Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

24
8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio). http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 1/24 l\11j\;ISTtRiO DM REI.AC;OES EXiERIORES .Him:r/ro deEstado: Professor CEl_<;O L\lTR .'i,m/alio Crra]: Embaixador O S\ L\ R CHO Hfl FUl\:DAc;:."n Au:XAI':WRE DE GUSl>tAO - FUNAG Pmirimlf: Ernbaixad ora TIIUUZA !\ f :\Rl,\ 1\ f .\<:11.\00Qn:--'1T.U.\ NORMAN ANGELL CEl'.'THO DE HISTOHIA E DOCllMENTAC;AO DIPl.OMATICA - CHDD Din/or: Embaixador ALVARO DA COSTA FRANCO INSTITUTO DE P£SQtJISA DE REU<;OES INTERNACIONAIS IPRI Dirt/or: Minima CARLOS HEKR1Qt'E CARDlM A GRANDE ,.; ILUSAO U Nl VE RS lD AD E D E B RA Si LI A Rritor: Professor LAL'RO MORHY Dire/or da Editora Uuiiersidad« de Brasilia: ALE XAl" DR E L lr .L -\ Conse1110 Editorial Elisabeth Cancelli (PruidfIJle), Alexandre Lima, E st ev ao C hav es d e R ez en de M a rt in s, H e nr yk S i ew ie rs ki .j os e Maria G. de Almeida junior, Moerna Malheiros Pontes, Reinhardt Adolfo F uc k, S erg io P au lo R ou an et e Sylvia Ficher, IMPRENSA OFICW. DO ES TADO DE SAO PAUL O Diretar President« em Exmido: L CI Z C AR LOS FRIGERJO Dire/or I"dMlna/: CARLOS NCOI .... E\VSKY Dirt/or FifUl!1ceiro(' .Adndnistratiio: RlCHARD VMKTlERG Prefacio: JOSe Paradiso Tradllfao: Sergio Bath l rn pr en sa O fl cl aJ do Esrado E .d it or a U nl ve rs id ad e d e B ra sl 1l a I ns ti tuto de P es quls a de Rela~Oes Intem<'\Clona\s sse Pilulo. 2002

Transcript of Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

Page 1: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 1/24

l\11j\;ISTtRiO DM REI.AC;OES EXiERIORES

. H i m : r / r o d e E s ta d o : Professor CEl_<;O L\lTR

. ' i ,m/alio Crra]: Embaixador OS\L\R CHOHfl

FUl\:DAc;:."n Au:XAI':WRE DE G U S l> tA O - F U N AG

Pmirimlf: Ernbai xa d o ra TIIUUZA !\ f :\Rl,\ 1 \ f .\<:11.\00Qn:--'1T.U.\ NORMAN ANGELL

CEl'.'THO DE HISTOHIA E DOCllMENTAC;AO DIPl.OMATICA - CHDD

Din/or: Embaixador ALVARO DA COSTA FRANCO

INSTITUTO DE P£SQtJISA DE REU<;OES INTERNACIONAIS IPRI

Dirt/or: Minima CARLOS HEKR1Qt'E CARDlM

A GRANDE,.;

I LUSAO

UNlVERSlDADE DE BRASiLIA

Rritor: Professor LAL'RO MORHY

D i re /o r d a E d it or a U u ii er si da d « d e B r as il ia : ALEXAl"DRE Llr.L-\

Conse1110 Editorial

E l is ab e th Cance l li (Pruidf IJ le) , Alexandre Lima, E st ev ao C hav es d e R ez en de

Ma rt in s, H e nr yk S i ew ie rs ki .j os e Ma ri a G . d e A lme id a j un io r, Mo er na Ma lh ei ro s

P on tes, R ein hard t A d olfo F uc k, S erg io P au lo R ou an et e S yl via F icher,

IMPRENSA OFICW. DO ESTADO DE SAO PAULO

D i re ta r P r es id e nt « e m Exmido: LCIZ CARLOS FRIGERJO

Dire /or I"dMlna / : CARLOS NCOI ....E\VSKY

Di r t/ o r F i fU l! 1 c e ir o( ' .Adndnistrat i io: RlCHARD VMKTlERG

P r e f a c i o :

J O S e Paradiso

Tradllfao:

S e rg io B a th

l rnprensa OflclaJ do Esrado

E.ditora Unlversidade de Brasl1la

Insti tuto de Pesqulsa de Rela~Oes Intem<'\Clona\s

sse Pilulo. 2002

Page 2: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 2/24

Copyr igh t ©

TituluOriginn!: Tl« (,"f'FtlI fllm;fJ!1

Publicadooriginalmcnte ern 1910

Traducao de Sergio Bath

Direitos © desta edicao:

Editora Universidade de BrasiliaSC:SQ . 02 blow C n". 7R , 2" . andar70300-500 Brasilia, DF

A prcsente c d ic ;a o f o i feita e m fo rm a cooperariva da E ditora U nivcrsidadc de Bra~iliaCOlli I)

Institute de Pcsquisa de Relac;i)e~ Internacionais (JPRJ/FUNA(;) c a l rnprcnsa (>fkbl do Es·

tado de Sin Paulo. Todos os direiros reservados con forme :1 lei. Ncnhurna parll' dcstn l'\1h!k~·

c;~{)po(lcra ser arrnaxenada ou reproduzida pot qualquer mcio scm ;l\lI()rir.:I\·;"tll pm esrrit» &1

Ed i to ra Unive rs i dade de Bra si l ia .

Eq l I ip e l im i ca :

Errn SATO (Planejamento editorial)

ISAIlEl..A SOARES (Assistente)

VERAUlelA GOMES SEVl'ROLl.l DASII.VA (Revisao)

F o to li to s , i m p re s sM e a e ab am em o :IMI 'RENSA OFlCIAl. 00 £sTAOO DE SA o PAULO

Dados Internacionais de Catalog;t t;ao na Publicacfio (UP)

(Omara Bras ile ira do Linn. SP, Brasi l)

Angell. Norman

A grande ilud'!.1Norman Angell; Prcf,\cio de

Jos' Paraduo; Trsd, Sergio Rilth (Ia. cdj~io) H r , , ~ n i a :F~lilorn Uni\ 'cn.idl ldc de Bmsilill. InMil l l l1 l tie PC~'lUI~~ic Rd \1o; i . .. ,

Imefllllc;nnn,,; Sao Paulo: Impren~ (}fici:!! dll Esw,l" .It ' S~OPinll". 21MI2

LVI. 312 P. .2..1 em - (Clissico§ IP RI, 6)

I - Rd:a;;l~ Inrernacionais; I. t irulo II. ~crie.

em.: - . 32 7

Indices ara catalogo sistematico:

. .SUMARIC)

PHI'TAClO A EI)I(;'\O llR:\Sll.l·:lRA 1 :\

i'RI'.h\CJ() i)() "trIOR ,\ FDJ(;,\() F.Sl'.\NII( 11..\ 1 .1

SlN()PSE 1 . 1 1 1

I.

II.

1 1 1 .

IV .

V .VI.

PRli\IE1R/\ PARTE

() a sp e c to e c o n t im ic o

Defcsa da guerra sob 0aspccto cco nornj co :)

Os modernos axiornas estatisticos 1 I

A grande ilusao 21

Irnpossibilidade do confisco ) 7

ocornercio exterior C 0 poder milits r .., :; I

o sofisrna da indenizacfio (}7

VII. Da posse de colonias ; "' B t

\rI'II~1 "1· 1" . 09/1. uta pot urn .ugar ao so " . 1 .

IX. 0 que ensina a historin conrcrnporanea 1 15

SE<;UNlA PARTE

A natureza bumana e 0 mpu/o moral

1. Defesa psicol6gica c.la guerra 135

II. D efcs a rsicokl~~jca da pa7 . 14::;

Ill. A pe rmancncia (b natureza bum ana I(ll

IV. A s n a< ;( ") cs bclicosas posstlern re a lrnc ntc a te r ra? 1R5

V. A forca flsica como fatur de impo rrancia decrescenrc:

resultados psicologicos .." 211

VI. O Estado considerado como tim individuo: falsidade ( 1 : 1

analogia c suas co nscqiie ncias , 237

Page 3: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 3/24

TERCElR.\ P:\RTE

Rcs l f l t a d o s pra/ieos

1. Relacao entre defesa e agressao 261

II. Armamentos, mas nao so arrnarncnros 269

111. Sera possivel a reforma politica? 2791\'. Os merodos 291

}:-":1)IC£ REMISSIVO 303

PREFAcIO

Norman Ange l l :

A Grande Ilusao

J o se P a r a di so

P,\CIFlSMO e militarismo na frontcira entre dois seculos

juntarnente com asquestoes social, nacional, dernocratica e religio-

sa, a da guerra e da paz foi ur n dos temas que rnais provocou atenciio

por parte dos que viverarn na transi£ao entre os stcuJos XIX e X " X ,

fossem governantes, intelectuais ou homens e mulheres comuns. Em

torno desses ternas ocorreram os mais inflamados cheques politicos e

os mais ardorosos debates ideo log icos .' Cer tarnenre essas preocupacoes

nao cram novas, mas urn conjunto de circunstancias, entre elas a forma

como tais ' lues tees s e v incu l avam entre s i , f a ziam com que ganhassem

uma intensidade como poucas vezes .00 passado,

Devido a distancia em que pareciam ter ficado as dispuras

napoleonicas e as caracteristicas da ordern rnundial gue as haviam suce-

dido, o s rn ais otim isras se tinham apressado a anunciar 0 desapareci-

mente definitive do flagelo da grande guerra. Julien Benda lernbraria:

"Em 1898estavamos sinceramenre convencidos de que a era das guer-

ras rerrninara, Durante os quinze anos transcorridos entre 1890 e 1905

os homcns da rninha g e r a s - a o acreditaram realrnenre na paz mundial."Sern duvida essa ideia resultava da constatacao de que durante qUilse urn

scculo tinharn sido registrados dois grandes ciclos de paz, c 'jue so hem-

vera ccrca de urn ana e meio de lura entre os maio re s paises europeus.

No cntanto, atribuir essa crenca aroda urna gerat;::io era um cxagcro,

sobrerudo porque esse otirnisrno ccntr astava com urna corrida

armamentista que crcscia ano apes ano, c na qual as porencias ernbarca-

varn com enrusiasrno nso dissimulado,

Page 4: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 4/24

Naniralmenre, os fatos poli ticos e econornicos se tocavam em muitos

ponl05, estabelccendo rda~6es complexes COI11as ideias. As mudancas no ~'J; '_I".'0{; i

m:lpa do poder e a c re sc cn te c or np er ic ao entre as porenc ia s alimentavarn a rf.~ IIJ''"'>

<' \~rrid~i~nEcrialist, ' l, dilatando assirn 0ambito geogr.i.fico ern que cia sc ,'_

desenvolvia. Urna apos a outra, as rc,l,"u('"sp erifericas d is po niveis p ara a

cxpansao curopeia cairiam sob 0 controle de porcncias .ividas de mercados,

de posicoes estrategicas ou simplesmente de gloria e presngio. Esse m O \ " 1 -mento, que n ao s e l ir nit ou ,'l O Sprotagonistas europeus, mas i nc lu iu Q aporte

de duas potencias emergentes - os Esrados I,'nidos e 0Japao -, tinha co-

rnecado no prindpio dos a110S oirenta, acelerou-se por volta de 1885 e reve

seu maier desenvolvimento entre 1890 e 1906. Apos esse ano, 0processo

tendeu a diminuir de impulse, ernbora continuasse a oferecer motives de

friccio, como ocorreria com a crise marroquina de 1911 .

19ualmente profundas eram as transforma<;oes que ocorreriam na I f l '>

esfera militar. A explosao dernografica, os novos padrocs industriais e O _ Idesenvolvimento cientifico se uniriam para montar um ccnario que vi- . { j ' l '

.\'\

nha ~n:adurec. en?o desde m~ad.os do seculo mas que em ~ua ultima fase Q'~' ~ _ . t J . "

adquiriu pedis singulares e impulse renovado. Independenrernenre da Y./trapidez com que se integravam nos corpos doutrinarios des Estados , , , , i ' , - u J . ) J f'

. 1* > JJ \JMaiores, as inovacoes no campo dos armamentos, juntarnente com a' \ '

revolucao das cornunicacoes, anunciavarn a transforma<;:ao radical cia ~ . , Y

natureza da guerra, sua dura<;ao , inrensidade e consegi .iencias humanas

e materiais. 0fuzil de carregamento automatico, 0 aperfeicoamento cia

metralhadora, a polvora scm furnaca, com base na nitrocelulose granu-

lada, a dinarnite e a cordite, os canhoes rctro-carregaveis de maior po-

tencia, alcance, precisdo e rapidcz de tiro, os couracados mais vclozes,

dotados com maier porencia de fogo, as minas rnaritimas, os subrnari-

nos e rorpedos, os dirigiveis c, pouco depois, os nvioes cram as pc<;as

rnais destacadas de arscnais beneficiados pOT urna inovacao tecnologica

(]ut: parecia inesgotiytl c yue alimentava a corrida arrnamcnrista, ern

t c r m o s q u a n t ia r i v o s c q u a l t a r i v o s , n a q u a l s c c r i a v a u r n a

cornplemcnraciio funcional entre 0 Esrado C0 mercado.

Ano apos ana as grandes empresas, dcdicadas a producfio elm ins-

rrurnentos de t - ,' 1 .lC rra 111a1S sofisticados, produziarn artefatos de maier

x "I~ (.,'I~"

, ). .~) ~ . :' - :"t ~ .. , ,- ..../

. t~·I. • ,,/"

;\ rigor, durante toda a ultima parte do seculo XIX, um novo cena-

,// rio mundial se havia formado, com a completa convergencia e cruza-

,.~ mente de ideias e de fates, pOl' t.as dos quais estavarn as forcas da in-

t dustrializacao e do nacionalismo, ambas destinadas a minar as bases do

sistema pos-napoleonico, Na ordcrn dos fatos, sobressaiarn as crescen-

res tensoes ague se via subrnetido 0equilibrio manifestado como urn

concerto de potencias, mas que em ultima instancia descansava sobreos ombros da lnglaterra, e que perrnitira 0grande hiato que se seguiu ;1

Conferencia de Viena. 1\ efervescencia nacional golpeava as bases do

sistema internaciona1. A guerra franco-prussiana nao 56 selou a unidade

.:/ alerna, como queria Bismarck, mas ativou uma nova 16gica de

s '_. rencomoda~oes c confronta~6es entre as potencias, as quais corneca-

.:.,' ram a elaborar uma trama de wans-as e contra-alianr;as gue promo'.ia

anirnosidades, preven£oes e previsoes.

