MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM … · A escolha do número de casos de estudo e a...
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MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM
ESCOAMENTO À ESCALA MENSAL: APLICAÇÃO A TRÊS CASOS
DE ESTUDO EM MOÇAMBIQUE
Jorge André Melo de Carmo Vaz
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Doutor Pedro Guilherme Sampaio Viola Parreira
Orientador: Doutora Maria Manuela Portela Correia dos Santos Ramos da Silva
Vogal: Doutor João Nuno de Almeida Reis Hipólito
Outubro de 2010
i
MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ESCOAMENTO À
ESCALA MENSAL: APLICAÇÃO A TRÊS CASOS DE ESTUDO EM MOÇAMBIQUE
Nome: Jorge André Melo de Carmo Vaz
Mestrado Integrado em Engenharia Civil - Perfil de Hidráulica e Recursos Hídricos
Orientador: Doutora Maria Manuela Portela Correia dos Santos Ramos da Silva
Resumo
A presente investigação teve como objectivo principal o desenvolvimento e a aplicação dos
modelos hidrológicos agregados do balanço hídrico sequencial e de Temez para transformação
da precipitação em escoamento, à escala mensal, em três bacias hidrográficas localizadas na
Região Centro de Moçambique.
A escolha do número de casos de estudo e a respectiva localização geográfica resultaram de
uma pesquisa das bases de dados hidrológicas da Direcção Nacional de Águas (DNA), que é a
instituição responsável pela gestão de recursos hídricos em Moçambique.
Os resultados obtidos demonstram que, tanto o modelo do balanço hídrico sequencial (embora
com parâmetros adicionais), como o modelo de Temez, são adequados para simular a
transformação da precipitação em escoamento nas bacias hidrográficas analisadas. Verifica-se
que o balanço hídrico sequencial é o que apresenta melhor ajustamento relativamente aos
escoamentos observados, mas que os dois modelos fornecem resultados próximos.
De entre a utilização, no modelo do balanço hídrico sequencial, da evapotranspiração potencial
de Thornthwaite ou de Penman-Monteith (em valores médios mensais) o estudo não permite
identificar o método mais apropriado. O cálculo da primeira evapotranspiração é mais simples e
tem modestas exigências, em termos de dados de base requeridos. Teoricamente, a segunda
evapotranspiração descreve melhor o processo físico em si.
A fraca qualidade dos resultados tendo por base a transposição de valores dos parâmetros dos
modelos de uma bacia hidrográfica para outra próxima sugerem que a regionalização de
parâmetros poderá não ser possível, conclusão cuja fundamentação carece, contudo, de
estudos adicionais, designadamente pela inclusão de novos casos de estudo.
Palavras-chave: transformação da precipitação em escoamento; balanço hídrico sequencial;
modelo de Temez; evapotranspiração potencial de Thornthwaite; evapotranspiração potencial
de Penman-Monteith; preenchimento de falhas em séries de precipitação; Moçambique.
ii
RAINFALL - RUNOFF MODELS AT A MONTHLY TIMESCALE: APPLICATION TO
THREE CASE STUDIES IN MOZAMBIQUE
Name: Jorge André Melo de Carmo Vaz
Integrated Master (MSc) in Civil Engineering – Hydraulics and Water Resources
Supervisor: Maria Manuela Portela Correia dos Santos Ramos da Silva, PhD
Abstract
The present investigation aims at the development and application of aggregated hydrological
models, such as the sequential water balance model and the Temez model, for monthly rainfall-
runoff modeling in three watersheds located in Central Mozambique.
The case studies and respective geographic location resulted from a search in the hydrological
database of Direcção Nacional de Águas (DNA), the institution responsible for water resources
management in Mozambique.
The results show that the sequential water balance model with two additional parameters and
the Temez model are both adequate for modeling rainfall-runoff processes, in each of the three
case studies of this investigation. Although the sequential water balance gave the better fitting
to the observed flows, both models provided close results.
The Thornthwaite and the Penman-Monteith potential evapotranspiration, using mean monthly
values, were both tested in the sequential water balance model but the results are not
conclusive to determine which one is the most appropriate The Thornthwaite method is simpler
and has modest data requirements, while the Penman-Monteith method is, in theory, the best
suited for describing the physical process of evapotranspiration.
The attempt made to use the calibrated parameters from both models from one watershed to
another that is smaller and located nearby did not turn out as good as expected. That raises
some doubts on the possibility of regionalization of parameters, although it is necessary to get a
more extended experience and more case studies before a definitive conclusion is reached.
Keywords: rainfall-runoff modeling; sequential water balance; Temez model; Thornthwaite
potential evapotranspiration; Penman-Monteith potential evapotranspiration; gap filling in rainfall
time-series; Mozambique.
iii
Agradecimentos
Para a elaboração desta dissertação, que resultou de minutos, horas, dias e meses de
trabalho, muito contribuíram algumas pessoas. Este espaço é deles e para eles.
Em primeiro lugar, não podia deixar de agradecer aos meus pais, Álvaro e Isabel, pelo apoio
incondicional, pelo auxílio em tempos mais complicados e pela informação que conseguiram
arranjar e disponibilizar.
À Professora Manuela Portela, orientadora da dissertação, deixo uma palavra de apreço pela
orientação e liberdade de trabalho que me permitiu, inúmeros esclarecimentos prestados no
meio de muita confiança transmitida e simpatia que sempre manifestou.
Aos meus amigos, começando pelos de Moçambique, passando pelos que conheci quando
entrei para o IST, até os que fui conhecendo ao longo destes cinco anos, que tenho o prazer de
acompanhar e ser acompanhado ainda hoje, agradeço essencialmente terem estado ao meu
lado. Por isso fica um abraço ao Canelas, António, André, Lena, João Luís, Daniel, Ana Isabel,
Manel, Ana Aquino, Bernardo, Gabriela, Pedro Martins, Sara, Belejo, Tuna, Ruivo, Artur,
Morgado, Inês, Sofia, Laura. Por último, mas tão ou mais importante, deixo um agradecimento
à Alexandra que muito aturou e sempre procurou ajudar e apoiar.
Fica também uma palavra de consideração pela ajuda na produção de muitos mapas que
constam na dissertação por parte do Engº J. Chongo, de Moçambique; bem como um
agradecimento à Engª Mariana Correia, da COBA, por ter disponibilizado alguma da
informação de base que foi utilizada.
Gostava também de realçar a contribuição do Professor João Hipólito, a quem agradeço ter
aceite o convite para participar, como júri, na prova de Mestrado, para o esclarecimento e
melhoramento de alguns aspectos da dissertação.
A todos um muito obrigado!
Índice Geral
iv
Índice Geral
1. INTRODUÇÃO, OBJECTIVOS E ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ..................... 1
2. RESENHA HISTÓRICA SOBRE MODELOS DE TRANSFORMAÇÃO DA
PRECIPITAÇÃO EM ESCOAMENTO ................................................................................... 4
3. EXPERIÊNCIA DE TRABALHOS DE SIMULAÇÃO HIDROLÓGICA EM
MOÇAMBIQUE ...................................................................................................................... 9
4. A TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ESCOAMENTO ............................. 10
4.1. Considerações prévias ............................................................................................ 10
4.2. A modelação ............................................................................................................. 11
4.2.1. Caracterização geral ............................................................................................... 11
4.2.2. Calibração, Validação e Função Objectivo ........................................................... 12
4.2.3. Medidas de ajustamento e erro entre escoamentos simulados e observados 14
4.3. Métodos de preenchimento de falhas em séries de precipitação ...................... 17
4.4. Evapotranspiração ................................................................................................... 19
4.4.1. Conceitos introdutórios.......................................................................................... 19
4.4.2. Evapotranspiração potencial mensal de Thornthwaite ....................................... 20
4.4.3. Evapotranspiração potencial mensal de Penman-Monteith ............................... 21
4.5. Modelos utilizados no presente estudo para transformação da precipitação em
escoamento ......................................................................................................................... 26
4.5.1. Modelo do balanço hídrico sequencial ................................................................. 26
4.5.2. Modelo Temez .......................................................................................................... 30
4.5.3. Fórmula de Turc ...................................................................................................... 34
5. APLICAÇÃO A TRÊS CASOS DE ESTUDO ............................................................... 35
5.1. Considerações Prévias ........................................................................................... 35
5.2. Caracterização geral das bacias hidrográficas .................................................... 39
5.3. Caso de estudo 1: bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83 – Mavuzi em
Confluência ......................................................................................................................... 44
5.3.1. Dados de base ......................................................................................................... 44
Índice Geral
v
5.3.2. Balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite .......................................................................................................................... 45
5.3.2.1. Estrutura do modelo ................................................................................................. 45
5.3.2.2. Calibração e validação ............................................................................................. 51
5.3.2.3. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do balanço
hídrico baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite calculada a partir de
temperaturas médias mensais e a partir da série mensal de temperaturas mensais ................. 53
5.3.3. Balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith ................................................................................................................... 56
5.3.3.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 56
5.3.3.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do balanço
hídrico baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith .. 58
5.3.4. Modelo de Temez .................................................................................................... 63
5.3.4.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 63
5.3.4.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do modelo de
Temez e do balanço hídrico baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite ............ 65
5.3.5. Fórmula de Turc ...................................................................................................... 67
5.3.5.1. Aplicação da fórmula de Turc ................................................................................... 67
5.3.5.2. Comparação entre escoamentos anuais médios obtidos pela Fórmula de Turc,
balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-
Monteith e modelo de Temez ...................................................................................................... 67
5.4. Caso de estudo 2: bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392 – Mavuzi
em estrada de Mavonde ..................................................................................................... 68
5.4.1. Dados de base ......................................................................................................... 68
5.4.2. Balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite .......................................................................................................................... 69
5.4.2.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 69
5.4.2.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do balanço
hídrico baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite calculada a partir de
temperaturas médias mensais e a partir da série mensal de temperaturas mensais ................. 72
5.4.3. Balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith ................................................................................................................... 73
5.4.3.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 73
5.4.3.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do balanço
hídrico baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith .. 76
5.4.4. Modelo de Temez .................................................................................................... 79
5.4.4.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 79
5.4.4.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do modelo de
Temez e do balanço hídrico baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite ............ 81
5.4.5. Fórmula de Turc ...................................................................................................... 83
5.4.5.1. Aplicação da fórmula de Turc ................................................................................... 83
Índice Geral
vi
5.4.5.2. Comparação entre escoamentos anuais médios obtidos pela Fórmula de Turc,
balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-
Monteith e modelo de Temez ...................................................................................................... 83
5.5. Caso de estudo 3: bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90 – Licungo 84
5.5.1. Dados de base ......................................................................................................... 84
5.5.2. Balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite .......................................................................................................................... 85
5.5.2.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 85
5.5.3. Balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith ................................................................................................................... 87
5.5.3.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 87
5.5.3.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do balanço
hídrico baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith .. 89
5.5.4. Modelo de Temez .................................................................................................... 94
5.5.4.1. Estrutura do modelo, calibração e validação ............................................................ 94
5.5.4.2. Comparação entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do modelo de
Temez e do balanço hídrico baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite ............ 95
5.5.5. Fórmula de Turc ...................................................................................................... 97
5.5.5.1. Aplicação da fórmula de Turc ................................................................................... 97
5.5.5.2. Comparação entre escoamentos anuais médios obtidos pela Fórmula de Turc,
balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-
Monteith e modelo de Temez ...................................................................................................... 97
6. SÍNTESE DE RESULTADOS E CONCLUSÕES ......................................................... 99
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 107
ANEXOS ............................................................................................................................. 111
Índice de Figuras
vii
Índice de Figuras
Figura 1 – Modelos hidrológicos matemáticos (QUINTELA & PORTELA, 2002). ........................ 5
Figura 2 – Representação esquemática dos processos simulados pelo modelo MIKE SHE
(reproduzido de www.csiro.au) ...................................................................................................... 8
Figura 3 – Fases da modelação e suas interacções (FERNANDES, 1990). .............................. 11
Figura 4 – Compromissos da modelação matemática (adaptado de SANTOS, 1985). ............. 13
Figura 5 – Modelo de Temez: esquema (retirado de PBH Rio Lis, 2001). ................................. 30
Figura 6 – Modelo de Temez: relação precipitação – excedente (retirado de PBH Rio Lis, 2001).
..................................................................................................................................................... 31
Figura 7 – Modelo de Temez: relação excedente – infiltração (retirado de PBH Rio Lis, 2001).33
Figura 8 – Calibração do modelo do balanço hídrico sequencial. Representação gráfica da
função objectivo, FO, através de quatro cortes obtidos considerando como parâmetros
variáveis ASmax e C e como parâmetro fixo, com os valores indicados, α. .............................. 37
Figura 9 – Calibração do modelo de Temez. Representação gráfica da função objectivo, FO,
através de quatro cortes obtidos considerando como parâmetros variáveis Hmax e α e como
parâmetros fixos, com os valores indicados, C e Imax. ................................................................ 38
Figura 10 – Enquadramento esquemático das áreas estudadas no contexto de Moçambique . 40
Figura 11 – Área 1: bacias hidrográficas nas estações hidrométricas E83 e E392 e postos
udométricos localizados nas proximidades. ................................................................................ 41
Figura 12 – Área 2: bacia hidrográfica na estação hidrométrica E90 e postos udométricos
localizados nas proximidades. .................................................................................................... 42
Figura 13 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com um parâmetro: ASmax. Valor optimizado do parâmetro. Medidas de
ajustamento e erro. ..................................................................................................................... 46
Figura 14 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com dois parâmetros: ASmax e C. Valores optimizados dos parâmetros.
Medidas de ajustamento e erro. .................................................................................................. 47
Figura 15 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com dois parâmetros: ASmax e α. Valores optimizados dos parâmetros.
Medidas de ajustamento e erro. .................................................................................................. 47
Figura 16 - Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com três parâmetros: ASmax, C e α. Valores optimizados dos
parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ............................................................................. 48
Figura 17 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: precipitação média na bacia e
escoamentos observados. Três situações singulares em que o escoamento observado é muito
superior à precipitação. ............................................................................................................... 49
Figura 18 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Calibração (1957/58 a 1968/69) e
validação (1969/70 a 1975/76). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ...... 51
Índice de Figuras
viii
Figura 19 – Estação agroclimatológica de Chimoio: temperaturas médias anuais de 1951/52 a
1969/70. ....................................................................................................................................... 54
Figura 20 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos mensais calculados
pelo balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite
obtida a partir da série mensal de temperaturas mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas
médias mensais, H_THmédia. Equação de regressão linear simples e coeficiente de
correlação, R. .............................................................................................................................. 54
Figura 21 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. Calibração (1957/58 a 1968/69)
e validação (1969/70 a 1975/76). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ... 57
Figura 22 – Estação agroclimatológica de Chimoio: temperatura média mensal,
evapotranspirações potenciais de Thornthwaite, EVP TH e de Penman-Monteith, EVP PM. ... 58
Figura 23 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: evapotranspirações potenciais
mensais de Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. Equação de regressão
linear simples e coeficiente de correlação, R. ............................................................................. 59
Figura 24 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e coeficiente de correlação, R. ........................................................... 60
Figura 25 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: precipitação média na bacia,
evapotranspiração potencial e real de Thornthwaite (EVP TH e EVR TH) e evapotranspiração
potencial e real de Penman-Monteith (EVP PM e EVR PM). ..................................................... 61
Figura 26 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamento médio mensal
observado, média e desvio-padrão de escoamentos mensais simulados pelo balanço hídrico
sequencial baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-Monteith. ........... 62
Figura 27 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: modelo de Temez. Calibração
(1957/58 a 1968/69) e validação (1969/70 a 1975/76). Valores dos parâmetros. Medidas de
ajustamento e erro. ..................................................................................................................... 64
Figura 28 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite, H_TH, e pelo modelo de Temez, H_Temez. Parâmetros dos modelos. Equação
de regressão linear simples e quadrática e coeficientes de correlação, R. ................................ 65
Figura 29 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos observados e
simulados pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, entre 1957/58 e 1975/76. .................................. 66
Figura 30 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Calibração (1967/68 a 1975/76) e
validação (1963/64 a 1966/67). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ...... 70
Índice de Figuras
ix
Figura 31 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite e parâmetros do caso de estudo 1.
Parâmetros do Caso de Estudo 1. Medidas de ajustamento e erro. .......................................... 71
Figura 32 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos mensais calculados
pelo balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite
obtida a partir da série mensal de temperaturas mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas
médias mensais, H_THmédia. Equação de regressão linear simples e coeficiente de
correlação, R. .............................................................................................................................. 72
Figura 33 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. Calibração (1967/68 a 1975/76)
e validação (1963/64 a 1966/67). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ... 74
Figura 34 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite e parâmetros do caso de estudo 1.
Parâmetros do Caso de Estudo 1. Medidas de ajustamento e erro. .......................................... 75
Figura 35 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e coeficiente de correlação, R. ........................................................... 77
Figura 36 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamento médio mensal
observado, média e desvio-padrão de escoamentos mensais simulados pelo balanço hídrico
sequencial baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-Monteith. ........... 78
Figura 37 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: modelo de Temez. Calibração
(1967/68 a 1975/76) e validação (1963/64 a 1966/67). Valores dos parâmetros. Medidas de
ajustamento e erro. ..................................................................................................................... 79
Figura 38 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: modelo de Temez e parâmetros
do Caso de Estudo 1. Parâmetros do caso de estudo 1. Medidas de ajustamento e erro. ....... 80
Figura 39 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite, H_TH, e pelo modelo de Temez, H_Temez. Parâmetros dos modelos. Equação
de regressão linear simples e quadrática e coeficientes de correlação, R. ................................ 81
Figura 40 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos observados e
simulados pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, entre 1963/64 e 1975/76. .................................. 82
Figura 41 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Calibração (1964/65 a 1970/71) e
validação (1971/72 a 1974/75). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ...... 86
Figura 42 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. Calibração (1964/65 a 1970/71)
e validação (1971/72 a 1974/75). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro. ... 88
Índice de Figuras
x
Figura 43 – Estação agroclimatológica de Gurué: temperatura média mensal, temperatura
média mensal, evapotranspirações potenciais de Thornthwaite, EVP TH e de Penman-
Monteith, EVP PM. ...................................................................................................................... 90
Figura 44 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: evapotranspirações potenciais
mensais de Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. Equação de regressão
linear simples e coeficiente de correlação, R. ............................................................................. 90
Figura 45 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e coeficiente de correlação, R. ........................................................... 91
Figura 46 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: precipitação média na bacia,
evapotranspiração potencial e real de Thornthwaite (EVP TH e EVR TH) e evapotranspiração
potencial e real de Penman-Monteith (EVP PM e EVR PM). ..................................................... 92
Figura 47 – Escoamento mensal médio observado, média e desvio-padrão de escoamentos
mensais simulados com base na evapotranspiração de Thornthwaite e Penman-Monteith ...... 93
Figura 48 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: modelo de Temez. Calibração
(1964/65 a 1970/71) e validação (1971/72 a 1974/75). Valores dos parâmetros. Medidas de
ajustamento e erro. ..................................................................................................................... 94
Figura 49 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite, H_TH, e pelo modelo de Temez, H_Temez. Parâmetros dos modelos. Equação
de regressão linear simples e quadrática e coeficientes de correlação, R. ................................ 96
Figura 50 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: escoamentos observados e
simulados pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, entre 1964/65 e 1974/75. .................................. 96
Índice de Quadros
xi
Índice de Quadros Quadro 1 – Valores médios aproximados de teores volumétricos de humidade em função da
textura do solo (QUINTELA, 1996, p. 8.4) .................................................................................. 28
Quadro 2 – Estações hidrométricas utilizadas no estudo. Características gerais. ..................... 39
Quadro 3 – Estação agroclimatológica de Chimoio. Valores mensais da insolação astronómica
diária, da temperatura média mensal e da evapotranspiração potencial de Thornthwaite. ....... 45
Quadro 4 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamento e precipitação anuais,
défice e coeficiente de escoamento entre 1957/58 a 1975/76. .................................................. 50
Quadro 5 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Medidas de ajustamento e erro da
fase de calibração para o período de 1957/58 a 1968/69, sem exclusão do ano 1962/63. ....... 52
Quadro 6 - Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite obtida a partir da série mensal de
temperaturas mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas médias mensais, H_THmédia.
Medidas de ajustamento e erro. .................................................................................................. 55
Quadro 7 – Estação agroclimatológica de Chimoio: evapotranspiração potencial mensal de
Penman-Monteith calculada, EVP PM, e registada, EVP PM registada..................................... 56
Quadro 8 – Estação agroclimatológica de Chimoio: evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. ......................................................... 58
Quadro 9 – Parâmetros do modelo de Temez, limite inferior, superior e incremento. ............... 63
Quadro 10 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: aplicação da fórmula de Turc
entre 1957/58 e 1975/76 ............................................................................................................. 67
Quadro 11 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite obtida a partir da série mensal de
temperaturas mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas médias mensais, H_THmédia.
Medidas de ajustamento e erro. .................................................................................................. 73
Quadro 12 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: aplicação da fórmula de Turc
entre 1963/64 e 1975/76 ............................................................................................................. 83
Quadro 13 – Estação agroclimatológica de Gurué. Valores mensais da insolação astronómica
diária, da temperatura média mensal e da evapotranspiração potencial de Thornthwaite. ....... 85
Quadro 14 – Estação agroclimatológica de Gurué: evapotranspiração potencial mensal de
Penman-Monteith original, EVP PM original, e calculada, EVP PM calculada. .......................... 87
Quadro 15 – Estação agroclimatológica de Gurué: evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. ......................................................... 89
Quadro 16 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: aplicação da fórmula de Turc
entre 1964/65 e 1974/75 ............................................................................................................. 97
Quadro 17 – Caso de estudo 1: estação hidrométrica E83 - Mavuzi em Confluência. Síntese de
resultados. Modelo de Temez e balanço hídrico sequencial. Parâmetros dos modelos. Média,
desvio-padrão e coeficiente de variação de escoamentos observados e simulados e medidas
de ajustamento dos modelos. ................................................................................................... 100
Índice de Quadros
xii
Quadro 18 – Caso de estudo 2: estação hidrométrica E392 - Mavuzi em estrada de Mavonde.
Síntese de resultados. Modelo de Temez e balanço hídrico sequencial. Parâmetros dos
modelos. Média, desvio-padrão e coeficiente de variação de escoamentos observados e
simulados e medidas de ajustamento dos modelos. ................................................................ 101
Quadro 19 – Caso de estudo 3: estação hidrométrica E90 – Licungo. Síntese de resultados.
Modelo de Temez e balanço hídrico sequencial. Parâmetros dos modelos. Média, desvio-
padrão e coeficiente de variação de escoamentos observados e simulados e medidas de
ajustamento dos modelos. ........................................................................................................ 102
Lista de símbolos e acrónimos
xiii
Lista de símbolos e acrónimos
� Albedo (-); coeficiente de repartição do escoamento pelo mês em consideração e pelo mês seguinte no modelo do balanço hídrico sequencial (-); coeficiente de esgotamento do aquífero no modelo de Temez ([T-1])
� Constante psicrométrica (kPa °C-1)
δ Armazenamento disponível no reservatório de superfície do modelo de Temez ([L])
∆ Declive da curva de tensão de vapor (kPa °C-1)
� Constante de Stefan Boltzmann (4.903 x 10-9 MJ K-4 m-2 dia-1)
� Expoente do método de Thornthwaite (-)
a, bi Parâmetros do modelo de regressão linear múltipla (-)
�� e � Coeficientes de Angström (-)
ARV Variância média relativa (-)
�� � Capacidade limite de armazenamento de água no solo no modelo do balanço hídrico sequencial (mm)
∆� Variação de armazenamento de água no solo no modelo do balanço hídrico sequencial (mm)
BIAS Medida de quantificação da sobrestimação ou subestimação de uma dada variável (mm)
C Coeficiente de redução do escoamento do modelo do balanço hídrico
sequencial (-); coeficiente de excedente do modelo de Temez (-)
�����, � Covariância entre as variáveis a e b (-)
�� Défice de escoamento anual médio da fórmula de Turc (mm)
DH Défice hídrico (mm)
����� �� Tensão de saturação de vapor à temperatura máxima diária (kPa)
����� Tensão de saturação de vapor à temperatura T do ar (kPa)
�������� Tensão de saturação de vapor à temperatura mínima diária (kPa)
� Tensão real de vapor (kPa)
�� Coeficiente de eficiência (-)
Lista de símbolos e acrónimos
xiv
�� Tensão de saturação de vapor média (kPa)
���− � � Défice de tensão de vapor (kPa)
EVP Evapotranspiração potencial (mm)
�� �! Evapotranspiração potencial mensal de Thornthwaite (mm)
�� �!" Evapotranspiração potencial de Thornthwaite para um mês de trinta dias em que cada dia corresponde a uma insolação astronómica de 12h (cm)
�� # Evapotranspiração potencial mensal de Penman-Monteith (mm)
EVR Evapotranspiração real (mm)
$ Factor correctivo do método de Thornthwaite (-)
FO Função objectivo (-)
% Fluxo de calor do solo (MJ m-2 d-1); escoamento subterrâneo no modelo de Temez ([L])
H Volume de água armazenado no reservatório superficial do modelo de Temez ([L])
!� Escoamento anual médio na fórmula de Turc (mm)
!&� � Humidade relativa máxima (%)
!&��� Humidade relativa mínima (%)
!&�'( Humidade relativa média (%)
H_TH Escoamentos mensais (expressos em altura de água) obtidos por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite (mm)
H_PM Escoamentos mensais (expressos em altura de água) obtidos por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith (mm)
H_Temez Escoamentos mensais (expressos em altura de água) obtidos por aplicação do modelo de Temez (mm)
) Índice térmico mensal do método de Thornthwaite (-)
* Índice térmico anual do método de Thornthwaite (-); Infiltração no modelo de Temez ([L])
IDW Método inverse distance weighting (-)
*� � Taxa máxima de infiltração do modelo de Temez ([L])
Lista de símbolos e acrónimos
xv
IOA Índice de ajuste (-)
L Perda potencial de água acumulada no modelo do balanço hídrico sequencial (mm); poder evaporante da atmosfera na fórmula de Turc (mm)
MAE Erro absoluto médio (mm)
#� Precipitação anual média no posto i (mm)
#+ Precipitação anual média observada no posto X (mm)
n Número de postos utilizados no IDW (-); insolação actual (h);
N Número total de intervalos de tempo do período de simulação (-); dimensão da amostra (-); insolação astronómica diária (h)
, 12/ Insolação astronómica diária expressa em unidades de 12 h de um mês com 30 dias (-)
,( Número de dias do mês (dia) 0 ,/ Insolação relativa (-)
Precipitação (mm)
1 Precipitação anual média da fórmula de Turc (mm)
P0 Volume disponível no reservatório superficial do modelo de Temez ([L])
� Precipitação observada no posto i (mm)
+ Precipitação em falta num dado período temporal no posto X (mm)
2 Escoamentos observados (mm); escoamento total do modelo Temez ([L])
23 Escoamentos estimados (mm)
21 Média dos escoamentos observados (-)
245 Caudal de descarga do aquífero do modelo de Temez ([L3 T-1])
R Coeficiente de correlação entre amostras (-); intensidade da recarga do aquífero do modelo de Temez ([L3])
& Radiação extraterrestre (MJ m-2 d-1)
6� Distâncias do posto i ao posto X ([L])
RMSE Raiz quadrada do desvio quadrático médio (mm)
&� Radiação solar líquida (MJ m-2 d-1)
Lista de símbolos e acrónimos
xvi
&�7 Radiação de longo comprimento de onda emitida (MJ m-2 d-1)
&�� Radiação de curto comprimento de onda (MJ m-2 d-1)
&� Radiação solar global entrada na atmosfera (MJ m-2 d-1)
&�8 Radiação solar que atinge a superfície terrestre em dias de céu descoberto
(MJ m-2 d-1)
&� &�8/ Radiação relativa de curto comprimento de onda ( 9:9:; ≤ 1.0 ) � Excesso hídrico ou superavit do modelo do balanço hídrico sequencial (mm)
� Temperatura do ar (°C)
t Temperatura anual média na fórmula de Turc (°C)
∆t Intervalo de tempo (dia)
��'( Temperatura média mensal (°C)
�� � Temperatura média máxima diária (°C)
�� �,? Temperatura absoluta máxima durante o período de 24h (K)
���� Temperatura média mínima diária (°C)
����,? Temperatura absoluta mínima durante o período de 24h (K)
@A Velocidade média do vento a 2m do solo (m s-1)
V Volume armazenado no aquífero do modelo de Temez ([L3])
��6��� Variância da variável a (-)
�B 7B Valor calculado de uma variável (-)
�8C� Valor observado de uma variável (-)
X Excedente inicial de água no modelo de Temez ([L])
D Altura do anemómetro acima do nível médio do mar (m)
Capítulo 1: Introdução, objectivos e organização da Dissertação
1
1. INTRODUÇÃO, OBJECTIVOS E ORGANIZAÇÃO DA
DISSERTAÇÃO
A presente dissertação insere-se na área da Hidrologia, especificamente na modelação
hidrológica da transformação da precipitação em escoamento e foi desenvolvida ao longo do
ano lectivo de 2009/2010, no Instituto Superior Técnico, com vista à obtenção do Grau de
Mestre em Engenharia Civil.
Para quem se dedica à área da Hidrologia, um dos principais objectivos passa frequentemente
pela melhoria da capacidade de previsão com base em conhecimentos anteriores, para
melhorar a tomada de decisões no futuro. O conhecimento dos recursos hídricos superficiais
assume uma grande relevância, que pode ser traduzida pelo seguinte excerto retirado do Plano
Nacional da Água (INAG, 2002):
“… Qualquer política de gestão de recursos hídricos deve assentar no conhecimento da
distribuição espacial e temporal do recurso água. A descrição quantitativa deste recurso é
essencial para responder a questões sobre a quantidade de água disponível e qual o seu
padrão de distribuição espacial e temporal. Só com base nessa informação é que é possível
identificar as regiões onde a escassez de água é um fenómeno crónico, caracterizar as
manifestações dessas situações e conceber os meios para a sua solução. Por outro lado, as
questões relativas à qualidade da água não podem ficar dissociadas do aspecto da quantidade,
pois só a integração destas duas valências permite responder a questões associadas às
variações de concentrações de substâncias e traduzem a segurança em relação à potabilidade
e compatibilidade com os usos…”
O tema desta dissertação foi escolhido para aprofundar a aplicação de modelos já existentes
de transformação da precipitação em escoamento, com diferentes variáveis, em três bacias
hidrográficas da Região Centro de Moçambique com diferentes condições geológicas,
topográficas, climáticas e diferentes extensões temporais de registos disponíveis.
O objectivo principal foi verificar a adequabilidade de diferentes modelos hidrológicos,
nomeadamente o modelo do balanço hídrico sequencial e o modelo de Temez, para simularem
escoamentos, à escala mensal, nas bacias escolhidas.
À partida existe uma limitação nos modelos que simulam processos hidrológicos: grande parte
dos fenómenos acontece no subsolo e apesar dos avanços que têm sido feitos com a detecção
remota, sondagens do solo e outras técnicas para explorar o subsolo, o nosso conhecimento
dos processos que aí ocorrem e sua interacção com os fenómenos que têm lugar à superfície e
que são mais facilmente mensuráveis, é ainda limitado. Porém, o que sabemos de estudos da
circulação da água através do solo e rochas, tanto em laboratório, como em pequenos estudos
Capítulo 1: Introdução, objectivos e organização da Dissertação
2
de campo, é que os padrões de circulação da água são bastante complexos e a sua variação
com o caudal e o grau de humidade do solo é não linear (BEVEN, 2001).
Do ponto de vista da modelação da transformação da precipitação em escoamento em escalas
com interesse prático, por exemplo à escala de uma bacia hidrográfica, esta complexidade
significa que não podemos esperar conseguir reproduzir todos os detalhes do processo de
escoamento que, em última instância, dão origem ao hidrograma de escoamento superficial.
Grande parte da complexidade envolvida simplesmente não se pode conhecer com as técnicas
actualmente utilizadas. Por isso, a um certo nível, a modelação da transformação da
precipitação em escoamento torna-se um problema impossível (BEVEN, 2001)!
Todavia, tal não impediu muitos hidrologistas e equipas multidisciplinares de hidrologistas e
outros especialistas, institutos e organizações científicas, de desenvolver modelos
matemáticos, que têm beneficiado dos avanços tecnológicos e dos computadores cada vez
mais potentes que vão surgindo. Tendo em conta a grande quantidade de modelos que
existem actualmente, no segundo capítulo apresenta-se uma resenha dos modelos de
transformação da precipitação em escoamento, numa vertente histórica e cronológica, que
permite enquadrar os que foram utilizados neste estudo.
No terceiro capítulo, sintetiza-se o que já foi feito em Moçambique, a nível de trabalhos de
simulação hidrológica.
O quarto capítulo é essencial para a compreensão do quinto capítulo, que é o capítulo central
desta dissertação. Contém alguns aspectos essenciais da modelação de processos
hidrológicos e aborda as três principais variáveis intervenientes na transformação da
precipitação em escoamento: a precipitação, a evapotranspiração e o escoamento.
