Introdução ao Candomble

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Introdução Candomblé é uma palavra africana que significa "dança". O Candomblé propriamente dito, é uma dança religiosa, de origem africana, na qual os iniciados reverenciam ou rezam para seus Orixás . A dança é, portanto, uma invocação. É praticada principalmente por pessoas do sexo feminino, chamadas sambas . Homens também podem participar da dança, mas o bailado das sambas tem maior efeito invocador. A palavra Candomblé passou a designar o Culto dos Orixás. Orixá , termo de origem africana designativo das forças cósmicas e vivas da natureza, divinizadas pelos homens primitivos, que as invocavam. Exemplo: os mares, as matas, os rios, o amor, os ventos etc. Orixá, portanto, é uma força de criação divina e uma manifestação de Olorum . A natureza é a manifestação material dos Orixás. Olorum , o Criador, é tudo: não tem representação nem fetiches. É infinito. É o Pai da criação universal. Corresponde, pois, à ideia de Deus. Desde os primórdios da criação o homem sempre atribuiu aos fenómenos da natureza, os quais ele não sabia explicar, à obra de um ser supremo ao qual deu o nome de deus. Não foi diferente com os africanos da antiguidade. A cada fenómeno da natureza ele atribuiu a uma divindade que, para seu entendimento, deu-lhe a sua forma humana e um nome. O deus do trovão é Xangô, dos rios é Oxum, do ferro é Ogum e assim por diante. São os chamados orixás. As lendas mitológicas desses orixás contam que em algum tempo atrás eles viveram na terra entre os homens lhes ensinando, protegendo e castigando. Após sua morte, subida ao Orum (morada dos deuses), transformaram-se em orixás. Transformaram-se em ancestrais divinizados que continuam até os dias de hoje influenciando a vida de seus descendentes. Dentre as mais variadas definições para a palavra Orixá, a mais aceita pela maioria dos umbandistas e candomblecistas é a que significa "dono da cabeça" ou "energia que comanda a cabeça", uma energia vibrante de determinado deus (ancestral divinizado) que liga o homem - espírito (energia) encarnado - ao mundo espiritual (poder da criação). Esta energia, invisível ao olho humano, possui uma fonte geradora (divindade) e uma frequência modular que imprime certas características particulares e efeitos na personalidade do ser humano e interfere na sua vida e destino. A fonte dessa energia comanda e influencia determinados pontos e fenómenos naturais que ocorrem no planeta terra. Por isso cada energia (orixá), diferente uma da outra, possui uma cor, um lugar, uma planta, um animal, um dia da semana, um objecto sagrado e

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Introdução

Candomblé é uma palavra africana que significa "dança". O Candomblé propriamente dito, é uma dança religiosa, de origem africana, na qual os iniciados reverenciam ou rezam para seus Orixás. A dança é, portanto, uma invocação. É praticada principalmente por pessoas do sexo feminino, chamadas sambas. Homens também podem participar da dança, mas o bailado das sambas tem maior efeito invocador. A palavra Candomblé passou a designar o Culto dos Orixás.

Orixá, termo de origem africana designativo das forças cósmicas e vivas da natureza, divinizadas pelos homens primitivos, que as invocavam. Exemplo: os mares, as matas, os rios, o amor, os ventos etc. Orixá, portanto, é uma força de criação divina e uma manifestação de Olorum. A natureza é a manifestação material dos Orixás.

Olorum, o Criador, é tudo: não tem representação nem fetiches. É infinito. É o Pai da criação universal. Corresponde, pois, à ideia de Deus.

Desde os primórdios da criação o homem sempre atribuiu aos fenómenos da natureza, os quais ele não sabia explicar, à obra de um ser supremo ao qual deu o nome de deus. Não foi diferente com os africanos da antiguidade. A cada fenómeno da natureza ele atribuiu a uma divindade que, para seu entendimento, deu-lhe a sua forma humana e um nome. O deus do trovão é Xangô, dos rios é Oxum, do ferro é Ogum e assim por diante. São os chamados orixás. As lendas mitológicas desses orixás contam que em algum tempo atrás eles viveram na terra entre os homens lhes ensinando, protegendo e castigando. Após sua morte, subida ao Orum (morada dos deuses), transformaram-se em orixás. Transformaram-se em ancestrais divinizados que continuam até os dias de hoje influenciando a vida de seus descendentes.

Dentre as mais variadas definições para a palavra Orixá, a mais aceita pela maioria dos umbandistas e candomblecistas é a que significa "dono da cabeça" ou "energia que comanda a cabeça", uma energia vibrante de determinado deus (ancestral divinizado) que liga o homem - espírito (energia) encarnado - ao mundo espiritual (poder da criação). Esta energia, invisível ao olho humano, possui uma fonte geradora (divindade) e uma frequência modular que imprime certas características particulares e efeitos na personalidade do ser humano e interfere na sua vida e destino. A fonte dessa energia comanda e influencia determinados pontos e fenómenos naturais que ocorrem no planeta terra. Por isso cada energia (orixá), diferente uma da outra, possui uma cor, um lugar, uma planta, um animal, um dia da semana, um objecto sagrado e por conseguinte, também diversos seres humanos (filhos de orixás) cuja energia espiritual se lhe parece.

Pela forte influência do catolicismo no Brasil Colónia e a proibição dos cultos ditos profanos praticados pelos escravos africanos, os orixás receberam nomes de santos católicos. É o chamado sincretismo.

