Identificação de Neologismos de Economia No Jornal Zero Hora

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

    UNIDADE ACADMICA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA APLICADA

    NVEL MESTRADO

    JOICE MILENA SPIER HAHN

    IDENTIFICAO DE NEOLOGISMOS DE ECONOMIA NO JORNAL ZERO

    HORA

    So Leopoldo

    2013

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    JOICE MILENA SPIER HAHN

    IDENTIFICAO DE NEOLOGISMOS DE ECONOMIA NO JORNAL ZERO

    HORA

    Dissertao de mestrado apresentadacomo requisito parcial obteno dograu de Mestre pelo Programa de Ps-Graduao em Lingustica Aplicada, da

    Universidade do Vale do Rio dosSinos.

    Orientadora: Profa. Dra. Maria daGraa Krieger

    So Leopoldo2013

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    Catalogao na Publicao:Bibliotecrio Eliete Mari Doncato Brasil - CRB 10/1184

    H148i Hahn, Joice Milena SpierIdentificao de neologismos de economia no jornal Zero

    Hora / Joice Milena Spier Hahn. -- 2013.101 f. : il. ; 30cm.

    Dissertao (mestrado) -- Universidade do Vale do Rio dosSinos. Programa de Ps-Graduao em Lingustica Aplicada,So Leopoldo, RS, 2013.

    Orientao: Profa. Dra. Maria da Graa Krieger.1. Neologismo. 2. Criao lexical. 3. Economia. 4. Texto

    jornalstico. I. Ttulo. II. Krieger, Maria da Graa.

    CDU 801.316.1

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    Uma parte de mim

    s vertigem:

    outra parte,

    linguagem.

    Ferreira Gullar

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, em primeiro lugar, pela vida e pela sade;

    professora Dra. Maria da Graa Krieger, por acreditar desde o incio

    no meu projeto, pelo incentivo e pela orientao durante todo o perodo do

    curso;

    Aos meus pais, Regis e Marion, por apoiarem as minhas escolhas e por

    me mostrarem o certo e o errado nesta vida;

    minha irm Lisiane, que, mesmo longe, sempre mandou vibraes

    positivas;

    Ao Samuel Andreola, pelo incentivo, pela compreenso no s na

    realizao deste trabalho, mas em tantas outras etapas da minha vida e

    pelas orientaes na rea da economia durante a escrita desta dissertao;

    minha v Imi, pela fiel torcida;

    Aos colegas e aos professores do PPGLA pelas aulas, pelas discusses,

    pelas amizades;

    E aos colegas professores das duas escolas em que trabalhei durante o

    curso.

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    RESUMO

    Esta dissertao de mestrado trata do reconhecimento dos neologismos

    presentes nos textos de economia do jornal Zero Hora, veculo de comunicao

    de maior destaque do gnero jornalstico no Estado do RS. Por ser um jornal, os

    textos so destinados ao grande pblico e tratam de vrios assuntos sob o ponto

    de vista econmico. Objetivamos, com esse estudo, contribuir para o

    desenvolvimento e ampliao dos estudos referentes neologia lexical da econo

    mia, que, em geral, no inclui o Rio Grande do Sul. De modo especfico, foram

    selecionados os candidatos a neologismos a partir dos textos referentes a 26

    edies do jornal em estudo 13 edies do Caderno Dinheiro e 13 edies

    referentes ao dia de quinta-feira dos meses de julho, agosto e setembro de 2011.

    Obtivemos inicialmente 402 candidatos a neologismos e a sua validade foi

    verificada nos dicionrios que compem o corpus de excluso do estudo.

    Metodologicamente, confirma-se como neologismo se no h registro no

    dicionrio. A partir disso, identificamos 28 termos neolgicos que representam

    ndulos cognitivos da economia, consideramos tambm, a frequncia desses

    neologismos. Os resultados da pesquisa mostraram, aps a consulta no corpusde

    excluso, a existncia de neologismos prprios da economia, de neologismos de

    outras reas de especialidade e de neologismos da lngua geral. Levando em

    conta essas evidncias, observamos que a economia uma rea hbrida que se

    aplica a vrios setores da sociedade. Verificamos tambm, que utilizar apenas um

    nico critrio para reconhecer neologismos corpus de excluso no

    suficiente, pois obtivemos um nmero significativo de candidatos a neologismos

    que no estavam dicionarizados e, ao mesmo tempo, no puderam ser

    considerados neologismos devido a vrias questes. Alm da condio deneologismos, tambm analisamos os seus processos de formao e as suas

    estruturas formais. Observamos que os emprstimos lingusticos oriundos da

    lngua inglesa, as composies sintagmticas e as composies sintagmticas

    com estrangeirismo foram muito produtivas, totalizando 78% dos neologismos

    obtidos na nossa pesquisa. Os processos sintticos de prefixao e sufixao, no

    entanto, mostraram-se pouco produtivos.

    Palavras-chave: criao lexical, neologismo terminolgico, economia, textojornalstico.

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    ABSTRACT

    This master dissertation deals with the recognition of neologisms on Zero

    Horas economics texts. This newspaper is the most highlighted mean of

    communication of the journalistic genre in the state of Rio Grande do Sul,

    Brazil. Since its a journal, these texts are addressed to the general public and

    they discuss various subjects under economic scope. We aim with this study to

    contribute to the development and expansion of studies regarding lexical

    neology of economy data, which, in general, does not include the Rio Grande

    do Sul. Specifically, it was selected for neologisms candidates 26 newspaper

    issues from the journal on focus thirteen editions of the Caderno Dinheiro

    and thirteen issues of every Thursday from months July, August and September

    of 2011.Initially, we obtained 402 neologisms candidates and its validity were

    verified in dictionaries that composes the corpus of exclusion from this study.

