O Ensino da Escrita -...

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O Ensino da Escrita: Géneros textuais Avaliação da escrita Sessão nº 2 novembro de 2012 Lúcia Lopes Marisa Costa Fátima Santos Formação de Língua Portuguesa Projeto Alicerces

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O Ensino da Escrita: Géneros textuais

Avaliação da escrita

Sessão nº 2 novembro de 2012

Lúcia Lopes Marisa Costa Fátima Santos

Formação de Língua Portuguesa – Projeto Alicerces

Acerca da Competência Ortográfica...

Alguns dos Desafios da sua Aprendizagem:

Transcrevem sons da fala;

Representam três tipos de fonemas (vogais, semivogais e consoantes);

O nome da letra pode não conter o fonema que a representa (por ex. H);

A correspondência fonema/grafema pode ser ou não ser consistente;

Os grafemas podem ser simples ou complexos (dígrafos e letras duplas);

Os sons das letras podem ser alterados pelas letras vizinhas (explosão);

As palavras podem ter diferentes pronúncias mas têm uma única

representação gráfica.

“(...) é mais difícil corrigir maus hábitos do que incutir boas práticas.”

Adriana Baptista e outros (2008)‏

- Instrumentos de apoio aos alunos na aprendizagem da escrita: a ORTOGRAFIA: • Dicionários; • Prontuários; • Cartazes de ortografia; • Listas de palavras; • Ficheiros …

A Dimensão ortográfica - Estratégias para o

ensino explícito e aprendizagem da ortografia

Cartazes de Ortografia

Intervenientes Finalidade Situações de trabalho

Alunos, professor Expor as palavras “com dificuldade” para serem consultadas permanentemente

Inventário de séries de palavras

Sugestões de Atividades…

Sugestões de Atividades…

Listas de Palavras

Intervenientes Objetivo Situação de trabalho

Categorias

Alunos Adquirir e enriquecer o vocabulário. Apoiar os alunos na ortografia.

Comunicação oral ou escrita (trabalho de texto, visita de estudo, notícia)

Famílias de palavras (com o mesmo radical) Dificuldades ortográficas

Dicionários construídos pelos alunos

Intervenientes Objetivo Situação de trabalho

Estrutura

Alunos e professor Agrupar folhas classificadas segundo determinada categoria, por ordem alfabética

Comunicação escrita

Simples Complexa (palavra, ilustração, sinonímia)

Sugestões de Atividades…

Sugestões de Atividades…

Prontuário

É um caderno no qual os alunos colecionam e organizam as palavras

segundo um critério ortográfico.

Intervenientes Objetivo Categorias

Alunos, professores, biblioteca da escola

Constituir um documento de consulta e de apoio ao aluno.

- Sinónimos - Antónimos - Nomes de jogos - Nomes de profissões - Nomes de flores

Atividades “Tradicionais”:

A Cópia

A leitura não é processada palavra a palavra, sendo que a criança ativa

a via que domina (fonológica ou lexical) para escrever - pode produzir

um texto com vários erros ortográficos.

Estratégia: recorrer a técnicas que obriguem o aluno a confrontar

frequentemente a palavra no original.

Exemplos: Cópia Funcional (escrever para os outros); Uso do Corretor

Ortográfico do Computador; Cópia e Reescrita (escrever com

intervenções previamente combinadas).

O Ditado

É frequentemente utilizado como forma de avaliar a competência ortográfica

porque incide sobre os reais conhecimentos das regras ortográficas; por

outro lado, é uma tarefa sem qualquer outra função que não presta apoio ao

aluno quando ele se depara com a dificuldade.

Estratégia: conjugar o ditado com outra atividade, atribuindo uma função

significativa.

Exemplos: Ditado ao Computador (a pares), Leitura/Ditado (palavras

retiradas de texto, corrigidas pela leitura), Ditado de Palavras Difíceis (onde

as crianças apresentem maiores dificuldades), Ditado a Pares (textos

fragmentados, completados com o do colega); Ditado Cantado (letras de

canções).

A avaliação da escrita

A Avaliação da Escrita deve incidir sobre as três competências da

escrita mas também sobre a atitude da criança perante a tarefa.

Os indicadores para avaliar a Atitude Perante a Tarefa relacionam-se

com:

✎ Recurso aos materiais de apoio disponibilizado (material

capitalizável ou materiais auxiliares de escrita);

✎ Pedido de ajuda quando precisa;

✎ Resolução de problemas sozinho;

✎ Conclusão da tarefa;

✎ Preocupação com a apresentação.

Os indicadores utilizados para a avaliação devem estar adequados ao nível de escolaridade e ao nível real de aprendizagem do aluno.