Histórico

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Os primeiros negros que foram trazidos da África para o Brasil, como escravos, provinham de Angola e do Congo. Pertenciam à família banto, ou bantu, da raça negra. Estes já tinham praticamente perdido seus costumes, língua e cultos religiosos, quando se iniciou, no século XVIII, com a descoberta do ouro nas Minas Gerais, e para ajudar na lavra do metal, o chamado resgate de prisioneiros de guerra, da Costa da Mina de São Jorge, no litoral norte do Golfo de Guiné, na região onde se encontram a Costa do Ouro, a Costa do Marfim, a Costa dos Escravos, e onde se criaram os modernos estados da Nigéria, do Daomé, de Togo, da Costa do Marfim e da Gana. Estes "negros da Costa", que eram desembarcados na cidade do Salvador, então capital do Brasil, e próxima à Costa da Mina, pertenciam a muitas tribos ou "nações" importantes, algumas de adiantado grau de cultura, como os minas, jejês, axantis, fulas, mandingosmandingos, lauças (quer eram maometanos), e os iorubás, também chamados nagôs. E foi principalmente dos cultos iorubás que surgiu no Brasil o Candomblé, ou Culto dos Orixás.

Havia, de parte dos senhores, das autoridades e da Igreja, um zelo natural pela conversão dos africanos ao catolicismo, sendo considerado um dever cristão receberem os mesmos a doutrina, serem baptizados e levados à prática da religião católica. Com o objectivo de evitar choques com as autoridades, sem deixar de preservar na prática do seu culto, os africanos dissimulavam seus otás colocando sempre à frente deles a imagem de um santo católico que mais se aproximasse - segundo interpretações individuais - das características do Orixá cultuado. Nasceu, com isto, um grande sincretismo dos Orixás com os santos da Igreja. A falta de sistematização com que se realizou esse ajustamento muito concorreu para que surgissem as discrepâncias hoje constatáveis. Assim é que diferentes santos da Igreja são sincretizados num mesmo Orixá. Não admira, pois, que tenha o culto, evoluindo por sobre tantos obstáculos, se vestido das variações que hoje apresenta. Consideramos mesmo um milagre, maravilhoso milagre, não haja registrado o desdobrar dos tempos o mais leve desgaste na permanência do Culto dos Orixás.

Hoje, porém, graças aos esforços dos fiéis e ao desenvolvimento dos meios de comunicação, que vem possibilitando um intercâmbio amplo entre os praticantes das diversas "nações", as práticas se vão apurando constantemente. Isso devolverá, sem dúvida, ao Candomblé a pureza e o vigor de suas origens e contribuirá para integrar numa só trilha ritualística todos os irmãos de santo.

Obs.:

Iorubá

É bom lembrar sempre que o iorubá é a língua dos Orixás, originário da Nigéria, África Ocidental. A palavra Orixá significa Ministro de Olorum. O idioma iorubá enquadra, entre outros, os povos Ijexá, Ketu e etc. Dos iorubás pertencem os Orixás Exu, Xangô, Oxum, Iansã, Obaluauê e outros.

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Sua importância é muito significativa, pois saberemos compreender cada cântico do Candomblé. Para maior compreensão do idioma iorubá, deve-se conhecer os pronomes, os verbos e etc.

Local

O culto dos Orixás pode ser praticado em qualquer lugar. No Brasil, a prática se faz, normalmente, em barracões ou roças, preferencialmente distantes das cidades, porque os toques e os rituais por vezes se prolongam, podendo até mesmo durar 21 dias. A congregação dos frequentadores de um barracão é chamada filhos-de-santo, e é dirigida pelo seu babalaô, o pai-de-santo.

A denominação barracão vem do tempo das senzalas e dos escravos, mas pode ser qualquer tipo de edificação.

No recinto principal do barracão há um trono sacerdotal e um estádio, o altar dos atabaques, instrumentos de percussão consagrados aos Orixás. No centro do barracão encontra-se enterrado o axé (força) de fundamento do barracão, que é ligado, por um mastro, ao teto, simbolizando a vinculação do homem aos Orixás, consequentemente a Olorum.

Anexados ao recinto principal, ou terreiro, ficam o roncó, a camarinha e as criadeiras; estes são, todos, locais fechados aos visitantes. São câmaras separadas. Em torno do barracão devem existir os ilês, ou casas consagradas aos Orixás, que podem constituir partes do mesmo edifício do barracão ou construções separadas. O roncó é o recinto onde estão assentados os otás dos Santos. Nele fica o peji, lugar reservado aos assentamentos e otás. A camarinha é onde se preparam os iaôs para a feitura do santo em sua cabeça. Nela também são feitos a preparação dos assentamentos, o sacrifício de animais, as curas, etc.

Normalmente, dentro do roncó fica, assentado na terra, o eró (segredo) do babalaô. As criadeiras, como indica seu nome, são recintos onde os iaôs ficam alojados e recebem do babalaô e da mãe-criadeira os ensinamentos e alguns erós (segredo).

No Brasil, é usual colocar-se, à esquerda e um pouco antes da entrada do barracão, a Casa de Morada do Exu ou guardião, uma pequena construção também chamada tronqueira. Do outro lado, isto é, à direita do barracão, fica a casa destinada às almas (eguns), denominada Casa do Balé das Almas.