    Methodologically, it is a neologism if there is no record in the dictionary. So, it

    was identified 28 terms regarding neological cognitive nodules of economy,

    and, we also considered the frequency of these neologisms. The research

    results showed, after consulting the corpus of exclusion, the existence of own

    economy neologisms, neologisms from other areas and general language

    neologisms. Considering the given evidences, we observed that economy is a

    hybrid area which applies to various sectors of society. We also verified that to

    use a single criterion to recognize neologisms - corpus of exclusion - is not

    enough, because we had a significant number of neologism candidates who

    were not on dictionaries and, at the same time, could not be considered

    neologisms, due to various matters. Besides the neologisms conditions, we also

    analyzed their formation processes and their formal structures. We observedthat the loanwords from English, syntagmatic compositions and syntagmatic

    compositions with foreignness were very productive, totaling 78% of neologisms

    obtained in our research. The syntactic processes of fixing and suffixing,

    however, were not very productive.

    Keywords: lexical creation, neologism terminological, economic, journalistic

    journal.

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    SUMRIO

    INTRODUO...................................................................................................11

    1. LXICO...................................................................................................16

    1.1 Neologia e neologismo........................................................................21

    1.2 Neologismo terminolgico..................................................................28

    1.3 Aceitabilidade e insero do neologismo no dicionrio..................30

    1.4 Processos de formao dos neologismos.........................................33

    1.4.1 Neologismo fonolgico......................................................................34

    1.4.2 Neologismo sinttico..........................................................................34

    1.4.3 Neologismo por converso................................................................42

    1.4.4 Neologismo semntico......................................................................43

    1.4.5 Truncao, palavra-valise, reduplicao e derivao regressiva......43

    1.4.6 Neologismo por emprstimo..............................................................45

    2. A CINCIA ECONMICA......................................................................49

    3. METODOLOGIA.....................................................................................54

    3.1 Constituio do corpus........................................................................54

    3.2Corpus de excluso..............................................................................55

    3.3 Descrio do corpus............................................................................56

    4. IDENTIFICAO E ANLISE DOS DADOS.........................................58

    4.1 Configurao morfolgica dos termos..............................................67

    4.2 Discusso das problemticas.............................................................69

    4.3 Anlise quantitativa dos termos neolgicos da economia..............74

    5. CONSIDERAES FINAIS....................................................................77

    REFERNCIAS.................................................................................................80

    ANEXOS............................................................................................................83

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Composio sintagmtica com estrangeirismo ............................. 41

    Tabela 2 Configurao morfolgica dos termos ........................................... 67

    Tabela 3 Frequncia dos termos .................................................................. 68

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    RELAO DE ANEXOS

    Anexo A Mapa conceitual economia

    Anexo B Caderno Dinheiro 21/08/11, capa

    Anexo C Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 2

    Anexo D Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 3

    Anexo E Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 4

    Anexo F Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 5

    Anexo G Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 6

    Anexo H Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 7

    Anexo I Caderno Dinheiro 21/08/11, p. 8

    Anexo J Textos de economia 14/07/11, p. 18

    Anexo K Textos de economia 14/07/11, p. 19

    Anexo L Textos de economia 14/07/11, p. 20

    Anexo M Textos de economia 14/07/11, p. 22

    Anexo N Candidatos a neologismos

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    INTRODUO

    A criao lexical um fenmeno lingustico e cultural muito importante e

    muito presente no mundo atual tanto no plano do lxico geral, quanto

    especializado.

    Nesta dissertao, realizamos um estudo sobre neologismos na rea de

    economia, privilegiando o Rio Grande do Sul, que no conta com um repertrio

    neolgico sistematizado nessa rea. Tradicionalmente, no Brasil, os estudos de

    neologismos na economia esto vinculados ao Observatrio de Neologismos

    do Portugus Brasileiro Contemporneo, coordenado pela professora Ieda

    Maria Alves, na Universidade de So Paulo. Entre os objetivos do Observatrio

    esto: difundir aspectos de neologia geral, cientfica e tcnica do portugus

    contemporneo, descrever a lngua e elaborar repertrios sistemticos de

    neologismos.

    Entendemos assim que os resultados de nossa pesquisa podem se

    somar queles j registrados e descritos, de forma terica e aplicada. Temos

    como objetivos gerais reconhecer os neologismos presentes nos textos de

    economia do jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul; e assim contribuir para odesenvolvimento e ampliao dos estudos referentes neologia lexical da

    economia no Brasil.

    A nossa pesquisa envolve a mdia jornalstica jornal Zero Hora bem

    como a sua diversidade de gneros textuais notcias, reportagens, artigos,

    entrevistas, etc. Os meios de comunicao revistas, sites, jornais, emissoras

    de rdio e TV - so imprescindveis para os estudos neolgicos, visto que,

    neles, novos itens lexicais surgem com frequncia e eles so, basicamente, osprincipais divulgadores e criadores dos neologismos. Vale ressaltar o que

    Valente (2007) diz sobre a mdia jornalstica:

    Os textos miditicos constituem importante objeto de pesquisano s por atingirem milhes de brasileiros, mas tambm porconstiturem um padro mdio de linguagem da nossasociedade. fundamental, portanto, que na anlise de taistextos, se identifiquem os recursos lingustico-discursivosutilizados e se comentem tanto os que tm valor expressivocomo aqueles que servem como instrumentos de manipulao.

    Afinal, nos meios de comunicao, nenhumautor/produtor/enunciador neutro, isento ou inocente. certo

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    que ele se posiciona ideologicamente a servio ou no dequem manda no veculo e constri a sua mensagem comembasamento scio-poltico. (VALENTE, 2007, p.129)

    Nesta citao, o autor resumiu de forma clara a importncia da mdia

    jornalstica revistas, jornais, publicaes em sites, programas de rdios - para

    os estudos neolgicos ao dizer que eles constituem o padro mdio da

    linguagem da nossa sociedade. Outra declarao importante do autor deve-se

    a sua aluso ao fato de nenhum autor/produtor/enunciador ser isento ou neutro

    na mdia jornalstica todos tm um objetivo e algo a defender.

