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Incontinência urinária e prática esportiva: revisão de literatura

Ana Claudia Martins Alves1, Danilo Cesar Tostes1, Jessica Guirra Santana1, Ludmila Barbosa Del Tedesco1, Vinicius Restani de Castro1, Elaine Cristine Lemes Mateus de Vasconcelos2

1Dicente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá; 2Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá.

[email protected]

1 INTRODUÇÃO A incontinência urinária (IU) é definida pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) como a queixa de qualquer perda involuntária de urina. Os três tipos de IU mais frequentes são: incontinência urinaria de esforço (IUE), que é definida como perda involuntária de urina desencadeada por esforço físico, espirro ou tosse; incontinência urinária de urgência, que é a perda involuntária de urina associada a um forte desejo miccional; e incontinência urinária mista, que refere-se à IUE associada à incontinência urinária de urgência (VAN KERREBROECK et al., 2002). Os fatores de risco para o desenvolvimento da IU em mulheres envolvem aspectos anatômicos, mudanças hormonais e consequências de parto e gestações. Outros fatores de risco incluem idade, obesidade, menopausa, cirurgias ginecológicas, constipação intestinal, doenças crônicas, fatores hereditários, distúrbios alimentares, uso de drogas, consumo de cafeína, tabagismo e a prática esportiva (CAETANO; TAVARES; LOPES, 2007; JÁCOME et al., 2011). A IU feminina apresenta uma incidência maior em atletas quando comparada às mulheres sedentárias e pode trazer prejuízo ao rendimento do treinamento e à prática do esporte. O constrangimento que as mulheres sentem para discutir sua condição com o profissional da saúde faz com que a IU seja frequentemente subdiagnosticada e subtratada. Isso faz com que não sejam incluídas ações de prevenção e tratamento das disfunções do assoalho pélvico (AP) na prática esportiva. As atletas, por sua vez, utilizam de métodos próprios para se proteger da perda urinária adotando o uso de absorventes higiênicos, ou realizando micções preventivas e controlando a ingestão de líquidos. Algumas optam pela mudança da prática esportiva para minimizar e se proteger das consequências dessa condição (CAETANO; TAVARES; LOPES, 2007). Frente à relevância do assunto, à alta prevalência da IU em atletas e ao impacto negativo da IU na prática esportiva, justifica-se a importância em desenvolver o presente estudo. Acrescido a esses aspectos, o tema é pouco explorado na literatura científica, o que impõe a necessidade de mais estudos que busquem elucidar a relação entre IU e a prática esportiva. 2 OBJETIVO Realizar uma revisão de literatura visando: identificar as modalidades esportivas que representam maior risco de desenvolvimento de IU em atletas do sexo feminino; verificar os riscos que a prática esportiva representa para o AP e, consequentemente, para o de desenvolvimento da IU; e propor medidas de intervenção no sentido de prevenir ou tratar essa disfunção.

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3 MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo refere-se a uma revisão de literatura acerca da IU em mulheres e a prática esportiva, desenvolvido no período de março a outubro de 2014. As seguintes bases de dados foram consultadas: Pubmed. Lilacs e Scielo, utilizando as palavras-chave em inglês: urinary incontinence and sport, e em português: incontinência urinária em atletas e incontinência urinária e esporte. Foram incluídos artigos completos publicados no período de 2004 a 2014, na língua inglesa ou portuguesa, que envolviam apenas mulheres adultas. Duzentos e um artigos foram identificados. Para a triagem dos estudos foi realizada a leitura minuciosa dos resumos e selecionados os que atendiam aos objetivos do estudo. Em seguida, procedeu-se a obtenção e leitura do texto completo para avaliação da elegibilidade. Para a revisão de literatura foram utilizados 15 artigos. 4 RESULTADOS Um total de 201 artigos foi identificado nas bases de dados utilizadas para pesquisa. Destes, 15 artigos foram selecionados após a aplicação dos critérios de inclusão estabelecidos (Figura 1).

Figura 1 – Fluxograma com o número de artigos identificados, excluídos e incluídos na revisão de literatura, de acordo com o Prisma Statement (MOHER et al., 2009).

Registros identificados mediante pesquisa no banco de dados (n=201)

Tri

agem

In

cluí

dos

Ele

gibi

lidad

e

Estudos duplicados removidos (n=2)

Estudos selecionados (n=199)

Estudos excluídos por não atender aos objetivos do estudo

(n=174)

Artigos com textos completos para avaliar a elegibilidade

(n=20)

Artigos com textos completos excluídos por não atender aos

objetivos do estudo (n=5)

Estudos incluídos na síntese (n=15)

Iden

tifi

caçã

o

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Tabela 1 - Características gerais dos estudos selecionados mais relevantes.

