Mensageira Celeste

13
Mensageira celeste, sê bem-vinda, Longe meus pensamentos! Quando, baixando o rosto, os olhos pousam Em sorrisos de infantes, Esquece-se o infortúnio, os risos voltam E erguemo-nos radiantes. Assim como nos rimos dos teus ogos, Tu ris das nossas penas; Ambos somos crianças, variando O nosso brinquedo apenas. Tu criaste uma vida imaginária Que cede à fantasia.

description

poema 2

Transcript of Mensageira Celeste

  • Mensageira celeste, s bem-vinda,

    Longe meus pensamentos!

    Quando, baixando o rosto, os olhos pousam

    Em sorrisos de infantes,

    Esquece-se o infortnio, os risos voltam

    E erguemo-nos radiantes.

    Assim como nos rimos dos teus ogos,

    Tu ris das nossas penas;

    Ambos somos crianas, variando

    O nosso brinquedo apenas.

    Tu criaste uma vida imaginria

    Que cede fantasia.

  • Ns com a vida real tambm brincamos,

  • Porm sem alegria.

    3 de Junho de 1862.

  • Ai no foi sonho, no. Era na infncia,

    Duas vises queridas

    Ao lado do meu bero me sorriam

    De uma amorosa aurola cingidas;

    Eu sorria tambm. Vendo-as to belas,

    Por anjos as tomava,

    E acordando de um sonho de inocncia,

    Inda a mais gratos sonhos me

    entregava.

    E repetindo as oraes ferventes,

    Que voz da me ouvia,

    Olhava-as, e julgava que era a elas

    Que to sentidas preces dirigia.

    SAUDADE E ESPERANA

  • Quando as via, to jovens e j tristes,

    Olhar a me chorando,

    Eu cismava, e o infortnio pressentia,

    Vago ainda, os meus dias ameaando.

    E o infortnio chegou. Era uma noite,

    E eu ainda infante

    Despertei aos gemidos dolorosos

    Das rfs junto me agonizante!

    Transportaram-me ao leito aonde a triste

    Lutara na agonia,

    Era tarde! A primeira vez na vida,

    Ao beij-la, as suas bnos no colhia!

    E as lgrimas, to fluentes na infncia

  • Os meus olhos no banhavam!

    Ento senti que os dias de ventura

    Com ela para sempre me deixavam.

    Depois os mesmos anjos, que na infncia

    No bero me sorriam,

    Em vez das vestes cndidas de outrora,

    Agora negras tnicas cingiam.

    Nunca mais como a flor na Primavera

    Eu as vi radiantes;

    Mas sim como no Outono ela se ostenta,

    Pendendo as alvas ptalas fragrantes.

    Pobres flores! to cedo sem abrigo,

    Dia a dia enlanguescem

    Como as que adornam virginais capelas, E ao fim de um baile pelo cho fenecem.

  • Como cndidas pombas surpreendidas

    Por furiosa tormenta,

    Voam amedrontadas a acolher-se

    Junto me que no seio as acalenta,

    Assim elas tambm amedrontadas

    Das tormentas da vida

    Voam para o Cu, e no materno seio

    Procuram contra elas fiel guarida.

    Um dia eu vi-me s! Junto ao meu bero

    Os anjos no sorriam,

    Nem sequer suas lgrimas saudosas

    Uma a uma nas faces me caam.

    Passaram tempos, e da infncia aos dias

    Seguiu-se uma outra idade;

    Mas nem o tempo, nem paixes mais vivas

  • Me extinguiram a imagem da saudade.

    Ainda as vejo a ambas, quando s vezes

    Em sonhadas delicias,

    Recordo o tempo da passada infncia,

    Recordo seu amor, suas carcias.

    Outras vezes, mais vago o pensamento,

    Num s anjo as confunde;

    E ento adoro essa viso querida,

    Que na alma ignotas sensaes me infunde.

    Se a imagem delas como o crepsculo

    De um dia j passado, A nova imagem ser ainda aurora

    De um dia ardentemente desejado?

  • Meu Deus! a flor dos campos tambm murcha

    Vive um momento apenas;

    Mas depois nova quadra veste os prados

    De outro manto de rosas e aucenas.

    Tambm as flores de infantil idade

    Eu vi cair sem vida:

    Deixa que a nova quadra dos vinte anos

    Se adorne de uma tnica florida.

  • No s real. Para o seres

    No foras, flor, to bela;

    Se mente Deus te revela,

    No te cria o mundo, no.

    Vegetas no peito do homem,

    Mas no h vioso prado

    Onde te beije embriagado

    O sopro da virao.

    VISO

  • MORENA

    Morena, morena

    Dos olhos castanhos,

    Quem te deu morena,

    Encantos tamanhos?

    Encantos tamanhos

    No vi nunca assim.

    Morena, morena

    Tem pena de mim.

    Morena, morena

    Dos olhos rasgados,

    Os teus olhos, morena,

    So os meus pecados.

  • MORENA

    So os meus pecados

    Uns olhos assim.

    Morena, morena

    Tem pena de mim.

    Morena, morena

    Dos olhos galantes,

    Os teus olhos morena

    So dois diamantes.

    So dois diamantes

    Olhando-me assim.

    Morena, morena

    Tem pena de mim.

    Morena, morena

  • MORENA