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Gabriel
ANAIS DA IX JORNADA NESPRO
Gabriel
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ANAIS

IX JORNADA NESPRO

PECUÁRIA AGRÍCOLA: NOVOS CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO

Editores Ana Paula Leães Daniele Zago Eduardo Antunes Dias Gabriel Ribas Pereira Matheus Dhein Dill Júlio Otávio Jardim Barcellos

Gabriel
Gabriel
Gabriel
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

NÚCLEO DE ESTUDOS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE

BOVINOS DE CORTE E CADEIA PRODUTIVA / NESPRO

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Realização NESPRO / UFRGS – Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva SENAR / RS - Serviço Nacional de Aprendizado Rural SEBRAE - Serviço Brasileireo de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

CIP - CATALOGAÇÃO INTERNACIONAL NA PULBICAÇÃO

CIP!–!Catalogação!na!Publicação!Biblioteca!Setorial!da!Faculdade!de!Agronomia!da!UFRGS!Bibliotecária:!Elisângela!da!S.!Rodrigues!D!CRB10/1457!

J82a JORNADA NESPRO (9. : 2014 : Porto Alegre, RS) Anais!/!IX!Jornada!NESPRO;!editado!por!Ana!Paula!Leães!...![et!al.].!

Porto!Alegre!:!NESPRO/UFRGS,!2014.!

176!!p.!

1.!Pecuária!2.!Bovinocultura!de!corte!3.!Produção!aninal!I.!Título!II.!NESPRO!D!Núcleo!de!Estudos!em!Sistemas!de!Produção!de!Bovinos!de!Corte!e!Cadeia!Produtiva!III.!Leães,!Ana!Paula!(Ed.)!IV.!Zago,!Danielle!(Ed.)!V.!Dias,!Eduardo!Antunes!(Ed.)!VI.!Pereira,!Gabriel!Ribas!(Ed.)!VII.!Dill,!Matheus!Dhein!(Ed.)!VIII.!Barcellos,!Júlio!Otávio!Jardim!(Ed.)!

CDD:!636.2063!

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Patrocinadores ABHB – Associação Brasileira de Hereford e Braford ALLTECH AZEVEDO BENTO S.A. SEBRAE - FARSUL - SENAR/RS Apoiadores Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Conselho Regional de Medicina Veterinária / RS (CRMV /RS) Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) Fundação de Apoio da Universidade do Rio Grande do Sul (FAURGS) Programa de Pós Graduação em Zootecnia (PPG- Zootecnia / UFRGS) Faculdade Agronomia / UFRGS Pró Reitoria de Pesquisa (Propesq / UFRGS) Pró Reitoria de Extensão (Prorext / UFRGS)

Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO) Av. Bento Gonçalves, 7712 - 91540-000 - Porto Alegre - RS - Brasil

Telefone: (51) 3308-6958 - Fax: (51) 3308-6039 E-mail: [email protected]

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Apresentação da IX Jornada NESPRO

O Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e

Cadeia Produtiva (NESPRO) foi criado em 2006 e está institucionalmente

vinculado ao Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O NESPRO atua no

desenvolvimento e execução de projetos de pesquisa que gerem informações

capazes de auxiliar no desenvolvimento científico e tecnológico da bovinocultura

de corte, bem como em ações de extensão. Anualmente realizamos uma Jornada

científica com o objetivo de apresentar as perspectivas da pecuária brasileira.

Neste ano de 2014, a IX edição da Jornada NESPRO, tem como temática

“PECUÁRIA AGRÍCOLA: NOVOS CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO”. O

principal propósito do evento é discutir como a pecuária brasileira e gaúcha

podem utilizar alguns conceitos inerentes à agricultura (eficiência na produção,

gestão de alto desempenho, tecnologia de ponta empregada nos cultivos

agrícolas) no próprio setor, visando torná-lo mais competitivo.

!

! !

Atenciosamente,

Prof. Dr. Júlio Otávio Jardim Barcellos Coordenador do NESPRO

Porto Alegre, setembro de 2014. !

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!

!

Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO) Av. Bento Gonçalves, 7712 - 91540-000 - Porto Alegre - RS - Brasil

Telefone: (51) 3308-6958 - Fax: (51) 3308-6039 E-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

Rumos da pecuária de corte do RS e desafios para a pesquisa científica na visão da EMBRAPA - Pecuária Sul. Alexandre Varella ................................................................................................. 10 Para onde vai a pecuária. Valter José Potter ................................................................................................. 29 O horizonte da pecuária Brasileira. Alcides de Moura Torres Junior ........................................................................... 31 Saúde integral na produção de bovinos de corte. Adil Knackfuss Vaz …........................................................................................... 38 Aditivos nutricionais para a pecuária intensiva (pastagens, suplementação e confinamento). Pedro Veiga Paulino ............................................................................................ 45 Intensificação da produção animal em pasto por meio do manejo do pastejo. Sila Carneiro da Silva .......................................................................................... 89 Pecuária de precisão e rastreabilidade. Pedro Paulo Pires .............................................................................................. 113 O consumidor de carnes - o que sabemos sobre ele? Fabiana Farah .................................................................................................... 121 Simulando a escolha da estratégia para o sistema de produção. Vinicius do Nascimento Lampert ........................................................................ 131 Gestão pelo sistema de custos. Ricardo Pedroso Oaigen .................................................................................... 148 Novas estratégias de comercialização de bovinos de corte. Paulo Rodrigo Xavier Pereira ............................................................................. 171

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Rumos da pecuária de corte do RS e desafios para a pesquisa científica na visão da Embrapa Pecuária Sul

Eng. Agr. Alexandre Costa Varella Chefe Geral e Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul

Med. Vet. Fernando Flores Cardoso Chefe Adjunto P&D da Embrapa Pecuária Sul!

Projeções do mercado do agronegócio no Brasil e a cadeia da carne neste contexto É senso comum que o Brasil guarda uma posição privilegiada nos cenários

futuros do agronegócio internacional. Em primeiro lugar, pela disponibilidade de

área para a produção de grãos, carnes e outras atividades agropecuárias.

Adicionalmente, as condições climáticas, com insolação e temperatura

adequadas, chuvas regulares na maioria das regiões brasileiras, favorecem a

adaptação e produção de uma diversidade de culturas agrícolas e a criação de

rebanhos. A política agrícola, com crédito de investimento, custeio,

armazenamento e comercialização e juros compatíveis, igualmente dá

sustentação para o desenvolvimento das cadeias produtivas. Outro fator

competitivo favorável é a disponibilidade de tecnologias no campo que aproveitem

melhor o solo, reduzam o uso de agroquímicos, melhorem a eficiência e diminuam

uma parcela importante dos gases de efeito estufa que causam aquecimento

global. Finalmente, o País desfruta de um mercado interno de consumidores em

expansão e amplas possibilidades de comercio exterior para seus produtos

agropecuários e agroindustrializados.

No mercado da carne, as projeções também são de crescimento nos

próximos anos. Segundo estudos do MAPA (BRASIL [b], 2014), a produção total

de carnes deve passar de 26,5 milhões de toneladas em 2013 para 35,8 milhões

em 2023 no Brasil, representando um acréscimo de 34,9%. A produção de carne

bovina deve responder por um crescimento de 22,5% neste período. Esta

projeção é acompanhada de um cenário crescente de consumo per capita,

favorecida pelo aumento da renda interna e pela preferência do brasileiro em

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consumir a carne bovina. O crescimento projetado para o consumo da carne é de

3,6% ao ano no período 2013 a 2023. Isso significa um aumento de 42,8% no

consumo da carne bovina nos próximos 10 anos. No cenário internacional, a

projeção também indica uma demanda crescente por carne bovina,

especialmente na Rússia, EUA, Japão, Países do Norte da África e Meio Leste

Europeu. Isto deverá transformar-se em oportunidades para a carne bovina

brasileira no mercado de internacional, resultando em uma projeção de

crescimento médio anual de 2,5% ao ano nas exportações brasileiras deste

produto, segundo o MAPA. Neste cenário internacional, o Brasil deverá ocupar a

segunda posição nas exportações mundiais de carne bovina, atrás apenas da

Índia e à frente dos EUA e Austrália. Do aumento de produção de carne até 2023,

75% serão destinados ao mercado interno para dar conta da expansão do

consumo pelos brasileiros. Isso demonstra que mesmo com a ampliação da

demanda internacional, o consumo doméstico será o principal destino da

produção de carne bovina brasileira.

Igualmente, o cenário para a carne do Rio Grande do Sul é promissor. Com

o aumento das exportações e do consumo interno no País, o crescimento da

cadeia de carnes do RS será consistente. A vantagem competitiva da carne

gaúcha em termos de maciez, suculência e sabor, devido a origem genética

europeia dos rebanhos, deverá diminuir em relação à área tropical do Brasil. A

“tropicalização” das raças britânicas de corte e suas sintéticas deverá se ampliar

nos principais Estados produtores tropicais, como MT, MS, GO e SP. Entretanto,

outros diferenciais como a alimentação baseada em pastagens, traduzida em

características organolépticas distintas, os serviços ambientais prestados pelos

sistemas de produção, as certificações nos processos de produção e do produto e

excelência genética deverão garantir nichos de mercados internacionais e

domésticos mais exigentes.

As modificações da ocupação territorial e a pecuária no RS Além das projeções mercadológicas para a carne, é importante também

considerar que a ocupação e o uso do território no Estado do Rio Grande do Sul

com as atividades agropecuárias vêm passando por modificações importantes

nos anos recentes e este fenômeno deve se refletir na cadeia da pecuária de

corte. O reordenamento territorial, desacompanhado de um planejamento e

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orientação pelo poder público, vêm provocando mudanças na atividade pecuária.

A pecuária de corte do Estado do RS tem sido essencialmente baseada na

pastagem nativa. Entretanto, desde os anos 2000, a área de pastagem nativa no

RS vem diminuindo sensivelmente e perdendo espaço para outras atividades,

como a silvicultura e as lavouras de grãos. Por exemplo, entre 2004 e 2010,

significativos investimentos florestais foram realizados no Estado, com destaque

para a metade sul do RS. Somente neste período, as áreas de florestas plantadas

passaram de 407 para 738 mil ha aproximadamente (ABRAF, 2012; FEPAM,

2014), sendo grande parte desta estabelecida nas regiões Sul, Campanha e

Fronteira Sudoeste do RS, particularmente em áreas originalmente exploradas

com pecuária. Além das florestas, as lavouras de grãos também vêm aumentando

sua ocupação no território gaúcho nos últimos 5 anos de forma significativa,

passando de 7,35 para 8 milhões de há (BRASIL [a], 2014), com destaque para o

crescimento da área de soja na metade sul do Estado (Figura 1).

Figura 1. Rebanhos bovino de corte, leite e ovinos , área plantada com grãos

e com florestas de eucalipto, pinus e acácia no Estado do RS desde 2009

até 2014 . As informações sobre os rebanhos são médias dos dados da

SEAPA/RS1, IBGE e ANUALPEC 2014. Informações das lavouras de grãos

são da CONAB e das florestas plantadas da AGEFLOR1, ABRAF e

SEMA/UFSM1.

Estima-se que grande parte do crescimento florestal (331 mil ha) e de

lavouras temporárias (650 mil ha) no Estado, nos últimos 5 anos, ocorreu as

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expensas das áreas de campo nativo explorado com pecuária de corte, embora

também se reconheça que a soja tenha ocupado áreas típicas de arroz em terras

baixas e de outras culturas agrícolas anuais no Estado. Para melhor compreender

a situação da ocupação de áreas com culturas agrícolas, florestais e pastagem

nativa no RS atualmente, pode se visualizar a Figura 2 que mostra,

sinteticamente, as áreas remanescentes com campo para pecuária (6,83 milhões

de ha), silvicultura (704 mil ha) e as áreas antropizadas (FEPAM, 2014; BRASIL

[c], 2014), ocupadas com agricultura e áreas urbanas. Somente a soja, ocupa

atualmente 4,89 milhões de ha e o arroz irrigado outros 1,12 milhões de ha

(BRASIL [a], 2014). Apesar disso, neste período, observa-se que o rebanho de

corte gaúcho praticamente manteve-se estável no Estado (Figura 1), bem como a

quantidade de bovinos abatidos (Figura 3). Percebe-se claramente, portanto, que

a pecuária de corte vem perdendo parte de sua base alimentar para as atividades

agrícolas e florestais nos últimos anos, embora tenha conseguido manter sua

população de bovinos e ovinos e a quantidade de abates no Estado. Um fato

significativo é o aumento de áreas de soja em terras baixas que antes eram

aproveitadas com pecuária de corte (terras em pousio), já que a área plantada de

arroz vem se mantendo relativamente estável nos últimos 5 anos. Dados do IRGA

(2014) estimam aproximadamente 302 mil ha de soja em terras baixas no RS.

Das Figuras 1 a 3, conclui-se que a pecuária de corte vem conseguindo manter-

se inalterada, possivelmente pela intensificação das áreas remanescentes com

pastagem nativa e nativa melhorada e com as pastagens de inverno,

estabelecidas nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). 1Comunicação pessoal. Acesso a base de dados.

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Figura 2. Ocupação territorial com vegetação natural campestre, floresta

nativa, silvicultura e áreas antropizadas urbana e rural no Estado do RS.

Dados obtidos com o MMA e FEPAM. Mapa produzido pela Embrapa.

Figura 3. Quantidade total de bovinos abatidos no Estado do RS entre 1997 e

2013. Fonte: IBGE (Base de dados SIDRA).

Estas modificações de ocupação territorial se refletirão diretamente em

toda a cadeia pecuária, pressionando para uma maior intensificação e eficiência

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dos sistemas produtivos. Analisando mais especificamente os sistemas de

produção no RS, observa-se uma menor especialização dos sistemas agrícolas

em detrimento da integração com a pecuária. Um desafio importante será como

acomodar os rebanhos em reprodução nas áreas remanescentes, durante o

período de crescimento das culturas agrícolas de verão, sem necessariamente

diminuir a natalidade e a taxa de desmame. A pecuária de cria e recria precisará

passar por um processo de intensificação no Estado do RS, melhorando seus

índices reprodutivos e produtivos para atender a demanda projetada. Por este

motivo, o mercado por terneiros(as) desmamados(as) com padrão genético e

peso será ampliado e os preços deverão continuar se valorizando para esta

categoria. Os riscos de redução de rebanho no território gaúcho não são

desprezíveis e os produtores terão que adotar uma postura mais empreendedora

(como produtores e gestores) para a pecuária, se quiser atender a demanda

prevista, manter a produtividade de seus rebanhos e ainda assegurar o aumento

da rentabilidade.

Portanto, o caminho natural da intensificação da pecuária será o da

integração com a agricultura (em terras baixas e altas) e do ressurgimento do

interesse dos produtores pelas técnicas de melhoramento do campo nativo em

larga escala na propriedade. De fato, a população de bovinos de corte vem se

mantendo praticamente estável no Estado, tendo registrado aproximadamente 12

milhões de cabeças no RS (dados médios IBGE 2012, SEAPA1; ANUALPEC

2014). Esta pecuária passará necessariamente por novos modelos de ILP, onde

se possa abrir espaço para a rotação de culturas agrícolas de verão com sistemas

forrageiros anuais de verão ou por sistemas que permitam rotações mais longas,

usando uma combinação de forrageiras perenes e anuais no sistema. Ainda

assim, será fundamental aportar fortes investimentos nas práticas de

melhoramento do campo nativo e, simultaneamente, ampliar a atuação conjunta

da assistência técnica e da pesquisa na pecuária familiar, responsável por uma

parcela importante dos sistemas de cria no RS.

A tendência de inversão das janelas de oferta de carne será confirmada no

mercado, tendo em vista o melhor desempenho por animal e por área em

pastagens de outono/inverno, particularmente em sucessão com a

soja/milho/arroz, e maior dificuldade nos períodos de verão e início de outono.

Assim, continuará havendo uma escassez estacional de carne no verão

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(especialmente de janeiro a março), quando se estabelecerá definitivamente o

período de “entressafra” na pecuária. No verão, os animais estarão concentrados

em áreas menores de pastagens, forçando a recuperação de áreas degradas no

campo (invadidas com Capim Annoni ou com problemas de erosão), o uso

estratégico de suplementação (mineral e concentrado), o estabelecimento de

pastagens de anuais verão (sudão, milheto e sorgo forrageiro), a aplicação da

irrigação em pastagens ou o uso de sistemas semiconfinados nas propriedades. A

pecuária de cria deverá migrar cada vez mais para áreas marginais à agricultura

(campos de altitude, solos rasos e arenosos), porém pressionadas pelos limites

do novo código florestal. Deverão surgir também novas estratégias de terminação

em pastagem de verão com suplementação ou irrigação para tirar vantagens dos

maiores preços da nova entressafra em sistemas mais tecnificados. 1Comunicação pessoal. Acesso a base de dados.

Também poderá haver o estabelecimento de nova época reprodutiva no

rebanho de corte, migrando para o final do inverno com nascimentos no outono,

quando haverá a pastagem de inverno nos sistemas ILP e nos campos

melhorados. Haverá uma valorização adicional à genética melhor adaptada aos

novos ambientes de criação, com destaque para a eficiência alimentar em

pastagem e resistência a problemas de sanidade animal (carrapato e tristeza

parasitária bovina). O rebanho gaúcho de corte deverá passar por um processo

mais acelerado de padronização genética com o predomínio de raças britânicas e

suas sintéticas. Essa genética também ocupará maior espaço em propriedades

rurais da área tropical, a partir do melhoramento genético animal para maior

adaptação àquele ambiente e para a resistência ao carrapato. Este fato deverá

fortalecer o comércio de reprodutores e matrizes com o diferencial genético da

pecuária do RS.

A valorização dos protocolos de certificação e a identificação animal é uma

tendência forte para os sistemas pecuários, considerando as exigências cada vez

maiores do mercado por segurança dos alimentos. Será também valorizado o

rastreamento da informação dentro e fora da propriedade, o protocolo de boas

práticas em bovinocultura de corte, as características qualitativas e sensoriais da

carne a pasto, a segurança do alimento e os serviços ambientais prestados.

Neste sentido, a carne gaúcha poderá explorar importantes nichos de mercado

internacional e mercados domésticos sofisticados, com a valorização comercial do

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produto. Ganhará força as organizações dos produtores em associações e

cooperativas e o estabelecimento de alianças mercadológicas com indústrias, o

varejo e o atacado, eliminando o intermediário do processo. Com a padronização

dos sistemas produtivos e a adoção das boas práticas em todas as etapas de

produção da carne, o mercado do couro e da pele tenderá a crescer, oferecendo

rentabilidade adicional aos produtores.

Organização de demandas e estratégia de atuação das instituições de C&T Todas estas projeções produzirão uma grande demanda por tecnologias e

um cenário favorável para a pesquisa científica e desenvolvimento (P&D) e a

transferência de tecnologias (TT). As instituições de C&T deverão trabalhar

intensamente para atender os passivos, as demandas presentes, além de se

mostrarem capazes de antever cenários de riscos para a pecuária e se preparar

com soluções rápidas. Com essa premissa, a Embrapa Pecuária Sul vem,

estrategicamente, monitorando e debatendo os principais cenários e

necessidades da cadeia produtiva da carne nos campos sulbrasileiros e adotando

o devido alinhamento em sua programação de P&D e TT.

Uma iniciativa recente foi o levantamento de informações para a

atualização da agenda estratégica da Unidade. Elaborou-se um questionário on-

line com 54 perguntas, visando identificar as tendências do setor agropecuário na

Região Sul do Brasil e as principais oportunidades e ameaças para o

cumprimento da missão da Embrapa Pecuária Sul. Esse questionário foi enviado

para 124 informantes estratégicos, envolvendo parceiros, clientes e

colaboradores. As questões foram classificadas pelos avaliadores quanto a sua

percepção de relevância (impacto) para nortear a atuação da Embrapa Pecuária

Sul de acordo com a seguinte escala:

• 1 (não é uma tendência/baixíssimo impacto); 2 (baixo impacto); 3 (médio

impacto); 4 (alto impacto) e 5 (altíssimo impacto).

Além disso, os informantes também classificaram a urgência que a

Embrapa Pecuária Sul deveria direcionar seus esforços na capitalização de

oportunidades e/ou neutralização de ameaças relacionadas ao item, também de

acordo com a seguinte escala:

• 1 (não se aplica/baixíssima urgência); 2 (baixa urgência); 3 (média

urgência); 4 (alta urgência) e 5 (altíssima urgência).

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Inicialmente foi obtida a média aritmética das respostas de todos os

avaliadores para cada pergunta, quanto ao impacto/relevância e urgência e esses

valores apresentados em gráfico de dispersão no qual o eixo das abcissas

representa o impacto e das ordenadas a relevância da questão, conforme a

Figura 4.

Figura 4. Média aritmética do impacto e da urgência das questões

avaliadas (1-53) pela Embrapa Pecuária Sul em 2013.

Da Figura 4, destaca-se o resultado sistematizado com as questões

consideradas de ALTA IMPACTO E ALTA URGÊNCIA para a cadeia produtiva da

carne (Tabela 1).

I"

M"

P"

A"

C"

T"

O"

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Tabela 1. Questões com ALTO IMPACTO e ALTA URGÊNCIA para a pecuária do

RS, segundo levantamento estratégico da Embrapa Pecuária Sul. Questão Impacto Urgência

[8] Incentivo ao desenvolvimento e adoção de novas tecnologias,

práticas e processos agropecuários para mitigar efeitos da

estiagem e aumento de demanda por tecnologias para uso

eficiente da água

4,47 4,42

[2] Avanço dos sistemas de produção agrícolas, florestais e

agroenergéticos sobre áreas de pecuária nos Campos Sul-

Brasileiros

4,4 4,13

[10] Aumento da necessidade de assistência técnica capacitada

para implementar os avanços tecnológicos no campo

4,37 4,15

[35] Maior colaboração da Embrapa Pecuária Sul na formulação de

políticas públicas regionais e nacionais no âmbito da pecuária

4,27 4,29

[12] Ampliação da interação das instituições de pesquisa,

desenvolvimento e inovação com as cadeias produtivas

4,27 4,19

[5] Aumento de produtividade e da eficiência dos sistemas

agropecuários, com verticalização da produção

4,26 4,05

[27] Aumento do impacto de barreiras sanitárias no comércio de

produtos cárneos e lácteos

4,26 4

[11] Ampliação de ações de transferência de tecnologia e

capacitação técnica de multiplicadores

4,24 4,03

[28] Controle restritivo quanto à presença de resíduos químicos na agroindústria de produtos cárneos e lácteos

4,18 4,05

[53] Organização, sistematização e disponibilização de dados

referentes aos sistemas de produção e produtos gerados pelas

cadeias produtivas de bovinos de corte e leite e ovinos

4,16 4,15

[42] Redução da informalidade no abate de bovinos e ovinos no

RS

4,15 4,1

[44] Melhoria da percepção da qualidade de produtos (carne e

leite) pelos consumidores nacionais e internacionais

4,1 4

[4] Maior integração dos sistemas produtivos envolvendo

pecuária, lavoura e, em menor escala, florestas no Sul do Brasil

4,1 3,98

Outro importante levantamento realizado foi durante o “Programa Sala de

Antecipação” do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),

realizado com as instituições de C&T, assistência técnica e extensão rural e

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lideranças rurais. Neste levantamento, foram listas as seguintes avaliações sobre

a pecuária de corte do RS:

! Ampla variabilidade de raças e tipo animal;

! Baixo número de técnicos qualificados para pecuária;

! Baixo uso de genética superior e adequação do genótipo ao ambiente;

! Baixa eficiência na utilização dos recursos naturais disponíveis para

alimentação dos rebanhos;

! Falta de planejamento e gestão da água para os rebanhos (armazenamento,

uso e controle qualidade) e dos alimentos ofertados aos animais;

! Controle sanitário deficiente;

! Idade de abate elevada e baixo desfrute;

! Alta variabilidade dos padrões das carcaças;

! Baixo padrão sanitário do produto;

! Manejo inadequado das pastagens.

Deste levantamento, surgiram demandas para a P&D e a TT:

! Ferramentas de manejo de pastagens (nativa e cultivada);

! Práticas para recuperação de pastagens degradadas;

! Eficiência reprodutiva;

! Ampliar a utilização de estratégias de controle sanitário;Planejamento

forrageiro;

! Preservação de mananciais. Adequação da pecuária ao código florestal;

! Intensificação dos sistemas de cria, recria e terminação;

! Difusão de práticas de manejo para redução de pressão de seleção para

resistência aos antihelmínticos.

Além disso, a Embrapa possui um Comitê Assessor Externo, composto por

lideranças do setor rural e por profissionais das áreas de P&D e TT de outras

instituições e que monitoram, discutem e orientam a agenda estratégia da

Unidade. Em sua última reunião executiva, o CAE Embrapa Pecuária Sul,

destacou as seguintes demandas tecnológicas para a agenda da Embrapa na

cadeia pecuária de corte:

! Manejo do solo na perspectiva da integração lavoura e pecuária;

! Uso eficiente da água nos sistemas pecuários;

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! Enfrentamento do capim annoni;

! Controle de ecto e endo parasitas;

! Cultivares e sementes forrageiras adequadas para integração e

intensificação dos sistemas pecuários;

! Melhoramento genético animal.

A importância da Embrapa, contribuindo para a elaboração de políticas

públicas e o reforço às ações da extensão rural e da assistência técnica, por meio

de dinâmicas de capacitação de técnicos e de redes de referências, também

foram elencadas pelo CAE CPPSUL como ações importantes a serem priorizadas

pela Unidade. As. Além disso, as tendências de pressão da sociedade sobre a

agricultura e a pecuária deveriam ser melhor captados em resultados de

pesquisas para que contribuam com a consolidação de indicadores que permitam

a valorização da diferenciação da pecuária do sul do País (aspectos da

multifuncionalidade, do bem-estar animal e dos gases de efeito estufa, como

alguns exemplos de desafios).

Finalmente, citam-se as demandas e desafios levantados pela Câmara

Setorial da Carne do Estado do RS (SEAPA1), realizada com a participação da

Embrapa, outras instituições técnico-científicas e representantes de toda a cadeia

pecuária do RS. Basicamente, este trabalho sugere um esforço concentrado em

três eixos principais: aumentar a eficiência produtiva; fortalecer o sistema e as

condições de sanidade animal; promover o mercado da carne com diferenciações

de produto. Entre as estratégias de ação, foram feitas as seguintes

recomendações:

• Políticas públicas para ATER e ampliação da consultoria privada

especializada;

• Formação, capacitação e alinhamento dos agentes de transferência de

tecnologias;

• Aplicação de tecnologias sustentáveis e sistemas de gestão nas

propriedades;

• Apoio às organizações de produtores e alianças;

• Promover o bom uso dos recursos naturais (campo) disponíveis para

melhoria da nutrição do rebanho gaúcho;

• Organização da base produtiva para promoção tecnológica e comercial;

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! 22!

• Desenvolvimento de conhecimento adequado aos sistemas de produção

potencialidades;

• Desenvolver um selo comum para a carne gaúcha com foco nas exigências

de sanidade, rastreabilidade, boas práticas agropecuárias (BPA) e escala

(constância);

• Promoção comercial da carne (prospecção, cenários, perfil de demanda,

capacidade de oferta);

• Rastreabilidade ou identificação animal;

• Benchmarketing (referências);

• Governança da cadeia produtiva da carne por instituto representativo;

• Padronização e classificação da carne em todo o território gaúcho;

• Escala e constância de produção;

• Fortalecimento do serviço veterinário oficial.

Considerando riscos futuros mais relevantes para a cadeia pecuária, os

levantamentos realizados também apontaram como possíveis os seguintes

cenários e os correspondentes desafios para a pesquisa científica:

• Ampliação excessiva das áreas de agricultura no Estado. Como manter a

atividade pecuária nestes cenários. Quais os modelos de intensificação

mais sustentáveis?

• Reversão do quadro de expansão da agricultura no RS, tendo em vista o

aumento da frequência das estiagens, crise de mercado e preços para os

grãos, ocorrência de pragas ou moléstias de grande impacto ou elevação

exacerbada de custos na lavoura. Como estar preparado para a retomada

das áreas de agricultura pela pecuária? Quais os modelos mais

sustentáveis?

• Expansão descontrolada da invasão do Capim Annoni nas remanescentes

áreas de pastagem nativa do RS. Quais as soluções emergenciais? Como

prevenir a infestação em áreas ainda não atingidas? Qual o manejo

integrado mais eficiente para seu controle? 1Comunicação pessoal. Acesso a

base de dados.

• Excessiva intensificação da pecuária de corte, com predomínio de sistemas

altamente dependentes de insumos e recursos externos. Quais as técnicas

sustentáveis de redução desta dependência? Como reintroduzir espécies

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forrageiras nativas de qualidade nos sistemas e recuperar áreas

degradadas?

• Perda de nichos de mercado para a carne gaúcha, com a tropicalização

das raças britânicas e suas sintéticas e a produtividade dos sistemas

tropicais. Como garantir qualidade, diferenciação e valorização da carne

gaúcha a longo prazo?

• Ocorrência repentina de problemas sanitários capazes de restringir

mercados e aumentar mortalidade nos rebanhos? Como as instituições

precisam estar preparadas e acordadas para os casos emergenciais?

Como apoiar ações de prevenção e de defesa sanitária? Como adaptar a

genética às ameaças mais prováveis?

• Baixa capacitação, motivação técnica e gerencial disponível para

administrar sistemas pecuários mais complexos (ILPF) e para orientar

decisões estratégicas em propriedades rurais. Como padronizar o perfil

técnico e gerencial dos produtores pecuaristas no RS e prepara-los para

conduzir negócios compatíveis com uma pecuária moderna e competitiva?

Mapa de oportunidades para a pesquisa em pecuária de corte. É possível um alinhamento e uma pactuação entre as instituições para atender os desafios?

Com base na análise dos cenários interno e externo e a organização das

demandas registradas pela cadeia produtiva da pecuária de corte, a Embrapa

Pecuária Sul se desafiou a desenhar um mapa de oportunidades para a pesquisa,

desenvolvimento e transferência de tecnologias. Este mapa estratégico foi

construído, de forma coletiva, com a equipe técnica da Embrapa Pecuária Sul, a

partir dos levantamentos realizados com a cadeia produtiva, contemplando ações

de curto e médio prazo, onde o foco central é o aumento da competitividade da

pecuária no sul do Brasil.

A equipe técnica da Unidade definiu uma pecuária competitiva como

aquela que, além de “produzir de maneira eficiente no curto prazo, conserva os

recursos naturais e culturais, promove a valoração da imagem de seus produtos,

mantém sua capacidade de oferecer serviços ambientais, apresenta uma

qualidade de produto diferenciada, reconhecida e sem resíduos e apresenta uma

organização da cadeia que seja capaz de inovar e garantir a durabilidade da

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! 24!

atividade para as gerações futuras”. A Figura 5 sumariza o Mapa de Oportunidades para as instituições de C&T e TT que trabalham com a pecuária

dos campos sulbrasileiros:

Figura 5. Mapa estratégico de oportunidades para a P&D e TT em pecuária

dos campos sulbrasileiros.

Na Figura 5, são observados cinco principais direcionadores que foram

identificados com a competitividade da pecuária:

1. Eficiência produtiva e econômica: O objetivo principal é promover/desenvolver

práticas e/ou processos que visem o aumento sustentável da eficiência

produtiva e econômica da pecuária dos Campos Sul-Brasileiros, através de

ações direcionadas a regularização da produção, garantia da segurança

alimentar/sanidade animal, melhor gestão da produção, fomento a sistemas

integrados (ILPF), maior intensificação com sustentabilidade, eficiência

reprodutiva, melhoramento genético animal e de forrageiras;

2. Conservação e Recuperação de Campos: Desenvolver práticas e/ou

processos que promovam o uso e o manejo racional dos recursos naturais,

focado nas características edafoclimáticas e adaptativas dos Campos Sul-

Brasileiros. Para tanto, a Unidade deve priorizar esforços em ações de

conservação e uso racional do solo e de água, valorização dos serviços

ecossistêmicos exercidos pela pecuária e controle de invasoras nas

pastagens, particularmente do Capim Annoni;

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3. Processos para Valoração de Produtos: Identificar e/ou promover

processos/práticas que diferenciem e/ou qualifiquem os produtos da cadeia

pecuária do Sul do Brasil. Neste eixo, as ações devem ser direcionadas para

protocolos de valorização dos produtos, boas práticas na pecuária, redução na

emissão e aumento de sequestro de carbono, ampliação de mercados para

produtos diferenciados, rastreabilidade da produção e do produto, qualidade,

inovação no processamento e aproveitamento da carne e leite e bem-estar

animal;

4. Mitigação dos Efeitos da Estiagem: Desenvolver práticas, processos e/ou

tecnologias para o uso eficiente dos recursos hídricos e forrageiros, mantendo

a produtividade em períodos de estiagem. Trata-se de direcionar ações para o

desenvolvimento de sistemas irrigados em pecuária, de cultivares forrageiras

tolerantes ao estresse hídrico e o correto planejamento forrageiro, com ênfase

nos períodos de escassez alimentar;

5. Sistema de Informações: Conhecer a distribuição e organizar informações da

cadeia pecuária de corte, avaliar a sustentabilidade dos sistemas, promover

ações para adoção de tecnologias pelo setor produtivo e melhorar a imagem

da atividade junto ao consumidor. Significa dirigir ações prioritárias da

Embrapa Pecuária Sul e seus parceiros para o zoneamento de forrageiras no

sul do Brasil, desenvolver indicadores de sustentabilidade para agregação de

valor aos produtos, monitoramento dos aspectos socioculturais dos

pecuaristas, marketing e promoção da carne e do leite do sul do Brasil e

transferência das tecnologias desenvolvidas para a cadeia pecuária.

Em relação ao Mapa de Oportunidades, a Embrapa Pecuária Sul vem

realizando o alinhamento de suas ações e atividades com os eixos definidos. A

Figura 6 mostra, por exemplo, que 44% das atividades atuais estão concentradas

no eixo “Eficiência Produtiva e Econômica”, 25% com “Sistema de Informações”,

17% com “Processos de Valoração de Produtos”, 12% com “Conservação e

recuperação de Campos” e apenas 2% no eixo “Mitigação dos Efeitos da

estiagem”. Os direcionadores “Melhoramento Genético animal e Vegetal”,

“Transferência de Tecnologias” e “Sanidade Animal/Segurança do Alimento” são

os mais frequentes em projetos/ações/atividades liderados pela Unidade da

Embrapa. É importante ressaltar que alguns projetos/ações podem atender mais

de um eixo, mas, para esta quantificação, foi escolhido o eixo predominante em

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execução. Observa-se, ainda, que alguns direcionadores não estão sendo

contemplados na atual programação da Embrapa. A partir desta análise do Mapa,

a gestão de P&D e TT da Unidade é ajustada anualmente e os direcionadores

mais urgentes e impactantes são priorizados com a equipe técnica da Embrapa e

parceiros estratégicos.

Figura 6. Alinhamento das atividades de P&D e TT da Embrapa Pecuária Sul

com o Mapa Estratégico de Oportunidades. Dados de agosto de 2014.

A pecuária do RS passa por um momento de ajustes frente a novas

realidades de ocupação territorial, de mercado, de exigência dos consumidores e

da sociedade em geral. Os desafios são enormes e precisam de um trabalho

minimamente sincronizado e alinhado entre as instituições de C&T, assistência

técnica (pública e privada) e extensão rural. Há desafios decorrentes de passivos

não atendidos, de demandas presentes e outras de preparação para riscos

futuros na cadeia pecuária de corte. Nenhuma instituição poderá sozinha fazer

frente aos desafios estabelecidos. É preciso que as instituições e a cadeia

produtiva pactuem uma agenda estratégica de curto e médio prazo para promover

a competitividade da pecuária gaúcha e priorizar seus esforços nesta direção. O

Mapa de Oportunidades apresentado pretende ser uma proposta inicial para este

debate. Com isso, as instituições poderiam priorizar suas ações e projetos,

evitando a repetição de esforços, o sombreamento de atividades e priorizando

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seus recursos financeiros e humanos para a solução dos problemas de forma

mais ágil e eficaz. Como as instituições possuem naturezas, objetivos e

estratégias de trabalho distintos, cada uma estabelece sua agenda e prioridades

independentemente da outra. Percebem-se eventualmente cooperações e

colaborações em projetos técnicos e científicos pontuais, mas raramente uma

sincronização de agendas estratégicas de trabalho no tempo. Iniciativas como a

IX Jornada do NESPRO são essenciais para provocar este debate e desafiar as

instituições e a cadeia produtiva da carne para a construção desta agenda

coordenada, realmente capaz de garantir a competitividade da pecuária gaúcha

de forma sustentável.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS

(ABRAF). Anuário Estatístico da ABRAF: Ano Base 2012. Brasília, 2013. 148p.

ANUALPEC. 2014. Anuário da Pecuária Brasileira. Informa Economics FNP.

BRASIL(a). Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Séries históricas.

[Brasília, 2014]. Disponível em

http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1252&t=2. Acessado em julho de

2014.

BRASIL(b). Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Projeções do Agronegócio: Brasil 2012/2013 a 2022/202. [Brasília, 2014]

Disponível em http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/projecoes%20-

%20versao%20atualizada.pdf. Assessoria de Gestão Estratégica. – Brasília :

Mapa/ACS, 2013. 96 p.

BRASIL(c). Ministério do Meio Ambiente (MMA). Biomas: Pampa. [Brasília,

2014]. Disponível em http://www.mma.gov.br/biomas/pampa/mapa-de-cobertura-

vegetal. Acessado em julho de 2014.

Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM).

Sistema de Silvicultura- Arquivos Digitais. [Porto Alegre, 2014]. Disponível em

http://www.fepam.rs.gov.br/integrador_silvicultura/SIS_Logon.asp.

Acessadhttp://www.fepam.rs.gov.br/integrador_silvicultura/SIS_Logon.asp.