A o lade das c i rcuns tanc ias politicas, mas nao de forma independen-

t :" te, produzia-se uma transforrnacao no cenario econornico mundial, de

,o." ,:l facetas variadas e com multiplas consequencias, 0 gue importava nao

,; , r> eram as manifestacoes conjunrurais - ret racao entre 1875 e 1895 e expan-sao de 1895 ate as vesperas da Primeira Grande Guerra - ou 0desernpe-

nho de novas potencias industrials que reduziarn as vantagens obtidas

pela .Ingla terra, mas sim 0 fenorneno gue havia na sua base: uma nova

fase do desem'olvimento capitalista materializada na aceleras:ao do iI1 1 P J : l l -

!".ointe rador do mercado mundial, associado a impression ante progres"

so recno16glco. Qualquer que Fosse 0 lugar ocupado pc 0 0 servador nes-

seprocesso, e a sua in terpretacao do mesrno, ningccrn deixava de perceber

it presen<;:a ,ada wz maior do poder ~u::~ncei~o e da grande empresa, e

rnenos ainda a "diminuis:ao do mundo" e a fenomcnal in terde££nd~0_cia

dos seus cornponentcs, produzida pelos : l\ ': tn~os assombro$o$ nos trans-

l~ ! !ES e nas comunic.' lC;()cs. Como lernbra ~rarc Ferro, n() transcurs;~·-{Te

POUc:lS dccadas "as distancias dirninuern, 0 mundo cncolhe, os inrcrcarn-

b ios sc mulriplicarn c a unidadc dos hcrnisfcrios c afirrnada." 1

A GR\',\DE Iusxo Pre facio a cdicao brasileira xr

Page 5: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 5/24

XI I A GR.l\l\:OE Ir.rs.to

porencia rnortifera, e se ernpenhavarn em arnpliar a carteira de sua clien-

tela, form ada por estados, Para isso aproveitavam todas as dispuras, pri-

r ne ir am enr e a cu la n do - as , d ir et a o u i nd ir et ar ne n re , d ep o is v en d en do s ua s

arrnas aos dais grupos em conflito, Do Iado dos Estados, a logica de

iguaJar forces com rivals efetivos ou presurnidos predorninava sobre a

pruden cia on;:amentaria, Nenhum deles parecia disposto a perrnitir deborn grado cjueos outros se tornassern mais fortes , e a adocao de arrnas

mais sofisticadas exigia dos rivais um novo esforco para njio ficar em

posicao de inferioridade, A construcao de cada urn estimulava ados

outros, e todos definiam a sua sCb:ruranc;aem terrnos da posse de uma

superioridade de forcas que dissuadisse qualguer rival eventual. Na ver-

dade, a paz armada nao seria monopolio das grandes potencias europei-

as, estendendo-se tarnbern as regioes da per i fer ia onde houvesse paises

com l itigios fronte iricos ou desejosos de ganhar poder ou influenc ia.

o aumento da populacao permiti a forrnar grandes exerci tos, base-

ados na instauracao do service mili tar universal, pratica gue se difundiu

r ap id am enr e d e pais a pals, a partir do exernplo dado pe1a Alernanha.Entre 1870 e 1896 os efetivos militares desse pais triplicaram, chegando

a t r es m i lhoes de homens; os d a F r an ca igualaram esse numero, os da

Russia ultrapassaram quatto r nil ho es e os da Austri a o s d ois r nil ho es ,

No mesmo periodo, as despesas correspondentes a defesa nacional das

principais potencias europeias aumentararn em mais de cinquenta par

cenro, Paralelamenre, os rnil itares galgavam os lugares mais altos na es-

cala do prestigio social, e a vida nos quarreis era cvocada como um

afastamenro benefice das vicissitudes e incerrezas do rnundo do traba-

lho e dos ncgocios.

~ A,despeil:> de Sua CUrta duracao, 0 cont1 ito franco-prussiano d~

! . ! i ! ( ) . . 1 8 7 1 h:ma represent-ado um pas so adiante no senrido da "guerra~'. Nunca antes 0Estado c a populacao de urna sociedade se haviarn

t'mpenh:ldo daque:b forma em uma lura de: morte contra 0Estado c a

popubt; :io de outra. Dizia-;!It: que os dais povos mais org:mindos e na-

Cl()nalr~f:l<;d a E uro pa t in ha rn c hc 1- ,': 1d oa "degolar-5c m urunm cnte". ~C5S :l

glll:rr:l. plf:l a 9u,! 1 as duas porencias mobilizararn quasc [res rnilhoes c

Illl'lO de 501<1:'1(105, as baixas por rodos os motives forarn de ccrca de 450

Preficio a ed icao brasi le ira XIII

mil, e no transcurso das hostilidades foi introduzida urna novidade arcr-

radora: 0bornbardeio de cidades indefesas .

o q u e e st ir n ul a va 0 n cgocio das arrnas para alcntar a p az arm ada

''fa a difusaD -ias ideias do "nacional rnilitarismo", com su a conjucacao ,

d::_ reajismo politico com a exalta<;:a? dO~~~E' Como se s ab e, ~ ~ ~' d (; ~ Iii.

fcnomcnos ideologicos mais sincb1.llares da segunda rnctade do scculo

~ c "-

XIX foi a conve rs ao do nacionalismo de cunho l iberal, surgido com a

Revolucao Francesa na condicao de ideario do di reito das naciona lida-

des, em urn pensarnenro reacionario gUt opunha a nacao a dernocracia,

e se incurnbia de auspiciar a expansao imperiali sta , A for<;a e 0 '~£~~Q.

egofsmo" eram os tra<;os caracteristicos de uma no\';! con~c;ao da na-

<;3:0.A vibracao pa triotica se difundia por todo 0 corpo social, conver-

tendo-se, de certo modo, em uma das formas de reacao colctiva diante

dos fenornenos nascidos da unificacao economics do mundo. Esra ',';.

b racao l eva r ia centenas de rni lhares de j ov en s a os campos d e b at al ha

com, um a atitude de j ub il o f e st iv e ,

o nacioruWsmo de tom patri6t ico encontrou um aliado inesE<:E?-do no progresso da educa¢io e no surgimento da jmprensa de m: :. s: - ;: ,

Nao se verificou a presuncao liberal de gue esses progresses deveriam

conduzir a fo rm ac ao d e u rn a opiniiio publica bern informada que a rna s-

se para conter os I rn p er os d is cr io io n ar io s e b el ic os os d e r eis , g en e ra is e

diplornatas; com efei to, estes encontrari am novos prerextos para os seus

jogos de p od cr, A Io gic a capitalista nile se atraicoava: os lucros d e m ui-

tas empresas jornalisticas cresceriarn a medida que inflarnavam as erne-

<;oes dos lei rores e seus preconce itos etnicos, re ligiosos e naciona is.

,\ legitima~o do lexico do poder consriruia ~~!l.;~n~1.,?~"f'l5?;~_car~.:

teristicas da cpoca. 0 que politicos ou governantes esravam natural-

mente dispostos a fazer encontraria respaldo \"al io~ na ~.rb'l1ment:H;il (~exibic ionist a de filosofos e c ie nt is tA s . C on fo rrn e a recornendacio de ur n

cstadista austriaco, ccoando li~()es de Treitschke, tratava-se de gut: CJuem

tivesse poder decidisse conserva-lo, utilizando-o em scu provcito, 0

filosofo \'('al ter Bagehot afirrnava: "As nacoes rna is fortes rcndern a pre -

valecer sabre as outras, c em certos aspectos notaveis a rnais forte tcnde

a ser a rnelhor,"

Page 6: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 6/24

· .;" ,'" Para uma geracao que vivia sob 0extraordinario impacto inrelec-

' \~ - ~ .( r ua l d a O n g p" d a s E r p ir ie s, era incvitavel a e xt en sa o d as id eia s de Darwin

\S'.: ao campo sociale politico, 0 poder e a forca seiiarn criterios irrecorriveis

\ ,:{ da verdade . .\ conversiio do conceito de nacao ao nacionalisrno com

- certeza nao teria sido POSSl \ 'e l , pelo rnenos com a virulencia com que

ocorreu, sern a irrupcao, com respaldo cientifico, de urn novo elemento

d a c u lr ur a po li ri ca da e po ca : a id cia de que na vida do homcm a compe-

n<;::1.oao podia ser considerada qualitativarnenre diferente da existente

na natureza.

Esse nacionalisrno, forternentc comprornetido com a corrida

arrnamentista, se cornbinava com urn pensarnenro belicista que, por sua

vez, crescia com a contribuicao de diferentes vertentes, Este era 0 raci-

ocinio dos que viarn a guerra como urna fatalidade, it qual era necessario

ajustar-se com realismo mais ou menos resignado, assim como dos gue

proclamavam a sua conveniencia e estavarn disposros a dar-lhes as boas-

vindas, Uns argumentavarn que 0 flagelo tinha raizes na agressividade

intrinseca da natureza humana, sendo portanto irredurivel, Outros di-ziam que se trarava de urn fator adequado para proteger ou restaurar a

saiidedas sociedades; segundo Renan, era "a chicotada que impede gue

urn pais adorrneca e que obriga a rnediocridade a sacudir a sua apatia".

Para 1 . . 1 : 1 5 , era a caldeira na qual se fundiam as forcas revolucionarias ,

para outros a arena apropriada a restauracao das virrudes arisrocraticas.

Em certas ocasioes, era 0 meio de recuperar as forcas espir iruais de

sociedades carcomidas pelas materialidades burguesas; em outros ca-

50S, a oporrunidade para ativar 0 aparelho produtivo, saldar as comas

sociais internas e impor silencio a agitacao revolucionar ia .

.\ rigor, est" "ariedade de abordagcns podia St:rre-sumida em duas

~tes princip:us;a que cnfatizava as morivacoes de ordem material .~:l gU t pondc~\'a 0 5 c om p on e- ne ts t sp ir it ua is : imcrcsscs pr;\cicos ou apc-

Jus mOf : US .Ora a guerra era defendida em nome das \'am:lgens econo-

nliC:l~ (jut: propor~;~;~~·;;n~~d;;::r:;;;po-;;t~~~-~~-moym;ntTd~u)contra 0yirus do rnarerialisrno consurnista.

Para rcconstruir 0 c li rn a pn ;~dom i na nt ~ na epOCI e precise levar em

1 - conra a for<;a<jlle chc:gou a rer essa "crica da guerra"; da mcsrna forma,

A GR;\:-\DE IIHAo

• 1

Prefacio a edicao brasileira

essa percepcao e irnportantc para que se cornpreenda as razoes pelas quais,

qu an do f in alm en te a f , 'Ucr ra aconreceu, foi recebida com j ub il o a ur en ti co

pelos po\'os afetados. Sustentava-se nao s o gl!S a12!:l.z ~~ra(!2urE- ('r~~~'!]

SOMO, m as q ue era ur n 50nho perniciosC2.V ia -s e a b ar al ha como u rn c le -

mento da ordern divina do rnundo, em que se manifcsravarn as virrudcs

mais nobres do homcrn: a coragem e a abnegacao,0

sentido do devcrL ()

esp ir i to de sacr if i cio : os soldados doavam a sua vida sern e x ig ir q u al q uc r

compensacao. Sem a guerra 0 mundo se estancaria, perdendo-se em _~~~j-

dades priticas, de valor obscur~. Dezenas de textos testernunhavam esse

ponto devista. Humboldt dissera que a acao da guerra sobre 0caratcr de

urn povo era "urn dos instrumentos mais proveirosos para 0apcrfeicoa-

menro do genero humano, devido a insuficiencia do estimulo de outros

perigos", e Victor Coussin declarou que era "precise aplaudir a f,'UC1T'd c

glorifica-la,ja que nao hiturna s o batalha que a civilizacao tenha perdido.

o vencidoe sempre quem merecia se-lo." Nao podia haver grandeza ern

urnanaciio sern fundamento no campo de batalha, nern tempo tao exten-

so quanto "0 tempo supremo da guerra",De certa forma 0 militarismo aumentava ~llas apostas te6ric3~ e

sua gestio pr.:>pagandistica para neutralizar a corrente pacifista Que,.!'..em

chegar a converter-se em fenomeno de envergadura, v-inha crescendo

paraJelamente a transforma~ao da guerra mode-rna, expressando-se atra-

ves d e vozes e as:oes individuals, assim como a cri:l ):lO de inst itukoes

dest inadas a advogar contra a g:terra e suas conseguencias. Na verdade

essas organizacoes surgiram nos Estados Unidos c na Gra-Bretanha

poueo depois das lutas napoleonicas, nurridas de espirito religiose, par-

ticularmente no caso dos qll(Jh:rs, e sustentadas pelos defensorcs do li -

vre cornercio, cujos adepros financiavarn rnuitas vezcs as suns ativida-

des. Em 1843e 1848 forarn realizados congresses de alcance rnundialnos quais 0 rerna do desarrnamcnro foi considcrado .

AGuerra da Crimeia (1854-1856) e os confliros da decada de 1860

abriram uma nova ctapa na historia do pacif isrno, dando-lhe rnaior im-

pulso, S u rg ir ar n e n ra o muitas entidades que, com freqi.icncia, carninha-

varn em paralelo 30S grupos socialistas. A corrente sc ampliou a partir

de 1870, de tal forma que, pOl ' volta de 1900, ja havia mais de (~U;l . t fO-

Page 7: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 7/24

Page 8: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 8/24

;" ' \ '111 A GR:\XDE ILl'sAoPre facio a edicao brasileira XI X

Era previsivel que esse movimenro pacifists se sornasse com enru-

siasrno a i n ic ia t iva in sp i ra da pelo Czar da Russia, ao f in a li za r 0 rnes de

agosto d e 1 89 8. 0:icobu I I p ro p os a todas as nac,:oes a real izacao de urna

conferencia dest inada a discutir a siruacao e a p ossibilidade de urn acor-

do p ara a l irn itacao de arrn arncn tos, () documcnto com 0q ua l o s g o\'c r-nos rcpresenrados em Sao Petersburgo cram convidados a participar do

evento rnencionava 0impacto economico de urna corrida quedesperdi-

cava rccursos: "0 sistema de aquisicao de arrnamentos scm lirnites esta

transformando a paz armada em urn onus angustiante que gravita sobre

as nacoes e que, se prolongado, conduzir.i inevitavelmenre a um cata-

clismo que e precise evitar". A consistencia logica da exortacao nao

bastava para desfazer 0medo das verdadeiras inrencoes da diplomacia

czarista, e menos ainda para dissuadir aqueles que estavarn longe de

desejar que esse cataclismo fosse evitado, Finalmente, a conferencia se

reuniu em Haia, em maio de 1899, scm que resultasse em qualquer acordopara provo car uma pausa na paz armada.

1\ logica do confronro fazia com que fossem insuficienres rodos

os diques que se 'luis construir para center 0impeto guerreiro, de modo

que 0 seculo X.X cornecou com "urn ressoar continuo de tambores"-

con forme 0 titulo dado por Barbara Tuchman a urn dos capitulos do

seu livro cio citado.' A guerra do Transvaal e, poueo depois, a guerra

russo-japonesa foram advertencias premonit6rias. A preocupacao bri-

tanica em manter sua cornoda vanragern nos mares e os programas na-

vais alemaes davarn urn novo impu1so a corrida arrnamentisra, 0 lema

do almiramado alernao ("A Alemanha dcve rer urna esquadra do fane

que irnponha urn risco, em caso de araque, ate mesmo ao adversario

dotado do poderio naval rnais formidavel") desafiava abcrtarncnre a su-

prernacia brit:inica. 0 padrfio estratef,rico pas sou a scr 0dominic dos

mares, seu instrurncnro os couracados rnais potcntes que podiarn scr

construidos, a sua doutrina ados livros do Almirante nortc-amerirnno

.\lbert , \!:Jh::m. :\ pri rneira lei naval foi apro\ 'ada pclo Rrirh,r/t{f!, em 18<)2,

e u rn n ov o projeto f o i a p rovado em 1900, :\05p rim ciros rn eses de 1 90 Ci

a l ng lst erra lan co u ao mar a prim eirs de um a serie dessas grandes uni-

d ad es , e B erl im preparou 0 SlU t er ce iro -p ro gra ma n av al , gut previa a

aceleracao do ritrno de producf io dcsses navies. Pressionada pela opi-

n ia o p ub li ca , :1 auioridade naval reve yuc r ea fi r m a r 0 "Tu-o POll't'rJ

Staudard' , segundo 0 qual a Corea devia contar com uma frota tao forte

quanto a do conjunto das duas outras maiores potencias navais, e em

1909 precisou enfrentar a prcssao dos que propunharn a construcao de

oito unidades por ano, contra as quatro anuais previsras pel a Alernanha.

o refrao "IFf n en t e ig ht a nd Ji'e w o n' t J m ;/ ' ("Passamos para oito e nao

vamos ficar esperando") se converreu em urn slogan de rapida assimila-

< ; 2 . 0 por parte de uma sociedade convencida de que essa era a forma de

garantir a sua seguranca.: : > , •

Nos dois p ai se s a v id a p ar ec ia g ira r em torno d as res pect rv as m an -

nhas de guerra. A Alernanha nao podia construir urn submarino ou

montar um novo canhao naval scm que a imprensa briianica lancasse

gritos de protesto, e scm que os tecnicos calculassern laboriosamente o

seu efeito sobre 0equi lfbrio das duas forcas, Os rornancistas produziam

obras que tratavam da invasao do solo briranico pelos exercitos ale-

maes; em rnais de urn teatro eram representadas cenas de urn eventual

ataque; a imprensa popular publicava relates espantosos sobre a desco-

berra de pianos secretes de invasao,

o 00\'0 capitulo des sa paz armada gra\'itou na celebracao da S e - Igunda C on ferencia Intcrn acional de H aia. A rigor, a ideia de urna reu-

niao desse tipo tinha surgido na mente do presidenre Teodoro Rooseveltpor volta de 1904, mas para que se concretizasse foj precise aguardar 0

fim da guerra russo-japonesa, em que 0 proprio Roosevelt aruou como

mediador, [:111 1905 foi novamcntc 0 Czar quem rcrornou .1 iniciativa,

que Roosevelt concordou em acornpanhar c que conrou ern seu

com a chc:g;ld;l :10 podcr, na Inglaterra, de urn gon:rno liberal com incli-

n:I):ao pad-fist:l, favoravel :10 desarmarnento c a criacao de tim tribunal

perm:locntt de arbitragem, Depois dt cxtcnsa tramitacao que bloqueou

:J incorporacdo d o rc rn a d o d es arr na rn en ro il a gc:n da d a Confercncia,

esta teve inicio no dia 15 de junho de 1 907, e st cn de nd o- se p or qU:UfO, Ihdm. \\: Tuchrnin, h. i'r,.~.ihofr;.J :,""7'.;:1 or' ,'1. 1I'{,rid l.!r!im:l~ I r ; t t ; lS~1).f914. :-:.Yo,l., \hcmdbn. 1(J(,(, '.

