O Estado da Arte das Discussões Sobre Currículo na Pós ... · na Pós-Moderna Sociedade da...
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DMTD
dezembro | 2015
O Estado da Arte das Discusses Sobre Currculona Ps-Moderna Sociedade da InformaoEstudo de caso e anlise de contedoda produo cientfica dos pesquisadoresem Educao no perodo de 2001 a 2011TESE DE DOUTORAMENTO
Georgete Lopes FreitasDOUTORAMENTO EM CINCIAS DA EDUCAO,ESPECIALIDADE DE CURRCULO
ORIENTADORAJesus Maria Sousa
CO-ORIENTADORCsar Augusto Castro
O Estado da Arte das Discusses Sobre Currculona Ps-Moderna Sociedade da InformaoEstudo de caso e anlise de contedoda produo cientfica dos pesquisadoresem Educao no perodo de 2001 a 2011TESE DE DOUTORAMENTO
Georgete Lopes FreitasDOUTORAMENTO EM CINCIAS DA EDUCAO,ESPECIALIDADE DE CURRCULO
Freitas, Georgete Lopes
O estado da arte das discusses sobre currculo na ps-moderna Sociedade da
Informao: estudo de caso e anlise de contedo da produo cientfica dos
pesquisadores em educao no perodo de 2001 a 2011 / Georgete Lopes Freitas.
Funchal, 2015.
463p.
Orientador: Jesus Maria Sousa.
Tese (Doutorado) Universidade da Madeira, Faculdade de Cincias Sociais,
2015.
1. Currculos escolares. 2. Sociedade da Informao - Brasil. 3. Educao -
Produo cientfica. 4. Peridicos cientficos. I. Ttulo.
CDU 371.214.14
Ao meu Lucas, meu esprito de
luz, a grande ddiva no meu
processo de crescimento como
pessoa. Com muito amor.
i
AGRADECIMENTOS
A Deus e aos espritos de luz que guiam os meus passos e iluminam os meus pensamentos na
jornada da vida.
Universidade da Madeira pela oportunidade de estudar e compartilhar os conhecimentos em
Educao.
Professora Doutora Jesus Maria Sousa, minha admirao e respeito conquistados pela sua
competncia e autoridade cientfica. Agradeo pela oportunidade de partilhar dos seus
conhecimentos nas aulas e orientao da tese, os quais conduzem o aluno ao maior
entusiasmo e a querer saber mais e mais. Agradeo por ter tido oportunidade de conhec-la e
minha admirao por conseguir ser uma professora que, a meu ver, demonstra os elementos
essenciais no processo de ensino/aprendizagem: autoridade conferida pelo conhecimento que
possui e o respeito pelo outro sempre alicerado na firmeza e cordialidade em suas aes.
Ao Professor Doutor Csar Augusto Castro por me orientar voluntariamente no percurso de
construo da tese sempre com competncia, palavras de incentivo, respeito e amizade
provenientes do convvio profissional na Universidade Federal do Maranho. Externo o meu
reconhecimento e admirao pelo seu trabalho de destaque na produo cientfica, sempre
enaltecendo a potencialidade e espao do outro.
Ao Professor Doutor Carlos Nogueira Fino, por possibilitar a partilha dos seus conhecimentos
e instigar os alunos investigao durante as aulas e no processo de elaborao de tese.
A todos os professores da Universidade da Madeira com os quais convivi, pela contribuio
no meu processo de crescimento profissional.
Aos Participantes desta pesquisa, por aceitarem contribuir com o trabalho de construo do
conhecimento, pois sem tal participao seria impossvel desenvolv-lo. Um agradecimento
especial ao Secretrio Executivo do Ministrio da Cincia Tecnologia e Inovao (MCTI),
Professor Doutor Alvaro Toubes Prata, por jamais esquecer o que ser pesquisador e sua
equipe no MCTI.
ii
A todas as instituies e profissionais responsveis pela organizao e cesso do
conhecimento cientfico na Internet. Especialmente, agradeo aos bibliotecrios que
organizam e contribuem para a disseminao das informaes cientficas nos diversos stios
de investigao.
Ao Ncleo de Bibliotecas da Universidade Federal do Maranho, especialmente diretora,
bibliotecria Maria da Conceio Pereira de Sousa e s bibliotecrias Gilvane Carvalho
Ferreira e Maria Rosivalda Silva Pereira, pela gentileza e pronto atendimento s demandas
informacionais de sua outrora professora.
Aos membros da Banca Examinadora, por terem aceitado participar do processo de avaliao
desta tese e contribuir para a minha formao acadmica.
minha Famlia, pelo apoio incondicional em todas as etapas de meu caminho. Em particular
agradeo aos meus pais, Maria Izabel Lopes Freitas e Bernardo da Costa Freitas, assim como
minha irm Giovana Lopes Freitas, pelo suporte conferido ao meu filho e ao meu marido,
devido s minhas ausncias na jornada de crescimento acadmico e profissional.
Um agradecimento especial ao meu irmo Joaquim Alexandre Lopes Freitas, por contribuir
com a construo das ilustraes da tese e pelos momentos de descontrao, divertimento e
risos que afastaram as preocupaes e angstias no processo de produo do trabalho.
Ao meu marido, Luiz Fernando Gomes, pelo olhar atento em todos os momentos de minha
vida pessoal e profissional, pelas palavras de incentivo as quais contribuem para o sucesso em
minhas aes.
Meus agradecimentos e reconhecimento a todos!
iii
"O conhecimento exige uma presena
curiosa do sujeito em face do mundo.
Requer uma ao transformadora sobre a
realidade. Demanda uma busca
constante. Implica em inveno e em
reinveno.".
(FREIRE, 2002).
v
RESUMO
Estudo sobre o estado da arte da literatura em Educao sobre Currculo. Objetiva analisar os
discursos dos pesquisadores em Educao sobre os desenhos do Currculo na Sociedade da
Informao, divulgados na Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Revista Educao e
Sociedade e Revista Currculo sem Fronteiras, no perodo de 2001 a 2011; apresentar as
discusses crticas e ps-crticas sobre Currculo na Sociedade da Informao; relatar se h
aes desenvolvidas pelo Ministrio da Educao em prol de atender s demandas mundiais e
locais de inserir o setor educacional na Sociedade da Informao; verificar se os planos,
programas e projetos educativos desenvolvidos tm relao com o Livro Verde Brasil;
desvendar se ainda h o Programa Sociedade da Informao no Brasil; verificar se o Plano
Nacional de Educao delineia aspectos da Sociedade da Informao, como forma planejada
de aes; verificar se o discurso dos professores enfoca a necessidade de polticas pblicas
educativas para a Sociedade da Informao no Brasil; indagar junto dos pesquisadores como
percebem as aes do governo no que se refere s discusses sobre desenho curricular na
Sociedade da Informao; indagar junto dos pesquisadores se h entrelaamento entre os seus
discursos sobre a teoria crtica e ps-crtica do Currculo e a sua prtica pedaggica em prol
de mudanas efetivas; apresentar o estado da arte e a frente de pesquisa sobre Currculo na
Sociedade da Informao e informar a provenincia dos pesquisadores. A pesquisa
caracterizada como documental e de campo, com abordagem qualitativa do estudo de caso e
anlise de contedo. Conclui que a pluralidade de ideias, de dilogos, de ausncia de silncios
quando no necessrios e de olhar para o outro com estranhamento antropolgico e no com o
embotamento do cotidiano das pessoas, contribui para mudanas reais na forma de educar e
no pensar sobre o Currculo na Sociedade da Informao.
Palavras-chave: Currculo. Sociedade da Informao. Produo Cientfica. Educao. Brasil.
vii
ABSTRACT
A study about the state of the art of the literature in Education on Curriculum. It aims to
analyze the educational researchers discourses on Curriculum design in/and the Information
Society, published in Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Revista Educao e
Sociedade and Revista Currculo sem Fronteiras, between 2001 and 2011; to present critical
and post-critical discussions about the Curriculum in the Information Society; to report if
there is any action developed by the Education Ministry regarding world and local demands to
insert Education in the Information Society; to check whether the developed plans, programs
and educational projects are related to Livro Verde Brasil; to discover whether there is an
Information Society Program in Brazil; to check whether the Education National Plan outlines
the Information Society characteristics as a planned way of actions; to check whether
teachers discourse focuses on the needs of public educational policies for the Information
Society in Brazil; to inquire among researchers how they see government actions related to
discussion about Curriculum design in the Information Society; to inquire among the
researchers whether there is an interaction between their discourses about critical and post-
critical Curriculum theory and their pedagogical practice aiming at effective changes; to
present the state of the art and the research front about Curriculum in the Information Society
and inform about the educational researchers origins. The research is designed as a
documentary and field procedure, with a qualitative approach of a study case and content
analysis. The study concludes that the plurality of ideas, dialogues, lack of silence when not
needed and outlook the other with an anthropological wonder and not with people daily
bluntness contributes to real changes in the way of educating and thinking about the
Curriculum in the Information Society.
