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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “ LATO SENSU ” DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA NA CLASSE DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR DO PSICOPEDAGOGO POR LUCIENE DA SILVA TELES ORIENTADOR NILSON GUEDES DE FREITAS RIO DE JANEIRO 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “ LATO SENSU ”

DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA NA CLASSE DE

ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR DO PSICOPEDAGOGO

POR LUCIENE DA SILVA TELES

ORIENTADOR NILSON GUEDES DE FREITAS

RIO DE JANEIRO

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA NA CLASSE DE

ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR DO PSICOPEDAGOGO

Monografia apresentada a Universidade Candido

Mendes como requesito parcial para obtenção do

título de especialista em Psicopedagogia.

Orientador Nilson Guedes de Freitas.

POR LUCIENE DA SILVA TELES

RIO DE JANEIRO

2007

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AGRADECIMENTOS

Ao Instituto a Vez do Mestre.

Ao professor Nilson Guedes de Freitas, pela orientação e

incentivo no desenvolvimento deste trabalho.

Aos companheiros de turma que me honraram com sua

amizade.

Muito obrigada.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à minha família pelo apoio constante,

em especial, à minha mãe que sempre me mostrou que

para se conseguir o que deseja é preciso se dedicar e

insistir.

Dedico ao meu noivo, em breve, esposo, que sempre me

deu carinho, compreensão e incentivo e não me deixou

desistir nas horas mais difíceis.

As minhas amigas do curso de Psicopedagogia e a todos

que deram suporte para a realização deste trabalho.

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EPÍGRAFE

“ Devemos aprender a não nos aproximarmos apenas das pessoas cujas

vibrações sejam iguais as nossas. É normal sentir-se atraído por alguém do seu

mesmo nível. Mas está errado. Você deve também se aproximar de pessoas

cujas vibrações sejam contrárias as suas. Esta é a importância de ajudar essas

pessoas.”

Alba Weiss

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RESUMO

Atualmente, observamos um grande crescimento da ação da psicopedagogia nas escolas, sobretudo em uma pespectiva institucional. Desta forma o psicopedagogo vem alicerçando sua prática da prevenção e do assessoramento a professores e a toda comunidade escolar. A Psigopedagogia tem como foco a prevenção das dificuldades de aprendizagem. Esta pesquisa bibliográfica formulou o problema de como o psicopedagogia pode contribuir para amenizar os distúrbios de leitura e escrita na classe de alfabetização? Ela foi delimitada à prática psicopedagogica junto aos professores e alunos da classe de alfabetização da rede publica de ensino da cidade do Rio de Janeiro. A presente pesquisa tem como objetivo geral , auxiliar o psigopedagogo nos problemas de aprendizagem. A psicopedagogia, como área de conhecimento preocupa-se com as questões de aprendizagem. Para a realização dessa pesquisa contamos com a contribuição das obras de Paulo Freire, Emília Ferreiro, Piaget, Vygostky, Sara Paín e outros autores e seus estudos para a área educacional.

Palavras chave: Psicopedagogia, alfabetização ,distúrbios, aprendizagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO 12

ALFABETIZAÇÃO O QUE É? 19

PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM:UM MITO...UM DESAFIO... 28

A PSICOPEDAGOGIA SUPERA OS PROBLEMAS APRENDIZAGEM:

ALGUMAS QUESTÕES 45

CONCLUSÃO 53

REFERÊNCIAS 56

ANEXOS 57

INDICE 59

FOLHA DE AVALIAÇÃO 61

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa bibliográfica foi direcionada à Psicopedagogia com

foco na criança que apresenta dificuldade no processo de aprendizagem.A

pesquisa bibliográfica é importante por ser um método que implica na seleção,

leitura e análise de textos relevantes do estudo que teve como principal objetivo o

auxilio aos psicopedagogos nos problemas de aprendizagem.

Frente ao grande processo de transformação estrutural do sistema

educacional, a metodologia usada para efetuar a pesquisa partiu da definição do

problema a ser pesquisado de como a Psicopedagogia pode contribuir para

amenizar os distúrbios de leitura e escrita na classe de alfabetização.

O universo da pesquisa em questão está direcionada à pratica

psicopedagogica junto aos professores e alunos da classe de alfabetização da

rede pública de ensino da cidade do Rio de Janeiro.

Esse estudo justifica-se ,pois segundo o IBGE (2006), cerca de 14,9

milhões da população brasileira é analfabeta.

No Brasil, quase um terço da população possui baixos níveis de

alfabetização. Entre os jovens e adultos, considerando-se aqueles que têm mais

de 15 anos, cerca de 13% são analfabetos, ainda que um terço deles já tenha

passado pelo Ensino Fundamental. Entre crianças, mais da metade das que

chegam a 4ª série não têm apresentado um rendimento adequado em leitura.

Quase 30% dessas crianças não sabem ler.

Esses dados nos levam a repensar as práticas pedagógicas usadas nas

escolas. E nos levam a refletir: Quais são os problemas de leitura e escrita que

atrapalham nossas crianças a se alfabetizarem?

Sabe-se que a educação é um fator fundamental na transformação do

indivíduo e da sociedade, e na promoção da qualidade social.

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Reforçando os princípios antes propalados por Vygotsky (1976) e Piaget

(1976), a aprendizagem se processa em uma relação interativa entre o sujeito e a

cultura em que vive.

O fracasso na alfabetização nos preocupa, pois a democratização do

acesso a educação, ocorrida a partir dos anos 70, levou a escola a lidar com

crianças que teriam, em razão de suas condições de vida, sérias deficiências

culturais e lingüísticas, que acarretariam dificuldades de aprendizagem. Teriam

problemas de indisciplina e não valorização a escola. Sua linguagem oral seria

distante da língua escrita.

Esse fato nos preocupa, porque muitas vezes é a escola que apresenta

sérias dificuldades para lidar com a diversidade cultural e lingüística da população

brasileira visto que essas crianças possuem um adequado desenvolvimento

cultural e lingüístico.

Essa pesquisa visa compreender os principais fatores que evidenciam os

distúrbios de leitura e escrita no processo de alfabetização. De forma mais

objetiva, visa, especificar problemas de aprendizagem enquanto vinculado a

dificuldade na identificação dos sons e da compreensão e interpretação da leitura

e escrita. A Psicopedagogia, como área de conhecimento preocupa-se com as

questões de aprendizagem. Possui, portanto, subsídios teóricos para as

dificulades que o sujeito encontra para aprender, bem como refletir

psicopedagogicamente problemas de aprendizagem que se impõem ao processo

de aquisição da linguagem como contribuir e melhorar a qualidade do ensino das

classes de alfabetização.

Por esse motivo acredita-se que o psicopedagogo tem um papel importante

na luta contra os distúrbios de leitura e escrita ,pois ele tem a possibilidade de

auxiliar os professores nas práticas alfabetizadoras.

O trabalho está estruturado em quatro capítulos, sendo que no primeiro são

apresentadas contextualizações do papel do psicopedagogo fundamentada nas

idéias de Bossa. Scoz Butelman, Bleger , Campos e Porto. Bossa (1994) diz que

a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a uma demanda a da

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10 dificuldade de aprendizagem. Scoz ( 1996) vê necessário a intervenção

psicopedagogica na vivencia educacional da criança para que lela possa progredir

em sua formação e capacitação.

Seguindo na estrutura, o capítulo dois apresenta-nos os conceitos e

definições sobre alfabetização e aprendizagem , fundamentado nas principais

idéias de : Freire, Ferreiro, Piaget e Vigotsky. Segundo a autora Emília Ferreiro a

escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do

esforço coletivo da humanidade.Ela nos leva a repensar as práticas escolares da

alfabetização.

No seguimento seguinte, o capítulo três corresponde a identificação dos

distúrbios de leitura e escrita que tanto afligem nossos alunos e preocupam os

professores.Segundo Sara Paín, podemos considerar o problema de

aprendizagem como um sintoma, no sentido de que aprender não configura um

quadro permanente, mas ingressa numa constelação pelo comportamento, nos

quais se destaca como sinal de descompensação. Esse capítulo também está

fundamentado nas teorias de Porto, Olivier e Scoz.

Por fim, no capítulo quatro apresentamos a importância do trabalho

psicopedagogico com docentes na classe de alfabetização afim de esclarecer o

alcanse das técnicas psicopedagógicas aplicadas aos problemas de

aprendizagem. Sara Paín diz que convém diferenciar os problemas de

aprendizagem, tanto dos problemas de nível como daqueles exclusivamente

escolares.Esse capítulo foi fundamentado nas pesquisas de Paín, Bossa , Sisto e

Porto.

Na conclusão foram registradas sugestões para trabalhos futuros para

ampliarmos a hipótese de como o psicopedagogo pode trabalhar junto com os

profissionais de educação criando técnicas, metodologias e outros meios para

que os alunos da classe de alfabetização obtenham sucesso.Daí vimos a

necessidade de desenvolver outros estudos sobre o papel do psicopedagogo na

Educação de Jovens e Adultos que se fundamentam com Freire e Ferreiro. A

outra proposta seria uma pesquisa sobre o desenvolvimento emocional: um olhar

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11 psicopedadagógico.E por ultimo fica a idéia de uma pesquisa de campo sobre as

dificuldades de aprendizagem em leitura e escrita .

As situações que promovem o envolvimento do aluno com a pedagogia, os

objetivos e metas bem elaborados, os planos de ação, a criação de um clia de

integração, harmonia e cooperação é que seduzem o aluno a superar as

dificuldades de aprendizagem.Esperamos que você tenha uma boa leitura.

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1.UM OLHAR PSICOPEDAGOGICO

As preocupações com os recursos que podem ser utilizados no diagnóstico

e na intervenção psicopedagogica são constantes na psicopedagogia,

principalmente porque ela ainda não constitui uma profissão, embora a

Associação Brasileira de Psicopedagogia se empenhe no reconhecimento da

profissão a Psicopedagogia é uma área de estudo nova, voltada para o

atendimento de sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. Segundo

Bossa (1994 a) a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a uma

demanda – a da dificuldade de aprendizagem.

1.1. A Psicopedagogia

De acordo com o dicionário Aurélio ; “ A psicopedagogia é o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem, para regular a ação educativa do indivíduo. (HOLLANDA 1999, p.449).