%

It1\

Page 9: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 9/24

xx A GRANDE Il.us;\o

rneses.' A margem das convencoes gue forarn f ir rnndas , cspcc i fi cnndo

regrns, direiros e restricoes, esta segunda c:'lwrit' .ncia 11:'10 ten' mnis ('xi"

to do gue a prirncira, c nada pock Fazer para impcdir tlllC a (."()rrid:1

armamentista prosseguisse com 0 impulse de scrnpre ."

Norm an Angell e ''A Grande Ilusao "

Esta era a situacao do mundo em 1909, ano em tlue Norman

Angell, alarmado pelo rumo gue tomava a corrida arrnamcntista e 0

fracasso da recente reuniao em Haia, publicou 0 que viria a SCI' postl'-

riormente a obra que lhe daria farna, e cujo titulo, segundo sua pro-

pria confissao, tomara de versos de Milton. A rigor, a primeira cdi-

r;ao do livro tinha sido urn texto curto, aprcs,cntado com modestia,

sob 0itulo E u ro p e} O p ti ca l Illusion (A l i t/ s i lo d e O tic a d a lillropa), mas noqual 0 autor j: i desenvolvia 0 que seriam as linhas gerais da sua tese,

Em edicoes sucessivas, publicadas antes da Primeira Guerra Mundial

e traduzidas para varies idiornas, Angell arnpliava consideravelrnen-

te as suas observacoes, incorporando as respostas dadas a criticas

provocadas pela edicao original, especialmente as canalizadas pelo

D aib' M ail, 0 orgao da imprensa normal mente receptive a s teses

. belicistas e defensor ferrenhos dos programas navais, alern de regis-

trar os novos acontecirnentos mundiais daqueles anos,

Quem era Ralph Norman Angell Lane e qual a sua trajctoria ate

aquele memento? Nascera em 26 de dezernbro de 1872 em Holbcach,Lincolnshire, na Inglaterra, e sob a influencia dos irrnaos rnais velhos

freqiientara textos de Spencer, Voltaire, Darwin, Huxley e Stuart Mill,

cujo Ens a i o 101m 11 l.Iberdad« seria Sua prirneira e perrnanentc influencia

intelectual importanre, Quante it eclucacao formal, passott do nivel pri-

1"; ;; ;;;00 ~-;~~~;- de f 'IUlkipMlrrs - 44 pai'IC~ C: 256 ddt~~ln~, entre drs n~12nt(~ < I < . ..

p a ls es i aUno - lIm cr io J 1o s, c o nt n2i l p a is es e 1 0 8d ck - g: ul c> l \ ttl! Cnnfc: t inc i :l p rec« l ro IC~ hlnm.' m;Jdl~qtt.ltm cornis,~'JCS- de a t bi tT ll h 'cm , ~ t (> l \ bchc{!~J)0:mr e IU , t r : : n e .k).,%t"t(~~mannma.

• Urn dado cunoso foi a Of'<>l \i \. io da Gr i·Brc taoha e dm I.·s!:!dns l'mdns:! prr:'hl\:lo ~}nemprc-

go de balas dundurn e do uso de ga~s asfixiarucs, (om 0 ,u,"."uTnentn de que nan qUCf1afTI ltnpor

restricoes a invcntividade do sees cichdaoli para criar arrnas de guerra.

Prcf:icio ;'1 e t l ic ;ao b ras r lc ir« \\!

mario CI11 londrcs pam 0 liccu em Paris,\'oltando a I,()ndrcs p;ll'a :1

cscola de comercio e, finalnwntc, ror urn curto perioclo, csrudou 11;1

Universidadc de Gencbra, Tudo isso ate os dezcsscte anos, id;H.k corn

que part iu para os Estados U nidos, A li tC\'C a s p ro fi ss oc s m a is v ar in d.i s,dcsde agricul tor, em urn vinhedo, at e vaqueiro. Por firn, dcdicou-se :10

[ornalismo, atuando como reporter em varies diaries. Em 189R voltou :l

Jnglatcrra c dcpois sc instalou ern Paris, onclc confirmou CS!:1 ultirn»

vocacao trabnlhando como sub-editor de um diario publicado em in-

gles, e aruando como correspondenre de varias outras publicacoes.

Es sa a ti vi dad e j or na l is ti ca 0 farniliarizou com 0c en ario m un dia l, ()

impacto de episodios como a guerra entre os Estados Unidos e a Espanha,

() caso Dreyfus e a irrupcao do "[ingoismo", 0 nacionalismo exalrado que

invadiu a Inglaterra na epoca da guerra dos Boers, 0evaram a publicnr

s eu p r imei ro livro, em 1903 : Pa /1 iot i J !11Under ' ! 'h reeJ · If {~ .f : P l ea /o r H . t 1 t i r m a / i w l

in P o l it ic s ( P a tn o t iJ f l 1 o s o b his b a n d e i r a s : '(!lla d ~ ( e J ( 1 d o mr ir /f 1 rl ii .m lO 1M pol/tifr,).

Segundo seu proprio testernunho, alern do objetivo de propor urns visno

Clue se afastasse da s interpretacoes marer ial i st a s pe l a enfase no p ap el d as

ideias, esse texto foi parte das gestOes quetinha feito pata impcdir urn

conflito entre os EstadosUnidos e a Gra-Bretanha, devido a s divcrgend-as sabre a forma de se posicionar dianteda questao venezuelana .

Mas 0 nome de Angell esta i den t if icado com A Grande j l ! 'J (lO , 7 ( )

que se explica peIa enorrne repercussao do livro, que vendcu rnilhares

de exernplares, foi traduzido rapidarnenre em varios idiornas e mercceu

a consideracao de rnuitos <los principais homens publicos da cpoca.

Mas terrninou deixando na sornbra uma vasra proclucfio ljUe se prolon-

gnu at e a decada de 1950, Angell morrcu em 1%7, aos 95 anos, e tern n

seu crediro rnais de quarenta rirulos, inclusive urna alltobiogra fin,

publicada em 1951. Por outro lado, aquele livro e0seu nutor pcrrnanc-

cerarn envolros em urn cquivoco notfivcl , rnnro no p lano :len t l l 'm ien

como no <lasopinioesmais gencrali7.:Hbs do publico. Suas ideias foram

, T hr (;rrtJt / l i u .r i e . n ; . . ..1 "'INdy o ( fbf Rt;;:ltitm rl l:!rm'(f i;:;\.'fi/{hN! t~')br'l: '- L:i't;;~f)b;;( iJ:r;/l \·t~iii.i~~

.-ldl\iII"~I:(, 1.ondres, Hci~e!;\;H1n. l'Jl(}, "N orfC~t"nt,

t'fudo;1, t:ir:H;"n

l,an{ 1 . 1 n:rS30 e~p:\!lh"bl (1'-1 Ct ;mt i r lI!tJit ill, Paris, Thomas Nelson ;md Som) " d:l

Gralld, I I I l I J i { ) f J , Paris, Nelson).

Page 10: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 10/24

XXII A GRANDI'. Il.I'sAo

colocadas como p ara dig rn as d e u ma p ers pcc tiv a it lcalistn t la s I'cb(,'{lcS

intcrnncionais, e 11:1rcprcscnracao popular tClldl'Il'St' a idcnt ificar (I tvr-

mo "i lusao" com 0 triunfo ciapaz - algo t i t le Angdl oliviamcnre descjn-

va com fervor - quando na realidade ell ' se referin a crcnca crronca de

que a guerra podia proporcionar vantagens materials a quem a empn.>

endia. Neste senti do, a ideia de "ilusao otica", tal como havia forrnulado

o tftu lo original, refletia com m ais ficlelidnde () canitcr singular da sua

perspectiva, Seguramente esses equivocos se fortalcccram com a Gran-

de Guerra, que tornava facil demonstrar 0engano de alguem a quem se

atribuia ter vaticinado 0desaparecirnento do fenorneno belico.

Para analisar a guerra Angell escolheu urn angulo lltle niio era 0

dos pacifistas, embora seus argumentos contribuissem incvitavelmcntc

a essa causa. Tarnbem nao defendeu a nao resistencia ou 0desarrna-

mento unilateral, como alguns dos seus contemporaneos. No prefricio

da edicao francesa de A G ra nd e llu siio , de 1911, afirma exprcssamente:

"Meu objetivo nao e provar que a guerra e irnpossfvel, mas que c imitil... Meu livro nao e anti-militarists ou pacifists no sentido ordiruirio em

que esses conceitos s a o empregados. Nao aconselho a nenhuma naciio

que se descuideda sua defesa, mas procuro dernonstrar que nenhum

Estado tern interesse em atacar outro, e que a necessidade de estar per-

m anenternente em condicoes de defender-se se deve a (Jue cada urn

acredita que 0 outro tern esse interesse." E nas primeiras paginas do

livro, distanciando-se das razoes esgrimidas habitualmenre pela propa-

ganda pacifista, assirn como das invocacoes moralistas do tipo tins de

Leon Tolstoy, assinalava que, quando 0defensor da paz invocava 0al -

trufsmo nas relacoes internacionais, adrnitia na verdade <.jU C () exiro na

guerra podia concordar corn 0nteresse, mesrno imoral, do vcnccdor, ()

que 0igualava com respeito a s prcrnissas da questiio,

A seguinte frasc rnostra (lue Angell estavn longe da propaganda a

favor do desarmarnento unilateral: "Vamos suspender todos os prepnrnri-

vos belicos com base em que a nossa derrota nao rode favorecer nossos

inimigos ou causar-nos, em resume, urn prcjuizo muito grave? E..ta nan f

em absolute a conclusao resultante da ordern de consideracocs aqui cx-

postas, Enquanto prevalecer qUlse universalmenre na Europa 0 equivoco

x \ III

f ic tk io c i l1 l :1g in~r i( )de que ( ) d ()1l 11n io po li ti co l'mil ir ar d () ~ outros parses

P(}dL' proporcionar \ 'a nl ng cl 1s m nt cr in is t:1t1gin·ispara () conquistaclor, to-

<los corrcm () perigo de llUC ocorra a ngressao.' Enquanto essn ilu~;l()

dominasse os espiritos mais ativos da politica europeia, em terrnos de

p oliticn p ratica em precise considcrar a agressao como urna po!'sibilidadc.

"Portanto, rneu objetivo nfio c proclamar 0 desarrnamcnto iOI lcpendcn ..

rcm cn tc d o lltle facam as outras n ac oe s, E nq uan ro a fil oso fi:l p ol i! k " d:1

Europa continue sendo 0 que e hoje, nao serci cu LjUern vai pn'pot' :1

reducao de uma s o libra esterlina nos nossos orcamentos mili tnrcs."

A forma como a obra foi sendo construida, com edicocs succssi ..

vas acrescentnndo textos de conferencias ou 0 dcsenvolvimcnto mnis

pormcnorizado de certos ternas, alern lias respostas nos scus cruicos,

d a- l he u rn c ar at er singular, mu ir as v ez es reiterative, como 0proprio auror

se v e obrigado a esclarecer nos respcctivos prcfacios, De todo modo, 0

carpo central esta compos to dc rres partes principais. A primeira se

dcdica a analise dos aspectos econornicos gemis, em especial no capitu-lo r cr cc ir o, q ue rcpctc () titulo do livro. ()8 argumentos empn.:gados

pelos defensores cia guerra e pelos advogados da paz, [untamcnte com

a s c on sid er ac oe s r cl at iv as a s p re rn is sa s m ora is, p sico lo gic as c h io l< \g i" "

cas, ocupam 0principal da scgunda parte, e na terccira rdo examinadns

a s conc lusoes p r at ic a s da s t e sc s su st ent ada s pclo a ut or , ( ab c mcnc io na r

que as edicoes de t 913 sao mais extcnsas do 1 . ] 1 . 1 ( : as do ano preccdcntc,

p ois a cr es ce nr ar n v ar io s c ap ir ul os a s ebT1 ,.mdaa rt e, c om a rn p lo s corncn-

tarios sobre a p errn an en cia da natureza hurn an a, 0dominic da s na<;t)(.'~

belicosas, 0emprego decresccnre da forca fisica c a fabkia de cons-ide-

ra r 0Estado como um a pes-soa.

Longe dt~anunciar () fim dn guerra. , Angell a \'i: surgintlo por tr. is

d.\ corridn armameruista, ern particular a que cnvolvia a Alemanha c a

Grii-Bretanha. S ustenta,,:\;"N n m untin m oderno a guerra C 0fmtll d: \

paz armada", Para cvitar esse desrino 5(') vislurnbrava uma possibilidn-

de: ganhar a baralha das ideias, abrindo uma nova op<;50 entre a grande

corrente do real isrno mil irarisra e as reprcsentacocs habitual:; do p:lrifis-

m o. E ssa rivalidade p arecia levar a urn im passe F rerite ao qual dun s alt er-

nativas se abriam ; de urn lado, a proposla por "ums r ni no ri a s onh ad or a

Page 11: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 11/24

XXIV A GRIIND!\ ".tlSr\()

e doutrinaria", de pcssoas t idas como incnpazcs de r< Jtllprct'odn (I mUD

do em tille viviam, n qual preconiznva () dl'~:l!'Il1:I111l'nl(l gn:d (Il l lIm:1

lirnitacao mutua dos arrnamentos; de outro, 0 ' \ 1 : 1 . grande mnioriados

homens praticos", para quem a situaciio de rivalidade estava destinacla a

desernbocar em conflitos arrnados que havcriarn de concluir com a clcr-

rota de urn dos dois contend ores.

o pensamento realista, amplamente majorirario, se susrcntavn so-

bre enunciados quase axiornaticos que, na opiniao de Angell, ate 0mo-

mento ninguern havia conrestado seriamente, Dava-se como cerro que,

assim como a riqueza inglesa tinha resultado do seu poderio e da expan-

sao colonial, respaldada pela marinha de b11.1errabritanica, a rccenre as-

censao da Alemanha era 0 fruto dos seus triunfos militares e do allmen-

to da sua influencia politi ca. "Na tradicao do pensamcnto politico, quando

se fala da analise das relacoes internacionais, tern prevalecido a icleia deque 0 poder nadonal signifies riqueza e prosperidade, de que uma na-

s:ao dvilizada pode extrair vantagens daconquista ou da capacidade de

impor pela forca a sua vontade. Urn dos axiomas da politica curopcia,

aceito unanimernente, e 0de que a estabilidade industrial e financeira de

cada nat;ao, a seguranca em materia cornercial, em surna, a sua prosperi-

dade e bern-estar dependern da capacidade de defender-se contra os

ataques de outras nacoes, as quais estao sempre prontas a ten tar a agres-

sao com 0 objetivo de aumentar por essa via 0 sell poder, e com ele sua

prosperidadec bern-estar."

o proposiro do livro era dcmonstrar (ltle, ernbora acciras l1uascuniversal mente, essas ideias constituiarn urn dos erros mais enganosos e

pcrigosos (jue era possivcl corneter, Herro (Jllt' comport a urnn ilusiio

otica ou urna simples supersticao." Como clc mcsrno disse em obrn

posterior, tc ria sido rnais oponuno falar em "palavras disfan;atbs", j:l

gue a ilusao ague se refere nascia em grande pane de uma rcrrninologia

vaga, inexata e enganosa da politica intcrnacional: inrercsscs ficricios c

imaginaries de possfveis agressores. Na perspcctiva de Angell, urnas

poucas proposicoes ernm suficientes para dernonstrar :1 debilidadc des-

se "saber consagrado", proposicoes Clue definitivarncnte podiarn SCI'

resurnidas em urna unica: "Que em nossos elias a unica linha de conduta

!J

\\\'

possivci p:1r:l 0 r()flql1i~I:HI(lr r()n~i~tt'ern dci\;\r ;1 riqtlo:l do ~l'tl terri

t(')rio em m:los clos indivkluos <-jllt:() habirarn, c que, pOI" cons(:guintc, h;i

urna ilusjio 6tica C urna falacia 16gicana ideia alimentada hojc ria Europa

de tItle uma nacfio aumenra a SW I riqueza au cxpandir () 51.:U tcrrirorio.

