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Curso de Formação de Professores para o
Ensino Religioso
Unção na Bíblia e suas implicações Teológicas
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
Aluna: Célia Rodrigues dos Santos
Orientador/a:
UMESP – Universidade Metodista de São Paulo
COGEIME – Conselho Geral das Instituições
Metodistas de Educação
CONAPEU – Coordenação Nacional das
Pastorais Escolares e Universitárias
São Bernardo do Campo, 31 de maio de 2007
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------- ---------03
CAPÍTULO 1: UNÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO -------------------------------051.1 A prática da unção fora de Israel -------------------------------------051.1.1 A unção como higiene e embelezamento do corpo --------------071.1.2 A unção como ato político-------------------------------- ------------101.2 A unção (mashah) no AT -------------------------------- --------------121.2.1 A unção como higiene e embelezamento do corpo --------------141.2.2 Unção como uso medicinal ------------------------------------------151.2.3 O sentido religioso de unção -------------------------------- --------161.2.3.1 Óleo de unção (mishhah) ------------------------------------------241.2.3.2 Ungüento (mirqahat, shemen) ------------------------------------251.2.3.3 Ungido, aquele que é ungido (mashiah) -------------------------26
CAPÍTULO 2: UNÇÃO NO NT -------------------------------- ----------------------312.1 O sentido cultural de unção no NT -------------------------------- ---322.2 A unção como um ato religioso ---------------------------------------372.2.1 Unção pelo Espírito ---------------------------------------------------382.2.2 Unção como entronização cerimonial -----------------------------402.2.3 A unção relacionada ao batismo -------------------------------- ---41
CAPÍTULO 3: UNÇÃO PARA MISSÃO ---------------------------------------------443.1 Unção como missão no AT ---------------------------------------------443.2 Unção como missão no NT ---------------------------------------------52
CAPÍTULO 4: UNÇÃO NUMA IGREJA DE DONS E MINISTÉRIOS --------------- 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS -----------------------------------------------------------73
BIBLIOGRAFIA -------------------------------- ---------------------------------------75
3
INTRODUÇÃO
Ao pensarmos em “Unção na Bíblia e suas
implicações teológicas”, tínhamos em mente
resgatarmos literalmente o sentido de “Unção” na Bíblia
que tem sido usado e falado de forma errônea por
muitas pessoas. Ou seja, virou modismo falar de unção
sem mesmo saber sua origem e finalidades dentro da
Bíblia. Por estas e outras razões, estaremos abordando
este tema a partir de uma visão bíblico-teológica.
Para alcançar nosso objetivo, no primeiro
capítulo estaremos abordando a “Unção no Antigo
Testamento”. Porém antes, faremos menção de sua
prática no Antigo Oriente Médio. Procuraremos
entender o sentido cultural de unção em seus diversos
sentidos fora do mundo bíblico para depois entendê-la
no mundo do Antigo Testamento, onde procuraremos
destacar todos os aspectos da unção, principalmente
tentar descobrir qual sua verdadeira finalidade no AT.
No segundo capítulo iremos abordar a unção no
NT. Tentaremos trabalhar de forma que possamos
entender também sua origem cultural (antes de vir a ser
prática no mundo do NT). Depois disso, procuraremos
citar todos os tipos de unção que são mencionados no
NT, com o intuito de estarmos analisando cada um
deles para melhor ampliarmos o nosso conhecimento e
4
podermos fazer distinção entre o sentido de unção do
AT e NT.
No terceiro capítulo falaremos da “Unção para a
missão”, o que será possível somente a partir do
primeiro e segundo capítulos, os quais nos darão base
para descobrirmos se temos pressupostos bíblico-
teológicos para afirmarmos que de fato a unção tanto no
AT como no NT têm um caráter missionário.
No quarto e último capítulo estaremos fazendo
uma pequena abordagem a partir da qual, tentaremos
mostrar que após termos entendido qual o verdadeiro
sentido de unção em todos os seus aspectos do AT e NT,
será possível entendermos a “unção numa Igreja de
Dons e Ministérios”. Este último capítulo seria uma
reflexão para uma possível pastoral da unção numa
Igreja de Dons e Ministérios, a partir de determinado
aspecto que não contrariam os princípios bíblico-
teológicos já mencionados.
Esperamos que ao final desta pesquisa possamos
ter conclusões claras e concretas sobre o conceito e
finalidades da unção no AT e NT, para não permitirmos
que a mesma seja praticada ou compreendida de forma
que contradigam aos fundamentos bíblico-teológicos
que serão mencionados no decorrer deste trabalho.
5
CAPÍTULO 1: UNÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
Para chegarmos à análise teológica de “unção” é
preciso pesquisar o sentido de “ungir” na Bíblia e
também no Antigo Oriente Médio. Para alcançarmos
esse objetivo, será abordada a unção no AT mais o seu
sentido cultural, com a intenção de entendermos o que
é a unção e quais são as suas finalidades. Porém antes
disso, será feito uma pequena abordagem sobre sua
origem cultural, uma vez que a mesma era praticada
fora do mundo bíblico. Portanto, iniciaremos com a
“prática da unção fora de Israel”, para depois
entendermos seus aspectos bíblico-teológicos.
1.1 A prática da unção fora de Israel
De acordo com Brown, 1 no Oriente antigo o ungir
obteve uma significância especial já em tempos bem
antigos. Entre os achados pré-históricos no Egito vêem-
se tigelas e vasos de unção. Segundo ele, já cedo na
história da humanidade, as propriedades purificadoras
e fortificantes dos ungüentos e óleos eram aplicadas
não somente para propósitos de purificação, higiene do
corpo e seu embelezamento, mas também para o
1 BROWN, Colin. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do NovoTestamento. São Paulo, Vida Nova, 1983. p. 675.
6
tratamento de feridas e a cura das doenças. Porém, não
é possível desvencilhar as propriedades terapêuticas
reais dos conceitos mágicos associados com a unção.
Cada doença era associada com o poder de deuses ou
demônios.
Com o passar do tempo, “o ungir adquiriu um
significado adicional que talvez remonte até essas idéias
mágicas (quando a unção era praticada na instituição
de um oficial ou rei vassalo do Egito, ou de um
sacerdote na Babilônia”).2 Por esta razão, Brown
entende que esta ação de ungir um oficial ou rei vassalo
no Egito, ou um sacerdote na Babilônia indica
obrigação de honra e também proteção para aquele que
é ungido.
Brown nos informa que outros empregos de unção
são: “livrar um comprador e vendedor de todas as
obrigações, libertar uma escrava e desvincular uma
noiva da casa dos seus pais na ocasião do seu
casamento”.3 Porém, ele não nos oferece maiores
detalhes a respeito destas informações. Além disto,
Brown comenta que no pensamento antigo, “vários tipos
de óleo de unção (elaion) podem penetrar
profundamente no corpo e dar-lhe forças, saúde, beleza
2 Ibid., p. 675.3 Ibid., p. 675.
7
e até alegria”.4 Sendo esta também uma concepção dos
próprios hebreus (Sl 109.18)
Embora tenhamos mencionado acima de que a
unção tinha várias finalidades no Oriente Antigo, iremos
abordar a seguir somente o seu uso como higiene para o
corpo e seu embelezamento e seu sentido político , uma
vez que só conseguimos maiores informações a respeito
destes dois aspectos fora de Israel.
1.1.1 A unção como higiene e embelezamento do
corpo
De acordo com I. De Freine, “a unção profana (o
verbo sukh) pertencia à higiene corporal dos orientais
ou atuava como remédio”.5 Segundo ele, devido ao fato
de o clima no Oriente ser seco e quente era difícil
manter a pele macia. Por esta razão, os orientais tinham
o costume de usar azeite tanto na pele como nos
cabelos após o banho (Sl 104.15; 133.2; Rt 3.3; Ez 16.9;
Dn 13.17).
Born afirma ainda, que no harém de Xerxes 6 (rei da
Pérsia), as mulheres eram ungidas com mirra (Et 2.12;
4 Ibid., p. 675.5 I. De Freine. “Unção” In: Dicionário Enciclopédico da Bíblia. A VandenBorn (org.). Petrópolis, Vozes, 1971. p. 1539.6 Xerxes (486-465 A.C) sucessor de Dario seu pai, que segundo Bright, eraum homem de pouquíssima capacidade em relação ao pai. Ele enfrentou duasrevoltas: uma no Egito, outra na Babilônia (em 482 A.C). A Babilônia foi
8
cf. Ct 3.6; Ez 16.9). Antes de uma visita de cortesia as
mulheres tinham que se ungirem (Rt 3.3; Jd 10.3; 2Sm
14.2).
Szikszai7 afirma que no antigo Leste Próximo, o
banho diário do rico se dava completamente pela
aplicação de óleo de azeitona perfumado ou outros
ungüentos perfumados. Ele diz também que a prática
cosmética de se untar anciãos é amplamente atestada
pela literatura oriental e também pelos muitos
recipientes de ungüento e jarros achados por
arqueólogos. No Antigo Leste Próximo como também no
Israel, foram consagrados objetos e pessoas.
De acordo com Mackenzie “era muito comum o
óleo como ungüento refrescante no mundo antigo”.8
Douglas afirma também que ungüentos de várias
espécies eram amplamente empregados por todo o
Antigo Oriente Próximo. Seu uso primário era cosmético
e provavelmente, tal costume teve início no Egito.
Segundo ele, “caixas de artigos de toucador das quais
tratada com severidade, tendo seus muros demolidos, seu templo Esagilaarrasado e a estátua de Madruk derretida. Depois disso, Xerxes não sepreocupou em passar por rei legítimo da Babilônia como fizeram seuspredecessores, e começou a tratar a Babilônia como território conquistado.(BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo, Paulinas, 1978. p. 508s).7 SZIKSZAI, S. “Anoint” In: The Interpreter’s Dictionary of the Bible: AnIlustrated Encyclopedia. Vol. I (A-D), New Work, Abingdon Priss, 1962.p.139.8 MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico . São Paulo, Paulinas, 1984. p.953.
9
caixas de alabastro com ungüento faziam parte, têm
sido recuperadas em consideráveis quantidades em
diversos locais da Palestina”. 9
Ele nos informa que os egípcios tinham o costume
de colocar pequenos cones de ungüento perfumado
sobre as testas dos hóspedes. O calor do corpo
gradualmente ia dissolvendo o ungüento, que
finalmente escorria pelo rosto abaixo e até às vestes
produzindo um perfume agradável. Essa prática passou
a ser adotada também pelos semitas (Sl 133.2) e
prosseguiu até os tempos neotestamentários (Mt 6.17;
Lc 7.46). Segundo I. De Freine,10 tanto no Egito como na
Palestina usavam-se especiarias e perfumes na
preparação dos cadáveres para a sepultura.
Prosseguindo na abordagem de Douglas,11 outros
povos antigos seguiram a prática dos egípcios e
começaram a usar os ungüentos para reduzir o
ressecamento da pele e as irritações causadas pelo
calor. Nas localidades onde a água geralmente era rara,
os ungüentos aromáticos eram empregados para
disfarçar os odores da transpiração. Noutros momentos
9 DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia (Tradução João Bentes). 2ed., São Paulo, Vida Nova, 1995. p. 1640.10 I. De Freine, op. cit., nota 5, p. 1540.11 Ibid. p. 1640.
10
eram empregados juntamente com cosméticos nos
procedimentos da higiene pessoal.
1.1.2 A unção como ato político
Cazelles afirma que provavelmente, “o rei era
‘ungido’ na Fenícia, na Babilônia antiga e entre os
hititas e muito provavelmente na Assíria e no Egito”.12
Segundo ele, a prática da unção só se dava em nome de
uma autoridade superior, a do faraó divinizado. Ou
seja, a unção era feita somente com a permissão do
faraó que no caso era a autoridade maior da época.