Keywords: Curriculum. Information Society. Scientific Production. Education. Brazil.
ix
RSUM
Une tude sur ltat de lart de la littrature en ducation sur Curriculum. Ce travail a pour
but analyser les discours des chercheurs en ducation sur les dessins du Curriculum dans (et)
la Socit de lInformation diffuss dans la Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos,
Revista Educao e Sociedade et Revista Currculo sem Fronteiras, dans la priode de 2001
2011; prsenter les discussions critiques et post-critiques sur le Curriculum dans la Socit de
lInformation; montrer si il y a des actions dveloppes par le Ministre de lducation qui
puissent rpondre aux demandes mondiales et locales dinsrer le domaine ducatif dans la
Socit de lInformation; vrifier si les plans, les programmes et les projets ducatifs
dvelopps ont un rapport avec le Livro Verde Brasil; dcouvrir sil existe toujours le
Programme Socit de lInformation au Brsil; vrifier si le Plan National dducation
comprend des aspects de la Socit de lInformation comme forme planifie dactions;
vrifier si le discours des professeurs vise la ncessit des politiques publiques dducation
pour la Socit de lInformation au Brsil; enquter auprs des chercheurs comment ceux-ci
aperoivent les actions du gouvernement en ce qui concerne les discussions sur le dessin
curriculair dans la Socit de lInformation; enquter auprs des chercheurs sil y a
entrecroisement de leurs discours sur la thorie critique et post-critique du Curriculum et sa
pratique pdagogique vers des changements effectifs; prsenter ltat de lart et le groupe de
recherche sur Curriculum dans la Socit de lInformation et informer la provenance des
chercheurs de lducation. La recherche est caractrise comme documentaire et du terrain
avec une approche qualitative de ltude de cas et analyse de contenu. Cette tude a conclu
que la pluralit dides, de dialogues, dabsence de silence quand ce dernier ntait pas
ncessaire et du regard vers lautre avec lentremlement anthropologique et non avec le
conditionnement du quotidien des personnes, contribue pour des changements rels dans la
forme dduquer et sur la rflexion sur le Curriculum dans la Socit de lInformation.
Mots-cls: Curriculum. Socit de lInformation. Production Scientifique. ducation. Brsil.
xi
RESUMEN
Estudio sobre el estado del arte de literatura en Educacin sobre Currculo. Objetiva en
analizar los discursos de investigadores en Educacin sobre los diseos del Currculo en / y de
la Sociedad de la Informacin, publicados en la Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos,
Revista Educao e Sociedade y Revista Currculo sem Fronteiras, en el perodo desde 2001
hasta 2011; presentar las discusiones crticas y post-crticas sobre el Currculo en la Sociedad
de la Informacin; informar si hay acciones desarrolladas por el Ministerio de Educacin
hacia la satisfaccin de las demandas globales y locales de insertar el sector educacional en la
Sociedad de la Informacin; verificar se los planes, programas y proyectos educativos
desarrollados estn relacionados con el Libro Verde Brasil; desvendar si todava hay el
Programa Sociedade da Informao en Brasil; verificar se el Plan Nacional de Educacin
describe aspectos de la Sociedad de la Informacin, como una forma planeada de acciones;
verificar se el discurso de los profesores se centra en la necesidad de polticas pblicas
educativas para la Sociedad de la Informacin en Brasil; indagar junto con los investigadores
como perciben las acciones del gobierno en relacin a las discusiones sobre el diseo
curricular en la Sociedad de la Informacin; cuestionar junto con los investigadores si hay
entrelazamiento entre sus discursos sobre la teora crtica y post-crtica del Currculo y su
prctica pedaggica hacia un cambio efectivo; presentar el estado del arte y la frente de
pesquisa sobre Currculo en la Sociedad de la Informacin e informar a la procedencia de los
investigadores de la Educacin. La investigacin se caracteriza por ser documental y de
campo con un enfoque cualitativo del estudio de caso y anlisis de contenido. El estudio
concluye que la pluralidad de ideas, de dilogo, de la ausencia del silencio cuando no se
necesita y de mirar al otro con extraeza antropolgica y no con el embotamiento del
cotidiano de las personas contribuye a los cambios reales en la forma de educar y en el pensar
sobre el Currculo en la Sociedad de la Informacin.
Palabras-clave: Currculo. Sociedad de la Informacin. Produccin Cientfica. Educacin.
Brasil.
xiii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Seleo de palavras-chave citadas no campo especfico Exemplo da RBEP
(Apndice B) ................................................................................................... 83
Figura 2 Seleo de palavras-chave citadas no campo Palavras-chave e no ttulo
Exemplo da Revista Educao & Sociedade (Apndice D) .............................. 83
Figura 3 Seleo de palavras-chave citadas no ttulo e no resumo, sem a existncia do
campo Palavras-chave Exemplo da Revista Currculo sem Fronteiras
(Apndice F) ................................................................................................... 84
Figura 4 Seleo de palavras-chave citadas no ttulo e no resumo sem o estabelecimento
no campo Palavra-chave Exemplo da Revista Currculo sem Fronteiras
(Apndice F) ................................................................................................... 85
Figura 5 Capa da Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos em 1944 .......................... 93
Figura 6 Capa da Revista Educao & Sociedade em 1978 ............................................ 95
Figura 7 Pgina da Revista Currculo sem Fronteiras 2001 a 2015 .............................. 96
Figura 8 Tipos de organizaes do Brasil e outros pases que mais publicaram nas
Revistas RBEP, Educao & Sociedade e Currculo sem Fronteiras ............... 165
Figura 9 Organizaes brasileiras e de outros pases que mais publicaram nas Revistas
RBEP, E&S e Currculo sem Fronteiras ......................................................... 166
Figura 10 Regies do Brasil com mais artigos publicados .............................................. 168
Figura 11 Autoria das publicaes ................................................................................. 175
Figura 12 Gnero dos autores ........................................................................................ 180
xv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Histrico das abordagens sobre Sociedade da Informao .................................. 26
Quadro 2 Comparao das principais caractersticas dos dois ltimos paradigmas tecno-
econmicos ........................................................................................................ 54
Quadro 3 Ocorrncia das palavras-chave, frente de pesquisa e estado da arte................... 101
Quadro 4 Organizaes de onde provm os pesquisadores das Revistas RBEP, Educao &
Sociedade e Currculo sem Fronteiras .............................................................. 158
Quadro 5 Autores mais profcuos .................................................................................... 179
Quadro 6 Histrico da Educao brasileira e linha do tempo da criao das legislaes ... 182
Quadro 7 Anlise dos documentos referentes Educao brasileira/Currculo e Sociedade
da Informao .................................................................................................. 194
xvii
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ACS - Alcntara Cyclone Space
AEB Agncia Espacial Brasileira
ANATEL Agncia Nacional de Telecomunicaes
ANPED Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Educao
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CEDES Centro de Estudos Educao e Sociedade
CEFET/RS - Centro Federal de Educao Tecnolgica do Rio Grande do Sul
CEITEC - Centro de Excelncia em Tecnologia Eletrnica Avanada
CGEE Centro de Gesto e Estudos Estratgicos
CNE Conselho Nacional de Educao
CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear
CNI - Confederao Nacional da Indstria
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
DCN/EB Diretrizes Curriculares Nacionais da Educao Bsica
EMBRAPII - Associao Brasileira de Pesquisa e Inovao Industrial
FCC - Fundao Carlos Chagas
FECILCAM - Faculdade Estadual de Cincias e Letras de Campo Mouro
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INB - Indstrias Nucleares Brasileiras
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
ITERRA - Instituto Tcnico de Capacitao e Pesquisa
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MCT - Ministrio da Cincia e Tecnologia
MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao
MDIC - Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior
MEC Ministrio da Educao
MPOG Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto
MTC Metodologia do Trabalho Cientfico
xviii
NUCLEP - Nuclebrs Equipamentos Pesados
OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico
OLPC - One Laptop per Child
ONU Organizao das Naes Unidas
PACTI - Plano de Ao em Cincia, Tecnologia e Inovao
PCN/EF Parmetros Curriculares Nacionais / Ensino Fundamental
PCN/EM Parmetros Curriculares Nacionais / Ensino Mdio
PDE Plano de Desenvolvimento da Educao
PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola
PNE Plano Nacional de Educao
PNPC Programa Nacional de Plataformas de Conhecimento
PPA Plano Plurianual
ProEMI - Programa Ensino Mdio Inovador
ProInfo Programa Nacional de Tecnologia Educacional
PUC-GO - Pontifcia Universidade Catlica de Gois
PUC-MG - Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais
PUC-RJ - Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro
PUC-RS - Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul
PUC-SP - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
RBEP Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia
SEB Secretaria de Educao Bsica
SECIS - Secretaria de Cincia e Tecnologia para Incluso Social
SEPED Secretaria de Polticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento
SEPIN - Secretaria de Poltica de Informtica
SETEC Secretaria de Desenvolvimento Tecnolgico e Inovao
SOCINFO Programa Sociedade da Informao
TIC Tecnologias de Informao e Comunicao
UAB Universidade Aberta do Brasil
UCA/PROUCA - Programa Um Computador por Aluno
UCDB - Universidade Catlica Dom Bosco
UCG - Universidade Catlica de Gois
UCLA - Universidade da Califrnia
UCP - Universidade Catlica de Petrpolis
xix
UEL - Universidade Estadual de Londrina UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais
UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense
UEPB - Universidade Estadual da Paraba
UEPG - Universidade Estadual de Ponta Grossa
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFES - Universidade Federal do Esprito Santo
UFF - Universidade Federal Fluminense
UFG - Universidade Federal de Gois
UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora
UFMA Universidade Federal do Maranho
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso
UFPA - Universidade Federal do Par
UFPB - Universidade Federal da Paraba
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UFPEL - Universidade Federal de Pelotas
UFPR - Universidade Federal do Paran
UFRG - Universidade Federal do Rio Grande
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCar - Universidade Federal de So Carlos
UFSE - Universidade Federal de Sergipe
UFU - Universidade Federal de Uberlndia
ULBRA - Universidade Luterana do Brasil
UMa Universidade da Madeira
UnB - Universidade de Braslia
UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao Cincia e Cultura
UNESP - Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste
xx
UNICEP - Centro Universitrio Central Paulista
UNIFAL - Universidade Federal de Alfenas
UNITALO - Centro Universitrio talo-Brasileiro
UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paran
UNIR - Universidade Federal de Rondnia