Indicadores para 3º e 4º anos de escolaridade

• Escreve de forma legível;

• Deixa espaços entre as palavras;

• Gere adequadamente o espaço da página.

Competência Gráfica

• Escreve palavras usando método fonológico;

• Utiliza corretamente os sinais de pontuação;

• Respeita as regras do discurso direto;

• Usa corretamente a acentuação gráfica.

Competência

Ortográfica

• Respeita o tema;

• Adequa o texto à sua função;

• Respeita o formato do tipo de texto usado;

• Estrutura corretamente as frases;

• Organiza o texto em parágrafos;

• Gere adequadamente os conectores.

Competência

Compositiva

Outros indicadores a observar…

• Identifica objetivamente personagens, tempo e lugar;

• Introduz claramente novos elementos;

• Utiliza frases em expansão/complexas;

• Utiliza estratégias de substituição (uso de pronomes

pessoais ou clíticos, sinónimos, ...) para evitar repetições

excessivas;

• Recorre a estratégias que tornam mais precisas a

descrição dos acontecimentos;

• Desenvolve o tema numa extensão adequada;

• Escreve com imaginação e usa vocabulário rico e

diversificado;

• Utiliza corretamente a letra maiúscula;

• Utiliza diferentes tipos de frase;

• Respeita as regras de translineação.

Competência

Compositiva

Competência

Ortográfica

Avaliação, formação e classificação

Dois princípios básicos opostos

- a avaliação com preocupações de classificação

- a avaliação com preocupações de formação, isto é

fazendo parte do processo

focaliza-se nos processos (construtivista); fornece ao

professor informação e ao aluno sobre a sua evolução;

Função reguladora

Interação

Avaliação formativa e aprendizagem da escrita

- Realiza-se para promover a aprendizagem da

expressão escrita;

- Centra-se nos processos da sua aprendizagem.

A avaliação formativa

situa a ação educativa

de modo contínuo e em

termos de

desenvolvimento

próximo – Potencial

A avaliação sumativa

descreve o

desenvolvimento real

em função de um

referencial, formula

juízos de valor

Tomada de decisão

Avaliação da escrita

A avaliação tem uma função pedagógica, pois visa a melhoria do aluno fornecendo informações

relativas à progressão da sua aprendizagem.

É um instrumento de reconhecimento das mudanças que se devem ir produzindo no

processo, para que cada aluno aprenda de modo significativo.

Quando avaliar?

O que avaliar?

Como avaliar?

O que avaliar? • Escreve de forma legível

• Gere adequadamente o espaço da página

• Escreve palavras

• Escreve frases

• Constrói texto

• Respeita a instrução

• Respeita o tipo de texto

• Adequa o texto à finalidade

• Adequa o texto ao leitor

• Estrutura corretamente as frases

• Usa vocabulário rico e diversificado

• Utiliza a pontuação adequada

• Escreve com correção ortográfica

• Organiza os parágrafos

• Concilia progressão com continuidade temática

• Produz textos coerentes

• Seleciona informação pertinente

• Utiliza mecanismos de coesão

Produtos

O que avaliar?

• Empenha-se na realização da tarefa

• Cumpre a tarefa até ao fim

• Cuida da apresentação

• Colabora com pares

• Pede ajuda

Atitudes

O que avaliar?

• Clarifica: o que é que vou escrever? Para quem? Porquê? Como?

• Planifica

• Pesquisa e selecciona informação

• Mobiliza conhecimentos de outros textos

• Textualiza

• Revê

• Resolve problemas

• Utiliza materiais de apoio (dicionário, prontuário, listas de palavras,...)

• Reflete sobre a língua

Processos

Modelos de escrita e revisão

O texto escrito planifica-se, textualiza-se, revê-se, reescreve-se e partilha-se.

Professor

ao longo do processo

Supervisor

Estimula Orienta (explica)

Ajuda o aluno a corrigir o que faz

O Erro no contexto da avaliação formativa

“O ERRO não é mais do que o desconhecimento ou a não

consciência da arbitrariedade convencional da língua escrita e

deve ser visto como algo inerente ao processo de transformação

de um sistema oral para um sistema escrito de linguagem”,

(Pereira e Azevedo, 2005, p.50)

• Atitudes face ao erro

Causas dos erros das crianças‏•

- A importância do conhecimento da natureza do

erro para a intervenção didática.

- As Tipologias de erros

A ortografia na escola: atitudes face ao erro

Numa primeira fase, devem-se aceitar formas próximas do oral, sem preocupação de estilos de letras e caligrafia, mas deve-se explicar a diferença entre a fala e a escrita.

