Dionísio - Da Hierarquia Celeste

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    Da Hierarquia Celeste

    Pseudo-Dionsio

    Fonte: www.fatheralexander.org

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    Captulo I

    A Luz irradia do Pai. A Luz sa dEle para nos iluminar com os

    Seus excelentes dons. Apenas Ela nos restabelece e nos eleva.

    Ela que nos converte unidade do Pai segundo as Sagradas

    Escrituras: Porque Dele, por Ele e para Ele so todas as

    coisas (Rom 11: 36).

    Toda a ddiva excelente e todo o dom perfeito vm do alto edescende do Pai das Luzes (Tg 1: 17).

    por isso que invocando Jesus, Luz do Pai, atravs do Qual

    temos acesso ao Pai, princpio de toda a Luz, elevemos nossos

    olhos tanto quanto pudermos at as iluminaes provenientes

    das Sagradas Escrituras e iniciemos na medida das nossas foras,

    no conhecimento da hierarquia das inteligncias celestes tal

    como nos revelam as prprias Escrituras: (O Verbo) era a Luz

    verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este

    mundo (Jo 1:9).

    Os santos que primitivamente regularam os nossos ritos

    religiosos, organizaram a nossa hierarquia sagrada segundo o

    modelo das hierarquias celestes. Essas hierarquias encontram-

    se revestidas na sua descrio de uma variedade de figuras e

    formas materiais para que elevemos a nossa compreenso de

    forma analgica desses smbolos, s realidades espirituais, das

    quais esses smbolos so apenas imagens.

    De fato, para ns impossvel a contemplao das hierarquias

    celestes sem utilizarmos meios materiais adequados a nossa

    natureza para nos guiarmos nessa contemplao. A beleza

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    manifesta-se na harmonia das figuras, os aromas agradveis

    representam a iluminao intelectual, a luz material

    representa a efuso de luz imaterial e a recepo da Santa

    Eucaristia manifesta a participao em Jesus.

    A nossa prpria hierarquia imita a hierarquia celeste o tanto

    quanto possvel enquanto instituio humana, a fim de que ela

    entre em colegialidade com o sacerdcio anglico.

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    Captulo II

    necessrio que elevemos a nossa compreenso a partir das

    alegorias com as quais as inteligncias celestes nos so

    representadas nas Sagradas Escrituras, a fim de no deduzirmos

    como pensaria qualquer pessoa desprevenida, que as

    inteligncias celestes tm vrios ps e vrios rostos, que elas se

    assemelham ao gado como os bois, que apresentam o aspectoselvagem do leo, o bico curvo da guia, ou ainda, que

    possuem asas e penas como as aves. No devemos imagin-las

    como rodas inflamadas girando no cu, como guerreiros a

    cavalos armados de lanas, nem sob outras formas que as

    Sagradas Escrituras nos transmitem atravs de uma variedade

    de smbolos reveladores.

    Se os telogos aplicaram essa imaginao potica s

    inteligncias celestes foi porque tiveram em conta o carter

    humano da nossa inteligncia, a fim de nos proporcionarem

    um meio de elevao espiritual adaptado a nossa natureza.

    Se aceitarmos essas alegorias como figuraes de realidades que

    no podemos conhecer nem contemplar, julgaremos que as

    imagens usadas pelas Sagradas Escrituras para representar as

    inteligncias celestes so inadequadas ao seu objetivo, que os

    nomes atribudos aos anjos no correspondem seno muito

    parcialmente s realidades que sugerem. Contrapomos, que

    para materializar os anjos os telogos deveriam ter utilizado

    imagens tanto quanto possvel adequadas ao seu objeto,

    utilizando substncias que consideramos como sendo as mais

    nobres, ao invs de ligar essas realidades uma multiplicidade

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    de figuras retiradas do que poderia ser considerado como

    pertencendo s mais baixas realidades terrestres. Assim, a

    alegoria seria mais rica de ensinamentos espirituais e no nos

    arriscaramos a ofender a dignidade das potncias divinas. Com

    efeito, no seramos levados a imaginar que o cu est cheio de

    rebanhos de lees, manadas de cavalos, bandos de pssaros e de

    outros animais com essas alegorias inadequadas?

    Mas se procurarmos a verdade estar claro para ns, que os

    autores Sagrados tiveram o cuidado providencial de

    simultaneamente dar expresso contida a tudo isso que os

    nossos contraditores consideram um ultraje s potncias

    divinas e nos pouparo dos riscos de uma ligao excessiva a

    tudo que tais smbolos podem ter de baixo e vulgar.

    Se necessrio dar figura ao desfigurado, dar forma ao que est

    sem forma, no somente porque somos incapazes de

    contemplar diretamente essas realidades, mas porque convm

    s passagens msticas das Sagradas Escrituras ocultar sob a

    forma de enigmas, a santa e misteriosa unidade dessas

    inteligncias que no pertencem a esse mundo. Porque nem

    todos so santos e como dizem as Sagradas Escrituras: Mas

    nem em todos h a cincia (1Co 8:7).

    Quanto ao carter inadequado das imagens escritursticas,

    necessrio responder a essa objeo afirmando que a revelao

    do sagrado se faz de dois modos: o primeiro modo procede por

    imagens adequadas ao seu objeto; o segundo modo pelo

    contrrio passa pela inadequao das imagens que modela

    levada at extrema inacreditibilidade, at o absurdo. por isso

    que as Sagradas Escrituras se referem a Trindade sobreessencial

    com os nomes de Razo, Inteligncia e Essncia, manifestando

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    assim o que convm atribuir a Deus de racionalidade e

    sabedoria: designando-A como Substncia que subsiste por si

    prpria, como causa verdadeira da existncia de todos os seres,

    ou ainda, como Luz e Vida.

    Essas designaes so seguramente mais santas e parecem de

    algum modo superiores s imagens materiais. Mas na realidade

    elas so menos deficientes que as outras se se pretender

    significar toda a Verdade da prpria Divindade que est para l

    de toda a essncia e de toda a vida e que no se caracteriza por

    nenhuma luz, da qual nenhuma razo e nenhuma inteligncia

    pode dar uma imagem autntica.

    por isso que tambm acontece de celebrar-se nas mesmas

    Escrituras a Trindade, representando-A de um modo que no

    desse mundo, por imagens que no se Lhe assemelham de

    modo algum. Elas descrevem-Na como invisvel, ilimitada e

    incompreensvel, no procurando significar o que Ela , mas o

    que Ela no .

    A meu ver, essa segunda maneira de celebrar a Santssima

    Trindade Lhes convm melhor, porque seguindo a tradio

    sagrada ns temos razo em dizer que Ela no nada do que

    so os outros seres, e ns ignoramos essa indefinvel

    Sobreessncia que no se pode pensar nem dizer.

    Assim, as negaes so verdadeiras no que concerne aos

    mistrios divinos, enquanto que toda afirmao pela positiva

    permanece inadequada. Convm mais ao carter secreto

    dAquele que permanece em si prprio incomum, no revelar

    o invisvel a no ser atravs de imagens sem semelhana com o

    seu objeto.

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    Portanto, longe de humilhar as legies celestes as alegorias

    honram-nas, porque mostram at que ponto essas legies que

    no pertencem a este mundo excluem toda a materialidade.

    A utilizao de figuras sagradas de natureza mais elevada nos

    induziria mais facilmente a erros, porque elas nos levariam a

    imaginar as essncias celestes como figuras de ouro, ou como

    seres luminosos lanando raios, ou como seres de bela estatura

    revestidos de suntuosas vestes repletas de esplendor, ou sob

    todas as outras formas do mesmo gnero de que a teologia fez

    uso para representar as inteligncias celestes: O que falava

    comigo tinha uma cana de ouro de medir, para medir a cidade,

    as suas portas e o muro (Apoc 21:15).

    Como estivessem olhando para o cu, quando Ele ia subindo,

    eis que se apresentaram junto deles dois personagens vestidos

    de branco (At 1:10). E, fixando Nele os olhos todos os que

    estavam sentados no conselho, viram o Seu rosto como o rosto

    de um anjo (At 6:15). Passados quarenta anos, apareceu-lhe

    no deserto do Monte Sinai um anjo na chama de uma sara

    que ardia (At 7:30). Porque um anjo do Senhor desceu do

    Cu, e, aproximando-se, revolveu a pedra e sentou sobre ela. O

    seu aspecto era como um relmpago. A sua veste branca como

    a neve (Mt 28:2-3).

    No importa qual imagem possa servir de ponto de partida

    para a bela contemplao, o que importa que possamos nos

    apoiar em figuraes materiais para aplicar a esses seres que so

    inteligveis e inteligentes as metforas sem semelhana com o

    objeto do qual falamos atrs, na condio de nunca

    esquecermos a grande diferena existente entre o

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    comportamento dos seres inteligentes e o comportamento dos

    seres sensveis (esses so privados de razo).

