Mario alighiero manacorda historia da educacao da antiguidade aos nossos dias (pt br)
Meta Objetivos - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Letras/historia-educacao/historia-educacao... ·...
-
Upload
truongthuy -
Category
Documents
-
view
216 -
download
0
Transcript of Meta Objetivos - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Letras/historia-educacao/historia-educacao... ·...
2unidade
EDUCAÇÃO NO BRASIL: O LEGADO COLONIAL
Possibilitar a compreensão dos processos históricos e epistemológicos da educação jesuítica no Brasil-colônia.
Compreensão do processo histórico e educativo no contexto da colônia no Brasil.M
eta
Obje
tivos
35Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
UNIDADE IIEDUCAÇÃO NO BRASIL: O LEGADO COLONIAL
1 INTRODUÇÃO
Nessa unidade vamos procurar entender como se deu a
chegada dos jesuítas no Brasil Colônia, contextualizando o período
para facilitar o entendimento sobre as influências recebidas pelos
nossos principais interlocutores educativos institucionais (os
jesuítas), observando como eles procederam na sistematização do
conhecimento europeu à população nativa, convencidos em civilizá-
los nos moldes das referências europeias, convertê-los à fé católica e
submetê-los à Coroa portuguesa. Ainda nessa unidade, procuramos
observar também o legado jesuítico na educação e seu posterior
declínio, com a sua expulsão pelo Marquês de Pombal, após 210
anos de controle sobre as instituições de ensino na colônia. Veremos
a substituição desse legado pelas aulas régias e sua fragilidade
estrutural na organização do ensino no Brasil colônia.
História e Educação
36 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
2 OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS E A CHEGADA DOS JESUÍTAS NO BRASIL
Vamos viajar um pouco no contexto histórico medieval e
renascentista para entender os antecedentes históricos da chegada
dos jesuítas ao Brasil Colônia. Vejamos.
O movimento de Contra-Reforma reafirmava o medievalismo
na tentativa de garantir os domínios da fé católica sobre o mundo
ocidental. Teve plena adesão dos jesuítas no Brasil, uma vez que a
Igreja temia a possibilidade de expansão do protestantismo, iniciada
com a versão da Bíblia em outras línguas. Esse movimento exigia
uma reação à altura por parte da Igreja católica, para manter seus
domínios nos Estados católicos. A Contra-Reforma deu aos Papas
reformistas uma tentativa de reformular a doutrina católica, que
se orientava desde o período medieval (Idade Média) sob extremos
abusos. Você deve lembrar de referências como: a Santa Inquisição,
a autoridade da Igreja para jogar os insurgentes na fogueira etc.
O Concílio de Trento (1545-1563) tentou estreitar as relações
entre a Igreja e as comunidades, controlando os abusos, a partir
de decretos papais. Os primeiros países a aceitarem as resoluções
tridentinas foram Portugal, Espanha, Polônia e Estados Italianos. E o
Brasil como colônia de Portugal, um estado católico, não fugiu a essa
regra do concílio de difundir a fé católica nos domínios dos Estados
católicos; para essa empreitada, contou com a Companhia de Jesus
(1534). Essa companhia secular foi extremamente empreendedora na
manutenção do poder da fé católica na história da Igreja no mundo.
E como a Igreja e o Estado, nos países católicos, ainda tinham um
regime de padroado, ou seja, a Igreja subordinava-se ao Estado,
era parte integrante do Estado, os jesuítas – padres da Companhia
de Jesus - foram designados a seguir para as colônias portuguesas.
Percebeu como o contexto favorecia esse desenrolar histórico?
Observe: o que estava em jogo era a necessidade do próprio
catolicismo de formar um novo tipo de homem, diferente do cidadão
que o contexto Renascentista na Europa Ocidental estava promovendo,
voltado para valores universais. O ideal da Companhia de Jesus era
“levar ao conhecimento do homem a manifestação das perfeições e
excelências divinas na realização perfeita dos planos da obra criadora
e redentora. Assim salvava o homem e glorificava Deus” (FILHO,
2002, p. 123). Em outras palavras, os jesuítas buscavam formar
um cristão, mais aliado à ordem religiosa que ao próprio Estado.
Segundo Fausto (2004), ao assegurar e preservar a presença da
Igreja nas colônias, o Estado português nomeava e designava bispos,
SAIBA MAIS
Concílio de Trento (1545-1563) foi o acordo da Igreja católica, liderado pelo papa
Paulo III, em Trento, na Itália, para diminuir o terrorismo e as perseguições que a Igreja fazia aos insurgentes, atitudes que se caracterizavam por ações abusivas, de caráter repulsivo
diante do mundo ocidental. Esse conselho elaborou vários decretos-papais, reformulando a doutrina e orientando novos
princípios e condutas da Igreja.
37Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
remunerava o clero e, é claro, controlava os tributos – dízimos –
dos fiéis à Igreja. O poder do monarca português na colônia estava
atrelado e representado por meio dos jesuítas.
