Jornal das Ciências - número 07

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Ribeirão Preto, agosto de 2002 - Nº. 1 Ano 2 1 PROJETO EDUCACIONAL CTC FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA PROJETO EDUCACIONAL CTC FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA A bióloga Lilian Casatti trabalha no Laboratório de Ictiologia, do Departamento de Zoologia e Botânica da UNESP (Universidade Estadual Paulista), em São José do Rio Preto. Formada em Ciências Biológicas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, tem mestrado e doutorado pela UNESP de Botucatu com peixes do rio São Francisco, em São Roque de Minas (MG). E pós-doutorado relacionado ao córrego São Carlos, Parque Estadual Morro do Diabo e Bacia do Alto Rio Paraná. Atualmente desenvolve uma pesquisa vinculada ao Programa BIOTA da Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo) de avaliação da integridade biótica dos riachos da região noroeste do estado, na bacia do Alto Paraná, utilizando comunidade de peixes. de espécies de peixes comuns à nossa região, era dar subsídios para que os alunos percebessem a relação desses organismos com o ambiente em que vivemos, tema da segunda aula. Até então, peixe para eles era algo que existia apenas no balcão do supermercado. Porém, após a segunda aula, notei que os alunos percebe- ram que os peixes têm um hábitat que deve ser estudado e preservado, conforme pode ser visto em depoimentos de alunos. “Aprendi nos sábados a importância que os riachos têm para a biodiversidade dos peixes. Muitas espécies vivem neles e os riachos parecem não ter importância alguma. É importante preservá-los. Estudando-os temos como pensar melhor nas nossas atitudes e fazer uma reflexão de quanto eles são indispensáveis para o meio ambiente”, escreveu Joaquim Romão da Silva Neto, do Colégio Unaerp. Infelizmente esse interesse chega tarde, pois grande parte de nossos ambientes aquáticos naturais não apresentam as condi- ções adequadas para o desenvolvimento de muitas espécies nativas. Lilian Casatti (Laboratório de Ictiologia do Departamento de Zoologia e Botânica, Universidade Estadual Paulista, campus de São José do Rio Preto). 1 Instituto Florestal de São Paulo, 2002 (http://www.iflorestsp.br/oque.htm). 2 Barrela et al., 2000. As relações entre as matas ciliares, os rios e os peixes. In: Rodrigues & Leitão Filho (eds), Matas ciliares: conservação e recupera- ção, Edusp e Fapesp. Os recentes problemas decorrentes das enchentes e da crise energética têm nos feito pensar mais profundamente a respeito da água disponível em nosso planeta. Não é preciso procurar muito para chegarmos aos verdadeiros responsáveis por tal situação. Derrubamos as matas ciliares e descuidamos do nosso próprio lixo, contribuindo para que os cursos d'água sejam literalmente “soterrados” e poluídos; impermeabilizamos o pavimento das cidades, impedindo que as águas das chuvas tomem seu curso natural e acabamos por deixar de cobrar das autoridades as medidas necessárias para minimizar tal situação. Infelizmente, o ser humano tende a proteger apenas aquilo que conhece. De certa forma, um riacho lamacento não é muito convidativo a um mergulho e seria até compreensível um certo desinteresse. Porém, essa mesma água, muitas vezes escura por natureza, abriga vida e é parte de um emaranhado de veias que nutre outras vidas. Com minha experiência profissional, resolvi contribuir com o curso “As Células, o Genoma e Você, Professor” apresentando aos alunos este universo até então desconhecido: os peixes de riacho. Peixes fora d'água - Elaborei duas aulas de 4 horas cada visando o estudo da diversidade, biologia alimentar e conservação de peixes de riacho. O objetivo da primeira aula, que incluiu atividades de identificação e estudo da alimentação Alunos durante a aula ao Sábado.

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O número 7 do Jornal das Ciências fala sobre ictlologia, que é o ramo da zoologia que estuda os peixes. Outro destaque são as peças de teatro desenvolvidas pela professora Fernanda Andreoll. Para esclarecer as principais dúvidas sobre o sangue e os tipos sanguíneos, tem a entrevista com o médico Ivan Ângulo, do Hemocentro de Ribeirão Preto. Na seção “Aula de Ciências” pesquisadores esclarecem pontos importantes do transplante de medula. O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto distribuído gratuitamente aos professores da rede básica de ensino de Ribeirão Preto e região.

