Jerusalém Celeste

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 Luiz Caramaschi JERUSALÉM CELESTE Falando do Amor Associação Filosófica Luiz Caramaschi PIRAJU – SP  2008 1

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Luiz Caramaschi

JERUSALM CELESTEFalando do Amor

Associao Filosfica Luiz Caramaschi PIRAJU SP 2008

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PrefcioEste opsculo foi extrado do livro Grandes Pontfices, de autoria do professor e filsofo Luiz Caramaschi. Ao escrever este livro, Luiz Caramaschi contestou e deu maior esclarecimento aos doze enunciados do Grau 19 da Maonaria. O autor foi muito feliz e inspirado quando escreveu os dois captulos que compem este livrinho. Neles est resumida toda a verdade to buscada por todos os filsofos em todos os tempos, e no encontrada, por motivo da falta de dados cientficos, dos quais um, de suma importncia, s veio a ser conhecido no sculo XX. Esse dado-chave que faltou a todos os filsofos que antecederam Luiz Caramaschi a descoberta de Einstein de que energia e matria so reversveis entre si, isto , ambas so a mesma coisa, simplesmente se mostrando em formas diferentes. De posse dessa chave extraordinria, Caramaschi pde chegar ao conhecimento da formao do Universo. Cristo disse que Deus Amor e que Deus Luz. Luz energia; por conseguinte o Amor

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tambm energia. E essa energia a substncia divina, isto , a substncia de que Deus constitudo. Sendo Deus Amor, ou Amor, Deus, este sentimento o de maior grandeza entre os homens, nico que pode salvar, o nico que nos livra de cair, como camos da primeira vez, por falta dele, quando da formao do Universo. Todas as religies e todos os homens, deviam colocar essa Verdade como pedra basilar de todo relacionamento humano, e no isto que se observa. Quando se toca no Amor, do qual pouco se fala, sempre tratado como um dado de somenas importncia. Embora Jesus tenha colocado o Amor como fundamento de tudo e viveu essa Verdade, tanto as religies como os homens tocam muito pouco nela, por ser muito difcil de ser vivenciada. to poderoso o Amor, que deu motivo para Jesus perdoar todos os pecados da mulher pecadora, porque, diz o texto: ela muito amou. E em outro lugar diz a Escritura: o Amor cobre uma multido de pecados. JERUSALM CELESTE

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A primeira coisa que nos chama a ateno no Rito do grau 19, a exigncia da colocao das Constituies de 1762 e 1786 sobre o Altar. Ambas Constituies foram condensadas em um s volume com o ttulo: "Grandes Constituies Escocesas". Abrindo o livreto na pg. 41 (4. Ed. 1974), lemos o seguinte: "Resolues do Congresso de Lausane em 1875. - Declaraes de Princpios: 2. - A Maonaria no impe limite algum investigao da verdade, e para garantir a todos esta liberdade que ela exige de todos a tolerncia". Amparado por este 2. das Declaraes de Princpios, e armado das noes que dois mil e quinhentos anos de pensamento nos proporcionaram, desde a Grcia at hoje, podemos, agora, discutir a filosofia do grau 19. O painel a cidade quadrada de doze portas, descrita, por mido no Apocalipse de S. Joo no captulo 21, versculos 9 a 27. S que l no Apoc., tal cidade no quadrada; seno cbica: "E mediu a cidade com a cana at doze mil estdios; e o seu comprimento, largura e altura eram iguais" (Apoc. 21, 16). O muro que rodeava a cidade tinha cento e quarenta e quatro cvados de altura; e como diz o texto que a cana de ouro com que o anjo media a cidade era conforme a medida

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de homem, ento, temos: o cvado mede 66 centmetros, e o estdio, 185,25 metros (Lello Universal). Portanto, 12.100 estdios equivale a 2.223 quilmetros. Suposto que esse nmero o do permetro de quaisquer das seis faces do cubo, mesmo assim, cada aresta sua ter 555 quilmetros, desprezando-se a frao. E o muro? Pois s multiplicar os 66 centmetros de um cvado por 144; o produto 95 metros, e essa a altura da muralha que cerca a cidade. Se cada aresta tem 555 Km, a rea ser de 308.025 Km2. Comparada esta rea com as das vinte e seis unidades federais do Brasil, s so maiores do que ela as de sete Estados: Amazonas, Par, Maranho, Minas Gerais, Bahia, Gois e Mato Grosso. Pondo-se essa Jerusalm celeste sobre a terrestre, ela cobrir toda a Jordnia, parte da Arbia Saudita, todo a Lbano, parte da Sria, avanar pelo Mediterrneo cobrindo Chipre, o Delta do Nilo, indo ainda sobrepor-se toda pennsula do Sinai. Jamais se imaginou cidade tamanha. A muralha de 95 medos de altura um simples rodap a emoldurar a base desse enormssimo cubo cuja aresta mede 555 quilmetros de extenso. Tal muro possui doze portas, trs para cada lado, que coincidem com as doze portas da cidade, e cada porta talhada em material de prola ou margarita. A muralha feita de doze pedras preciosas, de modo que o primeiro alicerce de

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jaspe; o segundo, safira; o terceiro, calcednia; o quarto, esmeralda; o quinto, sardnio; o sexto, srdio; o stimo, crislito; o oitavo, berilo; o nono, topzio; o dcimo, crispraso; o undcimo, jacinto; o duodcimo, ametista. Toda a cidade era como cristal ou vidro puro, amarelo qual ouro translcido, e fulgurava com uma luz que jamais se apaga, em dia eterno. Essa luz se irradia do Cordeiro de Deus, de cujo trono corre o rio de gua da vida que passa pela cidade toda pavimentada de ouro puro, e, em passando, irriga as rvores da vida de doze frutos anuais, um para cada ms, rvores cujas folhas so para curar as naes. Logo, h naes, todas governadas pelo poder mundial, teocrtico, cuja sede a Jerusalm celeste. A Terra, ento, j no ser esta, mas outra, assim como outro ser o Cu. (Apoc. 21, 1). A Jerusalm celeste o tabernculo de Deus de forma cbica, qual era o tabernculo da tenda errante, e depois o do templo de Salomo. (I Reis 6, 20). Por causa de a cidade toda ser um tabernculo, no foi visto ali templo. Jamais as portas ali se fecham porque nunca noite, nem penetra ali ladro, nem fornicador, nem mentiroso, nem idlatra, nem fantico de qualquer espcie, cujo brao possa estar armado pela ignorncia e pelo despotismo. Sem velhice, nem dores, nem

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doenas nem mortes, os bem-aventurados gozaro de Deus a luz eterna. "Ento o que estava assentado sobre o trono disse: Eis a fao eu novas todas as coisas". (Apoc. 21, 5). "Eu sou o Alfa e mega, o princpio e o fim". (Apoc. 21, 6 e 22, 13). Ora bem: de posse destes dados, podemos levantar a filosofia que se esconde debaixo destas figuras. O cordeiro, pela sua mansuetude, brandura de gnio e ndole pacfica, pela sua docilidade, posto no trono com Deus, evidencia um mundo que a contraditria e oposio frontal deste nosso em que vivemos. Este Cordeiro de Deus Jesus Cristo... personificao terrestre do amor vivo. Que o amor? a fora que une, que integra; a vontade de convivncia... que tolera at o adversrio. "Civilizao (diz Ortega) , antes de tudo, vontade de convivncia. -se incivil e brbaro na medida em que no se conte com os demais. A barbrie tendncia dissociao. E assim todas as pocas brbaras tem sido tempo do espalhamento humano, populaes de mnimos grupos separados e hostis". O amor a fora que une, que integra, desde as partculas subatmicas at o Universo, tomado este como unidade totalizante de tudo o quanto existe. Esta fora integradora que faz os opostos se buscarem, recebe nomes diferentes em