Agora, imagine a dificuldade desses jesuítas de realizar essa
empreitada, uma vez que não existiam espaços para professar a fé, ou
seja, não existiam igrejas, seminários, capelas... O empreendedorismo
dos jesuítas foi constituído por missões evangélicas criando
aldeamentos missionários, organizados com ideal católico. Eles
criavam cabanas, choupanas para evangelizar os nativos – os índios.
Muitas foram as dificuldades, considerando a extensão territorial do
país, e os limites de infraestrutura para adentrar no interior das terras
nativas, bem como as resistências com os valores nativos.
E quando, exatamente, chegam os jesuítas ao Brasil Colônia?
Durante o governo-geral de Tomé de Souza, chegam os primeiros
missionários, liderados pelo Padre Manuel da Nóbrega, na Bahia,
fundando um colégio, em Salvador. E acabam se concentrando
na principal região econômica das terras brasileiras, no litoral do
Nordeste, em razão da extração do pau-brasil. Essa empreitada no
litoral nordestino foi até o século XVIII; a descoberta do ouro, em
Minas Gerais, posteriormente, exigiu da metrópole portuguesa maior
controle dessa atividade, obrigando a Coroa a prover a colônia com
uma estrutura administrativa mais rigorosa, para adentrar o território
brasileiro. A maior obra dos jesuítas, até então, se deu com a criação
da Fundação São Paulo de Piratininga, ponto de origem da expansão
territorial e da colonização do interior do país. Desde que chegaram
no Brasil, os jesuítas criaram escolas e promoveram o ensino da
leitura, da escrita, da retórica e da música.
Vamos relembrar! Não se esqueça
de que o contexto histórico da chegada dos
jesuítas é o período renascentista, ou seja,
a época do homem mais ligado à ciência do
que à fé. Mas, no Brasil, o que ficou como
legado e tradição foram os valores e ideais do
período medieval! Fruto da forte influência de
uma educação escolástica promovida pelos
jesuítas. Pois é, fruto do legado jesuítico de
enaltecer os valores eclesiásticos da fé católica
de forma uniformizadora com a catequização
dos nativos. Contudo, a educação jesuítica
no Brasil se inicia com a preocupação da
conversão à fé católica e a submissão à Coroa
portuguesa, num processo absolutamente Figura 1 - Míssão
Evangélica dos Jesuítas
História e Educação
38 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
etnocêntrico, voltado para o aculturamento da população nativa
na colônia. Paiva (2000) faz um questionamento interessante sobre
esse contexto, que também deve ter lhe despertado inquietação.
Vejamos:
[...] o que representava a alfabetização para os jesuítas a ponto de quererem, desde início, alfabetizar os índios, quando em Portugal o povo não era alfabetizado? Mais do que o resultado dessa intenção, interessante é observar a mentalidade. As letras deviam significar adesão plena à cultura portuguesa. Quem fez as letras nessa sociedade? A quem pertencem? Pertencem à corte, como eixo social. Não se trata, a meu ver, de possibilitar o acesso ao livro, ao livro sagrado: nem estamos na Alemanha, nem a leitura da Bíblia estava na linha do devocionismo então vigente. Trata-se de uma atitude cultural de profundas raízes: pelas letras se confirma a organização da sociedade. Essa mesma organização vai determinar os graus de acesso às letras, a uns mais, a outros menos. A certa altura da catequese dos índios, os próprios jesuítas vão julgá-las desnecessárias. E os colégios, estes sobretudo, se voltam para os filhos dos principais (termo usado na época). A cultura hegemônica assim o dispunha (p. 43,44).
Então podemos começar a refletir que o período colonial é
caracterizado na história da educação pelo modelo educativo conduzido
pelos jesuítas, e é bom lembrar que, nesse sentido, os jesuítas só
tinham uma visão de sociedade, considerando os nativos desprovidos
de uma cultura legítima. Assim, agiam através da imposição para
converter os nativos, considerando o modelo de sociedade portuguesa
hierárquica, rígida e fundada na religião sua referência. As resistências
iniciais já se colocavam a partir desse princípio. Estava dada a largada
para o massacre cultural ou transplante cultural que o colonizador
português estava implantando na nova terra. Portugal, enquanto
um Estado eminentemente católico e mercantilista, estabelece
relações estreitas entre os homens da cristandade, a realeza e os
nobres portugueses com a burguesia ascendente (lembra o novo
homem renascentista?). Contudo, o plano da colonização articulava
um misto de projeções culturais entre o feudalismo (Idade Média)
e mercantilismo (Renascimento). Enquanto permanecia com suas
bases econômicas mercantilistas, mantinha na América, através do
transplante cultural para as colônias, os valores e ideais medievais da
civilização ocidental.
Vamos ver agora como os jesuítas procuraram minimizar as
resistências culturais.
Etnocentrismo é um termo antropológico em que o
outro toma como centro de verdade o seu próprio mundo,
desconsiderando outras formas de saber; toma sua cultura
como referência.Fim de boxe
Entende-se que colônia, segundo Scher (1992), é uma
entidade administrativa de total dependência jurídica,
econômica e cultural da metrópole. Logo, qualquer prática escolar é dotada
de submissão, e sofrerá as imposições da preservação da
cultura transplantada.