A esse respeito, a psicologia e a psicopedagoga Bossa (1994 a) destaca

que o termo psicopedagogia parece deixar claro que se trata de uma palicação da

psicologia à pedagogia, embora essa definição não reflita o verdadeiro significado

do termo. De fato, a psicopedagogia vai além da aplicação da psicologia à

pedagogia, pois não pode ser vista sem um caráter interdisciplinar, que implica a

dependência da contribuição teórica e prática de outras áreas de estudo para se

constituir como tal. Por outro lado, a psicopedagogia não é apenas o estudo da

atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem, visto que ela não

se limita à aprendizagem e, conseqüentemente, inclui quem está aprendendo,

independentemente de ser criança, adolescente ou adulto. A psicopedagogia é

um campo de atuação que integra saúde e educação e lida com o conhecimento,

sua ampliação, sua aquisição, suas distorções, suas diferenças e seu

desenvolvimento por meio de múltiplos processos.

(...) no momento, a validade da psicopedagogia, como corpo teórico organizado, não lhe assegura a qualidade de saber científico, devendo-se fazer realmente ainda muito no sentido de ela sair da esfera empírica e poder vir a estruturar-se como tal. ( BOSSA, 1994, p.34)

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13 A psicopedagogia ainda está construindo seu corpo teórico, não

constituindo uma ciência, Assim, sendo uma área de estudo muito nova, pode ser

vista com desconfiança por alguns profissionais de outros campos. Por outro lado,

o fato de ser jovem permite que ela se construa para atender aos atuais

problemas enfrentados no processo de ensino aprendizagem.

São crescentes os problemas ligados às dificuldades de

aprendizagem no Brasil. A pedagogia, embasada em estudiosos conceituados (

Piaget, Vygotsky, Freinet, Ferreiro e outros) tem sido insuficientes para prevenir

ou intervir nesses casos. Nesse contexto, a psicopedagogia surge para auxiliar a

intervenção e a prevenção dos problemas de aprendizagem.

Os problemas de aprendizagem têm origem na constituição do desejo do sujeito. Contudo, o fracasso escolar tem sido justificado pela desnutrição e por problemas neurológicos e genéticos. Poucas são as explicações que enfatizam as questões inorgânicas, ou seja, as de ordem do desejo do sujeito, analisando as questões internas e externas do não-aprender.

(...) os psicopedagogos têm construído sua teoria a partir do estudo dos problemas de aprendizagem. (BOSSA,1994,p 8)

O campo da atuação da psicopedagogia é a aprendizagem, e sua

intervenção é preventiva e curativa, pois se dispões a detectar problemas de

aprendizagem e “resolvê-los”, além de preveni-los, evitando que surjam outros.O

papel do psicopedagogo é detectar possíveis problemas no processo ensino-

aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa,

objetivando favorecer processos de integração e trocas; realizar orientações

metodológicas para o processo ensino-aprendizagem, considerando as

características do indivíduo ou grupo; colocar em prática alguns processos de

orientação educacional, vocacional e ocupacional em grupo ou individual. Estando

claro o que é a psicopedagogia e qual a sua área de atuação, cabe-nos refletir

sobre os recursos que o psicopedagogo utiliza para detectar problemas de

aprendizagem e neles intervir.”Apesar de muitos estudos alertarem para sérios

problemas da educação no Brasil, o fracasso escolar ainda se impões de forma

gritante nas nossas estatísticas(SCOZ,1996,p.7)”

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14 Realmente, nos últimos tempos, essa afirmativa tem se agravado.

Nas escolas, é possível observar números altos de alunos com problemas de

ordem emocional, social, afetivo e outros, que acabam interferindo no

aprendizado.

Problemas esses que, muitas vezes, são familiares e que acaba

sendo transferido ao ambiente escolar, já que fica quase impossível administrar

uma separação de problemas nos ambientes casa versus escola.

É nesse sentido que Scoz(1996) vê como é necessário intervir

psicopedagogicamente na vivência educacional da criança, para que ela possa

progredir em sua caminhada rumo à formação e à capacitação intelectual.

Tentando sanar as frustrações do aluno, a psicopedagogia contribui

também para a percepção global do fato educativo e para compreensão

satisfatória dos objetivos da educação e da finalidade da escola, possibilitando,

assim, uma ação transformadora.

Segundo Scoz (1996, p.8) em Psicopedagogia e Realidade Escolar –

O Problema Escolar e de Aprendizagem, “(...) a psicopedagogia deve ser

direcionada não só para os descompassos da aprendizagem, mas também para

uma melhoria da qualidade de ensino nas escolas”.

A Psicopedagogia, enquanto campo de conhecimento, não pode ficar

alheia às questões sociais e educacionais de nosso País, mas deve assumir o

compromissso ético com a maioria da população onde o direito à educação,

saúde e cidadania são negados. “O papel social da psicopedagogia se encontra

com relevo nesta denúncia e em uma ação institucional politicamente

comprometida e consciente.” (CAMPOS,1995,p.17)

1.1.1. A Psicopedagogia Institucional

Atualmente, observa-se um grande crescimento da ação do

psicopedagogo nas escolas, sobretudo em uma perspectiva preventiva e

institucional. Dessa forma, a Psicopedagogia insere-se no contexto educacional

como mais um campo de conhecimento na busca da redução do fracasso escolar.

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15 A instituição escolar é um espaço de construção do conhecimento

não só para o aluno, mas para todos nele envolvidos. Na escola, a investigação e

a ação psicopedagogica tem como foco a prevenção das dificuldades de

aprendizagem. Essa prevenção passa pela construção de uma dinâmica

relacional sadia na instituição, onde o contexto escolar possa voltar-se para os

aspectos sadios da aprendizagem e do conhecimento. Assim, a ação da

Psicopedagogia institucional busca, fundamentalmente, auxiliar o resgate da

identidade da instituição como o saber e, portanto, com a possibilidade de

aprender. A reflexão sobre o individual e o coletivo traz a possibilidade de tomada

de consciência e da inovação por meio da criança de novos espaços de relação

com a aprendizagem.

Segundo Bleger ( apud WEISS,1992,p.5),

... qualquer escola precisa ser organizada sempre em função da melhor possibilidade de ensino e ser permanente questionada para que seus próprios conflitos não resolvidos, não apareçam nas salas de aula, sob forma de distorções do próprio ensino. Nessas situações fica o aluno (o aprendente) como depositário desses conflitos e, conseqüentemente, apresentando perturbações em seu processo de aprendizagem.

O enfoque da Psicopedagogia Institucional aqui adotado está

vinculado a uma concepção crítica da Psicopedagogia e, conseqüentemente, da

educação, que muito tem a contribuir com as situações de não-aprendizagem na

escola e com sua conseqüente superação. Desta forma, a ação do

psicopedagogo está centrada na prevenção do fracasso e das dificuldades

escolares, não só do aluno como também dos educadores e demais envolvidos

neste processo. Para tanto, é necessário que a intervenção psicopedagogica

invista na melhoria das relações de aprendizagem e na construção da autonomia

do professor, da postura crítica em relação à sua ação pedagógica e o

desenvolvimento da autoria de pensamento pode acontecer pela intervenção

psicopedagogica na escola.

O fracasso escolar está alicerçado, basicamente, sobre duas

dimensões que se influenciam em uma relação dialética: a individual, que diz

respeito ao aluno e às suas vivências, pertencente a uma estrutura familiar, e

outra externa, que corresponde à escola e aos aspectos culturais, ideológicos e

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16 sociais da aprendizagem. Segundo Butelman (1994,p.33), a dimensão

institucional da educação.

Portanto, é justamente na dinâmica que se dá entre esses diferentes

fatores simbólicos e cognitivos, inerentes às relações de aprendizagem, que são

expressos por meio do desenho, da linguagem corporal, falada, dos gestos, do

vazio do que não é dito, que se determina a aprendizagem ou a não-

aprendizagem da criança. Nessa relação, todos ensinam e todos aprendem a

partir de suas possibilidades individuais, de seus conhecimentos e, também, de

sua dimensão afetiva, incluindo, aqui, as expressões de afeto, amor, medo, raiva

ou agressividade. Muitas vezes, essa dimensão ativa das relações de

aprendizagem na instituição, escolar, por meio do fazer de cada um dos seus

integrantes, pode provocar conflitos que tanto podem funcionar como alavancas

propulsora da produção de conhecimento, trocas e avanços na escola, como

podem desencadear um processo de não-aprendizagem. A aprendizagem e o

desenvolvimento da criança, do educador e também dos pais é a tradução ativa

de uma rede de relações sadias entre esses grupos no que diz respeito ao

conhecimento.

Considerando a escola responsável por parcela significativa da

formação do ser humano, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar, que

podemos chamar de psicopedagogia preventiva, cumpre a importante função de

socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e

a construção de normas de conduta inseridas num mais amplo projeto social,

procurando afastar, contrabalançar a necessidade de repressão. Assim, a escola,

como mediadora no processo de socialização, vem a ser produto da sociedade

em que o indivíduo vive e participa. Nela, o professor não apenas ensina, mas

também aprende. Aprende conteúdos, aprende a ensinar, a dialogar e liderar;

aprende a ser cada vez mais um cidadão do mundo, coerente com sua época e

seu papel de ensinante, que é também aprendente. Agindo assim, a maioria das

questões poderão ser tratadas de forma preventiva, antes que se tornem

verdadeiros problemas.

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17 Em sua obra “A Psicopedagogia no Brasil- Contribuições a Partir da

Prática”, Nádia Bossa registra o termo prevenção como referente à atitude do

profissional no sentido de adequar as condições de aprendizagem de forma a

evitar comprometimentos nesse processo, Partindo da criteriosa análise dos

fatores que podem promover, como dos que têm possibilidade de comprometer o

processo de aprendizagem, a Psicopedagogia Institucional elege a metodologia

e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal

processo, o que vem a ser sua função precípua, colaborando, assim, na

preparação das gerações para viver plenamente a complexidade característica da

época. Sabemos que o aluno de hoje deseja que sua escola reflita a sua

realidade e o prepare para enfrentar os desafios que a vida social apresenta,

portanto não aceita ser educado com padrões já obsoletos e ultrapassados.

Da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem,

comprometida com a transformação da realidade escolar, na medida em que

possibilita, mediante exercício, análise e ação reflexivas, superar os obstáculos

que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do

mundo e atuação coerente com a evolução e progresso da humanidade,

colaborando, assim, para transformar a escola extemporânea, que não está

conseguindo acompanhar o aluno que chega a ela, em escola contemporânea,

capaz de lidar com os padrões que os alunos trazem e de se contrapor à cultura

de massas predominante,dialogando com essa cultura.