    Carvalho (1998) tambm faz a seguinte considerao acerca dos

    neologismos nos meios de comunicao:

    Podemos observar facilmente, sobretudo na imprensa diria, aconsequncia das inovaes, pela quantidade de novos itenslexicais que entram na lngua comum. Muitos provm de lnguade especialidade, como resultado da crescente influncia dacincia e da tecnologia sobre a vida diria das pessoas, commaior evidncia para as pertencentes aos estratos mdios ealtos de renda familiar. A renovao da sociedade contribuitambm para a necessidade de novos termos para designarcomportamentos e fatos sociais novos ou que, no passadoimplcitos e reprimidos, tornaram-se explcitos e aceitos.(CARVALHO, 1998, p.64)

    Correia e Almeida (2012) tambm convergem com os autores j citados

    em relao aos neologismos nos meios de comunicao. Elas afirmam que os

    meios de comunicao tm como principal objetivo mostrar o que novo. As

    linguistas tambm mencionam o fato da mdia jornalstica abordar temticas

    muito diversificadas, sendo maior a chance de encontrar itens lexicais

    neolgicos.

    vlido ressaltar que a criao lexical no est presente somente namdia jornalstica impressa; na internet tambm encontramos muitos

    neologismos de diversas reas do conhecimento.

    A sociedade sempre passou por transformaes, mas a partir do sculo

    XIX, o ritmo destas mudanas se intensificou. A evoluo da tecnologia, o

    surgimento e o aprimoramento dos meios de transporte e dos meios de

    comunicao, as crises e planos econmicos, o desenvolvimento das cincias

    e das tcnicas, as redes sociais criaram um fenmeno imensamente conhecido

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    nos dias de hoje, a globalizao. Por sua vez, a globalizao promoveu uma

    cadeia de mudanas sociais, polticas, culturais e econmicas.

    Todas as reas do conhecimento se beneficiaram e aprimoraram a sua

    comunicao com o desenvolvimento da globalizao. A informtica, por

    exemplo, possibilitou o acesso imediato s informaes sobre a economia,

    sade, poltica, enfim, qualquer rea do saber, facilitando a comunicao entre

    as pessoas de diferentes partes do mundo. Porm, para que essa

    comunicao ocorra efetivamente deve haver a padronizao dos termos,

    como prope a terminologia, cincia que se ocupa desse ofcio.

    Com a globalizao, temos como consequncia o surgimento de novas

    tcnicas, novos conceitos e a nomeao imediata desses faz-se necessria,

    atravs de neologismos que podem, ou no, incorporar-se no nosso repertrio

    lexical. Todas as lnguas atualizam o seu repertrio com o processo citado

    acima, a neologia. Em consequncia, o lxico amplia-se e surge a importncia

    e a necessidade de dedicar estudos sistemticos a esse fenmeno lingustico.

    Isso pode ser acompanhado diariamente em qualquer noticirio, onde

    encontramos termos como balana de pagamentos, comparaes exportao

    versus importao, capital externo, taxa cambial, dentre diversos outros. Esses

    termos da rea da economia tornaram-se to importantes quanto a relevncia

    crescente das trocas de mercadorias e capital entre os pases. Assim como o

    mercado global de mercadorias exigiu a padronizao de produtos na forma de

    commodities, hoje podemos ver que a mesma fora do mercado global tem,

    inclusive, influenciado na padronizao dos termos tcnicos.

    E discutir economia e todas as suas nuances dentro apenas de um

    escritrio no o ideal, importante que a informao chegue grande

    populao e esta tome as suas decises baseada nos ltimos dadosdisponibilizados. O empresrio, ao tomar a deciso de fazer determinado

    investimento, precisa estar consciente de qual a projeo da moeda

    internacional, como est a disponibilidade de mo de obra naquela regio e,

    quem sabe at, se na sua rea de atuao, ser possvel corrigir os preos

    acima da inflao. O trabalhador de carteira assinada pode se antecipar a uma

    oferta de emprego e, vendo que a taxa de desemprego tem aumentado e a

    renda geral diminudo, aceitar uma oferta mesmo que no fosse exatamente oque estava procurando.

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    Em ambos os casos e em incontveis outros, a informao que foi

    processada por diversos agentes, como: Banco Central, BRDE, Fed, agncias

    de risco, se torna til a partir do momento em que acessvel para aqueles que

    precisam tomar as suas decises, fazendo delas a melhor possvel. Claro que

    o volume de informaes processadas demasiado para a populao em

    geral, papel ento desempenhado pela mdia jornalstica de selecionar o mais

    relevante em suas publicaes. Temos, por exemplo, divulgaes semanais de

    prvia da inflao, fechamentos dirios da bolsa de valores e do mercado de

    dlar e euro, prvias mensais de crescimento do PIB e comparaes entre

    nossas exportaes e importaes. Tudo isso, para podermos identificar se o

    nvel de emprego est melhorando, se a economia de um pas est saudvel,

    situaes que tm impacto em nosso dia a dia.

    Houaiss (1985), influenciado pelo avano da globalizao, cita que at a

    metade do XIX todas as artes, cincias, tcnicas e profisses designavam-se

    com 240 palavras, ao passo que, segundo a UNESCO, em 1963, tal

    denominao s seria possvel com um repertrio de 24 mil palavras ou

    locues. Se a criao da maioria dos vocbulos ocorreu em meados do sculo

    XIX, quando no havia tecnologia, informtica, quando os estudos sobre

    economia, sade, poltica, biologia estavam nos seus primrdios, de se supor

    que, agora, no auge do desenvolvimento das cincias e das tcnicas, muitos

    neologismos surgiro, sem citar os j existentes.

    Os estudos, no Brasil, de neologia na economia ocorrem em um

    observatrio na USP, sob a coordenao da professora Ieda Maria Alves, como

    foi citado no incio deste trabalho. Esse observatrio contempla um estudo

    referente aos neologismos relativos aos jornais Folha de So Pauloe O Globo

    e s revistas Veja e Isto, ambos pertencentes ao eixo Rio-So Paulo, notratando dos outros estados, que possuem, igualmente, criatividade lexical.

    Dessa maneira, para o Rio Grande do Sul, um projeto nesse mbito de

    extrema importncia, a fim de conhecer e documentar o que o nosso estado

    produz em relao criao lexical. No entanto, esse estudo no tem o

    objetivo de criar um observatrio de neologismos no Rio Grande do Sul, porque

    seria completamente invivel, devido ao rduo e extenso trabalho que um

    projeto desse nvel demanda. Esta dissertao alinha-se a seguinteconsiderao de Alves (2007, p. 7): No portugus brasileiro, o estudo da

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    criao lxica est ainda circunscrito a trabalhos acadmicos, que, sob forma

    de teses e artigos, vm analisando a evoluo lexical de nosso sistema

    lingustico por meio de corporajornalsticos e literrios.