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cada nvel de atuao, de desempenho, sendo eletromagnetismo, entre as partculas no interior dos tomos, afinidade, entre os elementos na qumica, coeso, entre as molculas na fsica, gravitao, entre os corpos siderais, simpatia, afeto, entre os vertebrados superiores e amor no nvel humano. A mente de Plato pde enxergar esta performance do amor em tudo, pelo que declarou: "o universo est cheio de Eros e vai movido por Eros". E o grande poeta da Becia, Hesodo (IX ou XIII a.C.) j dissera que "Eros o princpio de integrao". Ora, Tomas Hobbes (1588-1679) afirmava que o homem lobo para o homem, opinio que, antes dele, j comentara seu mestre Francis Bacon. Por outras palavras dissera isto mesmo Trasmaco, na "Repblica" de Plato, e eram deste mesmo parecer Maquiavel e Nietzsche. E como poderia formar-se uma sociedade s de lobos?, lobos humanos... que se entredevoram, tal qual os lobos naturais entre os quais h licofagia, desmentindo o provrbio que diz: lobo no come lobo "? Que durao ter o intervalo antropolgico, ou a distncia temporal, que vai do homo-lupus de Hobbes ao homo-agnus, ou o "homo hominis frater" de Cristo? Pois essa distncia, nem mais nem

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menos, a de toda a histria da humanizao do primata inteligente, no Homo sapiens ainda, como o batizou Lineu, mas, apenas, Homo insciens, Homo insipiens, que quer dizer homem ignorante, como o definiu Plato. Por conseguinte, civilizao o mesmo que humanizao, que desanimalizao, que santificao, que domnio da besta que, em parte, o homem ainda . Tal, o objetivo da civilizao, e no h outro. Contudo, diz Toynbee, "nenhuma civilizao conhecida atingiu o objetivo da Civilizao; nenhuma conseguiu criar uma comunidade de santos sobre a Terra. Aquele Cordeiro ou lmpada perene cuja luz faz fulgurar toda a Jerusalm celeste, a qual, por isto mesmo, toda, inteira, tabernculo, o fim do homem e objetivo da civilizao..., em razo do que se orientam para ele todos os esforos dos milnios sem conta. Por conseguinte, o valor de uma religio ou de uma filosofia se mede pelo quanto haja podido realizar na prtica esse desiderato. Salvar-se viabilizar, concretizar, essa aspirao. Cristo no substituto; e por faz-lo tal faliram as religies em sua misso precpua que a de civilizar o homem; Cristo modelo e exemplo naquilo que cumpre a cada um realizar em si: desvirar-se de drago, desinverter-se do diabo que , desfazer-se de animal. Toda a histria da humanidade se resume na histria da civilizao, ou seja, na histria desse incessante desejo de

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caminhar para a felicidade... s alcanvel quando o homem se acercar dessa luz..., da luz do amor... Fale Gusdorf: "Nenhum filsofo descobre radicalmente a verdade, pela simples razo de que a verdade j se encontra entre os homens, quando estes se lembraram de formar entre si uma sociedade humana. (...) A graa da comunicao, atestada pela palavra, o comeo e o fim da filosofia. A palavra de verdade a ningum pertence em regime de propriedade exclusiva, porque constitui o patrimnio comum da humanidade inteira. O filsofo um dos que se impem a tarefa de manter a honra da linguagem, mas s lhe dado desempenhar-se de seu ministrio no seio da comunidade. Pelo que, seja qual for a concepo que forme de sua obra, ele manifesta um senso de verdade, confere verdade uma linguagem no contra os outros, mas com eles e por eles, no de maneira definitiva, mas trilhando as vias da cultura na histria do mundo". Ento, que a verdade? A verdade o amor. Foi isto que disse Cristo a Pilatos; disse que viera dar testemunho da verdade. E em todos os atos de sua vida, deu testemunho do amor, porque o amor a Verdade. E ensinou mais isto: que sendo a Verdade Deus, ela no pode ser definida..., que definir traar fines ou limites; e o Absoluto no possui limites. Logo, da Verdade, s se pode dar testemunho,

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no, porm, defin-la. Mas, o estupidarro do Pilatos, acostumado a ouvir a seus filosofastros, cuidava que a posse da verdade s podia ser obtida pela Razo. Acaso o grande estagirita no dissera que Deus Razo..., e, por isto, ele s se ocupa de pensar pensamentos? Pensando assim, desabusado e displicente, pergunta Pilatos a Cristo: o que a Verdade? Ora, Cristo que j recomendara a seus Discpulos no "lanar prolas a porcos, guardou as suas, evitando de as jogar ao porco Pilatos. Cristo silenciou mas sua resposta j havia dado em todos os atos de sua vida - a Verdade o Amor... Exceto Plato, todos os demais filsofos j haviam concordado com Parmnides em que pensar idntico a ser; que ser e pensar so uma e a mesma coisa. S Plato destoou desta assertiva, permanecendo fiel a seu mestre Scrates para quem Deus o Sumo Bem. Sumo Bem e Razo absoluta, eis duas posies iniciais irredutveis entre si, como tese e anttese: a primeira diz respeito ao sentimento moral, de natureza substancial; a segunda de natureza mental, intelectual, ideal. Repete-se, pois, em nvel mais alto, as duas sadas iniciais da filosofia: Herclito e os miletanos como pensadores da substncia, e Parmnides, como o primeiro filsofo da razo. Plato optou pela primazia ao Sumo Bem, em vez de fazer primaz a Razo absoluta. Da que, no

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mundo celeste, no Topos Uranos, ele ps no pinculo dos arqutipos eternos, a Forma das formas, a Forma do Bem. Nesse Topos Uranos, descrito quatrocentos anos antes de Cristo, qual outra Jerusalm celeste, fulgura, entronizada a Forma das formas, a Forma do Bem. Que, pois, a Verdade? A Verdade o Sumo Bem...; e no h nenhum Bem maior que o Amor; logo, o Sumo Bem o Amor... que tudo integra, e une, como Eros que . Esta a razo por que o Universo est cheio de Eros, e vai movido por Eros, diz Plato, sendo este Eros, conforme o mestre Hesodo, o princpio de integrao. Todavia, a concordncia entre Plato e Cristo no fica s nisso. O Topos Uranos ou lugar celeste platnico assemelha-se Jerusalm celeste, porque, tambm l, no existe aflio, nem sofrimento, nem velhice, nem morte; igualmente, o mundo celeste platnico resplendoroso, sem noite, onde as almas vivem felizes na mais completa bem-aventurana, a contemplar as formas imperecveis, os arqutipos eternos, pelos quais se modelaram, se plasmaram, as formas grosseiras existentes em nosso mundo. Tudo o que h em nosso mundo so cpias grosseiras e imperfeitas do que fulgura no pleniluminoso Topos Uranos. Aquilo de bom, de belo e de verdadeiro existente neste nosso mundo de sombras, j participao do que h no lugar celeste. Pela

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sabedoria, os homens vo, cada vez mais, aumentando esta participao, at que a Terra se torna, tambm, na Ilha Afortunada... para onde vo as almas redimidas da roda das reencarnaes. Mas, para chegar l, preciso trabalhar aqui, donde ser necessrio ao sbio retornar caverna de sombras, a fim de ajudar os que se acham perdidos na iluso, no erro... incrvel que dois homens separados no tempo e no espao, tivessem chegado ao mesmo resultado por caminhos to diversos que so a F e a Razo. Jungindo a Jerusalm celeste ao Topos Uranos, poderamos dizer que a Forma das formas, a Forma do Bem, est simbolizada no Cordeiro de Deus de cujo trono mana a gua viva que tira a sede para sempre, que sacia a nsia de saber (Joo 4, 14), e ainda essa gua viva irriga as rvores da vida que ladeiam as margens do rio do amor. O caminho para se ir Jerusalm celeste, segundo Cristo, o amor, sendo este a supina das virtudes. Para a alma errante retornar ao Topos Uranos onde foi criada e de onde saiu, ter de purgar-se de todas as imperfeies pela conquista da sabedoria. E a sabedoria o mesmo que amor? Sim, . Porque o sbio, porque sabe, no erra; e se no erra; se faz e age sempre certo, virtuoso, santo. Mas a suma das virtudes o amor. Por isto, cumpre ao sbio que a sua seja uma sabedoria

