JUVENTUDE : A ANÇA - metodistavilaisabel.org.br · Juventude metodista participa da Campanha pelo...
Transcript of JUVENTUDE : A ANÇA - metodistavilaisabel.org.br · Juventude metodista participa da Campanha pelo...
Caderno de formação para missão
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA
RESSUSCITADORA
DE ESPERANÇA
JUVENTUDE:
Ministérios GlobaisIgreja Metodista Unida
Caderno de formação para missão
Secretaria de Jovens e Jovens Adultos da Junta Geral de Ministérios Globais
da Igreja Metodista Unida
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA
Ministérios GlobaisIgreja Metodista Unida
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA. Caderno de formação para missão
Copyright©2006 by Junta Geral de Ministérios Globais (GBGM), Secretaria de Ministérios para Jovens
e Jovens Adultos
475 Riverside Drive, Room 1343, Nova York, NY 10115, EUA
Este caderno é uma produção coletiva organizado por iniciativa da Secretaria de Ministérios para Jovens
e Jovens Adultos, a partir da experiência e reflexão de representantes das redes globais de juventude
metodista unida e metodista que participaram no Seminário de Formação de Liderança: Identidade
Wesleyana e Fórum Social Mundial, ocorrido entre os dias 22 de janeiro e 1º de fevereiro de 2005, na
cidade gaúcha de Porto Alegre, Brasil. Este caderno pode ser reproduzido em partes ou por completo
para facilitar o processo de formação de liderança, desde que citada a fonte.
Apreciamos comentários sobre Juventude: ressuscitadora de esperança. Caderno de formação para
missão. Favor enviá-los à Secretaria de Ministérios para Jovens e Jovens Adultos, Junta Geral de
Ministérios Globais (GBGM), 475 Riverside Drive, Room 1343, New York, NY 10115, EUA.
EQUIPE DE COORDENAÇÃO de Juventude: ressuscitadora de esperança.
Caderno de formação para missão
Andreia Fernandes, Rosângela Soares de Oliveira, Tamara L. Walker
PARTICIPAÇÃO Representantes de Organizações Metodistas e Metodistas Unidas de Juventude e
Estudantil na África (Moçambique e Angola), Ásia (Camboja e Indonésia), América Latina e Caribe
(Bolívia, Brasil, Chile, México, Porto Rico, Paraguai), Estados Unidos e Europa (Suíça)
PARCERIAS para o Seminário de Formação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial:
Igreja Metodista no Brasil, Confederação Metodista de Jovens, Rede Metodista de Educação IPA – Brasil;
Secretaria de Ministérios para Jovens e Jovens Adultos, Programa de Voluntários para Justiça Global, e
Secretaria para Direitos Humanos e Justiça Racial da Junta Geral de Ministérios Globais – EUA; Programa
Jovem em Missão de Ciemal; Redes de Juventude Metodista Unida na Ásia, África e Europa; Sabedoria e
Testemunho: Projeto de Formação de Liderança de Mulheres e Jovens
TRADUÇÃO E EDIÇÃO
Rosângela Soares de Oliveira
REVISÃO
Solange Mayumi Lemos
FOTOS
Participantes do Seminário de Formação de Liderança:
Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Anita Slade e Martha Braga
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Walprint
1ª edição – 1000 exemplares
Fevereiro de 2006
Sumário
APRESENTAÇÃO 7
SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA: IDENTIDADE WESLEYANA
E FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 9
JUVENTUDE EM MISSÃO 13
Papel de liderança da juventude hoje 13
Juventude: fé para mudança 16
IDENTIDADE WESLEYANA: SANTIDADE NO CORAÇÃO E NA VIDA 21
Os três surgimentos do Metodismo 21
Herança wesleyana: poder do povo 25
O mundo é minha paróquia 27
ECUMENISMO 29
Testemunho em diálogo e serviço 29
Juventude e participação ecumênica 34
DIVERSIDADE E IDENTIDADE 37
Felizes os que têm sede de justiça 37
Um Evangelho muito além do gênero e da raça 41
JUSTIÇA ECONÔMICA 45
Quem é o meu próximo? 45
Juventude metodista participa da Campanha pelo Perdão da Dívida Externa 49
DIREITOS HUMANOS 53
Direitos humanos como prioridade da justiça 53
Direito indígena entre o povo kanamari 59
Direito de comunicação 62
JUVENTUDE FAZ A DIFERENÇA 65
Construindo pontes, e não muros! 65
Nossos esforços não são em vão 69
PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE JUVENTUDE 71
RECURSOS ADICIONAIS 87
PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA:
IDENTIDADE WESLEYANA E FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 89
Encontro
PAULA DO NASCIMENTO SILVA
Igreja Metodista, Brasil
Quis falar de um sentimento,
De uma dádiva divina
De semente pequenina
Que alcançou crescimento
No encontro proporcionado
Corações desconhecidos
Fizeram-se, logo, queridos
Um grupo sentiu-se amado
De um amor por inteiro
Sem condições e diferenças
Alicerçado na crença
Em quem os amou primeiro
Restava sentimental
Quem podia ter à vista
A delegação metodista
No Fórum Social Mundial
E, ao final, a despedida
D@s amig@s na caminhada
Mas a identidade em Cristo firmada
Compensa a lágrima vertida
Oração para a Missão
Deus querido, com a voz do evangelho, ajude-nos a este
mundo transformar. Já compreendemos quão díficil é esta
missão, mas entendemos também que contigo nós somos
capazes.
Senhor, assim como a mãe natureza que dá vida e possibilita
que as plantas e os animais vivam em harmonia, fazei o
mesmo com a nossa humanidade. Impulsione nosso coração
jovem, para não ficarmos impávidos e serenos às
decadências da nossa época.
Oh, Senhor, acabe com a violência. Acabe com as guerras,
com a miséria, a injustiça e a intolerância. Acabe com tudo
que ao mundo bem não faz.
E como usaste João Wesley, Mahatma Ghandi e Martin
Luther King, Jr. para acabar com os males de sua época,
usa-nos também a nós – mulheres e homens jovens do
tempo presente. Em nome de Jesus, Amém!
ERMENEGILDO FRANCISCO MANUEL BANDEIRA
Igreja Metodista Unida, Angola
“““““ SSSSSomos desafiad@somos desafiad@somos desafiad@somos desafiad@somos desafiad@s11111 a c a c a c a c a constronstronstronstronstruir e pruir e pruir e pruir e pruir e proooooclamar que um outrclamar que um outrclamar que um outrclamar que um outrclamar que um outro mundo é po mundo é po mundo é po mundo é po mundo é possívossívossívossívossível...el...el...el...el...”””””
Apresentação
Em suas mãos colocamos os testemunhos e reflexões de líderes das
juventudes de diversas igrejas de tradição metodista2 em várias partes do
mundo. São vivências e práticas refletidas, apresentadas neste Caderno de
Formação – Juventude: Ressuscitadora da Esperança, como uma proposta
geradora de novas formas de fazer missão. A juventude metodista reafirma,
neste caderno, o seu profundo desejo de ser presença solidária no mundo,
inspirada na identidade wesleyana.
Cerca de 60 jovens metodistas participaram do Seminário de Formação
de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial, em fevereiro de
2005, em Porto Alegre, Brasil. Este seminário preparou a liderança metodista,
para, de diversas formas e desde várias ênfases temáticas, experienciar o
diálogo com diversos movimentos sociais, líderes eclesiais, movimentos
organizados de juventude, organizações ecumênicas, liderança política ou de
governos de todos os cantos do mundo. Por quê? Porque, como comunidade
global de jovens metodistas, abraçamos o lema do FSM de que “Um Outro
Mundo é Possível”, inspirad@s pela nossa fé, que cultiva a responsabilidade
ética e missionária de ser “sal da terra e luz do mundo”.
As contribuições recebidas de participantes deste caderno foram
organizadas como uma rede que se tece, entrelaçando fios. O texto temático
básico se entrelaça com os testemunhos de integrantes das três delegações
de jovens metodistas, com dados estatítiscos, e ainda com documentos
1 Usar uma linguagem que visibiliza a participação de mulheres e homens na gramática portuguesa é um desafio. É sempre
mais fácil usar o gênero masculino invisibilizando o feminino. Assim, optamos por vários formatos neste caderno. Algumas
vezes, usamos o símbolo @, deixando assim @ leitor@ a decisão da leitura por gênero. Em outras vezes usamos a palavra nos
dois gêneros, e várias vezes preferimos uma palavra neutra. E, raras vezes, usamos o masculino como forma geral.
2 Jovens de tradição metodista e wesleyana ou juventude metodista é uma expressão usada neste caderno como um termo
genérico para incluir as diversas expressões históricas do metodismo sem se referir a cada nome em particular da igreja nos
países de origem dos participantes deste caderno.
8 |
oficiais pertinentes ao tema proposto. Assim, não somente podemos ver os
fios da rede como ouvir a voz d@s participantes, arrepiar-nos com suas
emoções e trilhar junt@s o caminho de uma nova consciência adquirida. E
para que a rede possa ir crescendo, entrelaçando os fios das pessoas que
agora se fazem leitoras dessa experiência, há uma série de sugestões
pedagógicas para animar os grupos de juventude a fazer a sua própria
caminhada e levantar suas próprias perguntas que venham a resultar em um
engajamento na missão da igreja na sociedade. Desta forma, agora cabe a
você continuar tecendo esta rede. A rede para que um novo mundo seja
possível!
Nossa expectativa é de que Juventude: Ressuscitadora da Esperança
possa subsidiar o processo de formação da juventude que ergue sua voz
junto com Juliana de Souza, Brasil, dizendo que é preciso ser uma voz para
diminuir a desigualdade racial. E reconhecer com Ermenegildo Bandeira,
Angola, que é necessário que a juventude desenvolva uma consciência
crítica. A fim de junt@s testemunharmos com Linath Tiv, Camboja, a
juventude empenhada na construção da paz e reconciliação.
EQUIPE DE COORDENAÇÃO DO CADERNO
Andreia Fernandes
Vice-Presidente da Confederação Metodista de Jovens no Brasil
Rosângela Soares de Oliveira
Sabedoria e Testemunho: Projeto de Formação de Liderança de Mulheres e Jovens
Tamara L. Walker
Secretaria de Jovens e Jovens Adultos da Junta Geral de Ministérios Globais
da Igreja Metodista Unida
Apresentação
SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA:
IDENTIDADE WESLEYANA E FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
TAMARA L. WALKER
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
A Junta Geral de Ministérios Globais (JGMG) iniciou um processo de engajamento
da juventude metodista e de tradição wesleyana em nível global no Fórum Social
Mundial (FSM), em 2003. Esta iniciativa incluiu uma jovem e um jovem brasileiros
na delegação da Igreja enviada ao FSM em Porto Alegre, Brasil. A avaliação apon-
tou que um processo mais amplo e mais intencional voltado para a inclusão da
juventude metodista nos processos do FSM permitiria aos jovens desenvolverem
sua capacidade de envolver-se em um ministério e missão profética dentro de seus
próprios países e de suas próprias organizações nacionais de juventude.
Desta maneira, a JGMG organizou e enviou uma Delegação Global de Juventu-
de Metodista ao FSM 2004, na Índia. Uma delegada do Brasil foi incluída nas indi-
cações de nomes pelo Programa Jovem em Missão, do Conselho de Igrejas Evan-
gélicas e Metodistas na América Latina (Ciemal), a fim de se estabelecerem as ba-
ses para o retorno do FSM ao Brasil em 2005, e para a organização do Seminário de
Formação de Liderança de Juventude promovido pela JGMG. O propósito era pla-
nejar, com um ano de antecedência e mais intencionalidade, um programa de for-
mação de jovens líderes metodistas que acompanhassem o processo do FSM.
Em 2005, a JGMG, através da Secretaria Executiva de Jovens e Jovens Adultos
e em parceria com as diversas redes de juventude metodista organizada nos vá-
rios continentes, organizou um programa que incluiu a participação de três de-
legações.
1 Vinte e cinco líderes jovens das redes globais de juventude da JGMG (pessoas
selecionadas pela própria liderança das redes de juventude).
2 Uma delegação de treze membros representando uma ampla diversidade ét-
nico-racial de jovens e estudantes da Igreja Metodista Unida nos EUA.
3 Uma delegação de vinte jovens oriundos das oito regiões eclesiásticas da Con-
federação Metodista de Jovens no Brasil.
10 | Seminário de Formação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial
Cada delegação desenvolveu seu próprio programa de formação de seus mem-
bros, ainda que tenha havido momentos comuns e de integração da agenda das
três delegações. Nesse sentido, o programa de formação incluiu a temática da iden-
tidade metodista e wesleyana, missão, estudo bíblico, articulação das redes, histó-
rico sobre o FSM e orientação sobre o contexto brasileiro. O ecumenismo foi abor-
dado através da participação no Dia Ecumênico de Juventude, organizado pela
Federação de Estudantes Cristãos (Fumec) e Conselho Mundial de Igrejas (CMI), e
na celebração ecumênica programada por várias entidades ecumênicas, entre elas
O QUE É O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL?
O Fórum Social Mundial é um espaço de debate democrático de idéias, aprofundamento da reflexão,
formulação de propostas, troca de experiências e articulação para ações eficazes, de entidades e
movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e
por qualquer forma de imperialismo, e estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária
centrada no ser humano. O FSM se propõe a debater alternativas para construir uma globalização
solidária, que respeite os direitos humanos universais, bem como os de todos os cidadãos e cidadãs em
todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a
serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos. ‘Um outro mundo é possível’ é a
chamada do FSM.
QUANDO E POR QUE FOI CRIADO O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL?
O Fórum Social Mundial (FSM) se reuniu pela primeira vez na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do
Sul, Brasil, entre 25 e 30 de janeiro de 2001, com o objetivo de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de
Davos, que tem cumprido, desde 1971, papel estratégico na formulação do pensamento dos que promovem e
defendem as políticas neoliberais em todo mundo. Até agora já aconteceram cinco edições do FSM, quatro em
Porto Alegre, Brasil (2001 a 2003, 2005), e uma em Mumbai, Índia (2004). Em 2006, FSM acontecerá de maneira
descentralizada nos vários continentes.
V FÓRUM SOCIAL MUNDIAL,
PORTO ALEGRE, BRASIL
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 11
Baseado no site oficial do FSM – www.forumsocialmundial.org.br/
OS 11 ESPAÇOS TEMÁTICOS DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL EM 2005
1 Afirmando e defendendo os bens comuns da Terra e dos povos – como alternativa à mercantilização
e ao controle das transnacionais
2 Arte e criação: construindo as culturas de resistência dos povos
3 Comunicação: práticas contra-hegemônicas, direitos e alternativas
4 Defendendo as diversidades, pluralidade e identidades
5 Direitos humanos e dignidade para um mundo justo e igualitário
6 Economias soberanas pelos e para os povos – contra o capitalismo neoliberal
7 Ética, cosmovisões e espiritualidades – resistências e desafios para um novo mundo
8 Lutas sociais e alternativas democráticas – contra a dominação neoliberal
9 Paz e desmilitarização – luta contra a guerra, o livre comércio e a dívida
10 Pensamento autônomo, reapropriação e socialização do conhecimento (dos saberes) e das tecnologias
11 Rumo à construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos.
OS 3 EIXOS TRANSVERSAIS
1 Emancipação social e dimensão política das lutas
2 Luta contra o capitalismo patriarcal
3 Luta contra o racismo.
o Conselho Latino-Americano de Igrejas (Clai). Este processo de formação se es-
tendeu no diálogo continuado durante os seis dias de participação no Fórum So-
cial Mundial, nos momentos particulares e comuns das três delegações, nas con-
versas informais nos dormitórios e refeitórios da Rede Metodista de Educação IPA,
nas brincadeiras pelas ladeiras e transporte público da cidade de Porto Alegre e na
busca comum por refúgio ao sol escaldante do verão gaúcho.
O âmago do programa era preparar as redes de juventude de várias partes do
mundo para interagir e engajar-se a partir da perspectiva de fé na questão da jus-
tiça social, defesa dos direitos humanos, organização comunitária e de módulos
de treinamento segundo as diversas ênfases temáticas das oficinas do FSM. Basi-
camente falando, o seminário forneceu formação crítica e ecumênica para o exer-
cício da fé e missão para líderes-chave das redes globais de juventudes metodis-
tas. O processo utilizou concretamente educação popular interativa e modelos de
aprendizado construídos a partir da experiência dialógica, a fim de criar espaço
para a juventude expressar e expandir o seu próprio entendimento da identidade
wesleyana e o chamado à missão e ao ministério. Isto foi feito através da análise e
reflexão sobre as formas estruturais de pobreza e opressão, animadas pelas lentes
de um compromisso bíblico e teologicamente wesleyano para a missão transfor-
madora dentro da igreja e comunidade.
Como líder jovem, o que você vai fazer com o seu poder,
privilégio e responsabilidade? Vamos escolher uma liderança
hierárquica e dominante ou bíblica e libertadora?
OFELIA ORTEGA, TEÓLOGA DE CUBA, LÍDER DO ESTUDO BÍBLICO NO FÓRUM
DE JUVENTUDE ECUMÊNICA
JUVENTUDE EM MISSÃO
Estas são perguntas difíceis de responder e suas respostas são mais difíceis ainda
de viver. As perguntas tocam o cerne do que significa ser líder jovem hoje. Cada
um de nós faz escolhas diárias a cada momento. Podemos escolher negociar nos-
sos valores, e até perder nossos valores culturais. Podemos aceitar a cultura e os
valores dominantes. Ou podemos cavar fundo na base dos ensinamentos bíblicos
e viver uma liderança liberadora. Podemos assumir uma posição de estar com e
para o povo pobre, excluído e marginalizado. Temos este poder e a oportunidade a
cada dia.
Ainda assim, os sistemas sociais e políticos definem liderança em termos de
“auto-serviço” individual, status e poder. E nós nos conformamos a essa idéia do-
minante e dominadora de liderança. Ser líder fica reduzido às vantagens que uma
pessoa pode receber para si ou para seus amigos e família. É nesse contexto que
líderes tanto dentro da igreja como na sociedade colhem recompensas sociais, fi-
nanceiras e freqüentemente políticas por aceitar os valores dominantes da cultu-
ra. É aqui, neste espaço extremamente crucial chamado liderança, que cada jovem
tem um forte papel a jogar, revertendo a ordem do status quo.
Como? Primeiro, a juventude deve ORGANIZAR. Há um provérbio africano oci-
dental que diz: “Junt@s podemos fazer o que sozinh@s não podemos.” Quando a
Papel de liderança da juventude hoje
TAMARA L. WALKER
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
14 | Juventude em missão
juventude se organiza em grupos ou organizações nacionais, ela tem muito mais
poder para viver o Evangelho. Não simplesmente como um agrupamento de indi-
víduos, mas como forças coletivas para trazer as Boas Novas do poder liberador de
Deus que realiza a justiça e paz entre nós. É por esta Boa Nova que nós oramos na
oração que Jesus nos ensinou – “que seja feito na terra assim como nos céus...”