A precipitação é, naturalmente, o principal input necessário para efectuar um estudo desta
natureza. Um problema com que se deparou e que frequentemente se coloca, especialmente
em Moçambique, é a falta de registos suficientemente extensos para um dado local (ou mesmo
a sua total ausência) ou a existência de registos com um número considerável de falhas.
Relativamente à evapotranspiração, há vários métodos para a sua estimação e neste estudo
são abordados dois: método de Thornthwaite e método de Penman-Monteith. Um dos
objectivos desta dissertação também passa por avaliá-los, tendo em conta que o primeiro é, à
partida, mais simples e requer menos informação e o segundo é, teoricamente, mais complexo
mas o que melhor consegue descrever o processo físico em questão
Os escoamentos observados são essenciais para o processo de calibração de parâmetros dos
modelos numa dada bacia. Mas, como se referiu, é frequente depararmo-nos com situações de
ausência de registos, pelo que face à localização relativa de duas bacias hidrográficas, outro
objectivo desta dissertação é aferir quanto à possibilidade de regionalização de parâmetros.
Capítulo 1: Introdução, objectivos e organização da Dissertação
3
Neste quarto capítulo são também descritos os modelos utilizados, nomeadamente o modelo
de Temez e o modelo do balanço hídrico sequencial.
O quinto capítulo compreende a aplicação dos modelos referidos de transformação da
precipitação em escoamento, numa escala mensal, a três bacias hidrográficas localizadas na
Região Centro de Moçambique. Duas destas estão inseridas na bacia hidrográfica do Rio
Púngoè, na Província de Manica, e a terceira pertence à bacia hidrográfica do Rio Licungo, na
Província da Zambézia.
No sexto capítulo, são sintetizados os resultados do capítulo anterior através de três quadros e
é efectuada uma análise dos mesmos. De seguida, tecem-se algumas conclusões principais do
estudo levado a cabo, procurando fornecer critérios de projecto.
Por fim, realça-se que a escolha do número de casos de estudo e a localização geográfica
respectiva resultou de uma pesquisa extensa das bases de dados nacionais, da
responsabilidade da Direcção Nacional de Águas (DNA), e esteve directamente relacionada
com a disponibilidade de registos de precipitação e escoamento compatíveis, tanto
temporalmente como espacialmente.
Capítulo 2: Resenha histórica sobre modelos de transformação da precipitação em escoamento
4
2. RESENHA HISTÓRICA SOBRE MODELOS DE
TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ESCOAMENTO
Um sistema hidrológico pode definir-se como um conjunto de processos físicos, químicos e/ou
biológicos que actuam sobre uma ou mais variáveis de entrada, convertendo-as em variáveis
de saída. As variáveis representam características mensuráveis do sistema e são susceptíveis
de variação ao longo do tempo. Um modelo hidrológico é, então, uma representação
simplificada de um complexo sistema hidrológico, ou de parte dele (CLARKE, 1984).
A determinação das disponibilidades de águas superficiais e da sua variação sazonal pode
fazer-se com base no conhecimento de séries históricas de escoamentos verificados na linha
de água em consideração. No entanto, é frequente em muitos locais a existência de pouca ou
nenhuma informação acerca dos caudais escoados, tornando-se necessário recorrer a
modelos hidrológicos que permitam obter aquela informação a partir de outras variáveis
conhecidas. É neste domínio que surgem os modelos de transformação da precipitação em
escoamento, como consequência de existirem quase sempre mais registos disponíveis de
precipitação relativamente aos de caudais. O problema da transformação da precipitação em
escoamento pode então caracterizar-se como sendo a determinação do escoamento numa
determinada secção da linha de água, conhecidos os registos de precipitação num ou mais
pontos da bacia hidrográfica correspondente (HROMADKA, 1988).
Esta relação causal entre precipitação e escoamento resulta num modelo de macroescala. Este
modelo pode incorporar, ou não, relações de causa-efeito numa microescala, tais como
interacções entre água e solo e vegetação, por exemplo. Todavia, a falta de informação
detalhada e a complexidade dos processos e relações causa-efeito em microescala que
ocorrem numa bacia hidrográfica, levam a que sejam aplicados, na maior parte das vezes, os
modelos à (macro) escala da bacia hidrográfica.
Os modelos hidrológicos matemáticos podem ser enquadrados em dois grupos principais, os
modelos determinísticos e não determinísticos. Os modelos determinísticos são caracterizados
pelo facto de uma dada acção implicar uma mesma resposta. Se tal resposta é aleatória, pelo
menos em parte, está-se perante um modelo não determinístico (QUINTELA &
PORTELA, 2002).
Os modelos determinísticos podem ser empíricos se a análise dos processos hidrológicos em
jogo se reduz à procura de uma relação causa-efeito entre variáveis de “entrada” (dados) e
variáveis de “saída” (resultados), ou fisicamente baseados se procuram reproduzir as leis
físicas que regem os fenómenos.
Capítulo 2: Resenha histórica sobre modelos de transformação da precipitação em escoamento
5
Os modelos fisicamente baseados podem subdividir-se em agregados e distribuídos consoante
as variáveis hidrológicas integradas na sua formulação exprimam valores médios no espaço ou
valores em pontos desse espaço.
Os modelos não determinísticos podem ser considerados divididos em dois grupos:
probabilísticos, quando as variáveis intervenientes têm comportamento puramente aleatório e
é, portanto, ignorada a sequência temporal ou a sequência espacial dos valores dessas
variáveis; e estocásticos, quando, para além da componente aleatória, têm outra determinística
que permite contemplar a sequência temporal ou a sequência espacial dos valores das
variáveis. Na Figura 1 apresenta-se um esquema que resume o que foi descrito.
#�E�F�4 ℎ)E6�FóI)J�4 K�L�KáL)J�4NOOOPOOOQ��L�6K)0í4L)J�4
NOPOQ �KRí6)J�4
S)4)J�K�0L� �4��E�4 T I6�I�E�4 �)4L6)5íE�4UU
,ã� E�L�6K)0í4L)J�4 T 6��)Fí4L)J�4�4L�Já4L)J�4 U
U
Figura 1 – Modelos hidrológicos matemáticos (QUINTELA & PORTELA, 2002).
A modelação da transformação da precipitação em escoamento tem já uma longa história, que,
segundo BEVEN (2001), data de 1851, quando Thomas J. Mulvaney publicou a seguinte
equação:
2V = �&1 [2.1]
Esta equação não é indicada para descrever todo o hidrograma de escoamento superficial,
mas apenas o correspondente valor do caudal de ponta de cheia ou pico, 2V . Este é,
porventura, um dos requisitos mais importantes em muitas situações da prática comum da
engenharia civil, como por exemplo a determinação da altura de uma ponte, que tem de ser
compatível com o nível atingido pelo caudal máximo que passa no curso de água. Na equação
anterior, A é a área da bacia hidrográfica e &1 é a intensidade máxima da precipitação média na
bacia e C é um parâmetro empírico adimensional. Esta equação ficou conhecida como a
fórmula racional.
Ainda de acordo com BEVEN (2001), em 1921, C. N. Ross publicou um estudo que representa
a primeira tentativa de criar e utilizar um modelo hidrológico distribuído, através da delimitação
de isócronas, ou seja, da divisão da bacia hidrográfica em zonas com base no tempo em que o
escoamento leva a atingir a secção de referência da bacia. Deste modo, construiu diagramas
tempo-área, a partir dos quais foi possível prever hidrogramas. O maior problema do conceito
dos diagramas tempo-área foi decidir que áreas contribuíam para as diferentes zonas, uma vez
que havia pouca informação sobre velocidades de escoamento ou sobre os escoamentos
superficial e subterrâneo.
Capítulo 2: Resenha histórica sobre modelos de transformação da precipitação em escoamento
6
Este problema foi contornado por L. K. Sherman, em 1932 (SHERMAN, 1932), que introduziu a
ideia que os sucessivos atrasos temporais do escoamento produzido na bacia hidrográfica até
à secção final podiam ser representados numa distribuição temporal sem ligação directa à área
envolvida. Através da simplificação da linearidade, esta distribuição podia ser normalizada para
representar a resposta a uma unidade de escoamento superficial, ou uma unidade de
precipitação efectiva, produzida na bacia em uma unidade de tempo. Esta função foi, na altura,
designada por unitgraph e veio a dar origem ao modelo agregado hoje conhecido pelo nome de
hidrograma unitário.
Mesmo com este progresso de Sherman, restava ainda um problema que consistia na
quantificação da precipitação efectiva, que representa um problema não linear. Um ano depois,
em 1933, R. Horton (in BEVEN, 2001) publicou o seu trabalho sobre a formação de
escoamento superficial quando a capacidade de infiltração do solo era excedida, através de
uma função empírica que descrevia a redução da capacidade de infiltração ao longo do tempo.
Deste modo, encontrou-se uma alternativa para quantificar a precipitação efectiva.
O modelo do balanço hídrico sequencial, desenvolvido por Thornthwaite em 1948
(THORNTHWAITE, 1948), é um dos modelos mais simples. Considera o solo como um único
reservatório em que o excedente de água é originado apenas quando este se encontra cheio.
O excedente reparte-se entre água que escorre superficialmente e água que fica armazenada
no aquífero para ser descarregada em instantes posteriores (ESTRELA, 1992). O modelo do
balanço hídrico será abordado em detalhe no Capítulo 4.5.1.
De acordo com BEVEN (2001), as restrições computacionais na modelação da transformação
da precipitação em escoamento persistiram até aos anos 60 do século passado, altura em que
os computadores começaram a tornar-se mais disponíveis, ainda que com imensas limitações.
Nesta altura surgiram muitos modelos, entre os quais o Stanford Watershed Model (SWM), que
foi desenvolvido por R. Linsley e N. Crawford em 1960, na Universidade de Stanford. O SWM é
um modelo agregado, que, em princípio, pode ser aplicado a qualquer bacia (PBH Rio Lis,
2001). O modelo recorre a um esquema que inclui quatro reservatórios para simular o processo
de transformação da precipitação em escoamento. Os quatro reservatórios representam a
capacidade de armazenamento na bacia por intercepção do seu coberto e em três camadas do
sub-solo (superficial, sub-superficial e subterrânea). O número de parâmetros do modelo pode
chegar a 35, mas muitos destes são passíveis de estimação com base em características
físicas da bacia hidrográfica e apenas um número mais pequeno tem de ser calibrado. O
modelo foi desenvolvido para utilizar um intervalo de cálculo diário, sendo os dados de entrada
a precipitação e a evapotranspiração potencial (LINSLEY et al., 1982). O SWM tem inspirado
outros modelos de que são exemplo o Hydrocomp Simulation Program Fortran (HSPF) em
1983, o National Weather Service Runoff Forecast System (NWSRFS) e o modelo de
Sacramento, os últimos dois em 1972. O modelo de Temez, publicado em 1977, é também
claramente inspirado no SWM de 1960 e duas das principais alterações foram a redução do
Capítulo 2: Resenha histórica sobre modelos de transformação da precipitação em escoamento
7
número de reservatórios para dois e o número de parâmetros para quatro. O modelo de Temez
será abordado em detalhe no Capítulo 4.5.2.
Relativamente aos modelos distribuídos, R. Freeze e R. Harlan, em 1969 (in BEVEN, 2001),
publicaram um artigo com as equações relativas aos diferentes processos de escoamento
superficial e subterrâneo, mostrando ao mesmo tempo a sua interligação através de condições
de fronteira. Tais equações eram diferenciais parciais não lineares, podendo ser resolvidas
através de métodos numéricos em que são substituídos os termos diferenciais por
discretizações aproximadas no tempo e no espaço.
Em 1986, foi desenvolvido o modelo SHE (Système Hydrologique Europèen), como resultado
de um projecto conjunto entre o Institute of Hydrology do Reino Unido, o Danish Hydraulic
Institute (DHI) da Dinamarca e a consultora SOGREAH em França (BEVEN et al., 1980). Este
modelo incorpora os processos de escoamento superficial (equação de difusão em duas
dimensões sobre o terreno), em canais (equações da difusão), escoamento subterrâneo na
zona saturada (equação de Darcy e de continuidade resolvida em duas dimensões) e não
saturada (equação de escoamento em meio poroso na dimensão vertical), através das
equações diferenciais parciais resolvidas por meio de diferenças finitas. O modelo também
abrange o efeito da neve, intercepção, infiltração e evapotranspiração. Como seria de esperar,
facilmente o modelo se torna bastante pesado e é necessário um compromisso entre as
restrições impostas pela capacidade computacional, o volume de dados de entrada e a
representação da complexidade da bacia hidrográfica em estudo (BEVEN et al., 1980). O
modelo SHE é normalmente citado na literatura como o protótipo de um conjunto de modelos
distribuídos, fisicamente baseados (REFSGAARD et al., 1995).
Desenvolvido por K. Beven e M. Kirkby em 1979, o modelo TOPMODEL é também um modelo
distribuído, porém é mais simples do que os modelos puramente distribuídos como o SHE, na
medida em que mantém uma descrição distribuída da resposta da bacia hidrográfica mas sem
detalhar todo o processo a montante. Este modelo, bem como outros do mesmo tipo que são
modelos distribuídos mas não inteiramente distribuídos, está associado a uma função de
distribuição que pretende traduzir a variabilidade espacial da produção de escoamento e a
inovação que introduz é que permite relacionar tal função com a topografia.
O modelo SHE deu origem ao agora mais utilizado e mais complexo MIKE SHE, desenvolvido
em 1990 pelo DHI (REFSGAARD et al., 1995). Este modelo user-friendly de quarta geração,
simula fluxos de água, qualidade da água e erosão do solo para a totalidade da fase terrestre
do ciclo hidrológico - Figura 2. As suas diversas componentes podem ser alteradas
independentemente, de acordo com as necessidades do utilizador, graças à sua estrutura
modular (REFSGAARD et al., 1995). Isto é, há um módulo central que é o MIKE SHE WM e
que descreve o movimento da água na área em consideração e depois há vários módulos que
se podem adicionar e aplicar de acordo com o problema específico em estudo, nomeadamente:
MIKE SHE GC para processos geoquímicos, MIKE SHE SE para erosão do solo, MIKE SHE IR
Capítulo 2: Resenha histórica sobre modelos de transformação da precipitação em escoamento
8
para irrigação, entre outros. O modelo MIKE SHE tem sido utilizado para análise, planeamento
e gestão de um vasto conjunto de problemas ambientais e de recursos hídricos, de onde se
destacam: estudos relacionados com águas superficiais e subterrâneas, estudos do impacte da
utilização de águas subterrâneas em águas superficiais, uso conjunto de águas subterrâneas e
águas superficiais, gestão e restauro de zonas húmidas, planeamento e gestão de redes
fluviais e estudo de impactes devido a alterações climáticas e uso do solo.
Figura 2 – Representação esquemática dos processos simulados pelo modelo MIKE SHE
(reproduzido de www.csiro.au)
Capítulo 3: Experiência de trabalhos de simulação hidrológica em Moçambique
9
3. EXPERIÊNCIA DE TRABALHOS DE SIMULAÇÃO
HIDROLÓGICA EM MOÇAMBIQUE
Há pouca experiência em Moçambique na utilização de modelos de simulação hidrológica para
a obtenção de escoamentos a partir do conhecimento de variáveis climáticas, nomeadamente
da precipitação e de outras grandezas meteorológicas que permitem determinar a
evapotranspiração potencial.
Um primeiro estudo, de carácter académico, foi realizado em 1989 na Universidade Eduardo
Mondlane, com a adaptação do modelo NWSIST (HIPÓLITO, 1985) e sua aplicação à bacia do
Rio Metuchira, na região Centro, com uma área de cerca de 860 km2 (VAZ & SOUSA, 1989).
Esta iniciativa não teve sequência em aplicações práticas porque o modelo tinha um número
muito elevado de parâmetros (24) tornando a calibração um processo difícil e lento.
Apenas nos últimos dez anos surgiram aplicações deste tipo de modelos em estudos de
recursos hídricos, particularmente na parte moçambicana de grandes bacias hidrográficas
internacionais como as dos rios Umbeluzi, Incomati e Púngoè. Os modelos utilizados são por
vezes modelos comerciais como os da série MIKE, do DHI, e sobretudo o modelo WRSM2000,
desenvolvido originalmente na África do Sul por W. Pitman na década de 1970 e
sucessivamente melhorado (PITMAN, 1973 e PITMAN et al., 2007).
O modelo de Pitman tem onze parâmetros que caracterizam a detenção superficial, a
infiltração, a evaporação e evapotranspiração real, a percolação e o surgimento do escoamento
superficial derivado do excedente de precipitação e do escoamento subterrâneo. O modelo
inclui, assim, assim três reservatórios representando a detenção superficial, o armazenamento
na camada superficial do solo e o aquífero profundo.
Este modelo foi também utilizado em 2006 numa tese de licenciatura na bacia do Rio Nyazonia
na região Centro.
Actualmente está em curso na Universidade Eduardo Mondlane um trabalho de investigação
visando comparar diversos modelos de transformação de precipitação em escoamento,
tomando como exemplo de teste a bacia do Rio Movene, afluente do Rio Umbeluzi, no sul de
Moçambique. No entanto, ainda não foram publicados resultados deste trabalho.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
10
4. A TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM
ESCOAMENTO
4.1. CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
Este Capítulo 4 antecede o capítulo principal desta dissertação e por esta razão são abordados
os procedimentos de cálculo adoptados, metodologias essenciais e modelos que foram
aplicados no Capítulo 5.
No Capítulo 4.2 são referidos, de forma breve, alguns aspectos relacionados com as etapas de
um processo geral de modelação, bem como aspectos relativos à fase de calibração e
validação. De seguida, descreve-se como pode ser efectuada a avaliação do desempenho de
um modelo, através do conceito de função objectivo e de medidas de ajustamento e erro entre
variáveis (neste caso escoamentos mensais) simulados e observados.
A transformação da precipitação em escoamento, em especial a sua modelação, envolve três
variáveis principais: precipitação, evapotranspiração e escoamento.
A pequena disponibilidade de registos de precipitação em séries suficientemente longas é um
entrave aos estudos deste género, porque a precipitação é o principal input necessário. Por
isso, no Capítulo 4.3 referem-se alguns métodos de preenchimento de falhas em séries de
precipitação.
A evapotranspiração, abordada no Capítulo 4.4, é também uma variável importante e neste
estudo foram utilizados dois métodos para sua determinação: o método de Thornthwaite, mais
simples e menos exigente ao nível dos parâmetros intervenientes e informação hidrológica
necessária; e o método de Penman-Monteith, teoricamente, o método com maior capacidade
para descrever o processo físico da evapotranspiração pela vasta informação
agro-climatológica que requer.
Os modelos que serão utilizados neste trabalho para transformação da precipitação em
escoamento são os descritos no Capítulo 4.5: modelo do balanço hídrico sequencial e modelo
de Temez. Neste capítulo foi ainda incluída a fórmula de Turc que é relativamente simples de
aplicar, para averiguar a sua capacidade de fornecer resultados indicativos, passíveis de serem
utilizados, por exemplo, numa primeira abordagem de um estudo prévio.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
11
4.2. A MODELAÇÃO
4.2.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL
O desenvolvimento de modelos hidrológicos comporta essencialmente quatro fases:
identificação do sistema, conceptualização, calibração e exploração (VIESSMAN et al., 1989).
Na Figura 3 representa-se esquematicamente o modo como estas fases se sucedem e as
diversas interacções a que estão sujeitas.
Figura 3 – Fases da modelação e suas interacções (FERNANDES, 1990).
O primeiro passo na organização de um modelo hidrológico envolve uma análise detalhada dos
componentes do sistema, caracterização do problema a resolver e recolha dos dados
necessários. Esta é a fase denominada por identificação (do sistema).
A segunda fase consiste na conceptualização do modelo, a qual frequentemente interactua
com a primeira através da redefinição dos dados necessários e identificação dos componentes
fundamentais ao funcionamento do sistema. Esta fase envolve: a selecção da técnica ou
técnicas a utilizar na representação dos elementos do sistema, a formulação das expressões
matemáticas correspondentes e a tradução da formulação proposta para um programa que
ligue todos os subsistemas e algoritmos.
A fase de modelação está sujeita ao conhecimento do input e do output para que se possa
comparar o output produzido pelo modelo com o output real, conhecido. Resulta na obtenção
dos parâmetros que conduzem ao melhor ajuste possível entre uma série histórica – no
contexto da presente dissertação, uma série de escoamentos mensais – e a correspondente
série gerada pelo modelo, para igual período de tempo (SANTOS, 1985).
A modelação desenvolve-se em duas fases: calibração e validação do modelo. A avaliação do
grau de ajustamento conseguido entre as séries de escoamentos observados e simulados só
se pode fazer com base nos resultados obtidos nestas duas fases, que serão abordadas no
capítulo seguinte.
Finalmente, a fase de exploração do modelo consiste na sua utilização na resolução dos
problemas reais para que foi construído, através da simulação. A simulação é a utilização mais
frequente em hidrologia e é aplicada em situações como a do presente estudo, em que se
pretende obter os escoamentos mensais numa dada secção de uma linha de água com recurso
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
12
a um modelo matemático que representa o sistema (bacia hidrográfica) e transforma o conjunto
de inputs precipitação e evapotranspiração potencial no output escoamento.
McCUEN & SNYDER (1986) apresentam uma definição à partida diferente, em que as quatro
fases são: conceptualização, formulação, programação e aplicação. No entanto, as
dissemelhanças acabam por desvanecer se atendermos a que a conceptualização engloba o
que se designou antes por identificação e conceptualização, a formulação, agora como uma
fase separada, foi antes incluída na primeira fase, a programação acaba por ser basicamente a
modelação e a fase de aplicação é o que foi designado antes por exploração. Ou seja, o
desenvolvimento de modelos segue um fio condutor claramente definido, que foi também
implementado no estudo efectuado.
4.2.2. CALIBRAÇÃO, VALIDAÇÃO E FUNÇÃO OBJECTIVO
A primeira fase da modelação, a calibração, pode ser efectuada de duas formas distintas. Se
os parâmetros em questão relacionam-se directamente com características físicas da bacia
hidrográfica, podem ser obtidos por observações de campo, cartas ou tabelas. Nesta situação
não é necessário proceder a uma optimização dos mesmos. Caso não seja possível valorar os
parâmetros do modelo através do estudo experimental da bacia é necessário ajustar ou
optimizar os valores dos parâmetros até obter o melhor ajustamento da variável em questão à
série de valores reais observados.
A segunda fase da modelação, a validação, como o próprio substantivo indica, consiste em dar
validade aos resultados obtidos na primeira fase, por análise dos resultados obtidos no período
de tempo adjacente ao primeiro, por aplicação do modelo com os parâmetros calibrados.
Neste trabalho serão utilizados aproximadamente dois terços da informação das séries
temporais na fase de calibração e um terço na fase de validação.
Em ambas as fases da modelação, os resultados produzidos pelo modelo são testados através
de um critério objectivo que avalia o ajuste entre os mesmos e os dados históricos observados.
Esse critério consiste normalmente na minimização de uma função objectivo (FO) que se pode
definir como uma função da diferença entre os valores calculados (Vcalc) e observados (Vobs),
durante o período de tempo em questão (DISKIN & SIMON, 1977).
No decurso do desenvolvimento de uma metodologia de selecção da função objectivo a utilizar
em modelos hidrológicos, DISKIN & SIMON (1977) concluem que não existe nenhuma função
que sirva universalmente em todos os modelos e consideram que a escolha dessa função deve
estar relacionada com o objectivo da modelação. Aconselham, no entanto, o uso de mais do
que uma função objectivo na calibração de modelos hidrológicos. Segundo os autores, este
procedimento pode justificar-se por dois motivos: em primeiro lugar porque se desconhece qual
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
13
a FO mais adequada para o objectivo da simulação; em segundo lugar porque o uso de mais
do que uma FO reduz a probabilidade de obter um extremo local na fase de calibração.
Para o presente caso de estudo apenas será utilizada a função objectivo que assenta na
minimização da soma dos quadrados dos desvios entre valores calculados, Vcalc, e valores
observados, Vobs , isto é, o método dos mínimos quadrados, expresso pela equação [4.1]. Esta
função objectivo tende a beneficiar o ajuste de escoamentos de valor mais elevado, embora
podendo conduzir a erros relativamente elevados na estação seca (FERNANDES, 1990).
McCUEN & SNYDER (1986) referem que o método dos mínimos quadrados é relativamente
simples de aplicar, mesmo em casos de modelos complexos.
SX = Y��B 7B − �8C��A [4.1]
Nas aplicações efectuadas, para resolver a questão de, na fase de calibração, se poder
encontrar um mínimo local e não um mínimo absoluto, criou-se uma malha de cálculo com uma
dimensão para cada parâmetro, tendo-se feito variar o valor desse parâmetro entre dois
valores extremos, máximo e mínimo, através de um incremento com ordem de grandeza
adequada ao erro que se considerou admissível. Deste modo, através de uma pesquisa
exaustiva do espaço de soluções admite-se que todo esse espaço fica “coberto” ao
implementar-se uma malha suficientemente fina e por isso fica suprimida a possibilidade de se
encontrar um extremo local e não absoluto.
Os resultados obtidos por um modelo de simulação possuem sempre um certo grau de
incerteza. Esta incerteza pode resumir-se em três categorias: inerente à variabilidade dos
processos naturais, que inclui os erros cometidos no processo de aquisição de dados;
incerteza nos conceitos utilizados no próprio modelo; e incerteza nos parâmetros obtidos
(HAAN, 1988).
Segundo (SANTOS, 1985) o esforço adicional na optimização não deve ser maior do que o de
obter uma solução satisfatória, com a vantagem adicional de a optimização conduzir à
unicidade da solução, pelo menos em termos práticos. Os compromissos que se tomam
durante este processo podem ser
representados graficamente, tal
como se ilustra qualitativamente na
Figura 4.
Figura 4 – Compromissos da
modelação matemática (adaptado de
SANTOS, 1985).
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
14
4.2.3. MEDIDAS DE AJUSTAMENTO E ERRO ENTRE ESCOAMENTOS SIMULADOS E
OBSERVADOS
Os escoamentos simulados a partir de modelos simplificados de uma realidade que é complexa
diferem naturalmente dos escoamentos reais observados. De entre as várias justificações para
estas diferenças referem-se as seguintes:
• A falta de adequação do próprio modelo que ao representar uma simplificação da
realidade, tem inerente um erro e uma diferença estrutural;
• Erros e falhas nos dados de entrada do modelo, nomeadamente precipitação e
evapotranspiração, que influenciam os resultados produzidos pelo mesmo. Por outro
lado, erros nos caudais observados, que são fundamentais no processo de calibração.
Para avaliar o ajustamento e averiguar acerca do desempenho dos modelos do balanço hídrico
sequencial e de Temez, foram utilizadas algumas medidas de ajustamento e erro.
De forma a testar a correlação entre os escoamentos simulados pelos modelos, 23Z , e
efectivamente observados, 2Z, utilizou-se o coeficiente de correlação, R, que à semelhança da
covariância, é uma medida que determina a extensão em que a variância dos registos
observados pode ser explicada pelo modelo (CALVO & PORTELA, 2006). Ambas as medidas
aferem a intensidade da relação linear eventualmente existente entre duas variáveis. A
equação que define o coeficiente de correlação é dada por:
& = ���[2Z , 23Z\]��6[2Z���6�23Z\ [4.2]
em que Cov designa a covariância e Var, a variância num caso e noutro entre as variáveis
indicadas entre parêntesis.
Quanto mais próximo da unidade for o coeficiente de correlação, melhor o ajustamento entre as
variáveis.
Outras medidas de erro que também se destinam a quantificar a adequação do output dos
modelos aos registos observados, são a raiz quadrada do desvio quadrático médio, RMSE
(square root of mean square error) e o erro absoluto médio, MAE (mean absolute error). Podem
ser determinados através das equações [4.3] e [4.4], respectivamente.
&#�� = ^Y[2Z − 23Z\A_�`a ,b [4.3]
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
15
#� = Yc2Z − 23Zc_�`a ,b [4.4]
Nas duas equações anteriores, N representa o número de valores de 23Z ou, de modo
equivalente, de 2Z.
A utilização do RMSE como medida de quantificação do erro está relacionada com a função
objectivo adoptada, que faz intervir o quadrado da diferença entre valores simulados e
observados.
O erro absoluto médio, MAE, vindo expresso nas mesmas unidades que as variáveis
intervenientes, é também semelhante em ordem de grandeza, mas ligeiramente inferior a
RMSE. Em termos de simplicidade matemática, considera-se que esta é uma estatística mais
fácil de entender do que o RMSE. Não existe nenhum critério absoluto para um bom valor de
RMSE ou de MAE, o qual dependerá, sobretudo, das unidades em que a variável é expressa
(SANTOS, 2007).
A medida BIAS fornece informação sobre a tendência do modelo para sobrestimar ou
subestimar valores de uma variável, se o valor for negativo ou positivo, respectivamente, e
quantifica o erro sistemático (SANTOS, 2007):
d*� = Y[2Z − 23Z\_�`a ,b [4.5]
O coeficiente de eficiência, Ej, e a variância média relativa, ARV, são utilizados para testar a
capacidade do modelo em explicar a variância total dos dados e representar a ‘proporção’ da
variação dos dados observados considerados pelo modelo (CALVO & PORTELA, 2006) sendo
determinados por:
�� = 1.0 − ∑ c2Z − 23Zc�_�`a∑ |2Z − 21|�_�`a [4.6]
&� = ∑ [2Z − 23Z\A_�`a∑ �2Z − 21�A_�`a = 1.0 − �A [4.7]
A sensibilidade aos valores discordantes, ou outliers, devido à consideração do quadrado dos
termos da diferença entre valores, encontra-se associada a E2, ou, de forma equivalente, a
ARV. O designado coeficiente de eficiência modificado, E1, reduz o efeito dos termos com
potência quadrática. Um valor nulo para E2 indica que a média das observações, 21, pode ser
tão bom estimador como o modelo, enquanto valores negativos indicam que a média das
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
16
observações é melhor estimador que o modelo (CALVO & PORTELA, 2006). Quanto mais
próximos forem os valores de Ej da unidade e os valores de ARV de zero, melhor o
ajustamento.
Outra medida de ajustamento utilizada para analisar o comportamento dos modelos foi o índice
de ajuste, IOA (index of agreement), que de acordo com WILLMOTT et al. (1985) determina-se
de acordo com a equação [4.8] e pode ser interpretado como um erro relativo médio. O IOA
será maior quando o numerador for mais pequeno (previsões próximas dos valores
observados), e/ou quando o denominador for grande (elevada variabilidade natural, traduzida
pelo desvio padrão dos valores observados).
*X = 1.0 − ∑ [2Z − 23Z\A_�`a∑ [c23Z − 21c + |2Z − 21|\A_�`a [4.8]
onde 21 representa a média dos valores observados no período em questão; 2Z é o valor
observado; e 23Z é o valor estimado, como foi antes indicado.
Segundo alguns autores, a experiência permite afirmar que se um modelo se ajusta melhor
através da análise de uma medida estatística e outro se ajusta melhor através da análise de
uma outra medida, eles serão muito provavelmente similares em termos de média dos seus
erros. Nestes casos dever-se-á dar mais peso a alguns dos outros critérios utilizados para
comparação e selecção de modelos, como seja a simplicidade de utilização do modelo ou
menor número dos seus parâmetros. A pesquisa de modelos com menor número de
parâmetros traduz a verificação do chamado princípio da parcimónia de parâmetros (SANTOS,
2007).
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
17
4.3. MÉTODOS DE PREENCHIMENTO DE FALHAS EM SÉRIES DE
PRECIPITAÇÃO
Reconhece-se que uma das limitações à aplicação de modelos de simulação está associada à
qualidade e representatividade (espacial e temporal) dos dados climatológicos que servem de
base ao estudo, nomeadamente dados de entrada, como precipitação e evapotranspiração, e
dados necessários para a fase de calibração, como é o caso dos escoamentos observados.
Neste capítulo, pretende-se abordar alguns métodos utilizados para preenchimento de falhas
em séries de precipitação, que representam um dos principais, ou mesmo o principal
condicionante, dos resultados de saída do modelo.
Um método que prima pela sua simplicidade é a regressão linear simples pois faz intervir
apenas uma estação, a partir da qual se avalia a correlação entre as precipitações em falta a
uma dada escala temporal, como seja a mensal.