Assim como os povos cananeus tinham os seus
príncipes ou outros deuses como suas autoridades
superiores. Os reis semitas de Acad eram os “ungidos
de Anu”, o deus supremo, da mesma forma como o rei
de Israel será o “ungido de Iahweh” (I Sm 24.11; 26.9;
Sl 2.2).
Por outro lado, I. De Freine afirma que esse tipo de
investidura do qual o rei era submetido quase não se
encontrava fora de Canaã. Ele afirma que:
“O rito é mencionado em duas cartas de
Amarna (51, 6-9; 35,510, na Síria (1Rs
19,15) e com respeito aos reis heteus; da
Mesopotâmia temos apenas um texto
12 CAZELLES, Henri. História Política de Israel: desde as origens atéAlexandre Magno. São Paulo, Paulinas, 1986. p. 127.
11
duvidoso do ritual régio assírio; a unção
dos faraós (que antigamente se supunha
com demasiada facilidade) não consta com
certeza (quando muito, pode ser
mencionada a unção dos mais altos
oficiais egípcios por ocasião de sua
tomada de posse). Na SEscr, porém, a
unção aparece como o sinal normal da
realeza, o critério exterior da eleição; o
título “ungido de Javé” exprime
adequadamente o caráter sagrado do
soberano.13
Para ratificar a citação acima, temos o
pesquisador Szikszai14 que nos informa que a prática de
ungir rei era de importância fundamental. Uma das
cartas de Amarna atesta a unção de um rei na Palestina
durante o século XIV a.C. Segundo ele, a fábula de
Jotão citada em Juízes 9.7-15 que alude à unção de
reis, provavelmente, teve sua concepção literária no
período pré-monárquico. A unção do rei não era
somente uma parte do cerimonial de entronização, mas
era de importância decisiva. Por isso, tornou-se muito
significativa para o exercício da autoridade real.
13 I. De Freine, op. cit., nota 5, p. 1540.14 SZIKSZAIS, op. cit., nota 7, p. 139.
12
Com base nas informações citadas anteriormente
por alguns autores, podemos perceber que a prática da
unção não é algo que encontramos somente no mundo
bíblico. O uso da unção como sinal habitual externo da
realeza, da eleição e consagração do rei encontrados na
Bíblia têm sua significação e utilização dados por povos
circunvizinhos. Ou seja, não era prática originária do
povo de Israel e sim de outros povos, mas que veio a
ganhar novo sentido para o povo de Israel. Sendo assim,
é uma prática bem mais antiga do que poderíamos
imaginar e tem seu sentido tanto político como
cosmético, higiênico e medicinal.
1.2 A unção (mashah) no AT
De acordo com Archer, Harris e Waltke15, a
palavra hebraica mashah se apresenta sempre como
verbo que significa “ungir”, “espalhar um líquido”. Por
isso, para entendermos a palavra “unção” no AT
precisaremos analisar o verbo “ungir” que traz consigo
todo o significado de unção.
O verbo mashah e seus derivados ocorrem cerca
de 140 vezes no AT. É mais freqüente no Pentateuco e
nos livros históricos. Nos profetas é encontrado como
verbo apenas duas vezes com a conotação religiosa de
15 HARRIS, R. Laird., ARCHER Jr., Gleason L., WALTKE, Bruce K.Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, VidaNova, 1998. p. 884.
13
unção sagrada (Is 61.1). No uso cotidiano, mashah
podia referir-se à ação de passar óleo num escudo (Is
21.5), pintar uma casa (Jr 22.14) ou aplicar óleo ao
corpo (Am 6.6).
De acordo com Brown, 16 a unção no Antigo
Testamento é muito semelhante no seu emprego e no
seu significado a praxes fora de Israel. Na LXX o verbo
aleipho (ungir), normalmente se empregava com respeito
ao ungir no sentido literal (equivalentes heb. sukh):
untar para cuidar do corpo ou para cuidados da beleza
(Rt 3.3; 2Cr 28.15; Dn 10.3; Jz 16.8). Omite-se durante
um período de luto (2Sm 14.2; cf. 12.20). Quando o
hospedeiro unge é sinal que ele cuida do seu hóspede e
o honra (Sl 23.5). A unção era vista também como um
sinal de alegria (Pv 27.9; Is 61.3), de prosperidade (Sl
92.11; 45.8), de riqueza e liberdade (Sl 23.5; Jl 1.10; Mq
6.15).
Com base nas informações acima, podemos
perceber que no Antigo Testamento a unção tinha
várias finalidades. Porém, iremos abordar a seguir
somente aquelas que tiveram maior representatividade
no mundo do AT. Mesmo porque os próprios estudiosos
não nos dão maiores detalhes de todas elas, exceto das
que serão mencionadas a seguir.
16 BROWN, op. cit., nota 1, p.675.
14
1.2.1 A unção como higiene e embelezamento do
corpo
De acordo com Ros,17 a unção como ato profano
era um dos momentos mais comuns do asseio (da
limpeza) entre os judeus. Sendo esta também uma
afirmação de Seybold, que diz que “a palavra unção
aparece sempre junto com o verbo “lavar”18 e é limitado
a cosmético que unta no contexto de completamente
higiene.
Segundo Seybold, os hebreus tinham o costume
de se untarem para uma ocasião festiva, para uma
celebração jovial e para um cosmético cotidiano* (Dt
28.40; Rt 3.3 Jd 16.8). Era sinal de luxo misturar o
azeite com ingredientes cheirosos (Am 6.6; 2Rs 20.13).
Por isso, existia a profissão dos perfumistas (Ne 3.8; Ex
30.25). As mulheres exerciam esta profissão (1Sm 8.13).
Os israelitas mostravam sua boa vontade para com os
prisioneiros de guerra ungindo-os antes de mandá-los
para suas casas (2Cr 28.15).
17 ROS, Pablo Termes. Enciclopédia de la Bíblia – Vol. VI. Barcelona,Garriga, 1963. p. 131.18 K. Seybold. “Mashah”. In: G. J. Botterweck, H. Rihggven H.J. Fabry.Theological Dictionary of the Old Testament vol. IX. Grand Rapids,Cambidge. 1998. p. 45.
*Esse termo refere-se ao ato de usar o óleo como hidratante e como perfumepara o corpo, usava-se principalmente após o banho, ou seja, refere-se ao seuuso diário.
15
1.2.2 Unção como uso medicinal
De acordo com Ros,19 geralmente a unção era
praticada pelos judeus como uso medicinal. O óleo da
unção tinha utilidade farmacêutica e servia como
bálsamo. Além de ser “um tônico por excelência”. 20 No
texto de Isaías 1.6 encontramos a constatação de que o
óleo servia para a saúde do corpo, uma vez que o
mesmo era usado para suavizar as feridas. Daí seu uso
no NT para os doentes em geral (Mc 6,13; Tg 5.14).
Brown21 cita também o texto de Jeremias 51. 8
para indicar que a unção tinha um sentido medicinal.
Porém, não sabemos se faz muito sentido a
interpretação do autor. Porque embora o texto faça
menção do bálsamo, no sentido de poder “curar a dor da
Babilônia que havia caído e se quebrado”, podemos
perceber que o autor do texto bíblico usa esta expressão
num sentido metafórico para indicar um conforto
espiritual e não no sentido de vir a curar fisicamente
como interpreta o autor Brown.
De acordo com Douglas, “na Palestina os pastores
tinham o costume de prepararem um ungüento de
19 ROS, op. cit., nota 17, p. 131.20 ALLMEN, Jean Jaques. Vocabulário Bíblico. São Paulo, Assoc. deSeminários Teológicos Evangélicos. 1972. p. 431.21 BROWN, op. cit., nota 1, p. 675.
16
azeite de oliveira que esfregavam nos focinhos feridos
das ovelhas (Sl 23.5)”.22 Nos tempos neotestamentários
os enfermos eram ungidos durante certo rito religioso.
1.2.3 O sentido religioso de unção
De acordo com Mackenzie, “não é possível
identificar a origem e o simbolismo preciso da unção
como rito sacro em Israel”.23 Segundo ele, uma pessoa
ou coisa era ungida com a intenção de torná-la sagrada.
A entronização real é o primeiro ato do reino onde
se desenrola toda uma simbologia: entronização,
coroação, unção, aspersão de água, etc. Porém Cazelles
nos informa que “o rito mais significativo em Israel é o
da unção”.24 A menção mais freqüente a mashah ocorre
com referência a reis como Saul e Davi de Israel (2 Sm
12.7) e também em outros sacerdotes (Ex 30.30). Em
duas situações menciona-se a unção de um profeta (1Rs
19.16; Is 61.1).
Nesse sentido, eles afirmam que num maior
número de vezes, “emprega-se mashah para designar a
investidura cerimonial em cargos de liderança. Uma
22 DOUGLAS, op. cit., nota 9, p. 1640.23 MACKENZIE, op. cit., nota 8, p. 953.24 CAZELLES, op. cit., nota 12, p. 126-127.
17
ação que envolvia o derramamento de óleo que estava
num chifre sobre a cabeça do indivíduo”. 25
No contexto do ritual religioso, mashah envolvia
uma aplicação cerimonial de óleo em itens como o
tabernáculo, o altar ou a bacia (Ex 40.9-11) ou até
mesmo a oferta pelo pecado (Ex 29.36). Ou seja, ao se
oferecer um bezerro em sacrifício pelo pecado em
expiação, tinha-se o costume de ungir o altar no qual o
bezerro iria ser sacrificado com a intenção de torná-lo
sagrado.
Na Bíblia, podemos constatar a unção dos
sacerdotes, da Tenda da Reunião, da arca e da mobília
da Tenda (Ex 31.25ss). Também era comum ungir os
reis. A própria Bíblia menciona a unção de Saul (1Sm
10. 1) de Davi (1Sm 16.13), de Salomão (1Rs 1.39), de
Jeú (2Rs 9. 6), Joás (2Rs 11.12) e de Joacáz (2Rs
23.30). É interessante ressaltarmos que a unção de
Saul, Davi e Jeú é feita por um profeta enquanto que a
de Salomão é feita por um sacerdote. Isso nos leva a
concluir que tanto os profetas como os sacerdotes
podiam realizar o rito.
A Bíblia menciona ainda a unção de Hazaul como
rei de Damasco pelas mãos do profeta Elias (1Rs 19.15).
A unção de Eliseu é também ordenada por parte de
25 Ibid., p. 884.
18
Elias, mas nunca cumprida. Mackenzie26 afirma que
não se fala de unção em relação a nenhum outro
profeta e que talvez, 1Reis 19.16 use inadvertidamente
o termo ungir para significar “nomear como sucessor”.
Por outro lado, em Isaías 61.1 há uma descrição em
termos proféticos de uma pessoa não identif icada que
afirma ter sido ungida para anunciar a boa nova aos
pobres.
Nesse sentido, Seybold27 concorda com Mackenzie
e acrescenta mais uma única passagem em Isaías em
que o ungido é citado como alguém a quem o próprio
Yahweh toma pela sua mão direita para cumprir uma
missão específica (Is 44.1). A partir desta constatação
Seybold afirma que a literatura profética está
familiarizada com a teologia real de Jerusalém e com o
ritual real do judaísmo. Esta afirmação pode ser
entendida também a partir de Isaías 11.1-9.
De acordo com a Bíblia de Jerusalém, esta
passagem de Isaías 11.1-9 é um poema messiânico que
define determinados traços essenciais do Messias
vindouro: ele é do trono davídico (v.1), será cheio de
espírito profético (v.2), fará reinar entre os homens a
justiça, reflexo terreno da santidade de Iahweh (vv. 3-5,
26 MACKENZIE, op. cit., nota 8, p. 953.27 SEYBOLD, op. cit., nota 18, p. 52.
19
cf. 1.26; 5.16) e restabelecerá a paz paradisíaca (vv. 6-
8), fruto do conhecimento de Iahweh (v.9).
