[INTRODUÇÃO] "FAMÍLIA, PÁTRIA E TRABALHO": A constituição do Centro Operário Cívico e...
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ROBERTO LUIZ POCAI FILHO
''FAMÍLIA, PÁTRIA E TRABALHO'': A CONSTITUIÇÃO DO CENTRO OPERÁRIO CÍVICO E BENEFICENTE (1929 – 1930).
Monografia apresentada para obtenção do título de bacharel na Universidade Estadual de Ponta Grossa. No curso de História.
Ponta Grossa, 17 de novembro de 2009.
_____________________________Profº. Ms. Niltonci Batista ChavesUniversidade Estadual de Ponta Grossa
_____________________________Profº. Ms. Rosângela Petuba Universidade Estadual de Ponta Grossa
_____________________________Prof.º Ms. José Aparício SilvaUniversidade Estadual de Ponta Grossa
2
Dedico este trabalho àqueles que durantemuito tempo foram silenciados na história,
aos trabalhadores.
3
Departamento de HistóriaBacharelado em História
Disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso
TERMO DE ENCAMINHAMENTO PARA APRESENTAÇÃO E DEFESA DA MONOGRAFIA COMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Eu, [Professor (a)] _____________________________________________ encaminho
para Apresentação e Defesa Pública a monografia intitulada
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________, do(a)
aluno(a) __________________________________________________________, do Bacharelado
em História da UEPG, por considerar que ela atende aos requisitos mínimos de uma monografia
acadêmica e por considerar o(a) aluno(a) apto(a) a apresentála perante a Banca Examinadora.
Por ser verdade, firmo a presente.
Ponta Grossa , _______de___________ de 200__.
______________________________
Assinatura do professororientador
4
Departamento de HistóriaBacharelado em História
Disciplina de Orientação de Trabalhode Conclusão de Curso
TERMO DE COMPROMISSO
Eu, Roberto Luiz Pocai Filho, aluno regularmente matriculado no Bacharelado em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, sob número 061022990 declaro estar ciente das regras definidas pelo Colegiado de Curso para o processo de realização do Trabalho de Conclusão de Curso, cumprindo, assim, os créditos da disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso.
Declaro ainda que me comprometo a cumprir rigorosamente os prazos definidos para entrega das diversas etapas do trabalho, bem como a estar em todos os encontros previstos com o professor orientador.
Ponta Grossa, 17 de novembro de 2008.
______________________________Assinatura do Aluno
______________________________Visto do professororientador
5
AGRADECIMENTOS
Me apresentei desafinado na música. Coloqueime como mais um sujeito, percebi meus defeitos, assim como os desajeitados, enganosos, baixos e cruéis fatos da História. Antes dos agradecidos, comecei esses agradecimentos evidenciando o eu. Mas para além do meu ego, reconheço sim, os personagens que me auxiliaram na construção do cenário e na protagonização do teatro da vida nesses últimos anos.
Rememoro agora esses companheir@s que interferiram sensivelmente na minha vida e, portanto também, na forma como esse trabalho aqui se apresenta. Um muito obrigado ao amigo Danico, que enquanto secretário do Centro Operário sempre esteve disposto a me auxiliar nessa empreitada acadêmica. Um abraço ao compadre Marco e a comadre Janaína que em momentos difíceis me incentivaram a continuar prosseguindo na produção dessa monografia. Ao meu irmão postiço Bruno, que além de tenor se apresentou um grande companheiro em jantares onde as discussões epistemológicas eram o prato principal. Aos amicíssimos Olavo, Sílvia e Rodrigo que me mostraram que além do estilo de escrita e da minha literatura eu ainda precisava possuir um método. À todos os camaradas do movimento estudantil, construímos experiências em comum, amadurecemos, nem todos aqui referenciados devido ao grande número de pessoas que tive a satisfação de conhecer entre os inúmeros eventos, congressos...
Às tias do R.U. que todos os dias durante esses 4 anos sempre proporcionaram aos estudantes o prazer de almoçar com imenso agrado. A todos os professores do Departamento de História, foram os intensos debates dentro de saladeaula que me proporcionaram grande parte do conhecimento que possuo hoje. Mas é claro, um especial abraço ao Nilton, agradeço por sua paciência em alguns momentos e pelo seu reconhecimento de minhas mínimas virtudes – espero sinceramente que ele receba tudo que lhe é de mérito pelo intelectual que é. A todos os acadêmicos dos cursos que me agüentaram nas últimas semanas, lhes admito a possibilidade de continuarmos contribuindo uns com os outros pois foi perante a interdisciplinaridade que me percebi realmente como Historiador.