O método proposto pelo United States Weather Bureau pode ser descrito pela equação [4.9],
que determina a precipitação pretendida a partir do valor médio em três postos vizinhos
(CHOW, 1964):
+ = #+3 i a#a + A#A + j#jk [4.9]
em que:
+ Precipitação em falta num dado período temporal no posto X #+ Precipitação anual média observada no posto X a, A � j Precipitações observadas em três postos próximos, relativas ao mesmo
período temporal que o valor em falta #a, #A � #j Precipitações anuais médias em três postos próximos
Outra forma de preencher as falhas consiste em ponderar as observações em três postos
vizinhos pelo inverso das respectivas distâncias ao posto X considerado, ri, através da equação
[4.10]:
+ = #+16a + 16A + 16j i a#a × 16a + A#A × 16A + j#j × 16jk [4.10]
em que o significado das restantes grandezas foi já explicitado no método do U.S. Weather
Bureau. É de realçar que esta última equação transforma-se na equação [4.9] para r1 = r2 = r3.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
18
O método conhecido como inverse distance weighting (IDW), utiliza a ponderação pelo
quadrado do inverso das distâncias ao posto X através da equação [4.11] enunciada na sua
forma genérica para n postos vizinhos e particularizada para n=3 postos:
+ = Y �6�A�
�`a Y 16�A�
�`a m = 116aA + 16AA + 16jA i a6aA + A6AA + j6jAk [4.11]
Também é possível preencher falhas de precipitação através da equação obtida utilizando o
método de regressão linear múltipla:
+ = � + a a + A A + j j [4.12]
BRETSCHNEIDER et al., 1982, citado por OLIVEIRA (s/d), recomenda a aplicação de um
método gráfico para preenchimento de falhas através de uma interpolação. A interpolação é
feita a partir da distribuição geográfica da precipitação de um dado mês traduzida por isoietas,
sendo, no entanto, um procedimento de certa forma trabalhoso.
O método das regiões com características dominantes, utilizado pelo Instituto de Hidrologia de
Wallingford para o cálculo da precipitação média numa área, onde a área total é subdividida em
regiões de altitude, pendente do solo e sentido de exposição homogéneas, pode também ser
utilizado para estimar a precipitação numa determinada estação pela transposição dos dados
de uma estação vizinha com as mesmas características dominantes (CLARKE, 1976).
No presente trabalho aplicou-se a seguinte metodologia para preenchimento de falhas em
séries mensais de precipitação, pela ordem apresentada. Isto é, a metodologia ii) só foi
aplicada quando a metodologia i) não forneceu resultados aceitáveis e a metodologia iii) só foi
aplicada quando as restantes duas não se mostraram adequadas.
i) Cálculo do quociente entre a soma das precipitações médias mensais à excepção dos
meses em que se pretende preencher a falha e a soma das precipitações do ano que
contém os meses com registo em falta. O anterior quociente indica se o ano é húmido ou
seco. Partindo do pressuposto que a “tendência” de ano húmido ou seco se mantém,
preenchimento dos meses em falta atribuindo-lhes o resultado do produto do valor médio
mensal pelo anterior quociente.
ii) Regressão linear simples. Pesquisa de postos vizinhos cuja série de precipitação nos
meses em que se pretende preencher a falha apresenta boa correlação com a série do
posto em consideração. Estabelecimento da equação que traduz a regressão e utilização
dessa equação para preenchimento da falha.
iii) Preenchimento com o valor médio mensal.
Realça-se que na escolha dos casos de estudo ao nível, tanto das séries de precipitação, como
de escoamento, foram apenas seleccionados anos no máximo com quatro registos mensais em
falta.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
19
4.4. EVAPOTRANSPIRAÇÃO
4.4.1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
A evaporação é o processo pelo qual a água passa do estado líquido para o estado de vapor e
a transpiração é o processo que permite a transferência do vapor de água das plantas para a
atmosfera. A evapotranspiração é o conjunto dos processos de evaporação e de transpiração e
inclui a transpiração das plantas e a evaporação a partir de superfícies de água e de solos
húmidos, da vegetação e de outros obstáculos que interceptam a água.
A evapotranspiração potencial, conceito introduzido por Thornthwaite em 1944, representa a
quantidade de água que poderá passar para a atmosfera directamente ou através das plantas,
se a humidade existente no solo estiver sempre disponível em quantidade suficiente
(QUINTELA, 1984). A evapotranspiração real representa a quantidade de água que
efectivamente passa para a atmosfera sob a forma de vapor e depende dos seguintes
parâmetros:
• evapotranspiração potencial;
• características do solo;
• aprovisionamento em água do solo, que representa a oportunidade para a
evapotranspiração.
Relacionado com os dois últimos parâmetros, interessa definir o conceito de capacidade de
campo e de ponto de emurchecimento.
A capacidade de campo é o teor volumétrico de humidade de um solo natural, de
características uniformes e inicialmente saturado, após ter cessado a percolação,
correspondendo à quantidade de água que fica retido no solo contra a acção da gravidade.
O ponto de emurchecimento permanente é o teor volumétrico de humidade mínimo para o qual
as plantas ainda conseguem ir buscar água no solo, ou seja, é a humidade existente na zona
das raízes das plantas a partir da qual uma planta não consegue recuperar a turgidez mesmo
que posteriormente colocada numa atmosfera saturada. Sendo assim, torna-se evidente que
quando o teor de humidade é inferior ao referido, as plantas já não conseguem exercer a
sucção necessária e murcham.
Após definidos os conceitos básicos sobre o fenómeno da evapotranspiração potencial,
interessa abordar os processos para estimação desta grandeza. Entre os diversos métodos
enumeram-se:
• medição directa com evapotranspirómetros;
• medição indirecta com tina evaporimétrica;
• métodos semi-empíricos como a fórmula de Penman-Monteith, Turc e de Thornthwaite.
Devido à complexidade do fenómeno da evapotranspiração, verifica-se um maior recurso a
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
20
métodos semi-empíricos, dos quais se descrevem, de seguida, os dois que vão ser aplicados
neste trabalho: métodos de Thornthwaite e de Penman-Monteith. Relativamente ao segundo,
apresenta-se a descrição correspondente ao procedimento de cálculo implementado que foi
adaptado à informação disponível das estações agroclimatológicas. O formalismo e equações
completas podem ser encontrados em SANTOS, 2007.
4.4.2. EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL MENSAL DE THORNTHWAITE
O método de Thornthwaite, (THORNTHWAITE, 1948), para a estimativa da evapotranspiração
potencial foi dos primeiros modelos empíricos a aparecer. Este método considera apenas a
temperatura média mensal como variável capaz de exprimir o balanço de energia, sendo
especialmente recomendado para uma primeira estimativa mensal daquela variável
(SANTOS, 2007).
O método fornece a evapotranspiração potencial mensal a partir de dois índices: índice térmico
mensal, i, e outro térmico anual, I:
) = i��'(5 ka.oap [4.13]
* = Y )aA�`a [4.14]
em que Tmed (°C) é a temperatura média mensal.
A evapotranspiração potencial, EVP TH’ (em centímetros), para um mês de trinta dias em que
cada dia corresponde a uma insolação astronómica de 12h, é calculada através da seguinte
equação:
�� �!" = 1.6 i10 ��'(* k [4.15]
em que � = 675 × 10st *j − 77.1 × 10su *A + 17.92 × 10sj * + 492.39 × 10sj
A evapotranspiração potencial de um dado mês, EVP TH (em milímetros), obtém-se
multiplicando o valor anterior por um factor correctivo, f, que depende do número de dias do
mês, Nd, e da insolação astronómica diária do local, N/12. O parâmetro N/12 encontra-se
tabelado em QUINTELA, (1996) p. 7.19, expresso em unidades de 12 h de um mês com 30
dias, em função da latitude do lugar
�� �! = �� �!" × $
�� �! = �� �!" × , 12/ × ,(30 × 10 [4.16]
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
21
4.4.3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL MENSAL DE PENMAN-MONTEITH
A evapotranspiração potencial estimada por Penman-Monteith é associada a uma cultura de
referência, considerando-se que essa cultura se encontra em óptimas condições hídricas
durante todo o seu desenvolvimento vegetativo. Esta é a razão pela qual também se designa
por evapotranspiração de referência. O maior relevo desta abordagem relaciona-se com o facto
de considerar que a evapotranspiração é um processo essencialmente físico, largamente
influenciado por condições hidro-climatológicas. Assim sendo, espera-se que conduza a
estimativas da evapotranspiração potencial mensal melhores e mais consonantes com a
realidade do que o método de Thornthwaite.
A equação [4.17], utilizada para o cálculo da evapotranspiração potencial de Penman-Monteith,
(ALLEN et al., 1998 e ALLEN, 2000), assume que: a cultura de referência é relva com uma
altura de 0.12 m; a medição da velocidade do vento, da humidade e da temperatura do ar é
realizada a 2 m do solo; o calor latente de vaporização é 2.45 MJ kg-1; a resistência superficial
é 70 s m-1, e o albedo é 0.23 (ALLEN, 2000).
�� # = 0.408 ∆ �&� − %� + � 900��'( + 273 @A ���−� �∆ + � �1 + 0.34 @A� [4.17]
onde as variáveis intervenientes possuem os seguintes significados:
�� # evapotranspiração potencial de Penman-Monteith (mm d-1); ∆ declive da curva de tensão de vapor (kPa °C-1) &� radiação solar líquida (MJ m-2 d-1) % fluxo de calor do solo (MJ m-2 d-1) � constante psicrométrica (kPa °C-1) ��'( temperatura média mensal (°C) @A velocidade média do vento a 2m do solo (m s-1) ���− � � défice de tensão de vapor (kPa) �� tensão de saturação de vapor média (kPa) � tensão real de vapor (kPa)
A tensão de saturação de vapor, ��, pode ser obtida por:
����� = 0.6108 �yR i 17.27 �� + 237.3k [4.18]
onde:
����� tensão de saturação de vapor à temperatura T do ar (kPa) � temperatura do ar (°C)
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
22
Por sua vez, a tensão de saturação de vapor média, ��, pode ser calculada para períodos
diários, semanais ou mensais com base nas tensões de saturação de vapor calculadas para as
temperaturas médias máximas e mínimas diárias nesses períodos.
�� = ����� �� + ��������2 [4.19]
onde:
�� � temperatura média máxima diária (°C) ���� temperatura média mínima diária (°C)
A tensão de vapor real, � , pode ser estimada a partir da temperatura do ponto de orvalho, de
dados psicrométricos e de dados de humidade relativa. Segundo ALLEN et al., 1998, de entre
as equações que consideram a humidade relativa, as que apresentam resultados mais
satisfatórios são as que utilizam os valores da humidade relativa máxima, !&� � , ou ambas
as humidades relativas máxima e mínima, !&� � e !&��� , apresentadas da seguinte forma:
� = �������� !&� �100 [4.20]
� = �������� !&� �100 + ����� �� !&���1002 [4.21]
em que:
����� �� tensão de saturação de vapor à temperatura máxima diária (kPa) �������� tensão de saturação de vapor à temperatura mínima diária (kPa)
No entanto, porque não se dispõe da informação de !&� � e !&��� , mas apenas da
humidade relativa média, !&�'( , a tensão de vapor real foi determinada por:
� = �� !&�'(100 [4.22]
O défice de tensão de vapor, ��− � , representa um indicador da capacidade evaporativa real
do ar.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
23
O declive da curva de tensão de vapor relaciona a tensão de saturação do vapor com a
temperatura, podendo ser calculado como se indica:
z = 4098 {0.6108 �yR | 17.27 �� + 237.3}~�� + 237.3�A [4.23]
onde:
z declive da curva da tensão de saturação de vapor à temperatura T do ar (kPa °C-1) � temperatura do ar (°C)
A radiação solar global, &� , chegada à superfície terrestre pode ser calculada com auxílio da
equação de Anström, a qual relaciona a radiação solar com a radiação extraterrestre e a
insolação relativa da seguinte forma:
&� = |�� + � 0,} & [4.24]
onde:
&� radiação solar à superfície (MJ m-2 d-1) & radiação extraterrestre (MJ m-2 d-1) 0 insolação actual (h) , insolação astronómica (h) 0, insolação relativa (-) �� , � coeficientes de Angström (-)
Os coeficientes de Angström dependem fortemente das condições atmosféricas e da
declinação solar. Quando não se encontram disponíveis dados de radiação solar e não se
efectuou qualquer calibração para melhorar os valores de �� e � podem adoptar-se
respectivamente os valores recomendados de 0.25 e 0.50, (ALLEN et al., 1998).
Neste estudo, uma vez que a grandeza &� é conhecida, foi utilizada a equação [4.24] de modo
inverso, para determinar & , dispensando a sua determinação, que faz intervir variáveis como
a declinação solar, o ângulo do sol no ocaso, a distância da Terra ao Sol e a latitude do lugar.
A radiação solar que atinge a superfície terrestre em dias de céu descoberto, &�8 (MJ m-2 d-1),
ou seja, quando n = N, pode ser determinada de acordo com a equação seguinte:
&�8 = ��� + �� & [4.25]
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
24
onde ��4 + �� corresponde à fracção de radiação extraterrestre que atinge a superfície da
terra para n = N.
Alternativamente, quando não é efectuada nenhuma calibração dos valores de �� e � , a
radiação &�8 pode ser estimada por:
em que z (m) representa a cota do ponto de avaliação em relação ao nível médio do mar.
A radiação de curto comprimento de onda, &��, que resulta do balanço entre a radiação solar
recebida e reflectida da superfície terrestre, é dada por:
onde:
&�� radiação de curto comprimento de onda (MJ m-2 d-1) &� radiação solar global entrada na atmosfera (MJ m-2 d-1) � albedo ou coeficiente de reflexão da vegetação, o qual apresenta um valor de
0.23 para a relva tida como de referência (-)
A radiação de longo comprimento de onda, &�7 , que corresponde à quantidade de energia de
longo comprimento de onda emitida pela superfície terrestre, ALLEN et al, 1998, é considerada
proporcional à temperatura absoluta da superfície terrestre elevada à quarta potência, bom
como à tensão de vapor real e à radiação relativa de curto comprimento de onda:
&�7 = � ��� �,?p + ����,?p2 � [0.34 − 0.14 �� \ i1.35 &�&�8 − 0.35k [4.28]
em que:
&�7 radiação de longo comprimento de onda emitida (MJ m-2 d-1) � constante de Stefan Boltzmann (4.903 x 10-9 MJ K-4 m-2 dia-1) �� �,? temperatura absoluta máxima durante o período de 24h (K) ����,? temperatura absoluta mínima durante o período de 24h (K) � tensão real de vapor (kPa) &� radiação solar global entrada na atmosfera (MJ m-2 d-1) &�8 radiação solar em dias de céu descoberto (MJ m-2 d-1) &�&�8 radiação relativa de curto comprimento de onda ( 9:9:; ≤ 1.0 )
&�8 = �0.75 + 2 × 10so D� & [4.26]
&�� = �1 − �� &� [4.27]
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
25
A radiação líquida, &� (MJ m-2 d-1), é obtida pela diferença entre a radiação de curto
comprimento de onda recebida pela superfície terrestre, &�� , e a radiação de longo
comprimento de onda emitida, &�7 . &� = &�� − &�7 [4.29]
O fluxo de calor do solo, G, que representa a energia utilizada sob a forma de calor no
aquecimento do solo, assume valores positivos quando o solo aquece e negativos quando o
solo arrefece. Não obstante tal fluxo ser descrito por modelos bastante complexos, assumindo-
se que a temperatura do solo segue aproximadamente a temperatura do ar, esta variável pode
ser determinada da seguinte forma simplificada:
% = 0.14 � ��,� − ��,�sa � [4.30]
em que:
% fluxo de calor do solo (MJ m-2 d-1) ��,� temperatura média do ar no mês i (˚C) ��,�sa temperatura média do ar no mês i-1 (˚C)
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
26
4.5. MODELOS UTILIZADOS NO PRESENTE ESTUDO PARA
TRANSFORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM ESCOAMENTO
4.5.1. MODELO DO BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL
O modelo do balanço hídrico sequencial foi desenvolvido por Thornthwaite em 1948
(THORNTHWAITE, 1948) e Thornthwaite e Mather em 1955 (THORNTHWAITE &
MATHER, 1955), para determinar o regime hídrico de um local e é originalmente um modelo
agregado que considera como parâmetro a capacidade máxima de armazenamento de água
no solo, ASmax (PEREIRA, 2005).
O modelo do balanço hídrico sequencial de Thornthwaite-Mather recorre à equação da
continuidade aplicada a um “elemento” da fase terrestre do balanço hidrológico, mediante o
cálculo dos fluxos de água que entram e saem e das variações de armazenamento de água no
mesmo (PORTELA & SANTOS, 2006a; PORTELA & SANTOS, 2006b). A equação geral que
traduz o balanço hídrico sequencial pode ser expressa por:
= � + ��& + ∆� [4.31]
em que, para um dado intervalo de tempo, P é a precipitação, S o excesso hídrico ou superavit,
EVR a evapotranspiração real e ∆AS a variação de armazenamento de água no elemento.
Estas variáveis devem ser expressas nas mesmas unidades.
A expressão do balanço hídrico através de uma equação da continuidade é, evidentemente,
uma simplificação dos processos reais que ocorrem na bacia hidrográfica. Deste modo, não se
tem em conta aspectos como a heterogeneidade da bacia hidrográfica, a infiltração profunda e
a complexidade dos movimentos da água à superfície e no interior do solo que contribuem para
o escoamento no referido “elemento”. Igualmente, não se atende a que necessariamente existe
produção de escoamento superficial sempre que a intensidade da precipitação é superior à
intensidade da infiltração da água no solo. Como consequência, é possível exprimir que de
forma aproximada o excesso hídrico representa o limite superior do escoamento superficial
(PORTELA & SANTOS, 2006a, PORTELA & SANTOS, 2006b).
Nesta concepção do modelo do balanço hídrico sequencial com um parâmetro, o excesso
hídrico corresponde ao superavit, S, que representa a variável principal de saída pretendida.
O modelo do balanço hídrico sequencial, aplicado ao ano hidrológico que em Moçambique tem
início em 1 de Outubro, para determinar os escoamentos numa escala temporal mensal,
considera que:
• Se, num dado mês, a precipitação, P, exceder a evapotranspiração potencial, EVP,
haverá cedência de água pela atmosfera ao solo, admitindo-se que a evapotranspiração
real, EVR, iguale EVP. Se o solo não estiver plenamente abastecido de água, o excesso
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
27
de P sobre EVP fica retido no mesmo até se atingir a capacidade limite de
armazenamento de água no solo, ASmax. Havendo ainda remanescente de precipitação,
tal remanescente escoa-se à superfície ou em profundidade. As equações que
descrevem, para um dado mês i, referenciado em índice, as estimativas dos valores
mensais da evapotranspiração real e excesso hídrico, partindo de valores mensais de
precipitação, evapotranspiração potencial e do volume de água armazenado no solo por
unidade de área no instante referido e no instante anterior são dadas por:
��&� = T �� � 4� � ≥ �� � � + ���sa−��� 4� � < �� � ^ ��&� U ≤ �� � [4.32]
�� = � − [��&� + ���−��sa�] ^ �� ≥ 0 [4.33]
• Nos meses em que P é inferior EVP, existe cedência de água do solo à atmosfera,
sendo EVR superiormente limitada pela acumulação da precipitação e da quantidade de
água que o solo pode ceder enquanto nele existir água disponível.
• O valor máximo da quantidade de água que o solo pode ceder à atmosfera, que é
também o valor máximo da quantidade de água que o mesmo pode reter até ficar
amplamente abastecido, depende da natureza do solo e do seu revestimento vegetal.
• A avaliação, em cada intervalo de tempo, do volume de água armazenado no solo por
unidade de área, AS, deve considerar a atenuação da intensidade da evapotranspiração
real à medida que diminui o teor de água no solo. Ou seja, o solo pode ser idealizado
como um reservatório cuja dificuldade de extracção de água vai aumentando à medida
que este vai secando. A água retida no solo é então uma função da perda potencial
acumulada, resultante da diferença entre a precipitação e evapotranspiração potencial
em meses que a primeira é inferior à segunda.
A aplicação do balanço hídrico, numa determinada escala temporal, pressupõe antes de mais
que se conhece a fracção correspondente à evapotranspiração nessa mesma escala temporal.
Porém, o cálculo da evapotranspiração real torna-se muito complexo devido à interacção de
condições meteorológicas com as condições do solo e as características da vegetação.
Recorre-se por isso a métodos simplificados, sendo um dos mais utilizados o método de
THORNTHWAITE & MATHER (1955), que tem a vantagem de não requerer medições directas
do solo. Estes autores apresentaram, em 1957 (THORNTHWAITE & MATHER, 1957), uma
série de tabelas de água retida em função da perda potencial acumulada, L, para valores de
ASmax variando de 25 mm a 400 mm, pois naquela época a capacidade computacional era mais
limitada. Como se referiu, esta perda potencial acumulada consiste na diferença acumulada
entre a precipitação e a evapotranspiração potencial e traduz-se fisicamente na maior
dificuldade do solo de ceder água à medida que vai secando. Através de cálculo diferencial e
integral, MENDONÇA (1958) propôs a primeira simplificação no método de
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
28
Thornthwaite-Mather, que consistiu na substituição da utilização das tabelas de água retida
pelo recurso à seguinte equação adimensional, que foi também a usada nas aplicações do
deste modelo.
�� = �� � . � ������� [4.33]
A anterior equação facilita a programação dos cálculos do balanço hídrico, pois elimina o
recurso a tabelas.
Assim, a simulação de escoamentos mediante aplicação da técnica do balanço hídrico
sequencial mensal de Thornthwaite, baseado em um único parâmetro (ASmax) requer a
seguinte informação referente à bacia hidrográfica em consideração:
• registos mensais de precipitação;
• registos mensais de evapotranspiração potencial de Thornthwaite ou Penman-Monteith;
• valor de ASmax;
Um método alternativo para estimar a fracção da humidade do solo utilizável pelas plantas, ou
seja ASmax, consiste em analisar a diferença entre o teor da humidade do solo e o teor de
humidade no ponto de emurchecimento. Esta diferença resulta num valor adimensional
(fracção) que se for multiplicado pela profundidade do solo atingida pelas raízes, passa a se
expresso em altura de água. Nota-se que este método pode não ser adequado se o parâmetro
a estimar, apesar do seu significado físico, puder resultar num valor calibrado (através de
processos automáticos) que nada tem a ver com os valores fisicamente possíveis, ou seja, se
se constituir como um parâmetro puramente matemático.
No Quadro 1 apresentam-se valores médios, em função da textura do solo, dos teores
volumétricos de humidade correspondentes à saturação, à capacidade de campo, ao ponto de
emurchercimento permanente e à diferença dos dois últimos, que corresponderá, de modo
aproximado, à água utilizável no solo para evapotranspiração.
Quadro 1 – Valores médios aproximados de teores volumétricos de humidade em função da
textura do solo (QUINTELA, 1996, p. 8.4)
Textura do solo Saturação Capacidade de campo
Ponto de emurchecimento permanente
Água utilizável
mm m-1 mm m-1 mm m-1 mm m-1
Arenosa 350 100 25 75
Franco-arenosa 158 50 108
Franca 217 67 150
Siltosa 450 267 100 167
Franco-siltosa 283 117 166
Franco-argilosa 317 120 167
Argilosa 500 325 208 117
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
29
O balanço hídrico introduz a definição de défice hídrico, que surge quando a precipitação é
inferior à evapotranspiração e que pode ser quantificado pela diferença entre a
evapotranspiração potencial e evapotranspiração real, sendo esta determinada como se
apresenta na equação [4.32].
Sendo assim, o modelo do balanço hídrico sequencial fornece como resultados valores
mensais da evapotranspiração real, do défice hídrico, do excesso hídrico e do volume de água
armazenado no solo por unidade de área. O excesso hídrico representa, na concepção do
balanço hídrico sequencial como modelo de um parâmetro, o escoamento superficial.
Numa tentativa de melhor adaptar o modelo aos registos observados, foi testada a utilização,
separada e conjunta, de mais dois parâmetros, para além da capacidade limite de
armazenamento de água no solo, ASmax. São estes, um coeficiente de redução do escoamento,
C, que pretende atender à infiltração, e um coeficiente de repartição do escoamento pelo mês
em consideração e pelo mês seguinte, α, tal como sugerem LENCASTRE & FRANCO, (1992),
embora os autores fixem à partida o coeficiente α como sendo 1/2. O coeficiente α pretende
atender à dependência temporal que caracteriza as séries de escoamento mas que, pelo
contrário, não se verifica nas séries de precipitação.
As equações introduzidas no modelo para incorporar os parâmetros C e α, são as
apresentadas de seguida e nesta conceptualização modificada do modelo do balanço hídrico
sequencial, o excesso hídrico já não corresponde de forma directa ao escoamento superficial,
ou superavit. Nota-se que a primeira equação deriva da equação [4.31], acrescentando-se
apenas o último termo:
�� = � − ��& − ∆� − �1 − �� ∙ �� [4.35] �� = � ∙ �� + �1 − �� ∙ ��sa [4.36]
No Capítulo 5.3.2.1, referente à concepção da estrutura do modelo do balanço hídrico
sequencial a implementar no primeiro caso de estudo, são equacionadas três concepções. A
primeira traduz a formulação original do balanço hídrico sequencial, com um parâmetro a
calibrar (ASmax). A segunda tem dois parâmetros a calibrar (ASmax e C ou ASmax e α) e
incorpora, para além das equações originais, a equação [4.35] ou a equação [4.36], conforme
os parâmetros a calibrar sejam ASmax e C ou ASmax e α. Por fim, a terceira concepção tem três
parâmetros a calibrar (ASmax, C e α) e incorpora simultaneamente as equações originais e as
equações [4.35] e [4.36]. Para os restantes dois casos de estudo, omite-se esta análise e
indica-se apenas a estrutura do modelo que melhores resultados apresentou, face a estas
diferentes concepções.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
30
4.5.2. MODELO DE TEMEZ
O modelo de Temez, desenvolvido por Temez em 1977 (TEMEZ, 1977), é uma simplificação do
modelo clássico designado por Stanford Watershed Model, sendo também um modelo de
balanço hídrico.
Trata-se de um modelo agregado com quatro parâmetros, na abordagem mais simples, que
simula à escala mensal os processos hidrológicos que ocorrem numa bacia hidrográfica, tendo
como dados de entrada as séries mensais de precipitação e de evapotranspiração potencial da
bacia. Os resultados do modelo compreendem valores mensais do escoamento, da infiltração e
da evapotranspiração real.
O modelo de Temez reproduz os processos essenciais do transporte de água nas diferentes
fases do ciclo hidrológico, estando de acordo com os princípios da continuidade, conservação
da massa hídrica e das leis específicas de transferência entre as componentes do ciclo
hidrológico (GOMES, 1996).
A Figura 5 apresenta o esquema proposto por Temez, que considerou o subsolo da bacia
dividido em duas grandes zonas:
• zona superficial não saturada, onde os poros do solo contêm água e ar;
• zona subterrânea saturada, onde os poros se encontram preenchidos somente com
água, a qual contribui para o escoamento superficial.
Figura 5 – Modelo de Temez: esquema (retirado de PBH Rio Lis, 2001).
Dois reservatórios simulam o armazenamento na zona não saturada do solo e na zona
saturada (aquífero subterrâneo). A água armazenada no reservatório superficial corresponde à
humidade do solo, enquanto a água armazenada no reservatório subterrâneo corresponde ao
armazenamento nos aquíferos da bacia, a partir dos quais ocorre descarga na rede superficial
(PBH Rio Lis, 2001).
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
31
O reservatório superficial recebe água por precipitação, P, e perde por evapotranspiração,
EVP, ou por excesso da sua capacidade de armazenamento. O excedente inicial de água, X,
infiltra-se ou escoa-se superficialmente.
O reservatório subterrâneo recebe água por infiltração, I, e perde por esgotamento do aquífero,
G. O escoamento superficial total da bacia, Q, corresponde à soma do excedente superficial
com a parcela proveniente do aquífero.
O formalismo matemático que se segue reproduz o apresentado em TEMEZ (1977).
O excedente de precipitação, Xt , num dado intervalo de tempo t é calculado pela equação
[4.36] que se traduz no gráfico apresentado na Figura 6:
�Z = NPQ 0 , Z ≤ �Z� Z − �Z�A Z + �Z − 2 �Z , Z > �Z
U [4.37]
Figura 6 – Modelo de Temez: relação precipitação – excedente (retirado de PBH Rio Lis, 2001).
De acordo com a anterior equação só existe excedente quando a precipitação, Pt, num dado
intervalo de tempo de t-1 a t, é superior a P0t. P0t corresponde à fracção do volume disponível
no reservatório superficial num dado intervalo de tempo, sendo definido por:
�Z = � ∙ �!� � − !Zsa� [4.38]
em que:
C coeficiente de excedente
Hmax capacidade máxima de armazenamento de água no solo
Ht-1 volume armazenado no reservatório superficial no final do período t-1
O coeficiente de excedente, C, representa a maior ou menor contribuição da precipitação para
o escoamento superficial directo em função do preenchimento por água da zona não saturada
do solo, tendo como valor limite superior de armazenamento Hmax. Em conformidade com o
formalismo do modelo, valores elevados de C conduzem a maiores retenções de água nas
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
32
camadas superficiais de solo não saturado por preencher, sendo que, no limite, C será unitário,
o que significa que a precipitação, se suficiente, preencherá toda a zona não saturada, com
consequente aumento da evapotranspiração real e diminuição dos escoamentos superficial e
total.
A capacidade máxima de armazenamento de água no solo, Hmax, representa a quantidade de
água que pode ser armazenada nas camadas superficiais do solo, sendo que valores elevados
deste parâmetro tendem a aumentar a água disponível para a evapotranspiração, com
consequente redução dos escoamentos superficial e total.
Como se referiu, o parâmetro P0 corresponde à fracção do reservatório superficial por
preencher num dado período de tempo sendo que valores elevados deste parâmetro
conduzem a maiores retenções de água no solo. Relativamente à Figura 6, observa-se que
para valores elevados de precipitação a variação é assimptótica em relação à curva proposta
por Thornthwaite, enquanto para valores baixos considera a existência de excedente antes do
solo se encontrar à capacidade máxima.
O parâmetro δ é a máxima diferença possível entre a precipitação e o excedente, o que
corresponde ao volume de armazenamento disponível no reservatório de superfície durante o
período t. Depende, assim, da capacidade máxima de armazenamento de água no solo, Hmax,
do volume armazenado no instante anterior, Ht-1, e da evapotranspiração potencial no próprio
intervalo de simulação, t, EVPt, e o seu valor pode ser calculado por:
�Z = !� � − !Zsa + �� Z [4.39]
Uma vez estimado o excedente, Xt, a humidade no solo ou o volume armazenado no
reservatório de superfície no final de um intervalo de simulação, Ht, é calculada através de um
balanço de massa desse reservatório, de acordo com:
!Z = K�y�!Zsa + Z − �Z − �� Z ; 0� [4.40]
A evapotranspiração real da bacia no intervalo de tempo t, EVRt, é limitada pela
evapotranspiração potencial e pela água disponível no reservatório superficial:
��&Z = K)0 �!Zsa + Z − �Z ; �� Z� [4.41]
O excedente de precipitação subdivide-se em duas parcelas: a infiltração e o escoamento
superficial. A infiltração num dado instante, It, constitui a recarga dos aquíferos da bacia e é
calculada pela equação que se segue, representada pelo gráfico da Figura 7:
*Z = *� � �Z�Z + *� � [4.42]
Como já foi referido, os aquíferos são representados por um reservatório que se supõe ter uma
capacidade ilimitada.
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
33
De acordo com esta equação [4.41], a infiltração aumenta com o excedente, Xt, tendendo
assimptoticamente para o parâmetro taxa máxima de infiltração, Imax, referente à quantidade
máxima de água infiltrada por unidade de tempo. Valores elevados deste parâmetro conduzem
a uma diminuição do escoamento superficial gerado sem que, no entanto, o escoamento total
de longo prazo seja afectado, pois a parcela infiltrada é “restituída” em instantes de cálculo
posteriores.
Figura 7 – Modelo de Temez: relação excedente – infiltração (retirado de PBH Rio Lis, 2001).
No que se refere ao escoamento subterrâneo, o modelo considera duas hipóteses de
comportamento do aquífero, que se passam a descrever.
a) A lei de descarga do aquífero é uma exponencial negativa, de acordo com:
245Z = 245Zsa ∙ �s�.∆Z [4.43]
em que Qsubt representa o caudal de descarga do aquífero no instante t e ∆t representa o
intervalo de tempo entre t e t-1. O coeficiente de descarga do aquífero, α, relaciona-se com a
taxa com que a água armazenada nos sistemas aquíferos é drenada para a rede hidrográfica,
sendo que a variação deste parâmetro não afecta os valores médios do escoamento, mas
apenas a sua distribuição temporal.
A descarga do aquífero subterrâneo é proporcional ao volume armazenado no aquífero, Vt,
sendo o parâmetro de proporcionalidade o coeficiente de esgotamento do aquífero, α:
�Z = � 245Zsa ∙ �s�.∆Z EL ⇔ �Z =�Z
245Zsa ∙ �s�.∆Z� = 245Z� [4.44]
b) A recarga por infiltração concentrada em metade do intervalo entre t-1 e t.
245Z = � *Z ∙ �s�∆ZA [4.45]
Assim, obtém-se a equação que traduz o caudal subterrâneo para o cálculo da descarga total
do aquífero:
Capítulo 4: A transformação da precipitação em escoamento
34
245Z = 245Zsa ∙ �s�Z + � *Z ∙ �s�∆ZA [4.46]
O escoamento subterrâneo num instante t, Gt, determina-se através de uma equação da
conservação da massa fazendo intervir o volume armazenado nos instantes t e t-1 e também a
infiltração:
%Z = �Zsa− �Z + *Z ∙ L [4.47]
Por fim, o escoamento superficial total da bacia, Qt, é obtido pela soma de três termos
principais: escoamento superficial, Xt, deduzido da infiltração, It, e o escoamento subterrâneo,
Gt.