    De toda forma, pretendemos contribuir para o avano dos estudos

    neolgicos, considerando no apenas o objetivo principal de identificar os

    neologismos de economia do jornal Zero Hora, mas tambm os seguintes

    objetivos especficos:

    Descrever a configurao morfolgica predominante dos

    neologismos;

    Comparar os resultados dessa descrio com outros j existentes.

    Para desenvolver o estudo, organizamos a dissertao em cinco

    captulos. O primeiro contm a reviso de literatura dos conceitos de lxico,

    neologia, neologismo, processos de formao dos neologismos, neologismo

    terminolgico. O segundo trata da cincia econmica, considerando a sua

    influncia no cotidiano das pessoas.

    Na terceira parte, explicamos os procedimentos metodolgicos adotados

    para o desenvolvimento da pesquisa. No quarto captulo, apresentamos os

    termos neolgicos da economia com uma pequena definio e o seu contexto

    de uso bem como desenvolvemos alguns tpicos de anlises relacionados s

    ocorrncias neolgicas obtidas na nossa pesquisa. Por fim, no quinto captulo,

    fazemos o fechamento do trabalho com as consideraes finais.

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    1. LXICO

    Estudar o lxico complexo, pois esse componente possui definies

    que variam de acordo com a perspectiva estudada. As palavras, que formam o

    repertrio lexical de uma lngua, so elementos extremamente complexos, pois

    envolvem diversos aspectos e tm como essncia a nomeao de seres e

    objetos e a comunicao. Correia e Almeida (2012, p. 11) j fizeram referncia

    complexidade do estudo do lxico, dizendo que por trs da simplicidade

    dessa definio1, esconde-se um sem-nmero de problemas e de questes de

    difcil resposta no momento em que pretendemos quantificar o lxico.

    Correia (2008) faz a seguinte afirmao, que vai ao encontro da

    concepo citada no pargrafo anterior.

    [...] o lxico j no hoje encarado meramente como orepositrio das unidades lexicais e suas respectivasidiossincrasias, mas antes como uma componente dagramtica que, apesar de suas particularidades (tais como ofacto de ser uma componente aberta e em expanso, de limitesimprecisos, abrangendo todo o universo conceptual de umalngua), apresenta as suas regularidades prprias e uma formade estruturao especficas. (CORREIA, 2008, p. 76)

    Para Biderman (2001), o lxico de uma lngua natural uma forma de

    registrar o conhecimento do universo e pode ser identificado como patrimnio

    cultural de uma certa comunidade lingustica ao longo de sua histria. Esse

    patrimnio forma uma herana de itens lexicais e inmeros modelos categoriais

    que geram novas palavras. O lxico o nico componente da lngua que forma

    um sistema aberto, diferentemente dos demais, como a morfologia, a fonologia

    e a sintaxe, que formam sistemas fechados.

    Nesta mesma direo, Henriques (2011) afirma que o lxico, apesar de

    parecer um componente finito, pode ser considerado rico e dinmico, sendomuito difcil a sua listagem por completo. O linguista diz que isso ocorre, porque

    o lxico diz respeito totalidade das palavras preposies, interjeies,

    regionalismos, neologismos, expresses idiomticas.

    Por sua vez, Krieger (2006)destaca que o lxico ocupa um lugar central

    nas lnguas, pode ser considerado um componente homogneo, visto que

    1A definio a qual as autoras referem-se diz respeito ao lxico como o conjunto de palavrasde uma lngua.

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    possui muitas faces e varia de acordo com a teoria adotada. Entretanto, do

    ponto de vista deste trabalho, o lxico o conjunto de palavras de uma lngua.

    A funo do lxico nomear os seres, os objetos e as aes e

    processos pelos quais o homem passa. Dessa forma, o lxico o pulmo das

    lnguas, e, simultaneamente, um objeto multifacetado e em constante

    mobilidade (KRIEGER, 2006, p.164).

    O lxico estabelece uma estreita relao com a lngua, pois ela a

    identidade de um povo e, atravs do idioma que falamos, a nossa

    nacionalidade reconhecida. Desse modo, o lxico tambm remete

    identidade e cultura de um povo. Oliveira (1998) atenta para o vis social do

    lxico, afirmando que ele:

    [...] constitudo por um conjunto de vocbulos que representaa herana scio cultural de uma comunidade. Em vista disso,torna-se testemunha da prpria histria dessa comunidade,assim como de todas as normas sociais que a regem.(OLIVEIRA, 1998, p. 107)

    Barbosa (1981, p. 77) tambm acentua a relao entre lxico e

    sociedade, afirmando que esse consiste no reflexo do universo das coisas,

    das modalidades do pensamento, do movimento do mundo e da sociedade.

    O lxico de uma lngua um componente aberto, logo dinmico, voltil, exige mudana e renovao constantes. Encontramos esse postulado

    em Ferraz (2006) e, segundo ela, a renovao do lxico de uma lngua

    permanente, visto que ele reflete a dinmica da lngua.

    Verificamos esse pensamento tambm em Carvalho (1989):

    Como a lngua no um rgon, um produto acabado, ela serefaz continuamente, porm se fundamenta em modelos

    anteriores. Ela dinmica, porque a atividade lingustica falare entender algo novo por meio de uma lngua. (CARVALHO,1989, p. 27)

    Pode-se dizer tambm que as grandes transformaes sociais permitem

    que o lxico se renove e, conforme essas mudanas vo ocorrendo, a lngua

    se adapta a elas e cria novos itens lexicais.

    Entretanto, importante citar que, de acordo com Barbosa (1989), nem

    todas as mudanas e inovaes so aceitas pelas comunidades lingusticas,

    visto que a adoo uma seleo e geralmente as pessoas, como falantes de

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    uma dada comunidade lingustica, costumam aceitar aquilo que lhes

    funcional e aparentemente correto, fazendo jus a uma exigncia esttica, social

    ou funcional.