    As alegorias sagradas so usadas pelos telogos no somente

    para revelarem as ordens celestes, mas tambm para

    manifestarem os mistrios de Deus. Ainda que se refiram a Ele

    fazendo apelo s mais belas imagens como: Sol de Justia;

    Estrela da Manh (Apoc 22:16; Nm 24:17; 2Pdr 1:19), Luz

    Radiante (Jo 1:5) e apelo a smbolos de nvel mediano como:

    Fogo que queima sem consumir (x 3:2), gua que conduz

    plenitude da vida e de metforas vulgares quando se fala por

    exemplo de Ungento suave; Pedra Angular (Ef 2:20), mesmo

    assim as Sagradas Escrituras fazem ainda uso de figuras animais

    quando atribui a Deus qualidades do leo e da pantera ou

    quando apresenta-O como um leopardo ou como um urso

    que perdeu os seus filhos (Os 13:7).

    Finalmente, o apelo metfora mais indigna de todas e que

    parece ser a mais inadequada: com efeito, no foi sob a forma

    de um vaso de terra que os admirveis intrpretes dos

    ministrios divinos nos representaram?

    Por tudo isso, vemos que nada h de absurdo, quando os

    telogos representam igualmente as essncias celestes por

    imagens inadequadas que no apresentam nenhuma

    semelhana com o seu modelo original. Talvez no tivssemos

    procurado a interpretao espiritual minuciosa dessas santas

    realidades, se no tivssemos perturbados pelo carter disforme

    das imagens que nas Sagradas Escrituras representam os anjos.

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    Captulo III

    Hierarquia uma santa ordem, um saber e uma ao to

    prxima quanto possvel da forma divina elevada imitao de

    Deus na medida das iluminaes divinas. Na sua simplicidade,

    na sua bondade, na sua perfeio fundamental, na perfeio

    que convm a Deus, comunica a cada ser segundo o seu mrito

    uma parte da sua prpria luz. Ela o aperfeioa atravs dainiciao divina, revestido da sua prpria forma, de modo

    harmonioso e estvel queles que ela aperfeioou.

    A finalidade da hierarquia consiste em conferir s criaturas

    tanto quanto possvel a semelhana divina para un-las a Deus.

    Deus para a hierarquia, com efeito, o mestre de todo o

    conhecimento e de toda a ao. Ela no cessa de contemplar a

    Sua divina bondade e dos seus seguidores ela faz imagens

    perfeitas de Deus. Tendo recebido a plenitude do Seu

    esplendor elas so capazes, seguindo os preceitos da Trindade,

    de transmitir essa luz at mesmo aos seres que lhe so

    hierarquicamente inferiores.

    Assim, quando se fala de hierarquia, se entende por isso uma

    certa ordenao perfeitamente santa, imagem do esplendor

    divino, tendendo tanto quanto possvel e sem sacrilgio

    assemelhar-se quele que o seu prprio princpio. Para cada

    um dos membros da hierarquia a perfeio consiste em imitar a

    Deus o melhor que puder, tornando-se cooperadores Dele.

    Efetivamente, ns somos cooperadores de Deus (1Cor 3:9).

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    Se, por exemplo, a ordem hierrquica impe a uns a funo de

    receber a purificao e a outros a de purificar; a uns a de

    receber a iluminao e a outros a de iluminar; a uns a de

    receber o aperfeioamento e a outros a de aperfeioar; cada um

    imitar a Deus segundo o modo que convm a sua prpria

    funo.

    Convm, que os purificados se libertem de toda a impureza e

    de toda a dissemelhana; que os iluminados recebam a

    plenitude da luz divina e que elevem a sua inteligncia at

    atingirem a capacidade de contemplar; que os perfeitos

    tenham abandonado toda a imperfeio e tomem parte da

    perfeio dos iniciados; e que os iluminadores, com

    inteligncias mais transparentes que as outras, difundam essa

    luz por todos os lados e por todos aqueles que forem dignos

    dela.

    Assim, cada escalo da ordem hierrquica na medida de suas

    foras eleva-se para a cooperao divina e ao seu redor cada um

    revela essa cooperao s inteligncias que amam a Deus,

    cumprindo na virtude e sob a ao da Graa o que a prpria

    Divindade cumpre graas ao Seu carter sobreessencial.

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    Captulo IV

    Antes de mais nada, queremos afirmar em primeiro lugar que

    foi por bondade que a Divindade criou essa ordem hierarquia,

    porque Lhe pertence esse Bem totalmente transcendente a

    chamar todos os seres para entrarem em comunho com Ela

    na medida da capacidade de cada um. por isso que tudo que

    existe tem alguma relao com a Divindade, a Causa Universal,porque sem a participao nEla que a essncia e o princpio

    de todo o ser, nada existiria.

    , portanto, a esses seres que recebem de forma inicial e

    mltipla a participao divina e que revelam ao seu redor de

    modo original e mltiplo o mistrio da Divindade, que

    atribudo de forma louvvel e sublime o ttulo de seres

    anglicos pois eles receberam em primeiro lugar a

    iluminao e por intermdio deles que nos so transmitidas

    essas revelaes que ultrapassam a todos ns. Como ensina a

    teologia, a Lei nos foi transmitida pelos anjos.

    Para que ento a Lei? Foi acrescentada por causa das

    transgresses, at que viesse a descendncia, a quem tinha sido

    feita a promessa, e foi promulgada pelos anjos na mo de um

    mediador (Gl 3:19).

    Foram os anjos que guiaram os nossos venerveis antepassadosem direo s realidades divinas; tanto nos tempos que

    precederam a Lei, como no tempo da Lei; tanto na prescrio a

    eles de regras de conduta desviando-os de uma vida repleta de

    erros e de pecados, assim como na revelao da interpretao

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    da santa hierarquia e das vises secretas dos mistrios que no

    so deste mundo; como tambm ainda na revelao das

    profecias divinas.

    Vs, que recebestes a Lei por ministrio dos anjos e no a

    guardastes (At 7:53). Este viu claramente numa viso, cerca

    da hora de Noa, que um anjo de Deus se apresentava diante

    dele e lhe dizia: Cornlio (At 10:3).

    Se argumentar-se que Deus manifestou-Se sem intermediriosa algum santo, que se saiba que nunca ningum O viu e nem

    jamais O ver, porque essa verdade provem claramente das

    Sagradas Escrituras e a prpria substncia de Deus naquilo

    que tem de mais secreto.

    Ningum jamais viu a Deus; o Unignito, que est no seio do

    Pai, Ele mesmo que O deu a conhecer (Jo 1:18). Que o

    nico que possui a imortalidade e que habita numa Luz

    inacessvel, O qual no foi nem pode ser visto por nenhum

    homem, ao qual seja dada honra e imprio sempiterno.

    Amm (1Tim 6:16).

    Seguramente, Deus apareceu a certos homens piedosos

    segundo o modo que convinha a Sua divindade, revelando-Se

    por vises adaptadas medida dos visionrios. A santa teologiatem razo ao chamar viso divina Teofania a essa espcie

    de apario, na qual se reflete a semelhana divina segundo o

    modo que convm figurao do infigurvel, isto , elevando

    espiritualmente os visionrios para as realidades divinas. Com

    efeito, atravs dessa viso os visionrios recebem a plenitude da

    iluminao divina e uma certa iniciao sagrada em relao aos

    mistrios de Deus. Os nossos ilustres antepassados no foram

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    iniciados atravs dessas vises, seno por intermdio das

    potncias celestes.

    H de se cogitar, que a tradio escriturstica afirma que os

    mandamentos da Lei foram transmitidos diretamente por

    Deus a Moiss. Certamente! Mas se as Sagradas Escrituras assim

    se exprimem para que no ignoremos que essas prescries

    so a prpria imagem da Lei divina e sagrada. A teologia ensina

    sabiamente que essas prescries vieram at ns por

    intermdio dos anjos, para que a ordem instituda pelo Divino

    Legislador nos ensine que por intermdio de seres

    hierarquicamente superiores que se elevam espiritualmente

    para o Divino aqueles que Lhe so inferiores.

    Porque, se a palavra anunciada pelos anjos ficou firme, e toda

    a prevaricao e desobedincia recebeu a justa retribuio que

    merecia (Hebr 2:2).

    Mesmo ao que concerne ao mistrio divino do amor de Jesus

    pelos homens foram os anjos que em primeiro lugar

    receberam a iniciao. E foi por intermdio deles que esse

    conhecimento desceu at ns.

    Foi assim que o divino Gabriel ensinou ao grande sacerdote

    Zacarias que o filho que iria ter contra toda a sua esperana,

    mas pela graa de Deus, seria o profeta da obra divino-humana,

    atravs do qual Jesus operaria para bem do mundo e para a sua

    salvao.

    Igualmente o arcanjo Gabriel ensinou Santssima Virgem

    Maria que nela se cumpriria o mistrio da Encarnao. Um

    outro anjo instruiu Jos sobre a verdade dos acontecimentos e

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    sobre o cumprimento das promessas divinas feitas a Davi. Foi

    um anjo que difundiu a boa nova aos pastores, que eram de

    algum modo homens purificados pela vida tranqila que

    levavam e afastados das multides, ao mesmo tempo que os

    exrcitos celestes transmitiam a toda a terra o clebre cntico

    de glorificao Glria a Deus nas alturas, paz na terra aos

    homens a quem Ele ama.

    Por intermdio dos anjos Jos foi avisado que ele deveria partir

    para o Egito e assim novamente quando de seu regresso a

    Judia. No falou tambm Jesus a ns como um mensageiro

    quando Ele nos comunicava a vontade do Pai?