2Z = �Z − *Z + %Z [4.48]
4.5.3. FÓRMULA DE TURC
A fórmula de Turc para estimar o défice de escoamento anual médio é dada pela
equação [4.49]:
�� = ^ 1A0.9 + 1A�A [4.49]
em que 1 (mm) é a precipitação anual média, �� (mm), o défice de escoamento anual médio e
L, o poder evaporante da atmosfera definido em função da temperatura anual média do ar,
t (˚C), por:
� = 300 + 25 L + 0.05 LA [4.50]
O défice de escoamento representa a diferença entre os valores anuais médios da
precipitação, 1, e do escoamento, !�, este último, também expresso em milímetros, ou seja �� = 1 − !�.
A anterior fórmula é válida para �1�1 ≥ 0.1. Nas restantes circunstâncias, o défice é igual à
precipitação e, portanto, o escoamento anual médio é nulo.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
35
5. APLICAÇÃO A TRÊS CASOS DE ESTUDO
5.1. CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
Neste Capítulo 5 aplicam-se os modelos atrás referidos de transformação da precipitação em
escoamentos mensais a três bacias hidrográficas da Região Centro de Moçambique, com o
objectivo de comparar os resultados fornecidos de tais modelos e, assim, aferir quanto à sua
aplicabilidade.
O capítulo compreende uma caracterização geral comum às três bacias hidrográficas a que se
segue a apresentação, efectuada de modo separado para cada bacia, dos dados de base
respeitantes a cada uma.
Efectua-se a modelação do balanço hídrico sequencial com a evapotranspiração potencial de
Thornthwaite e de Penman-Monteith calculadas a partir de temperaturas médias mensais. De
seguida são comparados os escoamentos resultantes de um e de outro método, bem como os
escoamentos provenientes da aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial utilizando a
evapotranspiração de Thornthwaite, mas, desta vez, determinada a partir da série mensal de
temperaturas mensais.
Segue-se um processo análogo para o modelo de Temez e comparam-se os escoamentos
mensais simulados com os obtidos por aplicação do balanço hídrico sequencial com a
evapotranspiração de Thornthwaite.
Por fim, é aplicada a fórmula de Turc e é comparado o escoamento anual médio obtido com o
escoamento anual médio resultante dos modelos do balanço hídrico sequencial e de Temez.
A síntese dos resultados alcançados no conjunto das três bacias analisadas é apresentada em
três quadros, incluídos no Capítulo 6.
Mas antes de se prosseguir com o estudo esclarece-se um aspecto pertinente. Sendo a
temperatura num dado mês sempre uma média, para simplificar a notação eliminou-se a
referência à média. Assim, por exemplo, a temperatura média num dado ano e mês do
calendário será identificada apenas por referência a esse mês e ano. Ao longo do trabalho
foram utilizadas séries mensais de temperaturas mensais, no anterior entendimento, e as doze
médias das anteriores temperaturas que foram designadas temperaturas médias mensais,
sempre que necessário, com especificação do mês a que respeitam.
Outro aspecto que também diz respeito à notação utilizada é o seguinte: quer no modelo do
balanço hídrico sequencial, quer no modelo de Temez, foram utilizados os símbolos C e α, mas
nota-se que as suas definições são distintas, aliás conforme explicitado na lista de símbolos.
Ao longo do trabalho inserem-se várias figuras alusivas a cada um dos modelos, com os
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
36
respectivos parâmetros e para evitar qualquer confusão refere-se sempre na legenda qual o
modelo em questão.
Relativamente ao processo de calibração de um dado modelo, a determinação do conjunto dos
parâmetros que conduz ao valor mínimo absoluto da função objectivo utilizada pode ser
efectuada através de dois métodos distintos: por algoritmos de pesquisa de extremos absolutos
ou por pesquisa exaustiva do espaço de soluções.
No estudo efectuado optou-se pelo segundo método. Contudo, a implementação de uma malha
com uma dimensão para cada parâmetro pode não garantir que se representa todo o espaço
de soluções; ou seja, não é possível garantir que todos os extremos e picos da função sejam
identificados. Por isso, numa etapa antecedente procurou-se averiguar a regularidade do
comportamento da função objectivo, mediante obtenção da superfície dos respectivos valores
no espaço com tantas dimensões quanto o número de parâmetros. Como antes enunciado, o
valor da função objectivo, para cada conjunto de valores dos parâmetros, é dado pela soma
dos quadrados das diferenças entre escoamentos simulados e observados. Mas uma vez que
a representação gráfica está restrita a três eixos, em que dois eixos correspondem a
parâmetros e o terceiro eixo é atribuído ao valor da função objectivo, o procedimento aplicado
utilizou sucessivos cortes da superfície representativa da função objectivo para assim concluir
acerca do seu comportamento. Um procedimento semelhante foi identificado em
BEVEN (2001) p.20, em que se representa uma superfície com dois parâmetros do modelo
TOPMODEL, mas com a diferença que se trata de uma situação em que o ponto mais alto da
superfície é o que indica melhor ajustamento.
No caso do balanço hídrico sequencial, fizeram-se variar os valores de dois parâmetros, para
valor do terceiro parâmetro fixo, sendo que o domínio deste parâmetro foi caracterizado por
dez valores discretos, representativos do respectivo intervalo de possíveis valores. Este
procedimento foi repetido para outro conjunto distinto de dois parâmetros, com obtenção no
final vinte cortes os quais denotavam resultados muito semelhantes. Na Figura 8 estão
exemplificados quatro desses cortes, em que o parâmetro fixo é α (coeficiente de repartição do
escoamento pelo mês em consideração e pelo mês seguinte) e os parâmetros variáveis são
ASmax (capacidade máxima de armazenamento de água no solo), de 0 a 200, e C (coeficiente
de redução do escoamento), de 0.0 a 1.0.
Na fig denota-se, embora casualmente, que o parâmetro C tem pouca influência no valor da
função objectivo.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
37
Parâmetro fixo: α = 0.20 Parâmetro fixo: α = 0.50
Parâmetro fixo: α = 0.70 Parâmetro fixo: α = 1.0
Figura 8 – Calibração do modelo do balanço hídrico sequencial. Representação gráfica da função
objectivo, FO, através de quatro cortes obtidos considerando como parâmetros variáveis ASmax e
C e como parâmetro fixo, com os valores indicados, α.
Quanto ao modelo de Temez, que possui quatro parâmetros, foram fixados os valores de dois
desses parâmetros e foram variados os valores dos restantes dois, resultando para cada corte
uma representação gráfica da função objectivo, tal como se exemplifica na Figura 9, relativa a
valores fixos dos parâmetros Imax (taxa máxima de infiltração) e C (coeficiente de excedente) e
a valores variáveis de Hmax (capacidade máxima de armazenamento de água no solo) e de α
(coeficiente de descarga do aquífero) entre 0 e 1000 mm e entre 0.0 e 1.0, respectivamente. Ao
todo foram realizados noventa e seis cortes, do tipo dos quatro representados, que
correspondem a combinações de dois parâmetros fixos e dois parâmetros variáveis e a uma
divisão do domínio de cada variável em quatro valores discretos representativos do respectivo
intervalo de valores, não necessariamente fisicamente admissíveis.
0
0.5
1 050
100150
200
2
3
4
5
x 105
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1 050
100150
200
1
2
3
4
5
x 105
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1 050
100150
200
1
2
3
4
5
x 105
0
0.5
1 050
100150
200
0
2
4
6
x 105
C
C
C C
ASmax ASmax
ASmax
ASmax
FO FO
FO FO
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
38
Parâmetros fixos: C = 0.50; Imax = 100.0 Parâmetros fixos: C = 0.50; Imax = 300.0
Parâmetros fixos: C = 0.50; Imax = 600.0 Parâmetros fixos: C = 0.50; Imax = 900.0
Figura 9 – Calibração do modelo de Temez. Representação gráfica da função objectivo, FO, através
de quatro cortes obtidos considerando como parâmetros variáveis Hmax e αααα e como parâmetros
fixos, com os valores indicados, C e Imax.
Em qualquer um dos casos verifica-se a continuidade e regularidade da função objectivo, tanto
numa análise individual, como também entre gráficos sucessivos, facto que consubstancia uma
conclusão determinante. Foram ainda realizadas mais simulações, com carácter aleatório e
com malhas com discretização variável, que funcionaram como casos de teste. Tais
simulações reforçaram sempre a constatação de que o comportamento da função objectivo é
regular, com um desenvolvimento gradual e sem picos nem extremos súbitos. Desta forma
também fica provado o carácter estável da solução encontrada, ou seja, o mínimo da função
objectivo não varia drasticamente numa sua vizinhança, em consequência de pequenas
variações dos parâmetros do modelo. Ao longo do restante estudo, a referência ao processo de
calibração terá inerente que esta foi realizada através de uma pesquisa exaustiva do espaço de
resultados, de acordo com a metodologia aqui apresentada.
00.2
0.40.6
0.81
0
500
10001.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
x 105
00.2
0.40.6
0.81
0
500
10001.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
x 105
00.2
0.40.6
0.81
0
500
10001.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
x 105
00.2
0.40.6
0.81
0
500
10001.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
x 105
Hmax Hmax
Hmax Hmax α
α α
α
FO
FO
FO FO
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
39
5.2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS
No Quadro 2 identificam-se as estações hidrométricas utilizadas neste estudo, as suas
características gerais e ainda a identificação dos postos udométricos que têm influência nas
respectivas bacias hidrográficas.
Quadro 2 – Estações hidrométricas utilizadas no estudo. Características gerais.
Estação hidrométrica Postos udométricos com influência na bacia hidrográfica da estação hidrométrica
Designação Coordenadas de
localização Bacia
hidrográfica principal
Curso de
água
Área da bacia
hidrográfica Designação
Coordenadas de localização Peso
Lat. Long. Lat. Long.
Caso de estudo 1
E83: Mavuzi em
Confluência
18.57˚S 33.28˚E Púnguè Mavuzi 511 km2
P375: Púnguè EN102
18.45˚S 33.36˚E 0.279
P372: Mavonde 18.53˚S 33.04˚E 0.708
P93: Vila de Manica 18.93˚S 32.88˚E 0.013
Caso de estudo 2
E392: Mavuzi em estrada de Mavonde
18.70˚S 33.06˚E Púnguè Mavuzi 66 km2
P375: Púnguè EN102
18.45˚S 33.36˚E -
P372: Mavonde 18.53˚S 33.04˚E 0.904
P93: Vila de Manica
18.93˚S 32.88˚E 0.096
Caso de estudo 3
E90: Licungo em
Gurué
18.70˚S 33.06˚E Licungo Licungo 140 km2
P164: Casal de Sto António Fábrica
15.45˚S 37.00˚E 0.481
P249: Namuli I
15.33˚S 37.09˚E 0.076
P469: Chingoma
15.40˚S 36.88˚E 0.443
Duas das três bacias hidrográficas estudadas, nomeadamente as bacias nas estações E83 e
E392, respeitam ao mesmo curso de água, o Rio Mavuzi, na bacia do Púngoè na Área 1 da
Figura 10. A outra bacia hidrográfica, em E90, respeita ao Rio Licungo e encontra-se na bacia
do Licungo, na Área 2 da mesma figura. A Figura 10 enquadra esquematicamente e no
contexto de Moçambique as áreas analisadas.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
40
Figura 10 – Enquadramento esquemático das áreas estudadas no contexto de Moçambique
Na Figura 11 está representada, a uma escala maior, a Área 1 definida anteriormente e na
Figura 12 está representada a Área 2. Nelas é possível observar as bacias hidrográficas nas
estações E83, E392 e E90, bem como os postos udométricos utilizadas nos modelos e os
cursos de água.
Área 1
Área 2
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
41
Figura 11 – Área 1: bacias hidrográficas nas estações hidrométricas E83 e E392 e postos
udométricos localizados nas proximidades.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
42
Figura 12 – Área 2: bacia hidrográfica na estação hidrométrica E90 e postos udométricos
localizados nas proximidades.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
43
Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, o clima da região em que se localizam as
três bacias hidrográficas é representado pela sigla Cwa. A primeira letra, C, indica clima
temperado, caracterizado teoricamente por a temperatura média do ar dos três meses mais
frios do ano estar compreendida entre -3˚C e 18˚C, a temperatura média do mês mais quente
ser superior a 10˚C e ter estações de Verão e Inverno bem definidas. A segunda letra, w, indica
que a estação seca ocorre no período em que o Sol está mais baixo e os dias são mais curtos,
ou seja, no Inverno, daí a letra w referente a winter. A terceira letra, a, indica que a região é
caracterizada por um Verão quente, com temperatura média do ar no mês mais quente
superior a 22˚C. Trata-se, portanto, de um clima temperado húmido com Inverno seco e Verão
quente, que também pode ser designado por clima subtropical ou clima tropical de altitude.
Tal clima apresenta duas estações principais: uma estação seca, durante a qual a
evapotranspiração potencial tende a exceder a precipitação, levando nalguns casos a
situações extremas de secura; e uma estação chuvosa, ou estação húmida, com precipitação
mais ou menos abundante, globalmente superior à evapotranspiração potencial, facto que
permite a reposição das reservas hídricas na biomassa, solos e aquíferos.
O principal mecanismo gerador da precipitação são os fenómenos convectivos, em geral
associados a trovoadas durante o período vespertino em que a temperatura do solo é mais
elevada e a consequente instabilidade do ar é maior. Assim, o período de maior precipitação
está associado à presença sobre a região da Zona de Convergência Intertropical e da célula de
Hadley que lhe está associada. Nestas condições, a humidade trazida pelos ventos alíseos que
convergem sobre estas regiões alimenta a convecção formando intensos aguaceiros.
Realça-se que os dados disponíveis das estações agrometeorológicas de Chimoio, com
influência sobre as bacias em E83 e E392, e de Gurué, com influência sobre a bacia em E90,
são totalmente condizentes com as características climáticas mencionadas.
Os solos nas bacias hidrográficas das estações E83 e E392 são residuais, derivados na
maioria de rochas metamórficas e eruptivas do Pré-Câmbrico, em particular, do complexo
gnaisso-granítico do Moçambique Belt. São solos de textura variável, profundos a muito
profundos, localmente pouco profundos, castanhos-avermelhados, sendo ainda ligeiramente
lixiviados, excessivamente drenados ou moderadamente bem drenados e, por vezes,
localmente mal drenados. Ocorrem ainda, solos aluvionares e hidromórficos ao longo das
linhas de drenagem natural. O panorama paisagístico compreende áreas localizadas a altitudes
que variam entre 500 a 1500 m acima do nível médio do mar (DNHA, 2003). No Anexo 15
apresenta-se um mapa da geologia da região da Área 1, previamente identificada na Figura 10.
A ocupação do solo da bacia hidrográfica E83 é dominada por floresta de baixa altitude aberta
e formação herbácea arborizada, com zonas mais pequenas de matagal aberto, solo sem
vegetação e moitas. Quanto à bacia em E392, a ocupação do solo é quase inteiramente
floresta de baixa altitude aberta, com uma pequena zona no limite da bacia de solo sem
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
44
vegetação. O mapa de ocupação do solo destas duas bacias hidrográficas pode ser consultado
no Anexo 16.
A bacia hidrográfica da estação E90 pertence a uma região de elevada altitude e ocorre no
complexo gnaisso-granítico do Moçambique Belt, datado do Pré-Câmbrico Primário. Os solos
derivados destas unidades geológicas são do tipo ferralítico, vermelhos a
castanho-avermelhados, de textura pesada, profundos e moderadamente bem drenados,
ligeira a fortemente lixiviados, contudo apresentando boas capacidades de retenção de água.
O relevo é dominado por espaços interfluviais intercalados por vales estreitos e muito
profundos, podendo ocorrer ainda e de forma isolada afloramentos rochosos tipo inselbergs em
ambas as margens, que a erosão deixou a descoberto. É de salientar que é nesta região
localizam-se muitas das nascentes dos rios que conservam água durante todo o ano em
Moçambique (DNHA, 2003). No Anexo 17 apresenta-se um mapa da geologia da região da
Área 2, previamente identificada na Figura 10.
Contrariamente à ocupação do solo da bacia E83, a ocupação na bacia hidrográfica E90 é
muito mais heterogénea, destacando-se as seguintes ocorrências: moitas mais concentradas
nas margens do curso de água, formação herbácea e herbácea arborizada, cultivado sequeiro,
matagal alto e solo sem vegetação e uma área habitacional semi-urbanizada com área
aproximadamente 3 km2. O mapa de ocupação do solo desta bacia pode ser consultado no
Anexo 18.
5.3. CASO DE ESTUDO 1: BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTAÇÃO
HIDROMÉTRICA E83 – MAVUZI EM CONFLUÊNCIA
5.3.1. DADOS DE BASE
Os dados utilizados para o cálculo da evapotranspiração potencial de Thornthwaite e de
Penman-Monteith são provenientes da estação agroclimatológica da FAO, localizada em
Chimoio e constam no Anexo 1. Apresentam-se os registos de temperaturas mensais ao longo
de vinte anos, entre 1951 e 1970 e outros dados relevantes, nomeadamente: temperaturas
média, máxima e mínima do ar, velocidade do vento, declive da curva de tensão de vapor na
atmosfera, radiação solar global e líquida, fluxo de calor do solo, constante psicrométrica,
tensão de saturação do vapor à temperatura T, tensão real do vapor à temperatura T e
humidade relativa do ar. Atendendo à proximidade desta estação relativamente à bacia
hidrográfica em E83, admite-se que os dados referidos são representativos da zona em estudo.
Os registos de escoamentos mensais para a bacia hidrográfica em E83 estão compreendidos
entre os anos hidrológicos de 1957/58 e 1975/76. No Anexo 9 apresenta-se a respectiva série
temporal, bem como as coordenadas geográficas e a altitude da estação hidrométrica.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
45
De modo a harmonizar escoamentos e precipitações, foram recolhidos os registos de
precipitações mensais entre os anos hidrológicos de 1957/58 e 1975/76, em três postos
udométricos com influência na bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: P375, P372 e
P93. Nos Anexo 3, 4 e 5 apresentam-se as respectivas séries temporais de precipitações
mensais, bem como os coeficientes de ponderação de aplicáveis aos diferentes postos (razão
entre a área da bacia hidrográfica inserida no polígono de influência de um dado posto e a área
total da bacia), as coordenadas geográficas e as altitudes dos diferentes postos.
No Anexo 12 esquematiza-se a bacia hidrográfica em E83, os postos udométricos com
influência na mesma e as áreas de influência desses postos, avaliadas de acordo com o
método de Thiessen.
5.3.2. BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE THORNTHWAITE
5.3.2.1. ESTRUTURA DO MODELO
Como se referiu anteriormente, o balanço hídrico sequencial é um modelo que prima pela sua
simplicidade, a qual se reflecte também ao nível da sua aplicação. O modelo requer apenas
registos de temperaturas médias, de precipitações e de escoamentos, ou seja, informação que
normalmente existe e está disponível.
No Quadro 3 indicam-se as insolações astronómicas diárias, IAD, expressas em unidades de
12h de um mês com 30 dias para a latitude 19°00’ S, retiradas de QUINTELA (1996), as
temperaturas médias mensais, Tmed, recolhidas da estação agroclimatológica de Chimoio e as
evapotranspirações potenciais calculadas pelo método de Thornthwaite, EVP TH.
Quadro 3 – Estação agroclimatológica de Chimoio. Valores mensais da insolação astronómica
diária, da temperatura média mensal e da evapotranspiração potencial de Thornthwaite.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
IAD 1.14 1.00 1.05 0.97 0.96 0.92 0.95 0.99 1.00 1.08 1.09 1.14
Tmed (oC) 23.8 24.0 23.0 21.8 19.5 17.6 17.4 18.9 21.2 22.8 23.4 23.6
EVP TH
(mm) 122.7 106.2 104.5 85.0 58.2 47.9 46.9 61.5 79.1 105.0 112.6 117.2
O processo de concepção da estrutura do modelo consistiu em duas etapas distintas:
i) identificação dos parâmetros a incorporar na estrutura do modelo
ii) avaliação da qualidade/validade dos registos de precipitação e escoamento,
através do coeficiente de escoamento, para apurar se existem anos não passíveis
de serem utilizados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
46
Somente após finalizada a concepção da estrutura do modelo se passará ao processo de
modelação propriamente dito, no Capítulo 5.3.2.2.
Em relação à primeira etapa, dado que apenas se pretendia identificar os parâmetros a
incorporar na estrutura do modelo, optou-se por utilizar, no processo de calibração, o registo de
precipitações e de escoamentos na sua totalidade.
Como já foi referido no final do Capítulo 4.5.1, referente à descrição do modelo do balanço
hídrico sequencial, equacionam-se três concepções para o modelo em questão. A primeira
traduz a formulação original do balanço hídrico sequencial, com um parâmetro a calibrar
(ASmax). A segunda tem dois parâmetros a calibrar (ASmax e C ou ASmax e α) e incorpora, para
além das equações originais, a equação [4.35] ou a equação [4.36], conforme os parâmetros a
calibrar sejam ASmax e C ou ASmax e α. Por fim, a terceira concepção tem três parâmetros a
calibrar (ASmax, C e α) e incorpora simultaneamente as equações originais e as equações [4.35]
e [4.36].
Os resultados da calibração, para as diferentes hipóteses de parâmetros constituintes do
modelo, são apresentados nas Figuras 13, 14, 15 e 16. Cada figura inclui, além da
representação dos escoamentos mensais simulados e observados, o valor ou os valores
optimizados dos parâmetros, bem como uma tabela com medidas de ajustamento e de erro.
Medidas de ajustamento e erro
Coeficiente de correlação R 0.67
Raiz quadrada do desvio quadrático médio RMSE (mm) 63.66
Erro absoluto médio MAE (mm) 24.26
Figura 13 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com um parâmetro: ASmax. Valor optimizado do parâmetro. Medidas de
ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos simulados Escoamentos observados ASmax=593.5mm
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
47
Medidas de ajustamento e erro
Coeficiente de correlação R 0.67
Raiz quadrada do desvio quadrático médio RMSE (mm) 61.59
Erro absoluto médio MAE (mm) 21.66
Figura 14 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com dois parâmetros: ASmax e C. Valores optimizados dos parâmetros.
Medidas de ajustamento e erro.
Medidas de ajustamento e erro
Coeficiente de correlação R 0.69
Raiz quadrada do desvio quadrático médio RMSE (mm) 59.96
Erro absoluto médio MAE (mm) 20.21
Figura 15 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com dois parâmetros: ASmax e α. Valores optimizados dos parâmetros.
Medidas de ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
100
200
300
400
500
600
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
100
200
300
400
500
600
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos simulados Escoamentos observados ASmax=548.5mm C=0.80
Escoamentos simulados Escoamentos observados ASmax=365.0mm α=0.70
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
48
Medidas de ajustamento e erro
Coeficiente de correlação R 0.69
Raiz quadrada do desvio quadrático médio RMSE (mm) 58.80
Erro absoluto médio MAE (mm) 19.58
Figura 16 - Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial.
Concepção do modelo com três parâmetros: ASmax, C e α. Valores optimizados dos parâmetros.
Medidas de ajustamento e erro.
As medidas de ajustamento e de erro incluídas nas anteriores figuras permitem concluir que o
modelo se comporta melhor na concepção com três parâmetros, embora à custa de um
aumento da complexidade do mesmo. No prosseguimento do estudo, nomeadamente, no que
respeita à aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial aos demais casos de estudos,
será omitida a análise da estrutura do modelo, identificando-se apenas no início de cada
capítulo a estrutura e a concepção que resultou no melhor comportamento do modelo.
Os coeficientes de correlação relativamente baixos e elevados valores de RMSE e MAE que se
observam na sequência anterior de figuras devem-se essencialmente a três situações em que
se verificam valores para os escoamentos observados da ordem de 500 a 600 mm, ou seja,
muito superiores aos demais registos, mas, especialmente muito superiores às precipitações
observadas que se afiguram estar na sua génese, conforme se esquematiza na Figura 17.
A justificação para a anterior situação pode advir de erros nos próprios dados de base. Pode
também ter ocorrido precipitação no final de um mês que se traduza em escoamento apenas
no mês seguinte. Esta segunda hipótese é aceitável até certo ponto, na medida em que o posto
P372, localizado a 25 km da estação hidrométrica E83, tem um peso de 70%, determinado pelo
método de Thiessen. Deste modo, quando ocorre precipitação não uniforme sobre a bacia os
resultados podem afastar-se significativamente da realidade.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
100
200
300
400
500
600
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos simulados Escoamentos observados ASmax=210.5mm C=0.90
α=0.70
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
49
Figura 17 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: precipitação média na bacia e
escoamentos observados. Três situações singulares em que o escoamento observado é muito
superior à precipitação.
Para avaliar quantitativamente a relação entre escoamento e precipitação e, assim, aferir sobre
a qualidade/validade dos registos, calculou-se o coeficiente de escoamento, entendido como
sendo a razão entre valores anuais do escoamento e da precipitação. Os resultados obtidos
para a bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83 são apresentados no Quadro 4 que,
para além dos valores anuais do escoamento, da precipitação e do coeficiente de escoamento
contém os défices anuais de escoamento. Tais défices, que fornecem uma aproximação
razoável das evapotranspirações reais anuais, são calculados pela diferença entre
precipitações e escoamento anuais.
Neste quadro, nota-se que nos anos hidrológicos 1962/63 e 1975/76 o coeficiente de
escoamento atingiu valores muito elevados e afastados do valor médio de 0.29, que, de algum
modo, não se julgam fisicamente possíveis. O ano de 1962/63, ao qual pertence o primeiro dos
três pontos singulares identificados na Figura 17, foi retirado do período de calibração e o ano
de 1975/76, onde ocorrem os restantes dois pontos singulares, foi retirado do período de
validação, restando assim dezassete dos dezanove anos disponíveis inicialmente. O
coeficiente de escoamento médio no período de 17 anos passou a ser de 0.22.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
/
P
reci
pita
ção
(mm
)
PrecipitaçãoEscoamentos Observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
50
Quadro 4 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamento e precipitação anuais,
défice e coeficiente de escoamento entre 1957/58 a 1975/76.
Ano Escoamento
anual E (mm)
Precipitação anual
P (mm)
Défice (P-E) (mm)
Coeficiente de escoamento
(-)
1957/58 623.3 1610.7 987.4 0.39
1958/59 158.6 1054.5 896.0 0.15
1959/60 45.5 928.2 882.7 0.05
1960/61 261.5 1485.8 1224.3 0.18
1961/62 519.8 1045.6 525.8 0.50
1962/63 906.5 1129.6 223.1 0.80
1963/64 239.0 719.3 480.4 0.33
1964/65 142.0 1053.0 911.0 0.13
1965/66 228.0 1053.5 825.5 0.22
1966/67 356.8 1182.8 826.0 0.30
1967/68 1.8 647.5 645.7 0.00
1968/69 258.3 1448.0 1189.7 0.18
1969/70 224.6 1331.2 1106.5 0.17
1970/71 87.0 1001.1 914.1 0.09
1971/72 380.2 1485.3 1105.1 0.26
1972/73 13.8 661.1 647.3 0.02
1973/74 1000.8 2212.8 1212.0 0.45
1974/75 503.7 1332.3 828.6 0.38
1975/76 1400.3 1413.6 13.3 0.99
Deste capítulo retiram-se as seguintes conclusões:
i. os escoamentos simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado numa
concepção com três parâmetros (capacidade limite de armazenamento de água no
solo, ASmax, coeficiente de redução do escoamento, C, e coeficiente de repartição do
escoamento pelo mês em consideração e pelo mês seguinte, α) têm um melhor
ajustamento relativamente aos escoamentos observados e por isso esta é a concepção
escolhida para o modelo a aplicar à bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83;
ii. foram identificados anos hidrológicos com valores do coeficientes de escoamento que
não se julgam fisicamente possíveis e por esta razão foram retirados dos registos
disponíveis os anos 1962/63 e 1975/76.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
51
5.3.2.2. CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
Identificados os parâmetros a incorporar no modelo e avaliados os registos disponíveis,
prossegue-se com a aplicação propriamente dita do modelo do balanço hídrico sequencial
baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite, a qual necessariamente pressupõe
uma fase de validação utilizando apenas parte dos registos disponíveis, sendo que o
remanescente dessa parte se destina à calibração de parâmetros.
Atendendo a que se dispõe de registos de escoamentos observados na estação hidrométrica
E83 entre os anos hidrológicos de 1957/58 e 1975/76 e de modo a utilizar aproximadamente
dois terços da informação disponível na fase de calibração, considerou-se que tal fase
terminaria em 1968/69 (excluindo o ano de 1962/63), correspondendo-lhe, portanto, onze dos
dezassete anos com registos; a fase de validação decorreu de 1969/70 a 1975/76 (com
exclusão do ano de 1975/76).
A Figura 18 contém a indicação dos parâmetros decorrentes da fase de calibração, bem como
a representação dos escoamentos estimados por aplicação desses parâmetros nas fases,
tanto de calibração, como de validação. A figura foi ainda completada com uma tabela com os
resultados das medidas de ajustamento e erro, tendo por base os parâmetros calibrados.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.77 33.39 12.09 -0.02 0.59 0.41 0.86
1957/58 a 1968/69
Período validação 0.89 29.81 15.13 -2.73 0.79 0.21 0.94
1969/70 a 1975/76
Período global 0.82 32.17 13.16 -0.98 0.69 0.31 0.90
1957/58 a 1975/76
Figura 18 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Calibração (1957/58 a 1968/69) e validação
(1969/70 a 1975/76). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
ASmax = 89.5 mm
C = 0.70
alfa = 0.65ValidaçãoCalibração
Escoamentos simulados Escoamentos observados ASmax=89.5mm C=0.70 α=0.65
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
52
Realça-se que os resultados obtidos foram independentes do valor inicial da água armazenada
no solo (AS no instante inicial, ou seja, AS0), tendo-se testado para valores até 89.5 mm, que
corresponde ao valor calibrado de ASmax. Uma vez que a simulação tem início no final da época
seca, é expectável que o volume de água armazenado seja pouco significativo e seja
claramente inferior a ASmax. Mas tendo-se verificado que os resultados dos parâmetros
calibrados se mantinham inalterados até ao valor da capacidade máxima de armazenamento
de água no solo, isto é, admitindo que o solo instante inicial da simulação se encontra
saturado, ficam dispensados mais detalhes a estimação deste valor inicial.
Em relação às medidas de ajustamento e erro acima apresentadas, com ênfase para o período
global, realça-se que: a) o RMSE e o MAE tomam valores relativamente elevados; b) o BIAS
indica uma tendência muito ligeira do modelo para sobrestimar, em média, os escoamentos
mensais; c) o valor relativamente baixo de E2 e o valor relativamente elevado de ARV sugerem
alguma incapacidade do modelo para reproduzir a variância dos registos; d) o valor elevado do
IOA confirma a anterior circunstância. Como se referiu no Capítulo 4.3, um valor elevado de
IOA (eq. [4.8]) poderá dever-se a um numerador pequeno, se os valores simulados forem
próximos dos observados, e/ou a um denominador grande, se se verificar uma elevada
variabilidade natural dos valores observados. Neste caso, face aos valores que tomam RMSE e
MAE, o valor de IOA está mais relacionado com a variabilidade natural dos escoamentos,
reforçando, deste modo, os resultados de E2 e ARV. Anota-se que a variabilidade natural está
também expressa no coeficiente de escoamento, cujos valores médio e desvio-padrão são 0.22
e 0.15, respectivamente.
Para comprovar a melhoria do modelo face à situação em que não se exclui o ano hidrológico
de 1962/63, apresenta-se no Quadro 5 apenas três medidas de erro respeitantes ao período de
calibração. A comparação dos valores de tais medidas com os equivalentes apresentados na
tabela da Figura 18 permite concluir que há uma melhoria significativa ao excluir o ano
hidrológico de 1962/63 do processo de calibração.
Quadro 5 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Medidas de ajustamento e erro da fase de
calibração para o período de 1957/58 a 1968/69, sem exclusão do ano 1962/63.
Medidas de ajustamento e erro
Coeficiente de correlação R 0.69
Raiz quadrada do desvio quadrático médio RMSE (mm) 50.0
Erro absoluto médio MAE (mm) 17.1
De um modo geral, a discordância entre os escoamentos estimados e os escoamentos
observados pode ser causado pelos seguintes aspectos:
i. estrutura e simplificações inerentes ao modelo, nomeadamente: admitir-se a bacia como
homogénea; não considerar a complexidade do movimento da água à superfície e no
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
53
interior do solo; considerar uma distribuição uniforme de precipitação em cada intervalo de
tempo, que em situações de precipitações intensas pode dar origem a resultados díspares
entre escoamentos observados e estimados. Isto porque quando ocorrem precipitações
intensas a quantidade de água que se infiltra é relativamente reduzida e por isso espera-
se que seja observado um valor superior de escoamento directo relativamente ao valor
estimado;
ii. avaliação do balanço hídrico sequencial numa escala mensal que pode não ser a mais
adequada para o caso de estudo, por a discretização mensal ser eventualmente
demasiado grosseira;
iii. registos incorrectos de escoamentos observados, por erro humano ou do equipamento
utilizado.