Segundo, grupos organizados de juventude devem desenvolver processos que
os capacitem a SER SUJEITOS, e não simplesmente objetos da missão. A missão é
freqüentemente tratada como sendo “para” a juventude, como se ela não tivesse
suas próprias idéias, habilidades e contribuições para realizar a missão que pode
transformar este mundo. Mas a juventude pode! Quando a juventude elege a pró-
pria liderança, indica seus próprios representantes à Igreja em geral e à comunida-
de e desenvolve modelos participativos e fortes de liderança e ação, ela se sente
empoderada para responder como agente da missão e de ministérios proféticos.
Terceiro, a juventude necessita INFORMAR-SE. ENVOLVER-SE. E RESPONDER
EM FÉ.
➭ INFORMAR-SE significa estar ciente do que acontece nas suas igrejas, comuni-
dades, nações e mundo. Olhe a sua comunidade através dos olhos de quem
vive em situação de opressão, marginalização e pobreza. A liderança cristã não
deve ser como a avestruz, com a sua cabeça debaixo da areia. Procure e integre
uma perspectiva global na sua liderança. O primeiro passo é abrir os nossos
olhos às nossas próprias comunidades. Nós também precisamos nos olhar no
espelho. Como nosso jeito de viver reflete o chamado de Miquéias 6:8, “faça o
bem, ame a justiça e ande humildemente”?
➭ ENVOLVER-SE significa ir além de si mesm@. Aprenda como agir dentro de sua
organização ou movimento de juventude, sua igreja e comunidade mais am-
pla. Trabalhe com e aprenda de outros grupos que já estão engajados na cria-
ção de alternativas para eliminar as causas da injustiça, pobreza, opressão e
guerra. Ser liderança cristã não significar isolar-se dentro das quatro paredes
de uma igreja. Saia e faça algo!
➭ RESPONDER EM FÉ significa responder ao chamado da missão... Responder ao
clamor por justiça e paz neste mundo.
Para tudo isto, você necessita de ferramentas, como, por exemplo:
✓ Expor-se a novas realidades
✓ Aprender fazendo
✓ Estudar a Bíblia
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 15
✓ Refletir teologicamente, ou seja, olhar a vida com os olhos da fé e o coração
aquecido por transformar
✓ Pensar a própria experiência
✓ Dialogar
✓ Suspeitar das respostas fáceis e dadas como verdades absolutas
✓ Articular e integrar-se com outros grupos afins
✓ Planejar
✓ Agir
O Seminário de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial ofe-
receu um espaço concreto para o uso dessas ferramentas. Hoje, você está convidad@
a criar este espaço de formação de juventude para a missão. Lembrem-se:
INFORMAR-SE. ENVOLVER-SE. E RESPONDER EM FÉ!
16 | Juventude em missão
Juventude, fé e vida. A conjugação destas três palavras é, no seu sentido mais pro-
fundo, a pedra de toque para a mudança da humanidade e a construção de um
outro mundo possível.
Gideão era um jovem. A Bíblia o descreve como um varão valoroso, que viveu
numa época conturbada do povo de Israel (vs.1-6). Um período em que a nação de
Israel estava sob servidão dos midianitas, povo que conhecia outros deuses (v.2).
Foi então que, certo dia, interessado em resolver a situação do seu povo, Deus
enviou um anjo para falar com Gideão, quando este estava a trabalhar no campo
de seu pai (v.11). Então o anjo apareceu-lhe e disse: “O Senhor é contigo, varão
valoroso. Mas Gideão responde dizendo: Mas se o Senhor é conosco, por que nos
aconteceu todo este mal? (v.12s)”
A interrogação de Gideão é muitas vezes a nossa também. Se Deus é conosco,
por que todos esses problemas assolam o nosso povo? Será Deus apenas de uns e
não de outros? Mas a resposta de Deus é surpreendente. O relato bíblico diz que
Deus olhou para ele e disse: “Vai, nesta tua força, e livrarás a Israel da mão dos
midianitas (v.14).”
Bíblia, palavra de Deus, se faz esperança e ação na vida dos sem esperança,
sem visão, sem nome, como as pessoas que andavam no caminho de Emaús
(Lc 24:13-35). Jesus se faz próximo, escutando a tristeza dos que caminhavam
e conversavam. Uma pergunta do nada, e a perplexidade como resposta (17-
18). Jesus escutou (19-24). E daí, o inesperado convite: “fica conosco” (29). A
conversa que abre os olhos é a conversa do partir do pão. Jesus se faz próximo
dos sem nome, pergunta pela vida, escuta, recupera a história, renova a fé na
vida, reinstaura a prática da partilha.
EDMILSON SCHINELO E MARIA SOAVE, CENTRO DE ESTUDOS BÍBLICOS, BRASIL
Um dos aspectos interessantes desse texto está exatamente em Deus ver que
Gideão tinha em si força para livrar seu povo. Deus estava trazendo para Gideão a
Juventude: fé para mudançaJuízes 6: 11-16
ERMENEGILDO FRANCISCO MANUEL BANDEIRA
Igreja Metodista Unida, Angola
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 17
solução para o problema do seu povo, como prova inequívoca de que Deus ainda
era com eles.
A juventude é a força motriz das sociedades. Só no meu país – Angola –, a ju-
ventude constitui mais de 60% da população ativa. E assim como no passado, a
juventude tem demonstrado ser um campo fértil, no qual Deus busca homens e
mulheres para marcarem a história. E Gideão não fugiu à regra: jovem que era, foi
chamado para libertar seu povo.
“Vai nesta tua força.” Mas que força seria esta? Será muito músculo? Não. Acho
que não era força muscular que Deus dizia haver em Gideão. Será poder econômi-
co? Não, também não era poder econômico, já que ele era um simples camponês.
Deus se referia, na verdade, à força espiritual, força interior, força moral. Deus
viu no jovem Gideão a FÉ. Uma fé que traz mudanças, uma fé que remove monta-
A JUVENTUDE É PARTE
INTEGRANTE DA
SOCIEDADE CIVIL.
A JUVENTUDE PRECISA
ESTAR ENVOLVIDA NOS
PROCESSOS DE DECISÃO
QUE DEFINEM OS RUMOS
SOCIAIS E ECONÔMICOS
DA SOCIEDADE
✓ 18% da população mundial (1.153 milhões) é composta por jovens de 15 a 24 anos, além de 30% com menos de
15 anos. Em conjunto, a população jovem (até 24 anos) totaliza 48% da população mundial.
✓ 85% da população jovem mundial vive em países em desenvolvimento.
✓ 209 milhões ou 18% da população jovem mundial vive com menos de U$ 1 por dia, enquanto 45% vive com
menos de 2% por dia. A grande maioria destes jovens vive no Sul da Ásia e na Região do Sub-Saara.
✓ Existe um crescente reconhecimento de que investir na juventude efetivamente diminui a pobreza mundial.
Relatório sobre Juventude Mundial, ONU: http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/wyr05portuguese.pdf/
18 | Juventude em missão
nhas. Tenho certeza de que foi isto que Deus viu em Gideão, e que continua vendo
em muitos jovens – mulheres e homens –, em toda parte do mundo.
O que Deus viu em Gideão foi fé e coragem moral de dizer NÃO à corrupção, à
violência, às drogas, ao sexo irresponsável e às injustiças. Será que dentro de nós há
a mesma força? Eu não tenho dúvidas de que, no meio de milhares de jovens, Deus
já viu muitos corações com a força capaz de construir um outro mundo possível.
A juventude é esperança para um mundo mais livre, mais justo, mais igualitá-
rio. Pois a nossa fé pode impregnar a humanidade com tais valores. No entanto,
precisamos desenvolver nossa fé, aumentar nosso conhecimento para que o per-
curso da vida, às vezes nada agradável, não ofusque as convicções de mudança.
Hoje, a juventude parece não estar preocupada com o mundo à sua volta. Pa-
rece completamente conformada com a situação da sociedade. Uns até estão mes-
mo desinformados, pois não se preocupam com a informação. Mas é preciso de-
senvolver uma consciência crítica. É preciso nos mantermos informados e infor-
madas. É preciso desenvolver um relacionamento pessoal com Deus. Deus nunca
nos usará para a mudança, se não o conhecermos e vivenciarmos sua Palavra.
Hoje, a sociedade na qual vivemos está acostumada com a normalidade. É
normal ver crianças pedindo esmolas. É normal ver pessoas vivendo como
animais, caçando comida nos lixos. É normal ver adolescentes grávidas. Enfim,
esta normalidade que aflora na sociedade tem chegado às nossas igrejas,
infelizmente. E se não atentarmos para este fato, corremos o risco de nos
tornarmos a SOCIEDADE DA NORMALIDADE!
MARA SILVA, IGREJA METODISTA, BRASIL
A história registrou o nome de Martin Luther King, Jr. Um jovem negro, norte-
americano, que nasceu na cidade de Atlanta e liderou o movimento de luta contra
a segregação racial, isto é, separação entre negros e brancos. Este era o regime
vigente àquela altura e previsto pela lei do Estado. Ao ler sobre King, vejo que,
desde cedo, aprendeu as sagradas letras e nelas foi instruído por seu pai, que era
pastor. King, ainda jovem, desenvolveu sua fé, porque tinha em vista dar uma con-
tribuição a toda a humanidade. Deus chamou King para uma causa justa e este o
percebeu, porque ele tinha um relacionamento com Deus. Deus teria olhado para
o fundo do coração de Martin Luther King, Jr. e visto naquele jovem fé para mu-
dança. Acredito, no entanto, que King teve de se desenvolver o suficiente para que
conseguisse fazer o que fez.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 19
Para cada jovem, Deus tem um propósito especial. Na conversa de Deus com
Gideão, Ele disse: “Porventura não te enviei eu? (v.14)” Aqui podemos observar Deus
comprovando o chamado que tinha para Gideão. Deus também tem um propósito
para as nossas vidas; Deus chamou Gideão para uma causa, Wesley para outra, e
Mandela para outra. Deus nos chama para um propósito. Acredito que o maior pla-
no de Deus para as nossas vidas seja o de darmos vida aos sem vida e nome aos
sem nome.
O poder de Deus é melhor revelado através dos gestos mais simples de amor,
paz, humildade e ação… A Igreja foi encarregada de continuar a missão de
fazer discípulos para Jesus Cristo. Compartilhar o processo ininterrupto de
trabalhar para fazer do mundo um lugar mais justo é um caminho maravilhoso
para e através de Cristo. Quem está disposto a ser uma testemunha da
VERDADE, ESPERANÇA e AÇÃO para o Senhor?
THEON JOHNSON, III, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
Nós somos os ressuscitadores da esperança. Temos que assumir o nosso papel.
A juventude representa os seres humanos que têm as maiores possibilidades em
toda a face da terra. Jovens são como um papel branco. Um papel branco, onde
parece não haver nada, na verdade, está cheio de possibilidades. A juventude tem
a possibilidade de fazer de sua vida o que quiser, mas muitos de nós não estamos
vendo as possibilidades de sermos os e as protagonistas da história do dia de ama-
nhã. Muitas vezes, levamos a nossa vida sem ter em conta a vida das pessoas ao
nosso redor. Muitas vezes, queremos subir na vida, formar-nos, casar, ter posses...
Tudo isso é correto, mas não nos esqueçamos de que existem causas que mere-
cem a nossa atenção. Hoje, muitos de nós não queremos sair dos nossos campos e
ir lutar pelo bem da maioria. No entanto, Deus encontrou Gideão no campo, e lá o
tornou o resgatador de Israel das mãos dos midianitas.
A juventude é parte integrante da sociedade civil. A juventude precisa estar envolvida nos processos
de decisão que definem os rumos sociais e econômicos da sociedade.
Relatório sobre Juventude Mundial, ONU: http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/wyr05portuguese.pdf/
Gideão ainda retorquiu: “Ai, Senhor meu, com que livrarei Israel? Eis que o meu
milheiro é o mais pobre em Manassés e eu o menor na casa de meu pai.” Mas Deus
lhe garantiu seu total apoio: “Eu hei de ser contigo e tu ferirás os midianitas com se
fossem um só homem” (v.15s).
20 | Juventude em missão
Deus, muitas vezes, vai a cidades pequenas encontrar os grandes homens e
mulheres. Muitas vezes, sentimo-nos pequenos demais para responder positiva-
mente ao chamado que Deus nos faz. Achamos que não temos todos os requisitos
para o chamado que Deus tem para nós. Mas, hoje, eu compreendo que Deus só
precisa de uma vida disponível para dela fazer o que lhe apraz, e não de uma vida
cheia de qualidades.
Nós temos o chamado para mudar o mundo. Nós temos poder. Nós temos
povo. Nós poderíamos ser mais audazes.
SILJA ROSER, IGREJA METODISTA UNIDA, SUÍÇA
Vamos nessa nossa força obedecer ao apelo da nossa consciência e obedecer
ao chamado de Deus. Temos apenas uma vida a ser vivida. A vida do jovem deve
ser vivida, de maneira a fazer a diferença (Romanos 12:2). A esperança de um outro
mundo possível está nas mãos dos jovens.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ O que você pode fazer para desenvolver uma fé para mudança?
★ Em que espaços de decisão a juventude está envolvida a fim de cumprir o
chamado à missão?
★ Que ações a organização de juventude pode desenvolver em conjunto com
outras organizações de juventude visando a um movimento de esperança por
um mundo mais livre, mais justo e mais igualitário?
IDENTIDADE WESLEYANA: SANTIDADE
NO CORAÇÃO E NA VIDA
Os três surgimentos do Metodismo
PHIL WINGEIER-RAYO
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
João Wesley foi um líder do movimento de reavivamento evangélico do século XVIII
na Inglaterra, que conduziu muitos a Cristo. Se, por um lado, a pregação e a preo-
cupação de João Wesley pela salvação pessoal são bastante estudadas, de outro,
sua ação social dirigida aos pobres é menos conhecida. Como a prática espiritual
pessoal se relaciona com a ação social e trabalho junto aos pobres? Como Wesley
equilibrou o ministério evangelístico com o social? Para tratar de tais questões,
este artigo focaliza o equilíbrio entre práticas espirituais e ação social nas três pri-
meiras fases do Metodismo primitivo, ou o que João Wesley chamou “os três
surgimentos do Metodismo”.
Em um tempo que posteriormente chamou de “primeiro surgimento do Me-
todismo”, Wesley participou de encontros de oração dirigidos por estudantes e
de estudos bíblicos na Universidade de Oxford, dirigidos por um grupo apelida-
do de “Clube Santo”. Este grupo de estudantes universitários, incluindo seu irmão
Carlos Wesley e seu grande amigo Jorge Whitefield, combinou seus estudos e
meditação com visitas às cadeias e auxílio aos prisioneiros e suas famílias. Ao
encontrar crianças pobres na rua, os estudantes universitários organizaram uma
oferta para pagar uma pessoa para ensinar às crianças. Antes ainda de o movi-
mento ser chamado Metodista, ele já estava fazendo o elo entre os elementos
espirituais e sociais da fé.
Após a morte de seu pai, em 1735, João e seu irmão Carlos decidiram seguir o
chamado missionário paterno e tornaram-se missionários na recém-formada colô-
nia da Georgia, na América do Norte. O desejo de Wesley era “converter os Índios”,
embora o governador James Oglethorpe o estivesse contratando para ser o cape-
22 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida
lão da Colônia. Wesley se sentiu limitado por essa posição,
pois isto impedia que seu trabalho missionário alcançasse
os povos indígenas americanos fora do assentamento.
Wesley acabou por se sentir frustrado e deixou a Georgia.
Posteriormente ele considerou Georgia como o “segundo
surgimento do Metodismo”, por causa do seu encontro com
os Moravianos e sua tentativa de criar um modelo de minis-
tério com pequenos grupos, chamado “sociedade”. Wesley
estava frustrado com um trabalho que somente envolvia o
bem-estar dos colonizadores, quando ele se sentia chama-
do para missão em um sentido mais amplo.
O “terceiro surgimento do Metodismo” ocorreu um ano
após o seu retorno a Londres, quando ele saiu da Sociedade
Unida em Fetter Lane e comprou a fundição para começar
uma sociedade metodista. Wesley adquiriu o depósito de armas destruído em um
incêndio, na periferia de Londres, e o reconstruiu para refletir as necessidades da
comunidade. Além da Sala de Encontro para pregação e cantos, e uma pequena
sala para os grupos, a fundição tinha um dispensário médico, fundo de emprésti-
mos e uma escola para crianças pobres.
Disciplina espiritual a partir do serviço aos pobres
Em 1746, a sociedade de Londres começou o ministério de micro-crédito para os
pobres que queriam começar ou expandir os seus próprios negócios. Como parte
de sua tentativa mais ampla de reforma econômica, Wesley arrecadou 50 libras de
dinheiro de alguns amigos e pediu a dois administradores para tornar este recurso
disponível aos pobres através de pequenos empréstimos de até 20 shillings, pagá-
veis em três meses. O progama de micro-empréstimo para pequenos negócios aten-
deu 250 pessoas no seu primeiro ano.1
Inaugurado em dezembro do mesmo ano, o dispensário médico atendia cerca
de cem clientes por meses, muitos dos quais não eram membros da sociedade
metodista. Quando não havia médicos, o próprio Wesley atendia aos pobres, e pu-
blicou, pessoalmente, várias edições do Medicina Primitiva (The Primitive Physik),
um livro de medicina natural e receitas baratas. Posteriormente, Wesley expandiu
o ministério de cuidado da saúde às sociedades em Bristol e Newcastle.2
JOHN WESLEY
1 Journal, 17 de janeiro, 1748, II:81.2 HEITZENRATER, Richard, Wesley e o povo chamado metodista, Editeo e Pastoral do Bennett, 1996, p.167.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 23
Também na fundição funcionava uma escola para crianças pobres. Wesley con-
tratou duas pessoas como professores titulares para ensinar matemática, a ler e
escrever. Duas pessoas administravam as doações que pagavam os salários dos
professores. Wesley usou o mesmo conceito para começar a Escola de Kingswood
para os filhos dos mineiros em Bristol.
Wesley dava uma ênfase especial ao trabalho que alcançasse os pobres e equi-
librasse a ação social com a disciplina espiritual. A fundição continuou a oferecer
pregação e formar pequenos grupos de apoio enquanto desenvolvia suas ativida-
des de ação social. A preocupação com a população pobre e mendiga levou Wesley
a começar a “casa dos pobres”, alugando duas pequenas casas próximas à fundição
e deixando-as disponíveis às viúvas, entre elas uma mulher cega com duas crian-
ças pobres, além dos eventuais pregadores itinerantes.