Mercantilismo: sistema econômico baseado no acúmulo de divisas e metais preciosos,
decorrente da expansão marítima comercial, após o feudalismo. Esse sistema
fortalecia o colonialismo, na exploração de riquezas para
a metrópole e caracterizou-se pelos primórdios das relações
capitalistas.
39Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
3 O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO NA COLÔNIA: O QUE ESTUDAR?
Que fique bem claro! Uma vez que as missões jesuíticas
estavam estabelecidas no Brasil para converter os nativos à fé
católica e submetê-los aos desígnios da Coroa Portuguesa, ganhou
centralidade o desenvolvimento do processo de escolarização, que
não foi passível de uma organização do ensino; logo não havia uma
sistematização de responsabilidade da metrópole diante da colônia.
Isso não implica dizer que a educação no Brasil se inicia nessa fase,
pois seria desconsiderar os mecanismos de um processo educativo
espontâneo, integral e assistemático desenvolvido pelos índios, em
detrimento de uma educação de caráter sistemático, coercitivo e
mediado por um dogma pedagógico, aqui admitido pelos jesuítas.
A educação indígena era eminentemente empírica, consistindo, antes de mais nada, em transmitir através das gerações uma tradição codificada. A escola era o lar e o mato; muito mais importantes as lições do exemplo que as palavras (TOBIAS, 1986, p. 31).
Observe a diferença: a educação não era tratada como uma
preocupação da nação, porque os jesuítas acreditavam que sua
pedagogia podia ser aplicada em qualquer povo. Isso quer dizer
que a educação nesse período partia do princípio de que o mundo
estava pronto, perfeito e as pessoas precisavam se adequar a esse
modelo. Repare na importância dessa perspectiva... É a partir dessas
concepções de mundo que o ideal pedagógico se constitui; por isso, a
importância de entender essas mentalidades.
Então vejamos: o cenário desse contexto, no Brasil, pode
ser descrito a partir de um ambiente completamente diferente do
contexto da Europa, e de Portugal, sua metrópole. As novas terras
eram distantes da terra-mãe (Portugal), separadas por um grande
mar (o Atlântico) e cercada por uma floresta densa, bichos de toda
sorte e um grande vazio de ocupação humana aos moldes das
construções portuguesas. Isso significava a diminuição da população,
a falta de recursos de toda ordem, obrigando os colonizadores a
realizar muitas adaptações e observar os desafios do novo ambiente
a ser “dominado”. Sem esquecer é claro, da premência de produzir
riqueza.
Uma das primeiras resistências já se colocava com a ocupação
das terras para formação dos povoados. Isso significava a expulsão
História e Educação
40 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
dos índios e sua consequente escravização, além, é claro, de grandes
massacres da população nativa, uma vez que o número de índios era
considerável. Falava-se em numerários do tipo: “mataram mais de
quinhentos; foram mortos mais de seiscentos; mataram trezentos”
(Cartas de Nóbrega). Mas também se observou, por parte dos jesuítas,
que a estratégia de dominar os nativos através da violência não trazia
bons resultados, além é claro de temerem os consequentes ataques
das nações indígenas, em reação a sua condição de sobrevivência,
defendendo sua cultura.
E como era feita essa aproximação entre os jesuítas e a
população nativa? Nesse sentido, os conflitos foram minimizados pela
apropriação da música, uma vez que a língua, a retórica, ou seja,
as boas palavras ainda não eram suficientes para trazer os índios
para o serviço dos portugueses, bem como convertê-los à fé católica.
Pe. Nóbrega já intentara traduzir para língua nativa algumas orações
cristãs, tarefa não muito confortável, diga-se de passagem... Contudo,
os nativos se familiarizaram com o tanger das missas; a melodia
das rezas em Latim os aproximavam de suas referências culturais
fortemente musicais. Percebendo esse encantamento e usando de
malícia, os portugueses iniciaram o processo de ensinar orações
cristãs, vertidas em tupi, substituindo suas melodias indígenas,
consideradas foras de tom e com mensagens lascivas e diabólicas
(WITTMANN, 2008). O uso de melodias e harmonias indígenas se
tornou uma simbólica e eficiente estratégia para converter os nativos,
como bem marca as palavras do Pe. Antonio Vieira: “Viu-se bem com
quanta razão dizia Nóbrega, primeiro missionário do Brasil, que com
música e harmonia de vozes se atrevia a trazer a si todos os gentios
da América” (VIEIRA, 1960, p. 45).
Além da música, com a chegada de meninos órfãos de Lisboa, a
aproximação dos jesuítas com o universo infantil permitia aos padres
o domínio das lógicas dos comportamentos da população indígena. As
brincadeiras podiam agora ser convertidas em manifestações teatrais
controladas para desempenhar a catequização. Era comum ver esses
meninos órfãos de Lisboa “brincando” com as crianças indígenas.
Somente depois de falar português e ser iniciado na doutrina cristã
é que os nativos aprendiam a ler e escrever, nas chamadas escolas
primárias montadas nas aldeias. Nesse período, iniciavam-se também
os nativos no canto orfeônico e na música instrumental. Olha que
interessante! Não é que os jesuítas tinham uma preocupação com
uma escola atraente, para convencer os nativos a se dirigirem à
escola. Pelo menos nesse primeiro momento!
41Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
Dessa forma, catequizar na colônia se
confundia com colonizar e educar. Preocupados
em fazer prevalecer sua visão de mundo,
os portugueses impunham aos nativos uma
referência cultural mediada pelo processo de
escolarização. As primeiras missões lideradas
por Pe. Manuel de Nóbrega não foram tão
repressoras, quanto as posteriores. Nóbrega
tinha a preocupação de conhecer a cultura nativa, incorporando os
nativos em suas pequenas escolas, tentando convertê-los à fé, aos
princípios éticos e à moral (claro que uma moral católica e portuguesa).
Por isso, o primórdio da educação jesuítica se caracterizava pelo
modelo da catequese. Este ideário se estendeu até 1580.
O segundo momento da educação jesuítica foi estimulado por uma
filosofia da educação, derivada de outras referências jesuíticas,
oriundas de autoridades da Companhia de Jesus da metrópole,
que já começavam a intervir na pedagogia desenvolvida no Brasil
Colônia. Esse outro período da educação jesuítica foi favorecido pelos
desdobramentos do contexto político da colônia, com a complexidade
das estruturas político-administrativas da Corte portuguesa. O
desenvolvimento de uma economia local e o crescimento de
funcionários da Corte começavam a criar demandas para prover a
educação dessa elite. Dessa forma, a educação indígena não é mais
priorizada e passam a restringir aos filhos homens da elite local
Figuras 2 e 3 - Meninos e
meninas Tukano da comunidade indígena
de Taracuá em S. G. da Cachoeira,
Amazonas - Brasil, brincam pela manhã no Rio Uaupés em
Taracuá.Foto: Paulo Côrtes
“Flicker”
História e Educação
42 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
os espaços dos colégios jesuíticos. Posteriormente, iniciados na
escolarização jesuítica, os filhos homens seguiam para Portugal para
concluírem seus estudos.
Conclui-se, então, que, nesse contexto, a educação jesuítica
se dirigia a um público bem mais restrito e, por isso, permitia-se
idealizar uma educação voltada para o “cultivo do espírito”. Segundo
Ribeiro (1998), a formação da elite colonial foi marcada por uma
extrema rigidez da maneira de pensar e interpretar a realidade, fruto
do método pedagógico jesuítico inspirado na Ratio Studiorum. Era
uma espécie de manual pedagógico dos jesuítas
Mas o que foi esse manual? Era considerado um plano de
estudo com regras orientadas em todos os colégios jesuíticos voltados
para a formação de um ideal pedagógico. Segundo Ponce (1990),
“tudo estava previsto, regulamentado e discutido, desde a posição
das mãos até o modo de levantar os olhos” (p. 122). O método de
estudo era orientado por uma metodologia repetitiva e memorística,
mas fortemente erudita, que deixava evidente as duas etapas do
processo ensino-aprendizagem: predilectio e composição. Vamos nos
aprofundar nesse método!
A primeira, predilectio, significava uma lição antecipada, uma
explicação prévia do que o aluno deveria estudar, podendo recitar de
cor um trecho latino em prosa ou verso. A leitura era toda guiada, de
acordo com as interpretações que os jesuítas determinavam, devendo
o aluno seguir cada passo de seu conteúdo, discutindo os significados
gramaticais, normas estilísticas, além dos conhecimentos de história,
geografia, mitologia, etnologia, arqueologia e instituições do mundo
clássico. Você reparou que nesse tipo de estudo se recupera os
conhecimentos da Antiguidade, tão negados às massas na educação
medieval? É claro, essa é uma educação elitizada, voltada para um
grupo privilegiado socialmente, logo é possível resgatar essa erudição.
Somente após o domínio por parte dos alunos desses conhecimentos
na predilectio é que era permitido conduzi-los à segunda etapa do
processo ensino-aprendizagem, definida pela composição (ALVES,
2005).
A composição se caracterizava pelo pleno exercício da atividade
intelectual a partir da composição pessoal, produzida ou reproduzida
pelos alunos, rigorosamente orientada pelo modelo de obras literárias,
privilegiando a argumentação das composições escritas.
E a organização do ensino? Preocupados com a formação dessa elite,
os jesuítas privilegiaram uma educação secundária e superior, baseada
em currículos extremamente sofisticados distribuídos em disciplinas
literárias, filosóficas e teológicas. Os cursos eram oferecidos em três
43Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
etapas (PILETTI, 2002):
1. Letras Humanas, de nível secundário, incluindo estudos de
Gramática latina, Humanidades e Retórica.
2. Filosofia e Ciências, também de nível secundário, se dirigiam
aos estudos de Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e
Ciências Físicas e Naturais.
3. Teologia e Ciências Sagradas que atendiam a uma educação de
nível superior.
Com esse plano de educação e o domínio da Companhia de
Jesus ao longo do território, os jesuítas fincaram sua marca de maior
ordem religiosa ligada ao ensino, sendo os padres referência única na
educação colonial, pela sua vasta experiência pedagógica. O legado
jesuítico ampliou demasiadamente o patrimônio da Igreja, com bens
criados a partir de igrejas, colégios, conventos e seminários. No século
XVIII, por exemplo, a obra educativa dos jesuítas se estendia do
Pará a Santa Catarina, com 17 colégios e seminários, 25 residências
e 36 missões, sem contar os seminários menores e as escolas de
alfabetização presentes em quase todo o território.