5.3.2.3. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE THORNTHWAITE CALCULADA A PARTIR DE TEMPERATURAS
MÉDIAS MENSAIS E A PARTIR DA SÉRIE MENSAL DE TEMPERATURAS MENSAIS
Um aspecto relevante no que diz respeito à simplificação da aplicação do modelo do balanço
hídrico sequencial prende-se com a avaliação das diferenças decorrentes da utilização, para o
cálculo da evapotranspiração, de temperaturas médias mensais ou da série mensal de
temperaturas mensais. É esta comparação que se pretende efectuar de seguida, tendo
subjacente os parâmetros calibrados e validados no capítulo anterior, nomeadamente,
ASmax=89.5 mm, C=0.70 e α=0.65.
Dado que se dispõe de registos de temperaturas mensais entre 1951/52 e 1969/70 e de
registos de precipitação entre 1957/58 e 1975/76, a análise realizada neste capítulo incidiu
sobre o período de tempo comum aos anteriores registos, ou seja, de 1957/58 a 1969/70.
Previamente à apresentação de resultados, anota-se que, não obstante a série de
temperaturas médias anuais na estação de Chimoio, apresentada na Figura 19, evidenciar uma
tendência de aumento, admitiu-se que tal série estaria correcta.
Na Figura 20 comparam-se os escoamentos determinados com base na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite calculada a partir da série mensal de temperaturas mensais,
H_THmensal, e a partir das temperaturas médias mensais, H_THmédia. A figura contém a
representação do segmento de recta (a verde) que traduz a equação de regressão linear entre
H_THmensal e H_THmédia, bem como a equação que lhe corresponde e o respectivo
coeficiente de correlação, R. Foi ainda incluído um segmento de recta auxiliar (a vermelho) que
traduz a igualdade entre H_THmensal e H_THmédia.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
54
Figura 19 – Estação agroclimatológica de Chimoio: temperaturas médias anuais de 1951/52 a
1969/70.
Figura 20 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos mensais calculados pelo
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite obtida a
partir da série mensal de temperaturas mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas médias
mensais, H_THmédia. Equação de regressão linear simples e coeficiente de correlação, R.
Embora se observe um aumento da temperatura média anual, os resultados não manifestam
esta situação, que se traduziria em evapotranspirações potenciais (e eventualmente reais)
maiores e escoamentos mais reduzidos.
19.5
20.0
20.5
21.0
21.5
22.0
22.5
23.0
19
51
/52
19
52
/53
19
53
/54
19
54
/55
19
55
/56
19
56
/57
19
57
/58
19
58
/59
19
59
/60
19
60
/61
19
61
/62
19
62
/63
19
63
/64
19
64
/65
19
65
/66
19
66
/67
19
67
/68
19
68
/69
19
69
/70
Temperatura
anual média
(˚C)
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250
H_THmensal
(mm)
H_THmédia
(mm)
Segmento de recta representativo da equação de regressão entre H_THmensal e H_THmédia
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_THmensal e H_THmédia
H_THmensal = 1.016 H_THmédia + 0.020
R = 0.997
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
55
Como resultado da aplicação do modelo que é não linear, a diferença entre os escoamentos
resultantes da utilização da série mensal de temperaturas mensais no cálculo da
evapotranspiração de Thornthwaite, face à utilização de temperaturas médias mensais, é
desprezável, o que consubstancia uma conclusão importante da aplicação do balanço hídrico
ao caso de estudo a que se refere o presente capítulo.
Em complemento da anterior figura, compararam-se, de seguida, os escoamentos observados
com os escoamentos simulados para as duas hipóteses de consideração da temperatura, com
cálculo dos valores do coeficiente de correlação, de RMSE e de MAE. Os resultados obtidos,
sistematizados no Quadro 6 mostram que os escoamentos obtidos a partir de temperaturas
médias mensais são os que melhor se ajustam aos escoamentos observados.
Quadro 6 - Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite obtida a partir da série mensal de temperaturas
mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas médias mensais, H_THmédia. Medidas de
ajustamento e erro.
Medidas de ajustamento e erro
Período: 1957/58 a 1969/70
Coeficiente de correlação
Raiz quadrada do desvio quadrático médio Erro absoluto médio
R RMSE (mm) MAE (mm)
H_THmédia 0.770 32.68 12.06
H_THmensal 0.755 33.73 12.69
Por fim, retiram-se duas conclusões principais deste capítulo:
i. as diferenças entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do modelo do
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite obtida a partir de temperaturas médias mensais, H_THmédia, e a
partir da série mensal de temperaturas mensais, H_THmensal, são praticamente
desprezáveis, como se verificou através da Figura 20. Isto sugere que, sempre que
necessário, possam ser utilizados os valores de temperaturas médias mensais na
estimação de escoamentos mensais por aplicação do balanço hídrico sequencial;
ii. apesar de as diferenças serem muito pequenas, os escoamentos mensais obtidos
através das temperaturas médias mensais são os que melhor se ajustam aos
escoamentos observados.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
56
5.3.3. BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE PENMAN-MONTEITH
5.3.3.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
O cálculo da evapotranspiração potencial mensal de Penman-Monteith, referenciada por
EVP PM, processou-se de acordo com a equação [4.17] com base em temperaturas médias
mensais e outros parâmetros médios mensais (no entendimento explicitado no Capítulo 5.1)
que constam do Anexo 1.
Por uma questão de validação dos resultados obtidos, foram consultados os registos
disponíveis no website da FAO (www.fao.org), de onde também se retiraram valores médios
mensais da evapotranspiração potencial mensal de Penman-Monteith, os quais foram
referenciados por EVP PM registada. Apesar das diferenças verificadas na época húmida (de
Outubro a Março) serem pequenas, na época seca (de Abril a Setembro) os valores calculados
são significativamente mais elevados do que os apresentados pela FAO, o que origina uma
diferença anual média de 55.7 mm. No Quadro 7 apresentam-se os valores médios mensais de
EVP PM e EVP PM registada.
Quadro 7 – Estação agroclimatológica de Chimoio: evapotranspiração potencial mensal de
Penman-Monteith calculada, EVP PM, e registada, EVP PM registada.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
EVP PM registada
(mm) 139.1 119.3 119.6 96.6 78.5 63.8 69.6 92.2 116.0 140.1 137.4 132.6 1318.7
EVP PM (mm) 137.7 118.7 120.8 109.2 97.3 79.7 84.0 104.4 118.6 139.4 134.1 130.4 1374.4
A modelação do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith, que compreende uma primeira fase de calibração de parâmetros e a fase
subsequente validação, foi efectuada com a evapotranspiração potencial de Penman-Monteith
calculada, que, por uma questão de simplificação, será referida ao longo do restante Capítulo
5.3 apenas como evapotranspiração potencial de Penman-Monteith.
A estrutura do modelo é análoga à do Capítulo 5.3.2, ou seja, trata-se do modelo do balanço
hídrico com três parâmetros (capacidade limite de armazenamento de água no solo, ASmax,
coeficiente de redução do escoamento, C, e coeficiente de repartição do escoamento pelo mês
em consideração e pelo mês seguinte, α), em que foi também excluído o ano hidrológico de
1962/63 da fase de calibração (de 1957/58 a 1968/69) e o ano hidrológico de 1975/76 da fase
de validação (de 1969/70 a 1975/76).
A Figura 21 contém a indicação dos valores dos parâmetros decorrentes da fase de calibração,
bem como a representação dos escoamentos estimados por aplicação desses parâmetros nas
fases, tanto de calibração, como de validação. A figura foi ainda completada com uma tabela
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
57
com os resultados das medidas de ajustamento e erro, tendo por base os parâmetros
calibrados.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.78 32.24 11.45 0.58 0.62 0.38 0.87
1957/58 a 1968/69
Período validação 0.88 30.75 15.04 -2.96 0.78 0.22 0.94
1969/70 a 1975/76
Período global 0.83 31.72 12.72 -0.47 0.70 0.30 0.90
1957/58 a 1975/76
Figura 21 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. Calibração (1957/58 a 1968/69) e validação
(1969/70 a 1975/76). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
Anota-se que os resultados obtidos foram independentes do valor inicial da água armazenada
no solo (AS0), tendo-se testado para valores até 86.3 mm, que corresponde ao valor calibrado
de ASmax.
As medidas de ajustamento e erro apresentadas são muito semelhantes às que foram
determinadas aquando da modelação do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, no Capítulo 5.3.2. Por esta razão, comentam-se
apenas as diferenças que se verificam entre uns e outros valores, com ênfase para o período
global. A modelação do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith resulta em valores ligeiramente mais pequenos de RMSE, MAE, BIAS e ARV
e valores ligeiramente mais elevados de E2 e IOA, ou seja, todas as medidas de ajustamento
mostram uma melhoria, embora ligeira, do ajustamento deste modelo aos registos de
escoamentos observados.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
ASmax = 86.3 mm
C = 0.75
alfa = 0.67 ValidaçãoCalibração
Escoamentos simulados Escoamentos observados
ASmax=86.3mm C=0.75 α=0.67
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
58
5.3.3.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NAS EVAPOTRANSPIRAÇÕES
POTENCIAIS DE THORNTHWAITE E DE PENMAN-MONTEITH
Para comparar escoamentos mensais simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial
baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite, EVP TH, e Penman-Monteith,
EVP PM, é necessário avaliar primeiramente as diferenças entre tais evapotranspirações, para
o que se obtiveram o Quadro 8 e a Figura 22 com os correspondentes valores médios mensais.
Quadro 8 – Estação agroclimatológica de Chimoio: evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM.
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
EVP TH
(mm) 122.7 106.2 104.5 85.0 58.2 47.9 46.9 61.5 79.1 105.0 112.6 117.2 1047.0
EVP PM
(mm) 137.7 118.7 120.8 109.2 97.3 79.7 84.0 104.4 118.6 139.4 134.1 130.4 1374.4
A partir dos valores do Quadro 8 verifica-se que a evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith é sempre superior à evapotranspiração potencial de Thornthwaite (linha azul
acima da linha verde na Figura 22) resultando a diferença anual média entre as duas
evapotranspirações em 330.7 mm. Observa-se, ainda, que as maiores diferenças ocorrem
principalmente na época seca, entre os meses de Abril e Setembro, quando as temperaturas
médias (linha laranja na Figura 22) são mais baixas.
Figura 22 – Estação agroclimatológica de Chimoio: temperatura média mensal, evapotranspirações
potenciais de Thornthwaite, EVP TH e de Penman-Monteith, EVP PM.
10.0
12.5
15.0
17.5
20.0
22.5
25.0
40
60
80
100
120
140
160
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Temperatura (°C)Evapotranspiração
(mm)
Meses do ano
EVP PM EVP TH Temperatura média mensal
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
59
Na Figura 23 comparam-se novamente as evapotranspirações potenciais mensais de
Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. A figura contém ainda a
representação do segmento de recta (a verde) que traduz a equação de regressão linear entre
EVP TH e EVP PM, bem como a equação que lhe corresponde e o respectivo coeficiente de
correlação, R e um segmento de recta (a vermelho) que traduz a igualdade entre as duas
evapotranspirações.
Figura 23 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: evapotranspirações potenciais
mensais de Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. Equação de regressão linear
simples e coeficiente de correlação, R.
A Figura 23 evidencia dois aspectos relevantes: i) como se constatou anteriormente, a EVP TH
apresenta valores sempre inferiores aos da EVP PM (segmento de recta verde sempre abaixo
do segmento de recta vermelho). No entanto, a diferença entre os valores de EVP TH e
EVP PM é tanto mais reduzida quanto maior é a evapotranspiração (convergência entre os
segmentos de recta vermelho e verde à medida que aumenta a evapotranspiração); ii) a
comparação das duas evapotranspirações potenciais denota uma elevada correlação, o que
sugere a possibilidade de, na indisponibilidade de registos, estimar a EVP PM a partir da
EVP TH. Considerando apenas o primeiro aspecto anteriormente mencionado, seria expectável
que a aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial com base numa ou noutra
evapotranspiração conduzisse a estimativas distintas do escoamento superficial.
Na Figura 24 comparam-se os escoamentos mensais (expressos em altura de água) obtidos
por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações
potenciais de Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Tais resultados têm
subjacentes os parâmetros calibrados e validados nos capítulos anteriores, nomeadamente no
Capítulo 5.3.2.2, para o balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite e no Capítulo 5.3.3.1, para o balanço hídrico sequencial baseado na
0
30
60
90
120
150
0 30 60 90 120 150
EVP TH (mm)
EVP PM (mm)
Segmento de recta representativo da equação de regressão entre ETP PM e ETP TH
Segmento de recta representativo da igualdade entre ETP PM e ETP TH
EVP TH = 1.30 EVP PM - 61.61
R= 0.937
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
60
evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. A Figura 24 contém ainda a representação
do segmento de recta (a verde) que traduz a equação de regressão linear entre H_TH e H_PM,
a equação que lhe corresponde e o respectivo coeficiente de correlação, R, um segmento de
recta auxiliar (a vermelho) que traduz a igualdade entre H_TH e H_PM e os parâmetros
calibrados de cada modelo.
Figura 24 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos mensais calculados pelo
modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e coeficiente de correlação, R.
A partir da Figura 24 conclui-se que apesar de a evapotranspiração potencial de Thornthwaite
ser sempre inferior e, por vezes, mesmo significativamente inferior à de Penman-Monteith, a
conjugação deste facto com os diferentes parâmetros calibrados para cada um dos modelos
resulta que os escoamentos mensais provenientes da aplicação do balanço hídrico baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite tendem a ser ligeiramente superiores aos obtidos
com base na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith, para valores abaixo de
100-150 mm, mas tendem a ser inferiores para valores acima de 100-150 mm. Contudo, as
diferenças entre escoamentos simulados são sempre pouco significativas, pois os segmentos
de recta verde e vermelho estão muito próximos.
Este facto é relevante para o presente estudo e é explicado, em parte, por as maiores
diferenças entre os valores das evapotranspiração potenciais de Thornthwaite e de
Penman-Monteith ocorrerem no semestre seco, de Abril a Setembro, período durante o qual já
não é a evapotranspiração que condiciona o excesso hídrico ou superavit e,
consequentemente, o escoamento superficial, mas a reduzida precipitação e sobretudo a
reduzida quantidade de água no solo.
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250
H_TH (mm)
ASmax=89.5mm
C=0.70
α=0.65
H_PM (mm)
ASmax=86.3mm
C=0.75
α=0.67
Segmento de recta representativo da equação de regressão entre H_TH e H_PM
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH e H_PM
H_TH = 0.961 H_PM + 1.507
R = 0.997
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
61
Como consequência, as evapotranspirações reais apresentam uma fraca relação com as
evapotranspirações potenciais, pois são condicionadas, não pelo “potencial” do solo e das
plantas para transferir água para a atmosfera, mas pela insuficiência do recurso água que não
permite satisfazer esse “potencial”. Nestas circunstâncias, ou seja, durante a época seca, os
valores das evapotranspirações reais são baixos e resultam próximos, mesmo que,
teoricamente, lhes correspondam evapotranspirações potenciais de valor bastante mais
elevado. Esta análise foi traduzida na Figura 25, que contém, numa base mensal, a
precipitação média, a evapotranspiração potencial e real de Thornthwaite, EVP TH e EVR TH,
e a evapotranspiração potencial e real de Penman-Monteith, EVP PM e EVR PM.
Figura 25 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: precipitação média na bacia,
evapotranspiração potencial e real de Thornthwaite (EVP TH e EVR TH) e evapotranspiração
potencial e real de Penman-Monteith (EVP PM e EVR PM).
Na Figura 25 observa-se que as evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de
Penman-Monteith aproximam-se das respectivas evapotranspirações reais durante a época
húmida (de Outubro a Março) e afastam-se significativamente durante a época seca (de Abril a
Setembro), na qual a precipitação observada é bastante reduzida. Nos meses da época seca, a
evapotranspiração real é “alimentada” sobretudo pela da água armazenada nos aquíferos que
vai sendo gradualmente liberta.
Na Figura 26 identificam-se, mês a mês, os valores médios dos escoamentos observados e a
média e o desvio padrão dos escoamentos simulados com base na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite e Penman-Monteith. Nesta figura, a evapotranspiração potencial de
Thornthwaite é abreviada por EVP TH e a evapotranspiração potencial de Penman-Monteith,
por EVP PM.
0
40
80
120
160
200
240
280
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Evapotranspiração
(mm)
Meses do ano
EVP TH
EVR TH
EVP PM
EVR PM
Precipitação - Média
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
62
Figura 26 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamento médio mensal observado,
média e desvio-padrão de escoamentos mensais simulados pelo balanço hídrico sequencial
baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-Monteith.
Verifica-se que o modelo do balanço hídrico, baseado, tanto numa, como outra
evapotranspiração, fornece, em termos médios mensais, resultados muito próximos entre si e
também dos observados embora, neste caso, por vezes superiores, como acontece
especialmente em Dezembro e Março. Este facto consubstancia os valores negativos da
medida BIAS (que revelam uma sobrestimação da variável em questão) que foram obtidos quer
para o modelo do balanço hídrico sequencial baseado, quer na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite, quer na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith.
Como principais conclusões deste capítulo, destacam-se as seguintes:
i. o método de Thornthwaite fornece evapotranspirações potenciais inferiores às resultantes
da aplicação do método de Penman-Monteith, mas os valores obtidos apresentam uma
elevada correlação (R=0.937);
ii. as diferenças entre escoamentos mensais simulados através do modelo do balanço
hídrico sequencial, baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de
Penman-Monteith, são praticamente desprezáveis, correspondendo-lhes um coeficiente de
correlação muito elevado (R=0.997);
iii. os escoamentos resultantes da aplicação do balanço hídrico com base na
evapotranspiração potencial de Penman-Monteith tendem a ser ligeiramente superiores
aos escoamentos resultantes da aplicação do balanço hídrico com base na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, para valores acima dos 100-150 mm;
iv. em termos médios mensais, os escoamentos provenientes da aplicação do balanço
hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite ou de
Penman-Monteith resultam muito próximos entre si e próximos dos escoamentos
observados.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Escoamento
(mm)
Meses do ano
Escoamento mensal
calculado com EVP TH -
MédiaEscoamento mensal
calculado com EVP TH -
Desvio-padrãoEscoamento mensal
calculado com EVP PM -
MédiaEscoamento mensal
calculado com EVP PM -
Desvio-padrãoEscoamento mensal
observado - Média
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
63
5.3.4. MODELO DE TEMEZ
5.3.4.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
Como se referiu no Capítulo 4.5.2, o modelo de Temez tem quatro parâmetros, que são:
C coeficiente de excedente (-)
Hmax capacidade máxima de armazenamento de água no solo (mm)
Imax capacidade máxima de infiltração no solo (mm)
α coeficiente de esgotamento do aquífero (-)
No Capítulo 5.1 concluiu-se que o processo de calibração através de pesquisa exaustiva do
espaço de soluções era adequado e por isso prosseguiu-se com a concepção da malha de
cálculo pretendida, partindo do pressuposto que o erro cometido resulta apenas da
discretização imposta à mesma. Deste modo, fizeram-se variar os parâmetros do modelo entre
um valor limite inferior e um valor limite superior, através de um incremento com ordem de
grandeza pretendido. No Quadro 9 estão representados os quatro parâmetros do modelo de
Temez, o espaço de soluções definido pelos limites inferior e superior adoptados e o
incremento em cada passo de cálculo da calibração.
Quadro 9 – Parâmetros do modelo de Temez, limite inferior, superior e incremento.
Parâmetro Limite inferior Limite superior Incremento
C (-) 0.00 1.00 0.01
Hmax (mm) 0.0 1000.0 0.1
Imax (mm) 0.0 1000.0 0.1
α (-) 0.00 1.00 0.01
Para a fase de calibração foram utilizados os registos disponíveis entre os anos hidrológicos de
1957/58 e 1968/69, excluindo 1962/63. A fase de validação decorreu entre 1969/70 e 1975/76,
excluindo o ano hidrológico de 1975/76. A Figura 27 contém a indicação dos parâmetros
decorrentes da fase de calibração, bem como a representação dos escoamentos estimados por
aplicação desses parâmetros nas fases, tanto de calibração, como de validação. A figura foi
ainda completada com uma tabela com os resultados das medidas de ajustamento e erro.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
64
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.76 33.69 12.24 -0.17 0.69 0.31 0.90
1957/58 a 1968/69
Período validação 0.91 28.80 15.82 -7.11 0.82 0.18 0.95
1969/70 a 1975/76
Período global 0.83 32.05 13.50 -2.68 0.74 0.26 0.92
1957/58 a 1975/76
Figura 27 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: modelo de Temez. Calibração (1957/58
a 1968/69) e validação (1969/70 a 1975/76). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
Anota-se que os resultados dos parâmetros obtidos foram independentes dos valores iniciais
de escoamento subterrâneo, Qsub0, e do volume de água armazenado no solo no instante
inicial, H0, tendo-se testado Qsub0 para valores até 10 m3.s-1 e H0 até 349.5 mm (valor
calibrado para o parâmetro Hmax), significativamente superiores aos valores que se poderiam
esperar no final da época seca, instante em que se inicia a simulação. Os valores das medidas
de ajustamento e erro são semelhantes aos obtidos anteriormente, quer por aplicação do
modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite (Figura 18), quer por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith (Figura 21). Uma vez que se concluiu no
Capítulo 5.3.3.1 que o modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração
potencial de Penman-Monteith era o que melhor se ajustava aos registos observados,
comentam-se aqui apenas as diferenças relativamente aos resultados então obtidos, com
ênfase para o período global. Apesar de as diferenças verificadas serem pequenas, as
medidas RMSE, MAE e BIAS apresentam valores mais elevados, o que sugere um pior
ajustamento. Contrariamente, as medidas E2 e IOA mais elevadas e ARV mais reduzida,
sugerem um melhor ajustamento. Globalmente, conclui-se que o modelo de Temez tem um
pior ajustamento que o modelo do balanço hídrico sequencial com evapotranspiração de
Penman-Monteith.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
ValidaçãoCalibração
C = 0.25
Hmax = 349.5 mm
Imax = 675.1 mm
alfa = 1.0
C=0.25
Hmax=349.5mm
Imax=675.1mm
α=1.0
Escoamentos simulados Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
65
5.3.4.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO MODELO DE TEMEZ E DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NA
EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL DE THORNTHWAITE
Na Figura 28 comparam-se os escoamentos simulados através do modelo de Temez,
H_Temez e do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Thornthwaite, H_TH. A figura contém a representação do segmento de recta (a verde) que
traduz a equação de regressão linear entre H_Temez e H_TH, bem como a equação que lhe
corresponde e o respectivo coeficiente de correlação, R. Foi ainda incluído um segmento de
recta auxiliar (a vermelho) que traduz a igualdade entre H_Temez e H_TH. Não obstante de se
ter obtido um bom coeficiente de correlação, a dispersão que se observa nos pontos
representados levou a que se considerasse mais uma hipótese de ajustamento dos resultados
através de uma equação de regressão, mas desta vez quadrática, que foi representada a azul.
Figura 28 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos mensais calculados pelo
modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite,
H_TH, e pelo modelo de Temez, H_Temez. Parâmetros dos modelos. Equação de regressão linear
simples e quadrática e coeficientes de correlação, R.
A Figura 28 evidencia escoamentos simulados pelos dois modelos em comparação muito
próximos para valores inferiores a 100-150 mm. Acima de 100-150 mm tais escoamentos
afastam-se, sendo que o modelo de Temez fornece valores superiores. Verifica-se também que
os escoamentos de valor superior a 100-150 mm aparentam ser melhor descritos pela lei de
0
50
100
150
200
250
300
0 50 100 150 200 250 300
H_TH (mm)
ASmax=89.5mm
C=0.70
α=0.65
H_Temez (mm)
C=0.25
Hmax=349.5mm
Imax=675.1mm
α=1.0
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH e H_Temez
Segmento de recta representativo da equação de regressão linear simples entre H_TH e H_Temez
Curva representativa da equação de regressão quadrática entre H_TH e H_Temez
Regressão linear simples
H_TH = 0.896 H_Temez + 1.154
R=0.988
Regressão quadrática
H_TH = - 0.001 H_Temez2 + 1.127 H_Temez - 0.172
R=0.993
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
66
ajustamento quadrática, não obstante o coeficiente de correlação da equação de regressão
linear apresentar um valor muito elevado.
Por fim, obteve-se a Figura 29 que contém a série mensal de escoamentos observados, os
escoamentos mensais simulados através do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, H_TH e através do modelo de Temez, H_Temez.
A Figura 29 comprova claramente que não há grandes diferenças entre os resultados dos
modelos considerados. Observa-se ainda que há alguns meses com valores de escoamento
observado relativamente elevados e que em que nenhum dos modelos consegue reproduzir de
forma adequada esses valores; e apesar de se ter verificado que o modelo de Temez tem
capacidade para reproduzir valores mais elevados de escoamentos mensais, nem sempre é
este o modelo que melhor se ajusta aos escoamentos mensais mais elevados de cada ano.
Figura 29 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: escoamentos observados e simulados
pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Thornthwaite, entre 1957/58 e 1975/76.
Assim, retiram-se duas conclusões principais deste capítulo:
i. o modelo de Temez fornece resultados próximos dos obtidos pelo modelo do balanço
hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite, para valores
de escoamento inferiores a 100-150 mm;
ii. a lei de ajustamento quadrática é a que melhor descreve a relação entre os escoamentos
simulados pelo modelo de Temez e pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite, conforme decorre do melhor valor do
coeficiente de correlação, como também da observação da Figura 28.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 156 168 180 192 204 216 2280
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos Simulados pelo Modelo TemezEscoamentos Simulados pelo Modelo do Balanço Hídrico SequencialEscoamentos Observados
Escoamentos simulados pelo modelo Temez Escoamentos simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
67
5.3.5. FÓRMULA DE TURC
5.3.5.1. APLICAÇÃO DA FÓRMULA DE TURC
Para comparar, numa mesma base, os resultados da fórmula de Turc, do balanço hídrico
sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith
e do modelo de Temez, procedeu-se à aplicação daquela fórmula no mesmo período de tempo
que os demais modelos, obtendo-se os resultados apresentados no Quadro 10. Neste quadro
identifica-se a precipitação anual média, o poder evaporante da atmosfera, que é determinado
a partir da temperatura anual média, o parâmetro P�A L1A⁄ , o défice anual médio de escoamento,
o escoamento anual médio e o coeficiente de escoamento.
Quadro 10 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E83: aplicação da fórmula de Turc entre
1957/58 e 1975/76
Período 1957/58 - 1975/76
Precipitação anual média P� �mm� 1191.3
Temperatura anual média t �°C� 21.4
Poder evaporante da atmosfera L 858.6 P�A L1A⁄ 1.91
Défice anual médio de escoamento D� �mm� 708.8
Escoamento anual médio H� �mm� 482.6
Coeficiente de escoamento 0.41
5.3.5.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS ANUAIS MÉDIOS OBTIDOS PELA
FÓRMULA DE TURC, BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NAS
EVAPOTRANSPIRAÇÕES DE THORNTHWAITE E DE PENMAN-MONTEITH E
MODELO DE TEMEZ
Os escoamentos anuais médios obtidos por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial
baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith e do
modelo de Temez, são respectivamente 308.5 mm, 302.4 mm e 329.0 mm, ou seja, o
escoamento anual médio obtido por aplicação da fórmula de Turc, 482.6 mm, é 1.56 vezes
superior ao primeiro, 1.60 vezes superior ao segundo e 1.47 vezes superior ao terceiro.
Relativamente ao escoamento anual médio observado, 296.7 mm, o valor obtido pela fórmula
de Turc é 1.63 vezes superior e o coeficiente de escoamento, 0.41, é aproximadamente o
dobro da média dos coeficientes de escoamento anuais obtidos a partir dos registos de
precipitação e escoamento observados, que assume o valor de 0.22.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
68
Através desta análise, conclui-se que o escoamento anual médio observado é mais próximo
dos escoamentos anuais médios obtidos pelos modelos do balanço hídrico e de Temez e que o
método de Turc sobrestima significativamente essa variável hidrológica.
Numa tentativa de melhorar os resultados, foi ensaiada a aplicação da fórmula de Turc fazendo
intervir, em lugar da temperatura média anual, a temperatura média do semestre húmido, que
coincide com o semestre mais quente, de Outubro a Março. Os resultados obtidos não foram
significativamente melhores, o que sugere que esta fórmula indicativa do escoamento anual
médio não é adequada aos dados disponíveis no caso de estudo da bacia hidrográfica da
estação hidrométrica E83.
5.4. CASO DE ESTUDO 2: BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTAÇÃO
HIDROMÉTRICA E392 – MAVUZI EM ESTRADA DE MAVONDE
5.4.1. DADOS DE BASE
A estrutura deste Capítulo 5.4 é análoga à do Capítulo 5.3, prosseguindo-se, desde já, para a
apresentação dos dados de base.
Os registos de escoamentos mensais para a bacia hidrográfica em E392 estão compreendidos
entre os anos hidrológicos de 1963/64 e 1975/76. No Anexo 10 apresenta-se a respectiva série
temporal, bem como as coordenadas geográficas e a altitude da estação hidrométrica.
Os registos de precipitações mensais foram recolhidos dos mesmos três postos udométricos
considerados para a bacia em E83, nomeadamente P375, P372 e P93. Nos Anexo 3, 4 e 5
apresentam-se as respectivas séries temporais de precipitações mensais, bem como os
coeficientes de ponderação de aplicáveis aos diferentes postos, as coordenadas geográficas e
as altitudes dos mesmos.
Os dados utilizados para o cálculo da evapotranspiração potencial de Thornthwaite e de
Penman-Monteith são também os referentes à estação agroclimatológica da FAO localizada
em Chimoio e constam no Anexo 1. Atendendo à proximidade desta estação relativamente à
bacia hidrográfica em E392, admite-se que os anteriores dados sejam representativos da zona
em estudo.
No Anexo 13 esquematiza-se a bacia hidrográfica em E392, os postos udométricos com
influência na mesma e as áreas de influência desses postos, avaliadas de acordo com o
método de Thiessen.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
69
5.4.2. BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE THORNTHWAITE
5.4.2.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
A estrutura do modelo do balanço hídrico sequencial implementado neste capítulo é a mesma
que foi implementada no caso de estudo anterior, ou seja, corresponde à concepção do modelo
com três parâmetros: capacidade limite de armazenamento de água no solo, ASmax, coeficiente
de redução do escoamento, C, e coeficiente de repartição do escoamento pelo mês em
consideração e pelo mês seguinte, α. A avaliação da qualidade/validade dos registos de
precipitação e escoamento não resultou em nenhum valor do coeficiente de escoamento
anomalamente díspar, em relação ao valor médio de 0.20. Logo, não foi excluído nenhum ano
hidrológico dos registos disponíveis, contrariamente ao que sucedeu no caso de estudo
anterior.
Uma vez que tanto esta bacia hidrográfica, como a bacia hidrográfica em E83 (Capítulo 5.3),
utilizam registos da estação agroclimatológica de Chimoio, os valores médios mensais de
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, EVP TH, são os que constam no Quadro 3.
Face aos treze anos de registos disponíveis, optou-se por utilizar nove anos para a fase de
calibração dos parâmetros do modelo do balanço hídrico sequencial e quatro anos para a fase
de validação dos mesmos. No primeiro caso de estudo foram utilizados os primeiros anos dos
registos disponíveis para a fase de calibração e os últimos anos para a fase de validação. No
presente caso de estudo foi testada, com melhores resultados, a utilização de outro conjunto
de nove anos de registos para a fase calibração, que não os primeiros nove anos, tal como é
sugerido em BEVEN (2001). Concretamente, foram utilizados os últimos nove anos de registos,
entre os anos hidrológicos de 1967/68 e de 1975/76, para a fase de calibração e os primeiros
quatro anos, entre os anos hidrológicos de 1963/64 e de 1966/67, para a fase de validação. Ao
considerar o período de nove anos, entre 1967/68 e 1975/76, abrangem-se na fase de
calibração anos com elevados escoamentos anuais e coeficientes de escoamento e anos com
escoamentos anuais e coeficientes de escoamento muito reduzidos. Tal não aconteceria se a
fase de calibração incidisse sobre os primeiros nove anos de registos disponíveis. Como
resultado, verificou-se que o modelo comporta-se globalmente melhor.