Educação e Psicologia, como também Psicanálise, Lingüística e Filosofia,

dentre outras, se unem para participar na solução de problemas que possam

surgir no contexto educativo; todas passam a levar em conta esse contexto, os

fins da educação e a problemática dos meios para realizá-la, elevando o aluno à

categoria de sujeito do conhecimento, envolvendo na solução as estratégias

pedagógicas adequadas, considerando liderança, diálogo, visão, pensamento e

ação como pilares de sustentação de uma organização dinâmica, situada,

responsável e humana.

Há necessidade de, não apenas conhecer a ação, mas orientá-la,

integrando o trabalho de acompanhamento de procedimentos didáticos à

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18 resolução de problemas de adaptação escolar, que podem ser caracterizados

como aqueles que emergem da relação, da interação entre as pessoas e entre

elas e o meio, surgindo em função de desarmonias entre o sujeito e as

circunstâncias do ambiente. Essas desarmonias podem até adotar modalidades

patogênicas ou patológicas, que requerem encaminhamentos específicos que

podem extrapolar o espaço escolar

1.2. Considerações à Psicopedagogia

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação em

saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana, seus

padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio, família, escola

e sociedade no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios.

Assim, a Psicopedagogia vem criando a sua identidade e campo de

atuação próprios, que estão sendo organizados e estruturados, especialmente

pelas produções científicas que referenciam o campo do conhecimento e pela

Associação Brasileira de Psicopedagogia.

É necessário comentar que a Psicopedagogia é comumente

conhecida como aquela que atende crianças com dificuldades de aprendizagem.

È notório o fato de que as dificuldades, distúrbios ou patologias podem aparecer

em qualquer momento da vida e, portanto, a Psicopedagogia não faz distinção de

idade ou sexo para o atendimento.

Atualmente, a Psicopedagogia vem se firmando no mundo do

trabalho e se estabelecendo como profissão.

O Projeto Lei 3.124/96 do Deputado Barbosa Neto que prevê a

regulamentação da profissão de Psicopedagogo e que cria o Conselho Federal e

os Conselhos Regionais de Psicopedagogia, está em tramitação na Câmara dos

Deputados em Brasília na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.

A regulamentação da profissão ocorrerá para o nível especialização

e o projeto já foi aprovado na Comissão do trabalho e na Comissão de Educação,

Cultura e Desporto.

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2.ALFABETIZAÇÃO E APRENDIZAGEM O QUE É?

Sabemos que a aprendizagem constitui-se em um processo, uma função,

que vai além da aprendizagem escolar e que não se circunscreve exclusivamente

à criança. A aprendizagem, como experiência, guarda um elemento universal do

humano, na medida em que permite a transmissão do conhecimento e, por meio

desse processo, garante a semelhança e a continuidade do coletivo, ao mesmo

tempo permitindo a diferenciação e a transformação. O aprender envolve

simultaneamente a inteligência, os desejos e as necessidades e, por intermédio

do cognitivo, busca-se generalizar, classificar, ordenar ,identificando-se

semelhanças, enquanto que, por meio dos desejos e das necessidades, buscam-

se o individual, o subjetivo e o diferente.

Conhecer é pensar, inventar, descobrir e conectar as qualidades e os atributos dos objetos recompondo com a minha capacidade criadora do real externo de minha mente. Este é o significado do aprender. (SALTINI, 2002, p.58)

2.1 Um pouco de história

O modelo escolar de alfabetização nasceu há pouco mais de dois séculos,

precisamente em 1789, na França, após a Revolução Francesa. A partir de então,

crianças são transformadas em alunos, aprender a escrever se sobrepõe a

aprender a ler, ler agora se aprende escrevendo – até esse período, ler era uma

aprendizagem distinta e anterior a escrever, compreendendo alguns anos de

instrução através do ensino individualizado. E, então, no jogo estabelecido pela

Revolução entre a continuidade e a descontinuidade do tempo, onde a ruptura vai

sendo atropelada pela tradição, que a alfabetização se torna o fundamento da

escola básica e a leitura/escrita, aprendizagem escolar.

Analisando a evolução da investigação e do debate em relação à

alfabetização escolar no século XX, é possível definir, em linhas gerais, três

períodos.

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20 Aproximadamente à primeira metade do século, quando a discussão se

dava estritamente no terreno do ensino. Buscava-se o melhor método para

ensinar a ler, com base na suposição de que a ocorrência de fracasso se

relacionava com o uso de métodos inadequados. A discussão mais candente

travou-se entre os defensores do Método Global e os do Método Fonético. No

Brasil, essa discussão caiu em desuso a partir da difusão do método que, na

época, foi identificado como “misto” – nada mais que nossa conhecida cartilha,

baseada em análise e síntese e estruturada a partir de um silabário.

Nos anos 60, teve por centro geográfico os Estados Unidos. A discussão

das idéias sobre alfabetização foi levada para dentro de um debate mais amplo,

em torno da questão do fracasso escolar. A luta contra a segregação dos negros,

com a conseqüente batalha pela integração nas escolas americanas, contribuiu

para que se tornassem mais explicitas as dificuldades escolares dessas minorias.

Muito dinheiro foi investido em pesquisas, para tentar compreender o que havia

de errado com as crianças que não aprendiam. Buscava-se no aluno a razão de

seu próprio fracasso.

São desse período as teorias que hoje chamamos “ teorias do déficit “.

Supunha-se que a aprendizagem dependia de pré-requisitos (cognitivos,

psicológicos, perceptivo-motores, lingüísticos...) e que certas crianças

fracassavam por não dispor dessas habilidades prévias. O fato de o fracasso

concentrar-se nas crianças das famílias mais pobres era explicado por uma

suposta incapacidade das próprias famílias proporcionarem estímulos adequados.

Baterias de exercícios de estimulação foram criadas, como “remédio“ para

o fracasso, como se ele fosse uma doença. Essa abordagem, que já se anunciava

no teste ABC, de Lourenço Filho – um conjunto de atividades para verificar e,

principalmente, medir a “maturidade” que a ciência de então supunha necessária

à alfabetização bem-sucedida – teve muita influência no Brasil. Nos anos 70, foi

largamente difundida a idéia de que, no início da escolaridade, toda criança

deveria passar pelos exercícios conhecidos como de “prontidão” para a

alfabetização. Seria uma espécie de vacinação em massa. Mas a vacina,

infelizmente, era inócua.

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21 Em meados dos anos 70 , marcado por uma mudança de paradigma. O

desenvolvimento da investigação nessa área mudou radicalmente seu enfoque,

suas perguntas. Em lugar de procurar correlações que explicassem o déficit dos

que não conseguiam aprender, começo-se a tentar compreender como aprendem

os que conseguem aprender a ler e escrever sem dificuldade e, principalmente, o

que pensam a respeito da escrita os que ainda não se alfabetizaram.Um trabalho

de investigação que desencadeou intensas mudanças na maneira de os

educadores brasileiros compreenderem a alfabetização foi o coordenado por

Emília Ferreiro e Ana Teberosky, publicado no Brasil com o título Psicogênese da

língua escrita, em 1985. A partir dessa investigação, foi necessário rever as

concepções nas quais se apoiava a alfabetização. E isso tem demandado uma

transformação radical nas práticas de ensino da leitura e da escrita no início da

escolarização, ou seja, na didática da alfabetização. Já não é mais possível

conceber a escrita exclusivamente como um código de transcrição gráfica de

sons, já não é mais possível desconsiderar os saberes que as crianças constroem

antes de aprender formalmente a ler, já não é mais possível fechar os olhos para

as conseqüências provocadas pela diferença de oportunidades que marca as

crianças de diferentes classes sociais. Portanto, já não se pode mais ensinar

como antes...

..as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas a alfabetização inicial não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão nem com novos materiais didáticos.

É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões.

Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem.

Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons.

Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para faze-lo seu (FERREIRO.1985,p.26).

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22 2.1.1 A alfabetização e o fracasso escolar

Os índices de fracasso escolar na alfabetização são inaceitáveis e as

medidas tomadas no âmbito dos sistemas públicos pouco têm contribuído para

transformar esse quadro de forma significativa.Desde 1956, com estatísticas mais

precisas a respeito dos índices de promoção e retenção na escola pública

brasileira, constata-se que os alunos reprovados (ou “retidos”, como se preferiu

chamar anos depois) já representam parcela significativa e isso sem contar o

grande número de crianças brasileiras que nem freqüentava a escola.

A falta de explicações para as causas do fracasso da escola em

alfabetizar todos os alunos fez com que essa responsabilidade, direta ou

indiretamente, fosse a eles atribuída à sua suposta incapacidade de aprender

e/ou às suas perversas condições de vida. Apesar de todas as razões sociais e

políticas para não depositar a responsabilidade pelo fracasso no aluno, as teorias

do déficit cognitivo e/ ou da “carência cultural” acabaram por consolidar a crença

de que a possibilidade indivíduos aprenderem teria direta relação com a sua

condição econômica, social e cultural. Deriva dessa crença o surgimento de

programas compensatórios, dos quais um dos exemplos emblemáticos é o da

merenda escolar.

Em oposição a uma concepção de escola “conteudista”, ou seja,

preocupada acima de tudo com a transmissão de conteúdos escolares, foi se

configurando uma concepção e várias experiências de uma escola

transformadora, progressista. Mas, infelizmente, nem assim se conseguiu garantir

a todos os alunos o direito de desenvolver diferentes capacidades na escola, o

que, evidentemente, pressupõe aprender a ler e escrever.

Com isso, consolidou-se progressivamente uma cultura escolar da

repetência, da reprovação, que acabou por ser aceita como um fenômeno natural.

O país foi se acostumando com o fato de cerca de metade de suas crianças não

se alfabetizar ao término do primeiro ano de escolaridade no Ensino

Fundamental.

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23 Essa cultura teve uma enorme influência no universo de representações

que os educadores foram construindo sobre o fracasso escolar e sobre os alunos

que fracassam, bem como na sua relação com eles: freqüentemente, essas

representações expressam-se em falta de confiança nas reais potencialidades

que eles têm para as aprendizagens de modo geral.Se é verdade que esses

alunos chegam à escola sem muita intimidade com os usos sociais da escrita e

com os textos escritos, também é verdade que eles trazem um repertório de

saberes que as crianças e jovens de classe média e alta não possuem, saberes

que não são valorizados e nem validados do ponto de vista pedagógico. Todo

aluno tem direito a uma educação escolar que, pautada no princípio da aqüidade,

garanta o conhecimento necessário para que desenvolva suas diferentes

capacidades sociais e culturais, que não acentue as diferenças provocadas pela

desigualdade de oportunidades sociais e culturais, que não as tome, sob nenhum

pretexto, como diferenças relacionadas às suas possibilidades de aprendizagem.