Deve-se ensinar a perceber o erro e não apenas corrigi-lo. A correção não deve ser um acto isolado do professor; o aluno deve ser capaz de corrigir os erros ortográficos, primeiro com ajuda, e depois autonomamente.

“Quando se corrige apenas, ensina-se pouco, com a possibilidade de não se ensinar nada. O aluno tem de ser o agente do seu processo de educação e não apenas um constatador daquilo que o professor faz e manda fazer." (Luiz Cagliari: 85)

A mediação do professor na alfabetização

• Estratégias para:

Descobrir fronteiras entre as palavras

Mostrar unidades sonoras mais pequenas que palavras

Adquirir a norma padrão

Ensinar a refletir sobre a língua

Introduzir gradualmente os auxiliares de leitura com

função separadora e organizadora

O professor deve descobrir a origem das dificuldades ortográficas dos alunos para as poder resolver.

Tipos de problemas encontrados (competência ortográfica)

Dificuldades na transcrição de sons – pode derivar de dificuldades

ao nível da segmentação, identificação e ordenação de fonemas ou da

incorreta utilização do grafema para representar o som;

Incorreções por transcrição da oralidade corrente;

Dificuldades ao nível da representação dos sons, pela presença de

uma irregularidade (por ex. viagem/viajar) ou várias possibilidades de

representação;

Dificuldades nas regras ortográficas de base morfológica;

Incorreções de acentuação gráfica;

Dificuldade na utilização correta de maiúsculas/minúsculas;

Incorreção por desrespeito da fronteira de palavra;

Incorreções ao nível da translineação.

Análise de incorreções ortográficas

Esta análise permite: Tomar consciência do tipo de dificuldades dos alunos;

Delinear estratégias com vista à sua superação.

☞ Construir listas de palavras, por exemplo, que se costumam pronunciar de forma diferente da forma escrita (igreja, cereja, ...);

☞ Fazer levantamento de palavras homófonas, contextualizando-as;

☞ Treinar a divisão silábica de palavras (obriga à pronúncia de todos os sons);

☞ Explicitação da regra morfológica, quando se aplica;

☞ Explicitação de regras de representação de determinados sons (por ex.: uso de <qu> antes de <e> e <i>);

☞ Construção de listas de “palavras difíceis”;

☞ Utilizar um registo oral cuidado do português padrão;

☞ Recorrer a autoditados;

☞ ...

Algumas Estratégias:

Texto Descritivo: “A cabeça do monstro ” (J, 8 anos, 3º ano)

Escreveu Devia ter escrito Análise da incorreção

soubre sobre Incorreção por transcrição da oralidade

frequente

mostro/moustro

monstro Dificuldades na transcrição entre o

sistema fonológico e o sistema ortográfico

au ao Incorreções por inobservância de regras

ortográficas de base fonológica.

ligua língua Dificuldades na transcrição entre o

sistema fonológico e o sistema ortográfico

(omissão de som)

“O meu fim-de-semana ” (C, 8 anos, 3º ano)

Escreveu Devia ter escrito Análise da incorreção

foi fui Incorreção por inobservância de regras

ortográficas de base morfológica

sai saí Incorreção de acentuação gráfica e

morfológica

la lá Incorreção de acentuação gráfica

pocado bocado Dificuldades na transcrição entre o sistema

fonológico e o sistema ortográfico

Internete Internet Dificuldades na transcrição entre o sistema

fonológico e o sistema ortográfico

“O fim-de-semana” (R, 8 anos, 3º ano)

Escreveu Devia ter escrito Análise da incorrecção

sai saí Incorrecção de acentuação gráfica e inobservância de regras

ortográficas de base morfológica

tiatro teatro Dificuldades na transcrição entre o sistema fonológico e o

sistema ortográfico

jugar jogar Dificuldades na transcrição entre o sistema fonológico e o

sistema ortográfico

nevel nível Dificuldades na transcrição entre o sistema fonológico e o

sistema ortográfico

queixo queijo Dificuldades na transcrição entre o sistema fonológico e o

sistema ortográfico

foi fui Incorrecção por inobservância de regras ortográficas de base

morfológica

A correção

1. O objetivo central da correção é que o aluno compreenda as

imperfeições cometidas e que as reformule: ênfase nos processos e

não nos produtos.

Por ex: o professor corrige os rascunhos e não a versão final de um texto,

colaborando com o aluno, ajudando-o.

2. A correção pode realizar-se de maneiras muito diversas:

- Individualmente;

- Em pares;

- Em grupos.

Sempre com companheiros variados com e sem o professor.

O professor deverá selecionar o que o aluno deve corrigir – a prioridade e

o momento de aprendizagem do aluno, isto é, as suas competências e as

suas dificuldades.

