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Laudo Técnico de avaliação das medidas mitigadoras ao
atropelamento de fauna existentes na estrada CS-012,
município de Cambará do Sul, RS
Porto Alegre, 22 de novembro de 2013
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Biociências – Departamento de
Ecologia
Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias
Av. Bento Gonçalves, 9500, setor IV
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Introdução
Processo de Licenciamento
Através da intervenção do Ministério Público a equipe dos Parques pode sugerir algumas
inclusões e alterações nas medidas mitigadoras instaladas, principalmente nas passagens de
faunas aéreas e terrestres. Porém não houve estudos prévios consistentes que subsidiassem as
medidas propostas. O trâmite do processo de licenciamento está largamente exposto nos
Processos IBAMA 02023.001717/2007-11 e ICMBio 02070.002481/2209-36, os quais esta
informação técnica irá compor.
Medidas mitigadoras ao atropelamento de fauna e isolamento de populações
A colisão de veículos com animais silvestres em rodovias é considerada o maior fator antrópico
responsável diretamente pela mortalidade de vertebrados terrestres em escala mundial,
superando inclusive a caça (Forman & Alexander 1998). Esta mortalidade e o efeito de
evitamento que estradas exercem sobre muitas espécies são responsáveis por outro grande
impacto na fauna, o isolamento de populações (Forman et al., 2003). Nas últimas décadas,
diversos tipos de medidas mitigadoras têm sido implementadas em estradas e ferrovias com a
finalidade de reduzir o atropelamento de fauna e ampliar ou reestabelecer a conectividade
entre populações animais, além de aumentar a segurança dos motoristas (Figura 1). Embora
inúmeros estudos tenham demonstrado a sua funcionalidade, a efetividade dessas medidas
depende, no entanto, da definição adequada das espécies-alvo, dos períodos e locais
prioritários para sua implementação e do desenho mais apropriado para cada caso (Beckmann
et. al. 2010). A caracterização da magnitude da mortalidade antes e após a implementação
destas medidas é de extrema importância para a avaliação da efetividade das medidas.
Medidas mitigadoras implementadas na CS-012
Em Unidades de Conservação (UCs), os riscos associados aos impactos de rodovias são
especialmente preocupantes e exigem uma intervenção qualificada. Os Parques Nacionais de
Aparados da Serra e da Serra Geral são unidades de conservação federais com gestão
integrada, localizados no nordeste do Rio Grande do Sul e sudeste de Santa Catarina, em uma
região de extrema importância biológica composta por Campos Sulinos e Floresta Ombrófila
Mista. As principais estradas que margeiam ou cruzam estes parques são a CS-012, CS-007, SC-
290 (anterior SC-450) e RS-427, totalizando 66 km de estradas. A rodovia CS-012 liga o
município de Cambará do Sul ao cânion Fortaleza, possui uma extensão de 17 quilômetros até
a entrada do Parque e está em processo de pavimentação, tendo 13 quilômetros já
pavimentados. O fluxo de veículos nesta estrada é considerado baixo, porém com aumento
sazonal no período de férias de verão e nos feriados, principalmente natal, carnaval, páscoa e
semana farroupilha. Neste feriado de Proclamação da República tivemos no dia 15/11 831
visitantes, com fluxo de 215 veículos (181 carros, 4 ônibus e 30 motos); em 16/11 649
visitantes, com 187 veículos (125 carros, 4 ônibus e 54 motos) e por fim em 17/11 448
visitantes, com 121 veículos (105 carros, 2 ônibus e 14 motos). Total para o período de 1.928
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visitantes, com fluxo de 523 veículos (411 carros, 10 ônibus e 98 motos). O principal fluxo da
rodovia é de veículos em deslocamento ao Cânion do Fortaleza, interior do Parque Nacional da
Serra Geral, portanto após o horário de visitação, o fluxo torna-se muito baixo.
Durante este processo de pavimentação, foram instalados dutos sob a estrada e pontes aéreas
para a travessia de fauna, além de cercas, placas de sinalização e lombadas. Contudo, o tipo de
estrutura instalada e sua localização foram definidos sem a realização de estudos apropriados
de médio ou longo prazo que indicassem, ao menos, a identificação dos grupos taxonômicos,
sazonalidade e agregações dos atropelamentos. Uma avaliação adequada para a
implementação de medidas mitigadoras (que tipo de medidas e onde ou quando serão
implementadas) deve ser realizada a partir de dados de atropelamento, dados de abundância
local e movimentação dos animais, e/ou com base em análises da paisagem em Sistemas de
Informação Geográfica (Beckmann et. al. 2010).