UNITAU - Universidade de Taubat
UNIVALI - Universidade Vale do Itaja
UNOESC - Universidade do Oeste de Santa Catarina
UPE - Universidade de Pernambuco
UPF - Universidade de Passo Fundo
USC - Universidad de California del Sur
USCS - Universidade Municipal de So Caetano do Sul
USP - Universidade de So Paulo
xxi
SUMRIO
1 INTRODUO .................................................................................................... 1
1.1 Problema e Objetivos da Pesquisa ....................................................................... 5
2 PS-MODERNIDADE E SOCIEDADE DA INFORMAO........................ 13
2.1 Sobre Paradigmas .............................................................................................. 16
2.2 Sociedade da Informao ................................................................................... 24
2.3 Paradigmas e Cenrios da Educao na Ps-Moderna Sociedade da
Informao ......................................................................................................... 36
2.4 O Contexto Neoliberal da Sociedade da Informao e a Educao ................. 49
2.5 O Currculo na Sociedade da Informao: desafios ......................................... 56
3 METODOLOGIA .............................................................................................. 71
3.1 Cultura, Produo Cientfica, Estado da Arte, Revistas Cientficas e Anlise de
Contedo ............................................................................................................ 72
3.2 Universo da Pesquisa ......................................................................................... 76
3.3 Materiais ............................................................................................................. 76
3.4 Mtodo ................................................................................................................ 77
3.5 Procedimentos .................................................................................................... 80
3.5.1 Pesquisa Bibliogrfica .......................................................................................... 80
3.5.2 Pesquisa Documental ........................................................................................... 80
3.5.2.1 Peridicos Objeto de Estudo ................................................................................ 80
3.5.2.2 Resumos e Palavras-Chave .................................................................................. 81
3.5.2.3 Legislao............................................................................................................ 89
3.5.3 Pesquisa de Campo .............................................................................................. 89
4 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................ 91
4.1 Pesquisa documental .......................................................................................... 91
4.1.1 Revistas e Artigos Analisados .............................................................................. 91
4.1.1.1 Pr-anlise .......................................................................................................... 92
4.1.1.2 Descrio analtica .............................................................................................. 98
4.1.1.2.1 Anlise dos peridicos ......................................................................................... 99
4.1.1.3 Interpretao inferencial .................................................................................... 120
4.1.1.4 Provenincia dos pesquisadores ......................................................................... 157
4.1.2 Legislaes e Documentos citados nos artigos cientficos atinentes
Educao em geral e a Currculo ........................................................................ 181
4.1.2.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) ..................................... 183
4.1.2.2 Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) ................................................. 184
4.1.2.3 Plano Nacional de Educao (PNE) 2001-2010 e 2011-2020 ............................ 184
4.1.2.4 Diretrizes Curriculares Nacionais da Educao Bsica (DCN/EB) .................... 189
xxii
4.1.2.5 Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) ........................................................ 191
4.2 Pesquisa de campo ........................................................................................... 203
4.2.1 rgos Governamentais: entrevista .................................................................... 203
4.2.1.1 Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI) ....................................... 204
4.2.1.2 Ministrio da Educao (MEC) .......................................................................... 212
4.2.2 Pesquisadores: aplicao de questionrios .......................................................... 225
5 CONCLUSO .................................................................................................. 243
REFERNCIAS ............................................................................................... 255
APNDICES .................................................................................................... 271
1 INTRODUO
As ideias que operam hoje na Educao remontam s discusses sobre os aportes da
Ps-Moderna Sociedade da Informao as quais estabelecem a necessidade de mudanas, de
busca incessante por algo mais. A Educao almeja, nas diferentes pocas estudadas e nos
paradigmas seguidos, um ideal de democratizao do conhecimento e, os governantes, pelo
menos aparentemente, defendem-na em discurso como poder, apesar de a operarem em
avanos tmidos, principalmente em pases em desenvolvimento como o Brasil.
Com o processo das I e II Revolues Industriais e todos os movimentos advindos, as
pessoas comearam as buscas pelos seus direitos, pelos questionamentos, por tentar entender
a si prprio. Tais mudanas nos sculos XVIII e XIX levaram as Cincias Humanas, como a
Antropologia e a Educao, a repensar a sua prtica e o seu prprio nascimento, a rever e
questionar os seus mtodos de atuao, se de distanciamento do local, do ambiente de estudo,
ou o olhar mais apurado ao sujeito aluno, professor, pesquisador, como agentes a se
entenderem a si prprios e o seu papel no mundo em mudana.
As cincias vivenciam nas diferentes pocas histricas as ideias de mudanas, de
rupturas, de novos paradigmas. Tais mudanas no so prerrogativas apenas da segunda
metade do sculo XX e sculo XXI, mas parte inerente a todas as grandes contestaes e
transformaes sociais operadas no mundo, pois as sociedades vivem os seus processos
histricos, que podem ser entendidos como ps-modernos na concepo do termo de hoje.
Apesar da defesa ps-moderna da crise dos grandes relatos, da perda de referncias, da
perda dos heris, [...] da dissoluo do vnculo social e a passagem das coletividades sociais
ao estado de uma massa composta de tomos individuais. (LYOTARD, 1993, p.28), h um
paradoxo caracterstico da condio humana: ao tempo que levado a pensar individualmente
de sua natureza tambm buscar a coletividade. E por mais que o discurso ps-moderno em
alguns aspectos seja niilista, na construo das relaes sociais histricas, o homem no aceita
passivamente rtulos de individualismo e coletivismo, a eterna escolha entre um e outro e
sim, a juno de acordo com os seus estudos de desenvolvimento e necessidades.
Esse paradoxo ocorre no discurso ps-moderno de Lyotard (1993, p.28, grifos do
autor) onde:
O si mesmo pouco, mas no est isolado; tomado numa textura de relaes mais
complexa e mais mvel do que nunca. Est sempre, seja jovem ou velho, homem ou mulher, rico ou pobre, colocado sobre os ns dos circuitos de comunicao
[...]. E ele no est nunca, mesmo o mais desfavorecido, privado de poder sobre
estas mensagens que o atravessam posicionando-o, seja na posio de remetente,
destinatrio ou referente.
2
com esse jogo de linguagens que o educador da Ps-Modernidade se depara: o ser
no o que parece; o estar nem sempre o que se representa frente; o viver junto nem
sempre agradvel (quase sempre no ); o fazer nem sempre pode ser feito porque no
existem os meios e interesses para realiz-lo, o aprender a aprender carece da prpria
experincia dos professores que no aprenderam a aprender e, por vezes, nem querem que os
alunos aprendam a aprender. H coisa mais complexa do que essa realidade? Um eterno jogo
de querer e no querer no qual o professor no confessa nem a si prprio no mais escondido
recanto.
A situao perpassa pelo entendimento de complexidade e perplexidade ensejadas em
fatos da modernidade como a descoberta do Novo Mundo, o Renascimento, as Reformas, as
Revolues Industriais, o Iluminismo, a Revoluo Francesa e a contemporaneidade das I e II
Guerras Mundiais que apresentaram reflexos na histria por meio das relaes sociais
humanas e incidiram em mudanas de posicionamentos, de enfrentamentos de decises jamais
vistas. Somam-se a todos esses fatos, o desenvolvimento da teoria da comunicao no
processo de incremento dos computadores e posteriormente as redes e a modificao na forma
de interao que se instala hoje em pleno sculo XXI.
Ento, Ps-Modernidade ou o desenvolvimento maior da Modernidade? reflexo?
Os pesquisadores se debatem em termos que se olhados de perto no so/foram complexos
apenas na poca de Hegel, de Weber, de Marx e sim, hoje perpassam pelo niilismo prprio da
Sociedade Espetculo, Sociedade Ps-moderna, Sociedade Ps-Industrial, Sociedade da
Informao, Sociedade do Conhecimento, Sociedade Globalizada.
Encontro no aporte de Habermas (2000) e na Ps-Modernidade de Lyotard (1993) as
discusses perplexas da dcada de 80 em todas as reas do conhecimento humano. Para
Lyotard (1993), os saberes ps-modernos pregam a incredulidade, a perplexidade das
narrativas legitimadoras, h sempre algo a vir, a surgir, a desvelar-se. Ento, h na literatura
ps-moderna, nas diferentes reas do conhecimento, a fragmentao, a construo e
desconstruo constantes. a perplexidade em vista da complexidade das relaes sociais que
se apresentam e abalam as estruturas comportamentais nos diferentes pases e nas diferentes
esferas do constructo social.
O contexto histrico delineia mudanas e atribuio de vrias terminologias que
coexistem e so colocadas num nvel de embate ou complemento. Assim, enquanto os
educadores ainda debatem a Sociedade Ps-moderna, hoje coexistem vrios termos que
representam as diferentes mudanas sociais como: Sociedade Ps-Industrial, Sociedade
3
Global, Sociedade Espetculo, Sociedade em Redes, Sociedade da Informao, todas
representando momentos de mudanas cultural, histrica, econmica numa realidade desigual.
Hoje com a Sociedade Ps-moderna, dita Ps-Industrial, h o entrelaamento com o
que Dantas (1999) chama de sociedade da III Revoluo Industrial, a da Microeletrnica.
Com o desenvolvimento da Ciberntica, da regulao, do controle, da comunicao via bits
surge a Sociedade da Informao, onde o seu esteio maior so as Tecnologias de Informao e
Comunicao (TIC) e que proporcionam verdadeiramente uma aldeia global, uma sociedade
em redes e uma sociedade de espetculos, onde o ser, o estar, o fazer, o conviver e o criar so
visualizados nas telas eletrnicas em milsimos de segundos.
Em face dessas discusses, a Sociedade da Informao considerada componente e
um novo termo para a chamada Sociedade Ps-Moderna e no texto, por fora da literatura
utilizada em Educao, sero alternadamente ou conjuntamente utilizados.
A Sociedade da Informao pressupe o aprender a aprender constante, embasada no
conhecimento, e as organizaes educacionais percebem as mudanas que alteram o seu fazer
por meio de novas demandas apresentadas, ocorrendo desequilbrios entre o querer e o que
ofertado. Apresenta-se como usuria constante de TIC veiculadoras e disseminadoras da
informao, base para a construo de conhecimento.