Acessado em julho 2014.

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IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática. Banco de Dados Agregados.

Estabelecimentos na agropecuária: unidades Brasil: 2006. [Rio de Janeiro,

2014]. Disponível em:

<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/default.asp?z=t&o=24&i=P>. Acesso em:

26 jul. 2014.

IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal 2013. [Rio de Janeiro, 2014]. Disponível em

http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo9.asp?e=c&p=PP&z=t&o=24.

Acessado em 26 julho de 2014.

INSTUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ (IRGA). Safra 2012/13- Soja na Várzea. Porto Alegre, [2013]. Disponível em:

http://www.irga.rs.gov.br/upload/20140326151503soja_area_efetiva_safra_13_14.

pdf. Acesso em: 26 julho. 2014.

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Para onde vai a pecuária

Med. Vet. Valter José Pötter Proprietário da Estância Guatambu!

A pecuária, como qualquer atividade de mercado, passa constantemente

por transformações que, invariavelmente, acabam por determinar os rumos do

negócio do pecuarista. Essas transformações surgem por influências de ordem

externa, tais quais as mercadológicas, como cotação de mercado do boi, como

legais - exigências trabalhistas, tributárias e fiscais. No aspecto da “porteira para

dentro” do campo, influência de escassez de mão de obra, falta de equipe

qualificada, necessidade de preservação do meio ambiente, além de outras. Tudo

isso faz com que a pecuária, além de dinâmica e, não esquecendo que

precisamos observar a lucratividade de nossa atividade, passe por constantes

transformações.

Inquestionavelmente, o que determinará cada vez mais o rumo dos

negócios, e a pecuária de corte não escapa dessa premissa, conforme já referido,

é a própria sociedade, através de seus fatais e determinantes mandamentos. E, a

respeito desses mandamentos, elenco dois de fundamental influência na

pecuária: a economicidade das atividades e as leis de mercado livre.

Atualmente, qualquer empreendimento já passou ou irá passar por este

filtro da realidade dos negócios e será obrigado a se conduzir ao que o mercado

paga e remunera. Esta realidade nos conduz às macrotendências da pecuária de

corte:

- Abrir espaço cada vez maior das terras férteis e agricultáveis para a

agricultura;

- Produzir um produto mais apreciado pelo consumidor que é a carne tenra

de animais jovens oriunda de raças especializadas como carne de qualidade

- Intensificar, encurtando o ciclo de produção na cria – recria – engorde

- Produto fairtrade - Produzir com responsabilidade social, com cuidados

de preservação ambiental, bem estar animal e respeito às leis trabalhistas e

relações sociais.

Estas tendências resultam em sistemas de produção no campo cada vez

mais intensificados com a adoção de tecnologias como pastagens melhoradas,

adubação, irrigação, incorporação de espécies forrageiras mais produtivas,

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roçadas e melhor manejo do campo nativo, suplementação com grãos e

subprodutos da agricultura, confinamento estratégico, manejos mais intensivos de

desmame e de reprodução, seleção genética mais técnica e objetiva, ponto de

abate ideal com raças mais valorizadas pelos frigoríficos e também adoção de

práticas administrativas empresariais nas decisões pecuárias. Isto tudo leva ao

surgimento de novos atores no cenário, novos métodos de produção, que é a

pecuária com reprodução ao um ano de idade das fêmeas, altos níveis

reprodutivos e abate com carcaça bem acabada acima de 220kg, mas com idade

mais jovem possível, e o espaço de campo disponível cada vez mais reduzido.

Esta é a tendência atual da pecuária de corte no Rio Grande do Sul e no

Brasil. Não vislumbro alternativa lucrativa ao produtor que deixar de se enquadrar

nesses padrões, atendendo à demanda atual de produtos que o mercado exige. É

um grande desafio, e o profissionalismo e competência com que conduzimos a

atividade de nossa categoria está sendo posto “à prova”. Vejamos no que irá

resultar.

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O horizonte da pecuária brasileira

Eng. Agr. Alcides de Moura Torres Junior

Diretor da Scot Consultoria

Med. Vet. Hyberville Paulo D`Athayde Msc em Administração de Organizações

Introdução A pecuária brasileira cresceu e está crescendo. A expansão do rebanho

tem atendido o aumento do consumo doméstico de carne bovina e as

exportações. Esse desenvolvimento foi possível através do aumento da eficiência

no uso das pastagens, da terminação em confinamento, do melhoramento

genético e dos cruzamentos, entre outros fatores.

Entre 2008 e 2013 as vendas de sêmen de raças de corte passaram de 3,7

milhões para 7,7 milhões de doses. Dobraram em cinco anos, e há potencial para

crescimento maior.

No comércio externo, vendemos US$6,66 bilhões em carne bovina em

2013, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior (MDIC), aumento de 15,4%, na comparação com 2012, cujo resultado

fora de US$5,77 bilhões. Em 2014 os preços do boi gordo e da reposição

subiram mais que os custos de produção, quando comparados com 2013.

Crescimento da pecuária Desde 1974, quando começa a série histórica do rebanho bovino do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até os últimos dados

disponíveis, que são de 2012, o efetivo cresceu 128,4%, passando de 92,5

milhões para 211,3 milhões de cabeças.

A região Norte teve o maior incremento. No início da série detinha 2,2

milhões de bovinos, o que equivalia a 2,4% do rebanho nacional. Em 2012 a

participação aumentou para 20,7%. A figura 1 mostra a evolução dos rebanhos

bovinos por região.

Figura 1 – Evolução do rebanho bovino por região, em milhões de

cabeças.

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Fonte: IBGE (2013)

Houve forte crescimento da pecuária nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Entre 2002 e 2012 o rebanho nessas regiões cresceu 44,0% e 10,4%,

respectivamente. No Nordeste o aumento também foi expressivo, de 18,2%.

Regiões cuja colonização e pecuária são mais antigas apresentaram

estabilidade ou crescimento sutil. No Sul a variação foi de 0,3% e na região

Sudeste o rebanho aumentou 3,4%.

Dois aspectos são fundamentais no perfil de crescimento dos rebanhos

brasileiros. Nas regiões onde a pecuária é mais recente, ocorreu o aumento das

áreas de pastagens nas últimas décadas, o que propiciou o abrigo de uma maior

quantidade de bovinos. Recentemente, as pressões ambientais têm limitado, para

não dizer vetado, a expansão horizontal da agropecuária.

No caso das regiões com terras mais valorizadas, com aptidão para

agricultura, a pecuária tem um maior custo de oportunidade.

O custo de oportunidade não é um custo contábil e não há desembolso.

Ele é um conceito relacionado à estratégia da empresa. Se uma fazenda explora

a pecuária, mas tem aptidão para o plantio de soja e milho, por exemplo, existe a

possibilidade de alteração do uso da terra. É o chamado custo de oportunidade. É

a escolha não feita, o que poderia ser aferido com outra atividade.

Ou seja, em regiões de terras cujo preço é alto, é maior a probabilidade de

o pecuarista mudar para uma atividade mais rentável ou vender a fazenda, que

gera relativamente pouca renda, frente ao capital imobilizado (rentabilidade).

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Exportações O Brasil assumiu a liderança do comércio global de carne bovina com a

ocorrência da doença da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina) nos

Estados Unidos, no final de 2003.

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

(USDA), entre 2003 e 2004 os embarques de carne bovina norte-americana

caíram 81,7%, enquanto as exportações brasileiras cresceram 38,6%. De acordo

com o USDA, desde 2004 o Brasil tem se mantido no topo do comércio

internacional de carne bovina, exceto por 2011, quando a Austrália superou em

5,2% o volume brasileiro (Figura 2).

Figura 2 – Evolução da participação dos principais exportadores no

comércio mundial de carne bovina.

Fonte: USDA (2014)

A Índia tem despontado como um dos principais vendedores de carne

bovina no mercado global. Cabe destacar que os dados do USDA consideram

carne de búfalo, importante componente da carne exportada pela Índia. A Índia é

um concorrente forte, mas que tem muito a evoluir em relação à sanidade e

organização da cadeia. É uma fornecedora de mercados menos exigentes, parte

deles também atendidos pelo Brasil.

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Por falar em sanidade, a pecuária brasileira tem registrado avanços. Em

maio a região Nordeste e áreas do Pará foram reconhecidos como livres de febre

aftosa com vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), mais um

passo em direção à abertura dos mercados que limitam as compras devido à

febre aftosa, como Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul, por exemplo.

Mercado

Apesar do viés de aumento de investimentos na pecuária e intensificação,

em momentos desfavoráveis, o pecuarista pisa no freio e diminui os

investimentos. Faz isso porque nas fases de preços baixos do ciclo pecuário, a

atividade remunera menos pois a produção é vendida a preços pouco atraentes.

O desinvestimento pode ser de diferentes maneiras, tais como: redução do

uso de insumos na nutrição, sanidade ou reforma de pastagens, por exemplo.

Outra forma de desinvestir é a venda dos meios de produção, as matrizes. No

entanto, quando os pecuaristas, em geral, aumentam o descarte de matrizes,

ocorre aumento da oferta de carne e pressão sobre as cotações, tanto do boi

gordo, como do bezerro. Ou seja, a fase de baixa se intensifica.

Após um período de preços em baixa e abates de fêmeas em alta, a vacada

começa a fazer falta na produção de bezerros, que cai. A lei da oferta e demanda

é simples e não perdoa, então os preços sobem.

A fase de alta estimula os pecuaristas, que voltam a reter fêmeas, o que

retrai a oferta de carne e intensifica as altas. Esta movimentação cíclica de oferta

e, consequentemente, de preços, é o que se denomina de ciclo pecuário (Figura

3).

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Figura 3 – Evolução dos preços do boi gordo, em R$/@,

deflacionados pelo IGP-DI (eixo da esquerda), e da participação de

fêmeas nos abates (eixo da direita).

Fonte: IBGE (2014) / Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

(2014)

Observe que a linha, representando a participação de fêmeas no abate de

bovinos, tem comportamento oposto ao observado para os preços médios anuais

do boi gordo em São Paulo e no Rio Grande do Sul, tomando a região de Pelotas

como referência.

Entre 2006 e 2010, com os preços da reposição e do boi gordo em alta, o

pecuarista reteve fêmeas, o que manteve o mercado enxuto e com preços firmes.

A fase de alta foi até 2011, quando as crias da vacada que vinha sendo retida

apareceram. Em 2012 o mercado cedeu e esperava-se mais pressão de baixa em

2013. No entanto, as cotações surpreenderam e subiram, mais expressivamente

no segundo semestre.

Este ano começou com o mercado firme. Na comparação dos primeiros

semestres de 2013 e 2014, houve valorizações de 14,3% em São Paulo e de

18,0% na região de Pelotas-RS. Estas variações já consideram preços

deflacionados pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna). A

oferta de boiadas tem sentido o aumento do abate de fêmeas ocorrido a partir de

2010.

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A expectativa do mercado é que a oferta diminua nos próximos anos, fator

positivo para os preços. A grande questão fica por conta da demanda, que tem

sentido os efeitos do aumento de preços do boi gordo e da carne.

No mercado varejista as margens estão mais estreitas em 2014, o que

demonstra diminuição do potencial de consumo, frente aos preços mais altos. As

expectativas de baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e inflação

próxima à banda superior da meta corroboram com a preocupação.

Considerações finais O custo de oportunidade tem empurrado a pecuária rumo a terras mais

baratas e as questões ambientais têm limitado fortemente a abertura de novas

áreas.

A manutenção da produção e até o seu crescimento, apesar da diminuição

da área destinada à pecuária tem sido conseguida com a intensificação do uso de

tecnologias, incluindo a terminação em confinamento. Segundo estimativas da

Scot Consultoria, baseada em números da Associação Nacional dos

Confinadores (ASSOCON), o rebanho confinado em 2013 foi de 3,82 milhões de

cabeças, o que equivale a 1,8% do rebanho brasileiro. Entre 2013 e 2030 projeta-

se aumento de 73,9% na quantidade de cabeças confinadas, com redução de

12,9% na área de pastagem.

A saída, econômica, ambiental e social (sustentável) para a pecuária é a

intensificação, sob todos os aspectos; do uso de insumos, gestão,

comercialização e planejamento estratégico.

Sob a ótica do mercado, as expectativas para o curto prazo são positivas,

com preços firmes para os animais terminados e de reposição, devido ao rebanho

menor. O consumo merece atenção.

De toda forma, uma propriedade bem ajustada, técnica e gerencialmente,

tende a passar melhor pelos diversos momentos do mercado, seja de alta ou

baixa.

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Referências

DEPARTAMENTO DE AGRICULTURA DOS ESTADOS UNIDOS – USDA.

Disponível em: <www.usda.gov>. Acesso em agosto de 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Disponível

em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em agosto de 2014.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

– MDIC. Exportações e importações brasileiras. Disponível em:

<www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em agosto de 2014.

SCOT CONSULTORIA. Banco de dados da empresa. Web site:

www.scotconsultoria.com.br

WORLD ORGANIZATION FOR ANIMAL HEALTH. OIE. Web site:

<http://www.oie.int>

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Saúde integral na produção de bovinos de corte

Med. Vet. Adil Knackfuss Vaz Professor de Imunologia Veterinária

Faculdade de Medicina Veterinária, CAV/UDESC

Conceito e limitações O conceito de saúde integral é expresso pela Organização Mundial da

Saúde: "Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não

apenas a ausência de doença." Embora neste caso seja aplicada a humanos,

esta definição pode ser utilizada também para animais. Em se tratando da

produção comercial de bovinos de corte ou de outras cuja finalidade é o lucro,

nem sempre pode-se atingir o preconizado pela OMS. Há situações em que pode

ser mais econômico manter a imunidade contra uma doença pela presença de um

nível aceitável, tanto do ponto de vista econômico como do bem-estar animal, de

um certo nível de presença do agente causador. Um bom exemplo desta situação

é o controle da Tristeza Parasitária Bovina pela manutenção de uma população

controlada do carrapato Boophilus microplus, transmissor dos agentes

causadores da TPB. Quando não é viável a erradicação do carrapato vetor, faz

sentido manter uma quantidade suficiente destes para garantir a imunidade do

rebanho como um todo. Outra limitação conceito da OMS é que a produção de

bovinos de corte é por sua própria natureza uma exploração comercial. Quando

os custos de eliminação de uma doença são superiores aos benefícios

econômicos obtidos por esta eliminação, faz mais sentido conviver e controlar

esta doença em níveis compatíveis com o tipo de exploração.

Resistência populacional Numa determinada população, sempre teremos um percentual de animais

com maior resistência a uma enfermidade, ou mesmo completamente refratários.

Por outro lado, teremos também um percentual mais - ou totalmente - sensível a

esta mesma doença. O observador percebe, por exemplo, que em uma população

bovina há sempre animais que se infestam com maior facilidade com verminose

ou ectoparasitas como o carrapato. Mesmo se tratando de uma população de

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uma mesma raça, isso é evidente, e mais ainda se a população for constituída por

animais de raças diferentes ou produtos do cruzamento entre elas.

A distribuição mostrada na Fig. I é teórica e dificilmente ocorrerá na vida real. E é

fácil entender por que: qualquer população existente ruma determinada área por

um período considerável de tempo terá sofrido uma pressão de seleção para as

enfermidades existentes naquela área. Assim, os animais sensíveis a doenças

terão sucumbido a elas e portanto foram eliminados desta população, restando

apenas os mais resistentes. Com o passar das gerações, esta seleção vai se

acentuando, até o que realmente se observa seja o mostrado na Fig. 2, na qual se

vê um percentual maior de animais resistentes e que portanto foram selecionados

para permanecer na população.

Fig. 1 - Resistentes e sensíveis em uma população com distribuição

normal

Fig. 2 - Distribuição de sensibilidade e resistência em uma população exposta a

uma doença

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Esta situação pode não ocorrer, porém, por dois motivos:

• A doença não é fatal ou não traz grandes prejuízos aos animais afetados, e

portanto a pressão de seleção não se exerce. Por exemplo, a mosca do

chifre;

• O homem interfere, tratando os animais e reduzindo a mortalidade, desta

forma evitando a seleção. Por exemplo, verminose gastrointestinal.

A resistência é relativa Quando se fala em resistência a uma determinada doença, esta é sempre

relativa: já sabemos que a bagagem genética da população é componente

importante para que a doença ocorra. Mas também contribui para esta ocorrência

o nível de desafio a que esta população está exposta. Quando os agentes

causadores da doença estão presentes em pequeno número, ou não estão em

contato com os animais, pode-se evitar que estes adoeçam.

Fig. 3 - Uma distribuição hipotética em que 50% dos animais adoecem.

Neste caso, os animais à direita da linha que representa o nível de desafio

adoecem e os à esquerda da mama, não. Mas podemos alterar esta situação,

introduzindo uma outra variável da resistência: a imunidade. Assim, ao

vacinarmos uma população (ou utilizarmos outra forma de incrementar a

imunidade) aumentamos o número de animais à esquerda da linha, que não

adoecem (Fig. 4):

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Fig. 4 - Redução do número de animais doentes pelo aumento da imunidade

Note-se que mesmo em uma população vacinada uma parte da população

continuará sendo sensível à doença. Isto ocorre por vários fatores, como a

incapacidade genética de resposta ou falhas na vacina ou na técnica de sua

aplicação. O número de animais que permanece sensível mesmo após a

vacinação continua dependente do desafio: caso a exposição da população ao

causador da doença seja muito grande, logicamente o número de animais que

adoece será maior.

Reduzindo o desafio Como já vimos, uma forma de obter melhor sanidade em rebanho consiste

em reduzir as oportunidades de contaminação dos indivíduos que o compõe. Os

principais mecanismos para se obter isto são:

• Intervenção química, como o uso de anti-helmínticos , acaricidas e

antibióticos.

• Vacinação, pois o aumento da imunidade fará com que ocorram menos

casos e consequentemente uma menor contaminação do meio ambiente.

• Desinfecção, especialmente indicada em condições de concentração de

animais.

• Eliminação d dejetos e carcaças, embora pouco praticadas em nosso

meio, podem reduzir a incidência de doenças.

• Eliminação de portadores.

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• Controle de tráfego.

• Isolamento de animais doentes.

• Ajuste de época de nascimentos e outros manejos que tragam stress ou

riscos de contaminação.

Aumentando a imunidade

A maneira mais conhecida de aumentar a imunidade de um rebanho é

através da vacinação. Um eficiente calendário de vacinações é uma poderosa

arma na redução de perdas e na manutenção da saúde do rebanho. Para que

este calendário seja eficaz, sugerimos que alguns dos fatores a serem levados

em conta sejam:

• A doença realmente existe na região ? A população é suscetível à doença ?

O excesso de precaução traz um custo, e a pressão de venda dos

laboratórios farmacêuticos pode levar o produtor ao uso desnecessário de

vacinas, sem o correspondente benefício econômico.

• Qual a faixa etária dos animais que queremos proteger ? Eles tem condições

de formar uma resposta imunitária ? Pode ser necessário vacinar vacas em

gestação para proteger terneiros muito jovens, através do colostro.

• Qual a época do ano em que a doença ocorre ? A imunidade leva cerca de

três semanas para se estabelecer completamente. Por isso, o planejamento

é necessário para que a época de vacinação ocorra já no início da

temporada de ocorrência da doença.

• Qual a duração da imunidade conferida pela vacina ? Caso seja de curta

duração a população pode ficar a descoberto, sendo necessário revalidar

para manter essa cobertura.

• Considerar a possibilidade de aplicar duas doses da vacina, com

aproximadamente três semanas de intervalo. A segunda aplicação produz

uma imunidade que é mais do que o dobro de uma aplicação única.

Por fim, se queremos erradicar uma determinada doença, será necessário

em um determinado momento cessar a vacinação. Só se considera erradicada

uma doença quando não h.a mais no meio ambiente a presença do agente

causador, nem imunidade na população sob risco.

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Resistência genética Embora a existência de formas de resistência genética seja reconhecida,

existe uma carência de estudos científicos que documentem este fenômeno. Em

alguns casos grandes esforços são feitos no sentido de selecionar animais

resistentes baseados em características que não foram estudadas em

profundidade. Talvez um exemplo disso seja a seleção de animais da raça

Hereford com pelagem escura na região periorbital na crença de que isto gerará

animais mais residentes à queratoconjuntivite bovina. Uma busca na literatura

encontrou poucas referências disso (J. E. Frisch, Animal Production, 1975, 21(03):

265-274; PUGH, J.W et al, Am.J.Vet.Res. 1986, 47(4):885-889), que embora

indicativas de um efeito da pelagem, necessitam maiores estudos.

Esta carência de estudos pode ser devida ao grande número de animais

necessários a este tipo de experimento, bem como a variações de raças (em

geral somente uma ou duas são incluídas nos experimentos) e na grande

variação ano a ano na ocorrência de muitas doenças.

Talvez o melhor exemplo de resistência genética seja encontrado em raças

“crioulas”, que coexistiram com doenças existes na região e que sofreram um

processo de seleção natural. Daí a necessidade de preservação dessas raças,

como repositórios destes fatores de residência, muitos dos quais não tiveram

seus mecanismos esclarecidos.

Embora muitas doenças possam ser indicadas para controle genético, há

também muitas que não se prestam para isso. Antes de se iniciar um programa

de seleção genética é importante demonstrar que:

• a doença que está sendo atacada pode ser controlada geneticamente de

forma econômica e de baixo risco;

• existe suficiente variação genética dentro da raça ou entre raças para

permitir um controle efetivo da doença;

• haverá claros benefícios econômicos do controle genético e estes benefícios

não podem ser obtidos por outro método (os quais podem ser usados em

conjunto com o controle genético);

• a seleção aplicada não resultará em prejuízos significativos às

características produtivas.

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Embora com um risco menor do que o encontrado no caso da utilização de

produtos químicos e vacinas, existe a possibilidade de que os agentes

patogênicos desenvolvam mecanismos de residência à seleção genética. É

possível que mutações a variação genética resultem em agentes patogênicos

capazes de resistir aos mecanismos selecionados. Isso provavelmente ocorreria

de forma muito mais lenta e com menor intensidade do que no caso dos produtos

químicos e vacinas, mas a possibilidade existe. Esta possibilidade é menos no

caso de raças autóctones, que evoluíram enfrentando o desafio dos agentes

presente em seu meio. Ou seja, caso a residência tivesse que se estabelecer, isto

já teria ocorrido durante o processo de co-evolução da raça e dos agentes

patogênicos.

Conclusões A saúde integral, mesmo que leve em com os aspectos econômicos

indissociáveis com a produção, pode ser um objetivo do criador. Ela pode ser

alcançada, com suas limitações, especialmente por ações planejadas e com base

nos conhecimentos técnicos disponíveis. Decisões administrativas, como

cruzamentos que levem ao aumento da resistência aos problemas sanitários mais

comuns e que trazem maiores prejuízos econômicos, devem ser guiadas pelos

conhecimentos da região e da propriedade, bem como se adequarem aos

objetivos da produção de bovinos de corte.

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Aditivos nutricionais para a pecuária intensiva (pastagens, suplementação e confinamento)

Pedro Veiga Rodrigues Paulino

Gerente Global de Tecnologia – Cargill Animal Nutrition.

[email protected]

Gustavo Rezende Siqueira

Professor do Programa de Pós-graduação da FCAV/Unesp – Jaboticabal.

João Marcos Beltrame Benatti

Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal

Randerson Cavalcante Silva

Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal

João Alexandrino Alves Neto

Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal

Rodolfo Maciel Fernandes

Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal

Andressa Fernanda Campos

Programa de Pós-graduação da FCAV-Unesp – Campus de Jaboticabal

Introdução De um rebanho estimado de 212 milhões de cabeças (IBGE, 2012) apenas

3,5 a 4,0 milhões de cabeças são terminadas em confinamento (Millen et al.,

2009). Continuando a caracterização do sistema de produção de bovinos de corte

brasileiro, tem-se segundo os dados do Rally da Pecuária de 2011, 46,1% das

propriedades realizam o ciclo completo (cria, recria e terminação), 80% das

pastagens são formadas por espécies de Brachiarias, sendo predominantemente

pela Brachiaria brizantha. O uso do confinamento é estratégico para a terminação

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dos animais em 87,2% das propriedades que realizam essa atividade. Essas

estatísticas nos rementem a um sistema de produção basicamente realizado em

pastagens do gênero Brachiaria.

Constitui-se em unanimidade entre os estudiosos da cadeia pecuária que

há subutilização do potencial genético nos animais e da exploração da terra pelos

sistemas de produção como são praticados. O ganho em peso médio ao longo do

ano não passa de 0,450 kg/dia, na maioria dos sistemas de produção.

Considerando que o peso de carcaça médio dos bovinos abatidos em 2011 foi de

267,2 kg (IBGE, 2012), estimando-se um rendimento médio de 53%, um animal

levaria cerca 36 meses para chegar ao ponto de abate.

Muitas estratégias podem e devem ser utilizadas com intuito de elevar a

produtividade com base em atributos zootécnicos e econômicos. Pode-se

destacar o manejo da pastagem, a integração lavoura-pecuária, o uso do

confinamento, a suplementação de animais em pastejo entre outras técnicas e o

que é tema desta revisão o uso de aditivos para bovinos em pastagens.

Generalizando o efeito dos aditivos quando usados em animais em pastejo

eles tendem a elevar o ganho em peso, na maioria das vezes pela modulação da

fermentação ruminal e chegam a ter relação custo/benefício de 1/10, ou seja, para

cada real investido há possibilidade de retorno de dez reais. Conforme exposto a

pecuária brasileira é baseada na produção em pastagens, ressalta-se ainda que

praticamente 100% das fases de cria e recria são realizadas em pastagens, a

melhoria do desempenho desses animais com a utilização de técnicas

economicamente favoráveis, como a utilização dos aditivos, devem ser

consideradas de alta relevância.

Diante do exposto objetiva-se com essa revisão apresentar os principais

aditivos utilizados no Brasil, bem como mostrar os padrões de respostas e sua

viabilidade de uso.

Aditivos Regulamentação – um breve resumo

Segundo a Normativa 15/2009/MAPA, a definição de aditivo para produtos

destinados à alimentação animal, é: substância, micro-organismo ou produto

formulado, adicionado intencionalmente aos produtos, que não é utilizada

normalmente como ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as

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características dos produtos destinados à alimentação animal ou dos produtos

animais, melhore o desempenho dos animais sadios e atenda às necessidades

nutricionais ou tenha efeito anticoccidiano.

Além da definição torna-se interessante conhecer os requisitos necessários

para que um aditivo possa ser registrado no Brasil, são eles:

a) Ser indispensável à adequada tecnologia de fabricação do produto;

b) Influir positivamente nas características do produto destinado à

alimentação animal, de produtividade dos animais ou dos produtos de

origem animal;

c) Ser utilizado na quantidade estritamente necessária à obtenção do efeito

desejado, respeitada a concentração máxima que vier a ser fixada;

d) Ser previamente autorizado e registrado pela autoridade competente do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA.

A normativa 15/2009/MAPA divide os aditivos em cinco grupos:

a) Aditivos tecnológicos: qualquer substância adicionada ao produto destinado

à alimentação animal com fins tecnológicos;

b) Aditivos sensoriais: qualquer substância adicionada ao produto para

melhorar ou modificar as propriedades organolépticas destes ou as

características visuais dos produtos;

c) Aditivos nutricionais: toda substância utilizada para manter ou melhorar as

propriedades nutricionais do produto;

d) Aditivos zootécnicos: toda substância utilizada para influir positivamente na

melhoria do desempenho dos animais;

e) Anticoccidianos:substância destinada a eliminar ou inibir protozoários.

Nesta revisão abordaremos alguns dos aditivos classificados como

nutricionais, zootécnicos e anticoccidianos.

ANTIBIÓTICOS IONÓFOROS O que são?

Ionóforos são originários do uso no controle de parasitos intestinais em aves,

mas constatou-se melhoria no desempenho de bovinos quando eram alimentados

com resíduos de aves que eram suplementadas com ionóforos (TEDESCHI et al.,

2011). Em função desses efeitos os ionóforos passaram a ser utilizados em

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bovinos com o objetivo de melhorar a eficiência alimentar (RUSSEL & STROBEL,

1989).

Dentre os ionóforos aprovados como aditivos alimentares, a monensina é a

mais estudada, sendo ela um composto produzido pela Streptomyces

cinnamonensis (HANEY e HOEHN, 1967) e pertencente à classe química

denominada poliéteres. O alvo de ação desse aditivo é sobre o crescimento

seletivo de microrganismos gram-positivos (VAN NEVEL e DEMEYER, 1977),

reduzindo a produção de ácido láctico (DENNIS & NAGARAJA, 1981),

metanogênese no rúmen (GOODRICH et al., 1984), aumento da proporção molar

de propionato em relação a acetato (GOODRICH et al., 1984) e retenção de N

(ADAMS et al., 1981).

Como funciona? Sumarizando os efeitos dos ionóforos Russel e Strobel (1989) fizeram as

seguintes colocações: Em muitos casos, a inibição do metano e as mudanças na

proporção dos ácidos graxos de cadeia curta foram incapazes de explicar metade

da melhoria no desempenho. Segundo Wedegaertner & Johson (1983) uma das

possíveis explicações é a melhoria da digestibilidade da dieta, frente a redução da

taxa de passagem. Eles apontaram ainda que a redução da degradação da

proteína em amônia pode ser um dos fatores, principalmente em dietas ricas em

proteína solúvel e restritas em energia (como é o caso das pastagens).

Comentaram que a redução na produção de ácido lático é difícil de ser estimada,

mas que existem vantagens em manter o pH ruminal mais elevado quando se

utiliza dietas ricas em carboidratos fermentescíveis e restritas em proteína. E por

fim, relacionaram que os ionóforos podem alterar a atividade microbiana intestinal

e também que não se deve descartar alterações no metabolismo do tecido.

Os ionóforos são moléculas com uma camada externa hidrofóbica e uma

interna hidrofílica e podem se ligar a cátions. Alguns se ligam a apenas um cátion

e outros podem se ligar a vários cátions. Quando ligados agem como

transportadores destes íons através da membrana celular (RUSSEL & STROBES,

1989). Por serem solúveis quando em contato com as membranas das células,

depois de serem combinados com íons, os ionóforos passam a fazer parte da

membrana e desempenhar as funções de transporte de íons de um lado a outro

da membrana das bactérias gram positiva (MORAIS et al., 2006).

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A maioria das bactérias expulsam prótons para o exterior através da

membrana celular e mantém seu interior negativo e alcalino comparado ao

exterior. Este gradiente de pH por sua vez, cria um gradiente químico de prótons.

A expulsão de prótons pela célula também significa que o interior é mais negativo

do que o exterior, e está diferença constitui um potencial elétrico. A expulsão de

prótons é um meio de manter o pH intracelular favorável, mas a força próton-

motiva gerada pelo potencial transmembrana pode também ser usada para

conduzir a absorção de solutos para dentro da célula (KASHKET, 1985).

Processos ativos de transporte são diretamente ou indiretamente dependentes da

força próton-motiva.

A monensina é geralmente descrita como um antiportador que facilita a troca

de H+ e Na+ através das membranas celulares, no entanto, ela pode também

mediar a troca de K+ e H+ (PRESSMAN & FAHIM, 1982). Segundo esses

mesmos autores, esse aditivo tem cerca de 10 vezes mais afinidade para o Na+

do que para o K+, assim pode-se esperar um maior efluxo de Na+ do que de K+.

O gradiente de concentração de K+ é 25 vezes maior do que o gradiente de Na +.

Uma vez que esse gradiente de K+ é tanto mais elevado do que o gradiente de

Na+, o efluxo de K+ através de monensina é mais exergônica (liberação de

energia) do que o efluxo de Na+. O efluxo de K+, por sua vez, levam a um

acúmulo de H+ e uma diminuição do pH intracelular. Com essa redução no pH, o

influxo de Na+ pode ser conduzido por efluxo de H+. Segundo Russel e Hino

(1985), estudando a bactéria Streptococcus bovis, relataram que a mesma é

capaz de crescer com o pH interno baixo (5,4), sendo assim, não é provável que a

inibição do crescimento seja diretamente devido a diminuição do pH intracelular. A

inibição do crescimento pode ser motivada pela utilização do ATP para expelir o

excesso de H + a partir da célula. Streptococcus bovis é uma bactéria gram-

positiva anaeróbia que prolifera no rúmen quando grandes quantidades de grãos

são consumidas. O ácido láctico produzido por ela é responsável pelo início da

acidose ruminal (SLYTER, 1976).

Em experimento realizado por Russel (1987), as culturas de S. bovis

mantidas sem monensina mantiveram um pH interno de 7,08, sendo que o pH

externo foi de 6,65. Quando a monensina foi adicionada à cultura houve uma

inversão do gradiente de pH através da membrana celular, sendo que o interior foi

mais ácido do que o ambiente externo. Esta inversão do pH, provavelmente

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reflete a incapacidade das culturas tratadas com monensina expulsar os prótons.

Ainda com base no mesmo experimento, Russel (1987) relatou que as culturas

mantidas sem monensina apresentaram quase 70 vezes maior a concentração de

K+ no interior da célula e quando a monensina foi adicionada, este gradiente

diminuiu para 15 vezes. Segundo o autor, as altas concentrações de K+ no

interior da célula são necessárias não só para a síntese de proteína, mas também

para manter o pH intracelular tamponado devido ao mecanismo de troca de

K+/H+ (mecanismo antiporte), assim seria necessário que o aumento na

concentração de prótons (H+) fosse retirado do interior da célula para que o pH

interno se estabilize.

Russel e Strobes (1989) concluíram que as ações dos ionóforos no rúmen

são: (a) A seletividade do microrganismo alvo, (b) A seletividade do ionóforo pelo

íon, (c) concentração e o gradiente do íon translocado pelo ionóforo e (d) o

aumento do fluxo de íons pela membrana celular. A seletividade dos ionóforos

parece ser estreitamente associada com a ausência da membrana exterior. E

ainda segundo esses autores por coincidência, os microrganismos sensíveis são

os produtores de hidrogênio, amônia e lactato. Argumenta-se também que para

haver benefícios com o uso dos ionóforos é necessário ocorrer ocupações de

nichos iguais ou semelhantes àqueles deixados pelas bactérias sensíveis.

Expectativa de uso no pasto Tedeschi et al. (2003) em revisão sobre o uso de aditivos sumarizam os

efeitos dos ionóforos em condições de pastagem e confinamento. Os autores

mostram que animais em confinamento com dietas ricas em energia, reduzem o

consumo de matéria seca, não alteram o ganho em peso e consequentemente

melhoram a conversão alimentar. Já em condições de pastagens observa-se

elevação do ganho em peso. Essas afirmações corroboram com a revisão

realizada por Bretschneider et al. (2008) que avaliaram 136 comparações em 48

estudos com uso de aditivos em animais recebendo dietas basicamente de

forrageiras. Constatou-se aumento no ganho em peso de 75 e 78, para

monensina e lasalocida respectivamente.

O efeito da inclusão de ionóforos em dietas de animais em pastagens

inicialmente pode ser considerado infundamentado, pois acrescenta-se uma

molécula que tem por objetivo central eliminar bactérias gram positivas que são

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as principais responsáveis pela degradação da fração fibrosa. Todavia ocorre

uma compensação microbiana e na maioria dos estudos não se observa redução

da digestibilidade da fibra. Além disso, ocorre redução da relação

acetato/propionato e redução da degradação da proteína, que são causas da

melhoria do desempenho animal.

Em estudo realizado por Lana & Fox (2001) observou-se que a monensina

foi mais eficiente nas dietas ricas em proteína verdadeira, do que naquelas com

alto nitrogênio não proteico. Esse relato reforça a afirmação de Goodrich et al.

(1984), que relatou que os efeitos da monensina no metabolismo da proteína no

rúmen só podem ser observados quando o nitrogênio suplementado está na

forma de proteína verdadeira, peptídeos ou aminoácidos.

Alguns exemplos e resultados Lana & Russel (2001) realizaram um trabalho muito interessante, avaliaram

a resistência de bactérias ruminais mantidas em duas situações numa a dieta era

exclusivamente de forragem e em outra os animais foram alimentados com 90%

de concentrado. Os autores constataram que bactérias provenientes de animais

alimentados com forragens são mais sensíveis a monensina que aquelas de

animais de dietas ricas em concentrado, e indicaram que este ionóforo pode ter

maior benefício no desempenho de bovinos em pastagens em comparação

àqueles alimentados com dietas ricas em concentrado.

Avaliando o efeito de lasalocida (100 e 200 mg/cabeça/dia) e monensina

(100 e 200 mg/cabeça/dia) em suplementos para bovinos Holandês-Zebu na

época seca, Mourthe et al. (2011a) constataram que a inclusão dos ionóforos

aumentou o ganho em peso em 75 g/dia (P=0,02) e a lasalocida proporcionou

maior ganho em peso (395 g/dia), quando comparada a monensina (315 g/dia).

Apesar de não ter sido alvo dos contrastes dos autores é numericamente

perceptível a ocorrência de uma interação entre doses e aditivos, pois ao

aumentar a dose de monensina o ganho em peso reduziu de 370 para 260 g/dia;

já nos animais que foram suplementados com lasalocida houve aumento de 350

para 440 g/dia. Uma das justificativas dos autores foi atribuir ao menor do

consumo de suplemento (100 g/dia a menos), quando os animais foram

receberam monensina. Em experimento simultâneo com animais canulados no

rúmen Mourthe et al. (2011b) observaram efeitos dos ionóforos apenas sobre a

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concentração de amônia na dose de 200 mg/cabeça/dia, não foram observadas

diferenças nas degradações das frações fibrosas e nem nas proporções dos

ácidos graxos de cadeia curta. Os autores inferem que nessas condições para se

alterar a relação acetato/propionato a dose deveria ser maior que as usadas.