Não poderia faltar. O início. A criação. Se algumas pessoas, amigos e mulheres passaram, a família sempre ficou. Mesmo distante, sempre carreguei comigo o semblante da pessoa que vocês são. Todas as linhas aqui não são apenas uma prestação de contas ao seu apoio, mas também, uma oportunidade de agradecer por tudo que eles me repassaram durante todo esse tempo. Aprendi a estabelecer relações com vocês e sei que sua segurança é a de que essas outras pessoas aqui citadas e tantas outras são minha segunda família.
Fica aí, antes de qualquer debate, essa representação da memória. Nesse teatro, sempre me preocupei muito mais com tais personagens do que comigo mesmo. Não somente gostaria que todos soubessem disso como também procurassem entender que além de minhas falhas sempre procurei colaborar de forma humana com minhas relações. No sorriso escondido, nos olhos baixos, sempre procurei contribuir com benevolência às nossas relações (e se existem pessoas aqui não citadas, saibam que essas receberão meus agradecimentos pessoalmente).
6
“Quando a Bastilha cai,os critérios normais do
que é possível sobre a terrasão suspensos, e os homens emulheres naturalmente dançamnas ruas antecipando a utopia”
(Da obra “Os Trabalhadores” de Eric Hobsbawm)
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RESUMO
Este trabalho possui por finalidade discutir o primeiro ano das atas do Centro Operário Cívico e Beneficente (entre 1o. De Maio de 1929 e a mesma data de 1930). O discurso das atas revela o conjunto de relações sociais que aparecem enquanto indicativo de organização dos operários pontagrossenses. Por meio do auxílio da metodologia de Análise de Conteúdo foi possível denotar dentre o texto das atas palavras que proporcionavam sentidos a tais relações. Com isso, fica visível que os chamados “assumptos políticos”, ao serem citados, são censurados e até evitados entre os debates. De antemão, o uso de tal metodologia sobre a fonte proporciona descobrir que a principal ação dessa organização operária em seu primeiro ano se acentua pela prática da beneficência e pela sua aproximação a outras classes sociais e ao governo local. Eyecorp.
Palavraschave: Trabalhadores, organização, relações sociais.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01 Fotografia da Praça João Pessoa...................................... 21
FIGURA 02 Seção de Máquinas da Estrada de Ferro São PauloRio Grande......................................................................................................
21
FIGURA 03 Fotografia de Luigi “Gigi” Damiani...................................... 30
FIGURA 04 Time do Foot Operario Club Pontagrossense em 1926...... 30
FIGURA 05 Greve Geral de 1917 em Porto AlegreRS.......................... 36
FIGURA 06 Fotografia digitalizada da Ata No. 12 do Centro Operário... 44
FIGURA 07 Ata de Fundação do Centro Operário................................. 55
FIGURA 08 Foto de Albino Wiecheteck................................................. 56
FIGURA 09 Eliseu de Campos Mello..................................................... 60
FIGURA 10 Símbolo do Centro Operário............................................... 68
FIGURA 11 Sede do Centro Operário Cívico e Beneficente.................. 83
FIGURA 12 Palanque montado na chegada de Vargas a Ponta Grossa 85
FIGURA 13 A população pontagrossense no momento do discurso
de Vargas..................................................................................................85
FIGURA 14 Capa do Livro de Inscrição de Sócios................................. 92
FIGURA 15 Relação de associados no Livro de Mensalidades............. 92
FIGURA 16 Assinatura do presidente José Deslandes de Sousa no carimbo do C.O.C.B.................................................................................. 93
FIGURA 17 Antiga sede do Centro Operário.......................................... 93
FIGURA 18 Símbolo do Centro Operário Cívico e Beneficente talhado em pedra................................................................................................... 94
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
CAPÍTULO 1 – O Mundo do Trabalho: O surgimento da figura do operário princesino, sua trajetória, sua experiência........................................................................................... 19
1.1 "Princesa dos Campos": pelo tropeiro e pelo operário......................... 19
1.2 O estrangeiro: Imigração em Ponta Grossa no início do Século XX..... 25
1.3 Personalidades e Organizações: A imagem do militante...................... 27
1.4 A militância no papel: A pena de Hugo dos Reis................................... 32
1.5 Entre o subversivo e o conciliatório: Ponta Grossa e a Greve Geral de 1917........................................................................................................ 35