As TIC so destacadas como meios para acessar a informao representada pelo
conhecimento divulgado no formato eletrnico em bibliotecas, bancos e bases de dados que
veiculam livros e peridicos em diferentes suportes. Representam a conferncia dos
pensamentos dos idealizadores da ciberntica, das comunicaes, da informao, desde a
criao do mito da biblioteca eletrnica gestada na 2 metade do sculo XIX (BIRDSALL,
1994) at o desenvolvimento na dcada de 40, com o avano da Matemtica, dos pensamentos
do Memex de Vannevar Bush, o hipertexto da dcada de 60 de Ted Nelson, do mercado de
informao de Dertouzos (1997), at os conceitos de acesso informao desterritorializada.
Albagli e Maciel (2004, p.10) destacam que A importncia da informao e do
conhecimento no mundo contemporneo tem sido usualmente associada a desenvolvimentos
das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) que [...] transformam as formas de
produzir e distribuir bens materiais e imateriais..
A informao por si no gera conhecimento, depende da construo e relaes que o
sujeito far do seu uso e aplicao. Para a consecuo da dinmica referente ao processo de
produo de inovaes na rea pedaggica, so necessrios,
4
[...] processos de gerao, difuso e uso de conhecimentos derivados das
particularidades da cultura produtiva local; o conhecimento e o aprendizado
resultantes das intenes locais; operaes formal e informal; carter sistmico do
aprendizado e da inovao, reconhecendo o papel de cada ator local para a gerao
do conhecimento coletivo, e os canais de comunicao entre os agentes e a
diversidade institucional. (ALBAGLI; MACIEL, 2004, p.14).
nessa linha que estudei o Currculo na/e Sociedade da Informao como o meio
poltico para a construo e reconstruo pedaggica, defendendo o acesso s TIC para
subsidiar os dilogos e conflitos subjacentes ao seu avano.
No incio da dcada de noventa, os governos mundiais comearam a operar em prol da
insero dos pases na Sociedade da Informao visando adequar-se ao processo de incluso
para acesso informao, por meio de diretrizes traadas no documento intitulado Livro
Verde1. Em tal documento foram pensados meios para acesso s TIC e o trabalhar com a
Educao voltada para o entorno, para as identidades culturais e desigualdades, com vistas
insero, e o compromisso dos governos locais, regionais, federais e internacionais, teriam
que convergir para possibilitar tal realidade.
A Educao apresentada como elemento essencial [...] para a construo de uma
sociedade da informao [...] para que pessoas e organizaes estejam aptas a lidar com o
novo, a criar [e] permita ao indivduo no apenas acompanhar as mudanas tecnolgicas, mas,
sobretudo, inovar. (BRASIL. MCT, 2000, p.7).
discurso corrente dizer que se vive na Sociedade do Conhecimento, devido
informatizao e ao processo de globalizao das telecomunicaes as quais propiciam o
acesso informao. Nesse contexto, escola cabe o papel primordial de mediadora do
aprender a aprender numa sociedade em mudana, na qual o imperativo o monitoramento
informacional e a sua aplicabilidade, o aprender a fazer.
Em tal sociedade, os educadores no podem se eximir de conhecer as polticas
pensadas para o ingresso das sociedades em tal realidade. Ressalto que a abordagem
delineada a partir das informaes sobre os avanos ocorridos na rea educacional,
especialmente o Currculo, na/e Sociedade da Informao, num contexto macro pautado nas
polticas governamentais desenvolvidas pelo Ministrio da Educao (MEC) e Ministrio da
Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI) do Brasil, pois para crescimento de um pas nos
mbitos cientfico e tecnolgico, h necessidade de um trabalho conjunto da Educao e, a
informao considerada essencial para o avano da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
1Constituiu objeto de anlise desta pesquisa apenas o Livro Verde, por traar diretamente as diretrizes para a
Educao na Sociedade da Informao. Entretanto, por fora da contextualizao histrica de criao dos
documentos e no momento de entrevistar o Secretrio Executivo do Ministrio da Cincia e Tecnologia,
levaram-me a mencionar, tambm, os Livros Branco e Azul, mas sem abordagens aprofundadas.
5
A mudana nos programas educacionais da Ps-Modernidade perpassa pela adoo
das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) como insumo para o acesso ao que
produzido, possibilitando uma Educao dialogada e com possibilidade de extravasar o
mundo dos livros ou apostilas adotadas nos currculos escolares, em tempos marcados pela
desterritorializao do acesso informao e ao conhecimento, oportunizando o exerccio da
crtica e democracia.
1.1 Problema e Objetivos da Pesquisa
Destaco, como elemento inicial para o delineamento desta pesquisa, a satisfao em
verificar que os professores portugueses, nas aulas dos Seminrios de acesso ao doutoramento
em Cincias da Educao da Universidade da Madeira (UMa), abordavam a vanguarda das
discusses sobre a Sociedade da Informao e o seu impacto no processo educacional.
Somou-se ao ocorrido a experincia inversa relativa ao fato de no ter detectado na literatura
brasileira estudada, quando do desenvolvimento das atividades de elaborao de artigos
cientficos e outras, as discusses acerca da temtica objeto de estudo e tampouco aluses ao
Programa Sociedade da Informao (SocInfo), representado pelo Livro Verde do Brasil.
O documento Livro Verde do Brasil caracterizou-se como uma poltica pblica e uma
meta a alcanar preconizada para os idos anos de 2010, objetivando a ampliao das
inovaes por meio do acesso s informaes disponveis em redes sociais, meios de
conectividade, formao de recursos humanos, incentivo pesquisa e desenvolvimento nos
diferentes mbitos da Educao, Cincia e Cultura.
O fato gerador para tal olhar decorre do pensar que todas as pessoas tm o direito ao
acesso informao e o seu processar ser revertido em conhecimento a partir da
representatividade para si contextualizado nas vivncias histrico-culturais e as trocas
consequentes com os sujeitos interagentes. Na acepo de situar as informaes no tempo e
no espao, Morin (2004, p.59-60) ao defender seu posicionamento sobre a compreenso
holstica e a especializao na busca de conhecimento sobre o objeto de estudo, destaca a
necessidade de [...] comear com o problema do conhecimento. Se possumos uma
informao, mas somos incapazes de situ-la no seu contexto (dividido pelas disciplinas),
necessariamente teremos uma informao sem interesse [o que nos obriga] a contextualizar o
tempo todo..
As TIC, especialmente as eletrnicas representantes da memria extra do homem no
pensar da revoluo informacional permeada pela Sociedade da Informao, encontram aporte
6
de desenvolvimento nas escolas em seus desenhos curriculares e constituem objeto de debate
pelos pesquisadores da Educao. Tais debates oportunizam a mudana no fazer cotidiano
para possibilitar o verdadeiro dilogo entre professores, alunos e demais participantes do
processo de acordo com o grau de representatividade operado em suas realidades.
Nessa linha de pensamento, a responsabilidade social do pesquisador deve representar
a sua implicao com a pesquisa e ter a noo que: Responsabilidade noo humanista
tica que s tem sentido para o sujeito consciente. (MORIN, 2007a, p.117). E, ao mesmo
tempo, ter conscincia do paradoxo de que a responsabilidade do investigador perante a
sociedade uma questo histrica. Ainda Morin (2007a, p.118), ao exemplificar com as aes
de Einsten, reala aos pesquisadores que O esprito mais genial no dispe de condies que
lhe permitam [...] conhecer o lugar e o papel da cincia na sociedade., pois, na maioria das
vezes, por mais expectativas e projees que faa, desconhece os caminhos que a sua
investigao seguir nas interpretaes dos sujeitos em ao, tanto o que elaborou quanto o
elucidador dos discursos e aes relatadas.
No sentido da necessidade de implicao dos sujeitos em processo de estudo, Santos
(2004, p.80), diz que: "A cincia moderna consagrou o homem enquanto sujeito epistmico,
mas expulsou-o enquanto sujeito emprico. [...] a distino sujeito/objecto nunca foi to
pacfica nas cincias sociais quanto nas cincias naturais [...]. Afinal os objectos de estudo
eram homens e mulheres como aqueles que os estudavam.". A Ps-Modernidade lega aos
sujeitos empreendedores de pesquisa e aos sujeitos objeto de estudo o papel de atores na
construo de conhecimentos nas cincias diversas e no uma postura passiva.
Penso que a minha prxis como ser social revela a implicao efetiva com a pesquisa
relacionada minha ao como professora universitria do curso de Biblioteconomia da
Universidade Federal do Maranho, no limiar dos meus 20 (vinte) anos de experincia, na
qual a informao sempre foi essencial para as minhas atividades profissionais.
Marx (1978) cita a prxis como uma ao transformadora social que provoca uma
revoluo e se converte em parte da experincia vivida de autotransformao humana, pois o
processo do agir na realidade coincide com a sua mudana. Freire (2002) conceitua prxis
como reflexo e ao do homem sobre o mundo visando a sua transformao e sem tal ao
ocorre a impossibilidade de superar a relao opressor/oprimido.
Para discutir o conceito de implicao do pesquisador com o objeto de estudo, tomo a
liberdade de citar Barbier (1985), em sua defesa da pesquisa-ao, ao destacar a necessidade
de o pesquisador debruar-se pessoal e coletivamente por meio do seu olhar e de sua ao
singular no mundo, numa interao constante entre sujeito e objeto de pesquisa. H a nfase
7
para a sua histria e o seu trabalho com os posicionamentos efetivados em sua ao social,
poltica e econmica, representando os nveis psicoafetivo, histrico-existencial e o estrutural-
profissional, com vistas gerao do conhecimento e transformao o que implica na prxis
dos sujeitos envolvidos.
