O Papel da Veracidade Divina no Sistema Cartesiano

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  • 8/2/2019 O Papel da Veracidade Divina no Sistema Cartesiano

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    No terceiro nvel da dvida, Descartes apresentara a suspeita de que um Deus omnipotente podiafazer tudo, inclusive enganar. Mas agora, provada a existncia de Deus como ser perfeito,Descartes vai chegar concluso de que essa suspeita no faz sentido. Deus omnipotente eperfeito. Enganar sinnimo de fraqueza porque s a fraqueza e a imperfeio podem levar-nos autilizar a arma da mentira.O papel da veracidade divina (o facto de Deus no enganar e ser a fonte de todo o saber) duplo:

    a) a garantia da validade das evidncias actuais, isto , das que esto actualmente presentesna minha conscincia.Com efeito no h razo, uma vez provado que Deus no engana e no perverte o meuentendimento, para duvidar das ideias que esto presentes na minha conscincia como claras e

    distintas. A hiptese do Deus enganador era uma conjectura muito fraca, que Descartes, emobedincia ao seu mtodo, teve de anular. Provado que Deus no enganador, uma determinadaevidncia (um tringulo um polgono cujos ngulos somados valem 180) no pode ser posta emcausa enquanto est presente no meu esprito e atentamente a considero.

    b) a garantia das minhas evidncias passadas, isto , no actualmente presentes na minhaconscincia.O que acontece quando determinadas evidncias abandonam o campo da minha conscincia actualou presente? Ser que a evidncia concebida permanece verdadeira quando nela deixo de pensar?Se s estou seguro da validade da evidncia no momento em que a tenho, no posso garantir queaquilo que considerei verdadeiro permanea verdadeiro. Deus quem vai garantir que aquilo que

    vlido para mim num certo momento seja vlido objectivamente, isto , independentemente demim e sempre. O saber firme, seguro e constante que Descartes ambiciona s pode ser asseguradopela veracidade e imutabilidade divinas. Deus que me garante que a verdade no muda enquantoeu deixo de a conceber efectivamente. Por outras palavras, as evidncias s quais dei o meuassentimento continuam a ser evidncias, mesmo quando j nelas no penso.De seguida, Descartes ir recuperar a crena na existncia do mundo fsico porque temos a ideiaclara e distinta de que o mundo uma realidade extensa. Se eu concebo clara e distintamente que aessncia do mundo fsico consiste na extenso e no movimento, no tenho qualquer razo paraduvidar dessa concepo que o meu entendimento tem do mundo.

    Lus Rodrigues, Manual de Filosofia, 11 Ano, Pltano Editora, pp. 179-180