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19 CAPÍTULO I O MUNDO DO TRABALHO: O SURGIMENTO DA FIGURA DO OPERÁRIO PRINCESINO, SUA TRAJETÓRIA, SUA EXPERIÊNCIA. “Nos homens de Ponta Grossa, então é notável a tendência para tornarem-se o tipo industrial. Ao par que muitos estrangeiros ou indivíduos de origem estrangeira, encontram-se aqui numerosos filhos da terra que tem dado prova de extraordinária capacidade no comércio e indústria” 9  (Nestor Vitor) 1.1 "Princesa dos Campos": pelo tropeiro e pelo operário. Final do século XIX, a região sul do Brasil começa a se destacar pela possibilidade de uma ascendente industrialização. O caso de Ponta Grossa foi característico nesse sentido, pois foi ao leito do entroncamento ferroviário 10  que passava pela cidade que se instalou parte considerável de suas primeiras indústrias. Mudanças significativas proporcionaram tonalidade ao desenvolvimento da cidade. Ponta Grossa, antes passagem dos tropeiros, se encontrava no “coração” de uma região que sobrevivia da criação de bovinos 11 . Era em meio a grandes propriedades rurais que se desenvolvia uma paisagem industrial modernizada nos trilhos do trem e nos muros das fábricas, nascia a "Princesa dos Campos"' 12 . O trajeto econômico de Ponta Grossa passou a seguir esse mito dos trilhos. E 9 O conhecido romancista Nestor Vitor elaborou tal constatação sobre o homem princesino. Essa citação que primeiramente se apresenta de forma inocente, representa que não bastava uma cidade ser urbana e industrial, possuir energia elétrica e expulsar a falsa mendicância de seu território, Ponta Grossa necessitava também possuir uma cultura do trabalho, um modelo de cidadão que além de civil era prático no trato laboreiro (SANTOS, 1996 p. 225). 10 Segundo Leonel Monatirsky: “Desde a sua implantação no Brasil – há mais de um século e meio -, a ferrovia contribuiu para o desenvolvimento econômico do país, foi um dos alicerces para a integração regional e nacional, auxiliou processos de urbanização e industrialização brasileiros, foi decisiva nas transformações urbanas das cidades ferroviárias e influenciou a sociedade brasileira” (MONATIRSKY, 2006, p. 3). Relevando as duas estradas de ferro que passam pelos Campos Gerais, Estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande (fundada em 1896) e Estrada de Ferro do Paraná (fundada em 1894), Monatisky ainda identifica o período de 1892 a 1930 como uma etapa de ascensão econômica da região, "quando a economia nacional e a região sul do Paraná produzia e exportava erva-mate e madeira" (op. Cit. p. 5). 11 Antes da ferrovia, Ponta Grossa, conhecida como "corredor do gado", aparece no almanaque Geografia Ilustrada como “nada além de uma trilha de gado em um planalto, margeando os rios e evitando as matas e os capões... sem limites, sem terras cultivadas, sem nada que atraia o homem que ali aparece de passagem, não tem nome certo ou vida própria. É, apenas, lugar nenhum” (CIVITÁ, 1975, p. 42). 12 Alguns autores rememoram essa categoria. Todavia, antes mesmo de Ponta Grossa receber tal nomenclatura, ainda enquanto freguesia de Castro, ela já apresentava interesse em desenvolver vida própria, sendo dedicada a diversas atividades econômicas. Sendo que em registra-se inúmeros pedidos feitos à Câmara de Castro para desenvolver o comércio local (GONÇALVES; PINTO, 1983, p. 23). Esse espírito é responsável por construir um sentimento de autonomia por parte de Ponta Grossa perante Castro.

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Trabalho de conclusão de curso em História de Roberto PocaiEsse trabalho dialoga com a formação da classe operária ponta-grossense desde o final do século XIX, focando sobretudo a participação dos trabalhadores na associação Centro Operário Cívico e Beneficente. Usando como fontes as atas da entidade, esse trabalho procurou recortar a forma como eram tratados os chamados "assuntos políticos" no seu interior. As relações sociais produzidas no interior do Centro oportunizam perceber como o discurso produziu uma imagem do operário. Para isso, o trabalho dependeu do uso de uma metodologia de Análise de Conteúdo que ao recortar palavras do texto das atas procurou abordar o sentido dado a elas enquanto tonalizantes desse discurso.

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CAPÍTULO I

O MUNDO DO TRABALHO: O SURGIMENTO DA FIGURA DO OPERÁRIO 

PRINCESINO, SUA TRAJETÓRIA, SUA EXPERIÊNCIA.

“Nos homens de Ponta Grossa, então é notável a tendência para tornarem­se o tipo industrial. Ao par que muitos estrangeiros ou indivíduos de origem estrangeira, encontram­se aqui numerosos filhos da terra que tem dado prova de extraordinária 

capacidade no comércio e indústria”9 (Nestor Vitor)

1.1 "Princesa dos Campos": pelo tropeiro e pelo operário.

Final do século XIX, a região sul do Brasil começa a se destacar pela possibilidade 

de uma ascendente  industrialização. O caso de Ponta Grossa  foi  característico nesse 

sentido, pois foi ao leito do entroncamento ferroviário10 que passava pela cidade que se 

instalou parte considerável de suas primeiras indústrias. 

Mudanças   significativas   proporcionaram   tonalidade   ao   desenvolvimento   da 

cidade. Ponta Grossa, antes passagem dos tropeiros, se encontrava no “coração” de uma 

região que sobrevivia da criação de bovinos11. Era em meio a grandes propriedades rurais 

que se desenvolvia uma paisagem industrial modernizada nos trilhos do trem e nos muros 

das fábricas, nascia a "Princesa dos Campos"'12.

O trajeto econômico de Ponta Grossa passou a seguir esse mito dos trilhos. E 

9 O conhecido romancista Nestor Vitor elaborou tal constatação sobre o homem princesino. Essa citação que primeiramente se apresenta de forma inocente, representa que não bastava uma cidade ser urbana e industrial,   possuir   energia   elétrica   e   expulsar   a   falsa   mendicância   de   seu   território,   Ponta   Grossa necessitava também possuir uma cultura do trabalho, um modelo de cidadão que além de civil era prático no trato laboreiro (SANTOS, 1996 p. 225).10 Segundo Leonel Monatirsky: “Desde a sua implantação no Brasil – há mais de um século e meio ­, a ferrovia  contribuiu  para o  desenvolvimento econômico  do país,   foi  um dos alicerces para a   integração regional   e   nacional,   auxiliou   processos   de   urbanização   e   industrialização   brasileiros,   foi   decisiva   nas transformações urbanas das cidades ferroviárias e influenciou a sociedade brasileira” (MONATIRSKY, 2006, p.  3).  Relevando as duas estradas de  ferro  que passam pelos Campos Gerais,  Estrada de Ferro  São Paulo/Rio Grande (fundada em 1896) e Estrada de Ferro do Paraná (fundada em 1894), Monatisky ainda identifica   o  período  de  1892   a  1930   como  uma  etapa   de   ascensão  econômica   da   região,   "quando  a economia nacional e a região sul do Paraná produzia e exportava erva­mate e madeira" (op. Cit. p. 5).11 Antes da ferrovia, Ponta Grossa, conhecida como "corredor do gado", aparece no almanaque Geografia Ilustrada como “nada além de uma trilha de gado em um planalto, margeando os rios e evitando as matas e os   capões...   sem   limites,   sem   terras   cultivadas,   sem   nada   que   atraia   o   homem   que   ali   aparece   de passagem, não tem nome certo ou vida própria. É, apenas, lugar nenhum” (CIVITÁ, 1975, p. 42).12  Alguns   autores   rememoram   essa   categoria.   Todavia,   antes   mesmo   de   Ponta   Grossa   receber   tal nomenclatura,   ainda   enquanto   freguesia   de   Castro,   ela   já   apresentava   interesse  em  desenvolver   vida própria, sendo dedicada a diversas atividades econômicas. Sendo que em registra­se inúmeros  pedidos feitos à Câmara de Castro para desenvolver o comércio local (GONÇALVES; PINTO, 1983, p. 23). Esse espírito é responsável por construir um sentimento de autonomia por parte de Ponta Grossa perante Castro.

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juntamente   com   a   industrialização,   essa   possibilidade   de   escoamento   da   produção 

participou dos novos rumos do desenvolvimento da cidade. A linha não era só passagem, 

segundo Maria Gonçalves e Elisabete Pinto

  a construção de ferrovias serviu de estímulo para atrair  migrantes nacionais e estrangeiros   empregando   sua   força   de   trabalho   na   própria   construção   das mesmas e depois na comercialização de mercadorias, contribuindo para acelerar o processo de urbanização (GONÇALVES; PINTO. 1983, p. 16). 

O dinamismo  do   transporte   ferroviário   contribuiu   para  que   a   sociedade  ponta­

grossense   convivesse   com   um   constante   processo   de   modernização.   Ao   procurar 

compreender o espaço urbano de Ponta Grossa, Cicilian Lowen Sahr indica a década de 

1920   como   de   intenso   crescimento   da   cidade.   A   ferrovia   entrou   nesse   processo   ao 

momento   que   se   tornou   uma   variável   do   crescimento   urbano,   “a   estrada   de   ferro 

acompanhava a estrutura dos espigões do relevo, e os loteamentos se implantavam na 

sua margem” (SAHR, 2001, p. 22). 

Ponta Grossa não pode ser identificada por eventos espontâneos, como se esses 

significassem sua expansão e seu aumento populacional. Toda sustentação da economia 

erva­mateira  e da atividade  tropeira  passou diretamente pelas mãos de  trabalhadores 

rurais   e   urbanos,   denotando   a   participação   da   população   nesse   processo.   Essas 

diligências, ao deixarem de ser preponderantes, passaram por transições. A economia de 

passagem dos tropeiros, deixava de ser um processo hegemônico, porém não pode ser 

considerada passageira.

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FIGURA 01 ­  Fotografia da Praça João Pessoa, em destaque a Estação da Estrada de Ferro de 

Ponta Grossa (PREFEITURA, 1936).

FIGURA 02 ­ Seção de Máquinas da Estrada de Ferro São Paulo­Rio Grande (Op. Cit.)13.

13 A foto demonstra as condições de trabalho nas estradas de ferro, sendo elite operária ou não, é na face dos   trabalhadores   imortalizada  digitalmente  que   percebemos   parte  de  suas  vidas.  O  Álbum  de  Ponta Grossa de 1936 é  encontrado hoje como um anuário de orgulho ao  trabalho para a época da qual  foi publicado,   exibindo   o   corpo   dos   trabalhadores   como   monumento   do   labor   e   do   seu   próprio   esforço (PREFEITURA, 1936).

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A participação nesses acontecimentos por parte da população ponta­grossense e 

mais precisamente pelos trabalhadores princesinos, se torna o foco desse trabalho. No 

caso   do   momento   da   ferrovia   e   da   urbanização,   não   podemos   desconsiderar   a 

participação do braço humano nesse processo. 

Em um cenário  qualificado  por   tais  elementos  que  compõe  essa  urbe  ponta­

grossense devemos começar privilegiando e expondo a participação dos trabalhadores no 

desenvolvimento da cidade. Os caboclos colhedores de erva­mate, os imigrantes e seus 

carroções, os carregadores do Mercado Municipal, os ferroviários à beira dos trilhos, os 

comerciários   em   seus   balcões...   Da   produção   à   venda,   todo   esse   processo 

desenvolvimentista passou pela mão do ser humano e mais especificamente pelas mãos 

dos trabalhadores. Seja na figura do tropeiro ou do operário, a memória nos possibilita 

remeter às suas participações na economia.

Ainda que o ponto de  incidência da pesquisa seja  delimitado por  outro   recorte 

temporal,   se   torna   necessário   conceber   o   aparecimento   do   trabalhador   princesino 

partindo de sua participação na história de Ponta Grossa. 

Primeiramente,   devemos   considerar   que   as   condições   econômicas   e   a 

efervescência de uma sociedade urbana em desenvolvimento geraram necessidades que 

não estavam somente baseadas na produção, mas também na existência de um grande 

número de trabalhadores que compusessem as forças produtivas e a mão­de­obra local e 

que baseassem sua existência no consumo de muitos bens que, em algumas situações, 

eram eles mesmos que produziam. Categorias de trabalhos eram criadas, fábricas eram 

edificadas, mulheres e homens oriundos de vários lugares do Brasil e também, em grande 

excedente, de outras nacionalidades, participaram dos números da população de Ponta 

Grossa. 

O desenvolvimento econômico, a oportunidade de escoamento da produção por 

meio do tropeirismo e da ferrovia, o êxodo rural e os movimentos imigrantistas não devem 

ser considerados eventos vãos, fatores desagregados, mas sim, devem ser tratados como 

condições simultâneas desse processo e que podem ser representados na demografia 

dos tempos e na passagem da criação e do desenvolvimento do ambiente urbano. 

A colonização, que alguns situam antes desse momento, já revelava a figura do 

tropeiro, do estancieiro, do ervateiro e de outras categorias ligadas à terra. Esse processo 

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pode ser observado na divisão social  do trabalho, entre os possuidores dos meios de 

produção   e   os   desprovidos   de   tais   meios   (MARX;   ENGELS,   2006).   Além   dessa 

constatação,   para  além  dessa  dialética,   o   recorte   específico  procura   estabelecer   um 

diálogo a uma abrangência mais ampla, proporcionando tonalidade às particularidades 

encontradas em Ponta Grossa. Não há possibilidade de se colocarem generalizações ao 

tema, nem de se proporcionar regras ao geral a partir dessas particularidades (REVEL, 

1998).

Em um instante à frente, a administração de novas forças produtivas, a criação do 

mundo do trabalho também se revelava no espaço das fábricas. O que esse frisar de 

momentos   econômicos   nos   revela,   entretanto,   é   outra   simultaneidade.   As   primeiras 

indústrias  foram  transfiguradas no enriquecimento da erva­mate, como foi  o caso das 

casas de erva­mate fundadas no início do século XX como a Hervateira Brasil, a Casa 

Hoffmann e a Firma Gelbcke e Miró se tornaram o semblante dessa economia.

A Serraria Olinda também compactua com essa  imagem. Assim como a erva­

mate, a extração de madeira participou  tanto do processo de extrativismo quanto das 

primeiras   iniciativas   nada   tímidas   da   indústria   regional.   Essa   imagem   também   foi 

corroborada   pela   localização   da   indústria,   ao   lado   da   Viação   Férrea   São   Paulo­Rio 

Grande.  Portanto,  vizinha do mito  que corria nos  trilhos,  era uma atividade era antes 

considerada   rudimentar   e   rural   –   todas   essas   situações   citadas   não   se   colocavam 

imediatas   à   economia   industrial,  mas   se   tornam  ativas  ainda  no   início   da   economia 

terciária em Ponta Grossa, associando a ainda crescente “Princesa dos Campos” ainda 

aos meios de produção da terra.

As próprias linhas de trem, entrelaçadas no emaranhado dos trilhos revelam um 

dos maiores segmentos em número de trabalhadores da cidade de Ponta Grossa14. Sobre 

os ferroviários ponta­grossenses foi construída uma imagem proveniente do momento que 

14  Pertencente a esse cenário, o trabalhador da ferrovia ocupa a cidade de Ponta Grossa e se assume enquanto figura participante do seu processo. Segundo Rosângela Petuba: "Neste contexto, os ferroviários ponta­grossenses foram considerados tanto numericamente, quanto por sua organização o segmento mais destacado   entre   os   trabalhadores   locais,   desde  a  primeira  metade  do   século   passado.   Ao   longo  das décadas, a categoria protagonizou diversos momentos significativos na história da cidade" (PETUBA, 2005, p. 4). Leonel Monatirsky desenvolve a figura do operário simplesmente a partir de suas condições salariais, empregatícias e por seu poder de compra (MONATIRSKY. 2006), Petuba desmistifica essa imagem dos ferroviários enquanto membros de uma "elite operária" quando propõe o cruzamento de depoimentos orais com demais fontes. Os constantes acidentes e as constantes baixas nas viagens férreas são a constatação que não só tange o trabalho de Petuba como também revela as condições de trabalho das mulheres e dos homens da ferrovia (PETUBA, op. Cit.). 

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o país vivia.

Os   aspectos   da   industrialização   local   muito   explicam   o   perfil   dos   operários 

princesinos. A situação em que se encontravam nas suas condições de trabalho traduz 

algumas prerrogativas de sua organização no movimento operário que surgia já no fim do 

século XIX. A priori, a proposta não é fazer um apanhado linear da trajetória da indústria 

na  cidade,  mas  demonstrar  a   influência  que  alguns   fenômenos   industriais  possuíram 

sobre a sociedade ponta­grossense. O retrospecto, na realidade, nos remete aos eventos 

que significaram desde a possibilidade da existência do proletariado na cidade até o seu 

cotidiano dentro e fora das fábricas15.

Entre esses acontecimentos que correlacionam a produção dos bens de produção 

e seu consumo com uma possibilidade de existência do proletariado local, percebemos aí 

uma cidade conhecida  por  atrair  empresas ao  leito  da  ferrovia.  Além disso,  a  cidade 

desde o início do seu alastramento urbano já demonstrava a incidência de vilas e bairros 

operários,  no caso,  ocupados por  imigrantes no  interior  desse percurso.  É  o caso de 

Uvaranas16  e Oficinas17, bairros tradicionais que passaram a agrupar a rede urbana de 

15 O crescimento urbano de Ponta Grossa revelou­se na paisagem constituída de bairros e sub­centros. A industrialização da cidade foi seguida de um outro fenômeno que promulgou diferenciais não só na estrutura do quadro urbano, mas também no cotidiano dos trabalhadores. Sob uma ótica mais detalhada, o estudo da urbanização interage com o comportamento que esse crescimento impulsiona um novo ritmo criado na vida dos   trabalhadores   fora   das   fábricas.   Quem  são?  O   que   fazem?   E   para   chegar   a   respostas   a   esses questionamentos, o pesquisador necessita enxergar o operário além da sua figura construída na jornada de trabalho, essas pessoas vão além disso. São mães, pais de família, moradores de várzea ou à beira de um olho d'água, capitães do time de futebol da vila onde moram, lavam pra fora, freqüentadores de botecos, membros de associações, entre outros elementos que procuram possuir  para  formar sua  identidade. A característica de Ponta Grossa ser colonizada por sub­centros distantes da localização central do município permeia uma antiga discussão que não ocorre ocasionalmente, mas já prevê toda uma forma de alojar uma classe social em um ambiente específico. Segundo Maria Auxiliadora Decca: “os industriais ou buscavam situar os operários próximos às indústrias ou, inversamente, colocaram as indústrias em locais densamente habitados pela população mais pobre em função dos preços mais baixos das habitações nos bairros de várzea ou de bairros mais altos, mas distantes, sem quaisquer melhoramentos” (DECCA, 1987, p. 18). Essa passagem revela características de uma microanálise sobre a malha urbana de Ponta Grossa onde  os sub­centros de Oficinas e Uvaranas se apresentam em algumas dessas condições. 16   O bairro de Uvaranas se conectava às atividades dos ferroviários por meio do Hospital 26 de Outubro que atendia os trabalhadores da ferrovia. O bairro Uvaranas colonizado por imigrantes italianos, poloneses e alemães. Cirlei Miléo e Maria Martins descrevem o bairro como ocupado por diversas chácaras antes dos primeiros  loteamentos que o  urbanizaram, nesses  locais  eram criados cavalos,  bovinos,  sendo que as autoras atentam para as culturas de uva.  Os  loteamentos nesse momento parecem contrastar  com as antigas culturas do bairro. O que antes era provocava um impacto visual de parreirais, agora se tornara um local identificado pela paisagem do grande número de casas e da concentração de fábricas e operários pelo bairro (MILÉO, 1986, p. 13).17   Foi no leito da linha férrea e vizinhando as oficinas de vagões e locomotivas que se forma o bairro de Oficinas. A maioria das famílias de ferroviários se estabeleceram ali (SAHR, 2001). Nesse caso, Oficinas se destaca na primeira situação citada por Decca. Vale a pena chamar a atenção para outro fato curioso que remete a construção da urbe princesina. Claudia Monteiro, ao trabalhar os ferroviários comunistas da Rede 

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Ponta Grossa conforme a cidade foi crescendo.

Um ressurgimento do comércio nessas páginas também se torna necessário, isso, 

ao  momento  que  além de  diagnosticar   o   perfil   do  consumo  da  época,   também  traz 

consigo um grande número de trabalhadores em seus índices. 

Além de   rememorar   tais   indicativos,   se   torna  necessário   frisar  que  é   no   setor 

comerciário que temos o primeiro registro de alguma reivindicação dos trabalhadores de 

Ponta Grossa.  Essa ação dos comerciários  foi  ocasionada no segmento de  “secos & 

molhados”. Segundo Gonçalves e Pinto 

os   empregados   do   comércio,   cujo   número   era   bastante   significativo,   haviam solicitado o fechamento destes estabelecimentos aos domingos, já em 1898. Esta reivindicação se concretizará apenas mais tarde, por meio do Decreto no. 96, de 23 de abril de 1903, com exceção das farmácias, cafés, restaurantes e bilhares (GONÇALVES; PINTO, 1983, p. 67).

Essa citação contraria  constatações de outros  autores  que consideram que o 

movimento   operário   princesino   inicia   sua   trajetória   somente   no   início   do   século   XX, 

simplesmente a partir da fundação das primeiras organizações operárias da cidade.

1.2 – O estrangeiro: Imigração em Ponta Grossa no início do Século XX.

O próprio fenômeno da imigração que incidiu em Ponta Grossa nesse momento já 

destacava a participação do trabalhador nas fábricas. Tal proporção foi indicada enquanto 

solução desde a crise alimentícia de 1857 na província do Paraná. Foi desse movimento 

imigrantista que podemos perceber um dos instantes significativos para a formação de 

outro movimento: o próprio movimento operário.  

Gonçalves   e   Pinto   afirmam   um   aumento   significativo   na   população   ponta­

grossense a partir da chegado do imigrante: 

embora   sempre   tenham   ocorrido   migrações   estrangeiras   espontâneas   e 

esporádicas, o grande movimento migratório oficial só se verificou na década de 

1870, sendo que entre os anos de 1877 e 1878, chegaram a Ponta Grossa cerca 

Paraná­Santa Catarina  indica o Oficinas como um bairro  investigado pela DOPS (Delegacia  de Ordem Política e Social) com a intenção de repreender qualquer organização política dos operários (MONTEIRO, 2007, p. 47). Essa constatação serve de indicativo para mostrar que foi em grandes focos de concentração de operários como nos seus espaços de moradia que sua organização se tornou possível.

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de 2381 imigrantes. Aumentando consideravelmente a população ponta­grossense 

(op. Cit. p. 111).

A estrutura da cidade possibilitou um novo cenário diante de si.  Um momento 

característico  pelo  empreendedorismo   imigrante  e  pela  necessidade  da  existência  de 

setores do comércio e da indústria. Nesse instante, a geração de oferta de trabalho na 

cidade  foi  condicionante  para a  incidência  da   figura do  operário  na sociedade ponta­

grossense.

Existe   então,   a   importância   de   frisar   esses   índices   sobre   um   período   de 

crescimento da cidade. Sobretudo, isso se torna pertinente para entender as relações de 

produção a partir das transformações ocorridas dentro dela. Francisco Foot­Hardman e 

Victor Leonardi enfatizam a cidade pós­colonial como delimitadora de novas relações de 

produção18,  onde os fenômenos surgidos nessas são protagonizados pela ascendência 

das classes sociais (HARDMAN; LEONARDI, 1991).  Antes deles, o historiador Edgard 

Carone ­ que assenta sua escrita em um viés mais econômico que os autores citados – 

serve, no caso deste trabalho, para complementar tal constatação ao trabalhar o advento 

da República Velha. Ao enfatizar a existência e a formação desses grupos, ele, ainda 

assim, cede notoriedade à forma como cada qual procura modificar a sociedade à sua 

maneira (CARONE, 1978)19.