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Ribeirão Preto, agosto de 2002 - Nº. 1 Ano 2 1

PROJETO EDUCACIONAL CTCFACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA

PROJETO EDUCACIONAL CTCFACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA

A bióloga Lilian Casatti trabalha no Laboratório de Ictiologia, do

Departamento de Zoologia e Botânica da UNESP (Universidade Estadual

Paulista), em São José do Rio Preto.

Formada em Ciências Biológicas na Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP de Ribeirão Preto, tem mestrado e doutorado pela UNESP de

Botucatu com peixes do rio São Francisco, em São Roque de Minas (MG). E

pós-doutorado relacionado ao córrego São Carlos, Parque Estadual Morro do

Diabo e Bacia do Alto Rio Paraná.

Atualmente desenvolve uma pesquisa vinculada ao Programa BIOTA da

Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo) de avaliação

da integridade biótica dos riachos da região noroeste do estado, na bacia do

Alto Paraná, utilizando comunidade de peixes.

de espécies de peixes comuns à nossa região, era dar subsídios para que os alunos percebessem a relação desses organismos com o ambiente em que vivemos, tema da segunda aula. Até então, peixe para eles era algo que existia apenas no balcão do supermercado. Porém, após a segunda aula, notei

que os alunos percebe-ram que os peixes têm

um hábitat que deve ser estudado e

preservado, conforme pode ser visto em depoimentos

de alunos. “Aprendi nos sábados a importância que os riachos têm para a biodiversidade

dos peixes. Muitas espécies vivem neles e os riachos parecem não ter importância alguma. É importante preservá-los. Estudando-os temos como pensar melhor nas nossas atitudes e fazer uma reflexão de quanto eles são indispensáveis para o meio ambiente”, escreveu Joaquim Romão da Silva Neto, do Colégio Unaerp.

Infelizmente esse interesse chega tarde, pois grande parte de nossos ambientes aquáticos naturais não apresentam as condi-ções adequadas para o desenvolvimento de muitas espécies nativas.

Lilian Casatti (Laboratório de Ictiologia do Departamento de Zoologia e Botânica, Universidade Estadual Paulista, campus de São José do Rio Preto).

1Instituto Florestal de São Paulo, 2002 (http://www.iflorestsp.br/oque.htm).

2Barrela et al., 2000. As relações entre as matas ciliares, os rios e os peixes. In: Rodrigues & Leitão Filho (eds), Matas ciliares: conservação e recupera-ção, Edusp e Fapesp.

Os recentes problemas decorrentes das enchentes e da crise energética têm nos feito pensar mais profundamente a respeito da água disponível em nosso planeta. Não é preciso procurar muito para chegarmos aos verdadeiros responsáveis por tal situação. Derrubamos as matas ciliares e descuidamos do nosso próprio lixo, contribuindo para que os cursos d'água sejam literalmente “soterrados” e poluídos; impermeabilizamos o pavimento das cidades, impedindo que as águas das chuvas tomem seu curso

natural e acabamos por deixar de cobrar das autoridades as medidas n e c e s s á r i a s p a r a minimizar tal situação.

Infelizmente, o ser h u m a n o t e n d e a proteger apenas aquilo que conhece. De certa f o r m a , u m r i a c h o lamacento não é muito convidativo a um mergulho e seria até compreensível um certo desinteresse. Porém, essa mesma água, muitas vezes escura por natureza, abriga vida e é parte de um emaranhado de veias que nutre outras vidas. Com minha experiência profissional, resolvi contribuir com o curso “As Células, o Genoma e Você, Professor” apresentando aos alunos este universo até então desconhecido: os peixes de riacho.

Peixes fora d'água - Elaborei duas aulas de 4 horas cada visando o estudo da diversidade, biologia alimentar e conservação de peixes de riacho. O objetivo da primeira aula, que incluiu atividades de identificação e estudo da alimentação

Alunos durante a aula ao Sábado.