Assim, ao enfatizar minha implicao e o consecutivo engajamento com o trabalho
investigativo em questo, acredito que sem informao as pessoas no conseguem aprimorar-
se, aprender e consequentemente gerar conhecimento de acordo com a representatividade que
tem para si nos cotidianos individual e coletivo, seja em famlia como no exerccio
profissional. As construes dos sujeitos pautam-se no dilogo subsidiado por informaes
fidedignas e sempre defendo, acredito e reitero constantemente que s ocorre verdadeiro
ensino/aprendizagem embasado em informaes que subsidiaro o posicionamento crtico
frente realidade, com investigao baseada em objetivos e mtodo bem delimitados e claros.
A informao que pode subsidiar a gerao constante de conhecimentos, ao atribuir
significados e resignificar a sua construo, encontra na atual Sociedade da Informao e
consequentemente com o avano das TIC, do suporte papel para o eletrnico, os grandes
aliados para sua verdadeira revoluo nas escolas, nos diferentes nveis que se dimensionam.
A discusso sobre a importncia da informao e consequentemente da Sociedade da
Informao pontual na Biblioteconomia e na minha experincia como professora da
Universidade Federal do Maranho (UFMA) nas disciplinas Metodologia do Trabalho
Cientfico (MTC), Formao e Desenvolvimento de Colees, Marketing em Unidades de
Informao e Gesto em Unidades de Informao Universitrias e Especializadas.
Na Biblioteconomia o objeto de estudo a informao, o seu papel quando
disseminada e o que pode provocar s pessoas no processo de construo do conhecimento,
que inclui gerao, publicao, disseminao, acesso e uso da informao para a produo de
novos trabalhos que representam o seu ciclo ininterrupto. Por mais que s vezes o pesquisador
grite, e tente parar numa v tentativa de rebelar-se, de estagnar, no h a opo de se negar
o processo inexorvel de crescimento como homens, como pessoas.
Na UFMA, na disciplina MTC, o aluno alertado para o seu papel como protagonista
no processo ensino/aprendizagem, conforme Almeida Jnior (2008), pois no se faz
aprendizagem sem informao, sem pesquisa, e estas processadas por cada um nas esferas
individual e coletiva, nas interaes em sala de aula e fora dela, representam o verdadeiro
processso de aprender sempre. Como professora, acredito no discurso de que os contedos e
as atividades trabalhadas em sala de aula, discusses e produes cientficas geradas, alteraro
8
as vidas dos sujeitos interagentes na academia e nos entornos como estgios, trabalhos,
famlia, dentre outros.
Eis a grande questo implicativa: como os principais atores, pedagogos, professores
enfatizam a informao e a Sociedade da Informao nos seus discursos sobre Currculo e no
incentivo aos alunos no processo de ensino/aprendizagem relatados nos artigos estudados
nesta investigao, para incentivar mais pesquisas e possibilitar o verdadeiro dilogo reflexivo
e crtico em sala de aula?
Assim, busquei verificar na literatura das Revistas Cientficas o que os professores
relatam em suas teorias e experincias sobre o assunto Currculo na Sociedade da Informao.
O pensar para o estudo do discurso dos pesquisadores em Educao nas Revistas selecionadas
teve o intuito de saber quais teorias defendem, pois representam as suas prticas com os
alunos e demais interagentes como pessoas que buscam aprimorar as suas aes de
aprendizagem aliceradas numa postura crtica.
O autor de um trabalho investigativo coloca seus traos na forma de escrever, de
posicionar-se por meio da literatura que mais se coaduna com o seu pensar e com o que se
pretende construir na realizao de uma produo cientfica. Todo o meu pensar est
representado na Teoria em pauta por meio da abordagem inicial constante na Introduo e no
Marco Terico, proveniente das literaturas trabalhadas e de buscar uma luz no que
especialistas da Educao em Currculo relacionados teoria crtica, pautada no
multiculturalismo, no olhar e trabalhar com as diferenas, na unio, dentre outros, apresentam.
A importncia social do tema est em discutir as aes desenvolvidas pelos educadores
e relatadas na literatura em anlise, os artigos de peridicos, em prol do desenvolvimento do
pensar crtico do professor e do aluno pesquisador por meio da abordagem sobre a
importncia da Sociedade da Informao. Assim como das polticas advindas para a
construo e aplicao do Currculo no territrio das escolas, com vistas a delinear um novo
olhar para as aes desenvolvidas, para oportunizar a reflexo por parte dos atores sociais em
interao, professores, alunos e outros, como sujeitos sociais no processo de aprender a
aprender.
O olhar para as culturas dos sujeitos por meio da anlise da literatura que trata sobre
Currculo na Sociedade da Informao, pressupe o interesse em querer mudar. Mudar
consiste em ausncia de conformismo com o status quo e nessa assertiva que a conexo
entre os sujeitos pautados em pensamento poltico, crtico, precisam estar em debate contnuo,
dialogando com a diversidade.
9
a busca constante pela verdadeira aprendizagem pautada em pesquisa e as TIC da
Sociedade da Informao permitem tal processo ao alimentar a produo do novo, por meio
do debate de ideias aliceradas em conhecimento, descobrindo nos fazeres caminhos de
aprendizagem significativa e desconstruir a ideia de aprendiz receptor de informaes. O
avano em todo o processo de ensino/aprendizagem para a autonomia do aluno depender dos
sujeitos que trabalharo os contedos enfocados em prol da construo e das inter-relaes
que se requer para a efetividade do conhecer aplicado ao seu cotidiano no qual o aprendiz
sinta-se autnomo e seja o foco do processo.
Para Lvy (2010), as Tecnologias de Informao e Comunicao geram os seus
excludos. No Brasil, a excluso pelo conhecimento se faz presente em seus diferentes nichos
e remete ao pensamento de a quem a Educao atende. Se ao status quo estabelecido de
dominao econmica ou se para o esclarecimento das pessoas para que detectem as massas
de manobra, envolvendo a postura crtica e o trabalho para reverter tais aes negativas em
ganhos educacionais. Pensar ingenuamente que os mandos e desmandos da Economia sero
afastados da Educao apenas pelos discursos ditos de vanguarda de rechaar o pensamento
intitulado neoliberal no extinguir o panorama de dominao econmica na esfera
educacional.
Ressalto os discursos curriculares e a abordagem da sociedade do conhecimento e as
TIC como ferramenta primordial em rede eletrnica, sua influncia e implicaes, no
restritas aos processos da era da informao de se pensar em bits, nmeros, mas a sua
repercusso nas reas sociais, econmicas, culturais e educacionais devido aos desafios
apontados para essas realidades.
A escola precisa ser um ambiente que oportuniza a livre expresso dos alunos. O
expressar-se no pode partir de achismos, mas na experincia cotidiana decorrente das
trocas realizadas no seu espao mundo e oportunizadas pelas informaes disponveis e que
fazem referncia aos seus fazeres.
Pontuo especificamente as discusses acerca dos desenhos curriculares e, dessa forma,
enfocando o Brasil, questionei: Os estudos crticos sobre Currculo abordam as discusses
polticas referentes Sociedade da Informao?
Em continuidade s lucubraes perplexas sobre a ausncia de discusso na literatura
educacional e pelo governo brasileiro de um assunto mundialmente em pauta, destaquei outra
indagao: H realmente um Programa Sociedade da Informao no Brasil ou foi esquecido
aps o seu lanamento?
10
Como as discusses sobre Sociedade da Informao permanecem como pauta nas
diferentes reas do conhecimento ou nos fazeres estratgicos de governos, seja pela criao de
leis, no caso do Brasil e dos demais, que regulam o acesso s informaes, penso que tal
temtica no se afastou das discusses, ao contrrio exacerbaram-se devido mxima de que
se vive numa era do conhecimento, da informao, das organizaes e pessoas que aprendem
continuadamente.
Os Currculos norteiam os fazeres nas escolas e, como tal, pontuam as discusses
operadas em prol da Sociedade da Informao. Nessa assertiva, o governo brasileiro
reconhece tais discusses efetivadas pelos pesquisadores da rea da Educao? As aes
embasam-se em planejamento para tal preparo ou so assistemticas?
Defendo que uma abordagem educacional em qualquer pas e, especificamente o
Brasil, pressupe a parceria entre governo e educadores visando os elos nos seus fazeres.
Como se chegar a uma dita Sociedade da Informao se os educadores no citam, no
conhecem a realidade preconizada em nvel governamental para a sua rea e o governo no
prioriza tais discusses? Como a prtica poder ser desenvolvida em consonncia com o que
ditado mundialmente se na literatura, que representa as prticas profissionais e de reflexo de
uma comunidade de pesquisadores, no se faz aluso a tal situao?
Objetivei analisar as discusses sobre Currculo na Ps-Moderna Sociedade da
Informao constantes na Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos (RBEP), Revista
Educao e Sociedade e Revista Currculo sem Fronteiras, no perodo de 2001 a 2011, e se h
aes delineadas nos planos, programas e projetos educativos pensados pelo governo
brasileiro.
Tais Revistas foram selecionadas devido sua expressividade na rea da Educao. A
Revista Brasileira de Pesquisa e Estudos Pedaggicos pelo enfoque de uma organizao
governamental, vinculada ao Ministrio da Educao (MEC), representado pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), rgo responsvel por
divulgar as pesquisas sobre as polticas em Educao e oferecer subsdios para as decises
polticas na rea; a Revista Educao e Sociedade por vincular-se ao Centro de Estudos
Educao e Sociedade (CEDES), sediado na Universidade de Campinas (UNICAMP) com
atuao voltada para a divulgao das produes acadmicas e idealizada como incentivadora
da pesquisa para possibilitar o amplo debate sobre o ensino, nos seus diversos prismas e a
Revista Currculo sem Fronteiras por representar as abordagens crticas sobre Currculo pelos
pases de lngua portuguesa.
11
Ainda, a seleo adotou o critrio de as Revistas estarem indexadas na Base de Dados
Qualis da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), cujos
conceitos so, respectivamente, A2, B1 e A1. Tal Base de Dados responsvel pela adoo de
[...] procedimentos utilizados pela Capes para estratificao da qualidade da produo
intelectual dos programas de ps-graduao [...] concebido para atender as necessidades
especficas do sistema de avaliao [...].. (BRASIL. MEC. Capes, 2012, no paginado).