Segundo Mackenzie,28 a unção é mencionada no
AT como rito sagrado. Concordando com autores já
citados, ele diz que a unção era praticada como rito, a
qual se aplicava em objetos e pessoas santificadas pela
unção: Sacerdote e Sumo Sacerdote (Gn 28.18-35, 14;
Ex 29.36; 30.26; 40.10; Lv 2.1; 8.11; 1Rs 19.16; Is
61.1; Sl 105.15; Hab 3.13).
De acordo com Williams 29, tanto pessoas como
objetos eram ungidos com óleo no AT como sinal de que
eram separados para Deus. A unção era vista como um
ato de Deus (1Sm 10.1). A palavra era empregada
também com a idéia de concessão do favor divino
(Sl 23.5) e estava associada com o derramamento do
Espírito de Iahweh (1Sm 16.13; Is 61.1). Sendo assim, o
rito da unção visava uma consagração a Iahweh
consistindo concretamente na posse do “espírito” e na
inviolabilidade. Porém, o próprio I. De Freine nos
adverte que:
Essa posse do espírito não deve ser
tomada em sentido literal demais, como se
28 MACKENZIE, op. cit., nota 8, p. 953.29 WILLIAMS, Derek. Dicionário Bíblico Vida Nova. São Paulo, Vida Nova,2000. p. 375.
20
tornasse o rei partícipe da natureza divina
de um modo quase material (North. Bibl.),
ou como se o espírito de Javé (em vez do
próprio Javé, sem mais) estivesse
corpora lmente presente no rei. Nos textos
do AT, a posse do espírito toma um caráter
mais ético; receber o espírito do Deus do
povo eleito significa, afinal, sofrer uma
transformação: “receber um outro coração”
(1Sm 10.9). Trata-se, portanto, ao que
parece de uma metamo rfose completa da
psique (10.6). De pessoa privada o rei
muda-se para chefe carismático;
exatamente como os juízes, é repleto de
uma força sobre-humana, a fim de
executar os planos de Javé, como
instrumento na sua mão.30
Desta forma, a comunicação do espírito (efeito da
unção) é praticamente a legitimação do rei por parte de
Deus (cf. a expressão: “Deus é contigo”: 1Sm 10.7). Por
causa do rei, “o temor de Javé se apodera do povo” (1Sm
11.7); através do rei, Javé também opera a “salvação de
Israel” e dá-lhe a vitória (1Sm 2.35; 11.13).
30 BORN, op. cit., nota 5, p. 1542.
21
Com freqüência, o termo “unção” significa de fato
“a investidura real com a qual o rei ficava
definitivamente entronizado quando recebia a unção de
Iahweh (1Rs 9.16; 10.1; 15.1; 2Rs 12.7; 2Cr 6.42)”.31 E
nesse sentido a unção nunca tinha orientação profana
em Israel, mas sempre se verificava como sinal do
religioso que habilitava o ungido para o desempenho de
suas funções.
Como afirma Ros32, são várias as interpretações
(opiniões) relativas à explicação e sentido da unção.
Para alguns, o rito da unção confere à pessoa que o
recebe algo sagrado, carisma especial que fazia com que
o ungido participasse da vida e poder de Deus. Porém,
na Bíblia não se encontra detalhe algum que deixe
margens a tais interpretações.
Por outro lado, o próprio Ros diz que convém
pensar “que a consagração e entrega da pessoa real (rei)
a Iahweh atuava sobre a pessoa assim dedicada pela
possessão do Espírito de Deus, causando
conseqüentemente a inviolabilidade do mesmo rei”.33
Portanto, a expressão “o espírito de Iahweh vindo sobre
ele” (1Rs 10.1-6; 11.6; 16.13; 14.23) significa nada mais
31 ROS, op. cit., nota 17, p. 132.32 Ibid., p. 132.33 Ibid., p. 133.
22
que a graça de estado, a transformação íntima do
ungido: da pessoa privada em líder (chefe) carismático.
De acordo com Allmen34, a unção destina sempre
alguém a uma obra peculiar no divino serviço: Deus é o
autor verdadeiro da unção, embora atue mediante
homens (1Sm 16.15). Daí a expressão o ungido do
Senhor - O Cristo de Iahweh (1Sm 26.9,16; Lm 4.20; ver
Jó 6.69). Pela unção o eleito é separado e introduzido
na esfera divina: com poder de comparecer perante
Deus em nome do povo e agir como representante de
Deus. Todavia, esta unção nada tem de mágico e Deus
está livre para rejeitar seu ungido (Saul) ou para
desqualificar a quem usurpasse a unção (Absalão).
É importante ressaltarmos também, que de acordo
com I De Freine,35 a prática da unção acontecia sempre
num lugar sagrado (Gálgata: 1Sm 11.15; Hebron: 2Sm
2.4; 5.3; Em-Rogel: 1Rs 1.9; Geon: 1Rs 1.38). E isso
segundo ele, realçava ainda mais a ligação entre Iahweh
e o seu ungido.
A partir dos relatos acima, é possível percebermos
que no AT ungiam-se tanto objetos como pessoas.
Porém, o untar pessoas, segundo a opinião mais comum
limitava-se mais ao rei e ao sumo sacerdote (cf. Lv 8.12-
34 ALLMEN, op. cit., nota 20, p. 431.35 I. De Freine, op. cit., nota 5, p. 1541.
23
30). Vimos que em alguns casos ungiam-se profetas,
patriarcas e o povo (1Rs 19.16; cf. Sl 105.15; Is 61.1; Sl
105.15; Hb 3.13; Sl 84.9; 89.38?). Embora na opinião
de I. De Freine36 estas referências sejam apenas
metáforas.
O fato é que ao pesquisarmos o significado de
“unção” como rito religioso, percebermos que a mesma
não era praticada de forma aleatória, ela visava sempre
a capacitação do ungido para um serviço divino (da
parte de Deus). Sendo assim, ela era vista como um ato
do próprio Deus. A unção era empregada também com a
idéia de concessão do favor divino e estava sempre
associada com o derramamento do Espírito de Deus.
Mesmo quando se ungiam objetos e lugares, indicava
uma separação oficial para o serviço divino. Ungia-se
aquilo que o próprio Deus separava para si (Gn 28.18;
Ex 29.2; 30.26ss).
Detalhe importante: a unção capacitava o ungido
para prestar um serviço a favor do povo e não para si
mesmo. Por isso, é cada vez mais perceptível no AT a
perspectiva de um governante justo e cheio do Espírito
(Is 9.107; 11.1-5; 61.1). A unção não pode ser vista
como algo que torna aquele que a recebe melhor do que
os outros. Pelo contrário, ela exige maior cobrança e
36 Ibid., p. 1540.
24
responsabilidade da parte de Deus para com os outros.
O ungido tem que prestar contas a Deus de seus atos.
1.2.3.1 Óleo de unção (mishhah)
Vocábulo, que de acordo com Harris Archer e
Waltke37 é encontrado apenas em Êxodo, Levítico e
Números. Mishhah, termo que no hebraico refere-se ao
óleo utilizado na unção ritual do Tabernáculo. O óleo
preparado de acordo com uma fórmula (Ex 30, 22-33)
era aspergido sobre as autoridades e sobre suas vestes
(Ex 29. 21), mas sobre a cabeça do sumo sacerdote era
derramado (yatsaq) (Ex 29.7; cf. Lv 8.10-12).
Compreende-se e aprecia-se melhor a
consagração de homens e coisas para o serviço de Deus
mediante o símbolo tangível, usado nesse caso, um óleo
perfumado. Ou seja, ungiam-se pessoas e coisas com
óleo perfumado como sinal de que eram separados por
Deus e para o Seu serviço. De acordo com Allmen,38 o
óleo é veículo do Espírito de Deus (1Sm 10.16; 16.13;
2Sm 23.1-2; Is 61.1) que investe o eleito de Deus com
força necessária para cumprir sua vocação.
37 HARRIS, ARCHER e WALTKE, op. cit., nota 15, p. 886.38 ALLMEN, op. cit., nota 20, p. 431.
25
De acordo com Douglas,39 esse óleo tinha que ser
composto de conformidade com a arte do perfumista. O
mesmo consistia de azeite de oliveira, mirra, canela,
cálamo e cássia, caso em que os ingredientes sólidos
provavelmente eram pulverizados e fervidos no azeite de
oliveira (cf. Jó 41.31). A manufatura dessa preparação
era proibida a pessoas não autorizadas (Ex 30. 37-38).
1.2.3.2 Ungüento (mirqahat, shemen)
Os ungüentos eram preparados ou por
perfumistas (2Cr 16.14; Ex 30.35) ou por sacerdotes ou
por indivíduos particulares, os quais usavam uma
grande variedade de substâncias aromáticas.
De acordo com Douglas,40 os ungüentos eram
preservados com melhores resultados em receptáculos
de alabastro. Nessas condições, os ungüentos
melhoravam com a idade e se tornavam valiosíssimos
depois de alguns anos. Por essa razão, o vaso de
alabastro cheio de ungüento citado nos Evangelhos (Mt
26.17; Mc 14.3; Lc 7.37) era um ungüento caríssimo,
composto com nardo puro (Nardostachys jatamansi) que
de acordo com o autor, essa erva relacionada com a
39 DOUGLAS, op. cit., nota 9, p. 1640.40 Ibid. p. 1640.
*sf Erva sedativa. (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionáriode Língua Portuguesa. 2ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1988. p. 519).
26
valeriana,* era importada do norte da Índia e usada em
quantidades apreciáveis pelos hebreus e romanos
igualmente na unção da cabeça.
Conforme Douglas, os ungüentos eram usados
quase em um sentido sacramental quando novos reis
eram consagrados em seu ofício. Foi desta forma que
Samuel ungiu a Saul (1Sm 10.1), Elias ungiu a Jéu
(2Rs 9.3) e Joiada ungiu a Joás (2Rs 11.12). Ungüentos
perfumados com mirra eram freqüentemente usados
para ungir a cabeça (Lv 23.56; cf. Mc 14.8).
1.2.3.3 Ungido, aquele que é ungido (mashiah)
Na opinião de Harris, Archer e Waltke41, a
palavra hebraica mashiah, empregada como adjetivo e
substantivo ocorrem cerca de 40 vezes no AT,
basicamente em 1Samuel e 2 Samuel e em Salmos.
Conquanto passa designar uma função tal como a do
sumo sacerdote (Lv 4.3), mashiah é quase
exclusivamente reservado como sinônimo de “rei”
(melekh), como em textos poéticos em que é paralelo de
“rei” (1Sm 2.10; 2Sm 22.51; Sl 2.2; 18.50 [51]; e cf. Sl
28.8), em que é paralelo de um “povo”. São notáveis as
frases “o ungido do Senhor” (meshiah IHWH) ou
equivalentes tal como “seu ungido” (meshihoh ) as quais
se referem a reis (títulos honoríficos, sem dúvida). As
41 HARRIS, ARCHER e WALTKE, op. cit., nota 15, p. 885.
27
expressões também ressaltam o relacionamento especial
entre Deus e o ungido.
A palavra “messias”, no hebraico mashiah que
significa “ungido”, quase sempre associado a “ungido de
Iahweh”, na opinião de Beuken “trata-se, pois, de um
conceito teológico do próprio solo israelita porque os
povos vizinhos do Oriente Antigo desconheciam uma
expressão análoga”.42 Segundo ele, “Messias” tem seu
cabimento dentro de uma tradição bem definida, a da
seleção de Davi e sua descendência. Como já citado
anteriormente, podemos encontrar este conceito
especialmente nos livros de 1Samuel e 2Samuel e em
vários Salmos que tratam do rei de Jerusalém (Sl 2, 18,
21, 45, 72, 89, 110, 132).