Por   parte   desses   autores,   os   trabalhadores   aparecem   relacionados 

involuntariamente a tais relações de produção20. Alguns fatores são condicionantes para a 

18  A origem do proletariado fabril  eventos que significaram a criação de novas relações de capital­trabalho na   República  Velha.   Entre   a  abolição  e   a   proclamação   da   República,   onde   uma  massa   trabalhadora substituiu  outra  nas  relações de produção,  a  necessidade  da  imigração e  do êxodo  rural  se   tornaram presentes. Além dessas, as transformações no ambiente de produção geraram outra necessidade destinada ao abastecimento dos mercados e a necessidade do consumo (HARDMAN; LEONARDI, op. Cit.).19 Alguns agentes sociais são identificados na obra de Carone: Oligarquia, Burguesia, Classes Médias e Classes   Trabalhadoras.   Sendo   esses   protagonistas   de   diferentes   fenômenos,   antigos   e   recentes: Exploração   dos   recursos   naturais,   industrialização,   imperialismo,   coronelismo,   monocultura,   latifúndio, partidarização, militarismo, organizações sindicais, entre outros (CARONE, op. Cit.).20 Carone ainda identifica a formação das classes sociais de forma voluntária a sociedade capitalista, por outro lado, sua observação sobre a imigração é a de que esses elementos deixavam seus países e aqui chegavam ocupando a classe operária em segmentos que, muitos vezes, para eles era identificados como distintos de seus afazeres anteriores (CARONE, 1989). Mais precisamente, a existência de diversas colônias de imigrantes em Ponta Grossa não serve simplesmente de indicativo para considerarmos a multiplicidade étnica e cultural da região, mas também para indicar que essas diferentes nacionalidades vieram a compor o proletariado local dentro das fábricas e demais estabelecimentos. A realidade da demografia da época não pode nos indicar como se deveu exatamente essa composição. Beatriz Loner identifica esse fenômeno, ao   trabalhar   a   mobilização   dos   trabalhadores   riograndenses,   identificando   o   perfil   dos   imigrantes   que chegavam na cidade desde o fim do século XIX: “o estrangeiro nem sempre estava capacitado para as 

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existência desse proletariado urbano, Foot­Hardman e Leonardi reconhecem na imigração 

um fator  importante para o proceder do rompimento com as relações escravistas e da 

construção de um filamento para as novas relações livre­assalariadas. O aparecimento 

dessas classes sociais ocorre, não contraditoriamente, no interior das relações produtivas 

– a nascente burguesia, seus investimentos e empreendedorismos são o que favorecem a 

necessidade de um proletariado fabril e urbano.

O grande número de pessoas nas cidades do início do século XX apareceu como 

uma situação proveniente para a circulação de idéias, isso foi um fato considerável nos 

momentos de grande propulsão da industrialização e de políticas de imigração. Inúmeros 

foram os partidos, associações, clubes e sindicatos fundados nesse período e proveniente 

dessa circulação de idéias21.

1.3 Personalidades e Organizações: A imagem do militante.

Nessa conjuntura de crescimento urbano a cidade passou a receber as primeiras 

figuras   que   passariam   a   constituir   as   fileiras   do   movimento   operário,   defendendo 

posicionamentos políticos e compondo as organizações de classe.

Além das entidades criadas, existiam por trás delas personagens característicos 

do  movimento  operário  da  época.    Passaram por  Ponta  Grossa o  internacionalmente 

tarefas   exigidas   nas   fábricas   e   manufaturas   existentes   (...),   a   vinda   desses   elementos   imigrantes   se traduziu, inicialmente, num complicador da situação da classe operária, porque acrescentava, ao já confuso processo de  formação da classe,  novos  trabalhadores,  com hábitos e costumes diferenciados,   línguas, religiões, tradições e aspirações a separá­los” (LONER, 1999, pags. 86 a 88). 21 Alexandre Tomporoski ao trabalhar  a formação do ideário anarquista reconhece que toda organização dos   trabalhadores   era   produto   da   difusão   de   idéias   entre   os   trabalhadores:   " A partir destes grupos, os militantes se organizavam e espalhavam suas idéias. Ali discutiam os problemas e disseminavam notícias de mobilizações, greves e da repressão policial em diferentes partes do Brasil e do mundo. Foram muitos os grupos de propaganda fundados por anarquistas no Brasil das primeiras décadas do   século   XX,   porém,   o   mais   importante,   era   a   cooperação   voluntária   entre   os   pequenos   grupos constituídos nas diferentes e mais distantes regiões" (TOMPOROSKI, 2008, p. 2). 

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conhecido Gigi  Damiani22, o intelectual e jornalista Teixeira Coelho23 e o comerciante local 

Adolpho Paulista24, responsáveis pela difusão do anarquismo na cidade (CHAVES, 1994; 

ARAUJO; CARDOSO. 1992). Damiani e Coelho seguiam o perfil  dos militantes que se 

valiam de vários  pseudônimos,  era   isso  que garantia  sua sobrevivência   já  que eram, 

também,   produtores   de   jornais   operários.   Sua   ironia   aos   temas   religiosos   e   à 

modernidade   era   materializada   em   palavras   ameaçadoras   que   procuravam 

incessantemente desconstruir "verdades absolutas" que eles identificavam como criadas 

por outras  instituições. Suas trajetórias são marcadas pela busca da emancipação da 

classe trabalhadora nas linhas que compunham.

O   primeiro   organismo   de   classe   organizado   em   Ponta   Grossa   foi   o   Círculo 

Socialista “Leon Tolstói”25. Lançando o jornal Onze de Novembro, a entidade estabeleceu 

sua organização pelo jornal operário – essa modalidade daria a sintonia de grande parte 

das organizações que procederam esse círculo, sendo que vale identificar que dessas a 

maioria só  permaneceram no  tempo graças à  sobrevivência de seus periódicos como 

registros históricos.

22  O pintor italiano Luigi “Gigi” Damiani participou da fundação de diversas associações como a Federação Operária   Paranaense   em   1906,   foi   orador   do   I   Congresso   Operário   Brasileiro   no   mesmo   ano,   foi organizador­secretário do I Congresso Operário Estadual em 1907, sendo que a partir daí publicou diversos periódicos  anarquistas.  Segundo Silvia  Araújo  e  Alcina  Cardoso:   “militantes  de outros  centros   também fizeram história no Paraná. É   o caso de Gigi Damiani, jornalista italiano, participante da Colônia Cecília, cuja presença em Curitiba,  nos primeiros anos deste século,   trouxe grande contribuição ao movimento operário local. Chegou ao Brasil  em 1890 e passou alguns anos no Paraná, onde aprendeu o ofício de pintor. Colaborou com o jornal Il Distrito, fundado em 1899 e impresso em língua italiana e portuguesa (...), redigiu A Voz do Dever.  Em 1903,  fundou a  folha  libertária O Despertar,   importante publicação que se estendeu até 1905. Colaborou com os jornais anticlericais O Combate, publicado em 1907, em Curitiba, e O Escalpello, órgão do Centro Livre Pensador, de Ponta Grossa” (ARAÚJO; CARDOSO, 1992, p. 27). Hoje, São Paulo­SP possui uma rua com o seu nome.23  Teixeira Coelho, farmacêutico na cidade, participou do Círculo Socialista "Leon Toltói" e participou da redação dos jornais O Jubileu Operário de 1903 e dos jornais O Escalpello, juntamente com Gigi Damiani, e o Anticlerical. Sendo destacado por Epaminondas Holzmann como: “eminente filólogo, o maior professor do idioma pátrio que a cidade jamais pôde conhecer” (HOLZMANN, 2004, p. 261).24 Adolpho Paulista, erradicado para Ponta Grossa e conhecido como comerciante da cidade, também se destacava como anarquista nas horas vagas. Sendo “um dos sócios fundadores da Sociedade Operária Beneficente de Ponta Grossa, ele era conhecido pelo estilo revolucionário” (BUCHOLDZ, 2007, p. 48).25   Dedicado a memória dos mártires de Chicago de 1886, é lançado o jornal Onze de Novembro com o lema "Paz e Trabalho, Igualdade e União". Sendo esse, um órgão do Círculo Socialista Leon Tolstoi, tinha como redator chefe o já conhecido Teixeira Coelho – personalidade do anarquismo do início do século XX. Segundo   Araújo   e   Cardoso:   ‘’Este   periódico   traz   o   manifesto   do   Partido   Socialista   brasileiro   e   as representações   dos   Estados   no   II   Congresso   Socialista   Brasileiro   realizado   em  São   Paulo,   em  maio. Apresenta uma lista de livros recomendados para o estudo do socialismo científico’’ (ARAÚJO; CARDOSO, op.  Cit.,  p.  47).  Estes documentos anexados ao  jornal  e o   tema demonstram que desde a gênese do movimento dos trabalhadores ponta­grossenses, esse se encontrava atado com uma rede do pensamento internacionalista dos trabalhadores e com as causas que iam desde o 1o. de Maio até a organização dos trabalhadores em sindicatos e círculos políticos. 

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O jornal O Escalpello, orgão do Centro Livre­Pensador se apresenta enquanto 

referência para essa época como um movimento que se representava combativo pelo 

menos em suas linhas ao conceber: ‘’O Centro Livre­Pensador, tendo de propagar o ideal 

do livre­pensamento, pede a todos os que são amigos da Razão, da Justiça e do Direito, 

um auxílio pecuniário para publicações’’ (O Escalpello, 29 de outubro de 1908 apud Op 

cit. p.72).

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FIGURA   03   –   Fotografia   de   Luigi   “Gigi”   Damiani.   Disponível   em: 

<http://anarcoefemerides.balearweb.net/archives/20090518>. Acesso 23/06/2009

FIGURA 04: Time do Foot Operario Club Pontagrossense em 1926

FONTE: Casa da Memória Paraná

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Em Ponta Grossa, além dos censos populacionais e as referências ao contingente 

de operários nas fábricas26 nesse período, constata­se o grande número e a diversificação 

de organizações e entidades operárias fundadas nesse período. Chaves em sua obra se 

destina a retratar o perfil do comércio e da indústria de Ponta Grossa na década de 1920, 

tratando   do   aparecimento   das   organizações   de   trabalhadores   formadas   no   início   do 

século, bem como do florescimento de um centro urbano e industrial na cidade27.

Além do já citado Centro Livre Pensador, em 1908 também era fundado o Centro 

Anti­Clerical.  Na  década  de  1910,   foram  fundadas  a  Sociedade  Operária  Beneficente 

(1911)   e   a   Sociedade   Beneficente   dos   Operários   (1913)   –   sendo   que   as   duas 

protagonizaram a Greve Geral de 1917 em Ponta Grossa.

A  imagem do operário constituído em seu tempo­livre, entretanto, não apareceu 

nesse momento formada apenas pela militância. O lazer também passou a cumprir papel 

importante no cotidiano dos homens e mulheres das fábricas. A fundação do Foot Ball 

Clube   Operário   Pontagrossense   refletiu   o  momento  pós­fábrica,   o  momento  do   ócio, 

condicionado pelas quatro linhas e por um esporte operário em sua essência.

Uma História pode ser  concebida a partir  do preto e branco das  fotografias de 

época, mas também do uniforme alvi­negro do mais tarde apelidado “Fantasma da Vila”, 

isso por assombrar os times da capital paranaense.

A formação da classe operária estava estampada naquelas camisetas distribuídas 

após o serviço, na lida dos trilhos. Desciam os funcionários naqueles finais de tarde das 

oficinas para jogar bola.

Sua fusão com Club Atlético Ferroviário e a renomeação para Operário Ferroviário 

26 Para complementar essa contatação alguns autores se tornam necessários. Segundo Maria Aparecida Cezar Gonçalves  e  Elisabete  Alves Pinto   ‘’a  expansão  industrial  e  comercial  esteve  (...)  vinculada  aos imigrantes. Estes, após experiências vivenciadas em outros locais que lhes favoreceram ultrapassar a fase de ajustamento próprio do processo, alcançaram pouco a pouco posição considerável na estrutura sócio­econômica da  região’’.  Esse recorte serve para exemplificar  a  importância não só  dos  imigrantes,  mas também   dos   trabalhadores   urbanos   para   esse   momento   que   cidade   vivia   (GONÇALVES;   PINTO,   op. Cit.1983). Sobre o mesmo período, segundo Chaves, dezenas de empresas estabeleceram­se na cidade nas duas primeiras décadas do século XX. ‘’Entre as indústrias mais antigas que se instalaram na cidade, estão  aquelas   que  se  vinculavam  ao  beneficiamento  da  erva­mate  e  da   madeira,   produtos   típicos   da economia paranaense daquele momento, e que acabaram encontrando em Ponta Grossa um ambiente favorável  para o seu beneficiamento e  comercialização’’   (CHAVES, 2006).  Ainda,  segundo Chaves,  ele indica que ‘’dos 1.632 estabelecimentos industriais existentes em todos Estado, 75 estavam fixados   em Ponta Grossa, ou seja, 5,5% do total das indústrias registradas (…) Em 1934 Ponta Grossa contava com 724 casas comerciais e com 253 indústrias’’ (op. Cit., 2001).27 Niltonci Chaves em sua obra "Do Centro Commercio e Industria ao Selo Social", exalta a participação dos trabalhadores nesse processo a partir de eventos construídos com a participação popular de moradores locais e imigrantes (Op. Cit., 2006).

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Esporte Clube, precisamente em 1933, demonstrou como a força do operário poderia ser 

aplicada além do funcionamento da linha do trem, além do sindicalismo, mas também no 

chute de uma bola de capotão entre os  terrenos de propriedade da Rede Ferroviária, 

localizada na vila Oficinas. Foi num desses locais que mais tarde se instalou o Estádio 

Germano Kruger (RIBEIRO JÚNIOR, 2004).

 

 1.4 A militância no papel: A pena de Hugo dos Reis

Segundo Epaminondas Holzmann, o nascimento da imprensa em Ponta Grossa 

apareceu representado por diversos jornais de vida efêmera como foi o caso de jornais 

como O Percursor, O Campos Gerais ­ nascidos no final do século XIX ­, O Comércio, O 

Pontagrossense (os dois de 1895), Futuro do Paraná (1899), Ponta Grossa (1903), Luz 

Essênia e O Pigmeu – ambos sem ano de lançamento definido (HOLZMANN, 2001. p. 

261). Registre­se que Teixeira Coelho, personalidade anarquista, foi o grande apoiador da 

maioria absoluta desses títulos, isso sem remeter aos também inúmeros jornais operários 

e  de  cunho   classista   anteriormente  mencionados  e  que,   infelizmente,  não   são  muito 

lembrados quando o assunto é imprensa nos Campos Gerais

27 de abril de 1907: é lembrado como o dia de lançamento do primeiro número do 

jornal O Progresso, que em 1913 se tornaria Diário dos Campos. Conhecido e tendo em 

seu corpo editos personalidades como Hugo dos Reis28, que é até hoje recapitulado como 

jornalista e por ações que o aproximaram dos trabalhadores locais – responsável inclusive 

por inúmeras notas em favor da classe da qual se definia como defensor.

Apoiador da campanha civilista de Rui Barbosa29, Hugo Reis, procurou favorecer a 

28 Hugo Mendes de Borja Reis nascido no Rio de Janeiro, chegou em Ponta Grossa em 1908. Reconhecido como socialista, anticlerical e espírita, é representado na obra de Epaminondas Holzmann com sua gravata borboleta e seu chapéu coco sobre seu cabelo encaracolado e seus bigodes, foi secretário do Diário dos Campos – que até 1913 era chamado de O Progresso ­  destacado como importante redator e apoiador do movimento operário nas páginas do jornal princesino. De escrita cívica, se auto­proclama como um defensor do Paraná e da cidade de Ponta Grossa – sendo que junto com o fundador do periódico Jacob Holzmann e demais apoiadores do jornal como Eliseu dos Campos Mello e João Dutra – se comprometeu em ampliar e difundir  o programa do  jornal  na cidade, sendo que esse no  início não teve apoio,  demorando em ser reconhecido por toda sociedade ponta­grossense (HOLZMANN, 2004). 29 Segundo Wilson Cano: "Rui Barbosa, em sua campanha civilista de 1910 (...) dando ênfase à questão das baixas condições sociais e econômicas da vida da maior parte da população trabalhadora (...) tentara catalisar esses anseios (morais, éticos, sociais e políticos)" (CANO, 1998, p. 250). Embora, essa temática de defesa dos direitos civis parece a primeira vista ter sido o motivo que favoreceu Hugo Reis a apoiar Rui Barbosa, é   indicado ainda que esse último percorreu o país  todo buscando apoio a sua campanha se opondo a política do "café com leite". Além de sua imagem enquanto jornalista, diplomata e político muito se 

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imagem da classe operária em muitas páginas do periódico. No final da primeira década 

do século XX, Reis publicou uma nota em que o povo era o protagonista principal da 

participação política em nível nacional e ligando suas ações a símbolos pátrios

Foram os vapores mínimos de uma lágrima mínimos de uma lágrima.Fora a lágrima do Presidente.A tormenta chama­se Povo.Essa lágrima chama­se Liberdade.Ponhamo­lo de pé, num bloco marmóreo, a cabeça reclinada sobre o peito,onde palpitava, pela pátria e pelos patrícios,másculo coração a dizer aos brasileiros:O direito de revolução é um direito dos povos! (O Progresso apud HOLZMANN, op. Cit.)

Diversos autores que estudaram o personagem o indicam como sujeito polêmico 

para a sociedade da época. Holzmann ao considerar Hugo dos Reis um denunciador das 

elites   locais,   inclusive   descreveu   um   episódio   onde   "diversos   figurões   da   política 

dominante,   e   outras   pessoas   que   desfrutavam   de   alto   conceito   na   sociedade   local" 

juntamente com "uma dezena de conhecidos arruaceiros com passagem pela polícia" 

investiram golpes contra ele e o então redator­chefe do ainda chamado O Progresso em 

frente à sede do próprio jornal (op. Cit. p. 273). 

Apesar de serem reconhecidos de tal   forma, nenhum nome aparece citado na 

obra de Holzmann, porém, esse dedica um parágrafo a outros membros da política local 

que   defenderam   Reis  e   Dutra   contra   aquele   atentado   contra   o   que   ele   chamou   de 

atentado à "imprensa livre". Entre eles, Holzmann cita o nome do conhecido industrial e 

assemelhar com o semblante de Reis num caráter de maior amplitude e de seu discurso ser sempre dirigido às classes sociais menos favorecidas.

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político Henrique Thielen30 e do renomado político e paranista Brasil Pinheiro Machado31. 

Homens  ligados a um grupo político em Ponta Grossa e que possuíam  influência na 

cidade32.  

Essa passagem do texto de Holzmann, colocando­o próximo a personalidades 

políticas, marca mais uma discussão sobre o personagem Hugo dos Reis ­ considerado 

polêmico por sua postura e identificado como "socialista" nas linhas do jornal donde fora 

redator e secretário. 

O interessante é perceber que apesar de ser identificado com tal postura política e 

por posicionar­se nas páginas do jornal contra políticos locais, Hugo dos Reis possuía 

30 Segundo Cirlei Francisca Carneiro e Joselfredo Cercal de Oliveira Neto: "Henrique Thielen, natural  da Alemanha,   após   ter   morado   em   Curitiba   radicou­se   em   Ponta   Grossa   como   empresário   sócio   e, posteriormente, tornou­se proprietário da Fábrica Adriática de Cervejas" (CARNEIRO; OLIVEIRA, 2004, p. 99). Alguns autores já consideraram a personalidade de Thielen por diversas características, considerando a injeção   de   capital   por   parte   desse   imigrante   alemão   na   região   e   sua   influência.   "Simbolicamente,   a Cervejaria Adriática,   fundada em 1893 por Henrique Thielen,  configurou­se como o marco  inicial  desse processo (...). Contando com maquinarias e com técnicas trazidas por Thielen da Alemanha, a Cervejaria tornou­se referência entre os industriais locais, ao mesmo tempo em que seu proprietário" (CHAVES, 2006, P. 31).  Sua personalidade partiu de um modelo de produção moderno para aquela época, sendo esse desenvolvido na maior indústria da cidade. A imagem de Thielen projetada em escalas superiores a "Fábrica de   Cervejas"   ­   como  era  chamada   em  sua   fachada   –   ficou   reconhecida   como   um  dos   exemplos   de imigrantes pelos méritos de seu sucesso enquanto empreendedor. Chaves ainda diagnostica um elemento relevante   ao   crescimento   da   indústria,   relacionando   isso   ao   tratamento   do   empresário   para   com   os empregados da   fábrica:   "Em 1919,  Henrique  Thielen   transformou a Cervejaria  Adriática  em Sociedade Anônima, dotando­a assim de um maior poder econômico e, conseqüentemente, garantindo a expansão de suas atividades. Quando isso ocorreu, a área física ocupada pela indústria era de 3.500 metros quadrados. Cerca   de   120   operários   trabalhavam   na   Adriática,   todos   protegidos   por   seguro   da   Companhia   Lloyd Industrial  Sul  Americano,  uma   raridade  para  aquela  época"   (op.  Cit).  Essa  particularidade  condiz  não exclusivamente com uma preocupação com os operários da fábrica, mas também com um olhar visionário da indústria. Pensando que qualquer debilidade física do operário cervejeiro acarretaria num tempo contado de prejuízo para a fábrica, um auxílio a qualquer tipo de dano que condicionaria na paralisação das funções do indivíduo na fábrica se transforma, nesse caso, numa circunstância de seguro para a produção da fábrica e não simples e unicamente uma forma de proporcionar segurança ao proletariado da empresa.31 Segundo o Dicionário Histórico e Geográfico dos Campos Gerais, Brasil Pinheiro Machado: “nasceu em Ponta Grossa (PR), em 1907. Fez seus estudos iniciais na cidade natal e, posteriormente, no Liceu dos Padres   Salesianos,   em  São   Paulo.   Em   1926,   ingressou   na   Faculdade   de   Direito   do   Rio   de   Janeiro, concluindo o curso de Ciências Jurídicas e Sociais em 1930. Iniciou­se no magistério em Ponta Grossa, como professor e diretor do então Ginásio Regente Feijó. Afastou­se da profissão para exercer funções administrativas,   legislativas   e   jurídicas.   Foi   Prefeito   nomeado   em   Ponta   Grossa,   Deputado   Estadual, Procurador Geral do Estado e Interventor do Paraná. Retomou sua carreira de magistério como Professor de História do Brasil, na Universidade Federal do Paraná, onde também exerceu o cargo de vice­reitor. Na juventude, pertenceu ao movimento modernista inicial, em especial ao Grupo Antropofágico. Sua poesia data dessa época e revela bom gosto e equilíbrio, sem os exageros experimentais que caracterizaram a fase, adquirindo, em conseqüência, sempre atualidade. Não deu prosseguimento a sua atividade poética, mas desenvolveu trabalho de cunho literário na revista Joaquim. Faleceu em 1997 (UEPG, 2009). 32 Nesse caso, apesar de não ser objeto desse estudo, a pergunta que cabe é: Considerando que Hugo Reis possuía o apoio de políticos e industriais de Ponta Grossa, essa referida elite não seria simplesmente mais um grupo político que se contrapunha a ele e que o apoiava? Além do mais, Hugo Reis pode ser identificado por uma postura política que pode ser considerada por alguns referenciais como contraditória com sua linha conciliadora das classes sociais.

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ligações bem estabelecidas com membros do empresariado. Interessante aí é perceber 

que Hugo Reis apesar de ser indicado em outras leituras como um "socialista contestador 

das   elites   locais",   ele   acaba   aparecendo   apoiado   por   outros   membros   da   classe 

empresarial e que pertenciam a um grupo político específico. 

A figura de Reis, entretanto, não se apresenta simplesmente sobre as polêmicas 

das folhas dos jornais. O evento de maior aparecimento de Reis, não só como redator do 

Diário, mas também como o militante que foi durante a Greve Geral de 1917.

 1.5 Entre o subversivo e o conciliatório: Ponta Grossa e a Greve Geral de 1917

A   categoria   “trabalho”   se   apresenta   como   um   elemento   importante   para   o 

desenvolvimento da sociedade. Sempre se apresentaram pontos de negociação e conflito 

entre diversos grupos interessados na divisão social do trabalho e na produção e difusão 

dos bens de consumo. 

Entre   trabalhadores   e   patrões,   podemos   considerar   as   relações   de   capital­

trabalho construídas culturalmente, mas a partir de interesses distintos. Enquanto para o 

patrão a alta produtividade deve condizer com compra de mão de obra barata, para o 

trabalhador a mínima produção deve ser relativa ao encarecimento de sua mão de obra. A 

ambigüidade gerada é precedente e motivadora de acordos entre ambas as partes – o 

que vem a gerar um "jogo" regido por um conjunto de regras pró­estabelecidas33.

