última charge não nos mostra o que aconteceu com o Uruguai pós ditadura
ito menos nos diz quem são os vitoriosos. Podemos pensar a partir
que esse são os anseios que o chargista desejava para seu país, a própria ideia de
sse o povo pode ser notada através do nome do periódico
”. Quem seria essa maioria? O nome do periódico surgiu à partir de um
específico que ocorreu no Uruguai no período da ditadura, quando em novembro de
eleições internas e 80 % dos votos foram destinados aos partidos da
nela é um utensílio doméstico, utilizado para cozinhar. Uma leitura
possível é que comer e matar a fome são para todos, assim como deveria ser o exercício
Portanto devemos pensar, antes de tudo, na possibilidade de analisarmos essas
ntes de ideias dos exilados uruguaios sobre um acontecimento
– as eleições internas – sendo transformado num símbolo
unificador de toda uma nação. Temos que lembrar que do mesmo modo que a charge,
de imagens utilizadas como fontes, devem ser problematizadas sobre sua
produção, pois da mesma maneira que a representação do militar,
depreciá-lo em todos os sentidos, a imagem da panela e
obre os militares também é passível de ser refletida.
ntuito de destacar o “melhor” da outra. E essa outra se torna
ainda quando se faz uso de seu símbolo, no caso a panela, em quase
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Essa última charge não nos mostra o que aconteceu com o Uruguai pós ditadura
Podemos pensar a partir
para seu país, a própria ideia de
nome do periódico –
surgiu à partir de um evento
da ditadura, quando em novembro de
eleições internas e 80 % dos votos foram destinados aos partidos da
utilizado para cozinhar. Uma leitura
possível é que comer e matar a fome são para todos, assim como deveria ser o exercício
na possibilidade de analisarmos essas
de ideias dos exilados uruguaios sobre um acontecimento
sendo transformado num símbolo
unificador de toda uma nação. Temos que lembrar que do mesmo modo que a charge,
de imagens utilizadas como fontes, devem ser problematizadas sobre sua
apresentada nas
em todos os sentidos, a imagem da panela e a ideia de
obre os militares também é passível de ser refletida. Desvaloriza-se
ntuito de destacar o “melhor” da outra. E essa outra se torna
ainda quando se faz uso de seu símbolo, no caso a panela, em quase
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todos os momentos de glória sobre o militar, personagem apresentado como estúpido e
fraco, consolidando, dessa maneira, a vitória do povo.
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NOTAS:
2. O governo da ditadura cívico-militar no Uruguai, que perdurou durante os anos de 1973 até
1985, contou com o total de quatro presidentes, sendo três deles civis e somente um militar –
justamente o General Gregorio Álvarez – que governou somente durante os anos finais do
regime ditatorial (de 1981 até 1985) (CAETANO; RILLA, 1987).
3. A denotação, conotação e metonímia fazem parte da forma como são produzidas essas
imagens: denotação é quando a mensagem é levada para o leitor de forma simples e direta,
enquanto na conotação temos que nos aprofundar na imagem e tentar entender o sentido da
crítica que esta traz. A metonímia, caracteriza-se por um tipo de linguagem que utiliza-se de um
objeto para representar toda uma instituição como por exemplo, usa-se do quepe militar ou da
bota para representar a instituição militar (MOTTA, 2006, p.28-29).
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