Na APTA –Colina foi desenvolvido um experimento de suplementação com

suplemento proteico na quantidade de 1 g/kg de peso vivo (30% PB), com

animais Nelore durante o período das águas (FERNANDES et al., 2012). Os

animais permaneceram durante 140 dias em experimento e foram realizadas

pesagens a cada 28 dias, ou seja, cinco períodos de avaliação. Observou-se

diferença significativa no ganho em peso em todos os cinco períodos, a média do

ganho adicional foi de 200 g/cab/dia, para os animais que receberam monensina

em relação ao grupo controle. Esse é um resultado que ultrapassa as

expectativas de diferença, mas que por outro lado, mostra o potencial de resposta

do uso de aditivos em pastagens.

Na maioria dos casos quando se utiliza suplementos de consumo acima de 1

g/kg, a inclusão de ionóforos, especialmente a monensina, parece não afetar o

consumo. Porém ainda é uma pequena porcentagem dos bovinos brasileiros que

recebem essa suplementação. A maioria recebe apenas sal mineral, neste caso o

uso de monensina reduz drasticamente o consumo de suplemento, podendo até

comprometer o desempenho animal, ou não apresentar efeito positivo. Franco

(2007) realizou um estudo que comparou a suplementação mineral com 40% de

NaCl e com 65 g/kg de P, enriquecida ou não com monensina. O autor observou

que no suplemento com monensina o consumo diário de mineral foi menor (27,5

g/cab/dia) quando comparado ao consumo do suplemento controle (56,9

g/cab/dia). Outro resultado muito interessante observado pelo autor foi a redução

no consumo do suplemento com monensina com o prolongar do período

experimental. O consumo desse suplemento era de 35 g/cab/dia nas primeiras

semanas e da sétima até a décima primeira o consumo foi inferior a 25 g/cab/dia,

segundo o autor esse comportamento indica um condicionamento por estímulo

pós-digestivo. Desta forma, fica evidenciado a limitação do uso de monensina via

suplemento mineral, reforça-se que em suplementos de maior consumo acima de

1 g/kg essa limitação não persiste.

Levantamento de dados

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! 53!

Para a presente compilação de resultados foram consultadas revistas

científicas nacionais com avaliação não inferior a B2 pela Capes (Arquivo

Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Ciência Rural, Ciência e

Agrotecnologia, Pesquisa Agropecuária Brasileira, Revista Brasileira de Zootecnia

e Semina Ciências Agrárias), assim como as teses e dissertações (UFSM,

UFRRJ, UFV, UEM, UFPR, UFRJ, UFLA, Unesp, USP e UEL) com dados não

publicados nas referidas revistas nos últimos 10 anos (Figura 1).

Os aditivos alimentares pesquisados foram: monensina sódica, lasalocida,

salinomicina, virginiamicina, levedura viva, óleos essenciais, minerais orgânicos,

ureia protegida e gordura protegida.

Figura 1. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e

banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de

aditivos para bovinos de corte em pastagens

Para as avaliações dos resultados abaixo demonstrados estabeleceram-se

valores de diferencial de resposta, de acordo com Zopollatto et al. (2009)

(tratados versus controle, tendo sido considerados apenas resultados onde a

comparação foi declarada como estatisticamente diferentes – Tabela 1), através

da seguinte fórmula:

!"#$%$&'"()!!"!!"#$%#&'!"∆"(%) = Valor!do!Tratado!– !Valor!do!ControleValor!do!controle !x!100

1 1 1

3

5

3

8

2 1

4

1 1 1

3 4

3 4

2

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

n° d

e tr

abal

hos

Total Leite Corte

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! 54!

Tabela 1. Valores de diferencial de resposta (Δ) considerados favoráveis nos

artigos avaliados

Parâmetros Delta (Δ)

Consumo de matéria seca < 0 monensina e > 0 virginiamicina

Consumo de suplemento < 0 monensina e > 0 virginiamicina

Consumo de pasto < 0

Consumo mistura mineral > 0

Digestibilidade da matéria seca > 0

Digestibilidade da FDN > 0

Ganho em peso médio diário > 0

Produção de leite > 0

Gordura no leite > 0

Proteína no leite > 0

Área de olho de lombo > 0

Espessura de gordura > 0

Eficiência microbiana > 0

N-NH3 < 0

pH ruminal > 0

Acetato < 0

Propionato > 0

Relação Acetato:Propionato < 0

Glicose Plasmática > 0

Ureia plasmática < 0

Metano < 0

Com base em levantamento de dados da literatura nacional sobre a

utilização de monensina para animais em pastejo, em média, a monensina sódica

tendeu aumentar em 1,05% a digestibilidade da MS e FDN, em 14,77% a gordura

no leite, a AOL em 8,21% e a espessura de gordura (EG) em 13,87%. Houve

também tendência em redução da eficiência microbiana (-17,20%), produção de

leite (-14,26%), proteína no leite (-8,21%), consumo de pasto (-13,04%), N-NH3

ruminal (-9,99%) e produção de metano (-5,27%) (Figura 2).

Quando consideradas só as respostas favoráveis, a digestibilidade da MS e

FDN aumentou em 2,75 e 2,43%, respectivamente e o GMD (ganho em peso

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! 55!

médio diário) foi 29,53% maior para monensina. Para os parâmetros ruminais,

houve redução na produção de acetato (-9,0%) e aumento na produção de

propionato (41,59%), reduzindo, dessa forma, a relação acetato:propionato (-

21,37%). O pH ruminal sofreu influência da utilização da monensina, como

maiores valores quando a mesma foi administrada (0,74%). O consumo de

suplemento e de MS também foi reduzido em 44,11 e 23,15%, respectivamente.

1.05% 1.05%

&17.20% &14.26%

14.77%

&8.21%

&30.71%

14.43%

&13.04%

2.73% 2.43%

&44.11%

29.53%

&50.00%&40.00%&30.00%&20.00%&10.00%0.00%10.00%20.00%30.00%40.00%

Digestibilidade%MS%

Digestibilidade%da%FDN%

E=iciência%microbiana%

Produção%

Gordura%no%leite%

Proteína%no%leite%

Consum

o%de%suplem

ento%

GMD%

Consum

o%de%pasto%

Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%

0.73% 1.36%

22.65%

&14.81%&9.99%

8.21%13.87%

&0.23%

&8.46% &6.27%

0.74%

&9.00%

41.59%

&21.87%&25.15%&30.00%

&20.00%&10.00%0.00%10.00%20.00%30.00%40.00%50.00%

pH%ruminal%

Acetato%

Propionato%

Relação%A:P%

N&NH

3%

AOL% EG%

Glicose%%Plasmática%

Consum

o%MS%

Metano%

Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%

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! 56!

Figura 2. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e

banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização da

monensina sódica para bovinos de corte em pastagens.

Antibiótico não ionóforo

Além dos ionóforos existem alguns antibióticos que não são ionóforos, mas

atuam no controle da população microbiana. Entre eles tem-se destacado na

produção de bovinos de corte a Virginiamicina.

VIRGINIAMICINA O que é?

A Virginiamicina foi encontrada originalmente em solos belgas (DeSOMER e

VAN DIJCK, 1955) é classificada como um antibiótico não-ionóforo e é um

produto resultante da fermentação das Streptomyces virniniae. É formada por dois

componentes químicos distintos, fator M e fator S (CROOY e DE NEYS,1972),

sendo o fator S potencializador do fator M (ROGERS et al. 1995).

Como funciona? Diferentemente de aditivos ionóforos, a virginiamicina tem ação intracelular.

Segundo Cocito (1979), no interior da célula os fatores M e S estabelecem uma

ligação específica e irreversível à unidade ribossomal 50s inibindo a formação de

ligações peptídicas durante a síntese de proteína, causando assim a redução do

crescimento (ação bacteriostática) ou a morte (ação bactericida). Ainda segundo o

mesmo autor a VM age contra bactérias gram-positivas, tanto aeróbicas quanto

anaeróbicas, porém não apresenta efeito sobre as bactérias gram-negativas

devido a impermeabilidade da parede celular.

Quando utilizada, a virginiamicina tem apresentado resultados favoráveis ao

desempenho animal melhorando a eficiência alimentar (PARIGI-BINI, 1979) e

aumento no ganho em peso (FIEMS et al., 1992, GOULART, 2010), porém, com

pouco ou nenhum efeito no consumo de MS (ROGERS, 1995). A melhora no

desempenho animal pode ser explicada pela mudança na relação

acetato:propionato. O substrato (dieta) passa a ser fermentado por bactérias que

favorecem o acúmulo do subproduto ácido propiônico em detrimento dos

subprodutos de fermentação ácido acético e butírico (GOULART, 2010).

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! 57!

Outro provável efeito deste antibiótico, que em monogástricos já foi bem

descrito por Dierick et al. (1986), é a diminuição da desaminação de proteína no

rúmen, aumentando a passagem de proteína dietética para absorção no intestino.

Uma explicação para este evento é que as duas principais bactérias responsáveis

pela desaminação de proteína no rúmen, a Clostridium aminophilum e a

Clostridium stickandii, que são bactérias gram-positivas, têm seu crescimento

afetado pelo uso da VM.

Expectativa de uso nos pastos Em revisão sobre o uso de aditivos em pastagens fornecidos via suplemento

mineral Goulart (2010) apontou a virginiamicina como um promissor antibiótico,

tendo efeitos semelhantes aos ionóforos e não reduzindo o consumo de

suplemento mineral. Esse aditivo apesar de possuir mecanismo de ação diferente

dos ionóforos, ele atua sobre tipos semelhantes de microrganismos, controlando a

população de bactérias gram positivas. Arrigoni et al. (2011) também apontou a

virginiamicina como um aditivo a ser utilizado em suplementação de bovinos em

pastagens e mostrou vários trabalhos que apresentaram efeitos positivos do uso

deste aditivo. Bretschneider et al. (2008) em sua compilação observaram aumento

no ganho em peso de 80 g/dia para os animais suplementados com virginiamicina

comparados ao controle.

Alguns exemplos e resultados Goulart (2010) em sua tese de doutorado realizou três estudos com o uso de

virginiamicina em animais Nelore ou cruzamento industrial mantidos em

pastagens. No primeiro experimento o autor observou incremento no ganho em

peso de 95 g/dia, passando de 580 para 675 g/dia para os animais do grupo

controle e suplementados com virginiamicina, o estudo foi realizado num período

de 108 dias (janeiro a maio). No segundo experimento a diferença foi de 31 g/dia

e não diferiu do controle, esse foi realizado em 137 dias. No terceiro experimento

observou-se diferença de 63 g/dia (P=0,019), com duração de 137 dias. O autor

na discussão integrada dos resultados mostrou que o aumento no ganho em peso

foi em média de 11% e foi apontando como uma das vantagens deste

antimicrobiano a bacteriopausa que é a capacidade de ação prolongada, mesmo

após interromper seu uso.

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! 58!

Em experimento realizado no Pólo Regional da Alta Mogiana (Colina/SP),

Alves Neto et al. (dados não publicados) utilizou a virginiamicina em diferentes

dosagens, controle até 75 mg/100 kg de peso corporal, em animais na fase de

recria em pastejo. O estudo teve duração de 108 dias e utilizou-se 96 garrotes

Nelore. A máxima resposta foi encontrando na dose de 47 mg/100 kg de peso

corporal. Nessa dose o incremento no ganho em peso foi de 110 g/dia, o que

equivale a 10%, pois os animais do grupo controle apresentaram ganho em peso

de 1063 g/dia, o que para condições tropicais pode ser considerado alto.

Levantamento de dados

Mesmo com poucos estudos de sua aplicação em animais em pastejo

(Figura 3), a virginiamicina tem apresentado bons resultados de ganho em peso

(Figura 4). Segundo Lucas et al. (1989) e Lucas & Sobrinho (1989), citados por

Nicodemo (2001), foram econtrados resultados de 30% e 10% no aumento do

ganho em peso em animais pastejando capim colonião cv. Tobiatã e Brachiaria

decumbens, respectivamente. Em trabalho de Fiems (1992) este acréscimo foi de

18%.

Figura 3. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e

banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de

aditivos para bovinos de corte em pastagens

A melhora do ganho em peso também foi observado por Goulart (2010) onde

foi observado aumento significativo no ganho em peso de 0,063 Kg/cab/dia (9,8%)

1 1 1

3

5

3

8

2 1

4

1 1 1

3 4

3 4

2

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

n° d

e tr

abal

hos

Total Leite Corte

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em animais consumindo virginiamicina via mistura mineral. Neste levantamento

não foram observados aumentos na produção do ácido propiônico como

esperado. Porém, a diminuição da relação acetato:propionato e da concentração

de N-NH3 foram encontradas, podendo assim, explicar o aumento desempenho

animal.

Figura 4. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e

banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de

virginiamicina para bovinos de corte em pastagens

LEVEDURA VIVAS (Saccharomyces Cerevisiae) O que é?

As leveduras são classificadas como fungos unicelulares empregadas na

indústria sucroalcooleira para a fermentação do caldo da cana-de-açúcar e

produção de açúcar e álcool, podendo ser utilizada na alimentação de ruminantes

como suplemento alimentar a base de micróbios vivos que beneficia o animal

hospedeiro por meio da melhoria do seu balanço microbiano intestinal

(NEWBOLD et al., 1996) e parâmetros de fermentação ruminal.

Como funciona?

Como principais efeitos das leveduras no rúmen tem-se a ampliação do

número total de bactérias, principalmente aquelas que degradam celulose,

aumento da degradação da parede celular, estabilização do pH ruminal e maiores

rendimentos microbianos (HUHTANEN, 1991; Yoon e Stern, 1995; DOREAU e

-14.0

10.8

-5.7 -6.2

1.0

-5.2

10.8

-2.7

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

Consumo MM GMD Acetato Propionato Relação A:P N-NH3

Média Geral Média das respostas favoráveis

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JOUANY, 1998), resultando em aumento do consumo e melhoria no

desempenho.

Um mecanismo para explicar o efeito benéfico do uso de leveduras na

alimentação animal está intimamente relacionado com a retirada de oxigênio do

ambiente ruminal. No rúmen, as leveduras são capazes de realizar a respiração e

consumir esse gás no processo. Apesar de o rúmen ser considerado um ambiente

anaeróbico, há pequenas quantidades de O2 que entram neste órgão por meio da

saliva e/ou ingestão de água e alimento, sendo esta cerca de 100 mL/dia

(CZERKAWSKI, 1986). A atividade respiratória das leveduras (200 µmol/mim/L a

300 µmol/mim/L) é bem maior que a concentração de oxigênio no fluído ruminal

que adentram no rúmen (WILLIANS et al, 1991). Há algumas bactérias ruminais,

principalmente aquelas que degradam celulose, que são altamente sensíveis até

mesmo a essas baixas concentrações. A presença de O2 no rúmen também pode

prejudicar a aderência das bactérias ao seu substrato, diminuindo a degradação

do alimento (ROGER et al., 1990).

Outro resultado proposto para o uso de leveduras vivas é o aumento do

número de bactérias totais, especialmente aquelas celulolíticas e as utilizadoras

de ácido lático, acarretando aumento do fluxo de proteína microbiana para o

intestino dos animais. As leveduras possuem nutrientes e co-fatores que

estimulariam a atividade microbiana como, por exemplo, pequenos peptídeos

capazes de estimular o crescimento da bactéria Ruminococcus albus, pois

atuariam como desencadeadores metabólicos, fazendo com que o crescimento de

microrganismos ruminais passassem da fase estacionária para a fase

exponencial, podendo ser esses peptídeos as substâncias limitantes para o

crescimento de algumas bactérias (DAWSON & GIRARD, 1997).

A ação desses dois mecanismos metabólicos concomitantemente é o fator

que pode atuar no aumento da digestibilidade da fração fibrosa da dieta total

(WALLACE, 1994). A retirada do oxigênio e melhor crescimento de bactérias

celulolíticas, além do aumento da aderência destas ao substrato produzem

condições favoráveis para o aumento da degradação.

A manutenção de valores de pH mais elevados quando há utilização de

leveduras vivas nos suplementos de bovinos pode ser explicado devido a

competição destas com bactérias produtoras de ácido lático e também pela

assimilação do ácido lático produzido (CALLAWAY & MARTIN, 1997). Resultados

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observados por Willians et al. (1991) sugerem que a adição de cepas de

leveduras vivas à dietas de bovinos poderiam atenuar a queda do pH ruminal pela

estimulação no crescimento de bactérias, como a Selenomonas ruminantium que

possui grande importância no ecossistema ruminal, pois é fermentadora de

lactato. As leveduras fornecem vitaminas do complexo B e aminoácidos que são

limitantes para o ótimo crescimento dessa bactéria, estimulando assim a

diminuição do lactato no ambiente ruminal.

Erasmus et al. (2009) realizou um meta-análise para observar o efeito da

levedura Saccharomyces cerevisiae na produção de bovinos de corte, utilizando

15 ensaios. O banco de dados incluía dados de 1.875 animais, para análise de

GDP e CA. Observou-se que o GPD dos animais que não receberam nenhum tipo

de aditivo foi menor (1,45 kg/dia) do que aqueles suplementados com leveduras

(1,57 kg/dia) e a conversão alimentar dos bovinos suplementados com leveduras

(6,40 kg MS/kg de ganho de peso) foi melhor do que a dos não-suplementados,

(6,61 kg de MS/kg de ganho de peso). Arcuri et al. (2006) em revisão sobre o uso

de probióticos apontou como valores médios de incremento em ganho em peso

com o uso de leveduras é de 9,5% para bezerros, 7,8% para animais em

crescimento e 3,9% para produção de vacas em lactação. Ele informou que a

maioria dos trabalhos relacionou o aumento na produção com o incremento em

consumo de matéria seca.

Em outra meta-análise Desnoyers et al. (2009) avaliaram 110 artigos,

contendo 157 experimentos e 376 tratamentos. Uma das premissas era o

experimento conter um tratamento controle e outro com a adição de leveduras. Os

autores constataram que a presença de leveduras vivas aumentaram o pH

ruminal (+0,03 unidades) e a concentração de ácidos graxos voláteis (+2,17 mM),

tendeu a decrescer a concentração do ácido lático ruminal (-0,9 mM) e não

influenciou na relação acetato/propionato. Observou-se também aumento em

0,8% da digestibilidade da matéria orgânica, 0,44 g/kg de peso corporal no

consumo de matéria seca e 1,2 g/kg de peso corporal na produção de leite.

Expectativas de resultados no pasto

Apesar de se conhecer métodos metabólicos das leveduras no rúmen e suas

consequências na nutrição de ruminantes, o uso desse aditivo ainda apresenta

respostas contraditórias quando se observa os resultados da literatura. A inclusão

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! 62!

de Saccharomyces cerevisiae em dietas de animais em pastejo teria por objetivo

principal o aumento da digestibilidade da fração fibrosa, devido ao estimulo das

bactérias celulolíticas e também poderia gerar maior fluxo microbiano ao intestino.

Caso esses efeitos fossem confirmados o conceito de utilização de leveduras teria

combinação perfeita com a combinação de animais em pastagens, porém na

literatura não há suporte de respostas para essas hipóteses.

Alguns exemplos e resultados do uso do aditivo Um dos raros trabalhos que avaliaram a inclusão de leveduras em animais em

pastejo foi realizado por Bertipaglia (2008). A autora realizou um trabalhão que

avaliou o efeito da adição de leveduras vivas, monensina e sua associação em

suplementos proteicos na transição águas-seca e durante a seca. As novilhas de

peso inicial de aproximadamente 230 kg foram suplementadas nos níveis de 4

g/kg de peso vivo (transição) e 5 g/kg (seca). Não foi observada diferença

significativa entre o suplemento controle e o que possuía levedura. Já no

tratamento com monensina, na média observou-se aumento do ganho em peso

de 14%. A associação dos aditivos apresentou comportamento semelhante a

suplementação apenas com monensina, sendo os ganhos médios de 0,460 e

0,490 kg/dia, respectivamente.

Em um trabalho simulando uma condição de pastejo, onde bovinos canulados

receberem feno a vontade e foram suplementados com 1 kg de suplemento

proteico, o que equivalia a 2 g/kg. Franco et al. (2008) não constaram efeito da

ação de leveduras (P>0,05) sobre N-NH3, pH, degradação da matéria seca. Os

autores concluem a necessidade de realizar estudos mais aprofundados para que

se possa alcançar maior consistência nos resultados em trabalhos dessa

natureza.

Outro trabalho com objetivo de realizar uma avaliação econômica sobre o

efeito da suplementação de alto consumo e o uso de leveduras em bezerros de

cruzamento industrial foi realizado por Prohmann et al. (2012). Os autores

concluíram que a suplementação de alto consumo 6 g/kg de peso vivo

aumentaram o ganho em peso e a receita bruta, porém não melhoram a margem

líquida. E no caso do uso das leveduras não se observou benefício no ganho por

área e devido a inclusão do aditivo, o custo foi aumentado e a receita reduzida.

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! 63!

Levantamento A compilação de resultados nos últimos 10 anos confirmou a inconsistência

dos resultados. Observa-se, nos resultados encontrados, respostas favoráveis

apenas para consumo de matéria seca (9,30%) e redução na relação

acetato:propionato (-4,26%). Houve tendência para redução na digestibilidade da

matéria seca (-1,71%), digestibilidade da FDN (-3,36%), produção de metano (-

6,76%), no ganho em peso corporal médio diário (GMD, -2,33%) e gordura (-

1,15%) e proteína no leite (-0,93%). O N-NH3 (0,93%), produção de acetato

(4,47%), propionato (3,75%) e produção de leite (1,02%) tenderam a aumentar.

Cabe ressaltar que mesmo não tendo apresentado diferenças significativas,

muitos resultados encontrados foram o inverso do que se esperava, com base na

literatura internacional, o que demonstra a necessidade de um maior número de

trabalhos.

Figura 5. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e

banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de

leveduras vivas para bovinos de corte em pastagens

Esses resultados demonstram que apesar de toda a literatura referente aos

beneficio do uso de leveduras vivas em ruminantes. Quando utilizadas em

suplementos de bovinos em pastejo, os resultados ainda são muito contraditórios

e inconsistentes.

3.25%

&1.71%&3.36%

&0.45%

0.93%4.47% 3.75%

0.81%

&6.76%

&2.33%

1.02%

&1.15% &0.93%

9.30%

&4.26%&8.00%&6.00%&4.00%&2.00%0.00%2.00%4.00%6.00%8.00%10.00%12.00%

Consum

o%MS%

Digestibilidade%MS%

Digestibilidade%FDN

%

pH%ruminal%

N&NH

3%

Acetato%

Propionato%

Relacao%A:P%

Metano%

GMD%

Produção%

Gordura%

Proteína%

Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%

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! 64!

ÓLEOS ESSENCIAIS O que é?

Os óleos essenciais são compostos secundários presentes nos vegetais.

Eles não participam dos processos bioquímicos primários das plantas e suas

principais funções nos vegetais estão relacionadas com a proteção, além de

atuarem como atrativos aos insetos polinizadores, isto, por conferir as plantas cor

e odor, sendo também agentes de competição entre planta (TAIZ & ZEIGER,

2006).

Quimicamente, os óleos essenciais são constituídos de hidrocarbonetos

terpênicos, alcoóis simples e terpenos, aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, óxidos,

peróxidos, furanos, ácidos orgânicos, lactonas, cumarinas e compostos contendo

enxofre, em diferentes concentrações (DEBAGUE, 2008). De acordo com Pinto

(2010), a extração dos óleos essenciais varia conforme sua localização na planta;

sendo exemplos de métodos de extração a enfloração, o arraste por vapor

d’água, extração com solvente orgânico, prensagem e também extração por CO2

supercrítico.

Como funciona? Os óleos essenciais possuem propriedades antibacterianas, antioxidantes

e até mesmo antifúngicas (ARAUJO et al., 2004; BURT, 2007). Seu modo de

ação ainda não está totalmente claro. Como citado anteriormente, eles são

constituídos por uma grande variedade de compostos, existindo um sincronismo

entre os compostos e a atividade antimicrobiana dos óleos. De acordo com

Morais (2009), as quantidades e concentrações das substancias que compõem os

óleos essenciais são influenciadas por fatores abióticos e bióticos, o que pode

dificultar ainda mais a compreensão do seu modo de ação.

Segundo alguns pesquisadores, esses compostos quando no rúmen

poderiam atuar principalmente na redução de bactérias gram-positivas em relação

às gram-negativas (HELANDER et al.,1998; HMAMOUCHI et al.,1990). Como

sugerido por Araujo et al.(2004), essa seletividade estaria relacionada

principalmente à constituição da parede celular, visto que bactérias gram-

negativas apresentam uma dupla camada, enquanto as gram-positivas, apenas

uma camada simples, permitindo a atuação dos óleos.

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Conforme esquema proposto por Burt (2004), os óleos essenciais poderiam

degradar a parede celular das bactérias, causar danos às proteínas da membrana

citoplasmática alterando sua fluidez, além de talvez ocasionar coagulação do

citoplasma e depleção da bomba iônica. Com isso, o modo de atuação dos óleos

essenciais se assemelharia a dos ionóforos.

Expectativa de uso no pasto A utilização dos óleos na alimentação dos animais em pastejo é

fundamentada na modulação da fermentação ruminal através da seleção de

bactérias gram positivas. Espera-se que haja redução na relação

acetato/propionato, e consequentemente diminuição da produção de metano no

rúmen (ARAUJO, 2010; BUSQUET et al., 2005). A redução da emissão de

metano é de extrema importância, pois de 2 a 12% da energia consumida pelo

animal pode ser perdida na forma deste gás que também contribui com cerca de

20% do aquecimento global (BERCHIELLI et al, 2010).

Araújo (2010) avaliou diferentes óleos essenciais de plantas brasileiras

sobre o efeito da fermentação in vitro. Foi constatado que óleos de aroeira

vermelha (Schinus terebinthifolius), capim cidreira (Cymbopogum citratus), capim

limão (Cymbopogum flexuosus), citronela (Cymbopogum winterianum), guaco

(Mikania glomerata), carqueja (Baccharis cylindrica) e arnica (Lychnophora

pinaster), foram capazes de manipular a fermentação, sendo segundo o os óleos

de aroeira vermelha (fruto e folha) e arnica os mais promissores, em relação à

manipulação ruminal e redução de produção do gás metano.

Ainda como efeito da suplementação com óleos essenciais na dieta dos

animais estaria à diminuição das concentrações de N-NH3 no rúmen (WALLACE,

2002; MC INTOSCHI et al., 2003; BUSQUET et al, 2006,). A redução da

desaminação ruminal é um fato bastante relevante, principalmente quando se

trabalha com forragens adubadas, que possuem fração solúvel da proteína mais

elevada.

Devido ao modo de ação dos óleos essenciais em manipular a fermentação

ser parecida ao dos ionóforos, muitos resultados esperados com estes compostos

na manipulação da fermentação se assemelham ao da monensina.

Alguns exemplos e resultados

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Em dois experimentos desenvolvidos na APTA – Alta Mogiana Colina-SP,

avaliou-se o efeito da suplementação proteica de baixo consumo aliado a adição

de mistura comercial de óleos essenciais em relação à utilização de suplementos

sem aditivos ou com monensina sódica, sobre o desempenho bovinos Nelore,

recriados em pastagem constituída de Brachiaria brizantha cv. Marandu no

período de águas. (OLIVEIRA et al., 2011; FERNANDES et al., 2012).

No primeiro experimento não foi detectado diferencial resposta à adição

dos óleos na dieta. Nesse experimento, no primeiro período os animais tiveram

um ganho médio acima do esperado (1,314 kg/dia), esse ganho pode ter sido

fruto de um ganho compensatório, o que por sua vez comprometeu o resultado

geral do experimento. Cabe ainda salientar que em ganhos de peso mais

elevados, a capacidade de gerar ganhos adicionais fica comprometida.Já no

segundo experimento, foi observado diferencial resposta de 10,61% no

desempenho dos animais consumindo óleos em relação à aqueles que não

receberam aditivos, demonstrando o potencial dos óleos em melhorar o

desempenho dos animais. Todavia, os óleos promoveram desempenho inferior

quando comparados a monensina.

Levantamento Em levantamento realizado sobre pesquisas com óleos essenciais para

animais em pastejo, foi observado que são escassos os trabalhos com estes

compostos. Foram encontrados apenas dois trabalhos, sendo que, em apenas um

foi deles identificado diferencial resposta positiva de 46,9% para o ganho de peso

médio diário dos animais e também aumento da glicose plasmática em 5,33%.

Existem vários experimentos comprovando os benefícios da utilização dos

óleos essenciais e seu potencial antimicrobiano, sendo promissor agente

modulador da fermentação ruminal, porém são poucos os experimentos

realizados no Brasil com estas substancias que vêm apresentando potencial de

melhora no desempenho produtivo dos animais. Assim, mais pesquisas para a

efetiva comprovação dos benefícios dos óleos essenciais na alimentação de

ruminantes se fazem necessário.

UREIA PROTEGIDA O que é?

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A ureia protegida ou ureia de liberação é uma tecnologia desenvolvida para

modular a liberação da ureia no ambiente ruminal (GONÇALVES, 2006), por meio

da proteção deste composto com lipídeos vegetais, amido, polímeros

biodegradáveis, formaldeídos, dentre outros (BARTLEY & DEYOE, 1975;

PROKOP & KLOPFENSTEIN 1977; FORERO et al, 1980;).

Como funciona? A proteção do nitrogênio não proteico, para ser eficiente, precisa alterar a

curva de liberação do nitrogênio. Ou seja, a liberação deve ser mais próxima a

fontes de proteína verdadeira do que da ureia. Neste cenário, cada empresa

possui suas estratégias de proteção, ou melhor, do controle da liberação da ureia,

e suas eficiências são variáveis.

O argumento principal para a proteção da ureia reside na redução da

velocidade de liberação de amônia no rúmen, pois, o nitrogênio não proteico

(NNP) possui degradação ruminal de 100% e apresenta pico de N-NH3 de 1 à 2h

após seu fornecimento (SANTOS 2006), em contra partida, a degradação da

fração fibrosa das forrageiras é inferior a 10%/hora. De acordo com Tedeschi et

al. (2002), as tecnologias de proteção da ureia são alternativas para proporcionar

melhor sincronismo entre a disponibilidade de N-NH3 e a taxa de digestão da

fração fibrosa ruminal.

Expectativa de uso no pasto O sistema de produção de ruminantes em pastejo no Brasil é caracterizado

por forrageiras de baixo valor nutritivo, elevados teores de carboidratos estruturais

e baixos teores proteicos, neste caso a suplementação com fontes de nitrogênio

não proteico é necessária, mesmo no período das águas.

No entanto, segundo Reis et al. (2006), cerca de 25 % do nitrogênio das

folhas são NNP e aproximadamente 15 a 50% do nitrogênio total é NNP. Espera-

se que a adição de ureia protegida nos suplementos proteicos proporcionem

menores picos e liberação mais constantes de N-NH3 no rúmen quando

comparadas a ureia convencional (AKAY et al., 2004; CARRER et al. 2008).

Picos de elevada produção de N-NH3 ocasionam grandes perdas de

energia, pois o N-NH3 não é fonte de proteína para o ruminante, e após ser

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absorvido pela parede do rúmen, ele é convertido à ureia no fígado, sendo gastos

quatro ATPs para cada mol de ureia formada.

A importância de níveis de constantes de N-NH3 para ruminantes

alimentados com forrageiras está associada às bactérias fibrolíticas, que de

acordo com Russel et al. (1992), utilizam preferencialmente N-NH3 como fonte de

nitrogênio; assim, suas concentrações refletiriam diretamente na degradação da

fibra, taxa de passagem podendo influenciar no desempenho animal. Segundo

Detmann et al (2010), o suprimento para a produção enzimática dos

microrganismos estaria próximo a 8mg/dl de nitrogênio de N-NH3, de acordo com

este autor, esses seriam os valores necessários para o desenvolvimento dos

microrganismos, no entanto, valores próximos a 15mg/dl de N-NH3 seriam

necessários para aumentar o consumo voluntário de forragem de baixa qualidade.

Já a substituição de fontes de proteína verdadeira por ureia protegida, pode

reduzir o custo da suplementação. Conforme sugerido por Souza et al.(2010), a

suplementação com ureia de liberação lenta ainda diminuiria os custo da

alimentação, sendo no caso dos animais criados no pasto, reduzindo o custo do

suplemento, devido a substituição de fontes de proteína verdadeira de elevado

custo, por NNP. Ainda como vantagem da utilização de ureia de liberação lenta,

poderia ser citado a diminuição dos riscos de intoxicação dos animais com a

ingestão de ureia (SOUZA et al., 2010)

Alguns exemplos e resultados Gonçalves (2006) estudou a utilização de diferentes doses de NNP

juntamente com diferentes proporções de ureia de liberação lenta na dieta de

animais bovinos recebendo feno de baixa qualidade. Não houve modificações

significativas nos padrões fermentativos ruminais com a substituição da ureia

comum por ureia protegida, apenas observando melhora na digestibilidade

aparente da proteína bruta. Da mesma maneira, Azevedo et al. (2008) também

não observou diferenças significativas com a substituição da ureia normal em

favor da ureia protegida.

Melo (2011) trabalhou com novilhos inteiros da raça Nelore, em pastagem

de Brachiaria brizantha cv. Marandu no período de transição água-secas. Não

houve diferença significativa no desempenho dos animais que receberam ureia

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comum ou de liberação lenta, sendo que, a adição de ureia de liberação lenta

diminuiu drasticamente a margem bruta de lucro com a atividade.

Outra forma de avaliação é a substituição de fontes de proteína verdadeira

por ureia de liberação lenta. Com esse objetivo foi realizado um experimento na

APTA – Alta Mogiana, onde se avaliou a substituição de 0, 50 e 100% da fonte de

proteína verdadeira (Farelo de algodão) por Optigen®. Os suplementos foram

formulados com concentrações de proteína bruta variando de 30 a 47%, sendo

que, o fornecimento diário de proteína bruta foi o mesmo. Ressalta-se que em

todos havia a presença de ureia normal oferecida na mesma quantidade diária. A

regulação foi realizada pela redução no fornecimento dos suplementos com maior

proporção de Optigen®. O experimento foi realizado com novilhos Nelore, sendo

que a unidade experimental foi o piquete com 6 animais e teve duração de 84

dias. Os ganhos médios 0,890, 0,942 e 0,748 kg/dia, para as substituições de 0,

50 e 100 % da fonte de proteína verdadeira. O tratamento com 100% de

substituição diferiu significativamente dos demais (P<0,05). Já as doses de 0 e

50% não apresentaram diferença significativa. Moretti et al. (2010) concluíram que

pode-se substituir até 50% da fonte de proteína verdadeira, sem prejuízo ao

desempenho e que o ponto ótimo de substituição seria por volta de 35%.

Levantamento Dentro do levantamento realizado sobre pesquisas de ureia protegida nos

últimos 10 anos para animais criados em pastagem ou alimentadas com dietas a

base de volumosos, foram encontrada apenas 5 trabalhos. Em todos os cinco

trabalhos encontrados, apenas um apresentou diferencial de resposta à

substituição de ureia convencional por ureia protegida. Neste trabalho, a produção

de leite apresentou tendência em aumentar cerca de 8,70%, reduzir o teor de

gordura e proteína do leite em aproximadamente 9,27% e 2,02%

respectivamente.

Diante da presente pesquisa, pode-se concluir que a substituição da ureia

normal pela de liberação lenta não trás muitas vantagens ao sistema, mas ela

deve ser vista como potencial substituto de fontes de proteína verdadeira, quando

for viável economicamente.

MINERAIS ORGÂNICOS

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O que é?

Os minerais orgânicos podem ser definidos como fonte de microminerais na

forma combinada de uma molécula orgânica com o íon metálico, sendo essa

molécula orgânica principalmente aminoácidos ou proteínas parcialmente

hidrolisadas, aumentando a disponibilidade desses nutrientes com menores

inclusões nas dietas.

Com funciona?

O modo de ação dos minerais orgânicos que os diferenciam dos inorgânicos

ainda é bastante desconhecido, mas acredita-se que o principal fator associado

ao aumento da disponibilidade intestinal desses elementos estaria no fato de que,

um íon metálico que já foi solubilizado, para ser absorvido no intestino, precisa

estar ligado a uma proteína, pois é essa quem faz o carreamento deste para

dentro da célula. Como os minerais orgânicos já estão ligados à proteína, ele é

absorvido pelo mesmo método de absorção desta, sem competir com os sítios de

absorção intestinal dos íons inorgânicos ou aqueles solubilizados no rúmen. Mas

para que essa reação aconteça, a proteína ligante não pode ter sido fermentada

pelos microrganismos ruminais e o íon não poderia se complexar no rúmen com

outros ligantes.

Expectativas de resultados no pasto Animais com dietas a base de forragem, ou em pastejo, dificilmente tem os

seus requerimentos diários em minerais atendidos. Isso se deve ao fato de que as

forragens utilizadas nas pastagens possuem baixos níveis de minerais, levando

ao desbalanceamento destes nas dietas dos ruminantes. Para o fornecimento de

minerais, principalmente os microminerais, há incorporação à dieta na forma de

sulfatos, óxidos e carbonatos. Apesar desses ingredientes não onerarem de forma

comprometedora o custo do suplemento, possuem uma baixa disponibilidade e

solubilidade no trato gastrointestinal dos ruminantes, indicando de deverá haver

na dieta total uma alta quantidade desses minerais, como zinco (Zn), cobre (Cu),

selênio (Se), manganês (Mn), cobalto (Co), para que as exigências dos animais

sejam supridas.

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Devido ao não suprimento das exigências de minerais dos animais em

pastejo, o uso de sal mineral é uma prática já utilizada nos sistemas de produção

de bovinos em pastagens, apesar da sua baixa disponibilidade nutricional.

Os minerais orgânicos podem ser utilizados para atender as exigências

nutricionais desses animais, com menor quantidade de sal fornecida, já que a sua

disponibilidade é aumentada no sistema gastrointestinal, quando comparada

àquelas fornecidas na forma inorgânica.