Se esse embate se encontra no cotidiano de trabalho, pensemos então a greve. O 

ano de 1917 elaborou todo um cenário de luta de classes no Brasil. Alguns pesquisadores 

ainda  descrevem aquele  acontecimento  como  a  materialização  do  conflito  entre   uma 

classe   dominante   e   o   proletariado34.   O   espetáculo   incitado   entre   trabalhadores   e 

33  Segundo Eric  Hobsbawm:  "a  questão era  que  nem os  patrões nem os   trabalhadores   reconheciam completamente as regras do jogo" então cabia a ambos estabelecer tais regras (HOBSBAWM, 2000, p. 403).  O  jogo se colocava sobre  a  mesa,  mas essas   regras eram definidas pelos  dois   lados da mesa culturalmente. O cultural, aliás, é encarado de forma distinta para o autor, o costume também é regulador do mercado e das relações de produção.34  Tomporoski faz uma consideração interessante sobre o trajeto de greves nesse período: "Os anos de 1917   a   1920   costumam   ser   identificados   como   o   período   de   maior   ascensão   do   movimento   operário brasileiro, especialmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. No entanto, as greves e enfrentamentos deflagrados nesses anos ocorreram concomitantemente em diferentes regiões do país e, muitas vezes, com uma relação significativa entre movimentos geograficamente afastados" (TOMPOROSKI, op. Cit.). Diversos autores  já  citados, complementam tal discussão ao afirmar que nesses anos se concentram um grande desenvolvimento   por   parte   da   indústria   em   diversos   locais   onde   se   sediavam  grandes   concentrações urbanas e  industriais  (FAUSTO, 1976; CARONE, 1978; HARDMAN; LEONARDI,  1991; CUBERO, 2004). 

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empresários foi marcado por reivindicações de melhores salários e melhores condições 

de trabalho (HARDMAN; LEONARDI, op. Cit.). 

Em Ponta Grossa, as manifestações foram marcadas pela organização de um 

comitê de Greve. Sendo que o proletariado regional tinha como principais porta­vozes a 

Sociedade Operária Beneficente e a Sociedade Beneficente dos Operários.

FIGURA   05   –   Greve   Geral   de   1917   em   Porto   Alegre­RS   <Disponível   em: 

http://www.chekov.org/anarcho/index.php>

Participante da greve de 1917, o jornalista Hugo dos Reis, sobretudo, é conhecido 

pelos autores já discutidos como personagem conciliador das classes sociais em Ponta 

Grossa.   Como   intelectual,   apoiando   ambas   as   instâncias   de   organização   –   tanto   a 

fundação  do  Centro  Commercio  e   Industria  quanto  a  criação  da  Sociedade  Operária 

Beneficente, da qual fora presidente honorário inclusive durante o período da greve. 

Durante esse evento, inúmeras notas são escritas no jornal Diário dos Campos 

favorecendo a imagem do coronel Brasílio Ribas, descrito como “advogado e (...) paladino 

dos sacratíssimos direitos da família operária”. O jornal ainda descreve o estancieiro como 

recebido   na   reunião   do   operariado   com   "os   mais   estrondosos   aplausos"   (Diário   dos 

Campos, 22/07/1917). 

Trazendo essa questão para Ponta Grossa, percebemos esse mesmo fenômeno se encontra na pauta de alguns pesquisadores que estudaram a época, sendo que esses consideram tal momento pela ocupação do quadro   urbano   da   cidade   pelo   comércio   e   pela   indústria   (DITZEL;   SAHR,   2001;   CHAVES,   2001; MONATIRSKY, 2006).

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Essa passagem intensifica  a discussão em  torno do papel  que Brasílio  Ribas 

compunha no jogo político da cidade naquele instante. Após a eleição de 1916, houve o 

que   foi   chamado   de  "dualidade   de   prefeitos".   Foram   eleitos   o   médico   e   empresário 

Abrahão Glasser e Brasílio Ribas para o executivo municipal, mas o governo estadual 

nomeou esse último até novas eleições.

Em março de 1917,  elege­se Glasser – Ribas acaba participando das reuniões da 

comissão de greve como "representante da Prefeitura" (Presidente da Câmara) mostrando 

que tal dualidade persistiu na execução do poder municipal. Tal dualidade persiste não 

apenas na ocupação dos cargos administrativos locais, mas também na construção da 

imagem dos dois políticos: Adão Glasser, médico, se destaca por sua feição urbana e 

Brasílio Ribas, coronel e estancieiro, se afigura numa face rural.

O primeiro registro da manifestação dos trabalhadores acontece em 21 de julho 

de 1917, quando o Diário dos Campos lança nota das reivindicações dos trabalhadores 

princesinos, sendo que essas também foram entregues ao então prefeito:

O que desejamos é o seguinteJornada   de   8   horas.   Abolição   completa   de   multas.   Impedimento   de   crianças menores de 14 anos no trabalho. Impedimento de moças de menos de 21 anos. Os que ganharem por dia terão a tabela mínima de 5$000 os poe horas 800 rs. Abolição dos trabalhos noturnos exceptuando se os necessários trabalhando de 6 horas. O patrão não pode dispensar os empregados sem aviso prévio de 18 dias, dando em cada dia 1 hora de folga para procurar trabalho. A responsabilidade dos patrões   nos   incidentes.   Creação   de   um   jardim   de   infância   e   proibição   aos industriais de terem carroças para não tirar ganho dos carroceiros. A extinção das caixas beneficentes obrigatórias como as de bond e estrada de ferro. A redução dos   impostos   para   os   operários   em   geral.   As   8   horas   de   trabalho   do compreendidas  da 7  as  11,   tendo duas  horas,   tendo  duas horas  de descanço depois  de 1 as 5.  Redução do preço dos gêneros alimentícios.  Exigir  a  baixa imediata da farinha de trigo e assucar. Diminuição dos preços de aluguel de casa. Pagamento dos salários 5  dias após o vencimento do mês.  Exigir  do governo fiscalização dos gêneros alimentícios.  Abolição dos  trabalhos de peça. Higiene nas fabricas. Lei de reversão dos trusts. Leis para a criação do montepio e seguro operário;   contra   o   álcool   e   a   prostituição.   A   Sociedade   acha­se   em   sessão permanente.A COMISSÃO(op. Cit. 21 de julho de 1917)

Niltonci Chaves, ao falar da greve, registra os ferroviários como a categoria que 

liderou o movimento grevista. O calendário de manifestações aparece como integrado ao 

cotidiano de greves do país todo, considerando que o início da greve se ocasiona um dia 

antes da publicação das reivindicações dos ferroviários (20 de julho de 1917) quando 148 

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operários35 paralisaram os trens da ferrovia alegando a questão salarial e o tratamento do 

chefe dos operários, o encarregado Evaldo Kruger.

As   edições   do  Diário   dos  Campos  detalharam  a  greve   diariamente   em   suas 

páginas, entretanto não se registra os trabalhadores da ferrovia como oradores principais 

da Sociedade Operária Beneficente36 – sendo que figuras como Hugo dos Reis, Brasílio 

Ribas, Capitão Paschoalino Provesiero, Dr. Flavio Carvalho Guimarães, Tenente Alberto 

Manhães Flores são registradas a todo momento nas páginas do periódico.

Complementando as ações da entidade, Chaves destaca essa como "controlada 

por   segmentos   da   elite   local   bem   como   por   pessoas   ligadas   a   doutrina   espírita’’ 

(CHAVES, op. Cit., p. 158). O comprometimento dos diretores da Sociedade com certos 

grupos políticos da época era tamanho que Chaves chega a considerar a greve como de 

caráter   extremamente   ‘’moralista’’   e   de   manutenção   da   ordem   vigente,   a   postura 

desenvolvida   pela   entidade   inclusive   é   compreendida   como   contraditória   já   que 

contrapunha   o   Estado   e   os   capitalistas   porém   afirmando   a   defesa   à   ordem   e   à 

propriedade.

Ao falar das atas ele complementa: "Elas revelam todas as ações cotidianas do 

movimento, deixando transparecer o choque ideológico entre seus líderes, a influência de 

setores patronais sobre os rumos da greve e os desdobramentos das ações em todo 

Paraná" (CHAVES, 2006, p. 70). Esse choque foi relevante para demonstrar que apesar 

do controle social dos setores patronais, a greve possuía líderes que se contrapunham à 

ordem vigente.

Essa influência dos setores patronais sobre a greve foi de tal forma presente que 

o  autor   chega  a  destacar   a   liderança  e  a   veiculação   do  movimento  na   mídia   como 

35  Apesar   desses   números   serem  apresentados  especificamente  para  a   cidade  de   Ponta   Grossa,   foi estimado   que   cerca   de   1000   trabalhadores   participaram   na   greve   no   país   todo.   As   manifestações   e paralisações   atingiram   as   principais   cidades   do   Brasil.   O   caso   específico   dos   148   ferroviários   que paralisaram a estrada de ferro serve para reafirmar algo constatado por diversos autores, os ferroviários da São Paulo­Rio Grande foram responsáveis por diversos estopins que representaram seu inconformismo para com as condições de trabalho daquela época. Ponta Grossa como terminal dessa linha­férrea e por possuir um número considerável de ferroviários, possuiu posição privilegiada na Greve Geral de 1917.  36 Apesar de constatar os ferroviários enquanto uma das primeiras categorias a se organizarem no Brasil a partir   de   grandes   movimento   grevistas,   Claudia   Monteiro   em   sua   dissertação   "Fora   dos   Trilhos":   As experiências da militância comunista na Rede de Viação Paraná­Santa Catarina (1934­1945) considera que "a união a outras categorias e a adesão a movimentos grevistas nacionais eram também motivo para a deflagração de greves. As duas maiores ocorridas no Paraná, no período da Primeira República, em 1917 e 1919, foram protagonizadas pelos ferroviários, mas também envolviam outras categorias, como padeiros, telefonistas, tipógrafos e operários das fábricas" (MONTEIRO, 2007, p. 36).

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‘’paternalista’"37. É possível se produzir uma sintonia entre todos os movimentos forjados 

na primeira década do século XX e os movimentos que significaram a Greve Geral de 

1917   em   Ponta   Grossa.   Os   movimentos   socialistas,   anarquistas,   anti­clericais   e   de 

diversas  tendências   também consideradas  ‘’perniciosas’’  e   ‘’subversivas’’  à  sua  época 

parecem ter produzido a essência da reação de controle aos próprios movimentos38.

Apesar  de   tal   controle  social  e  no  que   tange o  cenário  de   lutas  sociais  pela 

participação na greve, o que se evidencia nos operários ponta­grossenses foi que eles 

foram construindo sua própria experiência enquanto parte de um movimento de massas. 

Acontecimentos como esse são um indicativo que demonstra que os trabalhadores não só 

criavam e desempenhavam um papel  no  interior  da  fábrica,  mas  também procuravam 

construir sua imagem política nas ruas e perante todo o semblante da sociedade.

1.6. "A União faz a Força": a experiência do proletariado na década de 1920.

No ano final da década de 1910, estoura outra greve. Puxada pelos ferroviários 

acaba tendo adesão de trabalhadores de vários setores da indústria local. Um manifesto, 

divulgado no jornal Diário dos Campos, em nome da Comissão de Grevistas atentava os 

trabalhadores para não se intimidarem com ameaças provindas de seus superiores ou de 

iludirem­se com "falsas  promessas".  Segundo Chaves:   ‘’Esse alerta  demonstra  que o 

movimento de 1917 serviu para dar uma certa experiência aos operários’’ (op. Cit. p. 160). 

37 Quando Michelle Perrot  trabalha o paternalismo na administração industrial ela diz que esse possui três traços principais que o caracterizam: ‘’1) a presença física do patrão nos locais de produção, preconizada pelos primeiros industrialistas (...) e visível no projeto de muitas fábricas de primeira geração (...). 2) As relações sociais do trabalho são concebidas conforme o modelo familiar: na linguagem da empresa familiar o patrão é  o pai, e os operários os filhos, na concepção do emprego que o patrão deve assegurar aos operários, na prática cotidiana do patronato (...). 3) Os trabalhadores aceitam essa forma de integração e até a reivindicam. Eles têm a linguagem e o espírito da ‘casa’; têm orgulho em pertencer à empresa com a qual se identificam’’ (PERROT, 1988). Nesse sentido, E.P. Thompson nos mostra que o paternalismo pode ser ‘’um componente profundamente importante, não só da ideologia, mas da real mediação institucional das relações sociais’’ (THOMPSON, 1988. pág. 32).38 Adolpho Paulista, identificado como um importante personagem da militância de uma época é conhecido por   também participar  da  Greve  Geral   de  1917,  especialmente  onde,  em uma  manifestação  na  Praça Floriano Peixoto, tentou erguer uma bandeira que lembrava a simbologia anarquista – da qual era seguidor. Contido  pela  polícia  e   inclusive  por  membros  do  movimento  grevista,   chegando até   a  ser  expulso  do conselho   de   greve   com   a   justificativa   de   que   aquela   era   uma   "ação   pacífica"   e   que   "desordens"   e "distúrbios" comprometeriam o "sagrado interesse do operariado ponta­grossense" (BUCHOLDZ, op. Cit. p. 49).  A ata  da Sociedade Operária  Beneficente  justifica   tal  atitude explicitando que a ação de Adolpho Paulista transformaria "uma greve pacífica e ordeira em uma franca revolução ou movimento subversivo" (Sociedade   Operária   Beneficente,   20   de   julho   de   1917).   O   que   também   chama   a   atenção   é   que   a intervenção da polícia que parecia escoltar e controlar a direção dada a manifestação.

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Entendemos nas palavras do autor que esse alerta parecia uma tentativa de negar a 

influência dos patrões no movimento grevista.

O   próprio   Diário   dos   Campos   muito   serviu   como   veículo   de   informação   aos 

operários princesinos. Foram naquelas páginas que se encenaram diversos artigos e até 

debates   tematizando   o   operário   ponta­grossense.   Entre   essas   notas   estavam   postas 

algumas   linhas   de   J.   Barbosa,   um   pseudônimo   de   algum   autor   de   vários   artigos 

publicados  no Diário,  onde se  auto­proclamava  "defensor  dos oprimidos"  e  procurava 

defender a classe trabalhadora das "garras da miséria". 

Ainda no ano de 1920, esse autor publica uma árdua nota em que referendava 

sua defesa aos operários, traçando em suas linhas um grito que para ele parecia estar 

interrompido na garganta dos operários do país todo

Se bem que  reconheça serem infrutíferas  todas as minhas palavras nas quais procuro seja melhorada a situação da classe pobre, não deixarei de continuar a algumas   linhas   para   satisfazer   não   somente   aqueles   que   me   queiram compreender como também julgo cumprir  uma missão, se é  que no Brasil  um operário pode manifestar o seu modo de pensar (op. Cit., 25/08/1920).

A República Velha, rompida pela instabilidade econômica e social em todo país 

era representada de tal forma em diversas esferas da sociedade que partilhavam de um 

descontentamento. Diversos são os eventos em meio à década de 1920 que explicitam tal 

situação, como foi o caso da Revolta do Forte de Copacabana (1922), a Revolução de 

Isidoro (1924) e a Coluna Prestes (1926).

A   organização   dos   movimentos   sociais,   dos   trabalhadores   em   sindicatos, 

associações e outros coletivos aparecem também para alguns autores como reflexo de 

uma discordância com o sistema político vigente. Nicolau Sevcenko considera o período 

que percorre do início da República Velha até o final da década de 1920 como um período 

de   intensas   mudanças  –   caracterizadas   por   uma   revolução   científica­tecnológica, 

entretanto, partilha da idéia de que a adaptação de princípios republicanos estrangeiros e 

de ideais que promulgavam um "governo do povo" se manifestou num estado truculento 

com a própria população do Brasil (SEVCENKO, 1998).

Para Wilson Cano, essa vicissitude de ocorrências não se manifestou apenas em 

segmentos econômicos da sociedade, mas também nas diversas transformações sociais 

visíveis   nessa   época.   Sem   permear,   porém,   qualquer   dicotomia   entre   base­

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superestrutura,   o   autor   condiciona   tais   transformações   em   diversos   indicativos   da 

existência social  e  em eventos  como greves,  movimentos  artísticos,  civis,  patronais  e 

militares, criação de partidos políticos e organizações trabalhistas (CANO, 1998).

Em Ponta Grossa, os trabalhadores continuaram a se organizar em suas fileiras ­ 

sendo até convocados a atingir um certo nível de organização. No 1º de Maio de 1927, o 

intelectual e jornalista Hugo Reis destinou sua fala aos operários: ‘’Se o operariado ponta­

grossense quiser alcançar algum progresso na vida social, é mister que se una, porque 

governo algum dará ouvidos a uma classe que não tem organização’’ (Revista Operária, 6 

de abril de 1929 apud ARAÚJO; CARDOSO, op. Cit.).

As   palavras   de   Hugo   Reis   pareciam   direcionar   o   movimento   operário   em 

caminhos pautados na  justiça social  e  na   igualdade entre  mulheres  e homens.  Entre 

essas   trajetórias,   suas   palavras   reforçavam   a   organização   e   a   união   da   classe 

trabalhadora em torno de suas próprias causas.

A   Revista   Operária,   de   1929,   segue   essa   linha   na   tentativa   de   politizar   os 

operários ponta­grossenses. Sob o  lema ‘’A União faz a força’’,  o  jornal convocava os 

trabalhadores de Ponta  Grossa a diversas  reuniões,  palestras,  assembléias  e  demais 

eventos   promulgando   a   égide   de   que   somente   unidos   os   operários   teriam   suas 

reivindicações atendidas (op. Cit.).

Silvia Araújo e Alcina Cardoso descrevem o jornal que possuía a direção de José 

Deslandes de Souza39, Adejamiro Cardon40 assim

[possuía] fotos, o primeiro número desta revista é uma homenagem aos operários e  intelectuais que trabalharam para a classe como Hugo Reis,  José  Cadilhe e Alberto Lopes. Anuncia e prepara a fundação do Centro Operário Pontagrossense (ARAÚJO E CARDOSO, 1992).

39 José Deslandes de Sousa, conhecido nas atas como membro e redator do Diário dos Campos na época, foi aclamado como primeiro presidente do Centro Operário Cívico e Beneficente no dia 28 de abril de 1929. Por carência de fontes, nenhum dos acervos particulares e públicos de Ponta Grossa possui as edições dos anos de 1924 a 1932.  Apesar da homenagem ocasionada nas páginas da Revista Operária, as atas do Centro não demonstram qualquer ligação de Deslandes de Sousa com o jornalista paulista Hugo dos Reis. Embora seja importante diagnosticar que a herança da participação de intelectuais e jornalistas aparece mantida na trajetória do movimento de trabalhadores ponta­grossenses.40 Adejamiro Cardon, aclamado como primeiro Orador do Centro, está registrado no livro de inscrições de sócios   como   trabalhador  da  Livraria   Modelo,   sendo  que  há   probabilidade  de   nessa  condição   ter   sido proprietário do estabelecimento. Seu nível de intelectualidade pode ser explicitado nas atas em discursos fervorosos direcionados a pátria e aos direitos do operário, sendo que também publicara artigos na Coluna Operária do Diário dos Campos.

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A Revista serviu para anunciar uma nova etapa do movimento operário em Ponta 

Grossa, essa proclamação serviu para fundamentar a fundação de uma nova entidade 

que agrupasse os trabalhadores e suas trajetórias. A união era a palavra­chave para a 

fundação dessa entidade que prometia,  sob o  júbilo  dos operários,  a  organização da 

classe em torno do que eles já chamavam de Centro Operário.

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CAPÍTULO II

“HOMENS DO TRABALHO”: A REPRESENTAÇÃO DO OPERÁRIO NAS ATAS DO 

CENTRO OPERÁRIO, O DISCURSO E AS RELAÇÕES SOCIAIS.

"homens úteis à Família, à Pátria e

sociedade em que vivem"

(Professor Roberto Mongruel da Escola

Operária)41

Solenidade   de   inscrição   dos   membros   do   Centro   Operário   e   aclamação   de   sua 

primeira   Diretoria,   28   de   Abril   de   1929:  ‘’Data   tão   cara   para   o   homem   do   trabalho 

[inclusive] para os operários de Ponta Grossa, mais grata ainda, pois que o Centro de sua 

classe, iria ter naquele dia sua instalação oficial’’, era assim referido o dia 1o. De Maio 

pelo secretário Affonso Braune. O punho do secretário da diretoria escrevia e compunha 

um discurso marcando a data de fundação do Centro Operário para uma grande festa do 

dia do trabalho. 

Essa   citação   é   mais   um   recorte   do   que   sobrou   daqueles   momentos,   reuniões, 

solenidades e assembléias compostas por trabalhadores e membros da sociedade civil ­ 

as atas revelam o cotidiano operário. Todas registradas e aprovadas pelos membros da 

Diretoria   e   do   Conselho   Fiscal42,   isso   num   primeiro   instante   pode   definir   o   peso   de 

participação dos operários em um tipo de organização que carregava consigo um nome e 

que produzia um discurso que era direcionado ao amparo do próprio operário.

41  Nas palavras do professor Roberto Mongruel, os operários somente seriam úteis a nação e às suas famílias por meio da educação. Seu discurso sobretudo se pautava dentro da assembléia que tratava da fundação da Escola Noturna dos Operários.  Essa instituição fazia parte das atividades beneficentes do Centro e seu prédio seria doado pela Prefeitura Municipal e instituída pelo Governo do Estado. O horário noturno da Escola não interferia  no horário da jornada de trabalho de grande parte dos operários ponta­grossenses. (C.O.C.B. Ata 04).42 A primeira diretoria foi formado por: José Deslandes de Souza, Presidente; Francisco Vitalino Barboza, Vice­presidente; Affonso Braune, 1º. Secretário; Armando Max Vosgrau, 2º. Secretário; João Ferigotti, 1º. Tesoureiro; Alcides Fernandes, 2º. Tesoureiro; Adejamiro Cardon, 1º. Orador; Máximo Leopoldo Arruez, 2º. Orador. Sendo o conselho fiscal formado por Albino Wiecheteck, Presidente; João Perantunes, Secretário; Manoel Matheus da Costa, Annibal da Silva Assumpção, Francisco de Souza Nunes, João Schmidt Filho, Augusto   Cunha,   Franscisco   Pavalech,  Paulo   Ferreita   do   Valle,   Bernardo   Holck,  David   Cardon  e   João Quadros.

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FIGURA 06 – Fotografia digitalizada da Ata No. 12 do Centro Operário 

FONTE: C.O.C.B. Atas de 1929.

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Dentro do recorte previsto pela pesquisa se totalizam 24 atas disponíveis na Casa da 

Memória  Paraná.  Essas atas,  antes  encontradas na antiga  sede do Centro  Operário, 

passaram por um processo de higienização e catalogação. Entre o conteúdo das fontes, a 

coletividade   aparece   provida   de   práticas   situadas   e   previstas   nos   eventos   que 

proporcionaram sentido a existência de um Centro Operário.

Para além de identificar a existência desses documentos, uma análise apurada não 

satisfaz e não propõe apenas entender a posição que essas atas cumpriam dentro da 

entidade. Esse sim, seria um trabalho mais rápido, mais reduzido e mais fácil de fazer. 

Entretanto,   em um outro  caso,   não   se   torna   suficiente  apenas   transcrever   o   sentido 

político e social que fora disposto ao cotidiano do movimento operário, mas sim, resgatar 

no registro dos autos como era constituído aquele movimento.

O intuito do trabalho, nesse caso, é ligar o texto das atas com o contexto no qual foram 

produzidas. Perceber as atas como indicativos de sociabilidade,   sendo essa articulada 

pelos membros do Centro para influenciar as atividades coletivas da associação43. Antes 

do ponto final, os questionamentos colocados e suas resoluções não destinam a pesquisa 

a um meio caminho, ou seja, antes de apenas constatar a existência de fenômenos e 

problemas se torna necessário e interessante demonstrar como esses foram construídos 

no enredo do Centro Operário.

É preciso constatar como tais atividades influenciam no sentido político e social que foi 

proporcionado ao Centro Operário de forma a não deslocarmos a pesquisa a um meio 

caminho, mas sim, procurando resolver demais questionamentos antes do ponto final.