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operante, ativa, que o leve caverna a fim de ajudar a seus irmos desvencilhar-se da ignorncia, da iluso. Sua sabedoria, contudo, o sbio a conseguiu atravs da razo que pensa, medita, discute, analisa, sopesa, conclui. J o santo, ao invs disto, segue direto sua intuio emotiva supra-racional. Em lugar de dar voltas ao mundo pensando, faz suas andanas agindo, ajudando, amando. O primeiro chega ao Amor pela razo; o segundo, partindo da intuio emotiva a priori, faz do amor a grande premissa da qual tudo deduz. Por este motivo pde o Cordeiro representativo do Amor vivente, com justia e de fato dizer: "Eu sou o Alfa e mega, o princpio e o fim, o primeiro e o derradeiro". (Apoc. 22, 13). O Alfa o postulado inicial, a premissa maior por excelncia, o comeo, a intuio emotiva, o Amor donde parte o santo para deduzir tudo. O mega o fim a que chegou a mente do sbio que induziu a partir da experincia vivida no e com o mundo..., pois que a filosofia se define como sendo uma viso geral do mundo, da qual se infere uma forma de conduta. Pois a forma de conduta a moral, e esta o fim para o sbio, e o comeo para o santo. Donde vem que ser sbio ser santo, e ser santo ser sbio, sendo a ao sobre o mundo, o comeo e o fim da sabedoria. O sbio ama porque sabe; o santo sabe porque ama.

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O ALFA E O MEGA Quem segue um texto, obriga-se, por dever de honestidade, ao que se acha expresso no texto; a s conscincia e a honestidade no permitem torclo, para outros fins, forando-o a dizer o que no disse. Frente a este axioma moral, perguntamos: a quem se atribui a sentena: "Eu sou o Alfa e o mega, o princpio e o fim, o primeiro e o derradeiro"? (Apoc. 21, 6 e 22, 13). Resposta nica: atribui-se ao Cordeiro referido muitas vezes no mesmo texto. Quem transmitiu a mensagem a So Joo Evangelista, servindo-se de um anjo? Jesus Cristo que diz expressamente: "Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas: eu sou a raiz e a gerao de Davi, a resplandecente estrela da manh". (Apoc. 22, 16). Ento, quem o Cordeiro?, seno Jesus Cristo? E quem poder, com argumentos bem fundados, refutar a afirmao de que Jesus Cristo personifica o Amor vivo, atuante, operativo? Ningum. Conseqentemente, a Jerusalm celeste o Templo do Amor... que o mesmo que Templo da Verdade, porque a Verdade o Amor, como j o demonstramos no captulo anterior. E quando, no Livrinho, se pergunta: "Que simboliza a Jerusalm Celeste ou Templo da Verdade?", por que faanha de inteligncia se poderia responder: "Simboliza o Templo da Razo"? Acaso, a Razo o Amor? Por

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quais argumentos, por que artifcio de inteligncia, se poderia demonstrar que a Razo e Amor so uma e a mesma coisa? A razo no a sabedoria, mas, porque a razo caminho, porque mtodo, pode conduzir sabedoria..., esta sim, que se confunde com o amor, com o Amor-mega... ou ponto de chegada. Todavia, o Amor-Alfa, o amor ponto de partida, esse , j, em si mesmo, sabedoria. O Amor sbio porque no erra ao produzir os seus efeitos. Ele o Alfa, ou o comeo, ou princpio donde tudo parte, no passo que a sabedoria do sbio o mega, o fim derradeiro ao qual se chega. O Alfa e o mega se coincidem tal qual as vinte e quatro horas e zero horas do dia, tal qual o comeo e o fim de quaisquer ciclos, sem nenhuma exceo. Tudo comea no Alfa, e tudo acaba no mega... E se o Cordeiro, smbolo de Cristo... representante do Amor vivo, se d como sendo o Alfa e o mega juntamente, esse o princpio e o fim ligados para formar o Crculo mximo que abarca toda a Criao..., donde vem que nada pode estar fora dele. Quando o Livrinho nos afirma que a Jerusalm Celeste o Templo da Razo; e irrecusvel, como , que aquele Templo o da Verdade ou o do Amor; fica implcita esta conseqncia: a Razo o Amor; a Razo a Verdade. Ora, a Razo mtodo, meio de se chegar Verdade, no podendo, nunca,

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ser um fim em si mesma, como o a Verdade, como o o Amor. Afora isto, a razo s sabe e pode trabalhar com os entes de razo, ou objetos ideais, ou essenciais, sendo-lhe interdito tudo o que no sejam tais entes de razo, pelo que tais entes ou essncias se opem, polarmente, aos entes da natureza, aos objetos reais (reais - de res=coisa). Estes entes naturais s existem porque possuem substncia, sendo esta aquilo de que as coisas so feitas. Pois o amor no um ente de razo, e sim, substancialidade; e tanto que, daquela SubstnciaAmor, princpio e fim de tudo, pde sair o Universo. Quem diz comeo e fim; quem diz ciclo, diz tempo..., porque o tempo a medida do movimento ou da transformao... que tem comeo e tem fim; e todo movimento cclico, at o linear, dado que a reta parte de uma grande curva. Conseqentemente, se o Amor era no comeo e ser no fim... do grande Crculo da Criao, o Amor temporal, mvel, transformvel, e isto so atributos inerentes substncia, pelo que o Amor substancial, real, e no, puro ente de razo, abstrato, vazio, oco, inexistente. Comeo e fim, como j o demonstramos, implica movimento, implica tempo que a medida do movimento. E no h movimento sem mvel..., e no h mvel que no ocupe lugar no espao... no qual se move e se transforma. Para que haja mvel para que haja algo movente, imprescindvel espao. Eis,

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pois, que do tempo-movimento deduzimos o espao. Tambm se pode aqui aplicar o princpio ou lei de correlao de Cuvier. Este cientista descobriu que, quando um ente biolgico possui um carter, de carnvoro, por exemplo, os demais caracteres so correlatos. Assim, de uma simples coroa de dente, ou pedao de maxilar fsseis, pode-se reconstruir o animal inteiro. Este mesmo princpio de correlao se pode enunciar com referncia aos objetos reais e/ou aos entes de razo. Se houver um s carter que especifique um ente, os outros caracteres sero correlatos. Assim, tempo, movimento, transformao etc., so caracteres dos objetos reais? Sim, so. Ento todos os demais caracteres estaro presentes. Ora, o amor possui os caracteres dos objetos reais, sendo, por isto, substancial; logo, se ope, como anttese, aos entes de razo ou essenciais. Face a isto, no se pode afirmar que o Amor o mesmo que Razo..., nem que o Templo do Amor idntico a Templo da Razo. O princpio de correlao permite distender, inteiro, o novelo; puxando-o por qualquer ponto, ele sai todo. Do fato de o Amor ser temporal, deduzimos que mvel, mutvel, transformvel; para que algo se mova imprescindvel espao; se h movimento no espao, h mvel, e todo mvel algo substancial. Ou, de outro modo: o espao o lugar

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ocupado pelas coisas, ou o existente entre os corpos. Quem diz coisa ou corpo, diz matria... que tudo aquilo que enche a forma da coisa e a faz corporal, espacial, existencial. Mas a matria no s vibra internamente, seno que tambm se move no espao e se transforma. O tempo mede, tambm, a durao das transformaes. Tudo o que se transforma possui um antecedente e um conseqente; o antecedente se chama causa, e o conseqente, efeito. Tudo o que existe (existir, de ex-sistere - ser posto fora, no tempo) tem o seu contrrio... com o qual se integra para formar uma unidade maior, de nvel superior; pela recproca, tudo o que existe possui uma contradio interna, que resulta de dois contrrios que se integraram. Portanto, tudo o que existe polarizado, ou obedece o princpio de polaridade. A transformao, a diferenciao, a polaridade, conduzem ao enunciado da lgica natural que diz: "nada idntico a si mesmo, tudo se contradiz". Disto se tira que tudo o que existe individual ou particular; que todo indivduo, por ser formado de partes menores, um coletivo, e o mesmo indivduo integra-se com outros indivduos num coletivo maior. Esta possibilidade de dupla perspectiva, pela qual cada ente natural se mostra como indivduo e como coletivo, em dois tempos sucessivos, em dois lanos de olhos, torna a ele relativo. Esta relatividade mostra o ente natural, a coisa, em mirades de posturas, de perspectivas, e sempre que imaginamos algo, este