Pereira (2002) fez uma ótima revisão sobre o uso de minerais orgânicos

para ruminantes, o autor levantou dados da literatura internacional. Ele conclui

apontando que mesmo após dissociação do complexo os minerais orgânicos

parecem ter alta solubilidade. Isso seria um indicativo da maior absorção que

algumas formas inorgânicas, com base na digestibilidade do trato digestivo total

ou concentração em tecidos ou sangue. Ele comenta também que a literatura não

suporta ocorrência de aumento em ganho em peso e nem produção de leite, há

sim efeitos positivos da suplementação de microminerais, porém em dietas

isonutricionais, não há suporte científico do benefício dos minerais orgânicos. E

por fim foi levantado pelo autor uma possibilidade de resposta positiva em

situações específicas, por exemplo, no caso de suplementação de animais em

stress, porém ainda sem muita base científica.

Levantamento de dados nacionais Apesar de poucos trabalhos realizados com animais em pastagens e

minerais orgânicos, uma compilação de artigos, teses e dissertações realizada

nos últimos 10 anos de publicações sugerem pouca consistência nos resultados

referentes a esta utilização. Houve tendência na redução da produção de leite (-

7,16%), gordura no leite (-2,39%), ureia no sangue (-10,88%), e espessura de

gordura subcutânea (-0,18%). Também houve tendência para aumento na glicose

sanguínea (4,65%) e área de olho de lombo (2,90%). O único resultado que

diferiu foi o ganho em peso médio diário com diferencial de resposta de 17,62%.

Em estudo realizado na APTA-Colina com o desenvolvimento corporal de

novilhas leiteiras, mantidas em pastagens de capim Brachiaria brizantha cv.

Marandu e suplementadas com minerais orgânicos e inorgânicos, Drubi (2009)

não encontrou diferenças significativas o desempenho reprodutivo e produtivo

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quando comparadas essas duas formas de suplementação, independentemente

do período analisado, seca ou águas.

Exemplos de uso dos minerais orgânicos

Alguns exemplos podem ser citados sobre formas de minerais orgânicos.

Zinco - o zinco (Zn), para a formação do mineral orgânico, é complexado

principalmente a metionina, formando a molécula Zn-metionina, sendo esta a

forma mais estudada em bovinos. Para a sua absorção intestinal, há indicativos

de que é realizada por transportadores específicos da metionina. A

suplementação com o elemento Zn visa principalmente solucionar problemas de

cascos dos animais ruminantes, principalmente para vacas leiteiras, além de ser

essencial para a síntese de enzimas envolvidas no metabolismo de proteínas e

carboidrato, participando ativamente do desenvolvimento do sistema imunológico

(NRC, 1996). Referenciando o ganho em peso e a qualidade da carcaça, Pedreira

& Berchielli (2006) evidenciaram que doses diárias de Zn na forma quelatada com

o aminoácido metionina pode atuar sobre a carcaça de bovinos, aumento o grau

de marmoreio e a espessura de gordura.

Apesar do conhecimento da essencialidade do zinco nas dietas de animais

ruminantes, segundo Carvalho et al. (2003) em compilação de dados de

diferentes trabalhos da literatura, ainda há contradição entre os resultados

apresentados, pois há resultados positivos com a suplementação de zinco

quelatado em relação à sua forma inorgânica (Tabela 2)

Em outro trabalho utilizando diferentes fontes de Zn como o Zn orgânico, Zn

proteinado, Zn polissacarídeo e ZnO, no desempenho de bovinos de corte,

Kessler et al. (2003) não encontrou diferença significativa entre as dietas para

ingestão de matéria seca, taxa de crescimento e conversa alimentar.

Tabela 2. Comparação de resultados positivos com a suplementação de zinco

orgânico em relação a sua forma inorgânica

Parâmetros avaliados Número de trabalhos

Efeito positivo Sem efeito

Ganho médio diário 5 4

Consumo de matéria

seca

2 2

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Conversão alimentar - 1

Resposta imune 1 1

Problemas de casco 1 -

Fonte: Carvalho et al. (2003)

Cobre - o cobre (Cu) na forma de mineral orgânico é encontrado

principalmente complexado ao aminoácido lisina, formando a Cu-lisina. Um dos

maiores problemas associados ao Cu é a sua disponibilidade próxima a 1%

(NRC, 2001), pois este forma compostos, no rúmen, com os elementos enxofre

(S) e molibdênio (Mo), resultando em sais de cobre que não são absorvíveis.

Cromo - como o Cr participa ativamente do metabolismo energético do

animal, pode influenciar na qualidade da carcaça dos animais, pois funciona como

um componente integral e biologicamente ativo do fator de tolerância a glicose

(GTF – Glucose Tolerance Factor), facilitando a interação entre insulina e os

receptores dos tecidos musculares e gordurosos (MERTZ, 1987). Como participa

no metabolismo energético, o cromo pode influenciar na formação da carcaça dos

animais.

Polizel Neto et al. (2009), estudando a inclusão de cromo na forma

quelatada à proteína, concluíram que animais Nelore e F1 Brangus × Nelore

apresentam potencial similar de produção de carne de qualidade a pasto. A

suplementação protéico-mineral com adição de cromo complexado à molécula

orgânica melhora o ganho de peso (494 vs 420 g/animal/dia) e o rendimento de

carcaça e não influencia os parâmetros qualitativos da carne. Apesar desse

resultado ser positivo para o uso de um mineral orgânico, na maioria dos

trabalhos revisados, não há efeito do uso sobre o ganho de peso e nas

características de carcaça (CHANG & MOWAT, 1992; ZANETTI et al., 2003)

Selênio - o selênio (Se) é um dos minerais orgânicos mais utilizados nos

EUA, principalmente na forma de levedura selenizada. Durante o processo de

cultivo da levedura do gênero Saccharomyces cerevisiae há adição de Se, o qual

forma o composto selenometionina, em que há substituição do S da molécula de

metionina pelo Se. O íon Se é utilizado pelo animal na síntese de enzimas do

grupo glutationa, principalmente a glutotiona peroxidades, deiodinases e

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tiorredoxinas redutases. Essas enzimas participam principalmente da redução de

radicais livres do catabolismo celular. Um dos principais benefícios do uso de Se

orgânico está no aumento da sua concentração no colostro de animais leiteiros,

sendo repassado para o bezerro desde a fase inicial do seu crescimento (WEISS,

2004).

De forma geral, o uso de minerais orgânicos ainda é baixo no país, devido

ao seu custo ser muito mais elevado, quando comparada a utilização de minerais

inorgânicos. Apesar da disponibilidade menor nos íons inorgânicos, há

nutricionistas que preferem recomendar aumento nos níveis nas dietas dos

animais, como forma de suprir as exigências, para diminuir os custos de

produção. Porém essa prática pode levar ao desbalanceamento da dieta total,

acarretando altas perdas destes minerais no ambiente, devido a excreção dos

animais. Nesse sentido, a utilização de minerais orgânicos pode e deverá, no

futuro, contribuir com o aumento da eficiência de utilização de minerais. O grande

benefício dos minerais orgânicos será na muito mais redução do uso de insumos

e do que no aumento em desempenho.

SUPLEMENTAÇÃO COM GORDURA PROTEGIDA O que é?

O termo lipídios consiste em definição genérica usada para compostos que

possuem ácidos graxos de cadeia longa. Ácidos graxos são definidos como

compostos que possuem cadeia longa de hidrocarbonetos e estrutura terminal

com grupo carboxila, sendo que tais substâncias podem ser encontradas em

grandes quantidades em sistemas biológicos, raramente na forma livre, sendo

tipicamente encontrados ligados a molécula de glicerol ou outras estruturas que

se ligam ao carbono terminal (LEHNINGER, 2002).

Como funciona? Segundo Nagajara et al. (1997), ácidos graxos de cadeia longa são tóxicos

para as bactérias gram-positivas. Sua ação basea-se na alteração na

permeabilidade da membrana celular, pela formação de complexos insolúveis

com cátions, que reduz a capacidade da célula de regular o pH intracelular e a

captação de nutrientes. As bactérias gram-negativas, devido a sua dupla

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membrana não são afetadas. Mas são tóxicos para os protozoários, entretanto,

não se sabe completamente como ocorre essa toxidade.

Segundo Church (1984), a utilização de aditivos, em forma de lipídios, na

dieta de bovinos é alternativa para elevar a densidade energética, sem aumentar

a ingestão de carboidratos ou comprometer a ingestão de fibras. Há varias fontes

de gordura possíveis de serem utilizadas na dieta para ruminantes, que se

incluem desde óleo de soja até lipídios protegidas comercialmente, e sementes

inteiras oleaginosas.

Uma forma de reduzir os efeitos tóxicos da gordura sobre o funcionamento

ruminal seria a busca de fontes de gorduras protegidas da degradação, e os sais

de ácidos graxos tem sido extensivamente utilizados com este objetivo, visto não

apresentarem um grupo carboxil livre no ácido graxo, o qual é a condição inicial

básica para os microrganismos iniciarem o processo de biohidrogenação.

Todavia, o grau de insaturação é provavelmente a mais importante característica

que influencia a digestibilidade (JENKIS, 1993).

Os sais de cálcio de ácido graxo (SCAG) ou gordura protegida são

produzidos através da ligação de sais de cálcio aos ácidos graxos essenciais de

cadeia carbônica longa, linoléico 18:2 e linolênico 18:3, formando sabões de

cálcio que impedem que ocorra a biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados

no rúmen. Os ácidos graxos da gordura protegida teoricamente passam intactos

pelo rúmen e são metabolizados no intestino, onde possui melhor aproveitamento

de suas características, portanto, com a mesma quantidade de gordura, mas ela

sendo protegida, apresenta melhor resultado. Quando os SCAG chegam ao

abomaso ocorre liberação dos ácidos graxos, devido o menor pH em relação ao

rúmen, ficando livres para serem absorvidos no duodeno.

A utilização de ácidos graxos pelas bactérias ruminais é restrita. O excesso

de ácidos graxos insaturados e triglicerídeos pode causar alteração na

fermentação ruminal, devido à supressão das atividades de bactérias celulolíticas

e metanogênicas, geralmente gram-positivas (JENKINS et al., 2008).

Expectativas de uso no pasto e exemplos As expectativas de utilização de gordura protegida na suplementação de

bovinos de corte em pasto estão relacionadas com o suprimento das

necessidades energéticas dos animais em pastejo. O aumento da densidade

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energética da suplementação com a utilização de lipídeos é uma estratégia para

buscar resultados de desempenho positivos em sistemas de criação extensivos.

Valente (2011) avaliando o desempenho de bovinos em pastagens de capim-

xaraés e suplementados com diferentes fontes lipídicas, no período chuvoso,

encontrou ganho adicional de 120g nos animais recebendo gordura protegida em

comparação com o tratamento controle, o autor enfatiza que o acréscimo no

ganho pode não ser interessante economicamente devido ao alto custo do

suplemento, indicando que a estratégia deve ser exaustivamente analisada.

Santana (2010), avaliando suplementos lipídicos nas características da

carcaça e carne de novilhas mantidas em pastagem encontrou efeito significativo

sobre o sabor, textura e aceitação global. Os suplementos com óleo de soja e sais

de cálcio foram superiores no sabor e a aceitação global em relação à dieta com

soja grão e com relação à textura o tratamento com sais de cálcio foi superior aos

demais, a autora não encontrou diferença significativa para ganho médio diário.

Onetti & Grummer (2004), Citado por Santana (2010), em uma revisão de

23 experimentos, que avaliaram a suplementação de diferentes fontes e níveis de

gordura nas rações de vacas. Destes, 21 experimentos que utilizaram sais de

cálcio tiveram redução no consumo com aumento na produção de leite.

Uma nova expectativa de utilização da gordura protegida na redução da

mitigação de metano está sendo motivo de novas pesquisas com o uso na

suplementação a pasto. Em estudo realizado com bovinos a pasto recebendo

suplementação com óleo de palma, óleo de linhaça, gordura protegida e soja

grão, resultou em uma menor emissão de metano, numericamente, por quilo de

ganho (KgCH4/KgGAN) para o tratamento com gordura protegida (CARVALHO,

2012).

Tabela 2. Efeito da suplementação com lipídios sobre o desempenho e produção

de metano

Tratamentos EPM Valor-P

CO PA LI GP SG

GMD 0,596 0,574 0,655 0,581 0,594 0,051 0,797

KgCH4/ano 41,5 41,1 25,6 37,2 30,1 4,820 0,217

gCH4/dia 113,7 112,6 70,2 101,9 82,5 13,23 0,217

mg CH4/dia/KgPV 238,7 228,5 147,0 208,5 180,9 16,71 0,054

g CH4/dia/KgPV0,75 1,12 1,08 0,69 0,98 0,84 0,091 0,087

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KgCH4/KgCAR 0,41 0,43 0,26 0,40 0,32 0,058 0,308

KgCH4/KgGAN 0,24 0,24 0,14 0,23 0,18 0,034 0,304

CH4 (%CEB) 3,39 3,36 2,48 2,89 2,27 0,311 0,157

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo

teste de Tukey a 5% de probabilidade; CO= Controle, PA= óleo de palma, LI=

Óleo de linhaça, GP=Gordura protegida, SG= Soja grão.

Fonte: Carvalho (2012)

Levantamento

A gordura protegida tendeu aumentara produção de leite (11,26%) e

reduzir a concentração de glicose plasmática (-2,28%). As respostas favoráveis

deram-se na gordura (5,00%) e proteína do leite (5,95%).

Figura 6. Relação de trabalhos encontrados em periódicos nacionais e

banco de teses de universidades nos últimos 10 anos sobre utilização de

gordura protegida para bovinos de corte em pastagens

A utilização de gordura em dietas para bovinos em confinamento possui

vasta disponibilidade de informações na literatura, porém em sistemas de pastejo

há carência de informações e novos resultados com o uso em sistemas

extensivos favorecerão outras pesquisas futuras em pastagens tropicais, onde há

grande capacidade de bons avanços com o aumento da utilização de gordura em

dietas para bovinos em pastagens, há grande potencial do uso da gordura

protegida como o uso para a redução da mitigação de metano.

Considerações finais

11.26%

5.00% 5.95%

&2.28%

5.00%5.95%

&4.00%&2.00%0.00%2.00%4.00%6.00%8.00%10.00%12.00%

Producao%de%leite% Gordura% Proteina% Concentracao%de%glicose%

Δ"Tratado"x"Controle"(%

)"

Média%Geral% Média%das%respostas%favoráveis%

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! 78!

A correta utilização de aditivos em bovinos mantidos em pastagens é uma

tecnologia pouco explorado nos nossos sistemas de produção, mas apresenta

alto potencial de uso. Sua viabilidade precisa ser avaliada em relação a melhoria

dos indicies zootécnicos e também em relação aos parâmetros econômicos.

A literatura nacional é pobre em informações sobre o uso destas técnicas.

E a maioria dos trabalhos não apresentam delineamentos capazes de verificar a

ocorrência de diferenças estatísticas. Sempre é salutar lembrar que a observação

de não diferença significativa não significa igualdade entre os tratamentos. Desta

forma, sugere-se que os autores de futuros experimentos atentem pela

necessidade de delineamentos robustos, pois na maioria das vezes a diferença

desejada é da ordem de 3 a 5 %.

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Intensificação da produção animal em pasto por meio do

manejo do pastejo*

Eng. Agro. Sila Carneiro da Silva Professor Associado do Dep. de Zootecnia da ESALQ/USP. Bolsista do CNPq

*Anais do Simpósio de Produção Animal a Pasto (SIMPAPASTO), em Maringá,

PR, 2011.

Introdução

O manejo do pastejo tem sido alvo de interesse durante muitos anos,

particularmente em países ditos de pecuária desenvolvida, uma vez que tem sido

por meio de práticas adequadas de manejo que incrementos significativos em

produção e produtividade animal têm sido gerados, assegurando competitividade

e longevidade aos sistemas de produção animal baseados na exploração de

pastagens. Dentre as modalidades de métodos de pastejo existentes, o pastejo

rotativo é uma das mais preferidas e utilizadas, função da maior facilidade de

condução e possibilidades de controle do processo de pastejo, apesar dos

maiores custos relacionados com subdivisão dos pastos, construção de

corredores, áreas de sombra para conforto e suplementação animal e rede

hidráulica para fornecimento de água em quantidade e qualidade. Nessa

modalidade, o processo de pastejo ocorre de forma isolada do processo de

rebrotação, uma vez que são intercalados períodos de ocupação e de descanso

dos pastos. O fato pressupõe controle da duração do processo de rebrotação e,

para tanto, a necessidade de conhecer o momento ideal de colheita da forragem

produzida, ou seja, de retorno dos animais aos piquetes.

A produção e a colheita eficiente de qualquer cultura como milho, soja,

cana-de-açúcar, laranja etc. requer conhecimento acerca do ciclo e do

crescimento das plantas para que as operações envolvendo tratos culturais e

colheita possam ser realizadas no momento correto e de maneira a propiciar o

maior rendimento e produtividade possível. Para plantas forrageiras e pastagens

essa lógica de raciocínio é a mesma, o que faz com que o conhecimento sobre os

padrões de crescimento e desenvolvimento dessas plantas seja ponto de partida

para que estratégias de manejo e de colheita possam ser idealizadas e

implementadas. As plantas forrageiras acumulam forragem de maneira

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diferenciada ao longo de seu ciclo de crescimento, ora priorizando a produção de

novas folhas e tecidos ora priorizando a produção de colmos e inflorescências.

Esses diferentes padrões de crescimento têm implicações importantes sobre a

produção de forragem, seu valor nutritivo, consumo e eficiência de colheita pelo

animal, e precisam ser compreendidos para que práticas de manejo eficientes

possam ser planejadas e utilizadas. Este texto tem por objetivo discutir aspectos

relacionados com o crescimento das plantas forrageiras e consumo de forragem

sob condições de pastejo ressaltando suas implicações sobre a determinação do

ponto ideal de colheita da forragem produzida.

O crescimento das plantas forrageiras e o acúmulo de forragem O acúmulo de forragem durante o período de crescimento e rebrotação das

plantas após pastejo é determinante da quantidade e qualidade da massa de

forragem produzida. Trabalhos recentes de pesquisa têm descrito esse processo

(e.g. Hodgson & Da Silva, 2002; Da Silva, 2004; Da Silva & Nascimento Jr., 2007)

e revelaram um padrão de crescimento semelhante e muito consistente para

diferentes espécies e cultivares de plantas forrageiras (Zeferino, 2006; Barbosa et

al., 2007; Pedreira et al., 2007; Da Silva et al., 2009; Voltolini et al., 2010; Barbero,

2011). De forma geral, logo após o pastejo e saída dos animais dos piquetes, o

pasto começa a rebrotar com o objetivo de refazer sua área foliar, interceptar luz

e crescer novamente (Figura 1), acumulando nova quantidade de forragem para

ser utilizada no pastejo seguinte. No início são produzidas principalmente folhas,

sendo o acúmulo de colmos e de material morto muito pequeno. Nessa fase a

prioridade da planta é refazer sua área foliar com o objetivo de maximizar a

interceptação da luz incidente por meio do componente mais eficiente que possui,

as folhas. Pelo fato de o dossel forrageiro encontrar-se “aberto” após pastejo,

praticamente não há competição por luz e a planta prioriza a produção de folhas.

Esse processo é mantido dessa maneira até que a massa de forragem aumenta e

as folhas começam a se sobrepor e sombrear umas às outras, especialmente

aquelas posicionadas mais próximas do solo. Esse ponto é quando 95% de toda a

luz incidente são interceptados. Nesse momento ocorre inversão de prioridades

na partição de assimilados e as plantas, em resposta à competição por luz,

começam a colocar folhas novas em condições de plena luz sempre na parte de

cima do dossel forrageiro. Para que isso seja possível, a planta inicia um

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processo intenso de alongamento de colmos, conseqüência da elevação de seus

meristemas apicais, fazendo com que as folhas novas, que surgem do interior do

cartucho formado pelas bainhas das folhas existentes, sejam posicionadas acima

das outras mais velhas. Quando isso acontece, as novas folhas produzidas são

menores que as mais velhas, posicionadas próximas do solo, as quais iniciam

processo de morte e decomposição, causando redução do acúmulo de folhas e

aumento do acúmulo de colmos e de material morto (Figura 2). Nesse estágio a

altura e a massa de forragem dos pastos aumentam rapidamente, porém a massa

de forragem disponível ao animal para colheita começa a apresentar proporções

cada vez menores de folhas e maiores de colmos e de material morto à medida

que o período de rebrotação aumenta, ou seja, o intervalo de pastejo é

prolongado.

Figura 1. Evolução da área foliar e interceptação de luz em pastos durante a

rebrotação.

IL

IAF

Tempo

Índice

de ár

ea fo

liar Interceptação de luz

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Figura 2. Dinâmica do acúmulo de forragem durante a rebrotação em pastos de

capim-mombaça pastejados com 100% de interceptação luminosa e altura pós-

pastejo de 50 cm (Fonte: Carnevalli, 2003).

O intervalo de pastejo ideal, portanto, seria quando o acúmulo de folhas

fosse elevado, porém antes do início do acúmulo acentuado de colmos e de

material morto, condição que vem sendo demonstrado estar associada com 95%

de interceptação da luz incidente durante a rebrotação para os capins mombaça

(Carnevalli et al., 2006), marandu (Zeferino, 2006), tanzânia (Barbosa et al.,

2007), xaraés (Pedreira et al., 2007), elefante (Voltolini et al., 2010) e mulato

(Barbero, 2011). Nesse ponto a massa de forragem é composta por elevada

porcentagem de folhas e pequena porcentagem de material morto e colmos,

sendo estes finos e tenros. Esse padrão de resposta é análogo àquele descrito

para plantas forrageiras de clima temperado, notadamente azevém perene

(Parsons et al., 1988), indicando existir muito mais semelhanças que diferenças

entre plantas forrageiras de clima temperado e tropical e demonstrando o

potencial de uso dos mesmos conceitos de manejo utilizados com sucesso em

países ditos desenvolvidos na exploração de pastagens no Brasil. Nesse

!

!

! !

Folha

Colmo !

Morto

Acú

mul

o de

folh

as e

se

nesc

ênci

a (c

m/p

erfil

lho)

Acúm

ulo de colmos

(cm/perfillho)

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contexto, a condição de 95% de IL pode ser determinada no campo por meio da

altura do pasto, medida do nível do solo até o horizonte de visada formado pelo

plano horizontal de folhas, uma vez que essa característica estrutural do dossel

forrageiro tem apresentado valores muito estáveis na condição de 95% de IL,

permitindo que esse tipo de associação possa ser feito de maneira eficaz e

eficiente e fornecendo uma ferramenta fácil e ágil de monitoramento dos pastos e

controle do processo de pastejo em condições de campo; a altura. Nesse

contexto o ponto ideal de colheita seria o mesmo para as diferentes plantas

forrageiras avaliadas, ou seja, 95% de IL durante a rebrotação. Contudo, o valor

de altura correspondente a cada uma delas seria específico, função de seu hábito

de crescimento, espécie e cultivar (Tabela 1). O uso de metas de altura do pasto

para caracterizar o momento ideal de colocação dos animais para pastejar

assegura alta produção de forragem com elevada proporção de folhas e baixa

proporção de colmos (jovens) e material morto (Tabela 2), contribuindo para a

produção de forragem em quantidade e qualidade.

Tabela 1. Metas de altura para entrada e saída dos animais em pastos manejados

utilizando o método de pastejo rotativo.

Altura do pasto (cm)

Planta Forrageira Entrada Saída

Mombaça 90 30 a 50

Tanzânia 70 30 a 50

Elefante (Cameroon) 100 40 a 50

Marandu 25 10 a 15

Xaraés 30 15 a 20

Tifton-85 25 10 a 15

Coastcross e Florakirk 30 10 a 15

Fonte: Da Silva et al. (2008)

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Tabela 2. Composição morfológica (%) da massa de forragem em pré-pastejo de

pastos de capim-mombaça submetidos a estratégias de pastejo rotativo (Janeiro

de 2001 a Fevereiro de 2002)

Altura pós-pastejo Interceptação de luz (%)

(cm) 95 100 Média

Folha:

30 70,9Aa 60,3Ab 65,6A

50 57,7Ba 57,5Aa 57,6B

Média 64,3a 58,9b

Colmo:

30 14,7Ab 26,4Aa 20,6

50 18,9Aa 22,1Aa 20,5

Média 16,8b 24,2a

Material morto:

30 13,7Bb 19,0Aa 16,4

50 20,7Aa 18,1Aa 19,4

Média 17,2 18,6

Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas e maiúsculas nas colunas

não diferem entre si (P>0,05). Fonte: Carnevalli (2003)

O ritmo de crescimento das plantas varia de localidade para localidade, de

ano para ano, com o uso de fertilizantes, corretivos e irrigação. Como o padrão de

acúmulo de forragem depende da interceptação e competição por luz, quanto

mais rápido um pasto cresce e/ou rebrota, mais rápido ele estará em condições

de receber animais para um novo pastejo, indicando que o uso de calendários

fixos e pré-definidos para intervalos de pastejo é limitado e pode causar sérios

prejuízos para a qualidade da forragem produzida e, consequentemente, para a

produção animal. Esses prejuízos são mais críticos quanto melhores forem as

condições de crescimento para as plantas, ou seja, quanto mais rápido elas

crescem (solos de elevada fertilidade, adubados, irrigados etc.), sugerindo maior

necessidade de monitoramento eficiente e dificuldade de manejo em melhores

condições de crescimento e produção das pastagens. Dessa maneira, fica claro

que o conhecimento dos padrões de crescimento e acúmulo de forragem das

plantas forrageiras é muito importante porque permite controlar a composição da

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forragem produzida por meio de ajustes no intervalo de pastejo ou período de

descanso dos pastos. Caso um período de descanso muito longo seja utilizado, o

pasto diminuiria a produção de folhas e aumentaria a produção de colmos e de

material morto, componentes esses que são rejeitados pelos animais e

normalmente se acumulam na base dos pastos, formando a “macega” que

geralmente dá origem a ações como roçada e uso do fogo ao final do período

seco e início do período chuvoso seguinte.

A ingestão de nutrientes e desempenho animal em pastagens A produção animal em pasto é função da quantidade de nutrientes

ingeridos diariamente pelos animais em pastejo. Em condições de uso exclusivo

de pasto, a ingestão de nutrientes é resultado da quantidade de forragem

consumida e do valor nutritivo ou concentração de nutrientes na forragem

ingerida. O crescimento das plantas forrageiras em pastagem ocorre

prioritariamente no sentido de produzir folhas, mudando para acúmulo de colmos

e de material morto apenas se o intervalo de pastejo adotado for mais longo que o

necessário (Figura 2). O intervalo de pastejo ideal corresponde ao número

necessário de dias para que o pasto atinja 95% de interceptação da luz incidente

que, para cada planta forrageira, pode ser associado a uma condição de altura do

pasto (Tabela 1). O uso da meta de manejo baseada na interceptação de luz

assegura que o momento de colheita da forragem (entrada dos animais no pasto)

seja consistentemente o mesmo em relação ao estádio de crescimento da planta

durante a rebrotação, assegurando produção de forragem com alta proporção de

folhas e baixa proporção de colmos e de material morto (Tabela 2), ou seja,

forragem de alto valor nutritivo. Trabalhos recentes têm revelado que quando os

pastos são devidamente manejados e os intervalos de pastejo ótimos utilizados, a

forragem produzida possui valor nutritivo que varia pouco dentre diferentes

espécies e cultivares de plantas forrageiras, a maior diferença sendo apenas a

quantidade e a distribuição da forragem produzida (Da Silva & Carvalho, 2005; Da

Silva & Nascimento Jr, 2007). Nessa condição, o valor nutritivo da forragem

consumida pelos animais em pastejo varia, em média, de 12 a 18% de proteína

bruta e de 60 a 70% de digestibilidade (Tabela 3), valores considerados elevados

e que caracterizam forragem de bom valor nutritivo. Nesse contexto, as diferenças

em desempenho animal são conseqüência, basicamente, da quantidade de

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forragem ingerida, uma vez que a diferença em valor nutritivo é pequena, fato que

realça a importância de conhecer e compreender como se dá o consumo de

forragem pelos animais em pastejo e como ele é afetado pelas práticas de manejo

utilizadas.

Tabela 3. Valor nutritivo da forragem colhida em pastos utilizados com base em

metas de manejo e respeitando o ritmo de crescimento das plantas forrageiras

Forragem PB

(%)

FDN

(%)

FDA

(%)

Digestibilidade

(%)

Referência

Tifton 85 17,2 67,0 27,4 78,0 Carnevalli (1999)

Florakirk 18,2 63,9 25,8 76,1 Carnevalli (1999)

Coastcross 17,5 65,5 27,2 74,1 Carnevalli (1999)

Marandu (contínuo) 12,5 61,7 28,8 64,7 Andrade (2003)

Marandu (rotativo) 10,0 68,1 32,4 66,8 Trindade (2007)

Xaraés 12,5 68,4 35,3 69,4 Nave (2007)

Mombaça 11,7 66,8 37,8 60,8 Bueno (2003)

Tanzânia 10,5 76,4 - 67,9 Difante (2005)

Elefante (cameroon) 14,6 65,1 35,9 58,9 Voltolini (2006)

Carareto (2007)

O consumo de forragem em condições de pastejo

No pasto o consumo de forragem é bastante distinto daquele em condições

de confinamento. Animais alimentados no cocho, quando bem manejados, não

têm restrições de acesso ao alimento e este é fornecido em quantidade e

qualidade, normalmente na forma de dieta balanceada. No pasto a situação é

diferente. O alimento precisa ser colhido e, para isso, o animal deve encontrar

locais adequados para pastejo, colher a forragem nos locais escolhidos e repetir o

processo até que tenha sido saciado ou se canse (Carvalho et al., 2005). Além

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disso, no ambiente pastagem dificilmente a forragem colhida propicia dieta

balanceada, o que impõe restrições ao desempenho máximo de cada animal

individualmente. Nesse contexto, a forma como a forragem é apresentada ao

animal (estrutura do dossel forrageiro) assume importância fundamental, pois

determina a facilidade de preensão e colheita, determinando os níveis de

consumo e ingestão de nutrientes dos animais em pastejo. Normalmente, dentro

de certos limites, em pastos com maior massa de forragem e manejados alto a

probabilidade de encontro com locais adequados de pastejo é maior, assim como

é a facilidade de colheita da forragem, caracterizada por altas taxas de ingestão

(kg MS por vaca por unidade de tempo) relativamente a pastos de menor massa

de forragem e manejados baixo (Carvalho et al., 2009). Contudo, esse padrão de

resposta muda quando valores elevados de massa de forragem ou altura dos

pastos estão associados com altas proporções de colmos e de material morto, ou

seja, forragem passada ou pastos em estádio reprodutivo, situação em que

pastos mais baixos e de menor massa de forragem tornam-se mais adequados

(Carvalho et al., 2006). Basicamente, o que é afetado é o tamanho do bocado, a

menor e mais simples unidade que compõe o consumo (Figura 3).

Figura 3. Consumo diário de forragem de animais em pastejo como função de

variáveis comportamentais e de estrutura do dossel forrageiro (Adaptado de

Carvalho et al., 2001)

Consumo de forragem = Taxa de

consumoTempo de pastejo

x

Área do bocado

Massa do bocado

Taxa de bocados

x

Volume do bocado

Densidade da forragem

x

Profundidade do bocado

x Dependentes do animal em pastejo

Dependenteda estruturado dossel (altura e massa

de forragem)

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De maneira geral, quando o tamanho (massa) do bocado é reduzido o

animal aumenta a taxa de bocados (número de bocados realizados por unidade

de tempo) como forma de tentar manter a taxa de consumo (kg de MS por animal

por unidade de tempo) (Figura 4). Se o aumento em taxa de bocados não é

suficiente para compensar a redução em tamanho do bocado e a taxa de

consumo diminui, o animal aumenta também o tempo de pastejo no dia como

forma de tentar manter o consumo. Isso demonstra que se a forma como o pasto

é oferecido aos animais não é adequada e não favorece o consumo, os animais,

além de não ingerirem a quantidade de alimento necessária, têm que trabalhar

mais para colher a forragem, o que aumenta os custos de manutenção e as

exigências nutricionais para um mesmo nível de desempenho. O resultado é

redução da produção, pois dificilmente o animal consegue manter o consumo e,

mesmo que mantivesse, o custo de manutenção seria mais alto e,

consequentemente, sua exigência nutricional maior, o que demandaria maior

consumo.

O tamanho ou massa do bocado é basicamente afetado por causa da

variação na profundidade com que os animais exploram o pasto, e esta é função

de características do pasto como massa de forragem (kg MS/ha), altura,

porcentagem de folhas e de colmos etc. (Carvalho et al., 2009). Por outro lado,

bocados excessivamente grandes, típicos de animais pastejando plantas de porte

alto manejadas alto como os capins mombaça, tanzânia e elefante, por exemplo,

podem também resultar em menor consumo no final do dia porque resultam em

redução da taxa de consumo. Isso acontece porque bocados muito grandes

requerem muito tempo para poderem ser deglutidos, ou seja, para que a forragem

colhida possa ser acomodada na boca e ingerida. Isso reduz a velocidade de

consumo dos animais, podendo causar redução do consumo de forragem ao final

do dia de pastejo (Palhano et al., 2007).

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Figura 4. Comportamento ingestivo de novilhas leiteiras da raça Holandês Preto e

Branco capim-mombaça submetido a estratégias de pastejo rotacionado

caracterizadas por diferentes alturas de entrada no pasto (Adaptado de Silva,

2004)

No exemplo acima, para o capim-mombaça, a maior taxa de consumo de

forragem foi conseguida a partir da altura de entrada de 90 cm, a mesma altura

condizente com a meta ideal de uso dessa planta forrageira baseada no critério

de 95% de interceptação de luz (Tabela 1). O resultado em termos de produção

de leite foi um aumento de cerca de 30% na produção diária por vaca em relação

a pastos manejados com a maior altura, de 140 cm (Tabela 3), correspondente à

altura dos pastos ao final do período padrão de descanso de 35 dias. Isso aponta

para a necessidade de planejar adequadamente as práticas de manejo como

adubação, irrigação, intervalo de pastejo etc. como forma de assegurar um

padrão adequado de crescimento, favorecendo acúmulo de forragem de bom

valor nutritivo e pastos com estrutura adequada para elevadas taxas de consumo

(Trindade et al., 2007), favorecendo o desempenho animal e utilização eficiente

da forragem produzida (Da Silva & Carvalho, 2005).

Tabela 3. Produção diária de leite (kg/vaca.dia) em pastos de capim-mombaça

pastejados a 90 ou 140 cm de altura.

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Altura de entrada nos pastos (cm)

Mês 90 140

Janeiro 15,7 12,1

Fevereiro 12,3 9,5

Média 14,0a 10,8b

Médias seguidas de mesma letra minúscula nas linhas não diferem entre si (P>0,05).

Fonte: Hack et al. (2007)

Mais recentemente, alguns estudos têm sido feitos com o objetivo de

identificar qual seria o ponto de interromper o processo de rebaixamento de

pastos submetidos a pastejo rotativo como forma de assegurar elevadas taxas de

consumo de forragem e desempenho animal (e.g. Carvalho et al., 2009). Essa é a

segunda meta importante, a altura ideal de retirada dos animais dos pastos. Os

resultados têm indicado que desde que a altura ideal de manejo seja adotada, o

pastejo deveria ser encerrado quando cerca de 50% da altura inicial do pasto

tivesse sido removida, sendo que elevadas taxas de consumo podem ser

atingidas dentro da amplitude de 40 a 60% (Fonseca, 2011). Nessa condição de

saída dos animais dos piquetes, além de favorecer a ingestão de forragem por

animal, a área foliar remanescente e o vigor de rebrotação seriam elevados,

favorecendo o rápido retorno dos pastos na condição de pastejo (Trindade, 2007;

Silveira, 2010).

Metas de manejo baseadas no conceito de interceptação de luz

Plantas forrageiras em pastagens, assim como qualquer outra cultura,

possuem requerimentos de crescimento (fertilidade do solo e clima) e de manejo.

Portanto, conhecer quais são esses requerimentos e como realizar a colheita de

forragem de maneira correta é essencial para que a produção animal em

pastagens possa ser feita de forma racional, sustentável, produtiva e

economicamente viável. Conforme discutido nas seções anteriores, o crescimento

das plantas e a produção de forragem não seguem o tradicional calendário

utilizado como referência de tempo (dias, meses e anos) para o planejamento e

dimensionamento de estratégias e práticas de manejo do pastejo. Elas se

desenvolvem em função direta da disponibilidade de fatores climáticos de

crescimento como água, luz e temperatura, assim como de nutrientes no solo.

Esse conjunto de fatores define a qualidade do ambiente para crescimento das

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! 101!

plantas e a resposta é basicamente percebida por meio da velocidade de

crescimento das plantas. Ambientes bons e propícios ao crescimento favorecem

elevadas taxas de acúmulo de forragem, fazendo com que as plantas alcancem

seu ponto ideal de colheita, estádio pré-determinado de desenvolvimento, mais

cedo que plantas crescendo em ambientes pobres e/ou com limitações ao

desenvolvimento. O entendimento desse conceito, lógico, permite a percepção do

fato de que o uso de períodos pré-determinados e fixos de descanso ou intervalo

de pastejo definidos gera prejuízos potencialmente elevados, uma vez que

normalmente resulta em colheita de forragem passada, com baixo valor nutritivo e

baixo consumo voluntário, e elevadas perdas de pastejo (Carnevalli et al., 2006).

O fato aponta, também, para a possibilidade de intensificar a produção animal em

pasto por meio da melhoria da eficiência de utilização da forragem produzida que,

relativamente às eficiências de crescimento e conversão, corresponde à forma

mais eficaz e eficiente de intervenção no processo produtivo (Da Silva & Corsi,

2003; Da Silva & Nascimento Jr, 2006).