Percebendo que o Centro Operário  Cívico e Beneficente (C.O.C.B)  se  insere num 

contexto de profunda transformação na cidade Ponta Grossa e perante um conjunto de 

mudanças expressas nas relações de produção em todo Brasil. O trabalho aqui proposto 

procura perceber que conjuntura e condições o movimento operário criou e encontrou 

dentro dessa associação. A produção e o consumo do discurso pelos próprios membros 

da associação e de sua relação com a sociedade ponta­grossense são indicativos para 

demonstrar  o   jogo  de   relações  onde  o  Centro  se  coloca.  A   forma como a   figura  do 

operário é construída em seu interior se torna mais um indicativo do sentido político e 

43  Segundo Norbert  Elias e Eric Dunning,  a sociabilidade se aplica além do trabalho.  Pensemos essa atividade num espaço como um bar qualquer, onde a convergência de diversos trabalhadores é ocasionada por  aquilo  que eles  têm em comum.  Os dois  pesquisadores chamam esse momento de  ''tempo  livre'', apresentando características de lazer e recreação (ELIAS; DUNNING. 1992).

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social dado a esse movimento44.

No   interior   das  atas,   além  das   atividades   recreativas   e   de   lazer,   percebemos   os 

chamados  "assuntos  políticos".  Tratados de  tal   forma  também no estatuto  do  Centro, 

esses aparecem omitidos e até censurados pragmaticamente nos eventos da entidade.

Em torno disso, e contrapondo tais temas, as atas constroem em seu interior uma 

representação da  imagem do operário  de   forma cívica  e  solidária  –  algo  que parece 

reproduzir o nome da associação. Nesse sentido, o apenas constatar  isso é colocar a 

pesquisa em um meio caminho, indicando a existência do problema. A pesquisa delimita­

se a partir do objetivo de entender como o fenômeno foi gerado.

Percebendo os diálogos no interior da fonte, nessas oportunidades, que percebemos a 

evidência de uma série de personagens do Centro Operário. O discurso de cada um deles 

aparece nas atas de forma desconexa em alguns momentos, todavia, descobrindo quem 

são   esses   membros   é   que   percebemos   donde   surgem   seus   posicionamentos.   Os 

assuntos políticos são fruto de conflito dentro das atas, e apesar de existir a tentativa de 

reprimi­los, esses não terem deixado de existir, sendo que podem significar o que aqueles 

indivíduos entendiam por movimento operário.

A maioria  das atas verificadas,  no  período estudado,   trata  de questões cotidianas 

como assuntos financeiros e jurídicos, manutenção da sede e administração dos fundos, 

agradecimentos e condecorações a membros do Centro, convocação a jogos de futebol e 

demais eventos da sociedade ponta­grossense, entre outros. Algo constatado por outros 

autores que escreveram um pouco sobre a entidade. 

Niltonci  Chaves  indica ainda o Centro Operário e a União Protetora dos Operários 

(ambas fundadas em 1929) como possuidoras de uma tendência a “despolitização”45  e 

44 Essa representação do trabalhador dentro de um coletivo, portanto, no seu universo de classe, pode ser vista como expressa também a partir de uma imagem construída no interior do discurso de uma entidade que  postula   reivindicar   para  si   essa  autoridade  de   representação.  As   referendam o   trabalhador   como representação de um discurso, indicando esse enquanto produto de uma imagem produzida na caneta que tocava os papéis dos manuscritos oficiais do Centro Operário. Se imagem é discurso, discurso é imagem, ou pelo menos é  uma forma de produzir essa representação na cabeça de cada associado ali presente (BURKE, 2004). No caso do C.O.C.B, percebe­se a colocação do trabalhador pelo seu papel social, como um   elemento   necessário   de   força   na   sociedade,   repercutindo   esse   papel   a   uma   respectiva   visão   de progresso dessa. Essa perspectiva do conceito de representação pode ser distribuída para outros símbolos, como foi o caso da criação do seu logo – onde esse aparece preenchido por um globo circulado por três homens possuintes de um físico robusto remetente a força e disposição.45 Segundo Georges Balandier, podemos entender política como a ação dos seres na realidade social. A noção de status define o papel social de cada ser humano na sociedade, “define a posição pessoal de um indivíduo em relação aos outros no interior de um grupo; permite apreciar a distância social existente entre as pessoas, porque rege as hierarquias de indivíduos” (BALANDIER, 1969, p. 83). Nesse sentido, a ligação 

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que suas atas indicam uma rejeição a movimentos partidários, principalmente em relação 

ao comunismo (CHAVES, 2006, p. 82).

O objetivo dessa pesquisa  não é  desmentir  nem reafirmar   isso,  mas averiguar  na 

intimidade das atas como ambos os assuntos – cotidianos e políticos ­   são tratados. 

Nesse caso, uma metodologia é proposta.

Apesar de o conteúdo ser o objeto dessa pesquisa, corresponde também proporcionar 

tonalidade  a  algumas  informações   importantes  para  contemplarmos  as   finalidades  do 

trabalho. O acervo do Centro Operário, além das atas e do seu estatuto, possui um Livro 

de Inscrições de Sócios que registra a participação de 1148 membros na entidade assim 

como o seu Livro de Mensalidades que detalha informações como endereço residencial 

de uma parte considerável  dos membros e onde cada um deles trabalhava (C.O.C.B. 

Livro de Inscrições de Sócios; Livro de Mensalidades [1929]; Livro Caixa [1929]). 

Definitivamente, a presença do Centro Operário na sociedade ponta­grossense não 

aparecia   como   algo   apenas   referenciado   pela   leitura   das   discussões   das   atas,   sua 

importância no seio da sociedade ponta­grossense se colocava como principal entidade 

de representação dos trabalhadores (C.O.C.B, Ata 24). A evidência do seu número de 

participantes   em   contrapartida   aos   números   da   população   ponta­grossense46, 

compromete o trabalho em considerar a importância dessa entidade naquele momento. 

Perante toda uma dinâmica social, não se coloca outra hipótese do que ligar o texto das 

atas ao contexto ocasionado nas relações sociais de Ponta Grossa.

Algo que contribui para essa constatação e que favorece maiores indagações sobre a 

forma de sobrevivência das entidades operárias coloca­se na situação de que o Centro 

Operário foi a única entidade operária da primeira metade do novecentos que sobreviveu 

entre instituições e autonomias de indivíduos se torna definida pelo uso de símbolos por cada um deles. Segundo   Pierre   Bourdieu,   os   símbolos   são   definidores   do   constrangimento,   nesse   caso,   o   uso   deles determina a ação dos indivíduos, entre uns poderem fazer e outros se sentirem impotentes nas relações de poder. “Nada a não ser esta forma de abstenção activa, a qual  tem raízes na revolta contra uma dupla impotência, impotência perante a política e todas as ações puramente seriais que ela propõe, impotência perante os aparelhos políticos: o apolitismo” (BOURDIEU, 1998, p. 169). Ainda assim, a análise das atas não faz perceber a ação dos membros como meramente “despolitizadas”, mas sim, a transferência de poder de alguns indivíduos para outros. A negação do uso político aos membros da entidade se justifica no uso de um artigo do estatuto, mas isso pode ser percebido no sentido de transferir o mando político da maioria de membros para uma minoria.46  Observando o Centro Operário como possuinte de 1148 membros, essa importância se coloca como evidente e em grande proporção quando deslocamos nosso olhar também ao números da população de Ponta Grossa. O Censo de 1900 indica que a população de Ponta Grossa era 8.335. Pelo Censo de 1920, essa população atingiu a casa dos 20.171 habitantes.

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até os dias atuais47.

2.1 Classe Operária e Cultura Operária: Uma outra História.

A trajetória dos trabalhadores pode nos representar o percurso de uma classe. Mas é 

somente a partir  das experiências vividas em comum que os operários se configuram 

nesse   coletivo   de   classe.   Colocar   isso   sobre   o   trabalho   se   torna   uma   preocupação 

estancada.

Uma história  se  produz dentro  e   fora das  fábricas48.  É  de uma multidão colocada 

involuntariamente em uma fábrica, nos seus modos de vida fora do trabalho, ou seja, 

dentro  e  fora da  jornada de  trabalho percebemos a  representação de uma classe.  A 

experiência dos trabalhadores depende de diversos fatores que se encontram tanto nas 

relações de produção nas quais são inseridos, quanto na cultura que eles próprios geram 

para si.

Diversos olhares são propostos. O enredo das relações sociais nos permite considerar 

o  operário  como mais  um personagem dessas   relações  que  possui  uma cultura,  um 

cotidiano. Se reconhecermos a existência de uma classe social, de um grupo gerado na 

divisão   social   do   trabalho,   então   podemos   perceber   o   reconhecimento   dessa   não 

simplesmente por meio de suas funções nas relações de produção ­ mas também nas 

47 Localizada na Rua Theodoro Rosas a atual sede do Centro Operário ainda abriga atividades recreativas e de lazer como bocha, truco, sinuca, churrascos e comemorações. No dia 1o. de Maio, último, o C.O.C.B completou 80 anos de existência. Desses anos todos, algumas mudanças ocorreram, algumas rupturas se ocasionaram na sua trajetória. Essa sede, onde funciona um bar, embora hoje seja a única sede do Centro, hoje está desmembrada do seu prédio original localizado no Largo Professor Colares e onde, curiosamente, hoje lá funciona uma manufatura de cortinas. O que antes era um espaço de lazer dos operários, hoje se torna o seu espaço de trabalho.48 O conceito de trabalho não só foi alimentado por apologistas da sociedade burguesia como também por seus próprios críticos. Edgar de Decca considera que esse se origina com o intuito de garantir o espaço da fábrica e legitimar a figura do capitalista. O trabalho era fonte de produtividade e a fábrica "ao mesmo tempo que  confirmava a potencialidade criadora do  trabalho  anunciava a  dimensão  ilimitada  da produtividade através da maquinaria". A fábrica enquanto acontecimento tecnológico não foi símbolo hegemônico por toda sociedade, Decca ainda considera que “os ecos de resistências dos homens pobres a se submeterem aos rígidos padrões do trabalho organizados são audíveis” (DECCA, 1996, p. 09) e remetem que aquilo que para a burguesia era efeito material do "tempo útil", para outros podia não passar de um motivo para explorar outra classe assalariada e despossuída. Nesse embate de discursos   podemos falar de um imaginário do mundo burguês e, desde já, descartar a idéia de que, por exemplo, os setores dominados desta mesma sociedade estejam submetidos a uma enorme mentira ou a um engano universal, isto porque a presença das classes nessa sociedade se dá justamente a partir da universalização do imaginário burguês, e, nessa medida, a produção mesma das classes está intimamente ligada ao modo pelo qual essa sociedade impõe os registros do imaginário para o seu próprio reconhecimento" (op. Cit. p. 18)

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diferenças culturais dessa classe para outras.

Segundo Karl Marx e Friederich Engels: “os indivíduos separadamente formam uma 

classe apenas na medida em que levam a cabo uma batalha comum contra outra classe” 

(MARX; ENGELS op. cit, p. 45). 

Para   além   da   fábrica   e   para   além   da   greve,  o   operário   também   se   assume   na 

roupagem  de  mães  e  pais   de   família,   freqüentadores  do   bingo   da   Paróquia,   figuras 

carimbadas do bar mais próximo, compradores à fiado e fiéis da mercearia da esquina, 

apreciadores da rádio AM que toca música popular, apostadores em rinhas de galo,  entre 

outros.  Desconsiderar   essa  outra   parte  das   suas   vidas,   colocá­los   unicamente   como 

peças da força do trabalho ou como componentes de uma luta social que inspira nossas 

paixões, é  uma tarefa que pode incoerentemente partir  da caneta do intelectual.  Essa 

atitude involuntariamente simplifica a História.

Os trabalhadores são motores da própria História, como engrenagens de um relógio, 

eles possibilitam as relações produtivas. Ainda assim, seus cotidianos não se resumem a 

esse   papel   e   nem   sempre   eles   enxergam   seu   dia­a­dia   apenas   como   murais   de 

exploração. É sobre as condições de trabalho e capital­trabalho, entre outras formas como 

são   colocados   ou   jogados  na   estrutura   social   que   os   trabalhadores   constituem   sua 

cultura.   Precisamos   estar   atentos   às   diversas   particularidades   relacionadas   à 

aplicabilidade da força de trabalho, mas também a outra parte das suas vidas.

Essa outra proposta colocada aqui, e reafirmada também por alguns teóricos, torna 

necessário acreditar que para além do mundo do trabalho, os trabalhadores elaboram 

uma cultura quando se apresentam no seu tempo­livre para além do mundo da fábrica 

(“time­off”). Nesse segundo cotidiano reconhecemos atividades distintas, seja mesmo no 

cunho de organização trabalhista­sindical ou somente para fins de lazer. 

Essa discussão interessa aqui para perceber como esse tempo­livre foi administrado 

pelos membros do Centro Operário Cívico e Beneficente e como isso se representa num 

discurso que construiu a imagem do operário para seus associados. Nesse caso, essa 

imagem construída no interior das relações sociais do Centro serve para reconhecermos 

um conceito de classe em si, ou seja, constituído dentro das dependências da própria 

organização operária e que determina a participação desse em sociedade. 

O uso de referenciais teóricos que se aproximam dessa proposta tem sido, no caso, 

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discutidos   recentemente,   procurando   captar   experiências   dos   trabalhadores   pela 

inteligibilidade de suas práticas. Essa proposta, embora seja reafirmada por uma suposta 

ressignificação não pode ser referenciada como um tipo de negação às matrizes teóricas 

anteriores e muito menos como uma forma “certa” de estudo da classe trabalhadora.

Vejamos  os   frutos  de  grupos  de  estudos  como o  Grupo  de  Trabalho  Mundos  do 

Trabalho49  como uma alternativa de reconhecimento do comportamento de uma luta de 

classes além do domínio econômico. Sobre isso, Sandra Pesavento reconhece no ritmo 

dessas inovações, uma outra ótica sobre a realidade social a partir de outros princípios “o 

historiador passava a explorar, assim, os chamados silêncios de Marx, nos domínios do 

político,   dos   ritos,   das   crenças   do   hábitos.   Para   surpreender   essas   mudanças,   do 

cotidiano da vida e do trabalho, era preciso encarar novas fontes” (PESAVENTO, 2003, p. 

29­30). 

A autora ainda reconhece na escrita de E. P. Thompson a grande guinada para essas 

novas percepções. Reafirmando isso, Pesavento ainda alega que "em cada contexto, era 

preciso surpreender os nexos entre os diferentes traços do comportamento da classe" (op. 

Cit.   p.   30).   Dessa   forma,   o   próprio   conceito   de   "classe"   não   se   tornava   único   e 

unissêmico.

Segundo E. P. Thompson, os trabalhadores se constituem enquanto classe ‘’a partir 

das experiências vividas  em comum’’   (THOMPSON, 1987,  p.  10).  Não é  a  caneta do 

intelectual que define o último estágio da consciência de classe. Tal forma de reconhecer 

a   consciência   de   classe   nos   permite   também   desvendar   a   maneira   pela   qual   as 

experiências   são   tratadas   pelo   que   essencialmente   são   –   ou   seja,   culturalmente. 

Proporcionando   uma   investigação   que   coloca   os   trabalhadores   enquanto   sujeitos   da 

história a partir do seu fazer­se50.

nenhum   exame   das   determinações   objetivas   e,   mais   do   que   nunca,   nenhum modelo eventualmente teorizado podem levar à equação simples de uma classe com   consciência   de   classe.   A   classe   se   delineia   segundo   o   modo   como   os homens e mulheres vivem suas relações de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas, no interior do “conjunto de suas relações sociais”, com a cultura e expectativas a eles transmitidas e com base no modo pelo qual se valeram dessas experiências em nível cultural. De tal sorte que, afinal, nenhum 

49  Para   mais   informações   sobre   o   Grupo   de   Trabalho   Mundos   do   Trabalho   acessar   o   site: http://www.ifch.unicamp.br/mundosdotrabalho/ (acessado em 28/09/09).50 Os trabalhadores criam e vivem a própria história e suas experiências demonstram que a consciência de classe está colocada internamente de um permanente fazer­se da classe operária (THOMPSON, 1976).

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modelo pode dar­nos aquilo que deveria ser a “verdadeira” formação de classe em um certo “estágio” do processo (THOMPSON, 2001, p. 277).

Colocando isso em torno do surgimento do proletariado princesino e de sua formação 

enquanto classe, não podemos supervalorizar apenas sua atividade política como se essa 

fosse a única forma dos trabalhadores se introduzirem na história. Deve­se considerar que 

a   cultura   é   considerada   como   ponto   inerente   nesse   processo   de   formação   dos 

trabalhadores   enquanto   classe.   Algumas   produções   cedem   maiores   olhares   à 

organização política dos trabalhadores, entretanto, é contido ao pesquisador observar os 

demais espaços onde fora produzida a identidade dos trabalhadores.

Além de assumir a característica de amparador dos trabalhadores, o Centro Operário, 

em   seu   próprio   discurso,   sempre   se   destinou   como   um   espaço   de   lazer   e   de 

administração   do   tempo   livre51  dos   trabalhadores.   Nessas   passagens   se   torna 

interessante denotar a existência de distinções tênues entre os dois tempos da vida do 

operário e como esses são estipulados pelos espaços onde são administrados.

Daí   a   importância  de  um sobrevôo  por  parte   da  História  Social   do  Trabalho  não 

somente sobre assuntos relacionados a organizações sindicais. Aproximando­se do caso 

aqui   estudado,   essa   importância   também   pode   ser   dada   a   outros   locais   onde   as 

experiências   podem  ser   compartilhadas,   tais   como   sociedades   recreativas,   clubes   e 

associações com  fins esportivos52.  Essas entidades  também podem responder  muitas 

51   É nos cenários construídos pelos trabalhadores (Sindicato e Lazer) que eles próprios vão se constituir além do tempo do  trabalho e além das relações produtivas. Não existe consciência de classe pronta e acabada, nem ''certa'' ou ''errada'', entretanto o uso do tempo se deve ao próprio aproveitamento que os trabalhadores proporcionam a ele. Eric Hobsbawm fala de um chamado time­off (tempo livre) no cotidiano dos     trabalhadores   da   Inglaterra   no   século   XIX,   onde   esses   determinavam  sua   cultura:   "usemos   um conhecido ponto de referência no mapa da classe trabalhadora "tradicional", a lanchonete de peixe e fritas originada provavelmente em Oldham, na década de 1860  (...).  O futebol  já  possuía uma modesta vida subterrânea como esporte para o espectador proletário nos últimos anos da década de 1870" (HOBSBAWM, 1988, p. 281).52 O professor Uassyr Siqueira reflete sobre esse assunto da seguinte forma: "principalmente em relação à historiografia mais tradicional, acabou­se por aceitar a versão elaborada pelas lideranças sindicais do início do século XX, as quais consideravam outras formas de sociabilidade, como clubes esportivos e recreativos sem   caráter   sindical,   como   secundárias   em   relação   à   “verdadeira”   organização   ou   até   mesmo   como alienantes. Dessa maneira, sem qualquer questionamento sobre o papel dessas associações na articulação de  identidades entre  os  trabalhadores,  são postas em segundo plano pela historiografia  – quando não completamente desconsideradas. A ausência de pesquisas sobre clubes e associações dos trabalhadores é também resultado das concepções a respeito da consciência de classe. Embora haja o reconhecimento sobre a peculiaridade organizatória dos trabalhadores, a consciência muitas vezes foi tratada em termos de movimentos reivindicatórios ou políticos ou do confronto direto com o patronato ou estado, o que acaba por excluir   muitas   das   agremiações   dos   trabalhadores.   Outras   formas   de   manifestações   da   consciência, expressas e diferentes no cotidiano dos trabalhadores, são deixadas de lado se  ignoramos os clubes e associações como espaço legítimo de organização'' (SIQUEIRA, 2002, p. 24).

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indagações sobre o momento em que viveram.

A   primeira   parte   desse   trabalho   desloca   nossa   leitura   a  movimentos   constituídos 

dentro de associações operárias  que possuíam critérios distintos de organização.  Em 

virtude  do  estudo   sobre  as   fontes  e  a  documentação  do  Centro  Operário,   o   recorte 

proposto pelo trabalho não possibilita uma observação sobre um movimento forjado em 

um cunho sindical e combativo em Ponta Grossa – ou que pelo menos deixe isso explícito 

em suas atas. 

A  importância do trabalho, por outro  lado, está  em perceber as estratégias dos 

personagens do Centro Operário, evidenciadas no discurso das atas e aqui colocadas 

com   a   finalidade   de   entender   se   essas   práticas   cotidianas   eram   baseadas   no   total 

consenso  dos  membros  ou  se  deixavam  transparecer   tensões  e  conflitos  entre  seus 

associados ao serem abordados nas reuniões registradas pelas atas.

Observando o Centro Operário como uma rede social, consideremos que nele se 

materializa  uma  teia  de   relações que determinam os seus objetivos  sociais  enquanto 

entidade. É na forma como os indivíduos se relacionam que reconhecemos suas ações. O 

contato social é determinante para entendermos tais relações, é nesse domínio gerado no 

coletivo que se colocam a prova um conjunto de valores, intenções, estratégias, projetos, 

relações de poder, entre outros53. 

São as relações de trabalho que criam esses personagens, os trabalhadores em 

seus   diferentes   locais   de   trabalho.   Num   outro   cotidiano,   esses   por   sua   vez   ao   se 

reconhecer numa situação parecida sugerem a criação de outros espaços na sociedade, 

daí nascem os espaços de organização dos trabalhadores ou de lazer. O encontro de 

experiências pode colocar os trabalhadores enquanto classe, enquanto atores sociais em 

um momento estratégico – seja numa manifestação, num piquete de greve ou em um jogo 

de futebol.

53 Sobre redes sociais e suas redes de comunicação, o físico Fritjof Capra diz: ‘’Como as comunicações (...) produzem um sistema comum de crenças, explicações e valores – um contexto comum de significado – que é continuamente sustentado por novas comunicações’’. Nesse processo, cada membro da rede adquire a sua própria identidade, mas isso sem deixar de ser membro de outras redes. Esse, na verdade, é membro de várias redes dentro do sistema social como um todo. ‘’Na sociedade humana, as estruturas são criadas em vista de determinada intenção, de acordo, com uma forma predeterminada e constituem a corporificação de um determinado significado’’ (CAPRA, 2002, p. 95­96).

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2.2 O 1o. De Maio: A Fundação do Centro Operário Cívico e Beneficente.

A fundação do Centro Operário Cívico e Beneficente passa a significar um novo rumo 

no   movimento   operário   de   Ponta   Grossa,   sendo   que   a   associação   não   agrupava 

simplesmente   trabalhadores54,   mas   também,   membros  da   pequena­burguesia, 

intelectuais, jornalistas e comerciantes. 

O Centro Operario Cívico e Beneficente que procurará por todos os meios o bem estar   dos   seus   componentes  da   classe   operaria   local,   amparando­os   moral   e materialmente (...) bem como de comum accordo com as suas co­irmãs do Estado e do Paiz procurará também pelas conquistas das reivindicações dos Homens do trabalho fazendo­se representar (...) nos conclaves onde­se discutem theses que possam interessar os trabalhistas locaes do Estado e da Republica (C.O.C.B, Ata 02)55.