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    Captulo V

    Importa agora procurar a razo pela qual os telogos chamam

    anjos a todas as essncias celestes indistintamente, enquanto

    reservam o termo anglico mais propriamente ordem mais

    baixa que subordinada s legies dos Arcanjos, dos

    Principados, das Potestades, das Dominaes, essncias das

    quais a tradio revela e as Escrituras reconhecem comosuperiores.

    Ora, ns afirmamos que em toda a ordenao sagrada as

    ordens superiores possuem todas as iluminaes das ordens

    inferiores, sem que essas ltimas participem nos privilgios das

    que lhe so superiores. por isso que os telogos chamam de

    anjos os escales mais altos e mais santos das essncias celestes,

    porque eles so reveladores da iluminao divina.

    Quando fazemos referncias ordem inferior no seria

    adequado designar os seus membros de Principados, Tronos ou

    Serafins, porque eles no participam de modo algum das

    capacidades das essncias celestes que possuem um nvel

    superior. O que podemos afirmar que se todos os anjos

    recebem um nome comum isto se sucede tambm pelo fato

    das potncias celestes possurem em comum o poder de

    permanecerem em harmonia com Deus e de entrarem em

    comunho com a luz que vem de Deus.

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    Captulo VI

    Quais e quantas so as ordens desses seres que vivem no Cu?

    Como que cada hierarquia recebe a sua consagrao ou o seu

    aperfeioamento? Afirmo que apenas o Princpio Divino

    poderia responder exatamente a essas questes. Mas os seres

    anglicos no ignoram nem as qualidades que lhes so

    prprias, nem a hierarquia sagrada que os rege e que nopertence a este mundo.

    impossvel conhecermos os segredos das inteligncias que

    vivem no cu, a menos que Deus nos revele por intermdio

    dessas mesmas inteligncias, as quais no ignoram a sua prpria

    natureza. Portanto, no faremos nada de nossa prpria autoria

    e nos contentaremos em expor na medida dos nossos

    conhecimentos essas vises anglicas, tal como os santos

    telogos as contemplam e tal como eles a ns revelaram.

    Os seres anglicos dividem-se em trs ordens e possuem nove

    nomes.

    A primeira ordem rodeia a Deus de modo permanente e est

    unida a Ele constantemente. Ela est em primeiro lugar e no

    possui qualquer mediao: so os Tronos santssimos e os

    batalhes notveis por seus nmeros de olhos e de asas que

    recebem os nomes de Querubins e Serafins. Eles tm umaproximidade de Deus superior a todos os outros. Essa ordem de

    trs batalhes formam uma s e constitui a primeira hierarquia

    de nvel igual.

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    A segunda ordem compe-se de Virtudes, Dominaes e

    Potestades constituindo a segunda hierarquia.

    A terceira ordem constitui a ltima hierarquia celeste. a

    ordem dos Anjos, Arcanjos e Principados.

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    Captulo VII

    Todos os nomes atribudos s inteligncias celestes designam

    capacidades para eles receberem a semelhana divina.

    Querubim em hebraico significa aquele que arde. Significa

    tambm massa de conhecimento e efuso de sabedoria.

    A primeira hierarquia a mais sublime de todas e graas a sua

    proximidade com Deus recebe primeiro que as outras as

    aparies Dele e os seus nomes revelam o modo como se ligam

    a Ele.

    Os Serafins tm como qualidades especiais o movimento

    perptuo em torno dos segredos divinos, o calor, a

    profundidade, o ardor dum constante movimento que no

    conhece diminuio, o poder de elevarem eficazmente as suassemelhanas aos que lhes so inferiores, comunicando-lhes o

    mesmo ardor a mesma chama e o mesmo calor. Eles tm o

    poder de purificarem a evidente e indestrutvel aptido para

    conservarem a sua prpria luz, o seu poder de iluminao e a

    faculdade de abolirem todas as trevas.

    Os Querubins designam aptides a conhecerem e a

    contemplarem a Deus, a receberem os mais altos dons da Sua

    Luz, a contemplarem na sua potncia primordial o esplendordivino, a acolherem em si a plenitude dos dons que

    transmitem sabedoria e a comunic-los em seguida s essncias

    inferiores graas a expanso da prpria sabedoria que lhes foi

    transmitida.

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    Os Tronos, sublimes e luminosos, indicam a ausncia total de

    qualquer concesso aos bens inferiores e a tendncia contnua

    para os cumes, que sublinha bem o fato de eles nada terem em

    comum com o que lhes est abaixo.

    Eles indicam a sua infalvel averso a toda indignidade, a

    grande concentrao de toda a sua capacidade para se

    manterem constante e firmemente perto do Altssimo, a

    capacidade de receberem indiferentemente todas as visitaes

    da Divindade, o privilgio que tm de servirem de assento a

    Deus e o seus zelos em se abrirem aos dons de Deus.

    Essa a explicao de seus nomes na medida do que nos

    possvel revelar aos homens.

    Resta-nos dizer o que entendemos pela suas hierarquias. Que o

    objetivo de toda hierarquia imitar constantemente a Deus;

    que toda a funo hierrquica consiste em acolher e transmitir

    a pureza sem mistura da luz divina e da sabedoria, como j o

    dissemos.

    Agora proponho-me a mostrar o que as Escrituras revelam das

    suas hierarquias.

    Esses seres anglicos constituem uma s hierarquia

    inteiramente homognea. Devemos pensar que eles so puros

    no apenas por estarem livres de todo o pecado e de tudo o que

    profano, mas porque eles ignoram toda a imaginaomaterial; porque esto acima de toda a fraqueza; porque a sua

    sublime pureza ultrapassa a de quaisquer outras inteligncias

    anglicas; porque conservam sem qualquer perda ou

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    corrupo a estabilidade perptua do poder que possuem de

    estarem em harmonia com Deus.

    Eles so igualmente contemplativos. No porque contemplem

    intelectualmente smbolos nem porque se elevem

    espiritualmente atravs de santas alegorias, mas porque

    recebem em toda a plenitude o saber de uma Luz superior

    atravs da contemplao desse Ser Sobreessencial e triplamente

    luminoso, que est na origem e no princpio de toda a beleza.

    Eles tm igualmente o mrito de entrarem em comunho com

    Jesus atravs de uma verdadeira proximidade, pois tomam

    parte no conhecimento de Suas operaes divinas, uma vez

    que lhes foi dada no mais alto grau a capacidade de imitarem a

    Deus. Eles entram em contato tanto quanto lhes possvel

    com as virtudes, pelas quais Ele exerce a Sua ao divina face

    aos homens e manifesta o Seu amor por eles.

    Eles so perfeitos no pela iluminao de uma sabedoria que

    lhes permitiria analisar a variedade dos santos mistrios, mas

    pela plenitude duma deificao, pela cincia superior que

    possuem na qualidade de mensageiros das operaes divinas.

    diretamente de Deus que eles recebem a iniciao sagrada e

    graas a esse poder de se elevarem diretamente at Deus, que

    eles devem a superioridade sobre todos os outros seres.

    Os telogos mostram claramente que as ordens inferiores das

    essncias celestes aprendem de seus superiores tudo o que lhes

    concernem s operaes divinas, enquanto que a ordem mais

    elevada iniciada por Deus. Eles nos revelam, que certos anjos

    so iniciados por aqueles que possuem um nvel mais elevado

    que o seu e que aprendem atravs desses, que Deus o Senhor

    das potncias celestes, o Rei da Glria, que sob a forma

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    humana subiu aos cus. Outros recebem de Jesus Cristo a sua

    iniciao sem intermedirios, recebendo dEle antes de todos os

    outros a revelao da obra redentora que Ele levou a cabo por

    amor aos homens.

    Eu sou (responder Ele) O que falo a justia, e venho para

    defender e salvar (Is 63:1).

    Assim , tanto quanto eu posso conhecer, essa primeira ordem

    das essncias celestes, aquela que rodeia a Deus e que se situana Sua vizinhana, aquela que envolve o Seu perptuo

    conhecimento. Ela pode no somente contemplar, mas ainda

    receber iluminaes e sustentar-se do man divino.

    Digna ao mais alto nvel, de entrar em comunho e em

    cooperao com Deus, essa primeira ordem assemelha-se tanto

    quanto pode bondade dos poderes e das operaes prprias a

    Deus.

    por isso que a teologia nos transmite os hinos que cantam

    esses anjos, onde se manifesta o carter transcendente da sua

    sublime iluminao. Se ousarmos utilizar uma imagem

    terrena, eles se assemelham voz de uma torrente

    tempestuosa quando gritam: Bendita seja a glria do Senhor,

    que se vai do seu lugar (Ez 3:12). Outros anjos entoam o hino

    clebre e venervel: Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus dos

    exrcitos, toda a terra est cheia da Sua glria (Is 6:3).

    Nessa primeira ordem das essncias celestes esto os lugares

    divinos, onde segundo a expresso das Sagradas Escrituras a

    Divindade repousa. Essa ordem ensina tambm aos outros

    anjos que a Divindade una. Una em Trs Pessoas e que Ela

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    exerce a sua Providncia benfeitora desde as essncias que

    vivem no cu at as mais baixas criaturas terrenas, pois Ela o

    Princpio e a Causa de toda a essncia e Ela que envolve o

    universo inteiro de modo sobreessencial num abrao

    irresistvel.