Resultados recentes de experimentação na ESALQ utilizando o conceito

de meta de manejo desenvolvido com base na interceptação de luz durante a

rebrotação dos pastos (Da Silva, 2004) tem resultado em aumentos expressivos

em produção e produtividade animal apenas por meio da manipulação do

processo de colheita da forragem produzida. No caso de produção de leite,

Voltolini (2006) e Carareto (2007) avaliaram a produção diária de leite em pastos

de capim-elefante cv cameroon manejados sob pastejo rotativo caracterizado por

período fixo de descanso de 27 dias ou período variável, correspondente ao

tempo necessário para que o dossel interceptasse 95% da luz incidente. As

alturas correspondentes de entrada nos piquetes foram 120 e 100 cm,

respectivamente, e os resultados revelaram aumento de cerca de 20% em

produção diária de leite por vaca, 40% em taxa de lotação dos pastos e 50% em

produção de leite por hectare (Tabela 4) somente com a alteração do momento de

colocação dos animais nos pastos. Esse, assim como outros experimentos (e.g.

Trindade et al., 2007; Costa, 2007; Difante et al., 2010), demonstram o efeito

benéfico e positivo de práticas de manejo baseadas na realização do pastejo no

momento ideal de colheita da forragem produzida, porém com a restrição de

terem sido feito em escala pequena de observação, normalmente em nível de

piquetes (1000 a 2500 m2). O fato sugere a necessidade de realização de

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experimentos de pastejo de maior escala, com unidades experimentais que

funcionem como unidades auto-contidas e permitam ser gerenciadas de

conformidade com as metas de manejo sendo avaliadas, realçando efeitos

relacionados com a logística da tomada de decisão e ajustes necessários para a

implementação e manutenção das mesmas e eventuais efeitos cumulativos ao

longo do tempo.

Tabela 4. Produção diária de leite em pastos de capim-elefante submetidos a

estratégias de pastejo rotativo caracterizadas por período fixo de descanso de 27

dias ou 95% de interceptação de luz durante a rebrotação

Resposta

Estratégia de manejo

27 dias 95% IL

Altura média dos pastos (cm) 120 100

2006:

Prod. de leite (kg/vaca.dia) 14,9 17,6

Taxa lotação (UA/ha) 5,8 8,3

Prod. de leite (kg/ha.dia) 75,0 114,0

2007:

Prod. de leite (kg/vaca.dia) 11,0 13,0

Taxa lotação (UA/ha) 6,7 9,2

Prod. de leite (kg/ha.dia) 57,0 83,5

Fonte: Voltolini (2006) e Carareto (2007)

Nesse contexto, Da Silva et al. (2010) avaliaram o ganho de peso por

animal e por hectare em pastos de capim-marandu manejados sob pastejo

rotativo e adubados com nitrogênio em experimento de pastejo realizado em uma

área de 68 ha (48 ha de área experimental e 20 ha de área reserva). As

estratégias de manejo avaliadas tiveram altura pós-pastejo comum não inferior a

15 cm e alturas de entrada de 25 e 35 cm, correspondentes a 95 e 100% de IL,

respectivamente (Trindade et al., 2007). As doses de N utilizadas corresponderam

a 50 e 200 kg/ha, aplicados de dezembro a março durante as estações de

crescimento de 2008/2009 e 2009/2010, e foram combinadas com as estratégias

de manejo segundo arranjo fatorial 2x2 (altura entrada/dose nitrogênio). Na

condução do experimento prioridade foi dada ao ajuste em taxa de lotação como

forma de manter as metas de manejo idealizadas (alturas pré e pós-pastejo).

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! 103!

Contudo, houve situações de acúmulo elevado de forragem em que não havia

animais em número suficiente para aumentar a taxa de lotação de forma

correspondente e, nesses casos, prioridade foi dada à manutenção da meta pré-

pastejo por meio de uma altura pós-pastejo mais elevada. Operacionalmente isso

era feito diminuindo-se o período de ocupação dos pastos, o que resultava em

redução do intervalo de pastejo e manutenção das metas de altura pré-pastejo.

Adequação das alturas pós-pastejo era feita em períodos em que as taxas de

acúmulo de forragem não eram tão elevadas aumentando-se o período de

ocupação dos pastos e aumentando os intervalos de pastejo. De forma geral,

houve uma diferença de quatro meses entre tratamentos em relação à obtenção

da meta de abate (480 kg de peso corporal), com animais do tratamento 25/200

atingindo a meta em dezembro/09, seguidos por aqueles do tratamento 25/50 em

janeiro/10, 35/200 em fevereiro/10 e 35/50 em março/10 (Figura 5). Independente

da dose de N, pastos manejados a 25 cm de altura, condição correspondente a

95% de IL pelo dossel forrageiro, resultaram em cumprimento da meta mais cedo

relativamente àqueles manejados a 35 cm, com a dose de N apresentando

importância secundária.

Figura 5. Variação mensal do peso corporal de novilhos nelore em pastos de

capim-marandu manejados sob pastejo rotativo com alturas pré-pastejo de 25 e

35 cm e adubados com 50 e 200 kg/ha de nitrogênio de Janeiro de 2009 a Março

de 2010 (Da Silva et al., 2010)

300

350

400

450

500

550

Peso

corp

oral

(kg)

Datas25/50 25/200 35/50 35/200 Meta

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Com exceção do verão de 2008 e da primavera de 2009, início do

experimento e adaptação dos pastos aos regimes de desfolhação impostos e

transição entre as épocas seca e chuvosa do ano, respectivamente, o ganho de

peso por animal foi consistentemente superior nos pastos manejados com altura

pré-pastejo 25 cm relativamente àqueles manejados a 35 cm (Figura 6), assim

como a taxa de lotação que, na média do experimento, foi maior nos pastos

manejados a 25 cm de altura (2,90 e 2,70 UA/ha, respectivamente). Adubação

nitrogenada resultou em maiores taxas de lotação especialmente na primavera

2009 e verão 2010, épocas em que os valores registrados para os pastos

adubados com 200 kg/ha foram maiores que aqueles de pastos adubados com 50

kg/ha de N (Figura 7). O ganho de peso por hectare foi 36% maior nos pastos

manejados a 25 cm relativamente àqueles manejados a 35 cm (1,70 e 1,25

kg/ha.dia, respectivamente), com maiores valores registrados no verão

relativamente ao inverno (Figura 8). Quando o ganho de peso total por unidade de

área foi considerado (Fevereiro de 2009 a Março de 2010), pastos manejados a

25 cm apresentaram valores 34% superiores em relação àqueles manejados a 35

cm (678 e 505 kg/ha, respectivamente). A aplicação de nitrogênio também

resultou em aumento de 22% no ganho de peso total por hectare (533 e 650

kg/ha para as doses de 50 e 200 kg/ha de N, respectivamente), valor esse menor

que o aumento gerado exclusivamente pela altura de manejo isoladamente

(Figura 9), realçando a importância de práticas de manejo adequadas e colheita

eficiente da forragem produzida como forma de otimizar a resposta à aplicação de

insumos no sistema.

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

Verão-1 Outono Inverno Primavera Verão-2Gan

ho d

e pe

so (k

g an

imal

-1di

a-1)

Épocas do ano

25-cm 35-cm

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Figura 6. Ganho de peso diário de novilhos nelore em pastos de capim-marandu

manejados sob pastejo rotativo com alturas pré-pastejo de 25 e 35 cm de Janeiro

de 2009 a Março de 2010 (Da Silva et al., 2010)

Figura 7. Taxa de lotação em pastos de capim-marandu manejados sob pastejo

rotativo e adubados com 50 e 200 kg/ha de N de Janeiro de 2009 a Março de

2010 (Da Silva et al., 2010)

Figura 8. Ganho de peso diário por hectare em pastos de capim-marandu

manejados sob pastejo rotativo e adubados com nitrogênio de Janeiro de 2009 a

Março de 2010 (Da Silva et al., 2010)

0,000

0,500

1,000

1,500

2,000

2,500

3,000

Verão 1 Outono Inverno Primavera Verão 2

2.70%A

1.10%B

0.49%C

0.96%B

2.16%A

Gan

ho d

e pe

so (k

g ha

-1di

a-1)

Épocas do ano

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Figura 9. Ganho de peso por hectare em pastos de capim-marandu manejados

sob pastejo rotativo com alturas pré-pastejo. de 25 e 35 cm e adubados com 50 e

200 kg/ha de N de Janeiro de 2009 a Março de 2010 (Da Silva et al., 2010)

Implicações práticas

O uso de metas de manejo definidas com base em critérios consistentes e

coerentes com o ritmo de crescimento das plantas forrageiras, como o nível de

interceptação de luz durante a rebrotação de pastos manejados sob pastejo

rotativo, assegura produção de forragem em quantidade e qualidade, favorecendo

o aumento da produção e produtividade animal por meio da colheita eficiente da

forragem produzida. Essa condição é importante uma vez que assegura

crescimento rápido e vigoroso dos pastos por assegurar que os limites de

resistência das plantas estão sendo respeitados, resultando em elevada taxa de

lotação. Ao mesmo tempo, a definição adequada da altura pós-pastejo permite

otimizar a quantidade de forragem colhida e, ao mesmo tempo, assegurar elevada

taxa de ingestão de forragem e de nutrientes pelos animais em pastejo, condição

predisponente e essencial para obtenção de desempenho animal elevado. O

efeito combinado de elevada taxa de lotação e desempenho animal é o aumento

em produtividade que pode ser tão grande quanto o aumento obtido por meio de

práticas como adubação e irrigação de forma isolada, que custam relativamente

caro quando comparadas a simples ajustes em datas para colocação de animais

nos pastos. O fato demonstra a importância de se colher sempre muito bem o que

se produz, pouco ou muito, condição em que o retorno em investimentos como o

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! 107!

uso de insumos e equipamentos tem seu retorno otimizado e maximizado,

resultando na verdadeira intensificação do processo produtivo.

Para que essa nova estratégia de condução de sistemas de produção

animal em pasto possa ser utilizada e seus benefícios realizados, existe a

necessidade de mudança dos atuais conceitos de gestão e controle do processo

produtivo, especialmente no que diz respeito ao controle e monitoramento do

crescimento e desenvolvimento dos pastos, com a percepção de que o uso de

número fixo de dias para definir intervalos de pastejo dá uma falsa idéia de

controle do processo, especialmente em condições favoráveis de crescimento das

plantas forrageiras, situação em que a definição do momento ideal de colheita é

essencial para o sucesso da atividade e retorno dos investimentos. Nesse

contexto, a variação do intervalo de pastejo em função da variação das taxas de

acúmulo de forragem é feito por meio da variação do período de ocupação, o que

pressupõe um número fixo de pastos ou piquetes que não precisaria ser superior

a 15 ou 20. O foco do planejamento seria sempre os dois ou três piquetes

seguintes na sequência de crescimento dos pastos, pois são eles que definiriam o

período de ocupação e, consequentemente, a taxa de lotação a ser utilizada no

piquete a ser utilizado na data presente. Isso significa acompanhamento do

processo de rebrotação, favorecendo a percepção da ocorrência de eventuais

déficits e excedentes de forragem ao longo da estação de crescimento com

antecedência e permitindo que as devidas providências possam ser tomadas de

forma pensada e planejada.

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Trindade, J.K.; Da Silva, S.C.; Souza Júnior, S.J.; Giacomini, A.A.; Zeferino, C.V.;

Guarda, V.D.A.; Carvalho, P.C.F. Composição morfológica da forragem

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submetido a estratégias de pastejo rotativo. Pesquisa Agropecuária

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Voltolini, T.V. Adequação protéica em rações com pastagens ou com cana-de-

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capim elefante sobre o desempenho lactacional de vacas leiteiras.

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Tese (Doutorado em Ciência Animal e Pastagem) - Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz, 2006.

Voltolini, T.V.; Santos, F.A.P.; Martinez, J.C.; Clarindo, R.L.; Penati, M.A.;

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1002-1010, 2010.

Zeferino, C.V. Morfogênese e dinâmica do acúmulo de forragem em pastos de

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submetidos a regimes de lotação intermitente por bovinos de corte.

Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2006. 193p.

Dissertação (Mestrado em Ciência Animal e Pastagem) - Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz, 2006.

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Pecuária de precisão e rastreabilidade

Med. Vet. Pedro Paulo Pires Pesquisador da Embrapa - Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte!

A pecuária de corte brasileira é desenvolvida em todas as Unidades da

federação e engloba, aproximadamente, 225 milhões de hectares distribuídos em

2,2 milhões de propriedades que abrigam 200 milhões de animais. Esta é uma

das cadeias produtivas que mais emprega mão de obra, sendo responsável por

7,2 milhões de empregos diretos.

O agronegócio da carne bovina tem crescido, anualmente, no Brasil ao

mesmo tempo em que se tem estruturado de forma competitiva. Na última

década, o crescimento médio foi de aproximadamente 30%, enquanto o

crescimento das exportações foi superior a 200%. Nos últimos anos,

especialmente como fruto dos efeitos colaterais prejudiciais da chamada

revolução verde, iniciaram-se, em diferentes partes do mundo, movimentos

orientados para a redução dos danos causados ao ambiente. Esses movimentos

exigiram novos mecanismos reguladores de qualidade que incorporassem a

aspectos relacionados ao meio-ambiente, como componente do processo

produtivo.

Daí, o grande crescimento observado em normas e protocolos de

certificação e de leis ambientais, a partir da década de 1970. Surgiram, assim, os

rótulos para identificação de produtos orgânicos e fortaleceram-se os preceitos de

segurança alimentar pela utilização da Análise de Perigos e Pontos Críticos de

Controle (APPCC). Foi ainda nessa década, que se intensificaram, na Europa, as

atividades para o Controle Integrado de Pragas, que deu origem à definição mais

geral da Produção Integrada. A partir da década de 1980, surgiu o paradigma da

sustentabilidade e da busca pela qualidade total. Nos anos 1990, cresceu também

a preocupação da população com os problemas relacionados com a ingestão de

alimentos contaminados.

Isto faz com que o consumidor exija o rastreamento do alimento dentro da

cadeia produtiva, requerendo, ainda, que o processo seja transparente. Nesse

contexto, a padronização de conceitos e, principalmente, de ações, constitui-se

em tema de importância estratégica para o País, viabilizando a disponibilização

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de alimentos certificados, ou seja, com garantia de origem, de qualidade

ambiental e de qualidade de produto. Atualmente, com intensificação dos

manejos sanitário, reprodutivo e nutricional de bovinos; com a utilização de

programas de melhoramento genético e de gerenciamento de rebanhos, há uma

demanda aumentada pela utilização de softwares. Essa demanda, associada com

a necessidade de um controle rígido que permita a rastreabilidade, implica, cada

vez mais, na necessidade da identificação correta e rápida dos bovinos. Tais

processos devem estimular o controle da produção de cada animal, aumentando

os lucros.

A rastreabilidade tornou-se um foco de atenção tanto dos consumidores

quanto da indústria da carne em anos recentes. Toda a população tem sido

afetada por problemas relativos à segurança dos alimentos. No caso específico

da carne bovina, com o diagnóstico da BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina)

em 03/96, e que posteriormente foi levantada a possibilidade de uma ligação

entre esta doença do gado e a CJD (Doença de Creutzfeld Jacob), como uma

nova variante de distúrbio similar em seres humanos. Esta ocorrência provocou

na época uma redução no consumo de carne bovina de aproximadamente 25%

na Europa. Desde então, para recuperar a confiabilidade dos consumidores, os

participantes da cadeia de suprimento de gado e de carne estão trabalhando para

elevar os padrões de segurança.

A União Européia, exige que todo o processo de produção da carne esteja

inserido em um programa de identificação e registro que possibilite o

levantamento de todas as informações pertinentes ao animal, desde o seu

nascimento, até o consumo do produto final. Esta resolução atinge tanto os

produtores e indústrias da Europa quanto às de seus fornecedores. Por outro

lado, países como a Coréia do Sul e o Japão também adotam esta exigência e,

com o advento irreversível da globalização verifica-se uma tendência mundial

neste sentido. No entanto, esta exigência não pode ser totalmente satisfeita sem

que haja uma identificação precisa do animal.

A utilização de tatuagens na face interna do pavilhão auricular, as marcas a

ferro quente e, ultimamente, a utilização de brincos numerados têm sido os

métodos mais utilizados na identificação dos bovinos. No entanto, a diversidade

de raças e manejos, além da constante ocorrência de erros na transcrição

manual, tem motivado a procura por métodos mais eficientes de identificação.

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Uma vez que a revisão da numeração marcada com ferro quente na pele ou com

tatuagem na orelha é, muitas vezes, invisível em animais de pelagem escura ou

com excesso de pêlos, tornando excessivamente trabalhosa e inútil para o

gerenciamento por softwares em tempo real.

Tal demanda de identificação dos animais para o rastreamento solicitado

pelo mercado mundial, devido à ocorrência dos surtos de Febre Aftosa no Brasil,

levou a soma de interesses pelo uso da identificação eletrônica nos bovinos

garantindo a melhora da eficiência de fiscalização das exigências das barreiras

internacionais. Os surtos da referida doença, devido ao lucro cessante do Estado

de Mato Grosso do Sul, no período, divulgado nos jornais, causaram prejuízo de

bilhões de dólares pelo fechamento de mercados devido às barreiras sanitárias

dos mercados compradores. De início, a identificação eletrônica associada ao

gerenciamento dos rebanhos permite um controle rápido e confiável dos

rebanhos, fazendo todas as anotações exigidas para o rastreamento dos animais

e certificação da carne. Esta anotações zootécnicas podem, se adequadamente

analisadas, obrigatoriamente, garantir o aumento da produtividade devido permitir

tomadas de decisões precoces e, esse aumento de lucro no manejo, engajará de

produtores e trabalhadores em novas técnicas de produção, garantia dos

mercados já conquistados e a conquista de outros novos.

A Pecuária de Precisão na Embrapa Gado de Corte Desde o final da década de 1980, precisamente desde 1986 até 2000

ocorria, no Brasil Central, um surto de mortes de matrizes chamado de “Mal da

vaca caída”. Foram muitos anos de propostas de diagnóstico, de tratamento e de

controle sem muito sucesso.

Na época, a Embrapa Gado de Corte não contava com pesquisador

patologista e por isso houve concurso para contratação e foram, então, iniciadas

pesquisas em busca da solução do problema.

Para instalar o projeto de pesquisa, aprovado pelo CNPq foram

necessários 120 bovinos que deveriam ser da mesma raça, idade, sexo e que

deveriam ficar no mesmo pasto, isso para evitar interferências nos resultados da

pesquisa.

Foi aí que começou o problema: para testar medicamentos, avaliar duração

de vida útil, dose letal, concentração sanguínea e resposta aos tratamentos, eram

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necessários manejos frequentes, em períodos exatos, para que a pesquisa fosse

confiável.

Como os 120 bovinos estavam numerados com brincos de plásticos e

tatuagem na face interna das orelhas e, dentre os 120, haviam diferentes grupos

experimentais que recebiam tratamentos diferentes, com frequencia era

necessário passar todo rebanho pelo mangueiro (curral), rapidamente, para

separar aqueles que deveriam receber os tratamentos. Isso se repetia várias

vezes pela semana causando muito trabalho e estresse aos animais.

Nesses dias todos os animais passavam pelo tronco de contenção do

mangueiro, era necessário parar cada um deles para ler o número nos brincos ou

tatuagem, até que fossem encontrados os procurados para aquele momento,

havia o risco de perder o prazo para colheita do material biológico para o estudo,

um verdadeiro corre-corre, deixando toda equipe e animais sob o risco de

acidentes e maus tratos.

Esse problema quase comprometeu o resultado da pesquisa, não fosse a

preocupação da equipe em chegar, no mínimo, 40 minutos de antecedência para

cada manejo. Isso, às vezes, provocava uso de horas-extras de trabalho e

quantidade extra de paciência e dedicação.

Num determinado período, em busca constante de solução para o

problema de manejo, foi contatado, por acaso, o Dr. Alain Moreau, advogado

sociólogo, que estava empenhado em controlar o rebanho de bovinos das aldeias

Kadiwéu, na região de Corumbá – MS, lá havia problema de abigeato e ele

buscava uma forma de coibir o roubo.

Foi ele quem fez a proposta de começarmos juntos a procura de um

sistema de identificação de bovinos, rápido, confiável e imutável. Por essa

parceria foi iniciada a busca, pelo mundo, de um sistema que nos atendesse e foi,

então, iniciada a pesquisa para o uso de Identificação de animais por Rádio

Frequência (RFID).

O primeiro modelo de transponder (chip) comprado por nós era um pouco

menor que um palito de fósforo, pouco servia para nosso propósito, entretanto, foi

dele, que devido a necessidade, derivou todo o conhecimento de hoje em dia.

A primeira antena para leitura desses transponderes foi desenvolvida a

partir de equipamento da aviação. Foram contratados engenheiros que ajudaram

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desenvolver um laço, através do qual, os animais deveriam passar para serem

identificados, uma verdadeira loucura, entretanto ainda alimentava o sonho.

Assim, por alguns anos, após desenvolvimento de várias pesquisas

relacionadas, foi instalado na Embrapa o primeiro “Mangueiro Digital”, local onde

são desenvolvidos os hardwares e softwares para o manejo automático dos

bovinos e, devido a apresentação de projetos de pesquisa na área de manejo, foi

consolidada a linha de pesquisa que incialmente era chamada de zootecnia de

precisão, depois, por melhor expressar nosso trabalho, passou a ser chamada de

“Pecuária de Precisão”.

Da evolução dos equipamentos e sistemas, alguns podem ser citados, por

ordem cronológica:

1 - Bolus (transponder estomacal) e antena;

2 - Aplicador de bolus;

3 - Transponder umbilical;

4 - Aplicador de transponder umbilical;

5 - Transponder umbilical revestido com resina de mamona;

6 - Transponder umbilical revestido com resina de mamona impregnada de

antibiótico e parasiticida;

7 - Transponder umbilical com termômetro;

8 - Predição de doença pela medição da temperatura;

9 - Teclado do peão;

10 - Software Pecuarius;

11 - Software Taurus;

12 - Balança de Passagem;

13 - e-Apart;

14 - e-SAPI;

15 - e-GTA;

16 - Cerberus;

17 - Orion;

18 - OTAG (Localização de animais com GPS);

19 - Sistema de Monitoramento Bovino Baseado em uma Rede de Sensores

sem fio;

20 - Serviços baseados em Localização e Publish-Subscribe no domínio da

Rastreabiliade bovina;

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21 - Identificação do Comportamento Bovino a partir dos dados de aceleração

do animal e monitoramento da luminosidade do ambiente.

A partir de tais feitos, cientes do que é possível alcançar com estes

estudos, foram fixadas as intenções de otimizar segmentos das etapas e

processos de produção. Cada vez mais trabalhos de pesquisa estão sendo

desenvolvidos, quer na utilização de sensores, quer em estratégias de gestão da

informação, quer no desenvolvimento de softwares de decisão. Esses trabalhos,

associados a diversos mecanismos de controle, contribuem para a otimização de

cada segmento da cadeia produtiva.

O conceito de produção animal, numa perspectiva cada vez mais

competitiva e empresarial, torna a atividade de produção animal cada vez mais

precisa, dependendo menos de variáveis casuísticas, e mais de decisões

inteligentes.

A maximização dos índices produtivos alcançados e a minimização de

custos de produção passam pela eficiência da relação entre as variáveis ao longo

do período de produção.

Desta forma, o conceito de precisão tem uma relação muito íntima com a

questão da eficiência produtiva. Os valores desejáveis devem ser atingidos com o

menor grau de impacto financeiro negativo, possível.

Os investimentos em tecnologia (microchips, balanças

eletrônicas, softwares, Internet, entre outros), com a finalidade de proporcionar o

ambiente adequado, a quantidade e qualidade de alimentação fornecida, aliados

ao material genético e ao manejo praticado, só terão o retorno esperado se

houver uma eficiência da intervenção necessária em determinadas fases da

produção, com a precisão exigida.

Em outras palavras, a precisão está relacionada com o monitoramento

efetivo e controle das etapas de produção, pois não é possível imprimir uma

melhoria num processo, se este não for conhecido em todas as suas fases.

A pecuária de precisão é um conceito de pecuária baseada na existência

de uma grande diversidade de informações pertinentes ao negócio. Ela preconiza

cada vez mais o uso de novas tecnologias, como posicionamento global (GPS e

DGPS), identificação remota de animais, sensores, satélites ou imagens

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aéreas, software de gerenciamento, e sistema de informações geográficas (SIG)

para avaliar e compreender as variações do campo, estudados pela Geomática.

As informações coletadas podem ser usadas para avaliar com maior

precisão a eficiência no manejo do rebanho, na produção, no controle da

sanidade animal, na sustentabilidade, estimar as necessidades de outros

insumos, redução nos custos ocasionados pela falta de controle, e de forma mais

precisa prever o rendimento e, consequentemente, aumentar a rentabilidade do

negócio.

Com a pecuária de precisão é objetivo evitar a aplicação de práticas

inflexíveis, utilizando informações para adequação das práticas às necessidades

do negócio, independentemente da propriedade e das condições da região.

Os satélites permitem aos produtores facilmente o levantamento de suas

terras. Os sistemas de posicionamento global (GPS) podem encontrar a

localização de um campo dentro de uma propriedade. É possível, então,

apresentar uma série de mapas de SIG que demonstram que os campos são

úmidos ou secos, e onde há erosão do solo e outros fatores que, por exemplo,

podem ajudar na definição de tipos de pastagens que são mais adequadas. Os

dados podem ser utilizados pelo produtor que automaticamente adotará práticas

mais favoráveis para o negócio.

Aplicação da pecuária de precisão também é adotada com a finalidade de

fazer o mapeamento da qualidade das pastagens. Nesse contexto, a pecuária de

precisão fornece ao produtor informações a serem aplicadas para a tomada de

decisões racionais para aumentar a produtividade de seu negócio, cuidar da

qualidade da cobertura vegetal de pastagens, evitar fenômenos de erosão e

degradação devido à sobrecarga de animais por área e orientar o manejo técnico

de propriedades e empresas rurais de médio e grande porte, com segurança e

baixo custo.

Pode ser feito diagnóstico que permite, por exemplo, saber se a área em

estudo está sub ou super utilizada, ou seja, se o uso dos recursos naturais está

sendo feito de maneira racional, tanto tecnicamente como economicamente.

Outro benefício para o produtor é, a ajuda em produzir e manter um

histórico de suas práticas de produção e resultados, visando a eficiente tomada

de decisões e cumprimento dos requisitos de rastreabilidade, cada vez mais

necessária no mercado nacional e mundial.

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A pecuária de precisão, deve ter sua eficiência maximizada na indústria da

carne que utilizará a análise de dados coletados. Grande parte desses dados

serão transformados em informações sobre os bovinos, agregando mais valor ao

produto final.

Para coleta dos dados, a pecuária de precisão utiliza cada vez mais

dispositivos eletrônicos, que garantem a integridade e exatidão das informações

como GPS, balanças eletrônicas, sensores, dispositivos de identificação por

radiofrequência, etc.

Deixar de olhar para o rebanho como um todo e passar a tratar cada

animal de acordo com as suas características individuais, otimizando a utilização

dos recursos, é a melhor definição de “Pecuária de Precisão”.

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O consumidor de carnes. O que sabemos sobre ele?

Fabiana Camargo e Farah Coordenadora de Desenvolvimento Carnes e Aves - Grupo Pão de Açúcar

Pecuária de Corte: Panorama e Perspectivas Certamente a pecuária de corte brasileira evoluiu muito nos últimos anos.

O Brasil, reconhecido como grande celeiro mundial vem perseguindo a ideia de

não de ser mais um grande produtor de carne, mas um produtor de carne com

qualidade e responsabilidade. O caminho é longo.

Vamos voltar a alguns anos atrás na história da pecuária brasileira. Foi no

período pós – guerra, no final da década de 40 que se iniciou o processo de

ocupação oficial do que atraiu expressivo contingente populacional de diversas

regiões para o Centro – Oeste do país.

Em torno de 1965, o Estatuto da Terra sinalizou a possibilidade de traçar

delimitações de terras, criando políticas agrárias aos produtores. Programas

especiais como a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam),

estimulou de vez a ocupação das terras da região da Amazônia e, principalmente,

do Centro- Oeste.

A política do Governo Federal para a região ficou amplamente conhecida

como “integre ou entregue”, para que definitivamente as terras além de serem

realmente ocupadas e se tornassem produtivas.

Este processo de ocupação, de forma despreparada, incentivava as

pessoas a desmatar sem quaisquer critérios ambientais. É comum, proprietários

que ocuparam suas terras nesse período relatar que todos, com medo da malária,

desmatavam as beiras dos rios, as nascentes de água para se “protegerem da

doença”.

Atualmente esses homens até então chamados de “devastadores”

recuperaram suas matas ciliares, suas áreas de preservação permanente, suas

nascentes, não somente para se adequarem à legislação ambiental vigente, mas

para implantar processos sustentáveis já percebidos em suas propriedades rurais.

Alguns produtores, a exemplo de Lorival Antonio Sguissardi, que ao

conseguir autorização do órgão competente para formação de uma nova área de

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pastagem em sua propriedade no Mato Grosso (Figura 1), inovou optando por

um modelo de pasto ecológico, ou sistema agrosilvopastoril. Este modelo

permitiu a área de pastagem entre as árvores, sem a necessidade de derrubá-

las.

Figura 1 - Exemplo de Pasto Ecológico - Produtor Lorival A. Sguissardi

.

Fonte: GPA, (2013)

A metodologia empregada na formação destes pastos foi absolutamente

diferente de anos atrás, quando utilizou mecanismo para derrubada de todas as

árvores para então plantar o capim. No formato atual adotado pelo produtor em

questão, nenhuma árvore foi derrubada, somente os cipós e, só então plantou-se

capim entre as árvores.

Para o Lorival A. Sguissardi, este tipo de pasto é o melhor que tem em sua

propriedade, pois o gado engorda mais, tem sombra para seu bem estar e ainda

consegue produzir respeitando a fauna e a flora local.

Apesar de iniciativas como as do produtor Lorival, o grande entrave a pecuária de

corte no Brasil, é a qualidade dos produtos, mesmo com o volume de produção

atual.

Friedman (2005), em seu livro “The world is flat” (O mundo é Plano), afirma

que o mundo não é redondo, e sim plano. Claro que ele não se refere ao globo

terrestre, em sua configuração física. O mundo se torna “plano” através da

globalização, que derruba espaços, tempo, culturas e até o preço da arroba do

boi.

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Os exportadores de carne do Rio Grande do Sul sentiram isso na pele

quando não puderam comercializar seu gado de alta qualidade devido a um foco

de febre aftosa no Mato Grosso do Sul mesmo a quilômetros de distância. O fato

é que todos os elos da cadeia (Figura 2) coexistem em interesses, competências,

práticas e forças.

Atualmente o Brasil possui 1,8 milhões de propriedades rurais, somente

200 mil possuem perfil de produção profissional. Profissional sobre dois pontos de

vistas, o primeiro é o da qualidade, que está aquém dos países concorrentes no

segmento. O segundo ponto de vista é o da eficiência, somente as 200 mil

propriedades têm capacidade de implantar sistemas de gestão eficientes para

garantir a lucratividade (Vila, Congresso internacional da Carne, 2013).

Devido a grande valorização de terra nos últimos anos, com registros de

até o dobro do valor nos últimos 03 anos, é comum vermos casos de fazendeiros

que não investem em gestão do negócio.

Toda a cadeia de valor perde, quando um dos atores, como esses, fazem

parte dos elos de produção. Uma vez que além da falta de investimento nos

sistema de gestão, insumos importantes, tais como suplementação nutricional,

técnicas de bem – estar animal deixam de ser utilizados, e o consumidor final,

consequentemente, terá acesso a um produto de menor qualidade.

No entanto, as 200 mil propriedades rurais, que buscam melhorar seus

processos e produtos.

É com este modelo de produção e com essa visão desses modernos

empresários rurais que esses elos se fortalecem e passam a entender o elo final

desta cadeia. O consumidor, que deixar de ser um elo passivo na cadeia e passar

a ser um elo ativo, exigindo um produto de mais qualidade cadeia de produção.

Nos últimos anos vivemos uma inversão de valores na cadeia de produção

da carne. Há décadas o produtor rural produziu o que quis e o que lhe era

conveniente. Atualmente essa lógica não é mais sustentável e a fim de buscar

eficiência no seu negócio essa produtor passa a ter um olhar no mercado

consumidor e busca produzir a necessidade deste mercado.

O valor do bife que o consumidor leva para sua casa é resultado de um

esforço coletivo e sequencial desta cadeia de valor, que foi impulsionada por este

consumidor.

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Parece que as barreiras psicológicas são as principais responsáveis pela

ainda modesta incorporação de novas tecnologias e práticas de gestão na maioria

das propriedades de porte médio. Vila, pretende compreender melhor porque não

existe maior adesão aos novos conceitos e ferramentas que tornariam as

fazendas mais produtivas, rentáveis e competitivas.Fonte:

http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/francisco-vila-srb-

fechamento-2011-e-perspectivas-para-a-pecuaria-em-2012/

É esta visão de uma pecuária mais moderna, mais plana, mais eficiente,

que vai dinamizar o setor como um todo, trazendo para todos os elos da cadeia

de valor da carne, mais maturidade e valor.

O que o consumidor nos ensina Diversas vezes nos deparamos com fóruns de discussões, simpósios,

congressos sobre qualidade de carne com diversos atores da cadeia de

produção envolvidos nessas reflexões. Vemos grandes prospecções sobre

produtos, marcas, raças, processos marcas grill. Enfim, surgem diversas opções

para que, de algum modo tentem resolver e buscar soluções para esses atores,

porém o principal ator, que sustenta essa rede de produção, muitas vezes é

esquecido: o consumidor de carnes.

O que sabemos sobre este consumidor de carnes? Dia a dia estamos no

balcão de carnes ouvindo suas necessidades e seus anseios de compra.

O primeiro ensinamento que os consumidores de carnes solicitam é a

Segurança do alimento. A decisão de compra é primordialmente embasada na

segurança que o estabelecimento leve ao consumidor. Os alimentos vendidos em

açougues, peixarias e afins precisam transmitir segurança.

Consequentemente a higiene dos pontos de venda que transmitem e

acabam por traduzir que o alimento que o consumidor está adquirindo é

proveniente de processos seguros e confiáveis.

Tendo processos seguros e práticas de higiene, os pontos de venda de

carne tornam-se então vigilantes aos detalhes que são de extrema importância

para o consumidor. São os detalhes do capricho ao apresentar um produto quase

que permeia como um carinho ao produto, que demostra através de uma

excelente aparência toda a honestidade que um alimento precisa ter ao ser

preparado e servido na mesa de uma família.

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É muito comum o consumidor refugar produtos que estejam como eles

dizem com uma “baba”, ou com uma coloração ruim. Durante anos as escolhas

no momento de decisão de compras parecem ser as mesmas no decorrer do ano:

cor vermelha brilhante, gordura compatível ao corte e principalmente, uma carne

macia.

Produtos com higiene e segurança seguidos de cortes bem feitos, bem

embalados e etiquetados são sem dúvida os principais anseios para que

consumidores se fidelizem ao ponto de venda.

O Grupo Pão de Açúcar como indutor de sustentabilidade na cadeia de valor da carne O Grupo Pão de Açúcar foi fundando em 1948, completou 60 anos em

2008. Atualmente é uma das maiores empresas de varejo do da América Latina

com mais de 2000 pontos de venda, entre super e hipermercados, lojas

especializadas em eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis, atacado (Cash &

Carry), além de postos de combustíveis, drogarias e comércio eletrônico (GRUPO

PÃO DE AÇÚCAR, 2013).

Em 2008 lançou o Programa de Qualidade desde a Origem com a

finalidade de desenvolver sua cadeia produtiva de frutas, legumes e verduras

(FLV), e proporcionar ao consumidor maior segurança e informação sobre o

produto adquirido em suas lojas.

Seguindo o mesmo padrão do programa de qualidade estabelecido na

cadeia de FLV, o GPA, investe também num programa de produção de carne de

qualidade, com a premissa de desenvolver um produto que apresentasse

menores riscos à saúde pública, maior segurança sanitária aos rebanhos

pecuários, maior segurança alimentar aos consumidores e ainda apresentasse

maior qualidade, valor nutricional e maciez da carne.

O primeiro passo iniciou-se em 2005, na busca por uma raça paternal de

gado europeu que fosse adaptável às condições climáticas brasileiras, que

apresentasse alto índice de muscular em idade jovem. O gado jovem apresenta

maior maciez na carne, e traria maior eficiência de produção rentabilidade aos

produtores devidos seu abate precoce.

O resultado deste estudo foi um animal de meio sangue, fruto da

inseminação da Raça Nelore (mãe) com o sêmen do Rubia Gallega, raça do

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noroeste da Espanha que apresenta baixo índice de gordura no animal de idade

jovem (tabela 1).

Tabela 1 - Comparativo do valor nutricional entre um bovino tradicional e um 1/2 sangue Rubia Gallega

Informação Nutricional Complementar por 100 g de produto

Rubia Gallega Taeq Bovino comum

adulto

% Redução

Valor energético 114 kcal = 479 kJ 157 kcal = 655 kJ 27%

Gorduras totais 1,3 g 6 g 78%

Gorduras saturadas 0,6 g 2,7 g 78%

Fonte: Adaptado de Grupo Pão de Açúcar (2013)

Os animais frutos de deste processo, são abatidos com 16 meses em

média, e apresentam cerca de 180 kg, enquanto que um da raça Nelore, leva 30

meses para produzir esta mesma quantidade de massa muscular. São cerca de

duas vezes e meia a menos de animais no pasto. Após o desmame, o gado fica

de 2 a 12 meses em fase de recria, com alimentos balanceados. Antes da

desossa das carcaças identificadas uma a uma, todos os lotes de carnes são

identificados e o controle de qualidade é total, e o transporte é fiscalizado (figura

6).