    Coseriu (1979) faz a seguinte considerao acerca da mudana lexical:

    A lngua muda justamente porque no est feita, mas, sim, faz-se continuamente pela atividade lingustica. Em outros termos,muda porque falada: porque existe apenas como tcnica emodalidade do falar. O falar atividade criadora, livre efinalista, e sempre novo, enquanto se determina por umafinalidade expressiva individual, atual e indita. (COSERIU,1979, p. 63)

    A partir destas citaes, percebemos que a mudana lingustica resulta

    de um processo de variao maneira de falar, mudanas nos itens lexicais,

    uso de grias de gerao para gerao. Esse processo de mudana ocorre

    lentamente, concebido pelos falantes de uma lngua e depende da aceitao

    das classes mais favorecidas; no momento em que essas classes passam a

    usar a nova variao e aceit-la, a sociedade a considera correta.

    Partindo para a Lexicologia, cincia que estuda a criao lexical levando

    em conta aspectos semnticos, morfolgicos, de dinamismo da lngua, de

    cultura e de regionalidade.

    Segundo Alves (1998), so editados e publicados, a partir da dcada de90, em lngua francesa, trabalhos que abordam os estudos neolgicos

    sistematicamente. Tais trabalhos vo ao encontro da aprimorao dos mtodos

    da anlise estrutural e da Lexicologia considerada como subrea da

    Lingustica. O primeiro trabalho de vis lexicolgico foi publicado em 1850, com

    o ttulo de La formation du vocabulaire des chemis de fer em France, de Peter

    Wexler e exps, minuciosamente, a formao do vocabulrio das ferrovias em

    francs. vlido ressaltar que o trabalho em questo permitiu odesenvolvimento de outros trabalhos nesta mesma perspectiva. Citamos os

    seguintes: Le vocabulaire politique em France de 1869 1872, de Dubois

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    (1962)2; La formation du vocabulaire de laviation, de Guilbert (1965)3 e Le

    vocabulaire de lastronautique, tambm de Guilbert (1967)4.

    Cabr (1993)5 tambm faz a sua contribuio acerca da lexicologia

    dizendo que

    el objetivo de la lexicologia consiste em la construccin de ummodelo del componente lxico de la gramtica, que recoja losconocimientos implcitos sobre las palabras y el uso que loshablantes hacen de ellas, que prevea mecanismos sistemticosy adecuados de conexin entre el componente lxico y losdems componentes gramaticales, y que prevea la posibilidadreal que tienen los hablantes de cualquier lengua de formarnuevas unidades siguiendo pautas estructurales sistemticas.El conjunto de todos los datos sobre las palabras debe poderexplicar los conocimentos lxicos del hablante, independientede que su lengua sea una u outra. (CABR, 1993, p. 78)

    Para Henriques (2011), a Lexicologia consiste na disciplina que estuda o

    lxico e sua organizao tendo como base pontos de vista diversos. Essa

    cincia se ocupa do estudo das diversas particularidades referentes s

    palavras (perodo histrico, regio geogrfica em que ocorre, realizao

    fontica, composio dos morfemas, distribuio sintagmtica, seu uso social,

    cultural e poltico).

    A Terminologia tambm uma das cincias que se ocupam do estudodo lxico. A sua histria ainda muito recente, sendo que seu desenvolvimento

    mais notrio ocorreu na segunda metade do sculo XX. Esse desenvolvimento

    est ligado multiplicao dos termos tcnicos, devido s inovaes

    tecnolgicas, ao avano da cincia e ao interesse da populao pela utilizao

    adequada das unidades terminolgicas pelo fato delas tornarem os processos

    comunicativos mais eficientes, como destaca Krieger (2001a).

    2 DUBOIS, Jean. Le vocabulaire politique et social em France de 1969 1872. Paris,Larousse, 1962.

    3GUILBERT, Louis. La formation du vocabulaire de laviation.Paris, Larousse, 1965.

    4GUILBERT, Louis. Le vocabulaire de lastronautique.Paris, Larousse, 1967.

    5 O objetivo da lexicologia consiste na construo de um modelo do componente lxico dagramtica, que coleta os conhecimentos implcitos sobre as palavras e o uso que os falantesfazem dela, que fornece mecanismos sistemticos e adequados entre o componente lxico eos demais componentes gramaticais, bem como fornece a real possibilidade que os falantes de

    qualquer lngua possuem de formar novas unidades seguindo padres estruturais sistemticos.O conjunto de todos os dados sobre as palavras deve poder explicar os conhecimentos lxicosdos falantes, independentemente do seu idioma. (traduo nossa)

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    Conforme Biderman (2001), a Terminologia estuda o subconjunto do

    lxico de uma lngua. Esse subconjunto constitui cada rea especfica do

    conhecimento e, dessa maneira, insere-se no universo referencial. A

    Terminologia pressupe uma ligao mtua entre a estrutura geral do

    conhecimento e o cdigo lingustico correspondente, ou seja, prope uma

    correlao entre a estrutura conceptual e a estrutura lxica de uma lngua.

    De acordo com Krieger (2001b), o lxico de natureza tcnico-cientfica,

    tambm conhecido como temtico ou especializado, o objeto central dos

    estudos da Terminologia. Ele visto em todos os textos de reas do

    conhecimento diversificadas e isso mostra o valor comunicativo das unidades

    terminolgicas como tambm sua constituio em elementos lexicais das

    lnguas naturais que expressam e transmitem conhecimento. Compreende-se

    por linguagem de especialidade o conjunto lingustico utilizado pelos

    especialistas de reas tcnicas, cientficas, artesanais e ocupacionais.

    A Terminologia, como todas as reas de pesquisa, possui os seus

    princpios tericos, metodolgicos, o seu objeto de pesquisa. Esto dentre os

    seus objetivos produzir e difundir glossrios, dicionrios, vocabulrios e bancos

    terminolgicos. Entre esses variados instrumentos, esto os glossrios, bancos

    terminolgicos que contm o conjunto de termos de uma dada rea

    especializada.