Autores/

Ano Periódico

Desenho do

Estudo

Amostra Objetivos Conclusões

Jácome et al., 2011

International Journal of

Gynecology and Obstetrics

Estudo Transversal

106 atletas. 32 (32,2%)

praticavam atletismo, 36 (34%) basquete e

38 (35,8%) futebol de salão.

Idade média: 23±4.4 anos.

Avaliar a prevalência de IU em um grupo de atletas do sexo feminino e explorar o impacto sobre suas vidas.

A IU é um problema importante e predominante em atletas. Embora as atletas tenham relatado que a perda de urina não tinha implicações em seu dia a dia, elas utilizavam algumas estratégias para reduzir os episódios de perda de urina enquanto praticavam esportes, e se mostraram preocupadas quanto a sua ocorrência.

Fozzati et al., 2012

Journal the International

Urogynecological Association

Estudo comparativo

488 mulheres nulíparas e

sexualmente ativas. Idade entre 20 e 45

anos.

Avaliar a prevalência de IUE em mulheres que se exercitam e desempenham exercícios de alto impacto e relacionar com mulheres que não se exercitam.

Mulheres que se exercitam e desempenham exercícios de alto impacto têm uma prevalência maior de IU quando comparada com mulheres que não desempenham nenhum exercício de alto impacto.

Salvatore et al., 2009

British Journal of Sports Medicine

Estudo epidemiológico

679 mulheres em idade fértil e praticantes de

atividades físicas esportivas.

Idade inferior a 52 anos.

Avaliar a prevalência de IUE em mulheres no menacme praticantes de atividade esportiva recreativa.

A IU afeta uma proporção significativa de mulheres jovens que praticam atividade esportiva não competitiva. A maior taxa de IU foi encontrada em mulheres que participam de basquete, atletismo e tênis ou squash.

Reis et al., 2011

Revista Brasileira de Medicina do

Esporte

Estudo observacional, transversal e comparativo

37 atletas de basquetebol e 42

atletas de voleibol. Idade entre 16 e 26

anos.

Comparar a capacidade de contração do AP entre atletas praticantes de voleibol e basquetebol, e correlacionar com o desenvolvimento de IUE.

Não foi observada diferença significativa em relação à capacidade de contração do AP entre atletas de basquetebol e voleibol.

Goldstick e Constantini,

2014

British Journal of Sports Medicine

Revisão de literatura

- Recapitular a prevalência, fatores de risco e modalidades de tratamento da IU em mulheres fisicamente ativas e atletas.

Esportes de alto impacto e distúrbios alimentares aumentam o risco de IU. O treinamento dos músculos do assoalho pélvico (MAP) é o tratamento mais indicado para a reabilitação da IU.

Almeida, Barra e

FIgueiredo,2011

Femina Revisão de literatura

-

Identificar a ocorrência de disfunção do AP e seus fatores etiológicos entre atletas jovens e nulíparas.

A IU é uma condição prevalente entre atletas jovens e nulíparas. Pouca atenção tem sido dada às outras disfunções do AP.

Caetano, Tavares e

Lopes, 2007

Revista Brasileira de Medicina do

Esporte

Revisão de literatura

-

Revisar o impacto causado pela IU na prática de atividades físicas e esportivas, e identificar de que forma o profissional de educação física pode

A prática de atividades físicas de alto impacto pode predispor ao desenvolvimento da IU. O profissional de educação física tem um papel fundamental e decisivo,

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contribuir com essas mulheres.

com a instituição de orientações adequadas.

Barros, Lucena e Anselmo

2007

Anais da Faculdade de Medicina da Universidade

Federal de Pernambuco,

Recife

Revisão de literatura

- Descrever a prevalência de IU durante a prática esportiva, os fatores predisponentes e preventivos.

A IU é uma desordem que apresenta grande implicação social. Para prevenir a IUE em atletas se faz necessário um trabalho de fortalecimento e conscientização do AP durante os treinamentos.