Wesley continuou a visita aos pobres e a coleta de ofertas para eles durante
toda sua vida. Em 4 de Janeiro de 1785, com 82 anos, ele escrevia em seu diário:
Neste época (de Natal), nós geralmente distribuíamos carvão e pão aos pobres da
sociedade (de Londres). Mas eu acho que agora eles precisam de roupas, assim como
de alimento. Assim que, nos quatro dias seguintes, eu caminhei pela cidade e pedi
200 libras a fim de vestir os que mais necessitavam. Mas isto foi um trabalho árduo,
já que as ruas estavam cheias de neve derretida na altura do meu tornozelo; assim
que meus pés estavam encharcados de neve derretida desde a manhã até a noite.3
Através de toda a sua vida, Wesley visitou regularmente aos pobres, a ponto de
igualar a visita aos pobres com disciplina espiritual pessoal e pública.4 Ele desa-
fiou o mito de que os pobres são preguiçosos e encorajou os não-pobres a visita-
rem os pobres como parte de seu próprio crescimento espiritual.
Eu cheguei ao Brasil com poucas expectativas. Como cientista, temas sociais
raramente são tratados. Ainda que o princípio básico da pesquisa científica
seja melhorar a qualidade de vida da sociedade. No entanto, como cristão, as
preocupações sociais são tidas em alta prioridade. Como disse o Bispo
metodista de Porto Alegre, Luiz Vergilio Rosa, as boas novas de Jesus Cristo
são especialmente para aqueles em necessidade. João Wesley compreendeu
a importância de lidar com as necessidades sociais. Ele não se empenhou
apenas em espalhar a santidade espiritual no coração, mas também na vida.
MARCUS A. HUNT, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
3 Journal, 4 de janeiro, 1785. IV: 295.4 JENNINGS, Theodore, Good News to the Poor: John Wesley’s Evangelical Economics, Abingdon Press, 1990, p.54.
24 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Por que é importante relacionar a disciplina espiritual com o serviço às
populações em situação de pobreza, exclusão e marginalização? Como
sensibilizar a igreja para pensar missão não apenas como adoração, mas também
serviço à comunidade que está à sua volta?
★ Como compartilhar a fé em um grupo pequeno de jovens pode aprofundar a
fé e o serviço aos outros? E ainda desafiar preconceitos, tais como fez Wesley em
relação aos pobres?
★ Analise como a juventude tem participado na missão a partir do modelo de
Wesley chamado de três surgimentos do Metodismo. Qual a conclusão?
★ O que precisa a juventude chamada metodista fazer para levar à frente a
herança de João Wesley?
Enfim, Wesley queria que os metodistas praticassem a ação social como uma
disciplina que era tão importante como a disciplina espiritual clássica. Nos três
surgimentos do Metodismo primitivo, nós podemos ver como a ênfase de salva-
ção de Wesley incluía tanto as práticas espirituais pessoais como a ação social aos
pobres e às comunidades. Para honrar a herança de João Wesley, como povo cha-
mado metodista, nós precisamos incluir a visita aos pobres e a ação social como
práticas espirituais igualmente importantes.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 25
Herança wesleyana: poder do povo
CATHERINE MICHELE JOHNS
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
É comum se dizer que há dois tipos principais de poder: poder do povo e poder
econômico. Em Porto Alegre, Brasil, no Fórum Social Mundial (FSM) em 2005, cerca
de 155.000 pessoas de 135 países5 se reuniram para traçar uma estratégia para
criar um mundo mais responsável para todas as pessoas. Enquanto nós nos reuní-
amos no Brasil, líderes econômicos do mundo inteiro estavam reunidos na Suíça
para o Fórum Econômico Mundial.6 O FSM começou em 2001, com o lema “Um
Outro Mundo é Possível.” Ao redor do mundo, as comunidades experimentam a
distribuição desigual de recursos e se organizam para encontrar uma alternativa.
É COMUM SE DIZER QUE HÁ DOIS TIPOS DE PODER: PODER DO POVO E PODER ECONÔMICO
5 Memória do Fórum Social Mundial: http://www.forumsocialmundial.org.br/6 Fórum Econômico Mundial: http://www.weforum.org/
26 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Quais são as bases ético-teológicas para justiça social em sua denominação?
★ Em que sentido a herança wesleyana fortalece o poder do povo versus o
poder econômico na sua comunidade?
★ Que estratégias a organização de juventude precisa desenvolver para criar um
mundo mais responsável?
Como parte da delegação da Igreja Metodista Unida enviada ao FSM, eu me
senti inspirada a novamente assumir a minha herança wesleyana, e lembrar que a
justiça social é a base da nossa denominação. Isto esteve particularmente claro para
mim durante a marcha de abertura do FSM. Pessoas do mundo inteiro celebraram
juntas nas ruas. Nosso grupo, composto de jovens metodistas do mundo inteiro,
marchou atrás da faixa do Conselho de Igrejas. Enquanto marchávamos, a juventude
brasileira do nosso grupo puxava as canções, danças e palavras de ordem. “Issa, issa,
issa, juventude metodista!” Esta palavra de ordem declarava que a juventude meto-
dista estava presente! Eu já participei de muitas marchas, mas nunca de uma como
essa! Eu freqüentemente marcho sozinha ou com grupos seculares. Finalmente, eu
estava marchando com outras pessoas metodistas, apaixonadas pela nossa herança
denominacional e por articular esta paixão com uma ação social e política.
O poder de tal experiência é forte à medida que produz ação concreta. Se mi-
nha participação na delegação metodista no FSM não me levar à ação, isto ficará
registrado na minha história pessoal somente como um grande acontecimento
emotivo. Hoje, mais do que nunca, reconheço que a ação para alcançar paz com
justiça é parte de minha herança denominacional. Sinto-me inspirada pela ener-
gia de minhas irmãs e irmãos do Brasil, que firmemente afirmam sua tradição me-
todista. Minha experiência com metodistas ao redor do mundo me lembra de que
somos uma igreja conexional. Com esta conexão emerge um tipo de poder do povo!
Dentro da Igreja Metodista nós temos o poder do povo, para ajudar a criar nesta
terra um mundo onde todos e todas possam viver com dignidade.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 27
O mundo é minha paróquia
RICHARLLS MARTINS
Igreja Metodista, Brasil
Ir ao FSM foi um sonho de anos realizado da melhor maneira possível – junto com
a juventude metodista do Brasil e do mundo. A cada dia, os desdobramentos desse
encontro parecem não ter fim. Isto significa que não desistimos de lutar por um
mundo melhor, mais justo e menos desigual.
Eu trabalhei como voluntário na organização do FSM. Ali aprendi muito a res-
peito da logística e estrutura de um encontro de grande porte como este. Partici-
par do FSM é algo marcante na vida de cada participante, seja ele cristão ou não.
Ter a oportunidade de conviver com jovens metodistas de diferentes países, no
Instituto Metodista de Porto Alegre, onde estávamos alojados, refletia toda a di-
versidade valorizada pelo FSM. Este aprendizado com a outra e o outro me fez cres-
cer como nunca. Esta experiência de convívio com o diferente, e ao mesmo tempo
tão igual, foi o que eu trouxe de mais especial desses dias em Porto Alegre.
Eu não acredito na existência de uma espiritualidade que não seja solidária e
que não veja na outra pessoa o reflexo de Cristo. Por isso entendo que a participa-
ção de jovens metodistas se faz cada vez mais necessária nesses espaços de dis-
cussão sobre as desigualdades sociais. Nós, como metodistas, temos a missão his-
tórica de ser agentes da transformação social, de mudar o contexto social vigente.
Se não participarmos do momento de maior discussão da realidade social do mun-
do, estaremos na verdade nos omitindo de nossa missão como cristãos e cristãs
metodistas.
Participar do V FSM foi uma maneira de nós, jovens cristãos e cristãs,
mostrarmos que nos importamos com o que acontece ao nosso redor. Não
concordamos com tudo que acontece neste mundo, mas sabemos que Deus
pode mudar essa realidade. E, como cidadãos e cidadãs, devemos nos importar
e participar de tudo que diz respeito às questões sociais e mundiais.
MAURICIO F. CHAVES, IGREJA METODISTA, BRASIL
Senti-me como Wesley, com o mundo como minha paróquia!
28 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Você acredita em uma espiritualidade que não seja solidária?
★ Como a juventude se engaja na convivência com o diferente na sua
comunidade?
★ Que ações para superação das desigualdades sociais são desenvolvidas
pela organização de juventude?
ECUMENISMO
Testemunho em diálogo e serviço
HORACIO MESONES
Centro Regional Ecuménico de Asesoría y Servicio, Argentina
A palavra ecumenismo vem do grego OIKOUMENE, que significa “mundo habitado”.
Esta palavra pertence a uma família de termos:
✓ Oikos: casa, vivenda, família, quarto, povoado.
✓ Oikeotes: relação, parentesco.
✓ Okieoo: habitar, reconciliar-se, estar familiarizado.
✓ Oikonomeo: administrar a casa com responsabilidade; esta é a raiz da palavra
“economia”
No mundo grego, o uso de oikoumene era geográfico, logo era cultural, consi-
derando o homem grego como ideal de Humanidade. No sentido político, eram
excluídos do oikoumene todos aqueles que não falavam o grego, pois isso refletia
a época em que o Império Romano havia causado a queda da Grécia.
Na Bíblia, pelo contrário, oikoumene adquiriu uma outra conotação. Quando
se usa o termo na Bíblia, ele se refere tanto à construção no sentido físico, como à
tarefa da edificação de uma comunidade (ver, por exemplo, 1 Ts 5:11). Na Igreja
primitiva, a tarefa da administração, de prever as necessidades da comunidade e
responder a essas necessidades, deu-se de uma forma conjunta com a construção
do espaço e desenvolvimento espiritual e social dessa comunidade. O sentido de
Ecumenismo, oikoumene, não é de exclusão, mas de solidariedade.
O ecumenismo é a comunhão que une irmãos e irmãs de várias Igrejas
diferentes. Viver em irmandade é melhor. A experiência de Wesley mostra que
a vida em comunhão permite que haja desenvolvimento. É na partilha de
idéias que podemos criar um mundo possível.
MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE, IGREJA METODISTA UNIDA, MOÇAMBIQUE
30 | Ecumenismo
Ecumenismo é, hoje, um chamado que Deus faz a todos os povos do mundo, e
de forma especial à Igreja, para dar um testemunho, em diálogo e em serviço, de
que a unidade de toda a humanidade é possível. A visão ecumênica inspirou aos
homens e às mulheres impulsionarem os movimentos, tanto em termos de base,
como na construção de organizações nacionais, regionais e mundiais, como a Fe-
deração Universal de Movimentos Estudantis Cristãos (Fumec), Associação Cristã
de Jovens (YMCA), Comissão Evangélica Latino-Americana de Educação Cristã
(Celadec), Sociedades Bíblicas, Associação Mundial para a Comunicação Cristã
(WACC), Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e Conselho Latino-Americano de Igre-
jas (Clai).
O ecumenismo envolve dois elementos substanciais. Primeiramente, espiritua-
lidade. Ou seja, o ânimo do Senhor que nos dá a vida, e que se expressa na oração,
reflexão sobre a Palavra e celebração da presença de Deus, transformando nossas
vidas e o mundo.
Eu acredito que realmente cresci espiritualmente depois da minha viagem
ao Brasil. Eu adorei conhecer os jovens metodistas da delegação global. São
pessoas incríveis e verdadeiras seguidoras de Cristo. Gostei mais ainda de ter
participado da marcha no início do FSM. Fiquei maravilhada de fazer parte
desse grupo de jovens metodistas e de estar entre tantos grupos ecumênicos
marchando por um único propósito – criar um mundo melhor onde haja paz.
MASSIEL WINGEIER-RAYO, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
O segundo elemento do ecumenismo é de ser testemunha a favor da justiça
em todas as suas formas: econômica, social, cultural, étnica e de gênero. Ser teste-
munha trabalhando a favor da solidariedade com o povo excluído de nossas socie-
dades, tal como fez nosso Mestre Jesus Cristo.
Associação Cristã de Jovens – http://www.ymca.int/
Associação Mundial para a Comunicação Cristã – http://www.wacc.org.uk/
Conselho Latino-Americano de Igrejas – http://www.clai.org.ec/
Conselho Mundial de Igrejas – http://www.wcc-coe.org/
Comissão Evangélica Latino-Americana de Educação Cristã – http://www.celadec.com.ar/
Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos – http://www.wscfglobal.org/
Sociedades Bíblicas – http://www.biblesociety.org/
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 31
Eu digo sempre para as pessoas à minha volta que participar do FSM foi uma
experiência de fé. Na verdade, foi uma experiência de confronto e
fortalecimento da minha fé como filho de Deus. Naquele local, participavam
pessoas de diferentes credos e até de não credos, que estavam ali porque se
preocupam com o outro. Até, às vezes, muito mais do que nós, cristãos. Este
fato me chocou. Eu fui confrontado a fazer a diferença de alguma maneira, e
minha fé aumentou. Passei a meditar mais no plano integral de Cristo para a
vida das pessoas e ver no outro o reflexo de Deus. Como se diz em Romanos
12:2 e Mateus 22:27-39, é preciso fazer a diferença e manifestar o amor de
Deus reconhecendo aquele que sofre ao meu lado. Amar mais a meu próximo
significa amar a Deus.
RICHARLLS MARTINS, IGREJA METODISTA, BRASIL
Vivemos em um mundo onde a Palavra de Deus é usada para justificar a vio-
lência, a guerra, a exclusão da atenção médica, a impossibilidade do acesso à edu-
cação de qualidade. Neste tempo em que as posições religiosas diferentes consti-
tuem uma ameaça, o movimento ecumênico diz que outro mundo é possível.
Um mundo:
➭ Onde a separação dos povos de etnias diferentes não exista mais. Na década
de 70, o CMI impulsionou o programa de Combate ao Racismo, que trouxe gran-
ECUMENISMO É SER
TESTEMUNHA A FAVOR
DA JUSTIÇA EM TODAS
AS SUAS FORMAS
32 | Ecumenismo
de contribuição para o fim do apartheid na África do Sul (ver http://www.wcc-
coe.org/wcc/what/jpc/racism-e.html/)
➭ Onde o massacre dos povos, em especial dos povos indígenas, não exista mais.
Nos dias de conflito armado na Guatemala, o Clai teve uma participação desta-
cada no processo de encontrar o caminho para a paz naquele país.
➭ Onde a exclusão econômica em tempos de globalização deixe de existir. Em nosso
tempo, as juventudes ecumênicas do Clai e da Fumec têm impulsionado a reflexão
e ação por alternativas de vida digna e justa para jovens e estudantes.
➭ Onde a injustiça exercida contra as mulheres não continue. Todos os organis-
mos ecumênicos têm trabalhado na sensibilização das Igrejas em torno da im-
portância da liderança da mulher e para impulsionar um modelo da liderança
compartilhada de gênero.
➭ Onde a guerra seja coisa do passado. Atualmente, o CMI impulsiona um pro-
grama para superar a violência em todas as suas formas, ativamente envolven-
do as Igrejas e as comunidades em todo o mundo (ver http://www.
superarlaviolencia.org/).
“Nós somos um” é uma canção que nós cantamos na minha igreja. “Nós somos
um, somos um, somos um no Espírito. Aleluia. Aleluia”. Quando eu cantava essa
música, tinha uma visão limitada de quem era o “nós”. Aqui, nós viemos de
vários lugares, com experiências de vida diferentes, falamos diversos idiomas,
mas Deus nos uniu. Nós somos um, e isto me dá forças, porque eu sei que a
luta por justiça e igualdade não é uma luta que se faz sozinha. Unidos, em
Cristo, nós poderemos transformar o mundo.
SHARELLE BARBER, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
A missão da igreja não pode ser levada adiante sem um forte componente ecu-
mênico. Um mundo mais fraterno, solidário e justo necessita da sensibilidade, da
Não queremos que os jovens falem na 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em
Porto Alegre, em 2006, mas que a Assembléia fale com uma voz jovem. Para mim, este paradigma
respeita e reconhece o fato de que nós, a juventude, somos igreja e movimento ecumênico.
Natalie Maxson, Programa de Juventude do CMI, http://www.wcc-assembly.info/
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 33
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Tem sua igreja, em nível local e nacional, um compromisso ecumênico?
★ Como se pode expressar a dimensão espiritual do ecumenismo, através da
oração, compartilhar da Palavra de Deus, e celebração litúrgica?
★ Como o trabalho conjunto das Igrejas pode contribuir para um mundo mais
justo e solidário?
★ Que contribuição pode fazer a juventude ao dialogar e trabalhar no serviço
conjunto com outras igrejas, pessoas de outras religiões, e com quem não
participa de uma fé religiosa?
reflexão e do compromisso de todas as igrejas, trabalhan-
do ombro a ombro no testemunho e serviço. O Movimen-
to Ecumênico necessita das mãos dos jovens, homens e
mulheres, dispostos a compartilhar a sua experiência de
fé com irmãos e irmãs de outras Igrejas, pessoas de outras
religiões e organizações da sociedade civil.
34 | Ecumenismo
Juventude e participaçãoecumênica
TAMARA L. WALKER
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
Freqüentemente, há obstáculos significativos à participação da juventude em pro-
cessos ecumênicos. Muitos destes obstáculos são baseados em mitos. Vejamos al-
guns exemplos destes mitos:
MITO: Se um pastor ou um Bispo apóia a participação da juventude em processos
ecumênicos, então a juventude deixará sua igreja local.
FATO: A juventude freqüentemente se sente fortalecida por sua participação em
processos ecumênicos. E levam suas forças, talentos, dons e habilidades para suas
igrejas locais.
MITO: Se os jovens estão fazendo trabalho ecumênico, então não estão fazendo
trabalho da igreja.
FATO: Somos chamados como pessoas cristãs a trabalhar juntas para o bem da
humanidade e da criação. Podemos fazer junt@s o que não podemos fazer sozinh@s.
Trabalho ecumênico é todos nós trabalhando juntos. Na verdade, a juventude pode
aprender muito sobre cristianismo através do trabalho ecumênico. Pode fortale-
cer seus compromissos de fé de uma maneira profunda e significativamente rele-
vante.
MITO: A juventude não conhece muito a Igreja Metodista, assim que o envolvi-
mento ecumênico somente os confundirá acerca do que os metodistas acreditam.
FATO: A juventude não é nada superficial. Trabalhar ecumenicamente inspira e de-
safia as e os jovens a aprenderem e entenderem mais sobre a sua própria denomi-
nação. Quando jovens metodistas trabalham ecumenicamente, isto os torna me-
lhores metodistas!
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 35
MITO: A juventude vai abandonar a sua identidade wesleyana se participar de pro-
cessos ecumênicos.
FATO: A história e as tradições do “povo chamado metodista” estão enraizadas no
trabalho conjunto com outros cristãos e cristãs em defesa da dignidade, vida, justi-
ça e bem-estar nas comunidades. O trabalho ecumênico freqüentemente faz a ju-
ventude se sentir muito orgulhosa de ser metodista.
MITO: Nossa igreja não tem fundos suficientes nem tempo para fazer nossos pró-
prios programas. Então, como poderíamos apoiar programas ecumênicos?