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    Captulo VIII

    Abordaremos agora a segunda ordem das inteligncias celestes

    iniciando-nos no conhecimento das Dominaes, Virtudes e

    Potestades.

    Cada uma dessas denominaes revela a forma prpria de cada

    inteligncia anglica de imitar e se configurar a Deus.

    O nome das santas Dominaes significa a elevao espiritual

    livre de qualquer compromisso terreno tal como convm a

    uma entidade incorruptvel e verdadeiramente livre, tendendo

    com um firme vigor para o verdadeiro princpio de toda a

    Dominao, recebendo ela e os seus subordinados medida das

    suas foras a semelhana do Senhor e participando do princpio

    constante e divino de toda a Dominao.

    No que concerne s santas Potestades o seu nome indica uma

    certa vigorosidade corajosa em todos os atos pelos quais se

    configuram a Deus. Uma vigorosidade que exclui qualquer

    enfraquecimento de foras no recebimento das iluminaes

    divinas que lhe outorgada; uma vigorosidade que se eleva

    corajosamente at a imitao de Deus e que no abandona a

    ascenso forma divina e cujo olhar permanece rigidamente

    direcionado para a fonte de toda a potestade Sobreessencial.

    Porque essa vigorosidade torna-se imagem da potestade, daqual ela assume a forma, ligando-se a ela com todas as suas

    foras para fazer descer sobre as essncias inferiores o seu

    processo dinmico e deificante.

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    O nome das Virtudes indica que ela tem o nvel igual das

    Dominaes e Potestades. Ela disposta harmonicamente e

    sem confuso para receber os dons divinos. Ela indica ainda

    que o poder intelectual que lhe pertence perfeitamente

    ordenado e que longe de abusar do seu poder ela se eleva

    harmoniosamente para as realidades divinas, conduzindo na

    sua bondade as essncias inferiores e imitando tanto quanto

    pode a virtude fundamental, que a fonte de toda a virtude

    sem deixar de difund-la na medida de sua capacidade.

    Eis como a segunda hierarquia das inteligncias celestes

    manifesta a sua identidade com Deus. assim que ela se

    purifica, se ilumina e se aperfeioa graas s iluminaes

    divinas que lhe so transmitidas pelos membros da primeira

    ordem hierrquica.

    Essa tradio, que se transmite regularmente de anjo a anjo,

    simbolizar a ns essa perfeio que vinda de longe, se

    confunde descendo progressivamente do primeiro ao segundo

    nvel. Do mesmo modo, as evidentes perfeies das realidades

    divinas so mais perfeitas que as participaes nas vises divinas

    que se fazem atravs de intermedirios. Assim parece-me que a

    participao imediata das ordens anglicas que mais se

    aproximam de Deus mais clara que a dos anjos cuja iniciao

    mediata. por isso que segundo os termos consagrados pela

    nossa traduo as primeiras inteligncias iluminam e purificam

    as que tm um nvel (hierrquico) inferior, de modo que essasltimas elevadas por intermdio da primeira at o princpio

    Universal e Sobreessencial tomem parte tanto quanto lhes

    possvel nas iluminaes e nos aperfeioamentos operados por

    Aquele, que o princpio de toda a perfeio.

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    A Lei Universal, pela qual as essncias celestes da segunda

    ordem participam por intermdio das de primeira ordem nas

    iluminaes divinas, instituda pelo Princpio Divino.

    Deus no Seu amor paternal pelos homens depois de ter

    corrigido Israel para convert-lo e reconduz-lo ao caminho da

    salvao, livrou-o em primeiro lugar da barbrie vingativa das

    naes, a fim de assegurar o aperfeioamento aos homens

    submetidos a Sua providncia e praticou em seguida o ato de

    libert-lo de seu cativeiro e de devolv-lo a sua antiga

    felicidade. Como diz as Sagradas Escrituras segundo a viso de

    um de seus telogos Zacarias (Zac 1:8-17), parece ter sido um

    anjo da primeira ordem, daqueles que vivem junto de Deus,

    que recebeu do prprio Deus as palavras consoladoras. Foi

    enviado ao encontro do primeiro um outro anjo pertencente

    aos nveis inferiores para receber e transmitir a iluminao e

    que uma vez iniciado na vontade divina, confiou ao telogo a

    santa nova de que Jerusalm refloresceria e que multides dehomens a repovoariam.

    Um outro telogo Ezequiel declara que essa lei foi santamente

    instituda por Deus e que na Sua glria mais elevada do que

    qualquer outra, Ele comanda os Querubins.

    Estes so os mesmos animais que eu vi debaixo do Deus de

    Israel, junto do rio Cobar; e conheci que eram Querubins (Ez

    10:20).

    Deus no Seu amor paternal pelos homens e querendo punir

    Israel para os ensinar ordenou por um ato de justia que os

    inocentes fossem separados dos responsveis. o primeiro dos

    Querubins que segundo o texto sagrado recebe a santa ordem e

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    se reveste de um manto que ca at os ps como smbolo da sua

    funo sagrada. Em seguida, somente o Princpio Divino de

    toda a ordem prescreve ao primeiro dos anjos que o segredo da

    deciso divina seja transmitido queles anjos que usam armas

    destruidoras. Lhe ordenado ainda que atravesse toda a cidade

    de Jerusalm e marque os inocentes nas suas frontes. Aos

    outros anjos Ele ordena: Passai pelo meio da cidade, seguindo-

    o, e feri: no sejam compassivos os vossos olhos, nem tenhais

    compaixo alguma. O velho, o jovem e a donzela, o menino e

    as mulheres, matai todos, sem que nenhum escape; mas no

    mateis nenhum daqueles sobre quem virdes o tau; comeai

    pelo Meu santurio. Comearam, pois pelos ancios que

    estavam diante da casa do Senhor (Ez 9:5-6).

    E que dizer ainda daquele anjo que anunciou a Daniel: Desde

    o princpio das tuas preces, foi dada esta ordem, e eu vim para

    ta descobrir, porque tu s um varo de desejos; toma, pois, bem

    sentido no que vou dizer-te e compreende a viso (Dan 9:23).

    Ou daquele que recebe o fogo do meio dos Querubins: E (o

    Senhor) falou ao homem que estava vestido de roupas de

    linho, dizendo: Vai ao meio das rodas que esto debaixo dos

    Querubins, enche a tua mo de carves ardentes, que esto

    entre os Querubins, e espalha-os sobre a cidade (Ez 10:2).

    E ainda daquele que demonstra mais claramente a boa ordem

    que preside aos anjos: o Querubim que toma o fogo e o pe nas

    mos daquele que estava vestido de roupas de linho (Ez 10:6-7).

    Que dizer igualmente daquele que chamou o divino Gabriel e

    lhe disse: Ouvi a voz dum homem no meio de Ulai, o qual

    gritou e disse: Gabriel, explica-lhe esta viso (Dan 8:16).

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    Ou que dizer enfim de todos os outros exemplos fornecidos

    pelos santos telogos?

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    Captulo IX

    Falta-me contemplar a terceira ordem que termina a

    hierarquia anglica e que se compe de Principados, Arcanjos e

    Anjos. Creio que em primeiro lugar preciso explicar o

    sentido desses nomes sagrados.

    O nome dos Principados celestes significa que eles possuem naordem sagrada um princpio e uma hegemonia de forma

    divina; que eles possuem das potncias de comando da mais

    alta convenincia o poder de se converterem inteiramente ao

    Princpio que est acima de todo o princpio e de conduzirem

    os outros para eles com uma autoridade primordial e de

    revelarem o Princpio Sobreessencial de toda a ordem pela

    harmonia do seu comando.

    Os Santos Arcanjos tm o mesmo nvel que os Principadoscelestes e formam uma nica hierarquia juntamente com os

    Anjos.

    A ordem dos Arcanjos, graas ao seu lugar intermedirio na

    hierarquia, participa nos dois extremos uma vez que ela entra

    em comunho com os Principados e com os Anjos. Em um dos

    extremos ela participa no sentido de sua converso ao Princpio

    Sobreessencial e lhe confere a unidade graas aos poderes

    invisveis da harmonizao; no outro extremo ela participa nosentido de tambm pertencer ao nvel dos intrpretes,

    recebendo hierarquicamente a iluminao por intermdio das

    potncias do primeiro nvel transmitida aos Anjos e por

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    intermdio desses transmitida a ns na medida em que cada

    um possa receb-la atravs dos segredos divinos.

    Como j dissemos, os Anjos terminam e completam a regra

    das inteligncias celestes, porque so eles que possuem entre

    elas o mais baixo grau da qualidade anglica e se ns os

    designamos por anjos precisamente porque por seu

    intermdio se manifesta a sua hierarquia mais claramente aos

    nossos olhos.