No se objetivou desenvolver pesquisa com os sujeitos sempre abordados e solapados
de suas motivaes e sim, adentrar no discurso dos formadores de opinio, da intitulada elite
intelectual pertencente s universidades e aos pesquisadores que publicam em peridicos
cientficos de renome, na literatura nacional e internacional, para desvelar os caminhos
apontados para uma mudana na abordagem educacional no Brasil.
Defendo o peridico cientfico como instrumento para a pesquisa por se caracterizar
como o meio por excelncia de publicao, do fazer e das reflexes de uma comunidade de
pesquisadores e por se entender que houve a descrio densa da cultura, os conhecimentos
estabelecidos a partir da anlise do discurso dos pesquisadores da rea da Educao.
Por objetivos especficos foram considerados:
a) apresentar as discusses crticas e ps-crticas sobre Currculo na Sociedade da
Informao;
b) relatar se h aes desenvolvidas pelo Ministrio da Educao em prol de atender s
demandas mundiais e locais de inserir o setor educacional na Sociedade da
Informao;
c) verificar se os planos, programas e projetos educativos desenvolvidos tm relao
com o Livro Verde Brasil;
d) desvendar se ainda h o Programa Sociedade da Informao no Brasil;
e) verificar se o Plano Nacional de Educao delineia aspectos da Sociedade da
Informao, como forma planejada de aes;
f) verificar se o discurso dos professores enfoca a necessidade de polticas pblicas
educativas para a Sociedade da Informao no Brasil;
g) indagar junto dos pesquisadores como percebem as aes do governo no que se
refere s discusses sobre desenho curricular na Sociedade da Informao;
h) indagar junto dos pesquisadores se h entrelaamento entre os seus discursos sobre
a teoria crtica e ps-crtica do Currculo e a sua prtica pedaggica em prol de
mudanas efetivas;
12
i) apresentar o estado da arte e a frente de pesquisa sobre Currculo na Sociedade da
Informao;
j) informar a provenincia dos pesquisadores da Educao que publicam na Revista
Brasileira de Estudos Pedaggicos, Revista Educao e Sociedade e Revista
Currculo sem Fronteiras.
A pesquisa foi caracterizada como documental e de campo, pautada na abordagem
qualitativa do estudo de caso e anlise de contedo, com vistas a debruar um novo olhar
sobre os trabalhos sobre Currculo pela via da comunicao escrita, a partir dos relatos
cientficos provenientes de artigos de peridicos. Posteriormente busquei interagir de forma
direta com os seus autores e o governo brasileiro, representado pelo Ministrio da Cincia,
Tecnologia e Inovao e o Ministrio da Educao2.
A pesquisa est estruturada em aportes literrios sobre Ps-Modernidade e Sociedade
da Informao, Paradigmas e Cenrios da Educao, o Contexto Neoliberal da Sociedade da
Informao e a Educao e os desafios do Currculo na Sociedade da Informao;
Metodologia pautada no estudo de caso e anlise de contedo, Resultados e Discusso nos
quais apresento a pesquisa documental e a de campo com os rgos do governo, MCTI e
MEC e os autores dos artigos com seus posicionamentos incisivos ou evasivos, alm da
Concluso sobre o processo de desenvolvimento do trabalho.
2A Metodologia ser especificada na seo 3 deste trabalho.
2 PS-MODERNIDADE E SOCIEDADE DA INFORMAO
A Ps-Modernidade a condio sociocultural e esttica do estgio do capitalismo
ps-industrial, que contemporneo. Para o crtico marxista norte-americano Jameson (1997),
a Ps-Modernidade a lgica cultural do capitalismo perdido e de acordo com Habermas
(2000), estaria ligada a tendncias polticas e culturais neoconservadoras, determinadas a
combater os ideais iluministas e os de esquerda. Para Lyotard (1993) a Ps-Modernidade o
verdadeiro rompimento com as antigas verdades absolutas, como marxismo e liberalismo,
tpicas da modernidade.
Para Doll Jnior (1997, p.11): Ps-modernismo significa coisas diferentes para
pessoas diferentes. No existe uma descrio simples, com a qual todos concordam.
Exatamente como as pessoas no final da Idade Mdia e no Renascimento no sabiam que
estavam numa posio intermediria, porque a Idade Moderna j havia comeado..
Gilbert (1995) ressalta que o estilo ps-modernista [...] toma a forma de uma
declarao auto-consciente, auto-contraditria e auto-demolidora.. Enfim, tal conceituao
enseja hoje as discusses sobre a teoria da complexidade que
[...] tem sido utilizada para representar aquilo que temos dificuldade de compreender
e dominar. [...] significa a impossibilidade de se chegar a qualquer conhecimento
completo. [...] no pode trazer certeza sobre o que incerto. Ela pode apenas
reconhecer a incerteza e tentar dialogar com ela. (CHIAVENATO, 2000, p.678).
Segundo Chiavenato (2000), a Teoria da Complexidade fundamenta-se nas ideias
surgidas no campo das Cincias Exatas e Naturais, nas teorias da informao e dos sistemas e
na ciberntica, as quais colocaram em relevo a necessidade de evidenciar e ultrapassar as
fronteiras entre os conhecimentos gerados. Assim, a incerteza, a contradio, constituem parte
indissocivel da condio humana, ao mesmo tempo em que destaca palavras contundentes
como solidariedade e tica como meio indelvel para conexo entre as pessoas unas e
mltiplas nos seus saberes.
Tal pensar representa a dualidade e o paradoxo da Ps-Modernidade ao relacionar o
uno/mltiplo, fragmentao/desfragmentao, o que leva crise e aos avanos nos diferentes
segmentos da sociedade, e na escola no se faz um comportamento diverso. Para Morin
(2007b, p.7), O pensamento complexo [...] animado por uma tenso permanente entre a
aspirao a um saber no fragmentado, no compartimentado, no redutor, e o
reconhecimento do inacabado e da incompletude de qualquer conhecimento..
No mundo ps-moderno e complexo, ocorre o despertar para a noo de
indeterminismo, incerteza, abandono das ideias de simplicidade dos fenmenos prprios ao
14
homem e sociedades, abandona o ideal de objetividade como a nica forma vlida de
conhecimento e assume a subjetividade como marco da condio humana para possibilitar o
aprofundamento na recolha das informaes dos fenmenos subjacentes.
Para Dupas (2011, p.13-14):
No cotidiano da ps-modernidade, a mquina substituda pela informao e o
contato entre pessoas passa a ser mediado pela tela eletrnica. [...] a utopia dos
mercados livres e da globalizao tornam-se referncia. Mas o vazio e a crise
pairam no ar. Sente-se um mundo fragmentado, seu sentido se perdendo nessas
fraturas, com mltiplos significados, orientaes e paradoxos. Juntas, cincia e
tcnica no param de surpreender e revolucionar. Mas esta cincia vencedora
comea a admitir que seus efeitos possam ser perversos. Nesse mundo de poder,
produo e mercadoria, o progresso traz consigo desemprego, excluso,
concentrao de renda e subdesenvolvimento.
Por mais que a literatura da Ps-Modernidade apresente a noo de fragmentao,
[...] ela no disciplinar e sim temtica. Os temas so galerias por onde os
conhecimentos progridem ao encontro uns dos outros. [...] o conhecimento total
[...] e local. [...]. um conhecimento sobre as condies de possibilidade da aco humana projectada no mundo a partir de um espao-tempo local. (SANTOS, 2004,
p.76-77).
A Sociedade Ps-Moderna, com seus aspectos de mudanas sociais na
contemporaneidade recebe [...] uma variedade de rtulos (ps-industrialismo, ps-
materialismo, ps-fordismo, capitalismo desorganizado e sociedade da informao [...]
(GILBERT, 1995, p.22). Nesse construir ps-moderno novos termos so agregados a partir da
dcada de 1990 como, Sociedade Global, Sociedade Mundial, Sociedade em Redes
(CASTELLS, 1999), Era da Informao, Era do Conhecimento (CHIAVENATO, 2000), e a
to propagada Sociedade da Informao.
A Sociedade Ps-Moderna, do Espetculo (DBORD, 1967), da Informao, das
Redes, so representadas por pessoas, por todos os sujeitos, com as suas formas de trabalho,
de educar, de viver, de ser, de buscar informao, de comunicar-se, de culturas diferentes, de
regionalidades, de economias, de TIC, com as suas fragmentaes e generalidades. a essa
sociedade posta, que os educadores no podem esquivar-se.
Na teia complexa da Educao Ps-Moderna:
Conhecimento e aprendizagem os processos por meio dos quais as pessoas criam o
conhecimento so sistemas vivos [autopoiticos ou autoproducentes] formados por
redes e inter-relaes frequentemente invisveis. [] os aprendizes constroem o
conhecimento a partir de uma estrutura interior de experincias, emoes, desejos,
aptides, crenas, valores, auto-consciencia, propsitos individuais e sociais e
muito mais. (SENGE et al., 2005, p.25).
com esse panorama de Ps-Modernidade e Complexidade, que a Educao comea a
debruar a sua teoria com maior afinco. Entender a linguagem dos sujeitos que se inter-
relacionam no cotidiano do ambiente educacional, do ambiente ensino/aprendizagem e hoje
15
mediados pelas TIC um desafio. A Educao hoje se encontra em estado de perplexidade e
impotente por no conseguir entender as mudanas pelas quais a sociedade passa levada ao
imediatismo patrocinado pelas TIC.
A emergncia das TIC na Sociedade Ps-Moderna leva a uma mudana nas escolas, na
forma de conduzir o processo ensino/aprendizagem e na forma de se empreender os estudos,
as pesquisas, tanto pelo professor quanto pelo aluno, pois este, nos dias atuais, desde a mais
tenra idade, manuseia o computador, uma calculadora, um DVD e chega aos bancos escolares
com informaes vastas que em muito ultrapassam as do professor que esteja despreparado,
que no busque educao continuada e no as perceba como aliadas no processo
ensino/aprendizagem.