No dia 31 de agosto de 2013, uma equipe composta por quatro biólogos e um médico
veterinário (este, também Analista Ambiental do Parque Nacional de Aparados da
Serra/ICMBio) do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF/UFRGS) realizou uma
vistoria nas medidas mitigadoras implementadas na CS-012 para sua caracterização. A partir
desta caracterização, é apresentada uma avaliação com considerações sobre o potencial
destas estruturas em mitigar o atropelamento de fauna e o isolamento de populações, e são
feitas recomendações com esta finalidade. Entretanto, neste laudo não está sendo realizada
uma avaliação sobre a localização destas medidas ao longo da rodovia.
Figura 1. Medidas mitigadoras ao atropelamento de fauna e efeito de barreira em estradas e
ferrovias. Fonte: Forman et al., 2003; Seiler & Helldin, 2006; Glista et al., 2009.
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Caracterização das medidas mitigadoras implementadas na CS-012
Foram vistoriadas todas as passagens de fauna (passa-faunas), cercas, lombadas e placas de
advertência associadas existentes na CS-012, sendo oito passagens de fauna sob a rodovia
(PFU) e sete passagens do tipo ponte de dossel (PFO). As Figuras 2, 3 e 4 são esquemas gerais
representativos das estruturas vistoriadas. As Tabelas 1 e 2 apresentam as medições realizadas
nas PFUs e PFOs e estruturas associadas.
Figura2: Esquema representativo das cercas, lombadas e placas de advertência e da disposição central das passagens de fauna em relação à cerca. Neste esquema as dimensões de ambos os lados da cerca são iguais e as lombadas estão localizadas sobre a passagem, mas estas características variam entre cada PFU (ver Tabela 1).
Figura3: Esquema representativo das passagens de fauna sob a rodovia, com as respectivas
estruturas internas e o cercamento.
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Figura4: Esquema representativo das passagens de fauna do tipo ponte de dossel.
Passagens de Fauna Sob a Rodovia
As passagens de fauna sob a CS-012, em geral, possuem uma extensão de 8,1 m e foram
construídas com estruturas padrão de concreto, quadrados que medem aproximadamente 1,5
m de altura e de largura e formam um duto. Nas laterais das entradas de cada passagem foram
construídas paredes de concreto que contêm o avanço da vegetação (Figura 3 e Figura 5).
Cinco das oito passagens sob a rodovia (PFU1, PFU2, PFU4, PFU6 e PFU7) foram construídas
em locais onde cursos d'água permanentes cruzam a estrada (Figura 3 e Figura 6), servindo
como dutos para estes cursos, e uma das passagens (PFU3) apresenta uma grande escavação
onde se acumula água (Figura 7). Assim, em seis passagens foram construídas lajes internas
que conferem um distanciamento do chão e do corpo d’água (Figura 3 e Figura 8), com o
intuito de propiciar a travessia seca de animais sobre os cursos d’água. Estas lajes são placas
de concreto unidas por cimento (rejuntamento), mas apenas na PFU1 os rejuntamentos estão
completos e nas outras cinco passagens ocorrem vãos entre as placas em alguns pontos
(Figura 9). Para a maioria das seis passagens que apresentam laje, a altura entre elas e o teto é
de aproximadamente 90 cm e a altura do vão entre o chão e a laje é de 50 cm. Nas entradas
das passagens, existem passarelas de concreto para o acesso de animais às lajes sobre a água
(Figura 3 e Figura 8).
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Figura5: Cada passagem de fauna possui paredes de concreto que detêm o avanço dos taludes
nas laterais da entrada (ex. PFU8).
Figura6: Passagem de fauna construída sobre curso d’água. A PFU2 é a única passagem
construída com dois dutos justapostos.
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Figura7: Entrada da PFU3, onde a escavação feita para construção da passagem gerou um poço
com acúmulo de água.
Figura8: Lajes internas construídas em seis passagens de fauna para criar uma base seca para a
fauna e passarela de concreto no lado direito da passagem facilitando o acesso dos animais às
lajes internas (ex. PFU6).
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Figura9: Placas de concreto (lajes) com rejuntamento de cimento (foto da esquerda, PFU1) e
sem rejuntamento (foto da direita, PFU4).