Sendo assim, podemos presumir que o conceito
“o ungido de Iahweh” seja um produto da
fundamentação teológica da realeza davídica, tal como
esta se realizou sob Salomão. Naturalmente, baseia-se
na tradição da unção real de Davi e seus descendentes
(e por extensão de Saul).
De acordo com Seybold há formulações que
expressam o sentido plural do termo ungido usado em
Israel. Isso baseado em 2Samuel 2.4 que diz: “os
42 BEUKEN, Willem. Israel precisava do Messias. In: Concilium. Petrópolis,1993. nº. 245, p. 12.
28
homens de Judá”. E, a evidência de 1Samuel 30.26
sugere que “os homens” provavelmente fossem os
anciãos de Judá. Segundo ele, “está claro que o texto
descreve um ato jurídico de escolher e instalar um rei
(omitido pelo Cronista a favor de um untar em cima de
‘todo o Israel’)”.43
A noção que ungido substancia a escolha de um
rei contradiz claramente se baseada em textos que
trazem formulações plurais. Ou seja, o termo ungido
não pode se restringir apenas a rei, uma vez que
existem textos que não deixam claro de que o ungido
seja apenas o rei. Seybold cita como exemplo a fábula
de Jotão: “Um dia as árvores se puseram a caminho para
ungir um rei que reinasse sobre elas. Disseram a oliveira:
“Reina sobre nós”. (Jz 9.8; cf. v. 15). A mesma idéia
básica adaptada a circunstâncias individuais aparece
em outros casos: uma passagem da história da rebelião
de Absalão: “Quanto a Absalão, que tínhamos ungido
para que reinasse sobre nós....” (2S 19.11).
Para Ros,44 o rei era uma pessoa sagrada e por
isso inviolável (1Sm 24.7; 26.9-11). Davi respeitou a
Saul e não se atreveu pôr suas mãos sobre ele porque
ele era o “ungido de Deus” (1Sm 24.7-11, 26.9). Pelo
contrário, ele mandou executar quem cometesse o crime
43SEYBOLD, op. cit., nota 18, p. 46.44 ROS, op. cit., nota 17, p. 1134.
29
de matá-lo (2Sm 1.2-16). Desta forma a expressão
“ungido de Iahweh” tem um conteúdo concreto que
afeta principalmente ao soberano reinante, nunca se
aplica esse nome ao Salvador futuro de Israel até o
último século antes de Cristo, porque só então se
associa ao “Esperado” das nações o conceito de rei.
Após os relatos citados pelos autores, podemos
concluir que a escolha do ungido é decisão do próprio
Deus, a quem os homens devem respeitar. Isto é,
deixando a Iahweh a disposição total sobre ele. Ele é a
garantia de direito e justiça em Israel, mas quando seu
interesse próprio está em jogo, cabe a ele exercer a
misericórdia ou não de acordo com os seus interesses
pessoais.
É importante ressaltarmos também, que sendo o
ungido escolhido pelo próprio Deus, não prevalecem
normas humanas de aparência e formas externas, mas
a ponderação do coração. Podemos dizer isto baseado
no relato de 1Samuel 16.6 em que o próprio Samuel
engana-se na sua suposição da escolha de Deus,
quando ele tem que ir a busca de um dos filhos de
Jessé para ser o ungido de Iahweh.
Ao chegarmos ao final deste capítulo, no qual
abordamos a “unção” no AT, podemos concluir que no
AT a unção tinha várias finalidades. Mas, a mais citada
diz respeito à unção dos reis. Vimos que a Bíblia
menciona também a unção de alguns profetas. Porém se
30
diz que esta unção não tem o mesmo valor que a dos
reis. Eles foram metaforicamente ungidos para
simbolizar sua investidura interna pelo Espírito de
Iahweh. Após o Exílio da Babilônia tinha-se também o
costume de ungir o sumo sacerdote de Israel (Ex 30,22),
já que ele assume em grande parte as funções que antes
eram reservadas ao rei.
31
CAPÍTULO 2: UNÇÃO NO NT
De acordo com Brown “ungir” no seu sentido literal
não figurativo é empregado no NT pelo o termo grego
aleipho, enquanto que khrio (ungir) e khisma (unção) se
empregam exclusivamente no sentido religioso e
simbólico. Segundo ele, “aleipho ocorre já no grego
miceno e indica o processo mediante o qual gordura
mole (myron, ungüento) ou azeite (elaion) é untado ou
derramado sobre uma pessoa ou objeto”.45
De acordo com Mackenzie,46 a unção não é
mencionada no NT como rito sagrado, com única exceção
da unção dos doentes encontrada em Tiago 5.14. Porém
segundo ele, o termo grego aí usado (aleipho) nunca é
usado para se referir a um rito sacro, nem pela LXX e
nem no NT. Com esse significado usa-se sempre o verbo
khrio. Na mesma direção do pensamento de Brown e
Mackenzie encontramos as afirmações de Kittel,47 a
partir das quais ele nos confirma que dentro do NT
aleipho é usado só para o ungir externo e físico, dando à
45 BROWN, op. cit., nota 1, p. 675.46 MACKENZIE, op. cit., nota 8, p. 953.47 KITTEL, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament. Vol. I(A-D). Grand Rapids, WM. B. Eerdmans Publishing Company, 1968. p. 229.
32
unção um sentido figurado de untar por Deus.
2.1 O sentido cultural de unção no NT
Segundo Brown, no NT aleipho ocorre somente 8
vezes (em todos os quatro Evangelhos e em Tiago). Em
contraste com a palavra mais importante khrio, o verbo
aleipho refere-se consistentemente à ação física de ungir,
praticada exclusivamente sobre pessoas para o cuidado
do corpo (Mt 6.17), como sinal de honra a um hóspede
(Lc 7.38,46; Jo 11.2; 12.3), honrar os mortos (Mc 16.1) e
curar os enfermos (Mc 6.13; Tg 5.14). Os ungüentos
empregados é azeite ou mirra mais cara e bálsamo. O
autor diz que a ação física de ungir o corpo não
apresenta qualquer problema especial. Porém, quanto ao
significado teológico disto no NT não se pode reduzir a
um padrão único. Por isso ele cita três idéias distintas do
ato de “ungir”:
1- No Sermão da Montanha (Mt 6.17), Jesus
manda todos aqueles que jejuam a fim de
orarem, não pararem de se ungir. Isto é
visto como sendo uma despesa normal para
higiene normal e como expressão geral de
alegria, que deveria continuar durante o
jejum. Somente aquilo que se faz
secretamente diante de Deus e não diante
dos homens, e que pode ser oferecido com
33
alegria, tem verdadeiro valor48.
Para interagirmos com o pensamento de Brown
temos Kittel,49 que nos afirma que em Mateus 6.17
“ungir” é associado completamente ao conforto.
Conforme o costume dos judeus expressa um ato de
alegria e festividade (cf. Jt 16.7 na LXX). Para o judaísmo
“ungir” não pode estar associado com o ato de jejuar.
Porém, Jesus demanda com os judeus dizendo que o
sacrifício de jejuar deveria ser feito tão secretamente, que
deveria ser uma ocasião de alegria e festividade para
outros e até mesmo para o que jejua.
2- O pano de fundo de Lc 7.38ss, é o
costume judaico de ungir a cabeça de um
hóspede. Jesus aqui desmascara o fariseu
que deixou de honrá-lo e agora tem que ver
Jesus receber esta honra das mãos de
uma humilde mulher que o fariseu
consideraria como uma perdida. Aqui, a
unção fica sendo uma expressão de fé, e
sua omissão uma expressão de descrença.
O caso é semelhante em Jo 12.3, quando o
ato de Maria em ungir Jesus é interpretado
48 BROWN, op. cit., nota 1, p. 676.49KITTEL, op. cit., nota 47, p. 229-230.
34
como uma antecipação da unção (para
honrar) do Seu corpo na morte50.
O que nos chama a atenção nesse texto é que era
um costume judaico ungir a cabeça de um hóspede,
como vimos na citação acima. Porém, a mulher
mencionada no texto ungiu os pés de Jesus e não a sua
cabeça. O fato de ela ter agido desta forma revela
provavelmente, uma marca de humildade. Segundo
Morris “é uma conjectura razoável que Jesus fizera esta
mulher voltar-se dos seus caminhos pecaminosos e que
tudo isso era a expressão do amor e da gratidão dela”.51
De qualquer forma, não dá para dizer que ela conhecia
Jesus pessoalmente. Por isso, é possível que ela
simplesmente estivesse entre as multidões que ouviam
os Seus ensinamentos e que ficara tão convicta que sua
vida foi mudada.
3- Quando a unção com azeite é feita aos
doentes (Mc 6.13; Tg 5.14), isto faz lembrar
a unção dos enfermos em outras partes do
mundo antigo. Há a possibilidade de que se
atribui alguma propriedade medicinal à
unção no NT, mas não se ressalta esta
parte. É provável que passagens tais como
50 BROWN, op. cit., nota 1, p. 676.51 MORRIS, Leon L. O Evangelho de Lucas. São Paulo, Vida Nova / MundoCristão, 1983. p. 139.
35
Mc 6.13 e Tg 5.14 tenham seu pano de
fundo, pelo contrário, na prática do
exorcismo. Ungir é um ato simbólico através
do qual os demônios são expulsos.
As curas levadas a efeito pelos discípulos
ou pelos presbíteros da igreja foram
acompanhadas pela unção, ocorrendo no
contexto da pregação e da oração. A cura,
e, portanto, a unção também, veio a ser
vista também como um sinal visível do
começo do reino de Deus. Qualquer
entendimento semi-mágico da unção, no
entanto, é firmemente refreado,
especialmente em Tg 5.13ss, pela
importância atribuída à oração que a
acompanha.52
De acordo com Kittel,53 para entendermos Marcos
6.13 e Tiago 5.14 temos que recordar a prática e
significado de “ungir” como uma visão de curar no
Helenismo e no Judaísmo. O óleo era aplicado como um
medicamento para aliviar e curar várias doenças tais
como: dores ciáticas, aflições de pele, dores de cabeça,
feridas e especialmente como meio de exorcismo, uma
vez que a doença era designada em grande parte à
52 BROWN, op. cit., nota 1, p. 676.53 KITTEL, op. cit., nota 47, p .230.
36
influência endiabrada. Por esta razão, é muito fácil ver
porque o ato de “ungir” como medicamentos deveria vir a
ter o caráter de uma ação vitoriosa em expulsão de
demônios. Isto é especialmente assim, no caso de aflições
com manifestações psíquicas ou outras causas.
Naturalmente há o mesmo uso em magia,
como nós aprendemos do grande papiro
mágico de Paris (Preis. ZAUB., IV, 3007 f).
Ao lado deste uso mágico-medicinal, lá
também desenvolveu um sacramental, um.
na forma de um batismo com óleo em lugar
de batismo de água ou ao lado disto, que é
achado entre os gnósticos e outro como um
exorcismo antes do ato de batismo na
Igreja. Entretanto, na forma de um
sacramento de morte, isto é achado só
entre o Marcosites em Iren., 21,5 e com
Heracleon em Epiph. Haer., 36,2, 4ff., e é
incerto se o seu significado realmente é um
sacramento pela morte ou uma
consagração do morto.54
Na esfera cristã achamos o uso de óleo como um
medicamento (Lc. 10.34) e para o propósito
combinado de medicamento e exorcismo. O óleo
54 ibid., p. 230-231.
37
passou a ser consagrado para estes fins. De acordo
com Morris55, o vinho deve ter sido usado para
limpar as feridas e o óleo para aliviar a dor.
Segundo ele, de modo geral os judeus e os gregos
tinham o costume de usar o vinho e óleo para estes
fins.