Entre os principais associados e diretores do Centro estavam: Albino Wiecheteck, 

industrial   e   vereador   pelo   Partido   Integralista   (1935­937);   José  Deslandes   de   Souza, 

membro do jornal Diário dos Campos; Adejamiro Cardon, membro da Livraria Modelo; 

Joaquim Wirruez, gerente da madereira SONYRA; Eusebio Biaco, fiscal; Walfrido Pilotto, 

54 Além das atas, outras fontes como o Livro de Inscrições e o Livro Caixa do Centro Operário revelam a ocupação dos trabalhadores em diferentes postos e categorias de trabalho. Entre as principais categorias se encontram   os   cerreiros,   madeireiros,   mecânicos,   metalúrgicos,   comerciários,   ferroviários,   cervejeiros, ervateiros, artesãos, entre outros. Ver ANEXO 3.1.55 O dia 1o. de Maio conhecido como Dia do Trabalhador, posicionado hoje no calendário nacional como feriado, é   lembrado como a data de início da Greve de Chicago de 1886 que culminou na morte de 12 trabalhadores. Esse evento é conhecido como a Revolta de Haymarket. Martirizado por tais mortes, esse passou a ser reconhecido como Dia Internacional das Causas Laborais. Araújo e Cardoso, ao reconhecer a gênese do 1o. do Maio como um dia de luta e que a recordação desse episódio “encaminha à reflexão acerca da contribuição do operariado para a sustentação da sua força de trabalho” (ARAÚJO; CARDOSO, op. Cit, p. 110). Complementando, o 1o. de Maio, que também é marcado em 1929 pela fundação do Centro Operário, é reafirmado pelas duas pesquisadoras como evento anual em que “os operários emprestavam à data o caráter de protesto e solidariedade na luta, através da fundação de ligas e associações” (op. Cit., p. 112). No Brasil, o dia é decretado enquanto feriado nacional em 1919. Araújo e Cardoso ainda reconsideram essa data que passa do calendário operário, "o luto e a luta", para o calendário da sociedade como um todo. "A institucionalização do feriado termina enrijecendo o conteúdo das comemorações; dissocia no espaço­tempo, trabalho, de  lazer, atuação produtiva, de atuação política. Reserva espaços físicos determinados para  manifestações  isoladas:   local  de  trabalho  e   local  de   festa,   local  de  produção material  e   local  de produção de idéias. O feriado oficial, portanto, afasta operários de seu meio: o local de trabalho. Com isso, a luta político ideológica perde para festividades de congraçamento nas quais o tema comemorativo – trabalho ­ suplanta o trabalhador" (op. Cit. p. 114). Essa citação se contempla no trabalho quando percebemos o fluxo do discurso que preenche a primeira ata do Centro Operário. A sua fundação foi articulada numa data considerada importante para os operários de Ponta Grossa, "mais grata ainda ainda, pois que o Centro de sua classe, iria ter naquele dia sua instalação oficial’’ (C.O.C.B, Ata 01). Embora, esse sentimento para com um dia específico na vida dos operários aparece significado como "festa dos homens do trabalho" onde ali não  partilhavam da  comemoração  apenas   trabalhadores,  mas   também políticos  e  outros  membros  da sociedade civil.

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escritor paranista e jornalista; José Silva, jornaleiro; João Ferigotti, zelador do cemitério 

público;   Fidelis   Alves,   funcionário   da   Prefeitura   e   Alberto   Lopes,   tenente   do   13o. 

Regimento de Infantaria.

Sobre   o   Centro   Operário,   Carmencita   de   Holleben   Melo   Ditzel   escreveu:   “a 

instituição   reunia   um   grupo  heterogêneo   de   trabalhadores   com   diferente   qualificação 

técnica, fazendeiros, comerciantes, industriais, políticos e setores da imprensa” (DITZEL, 

2004, p. 147).

Uma das infelicidades desse trabalho se encontra em não ter conseguido encontrar 

o   perfil   trabalhador   ou   empresarial   de   todos   os   membros   da   diretoria.   Entretanto,   o 

descobrimento  dos afazeres  desses membros  a  partir  da  pesquisa  e  averiguação de 

outros   documentos   pode   servir   para   ligar   o   texto   das   atas   às   motivações   que   o 

produziram.

A análise do conteúdo das atas enquanto objetos de pesquisa é realizada a partir 

do   recorte  de  algumas palavras  centrais  no   texto.  A   importância  é   determinada  pela 

freqüência que a palavra é citada no texto ou pela posição que ocupa no discurso. São 

construídos   quatro   núcleos   de   sentidos:   Lazer,   Beneficência,   Cotidiano,   Política  (ver 

ANEXOS 3.3)  –  esses servem para perceber  como cada palavra  adentra o discurso, 

criando o assunto.  As palavras,   tratadas em destaque,  entre  aspas,  podem auxiliar  a 

compor   o   significado   de   representações56  produzidas   nas   atas   do   Centro   Operário 

(BARDIN, 1998).

56 Segundo Falcon: ‘’o conceito de representação pode ser entendido de duas maneiras, a primeira como ‘representação’  entendida    como  objetivação,   figurada  ou  simbólica  de  algo  ausente,  a  outra  é  que  a representação é definida como ‘estar presente no lugar de outra pessoa’, substituindo­a, podendo ou não ‘agir em seu nome’, essa última se incorpora como a prática política’’ (FALCON, 2000).

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FIGURA 07 – Ata da fundação do Centro Operário.

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FIGURA   08   ­  Foto   de   Albino   Wiecheteck,   vereador   pelo   Partido   Integralista   1935­1937 

(PREFEITURA, 1936).

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O discurso apresenta um clima de saudosismo e solidariedade aos trabalhadores do 

recém­fundado Centro Operário, instaurado na  "defesa"  da classe trabalhadora. O texto 

apresenta a existência de reivindicações colocadas pelos "Homens do Trabalho", apesar 

de não ser específico quanto a essas e como seriam solucionadas.

Os objetivos do Centro aparecem e a organização dos trabalhadores num primeiro 

momento cede importância a sua expressão popular perante toda sociedade, o "operário" 

tinha   seu   mérito   e   somente   a   ‘’união’’   e   a   ‘’colectividade’’   poderiam   construir   esses 

merecidos votos. Considerar a existência dessas palavras e a forma como se posicionam 

no texto é fundamental para perceber a forma como se articula o discurso.

Pensando o Centro Operário como um espaço onde os trabalhadores possuíam seu 

tempo­livre, pode­se notar que a sociabilidade dos sócios era em momentos direcionada e 

mitificada   por   esses   termos.   Pensando   essa   organização   operária   formada   por   um 

coletivo orientado por  tais termos, se torna possível entendê­lo como formador de um 

conceito de classe em si, o que era/deveria ser o trabalhador, como na formação de um 

auto­retrato.  Nesse  caso,  essa   representação  contida  no   texto,  é  o  que elabora  uma 

imagem do operário.

Quando palavras57   como "Estado" e "Paiz" adentram o discurso se interligando com 

os personagens trabalhadores no seu coletivo ­ "Homens do Trabalho" – conclui­se que a 

sensibilidade desses com os sentimentos de civismo seriam ocasionados perpassando as 

mãos  do aparelho institucional do estado.

A priori, tal constatação pode aparentemente se apresentar num campo de obviedade, 

porém,   o   aprofundamento   dessa  análise58  pode   proporcionar   uma   leitura  mais   fiel   à 

construção do sentimento cívico entre os membros da associação e mostrar que esse não 

se reproduz apenas no título do Centro Operário.

Nesse momento, a fundação do C.O.C.B cede importância não somente a um jogo de 

57 Para Ciro Cardoso e Ronaldo Vainfas, o léxico não é um amontoado de palavras isoladas. As palavras se alojam dentro do discurso de forma a se coordenar entre si ou se opor entre si. Nesse caso o pesquisador necessita abordar "a decifração do campo lexical inerente ao discurso, modelo esse pautado em algumas redes de relações de palavras" (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 380).58  Entende­se a análise de conteúdo por possuir a finalidade de analisar textos sobre uma perspectiva quantitativa, mas sem gerar uma dicotomia com a análise do discurso de forma qualitativa. No caso das atas,  esse  olhar  deve  permear  além do   texto,  mas,   também  todo  o  contexto  em que   foi   produzido  – considerando então que o texto em si se apresenta enquanto discurso, mas é passivo de um contexto. Esse processo considera a produção, a circulação e o consumo do discurso (CARDOSO, VAINFAS, op. Cit.; BARDIN, op. Cit.).    

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relações interno ­ entre os membros da associação ­, mas também à sociedade ponta­

grossense como um todo. Entre esses elementos, o que chama a atenção na ata é quanto 

à composição da mesa da primeira reunião. Chamado pelo presidente recém­empossado 

do Centro Operário, José Deslandes de Sousa, o primeiro convocado a compor mesa, 

antes mesmo dos membros da diretoria, foi o prefeito de Ponta Grossa, Elizeu de Campos 

Mello59, sendo esse aclamado como ‘’amigo da classe trabalhadora’’ e respondendo estar 

em inteira solidariedade a ela.

Esse clima de saudosismo, colocado a partir da solidariedade do Centro se contempla 

no “valor” que possui a classe operária naquela festividade. A imagem do 1o. De Maio se 

esclarece   pela   conveniência   de   nenhuma   discussão   sobre   condição   salarial   dos 

trabalhadores ou de suas condições de trabalho ser colocada perante o Prefeito. Dessa 

forma, as posteriores atas deixam algumas perguntas quanto ao que seria essa "defesa" 

da classe operária.

Mas para além da insinuação daqueles "Homens do Trabalho", a primeira atividade da 

mulher   se   transmite   nas   atas   ainda   na   fundação   da   entidade   operária.   Dentre   a 

ritualização da cerimônia do trabalho, além de todos os valores, símbolos e sinais que se 

imagina   terem   incorporado   o   palco   das   relações   sociais,   o   ser   feminino   apenas   se 

apresenta   referido  na  segunda ata  do  Centro  Operário  quando  travestido  de  uma  tal 

Senhorita Rainha dos Operários e saudada pelo prefeito dizendo que "com sua presença, 

tão grandemente engalava a festa dos homens do trabalho" (C.O.C.B. op. Cit.)60.

Esse   evento   de   tal   Centro   Operário,   significado   de   tal   forma   no   calendário   dos 

laboriosos princesinos mostra uma reafirmação de um lazer muito próximo do mundo do 

trabalho. De tal forma que o discurso dos membros da Diretoria e do Prefeito se pauta na 

legitimação  da   força  de   trabalho.  O  orador  do  Centro,  Adejamiro  Cardon,   solicitou  a 

palavra   e   em   nome   da   entidade   exclamou   que   "seu   único   objectivo   era   procurar   o 

levantamento do operariado  integrando­o no seio da colectividade humana e dando o 

direito e o valor a que elle faz jus, com o esteio mestre do progresso e da grandeza dos 

59  Elizeu   de   Campos   Mello   conhecido   como   um   dos   fundadores   e   apoiadores   do   extinto   Jornal   O Progresso,   que   mais   tarde   se   tornaria   Diário   dos  Campos.   Era   acionista   majoritário   da   Companhia Tipográfica   Ponta­grossense.   Advogado   e   fazendeiro,   se   tornaria   prefeito   de   Ponta   Grossa   em   1928 (CHAVES, 2001).60  A partir da  leitura do Livro de  Inscrições do Centro Operário, é  possível perceber a participação de mulheres  na associação.  Se apresentam em número  aproximadas 49 mulheres  afiliadas,  muitas  delas carregando sobrenomes de sócios, o que denota a possibilidade dessas serem esposas ou possuintes de algum grau de parentesco para com esses.

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povos" (op. Cit.). A justificativa da disposição e do empenho do trabalhador se orquestrava 

nessas palavras.

Essa palavra ainda aparece em mais uma oportunidade, quando o tenente e redator 

do Diário dos Campos, Affonso Lopes pediu a união dos diretores do Centro Operário e 

para‘’que trabalhassem pelo engrandecimento da cidade, do estado e do Brazil, ao qual 

deviam todos dedicar os maiores sacrifícios pelo seu progresso pela sua grandeza’’ (op. 

Cit.). Quando o "progresso" entra em cena no discurso, não existe outra alternativa a não 

ser   legitimar   a   participação   do   trabalhador   em   sociedade.   Perante   o   representante 

máximo do governo local, aparece um movimento operário esquadrinhado e próximo das 

elites locais.

Por fim, e antes de se encerrar a reunião, foi entregue pelas mãos do prefeito uma 

imagem   de   Nossa   Senhora   dos   Operários   a   um   trono   que   se   encontrava   na   sede 

provisória do Centro Operário.

No decorrer das atas, esse esquadrinhamento da imagem e do movimento operário 

aparece   acariciado   de   outro   fenômeno.   A   pesquisa   acabou   percebendo   além   das 

atividades recreativas e de lazer, das quais a entidade se propunha a desenvolver com 

seus membros, os chamados assuntos políticos61.

61 Sempre que tratados nas atas e nos estatutos sociais enquanto "assumptos politicos", esses parecem repudiados. Entre as 24 atas analisadas, esses são chamados assim apenas quatro vezes. Porém, eventos como a participação de Walfrido Pilotto num Congresso Operário – sendo que esse era jornalista ­, o apoio a Elbe Pospissil  para a Assembléia Legislativa, a convocação para uma Conferência operária em praça pública, a doação de um terreno pelo prefeito para a construção da sede da associação, entre outros, acabam sendo tratados na pesquisa como sendo de cunho político.

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FIGURA 09 ­ Eliseu de Campos Mello, Prefeito de Ponta Grossa 1928­1930 (Fonte: Casa da Memória).

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61

Tratados   de   tal   forma   também   no   estatuto   da   associação62,   esses   assuntos 

aparecem   omitidos  e  até   censurados   pragmaticamente   nos  eventos   da  entidade   por 

alguns de seus membros. Entretanto, as atas evidenciam que nas situações onde esses 

aparecem, acabaram­se gerando conflitos no interior da associação. Em torno disso, e 

contrapondo tais temas, as atas constroem em seu interior uma representação da imagem 

do operário  de  forma cívica e solidária  –  algo que  também se reproduz no nome da 

associação.

           2.3 Entre a Ordem e a Política: O caso do “tellegrama”.

Entre uma reunião e outra, se percebia a  intensidade das discussões em torno de 

assuntos recreativos e de lazer. Ainda assim, foi possível perceber uma outra tonalidade 

em casos específicos quando são citados e discutidos os chamados “assumptos políticos” 

(sic!).

Em torno disso, e contrapondo tais temas, as atas constroem em seu interior uma 

representação da imagem do operário de forma cívica e solidária – algo que também se 

reproduz o nome da associação ­ procurando não deixar espaço pra qualquer notoriedade 

política ao movimento operário.

2a.   Chamada   da   Assembléia   de   18   de   agosto   de   1929:   João   Perantunes,   vice­

presidente   do   Conselho   Fiscal,   pediu   a   palavra.   Essa   só   lhe   foi   concebida   após   o 

presidente, José Deslandes de Souza, lhe advertir que no seio da sociedade operária não 

se devia "tratar de política" (C.O.C.B Ata 10). Ao lhe ser ofertado a palavra, Perantunes 

pediu   uma   "explicação"   sobre   um   artigo   escrito   no   Diário   dos   Campos   pelo   orador 

Adejamiro Cardon que  tratava do alistamento de operários para que esses pudessem 

votar nas eleições daquele ano exercendo um dos "deveres cívicos" da sociedade.

O artigo 72 do estatuto do Centro Operário foi citado na reunião pelo presidente do 

Conselho Fiscal, a fim de omitir o incentivo de Cardon ao voto dos operários. Perantunes 

ainda   se   direcionou   ao   Presidente,   pedindo   "esclarecimentos"   sobre   um   "tellegrama" 

contendo "assumptos politicos" que poderiam comprometer o "bom nome" do C.O.C.B.

62 Segundo o Artigo 72 inciso 5o. Do Estatuto Social do Centro Operário Cívico e Beneficente de 1979: "É proibido se manifestar  politicamente nas dependências do Centro Operário".  Esse artigo aparece como documento mais citado nas atas, precisamente três vezes.

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62

Tanto   Deslandes   de   Souza   quanto   Cardon,   responderam   as   acusações   em 

Assembléia.  Dizendo que  tais  posturas  partiam  "em caráter  particular",  nada   tendo  o 

Centro Operário a ver com isso.

3a. Chamada da Assembléia de 25 de Agosto de 1929: A discussão do telegrama se 

perpetuou nessa outra chamada da Assembléia. A ata registra que a carta havia sido 

endereçada ao  jornal  Estado de São Paulo,   firmando documento de apoio do Centro 

Operário e de Ponta Grossa ao candidato a Presidente da República Júlio Prestes ­ a 

carta havia sido assinada juntamente com o Prefeito. Logo consta que possivelmente, o 

incentivo ao alistamento, por parte de Cardon, pode não se conceber enquanto um caso 

isolado.

Em resposta, José Deslandes de Souza disse que não exerceu tal ato com "intuito de 

prejudicar o Centro que com a ajuda de outros elementos de valor no seio da classe 

obreira, havia fundado, se fez e concordou com o telegramma de (...) solidariedade do 

governo do Estado e da cidade representada na pessoa do illustre Dr. Campos Mello" 

(C.O.C.B Ata  11).

Adejamiro Cardon pede a palavra nesse momento, dizendo entender tal gesto como 

uma forma de agradecimento, se referindo a Julio Prestes como "grande trabalhador" de 

outras sociedades operárias63  para depois  ‘’chegar a conquistas de então  [na] política 

nacional’’. Cardon ainda disse ter ‘’esperanças de ver os homens do trabalho se unindo ao 

lado dos que nos governam elaborando as leis que nos regem’’ (op. Cit.).

O polêmico documento foi tratado por José Deslandes de Souza como motivo de sua 

renúncia à presidência do Centro Operário. A assembléia deliberou contra a renúncia do 

presidente.  "Usando este  da  palavra,  disse então que  [mesmo assim] se  considerava 

demitido e pedia licença (…) para retirar­se do recinto". Entretanto, ao tentar sair, Souza 

foi impedido por alguns membros da diretoria e sócios, ‘’estabelecendo­se, então pequena 

confusão na assistência’’ (Op. Cit.).

A assistência sendo recomposta, permitiu a José Deslandes de Souza voltar a ocupar 

seu cargo – já se evidenciou que não era do interesse dos membros do Centro Operário 

63 O caso do telegrama reflete que o Centro Operário possuía membro não só articulados com a política local, mas também a nível nacional. Entretanto, apesar de esse personagem ser apresentado como "grande trabalhador" por Adejamiro Cardon, seu retrospecto político pode ser entendido de outra forma. Júlio Prestes de Albuquerque, conhecido por vencer a eleição de 1930 e por ser impedido pela Revolução de 1930, nunca teve sua vida política em intimidade com qualquer causa puxada pelo movimento operário.

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que esse deixasse a  presidência.  Essas duas atas  mostram que a  omissão dos  tais 

"assumptos politicos" era justificada a partir de argumentos que se correspondiam com o 

"bom nome" da associação operária. Tais expressões são colocadas algumas vezes64, 

nem sempre da mesma forma, mas possuindo a mesma conotação – demonstrando o 

quanto uma atitude poderia comprometer o nome da entidade que procurava reproduzir o 

ato dessa como "cívico e beneficente".

Nesse instante do texto, cabe deslocar­se a um recorte dos chamados "assumptos 

politicos".  Entretanto,   comparando  quantitativamente  o  número  de  páginas  que   tratou 

desse caso específico com qualquer outro, percebemos que logo aquilo que fora muito 

omitido  e  censurado  no  Centro  acabou  ocupando  um maior  número  de  páginas  que 

qualquer outro assunto. 

2.4 Trabalhadores do Paraná UNI­VOS!: Uma política a portas fechadas.

A existência de um documento jurídico que barrasse os atos políticos pode parecer o 

reflexo de que esses não ocorressem em torno da associação de trabalhadores. Todavia, 

a existência que um artigo do estatuto e discurso das atas, onde ambos discriminam tais 

assuntos políticos não significa que tais práticas não ocorriam.

Reunião Extraordinária da Diretoria, 25 de Setembro de 1929: 

Usando da palavra o sr. Presidente expôs [a pauta] daquella convocação, dizia elle que estava o operariado do Paraná enfrentando na eleição de seu deputado ao Congresso   do   Estado   tendo   havido   uma   conversação   em   Curityba,   (...)   a apresentação do operário (...) sr. Elbe Pospissil para ser o candidato operário ao Congresso do Estado (C.O.C.B, Ata 12).

Foi numa reunião extraordinária, aparentemente breve e direta, sem a participação dos 

associados, a não ser por parte dos integrantes da diretoria e do Conselho Fiscal, que 

essa discussão entrou em pauta. Elbe Pospissil foi um dos articuladores da Greve dos 

ferroviários em 1919 que cobrou 20% de aumento nos salários, melhores condições de 

trabalho   e   jornada   de   8   horas.   Os   manifestantes   saíram   vitoriosos,   tendo   todas   as 

reivindicações atendidas. A partir disso, a participação de Pospissil na União Operária do 

64 A palavra tellegrama é citada cerca de cinco vezes, sendo que essa aparece nas atas contrapondo o "bom   nome"  ou  "nome   honroso"  do   Centro.   Nesse   caso,   apesar   de   os   termos   não   possuírem   igual pronúncia, eles acabaram possuindo o mesmo sentido.

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Paraná conseguiu atrair maior atenção à sua vida política (ARAÚJO; CARDOSO, 1992).

Um Congresso convocado para o dia 19 de Outubro foi convocado em Curitiba – não 

há maiores informações na ata sobre tal. A chamada "conclusão" dos operários decidiria 

todo   apoio   ao   futuro   candidato   a   deputado   estadual,   sendo   que   foi   eleito   para 

acompanhar tal processo o literário paranista e  jornalista Walfrido Pilotto65,  eleito sócio 

benemérito do Centro Operário.

Além disso,  essa ata revela a contradição e o embate de discursos no  interior  do 

Centro Operário. Foi num conluio fechado, sem a participação dos demais membros da 

entidade que foi decidido o apoio desta ao candidato. Essa atitude deixa a entender uma 

atividade política dos membros da organização operária, enquadrando um dos "deveres 

cívicos" do operário a uma única alternativa de voto e mostrando a tentativa de controle 

da associação sobre a decisão dos trabalhadores nas urnas eleitorais.  

A ata ainda previa que todos os membros alistados recebessem uma cédula com o 

nome do  candidato.   "Tambem pelo  sr.   João  Shimidt  Filho   foi   proposto  que  o  Centro 

censurasse   todo  o   seu  sócio  que  não   votasse  no   candidato  da   classe  operaria   nas 

eleições   (...),   pois   que  assim  demonstravam   falta   de  união  e   compreensão  de   seus 

deveres civicos, para com a colectividade operaria" (op. Cit.). Segundo consta em ata, 

essa proposta provocou várias discussões, mas foi aprovada pela maioria dos reunidos. 

A apelação dos "deveres cívicos", mais uma vez citados, serve de justificativa para a 

"censura" de tais membros. Ao fim da reunião, o presidente agradeceu a presença de 

todos naquela reunião onde  foram "tratados assumptos de magna  importancia  para a 

sociedade e para a classe trabalhista do Estado". Não existe registro de qualquer citação 

do artigo 72 dos estatutos sociais  nessa ata,  sendo que até  mesmo os membros do 

Conselho Fiscal, incluindo João Perantunes, não se manifestaram contrários ao apoio a 

candidatura de Elbe Pospissil.

2.5 Cívico e solidário: Beneficência e lazer no Centro Operário.

Reunião Extraordinária da Diretoria, 14 de Janeiro de 1930: 

65 Walfrido Pilotto, conhecido jornalista e escritor paranista possui notoriedade também por, junto da família Pilotto,   vir   a   Ponta   Grossa   no   início   do   século   XX   para   trabalhar   no   escritório   da   Rede   Ferroviária (WIKIPÉDIA, 2009; WRONISKI, 2009).

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Tendo pedido a palavra ao sr. Joaquim Wirruez, que se estava presente, o qual (...) 

explicou (...) a attitude dos operarios da Sonyra, dizendo tambem qual o motivo 

que os levou a pedir (...) a sua eliminação deste Centro. O motivo principal e único 

(...) foi ter um socio desta aggremiação, o sr. Affonso Braune, procurado introduzir 

ideias politicas no seio o operariado da Sonyra, cujas ideias, são terminantemente 

prohibidas pelos nossos estatutos (COCB Ata 18).

João Schimidt Filho pede a palavra, dizendo que    ''profundamente magoado com a 

attitude do sr.  Braune pede que o mesmo seja eliminado desta sociedade a bem da  

ordem e do progresso da mesma'' (op. Cit.). Essa ata revela mais um caso de perseguição 

às atividades políticas dos operários membros da entidade. Ressaltando aquelas idéias 

como ''terminantemente prohibidas'' pelos estatutos do Centro, essas nem expostas são. 

Sendo que na reunião posterior aquela, a  ''eliminação''  do secretário foi seguida de 

''motivos já de todos conhecidos''  (COCB Ata 19). A censura a tais  ''ideias politicas'' era 

exercida de forma contundente, procuravam ser minimamente citadas, demonstrando o 

interesse   também de  omissão  a   tais  assuntos  –  colocando  sempre   tais  ações  como 

opostas aos estatutos ou o ''bom nome'' do Centro Operário preenchido por membros que 

praticavam a ''ordem'' em favor a seus ''deveres cívicos''.

Os deveres cívicos, nesse caso, apareciam materializados em ações que ocupassem 

o  tempo­livre do trabalhador.  Negar os assuntos políticos não parecia o suficiente, se 

tornava necessário repreender e eliminar membros que tratassem de tais mesmo fora das 

dependências do Centro Operário.