Figura 2- Processo de Registro e Rastreabilidade da Carne do Programa de Qualidade GPA

Fonte: Adaptado de Grupo Pão de Açúcar (2012)

Com esta primeira etapa do programa o GPA objetivou o desenvolvimento

de um manejo intensivo de produção de bovinos com alta tecnologia, abate de

animais jovens com alto desenvolvimento de massa magra, manejo alimentar,

manejo ambiental e índices zootécnicos positivos.

Controle!de!Manejo!

Registro!do!Animal!pelo!Ministério!da!Agricultura!!

Indefficação!das!peças!de!

Carne!Envio!para!as!

lojas!Detalhamento!do!produto!ao!consumidor!

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! 127!

No processo foram envolvidos alguns elos da cadeia de valor da pecuária

(Figura 7). No primeiro elo, insumos, participaram uma empresa especialista em

genética animal, que desenvolveu estudos sobre a inseminação da raça

espanhola no Brasil, e uma empesas de insumos para saúde e alimentação

animal.

Figure 3 - Elos da Cadeia de Valor envolvidos no processo

Fonte: a autora

Na sequência as fazendas produtoras foram selecionadas a partir de

critérios socioambientais que assegurasse sua idoneidade e índice e de

produtividade:

" Estar de acordo com a legislação e possuir programa de gestão ambiental

com mitigação de seus impactos causados pela produção;

" Cumprir a legislação trabalhista e que possuir programas de incentivo aos

colaboradores para o crescimento pessoal e profissional. Bem como

contribuir para que todas as crianças, filhos (as) de seus funcionários

frequentem a escola.

" Adoção de tecnologias para aumentar a eficiência produtiva na fazenda,

produzindo mais carne por hectare de terra.

Outro elo envolvido foram empresas frigoríficas, contratada para o

carregamento, transporte, abate e desossa dos animais, sendo este trabalho feito

separadamente dos demais animais já produzidos por elas, garantido a

rastreabilidade e origem do produto que vai para o ponto de venda.

O projeto começou com a participação de 08 fazendas, hoje conta com 40

fazendas distribuídas nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás e

representantes da empresa parceira fornecedora da genética animal.

INSUMOS!

• Genéfca!Animal!• Saúde!e!alimentação!animal!

PECUÁRIA!

• Fazendas!produtoras!de!carne!bovina!

FRIGORÍFICO!

• Empresas!!frigoríficas!para!abate!

VAREJO!

• Grupo!Pão!de!Açucar!

CONSUMIDOR!

• Produto!Final!

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! 128!

Resultados obtidos com o Programa: A experiência no Grupo Pão de Açúcar O trabalho que foi iniciado pelo GPA em 2005 se consolidou após 08 anos

com resultados progressivos em volume de carne comercializados e em resultado

financeiro. Esta evolução reflete o amadurecimento da visão do grupo em

perguntar e entender o que realmente o que seu cliente busca nas suas gondolas

de carne.

O delineamento técnico do programa e o encontro com parceiros certos fez

do objetivo do setor de carnes uma realidade. Encomendar para os elos da cadeia

que o antecede a carne que nosso cliente deseja: Uma carne com maciez

garantida, saudável e sustentável.

Não havia outro caminho se não endereçar esse trabalho aos parceiros,

frigoríficos e pecuaristas, presentes em sua cadeia de valo. No principio, alguns

do elos desta cadeia, pareceram indiferentes e incertos pela nova abordagem,

que propunha, transparência e garantias de ganhos para todas as partes.

Outro fator que, pode ter um fator importante para o sucesso, foi o diálogo

aberto diretamente com os produtores rurais, sendo que muitos deles, teve neste

projeto, sua primeira experiência de negociação direta com um varejista.

Durante esses anos de trabalho o GPA garantiu e efetuou o pagamento

para algumas fazendas em momentos de crise com as indústrias frigoríficas,

fortalecendo ainda mais a relação entre o GPA e os produtores rurais.

Em oito anos de trabalho foi iniciado dialogo com a indústria frigorífica que

passou de vendedora de carnes a prestadora de serviços diferenciados, e que,

com isso, passaram a oferecer produtos e serviços melhores, contribuindo para o

desenvolvimento da cadeia de valor como um todo.

Além disso, cada bife, cada pedaço de carne, comercializada como a

marca Taeq Rubia Galega, recebe uma identificação em código 2D (duas

dimensões), que assegura ao consumidor, a sua origem. O GPA reconhece o

trabalho desta cadeia tão complexa levando a história deste processo para o

consumidor final. O GPA expõe esses produtos e dá a possibilidade para os

clientes, através de sua opção de compra, a reconhecer a qualidade deste

produto e consequentemente, sustentar através este programa de valor.

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! 129!

A Raça Rubia Gallega Para entender a raça Rubia Gallega temos de voltar no início da história,

quando um grupo humano celta de ascendência indo-européia, ocuparam grande

parte da Europa Central, e após lutas foram empurrados para o oeste Europeu.

O grupo que ocupou o norte da Espanha, levou dentro sua marcha a única

riqueza móvel na época: o gado, que tinha vários séculos de domesticação, entre

os quais estavam os antepassados da Rubia Gallega. Em tempos celtas, a raça

de gado que habitavam Galiza, sem cuidado ou abrigo, ou o uso agrícola e fonte

era de carne e gordura entre outros.

Em 760, Odoario Bispo de Lugo, para preencher o território de uma

diocese, deu bois ás famílias para arar como base para cumprir sua meta de

repovoamento humano. Já entre 1531 e 1541 a conquista do Peru, começou o

cultivo de batatas e milho que foram levados para a Espanha. Logo esses

alimentos passaram a alimentar os animais.

As terras aráveis, cansadas do antigos grão como centeio, nabo, linho,

castanhas, começou a produzir como batata e milho, em quantidades cada vez

maiores. Consequentemente o gado passou a aumentar consideravelmete pela

melhor alimentação. Os lucros com a venda do gado também aumentavam.

A Rubia Gallega, raça de capacidade mista se consolidava como motor

para o trabalho agrícola, fornececimento de leite para o consumo familiar e carne,

cuja venda, cuja venda propiciava outras aquisições.

No final do século XVIII, a raça Rubia Gallega encontrou um bom mercado

de carne na Inglaterra, mantendo-se quase até o início do nosso século. Em

1906, Lugo realizada no Primeiro Congresso Agrícola e Pecuário, estabelece a

conclusão "da seleção cientificamente orientada". A partir de então a Raça Rubia

Gallega começa um intenso processo de seleção genética para produção de

carne.

Atualmente é uma raça de origem Geográfica protegida que garente e

expressão das características raciais.

Figura 4 e 5 - Gado Meio – Sangue, Nelore X Rubia Gallega

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! 130!

As carcaças devem ser bem conformadas com musculatura evidente (sub

convexas) preferencialmente com gordura escassa, podendo ser mediana. Não

devem apresentar gordura uniforme ou excessiva.

Não serão desclassificados cruzados de Rubia Gallega X Nelore por peso,

gordura ou conformidade. Distorções e carcaças fora do padrão esperados

serão reagendadas entre o GPA e o produtor, conforme demanda do mercado. Os

resultados de rendimento de desossa abaixo de 77% serão informados ao

produtor a fim de ajustar as dietas para melhores resultados.

Figuras 6 e 7 - Carcaças Meio – Sangue, Nelore X Rubia Gallega

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! 131!

Simulando a escolha da Estratégia para o Sistema de Produção

Zootec. Vinícius do Nascimento Lampert Pesquisador da EMBRAPA Pecuária Sul

INTRODUÇÃO A definição de qual estratégia a seguir é fundamental para atingir os nossos

alvos na pecuária de corte. Um pergunta a ser feita pelo gestor de cada fazenda é

quais são esses alvos? O que devemos melhorar? Eles são da ordem financeira

ou produtiva?

É natural que os aspectos biológicos e econômicos estejam relacionados

entre si. A melhoria desses indicadores passa inicialmente pela mudança do

desempenho zootécnico do rebanho. Como os exemplos, temos as medidas de

desempenho a seguir:

i. Produção de carne (Kg de PV por hectare);

ii. Margem por hectare (R$ / hectare);

iii. Custo do quilo produzido (R$ / kg Vivo).

Como o nosso alvo é inicialmente a melhoria desses indicadores técnico-

econômicos, a nossa zona de atuação na fazenda fica inicialmente focada no

desempenho zootécnico dos animais onde inclui os aspectos reprodutivos, de

crescimento e de sobrevivência do rebanho.

Esses são os principais parâmetros de referência que dão origem à grande

maioria das métricas utilizadas na pecuária de corte. Após, deve-se relacionar

especificamente quais fatores afetam o desempenho do rebanho. Sabe-se que a

oferta de forragens, os aspectos nutricionais e reprodutivos, os cuidados com a

sanidade e bem-estar, a genética e o manejo na fazenda afetam o desempenho

dos animais. Este é o nosso principal lócus de atuação profissional da zootecnia,

agronomia, veterinária e áreas afins.

Nos últimos anos a nossa área tem revelado mais fortemente um caráter

multidisciplinar. Isso tem ocorrido naturalmente ou até mesmo por forças de

mercado, exigências de consumidores, questões legais e novas formas de

encarar a produção considerando óticas de perenidade dos sistemas produtivos

para as próximas gerações.

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! 132!

Na prática, a gestão financeira e a gestão de pessoas não podem ficar de

fora da gestão de tecnologias e processos. Entretanto, para simular de maneira

simplificada a escolha da estratégia foram escolhidos apenas alguns parâmetros

zootécnicos que são influenciados diretamente pela gestão de tecnologias e

processos. Dentre inúmeros indicadores serão analisados alguns dos mais

importantes que impactam de maneira mais significativa os resultados na

produtividade e eficiência econômica da pecuária.

O objetivo deste trabalho foi apresentar um método de simulação para

auxiliar na aprendizagem e compreensão do efeito que indicadores zootécnicos

exercem sobre o desempenho de sistemas de ciclo completo na pecuária de

corte.

O processo decisório na pecuária de corte O estudo teórico do processo de tomada de decisão já existe há várias

décadas. Ele foi proposto inicialmente por Simon (1945) onde afirmou que o

comportamento real das pessoas não alcança a racionalidade objetiva da melhor

escolha. O indivíduo é limitado e influenciado, muitas vezes, por sua capacidade

física de compreender a analisar os fatos, pelos seus valores e pela extensão de

seus conhecimentos.

Ao administrar uma propriedade rural, não é possível ter acesso a todas as

possibilidades de ação, medindo todas as opções, tendo-se em vista a

impossibilidade de obter todas as informações, devido a problemas de tempo e

custo.

O administrador contenta-se em adquirir um número limitado de

informações, um nível satisfatório que possibilite a identificação dos problemas e

algumas soluções alternativas. “O que o indivíduo faz, na realidade, é formar uma

série de expectativas das conseqüências futuras, que se baseiam em relações

empíricas já conhecidas e sobre informações acerca da situação existente”

(Simon, 1965, p.81).

É humanamente impossível o indivíduo conhecer todas as alternativas de

que dispõe e as suas conseqüências. No seu modelo de racionalidade limitada,

as decisões são satisfatórias, mas não ótimas. Dessa forma, acredita-se que

modelos simplificadores da realidade que consigam reduzir variáveis envolvidas

podem ser utilizados em processo decisórios que tem com objetivo reduzir a

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! 133!

incerteza nas decisões.

Modelos simplistas são limitados em termos de reprodução exata do mundo

real, mas tem a vantagem de talvez ter alguma aplicação prática de uso por

produtores onde ainda é raro o hábito de coleta, registro, organização dos dados

produtivos e econômicos e uso dessas informações em processos decisórios.

Na pecuária de corte parece existir uma demanda por estudos sobre a

compreensão de sistemas de ciclo completo tendo em vista a complexidade

inerente às fases de cria, recria e terminação.

Como a simples adoção de tecnologias não garante que se reduza o risco

de insucesso na intensificação da atividade, existe uma crescente necessidade de

se compreender esses processos numa abordagem sistêmica a fim de garantir a

viabilidade do negócio. Essa compreensão e aprendizado favorecida pela

simulação deve dar subsídios para as discussões que já existem entre o

proprietário, equipe da fazenda e sua consultoria técnica sobre quais tecnologias

serão adotam e como serão implementadas. Na realidade, a qualidade dessa

discussão e as ações resultantes é que garantirão atingir as metas produtivas

desejadas e projetadas para o cenário futuro de uma propriedade rural.

Como a adoção de tecnologias está muito vinculada ao risco, à incerteza e

ao aprendizado (Marra et al., 2003), entender estes processos por meio de uma

abordagem sistêmica usando simulações poderá futuramente ser um instrumento

de aprendizado que favoreça a adoção e incorporação de tecnologias seguras e

que permitam o aumento da produtividade e eficiência na pecuária de corte.Com

isso, o próximo passo científico talvez seja o de gerar soluções de pesquisa que

apóiem a tomada de decisão do produtor e com isso reduzam as incertezas e os

riscos nas diferentes estratégias de adoção de tecnologias em processos de

intensificação dos sistemas produtivos. Garantir essa viabilidade econômica deve

ser uma meta do setor produtivo e que pode determinar a permanência do

homem no campo e da perpetuação do “negócio pecuário” no longo prazo.

Compreendendo as relações entre desempenho zootécnico do rebanho e desempenho sistêmico da fazenda

Considerando as particularidades dos sistemas de ciclo completo, em

algumas situações pode ser estratégico predizer, ainda que de forma aproximada,

os diferentes impactos que a taxa de natalidade, idade de acasalamento e abate

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! 134!

exercem no desempenho sistêmico na produção com bovinos de corte.

Acredita-se que a prática desse exercício com um olhar um pouco mais

holístico possa auxiliar na compreensão da dinâmica que alguns fatores exercem

sobre a produção de carne por hectare.

Como questões reprodutivas são um dos componentes mais importantes da

eficiência da produção em sistemas de produção de bovinos de corte (Trenkle e

Willham, 1977) sendo uma característica fundamental nas comparações de

produtividade com outros parâmetros (Barcellos et al., 1996), foi estudado por

Lampert (2010) algumas relações sobre a dinâmica existente entre a taxa de

natalidade, idade de acasalamento e idade de abate, a capacidade de suporte e a

respectiva produção por ha de sistemas de ciclo completo. As conclusões foram:

1º) O impacto na produção de carne por hectare ao elevar a taxa de

natalidade é menor em rebanhos com alto taxas de natalidade. Elevar a taxa de

natalidade em rebanhos com bom desempenho reprodutivo deixa de ser

importante;

2º) O impacto em reduzir a idade de acasalamento é maior que o impacto

em reduzir a idade de abate nos sistemas com menor desempenho onde os

indicadores reprodutivos e de crescimento são baixos. Os aspectos reprodutivos

são mais relevantes em sistemas com indicadores zootécnicos menores;

3º) Já em sistemas com desempenho zootécnico melhores o que impacta

mais esses sistemas e deve ser encarado com uma boa estratégia de melhoria

para aumentar a produção por hectare é a redução da idade de abate visando

produzir animais mais jovens. Os aspectos de crescimento são mais relevantes

em sistemas com indicadores de rebanho mais elevados.

A importância relativa de alguns indicadores zootécnicos reprodutivos e de

crescimento no aumento da produção por hectare pode ser verificada na Tabela

1. Um olhar na linha revela qual indicador contribui com mais intensidade em cada

cenário. E um olhar na coluna serve para verificar qual cenário responde com

mais intensidade à uma melhoria nesses três indicadores. Pôde-se identificar o

cenário de maior impacto para cada indicador e o indicador de maior impacto para

cada cenário. As características reprodutivas não são sempre as que mais

impactam e auxiliam no aumento da produtividade de fazendas de ciclo completo.

A importância dos indicadores zootécnicos no aumento da produção por hectare

varia nos cenários.

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! 135!

TABELA 1 – Importância relativa da taxa de natalidade (TN), idade de

acasalamento (IAC) e idade de abate (IAB) na produção por hectare de sistemas

de ciclo completo de bovinos de corte1 em diferentes cenários de intensificação da

produção.

NA – Não se aplica

Verifique na Tabela 1 que um sistema produtivo com 50% de prenhez, idade

de acasalamento aos 2 anos e idade de abate aos 3 anos, a prioridade para

aumentar a produção por hectare, pode ser a seguinte:

Prioridade 1 – Elevar a taxa de natalidade;

Prioridade 2 – Reduzir a idade de acasalamento;

Prioridade 3 – Reduzir a idade de abate. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1Foram utilizadas as mesmas expressões a fim de preservar os conceitos e cálculos obtidos na tese de LAMPERT (2010). Posteriormente em outras publicações serão feitos ajustes na nomenclatura e nos valores, como, por exemplo, trocar taxa de natalidade por taxa de desmame.

TN IAC IAB(%) (anos) (anos) TN IAC IAB

3 ++ + +2 +++ + +1 ++++ ++ NA3 +++ ++ +2 ++++ ++ ++1 +++++ ++ NA3 +++ NA +2 ++++ NA +1 +++++ NA NA

3 ++ ++ +2 ++ ++ ++1 +++ +++ NA3 ++ ++ ++2 +++ +++ ++1 ++++ +++ NA3 +++ NA ++2 ++++ NA ++1 +++++ NA NA

3 + ++ ++2 ++ +++ +++1 +++ ++++ NA3 ++ ++ +++2 ++ +++ +++1 +++ +++ NA3 ++ NA +++2 +++ NA +++1 ++++ NA NA

INTE

NSI

FIC

AÇÃO

DO

SIS

TEM

A D

E PR

OD

ÃO

65

3

2

1

80

3

2

1

PRODUÇÃO POR HECTARE (Kg de PV / hectare)

50

3

2

1

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! 136!

Entretanto, em um sistema produtivo com 80% de prenhez, idade de

acasalamento aos 2 anos e idade de abate de 3 anos a estratégia predominante

praticamente se inverte, prevalecendo como prioridade reduzir a idade de abate.

Neste último caso, as questões reprodutivas não deixam de ser importantes,

mas estrategicamente não são as mais impactantes para elevar a produtividade

da fazenda. Neste contexto, as características de crescimento possivelmente

terão prioridade sobre as características reprodutivas.

A decisão do caminho a seguir passa primeiramente pela capacidade

coletiva da equipe de trabalho da fazenda em identificar os gargalos da

propriedade. Nenhum indicador será sempre prioritário em detrimento dos demais

em todos os cenários. Isso depende do contexto e valor dos outros indicadores.

No entanto, pode-se dizer que a escolha da estratégia de qual aspecto produtivo

deve ser melhorado segue em linhas gerais a lógica descrita acima.

Já a tomada de decisão de quais tecnologias e processos a serem adotados

para atingir a meta deseja é uma decisão que envolve a disponibilidade de

insumos e seus custos, mão-de-obra, perfil racial dos animais, fertilidade do solo,

clima, espécies forrageiras utilizadas e do perfil do proprietário e objetivos da

família. Essa decisão depende da escolha da estratégia tomada.

Quantificando as relações entre desempenho zootécnico do rebanho e desempenho sistêmico da fazenda Na simulação, mediante pressupostos de evolução do rebanho, foram

usadas diferentes cargas animais por hectare além das variáveis taxa de

natalidade, idade de acasalamento e idade de abate. Dentro de intervalos em

cada cenário, mantiveram-se constantes a taxa de mortalidade, taxa de descarte

de vacas e touros, pesos das categorias, pesos de descarte e ganho médio diário

dos animais conforme descrito por LAMPERT (2010). Na análise foram usados

valores de 2 a 5% de mortalidade, pesos de abate de 360 a 480 kg, descarte de

touros de 25% e taxas de descarte de vacas de 15%. Para compreender esses impactos utilizaram-se alguns cenários com

diferentes níveis de desempenho para quantificar a produção de carne por

hectare (Kg de peso vivo por hectare). As tabelas a seguir servem como

referência apresentando valores médios. É possível customizar e gerar tabelas de

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! 137!

referência para outros pesos de abate, taxas de mortalidade, carga animal e

preços médios de venda dos animais. Os dados de referência da Tabela 2 podem, por exemplo, serem utilizados

para identificar em que circunstâncias de aumento da carga animal e modificação

nos indicadores zootécnicos, ocorrem uma redução na produção por hectare. Um aumento isolado na lotação e respectiva carga animal nada informa

sobre o seu impacto na produção por hectare. É preciso informar também o

desempenho zootécnico obtido pelo rebanho com essa lotação rebanho para que

se estime a produção por hectare e a taxa de desfrute. Se, com o aumento da lotação, ocorrer uma redução significativa nos

indicadores zootécnicos, essa elevação na quantidade de animais por hectare

resultará em redução da produção por área e posterior perda de rentabilidade e

competitividade desse sistema produtivo.

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TABELA 2 – Produção por hectaree taxa de desfrute estimadas pelo modelo em

diferentes cenários de taxa de natalidade (TN), idade de acasalamento (IAC),

idade de abate (IAB) e carga animal na produção de bovinos de corte em

sistemas de ciclo completo.

Cenários) PRODUÇÃO)POR)HECTARE)(Kg)de)PV)por)hectare))

TN)

(%))

IAC)

(anos))

IAB)

(anos))

Carga)Animal)(kg)PV)/)ha)) Taxa)de)Desfrute)

(%))225)kg) 338)kg) 450)kg) 563)kg) 675)kg)

50)

3)

3) 54,6) 81,9) 109,2) 136,5) 163,8) 25,8)

2) 57,0) 85,5) 114,0) 142,5) 171,0) 26,8)

1) 60,4) 90,6) 120,8) 151,0) 181,2) 28,0)

2)

3) 57,9) 86,8) 115,7) 144,7) 173,6) 27,2)

2) 61,6) 92,4) 123,2) 153,9) 184,7) 28,7)

1) 66,2) 99,4) 132,5) 165,6) 198,7) 30,4)

1)

3) 62,8) 94,2) 125,6) 156,9) 188,3) 29,1)

2) 67,3) 100,9) 134,6) 168,2) 201,9) 31,1)

1) 71,4) 107,1) 142,8) 178,5) 214,2) 33,3)

65)

3)

3) 61,1) 91,6) 122,2) 152,7) 183,3) 29,1)

2) 65,2) 97,9) 130,5) 163,1) 195,7) 30,8)

1) 70,3) 105,5) 140,7) 175,8) 211,0) 32,8)

2)

3) 66,0) 99,0) 132,0) 165,0) 198,0) 31,2)

2) 71,4) 107,1) 142,9) 178,6) 214,3) 33,4)

1) 77,8) 116,7) 155,6) 194,5) 233,4) 35,9)

1)

3) 71,7) 107,6) 143,4) 179,3) 215,1) 33,8)

2) 78,3) 117,5) 156,6) 195,8) 235,0) 36,5)

1) 84,8) 127,2) 169,5) 211,9) 254,3) 39,5)

80)

3)

3) 66,0) 99,0) 132,0) 165,1) 198,1) 31,6)

2) 71,9) 107,8) 143,8) 179,7) 215,7) 34,1)

1) 78,7) 118,1) 157,4) 196,8) 236,1) 36,9)

2)

3) 72,5) 108,8) 145,1) 181,4) 217,6) 34,4)

2) 79,7) 119,5) 159,4) 199,2) 239,1) 37,4)

1) 87,8) 131,7) 175,6) 219,5) 263,4) 40,6)

1)

3) 79,0) 118,6) 158,1) 197,6) 237,1) 37,7)

2) 87,5) 131,3) 175,1) 218,9) 262,6) 41,2)

1) 96,2) 144,4) 192,5) 240,6) 288,7) 44,9)

)

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! 139!

É possível verificar que podem ocorrer reduções na produção por hectare

quando um aumento na lotação ocorre em detrimento de características

reprodutivas e ponderais do rebanho. O aumento isolado da lotação pode resultar

na queda da produtividade do sistema.

Talvez um dos grandes paradoxos da pecuária de corte seja essa

possibilidade de reduzir a produtividade e renda da atividade de ciclo completo

com o aumento da lotação animal. Isso pode ocorrer quando se toma a decisão

de aumentar a carga animal das pastagens sem conciliar de forma adequada a

sua capacidade de suporte e conseqüente o desempenho zootécnico do rebanho.

Observe-se que, se a lotação animal aumentar de 338 kg para 450 kg de

pesos vivo por hectare (0,75 UA para 1,00 UA / ha), mas os indicadores

zootécnicos piorarem (80% - 2 anos - 2 anos para 50% - 3 anos - 3 anos), a

produção por hectare passará de 119,5 para 109,2 kg PV por hectare. A taxa de

desfrute reduzirá de 37,4% para 25,8% (Tabela 2). Com esse exemplo de

redução de produtividade, tem-se um aumento na lotação em 50%, mas uma

redução da produção por hectare em 8,7%. Não nos parece ser uma decisão

acertada aumentar o número de cabeças da fazenda em detrimento dos

indicadores zootécnicos do rebanho e da produção por hectare.

Lotação e carga animal medem estoque, e não produção Se utilizada isoladamente, a lotação animal (cabeças por hectare) ou carga

animal (kg de pesos vivo por hectare) são indicadores limitados para a avaliação

da produtividade de sistemas de ciclo completo em bovinos de corte. Isso se deve

ao fato de que se aumentarmos a quantidade de animais por hectare temos um

risco de diminuir o ganho diário e o desempenho reprodutivo das matrizes,

aumentando com isso a idade ao acasalamento e ao abate e, por fim, reduzir a

produção por área, taxa de desfrute e o faturamento da fazenda.

Esses tipos de indicadores não medem o produto oriundo da atividade

pecuária, mas medem o estoque de animais na fazenda, inclusive das fases de

cria e recria que impactam significativamente nos custos de manutenção dos

animais. A categoria de recria é utilizada como insumo inicial na produção do

produto principal da fase de terminação. Os animais da fase de terminação, que

são os machos e fêmeas gordos abatidos em frigoríficos, é que saem

efetivamente da propriedade gerando receita no curto prazo. Os animais magros,

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no caso de não vender todos os animais para o abate, e a comercialização de

animais gordos é que refletem em conjunto a produtividade real de um sistema de

ciclo completo.

A utilização isolada da lotação ou carga animal revela um viés de percepção

quanto à visão sistêmica da pecuária. A ênfase exagerada e indiscriminada para

medir produtividade dessa forma poderá retardar a elaboração e definição entre o

governo, instituições de pesquisa, universidades e o setor privado de estratégias

conjuntas que fomentem o desenvolvimento da cadeia produtiva e efetivamente

proporcionem a elevação da produtividade, eficiência e da competitividade da

pecuária de corte no país.

Simulando a escolha da estratégia na pecuária de corte A seguir descreve-se uma sistemática para estimar o aumento da produção

por área quando se pretende melhorar o desempenho do rebanho, especialmente

em alguns indicadores zootécnicos.

Se um produtor utiliza 1.000 hectares para a pecuária, com carga animal de

315 kg de peso vivo por hectare, comercializando seus produtos em média por R$

4,20 o quilograma de peso vivo e considerando os indicadores taxa de natalidade

(TN), idade de acasalamento (IAC), idade de abate (IAB), sair de um patamar

50% – 2 anos – 3 anos, para 65% – 2 anos – 2 anos, respectivamente, qual será

a sua produção por hectare? Em quanto aumentará a receita bruta (faturamento)

devido a esse aumento de produtividade?

Os passos para se chegar a esse valor podem ser encontrados na Tabela 3

(27,1 kg de peso vivo por hectare), na Tabela 4 (19,6 kg de peso vivo por

hectare), na Tabela 5 (R$ 90,00 por hectare) e na Tabela 6 (R$ 90.000,00 na área

total de pecuária da fazenda).

A) TABELA 3: Encontre o INCREMENTO PADRONIZADO: cruzar a linha do

cenário ATUAL com o cenário FUTURO. Valor encontrado: 27,1 (usar na

tabela seguinte). Esse valor representa o aumento da produção em kg de

peso vivo desfrutados por hectare que será obtido com a melhoria dos

índices zootécnicos com uma carga padronizada de 450 kg de peso vivo

por hectare;

B) TABELA 4: Encontre o INCREMENTO AJUSTADO: cruzar o incremento

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padronizado (use 28 referente ao valor 27,1 da tabela anterior) com a

carga do cenário futuro de sua fazenda. Valor encontrado: 19,6;

C) TABELA 5: Encontre o BENEFÍCIO BRUTO POR HECTARE (R$/ha):

cruzar o incremento ajustado (use 20 kg referente ao valor de 19,6 kg de

peso vivo por hectare da tabela anterior) com o preço médio vendido do Kg

vivo. Valor encontrado: R$ 90,00. Esse é o aumento do faturamento por

hectare a ser obtido com a melhoria dos índices zootécnicos (logicamente

é bruto, sem custos);

D) TABELA 6: Encontre o CUSTO MÁXIMO (limite de investimento): cruzar o

benefício bruto por hectare com a área da fazenda utilizada com a pecuária

(use R$ 90,00 da tabela anterior). Valor encontrado: R$ 90.000,00. Este

valor representa um limite máximo em termos de despesa, que se pode

investir em tecnologias e processos para que seja viável economicamente

aumentar a produtividade (cenário ATUAL para o cenário FUTURO).

Essa simulação visa auxiliar na identificação do quanto se pode investir em

tecnologias e processos que melhorem o desempenho zootécnico do rebanho e a

produção por hectare do sistema. Há alguns anos, questões técnicas não tem

sido um gargalo para aumentar a produtividade, pois existem diversas tecnologias

e processos produtivos que, com certeza, permitem alcançar patamares mais

elevados de eficiência e produtividade.

A questão agora é identificar, num enfoque de faturamento e orçamento,

“como” encaixar e quais tecnologias disponíveis “cabem” dentre desses R$

90.000,00. É uma tarefa conjunta que pode ser realizada com a participação dos

proprietários, sua equipe de trabalho e agrônomos, zootecnistas, veterinários e/ou

outros profissionais das ciências agrárias responsável pela assistência técnica da

fazenda.

Uma ressalva tem que ser feita. A contribuição da análise desse texto é de

trazer à luz alguns elementos que auxiliem o processo decisório. Não se tem a

pretensão de que modelos analíticos dêem “receitas” irrefutáveis ou substituam o

feeling do produtor. Acredita-se que a reflexão gerada na equipe por essa

simulação é muito mais importante do que os valores dos cenários obtidos em si.

Esse tipo de ferramenta de análise, nesse momento, tem uma contribuição maior

no processo de aprendizagem e compreensão do sistema produtivo da pecuária

do que como uma ferramenta prescritiva.

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Essa reflexão permite identificar um caminho alternativo para a escolha de

tecnologias. O natural é pensar primeiro em uma tecnologia, calcular os custos,

medir os aspectos produtivos e analisar a viabilidade econômica. Esse é o

caminho convencional. Geralmente, o foco na tecnologia é preferido nas questões

gerenciais no dia-a-dia de uma fazenda.

O futuro desenvolvimento de ferramentas que tratem da medição de

desempenho da pecuária talvez contribua para que o primeiro olhar num sistema

produtivo não seja nas tecnologias, mas nos processos e como estratégias de

intervenção e melhoria do desempenho do rebanho impactam o sistema com um

todo. Inicialmente compreender de maneira ampla e caminhar no sentido de

customizar e perceber quais características produtivas são mais sensíveis às

mudanças em cada propriedade talvez seja um aspecto relevante na

administração de fazendas nos próximos anos.

O foco na presente análise é identificar o aumento da receita bruta

(faturamento da fazenda) com a melhoria dos indicadores zootécnicos. No passo-

a-passo descrito anteriormente, passar de uma taxa de natalidade, idade de

acasalamento, idade de abate de 50% – 2 anos – 3 anos, respectivamente, para

uma meta futura de 65% – 2 anos – 2 anos, gera uma receita, um benefício

adicional ao sistema de quase cem mil reais.

Para ser favorável, a relação benefício / custo deve ser igual ou superior a

1. Por isso o custo máximo é igual ao faturamento. Junto com a assistência

técnica, o produtor deverá escolher as tecnologias/processos disponíveis que

permitam dar um salto produtivo do cenário atual para o cenário futuro desejado

com um custo igual ou inferior ao custo máximo (no exemplo, R$ 90.000,00). O

lucro será maior, tanto mais se conseguir desenhar tecnologias e processos de

menor custo, mas que dêem o mesmo salto produtivo.

Não existe tecnologia boa ou ruim, mas sim tecnologias adequadas ou não

à realidade de cada produtor e ao seu sistema produtivo. E outra coisa, no papel

tudo é perfeito, mas como afirmam Kaplan e Norton (2001), apenas 10% das

estratégias formuladas são implantadas com êxito, concluindo que o principal

problema não é a má estratégia, e sim a má execução.

Isso é assunto para outra conversa!

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! 143!

Tabela 3 – Diferenças da produtividade (produção de kg de peso vivo desfrutados por hectare) entre o cenário atual e futuro para uma carga de 450 kg de peso vivo por ha em sistemas de ciclo completo na pecuária de corte. O valor obtido cruzando a produção atual (linhas) com a meta (colunas) denomina-se incremento padronizado.

!INSTRUÇÕES: Escolha o cenário atual e futuro para a Taxa de natalidade (TN), Idade de acasalamento (IAC) e Idade e abate (IAB) e encontre o valor do incremento produtivo (cruzar linha com coluna) e leve-o para a Tabela 4. Exemplo: valor igual a 27,1.

TNIACIAB 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1

TN IAC IAB

3 0,0 4,8 11,6 6,6 14,0 23,3 16,4 25,4 33,6 13,0 21,3 31,5 22,8 33,7 46,4 34,2 47,4 60,4 22,9 34,6 48,2 35,9 50,2 66,4 48,9 65,9 83,32 -4,8 0,0 6,8 1,7 9,1 18,5 11,5 20,6 28,8 8,2 16,5 26,7 18,0 28,8 41,6 29,4 42,6 55,5 18,0 29,8 43,4 31,1 45,4 61,6 44,1 61,1 78,51 -11,6 -6,8 0,0 -5,0 2,4 11,7 4,8 13,8 22,0 1,4 9,7 19,9 11,2 22,1 34,8 22,7 35,9 48,8 11,3 23,0 36,7 24,3 38,6 54,8 37,3 54,3 71,73 -6,6 -1,7 5,0 0,0 7,4 16,7 9,8 18,8 27,1 6,4 14,7 24,9 16,2 27,1 39,9 27,7 40,9 53,8 16,3 28,0 41,7 29,3 43,6 59,9 42,3 59,3 76,72 -14,0 -9,1 -2,4 -7,4 0,0 9,3 2,4 11,4 19,6 -1,0 7,3 17,5 8,8 19,7 32,5 20,3 33,5 46,4 8,9 20,6 34,3 21,9 36,2 52,5 34,9 51,9 69,31 -23,3 -18,5 -11,7 -16,7 -9,3 0,0 -6,9 2,1 10,3 -10,3 -2,0 8,2 -0,5 10,4 23,1 11,0 24,2 37,1 -0,4 11,3 25,0 12,6 26,9 43,1 25,6 42,6 60,03 -16,4 -11,5 -4,8 -9,8 -2,4 6,9 0,0 9,0 17,3 -3,4 4,9 15,1 6,4 17,3 30,1 17,9 31,1 44,0 6,5 18,2 31,9 19,5 33,8 50,1 32,5 49,5 66,92 -25,4 -20,6 -13,8 -18,8 -11,4 -2,1 -9,0 0,0 8,2 -12,4 -4,1 6,1 -2,6 8,3 21,0 8,8 22,0 35,0 -2,5 9,2 22,8 10,5 24,8 41,0 23,5 40,5 57,91 -33,6 -28,8 -22,0 -27,1 -19,6 -10,3 -17,3 -8,2 0,0 -20,6 -12,3 -2,1 -10,8 0,0 12,8 0,6 13,8 26,7 -10,8 1,0 14,6 2,3 16,6 32,8 15,3 32,3 49,73 -13,0 -8,2 -1,4 -6,4 1,0 10,3 3,4 12,4 20,6 0,0 8,3 18,5 9,8 20,7 33,4 21,2 34,4 47,4 9,9 21,6 35,2 22,9 37,2 53,4 35,9 52,9 70,32 -21,3 -16,5 -9,7 -14,7 -7,3 2,0 -4,9 4,1 12,3 -8,3 0,0 10,2 1,5 12,4 25,1 13,0 26,2 39,1 1,6 13,3 27,0 14,6 28,9 45,1 27,6 44,6 62,01 -31,5 -26,7 -19,9 -24,9 -17,5 -8,2 -15,1 -6,1 2,1 -18,5 -10,2 0,0 -8,7 2,2 14,9 2,8 16,0 28,9 -8,6 3,1 16,8 4,4 18,7 34,9 17,4 34,4 51,83 -22,8 -18,0 -11,2 -16,2 -8,8 0,5 -6,4 2,6 10,8 -9,8 -1,5 8,7 0,0 10,9 23,6 11,4 24,6 37,6 0,1 11,8 25,4 13,1 27,4 43,6 26,1 43,1 60,52 -33,7 -28,8 -22,1 -27,1 -19,7 -10,4 -17,3 -8,3 0,0 -20,7 -12,4 -2,2 -10,9 0,0 12,8 0,6 13,8 26,7 -10,8 0,9 14,6 2,2 16,5 32,8 15,2 32,2 49,61 -46,4 -41,6 -34,8 -39,9 -32,5 -23,1 -30,1 -21,0 -12,8 -33,4 -25,1 -14,9 -23,6 -12,8 0,0 -12,2 1,0 13,9 -23,6 -11,8 1,8 -10,5 3,8 20,0 2,5 19,5 36,93 -34,2 -29,4 -22,7 -27,7 -20,3 -11,0 -17,9 -8,8 -0,6 -21,2 -13,0 -2,8 -11,4 -0,6 12,2 0,0 13,2 26,1 -11,4 0,3 14,0 1,7 16,0 32,2 14,7 31,7 49,12 -47,4 -42,6 -35,9 -40,9 -33,5 -24,2 -31,1 -22,0 -13,8 -34,4 -26,2 -16,0 -24,6 -13,8 -1,0 -13,2 0,0 12,9 -24,6 -12,9 0,8 -11,5 2,8 19,0 1,5 18,5 35,91 -60,4 -55,5 -48,8 -53,8 -46,4 -37,1 -44,0 -35,0 -26,7 -47,4 -39,1 -28,9 -37,6 -26,7 -13,9 -26,1 -12,9 0,0 -37,5 -25,8 -12,1 -24,5 -10,1 6,1 -11,5 5,6 22,93 -22,9 -18,0 -11,3 -16,3 -8,9 0,4 -6,5 2,5 10,8 -9,9 -1,6 8,6 -0,1 10,8 23,6 11,4 24,6 37,5 0,0 11,7 25,4 13,0 27,4 43,6 26,0 43,1 60,42 -34,6 -29,8 -23,0 -28,0 -20,6 -11,3 -18,2 -9,2 -1,0 -21,6 -13,3 -3,1 -11,8 -0,9 11,8 -0,3 12,9 25,8 -11,7 0,0 13,7 1,3 15,6 31,8 14,3 31,3 48,71 -48,2 -43,4 -36,7 -41,7 -34,3 -25,0 -31,9 -22,8 -14,6 -35,2 -27,0 -16,8 -25,4 -14,6 -1,8 -14,0 -0,8 12,1 -25,4 -13,7 0,0 -12,3 2,0 18,2 0,7 17,7 35,13 -35,9 -31,1 -24,3 -29,3 -21,9 -12,6 -19,5 -10,5 -2,3 -22,9 -14,6 -4,4 -13,1 -2,2 10,5 -1,7 11,5 24,5 -13,0 -1,3 12,3 0,0 14,3 30,5 13,0 30,0 47,42 -50,2 -45,4 -38,6 -43,6 -36,2 -26,9 -33,8 -24,8 -16,6 -37,2 -28,9 -18,7 -27,4 -16,5 -3,8 -16,0 -2,8 10,1 -27,4 -15,6 -2,0 -14,3 0,0 16,2 -1,3 15,7 33,11 -66,4 -61,6 -54,8 -59,9 -52,5 -43,1 -50,1 -41,0 -32,8 -53,4 -45,1 -34,9 -43,6 -32,8 -20,0 -32,2 -19,0 -6,1 -43,6 -31,8 -18,2 -30,5 -16,2 0,0 -17,5 -0,5 16,93 -48,9 -44,1 -37,3 -42,3 -34,9 -25,6 -32,5 -23,5 -15,3 -35,9 -27,6 -17,4 -26,1 -15,2 -2,5 -14,7 -1,5 11,5 -26,0 -14,3 -0,7 -13,0 1,3 17,5 0,0 17,0 34,42 -65,9 -61,1 -54,3 -59,3 -51,9 -42,6 -49,5 -40,5 -32,3 -52,9 -44,6 -34,4 -43,1 -32,2 -19,5 -31,7 -18,5 -5,6 -43,1 -31,3 -17,7 -30,0 -15,7 0,5 -17,0 0,0 17,41 -83,3 -78,5 -71,7 -76,7 -69,3 -60,0 -66,9 -57,9 -49,7 -70,3 -62,0 -51,8 -60,5 -49,6 -36,9 -49,1 -35,9 -22,9 -60,4 -48,7 -35,1 -47,4 -33,1 -16,9 -34,4 -17,4 0,0

803 2 1 3 2 1 3 2 1

80

3

2

1

50 65

CEN

ÁRIO

ATU

ALCENÁRIO FUTURO

50

3

2

1

65

3

2

1

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Tabela 4–Diferenças da produtividade (produção de kg de peso vivo desfrutados por hectare) entre o cenário atual e futuro ajustado para a carga da fazenda.O valor obtido cruzando o coeficiente padronizado (linhas) com a carga animal por hectare (colunas) denomina-se incremento ajustado.