Algumas particularidades observadas em determinadas passagens devem ser ressaltadas. A
passagem PFU2 é composta por dois dutos justapostos (Figura 6), com passarelas em um dos
dutos. Na PFU3, a água acumulada na escavação possui uma altura de 67 cm, deixando as lajes
e passarela submersas (Figura 10). Em seis passagens existem cercas de arame farpado
próximas ou bem em frente às entradas das passagens, provavelmente para que animais de
criação não tenham acesso à passagem, mas que podem impedir ou dificultar o uso das
passagens pela fauna nativa (Figura 11). Alguns indicativos de potencial uso das passagens pela
fauna nativa foram registrados. Na PFU2 foi visualizada a presença de um sapo-cururu
(Rhinella sp.) em uma passarela. Na entrada da PFU5, foram registradas fezes de um mamífero
carnívoro. Na entrada da PFU8, foram registradas pegadas de jaguatirica (Leopardus pardalis) e
dentro desta passagem foram observadas pegadas de mamífero não identificado.
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Figura10: Água acumulada na PFU3 em função de escavação, deixando submersas as lajes e a
passarela para passagem seca.
Figura11: Entradas das passagens de fauna bloqueadas por cercas de arame farpado. Exemplos
das PFU7 (foto da esquerda) e PFU6 (foto da direita).
Passagens de Fauna do Tipo Ponte de Dossel
As passagens de fauna do tipo ponte de dossel (Tabela 2) são estruturadas com postes de 5,5
m de altura em cada lado da rodovia, elevando uma tela de 45 cm de largura com malha de 10
cm (exceto pela PFO7, que possui uma malha de 2 cm) (Figura 4 e Figura 12). Apenas a ponte
de dossel PFO1 não apresenta contato da malha de arame com a vegetação de dossel ou sub-
bosque, uma característica importante para a travessia de animais arborícolas. Esta ponte se
localiza próxima à passagem PFU1, estando localizada após 50 metros do início da cerca.
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Figura12: Passagem de fauna do tipo ponte de dossel (PFO6).
Cercas
As cercas acompanham todas as passagens de fauna sob a rodovia (Figura 2 e Figura 13). As
cercas são rentes à estrada e não apresentam direcionadores nas extremidades (avanços da
cerca para fora da margem da estrada em um ângulo que conduza o movimento de um animal
para a passagem). A altura das cercas varia de 1,80 a 1,98m e elas possuem duas espessuras de
malha: uma malha fina (2 cm) com 50 cm de altura e uma malha grossa (com 10 cm de
espessura) que varia de 1,3 a 1,48 m de altura. Elas não são enterradas e, na maioria dos casos,
apresentam um espaçamento de aproximadamente 10 cm do solo. Algumas cercas
apresentam defeitos, como buracos e amassados. A extensão das cercas varia de acordo com
cada passagem, em alguns casos também varia em relação ao lado da rodovia (Tabela 1).
Figura13: Trecho com cerca dos dois lados da rodovia, lombada e placas de sinalização sobre
passagem de fauna sob a rodovia (PFU2).
Lombadas
Existem lombadas nos trechos da CS-012 onde se localizam as passagens de fauna sob a
rodovia (Figura 2 e Figura 13). Em quatro destas passagens as lombadas estão dispostas
exatamente acima das passagens. Nos outros casos, variam de acordo com cada passagem
(Tabela 1).
Placas de Sinalização
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As placas de sinalização de advertência de animais selvagens estão dispostas adjacentes a
todas as lombadas nos dois sentidos da estrada (Figura 2 e Figura 13), exceto na PFU1 e PFU8
que apresentam placas apenas do lado direito na estrada, no sentido Cambará do Sul-cânion
Fortaleza (Tabela 1).
Supressão da vegetação na margem da rodovia
A vegetação na margem da rodovia apresentava supressão rente ao solo, em geral em uma
faixa de 1,8 m a partir de cada margem da rodovia (Figura 14).
Figura 14: Supressão da vegetação na margem da rodovia.
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Tabela1: Dados e medidas das medidas mitigadoras cerca e passagens subterrâneas de fauna.