    A ordem superior (Tronos, Querubins e Serafins) mais

    prxima pela sua dignidade do Santurio Secreto inicia

    misteriosamente a segunda ordem, aquela que se compe das

    Dominaes, Potestades e Virtudes, que por outro lado

    comanda os Principados, Arcanjos e Anjos. A segunda ordem

    revela os mistrios menos secretamente que a primeira ordem

    mas menos abertamente que a ltima. A funo reveladora

    pertence ordem dos Principados, Arcanjos e Anjos. ela que

    atravs dos graus da sua prpria ordenao preside as

    hierarquias humanas, a fim de que se produzam de modo

    ordenado a elevao para Deus, a converso, a comunho, a

    unio e ao mesmo tempo o movimento que provem de Deus

    que gratifica liberalmente todas as hierarquias e dons e as

    ilumina, fazendo com que essas hierarquias humanas entrem

    em comunho com essa funo reveladora. Da resulta, que a

    teologia reserva aos Anjos o cuidado pela nossa hierarquia

    chamando a Miguel o arconte (magistrado da Grcia antiga)do povo judeu e aos outros anjos arcontes de outras naes,

    porque: Quando o Altssimo dividiu as naes, quando

    separou os filhos de Ado, fixou os limites dos povos segundo

    os nmeros dos filhos de Israel (Dt 32:8) (verso dos 70).

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    Se nos perguntarmos como que apenas o povo judeu foi

    elevado s iluminaes de origem divina? necessrio dizer que

    os anjos preencheram de justia a sua funo de vigilncia e

    no culpa deles se outras naes se envolveram no culto de

    falsos deuses. Foram essas naes, com efeito, que pelos seus

    prprios movimentos abandonaram a via da ascenso

    espiritual para o divino. Foi medida do seu orgulho e da sua

    presuno que elas veneraram os dolos que lhes pareciam

    divinos. O povo hebreu testemunha propriamente essa

    verdade, pois a ele sucedeu-se o mesmo acidente. Porque as

    Sagradas Escrituras dizem: O meu povo calou-se, porque no

    teve cincia. Porque tu ( sacerdote) rejeitaste a cincia,

    tambm Eu te rejeitarei a ti (Os 4:6).

    Nem a nossa vida necessariamente determinada, nem a

    liberdade dos seres submetidos Providncia das luzes divinas

    priva essas luzes do seu poder de iluminao providencial. Mas

    a suficiente assimilao das vises e da sabedoria que porelas transmitida que impede toda a participao nos dons

    luminosos da bondade paternal e constitui obstculo a sua

    difuso, na medida em que torna as comunicaes desiguais,

    pequenas ou grandes, obscuras ou claras, enquanto que a

    Fonte Radiante permanece nica e simples sempre idntica a si

    prpria e superabundante. assim mesmo entre as outras

    naes, naes das quais ns nos elevamos para o oceano

    indefinido e generoso dessa Luz Divina, que difunde os Seus

    dons sobre todos os seres. para o nico Princpio Universalque os anjos encarregados de cuidar de cada nao elevaram

    todos aqueles que os quiseram seguir.

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    Lembremo-nos de Melquisedec que teve em si prprio um

    grande amor a Deus, do Deus Altssimo e Verdadeiro. Os

    conhecedores da Sabedoria Divina no se contentaram em

    cham-lo de amigo de Deus, mas chamaram-no de Sacerdote

    para indicar claramente aos homens sensatos que o seu papel

    no foi somente o de converter-se ao culto do verdadeiro

    Deus, mas ainda enquanto grande sacerdote teve a funo de

    conduzir a outros na ascenso espiritual, a qual leva nica e

    Verdadeira Divindade.

    E Melquisedec, rei de Salm, trazendo po e vinho, porque era

    sacerdote do Deus Altssimo (Gn 14:18).

    No nos esqueamos do fara que aprendeu sob a forma de

    viso de um anjo dedicado ao cuidado dos egpcios (Gn 41:1-

    7), tal como do prncipe dos Babilnios que aprendeu atravs

    do seu anjo particular; a solicitude do poder universal (Dan

    12). Ministros do verdadeiro Deus, os anjos foram institudos

    como condutores dessas naes para interpretarem as vises

    enviadas por Deus sob a forma alegrica, por intermdio de

    homens cuja santidade era prxima a dos anjos como Daniel e

    Jos; porque no Universo h um s Princpio e uma s

    Providncia. No poderamos imaginar que Deus partilhasse o

    governo do povo judeu com anjos ou falsos deuses. As

    expresses que nos poderiam fazer crer nisso, devem ser

    interpretadas segundo um sentido sagrado. Elas no significam

    que Deus tenha partilhado o governo da humanidade, mas simque neste mundo em que a Providncia universal do Altssimo

    tinha confiado para a salvao de todos os povos com anjos

    encarregados de os conduzir a Ele, foi s Israel que converteu-

    se Luz e confessou o verdadeiro Senhor. Por isso, para

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    mostrar que Israel tinha se devotado ao culto do verdadeiro

    Deus as Sagradas Escrituras exprimem-se assim: A poro,

    porm, do Senhor o Seu povo (Dt 32:9).

    Mas para mostrar que um dos anjos foi designado para a

    funo de conduzir esse povo confisso dAquele que o

    Princpio nico e Universal, a teologia relata igualmente que

    Miguel preside ao governo do povo judeu. Mas Eu te

    anuciarei o que est expresso na Escritura da Verdade; e em

    todas estas coisas ningum Me ajuda seno Miguel, que o

    vosso prncipe (Dan 10:21).

    As Sagradas Escrituras nos ensinam assim de modo claro, que

    no existe mais do que uma s Providncia para o universo

    inteiro. Providncia sobreessencialmente, transcendente a toda

    a potncia visvel ou invisvel. Na medida do possvel, todos os

    anjos dedicados a cada nao elevam para essa Providncia

    aqueles que os seguem de bom grado.

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    Captulo X

    Concluamos, portanto, que a ordem mais antiga dentre as

    inteligncias que envolvem Deus, iniciada nos mistrios pelas

    iluminaes que lhe vem do prprio Princpio de toda a

    iluminao, recebe purificao, iluminao e aperfeioamento

    graas ao Dom das iluminaes mais secretas da Divindade.

    Depois dessa e proporcionalmente a sua natureza vem a

    segunda ordem, depois a terceira e por ltimo a hierarquia

    humana. Todas as ordens se elevam hierarquicamente para o

    Princpio fundamental de toda a harmonia. Elas so

    reveladoras e mensageiras das que as precedem. Deus as

    distinguiu segundo os modos de harmoniosa deificao que

    convm em particular a cada uma. Os telogos dizem que os

    Serafins trocam mtuos clamores mostrando assim segundo

    creio e de modo claro, que os primeiros transmitem aos

    segundos conhecimentos teolgicos. Clamavam um para o

    outro e diziam: Santo, Santo, Santo o Senhor Deus dos

    exrcitos (Is 6:3).

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    Captulo XI

    Uma vez colocada essas questes convem considerar porque

    razo nos acostumamos a chamar igualmente potncias

    celestes a todas as essncias anglicas. No podemos dizer

    como o fizemos para o termo Anjo, que a ordem das Santas

    Potestades a ltima das ordens e que as essncias superiores

    participam na iluminao das ordens inferiores e que essasltimas no tomam parte na iluminao das primeiras. Tal

    explicao no justificaria a extenso do nome de potestades

    celestes a todas as inteligncias divinas dos Serafins, dos Tronos

    ou das Dominaes em virtude do princpio segundo o qual as

    ordens inferiores no participam nas propriedades das

    superiores. Restariam os Anjos e antes deles os Arcanjos, os

    Principados e as Virtudes que os telogos subordinam s

    Potestades e que recebem freqentemente na linguagem

    comum o nome de potestades ou potncias celestes ao mesmo

    ttulo que os outros anjos.

    Ao usar o nome de potestades para designar todas as essncias

    no introduzimos nenhuma confuso nas propriedades de

    cada ordem. No seio de todas as inteligncias divinas

    distinguimos com efeito trs qualidades: a essncia, a potncia e

    o ato. Se nos ocorre design-las indistintamente por essncias

    ou potncias celestes importa considerar que o fazemos por

    rodeio de palavras e no se trata de atribuir na totalidade s

    essncias subordinadas a eminente propriedade das santas

    potestades. Como j foi dito, as ordens superiores possuem as

    propriedades das inferiores, porque somente uma parte das

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    Captulo XII

    Vejamos um outro problema que colocado a quem quer que

    se envolva no estudo escriturstico minucioso: Uma vez que as

    ltimas ordens no participam inteiramente nas ordens

    superiores, porque que os grandes sacerdotes da hierarquia

    humana recebem nas Sagradas Escrituras o ttulo de anjos do

    Senhor Todo Poderoso?

    Porque os lbios dos sacerdotes sero os guardas da cincia; da

    sua boca se h de aprender a lei, porque ele o anjo do Senhor

    dos exrcitos (Ml 2:7; cf.Apoc 2:1).

    Creio que o uso desse termo no contradiz as definies dadas

    at o momento. Quando se diz que s inteligncias da terceira

    ordem falta a inteira potncia, integral e sublime que pertence

    s ordens mais antigas, entende-se que elas participam namedida de suas foras numa comunho nica e universal,

    harmoniosa e sinttica. Assim , por exemplo, que se a ordem

    dos Querubins participa numa sabedoria mais elevada, as

    legies formadas de essncias inferiores participam tambm na

    sabedoria, mas de forma mais parcial. A participao geral na

    sabedoria a caracterstica comum a todas as inteligncias que

    vivem em conformidade com Deus.