Mcsrno nos casos em Clue 0rcrrirorio nan e atlexndo (orm;dmcl1tc, ()

conquistador njio se pode apoderar das riquezas correspondenres, pois

o lJue 0 impede e a propria estrutura do rnundo econornico, bnseaclo no

sistema de creditos e bancos Clue tornarn a seguran<;a industrial e finan-

ceira do vcncedor solidaria com a seguranca industrial e financcirn de

todos os centres civilizados, com 0resultado de que qualquer confisco

ou prejufzo consideravel do cornercio no territorio conquistndo rqwr ..

cute desastrosamente sobre os interesses do conquistador. Esre se acha

reduzido assirn ;\ irnpotencia economics, 0que signifies <lllc o porlcrio

politi co e militare econornicarnente futil,()U

se]a, nao pode inlluir ernabsolute na prosperidade e bcm-estar daqueles que 0possucm."

No passado, a conquista de urn tcrritorio trazia v,lOtagens para ()

conquistador, mas as condicoes que rornavam isso possfvcl cram :lgora

obsoletas. Onde se localizava () essencial.dessa mudanca? Na crescenta

interdcpendcncia <las na~ocs, impulsienacla pela divisao do rrsbalho c a

facilidadc das cornunicacoes. "A mutua subordinacao vigente e pern~p"

r ive ! a t raves das fronteiras gcog:rificas surgiu principalrnente no s 11111-

mos quarcnta a l 1OS, e o sell dcscnvolvimcnto c crescirnento ncsse peri.

odo foi suficicnre para engendrar urna tal relacfio de dcpcndcncia

reciproca entre as capitals do muntin (IU(' qualquer penurba<;?t<) em NovaYork rcpcrcute sob a forma de t ranstorno no cornercio e nns fin;1I1~'',1S

de Londres, e se essa I)crturb:l~' iio t: consicler-ivel, ohriga os homcns dl '

ncgocios de l.ondrcs n cooperar com os dc Nova York p:ml rc<;nh 1 . ' 1 ' :1

crise, c nan por razocs de alrruismo, Ern surna, 0 Idi'grafo C0 banco

torn nrn () usn da for< ;a rnil itar econ om icn rncn tc esreril."

A rnpidez do corrcio, a difus.io instanranca das noricias comerciais

e financciras por vi;'! telegrftfica. c de modo ger:110 progresso not:'IH'!

havido em materia d e c or nu ni ca co es t in ham pOSIO em intil1iO contaIn

as sets ou scte grande; capitalS do rnundo. O r;lpido dcscnvolvimenro

industrial havia dado lugar aintcr\'cn<;:~o das financas, convcrtidas no

I!

I

I

III

Page 12: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 12/24

X,XVI A GRANDE 1I.l'SA( I

sistema nervoso da industr ia, sob cu]a influcnci;1 cla CO 11 1('<;;1\':\ pcrdcr

o cnnircr exclusivnmcnre nacionnl, assumindo umn dill1l'tls;jo innis itl-

ternacional. As relacoes dos Estados entre si sc m odificnvn m rn pida-

mente, em obediencia a rapida rnudanca das condicocs circundantes,

estabelecendo urn vinculo inevitavel de dcpendencia rcciproca, ;\ rncs-

rna cornplexidade tende a cooperacao universal, agrupando as difercn-

tes unidades em uma ordcm independcntc de tmb divisao, de modo

que as fronteiras politicas deixavam de dernarcar as fronreiras cconorni-

cas, ou de coincidir com elas.

Angell pondera muito especialmente 0 efeito do "carater insranta-

neo e imediato" dos fenornenos, Neste cenario, dorninado pcla "reacfio

relegrafica das finances", os conceitos do passado careciam de sentido,

Os verdadeiros fatores da prosperidade nfio tinham a mais remota rclaciio

com 0 poder naval e rnilitar, 0 que quer que dissesse 0 linguajar politico."Se nao estivessernos hipnotizados por essa extraordinaria ilusao otica,

aceitariamos 0ato de que a prosperidade de um povo depende de fatores

tais como a riqueza natural do solo que habita, sua disciplina social C0 scu

carater industrial, resultado de anos, de geracoes, seculos talvez, de tradi-

s:ao sustentada e urn processo seletivo lento e -minucioso," .

As quest6es relativas a natureza humans e ao papel do Estado consji-

tuem dois elementos centrais da sua argumentas:ao. Com respeito ao pri-

rneiro terna, a imutabilidade era urn dos fundamentos de todos 0$discursos

militaristas, mas Angell sustenta que 0problema nao e mudar a condicao

dos homens, mas a sua conduta, a qual pode ser modificada por reavaliacoes

fundamentadas em novas percepcoes, novas ideias e novas insrituicoes. Cita

como exernplos a tendencia a urn abandono gradual e amplo do recurso it

forca fiska: 0desaparecirnento da antropofagia, dos sacrificios hurnanos,

da escravidao, da queima de hereges, dos tormentos judiciais, do duelo,

Com relacao ao Estado, vislumbra a sua transforrnacao e uma crosao rcla-

tiva da sua capacidade, produto da gravita<;ao das forcas que provocam a

"dependencia mutua e complexa do mundo moderno", e atuarn por cima

da vontadc das unidades politicas, e a despeiro delas,

Angell pensava estar assistindo a rnudancas no papel do Estado:urn reforr;o da nacionalidade, diante cbs tendencias cosmopolitas, e 0

PI'l'i':ic;o ;', cdir;;io brasilcira \\\11

surgimenr» de novas for-mas dl' ~()ci:1hilidad(' intcrnaciorml. Nl'~s(, sen

lido. c. ~ t 'lollul'ntc a (ita\ '; l() dt' \1111 antigo mcmbro do hllt<f;!/ ( ! l l i r ! ' lJue,

em conferencia dcdicada ao cxamc da sitllat;ao rnundinl dizia: "0 tra<;"o

mais notavel das rclacoes in rcrn acio nais ern nossos dins C' () numcnro

das exp osi< ;()cs. nssociacoes c confcreucins in tcrn acionais de Inti:, cspc',

cie, sobrc todas as materias imaginavcis. Ternos aqui prescntcmcnn-, e111

forma de lotio cmbriorniria. urn grupo de farorcs, alias ()P()st()~ entfe si,

mas que concordam pelo mcnos em urn ponto: a organiz:l<;ao da sock--

dade sobre bases distintas cia divisfio territorial e nacional. '

D if er en te s c au sa s c on tr ib uiam para rnodificar os odios tradicio-

nais entre os paises, De um Indo as nacoes se tornavarn eada VC7. mnis

complexes: de outro, os inrercsses dorninantes da humanidadc corncca-

varn a transcender as simples divisoes entre os Estados, Em terceiro

lugar; o aprimoramento das comunicacoes tendia a contrapor a soliclaric-dade das classes e (las ideias a solidariedade estatal: "[arnais tinha havido

urn mecanisme destinaclo a animar e personificar os inreresses, as idc:ins

e os ideals colctivos ' -Il le vernos dilatar-se sobre toda dernarcacjio

fronreirica. Norrnalmente as pessoas niio percebcm ate (Iue ponro nos-

sas a t iv idades se tornaram internacionais, Duns grandes fOf<;as se inter-

nacionalizararn: 0capital e, de outre lado, 0rabalho e () socialismo. Os

rnovimentos operdrio e socialism sempre foram internacionais, e ten-

dern a se-lo cada vez rnais."

De Dutro lado, 0 desenvolvirnenro rnercantil acentuava 0 fato

de (lue a verdadeira base da moralidade social era 0interesse prll-

prio de uma comunidadc, enrendido como a garantia dns condi<;i)t's

de maio!' bern-estar para a massa do p0\,o: Un1:1"ida tao plena 'Juan-

to possfvel, a abolicao ou reducao da pobrcza e cbs carcncias, me-

lhor vcstirnenta e habiracfio, a capacidade de prcn:r o :Hendimcnt!l

das necessidadcs tb vclhice e cia doenca, () prolongamento da vida c

s ua r na io r alegria.

Com muita freqiiencia Angell rccorre :1 cxpcriencia dos pnises pe-

quenos para exemplificar a inclinacao para a paz e mostrar que a pmsr~e·

ridade e0

bern-estar nao csravam rclacionados com {)peeler militar. Sui-<;a,Holanda, Belt-,rica,Dinarnarca, Suecia cram cxernplos rncncionados

Page 13: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 13/24

XXVlII A GRANDE l LUSAo

habirualmente, pois esses paises desfrutavnm de tn t1 tn prospcridndc t' hCI11·

estnr tjunnto os hnbim ntcs da Alemanlm, R ussin , /\ !lSI ria IHI 1:1 ' :111\;;1, c, ('111

termosper c a p i t a , 0 seu cornercio superava 0das grandcs potencias, Assirn

como se inferia d os dad os s ob re a riqucza i nd us tr ia l d as n a< ;t ){ 's ,a pr()~pt'·

ridade dos pequenos Estados prescindia de armarnentos e nao era dcvida

aos tratados que garantiam a sua neutralidadc, de onde sc podia dcduzir

que a s eg ur an ca nacional tinha condicoes d e u til iza r ou tros mcios (:11)

lugar da f or ca mi li t ar ,

A experiencia dos paises latino-americanos estsi prcsenre igun1-

mente em A G ra nd e J / 1 I S i i o , refletindo nao s6 0 nivel de inforrnacao

do autor, mas a sua capitalizacao de experiencias C obscrvacocs title

tinha acumulado em varias viagcns pclo Mexico e a Arncricn Cen-

tral. No pre facio cia edicao espanhola Angell csclarcce que os prin-

dpios e forcas que tinha procurado analisar no seu livro sc revestiam deinteresse e sp ec ia l p ara a America do SuI. Confessa que cssa regiilo th e

havia propordonado grande parte dos excmplos usados pam tornnr in-

teligivel a a s: ao daquelas forcas e princlpios. A influencia do desenvolvi-

mento industrial sobre as condicoes polfricas era urn problema (lUC pre-

cisava ser investigado por todos os que se prcoct1pavam com 0bem-cstar

dos seus paises, e isto era precisarnente () que ele se propunha a investi-

ga r. Concl u ia , a s sim , que " a d es pe it o d as a pa re nc ia s em s cn rid o contra-

rio, a America Hispanica se encontra mills proxima de algum tiro de

confederacao pratica do que a propria Europa."

Podernos observar que, se a evolucao dos paiscs sul-arncricanosapoiava as reses postuladas em A Cr an de J /m iio , em trabalhos anrcriorcs

a sua perspective tinha sido urn POllCO diferente, enos livros dos anos

1930 sua visao foi rnais pessirnisra. Em notas [ornalisticas cscritas pO l l -

co depois da guerra entre Estados Unidos c Espanha, l\ngcll inrcrprcra-

va a derrota da Espanha como 0 drama de uma nacfio de forte rradiciio

rnilitarista que precisou resignar-se diante das qualidades que () reg1me

industrial tinha fomentado nos nortc-arnericanos, carcntes de tradicoes

e habitos rnilitares, A realidade do Sui do continentc, tal como lhe pare-

cia manifestar-se ate essa epoca, resultava prccisarncnre da hcranca do

militarisrno espanhol, gue frustrava as possibilidades de convivcncia

II

I

\ \1 \

pacifica entre as pan t 'S , "Tcl11os al i 1I111:1 vintcnn de ,",,<'1:1(11)<;;('1:)( 111:111

1_l'S entre si em ,odos (l~ aspectos politicos t' socinis. Nnda n~ ,bnl1l:ul'.

S crncl hant cs un s nos outros em litWtl:l l ei s i de ai s (~t·rl1'C('" ,'r"·'·I·'. I .'. .b ',: ',. ,~l, . ,1,-:--, J:" 1t) ()l't.:;

ctc., cstfio contudo de tal forma hipnoti7ados com a pl'ctenq 'n"c(':>,i:

dade: ria defesa nacional ' c com 0 p rest igio c 0 b ril l1 \) d e IlUf1!n U111:1

organizac:;ao militar cornplicada e custosa para defcndcr-se uns d'J<:Oil.

tros." Para fundamcnmr su a inrcrprctacao mcnciona os con tliu.<, entre

~iearagua e El Salvador, Peru c Chile, Peru e Colombia, Chile e ,\rgct1-

tl~la, Na sua opiniao, essa realidade contrasta com a existcncia de "~'()n-

dicoes ~r:)picias par~ urna grande confederacao", neutr:t1i7:1d:ls pdo

despcrdicio de energra em torno de assunros "tao insignifjc;Hl1e~ em si

mcsrnos como as cstradas da Patag(\nia, llue cstiveram a ponto de pro-

vocar urna f,ttlCrfa entre as duas republicas meridionais."

1£111/1 G r an de J lm t io Angell cementa ljUC nos anos lranscr;rridosdesde sua caracterizacao anterior a situ:l<;ao da America d:1 Sui In-

V ! : 1 . sofrido uma rnudanca profunda, jl i CJue ~ l regiao ingn.:ssar:1 de-

cididamcnre na correnre economics mundial, [usrificando assim a

frase de Spencer, para guem a gradua<;no as forrnas superinn.'s do

hornem e da sociedade dependia do "dcclinio do cspiriro milirar e

da preponderancia da industrializacfio". Devido it instalndo de f:i-

b rica s q ue rep re sen tav arn g ra nd es in vc rsfies d e ca pita l, d 'c b an co s,

empresa,s cornerciais etc" a aritude dos inreressados nessas t'mpr<..'~:tS

se rnodificou, e 0nacionalistn exaltado, 0aventureiro milirar, 0

politico fraudulento apareccrn sob sua verdadeira IlIZ, "nao comopatriotas urcis, mas como ngentes dcstruidorcs c pcrniciosos".

A America Hispanics parecia finalmenre ern vias de sacudir ()

jugo (10 militarisrno. Estados o nde n rcpudio de cmpresrimos era

urn aconrecimenro 1 ' :1 1 1 1 1 1 ; :1 1 ' ( ~ caracteris tico Ih vida politic; "C t i-

nharn tornado trio sl',lidos e rcspeiniveis como :1 Cil), dc lnndrcs,

fazendo-se notal' pelo curnprirncnro cstrito das suas obril:Jciies."D . .

urante mars de cern anos Esses pafses fO r :1 t l 1 urn antro de dcsnrdcrls

e d e a tro pe lo p erp eru o, d e a rn bico es p esso ais q ue disput:lr;J[ll e ntre si

os dcspojos de qucrclas sanguinirias. No e~ra<;o de quinzc ou \'inte

anos tudo isso rnudou ... :\ cxplicacao nfio c c or np li ca da '" !

Page 14: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 14/24

x x x A GRANDI,: IUls'\()

como a Argentina e 0Brasil, gravitaram para 0circulo d() comcrcin, do

cambio e dns fin nn cns intcrnacionais, A s I'Ci:t(,"('Il'S inn-rn.ni. 111;liS st' :1111

pliararn e fortaleceram, a ponto de fazer com < . . J U t ' I) rcpuclio dos em -

prestimos pas sasse a ser a forma menos produtiva do roubo. Esses pa-

ises nao se podem dar no luxo de deixar de honrar as suns dividas; sc {)tentassern, poriam em risco as propriedades de todo tiro, vinculadas

direta ou indiretamente com 0dcsernpcnho regular das F uncfies oEi-

dais; os bancos seriam comprometidos; os grandee negocios socobra-

riarn e haveria protestos da cornunidade economics e fiscal em massa."