Certos documentos históricos podem contar uma História dos vencedores. No caso 

das atas, a proposta vencedora discutida em reunião, o artigo do estatuto aprovado pela 

maioria, é o que passa a sobreviver na linha do tempo. Entretanto, o direito ao passado 

pertence a todas as classes sociais. A leitura nas entrelinhas, no discurso implícito, nos 

mostra que em alguns momentos houveram processos de resistência. Momentos em que 

mulheres e homens enfrentaram procuraram viver   uma outra História. Ainda assim, a 

caneta não estava em suas mãos.

Mais uma vez, nesse processo de construção da História o silêncio é percebido nas 

fontes. É  perante esse desafio que o  trabalho do pesquisador se enriquece. Além da 

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definição de um método que sub­escreva relatos, a sensibilidade com a vida das pessoas 

deve ser ainda mais intensa.

Independente   da   eliminação   de   Braune,   da   perseguição   aos   membros   políticos 

registrada no interior das atas, essa não é uma História da derrota da classe trabalhadora 

no   terreno   de   Ponta   Grossa.   Todavia,   sim,   é   uma   História   do   possível.   Segundo 

Thompson: 

As classes não existem como entidades separadas que olham ao seu redor, acham 

um inimigo de classe e partem para a batalha. Ao contrário, para mim, as pessoas 

se vêem numa sociedade estruturada de certo modo (por meio das relações de 

produção  fundamentalmente),   suportam a exploração  (ou  buscam manter  poder 

sobre os que exploram), identificam os nós dos interesses antagônicos, se batem 

em torno desses mesmos nós e no curso de tal processo de luta descobrem a si 

mesmas como uma classe, vindo pois a fazer a descoberta de sua consciência de 

classe (THOMPSON, 2001, P. 274)

  

A reação aos movimentos combativos em Ponta Grossa foi algo presente e já discutido 

aqui desde os seus princípios de organização. Mas isso em nenhum momento significou 

sua derrocada ou que o freio­de­mão da reação acabou totalmente com a organização 

dos trabalhadores na cidade. A atitude de Braune comprova isso.

Outra passagem importante que registra a relativa, e não total, importância das atas 

no contexto dos trabalhadores aparece denunciada pelo próprio presidente logo após o 

caso do telegrama. Antes de finalizar a reunião, o presidente José Deslandes de Souza 

disse que  ia  nomear uma comissão para cuidar do Livro de Ouro do Centro afim de 

arrecadar  fundos para a construção da nova sede. Disse ainda que qualquer um que 

fosse contra o Livro que se manifestasse “na sede do Centro e não na rua” (C.O.C.B. Ata 

11). A  letra corrida e a forma como aparece registrado no auto, demonstra uma certa 

indignação   de   Souza,   porém,   além   do   seu   sentimento   a   ata   denuncia   que   alguns 

associados   discordavam   de   assuntos   referentes   ao   Centro   Operário   fora   de   suas 

dependências. 

A relativa legitimidade das cerimônias do Centro Operário e a criação de uma rede 

informal  que discutisse tais assuntos porta afora demonstra que as decisões tomadas 

pela maioria não significam uma total  aceitação e uma total  hegemonia de uns sobre 

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outros. O civismo era pauta de uma reunião e era relatado com toda precaução no toque 

da pena sobre o papel. Mas esse relato evidencia que, mesmo antes dessa ter secado, o 

conflito se tornava pauta de uma outra cerimônia elaborava na rua e não nas formalidades 

do Centro Operário.

Em   contraposição   à   realidade,   a   união   dos   operários   aparece   como   elemento 

importante da sua integração nas atas da entidade. O termo conjugado “união” aparece 

na   narrativa   do   documento   como   reflexo   de   uma   imagem,   ou   digamos,   como   uma 

representação de toda confluência de experiências daquele proletariado no instante.

A reprodução desse sentimento e sua finalidade se colocam na fidelidade duma das 

primeiras citações de uma das atas: “que o operariado fosse unido para assim poder 

alcançar   as   suas   finalidades   e   puderem   com   isso   integrar,   no   seio   da   coletividade 

humana, que toda vida necessita do braço do operariado para poder ser forte’’ (C.O.C.B. 

Ata 01).

Em grande monta, perante o pretexto de sociabilidade e a fuga aos assuntos políticos, 

aquela haveria de ser preenchida de outro elemento que significasse a união dentro da 

entidade.   Aquele   braço   forte   que   conduzia   a   força   de   trabalho   na   sociedade   era 

representado por participar do conjunto da sociedade civil.

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FIGURA 10 ­ Símbolo do Centro Operário66

66  O símbolo do Centro Operário também se encontra talhado em frente a sua antiga sede até hoje. A imagem reproduz três figuras masculinas segurando o globo terrestre de forma que esse rotacione. Algo que rememora uma das falas do Tenente Alberto Lopes: “o operariado era a lavoura que movimentava os povos, a força hercules que sustentam as nações e elevava­a as suas maiores conquistas; que o operariado era   a   reserva   dos   paizes”  (C.O.C.B.   Ata   02).   “Imagens   propagam  valores”   (BURKE,   2004,   p.   96).   A representação dessa imagem aparece também reproduzida de forma parecida no discurso dentro das atas.

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O aparecimento de um lazer operário mostra mais uma diferenciação da figura do 

operário perante as outras classes sociais. Essa fronteira cultural estabelecida entre os 

trabalhadores e o seu pedaço67  frente a tais grupos, porém, nem sempre foi encarada 

como algo saudável para a sociedade como um todo. Jacques Rancière ao detalhar o 

tempo­livre  dos   trabalhadores  na  Europa  do  século  XIX  expõe  o  movimento  de  uma 

classe, não apenas a partir de seus sonhos, mas inclusive a partir de seus divertimentos

a degradação do carnaval felizmente dura apenas alguns dias por ano, mas em cada   semana   há   um   domingo   e   uma   segunda­feira   para   esses   lazeres   dos trabalhadores que, na “cloaca de lama chamada taberna” vêm se identificar com o trabalho da farra. E a confusão das tabernas tende a estender­se para as ruas do subúrbio trabalhador (RANCIÈRE, 1988, p. 253).

Essa   visão  emprestada  do  burguês,   formatada  em  tablóides   franceses  da  época, 

relatava o lazer operário com certa frustração. O tempo­livre de homens e mulheres que, 

por   estarem   na   companhia   de   prostitutas   e   bêbados,   aparecia   como   princípios   de 

contaminação da Belle Époque francesa – em várias ocasiões, esses eram os próprios 

trabalhadores, homens gastando seus salários e mulheres procurando um ganho extra, 

seres que se travestiam nessas personas noturnas.

Entretanto,   além   da   superfície   desse   discurso,   se   torna  necessário   perceber   que 

aqueles  personagens  mostrados  naquele  ambiente   faziam,  sim,  parte  de  uma  fração 

daquela sociedade urbana e industrial. No caso, eram produzidos pelo próprio enredo de 

um desenvolvimento que os incluía a lógica da fábrica, mas que, apesar de criticar sua 

forma  de  vida  subterrânea  e  nociva,  os  excluía  por  meio  da  criação  de  um exército 

industrial   reserva   e   os   impossibilitava   de   outras   formas   de   divertimento   –   em   certo 

sentido, formas de entretenimento em clubes burgueses e aristocratas.

Outra forma de destinar a cultura às massas em seu tempo­livre deveria ser prevista 

no seio social. Se as greves e as manifestações evidenciavam os diferentes cenários da 

luta de classes, o conflito aparece relocado também na formação de lazeres vividos pela 

classe trabalhadora. Na visão de algumas classes sociais e até do Estado, esses eram 

considerados como impróprios e nocivos ao corpo da sociedade.

67  Para  o  antropólogo José  Guilherme Cantor  Magnani   "O  termo na  realidade"designa aquele  espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público,  onde se desenvolve uma sociabilidade básica,  mais ampla que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade" (MAGNANI, 1984, p. 11).

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Maria Auxiliadora Guzzo Decca ao trabalhar a vida dos operários fora do ambiente das 

fábricas nas décadas de 1920 e 1930 em São Paulo­SP mostra um cotidiano influenciado 

e cercado do controle social  do Estado. Aqueles que antes não se demonstravam tão 

preocupados   com   a   situação   social   dos   trabalhadores   se   tornaram   seus   principais 

acolhedores. Saúde, educação, higiene eram novos elementos fundamentais, segundo 

eles, para a vida do operário e a “ignorância” e a “indisciplina” desse seria fator prejudicial 

para seu próprio desenvolvimento na sociedade (DECCA, 1987).

A partir  de uma nova concepção de  tempo­livre,  se  tornava necessário   libertar  os 

operários de seus ‘’vícios’’ e de sua vida ‘’improdutiva’’. Essa era a missão de torná­lo 

mais disciplinado e ordeiro para o outro tempo, o tempo do trabalho. Toda família era 

reconhecida nesse processo, parques eram construídos, as igrejas eram abertas aos fins 

de semana para o bingo e para um tipo de lazer domesticado, as práticas beneficentes – 

além de favorecer o sentimento de “solidariedade” e de alívio por outras classes sociais – 

também passam a fazer parte dessa conformação ao apaziguamento das classes sociais. 

Ainda assim,  esse combate  se  projetava para além de uma cultura   ‘’degenerada’’, 

segundo o próprio Departamento de Cultura de São Paulo: ‘’comunismo se combate com 

obras sociais e não com polícia’’ (apud Op. Cit. p.80). Fica aí registrado o enredo implícito 

em que era composta uma padronização do divertimento e até do comportamento dos 

trabalhadores e suas famílias.

Em Ponta Grossa, passagens sobre o lazer operário representado na prática do truco, 

da   bocha,   do   francês68,   das   rinhas  de  galo   e   das   caçadas   são   bem   freqüentes  em 

diversas produções acadêmicas.  Adriano Rossi  ao  trabalhar  os conflitos em bares de 

Ponta Grossa na década de 1930, identifica os botequins localizados próximos ao leito da 

ferrovia como grandes palcos de embate entre ferroviários da rede federal. Ainda segundo 

Rossi:

os   conflitos   nos   mostraram   que   essas   medidas   de   normatização   e 

homogeneização   da   classe   trabalhadora   foram   acompanhadas   de   tensões, 

68 O truco é um jogo de cartas entre 2 participantes ou mais. O jogo de bocha consiste em lançar bolas (bochas) e situá­las o mais próximo de um bolim (bola menor), previamente lançado. O adversário, por sua vez, tenta situar as suas bolas mais perto ainda do bolim ou remover as bolas do oponente. O Francês é um esporte   praticado   em   cima   de   uma   mesa,   onde   é   testada   a   força   do   participante.   Popularmente   é denominado   queda   de   braço,   muito   praticado   da   antiguidade   até   hoje   (Disponível   em http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil , acesso em 03/08/2009). 

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contradições   e   resistências.   Uma   das   “metas”   de   esquadrinhamento   do 

trabalhador   era   a   demonização   de   tudo   que   destoava   do   “ser   morigerado, 

cumpridor de seus deveres, bom pai, provedor e honesto” a não representação do 

papel pré­estabelecido na constituição da masculinidade gerava cruzadas morais 

contra o abuso desses ditos “inimigos” do homem, como o álcool, as noitadas em 

bórdeis, a jogatina, etc (ROSSI, 2006, p. 18). 

A   normatização   e   o   esquadrinhamento   apresentado   por   esses   autores   se   torna 

interessante aos nossos olhos. Em um momento correspondente e em parte paralelo ao 

descrito  por  Decca,  o  Centro  Operário  Cívico  e  Beneficente  proporciona­se  um auto­

discurso em que a entidade se circunda de tais práticas. Já em seu nome, a beneficência 

se liga ao civismo, ou seja, a sua instalação previa o atendimento aos sócios (C.O.C.B. 

Ata 17), a prática de assistência à família por meio de uma pensão chamada pecúlio (Op. 

Cit. Ata 05), o atendimento de um médico e de uma farmácia aos associados (Op. Cit. Ata 

16) e, quem sabe principalmente, a criação de uma Escola Noturna dos Operários (Op. 

Cit.   Ata   04).   Sobretudo,   uma   organização   operária   que   previa   diversas   formas   de 

atendimento   de   seus   associados,   fazendo   prevalecer   o   discurso   da   ordem   e   ainda 

possuindo o auxílio dos governos municipal e estadual.

O futebol aparece em suas atas como uma prática de recreação. A taça operária se 

torna uma disputa entre  o Centro Operário  e  outros clubes sociais  de Ponta Grossa, 

Guarany Sport Club e Operário Sport Club, a fim de favorecer o caixa da entidade (Op. 

Cit. Ata 14).

Toda família era reconhecida no lazer operário. Citações nas atas se referindo a essa 

participação são inúmeras, demonstrando o interesse de que aquele espaço padecesse 

de um convívio familiar69. E se a importância do operário para a organização familiar e a 

69 Não trabalhando como mera categoria, mas tentando esmiuçar e fazer uma radiografia sobre a família operária, me permito a um olhar mais íntimo do círculo que é construído em torno das relações sociais mais próximas e criadas por  laços de sangue e por uma organização econômica em torno desses laços. Do matrimônio a origem biológica da prole – que proporciona sentido ao próprio da palavra “proletariado” ­, a criação desses vínculos que entrelaçam o sentido social  da  família  e permitem que toda sociedade se exprima a partir do círculo familiar. Uma família, nesse tom, possibilita uma forma de organização social e econômica como um todo. Devemos oportunizar a forma como a família cria corpo na sociedade. Segundo Maria Célia Paoli: “                                                       Incluir a reprodução da vida operária como cultura,  como política, como sociabilidade ­ e não apenas como reposição estrita da energia física do trabalhador ­ significou trazer, entre outras coisas, a família operária para o centro da interpretação sobre suas condições de reprodução. Nos estudos sobre a história operária brasileira,  no entanto,  este é  um movimento que apenas  se  esboça.  Na   reconstrução histórica  da   formação  dos   trabalhadores  urbanos  como  classe,  a concepção sobre suas formas de organização familiar é, em geral, subjacente aos temas “maiores” por onde 

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importância da família para as diferentes formas de reprodução da força de trabalho forem 

intencionais? Torna­se perceptível a utilização de um lazer para a formação de “corpos 

dóceis”   para  o   trabalho  assalariado   fabril   a  partir   desse  ambiente  privado  da   família 

(PAOLI, 1992; FOUCAULT, 1977).

A extensão da família para uma associação operária – ou seja, a passagem de uma 

rede social a outra ­, essa última responsável por engrandecer em seu discurso o valor do 

trabalho, acaba moldando todo conjunto da primeira em torno das informações produzidas 

no interior da segunda. 

Isso  pode  ser  percebido  como  um  fenômeno  inconsciente  no   interior  da  entidade 

operária. Porém se influenciado por outras classes sociais, esse caso pode ser adaptado 

à intenção de uma estratégia que produz toda uma apologia ao mundo do trabalho, que 

faria o trabalhador aceitar todos os sacrifícios do seu dia­a­dia de trabalho. Tal influência 

se ocasionaria de tal forma que essa aceitação ocorreria não somente no ambiente do 

lazer operário ­ onde a família também estava presente ­, mas ainda em seu domínio 

privado, no seu lar. 

A participação da sociedade ponta­grossense em torno dos eventos organizados pelo 

Centro Operário aparece também retribuída nos documentos oficiais da entidade, esses 

eventos são significados com outros valores. A ata de 24 de outubro de 1929 retrata o 

convite de uma festa que ocorreria na associação Homens do Trabalho, “convidando o 

Centro a se fazer representar na festa” que ocorreria dois dias depois. O presidente ainda 

se procura conhecer esta classe ­ sindicato, partido, fábrica, salário, níveis de vida. Subjacente, mas quase sempre   presente   no   material   com   que   lida   o   historiador,a   família   operária   também   desliza   como representação:   ora   é   tratada   como   um   dado   natural   da   paisagem   operária,   ora   como   um   reflexo desorganizado  do modelo  dominante da  família  burguesa,  ora  como um estilo  cultural  característico  e herdado de um modo de vida anterior à proletarização” (PAOLI, op. Cit.p. 01). A extensão da obra de Paoli procura ser espelhada aqui, porém, entre uma ressalva deve ser feita. Sua constatação de que no ambiente de construção dos estudos históricos “a ausência de uma tematização explícita sobre suas formas familiares de organização” (op. Cit.) se coloca um tanto contraditória já na existência de um autor clássico específico nem sequer citado em seu artigo. Ao observar desde os primitivos estágios de formação da sociedade, Friederich Engels compara diversos sistemas sociais de forma a comparar com a formação da estrutura família. Seu alto e surpreendente grau de conhecimento do assunto não se demonstra de forma alguma ausenta a divisão social  do  trabalho,  ou seja,  o  processo de  formação da sociedade entre  as classes sociais. Portanto, a mera constatação de que existe um teor necessário da criação da idéia de família ­ seja monogâmica, consangüínea, ou partida de qualquer outra forma de geração dinástica ­ em torno de outros pressupostos que formam a sociedade – a propriedade privada e o estado – contribui para o entendimento da forma como nossa sociedade passa a se organizar. Com respeito a ambos os autores, deixo aqui o registro  das  próprias  palavras  do  segundo citado  que  podem nos  escapar  no   interior  de  um de  seus parágrafos: “A ordem social em que vivem os homens de determinada época histórica e de determinado país está condicionada por esses dois tipos de produção: de um lado, pelo grau de desenvolvimento do trabalho e, de outro, pela família” (ENGELS, s/d).

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denota que tal festa ocorria “afim de engrandecer a classe operária” e se referiu ainda que 

os operários deveriam seguir até a sede do clube “afim de participarem da festa em honra 

a nossa soberania”. 

Nesse caso, o que se percebe é que essa confraternização entre as duas associações 

operárias foi justificada por sentidos construídos dentro do texto e que são simbolizados e 

materializados em palavras como “honra” e “soberania”. 

Sobretudo,  o  que se   torna   interessante  discutir  é  que por  meio  de  um evento da 

sociedade   civil   onde   membros   de   associações   operárias   estariam   presentes.   O 

“engrandecimento” da classe operária seria resgatado por meio de valores como “honra” e 

“soberania”.   Sendo   que   isso   seria   ocasionado   perante   a   sociedade   ponta­grossense 

(C.O.C.B, Ata no. 12). 

Todos esses eventos, constituídos e relatados como atividades regulares do Centro 

Operário se oportunizaram na titulação de “eventos cívicos”, tornando a entidade paritária 

de um sentimento com a nação pautado no dever do cidadão, nesse caso o cidadão 

operário, e tendo seu título reproduzido a todo instante em cada uma de suas reuniões de 

forma a perpetuar seu sentido. 

Todas as práticas beneficentes adquirem uma simbiose com o Estado,  a partir  de 

figuras como o prefeito, e pelo estabelecimento de contatos com o governo do estado70. 

Essa   característica   coloca   o   Centro   Operário   enquanto   cívico,   além   de   sua   auto­

proclamação, mas  também no contato com o conjunto da sociedade civil  e com esse 

Estado.   O   C.O.C.B   enquanto   uma   entidade   operário   no   interior   dos   interesses   da 

sociedade   civil   “afim  de  ali   defender  os   interesses  da  classe   junto  aos  homens  que 

elaboram as leis do Estado” (Op. Cit. Ata 12).

Nessa relação, a ponte estruturada entre um lado e outro se estrutura e se coloca 

como apresentada na narrativa das atas. Essa ponte se estimula acompanhada por um 

tipo de sentimento com essas  figuras políticas71,  porém, ainda assim,  também com a 

70 Quando o caso do telegrama veio a tona, a ata registra na fala de José Deslandes de Souza: “o Centro que com a ajuda de outros elementos de valor no seio da classe obreira, havia fundado, se fez e concordou com o telegramma de (...) solidariedade do governo do Estado e da cidade representada na pessoa do illustre  Dr.  Campos Mello   [não  fez aquilo]  com o  [intuito]  de  tirar  proveito  para a  sociedade que havia chegado a fundar e não com o intuito de galgar posição a custa da sociedade e debaixo de seu manto, dizendo   mesmo   que   [sua]   posição   (...)   [não   procurou   comprometer]   o   nome   honroso   dos   operários dedicados e conscientes que o ajudaram a fundar e levar a frente esse Centro” (Op. Cit. Ata 11).71  Um  recorte,   que   além  de  compreender  a   isso  e  além de  corresponder   com essa   proximidade  de membros com personalidades políticas, reforça o apoio do Centro Operário a campanha de Elber Pospissil 

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bandeira nacional (op. Cit. Ata 24). O patriotismo previsto nessa reação a governantes e 

símbolos nacionais pode se designar em estreitas relações que, segundo a representação 

das atas, se estabelecem além de mediações burocráticas. Aparentemente, o auxílio dos 

governantes parece necessário e esses parecem enxergar como necessário o apoio da 

classe trabalhadora.

Partindo do entendimento da ata, ou seja, do documento escrito pela própria caneta da 

organização   que   representava   os   trabalhadores,   esse   patriotismo   se   produzia   na 

afirmação dos trabalhadores perante o “progresso e a grandeza dos povos”. Na mesma 

oportunidade,   existe   uma   citação   do   tenente   Alberto   Lopes   do   13o.  Regimento   de 

Infantaria de Ponta Grossa em que esse pede a união dos diretores do Centro Operário. 

Mas, sua fala parece processar uma idéia que vai além, destinando um caminho a ser 

traçado   pelos   próprios   trabalhadores   para   que   esses   “trabalhassem   pelo 

engrandecimento da cidade,  do estado e do  Brazil,  ao  qual  deviam  todos dedicar  os 

maiores sacrifícios pelo seu progresso pela sua grandeza’’ (op. Cit. Ata 02). 

A   presença  de   uma   figura   do   exército   procura   contribuir   na   construção   de   outra 

imagem, aquela da qual tanto se trata nas atas do Centro Operário e que passou a ser 

estudada nesse trabalho, sobretudo, a imagem do trabalhador. Essa representação não 

coloca  os   sacrifícios   como  medidos,  mas  previstos  na  oratória   de  Lopes   como  uma 

oportunidade   de   crescimento   inclusive   do   país.  Um   patriotismo72  produzido   com 

sacrifícios. Esse foi o discurso produzido e apresentado na ata. O sentido que coloca os 

operários perante a nação.

A pronúncia da palavra “progresso”73, citada mais de uma vez nas atas, se apresenta 

como  um elemento  presente  no  discurso  dessas   figuras.  Entretanto,   qualitativamente 

a Assembléia Estadual. A ata registra as palavras de João Perantunes, que em outra oportunidade havia sido opositor ao apoio político do presidente do Centro a Júlio Prestes, complementa o apoio a Pospissil pedindo a palavra e dizendo “que se curasse fileira em torno de um só candidato e que o apresentado por Curityba para representar todo operariado paranaense era muito digno pois que conhecia­o desde menino” (op. Cit. Ata 11).72 Antes de um conceito moral de patriotismo, dever­se­ia colocar que o sentimento para com a pátria se produz a partir de uma ótica de participação social. Recortando uma parte do Dicionário do Pensamento Social do Século XX no verbete “cidadania” esse reflete sobre isso: “uma participação desse tipo, porém, depende de forma crucial do aumento dos direitos sociais para proporcionar um nível geral suficiente de bem­estar e econômico, lazer e educação, e sem dúvida também de novas formulação do que venha a ser o 'bem­comum'” (BOTTOMORE; OUTHWAITE. 1996, p. 73).73 O objetivo desse trabalho não foi conceber um conceito de progresso, aliás, esse parece já ser produzido em si,  na fala de Lopes. Mas podemos entendê­lo com maior evidência por meio da análise de outros autores que estudaram o termo aplicado enquanto discurso da realidade social (SEVCENKO, 1998).  

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(BARDIN, op. Cit.) existe a finalidade de entender a forma como esse discurso se aplicava 

à realidade. Ultrapassando essa construção da imagem do trabalhador, como numa pose 

de  fotografia,  ou na própria   intenção do discurso  podemos entender  as condições de 

trabalho a partir da leitura de teóricos que trabalharam essa época e perceber que tais 

sacrifícios, não frisados pelo tenente, podem se relacionar às condições de trabalho de 

uma época em que esses homens e mulheres não possuíam um salário mínimo, não 

eram registrados e ainda trabalhavam em locais de risco à sua saúde e integridade física.

A fábrica, o espaço de produção, que viria para exercer enorme influência sobre o 

espaço urbano, pode ser denunciada hoje pelos seus métodos de organização e também 

por   se   constituírem   como   “laboratórios   secretos”   da   exploração   dos   trabalhadores   e 

elemento de acumulação de riqueza por parte do burguês, seu proprietário. 