5 DISCUSSÃO A literatura existente até o momento relaciona a prática esportiva com a ocorrência de disfunções do AP, especialmente a IU. Este estudo de revisão de literatura visou investigar as modalidades esportivas que representam maior risco de desenvolvimento de IU em atletas do sexo feminino; verificar os riscos que a prática esportiva representa para o AP e, consequentemente, para o de desenvolvimento da IU; e propor medidas de intervenção no sentido de prevenir ou tratar essa disfunção. As atividades esportivas de alto risco para o desenvolvimento de IU incluem o atletismo, ginástica, basquete, vôlei, esportes de combate (judô/ karatê), fisiculturismo e equitação. Riscos moderados para o AP são representados pela corrida, tênis e esqui/ skate. Atividades de baixo risco são representadas pela natação, remo, ciclismo e golfe (ALMEIDA; BARRA; FIGUEIREDO, 2011; CAETANO; TAVARES; LOPES, 2007; JÁCOME et al., 2011; REIS et al., 2011; SALVATORE et al., 2009) Segundo Caetano, Tavares e Lopes (2007), algumas modalidades esportivas que se relacionam com a IU são: atletismo (corredoras e maratonistas), futebol, basquete, vôlei, hóquei, futsal, trampolinismo, ginástica, tênis, entre outras. As mulheres fisicamente ativas apresentam com mais frequência IUE. Embora a literatura não seja conclusiva a esse respeito, estudos demonstram que os exercícios que exigem muito esforço físico e demandam alto impacto podem ocasionar aumento excessivo na pressão intra-abdominal. (CAETANO; TAVARES; LOPES, 2007). Esse aumento da pressão intra-abdominal pode sobrecarregar os órgãos pélvicos, empurrando-os para baixo, ocasionando danos aos MAP. Como qualquer outro músculo do corpo, se os MAP não estão fortes o suficiente para responder a estes esforços, eles poderão acumular lesões e enfraquecer progressivamente (JÁCOME et al., 2011). As atletas normalmente referem que a perda de urina é muito embaraçosa, reduzindo a concentração, o desempenho e a qualidade de vida. Muitas atletas fazem uso de estratégias para a perda urinária, como o uso de absorventes ou a redução da ingestão de líquidos, mas poucas comentam sobre o assunto ou procuram ajuda profissional para o problema (ALMEIDA; BARRA; FIGUEIREDO, 2011). A fisioterapia é eficaz na prevenção e tratamento desta condição e é amplamente recomendada como primeira opção de tratamento, especialmente o treinamento muscular do AP, que envolve a conscientização, o fortalecimento dos MAP e, por conseguinte, o incremento de sua função (JÁCOME et al., 2011). É necessária a conscientização por parte das atletas e dos profissionais envolvidos no treinamento quanto à instituição precoce de intervenções preventivas ou medidas terapêuticas. 6 CONCLUSÃO As atividades esportivas que mais se relacionam com o desenvolvimento da IU são: atletismo, ginástica, basquete, vôlei, futebol, hóquei, futsal, tênis, esportes de combate (judô/

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karatê), fisiculturismo, trampolinismo e equitação. A repercussão sobre o AP é caracterizada pela sobrecarga dos MAP decorrente do aumento frequente da pressão intra-abdominal e forças de impacto inerentes a algumas modalidades esportivas. Instituir intervenções pelos profissionais envolvidos no treinamento de atletas no sentido de prevenir ou tratar a IU é essencial, especialmente a reeducação do AP. Palavras-chave: incontinência urinária, esportes, atletas, assoalho pélvico. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. B. A.; BARRA, A. A.; FIGUEIREDO, E. M. Disfunções de assoalho pélvico em atletas. Femina, Rio de Janeiro, v. 39, n. 8, p. 395-402, 2011. BARROS, D. J.; LUCENA, T. C. A.; ANSELMO, F. S. W. C. Incontinência urinária de esforço em atletas do sexo feminino: uma revisão da literatura. Anais da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, v. 52, p. 173-180, 2007. CAETANO, A. S.; TAVARES, M. C. G. C. F.; LOPES, M. H. B. M. Incontinência urinária e a prática de atividades físicas. Rev Bras Med Esporte, São Paulo, v. 13, n. 4, p. 270-273, 2007. FOZZATTI, C. et al. Prevalence study of stress urinary incontinence in women who perform high-impact exercises. Int Urogynecol J, v. 23, n. 12, p. 1687-1691, 2012. GOLDSTICK, O; CONSTANTINI, N. Urinary incontinence in physically active women and female athletes. Br J Sports Med, v. 48, n. 4, p. 296-298, 2014. JÁCOME, C. et al. Prevalence and impact of urinary incontinence among female athletes. Int J Gynaecol Obstet, v. 114, n. 1, p. 60-63, 2011. MOHER, D. et al. The PRISMA Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: The PRISMA Statement. PLOS Medicine, v. 6, n. 7, p. e1000097, 2009. REIS, A. O. et al. Estudo comparativo da capacidade de contração do assoalho pélvico em atletas de voleibol e basquetebol. Rev Bras Med Esporte, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 97-101, 2011.

SALVATORE, S. et al. The impact of urinary stress incontinence in young and middle-age women practising recreational sports activity: an epidemiological study. Br J Sports Med, v. 43, n. 14, p. 1115-1118, 2009. VAN KERREBROECK, P. et al. The standardisation of terminology in nocturia: Report from the standardisation sub‐committee of the International Continence Society. Neurourol Urodyn, v. 21, n. 2, p. 179-183, 2002.