2.2 A unção como um ato religioso
Para entendermos a unção no NT, temos ainda a
palavra grega khrio: “ungir” que de acordo com Brown56 é
empregada de Homero em diante e significa “tocar
levemente a superfície”, “ungir”, “pintar”. Temos também
a palavra khisma: “unção” (Xenofontes; antes, khima)
que significava originalmente tinta cal, óleo ou ungüento
empregado na unção e mais tarde, começando da época
da tradução da LXX (Cf Séc. III a.C) a ação de pintar,
untar e ungir (este último de modo exclusivo no NT).
Diferentemente de aleipho, khrio se emprega basicamente
no sentido simbólico ritual (Dt 28.40 e Am 6.6) da
mesma forma que khisma é empregado consistentemente
para a unção ritual (Ex 30.25; 40.9).
De acordo com Brown, “no NT khrio (à parte da
forma khristos – Jesus Cristo) ocorre apenas 5 vezes e
55MORRIS, op. cit., nota 51, p. 179.56 BROWN, op. cit., nota 1, p. 676.
38
khisma só 3 vezes (todas em 1Jo)”.57 Ambas as palavras
são empregadas de modo exclusivo em um sentido
figurativo, correspondendo ao seu emprego na LXX. A
unção é metáfora para a outorga do Espírito Santo de
poder especial e de uma comissão divina.
Os demais casos de unção que ocorrem no NT
estão relacionados a Jesus e aos cristãos. Nesse
sentido, iremos abordá-los conforme eles se apresentam
nos textos bíblicos. Ou seja, conforme os vários tipos de
unção no NT.
2.2.1 Unção pelo Espírito
De acordo com Brown58, em quatro ocasiões lemos
acerca da unção de Jesus da parte de Deus (Lc 4.18,
citando Is 61.1; At 4.27; 10.38. Hb 1.9, citando Sl 45.7).
Todos estes textos indicam um derramamento especial
pelo Espírito Santo de poder sobrenatural (cf.
especialmente At 10.38). Esta unção pelo Espírito Santo
(Lc 4.18; At 4.27; 10.38) provavelmente, relembra o que
aconteceu no batismo de Jesus.
No seu batismo Jesus recebeu a unção real e
sacerdotal que fez D’Ele o Khristos, o Messias. Jesus de
Nazaré foi assim declarado o instrumento do Evangelho
57 Ibid. p. 678.58 Ibid. p.678.
39
da paz de Deus. Segundo Lucas 4.18, Jesus leu
publicamente a passagem de Isaías a fim de proclamar
que o período que tem o início com Ele, é o período da
salvação. Em Atos 4.27 Lucas vê o cumprimento do
Salmo 2 (que acabara de ser citado) na pessoa de Jesus
“ao qual ungiste” hon echrisas , como o Cristo.
Segundo João, o khisma é o Espírito da verdade
que dá aos cristãos o poder de entender de tal modo que
não precisam de outro mestre (1Jo 2.27). Através da
unção receberam o Espírito que traz à mente aquilo que
Jesus disse (cf. Jo 14.26; 15.26; 16.13-14). A unção
pelo Espírito é o poder que opera no crente através da
palavra divina autoritativa. Ao seguir a Jesus e
permanecer Nele (1Jo 2.28) e através do poder da
palavra pregada conforme opera na Igreja, o crente
recebe uma participação na unção messiânica que
Jesus recebeu. Ele recebe o Espírito Santo que pode
discernir os espíritos (1Jo 4.1-6; 2.18).
A partir das citações acima, podemos concluir que
a unção do Espírito foi conferida não somente a Jesus:
depois da ascenção, o Espírito foi espalhado também
sobre a Igreja, sua representante sobre a terra e sua
comissionada que continua a obra escatológica da
salvação (At 2.1ss). Esta unção do Espírito está
intimamente ligada ao batismo que precede ou segue
imediatamente (Jo 3.5; At 2.38; 9.17-18; 10.44-48;
19.5-6; 1Co 12.13-14, etc) Nesse sentido, Allmen afirma
40
que “portanto todo batizado é também um ‘cristo’ (2Co
1.21)”.59 Segundo ele, aparentemente João fala desta
mesma função do Espírito no batismo na sua primeira
carta (2.20-27) e não de uma imposição das mãos,
conferida ao novo batizado.
2.2.2 Unção como entronização cerimonial
De acordo com Brown,60 Hebreus 1.9 não se refere
ao batismo quando se trata da unção, mas sim à
entronização cerimonial no céu (cf. 1.3-4). Por causa de
(dia) Sua obediência e Seu suportar do sofrimento (Hb
2.9) Jesus foi ungido e exaltado (Altura, art. Hypsistos)
na sua ascenção até à posição de soberano escatológico
(1.8) e sumo sacerdote (5.9-10).
A unção mencionada na citação do AT sublinha
mais uma vez o tema de Hebreus 1.5-14 (cf. Sl 2.7;
45.6-7; 2Sm 7.14). A outorga oficial da posição de filho,
rei e sumo sacerdote significam “conforme também
consta em Filipenses 2.9, um aumento de autoridade
em comparação com a história terrestre de Jesus”.61
59 ALLMEN, op. cit., nota 20, p. 432.60 BROWN, op. cit., nota 1, p. 678.61 Ibid., p. 678 (E. Käemann, Das Wandernd Gottesvolk, 59).
41
Com base no pensamento de Brown,62 os cristãos
ao serem ungidos no Espírito são feitos membros
legítimos da promessa da aliança. É possível que a
linguagem de Hebreus 1.9 refere-se a um termo nos
mistérios gnósticos, dos quais ele assim se desassocia.
Não é própria escolha e decisão do homem que o leva
através de um rito místico de unção, a um
conhecimento mais sublime do outro mundo e do
caminho da redenção. Isso é feito através da decisão em
prol do homem em Jesus Cristo, que agora opera
através da fé. É assim que ele fica sendo o ungido.
2.2.3 A unção relacionada ao batismo
Com referência à unção dos cristãos (a palavra
Khistianos se acha no NT somente em Atos 11.26;
26.28; 1Pedro 4.16; - Jesus Cristo, Christianos).
Conforme Brown,63alguns exegetas sugerem a existência
de um ato de ungir antes do batismo, como parte da
cerimônia batismal. É bem possível que khisas hemas
theos (aquele que nos ungiu é Deus) em 2Coríntios 1.21
e khisma (unção) em 1João 2.27,27 sejam referências
ao batismo. Não há, porém, evidência da unção como
rito sacramental independente dentro da cerimônia do
batismo. R. Bultmann citado por Brown crê que: “Ao
empregar esta designação ‘unção’, João aparentemente
62 Ibid., p. 678.63 Ibid., p. 678).
42
tira a expressão de alguma seita gnóstica mística e
contra ela dirige seu ensino, usando a força da própria
linguagem deles”. 64
De acordo com Brown65 é difícil determinar o
significado de khrio em 2Coríntios 1.21. Será que é
batismo? Ou é um tipo de adoção na fé semelhante ao
padrão da unção dos reis praticada entre os israelitas?
Ou é uma referencia à eleição? O v.22 menciona o
penhor do Espírito. Provavelmente, estão com a razão
aqueles exegetas que consideram os três verbos
(“confirmar”, “ungir”, “selar”) como três aspectos
diferentes daquilo que aconteceu no batismo.
Para concluir, podemos dizer que a unção no NT
tem seu sentido cultural e simbólico. Ou seja, para
entendermos a unção no NT temos a palavra aleipho e a
palavra khrio, ambas com significados diferentes. A
primeira se relaciona com o ungir externo no seu
sentido físico, de acordo com as várias menções que há
no NT. A segunda palavra (khrio) tem um sentido
simbólico, está relacionada com o rito religioso.
Constatamos também que no NT, há menção de
várias formas de unção. Cada uma delas se dava em um
contexto diferente. Porém, todas elas tinham suas
64 Ibid., p. 678 (Theology of the NT II, 88).65 Ibid., p. 678.
43
finalidades específicas, o que nos leva a perceber que a
unção do NT tem uma dimensão diferente da unção do
AT que estava mais relacionada com a unção de reis.
44
CAPÍTULO 3: UNÇÃO PARA MISSÃO
Nesse segundo capítulo estaremos abordando
“Unção para Missão”. Nesse sentido, procuraremos
especificar todos os aspectos da unção que
encontrarmos no AT e NT que estejam relacionados com
a missão. Ou seja, este capítulo será trabalhado a partir
das pistas (textos bíblicos) que já foram mencionadas
nos dois capítulos deste trabalho.
3.1 Unção como missão no AT
Com base em nossa pesquisa no primeiro
capítulo deste trabalho, temos pressupostos bíblico-
teológicos para afirmarmos que no AT encontramos
dados que nos levam a concluir que a unção tinha um
caráter missionário. Todas as menções de unção no AT
estão relacionadas com a missão, uma vez que é um ato
do próprio Deus que separa pessoas, lugares e objetos e
os unge para determinado serviço divino.
Nesse sentido, podemos tomar como base a
passagem de Isaías 61.1 que diz: “O espírito do Senhor
Iahweh está sobre mim, porque me ungiu; enviou-me a
anunciar a boa nova aos pobres, a curar os
quebrantados de coração e proclamar a liberdade aos
45
cativos, a libertação aos que estão presos”.66 A própria
Bíblia de Jerusalém interpreta que a expressão “boa
nova”, embora a palavra não indique expressamente,
trata-se como é obvio, da boa nova, isto é, do
“Evangelho” (cf. 11.2; 42.1; Lc 4.18-19) onde Jesus em
Nazaré utiliza parte deste texto para explicar sua
própria missão.
Champlin 67 interpreta esta passagem de Isaías
61.1 dizendo que Jesus, o Cristo é o Servo e não a
nação de Israel. Ele diz que Jesus aplicou essas
palavras a Seu próprio ministério (Lc 4.16-20). Desta
forma, Ele iniciou Sua missão em Nazaré com essas
mesmas palavras. Segundo ele, a missão também não é
a missão do profeta que deu o oráculo. Mas está em
vista o Profeta Escatológico (o Messias que é também
uma presença permanente). Foi sobre Ele que o Espírito
repousou de maneira muito especial, garantindo-lhe o
sucesso (Cf. Is 42.1; 59.21; Nm 24.2; Mq 3.8; Zc 7.12).
De acordo com Champlim, o Servo especial já foi
ungido (nomeado) por decreto divino para realizar Sua
tarefa. Foi designado para pregar as boas novas que a
Septuaginta tem como palavra familiar euaggelion, para
indicar os evangelhos.
66 A Bíblia de Jerusalém. 4 ed. São Paulo, Paulus, 1995. p. 1462.67 CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado:Versículo por versículo. Vol 5. São Paulo, Hagnos, 2000. p. 2960.
46
Sendo a missão do ungido, ajudar os aflitos e
pensar as feridas dos que tinham o coração ferido,
Champlin o caracteriza como o “Servo que é Grande
Médico e não meramente como o evangelista” (Ellicott, in
Ioc.).68 E aqui, embora seja uma boa interpretação de
Champlin, ele abandona a idéia do Messias a qual
estamos abordando e faz sentido neste contexto.
Ele também abrirá todas as prisões e libertará os
prisioneiros. A Septuaginta adiciona aqui: “Para
recuperar a visão dos cegos”, que faz parte da citação do
Novo Testamento, visto que quase sempre as citações do
Antigo Testamento no Novo Testamento são extraídas
da Septuaginta e não da Bíblia Hebraica (Texto
Massorético).
A partir deste texto de Isaías 61.1 e 1Samuel
10.10; 16.13, o autor Mackenzie afirma que “a unção
dota a pessoa ungida do Espírito de Iahweh impelindo-a
a algum feito extraordinário”.69 Segundo ele, mesmo
quando alguns textos não dizem isso explicitamente, a
unção faz da pessoa ungida um ministro que carrega
um certo carisma e cuja missão se cumprirá sob o
impulso do Espírito. Em Isaías 44.1 vemos o conceito de
missão a partir do termo “ungido” que no caso, é
68 Ibid., p. 2960.69 MACKENZIE, op. cit., nota 8, p. 953.
47
alguém a quem o próprio Iahweh toma pela sua mão
direita para cumprir uma missão específica.