Informações Medidas mitigadoras – identificação e localização
PFU 1 (4+460) PFU 2 (5+320) PFU 3 (6+860) PFU 4 (7+050) PFU 5 (8+200) PFU 6 (9+620) PFU 7 (9+840) PFU 8 (10+500)
Cercas, lombadas e placas
Altura da cerca(m)
1,90 1,80 1,90 1,95 1,93 1,80 1,98 1,95
Extensão da cerca(m)
Lado direito: 56,8 Lado esquerdo: 102,80
104,75 102,80 103,0 105,5 101,15 102,5 Lado direito: 62,80 Lado esquerdo: 100,90
Quantidade de danos na cerca
8 8 3 4 - 5 2 3
Disposição do passa-fauna em relação à cerca¹
central central central central central central central central
Disposição da lombada em relação à cerca
central central central central 31,40m do início da cerca
No início da cerca
15,10m do início da cerca
18,2m antes da cerca
Placa de advertência
lado direito ambos lados ambos lados ambos lados ambos lados ambos lados ambos lados lado esquerdo
Passagens Extensão do passa-fauna (m)
8,5 8,17 8,16 8,1 8,16 8,10 8,10 8,36
Largura do passa-fauna (m)
1,5 Dois dutos de 1,45 cada
1,45 1,5 1,45 1,47 1,52 1,50
Altura entre laje (ou chão
0,91 0,90 0,91 0,94 1,46 0,91 0,91 1,50
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quando laje ausente) e teto (m)
Altura entre laje e chão (m)
0,51 0,45 0,55 0,67 Não existe 0,58 0,50 Não existe
Substrato (laje ou chão quando laje ausente)
concreto concreto sem matajuntas
concreto sem matajuntas
concreto sem matajuntas
concreto concreto, sem matajunta
concreto, sem matajuntas
barro no fundo
Presença de passarelas nas entradas (nas mesmas laterais)
Sim, mas em laterais opostas
Apenas em um dos dutos, mas nas duas entradas (Figura 6), parcialmente submersa
Sim, mas em laterais opostas. Submersa no lado esquerdo
2
sim não sim não não
Passarela direita
2 (m)
(LxP)
2,62x0,33 3,90x0,38 2,80x0,36 3,20x0,37 - 2,80x0,40 - -
Passarela esquerda
2 (m)
(LxP)
3,20 x0,32 3,15x0,39 2,95x0,38 3,10x0,38 - 3,10x0,38 - -
Altura lâmina d’água (m)
0,14 0,31 0,67 0,03 Não existe 0,10 0,11 Não existe
Curso d’água permanente e filete
permanente não permanente; buraco da construção alaga. Lajes alagadas até a metade.
permanente seca permanente permanente, drenado para o açude de uma propriedade
seca
Cercas de arame farpado em
Nos dois lados dentro da vegetação.
Lado esquerdo dentro da vegetação.
Cerca de 9 arames no lado direito na
Estrutura complexa de cerca que
No decorrer de toda a cerca do lado esquerdo.
Lado direito, junto com
14
frente à entrada do passa-fauna
Lado direito mais baixa.
beira da passagem.
dificulta acesso dos animais.
Com tela defronte à entrada da passagem.
arame liso, sendo vazada. Lado esquerdo dentro da vegetação.
¹ medido pela maior extensão da cerca. 2
direita e esquerda da CS-012 de acordo com o sentido Cambará do Sul - cânion Fortaleza
Tabela2: Dados e medidas das passagens de fauna do tipo ponte de dossel.
Informações Medidas Mitigadoras
PFO 1 (4+410)
PFO 2 (5+700) PFO 3 (6+160) PFO 4 (6+580)
PFO 5 (6+940) PFO 6 (10+300) PFO 7 (11+200)
Largura da ponte(cm) 45 45 45 45 45 45 45
Distância entre postes(m) 11,65 14,20 13,70 13,30 11,70 12,80 11,60
Distância base da ponte – poste (m) 5,50 5,35 4,60 5,60 2,10 5,50 4,20
Distância base da ponte – estrada (m) 7,55 9,85 8,30 8,40 6,70 8,80 5,80
Distância poste – estrada ESQUERDA1
(m) 2,15 4.50 4,10 4,20 3,20 3,90 3,10
Distância poste – estrada DIREITA1 (m) 2,45 3,60 3,70 2,80 4,60 3,30 2,35
Largura da estrada (m) 7,05 7,05 7,05 7,05 7,05 7,05 7,05
Altura do poste (m) 5,50 5,50 5,50 5,50 5,50 5,50 5,50
Largura malha da ponte (cm) 10 10 10 10 10 10 2
Conexão com a vegetação Não encosta (ambos lados)
Encosta dois lados
Esq. sub-bosque encosta; Dir. sub-bosque e araucárias encostam.