O acesso s TIC significa o acesso s informaes e a produo de conhecimentos
possibilita o pensar e desenvolver inovaes, as quais adviro dos processos efetivados pelo
sujeito para situ-la no tempo e no espao pelas identidades locais e representatividade para o
seu entorno.
As TIC operam hoje na desterritorializao e redimensionamento do espao escola, na
forma de aprender. Ressalvo apenas que no se trabalha as tecnologias voltadas para o ensino
assistido por computador, como algo mecnico, acrtico, passivo, pois, [...] a tecnologia, no
capaz, por si, de se transformar em inovao pedaggica. [...] a inovao pedaggica no
reside na tecnologia, mas fora dela, na mente de quem desenhar o contexto em que ser
utilizada. (FINO, 2003, p.3).
Ao preconizar em 1979 que as naes se debateriam pelo saber em forma de
mercadoria informacional, Lyotard (1993) fez uma projeo de cenrios estupenda para o
sculo XXI, onde o slogan agora que a informao poder e, para tanto, as organizaes
precisam aprender, as escolas precisam aprender, todos precisam aprender a aprender.
Com o uso das TIC no ambiente das escolas, para Lyotard (1993, p.22):
A pedagogia no sofrer necessariamente com isto, pois ser preciso apesar de tudo
ensinar alguma coisa aos estudantes [...]. Nesta perspectiva, uma formao
elementar em informtica e particularmente em telemtica deveria fazer parte
obrigatoriamente de uma propedutica superior, do mesmo modo que a aquisio da
prtica corrente de uma lngua estrangeira.
Castro (2007, p.141), ao aludir s transformaes propiciadas pelas TIC no campo da
Educao, destaca: Aprender e ensinar, dentro da pedagogia crtico-social [...] promover o
desenvolvimento da capacidade de processar informao de maneira integral, contextual,
significativa e dialogal..
16
Na pedagogia histrico-crtica ou pedagogia dialtica, Saviani (1991) a conceitua como
a busca por entender a Educao por meio do desenvolvimento histrico objetivo, subjacente
ao materialismo histrico, determinante das condies de existncia humana embasada em
anlise crtica-dialtica e afastamento da crtica-reprodutiva, na qual se operam aes
dinmicas para trabalhar o pensar dos sujeitos num contexto dialgico.
Nessa assertiva, Sousa (2005, p.9) reala que
[...] a cultura ps-moderna, marcada pela especificidade, diferena, pluralidade e
mltiplas narrativas amplifica-se com as TIC ao descortinarem o livre acesso a
diversos territrios da informao as quais sero processadas pelos sujeitos e
transformadas em conhecimento, pois [...] os espaos de aprendizagem tornam-se cada vez mais dispersos, menos especficos [...] deixando o aprendiz livremente
operar [...] em outros territrios.
Do ponto de vista da aplicao das TIC no ambiente educacional, o saber est em
constante construo e com o status cada vez mais presente de poder relacionado, onde no
apenas transmisso e sim, produo de conhecimento, significar e ressignificar a informao,
o saber no processo de ensino/aprendizagem dinmico.
2.1 Sobre Paradigmas
A cincia desenvolve-se com os diferentes paradigmas e, estes e aquela precisam ser
legitimados, seno ficam no nvel de ideologia, de instrumento de um poder que os seus
sujeitos sabem a servio de quem esto. Os diferentes estudiosos de uma cincia estabelecem
os paradigmas que so seguidos, so questionados, para se ter um embasamento acerca do que
se estuda em determinado momento. E esse fator que est ocorrendo desde a dcada de 70
com a apresentao mais enftica do termo Ps-Modernidade (LYOTARD, 1979) e a
aplicao dos seus conceitos nas diferentes reas do conhecimento.
Neste contexto de questionamentos da cincia que tambm se insere A estrutura das
revolues cientficas de Kuhn (1962) onde so discutidos os paradigmas cientficos. nessa
linha que se questiona os paradigmas educacionais luz da Sociedade Ps-Moderna,
Sociedade da Informao, com a emergncia das TIC eletrnicas permeando o mundo das
relaes sociais nas diferentes esferas do saber.
Para Kuhn (2005, p.13), paradigmas so [...] as realizaes cientficas universalmente
reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e solues modelares para uma
comunidade de praticantes de uma cincia.. Nessa mesma linha - e peo licena pela
liberdade de interpretao ao dileto filsofo por ter deixado explcito ter um conceito diverso
do que intitula uma definio hesitante e incerta de Kuhn -, Morin (2007b, p.112) cita que
17
Um paradigma privilegia certas relaes lgicas em detrimento de outras, e por isso que
[...] controla a lgica do discurso..
Ento, na Educao, como nas diferentes cincias, h a quebra de paradigmas que
tentam explicar as mudanas sociais que perpassam a sociedade, e o reflexo que possuem para
um campo especfico do conhecimento. Assim, as grandes invenes, as grandes descobertas,
as grandes revolues, os grandes tericos, possuem um papel de impacto direto nas
diferentes reas do conhecimento, exemplificados em sua gnese com a Inveno da
Imprensa, das Grandes Navegaes, da organizao advinda da Sociedade Industrial, da
Inveno dos Computadores, da Teoria Matemtica da Comunicao, da Ciberntica. Em
sntese, das TIC e dos reflexos para a Sociedade Ps-Moderna que emerge com as suas
discusses niilistas e de ressurgimento, de buscar sempre o entendimento de algo to
complexo que remete incerteza de tais estudos no sentido de lucubrar, apreender um
determinado campo do saber.
importante ressaltar que a mudana de paradigma em reas especficas influencia as
demais. Tal influncia pode ser retratada na atualidade pelas TIC eletrnicas cujos
imperativos so discutidos nas diversas reas do conhecimento que levam s terminologias
Sociedade Global, Sociedade em Redes, Sociedade da Informao, dentre outras.
Kuhn (2005), ao relatar o desenvolvimento de seus estudos sobre histria da cincia e
os paradigmas, enfatiza o seu estranhamento quando se relacionam com cientistas sociais ao
perceber as discusses que envolviam tais cincias, as de questionamentos dos mtodos e
problemas cientficos legtimos s discusses sociais, fatos que no ocorriam com os
cientistas das Cincias Naturais nas quais fora treinado.
Tal perplexidade quanto s discusses que envolvem as Cincias Sociais e Humanas
podem ser percebidas na Educao ao questionarem os mtodos das Cincias Naturais e sua
aplicabilidade no campo educacional. H uma diferena entre os objetos de estudo e, nas
Cincias Sociais e Humanas que trabalham diretamente com pessoas, um fator fundamental
se mesclar mtodos para atingir a essncia dos fenmenos.
A Educao questiona e isso pode ser percebido nos diferentes paradigmas
estabelecidos desde as comunidades primitivas at os dias atuais, com a Ps-Moderna
Sociedade da Informao. Para tanto, novos mtodos de se trabalhar o ensino/aprendizagem
foram desenvolvidos ao se perceber que os em vigncia no representavam ou no davam
conta das necessidades sociais advindas das mudanas que ocorriam e ocorrem
historicamente. Entretanto, aspectos norteadores foram sendo repassados de uma teoria
educacional para a outra no decorrer do desenvolvimento de estudos educacionais.
18
Assim, na Educao primitiva, o destaque era para aprender fazendo, na Educao
romana da mesma forma (CAMBI, 1999), na Educao tradicional, na tecnicista e na ecltica
Ps-Modernidade, o fio condutor das ideias, e que no foram destrudas com o tempo, o de
que o desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem deveria e deve priorizar o aprender
a aprender, a ser, a estar, a viver juntos que so o foco hoje da chamada Sociedade da
Informao, Sociedade Ps-Moderna, Sociedade em Redes, Sociedade Globalizada, defendida
pela Organizao das Naes Unidas para a Educao Cincia e Cultura (UNESCO) no
Relatrio Delors (1998) e, ainda, base para as discusses e aplicabilidade em nvel mundial
pela Educao como um todo, pelos educadores de pases nos diferentes recnditos.
Mais especificamente a partir da dcada de 90, os educadores, a exemplo de Giroux
(1997), com as suas teorias, abordam com maior nfase a temtica Educao e Ps-
Modernidade e a discutir a sua existncia ou neg-la intitulando-a s vezes como uma
modernidade ainda no acabada.
H um tempo diferente no que concerne a entender as relaes sociais que sempre
foram duais, ambguas e hoje com o imediatismo da comunicao, os homens possuem uma
postura diferente no momento de se relacionar com os outros e isso se processa nas relaes
entre professor/professor, professor/aluno, aluno/aluno, alunos/pais, alunos/diretores,
professor/pais e as diferentes combinaes que ainda podem advir.
Os insumos que recebem do macro ambiente refletem no micro ambiente da escola e
conduzem o processo ensino/aprendizagem. O professor conhecedor das mudanas precisa
sempre estar preparado para o que pode vir a ser, o que pode acontecer em sala de aula, nas
discusses governamentais preconizadoras dos fazeres.
Ento, o paradigma atual em todas as cincias, independente do termo que dado para
a sociedade em que se processa a utilizao das TIC no contexto de cada cincia e o seu
reflexo no mundo da escola e nas relaes advindas nos nveis macro ou micro. As mudanas
que ocorrem hoje no nvel das TIC, afetam todas as relaes no processo educacional e so
itens para se chegar Sociedade da Informao.
Sobre as mudanas na Educao devido ao contexto global operado em sociedade, no
dual indivduo/coletividade, construo/desconstruo, conhecimento crtico em face da
diversidade, Leite (2002, p.95) declara: O convvio com diferentes realidades ambientais,
econmicas, sociais e culturais gerado pela nova sociedade da informao e pela mobilidade
geogrfica das populaes tem proporcionado (re) encontros de valores muitas vezes
afastados dos que tradicionalmente existiam..