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O Jornal das Ciências é uma publicação bimestral da Assessoria de Comunicação do CTC/Hemocentro de Ribeirão

Preto da USP. Parte do Projeto Educacional CTC/CEPID/FAPESP, em parceria com a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. Coordenadores: Dimas Tadeu Covas, Marco Antonio Zago, Marisa Ramos Barbieri, Dalton de Souza Amorim. Redação e edição: Gabriela Zauith (MTB: 31.145). Arte e diagramação: Vinicius M. Godoi.

Colaboradores: Marisa Ramos Barbieri, Iara Maria Mora, Vinicius M. Godoi.

fone: (16) 633 8183. Internet: http://ctc.fmrp.usp.br.E-mail: [email protected]: 3.500 exemplares. Distribuição gratuita. É permitida a reprodução de textos, desde que citada a fonte.Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal.

Fotos: Divulgação/Casa da Ciência. Endereço: R. Carlos de Campos, 1474.Tele

Ribeirão Preto, agosto de 2002 - Nº. 1 Ano 2

A medula óssea é um tecido líquido que se localiza no interior dos ossos longos e chatos. Na medula óssea, são produzidas as células-tronco, também chamadas células-mãe, que se transformarão nas células sanguíneas: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas.

No tratamento do câncer, o paciente recebe irradiações, a radioterapia, e toma um coquetel de remédios, chamado de quimioterapia. Altas doses de quimioterapia ou radioterapia matam não só as células cancerosas, mas também as células sadias, incluindo as da medula óssea. Depois do tratamento, a pessoa fica fraca e sem as células produtoras de sangue, importantíssi-mas para manter o sistema de defesa do organismo funcionando. Nessa hora é preciso reabastecer a medula óssea com novas células. Então é feito o transplante de medula óssea para que ela volte a produzir células do sangue.

Dependendo do caso, podem ser utilizadas as células do próprio paciente, o transplante autólogo, que retira células da medula antes do tratamento começar; outra alternativa é buscar doadores que tenham o mesmo tipo de sangue, no caso, parentes e irmãos, chamado transplante alogênico. No transplante singênico, o paciente recebe células da medula de um irmão gêmeo idêntico.

Procura-se - Para realizar o transplante, é necessário haver total compatibilidade entre o paciente e o doador, caso contrário, a medula poderá ser rejeitada. A análise para verificar a compatibilidade é realizada com testes laboratoriais específicos, a partir de amostras de sangue do paciente e dos possíveis doadores. No caso de não haver um irmão doador que tenha o tipo de sangue compatível, a solução é procurar um doador entre os grupos étnicos semelhantes (brancos, negros, amarelos). Embora, no caso do Brasil, a mistura de raças dificulte a localização de doadores, é possível encontrá-los também em outros países. Desta forma, surgiram os primeiros

Bancos de Doadores de Medula, no qual voluntários de todo o mundo são cadastrados e consultados por pacientes de todo o planeta. Hoje, já existem mais de 5 milhões de doadores cadastrados. O Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) coordena a

pesquisa de doadores nos bancos brasileiros e estrangeiros.

Com base nas leis da genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre os irmãos (de mesmo pai e mesma mãe) é de 35% e de 0,1% entre doadores não aparen-tados (não pertencentes à família, ou não-irmão).

Encontrado o doador, este doará suas células coletadas da medula óssea ou, em alguns casos, por retirada direta da corrente sanguínea. A medula óssea é coletada do osso da bacia e colocada em recipientes

estéreis, é filtrada e então armazenada em bolsas plásticas para ser transfundida no paciente.

Recuperação - Após o transplante, durante a recuperação, um novo sistema de defesa estará crescendo e se desenvolvendo. Muitos pacientes se sentem cansados quando estão se recuperando. Podem achar dificuldade em ver televisão, ler um livro ou até em conversar por períodos mais prolongados, mas logo conseguirão retornar às suas atividades. O paciente deverá ter muito apoio da equipe do hospital e, principalmente de sua família. É muito importante que ele tente restabelecer a vida que tinha antes do transplante de medula óssea assim que se sinta preparado, dizem os médicos.