Outro tema que mereceu a Angell uma reflexao irnportante e 0

que se refere a analogia entre Estado e individuo. Ern sua maior parte as

hostilidades internacionais se baseavarn no conccito crrtme() de (JUC ()

Estado inimigo era uma personalidade hornogenea, com responsabili-

dade analogs a de uma pessoa que nos atacasse e que, por isso, nos

incitasse a devolver 0 golpe recebido; no entanto, nao se pode atribuirao Estado esse carater de pessoa ou individuo, a nao ser em terrnos

limitados e cada vez mais estreitos. A diversidade de inrercsscs mate-, .

riais e morals do agrupamento coletivo falseia cornpletarnente aqucla

analogia. Ha quem fale de urn pais - da Alsmanha, por exernplo - como

se os seus atos resultassem de uma opiniao deterrninada, adotada por

urn ou outro partido, e nao, como acontece na realidade, de urn enrro

de opinioes submetidas a todo t ipo de forcas que influcnciam desigual-

mente 0conjunto, irnprirnindo-lhe uma constante oscilacao. A afirrnati-

va de que as relacoes mutuas entre as nac;6es so podern ser detcrrnina-

das por rneio da forca, e que a agressividadc no ambito internacional se

expressara scmpre pela lura materia '! das nacocs sao outros corolarios da

falsa analogia do Estado com uma pesso:l.

A Grandt lltuiio conclui com ur n capitulo que reircra as crit icas n o

pacifismo, tal como esrc se manifestava hnbitualmcnte, c ondc ja sc re-

vela a diferenca entre "pacifisrno" e "pacificisrno"." Angell quesrionava

as declaracoes acadernicas em favor da paz, baseadas em motives de

abnegac;ao e altruisrno. De acordo corn 0 scu ponto de vista, entre 0

pacifists e0defensor da Realpolit ik havia urna distinciio intelecrual e nao

moral, e a suposicao de moralidade superior em que 0 prirneiro C051U-

\ \ \,I

I11n\,;]estribnr-sc 11:1verdndc pouco f:1 \'orcci:l a ~ \I;l C:l11';:I: "N;'ln b'("l1"';

grandes progrcss()s c l1 l ll la ll l () p c rs is li rmo s 11:1crcn~';1 dl' ljlll' ll1(lli\(lS

el~\'ndos e tcor moral C tudoquanto se neccssira nas n:hl;(-'('s illtt'l'n:Ki')'

nars, c (!ue a corrern ,compreensao dC0 SCS p ro bl cmn s ( )( or n: ri a p()r I1wifl

de carninhos m aravilhosos ou pcla sun propria virtudc, ilhkj'l'l1dcnl\'

mente de urn csforco intelectual sustentado c sistcm;1!ico,"

Em varias edicoes posreriorcs a 1910, /1 Grande l lur / jr ; f()i prccn Ii

da de cornentarios suscitndos a politicos, cconornisras, jornalistas ou

mi1!ta~es.A an al ise dessas tnanifesta<;:6cs, rnesmo as provcnicnrcs d()s

mats timidos, punha em evidencia a aceitacao quase unanime de tltlt: sc

tr~ltava de ~ma co~tri~)ui<;ao gcnuina aos debates sobrc () rcma, de lltlC

nao se podia prcscindir em qualquer discussao. 0 Dail) ' ,\1(/;/ () cOl lsidc"

rava urn dos livros gue tinham dcspertado 0 interes;e e csrimulndo ()

pen~amcllto n~ seculo XX. T h e N a t io n afirmavfl que ncnhuma fJbra PI'f) ,

duzira uma maior revolucfio entre aqueles que dirigem ()curso tins acon

tecimeruos. Finalmente, para T he EI'miI1J( POJ/ , 0 livro ern uma ohrn 1'('-

volucionaria da rnaior importancia, LIma complcra dcmoli<;i\o <Ins id{ias

convencionais sobre a politic a inrernacional - atgo corrcspondt'llte ao

que f~ra A Or{ f! ,em das E.rpl ci {; .r no campo da biologia.

E paradoxa! comprovar que, longe de desqualifjd-Io pot' urn

presumivel idealisrno, muitos viam em Angell urn cspirito realism,

urns dernonstra~ao livre de sentimentalismo, ;'I express.io rid dos

fundarnentos econornicos e politicos do rnundo cont(.'mpor:lnco ou

uma das contribuicoes rnais brilhantes ao estudo das t' ela~{ks inter-nacionais, Atc mesmo org:los vinculados a s [orcas armadas expn:s-

savnm 0 seu reconhecimenro. Assim, em lima pllhlicaC;:lo naval norte.

am erican a lia- sc 0scguirue: "S e lodos o s :1 fl li- mil it aris ta s p ud cs sc ln

defender sua causa corn a irn parcia lid ad e {~ a hrmr:ldc7. do Scnh!lr

j\' :gcll estariamos disposros a acolhe-los na n como inimigns inconcili:i,.

\'CIS, mas como boris carnaradas inrclectuais. Ele condcnsou ncsse livro

rnaisideias solidas e sadias do que as aprcscntadas por todas as socicda-

des pacifistas no curso c ia sua exisrencia."

• 1 \1 , Ccadcl, l ' a ' i J i . r 1 ! ! ill lsntai», 19/4. f 945, Oxford, CI.Ut 'ndnn Prcs«, 1JRi l,

Page 15: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 15/24

XXXII A GRANDE l! . lIsA()

Antes do inicio da Primeira Guerra i\ Iundinl, ;\ nuell cscrcvru dois. .

outros tcxtos nos (1 uni1 ' nm pliava ns tcscs dCSl'lwoh'idas ern ,., (,'/illldl'

I I I /Jao , Sao des: T be P e ac e T he or ie s a nd t be J 3 a/ hm tr~1/'(/ l. r k f J I 7 1 1 J ti d 1 ) 1/ :; ' / ' 1/

~~lIerrad o s 1 3 a lc i iJ ), de 1912, e Amls a n d Il/dJlslr)': A S/lIqv (f tb e /'fJ/l/ld(llio!IJ

if I nt er na ti on al P o li cy (Arm as e a ind ,i s t ri c l : IWI es tudo do.r/illlrirl/llt'IIloJ rill I)()/f-

t i c a i n t e rnadonab , de 1 91 4. E durante 0 transcurso d a c on fl ag ra ca o p ub li-

cou, em 1915, A m e n c a an d t h e N e J1 II l : J ' o r i d . \'Irllc: /1 f > / ( ' ( ~ / h r/1!IJrniml I j'(ldl'lJ~lip

in In ternationalOrganii fl t ion (A .Amenca e 0 l i st ad o d o N01'OAflfl/do: Ifllll)/I'i/{)

p el a f id e ra t1 fa a m e ri ca n a na orga t1 iZa faO i l1 temado l1a~ .

As vesperas do conflito, Angell tinha defendido a tese de (IUC a

Gra-Bretanha devia rnanter-se a margem do conflito, tendo fundado

para isso a Neutral i ty L..eague;.frustrado esse objetivo, criou, [untamcntc

corn Ramsay MacDonald, Bertrand Russell, Charles Trevelyan, Edward

Morel e outras personalidades, a U n io n fo r D e mo cr ati c C on tr ol , enridade

que se pronunciaria contra a diplomacia secreta, e em favor da demo:

cratizacao do service exterior britanico, J a em agosto de 1914 a U DC

divulgou urn manifesto que fixava criterios para a ordem no pl)s-h"uCr-

ra: rejeitava a possibilidade de que uma regia.o pudesse ser rransferida

de ur n pais para outro sern 0 consentirnento dasua p op nlacso e propu~

nha que nenhum tratado ou acordo fosse feito scm sancao parlarnen-

tar, e sem garantir 0 controle d em o cr at ic o c ia p ol it ic s e xt er io r. A Gra-

Bretanha nao devia propor aliancas destinadas a estabelecer equilfbrios

de poder, mas orientar-se para uma ar;ao concertada entre as porencias

e a constituicfio de urn Conselho Internacional cujas dcliberacoes edecisoes fossern publicas. Chegado 0 memento dos acordos de paz,

dcvia apoiar urn plano orienrado para conseguir LIma reductio drast ica

dos arrnarnenros de todos os paises bcligerantcs. [acilitamlo esse ohjeti-

vo com a nacion:. ilizac;ao das industrias de arrnamentos e () commie das

exponacoes de arrnas de urn pais para outro,

Dtpo is ri a G ra n de G se rr a

Como 0dcsaparccirnento ch guerra !lao era parte das suns idcias,

Angell nao sc sentiu desrnentido pela tragcdia (jtle se prolongoll pOl'

\\\111

lJtlat~o l~lI1gns ;100S. Do sen ponro de vista, cssa expcrit'I1CI;l C(l!lfirm:1\:t

:1,111:1101'1:1os :ll'gUtnl'lltos l'sgrimiti()s 110'St'llS cscriros alltt'rjc )l'l'S, l' as.

sl,n~ " sustent~)l~ em ~)~ras f:osterion.:s, cmbora aJrnjti~st: que algumas

das s~las pr~vl~oe.s nao se tinharn realit:ado. Entre outrns, n de cluC ()confliro sc hm ltana a um confronto entre A lcmanha e Gr;l-Brct:ln!l:l, c

d: que .os outros paises Sc negar iarn a financia-Io, ou de qu e os t :~I;Hl()s

11:10 tcnarn a caracidade de salvaguardar a sua rnocda e !1lobilil':l1'<cus

rccursos (It: modo a poder sus ten tar urn esfon;:o belico prolongado, con.

for.m: d~monstra.ram. Da mesmn forma, se surpreendcria com a pouca

reslstencla oferecida pclas entidades de classe a s lcaldades nacionais.

Onde nan c:rotl foi ao avalinr 0significado das repara<;6cs irnpos.

tas em Versalhes a Alemanha derrotada, Em /1 Grande I / H . r a o tinha dedi-

cado todo urn capftulo para dcrnonstrar 0"sofisrna da indenizacilo"

re~saltando as .conseqi.icncias paradoxais da atitude de punicfio CC;)fH\~

rmca dos vencidos, Especificamente, procurou conresrar () ,1rgllmcnto

~laquelcs que se valiam do excmplo dos duzentos milht\es delibras da

mdeni:;o;ac;aoimposta pela Alemanha it F r a nC ; :l , no fim claguerra de IH70.

1, com(~ pr~va de que uma nacao podia ganhar dinheiro com uma guer-

ra. l~evldo as novas condicoes econtimicas e financeiras, ":1, impo!-'i<;ao

de tributes a urn povo vencido torrtou-se uma impossibilidade econo ...

mica, e a fixar;ao d e i nd eni za coe s tao c us to s a s, d ir er a o u i nd ir ct :l m cn te

t :m resultado exrrcmarnenre dcsfavor;ivel como operac;ao financcil'a.':

hmt~o~a. a fro~a : 0 exerciro da Alernanha tivessern sido aniquilados,

subsistiriam mtlhoes de trabalhadorcs, (Juc seriam tao mats industriosos

quanto majores foss em suns prov:lc;E>es c sofrimentos; tr: lbalhariam ern

St~as fabri~as e cxplorariarn S l I: lS m in as com t:1I afinco e diligcncia (IUt'

nan tardnriarn a ser os rnesrnos rivais de antes, COlTl (It! scm eXl'rcitocom ou sem esquadrn. . . ,

:mposto pmticarnenre por urna opiniiio publica title prOCLllna\ ' ; l cit:

boa fe a sua co nfi;m c; a e m que aguerra (Jt le rcrrninarn tcria posro fim a

todas as gucrras, 0Tratado de. Versalhes lhc parecia urn compendio de

(Illase todos os sofisrnas que havia criticado no ~{'Ulivro, ()5 tcrrnos do

Tratado demonstravam que todas as nac;('ks pretendiarn anexar fH.l'\'OS

territ6rios e aspiravam a bencficiar-se economicamcnte. Em (.lua5(~nc-

Page 16: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 16/24

XXXIV A GRANDI': Il.l!s,\o

nhuma parte transparecia a crenca de que a prosperidadc de urn p ais de-

pendia <faprosperidade dos scm vizinhos: < I t , llut' :lcstabilidndc CCOll('1f11i-

ca nao podia ser alcancada a nau ser por rncio da c()opcra<.;ii() inrcruacio-

n a l, To do s os pafses q u er iam t er u rn a po si < ;a o p r cpo ndc ra n tc pam gil ran ti r

a sua segurans:a.

E oportuno lembrar que, com respeito a esses ternas, as.opiniocs

de Angell contidas em dois livros - T he P ea ce T'fWI!J' a"d Ihe Chaos o f

Europe (0 tra tado de paz e 0 c ao s d a E uro pa ) (1919) e '/ZJ(' h7(;/.r q/ I ''ido~T

(o.r /mlos do vilOria) (1 92 1) - caminhavam em p ar al el o e ecoavarn muitas

das cr:fticas forrnuladas por John Maynard Keynes a politica de n:para-

s:oes, no seu l ivro, [ustarnente celebre, T he E c on om i c Consequen«: ~fPeace(As conseq iiencia. reconomicas d a paiJ, de 1919. '1 Sao tnrnbcrn clos anos 1noHum an N a ture and th e P eac e P ro blem (A na tureza bu ma na e 0pro{;/etJ/fI d a f a '{ )

(1925 ) , T h e Publ i c M i nd : I ts D i so r de rs and it s Explanat i o» (a men t e d opllI:lim,'

su a e xp li ca ra o e m a s d es or de ns } (1 92 6) e T h e Monry G am e : H o n . /0 P i a ) , II (0

j og o d o d in be ir o: c om oj og a r) (1928). Entre 1928 e 1931 Ange l l fo i tambern

editor da prestigiosa revista Fore i gn Affair.r, e por urn breve perkxlo,

entre 1929 e 1932, representante no Parlarnento do Partido Traba-

lhista, no qual ingressara no princfpio da decada por considerar ~l1e

era 0mais cornpativel com as suas ideias sobre po li ti ca i nt er na ci o-

nal, e menos pela sua orientacao socialists. Cumprido 0 mandate,

declinou da candidatura a reeleicao por considerar que, l ivre de

restricoes orcarnentarias, teria melhores condicoes p ar a a pr es en ta r

a cidadania as suas teses internacionalistas.Para Angell os anos trinta foram os de rnaior producao int~-

lecrual, que se intensificou paralelarnente com a ascensao dos regl-

mes fascistas e 0obscurecirncnto do ceriario mundinl. Em 19,12

publicou 'fbi! Unseen .Assassins (Os assassinos qm l/iiolor~f)J 11'!tO,~); em 1 9:1 3,

ano em que recebeu 0Prernio Nobel dn PaJ:, publicou " ro m C JJ tl o. r to

Con tro ! (D o coos ao COli/rolf). Tbe P ress and tbe Ot;P,(lfliZ(ltir)fJ of . \"ot' i t '( ) '( / 1

imprensa l a organi: : :f1fao do sOC1fdadl' ), uma nova edicao de Tb c (:'rr~"1 //I1JJ1~!1

e urn esrudo in t irulado Tbe In t er na t iO f l t1 / / ll l a f' tZ l Y (.,,1 tJfltlrqlfltl mt e r naao -

11al) . Em 1934 escreveu T be A 1m t 1r t 10 O / (r N a tio na l J )~(em{ ' ( / l amcata tl

, JOSSo difua national} ; em 1935, P ea ce a nd tb e P lain Ala" {>1paz e 0 homo»

xvxv

((Jill/fill); em 1936 , T/ir I 1 f11 ' f ( l nd IItll'f-Nolll",r;fIt:u (( ) I!f:W}(;O ri o 1(1' f' dn Jlt{O-

tc r) ; ; > ~ ~ / i r " :lll/{I;fJ' (wd r ; ' ( ( ) ! I ( ) : ! l I ' r _ n 'd (r~/:'/rl.fi(j pol/tird {'fl/OJ (((ltllimim.r) ;

em I i) 3 t • I / . I f j)~/I'11,r{' (! / 1 / 1 ( ' I :!!I/)/f '('(/l d ~ ' / ( ~ . r { 1d o i !l !/ 'J ( ,- i o ) ; em 1(), 1 1 ' \ , Pfrll'{,

1 1 ' 1 / / 1 thc /)irlrl/01:f?(f>rlZ ( 0 1 1 1 O J d i l t l d o r e . r ? ) e Fur (. ' '-( '(1/ 1 I I / I . r i ( ! / 1 /\'{jJ/' (-I II/ill/til'

; / ". r (/ o (~r, om ) ; ( :111 1939, For 1 1 " / 1 ( 1 1 /)0 !ri· " ' { ! ! . / J / ( (Ill/I'(I fjlll' I l i / ( { . l1! O JI ) , . ,