1.6 "A União faz a Força": a experiência do proletariado na década de 1920....................................................................................................... 39
CAPÍTULO II: “Homens do Trabalho”: A representação do operário nas atas do Centro Operário, discurso e sociabilidade........................................................................................ 43
2.1 Classe Operária e Cultura Operária: Uma outra História...................... 48
2.2 O 1o. De Maio: A Fundação do Centro Operário Cívico e
Beneficente............................................................................................ 53
2.3 Entre a Ordem e a Política: O caso do “tellegrama”.............................. 61
2.4 Trabalhadores do Paraná UNIVOS!: Uma política a portas fechadas.. 63
2.5 Cívico e solidário: Beneficência e lazer no Centro Operário................. 64
2.6 Considerações Finais sobre a pesquisa – O outro 1o. De Maio,
Aniversário do Centro Operário Cívico e Beneficente........................... 78
3. ANEXOS............................................................................................ 87
11
3.1 Plataforma: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e
suas ocupações..................................................................................... 87
3.2 Gráfico: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e
suas ocupações..................................................................................... 89
3.3 TABELAS.............................................................................................. 90
3.3.1 Núcleo de Sentido: Política.................................................................... 90
3.3.2 Núcleo de Sentido: Beneficência........................................................... 90
3.3.3 Núcleo de Sentido: Lazer....................................................................... 91
3.3.4. Núcleo de Sentido: Manutenção............................................................ 91
3.4. FOTOGRAFIAS..................................................................................... 92
3.5 Texto Integral da Ata de posse da 2a. Diretoria..................................... 95
BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 96
12
INTRODUÇÃO
"o operariado [é] a lavoura que [movimenta] os povos, a força hercules que [sustenta] as nações e elevavaas as suas maiores conquistas; (...) o operariado [é] a reserva dos paizes e que no entanto até hoje não [havia sido] bem comprehendida, não se tinha dado o valor que merecia"'1.
Desde minha chegada à cidade de Ponta Grossa – PR sempre fui intrigado, e
considero até provocado, por muitos moradores que indicavam que esta era uma cidade
“conservadora”. Observando o seu cotidiano sempre me coloquei a questionar não
somente como havia se criado tal hegemonia em torno daquele termo pejorativo, mas
também como esse poderia convencer a mim e a tantos outros de que se aplicava
totalmente à realidade.
Foi numa tarde ensolarada que da janela da lavanderia da minha República2,
observei ao fundo entre todo o emaranhado de prédios urbanos e estruturados, alguns até
em construção, uma propriedade rural extensa que se traduzia também num horizonte
político ligado aos donos da terra. Entretanto, esse termo se tornou ainda mais
questionável ao momento que passei a participar com intensa presença no movimento
estudantil por meio do Centro Acadêmico de História (CAHIS) e do Diretório Central de
Estudantes (DCE).
Contudo, esse toque na História de um sujeito não satisfaz para explicar o
surgimento da dúvida e o prolongamento da problemática. Pensei num momento que
além de ser sujeito da minha própria História, poderia enquanto pesquisador do passado
procurar outros personagens, alguns que não se convenceram de que Ponta Grossa
seguia simples e unicamente aquela realidade conversadora. Quem sabe tornar parte
desse passado registrado e escrito na memória seja um desafio interessante, como se
estivesse deparado frente a um templo parcialmente desmoronado e quem sabe, parte
dos movimentos que pesquisei e até participei podem ser isso3 – procurando reconstruir
1 O discurso de Alberto Lopes, redator do Jornal Diário dos Campos e membro do Centro Operário, pronunciado na fundação do Centro aparece não somente como incentivo a constituição da entidade. Como na citação de uma epopéia, o saudosismo da sua fala contempla a participação da classe operária na sociedade (COCB. ATA No. 01).2 Localizada no Edifício Napoli, Rua Tiradentes, 608.3 O impactante objeto a nossa frente pode ser mesmo a sede do Centro Operário, estagnada e sofrendo a ação do tempo, ela parece não denunciar nada. Por outro lado, uma História pode ser contada e modelada além do diaadia atual, olhando aos nossos semelhantes no passado. Ao analisar a sensível natureza
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tijolo a tijolo de seus corpos no texto.