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vem associado com tudo aquilo que o torna nico na sua espcie. Por isto, nada igual a si mesmo em dois tempos sucessivos. E tudo isto podemos imaginar e representar na fotografia, no desenho, na pintura. A representabilidade, por conseguinte, outra propriedade dos objetos reais. Como nada igual a si mesmo em dois tempos sucessivos, tudo o que existe passvel e sofre a ao do tempo, do meio, das circunstacias, pelo que so circunstanciais. Possuindo qualidades especficas que tornam as coisas nicas em si mesmas, elas so qualitativas; e estando no espao, no tempo e possuindo substncia so dimensionveis. Enfim, as coisas so fenomnicas... porque transformveis. E poderamos ampliar esta lista de relaes, mas, paremos por aqui. Eis a listagem de relaes, e j com sua contraditria, no que concerne aos objetos ideais, aos entes de razo:ENTES DA NATUREZA (Substanciais) 01 - Temporais 02 - Mveis 03 Mutveis 04 - Transformveis 05 - Livres 06 - Espaciais 07 - Causais 08 - Polarizados ENTES DA RAZO (Ideais) 01 - Intemporais 02 - Fixos 03 - Imutveis 04 - Intransformveis 05 - Deterministicos, sem liberdade 06 - Inespaciais 07 - Incausais 08 - Sem polaridade

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09 - Individuais 10 - Particulares 11 - Relativos 12 - Perspectveis 13 - Representveis 14 - Passveis 15 - Circunstanciais 16 - Qualitativos 17 - Dimensionveis 18 - Fenomnicos

09 - Universais 10 Gerais 11 - Absolutos 12 - Sem perspectivas 13 - Irrepresentveis 14 - Impassveis 15 - Incircunstanciveis 16 -Inqualificveis 17 - Indimensionveis 18 - Noumnicos

Os entes de razo so abstraes ou generalizaes partidas das imagens que o mundo nos oferta. Ns observamos os entes naturais, todos individuais, e eles se refletem em nossa mente como imagens. Destas imagens ns generalizamos os conceitos ou essncias. A imagem do cavalo baio, por exemplo, individua-se em nossa mente, cercado de mirades de circunstncias tais como: o pasto, as rvores, o porte dele, a idade, o aspecto, etc. Desse cavalo e dos demais cavalos vem-nos o conceito abstrato de cavalo. O conceito nico (cavalaridade), imutvel, irrepresentvel, absoluto, imvel, sempre idntico s a si mesmo, etc. Pensar o cavalo t-lo como conceito abstrato; imaginar um cavalo, individu-lo, a partir, ou da experincia, ou do conceito que j temos. Se

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dissermos a algum: tringulo; imediatamente ele pensa o tringulo como conceito abstrato ou triangularidade; se, no entanto dissermos: tringulo issceles, j, agora, o nosso algum imaginar o tringulo issceles com a caracterstica individualizante de ter dois lados iguais. Todavia, pensemos o tringulo em geral. Quem o desenharia numa lousa? Quando que teve incio no tempo esse tringulo? Em que tempo ele no era, e depois, passou a ser? Pois o tringulo desde sempre; ele intemporal. E o que causa o tringulo? Pois nada o causa; ele no possui um antecedente do qual ele decorreu, por transformao, e do qual , agora, conseqente. O tringulo em geral, sendo uma idia, ocupa lugar no espao? No. Ele inespacial. Existe tringulo e anti-tringulo, crculo e anti-crculo? No. Os objetos ideais no tm polaridade. E por a vai, e no queremos cansar o leitor com aquilo que ele poder deduzir por si mesmo. Peguemos uma propriedade somente dos objetos reais: a de serem eles livres. Para poderem mover-se, transformar-se, tomarem poIaridade, serem passveis de sofrer a ao do tempo, das contingncias, etc., ho que ser livres. A oposio da liberdade o determinismo, ou seja o no ter liberdade. E os filsofos puseram o Ser como Essncia pura. Portanto, o Ser, Deus, deterministico, sem liberdade, como se fora um

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Rob. crvel que Deus esteja jungido, ajoujado, posto nos trilhos fatalsticos do seu determinismo, sem liberdade? E como pode ser o Criador, se no possui vontade, nem desejo, nem querer, dado que Vontade Substncia, e esta no achada em Deus? E se a Substncia existe, e estranha a Deus, de qu, por que, e quando ela surgiu? Deus no pode ser Essncia pura, puro Princpio abstrato, puro Ente de razo, Idealidade pura... s achado em nossa inteligncia, SEM existncia, porque existir estar no tempo; SEM objetividade, porque ser objetivo estar no espao; SEM causalidade, porque ser causal, ainda que Causa Primeira, estar no princpio e fim duma cadeia de transformaes que, saindo de Deus volta para ele, donde serem coincidentes o Alfa e o mega!... o princpio e o fim... A divina EnergiaSubstncia sob a forma do Amor, o comeo e o fim de tudo, do Universo inteiro, de toda a Criao. Ento, podemos traar com um compasso esse Crculo mximo, pondo no incio-fim, no Alfamega, a palavra AMOR. Em posio diametralmente oposta, havemos de pr a palavra Egosmo ou Anti-Eros, porque este negam o Amor e Eros; e sendo Eros o princpio de integrao, Anti-Eros a desintegrao que, na sua plenitude, se chama CAOS. Atentemos primeiro, para a banda direita, observando o que nos diz a Doutrina da Evoluo e a Cincia; que nos dizem elas? Pois

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nos dizem, nada mais nada menos que nosso universo teve sua origem no Caos. Diz-nos a cincia que matria se transforma em energia e vice-versa, pelo que uma e outra no so mais do que dois modos de ser da substncia... donde a proposta de Einstein para que se considerem todas as matrias e todas as energias do Universo sob a rubrica de ENERGIA-SUBSTNCIA. Diz-nos que a ENERGIASUBSTNCIA do Universo constante, indestrutvel, pelo que, "na Natureza nada se cria e nada se perde, mas tudo se transforma" (Lavoiser).

As primeiras coisas que se formaram no seio do Caos primeiro, foram as partculas subatmicas... resultantes de energias..., de ondas ultra-

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curtssimas que se enrolavam sobre si mesmas ao serem freiadas pelo choque de umas contra outras no centro daquilo que, depois, se chamou UNIVERSO. Primeiro, as partculas subatmicas se formaram das energias centralizantes que procediam da periferia do Universo, seguindo o caminho da INVOLUO rumo ao CAOS. Ao tempo em que se iam formando tais partculas, elas j iam ensaiando criar os ncleos atmicos, a principiar pelos ncleos do hidrognio. O vasto e arquipoderoso Cclotron que era o Colosso Primitivo de Alpher, Bethe e Gamow, usando do seu inimaginvel calor, presso e massividade, forjou os tomos todos, prensando ncleos uns contra os outros, at os transurnicos, hoje, corpos artificiais. Quando a presso das ondas de energia abrandou seu mpeto, os transurnicos principiaram a explodir, fazendo o Colosso em pedaos que se abriram em espirais para todos os lados. Cada a temperatura e a presso, os ncleos, outrora nus, puderam adquirir suas camadas eletrnicas, e os tomos se formaram. J principiou a formao das molculas pela combinao dos tomos. De quantos compostos so possveis, formou-se a gua, o gs carbnico, e o nitrognio. Os quatro corpos da qumica orgnica cuja sigla CHON (carbono, hidrognio, oxignio e nitrognio), estavam prontos para, sob o efeito das chuvas torrenciais, de formidolosos troves e do coriscar