Não se pode esperar que os alunos iniciem a escolaridade sabendo coisas que

nunca tiveram a chance de aprender: quando eles não sabem o que se espera, é

preciso ensiná-los.

2.2 . O que é alfabetização

A criança, desde seu nascimento, interage com o meio onde está inserida

e já está iniciando seu processo de construção do conhecimento e de leitura do

mundo. Este processo de construção do conhecimento influenciará mais tarde

sua alfabetização, isto é a aprendizagem da leitura e da escrita.

Mas em que consiste a alfabetização? Ela não se resume em aprender a

ler e escrever palavras, frases e textos de uma forma mecânica. Determinar o

momento em que este processo deve iniciar é considerar a criança um ser vazio,

que o professor irá preencher com informações. A criança ao longo do seu

desenvolvimento, vem fazendo várias leituras do mundo que a cerca, segundo

Lima (1996 p.63), “... . Trata-se de leitura num sentido anterior não menos impor

Na infância, a criança necessita vivenciar, experimentar, para compreender as

situações. Ela não tem condições de lidar com situações abstratas, precisam de

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24 contínuas participações e situações que envolvam seu próprio mundo, suas

necessidades.

Alfabetizar vai além do restrito espaço da sala de aula. È necessário fazer

relações com elementos que compõem o universo do aluno, desde sua família até

as suas necessidades básicas como :alimentação, saúde, entre outros,

permitindo, assim, que a criança faça uma leitura do mundo de forma consciente,

participativa e crítica. Desse modo, provoca transformações, porque a

alfabetização tem uma função social e todos necessitam aprender como seres

ativos dentro de um contexto histórico.

A alfabetização deve ser compreendida como um processo crescente que

inicia com a escuta dos sons dos objetos, a mudança e as combinações de

objetos, as várias experimentações que a criança faz naturalmente quando brinca.

Seguindo a dinâmica desse desenvolvimento. Ela irá partir para a verdadeira

leitura dos significantes (palavras), o que implica aprender a reconhecer e utilizar

os sinais da linguagem. Ela deixará de usar somente códigos auditivos/ ou utilizar

códigos visuais/escritos, portanto, para ler, ela irá fazer uma substituição de

códigos. Para que esse processo não se torne penoso, é necessário buscar um

método natural, que proporcione atividades e experiências que desafiem sua

necessidade de aprender a ler e escrever.

A alfabetização, a partir de um determinado tempo, torna-se uma

imposição social, possibilita à criança, através da aprendizagem da leitura, uma

área maior de ação, de posicionamento. Cada criança possui um ritmo próprio de

desenvolvimento cognitivo e, assim, nem todas as crianças que têm uma mesma

idade cronológica irão apresentar o mesmo desenvolvimento cognitivo, pode

acontecer de a criança se alfabetizar antes mesmo dos sete anos de idade.

Sem dúvida, uma das maiores preocupações dos educadores é saber se o

aluno está pronto para a alfabetização, se ele já adquiriu a tão conhecida

“prontidão” para ler e escrever.Para alfabetizar é preciso ter conhecimento do

desenvolvimento da criança em sua totalidade.

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25 A alfabetização como aquisição da habilidade de leitura e escrita deverá

proporcionar prazer e criar o hábito de leitura. Ela sentirá a necessidade de

decifrar o mundo.O desenvolvimento do processo de construção da leitura e da

escrita deve dar oportunidade para que a criança manifeste sua necessidade de

compreender e expressar suas idéias através do pensamento, da ampliação do

vocabulário.

A alfabetização é quase a própria comunicação livre, a partir do

momento em que envolvem os diferentes modos de reconhecer, identificar e

representar os significados (objetos). A criança constrói e evolui desde o

nascimento, desenvolvendo-se por toda à vida.

2.3. Aprendizagem: um referencial possível

A psicopedagogia tem-se ocupado em analisar e compreender como

acontece a aprendizagem em seu sentido de construção, abarcando, por isso, um

entendimento mais profundo e apresentando caminhos para avaliar e tratar os

problemas de aprendizagem.

Há na literatura vários modos de conceituar aprendizagem, porém,

neste momento, surgem subsídios nas linhas cognitivistas para desenvolver uma

caracterização do processo de aprendizagem. É inegável a contribuição de Piaget

( 1976), de seus estudos para a área educacional. A aprendizagem é um

processo necessariamente equilibrante, pois faz com que o sistema busque novas

formas de interpretar e compreender a realidade enquanto o aluno apresenta

crescimento cognitivo infantil se dá através do que Piaget (1976) chamou de

equilibração, ou seja , o indivíduo constrói esquemas de assimilação para abordar

a realidade e, quando incorpora a realidade a seus esquemas de ação, impondo-

se ao meio. Existem determinadas situações em que o indivíduo não consegue

assimilar, é a ocasião para que se modifique. Neste caso a modificação

caracteriza o que Piaget chamou de acomodação. Não existe acomodação sem

assimilação e é no equilíbrio entre essas funções que ocorre a adaptação.

2.4. O olhar do professor sobre o processo de aprendizagem

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26 A partir do ponto de vista ensinar, o professor, considerando a atual

estrutura do sistema de educação, a qual requer, o profissional deve pertencer e

agir em vários subsistemas, ao mesmo tempo no grupo de pais, no grupo de

alunos, na escola ou no contexto social, amplamente entendido.

Ao assumir um grupo de alunos, o professor necessita estar consciente de

todos os problemas que irá encontrar, estando preparado para vencê-los.

Segundo Bassedas (1996 p.29), “o professor têm a responsabilidade de estimular

o desenvolvimento de todos os seus alunos pela aprendizagem em uma série de

diversos conteúdos, valores e hábitos”

Sabe-se muito bem que esta responsabilidade não é tarefa fácil, uma vez

que as cobranças são muitas e, às vezes, a ajuda é quase inexistente. No

sistema educacional, o professor constantemente pressionado pela sociedade e

incomodado com os problemas de aprendizagem apresentados diariamente em

seu grupo.

Autores como Scoz (1998), Bassedas (1996) e Fini (1996) já buscaram

relatar e expor o olhar do professor para os problemas de aprendizagem, como é

compreendido o relato insatisfatório, o insucesso escolar e, ainda, como os

professores tentam resolver tais situações como: angústias, culpas e desculpas.

Segundo Scoz (1998), frente aos problemas de aprendizagem, quando se

referem aos sintomas, os professores nem sempre conseguem expressar-se com

clareza, sendo que, muitas vezes, por falta de conhecimento, e outras pela

complexidade dos problemas. Quando se referem ao nível dos obstáculos, os

professores relatam interferências funcionais, como ausência de orientação

espacial e temporal, falta de coordenação motora: nas interferências sócio-

afetivas, os professores enfatizam as relações familiares, pois com a indiferença

dos pais, o aluno é muito desprovido afetivamente, apresentando falta de auto-

estima. A desorganização familiar, a ausência, a agressividade nas relações

familiares, as perdas, a falta de interação com materiais gráficos, e a pobreza

também são vistos como obstáculos. Como lembra ainda Scoz (1998 p.82),”A

originalidade da aprendizagem está nos esquemas de ação que o indivíduo

desenvolve e que dependem, por meio da integridade orgânica e corporal.” Dessa

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27 forma, sob o olhar do professor, o problemas de aprendizagem teria uma causa, e

não uma pluricausalidade, como se tem argumentado e embasado até então:

Bassedas ( 1996 ), salienta que o papel solicitado ao professor é o de uma

atuação constante de modo que privilegie todo o grupo e intervenha de forma

particular com cada aluno. Essa tarefa exigirá bastante conhecimento e atenção

do professor quanto ao processo de aprendizagem do aluno, para uma

intervenção adequada.

A realidade escolar tem mostrado um alto índice de fracasso e evasão

escolar, principalmente nas classes de alfabetização, para as quais, às vezes, as

escolas elegem o professor que acabou o magistério para atuar nas primeiras

séries, sem saber se este possui experiências em alfabetização.

Mesmo assim, os professores buscam criar estratégias de ensino mais

adequadas para as práticas de trabalho. Não deixam as lacunas de sua formação

ou inexperiência abalar sua confiança.

Em síntese, pode-se afirmar que o professor tem claro que os problemas

de aprendizagem derivam de aspectos orgânicos, sócio-afetivos e cognitivos,

ainda freqüentes na área da leitura, escrita e de cálculos, sempre os mais

relatados.

Também é de suma importância analisar os diferentes olhares do professor

para o aluno. Quando a criança tem a Oportunidade de expor suas idéias, ela

demonstra como se encontra o seu processo de aprendizagem. Ao falar, trocar

idéias, entre os colegas, quando explica, argumenta sobre suas hipóteses está

interagindo, reelaborando o conhecimento já adquirido. O professor ao incentivar

o aluno a expor suas idéias, sem se deixar levar por um reducionismo conceitual

sobre está “errado”, já que o aluno pode estar levantando suas hipóteses sobre

um fato conhecido. Portanto, o professor deve perceber que o “erro” do aluno

pode ser útil para o desenvolvimento da aprendizagem.

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28

3. PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM: UM MITO... UM

DESAFIO...

Apesar de todos os estudos já realizados e divulgados sobre problemas de

aprendizagem a escola brasileira ainda continua na expectativa de que, ao iniciar

suas atividades letivas, suas turmas de alfabetização receberão alunos aptos e

preparados para o estudo e construção da aquisição para a escrita. Mas nem tudo

é tão simples: os educadores cada vez mais estão se deparando com dificuldades

e fracassos na alfabetização, pois os alunos demonstram problemas de

aprendizagem e, em muitas situações, tornam-se repetentes, principalmente nas

primeiras séries do ensino fundamental.

Existe aqui a necessidade de caracterizar o que significa problemas de

aprendizagem, que se trata de crianças de “inteligência normal”, mas com déficit

na aprendizagem da aquisição da linguagem enquanto forma de comunicação

com o mundo.

Segundo Paz, ( apud PAIN 1992,p.28),

Podemos considerar o problema de aprendizagem como um sintoma, no sentido de que aprender não configura um quadro permanente, ms ingressa numa constelação pelo comportamento, nos quais se destaca como sinal de descompensação.

Estes problemas de aprendizagem referem-se às situações difíceis que a

criança encontra sempre com expectativas de que, a longo prazo, terá sucesso.