Em Salvador, a obra dos jesuítas seguiu para o Sul. Decorridas duas
décadas, a Companhia era formada por cinco escolas de instrução
elementar, localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito
Santo e São Paulo de Piratininga; e três colégios, no Rio de Janeiro,
em Pernambuco e na Bahia. A expansão dos colégios não aconteceu
apenas no território brasileiro. Em 1606 havia 193 colégios espalhados
pelo mundo, sendo 36 na América, Índia e Japão (NASCIMENTO et
al, 2006, p. 8).
Segundo Oliveira (2006), com a ausência de concorrência
do protestantismo e com as ordenações políticas e econômicas
do contexto colonial, a educação jesuítica passou a reproduzir no
Brasil o legado moral da Idade Média, mantendo o homem preso às
injunções dogmáticas da tradição escolástica. Também se promoveu
a total submissão ao domínio eclesiástico e à rígida ordenação social,
completamente resistente às perspectivas do livre exame e da
experimentação. Essa acepção jesuítica se contrapunha ao homem
de livre-pensamento, ilustrado, dotado de magnificência igualitária e
espírito associativo. A esse homem novo, atribuía-se a credibilidade
no conhecimento como potencial de transformação do mundo natural,
do homem renascentista.
Mas, o pleno domínio do território e a ampliação do patrimônio
da Companhia de Jesus, além do distanciamento dos desígnos da
Corte, começavam a provocar conflitos internos... Após 210 anos
História e Educação
44 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
à frente da educação na colônia, o legado jesuítico começa a ser
ameaçado. Esse tipo de educação construiu um legado pedagógico e
material, em termos de domínio de instituições educativas no país,
que refletiu nas disputas entre as instituições privadas e as instituições
públicas de ensino, posteriormente. Vamos então procurar entender
com os jesuítas saem de cena...
4 O DECLÍNIO DO LEGADO JESUÍTA E A EXPULSÃO COM POMBAL: A ADOÇÃO DAS AULAS RÉGIAS
Diante de um contexto de crise, exigia-se por parte de
Portugal reformas substanciais na Corte para garantir o poderio de
outrora. Há muito já se observava certo distanciamento dos jesuítas
à Coroa portuguesa. O legado jesuítico criou raízes próprias nas
terras brasileiras e a Companhia de Jesus foi assolada por severas
críticas por defender seus oportunos interesses, em detrimento
dos interesses da Coroa. Imagine, 210 anos na colônia, criando
um patrimônio, submetidos aos desmandos da metrópole que,
distante fisicamente, pouco se importava com a realidade das terras
brasileiras, com exceção, é claro, da riqueza que poderia explorar...
Os jesuítas acabam por criar suas próprias regras a se preocupar com
seus interesses.
A intenção de centralizar e controlar o poder da metrópole
fez com que Marquês de Pombal inaugurasse várias reformas para
proteger as riquezas produzidas na colônia e os interesses do Estado
português. Um desses interesses era a educação, que não devia mais
servir à Fé, mas ao Estado. Nesse sentido, a expulsão dos jesuítas
foi declarada pelo decreto papal Dominus ac Redemptor (nome do
decreto papal), no qual foram considerados rebeldes, abomináveis,
pois quebravam a paz pública dos reinos.
Mas eis uma situação demasiadamente complexa! Os jesuítas
durante 210 anos promoveram o processo de escolarização na colônia,
criando colégios, seminários, missões entre os índios, noviciados,
sendo os próprios agentes da educação, ou seja, os educadores. Eles
não formaram professores, uma vez que a própria formação deles,
baseada na Ratio Studiorum os instrumentalizava para o exercício
do magistério. Ou seja, o método de escolarização, os professores
e os espaços físicos das instituições de ensino eram de domínio da
Companhia de Jesus, dos jesuítas, logo, como esse legado seria
substituído? Isso foi um grande problema para Pombal resolver.
Contudo, tinha o outro lado da moeda. A expulsão dos jesuítas também
45Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
significava que, pela primeira vez, o Estado
(e não mais a Igreja) iria regular a educação.
A escola nesse momento, ao invés de servir à
conversão da fé católica, deveria ser útil aos
fins do Estado. Isso é um dado importante no
processo de escolarização, o qual postulava,
pela primeira vez, a laicização do ensino.
Então podemos observar que esse
elemento novo no processo educativo
implicava destituir todos os dogmas religiosos
dos métodos e ideal pedagógico. Uma escola
laica é uma instituição de ensino que não
recebe ordens sacras, tem autonomia do seu
ponto de vista epistemológico. Logo, também
tem um projeto de formação diferente, mais
preocupado com valores universais. Alguns
movimentos nesse sentido se configuraram
em busca de novas propostas educacionais,
como a vislumbrada pelo Seminário de
Olinda, liderada pelo Bispo Azeredo Coutinho, 1798. O Bispo não fazia
parte da ordem jesuítica, e ao longo de suas ligações com a Corte,
revelava considerável obsessão pela restauração da antiga grandeza
material de Portugal. Era preciso inaugurar um modelo educativo que
buscasse uma preocupação em dominar técnicas e habilidades para
conhecer o interior da colônia, em busca de maiores riquezas para
metrópole (ALVES, 2000). Parece que esse modelo caía como luva
nos interesses pombalinos de promover uma recuperação econômica
de Portugal diante das metrópoles.