Nada como explicitar na respiração e na palpitação emocional, ou seja, na sua
consciência social, que esse movimento operário estudado me oportunizou desmanchar
estruturas ditas conservadoras, que também se diziam sólidas e arraigadas à vida
material da população pontagrossense4. Procuro agora apresentar uma História em
contrapartida com muito que não só inquieta o historiador, mas também desconforta
muitas pessoas que por essa cidade passaram. Afinal essa não é uma História de
sobrenomes entrelaçados ao universo político, também nem se apresenta apenas como
uma “história vista de baixo” (BURKE, 1992; HOBSBAWM, 1998), oportunizar um passado
egoístico ou vitimado não é objetivo dessa pesquisa.
Foi ao se deparar com uma documentação e um tal Centro Operário Cívico e
Beneficente na Casa de Memória que pude perceber que a evidência das classes sociais
na sociedade é um dos quadros vivos da História de Ponta Grossa. Agora, em mais uma
oportunidade, perante todo discurso de desenvolvimento e de progresso, este trabalho
procura não só reconhecer vozes que antes estavam silenciadas no passado, mas
também pessoas que ajudaram a construir esse passado.
Expressar o desenvolvimento industrial partindo de números, lucros e ganhos se
torna uma alternativa ao objeto do intelectual, no entanto, esse reducionismo pode ser
percebido apenas em gabinetes de conhecimento fechados e em corredores vagos e
gélidos das academias exclusivistas.
Considerar categorias exatas nesses índices pode reconhecer o cenário dos
humana em encontro com essa forma de produzir História, Friedrich Nietzsche escreveu: “os estudos históricos cultivam a qualificação para essa pintura, pois sempre nos desafiam, ante um trecho da história, a vida de um povo (…), a imaginar um horizonte bem definido de pensamentos, uma força definida de sentimentos, o predomínio de uns, a retirada de outros. O senso histórico consiste em poder reconstruir rapidamente, nas ocasiões que se oferecem, tais sistemas de pensamento e sentimento, assim como obtemos a visão de um templo a partir de colunas e restos de parede que ficaram de pé. Seu primeiro resultado é compreendermos nossos semelhantes como tais sistemas e representantes bem definidos de culturas diversas, isto é, como necessários, mas alteráveis. E, inversamente, que podemos destacar trechos de nosso próprio desenvolvimento e estabelecêlos como autônomos” (NIETZSCHE, 2005, P. 172).4 Após alguns anos de vivência, se tornou cada vez mais intransponível aos meus olhos a visão de que as coisas sempre foram assim. Além daquelas estruturas de governos, postuladas em seus predicados chamadas de “conservadoras” por muito se colocava a experiência dos povos. Uma resposta mental pensava e uma resposta emocional palpitava, essas se encontravam em outras vivências, as vivências do povo – o sujeito dessa História aqui contada. O conhecimento é o que eu conheço. Antes de estruturas que prendem a respiração dessas mulheres e homem, se constrói uma História além das instituições. É isso que proporciona sentido ao confronto na sociedade. A experiência se desloca à frente do intelectual e ‘’anuncia mortes, crises de subsistência, guerra de trincheiras, desemprego, inflação, genocídio’’ (THOMPSON, 2009, p. 17).
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meios de produção a partir também do número dos trabalhadores naquele momento.
Esse é o papel dos censos, mas tal material ali colocado pode nos levar a uma outra
hipótese de pesquisa. Essa pode proporcionar ao pesquisador um tipo distinto de História
que não se destina simplesmente a parar na metade do caminho, mas procura responder
aos questionamentos sobre o passado a partir dali. Como viviam? Como se organizavam?
Quem eram?
A História nos atinge dessa forma também, pode falar desse tipo de vida em livros
didáticos, em revistas, em um programa de TV ou rádio e até em museus e antigas
construções. Muitos não desejam nela falar, às vezes ela até perturba, mas paralelamente
“o passado é ao mesmo tempo um jogo de lutas e um elemento constitutivo da relação de
forças produtivas” (CHESNEAUX, 1995, p. 12). Incomoda sim, mas incomoda muito mais
aos proprietários dos meios de produção, aos proprietários da terra, aos proprietários dos
meios de comunicação e a muitos que não se interessam em difundir esse tipo de
conhecimento.
