[JCARRO BR - 1] EST SUPL2/JORNAL DO CARRO/P ......2019/06/18  · um modelo moderno tem, só que com...

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+ Imóveis Engenheiro químico aposentado, Jorge La Porta recuperou sozinho várias peças do sedã feito nos EUA Classificados Jornal doCarro Plymouth de 1949 foi resgatado do ostracismo (11) 3855.2001 PARA ANUNCIAR Thiago Lasco O engenheiro químico apo- sentado Jorge La Porta é um homem de relacionamentos longos. Ele mantém na gara- gem um sedã Mercury, uma van Veraneio e uma perua Ca- ravan há 27 anos, além de um Passat, há 37. A história com o Plymouth Special Deluxe 1949 é mais recente: começou há oito anos. Mas não deve terminar tão cedo. “Sou um cara que tem dificuldade em vender os car- ros”, diz o colecionador. O sedã pertencia ao veteriná- rio que vacina os cães de La Por- ta. Ele comprou o carro, que es- tava bastante deteriorado após décadas de abandono, em Mi- guel Pereira (RJ), em 2010. Um ano depois, como o novo dono não havia dado início à reforma do Plymouth, acabou por reven- dê-lo ao aposentado. A restauração, dividida em três etapas, levou sete anos pa- ra ser concluída. Primeiro, a me- cânica foi refeita em Miguel Pe- reira. Em 2014, o sedã veio para a capital paulista, para os servi- ços de funilaria e pintura. No ano seguinte, o aposenta- do passou a cuidar ele próprio da montagem. Isso incluiu recu- perar várias peças de acabamen- to, como as lanternas feitas de plástico. “Você olha e acha que são novas. Procurei aproveitar tudo. Só desprezei um para-sol que estava condenado – e com muita tristeza”, afirma. La Porta poderia ter recorri- do a oficinas especializadas e, com isso, concluído a restaura- ção em menos tempo – o carro só ficou pronto no fim de 2017. Mas ele diz que, além de fugir dos custos elevados, preferiu manter o total controle do pro- cesso, mesmo com as eventuais dificuldades pelo caminho, que não o fizeram desanimar. “Com paciência, consegui resolver todos os problemas pendentes, e usando só as pe- ças do próprio carro. Não po- de ter pressa. A única coisa que não tem jeito é a morte. Aprendi isso com o Ply- mouth”, ele filosofa. Setentão, o modelo fei- to nos Estados Unidos exige certos rituais an- tes de sair para pas- seios. La Porta confe- re a calibragem dos pneus e checa se há va- zamento de óleo além do tri- vial. Depois, completa o reserva- tório do radiador com um litro de água, para evitar que o motor superaqueça no trânsito. Por fim, dá a partida, sempre atento a barulhos fora do comum. São cuidados necessários pa- ra garantir que o carro continue rodando sem sustos. O dono ga- rante que o Plymouth ainda tem muita lenha para queimar. “Ele é confortável, tem mecâ- nica simples e confiável e uma suspensão boa para a época dele. Traz tudo que um modelo moderno tem, só que com tecnologia de 1949”, relativiza. “O motor de seis cilindros e 3,6 litros cravou 6,5 km/l de gasolina na Rodo- via Castello Branco. É uma média de consumo que mui- tos motorzões mais novos não conseguem”, afirma. A manutenção do Plymou- th é relativamente fácil e ba- rata, segundo La Porta. Ele diz que compra peças mecâ- nicas nos EUA e adapta itens de acabamento. “Instalei um limpador de para-brisa elétri- co e gastei apenas R$ 300. Já um retrovisor sai de US$ 100 (cerca de R$ 400) para baixo. É muito menos que o preço da peça para o Ford Fusion, meu carro de uso diário”, diz. Nas ruas, o Plymouth cos- tuma chamar a atenção. Mas são poucos os que sabem de que carro se trata. “Muitos disparam: ‘que Chevrolet bo- nito!’ Outros dizem ‘meu avô teve um carro desses.’ E eu respondo: ‘pô, você está me chamando de velho?!’, em tom de brincadeira.”, As propostas de compra, que donos de antigos ouvem com frequência, não aconte- cem no caso do Plymouth. La Porta arrisca uma explica- ção. “O que leva alguém a querer um antigo é a memó- ria. Hoje a procura é por Opa- la, Passat, que marcaram a in- fância de muita gente. Os caras da minha idade, na faixa dos 60 anos, já têm seus carros. Um dia eles vão partir, e esses modelos irão para leilões ou museus, por- que não têm li- quidez”, afirma. Orgulho. La Porta levou 7 anos para concluir a restauração: ‘Não pode ter pressa’, afirma FOTOS: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO %HermesFileInfo:Co-1:20190616: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 16 DE JUNHO DE 2019 1