Hierarquia no Candomblé

Qualquer pessoa pode assistir às cerimónias comuns de candomblé, como visitante, sem participação, bastando solicitar permissão ao babalaô, ou pedigã (chefe do cerimonial), ou mesmo a qualquer iniciado.

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Os que tomam parte nas cerimónias de candomblé são chamados filhos-de-santo. Aquele que, embora compareça com regularidade às suas práticas, não se tenha ainda iniciado no culto, dá-se o nome de abiã.

A iniciação no culto pode dar-se por livre vontade do abiã, mas também ocorre através de chamado do Orixá. Esse chamado denomina-se "bolar para o santo". Recolhe-se então ao roncó aquele que vai cumprir o estágio da iniciação. Completada a iniciação (feitura do santo na cabeça), o filho-de-santo, antes abiã, passa à condição de iaô.

Os iaôs levam sete anos de aprendizado para completar seu estágio. Durante este tempo, recebem várias funções, que os vão preparando para se tornarem babalorixás, ou, se femininos, ialorixás.

Equede: Zela pelos assentamentos e quartinha do roncó e do Exu, ajuda a mãe criadeira e transmite os ensinamentos aos abiãs.

Ebâmi: Após sete anos de aprendizado como iaô, o iniciado é levantado ebâmi, isto é, atinge a situação de ebâmi. Poderá, entretanto, receber o decá, ordem para fazer santo, e assim iniciará outro barracão, sob sua direcção.

Babalorixá: É um ebâmi que foi levantado a esta posição depois de sete anos de feito no santo, nunca menos.

Babalaô: É o sacerdote qualificado para ministrar o Culto dos Orixás. Chama-se também Pai-de-santo. É um babalorixá que recebeu de um babalaô dois poderes: o poder de fazer santo (comumente, fazer cabeça), e o poder de mão-de-búzios. O Babalaô é um criador de iaôs e futuros babalaôs. Assim, é um patriarca espiritual, que forma verdadeiras famílias, ou clãs, de babalaôs, que o reverenciam por toda a vida e o chamam respeitosamente de grande Pai, Mestre ou chefe. Não sendo necessariamente um homem para ocupar tal cargo. Ainda dentro dessa divisão, é prerrogativa do babalaô fazer indicações para certos cargos religiosos, não sendo necessariamente obrigatório que as pessoas indicadas sejam iaôs.

Axogum: Sacrificador de animais de dois ou quatro pés;

Alabê: "puxador" das cantigas dos santos;

Ogã: tocador de atabaque, podendo também ajudar a cantar.

Os orixás

Todos os seres humanos nascem da natureza, num determinado lugar, dia e hora, sob o comando de um Orixá. Assim, claro está que receberam a influência desse Orixá e, portanto, cada um terá em toda a sua vida as vibrações e protecção do Pai Orixá a que está vinculado, de origem natural, o qual rege seu destino.

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Os Orixás incorporam nos médiuns (iaôs) sob a condição vibratória. Chama-se esse transe virar para o santo. A primeira vez que ocorre com uma pessoa, denomina-se bolar para o santo. A incorporação do Orixá, sendo vibratória, não transmite mensagens orais, como sucede com a incorporação de espíritos desencarnados (chamados, no Candomblé, de eguns) e com os encantados.

O culto, no Candomblé, é feito exclusivamente aos Orixás. É grande o número de Orixás. Conhecem-se os mais cultuados, mas outros surgem, revelando-se aos poucos. Apresentamos a seguir alguns orixás, não por ordem de importância, pois tal ordem é desconhecida; existem, naturalmente, predileções pessoais, mas entre os Orixás não há hierarquia. Eis os mais generalizadamente cultuados:

Masculinos FemininosExu Iansã

Ogun OxumOxóssi Yemanjá

Omulu/Obaluayê (Xapanã) NanãOxumarê

OxaláOssainXangôOxalá

De cada um dos Orixás relacionados, explanaremos a representação e manifestação material, o correspondente temperamento de seus filhos, as cores favoritas de cada Orixá. As comidas que os iniciados e adeptos oferecem aos seus Orixás, os apetrechos e armas usados e preferidos pelos Orixás.

Erê (ibeji)

Geralmente mencionado entre os Orixás, por ter grande actuação nos Candomblés. O Erê é uma vibração especial dos Orixás; é o mediador entre o iaô, o babalaô e um Orixá. O iaô recebe Erê tomando a vibração infantil ordenada. O Erê, vibrando no iaô, transmite oralmente as ordens recebidas do Orixá. Auxilia-o nas danças do ritual e transmite-lhe todos os ensinamentos necessários, inclusive o vigor e a vitalidade imprescindíveis à feitura completa do Santo na cabeça do iaô. Ao Erê não existe dia especialmente consagrado, pois atua depois - às vezes antes - da vinda do Orixá. Gosta de guloseimas. No entanto recebe como oferenda o caruru (quiabo com camarão). Em casos especiais, o iaô o homenageia trajando-se como príncipe. As cores serão as do Orixá correspondente. Nas manifestações de Erê, o iaô sob a sua vibração se comporta como criança, inclusive no linguajar, e o nome com que se identifica relaciona-se de alguma forma com o Orixá a que está ligado. Assim, se for de Oxalá, poderá denominar-se, por exemplo, Chuvinha de Prata; se de Yemanjá, chamar-se-á Marisquinho ou Pérola, ou

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outro nome que lembre mar; se de Oxumarê, Cobrinha; de Oxum, Flor do Campo; de Iansã, Corisquinho; de Omulu, Sapinho, etc.