Participar de algumas lutas, nos coloca em outras oportunidades de combate, e
essa monografia não é a única forma de produção do conhecimento que proporcionei à
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Já que usufruí e produzi lutas e discussões no
contato com entidades estudantis, sindicais e até em conversas informais na casa de
amigos, em mesas de bar e em espaços públicos desta cidade5. Minha vivência pessoal
está à mostra. Acredito que essa pode servir para colocar diversos questionamentos
relativos à nossa forma de produção acadêmica numa cidade dita “conservadora”.
Devemos nos perguntar se estamos transformando ambientes pela nossa forma de
5 Essa passagem me lembra uma manhã de primavera. A cidade despertava naquele pestanejar de manhã quando horrorizada observava o fruto de uma reivindicação. Todos conhecem a fachada do Cine Império, na Avenida Bonifácio Vilela, em frente ao bucólico Ponto Azul. Hoje continua o imóvel abandonado, sem nenhuma ação por parte do poder público em matéria de conservação. Naqueles mesmo tapumes onde estava escrito “NÃO COLAR CARTAZ” cartazes foram colocados dizendo: “ESQUECER É LEMBRAR, DERRUBARAM A CATEDRAL, ARRACARAM OS TRILHOS, CINE IMPÉRIO TUA HORA CHEGARÁ”. Uma visível manifestação contra a especulação imobiliária que naquele ambiente esperava para demolir mais uma peça importante do patrimônio cultural da cidade. Isso para não falar em diversos desafios travados no cotidiano do movimento estudantil. Naquele tempo, a questão do Transporte Coletivo passou por duas vezes pelo Diretório Central de Estudantes. Numa delas, o DCE apoiou a garantia do emprego para os funcionários da Viação Campos Gerais (VCG), mostrando que o enfrentamento dos estudantes além de questionar o descaso do poder público revestido na simbiose de alguns vereadores com os interesses escusos e desumanos por parte dessa empresa, também corroborou no apoio desses a causa da classe trabalhadora em prol do transporte. Nesse dia, a Câmara de Vereadores foi ocupada por estudantes e trabalhadores que não aceitavam aumentos exorbitantes na passagem, nem mesmo a demissão de 750 pais e mães de família a partir da implantação da bilhetagem eletrônica. Nesse dia, a população não se permitiu ao autoritarismo do monopólio do transporte público.
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produção acadêmica, ou se estamos contribuindo para a proliferação de um espírito que
deprime e entristece o ambiente de Ponta Grossa. Como uma palavra taxativa, perante
tantas monografias e tantos intelectuais, ainda pode convencer tanto de que não adianta
fazer nada em matéria de lutas sociais6?
Se alguém entender isso como uma provocação, pois bem, mesmo assim espero
que continue lendo. Mas que isso não seja motivo para virar a página até o Primeiro
Capítulo justificando que esse introduzir de palavras não é o início do trabalho. Ele reflete
grande parte do que será dito depois. Aliás, se falava de um termo que adentra o discurso
e parece ter por objetivo convencer seus leitores. Das atas do Centro Operário poderemos
perceber muitas palavras como essa e, com a ferramenta que utilizei dentro da pesquisa,
deslocar nosso olhar para o entendimento de relações sociais e conflitos em torno do que
se refletia naquele movimento de trabalhadores.
Os autores usados aqui nesse trabalho não estão expondo uma linha teórica, são
colocados como forma de diálogo que muito auxiliam o entendimento da realidade – por
isso parte da minha vida está aqui. A literatura em muitos momentos compartilha dos
fenômenos observados e não se ocasionam na intenção de finalizar qualquer discussão.
Pelo contrário, a propósito do empenho aqui exercido em labor teóricometodológico
possui por finalidade intensificar a discussão. Poderia ser mais fácil me afirmar numa
“Nova” História Social do Trabalho.
Entretanto, não preciso me esconder em nenhuma “toca teórica” (THOMPSON,
Op. Cit, p. 11), pra mim isso somente vem a produzir disputas em torno da academia.