INSTRUÇÕES: Use o valor da tabela anterior, procure o valor mais aproximado na linha, cruze com a coluna e leve esse valor para a Tabela 5. Exemplo: usar 28 ao invés de 27,1, cruzar com 315 kg/ha e encontrar 19,6 (incremento ajustado).

CG225,00 270,00 315,00 360,00 405,00 450,00 495,00 540,00 585,00 630,00 675,00

CP2,0 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,004,0 2,00 2,40 2,80 3,20 3,60 4,00 4,40 4,80 5,20 5,60 6,006,0 3,00 3,60 4,20 4,80 5,40 6,00 6,60 7,20 7,80 8,40 9,008,0 4,00 4,80 5,60 6,40 7,20 8,00 8,80 9,60 10,40 11,20 12,00

10,0 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 13,00 14,00 15,0012,0 6,00 7,20 8,40 9,60 10,80 12,00 13,20 14,40 15,60 16,80 18,0014,0 7,00 8,40 9,80 11,20 12,60 14,00 15,40 16,80 18,20 19,60 21,0016,0 8,00 9,60 11,20 12,80 14,40 16,00 17,60 19,20 20,80 22,40 24,0018,0 9,00 10,80 12,60 14,40 16,20 18,00 19,80 21,60 23,40 25,20 27,0020,0 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,0022,0 11,00 13,20 15,40 17,60 19,80 22,00 24,20 26,40 28,60 30,80 33,0024,0 12,00 14,40 16,80 19,20 21,60 24,00 26,40 28,80 31,20 33,60 36,0026,0 13,00 15,60 18,20 20,80 23,40 26,00 28,60 31,20 33,80 36,40 39,0028,0 14,00 16,80 19,60 22,40 25,20 28,00 30,80 33,60 36,40 39,20 42,0030,0 15,00 18,00 21,00 24,00 27,00 30,00 33,00 36,00 39,00 42,00 45,0032,0 16,00 19,20 22,40 25,60 28,80 32,00 35,20 38,40 41,60 44,80 48,0034,0 17,00 20,40 23,80 27,20 30,60 34,00 37,40 40,80 44,20 47,60 51,0036,0 18,00 21,60 25,20 28,80 32,40 36,00 39,60 43,20 46,80 50,40 54,0038,0 19,00 22,80 26,60 30,40 34,20 38,00 41,80 45,60 49,40 53,20 57,0040,0 20,00 24,00 28,00 32,00 36,00 40,00 44,00 48,00 52,00 56,00 60,0042,0 21,00 25,20 29,40 33,60 37,80 42,00 46,20 50,40 54,60 58,80 63,0044,0 22,00 26,40 30,80 35,20 39,60 44,00 48,40 52,80 57,20 61,60 66,0046,0 23,00 27,60 32,20 36,80 41,40 46,00 50,60 55,20 59,80 64,40 69,0048,0 24,00 28,80 33,60 38,40 43,20 48,00 52,80 57,60 62,40 67,20 72,0050,0 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 55,00 60,00 65,00 70,00 75,0052,0 26,00 31,20 36,40 41,60 46,80 52,00 57,20 62,40 67,60 72,80 78,0054,0 27,00 32,40 37,80 43,20 48,60 54,00 59,40 64,80 70,20 75,60 81,0056,0 28,00 33,60 39,20 44,80 50,40 56,00 61,60 67,20 72,80 78,40 84,0058,0 29,00 34,80 40,60 46,40 52,20 58,00 63,80 69,60 75,40 81,20 87,0060,0 30,00 36,00 42,00 48,00 54,00 60,00 66,00 72,00 78,00 84,00 90,0062,0 31,00 37,20 43,40 49,60 55,80 62,00 68,20 74,40 80,60 86,80 93,0064,0 32,00 38,40 44,80 51,20 57,60 64,00 70,40 76,80 83,20 89,60 96,0066,0 33,00 39,60 46,20 52,80 59,40 66,00 72,60 79,20 85,80 92,40 99,0068,0 34,00 40,80 47,60 54,40 61,20 68,00 74,80 81,60 88,40 95,20 102,0070,0 35,00 42,00 49,00 56,00 63,00 70,00 77,00 84,00 91,00 98,00 105,0072,0 36,00 43,20 50,40 57,60 64,80 72,00 79,20 86,40 93,60 100,80 108,0076,0 38,00 45,60 53,20 60,80 68,40 76,00 83,60 91,20 98,80 106,40 114,0080,0 40,00 48,00 56,00 64,00 72,00 80,00 88,00 96,00 104,00 112,00 120,0084,0 42,00 50,40 58,80 67,20 75,60 84,00 92,40 100,80 109,20 117,60 126,0088,0 44,00 52,80 61,60 70,40 79,20 88,00 96,80 105,60 114,40 123,20 132,0092,0 46,00 55,20 64,40 73,60 82,80 92,00 101,20 110,40 119,60 128,80 138,0096,0 48,00 57,60 67,20 76,80 86,40 96,00 105,60 115,20 124,80 134,40 144,00100,0 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 110,00 120,00 130,00 140,00 150,00

EFEITO DA VARIAÇÃO DA CAPACIDADE DE SUPORTE NA PRODUÇÃO POR HECTARE

CARGA ANIMAL DO CENÁRIO FUTURO? (Kg de PV / ha)

CO

EFI

CIE

NTE

PR

OD

UTI

VO

INCREMENTO QUE SERÁ OBTIDO POR HECTARE EM FUNÇÃO DA CARGA (Kg Vivo/ha)

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145

! 145!

Tabela 5 – Aumento do faturamento (R$ por hectare) ao passar do cenário atual para o desejado. O valor obtido cruzando o incremento ajustado (linhas) com o preço médio vendido (colunas) em R$ por kg de animal gordo denomina-se benefício bruto por hectare.

INSTRUÇÕES: Use o valor da tabela anterior, procure o valor mais aproximado na linha, cruze com o preço, e leve esse valor para a Tabela 6. Exemplo: usar 20 kg ao invés de 19,60, cruzar com R$ 4,50 / kg vivo e encontrar R$ 90,00 por hectare.

3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00

IP IP1,0 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 64 192,00 224,00 256,00 288,00 320,002,0 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 66 198,00 231,00 264,00 297,00 330,003,0 9,00 10,50 12,00 13,50 15,00 68 204,00 238,00 272,00 306,00 340,004,0 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 70 210,00 245,00 280,00 315,00 350,005,0 15,00 17,50 20,00 22,50 25,00 72 216,00 252,00 288,00 324,00 360,006,0 18,00 21,00 24,00 27,00 30,00 74 222,00 259,00 296,00 333,00 370,007,0 21,00 24,50 28,00 31,50 35,00 76 228,00 266,00 304,00 342,00 380,008,0 24,00 28,00 32,00 36,00 40,00 78 234,00 273,00 312,00 351,00 390,009,0 27,00 31,50 36,00 40,50 45,00 80 240,00 280,00 320,00 360,00 400,0010,0 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 82 246,00 287,00 328,00 369,00 410,0011,0 33,00 38,50 44,00 49,50 55,00 84 252,00 294,00 336,00 378,00 420,0012,0 36,00 42,00 48,00 54,00 60,00 86 258,00 301,00 344,00 387,00 430,0013,0 39,00 45,50 52,00 58,50 65,00 88 264,00 308,00 352,00 396,00 440,0014,0 42,00 49,00 56,00 63,00 70,00 90 270,00 315,00 360,00 405,00 450,0015,0 45,00 52,50 60,00 67,50 75,00 92 276,00 322,00 368,00 414,00 460,0016,0 48,00 56,00 64,00 72,00 80,00 94 282,00 329,00 376,00 423,00 470,0017,0 51,00 59,50 68,00 76,50 85,00 96 288,00 336,00 384,00 432,00 480,0018,0 54,00 63,00 72,00 81,00 90,00 98 294,00 343,00 392,00 441,00 490,0019,0 57,00 66,50 76,00 85,50 95,00 100 300,00 350,00 400,00 450,00 500,0020,0 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 102 306,00 357,00 408,00 459,00 510,0021,0 63,00 73,50 84,00 94,50 105,00 104 312,00 364,00 416,00 468,00 520,0022,0 66,00 77,00 88,00 99,00 110,00 106 318,00 371,00 424,00 477,00 530,0023,0 69,00 80,50 92,00 103,50 115,00 108 324,00 378,00 432,00 486,00 540,0024,0 72,00 84,00 96,00 108,00 120,00 110 330,00 385,00 440,00 495,00 550,0025,0 75,00 87,50 100,00 112,50 125,00 112 336,00 392,00 448,00 504,00 560,0026,0 78,00 91,00 104,00 117,00 130,00 114 342,00 399,00 456,00 513,00 570,0028,0 84,00 98,00 112,00 126,00 140,00 116 348,00 406,00 464,00 522,00 580,0030,0 90,00 105,00 120,00 135,00 150,00 118 354,00 413,00 472,00 531,00 590,0032,0 96,00 112,00 128,00 144,00 160,00 120 360,00 420,00 480,00 540,00 600,0034,0 102,00 119,00 136,00 153,00 170,00 122 366,00 427,00 488,00 549,00 610,0036,0 108,00 126,00 144,00 162,00 180,00 124 372,00 434,00 496,00 558,00 620,0038,0 114,00 133,00 152,00 171,00 190,00 126 378,00 441,00 504,00 567,00 630,0040,0 120,00 140,00 160,00 180,00 200,00 128 384,00 448,00 512,00 576,00 640,0042,0 126,00 147,00 168,00 189,00 210,00 130 390,00 455,00 520,00 585,00 650,0044,0 132,00 154,00 176,00 198,00 220,00 132 396,00 462,00 528,00 594,00 660,0046,0 138,00 161,00 184,00 207,00 230,00 134 402,00 469,00 536,00 603,00 670,0048,0 144,00 168,00 192,00 216,00 240,00 136 408,00 476,00 544,00 612,00 680,0050,0 150,00 175,00 200,00 225,00 250,00 138 414,00 483,00 552,00 621,00 690,0052,0 156,00 182,00 208,00 234,00 260,00 140 420,00 490,00 560,00 630,00 700,0054,0 162,00 189,00 216,00 243,00 270,00 142 426,00 497,00 568,00 639,00 710,0056,0 168,00 196,00 224,00 252,00 280,00 144 432,00 504,00 576,00 648,00 720,0058,0 174,00 203,00 232,00 261,00 290,00 146 438,00 511,00 584,00 657,00 730,0060,0 180,00 210,00 240,00 270,00 300,00 148 444,00 518,00 592,00 666,00 740,0062,0 186,00 217,00 248,00 279,00 310,00 150 450,00 525,00 600,00 675,00 750,00

AUMENTO DO FATURAMENTO POR HECTARE NO CENÁRIO FUTURO

PREÇO DO KG DE PESO VIVO DE ANIMAIS PARA O ABATE (R$ / Kg de PV)

BENEFÍCIO BRUTO POR HECTARE (R$ por hectare)

INC

RE

ME

NTO

PO

R H

EC

TAR

E

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! 146!

Tabela 6 – Aumento do faturamento total da fazenda (R$) do cenário atual para o desejado. O valor obtido cruzando o benefício bruto por hectare (linhas) com a área utilizada com a pecuária (colunas) denomina-se custo máximo. É o valor máximo para gastar no aumento da produtividade.

! INSTRUÇÕES: Use o valor da tabela anterior, procure o valor mais aproximado na linha, cruze com a área utilizada na pecuária. Exemplo: usar R$ 90,00 kg, cruzar com 1.000 ha e encontrar R$ 90.000,00 por hectare (custo máximo).

500 1.000 5.000 10.000 500 1.000 5.000 10.000

BBH BBH1,0 500 1.000 5.000 10.000 130,0 65.000 130.000 650.000 1.300.0002,0 1.000 2.000 10.000 20.000 140,0 70.000 140.000 700.000 1.400.0003,0 1.500 3.000 15.000 30.000 150,0 75.000 150.000 750.000 1.500.0004,0 2.000 4.000 20.000 40.000 160,0 80.000 160.000 800.000 1.600.0005,0 2.500 5.000 25.000 50.000 170,0 85.000 170.000 850.000 1.700.0006,0 3.000 6.000 30.000 60.000 180,0 90.000 180.000 900.000 1.800.0007,0 3.500 7.000 35.000 70.000 190,0 95.000 190.000 950.000 1.900.0008,0 4.000 8.000 40.000 80.000 200,0 100.000 200.000 1.000.000 2.000.0009,0 4.500 9.000 45.000 90.000 210,0 105.000 210.000 1.050.000 2.100.00010,0 5.000 10.000 50.000 100.000 220,0 110.000 220.000 1.100.000 2.200.00011,0 5.500 11.000 55.000 110.000 230,0 115.000 230.000 1.150.000 2.300.00012,0 6.000 12.000 60.000 120.000 240,0 120.000 240.000 1.200.000 2.400.00013,0 6.500 13.000 65.000 130.000 250,0 125.000 250.000 1.250.000 2.500.00014,0 7.000 14.000 70.000 140.000 260,0 130.000 260.000 1.300.000 2.600.00015,0 7.500 15.000 75.000 150.000 270,0 135.000 270.000 1.350.000 2.700.00016,0 8.000 16.000 80.000 160.000 280,0 140.000 280.000 1.400.000 2.800.00017,0 8.500 17.000 85.000 170.000 290,0 145.000 290.000 1.450.000 2.900.00018,0 9.000 18.000 90.000 180.000 300,0 150.000 300.000 1.500.000 3.000.00019,0 9.500 19.000 95.000 190.000 310,0 155.000 310.000 1.550.000 3.100.00020,0 10.000 20.000 100.000 200.000 320,0 160.000 320.000 1.600.000 3.200.00021,0 10.500 21.000 105.000 210.000 330,0 165.000 330.000 1.650.000 3.300.00022,0 11.000 22.000 110.000 220.000 340,0 170.000 340.000 1.700.000 3.400.00023,0 11.500 23.000 115.000 230.000 350,0 175.000 350.000 1.750.000 3.500.00024,0 12.000 24.000 120.000 240.000 360,0 180.000 360.000 1.800.000 3.600.00025,0 12.500 25.000 125.000 250.000 370,0 185.000 370.000 1.850.000 3.700.00026,0 13.000 26.000 130.000 260.000 380,0 190.000 380.000 1.900.000 3.800.00027,0 13.500 27.000 135.000 270.000 390,0 195.000 390.000 1.950.000 3.900.00028,0 14.000 28.000 140.000 280.000 400,0 200.000 400.000 2.000.000 4.000.00029,0 14.500 29.000 145.000 290.000 410,0 205.000 410.000 2.050.000 4.100.00030,0 15.000 30.000 150.000 300.000 420,0 210.000 420.000 2.100.000 4.200.00035,0 17.500 35.000 175.000 350.000 430,0 215.000 430.000 2.150.000 4.300.00040,0 20.000 40.000 200.000 400.000 440,0 220.000 440.000 2.200.000 4.400.00045,0 22.500 45.000 225.000 450.000 450,0 225.000 450.000 2.250.000 4.500.00050,0 25.000 50.000 250.000 500.000 460,0 230.000 460.000 2.300.000 4.600.00055,0 27.500 55.000 275.000 550.000 470,0 235.000 470.000 2.350.000 4.700.00060,0 30.000 60.000 300.000 600.000 480,0 240.000 480.000 2.400.000 4.800.00065,0 32.500 65.000 325.000 650.000 490,0 245.000 490.000 2.450.000 4.900.00070,0 35.000 70.000 350.000 700.000 500,0 250.000 500.000 2.500.000 5.000.00075,0 37.500 75.000 375.000 750.000 510,0 255.000 510.000 2.550.000 5.100.00080,0 40.000 80.000 400.000 800.000 520,0 260.000 520.000 2.600.000 5.200.00085,0 42.500 85.000 425.000 850.000 530,0 265.000 530.000 2.650.000 5.300.00090,0 45.000 90.000 450.000 900.000 540,0 270.000 540.000 2.700.000 5.400.00095,0 47.500 95.000 475.000 950.000 550,0 275.000 550.000 2.750.000 5.500.000100,0 50.000 100.000 500.000 1.000.000 560,0 280.000 560.000 2.800.000 5.600.000105,0 52.500 105.000 525.000 1.050.000 570,0 285.000 570.000 2.850.000 5.700.000110,0 55.000 110.000 550.000 1.100.000 580,0 290.000 580.000 2.900.000 5.800.000115,0 57.500 115.000 575.000 1.150.000 590,0 295.000 590.000 2.950.000 5.900.000120,0 60.000 120.000 600.000 1.200.000 600,0 300.000 600.000 3.000.000 6.000.000

Área utilizada com a pecuária (hectares) - Ciclo Completo

BE

NE

FÍC

IO B

RU

TO P

OR

HE

CTA

RE

(R$)

AUMENTO DO FATURAMENTO DA FAZENDA

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147

! 147!

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Hereford e cruzas Hereford-Nelore acasaladas no outono/inverno ou na

primavera/verão. Revista Brasileirade Zootecnia, Viçosa, v.25, n.3, p.414-427,

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KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Organização orientada para estratégia: como as

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LAMPERT, V. N. Produtividade e Eficiência de Sistemas de Ciclo Completo na

Produção de Bovinos de Corte. 2010. (124p.) Tese (Doutorado). – Programa de

Pós-Graduação em Zootecnia. Faculdade de Agronomia, Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.

MARRA, M.; PANNELL, D.J.; GHADIM, A.A. The economics of risk, uncertainty and

learning in the adoption of new agricultural technologies: where are we on the

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148

! 148!

Gestão pelo sistema de custos

Méd. Vet. Ricardo Pedroso Oaigen

Professor Adjunto, Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA - Uruguaiana

Méd. Vet. Júlio Otávio Jardim Barcellos

Prof. Associado – NESPRO – Dep. Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande

do Sul - UFRGS

Acadêmica de Medicina Veterinária Thais Lopes Gonçalves

Bolsista PBDA – Iniciação a Pesquisa, Universidade Federal do Pampa –

UNIPAMPA - Uruguaiana-RS

Resumo

Gerenciamento pode ser definido como um processo contínuo e sistemático

de tomada de decisões, no entanto, a tarefa de gerar informações reais e

consistentes que fundamentem a tomada de decisão é uma dificuldade constante

para os produtores rurais. O empresário tem a necessidade de saber onde e de que

forma estão sendo aplicados seus recursos e qual está sendo o retorno econômico

obtido. Mensurar o custo de produção, a partir de metodologias específicas e

padronizadas, permite identificar os centros geradores de custos e o impacto que

determinados processos e/ou tecnologias causam ao sistema, especificamente no

custo final do produto. A informação gerencial, por meio de indicadores econômicos,

caracteriza a viabilidade econômica do sistema produtivo e, possibilita a comparação

dos resultados atuais com o planejamento realizado anteriormente.

Palavras-chaves: bovinos de corte, administração rural, centro de custos,

indicadores econômicos.

Introdução

O setor da bovinocultura de corte tem apresentado nas últimas décadas

avanços no que se refere ao surgimento e aplicabilidade de tecnologias de produção

que visam incrementar a produtividade dos rebanhos. Entretanto, a análise conjunta

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! 149!

do desempenho técnico e econômico torna-se complexa e de difícil mensuração,

potencializada tanto pela heterogeneidade dos sistemas produtivos quanto pela falta

de informações e controles sobre eles. A viabilidade econômica da atividade é

intimamente relacionada com questões intrínsecas, como por exemplo, o valor

elevado do fator de produção terra, a grande infraestrutura montada e o forte apego

cultural, fazendo com que o produtor se mantenha na atividade, ainda que seus

produtos estejam sendo comercializados sem retorno e, em alguns casos, até com

prejuízo.

Nos últimos anos, a atividade vem oscilando entre momentos distintos,

consequência de inúmeras causas. Entre os principais fatores negativos destacam-

se: a política cambial desfavorável ao setor, o crescente endividamento das

empresas rurais, perda de capital de giro, aumento do custo dos principais insumos

de produção, resultando em menores taxas de rentabilidade. No entanto, nos últimos

dois anos, com o aumento dos preços recebidos, a cadeia produtiva da carne bovina

está reagindo e entrando em uma conjuntura favorável, aliado a isto, inúmeros

avanços positivos estão sendo realizados a partir de ações estratégicas, por

exemplo, alianças entre os diferentes elos da cadeia.

Foram determinados fatores interdependentes que afetam o desempenho

econômico de rebanhos, sendo estes os custos de produção, a produtividade

biológica e a lucratividade do sistema. Entretanto, os gestores frequentemente

focam suas ações em aumentar a produtividade, sem considerar o gerenciamento

dos custos e dos demais fatores que influenciam o resultado econômico dessas

empresas.

Existe por parte dos empresários rurais uma demanda por um método de

gerenciamento específico. Os modelos atuais de contabilidade disponíveis no

mercado são eficazes, mesmo em empresas rurais, para avaliar o patrimônio e,

superficialmente, o resultado econômico. No entanto, para apurar adequadamente

esse resultado econômico, os modelos disponíveis atualmente não permitem uma

abertura detalhada de relatórios interligados aos centros de custos para auxiliar uma

tomada de decisão. Na indústria ou nas empresas urbanas, setor onde a ciência da

contabilidade desenvolveu-se, as variáveis técnicas e os locais de produção são

controlados. No caso do setor agropecuário, a dificuldade não é contabilizar, mas

sim conseguir direcionar onde foram aplicados os recursos.

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! 150!

É fundamental que o administrador tenha conhecimentos adequados sobre a

maneira que os custos incorrem na empresa e a que tipos de atividades estão

relacionados. Os custos surgem a partir do esforço empreendido na execução de

tarefas que resultem na produção de um bem comercializável. Qualquer insumo

consumido na produção de um bem ou serviço, agregado fisicamente a ele ou não,

deve ser mensurado.. Deste modo, a determinação dos custos de produção tem a

finalidade de verificar como está a rentabilidade da atividade comparada às

alternativas de emprego do tempo e capital e se os recursos utilizados num

processo de produção estão sendo remunerados.

Portanto, é imprescindível que os profissionais ligados às ciências agrárias,

administradores e empresários rurais, possuam ferramentas gerenciais visando

mensurar e analisar os custos de produção associados aos indicadores produtivos.

Estas análises não devem ser atreladas ao volume e sim a uma visão mais próxima

da circulação dos recursos consumidos pelas atividades produtivas. Os relatórios

gerenciais são de fundamental importância no suporte ao processo de gestão,

considerando-se que os mesmos podem suprir os gestores com as informações

sobre o desempenho da empresa, quanto ao custo e ao resultado obtido, podendo

ainda auxiliar em tempo hábil na solução dos problemas.

Neste contexto a determinação dos custos envolvidos na pecuária de corte

assume uma dimensão estratégica. Os preços passam a ser definidos pelo

mercado, e a precisa mensuração e contabilização de custos tornam-se

fundamentais na determinação dos resultados dos produtores, assim como de sua

sobrevivência. Controlar custos e precisar sua participação no preço final torna-se

essencial para uma gestão profissional.

Desenvolvimento

Gerenciamento na atividade pecuária

Os fatores de produção da uma empresa rural denominam-se terra, capital e

trabalho. Entre estes, sem dúvida o fator terra é o mais importante, pois é onde se

aplicam os capitais e se trabalha para obter a produção. Se a terra for ruim ou muito

pequena, dificilmente se produzirão colheitas abundantes e lucrativas, por mais

capital e trabalho que se disponha. O capital representa o conjunto de bens

colocados sobre a terra com objetivo de aumentar sua produtividade e ainda facilitar

e melhorar a qualidade do trabalho.

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! 151!

O trabalho é o conjunto de atividades desempenhadas pelo homem,

associando três aspectos: organização, estabelecimento de controles e o manejo da

atividade. Porém existe uma diferença fundamental entre a administração e a

execução de práticas agropecuárias: a exigência de conhecimento é maior para a

primeira. A visão do empresário rural deve priorizar a visão sistêmica da empresa,

enquanto que o executor de tarefas necessita saber exatamente aquilo que lhe foi

designado. A tarefa do empresário é, portanto, muito mais complexa. Cabe a ele

coordenar os demais funcionários e fundamentalmente combinar a utilização de

todos os fatores de produção com a finalidade de obter resultados econômicos

satisfatórios e manter elevada a produtividade.

O conhecimento das condições de mercado e dos recursos naturais fornece

ao produtor rural os elementos básicos para o desenvolvimento de sua atividade. A

administração rural é definida como o conjunto de atividades que facilita a tomada

de decisão ao nível de sua unidade de produção com a finalidade de obter o melhor

resultado econômico, mantendo a produtividade da terra.

Ao empresário rural caem as seguintes tarefas:

• Tomar decisão sobre o quê produzir, baseando-se nas condições de mercado

e dos recursos naturais de sua propriedade;

• Decidir sobre o quanto produzir, levando em consideração fundamentalmente

a quantidade de terra de que dispõe, e ainda o capital e a mão-de-obra que pode

empregar;

• Estabelecer o modo como vai produzir, ou seja, a tecnologia que vai

empregar;

• Controlar a ação desenvolvida, verificando a eficácia das técnicas

empregadas;

• Avaliar os resultados obtidos, medindo os lucros ou prejuízos, e analisando

quais as razões que fizeram com que o resultado alcançado fosse diferente

daquele previsto no início do trabalho.

Entre os problemas encontrados na gestão pecuária citam-se: dificuldade dos

produtores em controlar dados em suas propriedade através de anotações

organizadas, inexistência de um método simples para controlar os custos da

atividade, falta de gerenciamento das tecnologias com o devido assessoramento

técnico, falta de controle de indicadores técnico-econômicos e o forte apego cultural

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! 152!

e conservador da atividade pecuária. Portanto, fortalecer a gestão empresarial, pelo

conhecimento de informações estratégicas, é um dos grandes investimentos a ser

realizado. A gestão do negócio torna o crescimento do empreendimento rural viável,

fazendo com que se fortaleça para o enfrentamento das crises, além de estar

preparado para aproveitar as oportunidades.

Etapas para implantação de um sistema gerencial

O gestor da atividade deve estabelecer algumas etapas para implementação

de um sistema gerencial:

• 1ª Etapa: Formação da equipe de execução de campo, de acordo com os

objetivos e a dimensão do estabelecimento, determinando as funções, as

responsabilidades e o número de funcionários necessários. O processo de

formação de uma equipe é gradual, sendo importante que a gerência implante

uma filosofia de trabalho em que a produtividade seja o ganho real de todos,

de acordo com a participação de cada um.

• 2ª Etapa: Definição do sistema de controle operacional por setor, cujas

atividades devem ser controladas diária ou mensalmente. A cada final de

mês, o gerente geral deve realizar uma análise desses controles operacionais

por setor.

• 3ª Etapa: Execução do planejamento, com definição clara das prioridades e

metas. O fluxo de informações é importante para o gestor se manter

informado de todas as ocorrências, sendo importante: reuniões semanais,

fiscalização dos serviços em andamento, análise dos relatórios técnico-

econômicos.

• 4ª Etapa: Elaboração de um orçamento que deve, necessariamente, ser

realizado anualmente com acompanhamento e análise mensal dos resultados

(orçado X realizado).

Controles a serem estabelecidos

Fluxo de Caixa: Planejamento anual e mensal

Primeiro nível de controle financeiro a ser implantado em empresas rurais.

Definido como uma demonstração da contabilidade que expõe fluxos estritamente

financeiros e de fácil entendimento. Trata-se de um relatório que propicia ao usuário

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! 153!

da informação contábil condições de avaliar a capacidade da empresa na geração

de caixa futuro e de fazer frente as suas obrigações.

Plano de Contas Pecuário

Um modelo de plano de contas deve abranger as principais movimentações

das empresas, sendo bastante flexível em termos de inclusão de novas contas,

exclusão de contas já existentes, ou até mesmo alteração dos títulos das contas

cadastradas. Esta estrutura gerencial deve buscar classificar e armazenar, de forma

organizada, todas as movimentações financeiras de receitas e despesas efetuadas

nas atividades produtivas. Através do plano de contas o administrador rural é capaz

de obter uma análise detalhada de cada uma das despesas e receitas ocorridas,

sejam lançamentos individuais ou não. É a primeira classificação das

movimentações financeiras nos controles que se deseja efetuar, ou seja, qualquer

receita ou despesa efetuada deverá, em primeiro lugar, ser classificada no Plano de

Contas, conforme Figura 1.

O plano de contas gerencial deve obedecer às seguintes regras básicas: ser o

mais detalhado possível trazendo facilidades de acesso aos dados que você

necessite e controles que deseje efetuar; ser o mais reduzido possível, sem que,

com isso, prejudique a qualidade dos controles que está buscando. É recomendado,

em termos de subdivisão das contas, que não se ultrapasse quatro níveis, sob pena

de gerar, posteriormente, dificuldades na manipulação dos dados. É importante

destacar que um modelo de plano de contas deve apresentar fins gerenciais e não

fiscais, sendo sujeito a alterações de acordo com os controles a serem implantados

nas diferentes empresas rurais.

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! 154!

Figura 1 – Fluxo das movimentações financeiras em uma empresa de cria.

Conceitos econômicos básicos: gasto, custo, despesa, custo de oportunidade

e depreciação

Gasto é o valor dos insumos adquiridos na fabricação dos produtos da

empresa (no caso da cria, os produtos são os terneiros), independentemente de

serem utilizados ou não. Já custo refere-se ao valor dos insumos utilizados na

fabricação dos produtos da empresa, divide-se em matéria-prima, mão-de-obra

direta e custos indiretos de fabricação (matérias de consumo, mão-de-obra indireta,

depreciação, energia elétrica, entre outros). Custo diferencia-se de gasto pelo fato

de que o último refere-se aos insumos adquiridos, enquanto que o custo está

relacionado com os insumos efetivamente utilizados.

Despesas são valores dos insumos consumidos com o funcionamento da

empresa e não-identificados com a fabricação, sendo divididas em administrativa,

comercial e financeira. Portanto, as despesas são diferenciadas dos custos de

fabricação pelo fato de estarem relacionadas com a administração geral.

Os custos de oportunidade são chamados também de remuneração da terra e

do capital. Remuneração da terra refere-se ao montante de valor que se deixa de

ganhar por optar em investir o capital imobilizado em terras em outras atividades

econômicas. Um critério comumente utilizado é o valor de arrendamento no mercado

de terras da região. Remuneração do capital refere-se ao valor que o empresário

receberia se esse recurso estivesse aplicado em outra atividade. Um critério

bastante utilizado é a taxa real de juros paga pela caderneta de poupança. Custos

PLANO DE CONTAS

– Alimentação Animal• Resíduos agrícolas• Sal Mineral• Suplementação protéica

– Combustíveis• Óleo Diesel• Gasolina

– Manutenção• Peças/Materiais• Lubrificantes

– Mão-de-Obra• Fixa• Temporária• Assistência Técnica

– Reprodução• Sêmen• Hormônios

– Sanidade• Vermífugos• Carrapaticidas

CENTROS DE CUSTOS PRODUTIVOS

Pecuária de Corte

CRIADesmame dosterneirosVacas de criaTouros

RECRIANovilhas

Administração

InventárioMáquinasImplementosMangueirasBretes

Almoxarifado

Oficina

CENTROS DE CUSTOS

INDIRETOS (Apoio)

Produto:

TERNEIRORateioDireto

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! 155!

de oportunidade são custos que não representam o consumo dos insumos pela

empresa, mas o quanto alguém deixou de ganhar pelo fato de ter optado por um

investimento ao invés de outro. Portanto, o que realmente se está fazendo é

comparar dois investimentos diferentes. A análise dos custos de oportunidade está

relacionada com o nível estratégico de administração da empresa, enquanto a

análise dos custos operacionais se relaciona com o nível gerencial.

A depreciação é definida como a redução do valor de um bem devido ao

desgaste pela sua utilização, obsolescência tecnológica, queda no preço de

mercado ou desgaste natural (no caso de reprodutores). Valores de depreciações

são reservas contábeis destinadas ao provimento de recursos para que o bem de

produção possa ser renovado no futuro. Sendo assim, é um método de

planejamento financeiro que permitirá que a empresa tenha condições, dentro de um

determinado prazo, de reinvestir na produção.

Existem várias metodologias de cálculo das depreciações, porém no setor

agropecuário calcula-se através do método linear, onde o valor respectivo é sempre

constante em relação ao valor de compra ou valor de mercado do bem de produção.

É calculada pela seguinte fórmula:

Depreciação = (valor inicial – valor residual) / vida útil em anos

Somente são passíveis de depreciação bens com vida útil superior a um ciclo

produtivo e que possuem vida útil limitada, portanto, a terra não sofre depreciação.

Custos de produção

Os custos classificam-se segundo algumas características: custo direto

compreende qualquer despesa ou gasto perfeitamente identificável e relacionado

diretamente com o produto fabricado ou serviço prestado. Exemplos são custos de

alimentação e medicamentos veterinários. Por outro lado, custo indireto corresponde

aos gastos que não contribuem de forma direta para a produção. Quase todos os

critérios de distribuição (rateios) dos gastos indiretos ao custo direto de produção

são arbitrários. O melhor deles deve basear-se em uma medida racional para cada

tipo de despesa funcional da empresa. Exemplos são custos de administração, pró-

labore do empresário, entre outros.

Custos desembolsáveis são pagamentos efetuados no presente, como

pagamento de funcionários, aluguéis e energia. Já os custos não-desembolsáveis,

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! 156!

não exigem o desembolso de dinheiro, como por exemplo, a depreciação de

máquinas e a remuneração da terra e do capital.

Outra classificação utilizada refere-se a variabilidade, sendo custos fixos

aqueles que não variam com a quantidade produzida e têm duração superior ao

curto prazo. Portanto, sua renovação acontece a longo prazo. Entende-se por curto

prazo o período de tempo mínimo necessário para que um ciclo produtivo se

complete e por longo prazo o período de tempo que envolve dois ou mais ciclos

produtivos. Custos fixos são constantes e inalterados, independentemente do maior

ou menor volume de produção ou vendas. Depreciações, gastos de mão-de-obra,

impostos e seguros são exemplos de custos fixos. A mão-de-obra fixa a ser

computada deve ser aquela que não se altera de acordo com volume de produção,

considerando-se assim os salários do administrador, capataz, peões e assistência

técnica.