U rna clas caracteristicas d a m aio ria dexscs t rabnlhos, nos ytlais

alguns pcnsarn vcr, njio scm razjio, urn ajuste tin sua pcrspccrivn c

l~m tom mcnos racionalistn, era a enfase na idcia da ~cguran(;a cole-

nva, tal como t in ha sid o contemplada pe lo Arrigo XVI do Pacro tin

Liga das Nacdes, Angel l admitia qu e a dcfesa era urn fator predomi-

nantc no comportamcnto cxrcrno dos cstados, que a alllo-prescr\,:I_

<.;~()era a primcirn c a ultima clas suas exi genc i; ts - "a primcim lei tin

Vida de cad a coisa viva, scja fisica au politi en". Sustentnva, pnr{:m

C lu e h av ia d ua s form as de con ceb er a segl lran ~:a: con f'in ndo exclu si.vamenre nas proprias forcas, ou seja, dependendo de si rncsrno, 0

clue· acentuava o s a sp ec to s a na r'l uic os do sistema imcrnacional e

portanro a tendencia ao confliro e a s ameacas de guerra, ou rcpou

sando em urn sistema mais eficaz dedefesa mutua, cooperative) ou

coletivo, plasmado em urna grandecomhina<;ao de Estados capazes

de criar urn poder rnuito grande - dip lomarico, politico, econt)mi-

co e financeiro, alern de militar e naval - com condi< ;t> cs para fo-

men tar a paz e center as rendencias belicosas de qualquer nac;ao,

Como todos os Cluese interessam pela natureza das rdas:tx:s internacio.

nais, 0fenomeno da anarquia ocupava 0primeiro plano tb sua analise,

Segundo e ssa v is ao , s o era possfvel terrninar com ;1 anarllui:l medi an t e d o is

p ro cc dim en to s: a im p o~ i< ;a op or p art e d e u m d et en to r d o p od er Ott 0 con-

sentimento comum, No primeiro C1S() tinhamos 0 imperialismo, 0 ('stiln da

prJ.,\' IYJ!!If1tlf1; no segundo, a ~egural1(;a colerivs. Oll\' i; tmt~nte! sua 0r~;'i()

• ,\sa,'nlilH;i)cs. tic ~(.TTl(,~,lhe "<TI'iriam l~mlx:m panl le'I'~I{bl S\l;t~ lC~<:~ ~,,,hrt·(I p:tpd t' n~

f ~ lh~~ d~ 0pm;to pubbclI; C n 'fu e fu rc rr 'H en d" ~ u rn a r:if;!f;'l1', IL! t lU" l 1) (~Idm: t'Ci "jf>rni~.,

fa.~ rctcre ~n papd t i l . ' Loyd ('{"I'f}:e corn rC51",ilO :In Tr~!ad" de 1'.,7, din'nth,; H.s~hi.1 'lUC() I r;ll~don~n ern :<ensatn. e cr;J em 1~,lr tC imp,,,sj\'d, po"do I'!ll ri',(I! :l ,;da Ii:! hm,p~, I)):!';

(lUI: as palx<>e~ e :t Igno!':IIlClll do pu bl iCO dC$c rnp cnh :l fT I flo ml1ntln urn rape! ' Iue (luem:t"plrc a gut:IT urna dcmocraClll l 'r t'o,a k'\ ':1r em coma; c a 1':17(k \'c:r,alhes era no m'llll<:'lltn

() mclhor l l ju5!c permiridn pcb; da mulrid so r' do , f' rincjp~i ~ ~t()n:~ {'mokid",:'

Page 17: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 17/24

x..XXVI A GJtANIW. 1l .usAo

por esta ultima \ ia e st av a r nu it o clara. Fmbora n~() pr()p():Tiot .1a~~curna

intt'rpl't'tn~'iin dcml lu ul n t it ) scntido t' do :tlC:It1tTd:1 nrg:llll,:I(:IO t,:d~'1':1

tiva, sustentou reiteradamente t ju c s cmp rc t it le u rn grupo de (oit-lt\,td,1

des soberanas e independentes recorriam a essa forma de cncar:lr a de ..

fesa comum, a guerra entre e las p odia t crrn in nr, ti l N n annrqum, G , \ d , "

nacao procura a sua seguran<;a tornando-sc mais forte. d,n t jut : os . "1,%1-

nhos, 0 que implica uma arneaca it seguranca destcs ulrimos. I~ uruca

solucao para este dilema era fazer com '-lue a defcsa de cada pms, fosse

fun<;ao de todos, rnetodo equivalente ao <.Juetinha ch~Wl(,.loa se l~lpor

no plano nacional, mas que, para ser adotado no amb~to I~tcrnaclo~al,

enfrentava a falta de compreensao por parte do publico, confundido

com respcito aos riscos que corria ao escolhcr urn eaminho em lugal' t~C

outro," Se uma na<;ao estivesse convencida de t juc no longo prazo p(~dla

confiar no fundonamento do sistema, em vez de depcndcr exclusive-

mente das suas pr6prias forcas, nao se ernpenharia em ser rnais forte do

que as outras para conservar a vida; ao contrario, se urn mcmb~(: c i t , urn

sistema coletivo tivesse duvidas sobre se os outros mernbros sainarn em

sua defesa em caso de urn ataque, se negaria ao desarrnamenro, fazendo

aliancas especiais, 0que provocaria suspeitas nos outros, induzindo-os

a agir da mesma forma. Sem urn compromisso explicito de trabalhar ern

conjunto contra 0agressor, de modo a oferecer a cada rnembro da ~o-

letividade das nacoes urn meio de defesa diferenre do seu poder nacio-

nal, nao haveria como escapar da velha cornpeticao anarquica. .

Em seus textos da decada de 1930 0auspicio da scgtlran~a colctJ~'a

se acompanhava de uma critics rnuito firme a s politicas de acom()da~ao

da Gra-Bretanha e ao isolacionisrno norte-americano, No caso do ,('0-

verne de Washington, seu afastarncnro da Liga das Nacoes, de~ols .de

ter agido como 0 set] promotor rnais entusiasta, tinha sido "0 pfllnCI~()

de todos os desastres' da entidade, ( IUCteria muito a ver com a cXpIO":Hl

de uma nova guerra. Quante ao Governo ingles, tinha lim cornprorms-

Pn:t:lcio iI edi<;:lo brasilcira\\\\11

S () parcial com a I.iga, soh a in fluc. "· l l ci a de lima impn'll~a q ut ' j 11 !l IH (l \i :\

;lli\':1 l":ltnp:lllhn contrn cia, tlucixajHI{)~~<.', entre outrns C()jS:l~, <I:1Sdcsp('-

sns llliC obrigava a fazeI'.

Angell denunciou a tolcrfincin corn rel:1~':1() :leIS pro;_;:nm;\!'

cxp;1l)~i()njstas da A lemanhn, do Japan L' tin I r . i l i a , pr-npicjad:l I~or UI11:t

cornbinacno de conservadores c pacifistas. Por trris dessa atitude vislum

brava raz('">c1'deol6gicas dos SNores mais conscfvadorcs, e lluis dernon~ ..

trar com insistencia suas debil idades e contradicoes, procurando neutrali-

zar a influencia de grupos importantes, forrnados por proprict:irio!, de

jornais, jornalistas, polit icos e intelectuais crnincntes, que t Ta !1 sm it i; ul 1 : 11 )

rovo a idcia de (Jut', para vivor em paz, 0 pnls precisnvn nhs!!:r R de j"tu'.

vir nas dispuras entre parses cujo destine nfio lhe dizin respeiro,

As "comunidades de defesa" a CJuese referia nan trarinm 0risco de

participHr de conf1itos alheios, porque sua 111Cr(\existencia l imitnria ('S.scs conflitos, aruando como urn mecanismo efetivo de di~!'llaS~().A scu

j ll(ZO 11<\0 havis urna S(') ohj(~<;i 'i()contra I) s is rcmn c ol ct iv o (llIC n:'1o pH

dcsse ser aplicada, com rnais razjio, ao velho sistema de l'cguran<;n indi.

vidual e an cquiHhrio de poder, Apesar de tudo, em 1 91 4,a v in re nn de

Estn(!<)$quc tinham entrsdo na guerra estavarn livres de cOIl1promissos

(jtle os ohrignsscm a isso, circunst:incia Clue nao os isenrou de cnvo!\,l't-

se corn 0confliro, S e houvessem assurnido cornprornissos cfetivos e

a1,<. :rI05,C provavel que nfio tivessem sido arrastados :1!,TtlCrra, pois sc a

Alernanha tivesse sabido que, conduzindo-se de forma ngrcssivn, tcrin

de cnfrentar as for~as rcunidns de vinre paise s, nao rcria agido como

agiu, e a guerra nao teria ocorrido, A lic;ao e rn q ue, se as nn<;:6es St' anna-

Vail), deviarn revelar de ~lf1temilo (jUC f1)otiv()s as induziriam a cnmhatn.

A "cnrnbil1:1¢;ao de porencia" do sistema colt!iv!) reconhccu a to

clos os Estrtdos igualdadc de clireitos em queq;lo de defesa, mas faria

COIll q ue q ua lq ue r pais inclinado n guerra sc cncoru rassc [rente a for<;as

de tal wpcrioridade Clue a sua carnpanha estarin destinada a fracassar;

seria lima aventura imprudenre, e uma aritude rnais "realism" dn even

tual agressor desesrimularia essas avcnturas, II

" N orman A ngell . TI>('I J i /J ( JJ tr / 't a r( l 'o h ~T I11/(II/J Cntirs, ern f .71MJi!; I .oru lrc« , iu nh n de 1 <)J).

Page 18: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 18/24

XXXVIII A GRANDE II, tiSt\()

Apolitica de defesa colctivapodia assumir difl'tcntcs formas, ~l'I1d()

dcsucccssririo rcduzi-la a urn sistema rigido dt' comprornissos perm;llll'n-

tes, mas podia desenvolver-se gradualmentc, adaprando-se as condicocs do

sistema internacional. Nao se devia interpreta-la tarnbern como tim rncro

subterfUgio para perpetuar 0 s t a tu s q uo , con forme objctavam os sctorcs d:1

esquerda, mas apenas uma garantia de que 0 mcsmo nan scria alterado

mediante a guerra. Por outre lado, tinhn plena conscil'ncia ti t ' l1l1t' a SlJitll.,':i1J

do problema da guerra entre Estados soberanos nfio significava ()dcsapare-

cimento dos c on fl it os , d es or de ns e in ju st ic es in te rn ac io na is ; n ao f ic av a de-

cidida a questao mais profunda de extirpar as causas das t-,ruerrascivis, as

guerras entre classes sociais , as animosidades inflarnadas entre grupos reli-

giosos e os 6dios encarnicados devido a diferencas raciais,

Angell esteve entre os analistas politicos que com mais fundnmcn-

to questionaram 0 conceito e a pratica do equilibrio de poder, Adrnitiaque toda politic a de defesa precisa necessariarnente "levar em conta a

forma como 0poder estd disrribufdo", mas acreditava tambern que' atu-

ar conforrne a ideia de equilibrio nao so colocava 0 poder em um lugar

distinto do que lhe correspondia na sociedade hurnana, privilegiando a

forca sobre 0direito, como tam bern era rrtenos efetivo como medida de

prevencao da violencia. A intencao de manter 0 equilfbrio de poder

(siruacao alern de tudo sempre instavel) resultava necessariamenre em

uma oscilacao da preerninencia - primeiro de urn lado, depois do outro

- que ativava a conflitividade. "Nos nao queremos urn equilibrio de

poder entre Estados totalitarios e dernocraticos, entre agressores e viti-

mas; queremos uma preponderancia irresistivel de poder contra 0

agrc.."Ssor,e i: . duvidoso que possamos rnante-la por muito tempo se hou-

ver esforcos constanres para mantcr urn equilibrio entre os mcsmos

ali ados ... Nosso esforco deve orientar-se nao para um cquilfbrio calcu-

lado entre os varies aliados, mas para um ponto de encontro de in teres-

ses comuns por tras dos quais possa concentrar-se 0poder colctivo tin

comunidade de nacocs: 0direito a vida, it auto-deterrninacao, a cxisten-

cia livre de arneacas e de todas as forrnas de violencia." 12

Il Norman Angdl , I'Ma' » i lh D i ct at o rs ? ( rrad . cspanhola, / . •1 Pa; ;J la s Di r t adorrs , Buenos Aires,

Los. 1939)_

I 'rd:icio ;' ,l 'dil,:ao brasikira \\\1\

Po r ,'''Iimo, c . : . l1Cn'Ss;'II'fn l cmh rs r t lu (' () ~l'll cOllct'iln dl' dl'fl'S;1 indIJi:,

urn aspccto (PC ofere cia tim HalKo muito vulnenivel ? i critica.ao j l l ~ f i f i C : l I '

as prriticas intcrvcncionistas do liberalismo anglo-saxao. Allgell sustcnta-

va que as numcrosas gucrras Icitas pclos Estaclos Unidos e a Gnl' Bn.:t:lIlha._potcncias saruras ou saciadas, que pOl'isso dcfcndiam ;J c()!1~l'r\';H.:;-lndo

JIa/m 1/0 - nno tin harn sido gl.lerras de agressno, em bo ra tt 'a\'ada~ (or;:) < la

suas frontciras. ;\I {- m d a invasao c <la pro tc< r' ;l ( ) do solo nncional, ha\·ia

rnuitas outras hipoteses t1ue todas as grandes nacocs considcravnrn COf11o

urn ataque, estando decididas a impedir par rneio das arrnas (jUC clas sc

concretizassern: 0acesso a territories nao desenvolvidos, a colonizacfio

de novas tetras, 0 livre uso dos estreitos maritimos, a passagcm pelos

canais intcr-ocednicos, a protecfio dos seus cidadaos em paises em sirua-

c;:aode rebeldia interna, os direitos extraterritoriais no Extreme Oriente,

as capitulacoes no Levante, as direitos do mar. Esses concciroscorrespondiam a sua defesa do imperialismo, embora em uma vcr!;~()sin-

gular, pois Angell na o atribuia valor economico as possessoes colonials __

em bora acreditasse na difusao da civilizacao e na incorporacao ao t11CtC:l-

do de regimes retrogrados, que resultaria em bcneflcio do conjunro <la

humanidade - e considerava apropriada a politica imperial britdnica com

suas forrnas de associacao e autogoverno tal como vinham sendo plasma-

das no C o t J I m o I 1 1 J J e a / J / ; ; 13

Outra nota singular de Angell foi a forma como analisou a

relacao entre capitalisrno, socialisrno e paz. Opinava gue quando os

capitalistas fomentavam a guerra, como o faziam a s vezes em nome

da conquista de rnercados, expunham-se nos rnesmos erros e paixt)('s da

generalidade <las pcssoas, e raciocinavarn como nacionalisras e miliraris-

tas, nao como econornistas. De seu laclo, 0socialismo crrava ao acredi-

tar <-Iuepodia beneficiar-se do caos. Socialistas e capitnlisras tinharn tim

interesse conium na conscrv:l<;iio da ordcm internacional c na supres-

sao da guerra. 0 capitalismo nan precisava tin b'1.1crra. ncrn ganhavn com

ela: ao contrario, se cnfraguccia. Por outro lado, certas criticas dos socia-

listas feitas nos esforcos para aperfeicoar a ordcrn internaciorul por

I Norman i\ngdl. [>(1(( l ind 1 /)( PIn in Mt I !J (trad. cspanhnla, / 4"/ J' ,7\_ t r l l ' l I tNo, lbrcdn!l:l. lIihll

orcca lnrcrarnericana, 1(36).

Page 19: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 19/24

XL

meio da lei e da segurnnca colerivn cram um n pl-~!'im:l l'~tr:ltt'gi:l do

!,onto de vista tin reforms social, Em umn fl':l~l' tlUt' rcvcla ~11:1 pnspt'c-

tiva ideo16gica, cementa: "Infelizrncntc.a , l ,r uer ra f ez tambem corn tlUl'

fracassasse 0deal socialists: em nenh urn lugar t la F urop a O cidcntn l ()

social ismo conseguiu escap ar da guerra. l louvc revolucocs, mas sl'gui-

das se rn pre d e contra-revolecoes em <Jue os capitalisrno pcrdc os traces

liberais <JUCtenha adquirido, Do enos da guerra foi () fascisl110 title surgiu,

nao 0 socialisrno; nao a revolucao social prognosticada por Marx, mas a

1 - d . - d fIR I ~ F "14contra-revo ucao, a estruicao os rutos ( a evo ucao r'rancesa.