A Figura 30 contém a indicação dos parâmetros decorrentes da fase de calibração, bem como
a representação dos escoamentos estimados por aplicação desses parâmetros nas fases,
tanto de calibração, como de validação. A figura foi ainda completada com uma tabela com os
resultados das medidas de ajustamento e erro, tendo por base os parâmetros calibrados.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
70
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.87 28.83 12.33 2.17 0.77 0.23 0.93
1967/68 a 1975/76
Período validação 0.90 13.46 6.28 -4.25 0.65 0.35 0.93
1963/64 a 1966/67
Período global 0.87 25.12 10.47 0.19 0.76 0.24 0.93
1963/64 a 1975/76
Figura 30 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Calibração (1967/68 a 1975/76) e validação
(1963/64 a 1966/67). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
Em relação às medidas de ajustamento e erro acima apresentadas, com ênfase para o período
global, realça-se que: a) há uma boa correlação entre escoamentos observados e
escoamentos simulados através do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite; b) as medidas de erro RMSE e MAE tomam
valores relativamente elevados; c) avaliando o período global, o BIAS indica uma tendência
muito ligeira do modelo para subestimar, em média, os escoamentos mensais mas, como
resultado de se ter incluído anos com elevados coeficientes de escoamento na fase de
calibração, resulta na fase de validação, em que os escoamentos e coeficientes de
escoamento são mais reduzidos, uma tendência do modelo para sobrestimar os escoamentos
mensais; d) o valor relativamente baixo de E2 e o valor relativamente elevado de ARV sugerem
alguma incapacidade do modelo para reproduzir a variância dos registos; d) o valor elevado do
IOA confirma a anterior circunstância. Tal como no caso de estudo anterior, face aos valores
que tomam RMSE e MAE, o valor de IOA está mais relacionado com a variabilidade natural
dos escoamentos, reforçando, deste modo, os resultados de E2 e ARV. Esta variabilidade
natural está também expressa no coeficiente de escoamento, cujos valores médio e
desvio-padrão são 0.20 e 0.15, respectivamente.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
CalibraçãoValidação
ASmax = 472.3 mm
C = 0.71
alfa = 0.61
Escoamentos simulados Escoamentos observados
ASmax=472.3mm C=0.71 α=0.61
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
71
A bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392 está inserida na bacia hidrográfica da
estação hidrométrica E83, como se representou na Figura 11, e para avaliar a possibilidade de
regionalização de parâmetros aplicou-se o modelo do balanço hídrico baseado na
evapotranspiração de Thornthwaite com os parâmetros calibrados no caso de estudo 1,
referente à bacia hidrográfica da estação E83 (Capítulo 5.3.2.2). A série de escoamentos
mensais simulados apresenta-se na Figura 31, bem como a série de escoamentos mensais
observados, os parâmetros do modelo e as medidas de ajustamento e erro para o período
global em análise.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período Global 0.83 31.76 15.26 -5.95 0.62 0.38 0.90
1963/64 a 1975/76
Figura 31 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite e parâmetros do caso de estudo 1. Parâmetros do
Caso de Estudo 1. Medidas de ajustamento e erro.
Comparando os resultados obtidos através da modelação cujos resultados apresentam-se na
Figura 30, com os apresentados na Figura 31, conclui-se que estes últimos são piores. Duas
medidas de erro que permitem quantificar facilmente tal “perda de qualidade” são o MAE e o
RMSE, que, no caso do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração de
Thornthwaite com os parâmetros do primeiro caso de estudo, são, respectiva e
aproximadamente, 46% e 26% superiores aos valores correspondentes indicados na Figura 30
para o período global. O BIAS indica uma tendência do modelo assim definido para sobrestimar
significativamente os escoamentos mensais, como se pode facilmente constatar na Figura 31,
e as medidas E2 e ARV denotam uma pior capacidade do modelo para explicar a variância dos
registos observados. Conclui-se, assim que não é adequado utilizar os parâmetros calibrados
para o modelo do balanço hídrico sequencial aplicado à bacia hidrográfica da estação
hidrométrica E83 para estimar os escoamentos mensais na bacia hidrográfica da estação
hidrométrica E392.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
ASmax = 89.5 mm
C = 0.70
alfa = 0.65
Parâmetros do caso de estudo 1: ASmax=89.5mm C=0.70 α=0.65
Escoamentos simulados com os parâmetros do caso de estudo 1 Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
72
5.4.2.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE THORNTHWAITE CALCULADA A PARTIR DE TEMPERATURAS
MÉDIAS MENSAIS E A PARTIR DA SÉRIE MENSAL DE TEMPERATURAS MENSAIS
Os registos disponíveis da série mensal de temperaturas mensais estão compreendidos entre
os anos hidrológicos de 1951/52 e 1969/70 e os registos de precipitação e escoamento estão
disponíveis entre 1963/64 e 1975/76. Não obstante de se ter um período comum de apenas
sete anos hidrológicos, de 1963/64 a 1969/70, optou-se por fazer esta comparação, de forma
idêntica à realizada no capítulo 5.3.2.3, tendo subjacentes os seguintes parâmetros calibrados
e validados na Figura 30, ou seja, ASmax=472.3 mm, C=0.71 e α=0.61.
Na Figura 32 comparam-se os escoamentos determinados com base na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite calculada a partir da série mensal de temperaturas mensais,
H_THmensal, e a partir das temperaturas médias mensais, H_THmédia. O restante conteúdo
da figura é análogo ao que já se descreveu a propósito da Figura 20.
Figura 32 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos mensais calculados
pelo balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite obtida a
partir da série mensal de temperaturas mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas médias
mensais, H_THmédia. Equação de regressão linear simples e coeficiente de correlação, R.
Como se observou a propósito da Figura 19, a série de temperaturas médias anuais,
construída a partir da série mensal de temperaturas mensais, denota uma variação positiva
significativa entre 1951 e 1970. No entanto, as diferenças entre escoamentos simulados são
praticamente desprezáveis.
A comparação entre escoamentos simulados e observados tendo por base os valores do
coeficiente de correlação, de RMSE e de MAE que se apresentam no Quadro 11, demonstra
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
H_THmensal
(mm)
H_THmédia
(mm)
Segmento de recta representativo da equação de regressão entre H_TH_mensal e H_TH_média
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH_mensal e H_TH_média
H_THmensal = 0.924 H_THmédia - 0.167
R = 0.997
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
73
que os escoamentos obtidos a partir da série mensal de temperaturas mensais são os que
melhor se ajustam aos escoamentos observados.
Quadro 11 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite obtida a partir da série mensal de temperaturas
mensais, H_THmensal, e a partir temperaturas médias mensais, H_THmédia. Medidas de
ajustamento e erro.
Medidas de ajustamento e erro
Período: 1963/64 a 1969/70
Coeficiente de correlação
Raiz quadrada do desvio quadrático médio
Erro absoluto médio
R (-) RMSE (mm) MAE (mm)
H_THmédia 0.942 16.5 7.7
H_THmensal 0.943 13.9 6.5
Deste capítulo retiram-se duas conclusões principais, a primeira das quais (e porventura a mais
relevante) é a mesma que já havia sido retirada a propósito do anterior caso de estudo, relativo
à estação hidrométrica E83.
i. as diferenças entre escoamentos mensais resultantes da aplicação do modelo do
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite obtida a partir de temperaturas médias mensais, H_THmédia, e a
partir da série mensal de temperaturas mensais, H_THmensal, são praticamente
desprezáveis, como se conclui da análise da Figura 32; tal circunstância sugere
que, sempre que necessário, possam ser utilizados os valores de temperaturas
médias mensais na estimação de escoamentos mensais por aplicação do balanço
hídrico sequencial;
ii. os escoamentos determinados a partir da série mensal de temperaturas mensais
são os que melhor se ajustam aos escoamentos observados.
5.4.3. BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE PENMAN-MONTEITH
5.4.3.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
Tal como no caso de estudo precedente, o cálculo da evapotranspiração potencial mensal de
Penman-Monteith baseado em temperaturas médias mensais e noutros parâmetros médios
mensais, expostos no Anexo 1, utilizou a equação [4.17].
O modelo do balanço hídrico implementado corresponde à sua concepção com três
parâmetros: capacidade limite de armazenamento de água no solo, ASmax, coeficiente de
redução do escoamento, C, e coeficiente de repartição do escoamento pelo mês em
consideração e pelo mês seguinte, α. Os registos de precipitação e escoamentos utilizados na
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
74
fase de calibração dos parâmetros referidos estão compreendidos entre os anos hidrológicos
de 1967/68 e de 1975/76. A fase de validação decorreu entre os anos hidrológicos de 1963/64
e de 1966/67. Os valores da evapotranspiração potencial de Penman-Monteith (EVP PM) são
os já apresentados no Quadro 7.
A Figura 33 contém a indicação dos parâmetros decorrentes da fase de calibração, bem como
a representação dos escoamentos estimados por aplicação desses parâmetros nas fases,
tanto de calibração, como de validação. A figura foi ainda completada com uma tabela com os
resultados das medidas de ajustamento e erro, tendo por base os parâmetros calibrados.
Anota-se que os resultados obtidos foram independentes do valor do armazenamento de água
no solo no instante inicial, AS0, testado para valores até 392.6 mm, que corresponde ao valor
calibrado para o parâmetro ASmax.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.89 27.55 12.83 4.58 0.79 0.21 0.94
1967/68 a 1975/76
Período validação 0.91 12.90 5.85 -1.58 0.68 0.32 0.94
1963/64 a 1966/67
Período global 0.89 24.01 10.68 2.69 0.78 0.22 0.94
1963/64 a 1975/76
Figura 33 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. Calibração (1967/68 a 1975/76) e validação
(1963/64 a 1966/67). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
Validação Calibração
ASmax = 392.6 mm
C = 0.83
alfa = 0.68
Escoamentos simulados Escoamentos observados
ASmax=392.6mm C=0.83 α=0.68
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
75
Os valores das medidas de ajustamento e erro sistematizados na figura precedente são muito
semelhantes aos que foram determinadas aquando da modelação do balanço hídrico
sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite (Capítulo 5.4.2). Assim,
comentam-se apenas as diferenças que se verificam entre uns e outros valores, com ênfase
para o período global. O balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Penman-Monteith exibe as seguintes medidas que caracterizam um melhor ajustamento:
coeficiente de correlação mais elevado, valores de RMSE e ARV mais pequenos e valores de
E2 e IOA mais elevados. Por outro lado, os valores de MAE e BIAS são mais elevados, o que
indica um pior ajustamento e uma subestimação dos valores mensais. Tendo estes factores em
conta, considera-se o balanço hídrico com evapotranspiração potencial de Penman-Monteith
como o modelo que melhor se ajusta aos registos de escoamentos observados.
Tal como no Capítulo 5.4.2.1, também neste capítulo se procurou avaliar o desempenho do
modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite com os parâmetros calibrados e validados para a bacia hidrográfica da estação
E83 (caso de estudo 1). A Figura 34 contém os escoamentos simulados através deste modelo,
os escoamentos observados, os parâmetros calibrados para a bacia hidrográfica da estação
E83 e as medidas de ajustamento e erro para o período global em análise.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período Global 0.83 31.27 14.99 -4.84 0.63 0.37 0.91
1963/64 a 1975/76
Figura 34 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite e parâmetros do caso de estudo 1. Parâmetros do
Caso de Estudo 1. Medidas de ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
ASmax = 86.3 mm
C = 0.75
alfa = 0.67
Parâmetros do caso de estudo 1: ASmax=86.3mm C=0.75 α=0.67
Escoamentos simulados com os parâmetros do caso de estudo 1 Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
76
Comparando as medidas de ajustamento e erro apresentadas na Figura 33 e na Figura 34,
conclui-se há uma diferença significativa entre os resultados da aplicação do modelo do
balanço hídrico sequencial com os parâmetros calibrados e validados para o presente caso de
estudo e com os parâmetros calibrados para o caso de estudo 1. As diferenças que se
verificam entre as medidas de ajustamento e erro são significativas e da mesma ordem de
grandeza que as obtidas aquando da análise do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, nomeadamente o MAE e o RMSE são, 40% e
30% superiores, respectivamente. O BIAS indica a tendência do modelo do balanço hídrico
sequencial baseado nos parâmetros do caso de estudo 1 para sobrestimar os escoamentos
mensais, tal como se pode observar na Figura 31 e as medidas E2 e ARV denotam uma pior
capacidade do modelo para explicar a variância dos escoamentos observados. Conclui-se,
assim, que não é adequado utilizar os parâmetros calibrados para o modelo do balanço hídrico
sequencial no caso de estudo 1, correspondente à bacia hidrográfica da estação E83, para
estimar os escoamentos mensais na bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392.
5.4.3.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NAS EVAPOTRANSPIRAÇÕES
POTENCIAIS DE THORNTHWAITE E DE PENMAN-MONTEITH
Os valores de evapotranspiração potencial mensal de Thornthwaite, EVP TH, e de
Penman-Monteith, EVP PM, que serviram de base ao estudo efectuado neste capítulo são os
que constam do Quadro 8, da Figura 22 e da Figura 23 do Capítulo 5.3.3.2. A análise então
efectuada de tal quadro e figuras é também aplicável no presente caso de estudo, pelo que se
omite a sua repetição.
Assim, procedeu-se à comparação entre escoamentos mensais (expressos em altura de água)
obtidos por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas
evapotranspirações potenciais de Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. A Figura
35 contém a representação do segmento de recta (a verde) que traduz a equação de regressão
linear entre H_TH e H_PM, bem como a equação que lhe corresponde e o respectivo
coeficiente de correlação, R. Foi ainda incluído um segmento de recta auxiliar (a vermelho) que
traduz a igualdade entre H_TH e H_PM. Tais resultados têm subjacentes os parâmetros
calibrados e validados nos capítulos anteriores, nomeadamente no Capítulo 5.4.2.1, para o
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite e no
Capítulo 5.4.3.1, para o balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith. Estes parâmetros foram também explicitados na Figura 35.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
77
Figura 35 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e coeficiente de correlação, R.
A partir da Figura 35 conclui-se que as diferenças entre evapotranspirações potenciais mensais
de Thornthwaite e de Penman-Monteith não se traduzem em diferenças significativas nos
escoamentos simulados pelo balanço hídrico sequencial baseado numa ou noutra
evapotranspiração. Conclui-se ainda que os escoamentos mensais provenientes da aplicação
do balanço hídrico baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite tendem a ser
superiores aos obtidos com base na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith para
valores abaixo de 100 mm, e tendem a ser inferiores para valores acima dos 100-120 mm.
Contudo, as diferenças entre escoamentos simulados são muito pouco significativas, pois os
segmentos de recta verde e vermelho estão muito próximos.
Na Figura 36 identificam-se, mês a mês, os valores médios dos escoamentos observados e a
média e o desvio padrão dos escoamentos simulados com base na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite e Penman-Monteith. Nesta figura e tal como na Figura 26, EVP TH
designa a evapotranspiração potencial de Thornthwaite e EVP PM, a evapotranspiração
potencial de Penman-Monteith.
0
50
100
150
200
0 50 100 150 200
H_TH (mm)
ASmax=472.3mm
C=0.71
α=0.61
H_PM (mm)
ASmax=392.6mm
C=0.83
α=0.68Segmento de recta representativo da equação de regressão entre H_TH e H_PM
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH e H_PM
H_TH = 0.904 H_PM + 1.173
R = 0.990
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
78
Figura 36 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamento médio mensal
observado, média e desvio-padrão de escoamentos mensais simulados pelo balanço hídrico
sequencial baseado nas evapotranspirações de Thornthwaite e de Penman-Monteith.
Realça-se que o modelo do balanço hídrico sequencial baseado, quer na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite, quer na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith, fornece
em termos médios mensais, resultados próximos entre si e próximos dos observados.
Como principais conclusões deste capítulo, destacam-se as seguintes:
i. As diferenças entre escoamentos mensais simulados através do modelo do balanço
hídrico sequencial, baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de
Penman-Monteith, são praticamente desprezáveis (o coeficiente de correlação é muito
elevado, R=0.990).
ii. Embora os escoamentos resultantes da aplicação do balanço hídrico com base na
evapotranspiração potencial de Penman-Monteith sejam claramente inferiores aos
escoamentos resultantes da aplicação do balanço hídrico com base na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite para valores inferiores a 100 mm, a
tendência inverte-se para valores superiores a 100-120 mm;
iii. Em termos médios mensais, os escoamentos provenientes da aplicação do balanço
hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite ou de
Penman-Monteith resultam muito próximos entre si e próximos dos escoamentos
observados.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Escoamento
(mm)
Meses do ano
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP TH - Média
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP TH - Desvio-padrão
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP PM - Média
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP PM - Desvio-padrão
Escoamento mensal
observado - Média
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
79
5.4.4. MODELO DE TEMEZ
5.4.4.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
O modelo implementado no presente capítulo considera ao formalismo e os parâmetros
previamente definidos no Capítulo 5.3.4.1. O processo de calibração utilizou mais uma vez a
pesquisa exaustiva do espaço de soluções, sendo que os limites inferior e superior e o
incremento da malha implementada para cada um dos quatro parâmetros do modelo são
indicados no Quadro 9. A fase de calibração decorreu entre os anos hidrológicos de 1967/68 e
1975/76 e a de validação entre os anos hidrológicos de 1963/64 e 1966/67. Os resultados
obtidos, organizados de modo semelhante ao adoptado em figuras equivalentes, estão
representados na Figura 37.
Mais uma vez, anota-se que os valores calibrados foram independentes dos valores iniciais de
escoamento subterrâneo, Qsub0, e do volume de água armazenado no solo no instante inicial,
H0, tendo-se testado Qsub0 para valores até 10 m3.s-1 e H0 até 457.2 mm (valor calibrado para
o parâmetro Hmax).
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.85 31.42 13.76 -0.04 0.72 0.28 0.92
1967/68 a 1975/76
Período validação 0.86 10.60 5.33 -3.14 0.79 0.21 0.95
1963/64 a 1966/67
Período global 0.86 26.80 11.17 -0.99 0.73 0.27 0.92
1963/64 a 1975/76
Figura 37 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: modelo de Temez. Calibração
(1967/68 a 1975/76) e validação (1963/64 a 1966/67). Valores dos parâmetros. Medidas de
ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
C = 0.35
Hmax = 457.2 mm
Imax = 608.9 mm
alfa = 0.64
CalibraçãoValidaçao C=0.35
Hmax=457.2mm
Imax=608.9mm
α=0.64
Escoamentos simulados Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
80
Comparando as medidas de ajustamento e erro acima apresentadas com as obtidas por
aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial a partir da evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith (que se concluiu ser melhor o modelo melhor ajustado aos escoamentos
observados do que o baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite), verifica-se que
as primeiras demonstram, com a única excepção de BIAS, um pior ajustamento. Conclui-se,
assim, que o modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith é o modelo que melhor se ajusta aos registos disponíveis.
A aplicação do modelo de Temez com os parâmetros calibrados (e validados) para a bacia
hidrográfica da estação hidrométrica E83 resultou na série de escoamentos mensais que
consta na Figura 38. Nesta figura foram também incluídos os escoamentos observados, os
parâmetros do modelo de Temez calibrados para a bacia hidrográfica da estação E83, no caso
de estudo 1 e medidas de ajustamento e erro para o período global em análise.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período Global 0.84 34.83 16.65 -9.15 0.54 0.46 0.90
1963/64 a 1975/76
Figura 38 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: modelo de Temez e parâmetros do
Caso de Estudo 1. Parâmetros do caso de estudo 1. Medidas de ajustamento e erro.
Relativamente ao modelo de Temez com os parâmetros calibrados e validados para o presente
caso de estudo, a aplicação de tal modelo com os parâmetros calibrados no caso de estudo 1
origina piores resultados, como se pode comprovar através de comparação directa das
medidas de ajustamento e erro exibidas na Figura 37 e na Figura 38. Embora o coeficiente de
correlação seja próximo, o RMSE é superior em 30%, o MAE é superior em 50% e a BIAS
indica uma sobrestimação média dos escoamentos mensais muito elevada.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
C = 0.25
Hmax = 349.5 mm
Imax = 675.1 mm
alfa = 1.0
Parâmetros do caso de estudo 1:
C=0.25
Hmax=349.5mm
Imax=675.1mm
α=1.0
Escoamentos simulados com os parâmetros do caso de estudo 1 Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
81
Mais uma vez, concluiu-se que não é adequado utilizar os parâmetros calibrados para a bacia
hidrográfica da estação E83 para estimar os escoamentos mensais na bacia hidrográfica da
estação E392.
5.4.4.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO MODELO DE TEMEZ E DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NA
EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL DE THORNTHWAITE
Na Figura 39 comparam-se os escoamentos simulados através do modelo de Temez,
H_Temez e do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Thornthwaite, H_TH. A figura contém a representação do segmento de recta (a verde) que
traduz a equação de regressão linear entre H_Temez e H_TH, a curva (a azul) que representa
a equação de regressão quadrática entre as referidas variáveis, bem como as equações que
lhes correspondem e os respectivos coeficientes de correlação, R. Foi ainda incluído um
segmento de recta auxiliar (a vermelho) que traduz a igualdade entre H_Temez e H_TH.
Figura 39 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos mensais calculados
pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite, H_TH, e pelo modelo de Temez, H_Temez. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e quadrática e coeficientes de correlação, R.
0
40
80
120
160
200
240
280
320
0 40 80 120 160 200 240 280 320
H_TH (mm)
ASmax=472.3mm
C=0.71
α=0.61
H_Temez (mm)
C=0.35
Hmax=457.2mm
Imax=608.9mm
α=0.64
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH e H_Temez
Segmento de recta representativo da equação de regressão linear simples entre H_TH e H_Temez
Curva representativa da equação de regressão quadrática entre H_TH e H_Temez
Regressão linear simples
H_TH=0.913 H_Temez + 1.114
R=0.951
Regressão quadrática
H_TH = - 0.002 H_Temez2 + 1.226 H_Temez - 2.368
R=0.962
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
82
A Figura 39 mostra que o coeficiente de correlação para qualquer uma das equações de
regressão, linear simples ou quadrática, é muito elevado. No entanto, observa-se claramente
que equação de regressão quadrática é a que melhor se adequa, especialmente para
escoamentos superiores a 200 mm, reforçando o que já se havia concluído no caso de
estudo 1: o modelo de Temez permite reproduzir escoamentos mais elevados do que o modelo
do balanço hídrico sequencial.
Por fim, elaborou-se a Figura 40 que contém a série mensal de escoamentos observados, os
escoamentos mensais simulados através do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite e através do modelo de Temez.
Figura 40 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: escoamentos observados e
simulados pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, entre 1963/64 e 1975/76.
A partir da Figura 40 conclui-se que não há grandes diferenças entre os resultados dos
modelos considerados e que, à excepção dos dois últimos anos hidrológicos, o ajustamento é
bastante bom.
As duas conclusões principais a retirar deste capítulo, são, assim:
i. o modelo de Temez fornece resultados próximos dos obtidos pelo modelo do balanço
hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite, para valores
de escoamento inferiores a 150 mm;
ii. a lei de ajustamento quadrática é a que melhor descreve a relação entre os escoamentos
simulados pelo modelo de Temez e pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite, conclusão retirada não só pelo melhor
coeficiente de correlação, como também pela observação da dispersão na Figura 39.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 132 144 1560
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oa
me
ntos
(m
m)
Escoamentos simulados pelo modelo Temez Escoamentos simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
83
5.4.5. FÓRMULA DE TURC
5.4.5.1. APLICAÇÃO DA FÓRMULA DE TURC
Como se referiu anteriormente, os registos de precipitação e de evapotranspiração utilizados
no primeiro e no segundo casos de estudo são os mesmos. Como a temperatura anual média é
a mesma, a aplicação da fórmula de Turc conduz ao poder evaporante da atmosfera
anteriormente indicado no Quadro 10. Como a precipitação anual média ponderada é superior,
obtém-se um escoamento anual médio também superior, conforme se sistematiza no Quadro
12.
Quadro 12 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E392: aplicação da fórmula de Turc entre
1963/64 e 1975/76
Período 1963/64 - 1975/76
Precipitação anual média P� �mm� 1279.1
Temperatura anual média t �°C� 21.4
Poder evaporante da atmosfera L 858.4 P�A L1A⁄ 2.22
Défice anual médio de escoamento D� �mm� 724.1
Escoamento anual médio H� �mm� 555.0
Coeficiente de escoamento 0.43
5.4.5.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS ANUAIS MÉDIOS OBTIDOS PELA
FÓRMULA DE TURC, BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NAS
EVAPOTRANSPIRAÇÕES DE THORNTHWAITE E DE PENMAN-MONTEITH E
MODELO DE TEMEZ
Os escoamentos anuais médios obtidos por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial
baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith e do
modelo de Temez, são respectivamente 301.6 mm, 271.7 mm e 315.8 mm, ou seja, o
escoamento anual médio obtido por aplicação da fórmula de Turc, 555.0 mm, é 1.84 vezes
superior ao primeiro, 2.04 vezes superior ao segundo e 1.76 vezes superior ao terceiro.
Relativamente ao escoamento anual médio observado, 304.0 mm, o valor obtido pela fórmula
de Turc é 1.83 vezes superior e o coeficiente de escoamento calculado, 0.43, é
aproximadamente da média dos coeficientes de escoamento calculados a partir dos registos de
precipitação e escoamento observados, que toma o valor de 0.20.
Assim, conclui-se que a fórmula de Turc sobrestima significativamente o escoamento anual
médio não se afigurando, portanto, adequada à estimação desse escoamento.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
84
5.5. CASO DE ESTUDO 3: BACIA HIDROGRÁFICA DA ESTAÇÃO
HIDROMÉTRICA E90 – LICUNGO
5.5.1. DADOS DE BASE
A estrutura deste Capítulo 5.5 em tudo análoga à adoptada nos Capítulos 5.3 e 5.4, pelo que
se adoptará um estilo mais resumido.
Os registos de escoamentos mensais para a bacia hidrográfica em E90 estão compreendidos
entre os anos hidrológicos de 1964/65 e 1974/75. No Anexo 11 apresenta-se a respectiva série
temporal, bem como as coordenadas geográfica e a altitude da estação hidrométrica.
Os registos de precipitações mensais foram recolhidos de três postos udométricos
considerados influentes: P164, P249 e P469. Nos Anexo 6, 7 e 8 apresentam-se as respectivas
séries temporais de precipitações mensais, bem como os coeficientes de ponderação de
aplicáveis aos diferentes postos, as coordenadas geográficas e as altitudes dos diferentes
postos.
Os dados utilizados para o cálculo da evapotranspiração potencial mensal de Thornthwaite e
de Penman-Monteith foram recolhidos da estação agroclimatológica da FAO, localizada em
Gurué e constam do Anexo 2. Os registos aí disponíveis referem-se a: temperaturas média,
máxima e mínima do ar, velocidade do vento, declive da curva de tensão de vapor na
atmosfera, radiação solar global e líquida, fluxo de calor do solo, constante psicrométrica,
tensão de saturação do vapor à temperatura T, tensão real do vapor à temperatura T e
humidade relativa do ar. Atendendo à proximidade desta estação relativamente à bacia
hidrográfica em E90, admite-se que tais registos sejam representativos da zona em estudo.
No Anexo 14 esquematiza-se a bacia hidrográfica em E90, os postos udométricos com
influência na mesma e as áreas de influência desses postos, avaliadas de acordo com o
método de Thiessen.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
85
5.5.2. BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE THORNTHWAITE
5.5.2.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
No Quadro 13 indicam-se as insolações astronómicas diárias, IAD, expressas em unidades de
12h de um mês com 30 dias para a latitude 15°30’ S, retiradas de QUINTELA (1996), as
temperaturas médias mensais, Tmed, recolhidas da estação agroclimatológica de Gurué e as
evapotranspirações potenciais calculadas pelo método de Thornthwaite, EVP TH.
Quadro 13 – Estação agroclimatológica de Gurué. Valores mensais da insolação astronómica
diária, da temperatura média mensal e da evapotranspiração potencial de Thornthwaite.
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
IAD 1.07 1.07 1.12 1.12 0.98 1.05 0.98 0.98 0.94 0.97 1.00 1.00
Tmed (oC) 23.5 24.1 24.0 24.1 24.3 22.8 22.0 20.0 18.0 17.6 19.0 21.8
EVP TH
(mm) 111.4 114.8 123.0 124.2 100.2 101.3 83.7 68.2 48.7 49.2 61.4 83.6
Resume-se o procedimento efectuado na concepção da estrutura do modelo, relativamente às
etapas de identificação dos parâmetros a incorporar no modelo do balanço hídrico e de
avaliação da qualidade/validade dos registos.
Ao contrário do que se verificou nos dois casos de estudo anteriores, em que o coeficiente de
escoamento assumia os valores médios de 0.22 e de 0.20 e o desvios-padrão, de 0.15, neste
terceiro caso de estudo o coeficiente de escoamento tem o valor médio de 0.54
(aproximadamente duas vezes e meia superior àqueles outros valores) e o desvio-padrão, de
0.07 (cerca de metade do valor referente aos dois casos de estudo precedentes).
Ao procurar-se analisar a razão do elevado coeficiente de escoamento, deparou-se um aspecto
pertinente, por comparação directa entre a precipitação média na bacia (obtida a partir dos
coeficientes de Thiessen) e o escoamento, em cada mês: durante a época seca de cada ano,
há vários meses em que o escoamento excede largamente a precipitação e há inclusivamente,
anos com cinco e seis meses consecutivos em que esta situação se verifica. Concluiu-se,
deste modo, que há um escoamento de base importante, contrariamente ao que se observou
nos dois casos de estudo antecedentes, em que durante a época seca o escoamento era
frequentemente nulo ou muito reduzido.
Na tentativa de atender ao anterior aspecto, foi analisada a hipótese de incluir no modelo do
balanço hídrico um quarto parâmetro, p, que atenderia ao escoamento de base, resultante da
contribuição das reservas subterrâneas. Em cada mês, esse parâmetro, p, foi modelado como
sendo uma percentagem do escoamento calculado, ou seja, admitiu-se a hipótese que numa
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
86
escala mensal o escoamento de base segue um padrão temporal semelhante ao do
escoamento calculado em cada mês, de acordo com:
�� = �1 + R��� [5.1]
Quanto à avaliação da qualidade/validade dos registos, concluiu-se que não se excluiria
nenhum dos anos disponíveis.
Para a fase de calibração dos parâmetros foram utilizados sete dos onze anos de registos
disponíveis, entre os anos hidrológicos de 1964/65 e de 1970/71. Para a fase de validação
foram utilizados os restantes quatro anos de registos, entre 1971/72 e 1974/75. Os resultados
obtidos, organizados de modo semelhante ao adoptado em figuras equivalentes, estão
representados na Figura 41.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.92 28.19 19.92 3.27 0.85 0.15 0.96
1964/65 a 1970/71
Período validação 0.79 35.81 24.68 10.85 0.56 0.44 0.87
1971/72 a 1974/75
Período global 0.89 31.18 21.65 6.03 0.78 0.22 0.94
1964/65 a 1974/75
Figura 41 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Thornthwaite. Calibração (1964/65 a 1970/71) e validação
(1971/72 a 1974/75). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
Anota-se que os valores calibrados foram independentes do valor inicial de AS0, testado para
valores até 39.2 mm, que corresponde ao valor calibrado de ASmax.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 1320
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
ValidaçãoCalibraçãoASmax = 39.2 mm
C = 0.99
alfa = 0.46
p = 0.05
Escoamentos simulados Escoamentos observados
ASmax=39.2mm C=0.99 α=0.46 p=0.05
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
87
Em relação às medidas de ajustamento e erro acima apresentadas, com ênfase para o período
global, realça-se que: a) há uma boa correlação entre escoamentos observados e
escoamentos simulados através do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite; b) os valores relativamente elevados de RMSE e
MAE reflectem desvios entre escoamentos simulados e escoamentos observados que são
visíveis na Figura 41; c) o BIAS indica que, em média, a tendência do modelo é subestimar os
escoamentos mensais; d) as medidas E2, ARV e IOA apontam para uma capacidade do
modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite para reproduzir a variância dos registos que é superior à verificada nos anteriores
casos de estudo.
Deste modo, prossegue-se este caso de estudo considerando o parâmetro adicional, p.
5.5.3. BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO
POTENCIAL DE PENMAN-MONTEITH
5.5.3.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
Mais uma vez, foi utilizada a equação [4.17] para determinar a evapotranspiração potencial
mensal de Penman-Monteith, EVP PM, com base nas temperaturas médias mensais e noutros
parâmetros médios mensais indicados no Anexo 2.
À semelhança do que se efectuou anteriormente, foram contrapostos os valores de
evapotranspiração potencial de Penman-Monteith calculados, EVP PM, com os retirados do
website da FAO, EVP PM registada, concluindo-se que as diferenças são desprezáveis a nível,
não só mensal, como também anual, como se pode observar no Quadro 14, conducente à
diferença anual média entre as evapotranspirações potenciais de apenas 4.5 mm.
Quadro 14 – Estação agroclimatológica de Gurué: evapotranspiração potencial mensal de
Penman-Monteith calculada, EVP PM, e registada, EVP PM registada.