Orixás masculinos

Exu

Existe grande confusão em torno de Exu, principalmente quanto a sua errónea concepção com o demónio dos católicos. Num estudo profundo sobre a mitologia africana, principalmente a Iorubana, poderemos constatar que Exu não é diabo, mas, sim, um Deus, responsável pelas mensagens dos Orixás. Na verdade, Exu serve de intermediário entre os Orixás e os adeptos do Candomblé. Cada Orixá possui seu Exu, assim também como cada pessoa. O trabalho de Exu é, principalmente, o da comunicação, por este motivo ele é o senhor das vias de acesso, como estradas, atalhos, caminhos e encruzilhadas. Exu possui grande importância dentro dos cultos afro-brasileiros, visto que, sem seu apoio, as mensagens e os pedidos não chegarão aos Orixás. Sendo agente universal, é "faca de dois gumes". É muito serviçal e mercenário, pois nada faz sem recompensa imediata.

As cores votivas de Exu são o preto, o vermelho e o cinza. O dia que lhe é consagrado é a segunda-feira. Os principais metais são o bronze e o ferro. As oferendas a Exu chamam-se padês, feitas de farinha de mesa com azeite-de-dendê e farinha d'água com cachaça. O arquétipo dos filhos de Exu são aqueles com espírito bastante brincalhão e exuberante. A aparência física é muito importante e estão sorrindo constantemente. Geralmente, os filhos de Exu são magros e altos, com sorrisos bem largos. Sauda-se: Larôiê!!

Ogum

Ogum é a manifestação da luta, do esforço, da defesa. Sob sua esfera de influência estão as artes metálicas. É o Orixá das guerras e das demandas. Atua dominando o Rei das Encruzilhadas, Exu, distribuindo-lhe funções e encargos. Seu metal é o ferro. Seus filhos são impetuosos, belicosos, autoritários, até certo ponto egoístas, cautelosos e desconfiados. Sua cor é o azul-marinho. Sua comida é o feijão cavalo, feijão preto, azeite-de-dendê e bife de carne bovina. Seu dia consagrado é terça-feira. Vestes do ritual: Saiote e atacã, predominando as cores azul-marinho e branco. Capacete de pano bordado em paietês, branco, dourado e mesmo azul, com penacho das mesmas

cores. Uma corrente pendente do capacete deve circular o pescoço do iaô. Uma espada na mão. Sauda-se: Ogunhê!!.

Oxóssi

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É o senhor rei da caça e da pesca. Rei das aves, por fim dos animais; seu ilá, conforme sua qualidade, parece o cantar de um pássaro ou o berro de um animal. Suas contas são verdes no Candomblé, seu dia de culto é quinta-feira. Gosta de Axoxó (milho cozido com fatia de côco). Dança com arco e flecha numa mão e na outra com eruchê (espécie de espanador feito com rabo de boi). Saiote de plumas verdes ou multicores; penacho e capacete verdes. Pulseiras e braceletes de bronze. Deve predominar o verde. Sua dança é mímica de uma caçada. Sauda-se: Okê Arô Oxóssi!!

Omulu/Obaluayê (Xapanã)

Xapanã é a manifestação da transformação, e tem duas formas. Obaluayê, que é Xapanã jovem, o início do ciclo, e Omulu, que é Xapanã velho, ou o fim do ciclo, e o consequente renascimento. Xapanã é comumente chamado "o médico dos pobres", considerado o senhor das epidemias e endemias. Seu metal é o chumbo. Seus filhos são sóbrios, reservados, geniosos, independentes, teimosos com facilidade de comunicação, e de generosidade destacada. Suas contas são vermelhas, pretas e brancas. Seu dia é a segunda-feira. Gostam de doburu (pipocas) ou flores de Obaluayê e de aberém, massa de milho branco assado em folhas de bananeira. Dança no ritmo do Opanijé, que é o nome de sua dança. Seus corpos, da cabeça aos pés, são cobertos pelo Filá de Palha da Costa e trazem na mão direita o xaxará (feito de um cubo coberto de Palha

da Costa e enfeitado com búzios, e tem uma forma parecida com um gancho na parte mais fina). Dizem que dentro desse xaxará, é onde ele carrega os seus remédios. Para a cura de doentes. Sua dança rítmica é toda mímica dos sofrimentos ocasionados pela doença, convulsões, coceiras, tremores de febre e do andar com as costas deformadas, como se fossem corcundas. Sauda-se bradando: A-tôtô

Oxumarê

Manifestação do conflito natural (Angora) e manifestação da ligação e da união (Dã). Tem sua representação na pororoca e no arco-íris. Seu metal é a prata mesclada com o ouro. Seus filhos são de temperamento desconfiado, retraídos, inconstantes, e muito observadores. Suas contas são verdes e amarelas. Seu dia é a terça-feira. Gosta de guguru (feijão com milho, cebola, azeite e camarão). Dança mostrando o céu e a Terra. Vestes do ritual: Bem coloridas, predominando o verde e o amarelo. Na cabeça um torso também colorido, podendo predominar o dourado, com uma trança descendo pelas costas, até o chão, nas mais variadas cores. Por cima do torso, uma coroa com a imagem de uma cobra. Braceletes e cetro também em forma de cobra. Sauda-

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se: Arrôbô-bôi!!.