Sub-bosque encosta dos dois lados.
Esq. sub-bosque encosta. Dir. araucária próxima.
Esq. Sub-bosque encosta; Dir. sub-bosque próximo.
Esq. Sub-bosque próximo; Dir. araucária próxima.
1 Direita e esquerda da CS-012 de acordo com o sentido Cambará do Sul - cânion Fortaleza
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Avaliação das Medidas Mitigadoras
Passagens de Fauna Sob a Rodovia
Passagens de fauna são medidas mitigadoras implementadas com o objetivo de diminuir o
atropelamento de fauna e/ou diminuir o isolamento de populações por estradas. Para uma
passagem de fauna ser efetiva, ou seja, diminuir a mortalidade por atropelamento e/ou
possibilitar conectividade entre populações, ela deve (1) ser utilizada pelas espécies-alvo de
mitigação e (2) incrementar a taxa de travessias com sucesso de uma população entre os dois
lados da estrada. Assim, as passagens devem ser um ambiente passível e o mais favorável
possível à utilização pelas espécies-alvo. O uso ocasional de uma passagem pelas espécies-alvo
não garante sua efetividade na mitigação dos impactos a que se destina, estas estruturas
somente serão efetivas se proporcionarem uma alta taxa de travessias com sucesso,
comparada com a taxa de travessias de sucesso sobre a estrada. Dessa forma, é fundamental
avaliar a efetividade das passagens de fauna, identificando quais espécies as utilizam e suas
taxas de uso, e monitorando o número de atropelamentos neste trecho e o número de
travessias de sucesso sobre a estrada. Estes resultados gerarão informações sobre o fluxo de
indivíduos entre as populações, assim como identificarão espécies que não utilizam as
passagens de fauna, mas apenas a rodovia para se deslocar. Para este tipo de avaliação, é
necessária a observação de registros de uso e da quantidade de registros de uso ao longo do
tempo, o que pode ser feito com a utilização de armadilhas fotográficas. A avaliação que
realizamos a partir desta vistoria, descrevendo a estrutura e composição das passagens de
fauna, nos permite apenas inferir sobre a adequabilidade destas ao uso por diferentes
espécies-alvo.
As passagens de fauna sob a CS-012, em geral, possuem difícil acesso para a travessia de
fauna. A estrutura de lajes é importante para que animais de pequeno a médio porte utilizem
a passagem evitando o curso d'água. Contudo, a presença das lajes em toda a largura da
passagem, pode inibir e dificultar o uso por animais de maior porte, como cervídeos e
carnívoros, que teriam que subir até a laje para a travessia. Desta forma, nas passagens com
presença de água (PFU1, PFU2, PFU3, PFU4, PFU6 e PFU7), o ideal seria manter a estrutura da
laje somente no canto da passagem para permitir o uso por animais de diferentes tamanhos.
Não deve haver espaço entre as lajes a fim de evitar acidentes com animais nestes buracos e
as passarelas de acesso às lajes sobre a água devem ser instaladas nas duas entradas das
passagens (na PFU7, por exemplo, não existem passarelas, Figura 15). Nas passagens sem a
presença de água a estrutura de lajes não é necessária e já está ausente (PFU5 e PFU8). Além
da estrutura interna das passagens, outro aspecto que dificulta o uso das passagens é a
presença de cercas de arame farpado nas entradas, que devem ser removidas. Na PFU3, o
desnível entre a entrada da passagem e o terreno criado pela escavação (Figura 7) dificulta o
acesso de animais e gera o acúmulo de água dentro da passagem.
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Figura 15: Passagem de fauna sob a rodovia (PFU7) sem a presença de passarela de acesso às
lajes secas, dificultando o acesso dos animais à parte seca da passagem de fauna.
Passagens de Fauna do Tipo Ponte de Dossel
As passagens de fauna do tipo ponte de dossel apresentam estrutura adequada para travessia
de animais arborícolas. O único aspecto a ser ressaltado é o contato da ponte com a vegetação
do dossel ou sub-bosque para acesso dos animais, que é ausente na PFO1, mas que com o
crescimento da vegetação pode ficar adequado.