    Conforme Maciel (2001), o termo a unidade lexical da lngua de

    especialidade, do mesmo modo que a palavra a unidade da lngua geral.

    Os termos no so escolhidos por seu valor intrnseco, nem poraquilo que representam no conjunto lexical de uma lngua.Ainda que primitivamente originrios do acervo do lxico geral,ou criados de acordo com as mesmas regras obedecidas no

    processo de construo do lxico comum, os termos comeama existir quando se unem indissoluvelmente a conceitosdeterminados dentro de um conjunto conceitual estruturado emuma rea de especialidade. S ento, no interior dessesistema, as unidades lexicais se constituem em unidadesterminolgicas e passam a constituir uma terminologia.(MACIEL, 2001. p. 41)

    Para Krieger e Finatto (2004), o termo uma entidade complexa, um

    ndulo cognitivo de difcil reconhecimento no trabalho terminolgico. Ainda

    acerca do conceito da palavra termo, Gouadec (1990 apud KRIEGER;

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    FINATTO, 2004, p. 77) faz a seguinte considerao: um termo uma unidade

    lingustica que designa um conceito, um objeto ou um processo. [...]. Ele

    raramente se confunde com a palavra ortogrfica. Desse modo, podemos

    perceber que o termo possui duas faces: a lingustica, que se refere ao termo

    como item lexical de uma lngua de especialidade e a cognitiva, visto que

    representa um conceito, um ndulo cognitivo.

    1.1 Neologia e neologismo

    O processo de criao neolgica inerente ao sistema lingustico e

    surge a partir da necessidade que os falantes possuem de criar novasunidades a fim de aperfeioar a sua comunicao bem como para acompanhar

    as suas mudanas sociais, culturais e econmicas.

    Para observarmos a criao lexical na lngua geral, basta assistirmos a

    algum jogo da seleo brasileira na televiso para ver palavras como brasilzar

    na propaganda publicitria dos estdios de futebol. Em poca de Copa das

    Confederaes e de Copa do Mundo no Brasil, o principal objetivo fazer com

    que o nosso pas seja conhecido e reconhecido usando, tambm, a criatividade

    e a competncia lingustica dos falantes. A palavra brasilzar remete a tornar

    brasileiro, ou seja, tem o intuito de fazer com que os turistas que estiverem no

    Brasil adquiram caractersticas do povo brasileiro.

    Estudos que tratam da criao lexical so de infinita importncia para a

    sociedade como um todo, tendo em vista que eles fornecem uma viso, um

    retrato das pessoas, dos costumes, do momento poltico, econmico e do

    modo de vida das pessoas de uma determinada poca. O processo de

    renovao lexical causa grande impacto sobre o lxico da lngua e, por

    conseguinte, nas pessoas que o utilizam, visto que ele a mostra mais

    evidente de mudana e evoluo lingustica.

    No podemos desvincular o processo de criao lexical do sistema

    lingustico e do desenvolvimento da sociedade, porque eles se complementam,

    so inerentes. Bem como, tambm, no podemos desvincular a criao

    neolgica da sua presena no discurso, pois impossvel considerar um

    neologismo como abstrato, como um elemento novo, independente do

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    funcionamento concreto da lngua. Os neologismos so fenmenos produzidos

    no discurso, nas situaes de produo, integram-se no uso coletivo, possuem

    categoria gramatical, funo denominativa e funo representativa.

    Guilbert (1975, p. 31)6, em sua obra de referncia que consagra a

    criatividade lexical, afirma que a neologia pode ser definida como la possibilite

    de cration de nouvelles units lexicales, em vertu ds rgles de production

    incluses dans le systme lexical. Segundo ele, h trs tipos de criao lexical:

    neologia denominativa, neologia estilstica e neologia de lngua.

    A neologia denominativa consiste na necessidade de nomear um objeto

    ou um conceito novo, evitando a ambiguidade. J, a neologia estilstica

    compreende a busca da expressividade da prpria palavra ou da frase para

    remeter a novas ideias, a uma nova viso de mundo. Tal criao

    profundamente ligada ao indivduo, sua competncia lingustica e sua

    liberdade de expresso.

    Valente (2007, p. 134), tambm, menciona os neologismos estilsticos:

    [...] os neologismos literrios ou estilsticos tm como referencial o indivduo

    que os cria, em funo da lngua escrita, na qual, comumente, eles vicejam e

    morrem, sem atingir o uso coletivo. Tal criao possui muito valor e causa

    diferentes interpretaes no mbito da obra literria.

    Sendo assim, o uso do neologismo literrio usualmente descartado. J

    que o neologismo uma criao individual, cabe tambm aos escritores e

    poetas, dotados de sensibilidade cri-los. As criaes neolgicas literrias

    podem ser chamadas de criao do autor. Segue a seguinte considerao de

    Carvalho (2010):

    Essas criaes so respeitadas, porque, sendo a lngua umsaber, aprendida daqueles que falam melhor, dos que

    sabem mais. O leitor compara seu saber com o do autor eest disposto a aceitar os modos lingusticos deste, porreconhecer sua superioridade cultural e ter segurana acercado seu prprio saber. (CARVALHO, 2010, p. 279-280)

    Por fim, citamos os neologismos de lngua, que consistem nas [...]

    formations verbales qui ne se distinguent nullement des mots ordinaires du

    lexique au point qu'ils ne se remarquent pas lorsqu'ils viennent tre employs

    6

    a possibilidade de criao de novas unidades lexicais, em virtude de regras de produopertencentes ao sistema lexical. (traduo nossa)

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    pour l premire fois. (GUILBERT, 1975, p. 43)7. Correia e Almeida (2012, p.

    18) mencionam esse tipo de neologia e, segundo elas, ele corresponde a uma

    atualizao da competncia derivacional dos falantes. Um exemplo disso

    ocorre no caso dos advrbios terminados em mente (infinitamente,

    coloquialmente, atentamente) e dos adjetivos terminados em vel (herdvel,

    condicionvel).

    Alves (2007), grande estudiosa da criao lexical, afirma que o conjunto

    lexical de toda e qualquer lngua viva se transforma e, com essa

    transformao, ocorre, consequentemente, a renovao. medida que novas

    palavras surgem os neologismos outras caem em desuso. Chamamos

    esse fenmeno de criao lexical e o que surge dele, neologismo.