Eles interferem de forma significativa no rendimento escolar individual. Um aluno

que não consegue acompanhar o ritmo de seus colegas apresenta dificuldades

para ajustar-se aos padrões e normas estabelecidas pela escola, ou desmotivado,

pertubado emocionalmente. Quando enfrenta uma metodologia inadequada, os

alunos que já estão rotulados por apresentarem problemas de aprendizagem.

SCOZ ( 1998,p.45) segundo ele as dificuldades de aprendizagem

referentes à escrita e à leitura, apresentam-se como sintomas. Assim, esses

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29 problemas devem ser entendidos como produtos emergentes de pluricausalidade

e não como decorrente de uma única causa.

Em vista dessa complexidade, é necessário reconhecer que não é tarefa

fácil para os educadores compreenderem essa pluricausalidade. Portanto, torna-

se comum constatar que as escolas condenam esse grupo de alunos à repetência

ou multirrepentência, como também os colocam em uma berlinda, com adjetivos

de alunos “sem solução” e vítimas de uma desigualdade social.

É necessária uma reflexão sobre a importância de compreender, investigar,

acompanhar o conhecimento do que realmente o aprendiz sabe e do que ele não

sabe. Não se deve rotular ter apenas por ele responder de forma diferente da

forma esperada pela escola, mas se deve ter em mente como aprendiz está

construindo os conhecimentos que está adquirindo e por que está demonstrando

um não-aprender.

Talvez esteja nesse ponto um dos maiores impasses para se compreender

os problemas de aprendizagem, em parte pela complexidade e também pelo

desconhecimento do significado “aprender”. Um exemplo dessa situação ocorre

quando a professora, na aula observada, percebe que o aluno está realizando o

exercício “errado”, e lhe dá as respostas esperadas. Essa situação causa uma

falta de interação entre a professora e o aluno. Se este aluno apresenta

problemas de aprendizagem, necessita de uma investigação de como estão

construindo suas hipóteses. Não apenas ganham respostas prontas, sem

entender o que realizaram “errado”.

PAIN ( 1992), afirma que o problema de aprendizagem é entendido como

uma rua considerada em dois sentidos: um amplo, pouco estudado e explorado: e

um sentido mais restrito a qual é mais comum nos consultórios e escolas, não tão

profundo e mais aceitável .Para essa autora, existem quatro fatores que atuam

sobre os problemas de aprendizagem: os orgânicos, os específicos, os

psicógenos e os ambientais, Tais fatores devem ser levados em consideração no

momento do diagnóstico, pois quase sempre mais de um desses estão

comprometidos.

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30 Ao tratar sobre os fatores orgânicos, PAIN ( 1992,p.29) diz:”a origem de

toda aprendizagem esta nos esquemas de ação desdobrados mediante o corpo.”

Como o indivíduo é um todo e as partes não pode trabalhar isoladas, é

necessária, uma integração entre anatomia, bom funcionamento de seus órgãos,

bem como do sistema nervosos central.

No que se refere aos fatores específicos, a autora acima citada afirma

existirem diversas desordens ligadas a determinadas áreas também específicas,

as quais perpassam questões cognitivas.Quanto aos fatores psicógenos,

subsidia-se na teoria psicanalítica, mas afirma que devem levar em conta as

disposições orgânicas e ambientais do sujeito.

Nos fatores ambientais, encontram-se os elementos que muitos

professores vêm levantando considerações com prioridade, ou seja, as questões

de moradia, bairro, escola e oportunidades. O ambiente é mais gerador de

problemas escolares do que de aprendizagem. Somando a outros contribuem

para dificuldades de aprendizagem, mas considerados isoladamente são eles

geradores de problemas escolares como evasão.

3.1 Problemas de aprendizagem

Dos problemas de aprendizagem nasceu a psicopedagogia. Uma área do

estudo que visa compreender o processo de aprendizagem e analisar os fatores

que possam intervir nesse processo

Muitos são os nomes dados aos diferentes problemas que ocorrem neste

processo, principalmente durante a alfabetização e as primeiras séries do ensino

fundamental, pois é evidente que os distúrbios se manifestam ou sejam

percebidos mais facilmente no decorrer dessas escolaridades.

Partindo da realidade plenamente constatada que todos os alunos são

diferentes, tanto em suas capacidades, quanto em suas motivações, interesses,

ritmos evolutivos, estilos de aprendizagem, situações ambientais, etc. , e

entendendo que todas as dificuldades de aprendizagem são em si mesmas

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31 contextuais e relativas, é necessário colocar o aluno no próprio processo de

interação ensino/aprendizagem.

Sabemos que este é um processo complexo em que estão incluídas

inúmeras variáveis, aluno, professor, concepção e organização curricular,

metodologias, estratégias, recursos. Mas a aprendizagem do aluno não depende

somente dele, e sim do grau em que a ajuda do professor esteja ajustada ao nível

que o aluno apresenta em cada tarefa de aprendizagem. Se o ajuste entre

professor e aprendizagem do aluno for apropriado, o aluno aprenderá e

apresentará progressos, qualquer que seja o seu nível.

É obvio a grande dificuldade que os professores sentem quando se

deparam com alunos que se lhes apresenta como com “dificuldades de

aprendizagem”. Nessa altura do trabalho de pesquisa coloco “dificuldades de

aprendizagem” entre aspas, pois, muitas vezes me pergunto se estas dificuldades

são de ensino ou de aprendizagem. Ambas estão juntas, é difícil dizer qual das

duas tem mais peso.

Dificuldade na leitura e/ou na escrita, com trocas de fonemas, inversões de

fonemas e/ou sílabas, junções de palavras, omissões de sílabas ou palavras.

As causas são variadas. Entretanto os elementos constantes são sempre

em relação a falhas de percepção visual e auditiva, além do conhecimento da

língua.

A habilidade visual ou inteligência visual vai desde a inabilidade do bebê

normal de ver bem ao nascer; da criança média ler aos 6 - 7 anos; até a

habilidade superior do adulto que lê extremamente bem, em velocidade

acelerada, ou dos pintores e escultores.

No tratamento da criança com falhas de percepção visual e/ou trocas de

fonemas com semelhanças visuais (ex.: p x d) ou na memorização da forma

visual da palavra (ex.: casa X caza). O treino deve voltar-se principalmente para

a estimulação da percepção visual (que compreende discriminação visual,

posição no espaço, figura e fundo, coordenação viso-motora e memória visual) e

a seguir o conhecimento da língua (semântico e gramatical).

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32 A habilidade ou inteligência auditiva parte da inabilidade do bebê de ouvir

de maneira compreensível quando nasce e evolui até os 6 anos quando

compreende uma conversa, transcreve a palavra falada (a voz interna que nos

"dita" a palavra "pa-ra-béns" quando queremos escrevê-la), à extrema habilidade

ou genialidade do adulto que ouve e compreende acima da média; aos grandes

músicos e compositores.

No tratamento de crianças e adultos com falhas de percepção auditiva,

com trocas de fonemas auditivamente parecidos (ex.: t x d; f x v; c x g) ou na

memorização da seqüência auditiva da palavra ( ex.: preda em vez de pedra), o

treino deve voltar-se para a percepção auditiva que compreende discriminação e

memórias auditivas.

A aprendizagem depende basicamente da motivação. Muitas vezes o que

se chama de dificuldade de aprendizagem é basicamente "dificuldade de ensino".

É sabido que cada indivíduo aprende de uma forma diferente, conforme seu canal

perceptivo preferencial. Quando o que lhe é ensinado não o motiva

suficientemente, ou lhe chega de forma diferente de seu canal preferencial (de

acordo com o canal preferencial de quem lhe ensina), então a compreensão ou o

aprendizado não se completa.

A massificação do ensino tem contribuído muito ao aparecimento e

aumento dos "distúrbios de aprendizagem".

Quando a aprendizagem não se desenvolve conforme o esperado para a

criança, para os pais e para a escola ocorre a "dificuldade de aprendizagem". E

antes que a "bola de neve" se desenvolva é necessário a identificação do

problema, esforço, compreensão, colaboração e flexibilização de todas as partes

envolvidas no processo: criança, pais, professores e orientadores.

O que se vê normalmente é a criança desestimulada, achando-se "burra",

sofrendo, os pais sofrendo, pressionando a criança e a escola, pulando de escola

em escola, e esta pressionando a criança e os pais, todos insatisfeitos.

É necessário o reconhecimento do problema por um profissional adequado,

com treino específico da dificuldade a fim de que a criança supere suas

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33 dificuldades, com esforço, colaboração da família e da escola em conjunto

acompanhando as etapas de evolução da criança.

3.2. Alguns distúrbios

Discalculia

A Matemática para algumas crianças ainda é um bicho de sete cabeças.

Muitos não compreendem os problemas que a professora passa no quadro e

ficam muito tempo tentando entender se é para somar, diminuir ou multiplicar; não

sabem nem o que o problema está pedindo. Alguns, em particular, não entendem

os sinais, muito menos as expressões. Contas? Só nos dedos e olhe lá.

Em muitos casos o problema não está na criança, mas no professor que

elabora problemas com enunciados inadequados para a idade cognitiva da

criança.

Carraher(2002, p.72) afirma que:

Vários estudos sobre o desenvolvimento da criança mostram que termos quantitativos como “mais”, “menos”, maior”, “menor” etc. são adquiridos gradativamente e, de início, são utilizados apenas no sentido absoluto de “o que tem mais”, “o que é maior” e não no sentido relativo de “ ter mais que” ou “ser maior que”. A compreensão dessas expressões como indicando uma relação ou uma comparação entre duas coisas parece depender da aquisição da capacidade de usar da lógica que é adquirida no estágio das operações concretas”...”O problema passa então a ser algo sem sentido e a solução, ao invés de ser procurada através do uso da lógica, torna-se uma questão de adivinhação .

No entanto, em outros casos a dificuldade pode ser realmente da criança e

trata-se de um distúrbio e não de preguiça como pensam muitos pais e

professores desinformados.

Em geral, a dificuldade em aprender matemática pode ter várias causas.

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34 De acordo com Johnson(2002) e Myklebust( 2002), terapeutas de crianças

com desordens e fracassos em aritmética, existem alguns distúrbios que

poderiam interferir nesta aprendizagem:

• Distúrbios de memória auditiva:

- A criança não consegue ouvir os enunciados que lhes são passados oralmente,

sendo assim, não conseguem guardar os fatos, isto lhe incapacitaria para resolver

os problemas matemáticos.