FATO: A Bíblia não nos diz que eles “reconhecerão que nós somos cristãos” por nos-
sos orçamentos de programas nem por quantos projetos de missão nós “possuí-
mos.” Não, a Bíblia nos diz que eles “reconhecerão que nós somos cristãos por nos-
so amor.” Na área de missão e defesa dos direitos, há muito por fazer. Com o sofri-
mento, a violência e a exploração que acontecem neste mundo hoje, as igrejas pre-
cisam trabalhar juntas. Necessitamos ser testemunhas vivas da palavra de Deus e
da unidade de Cristo. Agir como se as nossas denominações detivessem a posse
da missão de Deus é contrário ao ensinamento cristão.
O que você pode fazer para desconstruir esses mitos?
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 37
A diversidade étnico racial brasileira leva muitas pessoas a crer que vivemos em
uma democracia racial. Acredita-se por isso que neste país não há racismo, porém,
a história do passado e do presente nos revela o preconceito racial em sua face
mais hostil. Ou seja, o racismo velado ou não assumido é racismo legitimado.
Neste momento, meu olhar volta-se ao preconceito contra a diversidade étni-
co racial em relação às mulheres e homens afro-descendentes. Povo que durante
séculos não teve reconhecida sua condição de ser humano, sendo transformado
em objeto à venda. Vale ressaltar que esta era a visão do europeu cristão que
permeava a escravização das nações africanas, marginalizando assim a cultura, tra-
dições e o conhecimento originários desses povos. O movimento mercantilista (com
início por volta do século XIV) tinha um caráter religioso, digamos assim, um plano
de salvação. Salvação que fazia vistas grossas à palavra de Deus, legitimando assim
a escravidão.
“Ai daqueles que edificam a sua casa com injustiça, e os seus aposentos, sem
direito! Que se vale do serviço do seu próximo, sem paga, e não lhe dá o salário.”
(Jeremias 22 13).
Amar ao próximo em sua totalidade é incluir @ excluíd@ no processo de
construção de um mundo melhor, acreditando, assim, que amar a Deus é
sinônimo de amor ao pobre, @ marginalizad@, @ excluíd@. Amar a quem não
tem esperança.
RICHARLLS MARTINS, IGREJA METODISTA, BRASIL
DIVERSIDADE E IDENTIDADE
Felizes os que têm sede de justiça!
JULIANA DE SOUZA
Igreja Metodista, Brasil
Pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003 mostrou que 87% d@s brasileir@s acreditam
que há racismo no Brasil. Curiosamente, somente 4% d@s entrevistad@s reconhecem que são racistas. Este é um dos
pontos-chave da nossa Campanha: existe racismo sem racistas?
Campanha Onde Você Guarda o seu Racismo? Diálogos contra o Racismo, pela Igualdade Racial. http://www.dialogoscontraoracismo.org.br/
38 | Diversidade e identidade
Este passado nos revela o presente onde não há reconhecimento devido das
contribuições do povo africano na formação da sociedade brasileira nem a valori-
zação cultural de suas raízes. As pessoas afro-descendentes não são discriminadas
porque são pobres, mas são pobres porque são discriminadas.
As estatísticas também nos mostram a dimensão do preconceito racial no Brasil1:
✓ No geral, a população negra ganha em média 2,2 salários mínimos mensais,
enquanto a população branca, 4,5 mínimos.
✓ O ensino superior brasileiro é um dos mais elitistas do mundo. Menos de 5%
dos afro brasileiros e menos de 0,5% dos indígenas conseguem chegar aos ban-
cos das universidades. Quando a universidade é pública e o curso é concorrido,
a situação é ainda mais grave.
✓ Entre os 1% mais ricos, 88% são brancos, enquanto os negros representam 77%
dos 10% mais pobres.
✓ Somente nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, 5 mi-
lhões da população negra vivem abaixo da linha de pobreza.
Discriminação racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência,
origem nacional ou étnica que tenha como objetivo ou efeito destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo ou o
exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos domínios político,
econômico, social e cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública.
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ONU, janeiro de 1969. http://www.rndh.gov.br/
racismo.html/
Enfatizamos que a pobreza, o subdesenvolvimento, a marginalização, a exclusão social e as disparidades econômicas
estão intimamente associados ao racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata e contribuem para
a persistência de práticas e atitudes racistas, as quais geram mais pobreza.
Declaração e Programa de Ação, Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, ONU, Durban,
2001. Disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo – http://direitoshumanos.usp.br/
1 Estatísticas extraídas do site http://www.fale.org.br/
ACREDITAMOS QUE SOMOS AGENTES NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 39
Artigo 3º da Constituição Federal do Brasil, promulgada no dia 5 de outubro de 1988, afirma que entre os objetivos
fundamentais da República está o de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. E ainda no Artigo 5º declara que racismo é crime inafiançável e
imprescritível.
Reconhecemos que a religião, a espiritualidade e as crenças desempenham um papel central nas
vidas de milhões de mulheres e homens, e no modo como vivem e tratam as outras pessoas.
Religião, espiritualidades e crenças podem e devem contribuir para a promoção da dignidade e
dos valores inerentes à pessoa humana e para erradicação do racismo, discriminação racial,
xenofobia e intolerância correlata.
Embora a Constituição Federal assegure a todas as pessoas uma série de ga-
rantias como educação, saúde e direito ao trabalho, a população negra não usufrui
justamente desses recursos. Este é um dos difíceis contextos que fazem parte do
meu país, contexto que dá margem a grande desigualdade social.
Desde a época em que meus ancestrais eram escravizados, havia movimentos de
resistência. Os Quilombos e, hoje, o movimento negro são exemplos desta resistência.
Minha participação no Seminário de Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial
possibilitou a interação com jovens do mundo inteiro que também sentem-se
inconformados com as injustiças praticadas contra os sem nome. Nós acreditamos que
somos agentes na construção de um mundo melhor, e sabemos que nossa herança
wesleyana nos convoca à missão e responsabilidade social, não à omissão.
Reconhecemos que o diálogo e o intercâmbio nacionais e internacionais e o
desenvolvimento de uma rede mundial entre a juventude são elementos importantes e
fundamentais na construção do entendimento e respeito interculturais e contribuirão
para a eliminação do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata.
Declaração e Programa de Ação, Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata, ONU, Durban, 2001. Disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo – http://
direitoshumanos.usp.br/
40 | Diversidade e identidade
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ De que forma você percebe a discriminação racial segundo a definição da
Convenção – ”distinção, exclusão e restrição baseada na raça, cor, ascendência,
origem nacional ou étnica” – em seu país ou/e igreja?
★ Qual a forma efetiva de a juventude promover o diálogo para superação do
racismo em sua comunidade ou/e igreja?
★ Que estratégias podem ser utilizadas para promover a inclusão social, racial e
étnica em todos os seus níveis de ação e decisão da organização de juventude?
Igreja: espaço de inclusão e resgate de cidadania
Diferente do que a história nos mostra, a Igreja pode e deve ser um espaço de
inclusão e resgate da cidadania daqueles e daquelas que sofrem as conseqüências
da escravidão, desigualdade e preconceito. Em resposta a este dever, estamos ca-
minhando rumo à implantação do Ministério de Ações Afirmativas para Afrodes-
cendentes na sede regional da Igreja Metodista, em São Paulo, Brasil. Uma de nos-
sas propostas é avaliar o material produzido pela Igreja desde a perspectiva da
inclusão racial.
Como juventude metodista, estejamos atentos à importância de valorizar a
diversidade e a inclusão social e racial/étnica em nossas comunidades.
“Bem-aventurados os que têm sede de justiça porque serão saciados” (Mateus 5:6).
As igrejas afirmam sua vocação “para responder ao evangelho do amor de Deus em Cristo e de vivificar seu
Discipulado em culto e missão”, reconhecendo que a igreja existe para:
✓ Incrementar a consciência da presença de Deus e celebrar o amor de Deus.
✓ Ajudar as pessoas a crescerem e aprenderem como cristãos e cristãs por meio de apoio e cuidado recíprocos.
✓ Sermos bons vizinh@s para com pessoas em necessidade e desafiar o racismo e a injustiça na vida cotidiana.
✓ Reconhecermos a diversidade e a diferença como dádivas da criação de Deus.
✓ Reconhecermos que Deus pode mudar tanto as pessoas quanto as situações que envolvem racismo.
Justiça Transformadora: Ser Igreja e Superar o Racismo. Cartilha. Conselho Mundial de Igrejas, 2004.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 41
Um Evangelho muito alémdo gênero ou da raçaJoão 4:1-12
ILIA M. VÁZQUEZ GASCOT
Igreja Metodista, Porto Rico
O modelo de Jesus não deixa dúvidas sobre as relações com outras pessoas, tendo
em conta a questão do gênero ou da raça. O encontro com a mulher samaritana
nos mostra um Jesus que toma a iniciativa do diálogo, rompendo com as barreiras
que o seu tempo e cultura lhe tinham imposto (João 4:1-30). São os preconceitos
que ele ignora e que a mulher tinha internalizado que vêm à tona diante das dife-
renças entre suas culturas. Não obstante, isso não impede Jesus de continuar o
diálogo com aquela mulher. Ele não desiste do seu plano de oferecer água viva
que saciará uma sede que ela mesma não compreende.
Preconceitos como os presentes no tempo de Jesus continuam presentes no
nosso tempo. As diferenças por questão de gênero nos distanciam de viver o Rei-
no. Falar de gênero é falar das diferenças sociais e relacionais entre os homens e
mulheres. Diferenças aprendidas e passíveis de mudança com o tempo e que apre-
sentam uma grande variação entre as diversas culturas e até mesmo dentro de
uma mesma cultura. Estas diferenças e relações são uma construção social e têm
sido aprendidas através do processo de socialização. São específicas de um con-
texto e por isso podem ser modificadas. Estas diferenças têm definido nossas vi-
das, impactado nossa formação, a maneira como falamos, pensamos e tratamos as
demais pessoas.
Discriminação de gênero e raça em um mundo em desenvolvimento não faz
sentido. Ainda que se verifiquem focos de discriminação, as mulheres são
capazes de fazer o que os homens fazem. Deve haver igualdade. Num mundo
possível, a raça deve ser respeitada. Somos todos filhos de Deus. Por um
mundo livre de racismo e com igualdade de direitos entre homens e mulheres!
Um outro mundo é possível.
MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE, IGREJA METODISTA UNIDA, MOÇAMBIQUE
42 | Diversidade e identidade
As diferenças por causa do gênero são utilizadas para justificar a violência con-
tra as mulheres ao redor do mundo. A violência física, emocional, psicológica, se-
xual acontece com mulheres de todas as sociedades, classe social, raça ou religião.
✓ 60% dos pobres do mundo são mulheres.
✓ 500 mil mulheres morrem ao ano por complicações na gravidez.
✓ As mulheres representam dois terços dos adultos analfabetos do mundo.
✓ Entre 3 e 4 milhões de mulheres são golpeadas a cada ano no mundo.
✓ Uma de cada cinco mulheres será vítima de violação ou de uma tentativa de
violação no curso de sua vida.2
A Igreja não pode permanecer silenciada e imobilizada diante da injustiça e do
abuso. Jesus caminhou em seus dias sem etiquetar as pessoas por seu gênero ou
raça; ele via nelas a necessidade, e com compaixão se aproximava. Não via as dife-
renças, via as possibilidades. Um encontro entre Jesus e uma mulher samaritana
foi o detonador para que muitos alcançassem a salvação. Jesus viu muito mais que
uma mulher ou muito mais que uma samaritana. Ele superou os preconceitos que
seu tempo e cultura impunham na relação homem e mulher, e judeu e samaritano
(João 4:27). O poder do evangelho e a fome por cumprir a vontade do seu Pai não o
deixaram ignorar aquela oportunidade de oferecer a água da vida àquela mulher.
Constatamos que a violência contra as mulheres, seja física, sexual, psicológica, econômica ou espiritual, é uma realidade em nossas igrejas
e países. Desta forma, nos comprometemos a nomear essa violência e dizer BASTA. Violência é pecado, e Deus nos chama à salvação.
Mensagem das Mulheres de Língua Portuguesa às Igrejas-membro do Conselho Mundial de Igrejas a propósito da 9ª. Assembléia do CMI. Porto Alegre. 2005.
2 Organização Mundial de Saúde, 1997.
VIOLÊNCIA É
PECADO. DEUS NOS
CHAMA À SALVAÇÃO
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 43
Um encontro verdadeiro com Jesus nos deixa a descoberto, revela quem so-
mos e nos impele a compartilhar com as pessoas essa experiência. A samaritana
também foi compartilhar a água, não a água que poderia ter tirado do poço, pois o
cântaro permaneceu junto a ele. Ela compartilhou a água da vida que o mesmo
Jesus lhe deu. Foi o testemunho dessa mulher, através da experiência de superação
das barreiras, que a tornou o instrumento de salvação de muitos (João 4:39-42).
Faz alguns anos o tema de minha Igreja era “Unidos na diversidade”. Uma frase
muito significativa que me fazia pensar muito na união que devemos ter como
membros de uma Igreja. No entanto, ao participar do FSM, pude experimentar
e apalpar a diversidade como uma forma de entender que neste mundo há
muitos que crêem que outro mundo é possível a partir de nós mesmos,
deixando de lado a discriminação tanto de gênero quanto de raça, com a qual
estamos acostumados a viver. É muito necessário o trabalho e o esforço de
todas as pessoas, entendendo que tudo o que se faz é de igual importância
diante do sonho de um mundo melhor e na construção do Reino de Deus.
FABIOLA ALEJANDRA GRANDÓN TOLEDO, IGREJA METODISTA, CHILE
A Plataforma de Ação de
Beijing, aprovada na Confe-
rência da Mulher, Organiza-
ção das Nações Unidas, ONU,
1995, reconhece que a indi-
gência e a feminização da
pobreza, o desemprego, a
crescente fragilidade do
meio ambiente, a contínua
violência contra a mulher e a
exclusão generalizada da
metade da humanidade das
instituições de poder e
governo colocam em desta-
que a necessidade de conti-
nuar lutando para conseguir
o desenvolvimento, a paz, a
segurança e encontrar solu-
ções para alcançar um de-
senvolvimento sustentável,
centrado nas pessoas.” Para
alcançar estes objetivos, a
Plataforma convoca os
governos e a sociedade civil,
incluindo igrejas, a atuarem
nas seguintes áreas de
especial preocupação:
1. Persistente e crescente
peso da pobreza que afeta a
mulher
2. Desigualdade de acesso
à educação e à capacitação
profissional
3. Desigualdades em maté-
ria de atenção para saúde e
serviços afins
4. Todas as formas de vio-
lência contra a mulher
5. Conseqüências dos
conflitos armados ou outros
tipos de conflitos sobre as
mulheres, incluindo aquelas
que vivem em áreas sob
ocupação estrangeira
6. Desigualdade de acesso
e de participação da mulher
na definição das estruturas e
das políticas econômicas no
processo de produção e no
acesso aos recursos
7. Desigualdade entre a
mulher e o homem no exer-
cício do poder e na tomada
de decisões em todos os
níveis.
8. Ausência de mecanismos
suficientes, em todos os
níveis, para promover o
avanço da mulher
9. Ausência de respeito e
promoção e proteção inade-
quadas de todos os direitos
humanos da mulher
10. A mulher e os meios de
comunicação, estereo-
tipagem e desigualdade de
acesso
11. A mulher e o meio ambi-
ente, desigualdade no
gerenciamento dos recursos
naturais e salvaguarda do
meio ambiente
12. Persistência da discrimi-
nação contra a menina e
violação de seus direitos
Plataforma de Ação da Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher, Beijing , 1995. Disponível no site de Cepia, RJ. http://www.cepia.org.br/doc/leis3.pdf/
44 | Diversidade e identidade
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Que mensagem da parte de Deus você recebe das mulheres e dos povos de
outras raças?
★ Como a juventude tem sido instrumento de Deus para a salvação ao compartir
a água da vida que confronta todas as formas de discriminação?
★ O que a organização de juventude está fazendo para eliminar a discriminação
de gênero e de raça em nível local e global?
Tal como fez Jesus, é nosso dever tomar a iniciativa de superar as barreiras
que temos aprendido e conservado consciente ou inconscientemente. A eli-
minação de todas as formas de discriminação é a base para vivenciarmos o
evangelho, e passar adiante esta água da vida. Se nós alcançamos a água da
vida, como não compartilhar com aqueles e aquelas que nós sabemos terem
sede?
“Não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem
nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28). A igual-
dade de todos os seres humanos diante de Deus tem que se concretizar em
termos de direitos e responsabilidades na igreja e na sociedade3.
Um novo mundo tornar-se-á possível a partir do momento em que
olharmos à nossa volta, munid@s de total iniciativa, com o intuito de
implantar uma solidariedade desprovida de preconceitos e condições.
PAULA DO NASCIMENTO SILVA, IGREJA METODISTA, BRASIL
Que nossos olhos e ouvidos estejam abertos à mensagem que Jesus nos
dá hoje através das mulheres e de pessoas diferentes de nós, diferentes do
ponto de vida cultural, religioso, social ou racial. E ainda, nos fortaleça na su-
peração das barreiras e valorização das diferenças.
3 Comentário Biblia NVI, em espanhol.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 45
Quem é meu próximo?Lucas 10:25-37
SHARRELLE BARBER
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
No texto bíblico acima, o intérprete da lei coloca uma questão que eu venho con-
siderando nestes últimos meses após a minha participação no Seminário de For-
mação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial – quem é o
meu próximo? Desde esta data, eu não tenho ficado satisfeita com a noção limita-
da de que um vizinho é alguém que vive próximo a mim ou pessoas que eu estou
acostumada a ver todos os dias. Agora, quando eu penso sobre minha igreja local,
eu não posso deixar de pensar sobre os cerca de 60 ou mais mulheres e homens,
jovens cristãos, de todos os Estados Unidos e do mundo com quem eu tive o pra-
zer de cantar, orar e estudar a palavra de Deus no Brasil. Quando eu penso em te-
mas como pobreza e injustiça nas periferias das cidades e comunidades rurais no
meu país, eu não posso deixar de pensar na pobreza devastadora em outras partes
do mundo. Quando eu penso sobre a interminável praga dos baixos salários que
não permite às pessoas prover suas famílias aqui, nos Estados Unidos, eu não pos-
so deixar de considerar aqueles, em outros países, que são explorados e pratica-
mente roubados de seu trabalho e seus recursos naturais.
JUSTIÇA ECONÔMICA
Em 2004, 37 milhões de pessoas (12,7%) viviam em situação de pobreza nos Estados Unidos. Em 2003, eram 35,9
milhões (12.5%) de pessoas.
24,7% dos negros e 21,9% dos hispânicos continuam em situação de pobreza nos EUA, enquanto os brancos não-
hispânicos totalizaram 8,6% em 2004 e 8,2% em 2003.