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de tremendos raios, formarem as pedras fundamentais das protenas sobre as quais se construiu a VIDA. Nasce a vida, desabrocham-se os sentidos a partir da irritabilidade. Os sentidos se organizam em imagens. Cresce o sistema nervoso; avoluma-se a protuberncia cerebral; a central nervosa se enriquece e aprende a responder s informaes e aos estmulos, com tropismos, reflexos e instintos. O crebro amplia seus poderes pela formao da zona cortical; bruxuleia a inteligncia, e, logo, se faz j claro de aurora, j meio-dia radioso, no primata superior - o homem. Paralelamente, os sentidos vo dar noutro departamento cerebral - o da sensibilidade, que o que governa as sensaes, as emoes, os sentimentos sobre os quais se sublima o Amor. Eis o fim da EVOLUO. E Aquele que pde encarnar o Amor-vivo, a Verdade ltima, pde, para sempre, exclamar: Eu sou o Alfa e o mega, o princpio e o fim, o primeiro na ordem das coisas, e o derradeiro nessa mesma ordem. Ponham-nos tudo isto na forma de sentenas, pois as sentenas so resumos de doutrinas vastas..., e filsofo aquele que pde transpor o pensar por conceitos para o pensar por sentenas..., nico modo de no se ficar perdido na congrie dos fatos particulares, isolados. Eia, pois, filsofos: pensemos por sentenas!

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I - Matria e energia so, mutuamente, reversveis ou redutveis. II - Todas as energias so transformveis umas nas outras. Estas duas verdades cientficas e experimentalmente comprovadas, deram azo a que Einstein propusesse a generalizao, que no mais do que pura tautologia, que diz: III - Todas as MATRIAS e todas as ENERGIAS do Universo podem reduzir-se a um denominador comum com o nome de ENERGIASUBSTNCIA. IV - "Na Natureza nada se cria e nada se perde, mas tudo se transforma (Lavoisier), pelo que a ENERGIA-SUBSTNCIA do Universo constante. V - H uma degradao dinmica ao se transformarem as energias de ondas curtas, dinamicamente ricas, para ondas longas, dinamicamente pobres. Como, porm, pelo exposto no enunciado IV, a energia-substncia do universo constante, o que se perde em dinamismo energtico ganha-se em qualidade evolutiva... no dimensonvel pelos atuais instrumentos da fsica. Isto possibilita a passagem para o enunciado seguinte. VI - Vida energia-substncia, visto no se reduzir a ente de razo, a essncia; ela provm (e

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no h mais de onde provir), do mundo dinmico que lhe fica abaixo, constitudo de energia dinamicamente degradada, j fora do alcance do atual dimensionamento fsico matemtico. VII - Antes no havia vida neste nosso universo egresso do Caos. Depois, surgiu a vida: do qu? No pode ser seno de algo anterior modificado, e esse algo o mundo inferior vida, feito de energias dinamicamente degradadas. VIII - Os sentimentos, as impulses afetivas, os desejos, as emoes, a vontade so foras que nascem da vida, pelo que, como esta, so energiasubstncia tambm. IX - A mais alta manifestao do sentimento o AMOR; conseqentemente, o AMOR a mais alta expresso da Energia-Substncia. X - Como no h posto a subir acima do AMOR; como no existe o super-amor ou o transamor, ele se torna sem referncia nem relao a algo acima de si, e isto o torna absoluto. Sendo o AMOR absoluto, ento, o AMOR DEUS, ou, como intuiu So Joo: "Deus Amor". (1 Jo 4, 7). Uma vez que a poro do Amor que Deus, existente no santo, surgiu de baixo, por evoluo, procedente da vida que, por sua vez, brotou das energias dinamicamente degradadas; e como no pode, o que Deus, ser criado, nem evoluir desse nvel divino para cima; e para chegar a esse ltimo

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estgio de evoluo, o amor teve de partir de algo que, no seu comeo mais remoto, era Deus, vem esta concluso necessria: aquele AMOR que aparece no fim do processo evolutivo, alm do qual no h mais subir, o mesmo do princpio, de quando, em PRIMEIRA INSTNCIA, os filhos do mundo celeste foram criados. Porque, se no tivesse acontecido a INVOLU O... que antecedeu o CAOS do qual surgiu esta nossa FASE EVOLUTIVA, teramos este formidando estapafrdio: o AMOR que DEUS surgiu do CAOS por evoluo (!?). Como isto absolutamente impossvel, o contrrio que a verdade: o AMOR que DEUS, alm de preceder a INVOLUO, quando da criao dos espritos celestes, ainda esteve presente sempre, desde o CAOS, como princpio que de integrao; e nada se formaria se esse princpio no atuasse, como, de fato, no atuou durante todo o tempo da INVOLUO em que tudo caiu e se desfez no medonho CAOS. Como o amor em nosso mundo evolutivo surgiu de baixo, da energia-substncia inferior; e sendo o Amor, Deus, segue-se que o amor o ltimo estgio do retorno, ou volta ao que era no princpio, ao que era antes de a inverso e a queda acontecerem... A Energia-Substncia (AMOR) divina individuada nos espritos celestes, nestes, porque LIVRE, ficou autnoma at para tornar-se no seu

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oposto, no egosmo desintegrador. Em se dissociando o AMOR-ALFA, surgiu dessa desintegrao, aquele arquidilvio de energias inferiores as quais possuam propriedades inversas das de hoje: ao invs de, como agora , as energias abrirem-se em ondas para a periferia, fechavam-se desta periferia para o centro, como ocorre com os raios laser que so concentrativos, e no, dispersivos. De tais raios se compunham as energias que se enrolaram em partculas subatmicas... do que resultou o Colosso Primitivo que, perto de expandir-se por rotao e exploso, media dez mil anos luz de dimetro. Toda a matria do universo, ento, se achava nessa fulgurante e massiva esfera... De tais energias centralizantes, pois, surgiu o CAOS, pai deste nosso universo evolutivo. Esta a razo de ser possvel, agora, o movimento inverso do movimento da queda, em que o amor retorna sua prstina figura, ao estado primitivo, por evoluo. Dando-se seta a significao de "vai para", podemos construir a frmula do universo, e esta, em que C Caos: AC A= Deus, pois, o AMOR, ENERGIA-

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SUBSTNCIA esta que se fez LUZ - "Deus Luz". (I Jo 1, 5). Da que, no Gnese, est: Haja luz, e no, haja a matria. H mil e quinhentos anos antes de Cristo, Moiss deixou implcito que a energia se transforma em matria. Faz setecentos e trinta anos que Toms de Aquino, "e com ele o sentir mais comum dos telogos, resolve que a luz que Deus criou o primeiro dia, foi a mesma luz de que formou o sol ao dia quarto (...)". O destaque nosso para sublinhar que o Sol nasceu da sua luz, e no, como hoje, que a luz (e a partir dela, todas as energias nossas) nasce do Sol... Agora So Joo: "No princpio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo o que foi feito, foi feito por ele, e nada do que foi feito sem ele se fez". (Jo 1, 1). Portanto: O Verbo era Deus. (Jo 1, 1). Deus Luz. (I Jo 1, 5). Deus Amor. (I Jo 4, 8). O Amor Alfa e Omega. (Apoc. 22, 13). O Amor aquela SUBSTNCIA primordial que os pensadores de Mileto e pr-parmendicos procuravam. O Amor, por conseguinte, a "MATRIA" de Deus que Aristteles no podia conceber, em razo do que sentenciou que Deus essncia pura, pura idia vazia, pura forma oca, pura vacuidade

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substancial ou abstrao pura, sem matria alguma. E quando Kant deduziu que o espao infinito, ficou assustado face concluso necessria de que a matria infinita que enche e d entidade ao espao infinito, se confunde com Deus. Se Aristteles e Kant tivessem alcanado que essa matria infinita se chama AMOR, certamente, a teriam acolhido com jbilo, para maior coerncia de seus respectivos sistemas. 1 - O Universo primeiro, primrio, fundamental que Deus criou, o mundo celeste, f-lo da sua ENERGIA-SUBSTNCIA que o AMOR. 2 - A Jerusalm Celeste e o Topos Uranos so duas vises de uma mesma coisa, ocorridas em dois pontos diferentes do tempo e do espao. E ambos videntes, um filsofo e um mstico, Plato e Joo, concordaram em que tudo comea e acaba no lugar celeste. 3 - A mxima moral super-evanglica vigente nesse mundo celestial : "Ama ao prximo mais do que a ti mesmo". 4 - Houve o esfriamento do Amor em parte do coletivo formado pelos espritos celestes. Depois o impulso amoroso, porque livre, porque mutvel, porque polarizvel, inverteu-se no seu contrrio. E o contrrio do AMOR que integra, e o EGOISMO desintegrador.