Ossain

Manifestação da conservação e da preservação. É o Orixá da folhagem, sendo muito cultuado nos candomblés, pois é com o uso das folhas que se preparam os amacis (banho de folhas). Seu dia consagrado é a quinta-feira, sua cor é verde-claro, sua comida é canjica, milho vermelho. Frutos variados. Seu metal é o estanho. Tem muita afinidade com Oxóssi. Corresponde, no sincretismo criado, a caipora (tupi), que só tem uma perna, (vulgarmente chamado de Sacy Pererê). São raras suas manifestações. Vestes do ritual: Predominância do verde-claro. Capacete de plumas verdes. O cetro é um galho de árvore, geralmente de café, com seus frutos. Sauda-se: Eu-eu-uá!!.

Xangô

É a manifestação da justiça, da força e do poder. Tem sua representação no fogo celeste, no trovão, no raio e nas pedreiras. Seu metal é o chumbo. Seus filhos são voluntariosos, até certo ponto agressivos, denotando qualidades de chefia, ansiosos por posições de mando, em geral são muito sensuais. Suas cores são vermelho e branco, pode pegar castanho com branco. Seu dia é quarta-feira. Sua comida é rabada, quiabo e camarão seco.

Vestes do ritual: Vermelhas e brancas, braceletes de tiras de couro incrustadas de coroas de cobre. Na cabeça, coroa de latão ou cobre, incrustada de pedras coloridas. Pode haver combinação com dourado, azul ou rosa, dependendo da vibração especial do filho de Xangô. Na mão, um cetro de latão em forma de machado duplo, com asas, encimado com representação do fogo celeste. Sauda-se bradando: Caô Cabecile!!

Oxalá

É a manifestação cósmica do céu, da terra, da luz, da paz e do amor. Oxalá tem duas formas de manifestação: Oxaguiã (nascer do sol) e Oxalufã (pôr do sol), chamado por muito de o VELHÃO. Seu metal é o ouro, aplicado em forma de pulseiras. Sua comida é canjica, clara de ovo cozinha, inhame. Oxalá não aceita alimentos de cor, nem com sal. Seus filhos são de temperamento calmo, ainda que, muitas vezes, não o aparentem, e não guardam rancor. Apresentam grandes qualidades de liderança. É o pai da criação, senhor de tudo, do branco e da paz. E o símbolo de Oxaguiã é um ibá contendo um pilão, escudo, espada e os inhames de Oxalá, ou seja, as varas da justiça e providência divina. Vestes do ritual: Brancas, braceletes, capacete, ou coroa desenhada com búzios, e paxoró (cetro especial) prateados. O paxoró tem na

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extremidade superior uma esfera encimada por uma pomba de asas abertas. Sauda-se: Xêuêpa-bábá!!.

Orixás femininos

Iansã

É o Orixá de força para as tempestades, dos elementos aéreos, dos ventos, vendavais, tufões e os casos sentimentais. É muito procurada uma pedra de Iansã que cura, bastando aplicá-la na região afectada de doente. É um Orixá muito querido do povo em geral, tanto mulheres como homens; não há nada de anormal um homem adorar a Iansã. Comanda os eguns. Seu metal é o cobre. Sua cor é vermelha ou coral. Seu dia consagrado é quarta-feira,

sua principal comida é o acarajé.

Seus filhos, de temperamento caprichoso, são irrequietos, voluntariosos, guerreiros e vaidosos. Vestes do ritual: São coloridas, com predominância da cor coral ou vermelha dependendo da qualidade da Iansã. Na cabeça, uma coroa bordada com o imbé, franja de pérolas que caem sobre a face. Nas mãos uma espada e um eruxim, feito de crina, com cabo de metal. Usam-se muitos enfeites, colares e pulseiras. Sauda-se: Êparrêi!!.

Oxum

Oxum é a manifestação do amor, da cantura, da pureza e da bondade. É o Orixá das águas doces. Tem sua representação nas cachoeiras, nos rios e nos seixos. Seu metal é prata velha, amarelada ou ouro velho. Seus filhos são calmos, sonhadores, altruístas, desprendidos e ponderados. Oxum é a dona do tesouro, do ouro, no Candomblé é a rainha do ijexá. Sua ferramenta é o ibá, que se constitui de uma corrente de metal amarelo, onde se vêem pendurados peixinhos, pentes, coroa, abebê, idézinho, etc. tudo em metal amarelo, representando o ouro de que é possuidora. Seu dia consagrado é sábado, sua cor é o amarelo ouro, sua comida é o Omolocum (feijão fradinho e ovo).

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Vestes do ritual: Amarelas, com enfeites coloridos de azul, branco e rosa. Na cabeça um diadema em forma de coroa, com um imbé, ou franja, de pingentes de vidrilhos brancos e dourados cobrindo a face. Uma das qualidades de Oxum, a Apará, usa espada na mão e pode vestir variada com fundo amarelo. Pois de acordo com as lendas, Oxum Apará tem metade Oxum e metade Iansã. Sauda-se: Ora iê iêu!!.