- Problemas de reorganização auditiva: a criança reconhece o número quando

ouve, mas tem dificuldade de lembrar do número com rapidez.

• Distúrbios de leitura:

- Os dislexos e outras crianças com distúrbios de leitura apresentam dificuldade

em ler o enunciado do problema, mas podem fazer cálculos quando o problema é

lido em voz alta. É bom lembrar que os dislexos podem ser excelentes

matemáticos, tendo habilidade de visualização em três dimensões, que as ajudam

a assimilar conceitos, podendo resolver cálculos mentalmente mesmo sem

decompor o cálculo. Podem apresentar dificuldade na leitura do problema, mas

não na interpretação.

- Distúrbios de percepção visual: a criança pode trocar 6 por 9, ou 3 por 8 ou 2 por

5 por exemplo. Por não conseguirem se lembrar da aparência elas têm dificuldade

em realizar cálculos.

• Distúrbios de escrita:

- Crianças com disgrafia têm dificuldade de escrever letras e números.

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35 Estes problemas dificultam a aprendizagem da matemática, mas a

discalculia impede a criança de compreender os processos matemáticos.

A discalculia é um dos transtornos de aprendizagem que causa a

dificuldade na matemática. Este transtorno não é causado por deficiência mental,

nem por déficits visuais ou auditivos, nem por má escolarização, por isso é

importante não confundir a discalculia com os fatores citados acima.

O portador de discalculia comete erros diversos na solução de problemas

verbais, nas habilidades de contagem, nas habilidades computacionais, na

compreensão dos números.

Kocs (apud García, 1998 p. 26) classificou a discalculia em seis subtipos,

podendo ocorrer em combinações diferentes e com outros transtornos:

1. Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as quantidades matemáticas,

os números, os termos, os símbolos e as relações.

2. Discalculia Practognóstica - dificuldade para enumerar, comparar e

manipular objetos reais ou em imagens matematicamente.

3. Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos.

4. Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos.

5. Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer operações mentais e na

compreensão de conceitos matemáticos.

6. Discalculia Operacional - Dificuldades na execução de operações e

cálculos numéricos.

Na área da neuropsicologia as áreas afetadas são:

• excedem aquelas geralmente a este associadas.

Diversas habilidades podem estar prejudicadas nesse Transtorno, como as

habilidades lingüisticas (compreensão e nomeação de termos, operações ou

conceitos matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos

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36 matemáticos), perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou

aritméticos, ou agrupamento de objetos em conjuntos), de atenção (copiar

números ou cifras, observar sinais de operação), e matemáticas (dar seqüência a

etapas matemáticas Áreas terciárias do hemisfério esquerdo que dificulta a leitura

e compreensão dos problemas verbais, compreensão de conceitos matemáticos;

• Lobos frontais dificultando a realização de cálculos mentais rápidos,

habilidade de solução de problemas e conceitualização abstrata.

• Áreas secundárias occípito-parietais esquerdos dificultando a

discriminação visual de símbolos matemáticos escritos.

• Lobo temporal esquerdo dificultando memória de séries, realizações

matemáticas básicas.

De acordo com Johnson e Myklebust a criança com discalculia é incapaz de:

• Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior;

• Conservar a quantidade: não compreendem que 1 quilo é igual a quatro

pacotes de 250 gramas.

• Seqüenciar números: o que vem antes do 11 e depois do 15 – antecessor

e sucessor.

• Classificar números.

• Compreender os sinais +, - , ÷, ×.

• Montar operações.

• Entender os princípios de medida.

• Lembrar as seqüências dos passos para realizar as operações

matemáticas.

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37 • Estabelecer correspondência um a um: não relaciona o número de alunos

de uma sala à quantidade de carteiras.

• Contar através dos cardinais e ordinais.

Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são:

1. Dificuldade na memória de trabalho;

2. Dificuldade de memória em tarefas não-verbais;

3. Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefas de escrita);

4. Não há problemas fonológicos;

5. Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem;

6. Dificuldade nas habilidades visuo-espaciais;

7. Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis.

De acordo com o DSM-IV, o Transtorno da Matemática caracteriza-se da seguinte

forma:

• A capacidade matemática para a realização de operações aritméticas,

cálculo e raciocínio matemático, encontra-se substancialmente inferior à média

esperada para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade

do indivíduo.

• As dificuldades da capacidade matemática apresentadas pelo indivíduo

trazem prejuízos significativos em tarefas da vida diária que exigem tal habilidade.

• Em caso de presença de algum déficit sensorial, as dificuldades

matemáticas, contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação).

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38

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• Organização espacial;

• Auto-estima;

• Orientação temporal;

• Memória;

• Habilidades sociais;

• Habilidades grafomotoras;

• Linguagem/leitura;

• Impulsividade;

• Inconsistência (memorização).

Qual a diferença? Acalculia e Discalculia.

A discalculia já foi relatada acima.

A acalculia ocorre quando o indivíduo, após sofrer lesão cerebral, como um

acidente vascular cerebral ou um traumatismo crânio-encefálico, perde as

habilidades matemáticas já adquiridas. A perda ocorre em níveis variados para

realização de cálculos matemáticos.

Cuidado!

As crianças, devido a uma série de fatores, tendem a não gostar da matemática,

achar chata, difícil. Verifique se não é uma inadaptação ao ensino da escola, ou

ao professor que pode estar causando este mal estar. Se sua criança é saudável

e está se desenvolvendo normalmente em outras disciplinas não se desespere,

mas é importante procurar um psicopedagogo para uma avaliação.

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39 Muitas confundem inclusive maior-menor, mais-menos, igual-diferente,

acarretando erros que poderão ser melhorados com a ajuda de um professor mais

atento.

Dislexia

O que é?

A dislexia é um distúrbio na leitura afetando a escrita, normalmente

detectado a partir da alfabetização, período em que a criança inicia o processo

de leitura de textos. Seu problema torna-se bastante evidente quando tenta

soletrar letras com bastante dificuldade e sem sucesso.

Porém se a criança estiver diante de pais ou professores especialistas a dislexia

poderá ser detectada mais precocemente, pois a criança desde pequena já

apresenta algumas características que denunciam suas dificuldades, tais como:

-Demora em aprender a segurar a colher para comer sozinho, a fazer laço no

cadarço do sapato, pegar e chutar bola.

-Atraso na locomoção.

- Atraso na aquisição da linguagem.

- Dificuldade na aprendizagem das letras.

A criança dislexa possui inteligência normal ou muitas vezes acima da média.

Sua dificuldade consiste em não conseguir identificar símbolos gráficos (letras

e/ou números) tendo como conseqüência disso a dificuldade na leitura e escrita.

A dislexia normalmente é hereditária. Estudos mostram que dislexos possuem

pelo menos um familiar próximo com dificuldade na aprendizagem da leitura e

escrita.

O distúrbio envolve percepção, memória e análise visual. A área do cérebro

responsável por estas funções envolve a região do lobo occipital e parietal.

Características:

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40 - Confusão de letras, sílabas ou palavras que se parecem graficamente: a-o, e-c,

f-t, m-n, v-u.

- Inversão de letras com grafia similar: b/p, d/p, d/q, b/q, b/d, n/u, a/e.

- Inversões de sílabas: em/me, sol/los, las/sal, par/pra.

- Adições ou omissões de sons: casa Lê casaco, prato lê pato.

- Ao ler pula linha ou volta para a anterior.

- Soletração defeituosa: lê palavra por palavra, sílaba por sílaba, ou reconhece

letras isoladamente sem poder ler.

- Leitura lenta para a idade.

- Ao ler, movem os lábios murmurando.

- Freqüentemente não conseguem orientar-se no espaço sendo incapazes de

distinguir direita de esquerda. Isso traz dificuldades para se orientarem com

mapas, globos e o próprio ambiente.

- Usa dedos para contar.

- Possui dificuldades em lembrar se seqüências: letras do alfabeto, dias da

semana, meses do ano, lê as horas.

- Não consegue lembrar-se de fatos passados como horários, datas, diário

escolar.

Alguns possuem dificuldades de lembrar objetos, nomes, sons, palavras ou

mesmo letras.

- Muitos conseguem copiar, mas na escrita espontânea como ditado e ou

redações mostra severas complicações.

- Afeta mais meninos que meninas.

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41 O dislexo geralmente demonstra insegurança e baixa auto-estima, sentindo-se

triste e culpado. Muitos se recusam a realizar atividades com medo de mostrar

os erros e repetir o fracasso. Com isto criam um vínculo negativo com a

aprendizagem, podendo apresentar atitude agressiva com professores e

colegas.

Antes de atribuir a dificuldade de leitura à dislexia alguns fatores deverão ser

descartados, tais como:

- imaturidade para aprendizagem;

- problemas emocionais;

- métodos defeituosos de aprendizagem;

- ausência de cultura;

- incapacidade geral para aprender.

corrigi-los.

Disgrafia

O que é:

A disgrafia é também chamada de letra feia. Isso acontece devido a uma

incapacidade de recordar a grafia da letra. Ao tentar recordar este grafismo

escreve muito lentamente o que acaba unindo inadequadamente as letras,

tornando a letra ilegível.

Algumas crianças com disgrafia possui também uma disortografia amontoando

letras para esconder os erros ortográficos. Mas não são todos disgráficos que

possuem disortografia

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42 A disgrafia, porém, não está associada a nenhum tipo de comprometimento

intelectual

Carcaterísticas:

- - Lentidão na escrita.

- - Letra ilegível.

- - Escrita desorganizada.

- - Traços irregulares: ou muito fortes que chegam a marcar o papel ou muito

leves.

- - Desorganização geral na folha por não possuir orientação espacial.

- - Desorganização do texto, pois não observam a margem parando muito

antes ou ultrapassando. Quando este último acontece, tende a amontoar letras

na borda da folha.

- - Desorganização das letras: letras retocadas, hastes mal feitas, atrofiadas,

omissão de letras, palavras, números, formas distorcidas, movimentos contrários

à escrita (um S ao invés do 5 por exemplo).

- - Desorganização das formas: tamanho muito pequeno ou muito grande,

escrita alongada ou comprida.

- - O espaço que dá entre as linhas, palavras e letras são irregulares.

- - Liga as letras de forma inadequada e com espaçamento irregular.

O disgráfico não apresenta características isoladas, mas um conjunto de

algumas destas citadas acima.