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5 - Aconteceu, ento, o inevitvel: a desintegrao dessa parte dos espritos celestes, sua dissociao atravs dos nveis do espao at o CAOS primeiro, no centro daquilo que, depois, se chamou universo. - A ENERGIA-SUBSTNCIA, outrora AMOR e agora EGOISMO, ao decompor-se, tal qual a luz branca atravs do prisma, produziu um diluvio de energias do tipo "raios laser", de ondas concentrativas, cada vez mais curtas, penetrantes e dinamicamente potentes, at que, ao serem frenadas pelo choque de umas com outras, enrolaram-se sobre si mesmas em vrtices que so as partculas de matria no seio do Colosso Primitivo. 7 - A EVOLUO, por isto, a volta ao perdido Amor. Por esta causa, CIVILIZAO o mesmo que DESANIMALIZAO, que DESINVERSO DE DRAGO, que SANTIFICAO, que SABEDORIA, que DOMNIO DA BESTA que o homem, em parte, ainda ; enfim, RELIGIO, em seu duplo sentido, como se segue: Comecemos pelo vocbulo inteligncia que vem do latim interlegere que se decompe em inter (entre) e legere (ler). Inteligncia significa ler, achar, apanhar entre as coisas o nexo; o nexo liga as coisas, antes desconexas, desvinculadas, caticas, incompreensveis, dando-lhes um sentido 6

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de inteligibilidade, de entendimento. Portanto, temos a duas razes vocabulares, uma primitiva leg. Como o ato de ler consiste em ligar coisas pelos nexos, ou ligar palavras (smbolos representativos das coisas) formando um sentido, da raiz primitiva leg saiu a derivada lig que d ligare (ligar) ou religare (religar). Deste modo, religio de religio (religio), nasce da raiz lig, variao de leg que d legere (ler). Por este caminho andou o grande tribuno, escritor e orador romano Ccero, para quem religio vem de re e legere, e significa tornar a ler, meditar e refletir sobre os livros sacros, pelos quais a religio se transmite. Nossa interpretao, porm, diferente: Religio nova leitura do dado natural para descobrir-lhe o nexo mais profundo, qual o estamos fazendo nestes escritos. No entanto, diferente do filsofo, quando o fautor da religio descobre esse "vnculo profundo que uniu partes sem conto, e fez do todo um mundo" (Goethe), ele o torna a velar, que isto significa revelar, apresentando sua descoberta sob o vu da alegoria, das figuras e das mximas. Como este vnculo profundo das coisas, em nova retomada ou releitura do dado, Deus, religio vem a ser a disciplina que trata de Deus. Deus o vnculo profundo das coisas, obtido por meio de uma releitura do dado natural. A primeira leitura (inter-legere) deu apenas o nexo que a inteligibilidade das coisas, ou o conceito delas nas palavras que as representam. A segunda

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leitura tomou os prprios nexos j descobertos, e os ligou num sentido ainda mais amplo e profundo; as palavras-conceitos so substitudas por sentenas-snteses, e estas so conectadas por uma inteligibilidade mais profunda ainda, e ao VNCULO por excelncia que tudo conecta na Unidade total, esse foi chamado DEUS. Tal como entendia Francis Bacon para escrever: "Um pouco de filosofia inclina o esprito ao atesmo, porm maior profundeza o reconduz religio; porque quem olha destacadamente as causas segundas, pode algumas vezes no passar delas, deixando de ir alm; mas quem lhes contempla o encadeamento, remonta at Providncia e Divindade". Posteriormente, Lactncio, cognominado o "Ccero cristo", por causa da pureza do seu estilo, faz a palavra religio derivar-se de religare (religar), dado que religa a criatura com o Criador. Ora, quem diz religar supe algo que estava ligado antes, desligou-se depois, e se religa agora. Estar ligado Alfa; desligar-se involuir ou cair no CAOS; tornar a ligar evoluir, tornar-se Omega, voltar ao que dantes era. Logo, como enunciamos, EVOLUO idntico a RELIGIO. Na sentena nmero 7 ficou estabelecido, tambm, que CIVILIZAO o mesmo que SANTIFICAO. Todavia, diz Toynbee: "Nenhuma civilizao conhecida chegou a atingir o OBJETIVO

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DA CIVILIZAO. Nunca houve uma COMUNIDADE DE SANTOS sobre a Terra". Este OBJETIVO da CIVILIZAO que tornar os homens SANTOS, no pde ainda ser atingido, coletivamente; mas alguns homens isolados o atingiram. Para onde foram eles? As civilizaes comparam-se a destiladores: o produto destilado - SANTO, SBIO - vo-se deste mundo para outros planos ou nveis mais felizes do universo; a restilada fica aqui; os demagogos sobem ao poder; a minoria criadora anterior se troca por uma minoria dominante apenas, em todos os nveis, inclusive, no da religio. Cessada a msica celestial que fazia danar as multides, estas param, recaem na animalidade, e o fim. Eis, pois, que no h salvao fora do amor. Spengler tem e no tem razo: tem-na quando afirma a evidncia de que as civilizaes so cclicas; no a tem quando afirma que o fatalismo cclico no pode ser quebrado. O Reino de Deus, de Cristo ou do Amor, quando for estabelecido entre os homens, tal "Reino no ter fim". (Luc. 1, 33). Pela recproca, por que haveriam de subsistir as civilizaes que se foram, se todas se compunham de homens dragontinos? E a nossa civilizao cair? Sem dvida que sim, se este caminho que apontamos, que o de Cristo, no for palmilhado. Criacionismo ou Evolucionismo? Ambos... visto que so tese e anttese, ambas necessrias para a construo da sntese. A Primeira Criao f-

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la Deus, diretamente, da sua ENERGIASUBSTNCIA que o AMOR. A Segunda Criao ficou por conta do Criado, das Criaturas todas, de todos os Entes... que tero de execut-la por tentativas e falncias, pelo ensaio-e-erro, realizando-a por meio da loteria, do acaso, fazendo jogadas a esmo, at que d o nmero sorteado estabelecido desde sempre nas leis do universo que pr-esto a tudo. Eis que esta Segunda Criao conseguida atravs da Evoluo desde o CAOS. Esta SNTESE fecundssima, pois tudo integra na Unidade total, nada lhe ficando fora. Aqui est o Evangelho posto em linguagem cientfico-filosfica, e, por isto, racional, exata. Eis como se pode chegar ao Evangelho pelo caminho da razo... construindo esta "ponte que h de nos conduzir do antro das trevas ao foco da luz". Cumpre-se aqui, mais uma vez, a promessa que diz, da parte de Cristo: "Eis que fao novas todas as coisas" (Apoc. 21, 5), e da parte da Maonaria: "NOVAE SED ANTIQUAE. Os filsofos primitivos de Mileto buscavam uma substncia que fosse primordial na ordem das coisas: ar, gua, terra, fogo, os quatro elementos juntos. Herclito prope que tudo movimento e transformao. Contra esta tese da substnciamovimento, Parmnides coloca a anttese do Serfixo-essncia-pura. Que da SNTESE que devia seguir-se a essa tese e anttese do Realismo greco-