Yemanjá

É a manifestação da procriação, da restauração, das emoções. É o Orixá das águas salgadas. Tem sua representação nos mares e oceanos. Seu poder vivificador se estende por todo o elemento aquoso, gerando e nutrindo novos seres. Yemanjá é o esplendor da natureza, símbolo da fecundidade e da reprodução. É chamada de Mãe de todos os Orixás pela maioria dos praticantes. Seu metal é prata. Seus filhos são de temperamento forte, agitados, decididos, ciumentos, faladores e vaidosos. Sua comida é o peixe, acaçá, manjar branco, leite de côco. Suas cores são branco transparente, prateado, que pode ser levemente azulado. Vestes do ritual: De cor branca prateada, podendo ser adornada com azul-claro ou rosa. Pulseiras de alumínio e um leque, de latão prateado, em forma de peixe. Na cabeça leva uma coroa de cor branca, com o imbé, fraja que cobre o rosto, de miçangas brancas

transparentes ou de cristal, que podem ser misturadas com algumas de cor azul-claro ou rosa. Às vezes carrega na mão esquerda um cetro em forma de sombrinha, assemelhado ao paxoró de Oxalá, com representações marinhas. Sauda-se: ôdoiá!!!

Nanã Buruquê

É a manifestação da purificação astral. É o Orixá da chuva, promovendo a limpeza e a purificação da atmosfera, eliminando o negativismo, propiciando, assim aos homens melhores condições de vida. Seu metal é o cobre ou o latão. Seus filhos são maduros, conscienciosos, lentos, firmes, sérios, bondosos, simpáticos, extremamente limpos. São de temperamento artístico. Deusa dos rios e lagos. A mais velha das iabás (orixás femininos) Mãe da água. Mãe das iabás. Festejada a 26 de

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julho, dia de Sant'Anna. Nanã é mãe de Xapanã. Tem seu altar próximo dos de Omulu e Oxumarê, porque esses três Orixás pertencem à nação Jeje-Mahi. Nanã Buruquê é Orixá feminino de grande poder. Sendo a mais velha das iabás ou mães-d'água. Seu dia consagrado é domingo e terça-feira. Sua comida é o peixe e o camarão de água-doce, cebola, farinha de milho e azeite-de-dendê. Vestes do ritual: Roupa branca, com aplicações roxo-claro, a cabeça envolta por um toucado de pano, pendendo, à frente, um imbé (franja de miçangas) que lhe cobre os olhos e parcialmente o rosto. Na mão esquerda um centro de cobre incrustado de búzios, ou vassoura de palha-da-costa bordada de búzios e miçangas da cor lilás. Pulseiras e colares também incrustados de búzios. Sauda-se: Salúba!!

Outras referencias ao Candomble O IFÁ: ALIMENTOS, O AUDIOVISUAL E ENERGIA PSÍQUICA

A estrutura liturgia do culto aos orixás no candomblé pode ser resumida como o processo de, ritualisticamente, acumular, e em seguida transmitir, axé para os filhos-no-santo nestes três níveis: o ciclo anual de ‘firmeza’ da casa, o ciclo mensal de realimentação energética dos fetiches e dos abôs, e o ciclo diário das obrigações individuais decorrentes da iniciação.

 No centro de todas essas relações que compõem a ‘economia energética’ do candomblé está Ifá, o orixá da adivinhação. O jogo oracular mais comum é constituído por l6 búzios (pequenas conchas). O pai-no-santo agita os búzios nas mãos e lança-os dentro de um círculo, formado por colares de diversos orixás. O búzio pode cair ‘aberto’ ou ‘fechado’, ou seja, com sua face onde há uma fenda ou com o lado liso. Cada uma dessas ‘caídas’ é uma manifestação de um orixá e tem um significado próprio, já que, conforme a ordenação resultante, pode-se determinar qual deles está respondendo.

 Todos os aspectos da vida são susceptíveis de codificação por cada um dos orixás que se manifestam no jogo. Os deuses se tornam assim o princípio de classificação dos acontecimentos: cada um governa um acontecimento-tipo. Além da ordenação dos búzios (abertos e fechados), que determina a entidade que preside cada resposta, a configuração - ou o modo particular como os búzios se distribuíram geometricamente no espaço - também é fundamental para a leitura, pois corresponde à ‘organização energética’ do inconsciente do indivíduo frente a uma força matriz. O conjunto dos dois factores, ordenação e configuração, chama-se odú ou sina.

 Assim, a ordenação aberto-fechado determina que orixá está falando e a configuração espacial dos búzios indica o que ele está dizendo. Através de sucessivas jogadas, chega-se , então, a uma espécie de inventário do que está acontecendo à pessoa, não apenas em relação aos seus orixás tutelares, ‘os donos de sua cabeça’, mas também como outras entidades estão influindo positiva ou negativamente em sua vida, quais são as suas tendências recorrentes e as possibilidades diante do destino. Geralmente são propostos trabalhos e obrigações para o re-equilíbrio energético.

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 As respostas são decifradas através de lendas e das estórias dos deuses - que são transmitidas de geração em geração através da tradição oral. Por isso, ‘jogar búzios’ requer não somente bastante intuição para interpretar as diferentes configurações formadas pelas forças-matrizes, mas também um conhecimento oral do conjunto da tradição mítica dos orixás e do seu universo simbólico. O sacerdote de Ifá era, originariamente, chamado de Babalaô.  Eles eram os historiadores orais da cultura africana. Sua iniciação era muito mais complexas que as outras, pois não envolvia a identificação com um único arquétipo e o desenvolvimento de suas características na personalidade do iniciando, mas sim o aprendizado de séculos de conhecimento armazenado pelo culto. Hoje os zeladores de santo em geral manejam o oráculo. 