Angell chama a te nca o r ei te ra damen t e para 0fato p arado xa! d e < .Ju c,

terminada urna guerra <Jue pretendia tornar 0rnundo scg1.11'0para a de-

mocracia, ocorreu em toda parte uma v er da dc ir a c pi de rn ia de clitaduras,

de autocracias totalitarias :;0lado das quais 0governo do Kaiser parccia

liberal, Em consequencia, 0 socialismo dernocratico e 0 capitalismo li -

beral tinham um interesse comum: a conservacao da ordern politica e a

prevencso ciadesordern social <Jue provoca 0 surgimento de um fascis-

mo pernicioso. Seguin do esta linha de argurnentacao, <Jue0 levava alern

de tudo a discutir as tesesenunciadaspelo seu cornpatriota Harold Laski

(segundo as quais 0 capitalismo era a causa principal cia guerra, pela

demanda de mercados para colocar seus excedentes e a necessidade de

apolar esse ernpreendimenro com urn solido p oder milirar), Angel l ; 1 1 -

terpretou a decisao da Unido Sovietica de ingressar na l.iga das Nacoes

como uma prova de <Juea sociedade capitalista e a socialists tinham urn

interesse comum na prevenciio da f,'llcrra, e a protecao da primeira grandeexperiencia socialism da historia parecia derivar para uma doutrina de

cooperacao entre sis temas rivals,

A perspicacia de Angell se refleria nn s sua!' prcvisocs d:1S carne-

teristicas que deveria ter urns nova guerr.1 e as aliancas (llle poderiarn

enfrcntar-se nessa ocasiao, Quante an prirneiro 1'01110, anrccipava urnn

luta em <Jue a forca aerea seria grande protagonista, e na qual desaparc-

ceria a distincao entre civis e militares, ()~ belrgcrantes fariam 0possivcl

" Norman Angel l, La Pa z y lo s f ) 1 , 1 n d l > T T J (op, cir.).

Prcf:lcio it (. 'di~·:i() hrnsilcir»\1.1

pal':l dcst rui r os ccnrros nt'n'()$()~ do inimig(J: t'~ I :l~'(-lt'~rt'jTll\ift 1 " 1 : 1 ' , de

p(')~it()~ de ngtla pot.ivcl e grandcs conglomerados jndll~trjais, C (1<; dcs,

rruiriarn nfio s6 com bornbas carregadas de cxplosivo« pod<:rn~()~ f11:1S

ta mb e m com bo mhas inccndi.irias, de g:ls I(')xic()~' de h;ll'tt'ri:1s

patogcl1icas.l;

Com respeiro a descricao de possiveis aliancas, n)()dclnd:l~ corn

base nos inreressos, arncacas e ideologia dos protag()nj~ta~, vislurnbravn

no contincnte europeu cluas po ssfveis coalizfies. Franca, Russ in ,

Tchecoslovaquia, Rornenia, Jugoslavia, Belgica, Dinarnarca e 0<; r~sta-

dos balticos, inclusive a Polonia, rinharn urn interesse comurn em 0pOf'.

sc ao crcscirncnto do podcrio alcrniio. De ourro hdo, n tendl:' llCi:1 dn

Japiio, aliado potencial da A lcmanha, a apodcrar-sc da China sc opunha

complctamenre nos intcresses dos Estados l.lniclos, Canad;i, ;\lI~tr:·di:l.

Nova Zelandia, Uniao Sul-Africana e a parte asiatica do Imperio Brit:l-nico, Nessas relacoes se insinuava 0rnicleo de uma coajjzi\o mundinl

contrau agressfio <-juepudesse pcrpctrar aquclcs paiscs mais inclinn-

dos a perrurbar a paz. "Os Estados Unidos, Rtlssia, China e (;nl-

Brctanha, [untarnente com outros estados, ~ii.o aliados potenciais C :1

n<;ao cornum dos quam) pode ser vista pDf urn agressor potencial

como um poder su ficientc para disstlacli-lo.''Ir)

Durante a segunda metade dos :11105 19JO, quando n Li,l,":ltins

Nac;oes atravessnva 0 seu momento mais dificil, niio Sf) deviclo ;\

incapacidade de im por snncoes mas tambern aos al:l(ILH.'s dn s POlen-

cias do Eixo e a indifcrcnc;a dos go\'ernos dcmocrriticos, Angell n c l c

riu a inic iariva de urn grupo de prestigiosas personalidades anglo.fran.

ccsas, que prcte ndinm mnnifesrnr set) apoio iHlueln ()rg;lflji'.;1~'~O

internacionnl. ES5C grupo encctou urna Cilrnpnnha Internaclon;ll Pe h

Paz, que rcccbeu r:lpid:lfl1eflle nurnerosas adest,(,s de nrganismns 0:1(1

govcrmunent:tis, C (iue se rnarerinlixou t o r n urn congn:~so intcrnaciol1al

realizado em Bruxelas em serernbro de 1936, com rnais de quinhcnros

participanres, rcprcsentando entidades de 35 paiscs,

" Norman Angell, 1 .a T ' . . l Z 1 Ii P,wb/n (up, cir.).

;. Norman /\ngeU, La nlZ)' to! !);.-!,u!"r'fJ (op, cir.)

Page 20: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 20/24

XLII A GIV\NI>I'. IJ.llsr\(l

Havia !'t'guramt'ntt.' boa!' razocs para vcr no inici« d:l Scgllnda

G lll 'rrn.l\fundinl limn rnntirmn!;,:io dt' l1l11il:1S das pn'StlIHJl(':-; dn

combau:o ~I\gdl, so\Jrcludo pelo fracasso da;cguran<,:a colctiv.i c

a cornbinacao do isol\ ll l1ento com a acornodacao. Neste scntido ,

sua descricao daR CtltS\I!-i da prirneira conflah'ia<;~o mundia] em brga

escala erarn v-n lidas paIn a segunda. E se tivesse sido possivel unifi-

car 0 po~er ,\l a E urfJ pn . dedicando-o a sustentar a pa7, cornurn, tcri-

am surgido Ulstitl1it;f \CS internacionais capazes de proporcionar os

meios para ef{~tuar frtudans:as pad ficas. A defesa nacional teria che-

ga~o a ser urn proccdlltlento cooperativo e seria, como nao pcxleria

deixar de set na anarcluia internacional, urn instrurnento com ()

qual se nef;1;\va nos outros 0direito rcclarnado para si. Nas duas

ocasioes os HstadOIl Unidos e a Gra-Bretanha precisaram entrar na

guerra - os l)rimeiros mais tardiamente do que a segunda - para

enfrentar affi('~<;as clue podiarn ter sido evitadas. l~ interessante com-

~rovar que:t)ura explkar as razoes pelas quais os Estados Unidos

~nham decld~do combater, Angell emprega argumentos quase iden-

ncos aos d~ realist:l!,! mais conhecidos, como Nicholas Spykman

ou Walter Lippman, 0 triunfo da Alernaaha e a derrocada britani-

ca teriam , I < ; - significar n rnaior ameaca para a seguranc;a norte-ame-

ricana, segu.x-An~n que durante rnais de urn seculo tinha contado com

o apoio do !'Ioder naval de Londres.

Nos a.t:\'\)S da Scgunda Guerra Mundial Angell escrevcu AIJJmi , / r

Di lem l1 la : AUnw Oil A ll il 'd ? (O d i le m a c ia A m hira : iso la da Oil dido?) (1940) cLet th e P e op ll t K'1011} (Qllt' se d ig a a o pOlIO). publicado em 1943, que sc

convcrtcu elt'l.' urn dfill tcxtos rnais sugestivos sobre a politica inter"

nacional da ~'t'o(}G\, Em 1947 publicou Tbr SIt'!'/, PhW . 'J : / 11 1 i:''I;(}ltIi'ltJliOIl

o f P ol it ic al T ({ ~~ in ld rJ ((}J d e sp e nb ad d ro s: J im f ', ,> . :a m r as / nl l' /( fJ ri a. r/,o/iti({JJ), c

em 1951 sua 'l:~ mcnc}oll ..da Alliobio,f:;m/,J!}'.

* " * '

Fazer U;!!1) balanf';t. da obra dt: urna figura como Norman Angell cempreen,dir t~nto difkil, que exige abordagcrn rigorosa c uma ampla

perspee nva, uso se fez das suns posi<;i').Cs,reais ou SupoSt;1! " e as

Prcf;kio ;i cdi<;:io hrasi!rir:1 x I III

((lIlII'P\'(:'rsias quI' de su:-:citoll o : i g c l l l 1111.1 7 \ : 1 1 1 1 1 . ' do CIlf1jUI1H I d: t ~U;t

ohrn, (nll1:tfldo flola da c\'ohu;:io da!' suns idcias, do tjtH.;' cxisrc tit· conri-

nuidadc c mudanca na sua linha de rcflexiio e analise, dos a ju st cs ~ lu (_ '

pode ter in troduzido em connuo.com as circunsrancias ' - J U C ~l' "u(nli:ml

em carla memento no cenario mun dia l. S 6 a ss im rodcrau sc r clcsvcnda-

dos todos os rnatizes de urn pcnsarnento genuinamcnte prolific!), evi-

tando interpretacoes parcia is ou focalizando fragmcnt()s sclccionndos

com intuito polernico ou para exibi-lo como exernplo paradigrnatico de

urna dererrninada vertenre teorica.

A rnaioria dos estudos, criticos ou descritivos, dedicados a cxnmi-

nar a sua abordagern aos assuntos mundiais p()crn cnfasc nil presl1l1(;iln

de racionalidade, ou seja, a conviccao de que hft urna razao humans

comum que pode e deve constituir a base dos nossos comportamcnt()~

individuals e das instituicoes sociais; nao obstante, ao Indo do tlue possa

ter sido sua ponderacao desse componcnte racional <las conclutas, ()

mais Importanre em Angell foi 0 esforco (jue fez para cons! ruir (ou

rnodiflcar) todo urn sistema de crencas,

Indubitavelrnente Angell clava continuidade it tradicao do

internacionalismo racionalista e liberal do seculo XIX. As tcscs do

cosrnopolitisrno livre-carnbista tlue Cobden e Bright tinharn sus"

tcntado desde mead os do seculo XIX P foram rerornadas por tic

em urn contexte no qual ~l interdependencia cornercial rncncionada

pOl' aqueles autores se acresccntavarn os efeiros das transformacoes

ocorridas nas comunicacoes e no sistema financeiro mundinl. A

rnarca de Stuart Mill egta reflerida na perspective social, ( - 1 u t ' pOI' sua vcz

se vincula no reformismo liberal de Hobhouse, urn conremporaneo que

rarnbcrn via o fenorneno (bcrcsccnrc inrerdepcndencia das n;1(/)(':·5('( Hlln

urn faror C l u e podia aruar ern beneficio da P,lZ; : l li~m, na rurn l rnc ruc , dos

difercnres elementos ideolbgicos do rrabalhisrno ingles, Pur outro Iaclo,

nan parcee urn exagero encontrar nele uma antecip~I<;:!odos argumen-

to!' que seriam desenvolvidos mais tarde por Karl Polanyi ern /1 Grande

" J ;i 1I lin~ . I ; ) t!cc:ul:! de scsscnta Col.><kn anunciava ;1 scus c kif Of C~ in gl e'e s < ju t' ("·I;t\';Hll vivcn

do "uma CpOC:l.ern yuc i: Impns~i\'cI qU(~~ guerra seia v;!!lra~"s;l",

Page 21: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 21/24

XLIV

Trans formardo , quando explica 0 cicio CtlrOPCt1 de paz como rcsultad« da

e xp n ns fio t in "b(llIlt.jif/fl!/rr", nssim com o das tc~{'~muiio muis l'CCl't1tl'S

sabre 0stado comercial ou a in re rd cp cn de nc ia c or np le xa .

Angell reconhecia que 0fanatismo era urn fato cornurn nos assun-

tos humanos, e que "as seres humanos arnam a violcncia", mas isso niionos devia irnpedir de fazer todo 0esforco possivel para progredir no

carninho do racionalisrno politico e para < ' l u C os homcns se dcixcm h ' 1 . t i a r

pela razao e nao pelas paixoes. "Nao considero irnpossivcl modificnr ou

formar as ideias dos individuos, argumento < ' l U C nos condcnaria a o silcn-

do universal, pondo fim a toda producao politica, Mcsrno supondo title II

tarefa de modificar as opinioes politicas fosse tao laboriosa C diffcil como

as c r i t i c o s presumem, nao teriamos por < ' l ll C r c n u n c i a r :1 cla. Qunnto rnais

eles insistarn na gravidade desse obsraculo, rnais e mais notoria sera a

necessidade de nos esforcarrnos para vence-lo ... a inteligencia e 0unico

meio de fazer frente a s forcas da natureza; a intervencao da inteligencia

informada e consciente como urn fator entre as forcas que regem 0de -

senvolvimento socialeo unico modo pelo qual a sociedade pode garan-

tir-se contra 0eu desmembramento ou dissolucao,"

Toda a obra de Angell, desde 0que escreveu antes de Tbe Great

I l lusion, teve urn objetivo principal e uma prernissa basica. 0 objctivo

era demonstrar aos dirigcntes politicos e a o p ub lic o em gcral quc os

conceitos convencionais de que eles se valiam erarn geralmente fal-

50S, propondo a forma correta de analisar e tornar inteligiveis os

problemas da guerra, paz e seguran<;a das nacoes; a prernissa era agravitacao das ideias sobre a : a < ; : l O politica e • como se disse, a possi-

bilidade de urna arnpliacao da racionalidade nessa csfera.

Da sua conviccso de que os hornens nan sc gui:\\'am pclos fa-

tos, mas pcla opiniao que tinham sobre cles derivnva () csfon;o

constante para livrar 0gntnde publico dos crros de pcrcepoio e dos fal-

sos estereotipos, A respeiro do parriotisrno rnilitarisra, a prcsuncio das

vantagens econornicas da conquista ou a rcias:ao positiva entre podcr e

bcrn-estar, a defesa individual, as criticas a I,iga das Nacoes ou as politi-

cas de acornodacao, cram todas ideias com forte sustcntacfio no pensa-

rnento majorirario das pessoas, cujas conscqiiencias em urn sistema de-

\1 v

mocr ar ic o c on t ra ri av ar n 0interesse dos cidndaos c das na< ;()cs. I ~m / I

(,'rrllld(· IIIIJ( /o CSCl"l'\TU: "Quando os Intos ~Ilhrl' (l!' 'IWi~Sl' aptli :l111 l1li-

nhas tcscs forcrn plcnamcnrc conhccidos pcla opiniao publica europcia

- da qual depcnde absolutamentc a subsisrcncin Ott () dl:snparecin1l:I1t!l

do rcg;im,: m ilitarism -, os movimeruos ag;rcssi\'os n fi o ma is Icr;l() r;vi1ode ser , .. ,E chegado 0memento de promcwcr uma carnpanhn de cducn-

C;an na Europa; de fazcr com que os scssenta e cinco milhoes de indivl-

duos que ganhmn a vida laboriosarncntc, c cujo clinhciro serve de COIn-

bustfvel pnra sustentar essas rivalidades, percebarn a realidade das coisas."

Partindo da prernissa de 'lue os gOVCff10S "forarn criaclos para pro-

tcger e njio para sacrificar os inrercsses colocados sob a sua custodia", c

ecoando a exprcssao de urn politico frances: "sou lider, por issf) sign ()~

outros", Angell considerava que, em urn regime parlamentar, 0chefe de

partido ocupava esse lugar "a titulo de ser 0 representante da media das

opinioes do partido':' e que essa media de opinioes refleria ou sc adap-tava a s opinioes predominantes no seio da sociedade, as quais PO! sua

vez resultavarn (como a sua experiencia iornallstica havin constatac!o)

da influencia da imprensa. Era praticamente irnpossivel que os govcr-

nos baseassern seus planes politicos em ideias que contrariasscm () que

as pessoas pensavam, desarticulando-se dos dimas de opiniso.