    Podemos fazer uma distino entre as palavras neologia e neologismo.

    A neologia pode ser concebida como o processo, pois estuda o ato da criao

    lexical, levando em conta observaes, registros, descries e anlises. J, o

    neologismo, pode ser visto como o produto, visto que o resultado do

    processo de criao.

    Em pesquisas dedicadas a criao lexical na lngua portuguesa, Alves

    (2007) relata que o acervo dessa lngua ampliado atravs de mecanismos

    advindos da prpria lngua ou oriundos de outros sistemas lingusticos; os

    emprstimos entre a comunidade falante do portugus e outras naes e os

    emprstimos culturais, consequncia de relaes sociais luso-brasileiras com

    outras sociedades. A despeito dos processos de formao dos neologismos8, a

    linguista os divide em: fonolgicos, sintticos, semnticos, por converso, por

    truncao, por emprstimo, por reduplicao, por derivao regressiva e

    palavra-valise.

    Com base na mesma perspectiva, Cabr et al. (2010)9fazem a seguintea afirmao acerca do processo de criao lexical:

    7[...] formaes verbais que no se diferem das palavras comuns do lxico e que no chamama ateno quando so usadas pela primeira vez. (traduo nossa)

    8Na seo 1.4, detalharemos os processos de formao dos neologismos.

    9Em qualquer caso, no entanto, as lnguas evoluem constante e espontaneamente a fim degerar novas unidades e de se adaptar a novas necessidades ou, simplesmente, paradiversificar as formas de expresso. As lnguas necessitam de novas unidades lexicais, que

    so criadas, formadas ou emprestadas de outros idiomas. O estudo dessas inovaes dalngua constitui o campo disciplinar da neologia. (traduo nossa)

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    En qualsevol cas, per, les llenges evolucionen sense parar ide manera espontnia generen noves unitats per adaptar-se anoves necessitats o simplement per diversificar les formesexpressives. Les llenges necessiten noves unitats lxiques,

    que shan de crear, formar o manllevar. Lestudi daquestesinnovacions em les llenges constitueix el camp disciplinari dela neologia. (CABR ET AL., 2010, p. 17)

    Seguindo a mesma linha, Jean-Claude Boulanger, importante terico

    dos estudos neolgicos, definiu o conceito de neologismo da seguinte maneira:

    uma unidade lexical de criao recente, uma nova acepo de uma palavra j

    existente, ou ainda, uma palavra recentemente emprestada de um sistema

    lingustico estrangeiro e aceito na lngua francesa. (BOULANGER, 197910

    apudALVES, 1998, p. 23)11.

    Para Correia e Almeida (2012), a neologia corresponde a dois conceitos

    distintos. O primeiro refere-se capacidade natural de renovao do lxico de

    uma lngua, atravs da criao e da incorporao de novos itens lexicais, os

    neologismos. E para o segundo conceito, a neologia vista como o estudo dos

    itens lexicais neolgicos que vo surgindo e se incorporando, ou no, na

    lngua.

    Catal (2010, p. 23)12 tambm traz a sua contribuio acerca doprocesso de criao lexical dizendo que

    La neologa, indicador de la vitalidad interna de una lenguapara producir palabras nuevas a travs de los mecanismos de

    10BOULANGER, Jean-Claude. Nologie et terminologie. Nelogie en Marche, v. 4, p.9-116,1979.

    11Vale ressaltar que o estudioso em questo mencionou, em seu texto, o sistema lingustico da

    lngua francesa, pois francs e o seu estudo diz respeito a essa lngua.12 A neologia, indicadora da vitalidade interna de uma lngua para produzir palavras novasatravs dos mecanismos de criao, formao ou adoo de emprstimos, constitui, ao mesmotempo, um indicador do peso especfico de tal lngua no plano sincrnico, em funo de seumrito/ valor/ capacidade de futuro como veculo de transmisso e difuso de cultura. Arespeito disso, o status poltico de uma lngua de cultura reflete em sua capacidade deatualizao das necessidades denominativas (nomeadas/ distinguidas com um nome concreto)de seus falantes em todos os planos, atravs da frequncia de uso e generalizao de seusprocessos e recursos de neologismo neologizao. Mas o acervo patrimonial de uma lnguaest condicionado/ infludo e regulado por uma srie de fatores psicosociolingusticos,permanentemente sujeitos a uma oscilao (mudana ou variao) do fiel da balana entre atendncia conservao e estabilizao impostas pela tradio e a renovao criadora, fruto

    do direito inalienvel do indivduo falante no seio de sua comunidade. (traduo nossa)

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    creacin, formacin o adopcin de prestamos, constituye a lavez um indicador del peso especfico de dicha lengua en elplano sincrnico, en funcin de su talla de futuro como vehculode transmisin y difusin de cultura. A este respecto, el statuspoltico de una lengua de cultura se refleja em su capacidad deactualizacin de las necesidades denominativas de sus

    hablantes em todos los planos, a travs de la frecuencia de usoy generalizacin de sus procesos y recursos de neologizacin.Mas el acervo patrimonial de una lengua est condicionado yregulado por uma serie de factores sicosociolingusitcos,permanentemente sujeto a uma oscilacin del fiel de la balanzaentre la tendencia a la conservacin y estabilizacin impuestaspor l tradicin, y la renovacin creadora fruto del derechoinalienable del individuo hablante en el seno de su comunidad.(CATAL, 2010, p. 23)

    Cabr (1993) igualmente menciona o processo de criao lexical

    afirmando que a neologia a matria que estuda os aspectos referentes aosnovos fenmenos lingusticos que surgem nas lnguas. Tais fenmenos

    manifestam-se em todos os nveis descritivos de uma lngua: fontica,

    fonologia, morfologia, sintaxe e lxico. Dessa forma, a neologia refere-se a

    todas aquelas unidades lexemticas portadas de referenciao que podem

    representar uma entrada no dicionrio como unidades simples ou

    sintagmticas.