Referências Simbólicas

Mesmo sendo um processo onde a identidade é produzida predominantemente por frequências rítmicas e cromáticas, o Candomblé não é apenas um conjunto de referências audiovisuais, mas também, de referências degustativas, olfactivas e tácteis (as comidas, incensos e ervas). Na verdade, essas referências cinestésicas literalmente ‘alimentam’ as frequências audiovisuais, através de oferendas e sacrifícios, as linguagens simbólicas necessitam ser nutridas de energia psíquica, o Axé. Vejamos suas principais referências simbólicas.

 Ao processo ritualístico pelo qual se liga um corpo material à energia de um determinado orixá, chama-se ‘assentamento’. Por redução, o termo é utilizado para designar objectos (pedras, amuletos, instrumentos ritualísticos) que representam cada orixá, depois de um ritual onde a energia mística da entidade seja concentrada nos seus corpos. O fetiche mais comum é o ‘otá’ (pedra). Ele fica mergulhado em líquidos e substâncias, guardadas em pequenos frascos (as quartinhas) vedadas com panos coloridos com símbolos bordados, dependendo do orixá. Os líquidos mais comuns são o mel, o azeite-de-dendê e a água macerada com ervas do santo. São utilizadas águas de diferentes procedências: água do mar, dos rios, da chuva, etc., Os líquidos ou ‘Abós’ são preparados ritualmente com algumas gotas de sangue animal e com cantos secretos que apenas os Babalorixás conhecem. Há casos, no entanto, como na água de Xangô, que é preparada a partir de uma ‘pedra de raio’ (meteorito), em que o otá é que imanta o líquido da quartinha.

   

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Quadro de Referências Simbólicas por Entidade

ORIXÁ SUA COR SAUDAÇÃO DOMÍNIO ELEMENTO

Oxalá   Branco  Axé Babá! A Criação  O CÉU

Yemanjá   Branco e Prata  Odoiá!  A Maternidade  O MAR

Iroko  Branco e Cinza  Iroko i só!  O Tempo  GAMALEIRA (árvore)

Oxumaré Vermelho e Amarelo

Arô Boboi!  A Alternância dos Opostos 

O ARCO-ÍRIS E A COBRA

Omulú Branco e Preto   Atotô!  Sofrimento e dor  A DOENÇA

 Nanã Burukê  

 Roxo Salubá!  A Morte  LAMA, LODO PÂNTANOS

Ibeji Várias Cores Vivas 

Bejê Orô!  Os Jogos  CRIANÇAS

Logunedé Amarelo e Azul Claro 

Logum ou Oriki!

A Caça e a Pesca  RIOS E FLORESTA

Obá   Amarelo e Vermelho 

Obá Xireê!  A Culinária  CACHOEIRAS

Oxum   Amarelo  Ora ieiê!  A Beleza  ÁGUA DOCE

Iansã   Marron Avermelho

Epahei!  Os mortos  A TEMPESTADE

Xangô Vermelho e Branco 

Kauô-Kabisselê! 

Raio e Trovão (Justiça) 

PEDRAS E MONTES

Ossaim Azul e Vermelho 

Ue-eô!   Cura e Liturgia  FOLHAS

Oxóssi   Verde e Azul Claro

Okê Arô!  Animais da Floresta 

MATAS

Ogum Azul Escuro  Ogunhê! Caminhos e Guerra  FERRO

Exú Preto e Vermelho 

Laroiê!  Portas e Encruzilhadas 

FOGO

 Todos assentamentos são periodicamente alimentados por sacrifícios e oferendas características de cada entidade, de forma a re-energizá-lo do seu Axé específico. Tal energia é armazenada nos pontos centrais do terreiro e utilizada  para dinamizar novos objectos ritualísticos ou para a manifestação das entidades em seus filhos. Assim, por extensão, o termo ‘assentamento’ também se refere à pedra fundamental do terreiro (onde por ocasião da inauguração são enterrados diversos objectos referentes ao santo da casa) e ao processo de iniciação ritual de um filho no santo (ou Iaô), para designar o momento em que a força mística do orixá é fixada na cabeça de um participante do culto. Temos, portanto três tipos de assentamentos distintos e três esferas de realimentação energética.

 Todos candomblés tradicionais têm assentamentos da casa, aqueles pertencentes ao orixá a que o terreiro é dedicado. Estes assentamentos são enterrados por ocasião da cerimónia de inauguração do local, na pedra fundamental da casa ou sob o ‘Ixé’, um mastro central onde se asteia a bandeira com os símbolos gráficos do orixá padroeiro. Na entrada de todos terreiros, costuma existir uma Gameleira-Branca, árvore consagrada a Iroko (o Tempo), que

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é plantada segundo rituais prescritos e também deve ser considerada um assentamento da casa. Este orixá responde pelas mudanças climáticas e meteorológicas, é uma espécie de guardião do terreiro. Caso exista no local a presença de outras forças naturais (cachoeiras, rios, pedreiras, etc.) também podem haver assentamentos específicos para os orixás correspondentes.