Tanto o índice quanto o número de pobreza aumentou para pessoas entre 18 e 64 anos (11,3% e 20,5 milhões em 2004).
U.S. Census Bureau. Poverty: 2004 Highlights: http://www.census.gov/hhes/www/poverty/poverty04/pov04hi.html/
A renda anual dos 1% mais ricos da população mundial é equivalente à renda dos 57% mais pobres do
planeta. Os ricos ficam mais ricos e os pobres ficas mais pobres. A renda dos 5% mais ricos do mundo é
114 vezes maior do que a renda dos 5% mais pobres. Se os ricos dividissem apenas 5% de sua riqueza, as
necessidades básicas de toda humanidade do planeta seriam atendidas.
Clarissa Balan, Economic Justice and Globalization. Together in Action for Peace and Reconciliation. Asia Pacific Students and
Youth Gathering, 2004. p 63.
46 | Justiça econômica
Minha compreensão sobre o próximo tem na verdade se ampliado, e isto refle-
te a realidade da comunidade global, de que todos nós somos parte. Esta compre-
ensão sobre o próximo é uma virtude que nós, como juventude e Igreja, devemos
assumir para que possamos amar nosso próximo como Cristo nos ensinou. Isto é
uma reação contrária à cultura de uma sociedade, que, de muitas maneiras, nos
mantém divididos e nos ensina a nos preocupar somente com o nosso bem-estar.
Dentro da Igreja, nós precisamos constantemente relembrar que em todo o
mundo nós temos vizinhos que professam Cristo e que estão tentando viver a sua
fé tanto no nível pessoal como no comunitário. Esse sentido de singularidade e
unidade dentro da Igreja tornou-se vivo para mim no Seminário de Formação de
Identidade Wesleyana. Todos nós éramos de diferentes países, culturas e experiên-
cias de vida, e ainda éramos capazes de cantar, orar, estudar a palavra de Deus e
falar de temas que afetam nossas comunidades. Esse sentido de unidade me im-
pacta ainda hoje, e tem sido uma fonte de força para mim. Eu sei que, às vezes, em
face da imensa tarefa de cuidar dos pobres e lutar e resistir em nome da justiça e
retidão, estou unida a meus irmãos e irmãs em volta do mundo.
Como metodistas, espalhados pelo mundo, compartilhamos algo que nos une
de maneira especial, esse algo é nossa fé em Deus. Este Deus que nos chama
a amar ao nosso próximo como a nós mesmos. Percebi que o nosso próximo
não está apenas aqui, na minha cidade, ou no Brasil, mas está em todos os
cantos deste planeta que os filhos e as filhas de Deus compartilham.
TIAGO CERQUEIRA LAZIER, IGREJA METODISTA, BRASIL
Como Igreja, unida pelo Espírito Santo, nós devemos reconhecer com intensi-
dade que nossos próximos são aquel@s que vivem neste mundo em sofrimento, e,
MEU PRÓXIMO É AQUELE
QUE VIVE EM
SOFRIMENTO E EM
SITUAÇÃO DE
VULNERABILIDADE
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 47
como cristãos e cristãs, nós temos a obrigação de agir com misericórdia. Nós deve-
mos mostrar às pessoas que as amamos, e fazemos isto através do nosso desejo de
cuidar delas nas situações de mais vulnerabilidade e denunciando os sistemas neste
mundo que as mantêm nesta situação. Antes de participar do FSM, eu estava cons-
ciente de alguns temas sociais que as pessoas discutem ao redor do mundo, mas
esta experiência me permitiu aprofundar minha sensibilidade, e me fez compreen-
der que, como Igreja, precisamos tomar seriamente nosso chamado ao amor e cui-
dado dos mais pequeninos de Deus. Nós não podemos nos dar ao luxo de dar às
costas como se os problemas não existissem.
Parece fácil dar às costas a temas como o mercado livre quando se está
tomando uma coca-cola, ignorando assim a crueldade daqueles que se
beneficiam do sofrimento dos outros.
JOSÉ SAAVEDRA, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
Como o bom samaritano no texto, nós temos que estender a mão e cuidar
daqueles que têm caído nas armadilhas dos “ladrões” deste mundo. Ladrões como
corporações transnacionas que exploram o pobre através de salário mínimo por
trabalho máximo e extração dos recursos naturais dos países. Ladrões como go-
vernos que roubam a inocência das crianças e roubam a paz das nações através
de guerras desnecessárias por dinheiro e poder. Ladrões como as nações ricas
que se recusam a tratar do tema da pobreza dentro de sua própria nação e em
outras nações menos influentes, e roubam assim a milhões de pessoas o provi-
mento de suas necessidades básicas como alimento, água, roupa e abrigo. Nós
A Igreja está colocada em um mundo de crescente desigualdade. Mesmo nos Estados Unidos, onde há 268 bilionários,
uma grande maioria das crianças vive abaixo da linha de pobreza. Os 1% americanos mais ricos receberam em 1999
tanto quanto os 38% mais pobres combinados. Em muitos países pobres na Áfria e Ásia, a pobreza é muito mais
profunda e a distância entre ricos e pobres excede a do homem rico e Lázaro (Lucas 16:19-31). Em tal circunstância, a
Igreja precisa decidir se sua missão de pregar as boas novas aos pobres significa somente boas novas para a vida
espiritual ou boas novas para a pessoa integral.
The United Methodist Church. My Spiritual Journey. Book of Resolutions. Pathways to Economic Justice. 2004. http://archives.umc.org/
interior_print.asp?ptid=4&mid=920/
48 | Justiça econômica
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Quem é o seu próximo? Por quê?
★ Quais são os grupos sociais em condição de mais vulnerabilidade,
marginalização e exclusão em sua comunidade?
★ Quais são os sistemas de poder e as estruturas sociais, políticas e econômicas
que mantêm homens, mulheres, crianças e jovens marginalizados e vulneráveis?
★ Como a organização de juventude estende a mão “àqueles que caíram entre
os ladrões”, no contexto da análise de Sharelle Barber?
precisamos cuidar e denunciar em nome daqueles e daquelas que caíram entre
os ladrões, porque será Jesus que nos cobrará se alimentamos @s famint@s, de-
mos de beber @ sedent@, vestimos @s desnud@s e visitamos @s prisioneir@s. E
se nos recusamos a fazer alguma destas coisas, estamos recusando a ser o próxi-
mo dEle (Mateus 25:31-36).
Como juventude e Igreja, somos chamadas a ser próximo umas das outras e
daquel@s que neste mundo estão em sofrimento. Quando entendermos isto, ver-
dadeiramente poderemos começar a amar como Cristo nos chamou a amar.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 49
Juventude metodistaparticipa da campanha peloperdão da dívida externa
MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE
Igreja Metodista Unida, Moçambique
Mergina Matimbe é parte da liderança de jovens da Igreja Metodista Unida na
sua província em Moçambique. Ao retornar ao seu país, após participar da Dele-
gação Global de Juventude Metodista no Fórum Social Mundial, Mergina com-
partilhou sua experiência com a juventude. No debate de vários temas que afe-
tam a realidade da juventude, foi tomada a decisão de engajar-se na campanha
global pelo perdão da dívida dos países pobres. Moçambique é um país em vias
de desenvolvimento, e a juventude quer que os países mais ricos que compõem
o G81 tomem decisões efetivas para o combate à injustiça econômica, e uma de-
las é o perdão da dívida externa.
A DÍVIDA É UMA FORMA DE
ESCRAVIDÃO TÃO HORRENDA
COMO A DO COMÉRCIO DE
ESCRAVOS
1 G8 significa “Grupo dos 8” países mais ricos do mundo. Começou em 1975, quando o presidente francês Giscard d’Estaing
convidou líderes do Japão, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Itália para discutir os problemas econômicos do dia.
Canadá entrou no Grupo em 1976 e a Rússia em 1998. http://www.g8.gov.uk/
50 | Justiça econômica
A redução da pobreza absoluta dos países africanos como, por exemplo, Mo-
çambique, que é o meu país, é fundamental, afirma Mergina. É hora de agir, chega
de debates sem reação. Paremos e criemos forças para pôr em prática aquilo que
são os nossos pensamentos que podem mudar o mundo actual.
Escutem as palavras de esperança de Mergina Matimbe: Um outro mundo é
possível, sem guerras. Um outro mundo é possível, sem complexos de superiorida-
de e/ou de inferioridade, não importa a raça, a etnia, os costumes, religião e cultu-
ra. Um outro mundo é possível sem doenças. Um outro mundo é possível se um
dia admitirmos que somos de uma só carne, somos uma única pessoa e pertence-
mos a Cristo.
Todos os jovens e as jovens são convocados, chamados, não só para ouvir, mas
a arregaçar as mangas, e levar avante a nossa identidade para atingir esse mundo
possível.
Em 1997, Moçambique ocupava o 169º lugar entre os 175 países em termos de Desenvolvimento Econômico,
segundo o Relatório da ONU sobre Desenvolvimento Humano. Este índice revela, entre outras situações, o estado
precário de saúde, especialmente de mulheres e crianças, o limitado acesso à educação e a alta taxa de
mortalidade infantil. O elevado montante da dívida compromete todos os esforços de tirar o país da pobreza e da
extrema pobreza.
Grupo Moçambicano da Dívida, http://www.divida.org/IMG/pdf/divida_publica.pdf/
A dívida é uma forma de escravidão tão horrenda como a do comércio de escravos.
Conselho de Toda África, África em Ação. http://www.africaaction.org/campaign_new/debt.php/
É HORA DE AGIR
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 51
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Como você analisa a situação econômica e social do seu país, em
particular a da juventude?
★ Em que campanhas, em nível local e global, por justiça econômica
a juventude está envolvida?
★ Como a organização de juventude sensibiliza a comunidade para
“arregaçar as mangas e atingir esse novo mundo possível”?
Oração para a Missão
Querido Deus, que escolheu ser próximo a nós, mesmo quando
não nos colocamos como seu próximo, encha-nos com o seu
Espírito para que possamos verdadeiramente amar nosso
próximo dentro da Igreja e nosso próximo que está sofrendo
neste mundo. Dê-nos um coração capaz de se compadecer
deles e o desejo de cuidar deles nas situações mais vulneráveis.
Dê-nos palavras para denunciar as injustiças que os mantêm
vulneráveis. Ajude-nos a amá-los para que eles possam ver
Cristo em nós e queiram conhecê-lo por si mesmos. Em nome
do teu filho, Jesus Cristo, amém.
SHARRELLE BARBER,
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
Uma prioridade da justiça
DAVI D WILDMAN
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos1
A história dos direitos humanos é uma história das lutas humanas.
RELATÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2000
Em 1998, na Missão Diplomática dos Estados Unidos (EUA) às Nações Unidas, a ad-
ministração do governo americano deu um informe sobre o seu esforço em de-
nunciar os abusos de direitos humanos em várias nações. Então, uma pergunta foi
levantada: considerando a importância que os EUA dão aos direitos humanos, por
que os EUA têm demorado tanto para ratificar as convenções de direitos humanos,
e por que têm sido tão lentos em informar sobre a implementação das convenções
que ratificaram?
A resposta apontou para o longo processo que a administração precisa levar
para assegurar que cada convenção se ajuste às leis dos 50 estados americanos, e
ainda que isto só podia ser feito considerando cada Convenção de direitos huma-
nos por vez. No entanto, a mesma administração pressionou por uma deliberação
rápida quando o Congresso queria ratificar os acordos comerciais. Os EUA dedi-
cam mais de 1 bilhão de dólares por dia a guerras em volta do mundo. Os EUA
fazem enormes vendas de armas a nações com péssima atuação na área de direi-
tos humanos. Desta forma, a impressão é de que, na verdade, o comércio e a guerra
são mais prioritários do que os direitos humanos para os EUA.
Da retórica à responsabilidade
Os mensageiros da paz choram amargamente.... O tratado é quebrado, os seus ju-
ramentos são desprezados, a sua obrigação é desconsiderada. A terra geme e des-
falece. (Isaías 33:7-9)
DIREITOS HUMANOS
1 Uma versão deste artigo aparece na Revista New World Outlook, a revista de missão da Igreja Metodista Unida. Maio-Junho de
2003. Usado com permissão.
54 | Direitos humanos
Há uma tremenda contradição entre a prioridade declarada pelo governo dos
EUA em direitos humanos e as suas práticas concretas. Desde a assinatura da De-
claração Universal de Direitos Humanos2 (10 de Dezembro de 1948), os EUA, lenta-
mente, quase mais do que qualquer outra nação, têm ratificado os acordos básicos
e Convenções de direitos humanos internacionais.
Mais de 20 anos depois da sua adoção, os EUA ainda não ratificaram:3
✓ a Convenção Internacional para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
✓ a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres
✓ os Protocolos I e II das Convenções de Genebra sobre a Proteção de Civis em
Conflito Armado
✓ Convenção sobre os Direitos da Criança
Direitos humanos como ato de fazer aliança
Em termos bíblicos, responsabilidade nos tratados de direitos humanos é tanto
um chamado à confissão pública como um chamado a amar (estar em solidarieda-
de com) o próximo. O caráter universal dos direitos humanos requer de quem tem
poder uma maior responsabilidade. Os direitos humanos, como a história do bom
samaritano, dão prioridade ao bem-estar e às necessidades daquele que é violado
e vulnerável em lugar dos privilégios de quem é poderoso.
Eu venho da região amazônica, uma terra rica em recursos naturais, mas onde
o povo passa fome.
FÁBIO SENA, IGREJA METODISTA, BRASIL
No Mississipi, o estado mais pobre dos Estados Unidos, as pessoas morrem
por falta de água e comida. Mas nós nos acomodamos nas nossas ideologias
e não fazemos nada. A Bíblia, no entanto, é um livro de esperança e ação.
THEON JOHNSON III, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
2 Ver Cartilha de Direitos Humanos, produzida pela CESE, Bahia, Br. Inclui a Declaração Universal dos Direitos Humanos
articulada com textos bíblicos. Disponível na website: http://www.cese.org.br/Publicacoes.htm/
3 As Convenções internacionais elaboradas pelas nações membros da ONU, para entrar em vigor em nível nacional, devem ser
primeiro assinadas e depois ratificadas individualmente pelos estados-membros. Quando estas duas etapas são realizadas, o
governo nacional está se compromentendo a incluir os acordos internacionais nas leis nacionais e submeter-se ao
monitoramento de sua aplicação às diversas comissões da ONU. Sem a ratificação, o governo nacional está apenas declarando a
sua intenção de fazê-lo, desta forma, não fica sujeito a monitoramentos internacionais.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 55
O processo de direitos humanos das Nações Unidas (ONU) reforça a nature-
za do ato de fazer aliança entre as nações, entre governos e povos, e entre o
próprio povo. Uma convenção não é um conjunto estático de leis, mas um rela-
cionamento ativo e vivo baseado no respeito mútuo, que pode ser fortalecido
ou rompido.
Em nosso mundo de vidas destruídas e comunidades divididas pelas ações er-
radas dos seres humanos, os movimentos de direitos humanos encarnam as lutas
das pessoas por justiça e integridade. Atrás de cada tratado ou convenção interna-
cional de direitos humanos, estão os gritos silenciados e lutas escondidas daque-
les que são violados. Direitos humanos como ato de fazer aliança não se encerram
no ato da ratificação, mas configuram um processo contínuo e dinâmico.
O Alto Comissariado é o principal funcionário da ONU responsável pelos direitos humanos. Seu propósito é dirigir o
movimento internacional de direitos humanos, desempenhando a função de autoridade moral e porta-voz das
vítimas. Diante das crises de direitos humanos, ele ou ela emite pronunciamentos para que a consciência de direitos
seja ouvida por todo mundo. O Alto Comissariado estimula o diálogo e fomenta a cooperação com os governos para
reforçar a proteção aos direitos humanos.
Oficina del Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos: http://www.ohchr.org/spanish/about/hc/index.htm/
OS MOVIMENTOS DE DIREITOS
HUMANOS ENCARNAM AS LUTAS DAS
PESSOAS POR JUSTIÇA E INTEGRIDADE
56 | Direitos humanos
Quatro etapas na luta por direitos humanos
➭ 1. DEFINIR OS PADRÕES UNIVERSAIS. O primeiro passo em direção à Conven-
ção de direitos humanos envolve o desenvolvimento de padrões universais
para lidar com problemas específicos (por exemplo, tortura, genocídio, vio-
lência contra mulheres, crianças ou civis em conflito armado). Uma vez que a
versão preliminar do tratado ou da convenção é finalizada, está aberto o perí-
odo para assinaturas (ou uma declaração de intenção) e ratificação (confir-
mação da intenção) pelos estados-membros do sistema das Organizações das
Nações Unidas. Tensão considerável emerge ao redor da dimensão universal
dos direitos humanos.
Quando Malcolm X falou em uma Igreja Metodista em Rochester, NY, EUA, ele
questionou uma visão estreita de direitos. Ele afirmou que “o movimento por
direitos humanos é um movimento conexional e universal de solidariedade.
Enquanto que no movimento de direitos civis seus únicos aliados são as pes-
soas da comunidade vizinha, muitos dos quais são responsáveis pela sua dor.
Mas quando você chama sua dor de direitos humanos, isto torna-se uma ques-
tão internacional. E então qualquer pessoa em qualquer lugar nesta terra pode
tornar-se seu aliado.” (16 de fevereiro de 1965)
➭ 2. ELABORAR PLANOS DE AÇÃO. Espera-se que os governos desenvolvam pla-
nos específicos para implementar os direitos e as responsabilidades esboçadas
em cada convenção. Os planos de ação variam desde as campanhas ou dias
comemorativos para aumentar a consciência (por exemplo, 8 de março – Dia
Internacional da Mulher; 21 de março – Dia Internacional para Eliminar a Dis-
criminação Racial) até a adoção de legislação e planejamento orçamentário
das prioridades.
Por exemplo, os EUA têm o índice mais alto de pobreza infantil de qualquer
nação industrializada. Ao ratificar a Convenção dos Direitos da Criança, os or-
çamentos federais e estaduais deverão incorporar fundos específicos e pro-
gramas para assegurar que cada criança tenha casa adequada, saúde, alimen-
tos, etc. Isto significa que os direitos humanos das crianças confrontariam os
interesses dos proprietários e acionistas por mais riqueza. Martin Luther King,
Jr. advertiu que “quando os lucros e direitos de propriedade são considerados
mais importantes do que as pessoas, o grande tripé racismo-militarismo-ex-
ploração econômica fica impossível de ser vencido.” (4 de Abril de 1967).
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 57
➭ 3. APRESENTAR O RELATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS E INDICAR UM MONITO-
RAMENTO INDEPENDENTE. Cada governo que ratifica um tratado é obrigado a
submeter relatórios regulares aos órgãos de direitos humanos da ONU sobre
quão bem estão implementando os padrões de direitos humanos e os planos
utilizados para realizar os passos 1 e 2. Além disto, organizações de direitos
humanos, Relatores Especiais da ONU e peticionários individuais trazem à ONU
relatórios independentes sobre infrações de direitos humanos, para conside-
ração. Cada governo, então, deve responder as perguntas, críticas, e dar
continuadade às recomendações feitas pelos peritos da ONU.