Cercas
A utilização de cercas como medida mitigadora ao atropelamento de fauna pode se justificar
por uma ou pelas duas das seguintes funções: (1) evitar que os animais cheguem à estrada; e
(2) conduzir os animais para uma passagem de fauna. As cercas instaladas na CS012 não
cumprem nenhuma destas duas funções. (1) Como são trechos curtos cercados de ambos os
lados da estrada (no máximo 105 m de estrada cercada em ambos os lados) os animais
conseguem acessar o trecho da estrada entrando por uma das suas extremidades, o que
impede que a cerca atue como uma barreira do acesso do animal à estrada. Além disso, os
vãos entre a cerca e o chão presentes em vários trechos podem permitir o acesso de animais
pequenos à estrada, como cobras e roedores. (2) As cercas não possuem direcionadores nas
extremidades (avanços da cerca para fora da margem da estrada em um ângulo que conduza o
movimento de um animal em direção à passagem, Figura 16). Mesmo que as cercas
possuíssem estes direcionadores, estariam conduzindo os animais para passagens de fauna
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não atrativas e que dificilmente seriam utilizadas (como colocado na avaliação das passagens
de fauna, item acima).
Figura16: Entrada de passagem de fauna (seta) na BR 101/RS, com cerca direcionadora. Fonte:
Lauxen M. 2012. A mitigação dos impactos de rodovia sobre a fauna: um guia de
procedimentos para tomada de decisão.
A instalação de cercas como medida mitigadora ao atropelamento de animais possui pelo
menos três efeitos indesejáveis: (1) no caso de cercas que permitem o acesso de um animal a
estrada, esta estrutura pode aumentar a chance de atropelamento, pois o animal fica
"embretado/encurralado" na estrada cercada; (2) muitos animais podem se ferir no contato
com a cerca (como já registrado na CS-012 pela equipe do ICMBio, Figura 17) ou ficar presos
nestas estruturas; (3) a cerca não possibilita a travessia de animais de um lado para outro da
estrada, isolando grupos de animais e funcionando como um barreira ao fluxo gênico de
populações (Jaeger & Fahrig 2004).
Figura 17: Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) morto em decorrência de ferimentos na
cerca da PFU2 (foto da esquerda, cedida pelo ICMBio) e pelos presos na cerca (foto da direita).
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A instalação de cercas somente deve ser uma alternativa quando uma ampla gama de espécies
utiliza as passagens de fauna e a proporção de atropelamentos (proporção do número total de
tentativas de travessia da rodovia que resulta em atropelamento) for muito alta (Jaeger &
Fahrig 2004). A CS-012 é uma estrada de 17 km (atualmente 13 asfaltados e 4 de estrada de
terra com pedras) que liga Cambará do Sul ao Parque Nacional da Serra Geral e dá acesso a
poucas propriedades ao longo do caminho. O fluxo de veículos nessa estrada é baixo, embora
seja previsto um aumento deste fluxo com a pavimentação completa do trecho até o PARNA
da Serra Geral. O fluxo noturno nesta estrada é extremamente baixo, pois a visitação ao
PARNA da Serra Geral só é permitida até às 17 h. Além disso, a taxa de atropelamentos
observada atualmente para esta estrada é baixa. Entre maio de 2012 e maio de 2013, o NERF
realizou o monitoramento da CS-012 e registrou 63 animais atropelados (47 anfíbios, 5 aves, 9
répteis e 2 mamíferos).
Concluindo, a instalação de cercas para mitigação de atropelamentos de fauna não se justifica
de maneira alguma na CS-012. Da forma como estão instaladas, essas estruturas não cumprem
com os objetivos propostos para a mitigação deste impacto. Mesmo que as cercas já instaladas
fossem readequadas para o cumprimento destes objetivos (maior comprimento ou
cercamento total da estrada, e condução às passagens de fauna), no caso específico da CS-012,
os efeitos negativos à fauna gerados por estas estruturas (que já estão sendo observados,
como exemplificado na Figura 16) podem representar um impacto adicional ou ainda maior do
que o atropelamento para as populações de espécies na região.
Lombadas
A diminuição da velocidade tem um efeito na diminuição da mortalidade por atropelamento.