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET TOTAL
EVP PM registada
(mm) 143.8 134.7 129.9 126.5 111.7 111.3 93.6 85.3 66.0 70.1 90.2 116.4 1279.4
EVP PM (mm) 140.5 133.0 131.2 126.1 108.2 108.2 90.4 88.5 66.3 71.6 96.6 123.3 1283.9
A aplicação do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith considerou os valores calculados, os quais, por uma questão de
simplificação, passarão a ser referenciados apenas por evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
88
A estrutura do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Penman-Monteith é análoga à apresentada no Capítulo 5.4.3.1, ou seja, trata-se de um
modelo com quatro parâmetros (capacidade limite de armazenamento de água no solo, ASmax,
coeficiente de redução do escoamento, C, coeficiente de repartição do escoamento pelo mês
em consideração e pelo mês seguinte, α, e percentagem do escoamento simulado, p, que
intervém no cálculo do escoamento de base). A fase de calibração decorreu entre 1964/65 e
1970/71, e a fase de validação entre 1971/72 e 1974/75. Na Figura 42 apresentam-se os
resultados obtidos, de forma semelhante às figuras equivalentes nos anteriores casos de
estudo.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.92 29.55 20.81 3.44 0.83 0.17 0.96
1964/65 a 1970/71
Período validação 0.79 35.51 25.06 11.78 0.58 0.42 0.88
1971/72 a 1974/75
Período global 0.89 31.85 22.35 6.47 0.77 0.23 0.94
1963/64 a 1975/76
Figura 42 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: balanço hídrico sequencial baseado
na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith. Calibração (1964/65 a 1970/71) e validação
(1971/72 a 1974/75). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
Novamente, os resultados obtidos foram independentes do valor do armazenamento de água
no solo no instante inicial, AS0, testado para valores até ao valor calibrado para o parâmetro
ASmax de 20.0 mm.
As medidas de ajustamento e erro obtidas são praticamente idênticas às que foram
determinadas aquando da aplicação do balanço hídrico sequencial baseado na
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 1320
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados
Calibração ValidaçãoASmax = 20.0 mm
C = 0.82
alfa = 0.50
p = 0.17
Escoamentos simulados Escoamentos observados
ASmax=20.0mm C=0.82α=0.50 p=0.17
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
89
evapotranspiração potencial de Thornthwaite (Figura 41). Em relação às diferenças que se
verificam entre uns e outros valores, com ênfase para o período global, o RMSE, MAE e BIAS
são ligeiramente superiores e o E2 e ARV são ligeiramente inferiores, o que permite concluir
que o modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite apresenta um melhor ajustamento aos registos observados relativamente ao
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Penman-Monteith.
5.5.3.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NAS EVAPOTRANSPIRAÇÕES
POTENCIAIS DE THORNTHWAITE E DE PENMAN-MONTEITH
Antes de proceder à comparação entre os escoamentos mensais obtidos por aplicação do
modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite e de Penman-Monteith, confrontam-se as respectivas evapotranspirações. A
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, EVP TH, foi obtida no Capítulo 5.5.2.1 e a
evapotranspiração potencial de Penman-Monteith, EVP PM, foi obtida no Capítulo 5.5.3.1.
O Quadro 15 contém os valores médios mensais das evapotranspirações potenciais
mencionadas e na Figura 43, para além das evapotranspirações inseriram-se as temperaturas
médias mensais.
Quadro 15 – Estação agroclimatológica de Gurué: evapotranspirações potenciais de Thornthwaite,
EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM.
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET TOTAL
EVP TH
(mm) 111.4 114.8 123.0 124.2 100.2 101.3 83.7 68.2 48.7 49.2 61.4 83.6 1069.8
EVP PM
(mm) 140.5 133.0 131.2 126.1 108.2 108.2 90.4 88.5 66.3 71.6 96.6 123.3 1283.9
A partir dos valores do Quadro 15, verifica-se que a evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith é sempre superior à de Thornthwaite (linha azul acima da linha verde na
Figura 43) resultando a diferença anual entre as duas em 214.1 mm. Realça-se que as maiores
diferenças ocorrem principalmente na época seca, entre os meses de Abril e Setembro,
quando as temperaturas médias (linha laranja na Figura 43) são mais baixas.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
90
Figura 43 – Estação agroclimatológica de Gurué: temperatura média mensal, temperatura média
mensal, evapotranspirações potenciais de Thornthwaite, EVP TH e de Penman-Monteith, EVP PM.
A simbologia e o conteúdo da Figura 44 são em tudo equivalentes aos anteriormente
explicitados a propósito da Figura 23.
Figura 44 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: evapotranspirações potenciais
mensais de Thornthwaite, EVP TH, e de Penman-Monteith, EVP PM. Equação de regressão linear
simples e coeficiente de correlação, R.
A Figura 44 evidencia dois aspectos relevantes: i) como se constatou anteriormente, a EVP TH
apresenta valores sempre inferiores aos da EVP PM (segmento de recta verde sempre abaixo
do segmento de recta vermelho) e a diferença entre valores é aproximadamente constante e
igual a 20 mm; ii) a comparação das duas evapotranspirações potenciais denota uma elevada
10.0
12.5
15.0
17.5
20.0
22.5
25.0
40
60
80
100
120
140
160
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Temperatura
(°C)
Evapotranspiração
(mm)
Meses do ano
EVP PM EVP TH Temperatura média mensal
0
30
60
90
120
150
0 30 60 90 120 150
EVP TH (mm)
EVP PM (mm)
Segmento de recta representativo da equação de regressão entre ETP PM e ETP TH
Segmento de recta representativo da igualdade entre ETP PM e ETP TH
EVP TH = 1.002 EVP PM - 17.997
R=0.961
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
91
correlação, o que sugere a possibilidade de, na indisponibilidade de registos, estimar a
EVP PM a partir da EVP TH.
Na Figura 45 comparam-se os escoamentos mensais obtidos por aplicação do modelo do
balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite,
H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Tais resultados têm subjacentes os parâmetros
calibrados e validados nos capítulos anteriores, nomeadamente no Capítulo 5.5.2.1, para o
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite e no
Capítulo 5.5.3.1, para o balanço hídrico baseado na de Penman-Monteith. A figura contém
ainda a restante simbologia e conteúdo já descrito a propósito das Figuras 24 e 35.
Figura 45 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: escoamentos mensais calculados pelo
modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite, H_TH, e de Penman-Monteith, H_PM. Parâmetros dos modelos. Equação de
regressão linear simples e coeficiente de correlação, R.
A partir da Figura 45 verifica-se que apesar da evapotranspiração potencial de Thornthwaite
ser sempre inferior à de Penman-Monteith, a conjugação com os diferentes parâmetros
calibrados para cada um dos modelos resulta que os escoamentos mensais de Thornthwaite
tendem a ser praticamente equivalentes aos obtidos com base evapotranspiração potencial de
Penman-Monteith. Repete-se então a conclusão que já tinha sido alcançada no
Capítulo 5.3.3.2: a equivalência entre escoamentos é explicada, em parte, por as maiores
diferenças entre os valores das evapotranspiração potenciais de Thornthwaite e de
0
50
100
150
200
250
300
350
0 50 100 150 200 250 300 350
H_TH (mm)
ASmax=39.2mm
C=0.99
α=0.46
p=0.05
H_PM (mm)
ASmax=20.0mm
C=0.82
α=0.50
p=0.17
Segmento de recta representativo da equação de regressão entre H_TH e H_PM
Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH e H_PM
H_TH = 0.998 H_PM + 0.585
R = 0.998
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
92
Penman-Monteith ocorrerem no semestre seco, de Abril a Setembro, período durante o qual já
não é a evapotranspiração que condiciona o excesso hídrico ou superavit e,
consequentemente, o escoamento superficial, mas a reduzida precipitação e sobretudo a
reduzida quantidade de água no solo. Deste modo, as evapotranspirações reais são
condicionadas pela insuficiência do recurso água. A Figura 46 contém, numa base mensal, a
precipitação média, a evapotranspiração potencial e real de Thornthwaite, EVP TH e EVR TH e
a evapotranspiração potencial e real de Penman-Monteith, EVP PM e EVR PM.
Figura 46 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: precipitação média na bacia,
evapotranspiração potencial e real de Thornthwaite (EVP TH e EVR TH) e evapotranspiração
potencial e real de Penman-Monteith (EVP PM e EVR PM).
As conclusões que é possível retirar da Figura 46, são exactamente as mesmas que já foram
enumeradas no Capítulo 5.3.3.2, relativamente à Figura 25, pelo que se omitirá tal repetição.
Na Figura 47 apresenta-se, mês a mês, os valores médios dos escoamentos observados e a
média e o desvio-padrão dos escoamentos simulados com base na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite e Penman-Monteith. Nesta figura, a evapotranspiração potencial de
Thornthwaite é abreviada por EVP TH e a evapotranspiração potencial de Penman-Monteith,
por EVP PM.
0
50
100
150
200
250
300
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Evapotranspiração
(mm)
Meses do ano
EVP TH
EVR TH
EVP PM
EVR PM
Precipitação - Média
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
93
Figura 47 – Escoamento mensal médio observado, média e desvio-padrão de escoamentos
mensais simulados com base na evapotranspiração de Thornthwaite e Penman-Monteith
Na Figura 47 é possível observar que o modelo do balanço hídrico, baseado em qualquer uma
das evapotranspirações, fornece resultados próximos entre si e próximos dos observados. No
entanto, nos meses de Outubro, Novembro, Março, Abril, Julho, Agosto e Setembro os
escoamentos simulados subestimam os escoamentos observados, tal como se demonstrou
anteriormente pela medida de erro BIAS que assumia um valor positivo no período global.
Como principais conclusões deste capítulo, destacam-se as seguintes:
i. O método de Thornthwaite fornece evapotranspirações potenciais inferiores às que
resultam da aplicação do método de Penman-Monteith, mas os valores obtidos
apresentam uma elevada correlação (R=0.961);
ii. As diferenças entre escoamentos mensais simulados através do modelo do balanço
hídrico sequencial, baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de
Penman-Monteith, são praticamente desprezáveis, o coeficiente de correlação é muito
elevado (R=0.998);
iii. Em termos médios mensais, o balanço hídrico sequencial aplicado com as
evapotranspirações potenciais de Thornthwaite ou de Penman-Monteith resulta em
escoamentos que subestimam, em muitos meses, os escoamentos observados.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Escoamento
(mm)
Meses do ano
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP TH - Média
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP TH - Desvio-padrão
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP PM - Média
Escoamento mensal
calculado com base em
EVP PM - Desvio-padrão
Escoamento mensal
observado - Média
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
94
5.5.4. MODELO DE TEMEZ
5.5.4.1. ESTRUTURA DO MODELO, CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
Tal como foi efectuado no caso do modelo do balanço hídrico sequencial, por uma questão de
uniformização de resultados e porque de facto se registaram melhorias significativas nos
mesmos, foi acrescentado o parâmetro p (percentagem do escoamento simulado que intervém
no cálculo do escoamento de base) ao modelo, com o mesmo formalismo que já foi descrito no
Capítulo 5.5.2.1. No Quadro 9 estão representados os quatro parâmetros do modelo de Temez,
o espaço de soluções definido pelo limite inferior e pelo limite superior, e o incremento em cada
passo de cálculo da calibração.
A fase de calibração utilizou os registos disponíveis compreendidos entre os anos hidrológicos
de 1964/65 e de 1970/71. A fase de validação decorreu entre os anos hidrológicos de 1971/72
e de 1974/75. A Figura 48 contém a simbologia e conteúdo já apresentados e descritos a
propósito de figuras equivalentes nos capítulos referentes ao modelo de Temez dos dois casos
de estudo anteriores.
Medidas de ajustamento e erro
R RMSE (mm) MAE (mm) BIAS (mm) E2 (-) ARV (-) IOA (-)
Período calibração 0.91 32.02 21.23 7.24 0.83 0.17 0.95
1964/65 a 1970/71
Período validação 0.75 39.00 25.33 14.76 0.53 0.47 0.84
1971/72 a 1974/75
Período global 0.87 34.73 22.72 9.97 0.76 0.24 0.93
1963/64 a 1975/76
Figura 48 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: modelo de Temez. Calibração (1964/65
a 1970/71) e validação (1971/72 a 1974/75). Valores dos parâmetros. Medidas de ajustamento e erro.
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 1320
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos GeradosEscoamentos Observados Calibração Validação
C = 0.92
Hmax = 145.4 mm
Imax = 850.3 mm
alfa = 0.44
p = 0.17
Escoamentos simulados Escoamentos observados
C=0.92 Hmax=145.4mm Imax=850.3mm α=0.44 p=0.17
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
95
Os valores calibrados foram independentes dos valores iniciais de escoamento subterrâneo e
capacidade máxima de armazenamento de água no solo, testada até o valor calibrado de Hmax
de 145.4 mm.
Em comparação com as medidas de ajustamento e erro resultantes da aplicação do balanço
hídrico baseado na evapotranspiração potencial Thornthwaite (que se concluiu ser melhor
ajustado aos registos observados em relação ao balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Penman-Monteith), verifica-se que os valores acima
apresentados apontam todos para um pior ajustamento. Embora o IOA, ARV e E2 sejam
bastante próximos, o RMSE, MAE e BIAS são significativamente mais elevados.
De onde se conclui que modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração
potencial de Thornthwaite é o modelo que melhor se ajusta aos registos disponíveis.
5.5.4.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS MENSAIS RESULTANTES DA
APLICAÇÃO DO MODELO DE TEMEZ E DO BALANÇO HÍDRICO BASEADO NA
EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL DE THORNTHWAITE
Na Figura 49 comparam-se os escoamentos simulados através do modelo de Temez,
H_Temez e do modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Thornthwaite, H_TH. A simbologia e o conteúdo da figura são em tudo equivalentes aos
anteriormente explicitados a propósito das Figuras 28 e 39.
Verifica-se na Figura 49 que o coeficiente de correlação para qualquer uma das equações de
regressão, linear simples ou quadrática, é muito elevado. Embora de um modo menos evidente
do que nos casos de estudo anteriores, a regressão quadrática aparenta ser a mais adequada
para descrever a relação entre H_TH e H_Temez.
Por fim, esquematizam-se, na Figura 50, as séries mensais de escoamentos observados e de
escoamentos simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite e no modelo de Temez, concluindo que não há
grandes diferenças entre tais escoamentos.
Retira-se uma conclusão principal deste capítulo: o modelo de Temez fornece resultados
próximos dos obtidos pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado na
evapotranspiração potencial de Thornthwaite, como se verifica pelos elevados coeficientes de
correlação na Figura 49.
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
96
Figura 49 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: escoamentos mensais calculados pelo
modelo do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite,
H_TH, e pelo modelo de Temez, H_Temez. Parâmetros dos modelos. Equação de regressão linear
simples e quadrática e coeficientes de correlação, R.
Figura 50 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: escoamentos observados e simulados
pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Thornthwaite, entre 1964/65 e 1974/75.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 50 100 150 200 250 300 350 400
H_TH (mm)
ASmax=39.2mm
C=0.99
α=0.46
p=0.05
H_Temez (mm)
C=0.92
Hmax=145.4mm
Imax=850.3mm
α=0.44
p=0.17Segmento de recta representativo da igualdade entre H_TH e H_Temez
Segmento de recta representativo da equação de regressão linear simples entre H_TH e H_Temez
Curva representativa da equação de regressão quadrática entre H_TH e H_Temez
Regressão linear simples
H_TH = 1.05 H_Temez + 6.437
R = 0.979
Regressão quadrática
H_TH = - 0.002 H_Temez2 + 1.416 H_Temez - 3.966
R = 0.991
1 12 24 36 48 60 72 84 96 108 120 1320
50
100
150
200
250
300
350
400
Número de ordem do mês
Esc
oam
ento
s (m
m)
Escoamentos simulados pelo modelo Temez Escoamentos simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial Escoamentos observados
Capítulo 5: Aplicação a três casos de estudo
97
5.5.5. FÓRMULA DE TURC
5.5.5.1. APLICAÇÃO DA FÓRMULA DE TURC
Os resultados da aplicação da fórmula de Turc entre os anos hidrológicos de 1964/65 e de
1974/75 constam no Quadro 16. Neste quadro identifica-se a precipitação anual média, o poder
evaporante da atmosfera, que é determinado a partir da temperatura anual média, o parâmetro P�A L1A⁄ , o défice anual médio de escoamento, o escoamento anual médio e o coeficiente de
escoamento.
Quadro 16 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: aplicação da fórmula de Turc entre
1964/65 e 1974/75
Período 1964/65 - 1974/75
Precipitação anual média P� �mm� 1590.3
Temperatura anual média t �°C� 21.8
Poder evaporante da atmosfera L 867.9 P�A L1A⁄ 3.36
Défice anual médio de escoamento D� �mm� 770.7
Escoamento anual médio H� �mm� 819.6
Coeficiente de escoamento 0.52
5.5.5.2. COMPARAÇÃO ENTRE ESCOAMENTOS ANUAIS MÉDIOS OBTIDOS PELA
FÓRMULA DE TURC, BALANÇO HÍDRICO SEQUENCIAL BASEADO NAS
EVAPOTRANSPIRAÇÕES DE THORNTHWAITE E DE PENMAN-MONTEITH E
MODELO DE TEMEZ
Os escoamentos anuais médios obtidos por aplicação do modelo do balanço hídrico sequencial
baseado nas evapotranspirações potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith e do
modelo de Temez, são respectivamente 794.7 mm, 789.4 mm e 747.4 mm, ou seja, o
escoamento anual médio obtido por aplicação da fórmula de Turc, 819.6 mm, é 1.03 vezes
superior ao primeiro, 1.04 vezes superior ao segundo e 1.10 vezes superior ao terceiro.
Relativamente ao escoamento anual médio observado, 867.1 mm, o valor obtido pela fórmula
de Turc é ligeiramente inferior e está mais próximo do valor observado do que os valores
obtidos pelos dois modelos fisicamente baseados.
Ao contrário do que sucede nos dois casos de estudo antecedentes, em que o coeficiente de
escoamento obtido por aplicação da fórmula de Turc é significativamente superior ao
coeficiente de escoamento médio dos registos observados, o coeficiente de escoamento
indicado no Quadro 16, que toma o valor de 0.52, é muito próximo do valor médio dos
coeficientes de escoamento anuais, calculados a partir dos registos observados, que toma o
valor de 0.54. Conclui-se que a aplicação da fórmula de Turc resulta num valor de escoamento
médio anual próximo do valor real e por isso trata-se de uma boa estimativa desta variável.
98
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
99
6. SÍNTESE DE RESULTADOS E CONCLUSÕES
O presente capítulo contém uma síntese dos resultados obtidos no Capítulo 5, para o que se
elaboram os Quadros 13, 14 e 15, incluídos nas páginas seguintes e respeitantes às três
bacias hidrográficas consideradas: Mavuzi (E83), Mavuzi (E392) e Licungo (E90),
respectivamente. São referidos, numa primeira parte, alguns aspectos comuns às três bacias
hidrográficas e depois são focados aspectos particulares de cada um dos três casos de estudo.
Por fim, tecem-se algumas conclusões direccionadas para critérios de projecto.
Cada um dos três quadros referidos contém, para o caso de estudo a que respeita, as médias,
os desvios-padrão e os coeficientes de variação dos escoamentos observados e simulados
pelos modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial, bem como os valores dos
correspondentes parâmetros e das medidas de ajustamento dos modelos.
A conclusão geral que é possível tirar tendo por base as medidas de ajustamento dos modelos
e a análise visual dos gráficos do Capítulo 5 contendo a comparação entre escoamentos
observados e simulados, é que, quer o modelo de Temez, quer o modelo do balanço hídrico
sequencial permitem simular adequadamente a transformação da precipitação em escoamento,
à escala mensal, nas três bacias analisadas.
Relativamente aos dois primeiros casos de estudo, referentes às bacias hidrográficas nas
estações E83 - Quadro 17 - e E392 - Quadro 18, realça-se a diferença com algum significado
entre valores médios dos escoamentos observados nas sub-séries utilizadas na fase de
calibração e na fase de validação.
No primeiro caso de estudo, o escoamento mensal médio observado na fase de calibração é
de cerca de 2/3 do escoamento na fase de validação. No segundo caso, pelo facto de se ter
utilizado os últimos anos, com elevados escoamentos e coeficientes de escoamento, para
calibrar, e os primeiros anos para validar, a situação é inversa, ou seja, o escoamento mensal
médio na fase de validação é aproximadamente 1/3 do valor correspondente na fase de
calibração. Esta significativa variação das médias resulta essencialmente da dimensão
relativamente pequena das séries de escoamentos disponíveis. A variabilidade dos
escoamentos mensais é traduzida por valores de desvios-padrão relativamente elevados e,
especialmente, próximos das correspondentes médias, e, consequentemente, valores muito
elevados do coeficiente de variação (nos períodos globais, superiores a 2).
No terceiro caso de estudo, relativo à bacia hidrográfica na estação E90 - Quadro 19, os
coeficientes de variação são mais baixos. Embora os valores dos desvios-padrão, em qualquer
período analisado (calibração, validação ou global), sejam da mesma ordem de grandeza dos
que se verificam nos casos de estudo antecedentes, os valores médios do escoamento
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
100
observado são aproximadamente três vezes superiores, se considerarmos o período global em
estudo. Por esta razão, os coeficientes de variação resultam inferiores a 1.
Quadro 17 – Caso de estudo 1: estação hidrométrica E83 - Mavuzi em Confluência. Síntese de
resultados. Modelo de Temez e balanço hídrico sequencial. Parâmetros dos modelos. Média,
desvio-padrão e coeficiente de variação de escoamentos observados e simulados e medidas de
ajustamento dos modelos.
E83 - Mavuzi em Confluência Características estatísticas
Medidas de ajustamento dos
modelos
Período (anos)
Média (mm)
Desvio-padrão (mm)
Coef. de variação
(-)
R (-)
RMSE (mm)
MAE (mm)
Escoamentos mensais observados
1957/58 a 1968/69
(calibração) 21.5 52.4 2.44
1969/70 a 1975/76
(validação) 30.7 66.0 2.15
1957/58 a 1975/76 (global)
24.7 57.6 2.33
Escoamentos mensais gerados
Balanço hídrico sequencial com
base na evapotranspiração
potencial Thornthwaite
C=0.70; ASmax=89.5 mm;
α=0.65.
1957/58 a 1968/69
(calibração) 21.5 40.5 1.88 0.77 33.4 12.1
1969/70 a 1975/76
(validação) 33.4 56.2 1.68 0.89 29.8 15.1
1957/58 a 1975/76 (global)
25.7 46.9 1.82 0.82 32.2 13.2
Balanço hídrico sequencial com
base na evapotranspiração potencial Penman-
Monteith C=0.75;
ASmax=86.3 mm; α=0.67.
1957/58 a 1968/69
(calibração) 20.6 41.1 2.00 0.78 32.2 11.5
1969/70 a 1975/76
(validação) 33.7 59.5 1.77 0.88 30.7 15.0
1957/58 a 1975/76 (global)
25.2 48.6 1.93 0.83 31.7 12.7
Modelo de Temez C=0.25;
Hmax=349.5 mm; Imax=675.1 mm;
α=1.0.
1957/58 a 1968/69
(calibração) 21.7 41.5 1.91 0.76 33.7 12.2
1969/70 a 1975/76
(validação) 37.8 65.1 1.72 0.91 28.8 15.8
1957/58 a 1975/76 (global)
27.4 51.7 1.88 0.83 32.1 13.5
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
101
Quadro 18 – Caso de estudo 2: estação hidrométrica E392 - Mavuzi em estrada de Mavonde.
Síntese de resultados. Modelo de Temez e balanço hídrico sequencial. Parâmetros dos modelos.
Média, desvio-padrão e coeficiente de variação de escoamentos observados e simulados e
medidas de ajustamento dos modelos.
E392 – Mavuzi em estrada de Mavonde
Características estatísticas Medidas de
ajustamento dos modelos
Período (anos)
Média (mm)
Desvio-padrão (mm)
Coef. de variação
(-)
R (-)
RMSE (mm)
MAE (mm)
Escoamentos mensais observados
1967/68 a 1975/76
(calibração) 32.3 59.5 1.84
1963/64 a 1966/67
(validação) 9.5 16.7 1.75
1963/64 a 1975/76 (global)
25.3 51.4 2.03
Escoamentos mensais gerados
Balanço hídrico sequencial com
base na evapotranspiração
potencial Thornthwaite
C=0.71; ASmax=472.3 mm;
α=0.61.
1967/68 a 1975/76
(calibração) 30.2 53.1 1.76 0.87 28.8 12.3
1963/64 a 1966/67
(validação) 13.8 25.6 1.86 0.90 36.8 6.3
1963/64 a 1975/76 (global)
25.1 46.9 1.87 0.87 25.1 10.5
Balanço hídrico sequencial com
base na evapotranspiração potencial Penman-
Monteith C=0.83;
ASmax=392.6 mm; α=0.68.
1967/68 a 1975/76
(calibração) 27.8 55.2 1.99 0.89 27.5 12.8
1963/64 a 1966/67
(validação) 11.1 26.0 2.34 0.91 12.9 5.8
1963/64 a 1975/76 (global)
22.6 48.7 2.15 0.89 24.0 10.7
Modelo de Temez C=0.35;
Hmax=457.2 mm; Imax=608.9 mm;
α=0.64.
1967/68 a 1975/76
(calibração) 32.4 56.3 1.74 0.85 31.4 13.8
1963/64 a 1966/67
(validação) 12.7 19.9 1.57 0.86 10.6 5.3
1963/64 a 1975/76 (global)
26.3 48.9 1.86 0.86 26.8 11.2
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
102
Quadro 19 – Caso de estudo 3: estação hidrométrica E90 – Licungo. Síntese de resultados. Modelo
de Temez e balanço hídrico sequencial. Parâmetros dos modelos. Média, desvio-padrão e
coeficiente de variação de escoamentos observados e simulados e medidas de ajustamento dos
modelos.
E90 - Licungo Características estatísticas
Medidas de ajustamento dos
modelos
Período (anos)
Média (mm)
Desvio-padrão (mm)
Coef. de variação
(-)
R (-)
RMSE (mm)
MAE (mm)
Escoamentos mensais observados
1964/65 a 1970/71
(calibração) 75.8 73.0 0.96
1971/72 a 1974/75
(validação) 66.0 54.3 0.82
1964/65 a 1974/75 (global)
72.3 66.8 0.92
Escoamentos mensais gerados
Balanço hídrico sequencial com
base na evapotranspiração
potencial Thornthwaite
C=0.99; ASmax=39.2 mm;
α=0.46; p=0.05.
1964/65 a 1970/71
(calibração) 72.6 70.4 0.97 0.92 28.2 19.9
1971/72 a 1974/75
(validação) 55.1 50.8 0.92 0.79 35.8 24.7
1964/65 a 1974/75 (global)
66.2 64.3 0.97 0.89 31.2 21.7
Balanço hídrico sequencial com
base na evapotranspiração
potencial Penman-Monteith
C=0.82; ASmax=20.0 mm;
α=0.50; p=0.17.
1964/65 a 1970/71
(calibração) 72.4 70.7 0.98 0.92 29.5 20.8
1971/72 a 1974/75
(validação) 54.2 50.1 0.92 0.79 35.5 25.1
1964/65 a 1974/75 (global)
65.8 64.3 0.98 0.89 31.8 22.4
Modelo de Temez C=0.92;
Hmax=145.4 mm; Imax=850.3 mm;
α=0.44; p=0.17.
1964/65 a 1970/71
(calibração) 68.6 72.1 1.05 0.91 32.0 21.2
1971/72 a 1974/75
(validação) 51.2 47.8 0.93 0.75 39.0 25.3
1964/65 a 1974/75 (global)
62.3 64.7 1.04 0.87 34.7 22.7
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
103
Após a análise dos três casos de estudo, conclui-se que as diferenças entre escoamentos
simulados pelo modelo do balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações
potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith são menores do que à partida se esperaria,
face às diferenças verificadas entre aquelas evapotranspirações: em termos anuais de
330.7 mm, para os dois primeiros casos de estudo, e de 214.1 mm para o terceiro caso de
estudo. Julga-se que a anterior circunstância é justificada pelo facto de:
i. os parâmetros do modelo do balanço hídrico sequencial calibrados com uma e outra
evapotranspiração serem diferentes;
ii. as maiores diferenças entre valores mensais daquelas duas evapotranspirações
ocorrerem no semestre seco, período durante o qual já não é a evapotranspiração que
condiciona o superavit, mas os reduzidos ou inexistentes valores da precipitação e a água
no solo.
Como consequência, as evapotranspirações reais são muito inferiores às evapotranspirações
potenciais no semestre seco, são próximas no semestre húmido e as diferenças entre os
escoamentos simulados pelo balanço hídrico sequencial baseado evapotranspirações
potenciais de Thornthwaite e de Penman-Monteith são significativamente atenuadas.
A análise do ajustamento entre séries de escoamentos mensais observados e estimados pelos
modelos de Temez e do balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial
de Thornthwaite e de Penman-Monteith, para cada um dos três casos de estudo, indica que o
modelo com melhor ajustamento é o balanço hídrico sequencial baseado, nos dois primeiros
casos, na evapotranspiração potencial Penman-Monteith e, no terceiro caso, na
evapotranspiração potencial Thornthwaite. No entanto, realça-se um aspecto relevante, que
advém, em parte, de terem sido acrescentados parâmetros ao modelo do balanço hídrico,
passando este a descrever em certa medida o processo de infiltração (parâmetro C) e
repartição do escoamento pelo mês em consideração e pelo mês seguinte (parâmetro α): em
qualquer um dos três casos de estudo, os resultados obtidos pelo balanço hídrico são muito
próximos a nível dos valores, não só do coeficiente de correlação, mas também das medidas
de erro.
Mencionam-se os seguintes três aspectos relativos aos parâmetros calibrados dos modelos de
Temez e do balanço hídrico sequencial: i) apesar de tais parâmetros estarem associados a
conceitos físicos, os valores obtidos por calibração apontam para o carácter essencialmente
matemático dos mesmos; ii) no caso das bacias hidrográficas nas estações hidrométricas E83
e E392, os valores calibrados para os parâmetros são bastante diferentes, não obstante a
localização próxima daquelas estações, sendo que, inclusivamente, a bacia hidrográfica da
segunda é uma sub-bacia da primeira; iii) os resultados da aplicação dos modelos à bacia
E392 considerando os parâmetros calibrados da bacia E83 foram significativamente piores do
que os obtidos através da modelação do próprio caso de estudo.
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
104
Os anteriores três aspectos são relevantes na medida em que levantam dúvidas sobre a
possibilidade de regionalização de parâmetros, ou seja, de utilização de parâmetros obtidos por
calibração numa dada bacia em outras bacias não monitorizadas, mesmo que vizinhas ou
constituindo sub-bacias de uma bacia hidrográfica já estudada. No entanto, é necessário
verificar esta hipótese analisando resultados dos modelos em outras bacias hidrográficas para
que se consiga retirar uma conclusão mais robusta e fundamentada.
Na medida em que os dois primeiros casos de estudo possuíam registos adequados para o
efeito, foram aí simulados e comparados escoamentos mensais fornecidos pelo modelo do
balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de Thornthwaite calculada,
a partir, por um lado, da série mensal de temperaturas mensais e, por outro lado, de
temperaturas médias mensais. Não obstante se terem assim obtido escoamentos referentes a
um mesmo caso de estudo praticamente coincidentes, para a bacia hidrográfica da estação
hidrométrica E83 (caso de estudo 1) verificou-se que os escoamentos simulados com base em
temperaturas médias mensais se ajustavam ligeiramente melhor, enquanto que na bacia da
estação hidrométrica E392 (caso de estudo 2), os escoamentos simulados a partir da série
mensal de temperaturas mensais revelavam melhor ajuste. Destaca-se, contudo, que em
ambas as situações as diferenças são de tal modo pequenas, que se julga válido concluir que a
utilização de temperaturas médias mensais no cálculo da evapotranspiração de Thornthwaite é
adequada.
Em suma, conclui-se que os modelos fisicamente baseados do balanço hídrico sequencial e de
Temez são adequados para simular escoamentos à escala mensal em bacias hidrográficas
Moçambicanas, bastando, para tal, dispor de registos de escoamento, precipitação e
temperaturas médias mensais. O facto de as amostras de precipitação apresentarem
numerosas falhas e dimensão insuficiente e, por vezes, temporalmente não compatível com os
dados de escoamento, foi e é um entrave a estudos do tipo do desenvolvido. No entanto, ficou
demonstrado que, mesmo dispondo de amostras relativamente pequenas, é possível modelar
os processos de transformação da precipitação em escoamento, cabendo ao utilizador a
decisão de, em cada caso, procurar adaptar o modelo, técnica ou metodologia, de modo a
melhorar os resultados a obter, ou seja, de modo a melhorar o ajustamento do output dos
modelos aos valores observados, embora à custa de uma perda de capacidade de
generalização.
Salienta-se ainda, a respeito do desempenho dos modelos utilizados, os bons resultados
globais mesmo considerando valores médios da evapotranspiração potencial, ou seja,
calculados a partir de temperaturas médias mensais.