    O que no comum o carter mais ou menos imediato eprimordial dessa participao, grau que se define para cada

    essncia na medida de suas prprias capacidades. Essa verdade

    pode ser aplicada sem risco a todas as inteligncias divinas,

    porque assim como as primeiras ordens possuem as

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    propriedades de suas subordinadas, tambm as ltimas

    possuem as propriedades das suas superiores, no do mesmo

    modo, mas de modo inferior. Eu no vejo inconveniente que

    um grande sacerdote da hierarquia humana seja chamado de

    anjo pelos telogos, porque ele participa segundo a sua prpria

    capacidade no papel de intrprete dos anjos e na medida de

    suas possibilidades tende a imitar o seu poder revelador.

    Notaremos, que a teologia concede o ttulo de deuses s

    essncias celestes e chama tambm deuses aos homens que se

    distinguem pelo seu amor a Deus e pela sua santidade: Jac

    ps quele lugar o nome de Fanuel, dizendo: Eu vi a Deus face

    a face, e a minha alma foi salva (Gn 32:30). E o Senhor disse

    a Moiss: Eis que Te constitu deus do fara, e Aro, teu irmo,

    ser teu profeta (x 7:1). Eu disse: Sois deuses (Sl 81:6).

    Ora, o mistrio divino transcendente; o seu carter

    sobreessencial separa-o de todas as coisas e nenhum ser vivo

    merece em propriedade ser nomeado do mesmo modo. Toda a

    inteligncia que tende integralmente no mximo da sua

    potncia para a unio com Deus e que se eleva

    incessantemente tanto quanto pode para as iluminaes

    divinas imitando o prprio Deus, se isso se pode dizer medida

    de suas foras, ento merece bem o ttulo de divina.

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    Captulo XIII

    Prossigamos o nosso caminho e examinemos porque que se

    diz que um dos telogos recebeu a visita de um Serafim.

    Notemos que Serafim um anjo da primeira ordem, das mais

    antigas essncias celestes, o qual desce para purificar o profeta.

    Voou para mim um dos Serafins, o qual trazia na mo umabrasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz (Is 6:6).

    Alguns intrpretes respondem que em virtude da definio j

    dada aos nomes que se atribuem em comum a todas as

    inteligncias, as Sagradas Escrituras no afirmam que a

    inteligncia que desce para purificar o telogo pertence a essa

    ordem superior que se situa prxima a Deus, mas que se trata

    de um dos anjos que nos so designados a ttulo de ministro

    sagrado encarregado da purificao do profeta. Seria um dessesanjos que teria recebido por semelhana o nome de Serafim,

    em virtude da operao que realiza apagando pelo fogo os

    pecados que as Sagradas Escrituras enumeram e restabelecendo

    na obedincia de Deus aquele que tinha sido purificado. Assim,

    segundo esse estudo minucioso, as Sagradas Escrituras falando

    simplesmente de Serafim no designam uma dessas

    inteligncias que se situam nas proximidades de Deus, mas

    designam outras das potncias purificadoras que nos so

    dedicadas.

    Um outro estudioso oferece uma soluo referente a isso para

    nos tirar desse embarao. Esse grande mensageiro, que aparece

    ao telogo para inici-lo nos segredos divinos, relatou a Deus

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    e depois hierarquia primordial a santidade da sua prpria

    operao purificadora. O estudioso que assim falava, afirmava

    que a potncia divina se difunde por todo lado e penetra todas

    as coisas de modo irresistvel, permanecendo misteriosa no

    somente pela sua total e sobreessencial transcendncia, mas

    ainda pelo mistrio pelo qual envolve todas as suas operaes

    providenciais. Portanto, est claro que a potncia divina se

    revela a quem quer que seja dotado de inteligncia e que esteja

    medida de suas capacidades receptoras.

    Tendo doado sua prpria luz s essncias mais antigas, ela usa

    em seguida o servio dessas mesmas essncias para transmitir

    essa mesma luz de modo harmonioso s essncias de ordem

    inferior, segundo a aptido visionria de cada ordem. Por outro

    lado, se preferirmos uma expresso mais clara com imagens

    mais adequadas temos: a difuso do raio solar atravessa mais

    facilmente a primeira matria que mais transparente que

    todas as outras. Atravs dessa matria o seu prprio esplendorbrilha de modo mais visvel, mas quando se depara com

    matrias mais opacas a sua potncia de difuso se obscurece,

    porque as matrias penetradas resistem pela sua prpria

    natureza passagem da efuso luminosa e esta resistncia

    aumenta progressivamente ao ponto de quase impedir

    inteiramente a passagem do raio luminoso.

    Pela mesma razo, o calor do fogo transmite-se melhor nos

    corpos que so mais aptos a receb-lo e que pelo seumovimento interno de ascenso se aproximam mais da sua

    semelhana, mas logo que se aproxima de substncias

    refratrias a sua chama permanece sem efeito ou pelo menos

    no deixa mais do que um ligeiro trao. O melhor ainda

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    dizer: o fogo no atua sobre substncias que no tm afinidade

    com ele a no ser por intermdio de corpos j familiarizados,

    de modo a fazer o fogo chegar aos objetos inflamveis e

    somente em seguida atravs deles aquecer a gua ou outra

    substncia rebelde combusto.

    atravs dessa lei harmoniosa que rege toda a natureza, que o

    Princpio maravilhoso de toda a ordem visvel e invisvel

    manifesta originalmente por efuses benfeitoras a chama da

    sua prpria luz s essncias superiores, que por seu intermdio

    aquelas que vm depois delas participam na luz divina. Com

    efeito, essas essncias que confessam Deus em primeiro lugar e

    que tendem mais que todas as outras para a virtude divina,

    merecem ser as primeiras na imitao divina. So elas que na

    sua bondade distribuem generosamente s ordens inferiores

    esse esplendor que as penetra, que por sua vez as distribuem s

    outras subordinadas. assim que gradativamente a que

    precede, distribui seguinte a luz divina que ela prpriarecebeu, a qual se distribui providencialmente sobre todas as

    essncias medida das suas capacidades.

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    Captulo XIV

    O que significam os nmeros atribudos tradicionalmente aos

    anjos.

    Mas ainda conveniente a meus sentidos refletir sobre essa

    tradio escriturstica que atribui aos anjos os nmeros de mil

    vezes mil e dez mil vezes dez mil (Daniel 7:10), retornandosobre eles mesmos e multiplicando por eles mesmos os

    nmeros mais elevados que ns conhecemos, para nos revelar

    claramente que o nmero das legies celestes para ns escapa

    de todas as medidas.

    Tal , com efeito, a multido desses exrcitos bem-aventurados

    que no so desse mundo, que ela ultrapassa a ordem dbil e

    restrita de nossos sistemas de numerao material e que s

    pode ser conhecida e definida pela sua prpria inteligncia esua prpria cincia que no so desse mundo, mas que

    pertencem ao cu e que elas receberam como dom

    perfeitamente generoso da Tearquia, pois essa Tearquia

    conhece o infinito, Ela a fonte de toda sabedoria, o princpio

    comum e supraessencial de toda existncia, a causa que d

    classificao de essncia a todo ser, a potncia que contem e o

    termo que abarca a totalidade do universo.

    [...]

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    Captulo XV

    Quais so as imagens figurativas das potncias anglicas: o fogo,

    a forma humana, os olhos, o nariz, as orelhas, a boca, o tato, as

    plpebras, as sobrancelhas, a flor da idade, os dentes, os

    ombros, os braos, as mos, o corao, o peito, o dorso, os ps,

    as asas, a nudez, a vestimenta, os vus brilhantes, o manto

    sacerdotal, os cintos, os bastes, as lanas, os machados, ascorrentes, os ventos, as nuvens, o bronze, o mbar, os coros, os

    aplausos, as nuanas das pedras coloridas, a forma de leo,

    aquela do boi e da guia, os cabelos, os mantos cavalares, os

    rios, os carros, as rodas e a alegria que se atribui aos anjos.

    Continuando nossa reta eis o que nos resta dizer. O olho de

    nossa inteligncia vai afrouxar, se voc v bem, o esforo pelo

    qual ele se ensaiava de maneira anglica nas mais altas vises.

    Ns vamos descer de novo aos planos da diviso e da

    multiplicidade para a diversidade polimrfica das figuras que os

    anjos assumem. Retornaremos em seguida aos nossos passos e

    subiremos das imagens para a simplicidade das essncias

    celestes. Mas saiba primeiramente (Maurice de Gandillac

    acrescenta aqui: somente isso) que as interpretaes sagradas

    das imagens figurativas revelam s vezes que as mesmas ordens

    das essncias celestes, tanto iniciam quanto so iniciadas, que

    aquelas da ltima ordem iniciam e que aquelas da primeira

    ordem so iniciadas e que elas possuem todas, como se diz,

    potncias superiores, mdias e inferiores, sem que portanto

    exegeses (estudos) desse gnero tenham nada de irracional.