Naturalrnente, Angell njio desprczava a influencia sobrc os

govcrnantes, mas considcrava muito mail' importante educar at]tlt.'·

les que com seu voto os consagravarn, irnpondo-lhes seus 1'ont05 de

vista. Por isso, 0principal dcstinatario da sua mensagem fundnmenml-

mente pedagogics era 0hornern cornum, esse John Citizen ou [ohn Smith

de que fala extensamcnte nos seus escriros .~.(.Iue quer ver j(i(:ntificnndo

sells verdadeiros inreresses, libcrrando-se dos errns e paixoes, proC\Jf ;1n-

do "apresentare responder as suns pergunras, dllvidas c tcmores :t rcspei-

to da guerra, suas causas, origens c resultados". Por vezes esse cnrusiasrno

pedag{)gico se reflew na forma como os problemas s~o aprcscntndos,

iniciando com lima ampla lista da s inrcrrogacoes rnais comuns - Lluase

sctenta ern PetI te a nd th e P la in A la n, escrito em 1935.

Page 22: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 22/24

XLVI t\ (;H,\NIW, II.lI:;,\()

Da perspccriva de urn estudioso dns l'eb<;11l'S intc rn.rcionais.

N or mnn t\n~cll podc SCI" tornado s impk-suu-nu- C(l1111 I (l .iut or

ernblcrnatico de 1 1l 11 a int crp retaciio il k:1 il ~ta ou ut('q,ica; COlllil ;d

f,lUcm que, por rneio de urna producao rnuito arnpla, abordou qu('~

toes e emprcgou categorias fundarncntais para 0dcscnvolvimcnt»des sa disciplina, e que portanto mcrcce SCI' rcconhccido como urn

marco necessario na sua historia. lsro sc aplica, pOl' cxcmplo, :IS

analises que nos deixou sabre a forma como os atores pcrcebcm O~

interesses rnutuos em contextos de anarquia, a logica dol ' rnccanis-

mos dissuasorios, a analogia entre pessoas e Estados, as altcrnativas

pelas quais contrapos 0emprego da forca nas relacoes internacio-

nais; a suas reflexoes a proposito tin vinculacfio entre a

interdependencia econornica e a textura e recursos dos Estados, 0

equilfbrio de poder, as instituicoes de seguran<;a colctiva, os Fatos

relativos a forrnulacao da politica exterior. Sao igualmcnte

insubstituiveis os seus comentarios sobre os cpisodios rnais rclcvan-

tes da politica mundial durante a primeira metade do scculo xx .Quanto ao seu presurnido utopismo, nao pode deixar de tcr

origem no equivoco mencionado no inicio deste Prcfacio, e Clue de

certo modo teve infcio com 0 seu coetaneo E.H. Carr, foi sustenta-

do por Morgenthau e continua vigente, como 0 demonstra 0 co-

mentario de Waltz em artigo recente no qual atribui a Angell haver

resumido os rextos de geraco es de economistas class ico s e

neoclassicos e extraido dcles a conclusao dramatica de que "nile) dcveriahaver guerra porclue cia nao era renravel."." Como ja foi assinalado, hi

rnuitas evidencias de que Angell nunca sustentou isso, e Clue nan incor-

reu no erro que atribui aqucles com que polcmiza Ott a quem se dirige,

ou seja, nao se iludiu a respeito do bito de urn esforco oricnrado para 0

modo de pensar os rcmas cia guerra c da paz; de outro lado, para scrrnos

fieis ao seu prognosrico sobre a guerra, devcriarnos disringuir en tre as

afirrnativas de Clue "nao havera", "niio deveria haver", "nao convem

que haja" e "c possivel fazer certas coisas para Cluenan haja".

II Kenneth \ \'ahz. "Globali l' .:ulon and C;ovcrn:mce in Pnl incal 5ri,II(,(, ;Hld P"I!IIn", emP()liti(~/SomiZ muf Po/ilia, vol, XXXII, dczcmbro de 1999.

\1.\'11

SOI11()S tCI1t:ltioS :1 concluir ll\ll' l\ngcllcstc\'C 111:11<; 1'1'(',:-;jl11l\ <1:1 11('

cn;s:i~'ja.{'omhin:H;:io de utopia (,{Jill rcnlismo l"xigid'l !lor C:lIr ti.) tplV

(,SiC ultImo au ror, D csd c logo, h: i ()S (Juc 0 cI;)~<;ificlln n.is fikins do

rcnlisrno, c njio do ideal isrno, c achnm que, au y;dnriz:!!' c('rt (l~ f:lI()s.

,\ngcll foi mais r c n l i s t n do (Iue () ct'kbrc hi:;t(lri:HluL :\VqC C('lllidn, j:i

foram mencionadas as provisoes sobrc () LJue scria :l a~<;oCl,1(;:i() tins !\Iia

dos, e tam bern sua sugestao de cJue a R ussia p od eri: l :'1m »;inl:lr-~t' dC '

Bedim se Londres lhe voltasse as costas."

Precisamenre, urn capitulo ern C lue rnan if cs t a S1.1;I pcrspicicia

para apreciar os fenornenos que definern 0 clima da {:poca t: () (IUl'

conrern observacoes sobre a natureza dos fcnornenos socinis, politi-

cos c ideologicos clLle influenciavarn 0 ceruirio inrernncionnl nas duns

decadas anteriores a Segunda Guerra Mundial, Abordar esre aspcc-

to da sua obra nos rcvcla urn pensador cuja filia<;:ilop olitic;I () sirua

em um campo proximo do socialismo liberal, c com notavcl cnpnci

dade para penetrar no que h:1 de rnais profundo naquelcs fcn(\mc"

nos, identificando matizcs Litle nao foram pcrccbiclas pda maiori«

dos contcmporaneos.

Em rneados cia decada de 1930 Angell tinha escrito: "Sornos teste-

munhas de uma revolucao social em grande parte do munclo, rcvoluciio

social que tern poueo a ver com a de Marx. t\ unica rcvoluciio comunis-

ta que teve exito nan acontcceu onde deveria ter ocorrido segundo a

tese rnarxista - em urn pais altarnenre indusrrializado - porcm na me-

nos industrializada de rodas a nacoes, e os fatores que conrarnm paraisso foram 0 carater pessoal e a genialidade de ires ou quarro h0I11CI1S,

nao as forcas puramente marcriais do detcrrninismo ccnnornico," .'1)

POllCOS anos depois voltaria ao terna, e hascando-se no (jue aeon-

tccia na Gra-Bretanha., com seus programas de ~eguridad(' social c ()

fortalecimento do poder sindical, c nos Esmdos Unidos clcsde a im-

to No que diz rcspci ro il r"mpar~<;~n entre Angl 'l I c C~n '("ri~ hom irl\C"lig;u. t' c"ln{:~r em

[ )lIl"alelo ~ prnclu<;ao conrcrnporanca, Antes dc cornpr.r; .r '1' /", ' i"I1'tJltr ) ~,,6 e , ; , " nu (~",d;tifm' fI !

Prnr r , cscriros em 19.'19 e 1942, com ' } 1 > 1 ' (;,.,.<1' l i lm i on , rubli('~d" :IfHt·, l.b Primcir« (;Ut"fT:l

Mundial , scria 0 caso de cOfl1p:lf:i·los corn os tc~;!"S {,n'p'lr:HI", n~ mCfH:l ':fY'c" j'lfl l ' / """.

,lIId ' ' ' I ' Plain ! 1 1 0 f t , liMa m tb J)ir/tI/"fJ( ou l r : If., Prilf)/' i\';()II', ' ,; > r l Norman Angell, Proff : JJil/) Diaa to rs? (of', cir.) ,

XLVlII A GRANDE IU J SA I )

Page 23: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 23/24

p la nt ac ao d o NelJI Dea l , desc rev ia a i ncon t ra sn iv c l ac<:kr:t<;~()da reform:!

social e Q progresso d a soc ia li za ca o, T c ndc n ci a lllle cpn~ id t 'r a \' :l po s ir i-

va, e que tinha a ccrtcza de que coniinuaria a aprofundar-sc, ((lI1-

trastando com urn movimento muito rnenos positiYC) no campo

das relacoes entre os Estados.

o nacionalismo njio estava rnuito distante dessa tcndcncia: fc-nome no em cuja analise Angell mostrava tudo 0LJue o afastava de

uma perspectiva idealista, Dizia: "Provavclmcntc 0scntirncnto nncio-

nalista e a forca politica rnais poderosa do mundo moderno." Sc a estru-

tura politica europeia se baseava na existencia de sobcranias indcpcn-

dentes, em vez de repousar, como no caso da America do Norte, em

urn sistema federativo, era porgue "0nacionalismo se hnrmoniza com

impulsos humanos profundos, instintos e outros fatos psicologicos lju.e

e preciso reconhecer, assim como e precise adrnitir os faros econorni-

cos, Pretender que a nos sa natureza nao contenha odios e agressivid:~de,

desejos de dominic e de represalia, sadismo e apetires, gue c~>IltrarI:m

muitas vezes nossos interesses materials e frustram nossas intencoes

conscientes, e desconhecer tanto a experiencia diaria como os

ensinamentos da hist6ria." 21 •

As grandes tendencias da epoca se materializavam em regimes de

signo dis t in to mas de iguais praticas autoritarias, Dizia Angell: "~oucas

coisas sao tao reveladoras do parentesco espiritual entre 0comul1lsmo e

o nacional-socialismo como comparar os proccssos de Moscou com ()

incendio do R e i c h s t a , g , e a OGPU com a Gestapo," Mesrno assirn, rcco-

nhecia uma diferenca entre os casos da Uniiio Sovietica e da Alcmanha,

A R u s s i a semprc fora uma autocracia I 'ura, e a a~ccnsao do b,o~chc:·~s~11()

havia ocorrido em urna socicdade gue mal deixara a barbaric nsrauca,

enquanto n o rnornento do triunfo de Hitler a Alcmanh~~ e~a ll.rn ! " ' 1 : 1 i s

altamente civilizado; em consequencia, "0que p:tra a RUSSia slgnlftca

urn progresso com relacjic it situat;ao anterior, para a Alc' :1anha. repre-

senta urn retrocesso nil.sua civilizacao." Afinal, 0 guc dcvia tel' Il11pOr-

11 Norman Angdl. Pfarr dlllil/x Plain .\1.;" (op, cit.)

Prclacio ;'t edi<;;'o bras il cira \1.1\

t;incia primordial (1:10era "que () pais rl'prl'sl'ntas~(' () l't'gillll' mnis odi;l

do, porcm 0mnis pcrigoso devido ;1sua ambicfio.": '

Os regimes fascistas niio cram 0rcsultado dt' ncccssidaclcs cconomi-

cas, da pobrcza ou da fomc; aquclcs que os impulsionnvam '\'~1:1Y;1m bern

nlirncntados, bern vcstidos c pcrtenccm gcmlmentt':\ clnsse I 1 1 l ·d i ;l . .I :~;t:ltll()S

dianre de urna revolucao c ia c la ss e media, dcviclacm parte a injl1Qiqls t:

contrarcmpos, mas tambern no puro arnor ;, violcncia, a uma n:\'olta COil--

Ira a taZ:10, contra () livre debate e a libcnlaclc de pcnsarncmo.":"

Quanto an aspecto in rern acion al, A n gel l in sisria ern rcconhcccr ( It le a

Russia nan era um Estado que desejasse territories de ourros palses, en-

cJuanto a Alernanha, a Italia e 0a p a o se dcclaravam cxpansionisras, c sc

dedicavarn a aquisicao de terms alheias, De outro lado, aceitava a itll-la, rnui-

to difundida nos serores liberals, de que, desde que Stalin se irnpuscra a

Trotsky; Moscou tinha abandonado a ideia de expot'lar0cornunisrno, "Pode

nfio tel' deixado de lado os lemas revolucionarios, mas os deixou de !ado

como polirica exterior, Sua ideologia ja nao e principalmcnre bolchevista ou

marxista.ie russa."?'

Uma vez iniciada a Segunda Guerra Mundial, esses argul11cntos Sl'f\'!-

ram a Angell para explicar e justificar a alian<;:acom a Uniao Sovietica, e pam

sugerir uma oricntacao para a ordern mundial no pos-guerra: cle csrava

entre os que acreditavam Clue a estabilidadc do mundo depcndia de (Jut' a

alianca da guerra, gue incluia a Uniao Sovierica, fossc mantida na paz. I~ssa

unidade facilitaria a solucao da enorrne sequela de problemas dcixndos rein

conf1ito - carencias alimentares, resscntimcntos c rcvnnchismos politicos e

idcologicos, deslocarncntos rnacicos de populacao, etc. -- e desesrirnulnria

fururas arnescas,

Nao Ihe parecia irrazoavcl que a Unifio Sovietica nceirasse descm-

pcnlrar esse pape!. A lcrn cia tcndencia j:l mcncionada {It: constr uir n

socialisrno em urn Sf') pais, cia sairia da guerra ern t;\1cstado de devastn-

<;ao c com rais nccessidades cconornicas (Jllt' 0 Ocidcnte tinha dificulda-

12 Norman Angell. I/J;r/(m.

, . 1 . \ Norman ;\ngl~n. i i 1 1 l 1 t : ' . ' : ' J ,

" Norman Angeli. 1.."/ t!~. 'r()pj" "I1MJ', N.York/1 J)f1drt'~,\'iking Press, 1943.

Page 24: Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

8/4/2019 Norman Angell - A Grande Ilusão (prefácio).

http://slidepdf.com/reader/full/norman-angell-a-grande-ilusao-prefacio 24/24

L A GRANDE ILUsAo

de de imaginar. Boa parte do resultado do trabalho realizado nos ult i-

mos vinte anos havia sido destruido, 0que a obrigaria praticamente a

recornecar, e 0 faria depois de assistida pelos Estados Unidos e a Gr~-

Bretanha, de modo que as antigas acusacoes bolchevistas de que 0cap~-talismo se unia para a sua destruicao ficavam desacreditadas, com ~ e~-

minacao de muitas suspeitas e hostilidades. E conc1uia: "Quando a RUSSla

estiver mais estreitamente associada para a sua defesa com os Estados

capitalistas, desaparecera muito do que nela desaprovamos. E eviden~e

que a Russia nao vai querer destruir ou debilitar aque.les de quem precl-

sa para a sua propria defesa. Sera abandonada a teona de que em qual-. .. " 25

quer circunstancia os capitalistas devem ser lllitnlgoS.. .

Assim, Norman Angell punha em evidencia uma vez m~s su~ cap~c~-

dade de ponderar interesses e situacoes, despido de preconceitos ideologi-

cos e expondo criterios de "realismo normativo", os quais, se ~vessem ~~e-valecidona segunda metade do seculoxx,poderiam ter conduzido a politica

mundial por caminho multo mais construtivos.

* * *

25 Devemos lembrar que os argumentos desse tipo eram subscritos por muitos academicos e

politicos "ocidentais", entre outros 0 ex-Subsecretario de Estado norte-americano Sumner Welles,

no seu l ivro H ora c ia Decisao.

PREFACIO DO AUTOR

p ar a a e dz[ iio e m e sp an ho l

Os prindpios ou categorias de forcas que procurei explicar neste

livro tern interesse especial para os paises da America hispanica. Com

efeito, esses paises me proporcionaram boa parte dos exemplos de que

me servi para tornar inteligivel a acao de tais prindpios e forcas. 0

efeito do desenvolvimento industrial sobre as condicoes politicas e urn

problema que deveria ser investigado por todos os que se preocupam

com 0bem-estar da America hispanica, e e 0que quis estudar aqui. A

despeito de todas as aparencias em contrario, a meu juizo, a America

hispanica, em termos praticos, encontra-se mais proxima de algum tipo

de confederacao do que a propria Europa. E penso que nao ha urn so

dos prindpios discutidos aqui que nao tenha uma relacao pratica e dire-

ta com essa tendencia,

Adotei neste livro urn metodo de exposicao urn tanto livre,a saber:

A sinopse nao passa de uma ,ligeira indicacao do sentido geral da

argumentacao apresentada - ou seja, nao que a guerra seja impossivel,

mas e futi l e ineficaz, mesmo quando vitoriosa, como meio de alcancar

aqueles objetivos morais e materiais que resultam das necessidades dos

modernos povos europeus; por conseguinte, da percepcao e compreen-sao dessa verdade vai depender a solucao do problema do armamentismo

e da guerra.

A questao econ6mica geral esta resumida no capitulo II I da Pri-

meira Parte.

Os aspectos moral, psicologico e biologico estao resumidos no

capitulo II da Segunda Parte.

o tema da Terceira Parte e 0resultado pratico - a politica que

deveriamos adotar em materia de defesa, como e por que 0espectivo

progresso vai depender da reforma da opiniao publica, e quais os pro-

cessos adequados para alcancar esse fim.