O processo de monitoramento da ONU permite à nação “primeiro tirar o cisco
do (seu) próprio olho” (Mateus 7:5). Como a Bíblia, o monitoramento dos direi-
tos humanos conta a história na perspectiva de quem está à margem – a po-
bre, a perseguida e a vulnerável.
➭ 4. FAZER CUMPRIR OS DIREITOS HUMANOS – RENOVANDO A CONVENÇÃO. A
comunidade internacional tem obtido grandes resultados em estabelecer os
padrões universais, elaborar um plano de ação e realizar o monitoramento. Con-
tudo, a etapa da execução permanece precária e em grande parte dependente
dos estados-membros (que são alguns dos piores violadores dos direitos hu-
manos) para fiscalizarem-se a si mesmos.
Tragicamente, a maioria das tentativas de cumprimento dos direitos humanos
ocorre depois que as atrocidades tenham acontecido. As Comissões da Verda-
de na Guatemala, El Salvador, Haiti e África do Sul dão voz aos que foram viola-
dos, torturados e desaparecidos. Elas nomeiam a verdade ainda que os
violadores raramente sejam punidos. Os tribunais dos crimes de guerra na
Bósnia e Ruanda significam um passo fundamental. A mídia e os ativistas de
direitos humanos também desempenham um papel crítico em publicamente
denunciar as violações de direitos humanos.
O respeito pelos direitos humanos é fundamental num estado de direito. As
matanças que existem no mundo, o terrorismo, as guerras são uma violação
flagrante dos direitos humanos. Um novo mundo é possível se respeitarmos
os direitos humanos.
MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE, IGREJA METODISTA UNIDA, MOÇAMBIQUE
58 | Direitos humanos
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ São os direitos humanos uma prioridade da justiça em seu país?
★ Em que medida a mensagem profética bíblica é um chamado à defesa
de direitos?
★ Motive a organização de juventude a fazer um plano de ação
missionária junto à comunidade baseado na Declaração Universal de
Direitos Humanos.
A Corte Internacional de Justiça recentemente constituída oferece uma das
melhores esperanças para efetivar o cumprimento das medidas de direitos huma-
nos. Apesar de que os tribunais de crimes de guerra tenham geralmente processa-
do as violações de direitos humanos dos perdedores, a Corte assegura que qual-
quer um que tenha cometido graves violações de direitos humanos possa ser pro-
cessado. Seu alcance universal fornece uma medida preventiva de grande força
para deter as violações de direitos humanos antes que elas ocorram.
Os profetas bíblicos, como monitores dos direitos humanos, repetidamente nos
lembram que o povo que escolheu renovar a aliança – com Deus e com o próximo
– está sempre adiante de nós:
“mas se deveras emendares os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras
praticardes a justiça, cada um com o seu próximo, se não oprimirdes o
estrangeiro...nem derramardes sangue inocente neste lugar...então eu vos fa-
rei habitar neste lugar.” (Jeremias 7:5-7)
Que possamos escolher a vida e que todos os povos possam viver!
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 59
Direitos indígenas entreo povo kanamari
ANA CLAUDIA FIGUEROA
Igreja Metodista, Brasil
Na sociedade brasileira na última década, a garantia de direitos dos povos indíge-
nas se consolida como realidade efetiva. Apesar de todas as contradições no pro-
cesso de implementação desses direitos, considera-se um período favorável às
populações indígenas enquanto afirmação das identidades etnicamente diferen-
ciadas, com garantia e manutenção de valores e tradições próprias.
No entanto, se olharmos para um dos povos indígenas em particular, veremos
os desafios em termos da preservação das tradições culturais e sobrevivência eco-
nômica de um povo em convivência com uma sociedade distinta.
No Juruá, Amazonas, mesmo depois de 150 anos de contato, permanecem vá-
rios aspectos ancestrais da cultura kanamari.1 A afirmação dos direitos étnicos con-
vive com um período de imensa curiosidade dos kanamari sobre a cultura e valo-
res da sociedade brasileira não indígena. Esta, por sua vez, possui matriz polifônica,
com influências cruzadas e híbridas de várias culturas tidas como “não indígenas”,
mais comumente nomeada como cabocla. Os kanamari também se seduzem pelos
avanços da tecnologia e da economia da sociedade envolvente, trazendo como
desafio o processo de assimilação destes, geralmente carregado de ações que le-
sam os indígenas e os transformam em grupos marginais e explorados.
Neste sentido, por exemplo, pode ser positiva a garantia de implementação de
políticas públicas, tais como assalariamento para professores e agentes de saúde,
No Brasil, cerca de 345 mil índios vivem em aldeias, distribuídos entre 215 sociedades indígenas, que
perfazem cerca de 0,2% da população brasileira. Estima-se que de 100 a 190 mil vivem fora das terras
indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há indícios da existência de mais ou menos 53 grupos
indígenas ainda não contatados.
Fundação Nacional do Índio: http://www.funai.gov.br/
1 Povo Kanamari também chamado Tüküná ou Canamari vive na região do Rio Solimões, no município de Maarã, Amazonas, Brasil.
Em 1999, o povo Kanamari totalizava 1327 pessoas. Seu idioma é o Katukina. http://www.socioambiental.org/home_html/
60 | Direitos humanos
e também a garantia de direitos sociais como a aposentadoria rural para idosos,
bolsa-escola, salário-maternidade. No entanto, fica claro que o volume de dinheiro
que se introduziu na economia das aldeias a partir dessas conquistas introduziu
práticas de consumo novas e que impactam as práticas culturais, modificando-as
ou simplesmente abolindo-as. Por exemplo, hoje há substituição do cipó e algo-
dão pelas linhas compradas para a confecção de bolsas artesanais, da mesma for-
ma que o forró nas casas substitui os rituais nos terreiros.
Em janeiro de 2005 começou a Segunda Década Internacional dos Povos Índigenas do Mundo.
Fórum Permanente dos Povos Índígenas, ONU. http://www.un.org/spanish/indigenas/2005/
Há mais de 370 milhões de povos indígenas no mundo. 50% dos indígenas da Austrália
têm menos de 24 anos.
¿Qué pasa con…?. http://www.un.org/spanish/works/goingon/australia/australia.html/
NO BRASIL, CERCA DE 345 MIL ÍNDIOS VIVEM EM ALDEIAS, DISTRIBUÍDOS ENTRE 215 SOCIEDADES INDÍGENAS,
QUE PERFAZEM CERCA DE 0,2% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA. ESTIMA-SE QUE DE 100 A 190 MIL VIVEM FORA DAS
TERRAS INDÍGENAS, INCLUSIVE EM ÁREAS URBANAS. HÁ INDÍCIOS DA EXISTÊNCIA DE MAIS OU MENOS 53 GRUPOS
INDÍGENAS AINDA NÃO CONTATADOS.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 61
Simbolicamente esta substituição tem interferência geracional. Os mais jo-
vens se interessam menos pela produção e reprodução simbólicas ancestrais e
mais pela incorporação dos novos elementos apreendidos no contato, parcial-
mente protegido por garantias de direitos étnicos. Por outro lado, a vida na flo-
resta exige um conhecimento próprio, que é oferecido pela sabedoria ancestral.
Esta sabedoria tem sido um elemento vital para manutenção de práticas de plan-
tio dos roçados, de conhecimento da mata e dos animais e de todos seus perso-
nagens simbólicos.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Como fazer missão a partir do respeito às escolhas e opções
dos grupos indígenas?
★ Um trabalho técnico pode ser harmonizado com as tradições
históricas indígenas?
★ Como introduzir responsavelmente alternativas e tecnologias
para práticas diversas na defesa da vida, zelando principalmente
pelos aspectos de preservação ambiental e cultural?
62 | Direitos humanos
Direito de comunicação
JESUS DAVID ELIZONDO AMAYA
Igreja Metodista, México
Depois de terminar de almoçar, estava perto de mim um senhor que havia vis-
to sentado na conferência a que eu estava assistindo no Fórum Social Mundial. Eu
lhe perguntei sobre o que achou da conferência. Ele sorriu e disse-me que gostaria
que em seu país tivesse os mesmos direitos que há em outros países.
A conferência a que assistimos foi sobre o direito da comunicação. Talvez este
tema não seja muito popular como os direitos da mulher, das crianças, ou dos indí-
genas, mas é um assunto que me impactou e mudou minha perspectiva.
Os meios de comunicação são as ferramentas utilizadas em sua maioria por
empresas ou movimentos políticos que pretendem nos dizer o que é o melhor, o
que se pode ou não se pode fazer. Eles procuram programar ou dirigir a nossa vida
em direção ao que lhes convém. Os meios são tidos como a voz que nos “orienta”
em que direção devemos caminhar.
Onde conseguimos informação? Os noticiários e jornais nos quais nós
buscamos informação são tendenciosos. Nós somente ouvimos o que eles
querem nos fazer ouvir. Os noticiários têm uma audiência a agradar, por isso
nós não temos acesso à história completa. Como participante da delegação
de jovens metodistas dos EUA ao FSM, eu me sinto chamado a informar a
minha família, igreja, região e outros sobre o que acontece no mundo. Este
conhecimento é um instrumento para criar um mundo melhor para o futuro.
Eu agradeço a Deus por esta consciência e responsabilidade. “Aqui estou
Senhor, envia-me a mim!”
JOHNNY A. SILVA, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de
não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.
Artigo 19, Declaração Universal dos Direitos Humanos.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 63
TODO INDIVÍDUO TEM DIREITO
À LIBERDADE DE OPINIÃO E DE
EXPRESSÃO
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Você tem acesso à informação crítica sobre os acontecimentos
no seu país e no mundo?
★ Como a juventude pode ler nas entrelinhas para elaborar uma
análise crítica dos acontecimentos em âmbito local e global?
★ Como a organização de juventude pode se tornar um
instrumento de comunicação para promover os direitos
humanos?
O uso ou a participação nesses meios tem sido limitado em muitos lugares.
Tanto que muita gente tem ‘desaparecido’ por fazer comentários considerados ina-
dequados, ou por querer fazer ouvir uma voz que dá a conhecer a necessidade ou
inquietude de um povo. Isto não tem que ser assim.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 65
Construindo pontes, e não muros
DIANA FERNANDES DOS SANTOS
Igreja Metodista, Brasil
A Confederação Metodista de Jovens no Brasil está trabalhando a partir da te-
mática “Jovem, Faça a Diferença”, baseada no texto de Romanos 12:2a – “e não
vos conformeis com esse século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente”.
Como jovens metodistas, sonhamos em poder mudar a história e revolucionar
o nosso contexto atual. Acreditamos que é possível a construção de um novo mun-
do, fazendo a diferença através da confiança, fidelidade, trabalho e fé em Deus.
Meus horizontes se abriram ao vislumbrar tantas diferenças culturais, que se
unem na busca de um mundo mais justo. Apesar das nossas diferenças, como
humanidade, necessitamos das mesmas coisas, e juntos podemos ao menos
tentar fazer uma diferença em um mundo tão cheio de problemas. Aprendi,
assim, não apenas a respeitar e me preocupar com aqueles que dividem o
planeta comigo, mas a reconhecer também que existem idéias e possibilidades
de mudança. Ao final, quem constrói o mundo somos nós.
TIAGO CERQUEIRA LAZIER, IGREJA METODISTA, BRASIL
São inumeráveis as situações adversas que temos enfrentado em nossos dias.
Tem sido penoso viver no mundo e não se sentir incomodado. Há uma total perda
de valores éticos. Há uma desvalorização do ser humano enquanto criatura de Deus
JUVENTUDE FAZ A DIFERENÇA
Cerca de 200 milhões de jovens vivem em situação de pobreza. 130 milhões de jovens são analfabetos. 88 milhões,
desempregados. 10 milhões vivem com HIV/AIDS.
Relatório sobre Juventude Mundial, ONU: http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/wyr05portuguese.pdf/
66 | Juventude faz a diferença
e ser que merece viver dignamente. Há uma desigualdade de classe, de gênero, de
raça. Há uma perda da visão de Deus. Há uma perda de solidariedade e de reco-
nhecimento de que não podemos viver sem o outro - ser humano e meio ambien-
te. Há uma perda de cuidado pela família e amizade, enquanto elos que nos unem
e nos humanizam.
O que faz a Igreja diante desse cenário? Que papel a juventude pode exercer?
Como fazer a diferença quando a juventude também vive todas essas perdas nes-
te sistema que oprime, aliena e exclui?
Procura-se desesperadamente por revolucionários!!! Homens e mulheres de
Deus inconformados com este século! Jovens que desafiem as barreiras e obstácu-
los em busca da qualidade de vida dos que o rodeiam! Por uma igreja mais atuan-
te e preocupada com o mundo e o exercício da missão!
Um dos momentos mais significativos para mim tem a ver com as conversas
com o grupo brasileiro através do pouco espanhol e o pouco inglês que
falávamos. Nem sempre nos entendíamos, mas o tempo investido em nos
entender foi impagável. Minha cabeça está cheia de idéias e projetos para
trazer alguns dos temas sociais que discutimos ao contexto da universidade.
(AUDREY BARKER, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS)
Quem são as nossas líderes hoje? Quem são aqueles e aquelas que têm se le-
vantado dentro dessa visão? Em que temos contribuído para que tudo isso se tor-
ne efetivamente uma realidade possível? Enquanto cristãos e cristãs, jovens e tam-
bém cidadãos e cidadãs, podemos impactar e mudar essa realidade. Para isto, pre-
cisamos buscar oportunidades de participação, espaço de reflexão e análise do
A JUVENTUDE CRISTÃ PRECISA BUSCAR OPORTUNIDADE DE PARTICIPAÇÃO, ESPAÇO DE REFLEXÃO, E ATITUTES
QUE NOS FAÇAM PROTAGONISTAS DA TRANSFORMAÇÃO
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 67
contexto, e a partir daí definir estratégias e resoluções que nos levem à ação con-
creta, e atitudes que nos façam protagonistas dessa transformação. Você é convi-
dada e convidado a ser um agente de transformação e esperança!
Que o Senhor Deus nos oriente e nos conduza nesse propósito. Que o Deus da
Vida nos auxilie a entender e transformar a realidade.
Bem-vinda@ você que acredita que um outro mundo é possível, SIM!!!
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO
Em setembro de 2000, na Cúpula do Milênio promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), os
líderes das grandes potências mundiais e os chefes de Estado de 189 países discutiram a gravidade do
estado social de muitos países do mundo e definiram 8 objetivos que apontam para ações em áreas
prioritárias para a superação da pobreza. Tais objetivos são chamados de Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio e devem ser alcançados, em sua maioria, até 2015.
http://www.pnud.org.br/milenio/index.php/
OBJETIVOS
OBJETIVO 1 Erradicar a pobreza extrema e a fome.
OBJETIVO 2 Alcançar o ensino primário universal.
OBJETIVO 3 Promover a igualdade de gênero e capacitar as mulheres.
OBJETIVO 4 Reduzir a mortalidade de crianças.
OBJETIVO 5 Melhorar a saúde materna.
OBJETIVO 6 Combater a Aids, malária e outras doenças.
OBJETIVO 7 Assegurar a sustentabilidade ambiental.
OBJETIVO 8 Promover uma parceria mundial para o desenvolvimento.
http://www.nospodemos.org.br/
68 | Juventude faz a diferença
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ Que tipo de injustiças têm vivido as pessoas do seu bairro, cidade, região
ou país?
★ Como a juventude de sua igreja tem sido protagonista da transformação?
★ Qual tem sido a sua postura política em relação às desigualdades do seu país?
★ Como você utiliza a palavra de Deus como ferramenta para anunciar o Reino
e proclamar que “um outro mundo é possível?”
★ Que conflitos você vive e como tem procurado superar sua realidade?
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 69
Nossos esforços não são em vão
THEON JONHSON III
Igreja Metodista Unida, Estados Unidos
Ter o privilégio de participar de uma experiência de liderança que uniu mais de
155 mil pessoas ao redor do globo é um lembrete de que o mundo é maior e mais
diverso do que o meu derredor. Por causa da diversidade e beleza da comunidade
humana, as menções doloridas da guerra, pobreza, fome e morte eram lembretes
constantes de que ainda há muito trabalho a ser feito.
Durante nossa permanência no Brasil, a delegação dos Estados Unidos visitou
o Centro Metodista de Educação Infantil. Testemunhar a vitalidade e inocência das
crianças serviu como um guia para estimular uma reflexão profunda sobre o meu
papel na comunidade global. Acredito que todas as pessoas têm um propósito es-
pecífico para cumprir. Descobrir este “propósito” é algo que pode vir a mudar a
maneira como nós percebemos o mundo, se feito de uma maneira que valoriza
cada membro da família humana.
Democracia, mudança, possibilidade... me desafiam a entender mais sobre a
situação do meu país. Isto me ajuda a pensar e me desafia a aprender.
LINATH TIV, IGREJA METODISTA UNIDA, CAMBOJA
Em Miquéias 6:8 e 1Coríntios 15:58, o Senhor pede que amemos a justiça, mise-
ricórdia, e andemos humildemente diante de Deus. Como permanecemos firmes
nos trabalhos do Senhor, nossos esforços não são em vão. Eu acredito firmemente
que quando as pessoas trabalham para fazer a vida significativa para seus “vizi-
nhos”, então, bondade, justiça e misericórdia se realizam em outras partes do mun-
do. Os ensinos de Jesus fornecem exemplos visíveis de como o amor, paz, comu-
nhão e unidade podem fazer o mundo um melhor lugar.
É realmente maravilhoso saber que Deus tem nos chamado, enquanto
juventude metodista espalhada pela face da terra, para fazermos a diferença
num mundo que necessita de esperança.
MARA SILVA, IGREJA METODISTA, BRASIL
70 | Juventude faz a diferença
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
★ O que significa estar em relação com Deus e o semelhante?
★ Como você pode trabalhar junto com outros líderes ao redor do mundo
para encorajar o diálogo entre pessoas com ideologias diferentes?
★ O que o Senhor pede de você?
Oração para a Missão
Deus, dá-nos cada dia a esperança
de que um mundo melhor seja possível.
Dá-nos a força e o sustento necessário
para que possamos ser porta-vozes da mudança.
Ajude-nos a entender que nosso próximo
é todo aquele que um dia recebeu o sopro de vida.
Capacita-nos a transformar este mundo,
a nunca perder a fé e esperança. Amém.
TIAGO CERQUEIRA LAZIER
Igreja Metodista, Brasil
Eu acredito firmemente que outro mundo é possível e é meu sonho que cada
pessoa procure meios para ativamente amar, praticar a justiça, valorizar a impor-
tância da misericórdia e andar em verdade. Porque o Senhor pede que as pessoas
atuem de forma benéfica para toda a família humana. O simples atualizar das Es-
crituras pode levar a um mundo melhor. Ninguém deveria sentir fome… Ninguém
deveria ser marginalizado… Ninguém deveria sentir como se não fosse amado.