    Com efeito, pretender que todas juntas, tais ordens sejam

    iniciadas por aquelas que as precedem e que essas ltimas

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    recebam delas a mesma iniciao, ou ainda, que as superiores

    iniciando as inferiores, sejam a seguir iniciadas por aquelas

    mesmas que elas iniciaram, seria o puro absurdo e a confuso

    total. Mas afirmando-se que as mesmas essncias iniciam e so

    iniciadas ns no entendemos por essa afirmao, que elas

    iniciam as mesmas que as iniciaram: ns apenas queremos

    dizer que cada uma delas iniciada por aquelas que as

    precedem e que ao mesmo tempo elas iniciam aquelas que a

    seguem.

    No h ento nenhuma inconvenincia em afirmar que as

    figuraes sagradas que as Escrituras nos apresentam, podem se

    atribuir s vezes sem modificao, propriamente e

    verdadeiramente, s vezes s potncias primeiras, s vezes s

    mdias, s vezes s ltimas. Por exemplo: o poder de se elevar

    ao alto por um movimento constante de converso, aquele de

    executar em torno de si prprio uma indefectvel revoluo

    conservando suas prprias potncias, o poder de participar napotncia providencial comunicando-se processivamente com

    as ordens inferiores, tudo isso convem, sem mentir, a todas as

    essncias celestes, a algumas todas as vezes (como se disse

    muitas vezes) de modo eminente e total, s outras de modo

    parcial e inferior.

    necessrio que abordemos agora o problema colocado e que

    comecemos a elucidao das figuras, procurando o porqu da

    Teologia, como se pode constatar, situar as alegorias tiradas dofogo quase acima de todas as outras. Voc notar, com efeito,

    que ela no s nos apresenta rodas de fogo ardente (Dan 7:9),

    mas ainda animais como brasas de fogo ardente (Ez 1:13) e

    homens com semelhana de fogo (Ez 1:27) (Maurice traz

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    brilhantes como de fogo). Ela imagina em volta das essncias

    celestes mos cheias de brasas acesas (Ez 10:2) e rios de fogo

    (Dan 7:10). Ela afirma em outra passagem que os tronos so de

    chamas de fogo (Dan 7:9) e invoca a etmologia da palavra

    serafins para declarar que essas inteligncias superiores so

    incandescentes e para lhes atribuir as propriedades e os

    atributos do fogo. No total, quer se trate da alta ou da baixa

    hierarquia, sempre para as alegorias tiradas do fogo que vo

    suas preferncias. Me parece que de fato, a imagem do fogo

    que revela melhor o modo pelo qual as inteligncias celestes se

    conformam a Deus. por isso que os Santos Telogos

    descrevem freqentemente sob forma incandescente essa

    essncia suprasubstancial que escapa a toda figurao e essa

    forma que fornece mais de uma imagem visvel daquilo que

    ns ousamos chamar de propriedade terquica.

    O fogo sensvel , por assim dizer, presente em toda parte e

    ilumina tudo sem se misturar com nada, permanecendosempre totalmente separado. Ele brilha com um claro total e

    permanece ao mesmo tempo secreto, pois em si ele permanece

    desconhecido fora de uma matria que revele sua operao

    prpria. No se pode suportar o seu claro nem contempl-lo

    face a face, mas seu poder se estende por toda parte e de l onde

    ele nasce ele tira tudo para si fazendo dominar (essas duas

    palavras faltam em Maurice) seu ato prprio. Por essa

    transmutao ele faz dom de si a qualquer um que se aproxime

    por pouco que seja: ele regenera os seres por seu calorvivificante (Maurice traz por sua vivificao), ele os clareia

    por suas brilhantes iluminaes, mas em si, ele permanece

    puro e sem mistura. Ele tem o poder de decompor os corpos

    sem sofrer ele mesmo nenhuma alterao. Ele se agita

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    vivamente. Ele vive nas alturas, ele escapa a toda atrao

    terrestre, ele se move sem cessar, ele se move por si prprio e

    ele move os outros. Seu domnio se estende por toda a parte,

    mas ele no se deixa prender em lugar algum. Ele no precisa

    de ningum. Ele se aumenta insensivelmente, manifestando

    sua grandeza em toda matria que o acolhe. Ele ativo,

    poderoso, invisvel e presente por toda a parte. Negligenciado,

    ele parece que no existe. Mas, sob o efeito dessa frico que

    como uma orao, ele aparece bruscamente com todas as suas

    qualidades; logo se o ve tomar um voo irresistvel e sem

    perder nada de si que ele se comunica jubilosamente em torno

    de si. Encontraremos ainda, mais uma propriedade do fogo que

    se aplica como uma imagem sensvel s operaes da Tearquia.

    Os conhecedores da Sabedoria Divina o sabem bem j que

    atribuem figuras incandescentes s essncias celestes, revelando

    assim que formas elas assumem e tanto quanto lhes possvel,

    a semelhana de Deus.

    Mas eles usam tambm para os figurar alegorias

    antropomrficas, porque o homem possui uma inteligncia;

    porque ele capaz de olhar para o alto; porque ele se mantem

    firme e direito; porque sua natureza aquela de um prncipe e

    de um chefe; porque se verdade que no plano sensvel os

    animais desprovidos de razo tem maiores poderes que os do

    homem, no entanto, ele que domina todos pelo

    entendimento de sua potncia intelectual, pela soberania de

    seu poder racional, pelo carter naturalmente livre eindependente da sua alma.

    Quer me parecer ainda mais, que cada parte do corpo humano

    pode nos fornecer muitas imagens que se aplicam

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    perfeitamente (essas seis ltimas palavras faltam em Maurice)

    s potncias celestes. Pode-se dizer que as faculdades visuais

    significam sua tendncia a se elevar, em plena claridade, para as

    Luzes Divinas assim como a maneira pela qual elas recebem

    impassivelmente as iluminaes terquicas com toda

    simplicidade ternamente, com flexibilidade, sem resistncia,

    em um voo rpido e puro. O discernimento dos odores

    significa o poder de agarrar ao mximo as suaves emanaes

    que ultrapassam a inteligncia, de discernir da cincia segura

    seus contrrios e deles fugir absolutamente. O ouvido significa

    o poder de participar na inspirao terquica e dela tirar o saber

    que ela contem. O paladar significa a plenitude dos alimentos

    intelectuais e a arte de se abeberar (matar a sede) na

    fecundidade dos canais divinos; o tato, a arte de distinguir

    seguramente o til do nocivo; as plpebras e as sobrancelhas, o

    cuidado com o qual elas conservam as vises intelectuais de

    Deus; a adolescncia e a juventude a constante florao das

    potncias vitais; os dentes, a perfeio com a qual eles dividemo alimento que eles recebem, pois cada essncia intelectual

    tendo recebido de uma essncia mais divina, em dom, a

    inteleco unitiva, a divide e a multiplica providencialmente

    para elevar espiritualmente tanto quanto possa a essncia

    inferior (daquela que ela encarregada).

    As espduas (ombros), os braos e as mos, representam o

    poder de fazer, de agir, de operar; o corao o smbolo de

    uma vida conforme a Deus e que espalha em sua bondade suaprpria potncia vital sobre os seres submetidos a sua

    Providncia; o peito revela a muralha inexpugnvel (segura) ao

    abrigo da qual um corao generoso espalha seus dons

    vivificantes; o dorso (costa) figura a reunio de todas as

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    potncias que engenharam a vida; os ps, o carter mvel e

    rpido desse curso perptuo que os conduz para as realidades

    divinas. por isso que as alegorias divinas colocam asas nos ps

    das santas inteligncias, pois as asas significam uma rpida

    elevao espiritual, uma elevao celeste, uma progresso para

    o alto, uma ascenso que libera a alma de toda baixeza; A

    ligeireza das asas simbolizam a ausncia de toda atrao

    terrestre, o impulso total e puro, isento de todo peso, para os

    cimos; o corpo e os ps ns significam desembarao, liberao,

    independncia, purificao relativamente a toda suprafluidez

    exterior, assimilao mxima divina simplicidade.

    Mas como a sabedoria, toda junta una e variada, veste sua

    nudez e as representa como portadoras de equipamentos,

    necessrio explicar agora, tanto quanto pudermos, as santas

    vestimentas e os instrumentos sagrados que se atribuem s

    inteligncias celestes.

    Eu penso que a toga luminosa e incandescente significa a forma

    divina; segundo o simbolismo do fogo, essa potncia de

    iluminao que elas extraem da morada celeste que lhes foi

    determinada e que o prprio lugar da luz; enfim o carter

    totalmente inteligvel da iluminao delas e totalmente

    intelectual da viso delas. A toga pontifical significa o poder de

    se elevar espiritualmente at os espetculos divinos e msticos e

    a consagrar uma vida inteira. Os cintures significam o

    cuidado com o qual elas conservam suas potncias genticas; opoder que elas tem de se recolher, de unificar suas potncias

    mentais reentrando nelas mesmas, e se dobrando novamente

    harmoniosamente (ou facilmente) sobre si no crculo

    indefectvel (infalvel) da prpria identidade delas.