Devemos colocar diversas visões sobre o mundo do trabalho antes mesmo de qualquer
Nova História. Essas, aqui não vão ser desconsideradas.
Que me seja permitido recorrer à memória mais uma vez. Tive o prazer de militar
ao lado de companheiros de uma organização trotskista. A Corrente O Trabalho do
Partido dos Trabalhadores, seção brasileira da IV Internacional. Aproximandome das
leituras de León Trótsky lembro de um recorte muito significativo de uma de suas obras
6 Sim, esse retrato de conformismo com o que parece alheio (Ponta Grossa), foi isso o que mais ouvi na academia da boca de estudantes. Jovens e sadios que, contraditoriamente, se recusavam a encarar o cotidiano como um elemento de lutas. O que me surpreende é que a maioria dos que usavam essa desculpa, ou esse “lavar de mãos”, sobre a cidade eram pessoas vindas de fora. Incapazes de ver as mudanças que podem ser ocasionadas no tempo, chegam aqui como se estivessem deparados com um slogan: “Ponta Grossa – Cidade Conservadora”, eles se amedrontam e acabam compactuando com isso e fazendo parte do objetivo de diversos membros, estancieiros e industriais do poder local.
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quando falava da degeneração da União Soviética e da ascensão do termidor stalinista.
Para Trotsky, estudante das letras, um grande fator que interferiu nesse processo
não foi apenas uma disfunção entre a linha de produção e as forças produtivas, mas sim
na introdução de uma palavra. “A palavra sovbour (burguês soviético) logo se introduziu
no vocabulário dos trabalhadores, para designar os altos funcionários com seu modo de
vida privilegiado” (apud MIRANDA, 1981, p. 148).
O interessante aí é perceber que antes dos estudos da História Social do
Trabalho, alguém pensou como a linguagem utilizada no interior da fábrica pode interferir
em toda construção ou destruição de um projeto políticoideológico. Claro que os
argumentos contra essa burocratização partem de uma versão de Trotsky, o trabalho não
possui por finalidade defender essa ou aquela teoria em contraponto à prática. Até porque
isso já fiz em vida nos Congressos da União Nacional dos Estudantes.
O aparecimento de certos autores promove uma discussão intensa sobre o objeto
observado. Isso ocorre com a finalidade de intensificar o fenômeno em torno da vivência
pessoal dos sujeitos da história.
A partir de tais considerações, esse trabalho analisa o primeiro ano do Centro
Operário Cívico e Beneficente de Ponta Grossa (PR) a partir de 24 atas que compuseram
o primeiro ano da entidade. As relações sociais criadas são perceptíveis no discurso
dessas atas e são tratadas como indicativo de organização e sociabilidade dos operários
locais na pesquisa.
Entre 1º de Maio de 1929 e a mesma data de 1930, o trabalho notabiliza um
ambiente onde os trabalhadores proporcionaram a si mesmos a oportunidade de
organizar o seu “tempo livre” por meio de atividades desenvolvidas. Perpassando as
fontes e evidenciando o relacionamento dos operários de Ponta Grossa, esse trabalho
discute como os operários se relacionavam na organização e como essa se comporta no
interior da sociedade pontagrossense. Ao tempo que esses se organizavam. Como
buscavam o reconhecimento de suas funções enquanto membros da sociedade? Nesse
casual momento histórico, considerada a principal entidade operária do final da década de
1920, o Centro Operário se manifestou de forma combativa ou conciliadora perante a
sociedade pontagrossense7?
7 Participando da disciplina de “Métodos e Técnicas” ministrada pelo prof. Dr. Édson Armando Silva, o projeto de pesquisa e sua tarefa como um todo somente pôde ser desenvolvida com segurança a partir da
17
Esse momento se alinha e se explica em outros acontecimentos como a Grande
Depressão. Ao momento que observamos tal evento, notabilizamos também a tentativa de
trabalhadores em se agrupar em torno de associações de socorro mútuo. Foi em um
momento de insegurança que as primeiras organizações autônomas de trabalhadores
passaram a se constituir com fins práticos e específicos para responder a problemas
como doença e morte. Formase aí modalidades de agrupamento e organização operária
que não podem ser ignorados pelos estudiosos. Enquanto os patrões sempre alegavam a
“crise mundial” para deprimir os salários, os trabalhadores cada vez mais se encontravam
ligados entre si, em partidos, associações e em clubes (FERRAZ, 2009).