“Mas, infelizmente, em algumas raras vezes, a doença que existia pode voltar. Após o transplante, alguns pacientes ficam livres da doença inicial, mas ela pode reaparecer. Entretanto, apesar do risco, o transplante de medula óssea oferece uma grande esperança de cura. Muitos de nossos pacientes transplantados estão hoje vivendo suas vidas normalmente”, disseram as pesquisadoras Maristela Delgado Orellana e Marina Assirati Coutinho pesquisadoras e orientadoras do grupo de pesquisa “Células sangüíneas e leucemias”, em 2001.

Na medicina, em alguns casos, o próprio corpo participa do processo de cura de uma doença. Em alguns tipos de câncer, por exemplo,

o transplante de células sangüíneas da medula óssea reabilita o organismo depois do tratamento com radioterapia e quimioterapia.

Na primeira edição do segundo ano do

jornal, trazemos na matéria sobre o

programa Caça-Talentos para alunos do

ensino básico. Numa das aulas para os

alunos, a bióloga Lilian Casatti, do

Laboratório de Ictiologia da Unesp,

falou sobre os peixes de riacho. A

ictiologia é um ramo da zoologia que

estuda os peixes. Outro destaque desta edição são as

peças de teatro desenvolvidas pela

professora Fernada Andreoli. Seguindo o

sucesso da primeira peça, “O Milagre da

Vida”, ela está montando uma peça sobre o

sistema imunológico com alunos de

escolas de Sertãozinho.E para esclarecer as principais

dúvidas sobre a leitura do sangue e os

tipos sangüíneos, entrevistamos o médico

hematologista Ivan Ângulo, do Hemocentro

de Ribeirão Preto. Em Aula de Ciências,

pesquisadores esclarecem pontos

importantes do transplante de medula.

Na primeira edição do segundo ano do

jornal, trazemos na matéria sobre o

programa Caça-Talentos para alunos do

ensino básico. Numa das aulas para os

alunos, a bióloga Lilian Casatti, do

Laboratório de Ictiologia da Unesp,

falou sobre os peixes de riacho. A

ictiologia é um ramo da zoologia que

estuda os peixes. Outro destaque desta edição são as

peças de teatro desenvolvidas pela

professora Fernada Andreoli. Seguindo o

sucesso da primeira peça, “O Milagre da

Vida”, ela está montando uma peça sobre o

sistema imunológico com alunos de

escolas de Sertãozinho.E para esclarecer as principais

dúvidas sobre a leitura do sangue e os

tipos sangüíneos, entrevistamos o médico

hematologista Ivan Ângulo, do Hemocentro

de Ribeirão Preto. Em Aula de Ciências,

pesquisadores esclarecem pontos

importantes do transplante de medula.

Aliados - Thiago de Marchi Lyra, aluno do primeiro ano de Biomedicina do Centro Universitário Barão de Mauá, quer fazer estágio na Casa da Ciência. Thiago está animado com o projeto e não perde uma edição do Jornal das Ciências.

- Márcia Ferrarezi, 20 anos, estuda câncer há quatro anos, freqüenta o Caça Talentos desde 2001 e vive estagiando nos laboratórios da USP - RP. Hoje é aluna do

curso de Farmácia e Bioquímica do Centro Universitário Barão de Mauá.

Bolsistas - Alunos do Bolsa Trabalho / Coseas - USP estão acompanhando os grupos de pesquisa. Eles se envolvem com exercícios, avaliações, coletam os dados e tabulam os resultados.

- Alunos da biologia também desenvolvem projetos de pesquisa em ciências e educação.

Prêmio - O trabalho apresentado pela aluna Ana Carolina Dias, da professora Valéria Gimenez, da escola estadual Tomás Alberto Whatelly ficou entre os cinco melhores trabalhos no “43º Concurso Cientistas de Amanhã 2000”. O trabalho “Educação Ambiental e Água no Cotidiano” fala sobre o Aqüífero Guarani e as condições dos

recursos hídricos próximos à escola.

Erramos - Na reportagem de capa do JC - 6, a escola do aluno Gilson de Oliveira é Escola Estadual Glete de Alcântara.

3Ribeirão Preto, agosto de 2002 - Nº. 1 Ano 2

Como é feita a leitura do sangue?