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    As varas representam o poder real, a soberanidade, a retitude

    com a qual elas conduzem todas as coisas a seu acabamento; as

    lanas e os machados, sua arte de discriminar o que

    estrangeiro, a sutileza, a atividade e a eficcia de suas potncias

    de anlise; os equipamentos dos geometras e dos arquitetos,

    seu poder de fazer fundao, de edificar e de acabar, e em geral,

    tudo que concerne elevao espiritual e a converso

    providencial de seus subordinados. Acontece tambm s vezes,

    que os instrumentos com os quais os representamos

    simbolizam os julgamentos de Deus respeito dos homens,

    uns representando as correes disciplinares ou os castigos

    merecidos, outros representando o socorro divino em

    circunstncias difceis nos incndios, o fim da disciplina ou o

    retorno a anterior felicidade, ou ainda o dom de novos

    benefcios, pequenos ou grandes, sensveis ou intelectuais. Em

    suma, uma inteligncia perspicaz no ficaria embaraada em

    fazer corresponder os sinais visveis s realidades invisveis.

    Acrescentemos, que os chamamos ventos, para mostrar a

    rapidez com a qual elas agitam por toda parte de maneira

    quase instantnea, o vai-e-vem do alto para baixo e de baixo

    para o alto, pelo que elas elevam suas subordinadas at o cimo

    mais alto e pelo que elas inclinam suas superiores a descer

    processivamente para se comunicarem com as essncias

    inferiores e exercer a Providncia delas para com essas ltimas.

    Poder-se-ia dizer tambm que o nome de vento, que significa

    um esprito areo, revela a maneira pela qual as intelignciasdivinas vivem em conformidade com Deus; pois esse nome

    contem a imagem e a marca da atividade terquica (como foi

    mostrado mais explicitamente na Teologia Simblica dando a

    exegese dos quatros elementos) graas a seu movimento

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    natural e vivificante, graas a indomvel impetuosidade de sua

    marcha adiante, graas ao mistrio para ns incognoscvel

    (desconhecido) dos princpios e dos fins de seu movimento:

    no sabes, (diz a Escritura) donde vem, nem para onde vai (Jo

    3:8).

    Mas, a Escritura as representa tambm sob a forma de nuvens

    (Ez 10:4) para significar assim que as santas inteligncias

    contm de um modo que no daqui de baixo, a plenitude da

    luz secreta; que tendo recebido em primeira mo e sem

    orgulho excessivo a efuso primordial dessa luz, elas a

    transmitem a suas subordinadas em segunda mo e de modo

    generoso tanto quanto essas ltimas possam receber; enfim

    elas possuem uma fecundidade que doa a vida e que faz crescer

    os seres e que os aperfeioa derramando sobre eles a chuva da

    inteligncia, e chamando por chuvaradas fecundantes para

    partos vivificantes o seio que as recebeu.

    Se a teologia atribui alm disso s essncias celestes a forma do

    cobre e do mbar e aquela das pedras multicores (Ez 8:2; 40:3;

    Apoc 21:19-20), porque o mbar que reune em si as formas do

    ouro e da prata simboliza por sua vez a pureza incorruptvel,

    inesgotvel, indefectvel (infalvel) e intangvel que pertencem

    ao ouro e o claro luminoso, brilhante e celeste que pertencem

    prata. Quanto ao cobre pelas razes que foram ditas ele

    lembra seja o ouro seja o fogo. E no que concerne s formas

    multicores das pedras cr-se que elas representam no branco, aluz; no vermelho, o fogo (1da pg.seg.) (essas quatro palavras

    faltam em Maurice); no amarelo, o ouro; no verde, o apogeu

    da juventude. Para cada espcie voc encontrar assim um

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    ensinamento espiritual na exegese simblica das imagens que

    ela representa.

    A figura do leo (Ez 1:10; Apoc 4:7) deve revelar esse esforo

    soberano, veemente, indomvel, pelo qual as essncias celestes

    imitam tanto quanto elas podem o mistrio da inefvel

    (encantadora) Tearquia, envolvendo intelectualmente os

    traos desse mistrio, disfarando-os modesta e misticamente

    sobre a via sobre a qual a iluminao divina as eleva.

    A figura do boi (Ez 1:10; Apoc 4:7) marca a fora e a potncia, o

    poder de escavar sulcos intelectuais para receber as fecundas

    chuvas do cu, enquanto os chifres (essas 4 palavras faltam em

    Maurice) simbolizam a fora conservadora e invencvel.

    A figura da guia (Ez 1:10; Apoc 4:7) indica a realeza, a

    tendncia aos cumes, o voo rpido, a agilidade, a prontido, a

    engenhosidade em descobrir os alimentos fortificantes, o vigor

    de um olhar estendido livremente, diretamente e sem desvio

    para a contemplao desses raios, dos quais a generosidade do

    Sol terquico multiplica-os.

    A figura do cavalo (Apoc 6:2-8) significa a obedincia e a

    docilidade. Se eles so brancos, essa limpidez to prxima

    quanto possvel da luz divina; se eles so baios (castanho ou

    amarelo torrado), o carter misterioso; se eles so de uma cor

    entre o branco, o amarelo e a camura, o poder do fogo e sua

    eficcia; se eles so pretos com o dorso tendendo ao azul escuro

    e o baixo dorso tendendo ao branco, a sntese dos opostos e o

    poder de passar de um ao outro, essa adaptao dos superiores

    aos inferiores e dos inferiores aos superiores que nasce da

    converso de uns e do cuidado providencial dos outros.

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    Se ns no tivssemos o desgnio (inteno) de conservar nesse

    tratado propores harmoniosas, ns poderamos considerar

    cada parte dos animais que acabamos de citar, todos os detalhes

    de sua estrutura fsica e ns no estaramos errados de aplicar

    esses detalhes s potncias celestes segundo o procedimento

    das imagens diferentes (da pg.seg.; ver todo o cap.II). assim

    que, para quem quer se elevar do sensvel ao espiritual as

    faculdades irascveis (iradas) desses animais ensinam essa

    virilidade da inteligncia, da qual a clera o ltimo eco; suas

    faculdades concuspiscentes (desejo de bens ou gozo material)

    ensinam o desejo amoroso que provam os anjos volta de

    Deus; mais sinteticamente todas as sensaes das bestas

    privadas de razo e a multiplicidade de suas partes ensinam as

    inteleces imateriais das essncias celestes e suas potncias

    sem diversidade. Mas para quem sabe raciocinar, esses

    exemplos bastam; dizendo melhor, a exegese de uma s dessas

    imagens paradoxais esclarece por analogia todos os smbolos do

    mesmo tipo.

    necessrio examinar ainda o que significa a aplicao

    alegrica s essncias celestes dos nomes de rios, de rodas e de

    carros (Dan 7:10; Ez 10:2; 2Rs 2:11). Os rios de fogo significam

    esses canais terquicos que generosamente no cessam de

    escoar seus fluxos sobre as essncias celestes e que conservam

    assim sua vivificante fecundidade. Os carros significam essa

    comunidade que se liga ao mesmo varo do carro (nota do

    tradutor: entenda-se os carros da poca como carroas)essncias de nvel igual. Quanto s rodas aladas que avanam

    sem desvio nem inclinao, elas significam o poder de rolar de

    maneira reta, em linha reta sobre a via reta e sem desvio, graas

    a uma rotao perfeita que no pertence a esse mundo. Mas a

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    alegoria sagrada das rodas da inteligncia se presta ainda a uma

    outra exegese que corresponde a um outro ensinamento

    espiritual. Como diz, com efeito, o telogo, deu-se a elas o

    nome de galga que em hebreu significa ao mesmo tempo

    revoluo e revelao (Ez 10:13). Essas rodas inflamadas e que

    recebem a forma divina tem o poder de rolar sobre elas

    mesmas, porque elas se movem perpetuamente em torno do

    imutvel bem; elas tm tambm o poder de revelar, pois elas

    iniciam nos mistrios; e elas elevam espiritualmente as

    inteligncias de baixo, ao mesmo tempo que fazem descer as

    iluminaes mais elevadas at as mais humildes.

    Resta-nos explicar o que as Escrituras entendem quando elas

    falam da alegria das ordens celestes (Lc 15:10). Essas ordens,

    com efeito, no saberiam de maneira nenhuma sentir as

    volpias apaixonadas que os homens conhecem. O que se quer

    dizer por conseqncia que elas participam da alegria divina

    por ocasio do retorno de pecadores: elas experimentam umafelicidade calma e verdadeiramente divina, uma felicidade boa e

    sem inveja ao vigiar providencialmente e ao salvar aqueles que

    se convertem a Deus; uma alegria inefvel (encantadora), a

    qual adveio com freqncia tambm a homens santos graas as

    visitaes deificantes das iluminaes divinas.

    Tais so minhas explicaes concernentes s alegorias sagradas.

    Se elas esto distantes de revelar exatamente as iluminaes,

    elas ao menos economizaro, eu penso, a humilhao de nosprendermos ao carter imaginativo desses smbolos. Mas se nos

    reprovassem o fato de no termos feito meno a todas as

    potncias, a todos os atos, a todas as alegorias que as Escrituras

    contm relativamente ao anjos, ns teramos o direito de

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    justificar algumas de nossas omisses reconhecendo que ns

    ignoramos a cincia das realidades que no so desse mundo e

    que para nos conduzir a essa cincia nos fizeram falta as luzes

    de um iniciador. Quanto a outras omisses concernentes a

    questes anlogas quelas que nos tratamos, elas se explicam

    pelo duplo cuidado de no estender nosso tratado para outras

    medidas e respeitar o nosso silncio a respeito de mistrios que

    nos ultrapassam.