Este trabalho se promulga no uso de referenciais teóricos distintos. Desde o
marxismo até a chamada “Nova” História Social do Trabalho8, abriramse perspectivas
para um conjunto bastante extenso de debates e reflexões, apontamentos que vieram a
reconsiderar o comportamento da sociedade a partir da forma como essa se organiza nas
relações de produção. O que se tornou ponto passivo é que qualquer versão oficial do
conceito de “classe” não pode ser afirmada como única. Os sujeitos da história aparecem
e o conflito evidencia as classes sociais de uma forma, sobretudo, esses grupos não
deixam de existir em outros eventos sociais, nem mesmo em seus devidos cotidianos.
Percorrendo algumas matrizes teóricas pertinentes ao trabalho, algumas
terminologias irrompem ao texto, entretanto, de forma a serem discutidas e não a serem
consideradas definidas para explicar a complexidade social. No caso, os métodos de
observação e análise usados se condicionam em somente mais uma opção de uso do
objeto. Essa proposta não se apresenta como última e definitiva, e em formato de
publicação procura contribuir com toda a discussão que se desencadeia hoje no ambiente
acadêmico.
Considerando que as relações de capitaltrabalho são construídas culturalmente
seguinte questão de partida: “Como pode ser percebida a abordagem dos chamados assuntos políticos nas atas da associação Centro Operário Cívico e Beneficente entre 1o. De Maio de 1929 e a mesma data de 1930?”. 8 Nessa temática, o termo entre aspas "Nova" é constituído a partir de uma proposta de rompimento com o que Marcel Linden considera por "nacionalismo metodológico" por um lado e/ou eurocentrismo por outro. Contempla ele que: "A Velha História do Trabalho era institucional, focada na descrição organizacional de desenvolvimentos, debates políticos, líderes e greves. Era representada por Sidney e Beatrice Webb, a Escola Wisconsin de John Commons, dentre outros, mas também por marxistas como Philip Foner. A Nova História do Trabalho tentou contextualizar as lutas dos trabalhadores". Ele ainda contempla essa proposta em dizer que a Nova História Social do Trabalho analisa todo esse contexto a partir das condições técnicas que permitiram ou não que os movimentos de trabalhadores fossem eficazes (LINDEN; 2009, p. 12).
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no tempo e geradas no encontro das classes sociais, permeando negociações e conflito,
elas podem se desencadear no crepúsculo da luta de classes ou se materializando em
outras formas de relacionamento entre esses grupos.
Antes de discutir qualquer nivelamento de organização dos operários de Ponta
Grossa, parece válido discutir como se apresenta a origem do proletariado fabril na
cidade. Os fatores de seu surgimento são relevantes e determinantes inclusive para
entendermos as suas estruturas de organização procedentes da sua gênese.
O primeiro capítulo “O Mundo do Trabalho: O surgimento da figura do operário
princesino, sua trajetória, sua experiência” discorre em torno do surgimento do ser
operário na sociedade pontagrossense, comungando esse como a criação de
organizações operárias e o aparecimento de personagens importantes desse processo.
Antes de se comprometer com uma descrição minuciosa desse momento, essa passagem
coloca o leitor em volta de um contexto da criação do mundo do trabalho urbano em Ponta
Grossa entre o fim do século XIX e início do século XX.
O segundo capítulo “Homens do Trabalho”: A representação do operário nas atas
do Centro Operário, o discurso e as relações sociais”, parte de uma perspectiva mais
precisa, intimamente ligada ao cotidiano da organização operária. Destacando a partir da
análise do conteúdo das atas os papéis desenvolvidos por alguns de seus membros,
denotando valores em torno do movimento operário, mas também percebendo como
esses se constroem nesse momento. As considerações finais notabilizam a ata de posse
da segunda diretoria com a finalidade de indicar possíveis problematizações sobre os
acontecimentos descritos.
Essa monografia foi produzida usando a versão de software livre Ubuntu 8.10. Essa
pesquisa é produto também de apresentações em comunicações orais na 38a. Semana
de História da Universidade Estadual de História, na 3a. Semana de Integração em
História e no IV Congresso Internacional de História ocorrido em MaringáPR – sendo
que essa última rendeu uma publicação nos anais do evento (POCAI FILHO, 2009).