Tipos:

Podemos encontrar dois tipos de disgrafia:

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43 - Disgrafia motora (discaligrafia): a criança consegue falar e ler, mas encontra

dificuldades na coordenação motora fina para escrever as letras, palavras e

números, ou seja, vê a figura gráfica, mas não consegue fazer os movimentos

para escrever

- Disgrafia perceptiva: não consegue fazer relação entre o sistema simbólico e

as grafias que representam os sons, as palavras e frases. Possui as

características da dislexia sendo que esta está associada à leitura e a disgrafia

está associada à escrita.

Disortografia

Até a 2ª série é comum que as crianças façam confusões ortográficas porque a

relação com os sons e palavras impressas ainda não estão dominadas por

completo. Porém, após estas séries, se as trocas ortográficas persistirem

repetidamente, é importante que o professor esteja atento já que pode se tratar

de uma disortografia.

A característica principal de um sujeito com disortografia são as confusões de

letras, sílabas de palavras, e trocas ortográficas já conhecidas e trabalhadas

pelo professor.

Caraterísticas:

- - Troca de letras que se parecem sonoramente: faca/vaca, chinelo/jinelo,

porta/borta.

- - Confusão de sílabas como: encontraram/encontrarão.

- - Adições: ventitilador.

- - Omissões: cadeira/cadera, prato/pato.

- - Fragmentações: en saiar, a noitecer.

- - Inversões: pipoca/picoca.

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44 - - Junções: No diaseguinte, sairei maistarde.

Disartria

Tem como característica principal a fala lenta e arrastada devido a

alterações dos mecanismos nervosos que coordenam os órgãos responsáveis

pela fonação.

A disartria de origem muscular é resultante de paresia, paralisia ou ataxia

dos músculos que intervêm nesta articulação.

A disartria pode ter origem em lesões no sistema nervoso o que altera o

controle dos nervos provocando uma má articulação.

Podemos encontrar a disatria em pessoas que sofrem de paralisia

periférica do nervo hipoglosso (duodéssimo par dos nervos cranianos. Inerva os

músculos da língua) pneumogástrico (nervo vago ou décimo par craniano que

inerva a laringe, pulmões, esôfago, estômago e a maioria das vísceras

abdominais) e facial. Em pessoas que apresentam esclerose, intoxicação

alcoólica, com tumores (malignos ou benignos) no cérebro, cerebelo ou tronco

encefálico, traumatismos crânio-encefálicos.

No caso de lesões cerebrais, os exames clínicos mostram que as

alterações não se manifestam isoladamente estando associada geralmente a

outros distúrbios tais como gnósio-apráxicos ou transtornos disfásicos

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45

4. A PSICOPEDAGOGIA SUPERA OS PROBLEMAS DE

APRENDIZAGEM:ALGUMAS QUESTÕES

Visando favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano, ao

longo de sua evolução, a ação psicopedagógica consiste numa leitura e releitura

do processo de aprendizagem, bem como da aplicabilidade de conceitos teóricos

que lhe dêem novos contornos e significados, gerando práticas mais consistentes,

que respeitem a singularidade de cada um e consigam lidar com resistências. A

ação desse profissional jamais pode ser isolada, mas integrada à ação da equipe

escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só como espaço de

aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio, de cultura, de

valores, de pesquisa e experimentação, que possibilitem a flexibilização de

atividades docentes e discentes.

Utilizando a situação específica de incorporação de novas dinâmicas em

sala de aula, contemplando a interdisciplinaridade, juntamente com outros

profissionais da escola, o psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações

interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino

compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo.

Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do

aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento.

A prática psicopedagógica tem contribuído para a flexibilização da atuação

docente na medida em que coloca questões que estimulam a reflexão e a

confrontação com temáticas ainda insuficientemente discutidas, de manejo

delicado, que, na maioria das vezes, podem produzir conflito. Isto se deve, em

geral, ao quadro de comprometimento do aluno/instituição, que apresenta

dificuldades múltiplas, envolvendo as competências cognitivas, emocionais,

atitudinais, relacionais e comunicativas almejadas e necessárias à sociedade. Em

decorrência, ações específicas, integradas e complementares de diferentes

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46 profissionais devem compor um projeto de escola coerente e impulsionador de

valores e relações humanas vividos no ambiente escolar.

4.1. A atuação Psicopedagogia

A atuação do Psicopedagogo na instituição visa a fortalecer-lhe a

identidade, bem como buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo

tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada no

momento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas da

sociedade.

Durante todo o processo educativo, procura investir numa concepção de

ensino-aprendizagem que segundo Nádia Bossa registra que:

• Fomente interações interpessoais;

• Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem considerando

integradamente as bagagens intelectual e moral;

• Estimule a postura transformadora de toda a comunidade educativa para,

de fato, inovar a prática escolar; contextualizando-a;

• Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com significado

relevante, de acordo com a demanda em questão;

• Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desenvolver mais o

raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a estabelecer relações

entre os diversos conteúdos trabalhados;

• Reforce a parceria entre escola e família;

• Lance as bases para a orientação do aluno na construção de seu projeto

de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio;

• Incentive a implementação de projetos que estimulem a autonomia de

professores e alunos;

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47 • Atue junto ao corpo docente para que se conscientize de sua posição de

“eterno aprendiz”, de sua importância e envolvimento no processo de

aprendizagem, com ênfase na avaliação do aluno, evitando mecanismos

menores de seleção, que dirigem apenas ao vestibular e não à vida.

Nesse sentido, o material didático adotado, após criteriosa análise, deve

ser utilizado como orientador do trabalho do professor e nunca como o único

recurso de sua atuação docente.

Com certeza, se almejamos contribuir para a evolução de um mundo que

melhore as condições de vida da maioria da humanidade, nossos alunos

precisam ser capazes de olhar esse mundo real em que vivemos, interpretá-lo,

decifrá-lo e nele ter condições de interferir com segurança e competência.

Para tanto, juntamente com toda a Equipe Escolar, o Psicopedagogo

estará mobilizado na construção de um espaço concreto de ensino-

aprendizagem, espaço este orientado pela visão de processo, através do qual

todos os participantes se articulam e mobilizam na identificação dos pontos

principais a serem intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da

ação, e sim continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que

definem e lutam por alcançar.

4.2. A contribuição da psicopedagogia para superar os

problemas de aprendizagem

A compreensão dos problemas de aprendizagem causa muita ansiedade,

tanto aos educadores que se deparam com essa situação, sem, muitas vezes,

soluciona-las, quanto para os que apresentam tal sintoma. Nesse caso, ainda é

muito comum rotular os alunos, essa prática é trás conseqüências nocivas

nocivas, pois prejudicam a auto-estima dos alunos ou mesmo comportamentos

inadequados às experiências, até mesmo afastando-os da sala de aula.

A psicopedagogia surgiu de uma necessidade de compreender o processo

de aprendizagem, para Kiguel, ( apud BOSSA 1994,p.7 ) “ historicamente a

Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das

necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem”,

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48 consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional.Ocorre que a

aprendizagem humana está estruturando-se e situando-se para evoluir através de

recursos novos, pois a psicopedagogia está embasada em diversas teorias,

devido à complexidade de seu estudo. Por exemplo: a psicanálise, a psicologia

social, a epistemologia, a psicologia genética e lingüística, incidem sobre o seu

obleto de estudo.

Como a Psicopedagogia domina a patologia e a etiologia dos problemas de

aprendizagem é possível que esta contribua para a sua compreensão, buscando

esclarecer esses sintomas pelas professoras das classes de alfabetização. Desse

modo, vem ganhando espaço nas instituições escolares.

Bossa ( 1994) afirma que cabe ao psicopedagogo saber como o sujeito

aprende em suas várias etapas da vida, quais os recursos de conhecimento de

que dispõe.Tal informação incidirá nos meios necessários para suscitar o sucesso

dos alunos que apresentam sintomas do “ não-aprender”.

A atuação psicopedagogica envolve-se, portanto, com o problema escolar

e de aprendizagem interferindo de forma individdual ou no grupo, conforme se

apresenta o problema. Tratar esses problemas de aprendizagem em classes de

alfabetização com certeza aminizará bastante o problema.

Sisto ( 1996,p.9 ) também apresenta o que a psicopedagogia nos oferece,

ao tratar dos problemas de aprendizagem: “ é a possibilidade de analisar este

processo do ponto de vista do ser que aprende e da instituição que ensina”. A

psicopedagogia é uma área de estudo diretamente responsável pela

aprendizagem escolar no que tange a seu decurso normal ou com dificuldades. É

provável que todos os envolvidos com o processo de aprendizagem analisem a

situação, e não somente o aprendente.

Refletrir psicopedagogicamente sobre os problemas de aprendizagem

consiste em compreender a forma como o aluno ou os alunos estão utilizando os

elementos do seu cognitivo e emocional para aprender. Significa refletir também

com as relações que se estruturam entre o aluno e o conhecimento, as quais são

interpostas pelo professor e pela escola.

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49 Atingir o sucesso na aprendizagem exige que a criança alcance e supere

determinadas integridades básicas, através de oportunidades adequadas.

Convém lembrar, porém, que os “ problemas” interferem, este processo não é

algo catastrófico e sem solução. Trata-se de evidenciar caminhos que o aluno

está percorrendo sem as frustrações e condenações que se referem a

aprendizagem.

4.3. Considerações Psicopedagógicas nos distúrbios de

aprendizagem

No capítulo anterior foram definidos alguns distúrbios de aprendizagem.

Agora, gostaríamos de apresentar algumas sugestões para que o professor e o

psicopedagogo ajudem aos alunos que apresentam tais distúrbios.

Discalculia

Ajuda do professor:

O aluno deve ter um atendimento individualizado por parte do professor

que deve evitar:

• Ressaltar as dificuldades do aluno, diferenciando-o dos demais;

• Mostrar impaciência com a dificuldade expressada pela criança ou

interrompê-la várias vezes ou mesmo tentar adivinhar o que ela quer dizer

completando sua fala;

• Corrigir o aluno freqüentemente diante da turma, para não o expor;

• Ignorar a criança em sua dificuldade.

Dicas para o professor:

g Não force o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter

conseguido;

g Explique a ele suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre

que precisar;

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50 g Proponha jogos na sala;

g Não corrija as lições com canetas vermelhas ou lápis;

g Procure usar situações concretas, nos problemas.

Ajuda do profissional:

Um psicopedagogo pode ajudar a elevar sua auto-estima valorizando suas

atividades, descobrindo qual o seu processo de aprendizagem através de

instrumentos que ajudarão em seu entendimento. Os jogos irão ajudar na

seriação, classificação, habilidades psicomotoras, habilidades espaciais,

contagem.