Podemos estudar o sangue por meio de um exame, chamado hemograma, feito em laboratório. A leitura do hemograma é fundamental para a avaliação da saúde ou sua falta, no organismo. Primeiramente são avaliados a quantidade das células sanguíneas e seu aspecto morfológico, ou seja, forma, cor e tamanho das células. Se houver alterações nestes aspectos, podemos saber se o organismo está saudável ou se está submetido a algum tipo de agressão.

Como é feita a leitura de um hemograma?

A leitura de um hemograma pode ser feita de duas maneiras. Na manual, a leitura é feita com auxílio do microscópio, numa pequena quantidade de sangue em lâminas de vidro. Utilizada desde o início do século XVIII, é ainda a mais usada no Brasil. Por mais perfeito que sejam os aparelhos eletrônicos, certas informações que as células dão para gente só o olho humano detecta. Podem ser observadas riquezas de detalhes como a cor do plasma, o tamanho do glóbulo branco, que só o estudo manual consegue dar. Mas devido à grande quantidade de exames da rotina de um hospital, por exemplo, o método eletrônico facilita e dá com exatidão a contagem das células. Por outro lado, na leitura eletrônica, perdemos muitos detalhes. Um bom laboratório tem métodos manuais e eletrônicos em interação.

Quais são os sinais que mostram que o sangue não está saudável?

Num exame, podemos observar, por exemplo, o desenvolvi-mento de vacúolos quando o glóbulo branco luta contra uma bactéria muito agressiva. Também observamos o aspecto do núcleo, que se altera quando a célula está morrendo.

Como o sangue é classificado?

O sangue é classificado em grupos sanguíneos, que são uma herança genética, como a cor dos olhos e a cor dos cabelos. A herança genética fica nos glóbulos vermelhos e é passada de pais para filhos. Utilizamos dois sistemas de grupos sanguíneos, o ABO

e o de antígenos Rh. Porém são conhecidos 26 sistemas de grupos sanguíneos, mas só utilizamos as combinações do sistema ABO com o Rh (positivo ou negativo). São mais de 250 tipos de antíge-nos (substâncias químicas como açúcares e proteínas), localiza-dos na membrana dos glóbulos vermelhos.

É importante saber o nosso grupo sanguíneo?

Saber o tipo de sangue é muito importante principalmente para doar sangue. Se o indivíduo tiver um sangue raro, como O negativo, ajudará muitas pessoas que precisam dele para transfusão de sangue. É importante também, para fazer transplantes, testes de exclusão de paternida-de, e para evitar doenças de compatibilidade

em bebês recém-nascidos, que sofrem os efeitos dos anticorpos de origem materna. Outra utilidade é para os estudos de herança genética das populações, em que se estudam os genes de populações diferentes, a chamada genética populacional.

Qual a relação entre sangue e genoma?

O grupo sanguíneo pode ser estudado por meio do DNA, retirado do glóbulo branco do sangue. Uma pergunta intrigante é se apenas com estes grupos sanguíneos que utilizamos (ABO e antígenos Rh) é suficiente para que um banco de sangue faça transplantes. Então, para que serve este grande número de sistemas de grupos sanguíneos, com mais de 250 antígenos? É um mistério, pois a natureza não iria colocar toda esta complicação à toa. Devem existir outras funções desconhecidas, como relacionar doenças com os grupos de sangue. Um estudo é que os grupos sanguíneos sejam importantes para prever se as pessoas terão doenças cardíacas. Também já se sabe que a população com um determinado grupo de sangue é resistente à malária. Portanto, o genoma humano poderá ser útil para relacionar doenças com os grupos de sangue. Mas só com o avanço do genoma, em alguns anos, poderemos esclarecer estas questões.

Sabemos que o sangue é responsável pelo transporte e distribuição de nutrientes para as

células do organismo. Também já aprendemos as funções das células sanguíneas.