Relatos da origem do sistema fabril, muito se assemelham com o que fora relatado 

também por Marx e Engels em “O Capital”   (MARX; ENGELS, 1985).  A ampliação da 

produtividade do trabalho e o processo de maquinização da  fábrica corriam de  forma 

paralela à desvalorização da força de trabalho humana. Segundo Hardman e Leonardi: 

“Esse processo acarretava o crescimento do exército industrial reserva e a desvalorização 

da força de trabalho, fazendo com que o setor têxtil, [por exemplo], apresentasse as taxas 

mais baixas de salário, com relação ao vestuário” (HARDMAN; LEONARDI, 1991, P. 135).

Podemos   relacionar   tal   lógica   capitalista   em   Ponta   Grossa   com   a   existência   de 

fábricas na cidade.  Quando liga­se o “progresso” a tais “sacrifícios” que os trabalhadores 

deveriam passar,  a  paisagem  industrial  e  o  discurso das atas do Centro Operário  se 

reservam   além   da   defesa   do   sentimento   patriótico,   mas   também   na   legitimação   a 

exploração   do   trabalho.   Aliás,   naquelas   atas,   parecia   se   constituir   um   discurso   que 

aproximasse o operário, mesmo fora de sua jornada de trabalho, de um tipo de lazer que 

seguisse a lógica do trabalho – um tipo de lazer operário.

Isso nos coloca próximos do relato das atas da festa do 1o. De Maio. Antes desse ser 

um dia  de   reivindicações  trabalhistas,  ele  aparece como dia  de  festa.  Uma  “festa do 

trabalho”, algo afirmado no texto das atas e reafirmado nas palavras do prefeito de Ponta 

Grossa. Algo que coloca, de certa maneira, o lazer próximo de uma lógica de trabalho, um 

fenômeno produzido  não somente  nessa cidade,  mas desde o  início  do  processo de 

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industrialização do estado do Paraná74.

O trabalho dignifica o homem? Não foi com essas palavras, mas consta­se que aquele 

militar aparece numa das cerimônias da associação operária procurando uma forma de 

legitimar o trabalho a partir de seu discurso. Um discurso construído no espaço de lazer 

do trabalhador, não no seu local de trabalho. Entretanto, o texto referencia a legitimação 

de uma lógica de trabalho no  lazer do trabalhador.  Logo esse, mesmo à  distância da 

fábrica, tem seu perfil moldado e legitimado na representação de uma sociedade. 

Uma sociedade que ao não medir tais sacrifícios, não coloca no discurso o suor no 

rosto do trabalhador, as suas mãos cobertas de graxa, nem mesmo o seu cansaço... O 

trabalho se torna algo dignificante e que omite esse outro lado.

A imagem dos operários aparece no interior das atas do Centro Operário. Isso ocorre 

como   na   pose   desses   trabalhadores   para   uma   fotografia   na   porta   da   fábrica   –  nos 

rememorando   algum   tipo   de   foto   do   álbum   da   cidade   de   1936.   Aquele   formato   de 

representação   não   possuía   o   interesse   de   considerar   qualquer   defeito   no   corpo   do 

trabalhador. Não considerava nem o suor, a graxa, o cansaço. Não há momento para isso 

nas atas. 

No caso dos trabalhadores representados no discurso de sua principal entidade, a 

representação do ser laborioso, que expurgava também qualquer representação do “homo 

politicus”   daquela   cena,   repreende   também   os   calos   nas   mãos   dessas   mulheres   e 

homens.  

Pensemos a sociedade como um corpo. Se os trabalhadores são parte desse corpo 

físico da sociedade, ocupando o papel dos braços que estimulam a força de trabalho, não 

existe motivo para o incentivo de qualquer conflito ou violência nesse corpo. Um membro 

político dentro desse corpo estaria em discordância com o restante dos membros. 

74 Esse fenômeno de procura de auto­afirmação da identidade do paranaense como um povo trabalhador passa a existir a partir do incentivo do movimento paranista em construir o “ser paranaense”. Essa proposta se coloca numa tentativa de manifestação do desejo de algumas elites. Segundo Andrea Giménez: “Com a representação   do   'paranista',   buscava­se   criar   uma   identidade   universalizante   para   esse   paranaense multifacetado  culturalmente,   impondo a crença no Paraná  e  construindo  um código  de comportamento relacionado à construção do desenvolvimento do Estado. Construía­se um modelo de paranaense a partir da   identidade   “paranista”:   “trabalhador”,   “empreendedor”,   “ordeiro”,   orgulhoso  de  seu  estado,  que,  não sendo nativo, se integrava nos “usos e costumes e nas tradições da gente paranaense”. Percebe­se que se buscava estabelecer um instrumento discursivo de manutenção e de legitimação do status simbólico das elites tradicionais do Estado, assim como de suas relações de poder” (GIMÉNEZ, 2008, P. 4). Além disso, essa auto­afirmação se concretizaria em outra oportunidades,   inclusive na gestão do governador Paulo Pimentel, de 1965 a 1970, quando seu governo de cunho desenvolvimentista tinha como lema: “Paraná – Aqui se trabalha”. 

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Um trabalhador convencido de sua força e de uma missão a ele colocada – sendo 

essa pautada no progresso e no desenvolvimento – estaria  facilmente domesticado a 

contribuir com a mão­de­obra.

Como produtor de um discurso próprio, o operário político não poderia ser considerado 

produtor de tal conveniência ao corpo social. Estaria em desacordo com o restante desse 

corpo.  Esse  não  se   locomoveria,   seria   como  uma  máquina   com um defeito,  não  se 

tornaria eficiente ao momento que a mão­de­obra e os usos dela não seriam legitimados e 

que um de seus membros não estaria convencido de suas funções.

Portanto,   o   desvencilhamento  da   imagem de  um movimento  operário   político  e  o 

sentido positivo que acaba sendo colocado à  situação de um membro do corpo social 

acaba,  na realidade,  proporcionando esse sintoma de conveniência a  toda sociedade. 

Isso aparece citado até mesmo no sentido físico (“braço forte”) numa das atas (C.O.C.B. 

Ata   01).   Registra­se,   o   enquadramento75  da   imagem   do   operário   forte   e   interessado 

apenas em construir o progresso da nação mesmo perante seus sacrifícios. 

Essa conveniência resulta no mantenimento de ordens vigentes, dos mesmos grupos 

no poder político e dos interesses sendo concentrados nas mãos desses mesmos grupos. 

A   participação   de   gerentes   de   fábrica,   intelectuais,   empresários   e   políticos   e   outros 

membros da sociedade civil, aparece como um fator que procura sugerir o consenso entre 

as classes sociais na produção do discurso das atas – deixando transparecer a prática 

dessa conveniência.

‘’Assim definida, a  coletividade é  um  lugar  social  que  induz um comportamento 

prático   mediante   o   qual   o   usuário   se   ajusta   ao   processo   geral   do   reconhecimento, 

concedendo uma parte de si mesmo à jurisdição do outro’’76 (MAYOL, 1996, p. 27).

Nesse sentido, a conveniência aqui citada é percebida em práticas consensuais, 

75  Um fato que não pode indicar com veracidade, mas que podemos indicar com suspeita pode ser um certo elitismo na produção das atas do Centro Operário. Tal constatação se proporciona na possibilidade de a maioria dos trabalhadores naquelas reuniões serem analfabetos, fenômeno esse nem sempre constatado na maioria dos trabalhos sobre organização operária. Nesse caso, os membros do Centro Operário que escreviam as atas, no caso, Affonso Braune e Max Vosgrau, pela intensidade do discurso ali apresentado podem inclusive terem sido intelectuais.76 Ainda segundo Mayol, os indivíduos: “se encarregam de promulgar as 'regras' do uso social, enquanto o social é o espaço do outro, o ponto médio da posição da pessoa enquanto ser público. A conveniência é o gerenciamento   simbólico   da   face   pública   de   cada   um   de   nós   desde   que   nos   achamos   na   rua.   A conveniência é simultaneamente o modo pelo qual se é percebido e o meio obrigatório de se permanecer submisso a ela: no  fundo ela exige que se evite  toda dissonância no  jogo de comportamentos, e  toda ruptura qualitativa na percepção do meio social” (Op. Cit. p. 47).

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sendo essas sim, colocadas aos olhares e à jurisdição do outro. Em um espaço onde era 

previsto que a política geraria polêmica, se torna passivo de entender como as práticas 

recreativas   e   beneficentes   se   enquadrariam   no   interior   do   cotidiano   operário   pela 

influência da participação dos patrões nesse. No dia­a­dia regido por olhares do outro, 

não se tornava interessante qualquer tipo de excentricidade, mesmo que política.

2.6 Considerações Finais sobre a pesquisa – O outro 1o. De Maio, Aniversário do 

Centro Operário Cívico e Beneficente.

Procurei nesse trabalho analisar a experiência dos trabalhadores princesinos a partir 

de  sua principal  entidade durante  a sua primeira  gestão,  o  Centro  Operário  Cívico  e 

Beneficente entre 1929 e 1930. Além do discurso de censura a assuntos políticos ser 

justificado em estatutos e outros documentos, pude perceber a incidência de divergências 

e conflitos em torno das pautas abordadas pelos membros da entidade.

Analisando a freqüência de palavras e como elas se posicionam no texto, uma análise 

quantitativa e qualitativa  irrompeu a mesa do pesquisador.  A  exemplo  disso,  diversos 

comparativos foram feitos ao modelo como aquele discurso se adaptava à composição 

das atas. Um dos casos foi bem específico e exigiu de minha observação.

A ata da reunião que tratou de uma disputa de futebol chamada Taça Operaria possui 

apenas 3 páginas (C.O.C.B. Ata 13), enquanto a discussão do telegrama que percorreu 

duas   assembléias   possui   cerca   de   19   páginas.   Do   conflito,   surgiram   as   principais 

discussões no interior do Centro Operário, mesmo com essas sendo omitidas, enquanto 

os assuntos cotidianos da entidade aparecem tratados consensualmente77. 

Uma   diversidade   de   posturas   se   colocou   entre   as   práticas   previstas   pelo   Centro 

Operário e ações consideradas nocivas aos interesses da classe operária, a sua união e a 

ordem com que deveriam ser conduzidos os trabalhos assistenciais.

A História cedeu ao encontro de métodos aplicados principalmente por intelectuais de 

outras  áreas.  Além de   romper  as   fronteiras  disciplinares  da  produção  científica,  uma 

literatura  aqui  poderá  produzir   representações  da  memória  e  até   reescrever  parte  da 

77  No mais,  a  análise  da  freqüência  de palavras e  o  uso delas  para  entender o  discurso podem ser percebidas nos anexos. Nessa parte da pesquisa acabei desvendando a monografia por achar interessante que   demais   pesquisadores   percebam   a   forma   como   a   Análise   de   Conteúdo   pode   ser   usada   por historiadores e demais cientistas.

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História Regional – antes de uma ambição em seus objetivos, esse projeto, ao se deparar 

com tais fenômenos, parece ter se transformado em uma mera oportunidade.

Mas antes de mais nada, registro aqui que minha intenção foi escrever uma História a 

partir  da  voz  dos  próprios   trabalhadores.  Todavia,  nos  bares,  nos   trilhos,  nos  asilos, 

nenhum dos meus personagens foi encontrado vivo para relatar o que viu e viveu. Meu 

posicionamento portanto  foi  extrair  do documento as  informações que ele dispunha, a 

fidelidade a um papel escrito significou a fidelidade a essa História.

A construção e  a  representação da  imagem de um operário  cívico  e  beneficente, 

proliferando o subtítulo da entidade. Essa atitude, fazendo jus aos interesses de alguns 

associados se referiu a uma alternativa de ação ao homo politicus. Ainda assim, as atas 

contradizem essa construção de imagem de forma homogênea. No caso, reproduzem 31 

discussões  políticas  enquanto  em outras  oportunidade   reproduzem 33  discussões  de 

assuntos  cotidianos  (ANEXO 3.3).  Se esse esquadrinhamento  do  operário  se   tornava 

presente   no   discurso,   por   outro   lado,   as   discussões   políticas   apareciam   como   uma 

tentativa de remodelar essa imagem construída. Ou seja, o discurso que impregnou e que 

se materializou na tinta das atas foi recebido com um processo de resistência – o caso de 

Affonso Braune registra esse processo mesmo dentro do ambiente da fábrica.

A cada linha do texto não se apresentou nenhuma resposta determinante a História. 

Coloca­se  aqui  uma modalidade  de   finalização  da  pesquisa.  Onde  apresento  minhas 

considerações finais, procuro concluir o  trabalho, e  também relatar a ata que reafirma 

todos os fenômenos percebidos no decorrer do primeiro ano do Centro Operário.

Sessão  Solenne,  Primeiro  Aniversário  do  Centro  Operário  Cívico  e  Beneficente  e 

eleição da sua Segunda Diretoria, 01o. De Maio de 1930: Seguindo os indicativos que as 

fontes disponibilizam, algumas conclusões podem ser tomadas, todavia, o trabalho possui 

por finalidade colocar aqui uma série de questionamentos encima do objeto. Todos esses 

questionamentos, resultantes do esforço que a pesquisa delimitou,  foram parcialmente 

aqui apresentados apareceram para mim recolados a partir da análise da Ata No. 24 da 

associação – designada a relatar a Sessão Solene do 1o. Aniversário do Centro Operário 

Cívico e Beneficente e a posse da sua 2a. Diretoria78.

  Com   tal   tonalidade,   a   última   tarefa   da   primeira   diretoria   daqueles   “Homens   do 

78 O texto integral dessa ata encontra­se no ANEXO 3.5.

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Trabalho”,  ou seja,  o descerramento de sua gestão e a transferência dos poderes da 

associação  operária   a   segunda  diretoria,   é   usado  nas   linhas  dessa  monografia   para 

sintetizar os fenômenos ocorridos dentro da entidade.

A construção do discurso no interior do texto dessa ata não transige em  relação ao 

teor  das outras.  Sua delimitação  também foi  específica  ao simular  a   realidade à   sua 

maneria, refletindo a representação do operário a partir dos olhos de quem os observou. 

O punho do secretário, nesse sentido, argumentava o reflexo que a associação possuía 

sobre o ser operário, ou pelo menos parte dela, possuía.

Segui­se­lhe   com   a   palavra   o   Sr.   Walfrido   R.   De   Almeida   Presidente   recem empossado que agradecendo a indicação do seu nome verbejou a necessidade incondicional do apoio de todos os componentes do Centro, para assim, unidos e fortes, chegarmos ao alvo que tanto almejamos (C.O.C.B, Ata No. 24).

Esse   recorte   descreve   a   fala   do   recém   empossado   presidente   e   reafirma   a 

necessidade   de   união   e   força   dos   operários.   Algo,   aliás,   reafirmado   em   uma   parte 

considerável das solenidades do Centro Operário. O que se torna importante é perceber o 

caráter que a repetição produz ao conjunto do discurso da entidade em um ano. 

União e força, “a União faz a força” rememora o lema da Revista Operária, publicação 

operária que procurava demonstrar a necessidade de organização dos trabalhadores. A 

fundação   de   uma   nova   entidade   que   representasse   a   voz   dos   trabalhadores   se 

apresentava como uma necessidade nas palavras dos intelectuais que produziram aquela 

publicação. Um discurso quando aparece afirmando uma necessidade, se instaura em 

oportunidades onde tal necessidade não se aplicava à prática social da entidade que o 

representa.

Permito­me a repetir em mais uma oportunidade as palavras do jornalista Hugo dos 

Reis,   modeladas   na   Revista  publicada   pelos   mesmos   fundadores   do   Centro:   “Se   o 

operariado ponta­grossense quiser alcançar algum progresso na vida social, é mister que 

se uma, porque governo algum dará  ouvidos a uma classe que não tem organização’’ 

(Revista Operária, op. Cit.).

Então   os   pressupostos   dessa   reafirmação   nos   permitem,   80   anos   depois,  um 

questionamento. A repetição da necessidade de união não indicaria os operários ainda 

não estavam unidos e  organizados  em  torno de  suas   reivindicações?   Isso  negaria  a 

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afirmação   de   outros   membros   que   pronunciavam   em   reuniões   e   assembléias   da 

associação operária que o operariado ponta­grossense era unido.

Sobretudo, a leitura do produto final da pesquisa deve ser passiva do entendimento da 

minha subjetividade sobre o objeto e da compreensão da metodologia proposta adaptada 

aos usos do  trabalho. O meu encontro com tais  ferramentas produziu o produto aqui 

apresentado.   Portanto,   após  o   caso  do   telegrama,   após  a  perseguição  de   membros 

politizados, um outro caso chama a atenção nessa ata.

Disponho­me ainda a apresentar mais uma ocorrência que desmistifica tal união, pelo 

menos   total,   daquele   conjunto   de  operários.   Demonstrando  que   em   torno  de   alguns 

eventos, nem todos estavam dispostos a participar

O presidente leu o relatorio referente ao anno da sua gestão e bem assim um pequeno   relatorio   a   thesouraria;   chamou   os   novos   directores   eleitos   foram formando posse com excepção do Sr. João Ferigotti eleito presidente honorário que   resignou  no  momento  de  empossar­se.  Dada a  palavra  ao  Sr.  Adejamiro Cardon orador official da Directoria que deixava o mandato, essê referiu­se sobre o progresso da Sociedade e desculpou­se para com a assistencia e renuncia do Sr. João Ferigotti do cargo para o qual fôra eleito (op. Cit.).

Percebe­se que o motivo não fora especificado nem relatado. Entretanto, anos após 

esse caso, João Ferigotti também aparece em outro evento procedente a esse onde foi 

expulso do Centro e logo após preso. Algo já relatado por demais pesquisadores e que 

mostra o rechaçamento da tradição política pelo Centro Operário: 

Um exemplo disso ocorreu em julho de 1932, quando alguns ponta­grossenses 

foram presos e mandados a Curitiba, acusados de subversão. Entre os presos 

estavam o professor Erasmo Pilotto, o barbeiro Oscar Lima e João Ferigotti (…). 

Logo após a prisão, o Diário dos Campos saiu em defesa do Centro, escrevendo 

um artigo denominado “O Centro Operário Cívico e Beneficente está dentro da lei, 

da ordem e do bom senso”, no qual ressaltava que a atuação do Centro estava 

exclusivamente voltada para as ações assistencialistas (CHAVES, 2006, p. 82).

Não cabe aqui colocar convicções próprias e afirmar com veemência o que foi que 

realmente  aconteceu  em 1929,  mas  a  ausência  de   João  Ferigotti79,   eleito   presidente 

79 Segundo o Dicionário Histórico e Geográfico dos Campos Gerais, Fergotti “nasceu em Castro no dia 20 de março de 1888, filho de Nicolau Ferigotti e Augusta Müller Ferigotti. Quando da construção da Catedral princesina, sua família transferiu­se para Ponta Grossa, pois seu pai foi o arquiteto responsável pela mesma 

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honorário do Centro Operário, pode ter motivos muito próximos dos apresentados acima 

pelo próprio  jornal  Diário dos Campos – ou seja,  pensando em possibilidade, um dos 

principais   fundadores   da   entidade   poderia   não   estar   totalmente   de   acordo   com   tais 

eventos ou com as finalidades assistenciais proporcionadas a ela. O jornal ainda afirmava 

que uma parcela reduzida de sócios possuía crenças políticas, mas que  isso não era 

motivo para atacar o Centro Operário.

A   entidade   preparou   uma   cerimônia   cercada   de   diversos   convidados   que 

ocupavam a mesa principal da recém­fundada sede do Centro Operário – localizada no 

Largo Professor Colares. Logo após passeata pela cidade, os membros da entidade foram 

recebidos ao som da Banda Lyra dos Campos e perante a bandeira nacional flamulando 

logo após ser hasteada no mastro da sede.

O impacto daquele momento parece tentar ser descrito pela ata em questão. A 

solenidade foi aberta por Leonor Braga, Rainha dos Operários. De seu pronunciamento 

nada foi relatado nas atas, provavelmente o secretário não observou importância na sua 

fala – ao contrário do que aparece perante os demais oradores da cerimônia, sendo que 

esses eram homens.

Perante   143   presentes   na   cerimônia   “de   todas   as   classes   sociaes”   e   perante 

ocupantes de lugares distintos como “S. M. Anna Varigt Rainha do Commercio, Sta. Lucia 

Dechandt, O Sr. Capitão representante do 13o. R. De Infantaria, O Sr. Alberto Lopes, (…) 

e   outras   pessoas   fradas”,   discursaram   Adejamiro   Cardon;  Walfrido   R.   De   Almeida, 

presidente recém­eleito; Manoel de Oliveira, eleito ao Conselho Fiscal; José Deslandes de 

Souza, presidente que entregava o cargo após ganhar apenas 10 votos favoráveis à sua 

reeleição   contra   121   de   Almeida   (C.O.C.B,   Ata   22);   e   representantes   de   demais 

associações.

Sua última ação como presidente apenas foi descrita como um “longo discurso”, 

isso após receber sua fotografia publicada na sede do Centro. Enquanto que a fala de 

Oliveira se pautou na defesa daquele “programma social” até ali desenvolvido, ou seja, 

aparentemente, colocando as atividades do Centro Operário em torno dos espectadores 

nossa cidade foi fundador e presidente­honorário do Centro Operário cívico Beneficente e sócio­fundador da Sociedade Beneficente Germânia, hoje Clube Princesa dos Campos. Além disso contribuiu enormemente com Jacob Holzmann quando da Fundação do Jornal "O Progresso". Também era músico e foi um dos componentes da Banda Lyra dos Campos. Após a morte de seu pai ­ primeiro administrador de Cemitério São José ­ substituiu­o nesta função até a sua própria morte” (UEPG, 2009).

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daquele momento – no caso, além dos próprios operários, suas famílias que receberiam 

as finalidades da assistência da entidade.

A reprodução desse discurso além de significar a função social do Centro Operário, 

colocava o operário em torno da beneficência e dos desfrutes do seu lazer. Nenhuma 

atitude daqueles homens e mulheres fora discriminada nas atas, a não ser suas ações 

políticas. A imagem construída daquele ser operário estava desde a fachada do Centro 

até suas finalidades, seja ele cívico e beneficente.

A bandeira que flamulava naquele prédio poderia simbolizar algo além do sentimento. 

Arrisca­se pronunciar aquele como um símbolo de poder reproduzido nas insígnias dos 

militares   presentes   no   evento   da   entidade   operária.   O   apaziguamento   ali   de   nada 

lembrava algo parecido com o conflito das ruas, localizado nas greves, entre o movimento 

operário  e  o  exército   –   recordando  que  Ferigotti   não  se  dignou  a  presenciar  aquele 

evento.

FIGURA 11 ­ Sede do Centro Operário Cívico e Beneficente (PREFEITURA, 1936).

Aquele   1o.   De   Maio   não   era   o   dia   do   trabalhador   politizado   como   em   outros 

momentos.   Aquele   1o.   De   Maio   reafirmava   a   salvação   dos   operários   pelo   discurso 

assistencialista,   pela   imposição   do   patriotismo,   por   um   outro   papel   da   mulher,   pela 

procura do respeito perante as outras entidades operárias e clubes locais.

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Uma   modalidade   de   organização   operária   ali   se   apresentava,   colocava   os 

trabalhadores em concordância a um papel social determinado. Sendo que em algumas 

cerimônias   estavam   presentes   os   representantes   do   poder   instituído   política   e 

economicamente.

Os sintomas de desunião em torno de assuntos políticos parecem ter produzido a 

fisionomia de uma classe desorganizada politicamente. Mesmo que a organização, nem 

sempre tenha de ser a finalidade da classe operária isso deve ser diagnosticado aqui. Nas 

relações de poder,   isso não só  pôde desfavorecer  as  reivindicações políticas de uma 

classe, como pode favorecer os interesses de outras classes. E como indicado, membros 

dessas outras classes estavam presentes na fundação do Centro Operário como também 

em solenidades de alcance social e não apenas classista.

A união dos trabalhadores, aliás, se apresentava no discurso muito mais direcionada a 

práticas como o futebol do que em eventos que entornavam a política. Foi dessa forma 

que as atas descreveram os trabalhadores, seu relacionamento numa entidade, eles se 

viam como classe, em seus valores construíam uma concepção de “verdade” moral. 