Recomenda-se pelo menos três sessões semanais.

O uso do computador é bastante útil, por se tratar de um objeto de

interesse da criança.

O neurologista irá confirmar, através de exames apropriados, a dificuldade

específica e encaminhar para tratamento. Um neuropsicologista também é

importante para detectar as áreas do cérebro afetadas. O psicopedagogo, se

procurado antes, pode solicitar os exames e avaliação neurológica ou

neuropsicológica.

Dislexia

Tratamento e orientações:

- O tratamento deve ser realizado por um especialista ou alguém que tenha

noções de ajuda ao dislexo. Deve ser individual e freqüente.

Durante o tratamento deve-se usar material estimulante e interessante. -

Ao usar jogos e brinquedos empregar preferencialmente os que contenham letras

e palavras.

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51 - Reforçar a aprendizagem visual com o uso de letras em alto relevo, com

diferentes texturas e cores. É interessante que ele percorra o contorno das letras

com os dedos para que aprenda a diferenciar a forma da letra.

- Deve-se iniciar por leituras muito simples com livros atrativos, aumentando

gradativamente conforme seu ritmo.

- Não exigir que faça avaliação de outra língua. Deve-se dar mais importância na

superação de sua dificuldade do que na aprendizagem de outra língua.

- O tratamento psicológico não é recomendado a não ser nos casos de graves

complicações emocionais.

- Substituir o ensino através do método global (já que não consegue perceber o

todo), por um sistema mais fonético.

- Não estimule a competição com colegas nem exija que ele responda no mesmo

tempo que os demais.

- Oriente o aluno para que escreva em linhas alternadas, para que tanto ele

quanto o professor possa entender o que escreveu e poder corrigi-los.

- Quando a criança não estiver disposta a fazer a lição em um dia ou outro não a

force. Procure outras alternativas mais atrativas para que ele se sinta estimulado.

- Nunca critique negativamente seus erros. Procure mostrar onde errou, porque

errou e como evitá-los. Mas atenção: não exagere nas inúmeras correções, isso

pode desmotivá-lo. Procure mostrar os erros mais relevantes.

- Peça que os pais releiam o diário de classe sem criticá-los por não conseguir

fazê-lo, pois a criança pode esquecer o que foi pedido e/ou não conseguir ler as

instruções.

Disgrafia

Tratamento e orientações:

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52 O tratamento requer uma estimulação lingüística global e um atendimento

individualizado complementar à escola.

Os pais e professores devem evitar repreender a criança.

Reforçar o aluno de forma positiva sempre que conseguir realizar uma

conquista.

Na avaliação escolar dar mais ênfase à expressão oral.

Evitar o uso de canetas vermelhas na correção dos cadernos e provas.

Conscientizar o aluno de seu problema e ajudá-lo de forma positiva.

Disortografia

Orientações:

Estimular a memória visual através de quadros com letras do alfabeto,

números, famílias silábicas.

Não exigir que a criança escreva vinte vezes a palavra, pois isso de nada

irá adiantar.

Não reprimir a criança e sim auxiliá-la positivamente.

Com as questões expostas, esperamos contribuir de alguma forma para

melhorar a qualidade do ensino, visto que o psicopedagogo tem papel

importantíssimo na luta contra os distúrbios de aprendizagem.

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53

CONCLUSÃO

O problema que essa pesquisa pretende responder foi como o

Psicopedagogo pode contribuir para amenizar os distúrbios de leitura e escrita na

classe de alfabetização? E teve como hipótese de trabalho de como o

psicopedagogo pode trabalhar junto com os profissionais de educação criando

técnicas, metodologias e outros meios para que os alunos da classe de

alfabetização obtenham sucesso. A hipótese se mostrou verdadeira pois se

observa um grande crescimento da ação do psicopedagogo nas escolas,

sobretudo em uma perspectiva preventiva e institucional. Dessa forma, a

Psicopedagogia insere-se no contexto educacional como mais um campo de

conhecimento na busaca da redução do fracasso escolar.É nesse sentido que a atuação do psicopedagogo na instituição visa a fortalecer-lhe a identidade, bem

como buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo tempo em que

procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada no momento

histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas da sociedade.

Com certeza, se almejamos contribuir para a evolução de um mundo que

melhore as condições de vida da maioria da humanidade, nossos alunos

precisam ser capazes de olhar esse mundo real em que vivemos, interpretá-lo,

decifrá-lo e nele ter condições de interferir com segurança e competência.

Para tanto, juntamente com toda a Equipe Escolar, o Psicopedagogo

estará mobilizado na construção de um espaço concreto de ensino-

aprendizagem, espaço este orientado pela visão de processo, através do qual

todos os participantes se articulam e mobilizam na identificação dos pontos

principais a serem intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da

ação, e sim continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que

definem e lutam por alcançar.

Outro ponto importante do trabalho desenvolvido foi que a psicopedagogia

se ocupa em analisar e compreender como acontece a aprendizagem em seu

sentido de construção, abarcando, por isso, um entendimento mais profundo e

apresentando caminhos para avaliar e tratar os problemas de aprendizagem.

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54 No decorrer desta pesquisa vimos a necessidade de desenvolver outros

estudos sobre o papel do psicopedagogo em outras delimitações.Apresentamos 3

novas sugestões de pesquisa. A primeira delas seria a proposta de estudos sobre

a Educação de Jovens e Adultos que se fundamentam com Freire em Educação

e Mudança (1979) e Ferreiro em Reflexões sobre alfabetização (2001), que

possibilitam um conhecimento teórico da prática pedagógica de jovens e adultos.

Portanto, esse estudo contribuirá para um repensar do educador que atua nas

classes da Educação de Jovens e Adultos, fazendo-o refletir sobre sua prática

pedagógica, para que ajude na formação de cidadãos concientes de seu papel na

sociedade.

A segunda proposta é um trabalho de pesquisa sobre o desenvolvimento

emocional: um olhar psicopedagógico pois a educação conta hoje com um

grande obstáculo de ordem emocional. Alunos competentes intelectualmente

vêem apresentando quedas significativas de rendimento, problema que afeta pais

e educadores comprometendo o aprendizado e as relações estabelecidas dentro

das Escolas. Tal fato afeta consideravelmente os professores que também

encontram-se carentes emocionalmente.

Acreditamos que o educador tem um papel fundamental e que o mesmo

deve estar preparado emocionalmente para tal função,com cursos e momentos de

reflexão que enfatizem o equilíbrio, o auto-conhecimento e o crescimento pessoal,

ampliando a percepção das próprias emoções, favorecendo envolvimentos mais

empáticos e sadios, o que só trará benefícios para a educação.

Partimos do princípio de que a pessoa emocionalmente inteligente, sabe

colocar suas capacidades a serviço de metas e motivações. É mais eficiente e

realista, mais criativa e disposta ao novo. Dai a importância de um investimento

no desenvolvimento pessoal de nossos profissionais da educação.

Como última proposta fica a idéia de uma pesquisa de campo sobre as

dificuldades de aprendizagem em leitura e escrita , porém com os resultados da

aplicação do trabalho psicopedagogico com professores, desenvolvidos nesta

monografia, onde podemos obter um resultado mais preciso da verdade da

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55 hipótese utilizada na mesma.Pois as dificuldades escolares aparecem hoje entre

os problemas de nosso sistema educacional mais estudados e discutidos portanto

é necessário que todos os envolvidos com questões educacionais realizem

pesquisas que possibilitem a redução do fracasso escolar.

Caro leitor ,esperamos ter contribuído de alguma forma para asua leitura

pois o presente trabalho constitui um espaço profissional do Psicopedagogo que

continua em busca de um melhor enriquecimento de seu corpo teórico.

Esperamos que você tenha a possibilidade de redimensionar suas práticas

pedagógicas, oportunizando aos educandos a auto-realização.

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REFERÊNCIAS

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PORTO,Olívia.Psicopedagogia Institucional.Rio de Janeiro:Wark,2006

GOMES, Maria de Fátima Cardoso. Dificuldades de aprendizagem na

alfabetização. Belo Horizonte, Autêntica,2006

FERREIRO. Emília. Reflexões sobre a alfabetização.Rio de Janeiro.Saraiva, 1976

PAÍN, Sara. Diagnósticos e tratamentos dos problemas de aprendizagem. Edição

Nova Visão 3ª ed. Porto Alegre:Artes Médicas,1992

PIAGET, Jean.Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro. Cortez, 3ª ed,1999

VYGOTSKY, A . R . Lúria, A N . Leontiev. Linguagem,desenvolvimento e

aprendizagem.São Paulo:Ícone,1998

BOSSA, Nádia.A psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática.Porto

Alegre:Artes Médicas,1994

WELLS, G .A construção Social da Alfabetização. Porto Alegre. Artes

Médicas,1991

WEISS, Alba Maria Lemme. A pedagogia das diferenças.Rio de

Janeiro.Ed.DP&A,1999

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ANEXOS

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ÍNDICE

CAPA 1

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

EPÍGRAFE 5

RESUMO 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

1. UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO 12

1.1. A PSICOPEDAGOGIA 12

1.1.1 A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL 14

1.2 CONSIDERAÇÕES À PSICOPEDAGOGIA 18

2. ALFABETIZAÇÃO E APRENDIZAGEM O QUE É? 19

2.1. UM POUCO DE HISTÓRIA 19

2.1.1. A ALFABETIZAÇÃO E O FRACASSO ESCOLAR 22

2.2. O QUE É ALFABETIZAÇÃO 23

2.3. APRENDIZAGEM: UM REFERENCIAL POSSÍVEL 25

2.4. O OLHAR DO PROFESSOR SOBRE O PROCESSO DE

APRENDIZAGEM 25

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60 3.PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM: UM MITO...UM DESAFIO... 28

3.1. PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 30

3.2 ALGUNS DISTÚRBIOS 33

4. A PSICOPEDAGOGIA SUPERA OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM :

ALGUMAS QUESTÕES 45

4.1. A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA 46

4.2. A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA PARA SUPERAR OS

PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 47

4.3. CONTRIBUIÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NOS DISTÚRBIOS DE

APRENDIZAGEM 49

ANEXOS 57

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PSICOPEDAGOGIA

LUCIENE DA SILVA TELES(C201458)

DISTÚRBIOS DE LEITURA E ESCRITA NA CLASSE DE ALFABETIZAÇÃO: UM

OLHAR DO PSICOPEDAGOGO

AVALIADOR:_______________________________________________________

( NILSON GUEDES DE FREITAS )

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