Resolvemos então investigar sobre como podemos ler e entender o sangue. Quais são os sinais que indicam uma boa saúde? O que o

sangue pode prever? Quem responde estas e outras perguntas é o médico hematologista e hemoterapeuta, Dr. Ivan Ângulo, assessor

do Hemocentro de Ribeirão Preto. E nos dá a dica, de que o tipo de sangue pode nos dar muitas pistas para prever e curar doenças.

e atividades extraclasse nas escolas. Paralelamente aos trabalhos de iniciação à pesquisa, as atividades devem chegar às escolas, de forma a criar “um canto” para que outros alunos possam fazer as atividades. Os formatos de apresentação podem ser diversos como desenhos, modelos, jogos, entre outros, desde que acompanhe um texto explicativo.

O Caça-Talentos é uma atividade que depende da disponibilidade dos pesquisado-res em orientar um grupo de alunos num horário compatível. Para isso, é preciso ter clareza quanto às perguntas e mais do que isso, responsabilidade com compromissos, tarefas e horários.

O chamado - A Casa da Ciência está cadastrando pesquisadores, professores, alunos e especialistas que queiram orientar hoje, “o cientista de amanhã”. Nesta primeira fase estamos dando preferência aos alunos de professores que freqüentam o curso e as aulas aos sábados no Hemocentro.

O interesse dos alunos não se restringia a assistir às aulas, mas também desenvolver trabalhos de pesquisa. Este ano, já são mais de 160 alunos, com uma programação que inclui aulas e orientações a grupos de alunos que desenvolvem um trabalho de iniciação científica.

O processo se inicia com uma pergunta, como todo trabalho científico. Como por exemplo: “se a dengue é uma doença causada por um vírus por que nossa preocupação está em acabar com os criadouros do mosquito Aedes aegypti?”. Os resultados geram um novo conhecimen-to, tanto para os alunos e professores, como para os pesquisadores. Mesmo que parciais, devem ser divulgados.

Clareza e responsabilidade - Na primeira etapa, que deve durar três meses, os grupos estão desenvolvendo atividades cujos resultados serão apresentados numa exposição. Como parte da divulgação, os alunos que acompanham seus professores têm o compromisso de auxiliá-los em aulas

Uma dessas oportunidades está no programa Caça-Talentos, que é um dos quatro programas propostos no projeto educacional em parceria com a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a USP (Universidade de São Paulo), em desenvolvimento no CTC (Centro de Terapia Celu lar ) da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto. Este programa é uma das atividades do curso de especialização para professores “As Células, o Genoma e Você, Professor”, que tem aulas aos sábados e reuniões dos sete grupos de pesquisa durante a semana. Os outros dois programas de divulgação são este Jornal das Ciências e o “Portal de Ensino de Ciências do CTC” (http://pegasus.fmrp.usp.br).

Alunos insistentes - No último ano, no decorrer do curso, alguns professores começaram a trazer seus alunos que foram conquistando espaço e participando com desenvoltura das aulas destinadas até então, exclusivamente aos professores. A quantida-de crescente de alunos insistentes provocou a abertura de um espaço exclusivo para eles.

4Ribeirão Preto, agosto de 2002 - Nº. 1 Ano 2

O tema que trabalhei com os alunos em 2001 foi “Células Sanguíneas e Leucemias” com orientação das biologistas Maristela Delgado Orellana e Lea Mara Tosi Soussumi, além do apoio de vários profissionais do Hemocentro que tratam de pacientes leucêmicos, como assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e médicos.

Por se tratar de um assunto complexo, trabalhei apenas com um grupo de alunos interessados do 3º ano do ensino médio, com encontros semanais à tarde. Eles tiveram aulas teóricas sobre os tipos de células sanguíneas, sua origem e forma-ção, bem como o mecanismo que caracte-riza o surgimento de uma leucemia e os tipos de transplante, denominados autólogo, alogênico e singênico. Também observaram células sanguíneas normais e leucêmicas ao microscópio óptico; entrevistaram pacientes leucêmicos e seus familiares no Hemocentro; confeccionaram maquetes com os tipos de células sangüí-

neas e jogos educativos a respeito de hematopoese (fabricação de células sanguíneas) e transplantes de medula óssea.

A experiência mais marcante que os alunos tiveram foi numa visita ao Hemocentro, em que entrevistaram profissionais que lidam com pacientes com doenças do sangue e visitaram as diversas alas de tratamento, bem como o destino do sangue de um doador dentro da instituição.