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medieval? Ficou por fazer-se... Essa anttese parmendica que fixou o SER na imobilidade da Essncia pura sem matria alguma, chamou-se Realismo... visto que tudo o que no fosse essncia foi considerado como noser, irrealidade, sombra, iluso. Se, contudo, tomarmos este Realismo, este segundo movimento do pensar antigo (Mileto-Grcia), como nova tese, sua Anttese ser o Idealismo da ps Renascena... que teve incio no cogito de Descartes. O Realismo-ttico partia das coisas (res) para o sujeito (eu pensante). O idealismoantittico parte do sujeito que pensa (eu) para as coisas (res). Este Idealismo que tambm se chama Psicologismo ou Filosofia Moderna, teve seu pinculo em Kant, descendo, depois, pelas vertentes absolutistas de Schelling, Fichte e Hegel. Que desta nova SNTESE?... que integraria o Realismo greco-medieval ao Idealismo, Filosofia Moderna? Outra vez ficou por fazer-se... Vieram os filsofos ditos contemporneos, e, em vez de efetuarem a sntese esperada, perderamse em criticar os filsofos absolutistas e sistemticos, sobretudo, Hegel. Alm de no sistematizarem nada, alm de no darem unidade filosofia... que isto torn-la sistema, ainda levaram o mundo desesperana, angstia, ao caos, ao nada... O que faltou a todos? Faltou darem SUBSTNCIA ao SER-DEUS.

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A realidade da substncia no pde entrar na cogitao de nenhum filsofo, nem antigo nem moderno, porque todos supuseram ser este nosso mundo, o primrio que Deus criou. Como este nosso mundo se mostra ainda em grande parte invertido, perverso e mau; ainda em grande parte malfico, referto de sofrimentos, de tragdias, de angstias, de caducidades, de mortes, tal mundo no podia ter nenhuma relao com o SER, exceto a de negao do que . Contudo, este nosso mundo real, e no, de sombras ilusrias; apenas que est invertido no negativo qual ocorre entre a frma e o formado, entre o negativo fotogrfico e o retrato em positivo. Ento, s copiar o negativo do mundo, e ter-se- o positivo dele em felicidade e bem. Meta-se massa nessa frma, que o que era reentrncia se far salincia, e vice-versa. Dando-se SUBSTNCIA a Deus, partir-se-ia, no das substncias fsicas: ar, gua, terra, fogo, movimento, como o fizeram os filsofos miletanos e o efsio Herclito; no das substncias supra fsicas: vida, desejos, Eu absoluto, vontade, como os filsofos ps kantianos: Bergson, Schelling, Fichte, Schopenhauer e Nietzsche propuseram; mas do AMOR como o fizeram Plato, Plotino, Agostinho, se bem que imaturamente, visto como todos eram desprezadores do corpo, do mundo, da matria, sem atinarem que, sem um corpo substancial, a alma-essncia-pura torna-se pura idia

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abstrata vazia de contedo, simples lembrana na memria dos que ficaram. O Deus-Substncia objeto das religies (fs), no passo que o DeusEssncia-Pura sem matria alguma objeto das filosofias (razo); pois, dando-se a Deus a Substncia-Amor, razo e f se irmanam, findando a guerra que as mantm separadas como adversrias..., sendo esta a ltima, a maior e a mais fecunda SNTESE de todas. Sob o signo desta SNTESE desenvolver-se- a NOVA CIVILIZAO, a do terceiro milnio. Isto, atentemos bem!, no pregar nenhuma religio nova, visto acharmos que todas as religies superiores, isto , monoteistas, servem ao propsito de civilizar, de santificar o homem, desde que este homem, se atenha ao que for essencial na sua religio, ou seja, ao que nela for basilar. Trata-se, para o mundo Ocidental, de UMA ABERTURA NOVA PARA O EVANGELHO, em que So Joo - o Apstolo do amor - colocado em evidncia, e proposto para tema basilar das meditaes e das pregaes, sobretudo quando diz: "Se algum disser, pois: Eu amo a Deus, e aborrecer a seu irmo; um mentiroso. Porque aquele que no ama a seu irmo a quem v, como pode amar a Deus, a quem no v? E ns temos de Deus este mandamento: que, o que ama a Deus, ame tambm a seu irmo". (I Joo 4, 20-21). Pois bem: o amor energia-substncia que

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nasce num sujeito e se dirige para o seu objeto (que tem que ser substancial, fsico, objetivo, abravel) o outro, o irmo, atravs do qual, e s atravs do qual, possvel amar a Deus. Deus no pode ser amado diretamente, e sim, indiretamente, por meio de suas criaturas... das quais a mais excelsa o homem. Se Deus, diretamente, for o objeto do amor, quem o busca a ele, estende os braos para o Infinito, para o Eterno, para o Impondervel e Inacessvel sem o achar, porque, como j dizia Pascal, "a simples comparao entre ns e o infinito nos acabrunha". No podemos, portanto, abrir os braos para abraar isso que, por sua grandeza e majestade nos acabrunha, nos esmaga; "as qualidades excessivas so nossas inimigas, no as sentimos, sofrmo-las". (Pascal). No entanto, esse Deus distancssimo, longnquo, inacesso para quem o desejaria cingir, diretamente, num amoroso abrao, est perto, no irmo com o qual pode partilhar todas as horas de um convvio fraterno. Tal o sentia So Francisco de Assis para chamar ao lobo de irmo lobo, serpente de irm cobra e ao prprio corpo de irmo corpo. Ortega: "O amor, ainda que nada tenha de operao intelectual, se parece com o raciocnio em que no nasce a seco e, por assim dizer, a nihilo, porquanto tem sua fonte psquica nas qualidades do objeto amado. A presena destas engendra e nutre o amor, ou em outras palavras, ningum ama

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sem porqu ou porque sim; etc.". que o amor, com ser substancial, possui ponderabilidade, alm de ser causal, em razo do que disse Agostinho: "Meu amor meu peso: por ele vou a toda parte que vou". Se as qualidades do objeto amado so as que engendram o amor no amante; se o objeto amado, por suas qualidades, o peso que move o amante e o faz ir a toda parte que v; ento, Deus ter de possuir qualidades pelas quais possa ser amado. Dar-lhe qualidades, qualific-lo, finitiz-lo, limit-lo, antropomorfiz-lo, torn-lo como criatura com nome de Deus. Esta a razo de se haver dito de Cristo um Deus; na impossibilidade de amar a Deus que transpe, e acima de todas as qualidades, todas elas antropomrficas, passou-se a amar ao Cristo-Criatura, como se ele fosse o DeusCriador. Por esta mesma razo, no se pode ser diretamente contra Deus, nem h modo de ofendlo, a no ser atravs de suas criaturas. O legendrio arcanjo Lusbel ao fazer-se contra Deus, no o fez diretamente, porque no pde; para consegui-lo, no Ihe sobrou outro recurso alm de opor-se ORDEM em que se achava alojado desde a sua formao; e foi s contra essa ORDEM, e contra seu prximo que estava e queria permanecer nela, que moveu sua ao destrutiva. Seu ataque foi dirigido ao que estava perto e imediato, e no ao mediato e remoto. Nisto se

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cifrou a sua danada rebeldia e oposio a Deus. Como conseqncia natural, inexorvel, automtica e imediata, "o seu lugar no se achou mais nos cus" (Apoc. 12, 8); sua desintegrao no atro abismo, no centro daquilo que, depois, se chamou universo, foi o resultado espontneo de haver trocado o amor pelo egosmo e a ORDEM pelo que, depois, se evidenciou ser o CAOS... de onde se originou nosso universo. Os mandamentos que impem: amar a Deus sobre todas as coisas, e ao prximo como a si mesmo, deixam implcitas duas condies, uma referente a Deus, e outra relativa ao prximo. A primeira condio supe um Deus antropomrfico, ainda que s representado por imagem mental, que tanto pode ser um semi-corpreo e cruento Jeov hebreu, ou um imaginrio e bonssimo Pai cristo. Todavia, tanto que a humanidade parcialmente saiu da sua infncia para a idade da razo, e a idia de Deus evoluiu para o abstrato, impondervel e inacessvel. Deus no pde mais ser diretamente o objeto do amor de nenhum ente finito. Ainda que o ente seja um querubim, um serafim, Deus transcender para alm de todos os seus limites de criatura. A segunda condio deixa claro que o homem, o prximo, no coisa, mas, pessoa. Demos que as criaturas todas, que enchem o mundo, sejam coisas; o homem, porm, pessoa. Esta distino