Segundo Harris, Archer e Waltke,70 embora a
unção indique uma posição de honra para quem a
recebe, também representa um aumento de
responsabilidade, uma vez que é o próprio Iahweh que
escolhe para si quem deve receber a unção com o
objetivo de prestar-lhe um determin ado serviço divino.
Podemos citar como exemplo Saul e Davi que sendo os
ungidos de Iahweh são convocados a prestarem contas
de seus feitos (1Sm 17; 2Sm 12.7).
Compreende-se e aprecia-se melhor a consagração
de homens e coisas para o serviço de Deus mediante o
símbolo tangível, usado nesse caso um óleo perfumado.
De acordo com Allmen,71 o óleo é veículo do Espírito de
Deus (1Sm 10.16; 16.13; 2Sm 23.1-2; Is 61.1) que
investe o eleito de Deus com força necessária para
cumprir sua vocação.
Para entendermos melhor o sentido de unção
como uma prática missionária no AT, podemos
70 HARRIS, ARCHER e WALTKE, op.cit., nota 15, p. 884.71 ALLMEN, op. cit., nota 20, p. 431.
48
mencionar os vários tipos de unção citados por
Champlin72 que comprovam esta prática:
1. De coisas: Em 2Samuel 1.21 e Isaías 21.5, a
unção de escudos, talvez a fim de consagrá-los
para a guerra. O tabernáculo e seus utensílios
foram ungidos, incluindo todos os seus móveis
(Ex 30.26-29; 40.9-11). O altar foi ungido (Ex
29.36), o que equivaleu à unção das colunas ou
pilhas de pedras, que eram usadas como
memoriais ou altares (Gn 28.18; 35.14).
2. De pessoas:
Reis: O azeite era derramado sobre as cabeças
dos reis como símbolo de sua consagração ao
ofício. Sacerdotes ou profetas como
representantes de Deus, usualmente se
encarregavam do ato da unção (1Sm 10.1; 1Rs
1.39,45; 19.16). A unção fazia do rei um servo de
Deus. A partir do rito da unção dos reis criou-se
o termo “ungido do Senhor ” que se tornou virtual
sinônimo de ‘rei’ (1Sm 12.3,5; 2Sm 1.14,16; Sl
20.6).
72 CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado:Versículo por versículo. Vol. 7 (Dicionário M-Z). 2ed. São Paulo, Hagnos,2001. p. 5409.
49
Sacerdotes: A unção de um sacerdote lhe
conferia um ofício vitalício (Lv 7.3; 10.7; 4.3;
8.12-30). Os sacerdotes eram consagrados ao
Senhor para cumprirem os seus serviços.
Profetas: Elias comissionou Eliseu como seu
sucessor por meio de unção (1Rs 19.16); embora
o próprio ato não seja literalmente historiado. A
comparação do Salmo 105.15 e 1Crônicas 16.22
parecem indicar que alguns profetas foram
ungidos, o que os consagrou como
representantes de Deus para a promoção da
mensagem espiritual.
Podemos especificar um pouco mais o próprio
ato de ungir o rei como um exemplo de missão no AT. O
mesmo era ungido com a intenção de cumprir
determinado serviço divino. Para Ros, 73 o termo ungido
designa todo homem que pela unção era consagrado a
Iahweh. O rei especialmente era o ungido de Iahweh
(1Sm 24.7-11; 26.9-11.16-23). Desta forma, podemos
dizer que a unção no AT está ligada mais ao rei do que a
qualquer outra coisa. Percebemos isso a partir das
passagens de unção até chegar ao NT.
Portanto, o “ungido de Iahweh” deve ser
entendido não a partir do ato da unção, mas devido ao
73 ROS, op. cit., nota 17, p. 1134.
50
efeito da unção que no caso, refere-se ao
relacionamento entre Iahweh e o rei que recebeu a
unção. Logo, a unção é um conceito teológico que
expressa a declaração de autoridade soberana
outorgada por Iahweh ao rei, com a finalidade de
cumprir determinada tarefa a favor do seu povo. A
unção determina o valor do rei (seu chamado – sua
vocação).
Segundo Beuken, 74 os relatos da unção de Davi,
seus descendentes e seu antecessor Saul como reis
comprovam sua relativa independência em face do título
“o ungido de Iahweh” pelo o fato de nele descobrirmos
dois modelos sacro-jurídicos. Ora são os anciãos do
povo que executam a unção (2Sm 2.4,7; 5.3; cf. 2Sm
19.11; 1Rs 5.15; 2Rs 9.6; 11.12; 23.30), ora a unção
está no nome de Iahweh por intermédio de seu profeta
ou sacerdote (1Sm 16.3, 12s; 2Sm 12.17; cf. 1Sm 9.16;
10.1; 15.1; 1Rs 1.34-39.45).
O autor nos informa ainda que no primeiro
modelo sacro-jurídico apresentado, o príncipe é isolado
pela unção da profanidade e tornado intocável, tendo a
missão de ser mediador entre o povo e Deus e o penhor
das bênçãos. No segundo modelo ele representa o
direito de Deus a ser reconhecido como governante e
74 BEUKEN, op. cit., nota 42, p.13.
51
legislador único de Israel. Segundo ele, “o rei da família
de Davi era homem como qualquer outro, sujeito à lei
de Deus e à palavra de seus profetas”.75 Mas por outro
lado, ele era ao mesmo tempo portador do espírito de
Iahweh e incorporava a presença e fidelidade de Deus
(Dt 17.14-20; 1Sm 10.6).
Vimos que a unção como missão no AT, se dá de
várias formas. A própria unção dos reis é um exemplo
de missão. Os mesmos eram ungidos para indicar que
haviam sido escolhidos por Deus e através da unção,
era simbolizado o Espírito que recebiam tendo em vista
a sua missão. Sua verdadeira missão se resumia na
expressão bíblica: “praticar a justiça e o direito ”. Isso
significa que os reis tinham a incumbência de eliminar
as injustiças e defender os direitos dos pobres
injustamente oprimidos. Sendo esta uma das principais
características de Iahweh: “O Deus justo e compassivo
para com os fracos, defensor dos que não tem protetor e
que julga os altivos e poderosos” (Sl 82; 98; 7; 35; 86;
31, etc.). Desta forma, podemos dizer que a unção
significava que o dom do Espírito ajudaria os reis a
realizarem esta justiça divina para com o pobre.
Em resumo, podemos dizer que a unção no AT
era uma consagração pelo Espírito conferida a reis,
75 Ibid. p. 13.
52
sacerdotes e profetas para realizar o plano de justiça e
salvação da parte de Deus. Vimos também que em
determinados momentos, ungiam-se lugares e objetos
com o intuito de serem separados para o serviço de
Deus. Menciona-se também um misterioso Messias
ungido pelo Espírito para completar esta tarefa de
justiça e paz.
3.2 Unção como missão no NT
Assim como no AT, podemos encontrar no NT
também a unção com finalidades missionárias. E nesse
sentido, poderíamos dizer que no NT talvez, a prática da
unção como missão aparece com muito mais clareza do
que no AT, uma vez que o próprio Jesus foi o ungido do
Pai para cumprir Sua missão.
No Novo Testamento a unção é metáfora para a
outorga do Espírito Santo de poder especial, de uma
comissão divina. De acordo com Champlin,76 em três
passagens do NT em que aparece a palavra “unção” (Lc
4.18; 2Co 1.21-22; Hb 1.9), está em pauta a presença
permanente do Espírito Santo com os crentes. O próprio
Jesus foi “ungido” com a presença do Espírito
capacitando-O a pregar o Evangelho e a realizar
prodígios e milagres (Lc 4.18).
76 CHAMPLIN, op. cit., nota 57, p.5409.
53
De acordo com as profecias bíblicas, o Messias
(nome que procede do hebraico corresponde em tudo ao
termo grego Cristo, ou Ungido) era Servo de Deus por
motivo de sua unção. O pensamento é reiterado em Atos
10.38 que diz: “Como Deus o ungiu com o Espírito Santo
e com poder, ele que passou fazendo o bem e curando a
todos os que estavam dominados pelo diabo, porque
Deus estava com ele”.
De acordo com Ros,77 os Evangelhos em conjunto
é a constatação efetiva do messianismo de Cristo em
função de uma ideologia acessível à generalidade dos
ouvintes. Ou seja, os Evangelhos constatam que a
intenção de Jesus era cumprir sua missão messiânica
da forma mais simples possível, uma vez que Ele pregou
em várias camadas da sociedade, especialmente nas
comunidades mais pobres, as quais exigiam uma
linguagem mais acessível.
Os apóstolos lhe atribuem continuamente essa
dignidade e missão (Jo 20.31). O próprio Cristo afirma
sem paliativos, confirmando com milagres (Lc 7.28; Mt
11.1-6; Is 35.4-6; 61.1) e inclusive faz referência a
outros títulos messiânicos, sinônimos que ele se
apropria para convencer as gentes que Ele é o Cristo, o
77 ROS, op. cit., nota 17, p. 1134-1135.
54
“Ungido de Deus” (Jo 4.25-27; Mt 16.16-17; 23.10; Mc
8.29; Lc 9.20).
Nesse sentido, Bortolini78 afirma que a palavra
“Cristo” é a tradução de “Messias” e ambas significam “o
Ungido”. Na sinagoga de Nazaré Jesus se proclama o
Ungido do Pai através do Espírito Santo: “O Espírito
Santo está sobre mim porque ele me ungiu” (Lc 4.18).
Cristo assume sua missão de profeta, sacerdote e rei (=
pastor). Ele pode ser considerado profeta porque ele
mesmo começou a pregar e a dizer: “Convertei-vos,
porque está próximo o Reino do Céu” (Mt 4.17). Ele é o
único sacerdote do Pai (Hb 3.1-5,10). Ele é Rei e Pastor
(Jo 19.19; Jo 10. 1-8).
Na opinião de Champlin,79 pelo o fato de termos
recebido o Espírito, somos também “cristos” ou
“ungidos” segundo se vê em 2 Coríntios 1.21-22: “Mas
aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu,
é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do
Espírito em nossos corações”. A exemplo de Cristo
somos chamados a cumprir nossa missão que é de
proclamar o Evangelho de salvação e libertação, que foi
pregado pelo próprio Cristo. Porém Hebreus 1.9 mostra-
nos que a unção de Jesus, entretanto, era de um nível
78 BORTOLINI, José. Os Sacramentos em sua vida: Uma visão completa emlinguagem popular. 13 ed. São Paulo, Paulus, 1981. p. 53-54.79 CHAMPLIN, op. cit., nota 57, p. 5409.
55
especial: “...por isso Deus, o teu Deus te ungiu com óleo
de alegria como nenhum dos teus companheiros” (ver
também João 3.34).
De acordo com Champlin,80 a unção separa a
pessoa ungida para o seu ofício, falando sobre o caráter
sagrado de seu chamado e comissão. Há aquele óleo de
alegria para aqueles que cumprem bem a sua missão
(Hb 1.9). Assim são separados homens para servirem a
Deus (Rm 1.1). Mas em seu lado negativo, a prática da
unção pode simbolizar o excesso de luxo (Amós 6.6).
A partir das citações acima, podemos concluir que
a unção do Espírito foi conferida não somente a Jesus.
Depois da ascenção o Espírito foi espalhado também
sobre a Igreja, sua representante sobre a terra e sua
comissionada que continua a obra escatológica da
salvação (At 2.1ss). Esta unção do Espírito está
intimamente ligada ao batismo que precede ou segue
imediatamente (Jo 3.5; At 2.38; 9.17-18; 10.44-48;
19.5-6; 1Co 12.13-14, etc).