Numa das entrevistas, os alunos conversaram com uma paciente que havia feito transplante de medula óssea autólogo. Apesar de saber que poderia estar estéril devido às freqüentes sessões de quimiotera-pia e radioterapia, ela conseguiu engravidar de uma criança saudável.

O depoimento desta

paciente sensibilizou-me o suficiente para que eu escrevesse uma peça teatral. O elenco foi constituído de alunos que não trabalhavam diretamente comigo no projeto, mas, depois que eu expliquei todo o meu projeto, eles ficaram muito entusias-mados e fizeram um excelente trabalho.

A peça foi representada em escolas em Sertãozinho, na USP de Ribeirão Preto e, posteriormente, na Estação Ciência em São Paulo.

Fernanda Andreoli

O teatro é sem dúvida uma das atividades que mais se destaca nos grupos de pesquisa. A primeira iniciativa partiu do pesquisador Francis de Morais Franco Nunes, orientador do grupo “Genoma e Câncer” no ano passado. Entre as atividades do grupo ele dava aulas semanalmen-te para os alunos das professoras, num horário extra. A partir destes encontros, ele sugeriu que a turma fizesse uma peça de teatro com os temas que estavam estudando. E assim foi escrita e montada a peça “O Clone”.

Depois de assistir ao teatro, a professora Fernanda Andreoli, de Sertãozinho, comovida, resolveu escrever uma peça a partir do tema de seu grupo “Células Sangüíneas e Leucemias”, chamada “O Milagre da Vida”. A história da peça foi baseada numa entrevista que seus alunos fizeram com pacientes de transplante de medula óssea no Hemocentro. A peça conta a história de uma moça, Lúcia, que veio de Recife para Ribeirão Preto se tratar de leucemia e fazer o transplante de medula óssea. Durante o tratamento, ela engravidou de uma criança saudável.

Elenco - Para produzir a peça, Fernanda convidou um de seus alunos, Bruno Perticarrari, que já encenava peças na escola. O elenco, formado por alunos que não estavam no projeto com a professora, acabaram se envolvendo com o tema e aprenderam conceitos sobre leucemia, transplante de medula e as formas de tratamento. “No início não tínhamos noção nenhuma sobre leucemia. Aprendemos muita coisa, é muito interessante”, disse Bruno.

Apesar de tratar de um tema delicado como a leucemia, o grupo fez uma leitura divertida e interessante do assunto. “A doença já é difícil. Como achei o texto um pouco sério, coloquei um pouco de humor na história. Transformei tristeza em alegria”, disse o ator.

O grupo já se apresentou em escolas de Sertãozinho e na Estação Ciência, em São Paulo, para uma platéia de 400 alunos, em que foram aplaudidos em pé. “Foi um dia de artista”, define Bruno.

Nova montagem - Animada com o sucesso da peça, a professora já escreveu outra peça de teatro com o tema de pesquisa deste ano, Sistema Imunológico, que já está sendo ensaiada. Para escolher os atores, a professora fez uma selação com mais de 90 alunos inscritos das escolas estaduais Winston Churchill e M. C. R. S. Magon, em Sertãozinho. Destes, 22 foram escolhidos para o elenco.

Segundo Fernanda, o empenho dos alunos é surpreendente. “Por isso os professores devem acreditar e investir no trabalho extraclasse”.

Danilo de Carvalho Zafani, 1º ano técnico, aluno da

professora Lauciana M. Bimbati.

O Jornal das Ciências na sala de aulaO Jornal das Ciências na sala de aulaDe tal forma a educar

A integração aluno-professor deve atuar.

O conhecimento, da prática e leitura, parte.

O dito jornal traz conhecimento

E mostra uma forma

Como juntar papel e laboratório

Não obstante, vai além e ensina

Como, de matéria difícil, gostar:

Praticando

A leitura de tal informação

Só vem no aprendizado acrescentar.

Desperta o interesse no aluno

E de diferente para fazer

É o que há, aprendendo

Feliz eu vou

Pois aprendendo estou.

Apresentação do grupo na Estação Ciência, em São Paulo.