Somos todos nós dependentes uns dos outros e, portanto, deveríamos trabalhar
para fazer a vida melhor para todas as pessoas.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 71
PROGRAMA DE FORMAÇÃO
DE JUVENTUDE ANDREIA FERNANDES
Igreja Metodista, Brasil
A PESSOA EDUCANDA É
SUJEITA DO SEU PRÓPRIO
PROCESSO EDUCATIVO
Juventude: Ressuscitadora de Esperança é um caderno de formação para missão
nascido intencionalmente a partir da contribuição e participação coletiva da pró-
pria juventude. Rostos e vozes da juventude ao redor do mundo se intercalam em
cada página deste caderno através da partilha e análise de sua própria experiên-
cia. A partir deste caderno estamos propondo a você que elabore um Programa de
Formação de Juventude.
O programa de formação proposto neste caderno, para ser significativo, preci-
sa falar a linguagem e partir da realidade de quem está no processo de formação.
Além disso, a pessoa educanda é sujeito do seu próprio processo de aprendiza-
gem. Logo, participação e ação são fundamentais para uma formação que tenha
significado e promova libertação. Para facilitar uma aprendizagem significativa e
libertadora para a juventude, construímos este espaço com subsídios baseados
numa pedagogia participativa, entrelaçando textos, dados e testemunhos, em que
a juventude é a protagonista de sua própria história e, portanto, agente
ressuscitadora de esperança.
72 | Programa de formação de juventude
a. O que é uma pedagogia
participativa?1
✓ Valoriza as relações humanas como condição
pedagógica fundamental. A igualdade cons-
truída no respeito às diferenças, sejam elas so-
ciais, étnico-raciais, de gênero, religiosas, etc é
a base da relação pedagógica.
✓ Não transfere o conhecimento as/aos edu-
candas/os, mas constrói junto com o grupo
este conhecimento. Para a pedagogia partici-
pativa, o conhecimento é sempre inacabado,
flexível e passível de alterações e interferên-
cias do grupo.
✓ Baseia-se na relação dialógica do grupo. Todas
e todos podem e devem falar. Cada pessoa
sempre tem algo a dizer e a acrescentar na
construção coletiva do conhecimento.
✓ Preocupa-se com a formação da consciência
crítica. Para isso, exercita a metodologia da sus-
peita a tudo que nos é oferecido, construindo
a partir da reflexão e partilha com o grupo,
novas opiniões e posicionamentos.
✓ Enfatiza o interesse social e o bem comum, sem
desqualificar a necessidade de cada um. Para
isso promove o exercício da cooperação ao in-
vés da competição.
✓ Exercita o senso e a prática da justiça e da soli-
dariedade à medida que enxerga e respeita o
processo de formação de cada pessoa, promo-
vendo o contar das experiências, emoções e
sentimentos que gestam uma solidariedade
grupal.
✓ Conscientiza que todas as pessoas contribuem
no trabalho, como um esforço comum, e por
isso todas têm direito de participar de modo
justo dos frutos do trabalho.
b. Como elaborar um programa
de formação de juventude?
Este caderno destina-se a motivar a formação tra-
balhada em grupos. O objetivo do Programa de
Formação é que a juventude tenha a oportunida-
de de vivenciar todos os temas aqui propostos. Isto
pode ser feito utilizando o tema geral de cada ca-
pítulo com o texto básico ou distribuindo em vá-
rias seções os diferentes textos de cada capítulo.
Desta forma, a construção continuada do conheci-
mento permitirá à juventude atuar com mais
pertinência na missão da igreja na sociedade.
Como fazer isso? Abaixo listamos algumas su-
gestões:
✓ Sente com a mesa diretiva da sua organização
de juventude e conheça este caderno. Discuta
a relevância das temáticas para realidade da
juventude de sua comunidade e igreja.
✓ O grupo pode determinar a seqüência temáti-
ca que melhor lhe convier de acordo com as
suas necessidades.
✓ Pense em cada temática e nas pessoas que irão
desenvolvê-las. Priorize que os facilitadores e/
ou facilitadoras das temáticas sejam jovens.
Isso pode tornar a aprendizagem mais signifi-
cativa; afinal de contas, é jovem falando para
jovem.
✓ Determine dia, horário e tempo de duração dos
encontros de acordo com a realidade do gru-
po. Cada encontro pode durar de 2 a 3 horas,
uma vez por semana, cada quinze dias ou uma
1 JAHREISS, Ingeborgg Maria. Métodos e práticas de uma educação
participativa com adolescentes, jovens, adultas e adultos. Igreja
Metodista, Remne, 1999.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 73
vez por mês. A periodicidade dos encontros
ajuda a criar identidade, amizade e laços co-
muns no grupo, facilitando assim a construção
coletiva do conhecimento e perspectivas de
ação para missão. É importante ter todo o pe-
ríodo do programa definido antes de iniciá-lo,
ainda que sofra ajustes durante o percurso.
✓ Divulgue com antecedência de um a dois me-
ses o programa de formação. Lembre-se: uma
boa divulgação é muito importante para o êxi-
to do projeto.
✓ Forneça ao final do programa um certificado
para as pessoas que o concluírem – isto cola-
bora para a valorização da auto-estima.
✓ Esteja aberto a sugestões de outras temáticas
para serem incluídas no programa de forma-
ção da juventude.
✓ Reúna-se periodicamente com o grupo
organizador do processo de formação. É preci-
so que este programa esteja constantemente
em avaliação.
c. Sugestão de uma rotina básica
para cada encontro do programa
de formação da juventude
INTEGRAÇÃO DO GRUPO
✓ Acontece no início do encontro. É um espaço
de fortalecimento das relações. É um momen-
to muito importante, pois a nossa proposta
pedagógica está pautada nas relações huma-
nas. Nos primeiros encontros este momento
acontecerá para que as pessoas se conheçam e
se reconheçam como parte do grupo. Isto pode
acontecer através de jogos de integração. À
medida que o grupo esteja integrado, isto fa-
cilita o espaço de construção e fortalecimento
de identidade e de relações, a partilha de ex-
periências pessoais e a gestação de frutos no
programa de formação.
APRESENTAÇÃO DA TEMÁTICA
PROPOSTA PARA O DIA
✓ Ao final deste capítulo, há uma seção com pro-
postas de dinâmicas para o desenvolvimento
de cada tema do Caderno de Formação para
Missão. Se preferir, tenha a cópia da seção a ser
apresentada em mãos (veja páginas 76-85).
Adapte a sugestão ao seu grupo e ao tempo
de cada seção. Faça uso da seção Recursos Adi-
cionais, assim como das várias fontes citadas
ao longo do caderno, tanto para sua prepara-
ção pessoal como para compartilhar com o gru-
po. Não se esqueça de criativamente usar os de-
poimentos da juventude metodista entrelaça-
dos em cada capítulo.
✓ A ênfase deste caderno é formação de lideran-
ça de juventude para atuar na missão. Portan-
to, conclua cada seção, reafirmando as propos-
tas concretas de a juventude estar em missão,
produzidas coletivamente no estudo.
✓ Antes de apresentar uma temática nova, recor-
de com o grupo o que foi tratado no encontro
anterior, bem como as conclusões construídas
coletivamente.
AVALIAÇÃO DO ENCONTRO
✓ Esta avaliação pode ser feita oralmente ou por
escrito. Se a avaliação for oral, é importante que
tenha alguém que registre por escrito este
momento, para que o grupo organizador tenha
esta avaliação em mãos. Caso seja feito por es-
crito, o/a facilitador/a pode propor perguntas
74 | Programa de formação de juventude
em um formulário ou deixar que cada partici-
pante escreva espontaneamente sobre o as-
pecto que quiser avaliar. Faça perguntas cur-
tas, fáceis de entender e objetivas. A avaliação
por escrito pode ser feita individualmente ou
em grupo.
✓ Varie as formas de avaliação ao longo do pro-
grama de formação. Dentre os diversos aspec-
tos que você pode avaliar, destacamos: meto-
dologia de ensino, tempo de duração do en-
contro, facilitador/a, material e recursos utili-
zados, participação pessoal e coletiva.
d. É preciso não esquecer
✓ Fazer a memória de cada encontro. A memó-
ria, além de auxiliar o grupo organizador na
evolução do projeto, pode se transformar em
uma publicação ao final do programa de for-
mação.
✓ Produzir a listagem de endereços do grupo par-
ticipante. Elabore uma lista de endereços d@s
participantes com a data de aniversário. Entre-
gue a lista a cada integrante do grupo. A co-
municação facilita na construção de laços
afetivos.
✓ Pensar em momentos de exercício da espiritua-
lidade do grupo. Caso você opte por realizar
uma devocional ao início de cada encontro,
busque harmonizá-la com o tema que será tra-
tado no dia. Se fizer ao final, faça uma coleta
simbólica dos resultados da reflexão gerada
coletivamente, e transforme-a em um envio à
missão.
✓ Preparar todo o material necessário para cada
encontro. Os textos deste Caderno de Forma-
ção podem ser reproduzidos em todo ou em
parte, desde que citada a fonte.
e. Dicas para se trabalhar em grupo
✓ O tamanho ideal para trabalho em grupo é en-
tre oito e vinte pessoas. Grupos pequenos faci-
litam a criação de espaço para a expressão de
tod@s participantes. Caso o seu grupo seja
maior, veja a possibilidade de formar duas tur-
mas para o programa de formação.
✓ Providenciar um espaço físico onde as cadei-
ras possam ficar em círculos e onde o grupo
tenha espaço para participar de jogos corpo-
rais, encenações teatrais, confecções de carta-
zes no chão.
✓ A facilitadora ou/e o facilitador não deve assu-
mir uma posição de destaque no grupo, como
ficar em um lugar mais alto, valer-se de um
púlpito ou coisa parecida. Tod@s devem estar
na mesma posição.
✓ Arrumar, sempre com antecedência, o ambien-
te do grupo.
✓ Preparar um crachá para cada participante. Isto
é necessário até que todos os nomes sejam
aprendidos. Isto facilita a comunicação entre os
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 75
membros do grupo e fortalece a individualida-
de, a auto-estima e o sentimento de pertença.
✓ Uma das formas eficazes de se trabalhar em
grupo é utilizar as dinâmicas de grupo, também
conhecidas como técnicas de grupo. Elas faci-
litam a integração do grupo, a construção co-
letiva do conhecimento e criação de alternati-
vas para ação.
f. Dicas para utilização das dinâmicas
de grupo
✓ As dinâmicas podem ser de recreação, integra-
ção, apresentação, desenvolvimento do tema
etc. Toda dinâmica, por mais simples que seja,
se utilizada de maneira correta, leva à conscien-
tização, à reflexão e à transformação do edu-
cando e da educanda.
✓ Antes de escolher a dinâmica a ser utilizada, é
preciso ter bem claro o que se quer conseguir
com ela, ou seja, os objetivos a serem alcança-
dos.
✓ É preciso lê-la com atenção, conhecendo e en-
tendendo todos os passos a serem seguidos.
✓ Nunca se deve improvisar ou inovar durante o
decurso da dinâmica, pois poderá comprome-
ter o processo de aprendizagem.
✓ As instruções dadas devem ser claras para al-
cançar um bom resultado. Caso as dinâmicas
tenham regras além da metodologia, as regras
devem ser comunicadas e nunca ordenadas.
✓ As dinâmicas devem levar em consideração a
idade e a quantidade de participantes, bem
como o espaço onde será desenvolvido o es-
tudo.
g. Dicas para quem assumir o papel
de facilitadora ou facilitador do grupo
✓ Coloque-se à disposição com todo seu ser, suas
possibilidades afetivas, sua vontade de intera-
gir e de investir nas relações humanas, sua cria-
tividade, seu interesse pel@s outr@s e seus pro-
cessos de formação.
✓ Analise o contexto do grupo e desenvolva as
ações a partir dessa realidade observada.
✓ Ofereça seus conhecimentos, procurando o
melhor caminho para construir um tema em
conjunto. Permita-se aprender nesse processo
de formação.
✓ Olhe cada participante do grupo como uma
pessoa que tem muito a contribuir. Assim como
você valoriza o seu conhecimento, valorize o
conhecimento do grupo.
✓ Tenha clareza sobre seus conhecimento e limi-
tações. Não é preciso saber tudo o tempo todo.
Mas é necessário estar bem informad@ sobre
o tema a ser abordado. Procure novas informa-
ções. Utilize os dados estatísticos, os documen-
tos, bibliografias e citações de cada capítulo,
além da seção Recursos Adicionais. Troque ex-
periências, dê atenção às vozes da juventude
presentes no caderno e esteja abert@ às con-
tribuições do grupo.
✓ Seja consciente de que ser facilitador ou
facilitadora é ensinar aprendendo, e dar rece-
bendo.
✓ Construa no grupo relações pautadas na co-
responsabilidade, ou seja, todas as pessoas têm
vez, voz e responsabilidade na construção co-
letiva do aprendizado do grupo e das alterna-
tivas de ação.
76 | Programa de formação de juventude
Tema JUVENTUDE EM MISSÃO
OBJETIVO
✓ Motivar a juventude a reconhecer o chamado de Deus para a missão e a assu-
mir a fé capaz de fazer mudanças.
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Folhas de papel em branco.
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Juventude em Missão para o grupo.
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
PASSOS
1 Dê a cada participante meia folha em branco e
peça a cada pessoa para desenhar-se. Cole os
desenhos no cartaz.
2 Dê a cada participante uma folha inteira em
branco. Pergunte sobre o que estão vendo nes-
ta folha.
3 Provavelmente responderão que não há nada.
Depois de algumas tentativas, desafie o grupo
afirmando que o que existe na folha em bran-
co são as “possibilidades”.
✓ Oriente para que façam um barco. Diga que
com esse barco podemos navegar por outros
mares, ampliar horizontes, viver novas expe-
riências. Ou um chapéu. Mostre um chapéu e
diga que este chapéu pode cobrir a cabeça de
alguém que está cansado, sem abrigo do sol e
da chuva. Ou desenhos coloridos. Diga que este
desenho pode dar alegria e a possibilidade de
se ver novas cores. Ou palavras motivadoras
para promoção da paz, fé ou vida, como edu-
cação, direitos humanos, justiça social.
4 Comente os destaques da história de Gideão,
segundo o texto Juventude: Fé para Mudança,
e a situação da juventude nos níveis local e glo-
bal. Explore os exemplos de vida no texto, e mo-
tive o grupo a identificar jovens – mulheres e
homens – que têm atuado como “ressuscitado-
res de esperança”.
5 Forme subgrupos de aprofundamento a partir
das perguntas sugeridas na seção Questões
para Reflexão.
6 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
7 Coletivamente, construa um plano de ação co-
mum da juventude.
8 Sugira um momento de avaliação do encontro,
e termine com uma celebração de compromis-
so, incluindo a Oração para Missão.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 77
OBJETIVO
✓ Cultivar a formação da identidade wesleyana a partir da ótica da juventude.
✓ Experienciar a articulação da prática espiritual pessoal e a espiritualidade
solidária.
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Identidade Wesleyana: Santidade
no Coração e na Vida para o grupo.
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
PASSOS
1 Faça a dinâmica dos sapatos: Peça que cada
pessoa tire um dos sapatos, em seguida mistu-
re todos sapatos no meio da roda. Instrua o gru-
po que quando você der um sinal, cada pessoa
deverá calçar um sapato que não seja o seu. Em
seguida, peça para que caminhem sentindo
como é calçar o sapato d@ outr@. Após esta
experiência cada pessoa deverá procurar @
don@ do sapato, entregá-lo e depois voltar ao
seu lugar.
2 Converse com o grupo sobre que sentiram e
pensaram ao fazer a experiência.
✓ Você pode concluir este momento com a se-
guinte reflexão. Calçar os sapatos d@ outr@ nos
permite entender a sua realidade e perceber
como e por onde anda, suas alegrias, seus pro-
blemas e necessidades; a partir daí, nos solida-
rizarmos. A verdadeira solidariedade deve
acontecer a partir da compreensão da situação
d@ outr@ tanto em nível pessoal como social,
política como espiritual, racial como econômi-
ca. É preciso calçar seus sapatos, sentir suas
dores, sorrir e chorar com @ outr@.
✓ Em Wesley, podemos ver uma pessoa que se
dispôs a calçar os sapatos da população vul-
nerável de seu tempo. E, nessa perspectiva, ar-
ticulou as bases de uma prática espiritual pes-
soal e comunitária.
3 Relacione esta experiência com os três textos
do capítulo Identidade Wesleyana. Forme três
subgrupos para aprofundar a reflexão a partir
das perguntas sugeridas em cada seção Ques-
tões para Reflexão deste capítulo.
4 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
5 Coletivamente, construa um plano de ação co-
mum da juventude.
6 Sugira um momento de avaliação do encontro, e
termine com uma celebração de compromisso.
Tema IDENTIDADE WESLEYANA
78 | Programa de formação de juventude
Tema ECUMENISMO
OBJETIVO
✓ Compreender a origem da palavra ecumenismo e seu conceito bíblico.
✓ Motivar a juventude para o testemunho e serviço em uma perspectiva ecumênica.
✓ Confrontar os mitos que obstaculizam a participação ecumênica da juventude.
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ 2 folhas de cartolina, canetas hidrocor de várias cores, lápis de cor.
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Ecumenismo para o grupo.
PASSOS
1 Forme dois subgrupos e dê a cada grupo uma
cartolina, canetas e lápis coloridos.
2 Diga aos grupos que deverão ocupar todo o
espaço da cartolina e desenhar uma casa. Cada
integrante do grupo dará a sua contribuição ao
desenho. Cada um precisa fazer uma parte do
desenho até que ele se complete.
3 Esclareça que o grupo 1 poderá dialogar du-
rante a execução do desenho, enquanto o gru-
po 2 não poderá fazê-lo. Terá que desenhar em
silêncio.
4 Após a elaboração dos desenhos, os grupos con-
versam separadamente sobre o que sentiram ao
realizar o desenho. Devem pensar se a existên-
cia ou não do diálogo interferiu na elaboração
da tarefa, e qual foi o tipo de interferência. À
medida que forem refletindo sobre a dinâmica,
alguém deve anotar as considerações para que
possam ser compartilhadas com tod@s.
5 Após a apresentação das considerações, con-
versem um pouco sobre elas.
6 Motive o grupo a concluir, sugerindo que:
Nós, como jovens, estamos em processo de
construção, construção de nós mesm@s e (re)
construção do ambiente em que vivemos. Nes-
ta perspectiva, o diálogo é fundamental, é a
ponte que permite que eu vá ao encontro d@
outr@ e que @ outr@ venha até mim. Nesta re-
lação dialógica nos conhecemos, nos percebe-
mos em nossas semelhanças e diversidades e
nos unimos em prol de um novo mundo.