Essa diferenciação ainda permitia patrões e operários conviverem no mesmo ambiente 

e decidirem o que seria a classe operária. Joaquim Wirruez, mesmo sendo gerente da 

madereira e exportadora Sonyra, convivia no Centro Operário aceitando essas práticas. 

Inclusive aparece como ocupante do cargo de porta­voz dos funcionários da empresa que 

parcialmente possuía mais membros na associação (ver ANEXO 3.1.).

Fica perceptível  a participação de uma ascendente classe pequeno­burguesa e de 

membros   do   poder   político   instituído   nessa   entidade.   Política,   aliás,   somente   não 

permitida aos  trabalhadores.  Esses se organizavam para  apoiar  a  candidatura  de  um 

semelhante  ao  cargo  deputado somente  a   “portas   fechadas”.  A  negação do  operário 

político serviu também para entender as suas finalidades assistenciais e mutuais. Obras 

sociais   naquele   contexto   político   significavam   uma   forma   de   barrar   o   avanço   do 

comunismo enquanto política.

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FIGURA 12 – Palanque montado na chegada de Vargas a Ponta Grossa (1930).

FONTE: Casa da Memória Paraná

FIGURA 13 – A população ponta­grossense no momento do discurso de Vargas (1930).

FONTE – Casa da Memória Paraná

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Um   fenômeno   parecido   em   outras   entidades   operárias   pelo   Brasil   já   foi   muito 

apresentado por diversos pesquisadores e não vem ao caso retornar essa discussão aos 

leitores nesse momento. O silêncio aos membros políticos do corpo operário, da classe 

operária princesina no interior do Centro Operário, como um todo, significou algo além de 

uma mera despolitização – e nem acredito que esse termo se aplique a realidade ­, mas 

uma busca de apoio aos símbolos nacionais, aos círculos familiares e ao exercício da 

mão­de­obra.

A aceitação daquele homem, do mito, trajado de militar, abraçado ao verde e amarelo 

da bandeira nacional, respaldado por toda simbologia de um país. Fora ele apoiado por 

Ponta Grossa em sua travessia sobre o desenvolvimentismo dos trilhos...  A vitória de 

Getúlio Vargas foi anunciada no instante em que ele aqui se encontrava. A Capital Cívica 

do Paraná, proclamada pelo próprio Vargas devido a sua vitória na Revolução de 193080. 

Isso não são novas aqui contadas para apenas distrair ou espantar o público.

Somente posso demonstrar que esse espetáculo poderia estar sendo preparado. O 

Centro  Operário  Cívico  e  Beneficente  mostrou  em suas atas  e  em seu  nome que a 

ambição e busca de parte da cidade por esse título de civismo não era nenhuma novidade 

em   03   de   Outubro   de   1930.   Até   os   dias   atuais   existe   um   busto   de   Vargas   nas 

dependências da sua atual sede.

Esse   corpo,   uma   classe   representada   no   papel,   parecia   elaborado   para   outros 

acontecimentos procedentes que por delimitação do recorte temporal não puderam ser 

objeto dessa pesquisa. Não coloco isso como uma falha, demais questionamentos podem 

ser colocados, o Centro Operário pode ser objeto de demais pesquisas daqui para frente, 

por demais pesquisadores.

A  esperança  é   de  que  a  minha  conclusão  no  curso  de  História   contribua  para  a 

produção do conhecimento e, sobretudo, para a sociedade que pode me manter nessa 

instituição chamada Universidade. Entretanto, essa só  pode se tornar realidade com o 

empenho das gerações futuras de historiadores que eu vejo por esses corredores.

80 Hardman e Leonardi consideram que ‘’tem­se aberto a brecha para a aceitação da análise que alçou o governo Vargas como  ‘progressista’,  o direito  trabalhista como ascensão vinda de cima e os sindicatos construídos pelo Estado burguês como organismos do movimento operário’’ (HARDMAN; LEONARDI. Op. Cit. P. 172).

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3. ANEXOS

3.1 Plataforma: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e suas 

ocupações.

[continua]

Livro de MensalidadesTrabalhadores – Categoria Qtde.AutônomosCaroceiro 1Encanador 1Enxadeiro 1Jardineiro 1

Artesanato/CarpintariaMarmorista 1

Bebidas, Gasosas e CervejasCervejaria Adri ática 13

Beneficiamento de Carne, A çouguesAçougue Fanuchi 2Cortume Hatchbach 2Fábrica de Banha 1Frigor ífico  9Matadouro 1Sellaria Enidia 2

Beneficiamento de Erva MateEngenho de Erva 1Ervateira 5

Com ércioCasa Alberto Ansbach 1Casa B. Alves 1C. F. Faintink 5Casa Inthon 4Casa Irm ãos Ditzel 13Casa Jacob 1Casa J. Bach Cia. 1Casa Justus 1Casa Osternak 3Casa Pontagrossense 1Casa Progresso 2Casa Roni 1Livraria Modelo 5

Costura, Ind ústria T êxtilMalharia 1Singer 3

Defesa Militar, Ex ércitoTenente 1

Entretenimento e LazerBar 1Cine Teatro  Éden 2

Explosivos e Fogos de Artif ícioFábrica de Fogos 8

FerroviaArmaz ém 4Bilheteria 1Estrada 15Hospital 3Telegrapho 1

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3.1 Plataforma: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e suas 

ocupações.

[continuando]

*Entre os 1148 trabalhadores registrados no Centro Operário, apenas 336 colocaram suas devidas 

funções.

Funer áriaFuner ária 3

HotelariaHotel Martins 1

ImprensaDi ário dos Campos 1Gazeta do Povo 1Tipographia Modello 1

Lavanderia e TinturariaTinturaria 3

Madeireiras, SerrariasCarpintaria Bodenbach 1Madeireira Exportadora Sonyra 56Off. Marcenaria Plonka 7Serraria Cruzeiro 23Serraria Lurdes 7Serraria Ollinda 17

Mec ânicas e Revendedoras de Autom óveisAg ência FORD 10Officina Chevrolet 14Officina Mechanica 2

Moinhos e Beneficiamento de FarinhaF. Farinha 11Moinho S. Jo ão 2

Oficinas e Metal úrgicasFerraria Pedro Souza 1Fundi ção Perli 2Funilaria S. Mattos 1Off. Cunha 3Off. Jo ão Holzman 1Off. Pontagrossense 4Off. Z é Miara 1

OlariasOlaria Moro 2

Poder Judici árioFórum 3

PrefeituraEscrit ório 3Fiscal 1Trafego 1

Usina, Fia ção, EletricidadeCia. Prada 5Uzina Pitangui 3

Zona RuralCol. Moema 1Fazenda Modelo 3

Outras/Categoria n ão identificadaA. Nacional 1Carvalho Oliveira 1Fca. Antunes 1Fca. Christ Justus 1Fab. Cometa 1Fab. Chuchene 1Fab. Lili 1F. Royal 2F. S. Jos é 4F. Princeza 3Fab. Ribas 4Irm ãos Barretos 1

Total90 336*

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         3.2 Gráfico: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e suas 

ocupações.

  

Trabalhadores – Categoria

Enxadeiro

Marmorista

Fábrica de Banha

C. F. Faintink

Casa J. Bach Cia.

Casa Progresso

Costura, Indústria Têxtil

Defesa Militar, Exército

Bar

Fábrica de Fogos

Bilheteria

Hotelaria

Diário dos Campos

Lavanderia e Tinturaria

Carpintaria Bodenbach

Serraria Lurdes

Agência FORD

Moinhos e Beneficiamento de Farinha

Oficinas e Metalúrgicas

Off. Cunha

Poder Judiciário

Escritório

Usina, Fiação, Eletricidade

Zona Rural

Outras/Categoria não identificada

Fca. Christ Justus

F. Royal

Irmãos Barretos

0 10 20 30 40 50 60

Trabalhadores

Est

abel

ecim

ento

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   3.3 TABELAS: Plataformas usadas para Análise de Conteúdo.      

     3.3.1    Núcleo de Sentido: Política.

          3.3.2 Núcleo de Sentido: Beneficência

Núc l e o   d e   S e n t i d oA t a D a t a S e s são Pág i n a s P a l a v r a   1 P a l a v r a   2 P a l a v r a   3P a l a v r a   4A u t o rB E N E F I CÊN C I A N o .   0 2 0 1 o .   D e   M a i o   d e   1 9 2 9S o l e n e   –   F u n d aç ão 4 ' b e m   e s t a r ' ' ' c l a s s e   o p e r a r i a   l o c a l ' '' m o r a l ' ' 'm a t e r i a l m e n t eA f f o n s o   B r a u n e   –   1 o .   S e c r e tár i o

N o .   0 4 1 6   d e   J u n h o   d e   1 9 2 9A s s e m b léi a 2 ' E s c o l a   O p e rár i a ' ' ' v a n t a g e n s ' ' P r o f e s s o r   R o b e r t o   M o n g r u e lN o .   0 5 2 3   d e   J u n h o   d e   1 9 2 9A s s e m b léi a   –   3 a .   C h a m a d a4 ' ' p e c u l i o ' ' ' sóc i o s   m u t u a i s ' 'N o .   0 9 1 2   d e   A g o s t o   d e   1 9 2 9A s s e m b léi a 1 ' E s c o l a ' ' ' i n a u g u r aç ão ' ' J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t eN o .   1 3 2 4   d e   N o v e m b r o   d e   1 9 2 9E x t r a o r d i nár i a 2 ' ' b e n i f i c e n c i a ' ' 1 9 3 0 Máx i m o   L e o p o l d o   A r r u e z   –   2 o .   O r a d o r

' ' C o m i s são   d e   B e n e f i c e n c i a ' 'N o .   1 6 2 0   d e   D e z e m b r o   d e   1 9 2 9R e u n ião 2 ' méd i c o ' ' ' ' p h a r m a c i a ' ' J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t eN o .   1 7 0 1 o .   D e   J a n e i r o   d e   1 9 2 9S o l e n e   –   A s s e m b léi a 3 ' ' b e n i f i c e n c i a ' ' ' ' i n s t a l l a d a ' ' ' u n i d o ' ' ' f o r t e ' ' J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t e

' E s c o l a ' ' A d e j a m i r o   C a r d o n   –   1 o .   O r a d o rN o .   2 0 2 1   d e   f e v e r e i r o   d e   1 9 2 9E x t r a o r d i nár i a 2 ' ' P o l i c l i n i c a ' ' A n t o n i o   B a c i t a   –   D i r e t o r   d a   P o l i c l i n i c a   P o n t a g r o s s e n s e

' a u m e n t o ' ' ' n o b r e   f a c u l t a t i v o ' 'J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t e' D r .  C a r l o s   R i b e i r o   d e   M a c e d o

Núcleo de Sentido Ata Data Sessão Páginas Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 Palavra 4 AutorPOLÍTICA No. 02 01o. De Maio de 1929 Solene – Fundação 4 ''comum accordo'' 'Estado'' ''Paiz'' Affonso Braune – 1o. Secretário

'Prefeito''No. 05 23 de Junho de 1929 Assembléia – 3a. Chamada 4 'alistamento'' 'deveres cívicos'' 'eleições'' 'Artigo 72'' Adejamiro Cardon – 1o. Orador

No, 10 18 de Agosto de 1929 Assembléia – 2a. Chamada 4 ''Walfrido Pilotto'' ''academico'' ''socio benemerito'' 'relevantes serviços''

'maioria'' 'política'' 'explicação'' ''Colluna Operaria'' João Perantunes – Vice­presidente do Conselho Fiscal'telegrama'' ''assumptos politicos'' 'bom nome'' João Perantunes – Vice­presidente do Conselho Fiscal

No. 11 25 de Agosto de 1929 Assembléia – 3a. Chamada 15 'telegrama'' ''Julio Prestes'' 'candidatura'''telegrama'' 'classe obreira'' ''Elizeu Campos Mello'' 'nome honroso'' José Deslandes de Souza – Presidentetelegrama'' ''Julio Prestes'' 'Presidente'' 'grande trabalhador'' Adejamiro Cardon – 1o. Oradortelegrama'' 'renúncia'' José Deslandes de Souza – Presidentechave do ouro' sede' 'Prefeitura''

No. 11 (?) 25 de Setembro de 1929 Extraordinária 5 'deputado'' 'Congresso'' 'operário batalhador'' ''Elbe Pospissil'' José Deslandes de Souza – Presidente''Walfrido Pilotto'' 'sócio benemérito'' 'conclusão'' 'agradecimento'''votação'' 'censura'' 'união'' 'deveres cívicos'' João Shmidt Filho

No. 12 24 de Outubro de 1929 Extraordinária 3 votação'' 'cédulas'' 'interesses de classe'' ''Elbe Pospissil'' José Deslandes de Souza – Presidente'ofício'' ''Affonso Camargo'' José Deslandes de Souza – Presidente

No. 15 05 de Dezembro de 1929 Reunião 1 ''Walfrido Pilotto'' 'delegado especial'' 'tese'' Máximo Leopoldo Arruez – 2o. OradorNo. 16 20 de Dezembro de 1929 Reunião 2 'agradecimento'' Major Bernardo'' 'Augusto Cunha'' João Ferigotti – 1o. TesoureiroNo. 17 01o. De Janeiro de 1939 Solene 3 Prefeito'' Rainha dos Operários'' ''Elizeu Campos Mello'' 'famílias''

'sociedades congêneres'' 'solidariedade'' 'prosperidade''No. 18 14 de Janeiro de 1930 Extraordinária 'eliminação'' ''Affonso Braune'' ''ideias politicas'' Artigo 72'' Joaquim Wirruez – Gerente da SonyraNo. 19 21 de Janeiro de 1930 Extraordinária 2 ''Walfrido Pilotto'' delegado'' 'convenção''

eliminação'' ''Affonso Braune'' motivos conhecido'' Artigo 72''No. 22 06 de Abril de 1930 Assembléia  7 'desacato'' 'José Deslandes de Souza'' ''Adejamiro Cardon'' 'confusão'' João Shmidt FilhoNo. 23 11 de Abril de 1930 Reunião 4 ''conferencista operario'' 'Juvenal Santos'' 'Conferência'' 'patrocínio''No. 24 01o. De Maio de 1930 Solene – Aniversário 3 'posse'' 'Rainha dos Operários'' ''Rainha do Commercio'' 13o. R. De Infantaria''

resignação' renúncia'' João Ferigotti' Presidente Honorário'' Adejamiro Cardon – 1o. Oradoroperários'' 'unidos e fortes'' ''programma social'''Sociedades operárias'' 'saudações de estilo''

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3.3.3 Núcleo de Sentido: Lazer

3.3.4 Tabela 4. Núcleo de Sentido: Manutenção/Cotidiano

Núc l e o   d e   S e n t i d o A t a D a t a S e s são Pág i n a s P a l a v r a   1 P a l a v r a   2 P a l a v r a   3 P a l a v r a   4 A u t o rL A Z E R N o .   0 2 1 o .   d e   M a i o   d e   1 9 2 9S o l e n e   –   F u n d aç ão 4 'f e s t a '' 'h o m e n s   d o   t r a b a lh o '''1 o .   D e   M a i o ' ' E l i z e u   d e   C a m p o s   M e l l o   –   P r e f e i t o

N o .   0 3 0 2   d e   J u n h o   d e   1 9 2 9A s s e m b léi a 2 'd o aç ão '' '5 0   v o l u m e s ''N o .   1 2 2 4   d e   O u t u b r o   d e   1 9 2 9E x t r a o r d i nár i a 3 'A s s o c i aç ão   H o m e n s   d o   T r a b a l h o ' ''h o n r a '' 's o b e r a n ia '' J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   ­   P r e s i d e n t eN o .   1 3 2 4   d e   N o v e m b r o   d e   1 9 2 9E x t r a o r d i nár i a 2 'T aça   O p e r a r i a ' ' '' f u t e b o l l ' ' ' 'c l u b e s   s o c i a e s '''c a i x a   d o   C e n t r o ''J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t e

's e s são   cív i c a ' ' J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t eN o .   1 6 2 0   d e   D e z e m b r o   d e   1 9 2 9R e u n ião 2 'T aça   O p e r a r i a ' ' 'n o m e aç ão '' J o sé  D e s l a n d e s   d e   S o u z a   –   P r e s i d e n t eN o .   1 7 0 1 o .   D e   J a n e i r o   d e   1 9 3 0S o l e n e   –   A s s e m b léi a 3 'f a míl i a s ' 'N o .   1 9 2 1   d e   J a n e i r o   d e   1 9 3 0E x t r a o r d i nár i a 2 'l i v r o s ''

N o .   2 3 1 1   d e   A b r i l   d e   1 9 3 0R e u n ião 4 'f e s t e j o s   c o m m e m o r a t i v o s '''D i a   d o   T r a b a l h o '''1 o .   D e   M a i o ' ' J oão   F e r i g o t t i   –   1 o .   T e s o u r e i r o

N o .   2 4 0 1 o .   D e   M a io   d e   1 9 3 0S o l e n e   –   A n i v e r sár i o 3 a n i v e r sár i o ' 'p o s s e '' '1 o .   d e   M a i o ''

Núcleo  de S entido Ata Data Sessão Páginas Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 P alavra 4 AutorMA NUTENÇÃO (s em núm ero) 12 de M aio de 1929 Reunião ­ Com issão do E s tatuto 2 'E s tatuto ''

No. 05 23 de Junho de 1929 Assembléia 4 'E s tatuto '' 'aprovação''condições  financeiras '' 'óptimas '' João Ferigotti – 1o. Tesoureiro

No. 06 04 de Julho de 1929 Reunião 1 ''c omissão de sindicanc ia''No. 07 21 de Julho de 1929 Ex traordinária 2 'S ecretário'' 'Substituição''No. 08 24 de Julho de 1929 Reunião 2 ''illum inação'' 'Clube Paranaens e''No. 11 25 de Agosto de 1929Assembléia 3a. Convoc ação 15'S ubs tituição'' 'Conselho F iscal'' 'bom nom e'' José Des landes  de Souza – P residente

'desres peito '' 'lei social'' 'es tatuto'' 'm archa v itoriosa''José Des landes  de Souza – P residenteLivro de Ouro'' José Des landes  de Souza – P residente

No. 11 (12) 25 de Setembro de 1929Ex traordinária 5 'm embros  faltando'' A lbino Wiechetec k – Pres idente do Conselho Fiscal''E s tatutos soc iaes'' 'cópias'' 'Com is são de Rev isão'' José Des landes  de Souza – P residente'reuniões '' Clube Paranaense''

No. 13 24 de Novem bro de 1929Ex traordinária 2 'bom andamento'' João Ferigotti – 1o. Tesoureiro'S ubs tituição'' João Ferigotti – 1o. Tesoureiro

No. 14 28 de Novem bro de 1929Ex traordinária 4 Subs tituição'' A lbino Wiechetec k – Pres idente do Conselho Fiscal''Ford'' 'rifa '' José Des landes  de Souza – P residente'm ensalidades '' 'ofíc io'' Máx im o Leopoldo A rruez  – 2o.  OradorSubs tituição''

No. 15 05 de Dezem bro de 1929Reunião 1 'Conselho Fiscal'' A lbino Wiechetec k – Pres idente do Conselho Fiscalm ensalidades'' 'talões  de cobrança'' João Ferigotti – 1o. Tesoureiro

No. 16 20 de Dezem bro de 1929Reunião 2 'Regulam ento  interno''''photografia'' 'pres idente'' Adejam iro Cardon – 1o. O rador

No. 17 01o. De Janeiro de 1930Solene – A ssembléia 3 'condições  f inanceiras'' 'chave de ouro'' João Ferigotti – 1o. Tesoureirom ensalidades'' 'sus pensão da beneficência'' José Des landes  de Souza – P residente

No. 18 14 de Janeiro de 1930Ex traordinária 'm ensalidades '' ''Sonyra'' Joaquim  Wirruez – Gerenta da S erraria SonyraNo. 19 21 de Janeiro de 1930Ex traordinária 2 'propos ta'' Joaquim  Wirruez – Gerenta da S erraria Sonyra

'elim inação'' João Shmidt Filho e Dário CardonNo. 21 16 de M arço de 1930 Assembléia Extraordinária 1 'es tatuto'' ''nov a directoria'' 'eleições '' José Des landes  de Souza – P residenteNo. 22 06 de Abril de 1930 Assembléia 7 'es tatuto'' 'ordem '' 'votaç ão'' 'tesouraria''No. 23 11 de Abril de 1930 Reunião 4 'pagam ento'' 'médico'' ''S am uel S tark '

'gesto elogios o'' 'donativo'' ''S am uel S tark ' ''bella acção'' Sam uel S tarkNo. 24 01o. De Maio de 1930Solene – A niversário 3 'posse'' ''nov a directoria'' 'relatorio'' tesouraria '' José Des landes  de Souza – P residente

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3.4 Fotografias

FIGURA 14 – Capa do Livro de Inscrição de Sócios

FIGURA 15 – Relação de associados no Livro de Mensalidades

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FIGURA 16 – Assinatura do presidente José Deslandes de Sousa no carimbo do C.O.C.B

FIGURA 17 – Antiga sede do Centro Operário

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FIGURA 18 – Símbolo do Centro Operário Cívico e Beneficente talhado em pedra

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3.5 Texto Integral da Ata de posse da 2a. Diretoria

 Ata no. 24Sessão Solene d 1o. Aniversário do Centro Operário Cívico e Beneficente e da posse da sua 2a. Diretoria

.1o. De Maio de 1930

''Às 9 horas da noite após grande passeata desta Sociedade, fechada pela Banda musical Lyra dos Campos onde imperava o Estandarte Brasileiro, deu entrada na Sede a Directoria acompanhada de grande multidão de pessoas de todas as classes sociaes. O recinto que estava (…) ornamentado e [illuminado], já se achava compacto de socios sociaes, e cavalheiros, senhoras e senhoritas estranhos ao Centro, embora o livro presencias accuse sãosomente o registro de 143 comparecimentos.

Logo a Directoria   formou os seus  lugares na meza que para este acto   foi  collocada no palco, tomando tambem lugares distintos S. M. Leonor Braga Rainha dos Operários, S. M. Anna Varigt Rainha do Commercio, Sta. Lucia Dechandt, O Sr. Capitão representante do 13o. R. De Infantaria, O Sr. Alberto Lopes, os representantes de diversas associações e outras pessoas fradas.

Abriu a Sessão Solenne a Sta. Leonor Braga Rainha dos Operarios.O presidente leu o relatorio referente ao anno da sua gestão e bem assim um pequeno relatorio a 

thesouraria; chamou os novos directores eleitos foram formando posse com excepção do Sr. João Ferigotti eleito presidente honorário que resignou no momento de empossar­se.

Dada a palavra ao Sr. Adejamiro Cardon orador official da Directoria que deixava o mandato, essê referiu­se sobre o progresso da Sociedade e desculpou­se para com a assistencia e renuncia do Sr. João Ferigotti do cargo para o qual fôra eleito.

Segui­se­lhe   com   a   palavra   o   Sr.   Walfrido   R.   De   Almeida   Presidente   recem   empossado   que agradecendo   a   indicação   do   seu   nome   verbejou   a   necessidade   incondicional   do   apoio   de   todos   os componentes do Centro, para assim, unidos e fortes, chegarmos ao alvo que tanto almejamos.

Depois deste, fallou o Sr. Manoel de Oliveira que discorreu com entusiasmo bellas palavras acerca do nosso programma social; agradeceu à Directoria que deixava o mandato e na mesma ocasião inaugurou officialmente a photografia do Sr. José Deslandes de Souza ex­Presidente.

O Sr. José D. De Souza tomando a palavra em longo discurso agradeceu a gentileza dos diversos consocios que lhe offereceram aquella photografia.

Fallaram mais como representantes das diversas Sociedades convidadas para este acto de posse Solenne os seguintes senhores: Vicente Tavares pelo Club Democrata e pelo Olinda S. Club – José  pelo Club Operario do Imbituva – Carlos Alvaro pela Soc. Economica Operaria. Em seguida o Sr. Presidente inaugurou a palavra para quem quisesse fazer uso. Como ninguem mais se manifestasse, e nada mais houvesse a se tratar, após as saudações de estilo entre os directores, o Sr. Presidente encerrou a Sessão as 10 horas da noite do que para constar eu João Perantunes lavrei a presente Acta, que depois de lida discutida e approvada, será assignada pelo Sr. Presidente e por mim Secretario que a escrevi.

Recinto da Sede Social em Ponta Grossa no dia 1o. De Maio de 1930.Presidente 1o. Secretario

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