Já os custos variáveis mudam de acordo com a quantidade produzida e cuja

duração é igual ou menor do que o ciclo de produção (curto prazo). Exemplos de

custos variáveis: aquisição de animais, alimentação, reprodução, sanidade,

manutenções, fretes, entre outros. Vale lembrar que alguns autores sugerem a

aquisição de animais como investimento e não como custo. Considerando a

seguinte situação: um pecuarista que possui uma propriedade com 150 hectares de

área, 100 vacas produzindo 80 terneiros por ano, os custos com medicamentos

(principalmente vacinas) e suplementação mineral não serão os mesmos se a

produção fosse de 50 terneiros anuais. Obviamente, tais custos serão menores, pois

a quantidade de doses de vacinas e sacas de suplemento adquiridas devem ser em

função da quantidade de terneiros produzidos. Por isso, afirma-se que alguns custos

são variáveis, ou seja, eles são alterados com a quantidade de produto (no caso

terneiros) produzido.

A teoria chamada economia de escala demonstra que quanto maior o volume

produzido menor será o custo médio por unidade, uma vez que os custos fixos são

diluídos por um maior volume (Figura 2). Para aumentar a produtividade haverá

aumento dos custos totais, principalmente os custos variáveis, tornando-se

interessante até quando o acréscimo de benefício (lucro) seja superior ao acréscimo

dos custos. Dados norte-americanos indicam que economias de escala existem a

partir de rebanhos com 500 vacas de cria. O custo médio de produção/vaca é

consideravelmente menor em comparação a rebanhos que contenham até 499

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! 157!

vacas. Entretanto rebanhos com mais de 1.000 vacas a economia de escala não é

tão evidente.

O fator escala de produção torna-se fundamental para viabilização da

pecuária de corte, destacando que para enfrentar as alterações de mercado, as

fazendas terão que se especializar em um sistema de produção adequado, pois

dependendo do tamanho da área, a especialização não será somente necessária,

mas fundamental para sua viabilidade econômica. Uma propriedade pequena ou

média, que insistir em fazer o ciclo completo, dificilmente sobreviverá por falta de

escala de produção e consequentemente de renda.

Figura 2 - Relações entre o volume produzido e o custo médio por unidade.

Metodologia dos centros de custos

Também chamado de método das seções homogêneas ou mapa de

localização de custos, originou-se na Alemanha no início do Século XX. É um

método bastante prático e por isso amplamente utilizado através do mundo,

principalmente no ramo industrial. Autores definem centro de custos de uma

empresa como qualquer unidade de agregação de custo realizando uma atividade

ou um conjunto de atividades que detém certas similaridades. O método é

caracterizado pela coleta, processamento e análises das informações comuns a

determinados departamentos, sendo estes com processos padronizados, produção

contínua e demanda constante, como segue na Figura 3.

CustoTotal

Volume

R$Custo

Variável

Custo Fixo

Custo Médio/Unidade

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! 158!

Figura 3 – Fluxograma metodológico dos centros de custos.

Basicamente, determinam-se quais são os centros de custos dentro do

negócio para, no momento em que registrar cada despesa, poder, apropriá-la ao

centro de custos responsável pelo gasto. Portanto, os centros de custos são os

destinos de todas as movimentações financeiras efetuadas que representam

receitas ou despesas, ou seja, sempre que houver desembolso ou obter algum tipo

de rendimento, é fundamental que se determine a atividade responsável por esta

movimentação financeira (Figura 1).

Assim, pode-se diferenciar os gastos de cada categoria ou de cada setor do

sistema determinando o desempenho da pecuária de cria, ou como foi o

desempenho somente da recria das novilhas ou do desmame dos terneiros. Os

principais centros de custos diretos são o desmame, recria da novilha, vacas de cria

e touros. Os indiretos são os bens como máquinas, implementos, benfeitorias e

veículos e a administração da propriedade. As vacas de descarte quando vendidas

para abate podem ser incluídas como um novo centro de custo direto, onde serão

agregados os custos de engorda.

Para conseguir uma análise de cada centro de custo, é necessário que os

lançamentos sejam feitos o mais especificamente possível, buscando determinar a

origem direta de cada custo. Quando não for possível estabelecer uma origem exata

do custo, utiliza-se o critério de rateios onde dividem-se os custos por todos os

setores. Utiliza-se, para isso, a classificação das categorias por Unidade Animal

Coleta!de!dados!Treinamento!da!!mão:de:obra!

A!–!Diagnóstico!do!! B!–!Identificação!dos!!

C!–!Cálculo!do!custo!de!!

D!–!Análise!segmentada!!

E!–!Análises,!propostas!e!ações!

Implantação!

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! 159!

(U.A) que corresponde a 450kg (1 UA = 450 kg), ficando assim mais correta a

apropriação dos custos indiretos na propriedade.

Os centros de custo podem estar subdivididos em vários outros, um

departamento qualquer de uma empresa pode ser um centro de custo ou pertencer

a outro mais abrangente, assim como pode conter vários. A divisão dos centros de

custos na pecuária de cria pode ser visualizada na Figura 4.

Figura 4 – Distribuição dos centros de custos.

Principais indicadores econômicos utilizados na pecuária de corte

São indicadores relacionados a viabilidade financeira da propriedade rural.

Geralmente são resultados do planejamento estratégico e técnico associado a

questões conjunturais da atividade.

Custo Total de Produção

Pode-se definir custo de produção como o preço que um empresário deve

pagar pelo uso dos diversos fatores de produção (recursos produtivos). Este valor

representa a soma dos custos fixos e variáveis além da remuneração da terra e

capital. Encontram-se tanto os valores desembolsáveis como os não-

desembolsáveis.

Pecuária!de!corte!

!

Cria!

!

Produto!final!=!bezerro!

!

Desmame!

Recria!da!! Vacas!de!cria! Touros!

(A)!!Distribuição!aos!centros!

(B)!Distribuição!ao!produto!

Custos!indiretos!

!

Ex.:Bens!do!inventário!

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! 160!

Custo Total de Produção = Custos Fixos + Custos Variáveis +

Remuneração da Terra + Remuneração do Capital

Custo Operacional de Produção

Este valor representa a soma dos custos fixos e variáveis, incluindo a

depreciação. Conceitualmente os custos operacionais são todos aqueles exigidos

para que as operações produtivas aconteçam, ou seja, são indispensáveis para a

linha de produção.

Custo Operacional de Produção = Custos Fixos (com depreciação) +

Custos Variáveis

Custo de Desembolso

Este valor representa somente os custos fixos e variáveis que efetivamente

foram pagos pelo empresário rural, ou seja, houve desembolso de capital. Não inclui

a depreciação.

Custo de Desembolso = Custos Fixos (sem depreciação) + Custos

Variáveis

Custo Unitário de Produção

Um parâmetro fundamental para análise da eficiência das atividades de uma

empresa no curto prazo é a determinação do custo unitário. Calcula-se a partir da

divisão do custo total pela quantidade produzida. Neste indicador pode ser

calculado, por exemplo, o custo unitário do terneiro produzido, o custo do quilo de

carne produzido, seja a pasto, suplementado ou confinado, etc.

Custo Unitário de Produção = Custo Total de Produção / Quantidade

Produzida

Ponto de Equilíbrio

O ponto de equilíbrio é um indicador de eficiência econômica que determina a

quantidade a ser produzida para cobrir os custos totais de produção (fixos +

variáveis). É o mínimo que deve ser produzido para que a atividade que está sendo

avaliada não gere prejuízo. É determinado pela razão entre os custos fixos totais e a

diferença entre o preço de venda de uma unidade de produto ou receita bruta e o

custo variável de uma unidade do produto ou custo variável total.

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Ponto de Equilíbrio em quantidades = Custo fixo / (Preço unitário –

Custo Variável Unitário)

Ponto de Equilíbrio monetário = Ponto de Equilíbrio em quantidades *

Preço unitário

A Figura 4 é uma representação gráfica do ponto de equilíbrio, onde todos os

parâmetros estão associados a determinado nível de produção.

Figura 4 - Representação gráfica do ponto de equilíbrio

Autores demonstraram a importância de calcular o ponto de equilíbrio em

rebanhos de cria para medir alguns indicadores importantes, entre os quais a

mínima taxa de desmame a ser atingida, o máximo custo anual por vaca e o peso

mínimo de desmame. Para isto são utilizadas as seguintes equações:

Ponto de Equilíbrio em quilos de terneiros produzidos = Custo anual vaca /

(Taxa de desmame * Peso ao desmame)

Ponto de Equilíbrio monetário por vaca = (Taxa de desmame * Peso ao

desmame * Preço quilo comercializado)

Ponto de Equilíbrio na taxa de desmame = Custo anual vaca / (Preço quilo

comercializado * Peso ao desmame)

RECEITA

Quantidade Produzida

R$PONTO DE

EQUILÍBRIOCUSTO VARIÁVEL

CUSTO TOTAL

CUSTO FIXO

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Ponto de Equilíbrio no peso ao desmame = Custo anual vaca / (Preço quilo

comercializado * Taxa de desmame)

Margem Bruta

É a diferença entre a receita de uma atividade, ou de toda a propriedade, e os

custos desembolsáveis. Não entram neste cálculo os custos de depreciação e

custos de oportunidade. Ressalte-se que, assim, pode-se avaliar a eficiência da

atividade sob uma perspectiva de curto prazo. Os custos gerados pelo investimento

em fatores fixos não são considerados neste cálculo.

Margem Bruta = Receita - Custo Desembolsado

Margem Operacional

É a diferença entre a receita de uma atividade, ou de toda a propriedade, e os

custos operacionais (desembolso somado a depreciação). Não entram neste cálculo

os custos de oportunidade. Ressalte-se que, assim, pode-se avaliar a eficiência da

atividade sob uma perspectiva de médio prazo.

Margem Operacional = Receita - Custo Operacional

Margem Líquida

É a diferença entre a receita de uma atividade, ou de toda a propriedade, e o

custo total (desembolso somado à depreciação e à remuneração da terra e capital).

Ressalte-se que, assim, pode-se avaliar a eficiência da atividade sob uma

perspectiva de longo prazo.

Margem Líquida = Receita - Custo Total

Rentabilidade (do capital)

Este indicador é utilizado para avaliar o lucro obtido em uma atividade

produtiva em relação ao capital investido para o desenvolvimento dessa atividade. A

rentabilidade de uma atividade está relacionada aos riscos do negócio, ou seja, se é

interessante investir ou não na atividade proposta. Possui alta correlação com os

custos de oportunidade do capital investido na atividade. Devemos sempre buscar

rentabilidade maior dos que os valores calculados nos custos de oportunidade.

Rentabilidade = Lucro / Capital Investido

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Lucratividade Indicador que representa, em percentual, qual foi o lucro obtido em

determinada atividade ou na empresa rural com a venda dos produtos

desenvolvidos, ou seja, o quanto cada produto deixa de resultado após descontar o

valor dos custos de produção.

Lucratividade = (Receita – Custo Total) / (Receita) X 100

Calculando o custo de produção – exemplo aplicado2

Um sistema de produção em pecuária de cria foi utilizado para esta

simulação. Utilizou-se um período de 12 meses, por considerar um ciclo produtivo de

um bezerro e facilitar a exemplificação dos cálculos. Os principais parâmetros

produtivos considerados encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 - Indicadores de produção e produtividade em pecuária de cria

Parâmetros Unidade Valores-Períodos

Área Ha 1.500

Número de matrizes Cabeças 750

Taxa de desmame % 70

Número de bezerros desmamados Cabeças 525

Peso ao desmame Kg 150

Produção total Kg 78.750

Carga Animal kg/ha 258,31

Época de parição - set/out/nov

Mês de Desmame - abril

Mês de Venda - abril

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!2"Os"valores"econômicos"podem"estar"desatualizados."O"objetivo"do"exemplo"é"SIMPLESMENTE"demonstrar"a"aplicação"do"método"gerencial"em"uma"propriedade"rural"que"trabalha"com"bovinos"de"corte."

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O cálculo do custo de produção do bezerro foi constituído pelo somatório dos

itens de custos apresentados na Tabela 2, todos obtidos a partir de informações de

mercado. Os valores finais obtidos demonstram a utilização deste método de

estimativa de custo para esse sistema simulado em particular, pois, podem ocorrer

grandes variações no resultado final de cada simulação, uma vez que cada

propriedade rural apresenta valores diferentes conforme seu sistema de produção,

grau de tecnificação e consequentes indicadores de produtividade.

Tabela 2 - Simulações dos custos em um sistema de produção em pecuária de cria

Custos Fixos Valores (R$) Critério de Rateio % Custos

Impostos (ITR, CNA) 6.110,00 Unidade Animal 3,2

Seguros 3.000,00 Unidade Animal 1,6

Mão-de-Obra 25.200,00 Unidade Animal 13,3

Depreciação (1) 8.722,50 Unidade Animal 4,6

Subtotal (2) 43.032,50 22,6

Custos Variáveis Valores Critério de Rateio % Custos

Reprodução 22.000,00 Direto 11,6

Combustíveis 12.000,00 Unidade Animal 6,3

Suplementação Animal 20.000,00 Direto 10,5

Sanidade 6.595,00 Unidade Animal 3,5

Pastagens 9.000,00 Direto 4,7

Manutenção 5.000,00 Unidade Animal 2,6

Arrendamentos 3.000,00 Direto 1,6

Administração 3.000,00 Unidade Animal 1,6

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Outros 5.000,00 Unidade Animal 2,6

Subtotal (3) 85.595,00 45,0

Custos de Oportunidade Valores Critério de Rateio % Custos

Remuneração da Terra 49.500,00 Unidade Animal 26,0

Remuneração do Capital Investido 11.990,50 Unidade Animal 6,3

Subtotal (4) 61.490,50 32,3

Custo Desembolsado (5) 119.905,00

Custo Operacional (2+3 ) 128.627,50

Custo Total ( 2+3+4 ) 190.118,00 100,0

A remuneração da terra, depreciação e impostos foram calculados de acordo

com dados regionais, sendo todos ajustados ao módulo de 1.500 hectares. O valor

da remuneração do capital foi calculado com uma taxa anual de juros de 10% sobre

o custo desembolsado. Para o cálculo da mão-de-obra foi determinado que a

propriedade possui três empregados fixos com custo de salários, encargos sociais e

alimentação de R$ 700,00/mês/cada, o que totaliza R$ 25.200,00/anuais.

A Figura 5 apresenta as despesas efetuadas por centro de custo. Nota-se

claramente que as vacas de cria (centro direto) representam os maiores custos

dentro deste sistema de produção, consequência do maior número de U.A.,

representando 39,8% da estrutura do rebanho e 54,2% das unidades animais,

recebendo uma maior porção dos rateios. Os custos com endectocidas e

carrapaticidas adquiridos para o rebanho geral são utilizados e lançados em maiores

quantidades neste centro de custo.

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Figura 5 – Custos de produção e percentuais por centros de custos..

• Após a obtenção do custo total da atividade no período, a próxima etapa foi

chegar ao custo unitário do bezerro e o custo por quilo desmamado (Tabela 3).

Sistemas gerenciais devem interligar o desempenho econômico com o produtivo.

Dados de 88 rebanhos de cria referentes a 14 estados norte-americanos

demonstraram correlações positivas entre o percentual de prenhez e taxa de

desmame com a rentabilidade e correlações negativas entre o custo anual de

vacas de cria e a rentabilidade dos mesmos sistemas de cria. Não houve

correlações positivas ou negativas entre peso ao desmame e a rentabilidade, o

que demonstra que buscar a maximização do desempenho reprodutivo deve ser o

objetivo principal, antes da busca por pesos elevados ao desmame.

Tabela 3 - Simulação dos custos de produção de bezerros de corte

Parâmetro Valores (R$)

Custo unitário do bezerro (CUB)

Total 362,13

Operacional 245,00

Custo por quilo desmamado (C/kg)

Total 2,41

Operacional 1,63

0,0

10.000,0

20.000,0

30.000,0

40.000,0

50.000,0

60.000,0

70.000,0

80.000,0

90.000,0

Touros Vacas de Cria Novilhas Bezerros

Custo por centro

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

50,00

Percentuais por Centro R$ %

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O ponto de equilíbrio da presente simulação resultou em 432 bezerros, sendo

calculado considerando valores de R$ 104.523,00, R$ 405,00 e R$ 163,04,

respectivamente para o custo fixo somado a remuneração da terra e do capital,

preço unitário e custo variável unitário. Na presente simulação, a quantidade de

bezerros desmamados foi de 525 animais, superando o ponto de equilíbrio. Contudo

deve-se destacar que esta análise está relacionada a conjuntura atual da atividade

no ano de 2007, onde os animais de reposição estão valorizados depois de anos de

preços baixos da cria.

Considerações finais

Os sistemas de produção, ao longo da cadeia produtiva, necessitam de

modernizações constantes para alcançar um nível de competitividade adequado à

realidade socioeconômica da população. Os gestores enfrentam o desafio de

proporcionar condições para que os produtos alcancem a qualidade desejada a um

nível de custos competitivo. Nesta perspectiva, necessitam de informações

consistentes de maneira que possam utilizá-las na administração, para correção de

falhas, re-direcionamento dos recursos e auxilio na lógica organizacional. Portanto,

há uma demanda crescente por sistemas gerenciais que forneçam informações a

respeito das inter-relações dentro do âmbito produtivo, ou seja, a distribuição dos

custos indiretos e diretos na empresa rural faz com que o empresário venha a ter

uma visão completa de todos os aspectos que possam ser úteis à tomada de

decisão.

Dentro desta realidade, entre as principais ações para a pecuária de corte

destacam-se a importância da implementação de um sistema gerencial que inter-

relacione os planejamentos operacionais, táticos e estratégicos, proponha metas,

mensure custos de produção e quantifique os indicadores zootécnicos e sistêmicos

correlacionados com eficiência econômica. Aliado a isso, o estabelecimento de

controles dentro de uma visão global do sistema produtivo de modo a administrar os

recursos e estimar lucros, bem como realizar a meta-avaliação, torna-se importante

dentro do processo administrativo.

Considerando-se a importância de pesquisas relacionadas com a gestão das

empresas, consequência do aumento da quantidade de informações úteis para os

gestores, torna-se fundamental avanço nos estudos visando aplicações desses

sistemas gerencias e de análise de resultados em sistemas produtivos

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especializados. Portanto a utilização de modelos para a tomada de decisão em

diferentes empresas rurais tende a possibilitar comparações entre os resultados

atingidos.

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! 170!

VITORINO FILHO, L.C. Produção, gerenciamento, custos e comercialização na

pecuária de corte atual. In: SOARES FILHO, C.V.; CAETANO, H.(Ed.). Curso de

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22.

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! 171!

Novas estratégias de comercialização de bovinos de corte

Med. Vet. Paulo Rodrigo Ramos Xavier Pereira

Professor Assistente do Curso de Bacharelado em Engenharia Agronômica do

CPCE/UFPI, doutorando do Curso de Agronegócios da UFRGS

Introdução

A pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de produção em bovinos de

corte crescem a passos largos no Brasil, assim como a eficiência dos pecuaristas do

país. A pecuária brasileira foi responsável em 2009 por um montante aproximado de

35 bilhões de reais apenas no elo produtivo, alcançando um total de

aproximadamente 74 bilhões de reais ao longo de toda a cadeia produtiva (CEPEA,

2014a). Para ressaltar a expressividade destes números, este montante foi

semelhante aos PIB EM 2009, de Roraima, Amapá, Acre, Tocantins, Piauí e

Rondônia somados (IBGE, 2014).

Não obstante a pujança e desenvolvimento dos sistemas produtivos firmarem

o Brasil entre os principais players do mercado de carne bovina, no que diz respeito

à comercialização ainda há muito que se avançar. Neste âmbito, geralmente o

pecuarista brasileiro tem um bom conhecimento apenas das negociações à vista e

de leilão e mesmo assim, nem sempre as explora da maneira mais eficiente.

Tal desconhecimento acerca de estratégias de comercialização

possivelmente se deve ao modelo de formação das ciências agrárias em nosso país,

que compreensivelmente se debruçava nos aspectos biológicos do sistema de

produção, que, ao mesmo tempo em que fortalecia a pesquisa e inovação nos

processos produtivos, criava um vazio nos aspectos econômicos, os quais não eram

preenchidos pelos bacharéis em administração e economia, que se mostravam mais

atraídos pelas empresas industriais e de serviços.

Mas, na medida em que a evolução da renda do produtor já estiver sendo

maximizada através da adoção de tecnologias de produção, o incremento da

rentabilidade passará pelos ajustes finos da negociação, tais como o melhor

momento para a compra de insumos e para realizar investimentos, a escolha da

linha de crédito com menor taxa de juros ,época mais atrativa para se iniciar a

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! 172!

engorda dos animais levando em consideração a eficiência do processo, entre

outros.

Nas próximas páginas discutiremos alguns aspectos relacionados à

comercialização de bovinos de corte e como é possível utilizar informações do

mercado para garantir preço ou até mesmo obter uma renda extra com as

ferramentas disponíveis.

Tipos de mercado para negociação de bovinos de corte

Os principais tipos de mercado são o spot, a termo, futuros e opções, os quais

passarão a ser discutidos.

Mercado spot

O mercado spot (imediato) é o prevalente nas negociações na bovinocultura

de corte. Este se caracteriza pelo pagamento à vista do produto ao preço corrente

no momento da operação e as quantidades e qualidade são determinadas

diretamente entre as partes vendedoras e compradoras. Suas principais vantagens

são a facilidade de compreensão da operação pelas partes, baixo risco de

inadimplência, uma vez que o pagamento é feito de forma imediata, e baixa

incerteza quanto à qualidade do produto, visto que o comprador tem a oportunidade

de examiná-lo antes de concretizar a negociação.

No entanto, cabe aqui discutir alguns aspectos intrigantes a respeito deste

tipo de mercado para bovinocultura de corte, que não está amparado por grande

parte da literatura.

As negociações spot podem assumir características um tanto divergentes de

acordo com a cultura local. Em um estudo conduzido junto a pecuaristas escoceses

(Hobbs, 1997), foi constatado que a grande maioria destes prefere vender seus

animais para abate em leilões (sistema inexistente para essa categoria no Brasil),

pois não confiam plenamente nos critérios de premiações pagos pelos frigoríficos.

Além de receber o pagamento à vista, o pecuarista ainda pode especular que uma

eventual disputa o favoreça com preços mais elevados.

No Brasil, os pagamentos referentes a negociações spot de bois para abate

costumam ser efetuados à prazo, situação em que o vendedor recebe do comprador

um prêmio (acréscimo) no preço pelos juros e pelo risco de crédito (inadimplência) à

que está exposto.

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! 173!

Diferente da maior parte do país, no Rio Grande do Sul a venda de animais

para abate utiliza o peso vivo do animal (Kg vivo) como objeto de negociação e na

maioria das vezes o pagamento é imediato, porém, outra parte é feita em peso de

carcaça (também em quilos) e o pagamento obviamente é feito ex-post ao

carregamento na fazenda, com normalmente 30 dias de prazo, e levará em

consideração além do rendimento de carcaça a qualidade da mesma.

Confunde-se muito a prevalência das negociações no mercado spot dos

pecuaristas como aversão ao risco, contudo, penso que se trata de temor a um

ambiente de incertezas, o que é bem diferente. No risco, as possibilidades de

infortúnios podem ser medidas com certo grau de confiança e assim minimizadas,

no caso das incertezas não é possível prever quais serão e quando ocorrerão

eventos adversos.

Na pecuária de corte, assim como em outras atividades econômicas, sabe-se

que existe o risco dos preços subirem ou caírem e é possível medir com certo grau

de confiança quais serão os limites da queda ou da alta. No entanto, no mercado

spot essa informação é pouco relevante uma vez que o vendedor especula que após

produzir o bem o mercado conspirará ao seu favor através da alta dos preços.

Dessa forma, podemos admitir que a atuação no mercado spot seja uma

atividade especulativa, onde se espera o máximo ganho através de um movimento

favorável dos preços no ato da compra ou da venda e na maioria das vezes sem

nenhuma estratégia formal de redução de risco.

Mercado à termo

O mercado à termo recebe esse nome por envolver a adoção de contratos

formais entre as partes compradora e vendedora, constando em suas cláusulas os

termos referentes à data e local de entrega, especificações do produto, volume,

preço e punições em caso de descumprimento. Uma das formas mais usuais de

contratos a termo utilizados no Brasil são as CPR Físicas.

Nas negociações a temo pode haver antecipação de receitas em dinheiro ou

através de operações de Barter (troca), em que o vendedor recebe insumos do

comprador e se compromete a entregar uma quantidade pré-definida de produto.

Para os avessos ao risco, este tipo de mercado tem como vantagem a

garantia do preço de venda e maior clareza sobre as especificações que seu produto

precisa apresentar o que permite que tenham parâmetros mais consistentes para

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! 174!

conduzir seu planejamento gerencial e operacional. Como desvantagens estão a

restrição do lucro ao que foi definido na assinatura do contrato e a obrigação da

entrega ou recebimento do produto, mesmo diante de uma eventual frustração ou

supersafra. No primeiro caso o vendedor pode não ter o produto em quantidade

suficiente e ter de comprá-lo, muitas vezes com o preço mais elevado, para realizar

a entrega e no caso de supersafra, o comprador ter de receber o produto a um preço

mais elevado do que no mercado spot.

Pode-se ver que mesmo nas negociações a termoexiste certo grau de risco,

embora menor que no mercado spot. Para minimizar esse risco, os compradores de

produtos agrícolas costumam adquirir contratos em bolsa de mercados de futuros,

os quais passarão a ser discutidos.

Mercado de Futuros

O mercado de futuros na forma que temos hoje não é recente, eles surgiram

em 1860 com a criação nos EUA da Chicaco Board of Trade (CBOT) e no Brasil

1986 com o início das operações da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). As

negociações em bolsa têm como objeto a negociação de derivativos, que são

contratos padronizados cujos valores derivam de outras variáveis básicas (ativos).

No Brasil estes contratos de derivativos são negociados na BM&F e dentre os de

commodities agrícolas os que apresentam a maior liquidez são pela ordem os de Boi

Gordo, Café, Soja e Milho.

Quem opera neste tipo de mercado tem como objetivos básicos a

especulação ou hedge, ou ainda, eventualmente realizar operações híbridas que

unem em parte a rentabilidade da especulação com a segurança do hedge.

Cabe então, antes de avançar neste tópico esclarecer alguns conceitos para

melhor entendimento do funcionamento deste mercado:

• Especulação: estratégia adotada por participantes do mercado que através de

avaliações dos fundamentos de mercado e/ou de análise técnica, assumem

que o mercado apresenta tendência de queda ou de alta e assim tomam suas

posições. No caso de estimar queda nos preços o especulador assume

posição vendedora (fica vendido) e no caso de possibilidade de alta nos

preços assume posição compradora (fica comprado).

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• Hedge: é uma palavra da língua inglesa que pode ser traduzida neste caso

como proteção as variações de preço. O hedge pode ser de compra ou de

venda:

◦ Hedge de compra: é adotado quando um investidor ou hedger

(normalmente a indústria ou tradings) precisará no futuro adquirir uma

commodity para processamento ou para repassá-la a outro comprador e

teme pagar mais caro pelo produto. Diz-se então que o hedger está

vendido no físico e comprado no futuro.

◦ Hedge de venda: neste caso normalmente os hedgers são empresários

que tem ou irão ter o produto e temem uma queda nos preços. Diz-se

então que estão comprados no físico e vendidos no futuro.

• Contratos de futuros: são contratos padronizados estabelecidos pela Bolsa

com volume e data de vencimentodefinidos, sendo que, a única variável

sujeita à negociação entre as partes é o preço. A padronização é

imprescindível para que a negociação possa ser realizada na Bolsa, pois

viabiliza a negociação em pregão e intercambialidade de posições.

• Margem de garantia: Para adquirir o contrato o hedger ou especulador

precisa disponibilizar de uma margem de garantia dos contratos. A título de

exemplo, um contrato de boi que correspondem a 330 arrobas exigia em 25

de julho de 2014 uma margem de aproximadamente R$ 1.400,00 (um mil e

quatrocentos reais) (BM&F, 2014). São aceitos como margem de garantia

valores em dinheiro, ações, títulos do tesouro, carta de fiança bancária, entre

outros. Ao se desfazer a operação de compra e venda de contratos a margem

de garantia retorna para o seu proprietário (especulador ou hedger).

• Ajuste diário: são os recebimentos ou pagamentos diários em virtude da

variação do preço do contrato no fechamento do dia útil anterior. Cada um

dos agentes deve estar preparado para aportar recursos à medida que o

contrato esteja com comportamento contrário a sua posição assumida.

Na prática o pecuarista deve pensar o Hedge como uma forma de garantir uma

margem de lucro sobre sua produção. Imaginemos um pecuarista que planeja

engordar um lote de 20 animais em um prazo de 4 meses. Ele calcula seu custo de

produção e estima que para cada Kg vivo de boi carregado para o frigorífico ele irá

ter uma despesa de R$ 3,80 e o preço físico do boi no início da engorda está R$

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3,90, enquanto o preço do boi no contrato com vencimento em 4 meses está R$

3,95.

Em uma condição como essa, se ele especular e o preço do boi se mantiverem

R$ 3,90, obterá um lucro de R$ 0,10 por Kg e até mais se o preço subir. Contudo, se

o mercado for contra sua expectativa e cair abaixo de R$ 3,80 o pecuarista

registrará prejuízo e todo seu trabalho foi em vão. Um empresário com perfil de

aversão ao risco iria se proteger assumindo uma posição vendida no futuro e

garantindo uma margem de R$ 0,15 por kg vivo de boi, mesmo com uma eventual

queda no mercado.

Na figura 1, o hedger vende um contrato de boi gordo por R$ 3,953 e após 4

meses o hedger irá vender seus bois para o frigorífico à R$ 3,70 o Kg vivo, com R$

0,10 de prejuízo por Kg produzido, mas, ao mesmo tempo que ele aufere prejuízos

com seu boi no mercado spot ele recompra seu contrato de boi por R$ 3,70 na

BM&F e obtém um lucro de R$ 0,25 por Kg , contabilizando uma receita líquida de

R$ 0,15, ou R$ 75,00 reais por um boi de 500 Kg.

Figura 1. Simulação de Hedge de venda com queda nos preços Futuro e Físico.

Na figura 2 se ilustra uma condição de suba do boi, neste caso o produtor

auferirá um lucro de R$ 0,20 por boi e perderá R$ 0,05 na BM&F, chegando ao

mesmo resultado do exemplo anterior.

Infelizmente nem tudo é tão simples, mesmo o hedger fazendo uso de

contratos futuros para proteção ele ainda está exposto ao Risco de Base. Baseé !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3! Para!facilitar!a!compreensão!do!público!no!RS!se!transformou!arroba!para!Kg!vivo,!dividindo:se!o!valor!da!

arroba!por!30.!

3.65"3.7"3.75"3.8"3.85"3.9"3.95"4"

4.05"

0" 0.5" 1" 1.5" 2" 2.5" 3" 3.5" 4" 4.5"

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como se denomina a diferença entre o preço de futuro e o preço físico do ativo e ela

é formada por variáveis como custo de frete, prêmios, corretagem, impostos,

demanda e oferta local, entre outros. Existe uma tendência que com a aproximação

do vencimento do contrato a base tenda a ser menor ou até mesmo positiva em

alguns casos. Por sua vez, o Risco de Base está associado à variação dessa base,

ou seja, a possibilidade da base ser diferente da média histórica.

Figura 2. Simulação de Hedge de venda com alta nos preços Futuro e Físico.

Na figura 3 se pode observar como ocorreria a mesma operação anterior

considerando uma base de -R$ 0,05 no vencimento, com o hedger obtendo R$ 0,10

de lucro na operação. Neste caso, no fechamento o hedger venderia seus bois à um

preço de R$ 3,65 por Kg vivo, auferindo um prejuízo de R$ 0,15/ Kg, contudo, ao

recomprar o contrato ele o faz pelo valor de R$ 3,70, obtendo um ganho de R$

0,25/Kg, como resultado final seu lucro será de R$ 0,10, ou R$ 50,00 por boi de

500kg. O resultado seria o mesmo com o aumento nos preços, desde que a base

não se altere.

Apesar de a base dificultar uma operação sem risco de preço, a mesma pode

ser utilizada em favor de uma operação mais rentável, combinando a segurança do

Hedge com a rentabilidade da especulação em uma operação denominada cash and

carry (caixa e carregamento ou carrego). Esta é uma operação de arbitragem em

que pode participar especuladores que adquirem o ativo e arcam com o custo de

mantê-lo até o vencimento do contrato mais tributos (custo de carrego ou somente

carrego) e também o produtor de commodities que pretende especular com o

3.85"

3.9"

3.95"

4"

4.05"

4.1"

4.15"

0" 0.5" 1" 1.5" 2" 2.5" 3" 3.5" 4" 4.5"

Futuro"Físico"

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fortalecimento da base, ou seja, a redução da diferença entre o preço do contrato e

o preço do mercado físico.

Figura 3. Simulação de Hedge de venda com queda nos preços Futuro eFísico, com

uma base de - R$ 0,05.

Na tabela 1 se pode observar que o mês de base mais fraca é o de outubro e

o de base maisforte é o de julho. Esta seria a primeira referência para uma operação

de cash and carry, iniciando em um mês de base fraca e encerrando em um mês de

base forte, contudo, o período em questão é muito longo e isto aumenta os custos

de carrego e de manutenção de contratos.

No presente exemplo uma boa oportunidade seria estabelecer um tempo de

engorda dos animais, 4 meses por exemplo. Neste caso pega-se referência um mês

de base forte, tal como julho e retroage 4 meses para março. Assim, se em março

houver uma oportunidade de contrato com a base de -0,14 ou menor e os custos de

engorda compensem a diferença de base de julho, a operação pode ser rentável.

Deve-se salientar que essa lógica vale para qualquer interstício de tempo em que a

base se fortaleça.

TABELA 01. Diferença de base, desvio padrão e coeficiente de variação entre

contratos de futuros e preço médio do Kg vivo de Boi Gordo no RS. Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Base média

R$ - 0,17 - 0,11 - 0,14 - 0,19 - 0,12 - 0,07 - 0,01 - 0,05 - 0,28 - 0,41 - 0,49 - 0,27

Devio

Padrão 0,118 0,087 0,135 0,149 0,133 0,109 0,146 0,188 0,120 0,208 0,305 0,183

CV -0,683 -0,766 -0,961 -0,772 -1,069 -1,547 -21,54 -4,057 -0,438 -0,507 -0,624 -0,668

Fonte: Pesquisa do autor.

3.6"3.65"3.7"3.75"3.8"3.85"3.9"3.95"4"

4.05"

0" 0.5" 1" 1.5" 2" 2.5" 3" 3.5" 4" 4.5"

Futuro"Físico"

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Para facilitar vamos simular uma operação como esta: Em março de 2014 um

empresário no Rio Grande do Sul decidiu engordar um lote de 20 bois para vendê-

los em julho do mesmo ano. O seu custo total para todos os Kg vivo de boi

produzido é de R$ 4,10, o preço do boi gordo no local é de R$ 4,02 (SCOT

CONSULTORIA, 2014) e o contrato com futuro está sendo negociado à R$ 4,25

(CEPEA, 2014b). Como o a diferença média de base é de -R$ 0,01 em julho, existe

uma possibilidade de lucrar R$ 0,13 por Kg em razão da tendência histórica de

fortalecimento de base neste intervalo. Em julho o boi é vendido por R$ 4,37 para o

frigorífico local, com lucro de R$ 0,27 centavos para cada Kg vivo e o contrato é

recomprado por R$ 4,04 por Kg, o que representa um ganho de R$ 0,21 para cada

Kg em contrato futuro, ou R$ 105,00por boi de 500 Kg. e receita bruta extra de R$

2.100,00 no lote, que somado ao lucro de engorda do boi resulta em um uma receita

líquida de R$ 227,50 por boi, já descontados os custos de corretagem e carrego.

As operações de hedge e cach and carry podem ser uma importante

ferramenta de garantia de lucro para o pecuarista e são ainda estratégias

subutilizadas por esse importante segmento da economia brasileira. No entanto,

deve-se deixar claro que cada região ou município tem sua própria base e

volatilidade da mesma e que para realizar uma operação como esta, o investidor

deve ter amplo conhecimento do comportamento desta variável bem como dos

fundamentos do mercado.

No mercado de opções também é possível fazer especulação ou hedge, no

caso do primeiro se compra uma opção na expectativa que ele aumente de preço ou

se vende uma opção e espera-se que o preço caia para que ela vire pó (perca

totalmente seu valor.). O hedger faz uma venda de opção para garantir uma receita

sobre o bem que ele irá produzir e que compra uma opção quer a garantia de pagar

um preço mais baixo em caso de alta.

A título de exemplo, um investidor que pretende engordar um lote de bois ao

custo de R$ 3,80 o Kg vivo encontra uma oportunidade de venda de opção por R$

4,00 e recebe R$ 0,18 para cada opção vendida. Se e até o vencimento o preço cair

abaixo de R$ 4,00 o pecuarista pode recomprar as opções por um preço menor ou

simplesmente esperar que elas percam seu valor. Se vender os seus animais aos

frigoríficos por um preço menor que o de produção, mesmo assim ele ainda terá

uma receita extra de R$ 90,00 por boi de 500 Kg.

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O custo de opções é menor que os envolvidos em contratos de futuros e

poderia ser uma alternativa interessante para os produtores nacionais. Porém, no

Brasil o mercado de opções de ativos agrícolas ainda não atraiu a atenção de

especuladores e por conta disso não cria condições para se efetuar hedge.

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