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EST_SUPL2 - JCARRO_BR - 1 - 16/06/19 CA01 -

Suporte Grafico - ESTADOCOR - 10-10-2010

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Engenheiro químico aposentado, JorgeLa Porta recuperousozinho várias peças do sedã feito nos EUA

ClassificadosJornaldoCarro

Plymouth de 1949 foiresgatado do ostracismo

(11) 3855.2001PARA ANUNCIAR

Thiago Lasco

O engenheiro químico apo-sentado Jorge La Porta é um homem de relacionamentos longos. Ele mantém na gara-gem um sedã Mercury, uma van Veraneio e uma perua Ca-ravan há 27 anos, além de um

Passat, há 37. A história com o Plymouth Special Deluxe 1949 é mais recente: começou há oito anos. Mas não deve terminar tão cedo. “Sou um cara que tem dificuldade em vender os car-ros”, diz o colecionador.

O sedã pertencia ao veteriná­rio que vacina os cães de La Por-ta. Ele comprou o carro, que es-tava bastante deteriorado após décadas de abandono, em Mi-guel Pereira (RJ), em 2010. Um ano depois, como o novo dono não havia dado início à reforma do Plymouth, acabou por reven-dê­lo ao aposentado.

A restauração, dividida em três etapas, levou sete anos pa-ra ser concluída. Primeiro, a me-cânica foi refeita em Miguel Pe-reira. Em 2014, o sedã veio para a capital paulista, para os servi-ços de funilaria e pintura.

No ano seguinte, o aposenta-do passou a cuidar ele próprio da montagem. Isso incluiu recu-perar várias peças de acabamen-to, como as lanternas feitas de plástico. “Você olha e acha que são novas. Procurei aproveitar tudo. Só desprezei um para-sol que estava condenado – e com muita tristeza”, afirma.

La Porta poderia ter recorri-do a oficinas especializadas e, com isso, concluído a restaura-ção em menos tempo – o carro só ficou pronto no fim de 2017. Mas ele diz que, além de fugir dos custos elevados, preferiu manter o total controle do pro-cesso, mesmo com as eventuais dificuldades pelo caminho, que não o fizeram desanimar.

“Com paciência, consegui resolver todos os problemas pendentes, e usando só as pe-ças do próprio carro. Não po-de ter pressa. A única coisa que não tem jeito é a morte. Aprendi isso com o Ply-mouth”, ele filosofa.

Setentão, o modelo fei-to nos Estados Unidos exige certos rituais an-tes de sair para pas-seios. La Porta confe-re a calibragem dos pneus e checa se há va-

zamento de óleo além do tri-vial. Depois, completa o reserva-tório do radiador com um litro de água, para evitar que o motor superaqueça no trânsito. Por fim, dá a partida, sempre atento a barulhos fora do comum.

São cuidados necessários pa-ra garantir que o carro continue rodando sem sustos. O dono ga-rante que o Plymouth ainda tem muita lenha para queimar.

“Ele é confortável, tem mecâ­

nica simples e confiável e uma suspensão boa para a época dele. Traz tudo que um modelo moderno tem, só que com tecnologia de 1949”, relativiza. “O motor de seis cilindros e 3,6 litros cravou 6,5 km/l de gasolina na Rodo-via Castello Branco. É uma média de consumo que mui-tos motorzões mais novos não conseguem”, afirma.

A manutenção do Plymou-th é relativamente fácil e ba-rata, segundo La Porta. Ele diz que compra peças mecâ­nicas nos EUA e adapta itens de acabamento. “Instalei um limpador de para-brisa elétri­co e gastei apenas R$ 300. Já um retrovisor sai de US$ 100 (cerca de R$ 400) para baixo. É muito menos que o preço da peça para o Ford Fusion, meu carro de uso diário”, diz.

Nas ruas, o Plymouth cos-tuma chamar a atenção. Mas são poucos os que sabem de que carro se trata. “Muitos disparam: ‘que Chevrolet bo-nito!’ Outros dizem ‘meu avô teve um carro desses.’ E eu respondo: ‘pô, você está me chamando de velho?!’, em tom de brincadeira.”,

As propostas de compra, que donos de antigos ouvem com frequência, não aconte-cem no caso do Plymouth. La Porta arrisca uma explica-ção. “O que leva alguém a querer um antigo é a memó­ria. Hoje a procura é por Opa-la, Passat, que marcaram a in-

fância de muita gente. Os caras da minha idade, na

faixa dos 60 anos, já têm seus carros.

Um dia eles vão partir, e esses modelos irão

para leilões ou museus, por-

que não têm li-quidez”, afirma.

Orgulho. La Porta levou 7 anos para concluir a restauração: ‘Não pode ter pressa’, afirma

FOTOS: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

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