Podemos concluir que a unção no NT se
relaciona também com o dom do Espírito a fim de criar
a justiça (sobretudo para com os mais necessitados) e
realizar a era messiânica que Jesus, o Messias
inaugurará com sua morte e ressurreição. Nesse
80 Ibid., p. 5410.
56
sentido, toda a comunidade do povo de Deus também é
ungida pelo Espírito de Jesus para dar continuidade à
missão de Deus.
57
CAPÍTULO 4: UNÇÃO NUMA IGREJA DE DONS E
MINISTÉRIOS
Nossa intenção nesse capítulo é mostrar que pelo
fato de a unção ser um princípio bíblico, ela tem uma
função numa Igreja de Dons e Ministérios. Nesse
sentido estaremos afirmando que a unção não contraria
a necessidade da capacitação. São faces de uma mesma
moeda. Falamos isso porque algumas teologias se
apropriam do termo “unção” para justificar um
conformismo e até mesmo uma negação da necessidade
da capacitação para o exercício da missão. Por isso,
trabalhar este capítulo é um desafio para a
consolidação de uma Igreja de Dons e Ministérios.
Sendo “Dons e Ministérios” um movimento
conduzido pelo Espírito, cujas raízes encontramos na
Bíblia e que representa o caráter ministerial de toda a
Igreja, na qual todos/as, pastores/as e irmãos/ãs
leigos/as participam do ministério total da Igreja, como
afirma a própria Pastoral da Igreja Metodista.81 Ela nos
dá margens para entendermos que a unção como fruto
81 COLÉGIO EPICOPAL DA IGREJA METODISTA. Carta Pastoral sobreDons e Ministérios. 2ed. São Paulo, Cedro, 2001. p. 7.
58
da ação de Deus por meio do Seu Espírito tem o seu
devido lugar nesta conjuntura.
A unção só tem sentido numa Igreja de Dons e
Ministérios porque a mesma, na maioria das vezes que
aparece na Bíblia está voltada para a missão. Assim
como os Dons e Ministérios existem em função da
Missão por fazer parte de uma “Comunidade
Missionária a serviço do povo”. Ou seja, o movimento
Dons e Ministério surgiu da visão de um “Igreja
Missionária”82 que tem seu ministério voltado para as
pessoas, comunidade e todo o Universo e não par si
mesma.
Biblicamente é possível falar de unção numa
Igreja de Dons e Ministérios porque como vimos
anteriormente, a unção está em conjunção com o
Espírito assim como Dons e Ministérios são
direcionados pelo o Espírito. O próprio Jesus foi ungido
por Deus no seu batismo “com o Espírito Santo e poder”
(At 10.38). Porém, a unção do Espírito não foi conferida
somente a Jesus. Depois de Sua ascensão o Espírito foi
espalhado também sobre a Igreja, sua representante
sobre a terra que continua a obra escatológica da
salvação (At 2.1).
82 Ibid., p. 7.
59
Só que quando falamos de Igreja, estamos falando
de uma comunidade que se reúne em nome de Deus.
Por conseguinte, esta comunidade por ser formada por
pessoas diferentes, se apresenta com suas diversidades.
Daí seus diferentes dons que são concedidos a cada
um/a conforme a manifestação do Espírito de Deus por
meio de sua graça (que é o fundamento da vida cristã)
para o serviço de cada Ministério.
Assim como Dons e Ministérios não têm nenhum
valor sem a experiência divina da graça, a unção
também não o tem porque ela é concedida a cada um/a
mediante a ação do Espírito Santo de Deus para um
determinado serviço divino (sinalizar o Reino de Deus
na terra).
Se partirmos do pressuposto de que a unção
acontece para capacitar o ungido para a missão, ela tem
o seu devido lugar numa Igreja de Dons e Ministérios,
uma vez que a mesma só tem sentido se for para
responder às necessidades concretas das pessoas. Ou
seja, atender aos desafios que fazem parte da realidade
de vida de cada pessoa.
Nessa proposta de Dons e Ministérios não há
lugar para a exclusão, uma vez que todos/as mediante
o Espírito Santo, são agraciados/as com um dom
diferenciado, da mesma forma que em Cristo Jesus
todos/as são “os ungidos de Deus” para dar
continuidade á obra missionária de Jesus.
60
Quando falamos que a unção é compreendida por
algumas teologias como algo que dispensa a capacitação
(o preparo para a missão), é porque de alugma forma,
estas teologias não conseguiram assimilar o verdadeiro
sentido de unção.
As pessoas tendem a achar que a unção só é dada
para alguns e que por isso, eles se tornam melhores do
que os outros (mais capacitados). Assim como
muitos/as tendem achar que por falarem em línguas
são mais espirituais (mais ungidos do que os outros).
Além disto, existem aquelas pessoas que
costumam associar a unção com o dom de línguas ou
outras manifestações exteriores tais como: o dom de
cura, profecia, etc. Porém, sabemos que a unção e a
manifestação dos dons são duas coisas distintas,
embora tenham uma mesma fonte e uma mesma
finalidade. Ambos são concedidos a cada cristão/ã a
partir do momento em que ele/a aceita a Cristo e Seus
ensinamentos e é batizado/a em Seu nome para que
sinalize o amor de Deus através de atos concretos, que é
o sinal distintivo da recepção do Espírito de Deus em
suas vidas.
Com base na afirmação do Colégio Episcopal que
diz: “Temos a clara visão e consciência de que os Dons
devem responder às necessidades e realidades
presentes na vida das pessoas da igreja local e da
comunidade onde vivemos e cumprimos a nossa
61
missão”83, vem à nossa mente a seguinte pergunta:
Como a unção pode influenciar ativamente e
positivamente numa Igreja de Dons e Ministérios que
tem estas preocupações citadas acima?
De acordo com o que já vimos, é importante
lembrarmos que a unção tanto no AT como no NT é um
ato que parte do próprio Deus e por isso mesmo, é um
rito simbólico que enuncia a descida do Espírito sobre a
pessoa ungida. Logo é algo que não se concebe
visivelmente. Podemos dizer que a mesma é um sinal da
graça invisível de Deus. O resultado desta unção é o
compromisso de cada cristão/ã para com o serviço
divino. Ela se torna visível por meios dos resultados (o
fruto do Espírito) que ele/a irá apresentar como sinal da
ação de Deus em suas vida.
Não é possível afirmar que a unção possa ser
realizada no seio da Igreja como um sacramento deixado
por Deus, uma vez que é o próprio Deus o agente da
unção mediante a ação do Espírito Santo, no momento
que cada pessoa aceita a Cristo e é batizado/a em Seu
nome e procura seguir Seus ensinamentos.
Porém, encontramos na Bíblia uma passagem que
fala da “unção dos enfermos”, a partir da qual temos
pressupostos de que a unção poderá ser praticada por
83 Ibid., p. 11.
62
alguém da comunidade em nome do Senhor. “Algum
dentre vós está doente? Que mande chamar os anciãos
da igreja, e que orem sobre ele ungindo-o com óleo em
nome do Senhor” (Tg 5.14).
Embora o texto nos dê fundamento para uma
pastoral da unção dos enfermos, como é prática de
algumas igrejas, a Igreja Metodista como uma Igreja de
Dons e Ministérios não tem esta prática.
Sabemos, baseada na afirmação de Schlesinger e
Porto,84 que na Igreja Metodista tem-se o costume de
visitar os enfermos com a finalidade de levar-lhes o
conforto espiritual. Nessas ocasiões costuma-se fazer
orações e leituras bíblicas relacionadas com a confiança
no poder de Deus e a entrega do homem à sua santa
vontade.
O rito da unção com óleo não é prática habitual
da Igreja Metodista. Porém, existem líderes e até mesmo
pastores/as que em determinadas situações
(convenientes ou não) que o praticam, indo contra os
ensinamentos da Igreja.
84 SCHLESINGER, Hugo, PORTO, Humberto. Dicionário Enciclopédico dasReligiões. Vol II (K-Z). Petrópolis, Vozes, 1995. p. 2579.
63
O próprio Colégio Episcopal da Igreja Metodista 85
afirma que:
Reconhecemos e afirmamos o poder de
Deus para curar enfermidades, através de
meios e recursos ordinários e
extraordinários. Declaramos que ao
aceitarmos a possibil idade de cura divina,
não fazemos desta graça divina a
preocupação e o objetivo maiores de nossa
missão como Igreja Metodista. Afirmamos
que um dos dons dados à Igreja Metodista
quanto à saúde é a sua mensagem e ação
preventivas, combatendo tudo o que
prejudica a mente e o corpo, levando o
povo a praticar a “medicina preventiva”.
Nesse sentido, o Colégio Episcopal86 continua
afirmando que devemos fugir da tentação de querer
reduzir o poder restaurador de Deus a uma fórmula
mágica. Isso porque de acordo com o os relatos
neotestamentários, as curas revelam a natureza
misteriosa da atuação soberana de Deus. Desta forma,
não encontramos nele uma fórmula mágica para a cura
85 COLÉGIO EPISCOPAL DA IGREJA METODISTA. Pastoral sobre adoutrina do Espírito Santo e o Movimento Carismático. São Paulo, ImprensaMetodista, 1980. p.32.86 Ibid., p. 32-33.
64
e nem técnica fantástica para a restauração da saúde.
Somente o poder de Deus é visto manifestado de várias
formas através de Jesus Cristo e seus apóstolos. Por
esta razão, o Colégio Episcopal aconselha-nos a lançar
mão de todos os recursos, tanto da ciência humana
como os da graça divina para cuidar da saúde.
Segundo o comentarista Moo,87 de modo geral,
existem duas possibilidades principais para o propósito
da unção em Tiago 5.14. Primeira, ela pode ter um
sentido prático. O óleo era largamente utilizado como
remédio no mundo antigo. Em Sua parábola Jesus nos
diz que o samaritano parou para ajudar o homem que
havia sido roubado e espancado e “pensou-lhe os
ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho ” (Lc 10.34).
Outras fontes antigas atestam a utilidade do óleo na
cura de qualquer coisa, desde uma dor de dente até
uma paralisia. Galeno, famoso médico do segundo
século, recomendava o óleo como o “melhor dos
remédios para paralisia”.88
De acordo com Moo89 é bem provável que Tiago
esteja querendo dizer que os presbíteros devem se
aproximar do leito do doente, imbuídos de recursos
87 MOO, Douglas J. Tiago: Introdução e Comentário. São Paulo, Vida Nova/Mundo Cristão, 1990. p. 176.88 Ibid., p. 176.89 Ibid., p.176.
65
espirituais e naturais – com oração e remédio. Tanto um
como o outro pode ser administrado com a autoridade
do Senhor e ambos podem ser utilizados por ele na cura
do doente.
Porém, esta linha de raciocínio apresentada
acima, traz consigo dois tipos de questionamentos:
1) Não há evidências de que a unção com
óleo fosse usada para qualquer problema
médico – e por que mencionar apenas um
remédio (embora muito usado), se tantas
enfermidades diferentes podiam ser
encontradas?
2) 2) Por que os presbíteros da igreja deviam
fazer a unção se o propósito dela era
somente medicinal? Seguramente outros
já teriam feito isto, caso se tratasse de
um remédio apropriado para doença.90
Por outro lado, Moo91 diz que alguns estudiosos
sugerem que a unção como um tipo diferente de
propósito prático podia ser praticada como expressão
exterior e física de cuidado, uma forma de estimular a fé
90Ibid., p. 176.91 Ibid., p. 177.
66
da pessoa enferma. Sendo assim, é provável que a
unção com óleo tivesse um propósito religioso.
Dentro deste propósito religioso de unção em que
ela é vista como detentora de significado sacramental ou
apenas simbólico, há duas explicações básicas citadas
por Moo92 para melhor entendermos.