Destaque duas palavras-chave desta dinâmica:
CONSTRUÇÃO E DIÁLOGO.
8 Leia a lista de obstáculos para a participação
ecumênica e relacione com a experiência de
CONSTRUÇÃO E DIÁLOGO.
9 Destaque as definições e experiências de ecu-
menismo.
10 Converse sobre os mitos e fatos acerca da par-
ticipação ecumênica da juventude.
11 Forme subgrupos de aprofundamento a partir
das perguntas sugeridas na seção Questões
para Reflexão.
12 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
13 Coletivamente, construa um plano de ação co-
mum da juventude.
14 Sugira um momento de avaliação do encontro, e
termine com uma celebração de compromisso.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 79
Tema DIVERSIDADE E IDENTIDADE
PASSOS
1 Tenha um espelho em que @s participantes pos-
sam se ver primeiro individualmente, depois em
grupos de 2 ou 3. Peça que vejam neste espelho
a pessoa criada por Deus com dignidade e sen-
sibilidade. Sugira frases que valorizem as dife-
renças raciais e étnicas. Chame atenção para o
que há de comum entre @s participantes.
2 Apresente o cartaz com as imagens de diversi-
dade racial ao grupo. Peça que o observem.
3 Pergunte ao grupo que sentimentos ou idéias
lhe vêm à cabeça a partir da dinâmica do es-
pelho e do cartaz.
4 Registre em um outro cartaz as falas do grupo.
5 Apresente o cartaz com a definição de discri-
minação e introduza o tema tendo como estu-
do de caso o Brasil.
6 Pontue que o texto fala da realidade específi-
ca de um país, mas preconceitos e injustiças
estão presentes em todos os lugares, e que é
nossa tarefa ética identificá-los para superá-los.
7 Destaque algumas expressões ou frases que
você achar relevante na leitura do texto. À me-
dida que você for destacando as partes do tex-
to, devolva-as ao grupo e peça que tracem con-
siderações sobre elas.
✓ Você pode propor conversas sobre alguns
conceitos como, por exemplo, “Racismo vela-
do”. Sugira que o grupo converse sobre como
tomar consciência de algo que está velado.
“Racismo Legitimado”. Identifique ações go-
vernamentais, práticas sociais ou concepções
religiosas que são legitimadoras do racismo.
“Os afro-descendentes não são discriminados
Felizes os que têm sede de justiça!
OBJETIVO
✓ Afirmar a responsabilidade ética da Igreja e da juventude na eliminação de to-
das as formas de discriminação racial e étnica, xenofobia e intolerância.
✓ Contribuir para o reconhecimento e valorização das diferenças para a constru-
ção de uma sociedade justa e igualitária.
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Cartaz com imagens de pessoas de várias raças e etnias.
✓ Cartaz com a definição de discriminação racial segundo a Convenção Interna-
cional sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (p. 38).
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Diversidade e Identidade para o
grupo.
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
80 | Programa de formação de juventude
porque são pobres, mas são pobres porque
são discriminados”. Introduza estatísticas so-
bre a diversidade racial e étnica em compara-
ção com a realidade social e econômica de seu
país.
8 Faça uma ponte entre a sua realidade e a do
Brasil, identificando os pontos em comum e os
divergentes.
9 Destaque as frases motivadoras de ação e
indicadoras de estratégias presentes no texto
para motivar a juventude a interferir de forma
transformadora nesta realidade.
10 Forme subgrupos de aprofundamento a partir
das perguntas sugeridas na seção Questões
para Reflexão.
11 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
Um Evangelho muito além do gênero ou da raça
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Cópias do quadro “De onde vêm nossas identidades” (p. 81), canetas ou lápis.
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Diversidade e Identidade para o grupo.
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
12 Coletivamente, construa um muro de esperan-
ça. Registre as estratégias e expressões de es-
perança nesse muro. O muro pode ser expos-
to na igreja local ou em outro espaço para
motivar a conscientização e o compromisso
ético para eliminação de todas as formas de
discriminação raciais e étnicas.
13 Sugira um momento de avaliação do encon-
tro, e termine com uma celebração de com-
promisso.
PASSOS
1 Desenvolva o jogo : “ De onde vêm nossas iden-
tidades”, extraído do Guia de Estudo: Gênero e
Igreja, Educar para Transformar.
2 As pessoas freqüentemente usam as frases do
quadro da página ao lado para se referirem a
mulheres e homens. Peça às/aos participantes
para colocarem um “X” na coluna que elas acre-
ditam indicar que tipo de comportamento e ha-
bilidade é natural, ou aprendido, ou uma com-
binação dos dois, ou falso. Cada frase pode re-
ceber mais de um “X”.
3 Após as pessoas preencherem este quadro, di-
vida o grupo em dois subgrupos e reserve um
tempo para que elas possam conversar sobre
suas respostas.
4 Apresente para os grupos as seguintes pergun-
tas para a reflexão:
✓ Quem define o significado de “feminino” e
“masculino”?
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 81
FRASES NATURAL APRENDIDO NATURAL E APRENDIDO FALSO
O lugar das meninas é a casa, e dos meninos é a rua.
As mulheres sabem melhor como lidar com as crianças e como educá-las.
Os homens são a cabeça da casa.
Mulheres são emocionais. Homens são racionais.
A habilidade mais importante das mulheres é ser mãe.
Homens são melhores líderes do que mulheres
A habilidade mais importante dos homens é trabalhar fora.
Agricultura é um trabalho predominantemente dos homens.
Meninas são mais obedientes que meninos.
Homens não choram nem mostram seus sentimentos.
Mulheres se assustam facilmente.
Mulheres se adaptam ao trabalho doméstico melhor do que os homens.
Os homens defendem-se melhor.
✓ As mulheres e os homens possuem habilida-
des além dos limites determinados por seus
papéis de gênero?
✓ Estes papéis podem ser expandidos? Que rela-
ção eles têm com a violência contra as mulhe-
res e meninas? Ou com as demais áreas de es-
pecial preocupação indicadas na Plataforma de
Ação de Beijing?
7 Relacione esta reflexão com o modelo de Je-
sus em João 4:1-12.
8 Forme subgrupos de aprofundamento a partir
das perguntas sugeridas na seção Questões
para Reflexão.
9 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
10 Coletivamente, construa um plano de ação co-
mum da juventude.
11 Sugira um momento de avaliação do encon-
tro, e termine com uma celebração de com-
promisso.
De onde vêm nossas identidades
82 | Programa de formação de juventude
Tema JUSTIÇA ECONÔMICA
OBJETIVO
✓ Discernir as situações em que somos chamados a ser próximo dos que vivem
em situação de vulnerabilidade
✓ Identificar a dinâmica dos modelos econômicos que geram desigualdade so-
cial dentro das nações e injustiça econômica entre as nações
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Justiça Econômica para o grupo.
✓ Jornais ou revistas de economia de seu país ou cidade. Cartaz, tesoura e cola.
✓ Pesquisa prévia sobre a posição ética e pastoral das igrejas e organizações ecu-
mênicas sobre a dívida externa e o combate à pobreza.
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
PASSOS
1 Divida @s participantes em dois subgrupos.
Peça ao grupo 1 que dramatize a história “Ju-
ventude Metodista em Moçambique Participa
da Campanha pelo Perdão da Dívida Externa”.
Enquanto isso, o grupo 2 faz um cartaz com
recortes e imagens dos jornais de economia
que identifique se seu país é devedor ou cre-
dor no tema da dívida externa.
2 Após a apresentação dos dois subgrupos, con-
versem como essa posição no mercado econô-
mico global impacta o desenvolvimento eco-
nômico e social da juventude de seu país e sua
comunidade.
3 Relacione a reflexão bíblica de Lucas 10:25-37
com o tema da dívida externa a partir da pergun-
ta de Sharelle Barber – quem é meu próximo?
4 Continue o paralelo iniciado por Sharelle
Barber entre os ladrões da parábola e os agen-
tes da economia global hoje. Tente encontrar
um paralelo para cada personagem da parábo-
la, incluindo o seu narrador – Jesus.
5 Apresente a posição ética e pastoral de sua
igreja sobre o tema da dívida externa.
6 Converse sobre as campanhas promovidas por
sua igreja, organizações ecumênicas e pela so-
ciedade civil sobre dívida externa e o combate
à pobreza.
7 Forme subgrupos de aprofundamento a partir
das perguntas sugeridas na seção Questões
para Reflexão.
8 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
9 Coletivamente, construa um plano de ação co-
mum da juventude.
10 Sugira um momento de avaliação do encontro,
e termine com uma celebração de compromis-
so, incluindo a Oração para Missão.
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 83
PASSOSPASSOSPASSOSPASSOSPASSOS
1 O/a facilitador/a apresenta um caso de viola-
ção de direitos humanos extraído de jornais
nacionais ou ocorrido na comunidade. Os tex-
tos sobre os direitos indígenas e direito à co-
municação deste capítulo podem ser usados
para sugerir um caso de violação de direitos.
2 Forme três grupos para analisar o caso apre-
sentado. Designe para cada grupo uma pers-
pectiva de análise: 1) integrantes da Comissao
de Direitos Humanos da ONU; 2) representan-
tes do governo; 3) líderes de movimentos da
sociedade civil ou de igrejas.
3 Cada grupo, usando o guia “Quatro etapas na
luta por direitos humanos” (p.84), analisa o caso
e anota suas observações no quadro.
4 Alimente a reflexão em grupos com as pergun-
tas correspondentes da seção Questões para
Reflexão.
Tema DIREITOS HUMANOS
OBJETIVOS
✓ Sensibilizar a juventude para a relevância dos direitos humanos em relação à
ética cristã e à tradição metodista.
✓ Motivar a juventude a entender as etapas do processo internacional de direi-
tos humanos e apoiar-se nele para ações de educação e denúncia de violação
dos direitos humanos em sua comunidade.
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Direitos Humanos para o grupo.
✓ Cópias do guia “Quatro etapas na luta por direitos humanos” (p.84)
✓ Cópias da Declaração Universal dos Direitos Humanos e outras Convenções ou
Tratados internacionais pertinentes ao caso de violação de direitos humanos a
ser apresentado no grupo.
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
5 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões a partir do caso apre-
sentado.
6 Aprofunde as propostas apresentadas a partir
da quarta etapa do guia, e coletivamente cons-
trua uma campanha para educação de direitos
humanos na comunidade e na igreja desde a
perspectiva da juventude.
7 Sugira um momento de avaliação do encon-
tro, e termine com uma celebração de com-
promisso.
84 | Programa de formação de juventude
Quatro etapas na luta por direitos humanos
Quatro etapas na luta
por direitos humanos
Escolher um caso de
violação dos direitos
humanos
Anote os dados mais
relevantes do caso
1 Definir os padrões
universais
Identificar a violação
baseada no Artigo
correspondente na
Declaração Universal
dos Direitos ou uma
Convenção
Internacional
Escreva os artigos base
para a denúncia
2 Elaborar planos de
ação
Identificar planos ou
ações do governo para
assegurar o respeito
pelos direitos humanos
em discussão
Indique os planos ou
ações do governo
3 Apresentar o
relatório de direitos
humanos e indicar um
monitoramento
independente
Preparar um informe
que denuncie e
documente a violação
dos direitos humanos e
seu impacto na
comunidade
Registre os pontos
fundamentais do
informe e da denúncia
4 Fazer cumprir os
direitos humanos
Propor ao governo, às
comunidades e às
igrejas novas
alternativas para
assegurar os direitos
humanos e prevenir
novas violações
Liste as propostas de
alternativas de
educação de direitos
humanos
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 85
PASSOS
1 Crie três subgrupos. Proponha que o grupo 1
faça um movimento corporal representando
uma ponte, enquanto o grupo 2 um muro, e o
grupo 3 movimenta-se para “passar pela pon-
te com sucesso” e depois tentar “passar pelo
muro”, mas não consegue furar o bloqueio do
muro.
2 Relacione esta experiência com a situação de
perda e busca da juventude na igreja e na co-
munidade segundo os textos deste capítulo.
3 Alimente a reflexão com os textos bíblicos su-
geridos e as perguntas da seção Questões
para Reflexão do capítulo Juventude Faz a Di-
ferença.
4 Forme quatro subgrupos. Dê a cada grupo
dois dos Objetivos de Desenvolvimento pro-
postos pela ONU para o milênio (p. 67). Peça
que avaliem a situação de sua comunidade a
partir dos objetivos em estudo, e que elabo-
rem propostas práticas para que a juventude
Tema JUVENTUDE FAZ A DIFERENÇA
OBJETIVO
✓ Despertar a juventude para a importância de ter uma consciência crítica da
realidade que a circunda.
✓ Identificar a necessidade e oportunidade de desenvolver ações concretas em
prol da diminuição das desigualdades sociais.
MATERIAL NECESSÁRIO
✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Juventude Faz a Diferença para o
grupo.
✓ Cartaz dos “Objetivos do Desenvolvimento do Milênio”
✓ Ver seção Recursos Adicionais.
de sua comunidade contribua para implemen-
tação dessas metas.
5 Dê oportunidade para os subgrupos compar-
tilharem as reflexões e propostas de ação.
6 Coletivamente, construa um plano de ação co-
mum da juventude.
7 Sugira um momento de avaliação do encontro,
e termine com uma celebração de compromis-
so, incluindo a Oração para Missão.
| 87
Recursos adicionais
Juventude
Fórum Social Mundial. Um Outro Mundo é Possível.
http://www.forumsocialmundial.org.br/
Relatório sobre a Juventude Mundial, ONU.2005.
http://www.un.org/esa/socdev/unyin/wyr05.htm/
Identidade wesleyana
Heitzenrater, Richard. Wesley e o povo chamado metodista. Editeo e Pastoral do Bennett,
1996.
Jennings, Theodore. Good News to the Poor: John Wesley’s Evangelical Economics.
Abingdon Press, 1990.
Wesley, Juan. Las obras de Wesley. The Wesley Heritage Foundation, 1998.
Diversidade e identidade
Fatos e números de violência contras as mulheres. Anistia Internacional. http://
www.amnistia-internacional.pt/agir/campanhas/violencia/estatisticasinter.php/
Gênero e Igreja: educar para transformar. Divisão de Mulheres da Junta Geral de Ministé-
rios Globais. 2004.
Grady, J. Lee. Diez mentiras que la Iglesia le dice a las mujeres. Publicación de Casa
Creación, 2000. http://www.casacreacion.com/
Grady, J. Lee. 25 Preguntas difíciles sobre las mujeres y la Iglesia. Publicación de Casa
Creación, 2003. http://www.casacreacion.com/
Justiça Transformadora: Ser Igreja e superar o racismo. Cartilha. Conselho Mundial de
Igrejas, 2004.
Schinelo, Edmilson. A paz voltará a reinar. Círculos Bíblicos sobre a superação da violên-
cia. Cebi, 2003. http://www.cebi.org.br/
Justiça econômica
Campanha Continental contra a Alca.
http://movimientos.org/noalca/index.phtml.pt/
Chamado Mundial à Ação Global Contra a Pobreza. http://www.whiteband.org/
Jubileo Sur. http://www.jubileesouth.org/sp/
Lobby de Massa pela Justiça no Comércio.
http://april2005.org/masslobby/pt/index.html/
Aliança Ecumênica de Ação Mundial: http://www.e-alliance.ch/spanish/
Direitos humanos
Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.
http://www.ohchr.org/spanish/index.htm/
Anistia Internacional – http://www.amnistiainternacional.org/
Centro para Direitos Econômicos e Sociais. http://cesr.org/countries/
Defendendo os Direitos Humanos no Mundo (HRW).
http://www.hrw.org/portuguese/
Rádio das Nações Unidas. http://www.un.org/av/radio/portuguese/index.html/
Recursos adicionais88 |
Delegação Global de Juventude Metodista
e Metodista Unida
ABDI SARAGIH – Indonésia
ERMENEGILDO FRANCISCO MANUEL BANDEIRA – Angola
FABIO SENA BENTO – Brasil
FABIOLA ALEJANDRA GRANDÓN TOLEDO – Chile
GUSTAVO ALÍ – Bolívia
ILIA M. VÁZQUEZ GASCOT – Porto Rico
JESUS DAVID ELIZONDO AMAYA – México
JOÃO PAULO LOPES – Brasil
JOLEINE CINTRA TORRES – Brasil
JOSÉ D. SAAVEDRA – EUA
JULIANA DE SOUZA – Brasil
JULIO CARDUZ – Paraguai
LINATH TIV – Camboja
LORELY DEL VALLE DE SOUZA – Brasil
MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE – Moçambique
MICHELINE CARVALHO NABUCO D’ÁVILA – Brasil
PAULA DO NASCIMENTO SILVA – Brasil
SILJA ROSER – Suíça
TIAGO CERQUEIRA LAZIER – Brasil
ANDREIA FERNANDES – Brasil / coordenação
DEISE MARQUES – Brasil / coordenação
DONALD REASONER – EUA / tradução
ROSÂNGELA SOARES DE OLIVEIRA – Brasil / coordenação
TAMARA L. WALKER – EUA / coordenação
Participantes do Seminário de Formaçãode Liderança: Identidade Wesleyanae Fórum Social Mundial
90 |
Delegação de Metodistas Unidos
nos Estados Unidos da América
ADRIENNE ASHFORD
ALYCIA CAPONE
AUDREY BARKER
CATHERINE MICHELE JOHNS
GENNITH M. JOHNSON
JOHNNY SILVA
KENIA DA SILVA GUIMARÃES
MARCUS A. HUNT
MASSIEL WINGEIER-RAYO
SARAH GILLESPIE
SHALOM AGTARAP
SHARRELLE BARBER
THEON JOHNSON III
DAVID WILDMAN / coordenação
KIMBERLY LEHMAN / coordenação
PHIL WINGEIER-RAYO / coordenação
Participantes do Seminário de Formação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial90 |
GRUPO DE
PARTICIPANTES DO
SEMINÁRIO DE
FORMAÇÃO DE
LIDERANÇA
| 91
Delegação da Confederação Metodista
de Jovens no Brasil
ANINHA MATIAS
DOUGLAS DILL BARBOSA
ELINE FREITAS BRANDÃO
EMANUEL JÔNATA OLIVEIRA DE BRITO
FELIPE ROCHA MENDES
JOSIELI SOARES DA SILVA
JULIANA CORDEIRO
JUSSARA MODESTO DE SOUZA
MARA MARQUES DA SILVA
MAURÍCIO FERREIRA CHAVES
DIANA FERNANDES DOS SANTOS / coordenação
KEILA DA SILVA GUIMARÃES / assessoria
OSEIAS BARBOSA DA SILVA / coordenação
SOLANGE MAYUMI LEMOS / assessoria
STANLEY DA SILVA MORAES / assessoria
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 91
Caderno de formação para missão
JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA
RESSUSCITADORA
DE ESPERANÇA
JUVENTUDE:
Ministérios GlobaisIgreja Metodista Unida