O colégio-seminário guardava algumas semelhanças com os
colégios jesuítas, mas foi considerado um estabelecimento, a rigor,
típico durante as reformas pombalinas. No seu ideal pedagógico, seria
necessário outro tipo de homem para realizar o imenso inventário
das riquezas naturais do Brasil. Repare que a preocupação dessa
proposta pedagógica era eminentemente burguesa, marcada por
uma exaltação ao domínio do mundo material da colônia. E, nesse
sentido, revelava-se atrelada entre os interesses públicos e privados,
que garantiam sua existência. O colégio-seminário foi criado sob o
controle privado da facção regalista da Igreja Católica e a experiência
foi financiada com recursos públicos. Alves (2000) destaca a simbiose
entre o público e o privado na experiência educacional ainda na
colônia. Esse momento é importante para ser lembrado para se fazer
as devidas associações com o período histórico mais contemporâneo
SAIB
A M
AIS
Laicização: usa-se esse termo para explicar a retirada da influência religiosa. Portanto, quando se fala numa escola laica, não confessional, está se atribuindo um estatuto da coisa pública, destituído de qualquer influência religiosa: católica, protestante, afrodescendente, mulçumana etc. No Brasil, a escola laica sempre foi palco de muitas controvérsias, em que os domínios das igrejas (sobretudo das igrejas católicas e protestantes, de maior influência) buscaram capitanear os espaços escolares. A defesa da escola pública e laica, enquanto uma instituição de alcance nacional e de domínio público, tem referência filosófica da coisa pública, ou seja, da esfera política. A religião é de fórum íntimo, logo de domínio do espaço privado e por isso não se pode usar o espaço público da escola para difundir seus valores.Para saber mais, procure CUNHA, L. A. Ensino religioso nas escolas públicas: a propósito de um seminário internacional. In: Educação & Sociedade. Campinas: n. 97, set./dez., 2006; e CUNHA, L. A. A luta pela ética no ensino fundamental: religiosa ou laica? Cadernos de Pesquisa. São Paulo: n. 137, maio/ago. 2009, p. 401-419.
História e Educação
46 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
na disputa entre os publícolas e os privatistas.
Outra proposta educacional mais amplamente divulgada
e conhecida foi a adoção das aulas régias. Esse modelo foi uma
medida adotada por Marques de Pombal, alterando vertiginosamente
a realidade educacional na colônia. Encabeçava um projeto de
modernização do ensino voltado para a formação do nobre, aliado
aos interesses do Estado. Suas referências intelectuais se orientavam
na filosofia moderna e das ciências da natureza (colégio-seminário).
Observe a lacuna deixada pelos jesuítas – um legado histórico de
referência educacional no Brasil Colônia, quem vai ocupar o lugar dos
jesuítas? As aulas régias! Contudo, a adoção desse modelo não foi
imediata, somente após 13 anos da expulsão dos jesuítas, as aulas
régias puderam ser inauguradas com o alvará de 28 de junho de
1759. As aulas régias se caracterizavam por cátedras de gramática
latina, de grego e de retórica, e estabeleceram um agente de
aprendizagem, denominado “diretor de estudos” (ZOTTI, 2004). Essa
figura orientava, fiscalizava o ensino, bem como promovia a seleção,
através de exames, de professores para aulas de primeiras letras, de
gramática, de Latim, e de Grego. Ou seja, foi preciso criar mecanismos
bastante vulneráveis, do ponto de vista teórico-metodológico, para
instrumentalizar pessoas para o exercício do magistério. Esse caminho
foi instaurado para garantir as aulas de primeiras letras no Rio de
Janeiro e nas principais províncias das capitanias.
E como se dava a organização do ensino? Para além dessas aulas
de primeiras letras, do curso básico, elementar, o curso secundário se
organizava de forma bastante dispersa a partir de aulas avulsas cada
uma com o professor, pela unidade de professor, de métodos e de
matéria. Exemplo: você tinha afinidade com literatura, se inscrevia
na disciplina de literatura. O ensino era completamente desvinculado
com a realidade, numa total reprodução do modelo europeu civilizado.
Nesse aspecto, muito semelhante ao modelo jesuítico. O ensino
superior devia ser orientado para os grandes centros europeus ou a
própria Universidade de Coimbra, em Portugal (ZOTTI, 2004).