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entre coisa e pessoa se infere dos dois mandamentos de Cristo quando ele sentencia: "Amars a Deus sobre todas as coisas"; como o prximo no coisa, ficou fora deste primeiro mandamento, obrigando-se Cristo a fazer um segundo. Se o homem fora coisa, Cristo havia de dizer: amars a Deus sobre todas as coisas dentre as quais o prximo. Por esta razo, o mandamento que podia ser um s, ficou dois, e disse no segundo: "Amars ao prximo como a ti mesmo". No mandou amar a Deus mais que ao prximo, nem ao prximo mais do que a si mesmo, nem a si mesmo menos que a Deus. Como se dissera: amars a Deus sobre todas as coisas; no, porm, mais do que a teu prximo, nem mais do que a ti; e ao prximo, amars como a ti mesmo. Donde se tira: amars a Deus e ao prximo como a ti mesmo. Logo, o amor de cada um por si mesmo foi tomado por padro e medida do amor que se h de ter, em poro igual, ao prximo e a Deus. Como se no bastasse que o amor ao prximo tem que ser igual ao amor devido a Deus, ainda h mais isto, pela razo exposta atrs: o amor a Deus s possvel atravs do prximo, do irmo que, unicamente, pode ser visto e abraado. Deus mais importante do que o prximo pela reverncia que sua inacessa majestade nos obriga, quer queiramos, quer no; porm o prximo mais importante quanto ao desempenho e atuao do

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amor; e tanto isto verdade que, se nos empenharmos mesmo em amar a Deus, ele se transveste em Criatura que tanto pode ser Cristo, como Jeov tribal saturado de caracteres humanos. Eis tornada clara, como a luz do dia, a razo por que se impe uma ABERTURA NOVA PARA O EVANGELHO: os que dizem, pois, amar a Deus so mentirosos e o provam: porque, em nome desse mesmo Deus do qual se mostram to zelosos, praticam no s o desamor do prximo, como ainda toda a sorte de selvageria, de barbaridade, j em atos particulares, j em genocdios vrios dentre os quais as "guerras santas" (!?), tudo perfeitamente comprovado pela histria. No difcil, todavia, detectar a causa da mentira e hipocrisia reinantes entre os religiosos de todos os matizes: que mais cmodo depararmonos em idia, in abstracto, com uma situao, do que a enfrentando em objetividade, in concreto. mais fcil sermos filantropos no universo do discurso do que na prtica. Por isto disse Henry Fonda: " mais fcil amar a Humanidade do que amar ao prximo". Porque, como no se pode abraar a Humanidade, apertando-a ternamente, contra o peito, tal amor Humanidade da natureza do amor intellectualis de Spinosa, o qual, embora soe lindamente aos ouvidos, em realidade no existe. Amor intellectualis do tipo do amor de Dom Quixote pela dama airosa Dulcineia del Taboso, criatura fantstica

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nascida na mente do tresloucado Cavaleiro da Mancha, muito menos real do que a esttua de Galatia por quem se apaixonara seu autor Pigmalio. Essa a razo por que Rousseau se indispunha com todo mundo, e entregou seus prprios filhos caridade pblica, no obstante, nos seus escritos, nos iludir, fazendo-se passar por "amigo do gnero humano". A esposa de Tolstoi, notava, com tristeza, que seu marido, falava sem cessar do amor de Deus e do prximo e s escrevia sobre essas questes. Mas passava a vida sem entrar em contacto com o prximo, sem lhe testemunhar a menor simpatia. O mesmo ocorria com Bernard Shaw e Schopenhauer que eram magnnimos, sem pares, em seus escritos, porm, avarentos, mesquinhos, em suas vidas. No fugindo regra, mais fcil aos ministros e pastores pregarem sobre o amor de Deus e de Cristo para conosco, e da nossa obrigao de retribuirmos, do que ensinar com palavras e com atos a respeito do amor do prximo, isto , do vizinho. Ir igreja, rezar longamente, cantar hosanas, trinar hinos, recitar inflamados sermes laudatrios em honra de Deus, de Cristo, imensamente mais fcil e agradvel do que dar a mo amiga ao vizinho enfermo ou necessitado. E que o amor dedicado a Deus, a Cristo, j que os no temos perto, do tipo do amor intellectualis; e aquela emoo que os fiis sentem, no amor, mas entusiasmo.

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Entusiasmo vem do grego, e significava, originariamente, ser penetrado ou possudo pelo deus Baco. O sujeito embriagava-se com vinho, e aquele estado de euforia, arrebatamento e xtase era tido como sendo a posse do crente pelo deus. Este culto bquico foi substitudo, mais tarde, pelo culto rfico (de Orfeu), e o entusiasmo nascia da sugesto... produzida pela repetio continuada de litanias hipnticas. Continua sendo deste tipo o entusiasmo dos crentes modernos, ao se exaltarem pela constante repetio dos lugares comuns dos textos sacros. Ora, tudo isto nada tem a ver com o amor que Cristo ensinou como necessrio salvao, isto , libertao dos nveis inferiores de animalidade. Por isto, vamo-nos igreja, em busca do Cristo-distante, esquecendo-nos do Cristoprximo, visto que ele ficou em nossa prpria casa, em nossa vizinhana, na pessoa do velho decrpito e trabalhoso, e/ou da criana-problema que pede amparo, amor. De nada valeu, portanto, ter dito Cristo: "Todas as vezes que fizestes estas coisas a um destes pequeninos, a mim que o fizestes". (Mat 25, 40). Cesse, pois, toda essa generalizada mentira e hipocrisia de todos os crentes e de todos os sacerdotes, quaisquer que sejam os credos, com excees individuais to raras, que nem vale a pena anotar.

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A est o essencial das religies, o s que salva: o amor indistinto, objetivo, prtico, vivencial, para com todos! Se a queda se urdiu por esfriarse, e por inverter-se o amor no seu contrrio, como poder ser possvel a salvao, a no ser pelo amor? Esta a razo por que no h salvao fora do amor ao prximo!... e de que s atravs do prximo que se pode amar a Deus! E nenhuma instituio propicia os meios para o cultivo do amor fraterno como a Maonaria, por meio de suas Lojas, devido a doutrina expressa no Pavimento Mosaico, doutrina decorrente de um dos seus trs pilares... que o da Fraterndade. Ningum a exigir nada de ningum, exceto a sinceridade e a crena num Ente Supremo, ltima instncia de apelao, sobre que se fundamente tudo, e que, entre os maons se convencionou chamar Grande Arquiteto do Universo. A Sublime Ordem uma montagem completa, de mbito internacional, a servio da civilizao que o mesmo que santificao, que sabedoria. Porque, segundo Demcrito, "a medicina cura as doenas do corpo e a sabedoria livra a alma das paixes". Disto se tira que ser sbio ser santo. Poder lograr todo esse benefcio seria, no tempo de Plato, um sonho maravilhoso, a mais pura e arrematada utopia!... Contudo essa utopia se fez realidade...; ns maons a vivemos... Lutemos, portanto, por todos os meios para que a Sublime Instituio no se

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deteriore. Demos-lhe tudo, para que ela, em se salvando do marasmo, salve a CIVILIZAO... ou, quando no possa isto acontecer, seja ela a crislida de que ressurgir, como Fnix, a Nova Civilizao do terceiro milnio! "Eu sou o Alfa e o mega, o princpio e o fim, o primeiro e o derradeiro"!. (Apoc. 22, 13). - "Eis que fao novas todas as coisas"! (Apoc. 21, 5). - NOVAE SED ANTIQUAE!