19
Neste sentido, as discusses sobre um novo termo e os seus desdobramentos e reflexos
aplicados em campos de conhecimento diferentes levam ao estabelecimento de novos
paradigmas nos quais:
[...] a fecundidade potencial de uma quantidade de novas espcies de pesquisas,
tanto histricas como sociolgicas [...] necessitamos estudar detalhadamente o modo
pelo qual as anomalias ou violaes de expectativas atraem a crescente ateno de
uma comunidade cientfica, bem como a maneira pela qual o fracasso repetido na
tentativa de ajustar uma anomalia pode induzir emergncia de uma crise. (KUHN,
2005, p.14).
A busca da Educao pelo aperfeioamento na forma de mediar a aprendizagem
louvvel, pois mostra como, apesar das dificuldades, os professores nas diferentes instncias
esto preocupados com os resultados de seu trabalho, com a melhoria no processo
educacional.
A construo de novas teorias, novas abordagens educacionais, construdos nos
diferentes paradigmas traados em Apple (1995), Cambi (1999), Giroux (1999), Gadotti
(2003), remetem s construes que cada pesquisador/professor/educador buscou desenvolver
para aprimorar o processo educacional. Assim, tais pesquisadores/professores/educadores,
[...] so homens que, com ou sem sucesso, empenharam-se em contribuir com um ou
outro elemento para essa constelao especfica. O desenvolvimento torna-se o
processo gradativo onde esses itens foram adicionados, isoladamente ou em
combinao, ao estoque sempre crescente que constitui o conhecimento e a tcnica
cientficos. (KUHN, 2005, p.20).
No sentido de desenvolver um novo paradigma e da defesa de continuidade do
conhecimento e a da abordagem ps-moderna na Educao, assim como toda a sua teoria no
significa uma ruptura radical e sim estrutural na teoria educacional, ressalta-se que:
Um elemento aparentemente arbitrrio composto de acidentes pessoais e histricos
sempre um ingrediente formador das crenas esposadas por uma comunidade cientfica especfica numa determinada poca. Contudo, esse elemento de
arbitrariedade no indica que algum grupo possa praticar seu ofcio sem um
conjunto dado de crenas recebidas. (KUHN, 2005, p.23).
Tal ideia defendida no compartilhada posteriormente pelo prprio Kuhn (2005,
p.26) ao dizer que uma
[...] nova teoria implica uma mudana nas regras que governavam a prtica anterior
de cincia normal. [...] a nova teoria repercute [...] sobre muitos trabalhos cientficos
j concludos com sucesso. por isso que uma nova teoria, por mais particular que
seja seu mbito de aplicao, nunca ou quase nunca um meio incremento ao que j
conhecido. Sua assimilao requer a reconstruo da teoria precedente e a
reavaliao dos fatos anteriores.
O paradigma proporciona modelos pelos quais os pesquisadores, os cientistas
constroem as bases da pesquisa cientfica utilizando para tanto, leis, teorias, aplicao e
instrumentao. Assim,
20
Para ser aceita como paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas
competidoras, mas no precisa (e de fato isso nunca acontece) explicar todos os
fatos com os quais pode ser confrontada. E para [...] ser bem recebido no significa
nem ser totalmente bem sucedido com um nico problema, nem totalmente bem
sucedido com um grande nmero. [...] o sucesso de um paradigma [...] , a princpio,
[...] uma promessa de sucesso que pode ser descoberta em exemplos selecionados e
ainda incompletos. (KUHN, 2005, p.38).
Apesar dos textos abordando a teoria da Ps-Modernidade na Educao, ainda existem
reas
[...] de penumbra ocupada por realizaes cujo status ainda est em dvida, mas
habitualmente o ncleo dos problemas resolvidos e das tcnicas ser claro. Apesar
das ambigidades ocasionais, os paradigmas de uma comunidade cientfica amadurecida podem ser determinados com relativa facilidade. (KUHN, 2005, p.7).
O fato de os pesquisadores abraarem um determinado paradigma no significa que
todos sejam orientados para um mesmo fim, no discutam, dialoguem e discordem em
determinadas questes, faz parte do desenvolvimento das cincias e do estabelecimento do
paradigma em questo. Nesse sentido, Kuhn (2005, p.68-69, grifos do autor) comenta que os
pesquisadores/cientistas,
[...] podem concordar na identificao de um paradigma sem entrar num acordo (ou mesmo tentar obt-lo) quanto a uma interpretao ou racionalizao completa a
respeito daquele. A falta de uma interpretao padronizada ou de uma reduo a
regras que goze de unanimidade no impede que um paradigma oriente a pesquisa
[...]. Na verdade, a existncia de um paradigma nem mesmo precisa implicar a
existncia de qualquer conjunto completo de regras.
O elemento arbitrrio e niilista com o qual a Educao trabalha hoje na Ps-
Modernidade com a incerteza e com a complexidade de no conseguir entender os
fenmenos que acontecem no ambiente das relaes sociais educacionais, que levam
procura, a uma constante luta dos contrrios, a um dilogo incessante no processo
ensino/aprendizagem que exatamente como deve ser, e que profcuo.
Com a Revoluo Informacional, as mudanas de comportamentos esto mais
presentes pela rapidez e, nas escolas, esses comportamentos levam exacerbao de
abordagens e de busca de entendimentos, pois as mensagens veiculadas, significadas e
ressignificadas pelos sujeitos so to rpidas e avassaladoras que o processo educacional no
encontra explicao e eis a crise e novos paradigmas surgem e mais abordagens de
rechaamento ou enaltecimento do novo.
H uma crise na Educao, como sempre ocorreu historicamente. crise dos mtodos,
crise da criana ser tratada como adulto (e hoje a prpria famlia veste, conversa e trata a
criana igual a um adulto, eis o comportamento ps-moderno), crise sobre a idade escolar,
crise sobre o currculo, crise de identidade cultural e tantas mais. Enfim, uma eterna crise
21
existencial que bastante benfica para todos os setores do conhecimento e pessoas, pois, h
o pensar que aps a crise surge algo novo a se debruar posteriormente e entrar em crise
eterna. Eis as caractersticas do ser humano, precisa sempre ter desafios, crises para avanar
nas diferentes relaes sociais.
A Educao Ps-Moderna depara-se com a perplexidade das mudanas sociais.
Assusta-se continuamente com os comportamentos uns dos outros, e o professor, este que
precisa ser o mediador nesse processo, o mais perplexo e complexo de todos. Representa as
suas prprias motivaes, o seu entorno social que muitas vezes diferente da do aluno.
Como defender uma postura de inter-relao, de democratizao, de acessibilidade, se o
prprio professor no se conhece a si prprio? Como seguir as diferentes correntes tericas
pedaggicas se no se aprofunda e no se une a teoria prtica, sua prtica? Onde o que diz
o politicamente correto e o que faz o incorreto?
Eis a complexidade do mundo contemporneo no qual as frmulas educativas esto
sendo testadas, tendo como polarizadora da Educao, a UNESCO, com os parmetros
descritos nos relatrios e programas avaliadores da Educao em nvel mundial, a exemplo do
Programa Internacional de Avaliao de Estudantes (PISA) desenvolvido e coordenado pela
Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE) e o fato de se perceber
a avaliao com envolvimento de um importante organismo da Economia.
Falar em Educao Ps-Moderna ressaltar um contexto globalizado, no sentido
cultural, histrico, econmico, no acesso s informaes. ressaltar uma sociedade dita do
conhecimento, da informao, onde, para que haja a existncia da mesma, h necessidade do
apoio das TIC que extinguem as fronteiras territoriais, levando aculturao de tendncias
educacionais mundiais, a adotar paradoxalmente os aspectos positivos e negativos das
mudanas em diferentes sociedades. se surpreender todos os dias com as infindveis formas
que o ser humano tem de burlar as regras e essa burla nem sempre para a construo e sim
para a destruio do que se tem elaborado, esse o homem ps-moderno que no nasce bom e
tampouco com o processo educacional se transforma, necessariamente, numa pessoa boa.
Hoje com a Educao Ps-Moderna, da Sociedade da Informao, no h mais lugar
para somente o eu ensino ou eu aprendo e sim caminhar juntos, uns aprendendo com os
outros. claro que o professor como condutor do processo de mediao existe e continuar a
existir, por mais que desa do plpito, sente-se em crculo com os alunos. O que muda a
postura, a acessibilidade, a forma de conduzir o processo educativo o que no significa negar
a autoridade. Nesse sentido, Giroux (1999, p. 205) enfatiza que:
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Larry Crossberg est certo ao declarar que os professores que se recusam a afirmar a
sua autoridade ou a assumir a questo da responsabilidade poltica, como crticos
sociais e intelectuais comprometidos em geral, terminam se anulando em favor da
reproduo acrtica da audincia [alunos].
Morgado (2011b, p.795), ao mencionar a complexidade do tempo hodierno, enfatiza:
[...] tem sido consignado um papel especial aos professores, que continuam a ser
vistos como agentes efectivos de mudana, deles dependendo, [...] as transformaes
que urge imprimir na escola e no ensino, quanto o sucesso educativo dos estudantes
e a sua realizao como pessoas [reflexivas e crticas].
Para tanto, h premncia de os professores mudarem suas posturas no processo de
ensino/aprendizagem e no se vangloriarem de forma vazia do papel de protagonistas. Essa
mudana precisa considerar o fato de hoje, com as TIC em mos, o aluno interagir nas
realidades de compreenso, integrao, participao, e modifica o mundo, pelo menos nos
assuntos que o interessa. Esse problema de descompasso entre o que abordado em sala de
aula e o livre pensar dos alunos nas suas construes representam a necessidade de o
professor refletir sobre sua teoria e prtica, por vezes, no consonantes.
Senge et al. (2005, p.42) a esse respeito af