Até aqui percebe-se que, dos jesuítas a Pombal, a única
preocupação da educação brasileira foi promover uma formação da
elite. Isso qualifica a reflexão, mostrando que o ideal pedagógico, até
esse momento histórico na colônia, revela-se preso a uma concepção
de mundo que privilegia uma sociedade coesa, uniforme e, na medida
do possível, obediente e submissa, quando não à Igreja, à Coroa
portuguesa. A educação brasileira mostra-se extremamente precária,
tanto no que diz respeito ao acesso às massas, quanto à sua qualidade,
uma vez que o currículo humanista, tanto no modelo jesuítico quanto
47Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
no modelo adotado nas aulas régias, reproduz, explicitamente, os
valores europeus. Fernando de Azevedo (1976) faz um destaque
interessante desse período, resumindo o debate:
A reforma planejada para o Reino, não só golpeou profundamente, na colônia, o ensino básico geral, pulverizando-o nas aulas de disciplinas isoladas (aulas régias), sem qualquer plano sistemático de estudos, como ainda cortou, na sua evolução pedagógica normal, o desenvolvimento do ensino para planos superiores. [...] tudo, até os detalhes de programas e a escolha de livros, tinha de vir de cima e de longe, do poder supremo do Reino, como se este tivesse sido organizado para instalar a rotina, paralisar as iniciativas individuais e estimular, em vez de absorvê-las. Os organismos parasitários que costumam desenvolver-se à sombra de governos distantes, naturalmente lentos na sua intervenção. Essa foi uma das razões pelas quais a ação reconstrutora de Pombal não atingiu senão de raspão a vida escolar na colônia (p. 53).
É interessante observar que uma educação mais universalista
não foi possível nesses dois contextos históricos, durante a colônia:
jesuítico e pombalino. As mulheres, índios e escravos ainda sofreram
limitações para ocupar os espaços escolares, já tão restritos. Muitas
mulheres tiveram que ultrapassar a esfera doméstica para a pública,
para alcançar o desejo de aprender a ler e escrever. A primeira mulher
brasileira que recebeu ume educação letrada foi Catarina Paraguassu,
uma índia.
Ironicamente a primeira reivindicação pela educação feminina no Brasil parece ter vindo dos índios, que, por volta de 1552, reivindicaram a instrução das índias ao Padre Manoel da Nóbrega, pois viam na mulher uma companheira e não entendiam o perigo que pudesse representar o fato de suas mulheres aprenderem a ler e a escrever, como os brancos os preveniam. Nóbrega encaminhou este pedido à Rainha de Portugal, Dona Catarina, que o nega por entender a iniciativa como ousada, até porque seria desnecessário oferecer educação às mulheres ‘selvagens’ de uma ‘colônia distante que só existia para o lucro português’. A negação deve ser compreendida no contexto da época, onde na metrópole não havia escolas para meninas, ou seja, o Brasil estava pedindo mais do que as próprias filhas da nobreza tinham (RIBEIRO, 2006, p. 13)
Mesmo com a negação da metrópole, ela conseguiu através
História e Educação
48 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
de sua insistência pessoal. Na verdade, os jesuítas mostravam-se
inclinados a criar um recolhimento para mulheres para promover
a moralização dos costumes e agiram de uma forma eficiente na
formação de famílias brasileiras. Como eram inevitáveis as relações
entre nativos e portugueses, era preciso controlar os comportamentos.
Nesse sentido, a educação feminina foi pensada inicialmente com
esse fim utilitarista e não com a preocupação da necessidade desse
grupo social letrar-se. Contudo, diga-se de passagem, já no século
XVI, em Portugal, não havia escolas para meninas.
Mas, após as reformas pombalinas, o legado colonial finda com
a chegada da Família Real. Inaugura-se um novo tempo histórico: o
Império. Será que agora a educação brasileira vai deslanchar? Vamos
ver!
LEITURA RECOMENDADA
Para melhor sistematizar o conteúdo dessa unidade você deve procurar ler também os textos de PAIVA, J. M. A educação jesuítica no Brasil colonial. In: 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica,
2000; TOBIAS, J. A. História da Educação Brasileira. 3. ed. São Paulo: Ibrasa, 1986 e o capítulo I de ZOTTI, S. A. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas:
Autores Associados; Brasília, DF: Plano, 2004.
PARA
CO
NH
ECER
Vamos suscitar a reflexão assistindo a um filme. Observe atentamente a forma de catequização na América do Sul pelos jesuítas ao longo dos séculos XVI e XVII no filme: JOFFÉ, Roland. A missão: Grã-Betanha: Flashstar, 1986, DVD. (121mim).
49Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2
RESUMINDO
Nesta aula você viu:
1. O contexto da chegada dos jesuítas no Brasil Colônia deu-se
na ambiência do movimento de contra-reforma, pois a Igreja
precisava ampliar seus domínios para professar a fé católica e
ocupou as colônias, catequizando a população nativa.
2. A educação jesuítica no Brasil se inicia, num primeiro momento,
com a preocupação da conversão à fé católica e a submissão
à Coroa portuguesa, num processo absolutamente etnocêntrico,
voltado para o aculturamento da população nativa na colônia.
Num segundo momento, a educação se voltou para os filhos
homens da elite local, uma vez que as mulheres estavam restritas
ao ambiente doméstico.
3. O processo de aproximação de jesuítas e indígenas foi realizado
pela apropriação da música, uma vez que a língua e a retórica,
ou seja, as boas palavras, ainda não eram suficientes para trazer
os índios para o serviço dos portugueses, bem como convertê-los
à fé católica. E Pe. Nóbrega intentara traduzir para língua nativa
algumas orações cristãs.