Primeiro, com base neste texto de Tiago 5.14, a
Igreja Grega antiga praticava aquilo que chamava de
“eykhelaion” (uma combinação das palavras eykhe,
“oração” e elaion, “óleo”, os dois usados neste texto) com
propósito de fortalecer o corpo e a alma do enfermo.
Segundo, a Igreja do Ocidente continuou esta
prática por muitos séculos, usando também o óleo para
a unção em outras ocasiões. Mais tarde, a Igreja
romana conferiu ao sacerdote o direito exclusivo de
realizar esta cerimônia e desenvolveu o sacramento da
“extrema unção”. Este sacramento tem o propósito de
remover qualquer vestígio de pecado e fortalecer a alma
da pessoa que está morrendo (a cura é considerada
apenas uma possibilidade).
O Concílio de Trento (1545-1563/XIV, 1)
encontrou a “sugestão” deste sacramento em Marcos
6.13 e sua “promulgação” em Tiago 5.14. É claro que
92 Ibid., p. 177.
67
este sacramento desenvolvido tem pouca base no texto
de Tiago: ele recomenda a unção com óleo para
qualquer doença e a associa com a cura e não com a
preparação para a morte. Todavia, o óleo podia ser
considerado um elemento com função sacramental à
medida que atuava como “veículo do poder divino”.
Após as explicações acima, podemos pensar que a
melhor interpretação de unção com óleo encontrada em
Tiago 5.14 é a dada como um ato simbólico. No próprio
AT, freqüentemente a unção é o símbolo da consagração
de pessoas ou objetos para o uso e serviço de Deus,
embora na maioria destes textos se use o termo khrio.
Enquanto que Tiago usa o termo aleipho por causa do
ato físico de ungir.
Podemos dizer que a unção usada por Tiago
embora seja um ato físico, pode ter um significado
simbólico, uma vez que o simbolismo da unção está
geralmente associado com a separação ou consagração
de alguém ou alguma coisa para Deus. Provavelmente,
devamos entender isto como simbolismo pretendido na
ação.
Champlin 93 comenta que estão em foco em Tiago
5.14, os doentes no corpo físico e não aqueles que
93 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: Versículopor versículo. Vol. VI, São Paulo, 1974A. p. 81.
68
sofrem de distúrbios emocionais ou psicológicos,
embora esses distúrbios sejam enfermidades reais. Ele
diz que provavelmente o texto não fala de “enfermidades
espirituais” conforme alguns têm crido erroneamente.
Como se as curas fossem algo do passado e não do
presente.
De acordo com Moo94, os presbíteros ao orarem
pela pessoa doente também a separam para receber
atenção especial de Deus. Desta forma, ao orarem, os
presbíteros podiam ungir a pessoa doente a fim de
simbolizar que ela estava sendo “separada” para receber
atenção e cuidado especiais de Deus.
Por outro lado, o fato da unção de doentes ser
mencionada apenas em Tiago dentre as várias epístolas
do NT e também o fato de que muitas curas foram
realizadas sem a unção, demonstram que a prática não
é um acompanhamento necessário à oração pela cura.
Os presbíteros que oram pelo doente podem utilizá-la.
Tiago recomenda claramente a prática, mas eles não
precisam fazer isto se não quiserem.
Como afirma o próprio Moo,95 é importante
lembrarmos que embora a unção em Tiago tenha seu
significado incerto, possibilitando várias interpretações,
94 MOO, op. cit., nota 34, p. 178.95Ibid., p.180.
69
a preocupação de Tiago neste versículo é a oração. Isto é
refletido pelo fato de Tiago atribuir a cura prevista à
oração dos presbíteros e não à unção.
A oração é denotada com uma palavra incomum,
eykhe que conota um desejo ou petição forte, fervoroso
(veja o emprego do verbo eykhamai em Atos 26.26;
27.29; Rm 9.3). Mas o que torna a oração eficaz não é o
fervor ou freqüência – é a fé. Fé em 1.6-8 em que Tiago
também discute a eficácia da oração, refere-se a um
compromisso inabalável e sincero com Deus. Visto que
são os presbíteros que fazem a oração, fica claro que a
referência é a fé que eles têm.
Com base na “unção de enfermos” encontrada na
carta de Tiago (embora esta tenha várias
interpretações), fica-nos claro porque a Igreja Metodista
como uma “Igreja de Dons e Ministérios” fez a opção
apenas da oração e da leitura bíblica no momento da
visita aos enfermos em vez de optar pela oração
acompanhada pela unção com óleo como citada em
Tiago 5.14.
Por outro lado, mesmo sendo esta a prática da
Igreja Metodista, no tocante à visita dos enfermos,
temos informações de que existem alguns grupos, tanto
de pastores como de leigos da Igreja que praticam a
unção com várias finalidades, as quais não contemplam
nem a prática que se encontra em Tiago 5.14. Ou seja,
praticam a unção de uma forma distorcida, constituindo
70
a mesma num efeito mágico, como se ela tornasse mais
importante do que a oração ou da própria ação do
Espírito que capacita cada um/a com os vários dons
que são próprios do agir de Deus na vida de cada
pessoa que se dispõe a servi-lo.
No sentido de estar revendo tais práticas, as quais
não são fundamentadas nos documentos da Igreja, seria
bom que o Colégio Episcopal estivesse atento a estas
questões, uma vez que elas acontecem no seio de
muitas de nossas Igrejas.
Propomos que ele estivesse refletindo um pouco
mais sobre a unção que se encontra em Tiago 5.14,
para que a partir daí se constitua um documento para
orientar aqueles/as que têm feito uso da unção de
forma aleatória. Mesmo porque este é o único texto
bíblico o qual muitas Igrejas se fundamentam e vêem
nele uma forma inicial do sacramento da unção dos
enfermos. Sendo esta, uma identificação tradicional que
foi definida pelo Concílio de Trento (1545-1563).
Não é justificável a prática da unção na Igreja
Metodista da forma que vem acontecendo, mas por
outro lado vemos que existem fundamentos bíblico-
teológicos para que se pratique a unção. Mais
especificamente a unção que acompanha a oração dos
enfermos citada em Tiago 5.14. O que falta talvez, seja
uma melhor orientação do seu uso ou não como
propomos acima. E isso só cabe ao Colégio Episcopal, o
71
qual tem a incumbência de orientar a Igreja Metodista
com relação às suas práticas.
Concluindo, fica claro a partir das explanações
acima, que a unção tem suas bases bíblicas. Por esta
razão, ela tem sua pertinência teológica numa Igreja de
Dons e Ministérios. Sendo a unção fruto do agir do
Espírito de Deus na vida de cada pessoa que segue a
Cristo e seus ensinamentos, podemos dizer que em
Cristo Jesus toda a Igreja é ungida para cumprir a
missão de Deus.
Por outro lado, não encontramos fundamentos
para dizermos que a unção é algo que se constitui num
agir de Deus por meio do Seu Espírito, somente na vida
de alguns e de outros não, como que se alguns fossem
“escolhidos” e mais capacitados do que outros.
No Antigo Testamento encontramos base para
dizermos que a unção acontecia de forma específica,
simbolizando um ato do próprio Deus que escolhia
algumas pessoas tais como o rei, profetas e sacerdotes
para desempenharem determinado serviço divino.
No NT a unção passa a ter outros significados
além dos citados no AT, dos quais ficam como base para
a nossa reflexão como Igreja que quer cumprir a
vontade de Deus, que não é outra, senão que todos
participem e façam parte do Seu Reino, onde não há
lugar para privilegiados/as – todos/as são iguais,
72
capacitados/as, ungidos/as por meio do Seu Espírito
Santo.
Entretanto, encontramos no texto de Tiago 5.14 a
orientação para que os presbíteros (líderes principais da
igreja, sem designação específica quanto às funções que
exercem como mestres, pastores, etc.) pratiquem a
oração acompanhada da unção com óleo sobre os
enfermos. Com isto, fica claro que se a unção é
praticada dentro destes parâmetros, não tem nada de
errado.
Da mesma forma, não há nada de errado se a
Igreja Metodista, como é regra geral, não a praticar
como orienta Tiago. Porém, sugerimos que seria muito
bom se estivesse um documento feito pelo Colégio
Episcopal que esclarecesse melhor esta prática da
unção, para não haver contradições como é sabido que
há.
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Descobrimos no decorrer desta pesquisa, que a
“unção” é algo bem mais antigo do que poderíamos
imaginar, uma vez que a mesma já era praticada no
Antigo Oriente Médio, embora tivesse um significado
diferente do encontrado no AT. No Antigo Oriente Médio
o rito da unção de reis estava relacionado com o ato
político, enquanto que no AT o mesmo estava
relacionado com o ato religioso. As demais práticas de
unção tais como uso medicinal, higiênico e
embelezamento do corpo permaneceram iguais.
Mencionamos que a unção no AT era uma
consagração pelo Espírito conferida a reis, sacerdotes e
profetas para realizar o plano de justiça e salvação da
parte de Deus. Em determinados momentos, ungiam-se
lugares e objetos com o intuito de serem separados para
o serviço de Deus. Há menção também, de um
misterioso Messias, ungido pelo Espírito para completar
esta tarefa de justiça e paz.
Vimos também que no AT, embora a unção
tivesse várias finalidades, a principal delas estava
relacionada com o poder que ela exercia sobre o rei, a
partir da qual o rei se tornava o “ungido de Iahweh” -
aquele que havia sido separado por Deus para cumprir
determinada missão. A unção simbolizava que o rei
74
estava sob a proteção de Deus e por isso, ele devia agir
em nome de quem o escolheu - o próprio Deus.
Percebemos que no NT a unção passou a ter uma
dimensão diferente da encontrada no AT. A mesma
passou a ser praticada de várias formas. Além do seu
uso como cosmético, medicamento e costume judaico, a
unção tinha significados religiosos, principalmente em
se tratando da unção relacionada com o Espírito Santo,
da qual o próprio Jesus foi ungido.
Por fim, podemos concluir que de fato a unção
tem tudo a ver com a missão, uma vez que a mesma
parte do próprio Deus e não do ser humano. Com base
nos textos bíblicos, podemos dizer que realmente a
unção tem sido compreendida e praticada por
muitos/as de forma equivocada. Talvez isso tenha
ocorrido por falta de conhecimento das Sagradas
Escrituras. E no caso dos metodistas, por falta de um
documento do Colégio Episcopal que oriente a Igreja
nesse sentido.
75
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79
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------- ---------03
CAPÍTULO 1: UNÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO -------------------------------051.1 A prática da unção fora de Israel -------------------------------------051.1.1 A unção como higiene e embelezamento do corpo --------------071.1.2 A unção como ato político-------------------------------- ------------101.2 A unção (mashah) no AT -------------------------------- --------------121.2.1 A unção como higiene e embelezamento do corpo --------------141.2.2 Unção como uso medicinal ------------------------------------------151.2.3 O sentido religioso de unção -------------------------------- --------161.2.3.1 Óleo de unção (mishhah) ------------------------------------------241.2.3.2 Ungüento (mirqahat, shemen) ------------------------------------251.2.3.3 Ungido, aquele que é ungido (mashiah) -------------------------26
CAPÍTULO 2: UNÇÃO NO NT -------------------------------- ----------------------312.1 O sentido cultural de unção no NT -------------------------------- ---322.2 A unção como um ato religioso ---------------------------------------372.2.1 Unção pelo Espírito ---------------------------------------------------382.2.2 Unção como entronização cerimonial -----------------------------402.2.3 A unção relacionada ao batismo -------------------------------- ---41
CAPÍTULO 3: UNÇÃO PARA MISSÃO ---------------------------------------------443.1 Unção como missão no AT ---------------------------------------------443.2 Unção como missão no NT ---------------------------------------------52
CAPÍTULO 4: UNÇÃO NUMA IGREJA DE DONS E MINISTÉRIOS --------------- 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS -----------------------------------------------------------73
BIBLIOGRAFIA -------------------------------- ---------------------------------------75
80