Hobday & Minstrell (2008), em um trabalho desenvolvido na Austrália, mostram que uma
diminuição de 20% no limite de velocidade em um trecho de 10% da rodovia (nos locais de
agregação de atropelamentos) resultaria numa diminuição de 50% nos atropelamentos. Neste
sentido, as lombadas instaladas na CS-012 podem ser uma medida adequada para mitigar o
atropelamento de animais. Além disso, no caso da CS-012 que apresenta um baixo fluxo de
veículos, as lombadas não representam problemas ao tráfego.
Placas de sinalização
As placas de sinalização junto às lombadas não possuem um efeito adicional de mitigação, já
que o motorista deve reduzir a velocidade devido à lombada, havendo ou não placa. As placas
seriam mais úteis se localizadas em outros locais e se fossem mais informativas. O uso de
placas de sinalização no mesmo padrão de outras estradas (por exemplo a placa oficial de
advertência a animais selvagens) e dispostas aleatoriamente ao longo da estrada (ao invés de
colocadas em locais onde realmente se espera maior frequência de travessia de animais)
diminui a sua efetividade. Por exemplo, um estudo nos Estados Unidos mostrou que os
motoristas se habituam às placas de sinalização permanentes que alertam sobre o risco de
atropelamentos de veados, o que diminuiu a sua efetividade (Sullivan et al., 2004). Além da
preocupação na elaboração de placas que chamem a atenção dos motoristas, é preciso ter
sempre o cuidado de utilizar mensagens relacionadas a situação local e envolvendo a fauna
nativa impactada pela rodovia. A Figura 18 mostra um exemplo de placa de sinalização de risco
de atropelamento de fauna na rodovia Transpantaneira. Uma sugestão seria uma placa grande
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no início da CS-012 em Cambará do Sul informando ao motorista de que ele está é uma área
de Parque Nacional, com travessia de animais silvestres e solicitando a redução da velocidade.
Figura 18: Exemplo de placa de sinalização com a fauna local na estrada Transpantaneira (MT-
060).
Supressão da vegetação na margem da rodovia
A supressão da vegetação na margem da rodovia é uma medida adequada, no caso da CS-012,
já que favorece a visualização da travessia de um animal pelos motoristas e faz com que o
animal tenha um espaço antes de perceber o asfalto. Com a ausência da supressão, a mudança
de vegetação para asfalto é bastante abrupta e, como a CS-012 não possui acostamento, essa
medida também se torna importante para a segurança dos motoristas e outros usuários da
estrada (como ciclistas e pedestres).
Recomendações de adequação das medidas mitigadoras Retirar as lajes de parte das passagens da fauna sob a rodovia com a presença de água
(PFU1, PFU2, PFU3, PFU4, PFU6 e PFU7), mantendo a laje para travessia seca somente
numa das laterais da passagem (Figura 19)
Executar rejuntamento entre as lajes mantidas nas laterais das passagens de fauna sob
a rodovia (PFU2, PFU3, PFU4, PFU6 e PFU7)
Instalar passarelas de acesso às lajes sobre a água nas duas entradas das passagens
quando ausentes (PFU7) ou adequar sua localização para a nova disposição das lajes
(PFU1, PFU2, PFU3 e PFU7)
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Retirar todas as cercas de tela presentes na estrada nos locais com passagens de fauna
sob a rodovia
Remover as cercas de arame farpado das entradas das passagens de fauna sob a
rodovia (PFU1, PFU3, PFU5, PFU6, PFU7 e PFU8)
Manter uma supressão/manutenção periódica rente ao solo, da vegetação existente
na faixa de 1,8 m a partir das margens do asfalto preservando-se as árvores nativas
existentes.
Monitorar a efetividade das passagens de fauna em longo prazo
Figura 19: Passagem de fauna com a presença de laje somente numa das laterais e passarela
conectando as duas entradas, conforme recomendação apresentada acima.
21
Referências bibliográficas Beckmann, J.P.; Clevenger, A.P.; Huijser, M.; Hilty, J. (eds.). 2010. Safe Passages: Highways,
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Equipe Técnica
Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias – NERF
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Fernanda Zimmermann Teixeira
Bióloga – CRBio 69019-3
Igor Pfeifer Coelho
Biólogo - CRBio 53516-03D
Larissa Oliveira Gonçalves
Bióloga – CRBio 95019-03D
Paula Fabiana Pinheiro
Bióloga - CRBio 88952-3
Brenda Rafaela Schmidt
Graduanda em Ciências Biológicas
Magnus Machado Severo
Médico Veterinário – CRMV/RS 12007
Andreas Kindel
Biólogo – CRBio 9865-3