3. 10 Conselhos ao Professor

10 Conselhos para melhorar a correção • Corrija somente o que o aluno possa aprender; • Corrija enquanto o aluno tem fresco o que escreveu, ou seja, no momento em que escreve ou pouco depois; • Se possível, corrija as versões anteriores ao texto (esquemas/rascunhos); • Se lhe for possível, fale individualmente com cada aluno; • Forneça instrumentos para que o aluno se possa autocorrigir; • Arranje tempo para que os alunos na aula possam ler e comentar as suas correções;

• Não faça todo o trabalho de correção. Deixe algum para os seus alunos; • Dê instruções concretas e práticas sobre a sua correção e não comentários vagos; • Não tenha pressa em corrigir tudo. Assegure uma correção com qualidade; • Utilize a correção como mais um recurso didático. Utilize técnicas de correção variadas; adapte-as às características de cada aluno.

(Cassany)

O feedback na correção dos trabalhos escritos dos alunos

Tipo de feedback Descrição

A. Estratégias para dar feedback

1. Feedback direto O professor indica ao aluno a forma correta

2. Feedback indireto a) Identifica e assinala o erro

b) Só identifica o erro

O professor afirma que há um erro mas não indica a forma correta Por exemplo, sublinhando ou usando o cursor, mostrando as omissões no texto do aluno. Anota, na margem do texto, que há um ou vários erros numa linha do texto.

Rod Elis, A tipology of written corrective feedback types. ELT Journal – Vol.

63,number 2 April 2009

(Tradução de Luísa Solla)

O feedback na correção dos trabalhos escritos dos alunos

3. Feedback metalinguístico a. Usa um código

b. Breve descrição gramatical

O professor usa uma explicação de tipo metalinguístico sobre a natureza do erro O professor assinala na margem do texto usando um código, por exemplo: eo =erro ortográfico; art =artigo; O professor numera os erros no texto e escreve uma descrição gramatical para cada erro numerado no fim do texto

4. Foco no feedback a. Feedback não focado b. Feedback focado

É quando o professor deseja corrigir todos (ou maior parte) dos erros dos alunos ou seleciona para correção um ou dois mais especificamente. Esta distinção pode ser aplicada às duas opções que se seguem. O feedback não focado é extensivo. O professor procura corrigir todos (ou quase todos) os erros. O feedback focado é intensivo. Procura corrigir tipos de erros.

O feedback na correção dos trabalhos escritos dos alunos

5. Feedback eletrónico O professor indica um erro e dá indicação de uma hiperligação onde o aluno encontra exemplos de uso correto.

6. Reformulação O aluno procura reformular o texto.

B. As respostas dos alunos ao feedback

Para que o feedback seja útil na correção, os alunos precisam de o levar em consideração. Existem várias alternativas nesse sentido.

1. É necessária a revisão

2. Não é necessária a revisão a. Os alunos pedem para estudar as correções b. Os alunos limitam-se a devolver os textos corrigidos

Outras grelhas de avaliação da escrita…

Avaliação Diagnóstica. Expressão Escrita. 1º ano. PNEP (adaptado)

- Grelhas para avaliação da escrita:

1º ano (à entrada da escola); 2º ano; 3º/4º ano

- Critérios de correção de textos descritivos

- Tipologia de erros (síntese)

ALEIXO, Conceição (2005): A vez e a voz da escrita, Lisboa: DGIDC

AZEVEDO, Flora (2000): Ensinar e aprender a escrever – Através e para além do erro, Porto:

Porto Editora.

BARBEIRO, Luís (2007) Aprendizagem da ortografia, Porto: ASA Editores.

BAPTISTA, Adriana et al (sd). O Ensino da Escrita: Dimensões gráfica e ortográfica. Material

de trabalho do PNEP, não editado

CARDOSO, Adriana, COSTA, Manuel Luís e PEREIRA, Susana (2002): Para uma tipologia de

erros, Ler Educação nº2, 2ª série, Escola Superior de Educação de Lisboa.

GOMES, Álvaro (2006): Ortografia para todos – para ensinar a escrever sem erros, Porto:

Porto Editora.

MARTINS, Margarida (1998): Psicologia da aprendizagem da leitura e da escrita, Lisboa:

Universidade Aberta.

ROSA, Clarisse e SOARES, Júlia (1997): Reflectir sobre a Linguagem escrita, Portugal:

Ministério da Educação - Departamento de Educação Básica.

ZORZI, Jaime Luiz (2003): Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita, Artmed Porto Alegre. ZORZI, Jaime Luiz (1998): Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico, Artmed Porto Alegre.