Calendário e  obrigações

 De uma forma geral, estes assentamentos são alimentados Ossé anual - que é uma grande festa de limpeza do altar e de todo terreiro, quando são servidos alimentos ritualísticos especiais para todos os orixás - e nas festas públicas de cada um dos santos, conforme o calendário litúrgico tradicional. Apesar do carácter semi-matriarcall das culturas africanas, o calendário litúrgico original do candomblé era marcado pelo advento das quatro estações climáticas, com o solstício de inverno (junho) dedicado aos principais orixás masculinos (Ogum, Xangô, Oxalá) e o solstício de verão (dezembro) consagrado aos orixás femininos (Iansã, Oxum, Yemanjá). Nunca houve um único calendário para o culto dos orixás. no Brasil, a fiscalização que os feitores das fazendas onde trabalhavam os escravos africanos exerciam e a repressão em geral aos cultos do candomblé fizeram com que os negros se adaptassem, da maneira que puderam, suas festas às cerimónias católicas. 

   

DATA SANTO DO DIA CELEBRAÇÃO

São Sebatião/S. Lazaro  Festa de Omulú (BA) e Oxossi (RJ)

 N. Sra. das Candeias  Festa de Yemanjá (BA)

São Jorge  Festa de Ogum (RJ)  e Oxossi (BA)

Santo António Festa de Ogum (BA)

São João Baptista Festa de Xangô

S. Pedro e S. Paulo  Festa de Oxalá

N. Sra. de Sant’ana  Festa de Nanã Burukê

São Bartolomeu Festa de Oxumaré

Cosme e Damião  Festa dos Ibeji

São Jerônimo Festa de Xangô

Finados Festa de Todos os Santos

Santa Bárbara Festa de Yansã

Virgem da Conceição Festa de Oxum

 Existem ainda no âmbito do terreiro: a tronqueira, o assentamento do Exú protector da casa, e o Ilê-Saim, a casa dos mortos (eguns) que ainda estão identificados à vida material. Esses assentamentos, que ficam sempre fora da área do terreiro consagrada aos orixás, não são alimentados anualmente, mas sim conforme o ciclo lunar de 28 dias e o ciclo diário das marés. No candomblé, o Exú é a entidade que apresenta a frequência mais densa do espectro (vermelho e preto), a única capaz de estabelecer uma ligação entre os homens e os orixás. Por isso, ele é requisitado para iniciar todas operações rituais do culto. Cada orixá tem seus próprios exús, que funcionam como servos ou mensageiros, possibilitando o

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contacto com as entidades. Portanto, antes de qualquer oferenda para os santos, também é sempre feito um sacrifício aos exús correspondentes. O objectivo deste sacrifícios é manter actuantes os axés dos assentamentos, as forças místicas dos orixás. O sangue, juntamente com o álcool e a sexualidade, são veículos materiais que emitem as vibrações indispensáveis aos exús e aos desencarnados em geral actuarem no plano material e também, no sentido inverso, aos homens penetrarem em outros estados de percepção e consciência.

 O assentamento de um orixá em  um ser humano é realizada através de um processo cerimonial chamado de ‘iniciação’. Estes processos são alimentados por obrigações, oferendas individuais de cada iniciado aos seus orixás tutelares ou a uma entidade com a qual esteja momentaneamente desarmonizado. Além das cerimónias anuais do calendário litúrgico, existe um dia da semana consagrado a cada orixá, que pode ser usado para a entrega de obrigações individuais, feitas de comidas ofertadas e da realização de sacrifícios animais.

 As restrições alimentares também condicionam simbolicamente esta identidade permanente entre os homens e os deuses: as proibições consistem em não consumir as substâncias que vibram na mesma frequência do santo a que se está identificado. Apenas no processo de iniciação estas substâncias são ritualmente ingeridas. Após este período, as comidas características de cada orixá são interditadas a seus filhos. Caso o indivíduo não obedeça a estas restrições alimentares a que se encontra submetido e realize uma ‘auto-antropofagia simbólica’, ele sofrerá as quizilas (sensação de nojo, mal-estar). Pelo mesmo motivo, a manutenção da identidade psíquica entre o Orixá e o iniciado, eram considerados incestuosos os casamentos entre os filhos de um mesmo santo. Na África, visto que os candomblés eram verdadeiras identidades étnicas e haverem laços reais de parentesco entre os grupos que cultuavam uma mesma entidade, esta proibição tinha um sentido genético, além de cultural e intersubjetivo.

 Mas não se deve pensar que os homens são prisioneiros de um comportamento estereotipado, meros instrumentos passivos dos deuses: “o santo também é possuído por seus filhos”, que têm um papel activo, tecendo relações complexas entre os orixás e a comunidade, multiplicando as relações entre as próprias entidades. O discurso dos iniciados traduz esta reciprocidade claramente. Do mesmo modo que se fala do ‘seu’ santo, costuma-se comentar também que ‘se é o próprio santo’: “o Xangô de fulano é rebelde”; e inversamente: “Beltrano é um dos Ogum da casa”. Ou seja: ao mesmo tempo que os deuses são designados como propriedades dos seus filhos, os iniciados também são propriedades dos orixás com que estão identificados. Ocorre, assim, um jogo constante de trocas entre o indivíduo concreto e o princípio abstracto que ele manifesta. Há, portanto, uma reciprocidade simbólica muito dinâmica entre a entidade e a pessoa.

E é esta reciprocidade que se desenvolve simultaneamente em três níveis - o ciclo anual de ‘firmeza’ da casa, o ciclo mensal de realimentação energética dos fetiches e dos abôs, e o ciclo semanal das obrigações individuais decorrentes da iniciação.

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