4. O método de estudo era orientado por uma metodologia repetitiva
e memorística, mas fortemente erudita, que deixava evidente
as duas etapas do processo ensino-aprendizagem: predilectio e
composição.
5. Os cursos eram oferecidos em três etapas: Letras Humanas, de
nível secundário e com a cobertura de estudos de Gramática
latina, Humanidades e Retórica; Filosofia e Ciências, também de
nível secundário, se dirigiam aos estudos de Lógica, Metafísica,
Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais; e Teologia e
Ciências Sagradas, que atendia a uma educação de nível superior.
6. Os jesuítas durante 210 anos promoveram o processo de
escolarização na colônia, criando colégios, seminários e missões
entre os índios, noviciados, sendo os próprios agentes da
educação, ou seja, os educadores. Foram expulsos por Marques
de Pombal, sendo substituídos por aulas régias.
História e Educação
50 Módulo 3 I Volume 1 EAD
Educação no Brasil: o legado colonial
ATIVIDADES
1. Leia o texto e responda:
A chegada dos primeiros jesuítas ao Brasil, sob o comando de Manuel da Nóbrega, deu início à missão de catequização dos gentios da América. O primeiro provincial e mais cinco companheiros inacianos chegaram à Bahia, na armada do governador-geral Tomé de Sousa, em 29 de março de 1549. Após doze dias apenas, Nóbrega registra em carta seu intento de traduzir para língua brasílica algumas orações cristãs, tarefa que confessa ser árdua. Sobre o comportamento indígena diante dos rituais católicos que ouvem e vêem e das aulas que têm de doutrina, ou para ler e escrever, diz o fundador da missão do Brasil: ‘Tem grandes desejos de aprender e, perguntados se querem, mostrão grandes desejos. (...) Se ouvem tanger à missa, já acodem, e quando nos vem fazer, tudo fazem: assentão-se de giolhos, batem nos peitos, alevantão as mãos ao ceo’ (WITTMAN, 2006, p. 1).
a. Como foi realizada a aproximação dos jesuítas com a população nativa?b. Descreva as duas etapas de ensino promovido pelos jesuítas.c. Resumindo, em poucas palavras, como poderíamos caracterizar o ensino dos jesuítas?
2. Descreva os métodos de ensino dos jesuítas no Brasil Colônia, bem como caracterize a organização do ensino.
3. A partir do que você já viu da educação escolástica e das escolas confessionais, pesquise sobre o ensino religioso no Brasil, a partir dos textos de Luiz Antonio Cunha. Apresentando:
a. Os principais argumentos a favor.b. As implicações desse modelo de ensino.c. Sua opinião sobre o assunto, baseado na reflexão apresentada sobre a escola laica no Brasil.
4. Após a expulsão dos jesuítas no Brasil, responda:
a. Qual foi o legado dos jesuítas para a educação brasileira.b. Como se caracterizava o ensino a partir da adoção das aulas-régiasc. E quais implicações esse método promoveu no contexto brasileiro, no século XVIII.
51Letras VernáculasUESC
Uni
dade
2RE
FE
RÊ
NC
IAS
ALVES, G. L. O seminário de Olinda. In: 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
AZEVEDO, F. Transmissão da cultura. São Paulo: Melhoramentos, 1976.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2004.
NASCIMENTO et al. Instituições escolares no Brasil colonial e imperial. In: LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; NASCIMENTO, M. I. M. (Orgs). Navengando na história da educação brasileira. Campinas: Graf. FE: HISTEDBR, 2006. Cd ROM.
OLIVEIRA, M. M. Os empresários de educação básica e a nova divisão de trabalho da educação nacional. In: NEVES, L. (org). O empresariamento da educação: novos contornos do ensino superior no Brasil dos anos 1990. São Paulo: Xamã, 2002c.
PAIVA, J. M. A educação jesuítica no Brasil colonial. In: 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
PILETTI, N. História da educação no Brasil. São Paulo: Ática, 2002.
PONCE, A. Educação e luta de classes. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1990.
RABELO, A. Educação feminina no Brasil e em Portugal: um passo para feminização do magistério. In: Actas do VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação. Porto: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto, 2008.
RIBEIRO, A. I. M. Mulheres educadas na colônia. In: LOPES, E. M. T.; FARIA FILHO, L. M.; VEIGA, C. G. (Eds.). 500 Anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
____________. Mulheres e educação no Brasil Colônia: histórias entrecruzadas. In: WITTMAN, L. T. A música nos primeiros anos de presença jesuítica no Brasil. In: LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; NASCIMENTO, M. I. M. (organizadores) Navegando na história da educação brasileira. Campinas: Graf. FE: HISTEDBR, 2006. Cd ROM.
TOBIAS, J. A. História da Educação Brasileira. 3. ed. São Paulo: Ibrasa, 1986.
VIEIRA, Pe. A. Cartas. São Paulo: Jackson, 1960.
ZOTTI, S. A. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas: Autores Associados; Brasília, DF: Plano, 2004.
Suas anotações
_________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________