Finalmente, como critério de projecto relativamente ao modelo de transformação da
precipitação em escoamento (à escala mensal), sugere-se que a escolha recaia sobre o
modelo mais simples, que seja economicamente mais vantajoso e que sirva o propósito
desejado (McCUEN & SNYDER, 1986). Embora não se tendo avaliado a componente
Capítulo 6: Síntese de resultados e conclusões
105
económica, julga-se válido recomendar o modelo do balanço hídrico sequencial, que superou o
modelo de Temez, tanto nos resultados obtidos, como também por apresentar uma maior
simplicidade do formalismo matemático e um menor número de parâmetros (não obstante as
alterações efectuadas no modelo do balanço hídrico no sentido de introduzir novos
parâmetros).
Entre o balanço hídrico sequencial baseado nas evapotranspirações potenciais de
Thornthwaite ou de Penman-Monteith, os resultados obtidos foram sempre muito próximos e o
estudo realizado não permite concluir qual dos dois é mais adequado. No entanto, o que se
pode concluir é que o balanço hídrico sequencial baseado na evapotranspiração potencial de
Thornthwaite fornece escoamentos ligeiramente inferiores aos escoamentos resultantes da
utilização da evapotranspiração potencial de Penman-Monteith, pelo menos para valores
superiores a 100 mm, aproximadamente. Ou seja, os resultados estão ligeiramente do lado da
segurança, o que de algum modo favorece também a sua aplicação.
Em relação à escolha do método a aplicar para determinar a evapotranspiração potencial,
embora se reconheça que, teoricamente, a evapotranspiração potencial de Penman-Monteith
seja capaz de descrever melhor o processo físico da evapotranspiração, os resultados não
foram também conclusivos. Face a esta situação, o tipo e a quantidade de informação
disponíveis ditará qual o método de cálculo da evapotranspiração potencial a ser empregue no
modelo do balanço hídrico sequencial.
Por fim, não se pode deixar de reconhecer que a modelação do escoamento em bacias
hidrográficas de Moçambique carece ainda de muita investigação para a qual será fundamental
dispor de informação de base. E embora as tecnologias recentes apontem no sentido da
possibilidade de utilizar dados de satélite, por exemplo, da precipitação (MATOS et al., 2010)
ou de temperatura, é inquestionável que haverá sempre de dispor de dados de escoamento
como única forma de validar os modelos.
106
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(*) Referência não consultada directamente
Anexos
111
ANEXOS
Anexo 1 – Estação agroclimatológica da FAO em Chimoio ..................................................... 112
Anexo 2 – Estação agroclimatológica da FAO em Gurué ........................................................ 114
Anexo 3 – P375: Posto udométrico de Púnguè EN 102 ........................................................... 115
Anexo 4 – P372: Posto udométrico de Mavonde ...................................................................... 116
Anexo 5 – P93: Posto udométrico da Vila de Manica ............................................................... 117
Anexo 6 – P164: Posto udométrico de Casal de Sto António Fábrica ....................................... 118
Anexo 7 – P249: Posto udométrico de Namuli I ....................................................................... 119
Anexo 8 – P469: Posto udométrico de Chingoma .................................................................... 120
Anexo 9 – E83: Estação hidrométrica de Mavuzi em Confluência ........................................... 121
Anexo 10 – E392: Estação hidrométrica de Mavuzi na estrada de Mavonde .......................... 122
Anexo 11 – E90: Estação hidrométrica de Licungo em Gurué ................................................. 123
Anexo 12 – Caso de estudo 1: estação hidrométrica E83. Bacia hidrográfica, postos
udométricos e respectivas áreas de influência de Thiessen. ................................................... 124
Anexo 13 – Caso de estudo 2: estação hidrométrica E392. Bacia hidrográfica, postos
udométricos e respectivas áreas de influência de Thiessen. ................................................... 125
Anexo 14 – Caso de estudo 3: estação hidrométrica E90. Bacia hidrográfica, postos
udométricos e respectivas áreas de influência de Thiessen. ................................................... 126
Anexo 15 – Bacias hidrográficas das estações hidrométricas E83 e E392: Mapa da geologia127
Anexo 16 – Bacias hidrográficas das estações hidrométricas E83 e E392: Mapa de ocupação
do solo ....................................................................................................................................... 128
Anexo 17 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: Mapa da geologia .................... 129
Anexo 18 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: Mapa de ocupação do solo ...... 130
Anexos
112
Anexo 1 – Estação agroclimatológica da FAO em Chimoio
LATITUDE: 19.12° S LONGITUDE: 33.47° E ALTITUDE: 703 m
Temperatura média mensal (ºC)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
1951/52 23.6 22.3 22.6 23.0 22.8 22.6 21.2 18.3 17.2 17.3 19.5 21.7
1952/53 23.5 22.2 23.1 23.3 23.3 21.8 21.8 19.5 16.8 16.0 18.7 18.5
1953/54 22.6 23.3 23.1 23.6 23.7 22.2 21.2 20.1 16.2 17.5 18.4 21.5
1954/55 25.0 23.5 22.9 23.0 23.2 21.4 20.5 18.8 17.0 17.6 18.5 19.9
1955/56 22.8 23.4 23.9 22.0 23.5 22.8 20.6 20.1 18.0 16.8 19.9 19.9
1956/57 22.5 22.0 23.0 23.4 24.1 22.6 22.2 19.2 17.6 18.6 19.2 22.6
1957/58 24.1 25.9 22.9 23.4 23.2 22.1 22.2 19.8 16.8 15.6 17.0 20.4
1958/59 21.2 25.0 24.0 22.9 22.6 22.0 21.4 21.2 17.7 17.4 18.2 19.6
1959/60 23.6 22.6 23.4 22.5 22.6 20.7 20.3 18.6 17.2 15.8 18.6 19.9
1960/61 22.1 22.4 23.6 23.6 24.1 24.2 23.5 22.0 19.1 18.0 18.1 21.7
1961/62 24.2 22.9 23.5 23.6 24.2 23.0 22.3 18.6 20.1 18.1 20.2 22.7
1962/63 25.3 24.8 23.0 23.5 22.6 22.4 21.3 18.8 17.6 18.5 20.1 23.0
1963/64 24.0 24.3 24.2 23.6 23.9 24.3 22.1 19.4 18.3 16.7 18.6 21.8
1964/65 24.6 24.9 22.8 23.4 24.6 23.0 21.4 19.3 17.2 17.9 20.5 21.8
1965/66 22.4 23.5 24.7 25.1 23.9 22.8 21.8 20.6 17.9 18.1 20.2 22.4
1966/67 22.8 25.5 25.8 25.4 24.2 23.4 23.3 20.9 19.9 17.8 18.6 20.8
1967/68 24.3 24.5 24.3 25.8 23.4 23.1 21.5 20.3 17.1 18.8 20.7 22.0
1968/69 24.3 21.8 24.8 24.6 25.6 23.4 22.5 19.5 18.9 18.3 19.3 21.5
1969/70 24.3 25.5 22.8 24.6 23.7 22.8 21.0 21.0 18.4 18.9 21.0 24.0
Anexos
113
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Temperatura média diária do ar (ºC)
Tmed 22.8 23.4 23.6 23.8 24.0 23.0 21.8 19.5 17.6 17.4 18.9 21.2
Temperatura média máxima diária do ar (ºC)
Tmax 30.3 28.8 29.0 29.1 29.1 28.2 27.5 25.6 23.7 23.4 25.4 28.0
Temperatura média mínima diária do ar (ºC)
Tmin 16.3 17.6 18.2 18.5 18.8 17.8 16.1 13.4 11.6 11.3 12.5 14.3
Tensão de saturação do vapor à temperatura T (kPa)
es 2.78 2.88 2.91 2.95 2.98 2.81 2.61 2.27 2.01 1.99 2.19 2.52
Tensão real do vapor à temperatura T (kPa)
ea 1.86 2.04 2.13 2.21 2.26 2.16 1.96 1.66 1.45 1.41 1.49 1.66
Declive da curva de tensão de vapor na atmosfera (kPa/ºC)
∆ 0.17 0.17 0.17 0.18 0.18 0.17 0.16 0.14 0.13 0.13 0.14 0.15
Velocidade do vento a 2 m do solo (m/s)
U2 2.00 2.00 1.70 2.00 1.90 1.90 1.70 1.70 1.90 1.90 2.10 2.10
Fluxo de calor do solo (MJ/m2/ dia)
G 0.22 0.08 0.03 0.03 0.03 -0.14 -0.17 -0.32 -0.27 -0.03 0.21 0.32
Constante psicrométrica (kPa/ºC)
γ 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06
Radiação solar global (cal/cm2/ dia)
Rs 20.8 20.8 19.9 21.0 20.1 18.8 17.9 16.0 13.9 14.4 16.9 18.7
Radiação solar líquida (MJ/m2/ dia)
Rn 13.0 13.2 12.6 13.5 12.8 11.8 11.0 9.3 7.5 7.9 9.9 11.3
Humidade relativa do ar (%)
HR 67.0 71.0 73.0 75.0 76.0 77.0 75.0 73.0 72.0 71.0 68.0 66.0
Anexos
114
Anexo 2 – Estação agroclimatológica da FAO em Gurué
LATITUDE: 15.47° S LONGITUDE: 36.98° E ALTITUDE: 723 m
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Temperatura média diária do ar (ºC)
Tmed 23.5 24.1 24.0 24.1 24.3 22.8 22.0 20.0 18.0 17.6 19.0 21.8
Temperatura média máxima diária do ar (ºC)
Tmax 32.5 31.8 30.5 29.9 29.7 28.4 27.2 25.5 23.4 23.0 25.0 29.2
Temperatura média mínima diária do ar (ºC)
Tmin 16.3 17.0 17.5 18.3 18.2 17.6 16.8 14.6 12.5 12.3 13.0 14.4
Tensão de saturação do vapor à temperatura T (kPa)
es 2.90 3.00 2.98 3.00 3.04 2.78 2.64 2.34 2.06 2.01 2.20 2.61
Tensão real do vapor à temperatura T (kPa)
ea 1.71 2.01 2.09 2.25 2.34 2.16 2.09 1.82 1.63 1.55 1.60 1.67
Declive da curva de tensão de vapor na atmosfera (kPa/ºC)
∆ 0.17 0.18 0.18 0.18 0.18 0.17 0.16 0.14 0.13 0.13 0.14 0.16
Velocidade do vento a 2 m do solo (m/s)
U2 1.10 1.10 1.00 1.10 1.10 1.00 0.90 0.90 0.80 0.90 1.00 1.20
Fluxo de calor do solo (MJ/m2/ dia)
G 0.24 0.08 -0.01 0.01 0.03 -0.21 -0.11 -0.28 -0.28 -0.06 0.20 0.39
Constante psicrométrica (kPa/ºC)
γ 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06
Radiação solar global (MJ/m2/ dia)
Rs 21.4 21.0 20.3 19.8 18.9 17.6 15.9 15.6 13.2 13.9 17.5 20.5
Radiação solar líquida (MJ/m2/ dia)
Rn 13.3 13.3 12.9 12.6 12.0 10.9 9.6 9.1 7.2 7.7 10.4 12.7
Humidade relativa do ar (%)
HR 59.0 67.0 70.0 75.0 77.0 78.0 79.0 78.0 79.0 77.0 73.0 64.0
Anexos
115
Anexo 3 – P375: Posto udométrico de Púnguè EN 102
LATITUDE:
18.45° S
LONGITUDE:
33.36° E
ALTITUDE:
480 m
COEF. THIESSEN E83:
0.279
COEF. THIESSEN E392:
(-)
Precipitação (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Precip.
Anual
1957/58 29.0 40.0 172.0 316.0 283.0 78.0 3.0 3.0 7.0 3.0 2.0 70.0 1006.0
1958/59 84.0 18.0 153.0 326.0 240.0 52.0 9.0 11.0 20.0 6.0 8.0 6.0 933.0
1959/60 37.0 48.0 173.0 55.0 176.0 53.0 57.0 52.0 23.0 8.0 22.0 12.0 716.0
1960/61 54.0 134.0 258.0 210.0 74.0 122.0 70.0 3.0 5.0 0.0 12.0 0.0 942.0
1961/62 10.0 79.0 24.0 186.0 106.0 233.0 61.0 10.0 0.0 7.0 3.0 6.0 725.0
1962/63 25.0 72.6 145.7 137.0 273.0 30.0 32.0 0.0 1.0 12.0 7.0 0.0 735.3
1963/64 9.0 41.0 116.0 144.0 41.0 19.0 1.0 23.0 22.0 12.0 9.0 0.0 437.0
1964/65 89.0 82.0 256.0 134.0 98.0 16.0 19.0 0.0 7.0 0.0 0.0 9.0 710.0
1965/66 1.0 113.0 180.0 53.0 486.0 80.0 72.0 76.0 38.0 0.0 0.0 12.0 1111.0
1966/67 5.0 79.0 111.0 297.0 192.0 214.0 33.0 71.0 19.0 7.0 43.0 5.0 1076.0
1967/68 33.0 17.0 149.0 70.0 206.0 31.0 91.0 15.0 10.0 6.0 11.0 1.0 640.0
1968/69 4.0 189.0 206.0 373.0 30.0 210.0 78.0 5.0 7.0 8.0 19.0 1.0 1130.0
1969/70 88.0 54.0 554.0 95.0 79.0 36.0 59.0 2.0 24.0 25.0 2.0 0.0 1018.0
1970/71 27.0 64.0 188.0 271.0 98.0 51.0 41.0 72.0 4.0 0.0 1.0 1.0 818.0
1971/72 49.0 168.0 112.0 414.0 101.0 112.0 104.0 32.0 6.0 6.0 5.0 1.0 1110.0
1972/73 9.0 43.0 90.0 221.0 121.0 54.0 33.0 1.0 12.0 5.0 5.0 1.0 595.0
1973/74 28.0 231.0 375.0 284.0 325.0 287.0 74.0 81.0 0.0 15.0 9.0 11.0 1720.0
1974/75 7.0 128.0 299.0 146.0 292.0 43.0 80.0 5.0 9.0 0.0 8.0 0.0 1017.0
1975/76 29.0 65.0 198.0 120.0 298.0 401.0 14.0 16.0 5.0 0.0 0.0 0.0 1146.0
Posto udométrico P375 (Fonte: Direcção Nacional de Águas, Moçambique)
Anexos
116
Anexo 4 – P372: Posto udométrico de Mavonde
LATITUDE:
18.53° S
LONGITUDE:
33.04° E
ALTITUDE:
600 m
COEF. THIESSEN E83:
0.708
COEF. THIESSEN E392:
0.904
Precipitação (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Precip.
Anual
1957/58 131.0 114.0 249.0 536.0 527.0 98.0 74.0 18.0 8.0 6.0 13.0 80.0 1854.0
1958/59 112.0 34.0 123.0 430.0 265.0 47.0 0.0 9.0 24.0 15.0 34.0 8.0 1101.0
1959/60 10.0 118.0 134.0 81.0 289.0 138.0 116.0 35.0 33.0 7.0 3.0 47.0 1011.0
1960/61 73.0 127.0 365.0 277.0 352.0 219.0 157.0 50.0 41.0 8.0 31.0 4.0 1704.0
1961/62 13.0 83.0 53.0 303.0 294.0 301.0 68.2 14.0 0.0 15.0 12.0 10.0 1166.2
1962/63 33.0 251.0 236.6 218.0 327.0 91.0 96.0 11.0 13.0 3.0 3.0 1.0 1283.6
1963/64 27.0 88.6 152.9 370.0 93.0 15.0 7.0 40.0 12.0 8.0 16.0 0.0 829.5
1964/65 44.0 59.0 474.0 231.0 117.0 165.0 48.0 13.0 0.0 3.0 3.0 25.0 1182.0
1965/66 17.0 161.0 39.0 96.0 490.0 65.0 69.0 27.0 47.0 3.0 3.0 13.0 1030.0
1966/67 11.0 72.0 110.0 333.0 243.0 220.0 39.0 95.0 40.0 7.0 51.0 4.0 1225.0
1967/68 93.0 7.0 83.0 68.0 174.0 44.0 103.0 21.0 32.0 6.0 10.0 5.0 646.0
1968/69 8.0 190.0 291.0 495.0 58.0 422.0 47.0 17.0 20.0 3.0 21.0 5.0 1577.0
1969/70 158.0 145.0 615.0 156.0 201.0 36.0 94.0 1.0 36.0 12.0 2.0 1.0 1457.0
1970/71 46.0 179.0 99.0 429.0 139.0 79.0 28.0 63.0 11.0 0.0 1.0 0.0 1074.0
1971/72 55.0 337.0 161.0 452.0 173.0 317.0 115.0 26.0 2.0 3.0 0.0 4.0 1645.0
1972/73 16.0 58.0 71.0 364.0 77.0 26.0 46.0 0.0 16.0 10.0 7.0 3.0 694.0
1973/74 34.0 338.0 566.0 303.0 488.0 477.0 62.0 97.0 0.0 27.0 11.0 14.0 2417.0
1974/75 46.0 227.0 420.0 236.0 352.0 52.0 88.0 3.0 15.0 0.0 19.0 0.0 1458.0
1975/76 57.0 72.0 308.0 302.0 298.0 397.0 27.0 27.0 5.0 2.0 0.0 0.0 1495.0
Anexos
117
Anexo 5 – P93: Posto udométrico da Vila de Manica
LATITUDE:
18.93° S
LONGITUDE:
32.88° E
ALTITUDE:
708 m
COEF. THIESSEN E83:
0.013
COEF. THIESSEN E392:
0.096
Precipitação (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Precip.
Anual
1957/58 50.0 192.0 81.0 666.0 313.0 0.0 6.0 12.0 0.0 0.0 0.0 44.0 1364.0
1958/59 95.0 21.0 105.0 481.0 256.0 43.0 0.0 86.0 13.0 25.0 0.0 13.0 1138.0
1959/60 22.0 126.0 206.0 155.0 286.0 48.0 54.0 10.0 16.0 17.0 0.0 41.0 981.0
1960/61 112.0 246.0 392.0 288.0 92.0 34.0 61.0 18.0 12.0 0.0 33.0 8.0 1296.0
1961/62 30.0 105.0 38.0 566.0 194.0 304.0 121.0 4.0 0.0 0.0 15.0 0.0 1377.0
1962/63 0.0 322.0 344.0 217.0 285.0 50.0 8.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 1226.0
1963/64 66.0 18.0 204.0 349.0 158.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 795.0
1964/65 114.0 150.0 493.0 150.0 399.0 37.0 38.0 0.0 0.0 0.0 0.0 24.0 1405.0
1965/66 10.0 143.0 127.0 173.0 394.0 79.0 8.0 112.0 21.0 0.0 0.0 28.0 1095.0
1966/67 0.0 39.0 132.0 444.0 311.0 216.0 0.0 25.0 10.0 0.0 8.0 0.0 1185.0
1967/68 74.0 20.0 243.0 293.4 133.2 55.2 38.1 28.2 11.6 0.0 7.4 0.0 904.1
1968/69 0.0 135.1 266.9 449.0 21.0 273.0 73.0 0.0 9.0 19.0 13.0 0.0 1259.0
1969/70 161.0 82.0 406.0 125.0 183.0 53.0 67.0 0.0 65.0 65.0 0.0 5.0 1212.0
1970/71 0.0 168.0 274.0 280.0 119.0 28.0 0.0 102.0 0.0 0.0 0.0 0.0 971.0
1971/72 60.0 170.0 181.6 196.0 30.0 178.0 41.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 856.6
1972/73 14.0 30.0 25.0 74.0 63.0 29.0 28.0 5.6 2.4 5.0 10.0 0.4 286.4
1973/74 5.0 181.1 692.0 129.0 304.0 164.0 78.0 104.0 0.0 10.0 0.0 20.0 1687.1
1974/75 30.0 51.0 235.0 293.4 390.0 146.0 95.0 0.0 10.2 6.9 7.4 13.5 1278.4
1975/76 90.0 294.1 463.0 607.0 362.0 860.0 0.0 12.0 4.0 0.0 17.2 31.3 2740.6
Posto udométrico P93 (Fonte: Direcção Nacional de Águas, Moçambique)
Anexos
118
Anexo 6 – P164: Posto udométrico de Casal de Sto António Fábrica
LATITUDE:
15.45° S
LONGITUDE:
37.00° E
ALTITUDE:
750 m
COEF. THIESSEN E90:
0.481
Precipitação (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Precip.
Anual
1964/65 19.0 259.0 292.0 658.0 203.0 662.0 102.0 130.0 38.0 23.0 35.0 47.0 2468.0
1965/66 113.0 150.0 494.0 216.0 258.0 215.0 222.0 145.0 127.0 46.0 0.0 10.0 1996.0
1966/67 7.0 346.0 137.0 251.0 258.0 625.0 323.0 86.0 61.0 186.0 94.0 44.0 2418.0
1967/68 81.0 159.0 368.0 212.0 313.0 446.0 309.0 15.0 102.0 16.0 8.0 12.0 2041.0
1968/69 10.0 363.0 262.0 273.0 325.0 352.0 389.0 81.0 32.0 76.0 12.0 115.0 2290.0
1969/70 0.0 161.0 478.0 256.0 407.0 155.0 219.0 31.0 54.0 48.0 63.0 0.0 1872.0
1970/71 49.0 162.0 352.0 626.0 459.0 327.0 53.0 72.0 43.0 21.0 9.0 4.0 2177.0
1971/72 32.0 242.0 330.0 390.0 135.0 200.0 209.0 25.0 70.0 29.0 47.0 7.0 1716.0
1972/73 41.0 101.0 256.0 222.0 170.0 255.0 251.0 51.0 82.0 73.0 38.0 4.0 1544.0
1973/74 41.0 28.0 371.1 327.0 284.0 476.0 249.0 202.0 129.0 90.0 12.0 66.0 2275.1
1974/75 28.0 112.0 227.0 203.0 225.0 198.0 281.0 30.0 34.0 48.0 8.0 0.0 1394.0
Anexos
119
Anexo 7 – P249: Posto udométrico de Namuli I
LATITUDE:
15.33° S
LONGITUDE:
37.09° E
ALTITUDE:
2000 m
COEF. THIESSEN E90:
0.076
Precipitação (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Precip.
Anual
1964/65 0.0 78.2 208.0 284.0 165.2 333.9 98.1 42.7 31.5 0.0 7.1 55.3 1304.0
1965/66 28.5 50.6 142.9 165.4 291.2 144.0 69.4 58.0 50.3 51.6 0.0 0.0 1051.9
1966/67 11.6 122.4 126.8 196.5 147.0 390.3 119.3 84.0 28.7 36.4 80.8 11.9 1355.7
1967/68 33.2 124.6 282.9 164.4 222.8 298.3 103.5 4.8 47.0 16.9 18.5 42.1 1359.0
1968/69 11.5 161.9 319.6 233.7 314.8 189.9 284.2 34.2 31.7 42.4 22.8 25.9 1672.6
1969/70 16.9 105.3 396.1 483.4 240.8 92.2 101.0 21.2 46.2 40.8 26.4 0.0 1570.3
1970/71 125.9 146.5 399.2 498.0 220.5 186.6 141.1 25.7 34.3 1.7 0.0 0.0 1779.5
1971/72 25.2 85.9 234.7 267.1 170.6 185.0 88.9 8.5 15.3 13.2 15.0 1.7 1111.1
1972/73 30.8 101.6 287.0 226.8 135.1 249.4 131.6 9.3 29.7 32.6 14.2 2.9 1251.0
1973/74 0.0 81.9 220.5 343.6 450.4 445.3 174.5 89.2 44.6 33.0 2.9 11.3 1897.2
1974/75 9.3 42.2 198.7 144.4 275.3 150.2 176.0 11.3 18.4 25.5 10.1 0.4 1061.8
Anexos
120
Anexo 8 – P469: Posto udométrico de Chingoma
LATITUDE:
15.40° S
LONGITUDE:
36.88° E
ALTITUDE:
750 m
COEF. THIESSEN E90:
0.443
Precipitação (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Precip.
Anual
1964/65 0.0 98.0 197.0 432.0 133.0 415.0 39.0 49.0 21.0 17.0 21.0 17.0 1439.0
1965/66 11.0 83.0 99.0 242.0 291.0 83.0 81.0 21.0 62.0 28.0 3.0 0.0 1004.0
1966/67 35.0 15.0 129.0 110.0 104.0 182.0 41.0 3.0 36.0 45.0 65.0 0.0 765.0
1967/68 71.0 81.0 92.0 181.0 228.0 211.0 74.0 12.0 8.0 8.0 42.0 8.0 1016.0
1968/69 5.0 106.0 246.0 254.0 125.0 92.0 100.0 19.0 18.0 28.0 9.0 3.0 1005.0
1969/70 3.0 48.0 476.0 164.0 172.0 56.0 211.0 25.0 51.0 7.0 12.0 0.0 1225.0
1970/71 183.0 245.0 266.0 665.0 106.0 134.0 33.0 46.0 11.0 11.0 12.0 8.0 1720.0
1971/72 3.0 149.0 192.0 280.0 148.0 174.0 92.0 12.0 27.0 16.0 10.0 17.0 1120.0
1972/73 20.0 200.0 29.0 319.0 82.0 291.0 199.0 9.0 50.0 15.0 11.0 5.0 1230.0
1973/74 5.0 127.0 166.0 160.0 246.0 341.0 41.0 62.0 52.0 90.0 5.0 10.0 1305.0
1974/75 49.0 22.0 265.0 168.0 217.0 35.0 80.2 31.7 28.7 26.0 2.0 1.0 925.5
Anexos
121
Anexo 9 – E83: Estação hidrométrica de Mavuzi em Confluência
LATITUDE: 18.57° S LONGITUDE: 33.28° E ALTITUDE: 490 m
Escoamento (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Esc. Anual
1957/58 0.9 1.1 34.8 192.5 275.7 86.7 13.2 7.2 4.6 3.3 1.8 1.6 623.3
1958/59 4.2 1.7 1.4 78.6 43.8 17.6 4.8 2.6 1.7 1.4 0.5 0.3 158.6
1959/60 0.2 0.4 8.0 4.3 19.0 7.3 2.5 1.7 1.2 0.7 0.3 0.1 45.5
1960/61 0.1 0.7 20.1 63.9 62.6 24.2 71.3 9.3 3.8 2.7 1.9 1.0 261.5
1961/62 0.6 0.9 7.8 34.9 69.2 355.2 32.9 10.0 4.2 1.7 1.7 0.9 519.8
1962/63 0.4 7.2 5.8 133.1 565.7 132.7 32.8 13.7 6.1 4.9 2.8 1.2 906.5
1963/64 3.1 3.6 4.8 60.7 153.7 5.0 2.1 1.7 1.4 1.7 0.7 0.5 239.0
1964/65 0.3 0.3 18.6 84.6 18.7 11.1 4.7 1.6 1.0 0.7 0.4 0.2 142.0
1965/66 0.2 1.5 0.6 0.5 135.1 74.0 7.5 3.5 1.9 2.0 1.0 0.4 228.0
1966/67 0.2 0.2 0.2 222.5 26.7 93.8 6.3 4.4 1.1 0.7 0.4 0.4 356.8
1967/68 0.1 0.2 0.3 0.1 0.4 0.2 0.1 0.1 0.0 0.1 0.1 0.1 1.8
1968/69 0.0 0.2 10.5 139.4 12.2 63.8 19.5 5.6 2.7 2.1 1.5 0.7 258.3
1969/70 0.8 0.9 125.4 44.2 36.5 6.1 5.3 1.9 1.3 1.2 0.8 0.5 224.6
1970/71 0.2 1.1 8.3 49.4 18.5 4.2 1.6 1.7 0.9 0.6 0.4 0.2 87.0
1971/72 0.0 6.2 2.5 227.0 57.5 41.5 32.4 6.3 2.8 1.9 1.3 0.9 380.2
1972/73 0.9 0.7 0.5 4.2 3.3 2.0 0.7 0.7 0.5 0.1 0.2 0.0 13.8
1973/74 0.0 3.5 164.6 121.7 343.5 232.8 89.4 24.6 8.5 6.0 3.8 2.5 1000.8
1974/75 2.2 2.3 65.7 56.7 242.3 84.9 25.3 10.1 5.1 3.9 3.2 2.2 503.7
1975/76 1.5 2.3 90.2 29.9 100.7 544.9 61.3 20.1 537.5 5.9 3.6 2.3 1400.3
Estação hidrométrica E83
(Fonte: Direcção Nacional de
Águas, Moçambique)
Anexos
122
Anexo 10 – E392: Estação hidrométrica de Mavuzi na estrada de Mavonde
LATITUDE: 18.70° S LONGITUDE: 33.06° E ALTITUDE: 595 m
Escoamento (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Esc.
Anual
1963/64 0.4 1.6 2.7 18.9 33.8 6.7 3.1 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4 73.1
1964/65 0.4 0.4 24.3 49.9 27.5 14.1 4.7 2.0 1.2 0.8 0.4 0.4 126.1
1965/66 0.0 4.3 1.2 1.2 92.3 35.7 11.8 7.9 4.7 2.7 1.6 0.8 164.2
1966/67 0.4 0.4 0.4 19.2 16.9 32.2 9.0 6.7 3.1 2.4 2.0 1.6 94.3
1967/68 0.4 0.8 0.4 0.8 2.7 1.2 1.2 1.2 0.4 2.0 2.0 1.6 14.5
1968/69 0.8 2.0 11.8 81.3 18.9 118.2 30.2 9.8 5.9 4.7 3.5 2.4 289.5
1969/70 2.4 2.7 100.5 40.5 44.0 12.2 10.2 5.9 4.7 3.9 2.7 2.0 231.8
1970/71 2.0 8.6 13.0 102.9 53.4 15.7 7.1 6.7 4.7 3.5 2.4 1.6 221.6
1971/72 0.8 7.1 7.9 136.7 101.3 104.1 54.6 17.3 9.8 7.9 6.7 5.5 459.5
1972/73 4.5 3.5 2.0 11.4 12.6 5.1 3.9 2.0 2.0 2.0 2.0 1.2 52.0
1973/74 0.8 17.3 161.0 117.8 207.4 135.1 78.5 31.4 15.7 11.8 7.9 6.7 791.4
1974/75 5.3 14.1 93.1 74.6 284.3 102.1 37.3 18.5 11.8 7.9 6.7 3.9 659.6
1975/76 2.4 4.7 20.4 51.4 144.1 384.1 91.5 34.6 17.7 9.7 7.7 4.9 773.3
Estação hidrométrica E392 (Fonte: Direcção Nacional de Águas, Moçambique)
Anexos
123
Anexo 11 – E90: Estação hidrométrica de Licungo em Gurué
LATITUDE: 15.47° S LONGITUDE: 36.94° E ALTITUDE: 646 m
Escoamento (mm)
Ano OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET Esc.
Anual
1964/65 13.3 20.4 39.8 205.0 151.6 303.8 136.5 77.0 56.7 31.6 20.0 24.5 1080.2
1965/66 29.6 23.4 35.1 84.5 99.1 118.5 90.8 84.9 35.5 31.6 21.4 12.9 667.5
1966/67 9.9 20.2 64.7 37.2 57.9 249.4 230.8 81.4 37.1 92.4 72.8 35.3 989.1
1967/68 26.0 34.4 84.5 97.3 78.2 293.3 133.3 37.8 29.7 25.7 13.8 11.2 865.2
1968/69 9.1 17.8 51.6 68.0 114.2 132.6 208.6 63.4 38.1 47.4 29.2 18.8 798.8
1969/70 11.0 38.7 88.7 115.3 211.2 107.4 104.4 40.2 29.5 30.1 19.1 11.9 807.6
1970/71 18.2 23.1 98.1 280.9 256.9 224.2 84.0 58.5 54.9 28.3 19.9 14.7 1161.8
1971/72 12.0 22.0 52.8 106.5 51.2 112.3 87.6 47.3 48.7 80.9 57.5 27.6 706.4
1972/73 20.2 25.6 56.7 103.6 103.8 76.2 104.4 70.6 49.0 64.1 35.5 18.6 728.2
1973/74 12.9 19.8 150.4 74.2 157.0 185.9 282.3 133.7 57.6 68.1 37.4 32.4 1211.8
1974/75 15.8 11.1 42.3 45.9 29.9 83.4 163.9 50.0 32.8 23.6 14.2 8.4 521.1
Estação hidrométrica E90 (Fonte: Direcção Nacional de Águas, Moçambique)
Anexos
124
Anexo 12 – Caso de estudo 1: estação hidrométrica E83. Bacia hidrográfica, postos udométricos e
respectivas áreas de influência de Thiessen.
Anexos
125
Anexo 13 – Caso de estudo 2: estação hidrométrica E392. Bacia hidrográfica, postos udométricos
e respectivas áreas de influência de Thiessen.
Anexos
126
Anexo 14 – Caso de estudo 3: estação hidrométrica E90. Bacia hidrográfica, postos udométricos e
respectivas áreas de influência de Thiessen.
Anexos
127
Anexo 15 – Bacias hidrográficas das estações hidrométricas E83 e E392: Mapa da geologia
Anexos
128
Anexo 16 – Bacias hidrográficas das estações hidrométricas E83 e E392: Mapa de ocupação do
solo
Anexos
129
Anexo 17 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: Mapa da geologia
Anexos
130
Anexo 18 – Bacia hidrográfica da estação hidrométrica E90: Mapa de ocupação do solo