    Entretanto, a mesma autora ainda afirma que a definio tradicional de

    neologia muito limitada tendo em vista os avanos dos estudos lingusticos

    bem como a forte presena da criao lexical no nosso cotidiano. Nos ltimos

    anos, os estudos neolgicos vm adquirindo caractersticas de um trabalho no

    somente terico, mas tambm prtico, definir e conceituar neologia tornou-se

    um trabalho mais complicado, devido presena das particularidades

    manifestadas pelas lnguas na criao lexical, em especial, nas seguintes

    esferas: nos dicionrios, na criao de termos para denominar conceitos novos

    no mbito tcnico-cientfico e nas polticas de normalizao da lngua.

    Por sua vez, Boulanger (198913 apud CABR, 1993) estabelece cinco

    atividades diferentes que o termo neologia compreende: os processos de

    criao de novas unidades lexicais atravs dos mecanismos lingusticos j

    existentes na lngua; o estudo terico e aplicado referente s inovaes lexicais

    processos de criao, questes de reconhecimento, aceitabilidade e difuso

    13

    BOULANGER, Jean. Claude. L'volution du concept de neologie de la linguistique auxindustries de lalangue. In: SCHAETZEN, C. de. Terminologie diachronique. Paris: ConseilInternational deLa langue franaise, 1989, 193-211.

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    dos neologismos, aspectos sociais e culturais da criao lexical uma

    atividade institucional organizada para reconhecer, registrar, difundir e

    implementar os neologismos nas comunidades lingusticas; a identificao de

    novas ou recentes atividades especializadas bem como a relao dos

    neologismos com os dicionrios sob dois enfoques distintos: a utilizao do

    dicionrio como filtro de reconhecimento dos neologismos e a anlise do

    tratamento da neologia dentro dos dicionrios.

    Alm disso, fica evidente que o termo neologismo remete mudana,

    transformao, ao desenvolvimento. Por esse fato, a criao neolgica muito

    vinculada ao mundo atual e ao homem do mundo atual, que almeja mudana,

    transformao e crescimento. Os neologismos no contribuem somente para a

    linguagem tcnica ou cientfica, mas tambm para a lngua geral. No so

    somente as cincias e as tcnicas que fazem com que um lxico se amplie; os

    acontecimentos polticos e sociais tambm fazem com que novas palavras

    sejam criadas, fazendo surgir novas acepes e novos verbetes nos

    dicionrios. Diante dessa perspectiva, Carvalho (1984) afirma:

    As necessidades coletivas, mutveis e conflitantes moldamhoje a lngua de amanh, pois frequentemente o que parece

    alterao na lngua resultado de alteraes na sociedade,passadas a seguir para o sistema lingstico. [...] A lngua umfato social, concretizando uma maneira peculiar de ver omundo de cada comunidade [...]. (CARVALHO, 1984, p. 14)

    Cabr (1993) expe alguns fatores que caracterizam os neologismos

    terminolgicos e os neologismos da lngua comum. A linguista diz que os

    neologismos da lngua comum so mais espontneos, surgem sem motivao

    explcita, mas, sim, por uma necessidade de comunicao ou expresso,

    possuem caractersticas ldicas e normalmente so passageiros. Eles notemem a concorrncia sinonmica, pois dividem o espao normalmente com

    outros sinnimos bem como tendem a ser unidades simples e no

    sintagmticas. Finalizando esse pensamento, eles no ultrapassam o mbito

    da lngua em que foram criados, enquanto que os neologismos terminolgicos

    propagam-se internacionalmente.

    Carvalho (2010) diz que existem quatro grandes fontes de neologismos:

    os advindos da imprensa, da literatura, da cincia e da tecnologia e dalinguagem das ruas e das profisses. Apresentaremos as caractersticas e

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    peculiaridades de cada uma dessas fontes com embasamento nas ideias da

    autora citada no incio deste pargrafo.

    Os neologismos oriundos da imprensa constituem a maneira pela qual

    os falantes tomam conhecimento das inovaes lingusticas, pois ela, a

    imprensa, estabelece o caminho principal percorrido pelos falantes no que diz

    respeito ao acesso aos textos, que, por sua vez, contm os novos itens

    lexicais. Esse acesso se torna possvel, porque a mdia jornalstica

    extremamente relacionada cultura de massa. Os jornais, de modo geral,

    exercem forte influncia sobre o acervo lexical de uma lngua; citamos algumas

    causas: esse veculo editado diariamente e contempla toda e qualquer

    inovao lingustica, tem um baixo custo, principalmente para quem o compra,

    utiliza mais a palavra do que a imagem, possui um pblico muito diversificado,

    chegando a abranger uma grande fatia da populao, de polticos a donas-de-

    casa, de torcedores fanticos a policiais.

    A literatura, como dito anteriormente, tambm vem trazendo sua

    contribuio criao lexical. Dentre eles, mencionamos o simbolista Cruz e

    Souza, que influenciou significativamente a sua corrente literria com os

    neologismos que empregava e Carlos Drummond de Andrade, que criava os

    neologismos com o intuito de mostrar a atualizao da sua linguagem bem

    como o seu esprito criador. Ele, ao empregar novos vocbulos, no fazia isso

    de forma indiferente ou sem propsitos; ele tinha necessidade de fazer com

    que esses vocbulos correspondessem realmente s ideias manifestadas,

    como tambm buscava expressividade sonora e semntica. Carvalho (2010)

    resume a essncia e a importncia da criao literria neolgica para a

    sociedade com as palavras abaixo:

    Com as novas expresses, sentimos a participao ativa doescritor como falante e como conscincia, no processo demudana global em que estamos inseridos e do qual,esperamos, haver de emergir um entrosamento maior entre ohomem, atravs da linguagem, e as mudanas scio-culturais.Muitas vezes criando neologismos, o artista tecesubliminarmente suas crticas a situaes atuais, sem deixar,contudo, de sentir-se participante das mesmas. (CARVALHO,2010, p. 280-281)

    A partir da criao neolgica literria, o autor demonstra implicitamente

    as suas opinies, faz crticas, portando-se, dessa maneira, como um sujeito

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    que age sobre o mundo e tambm sobre as pessoas (os seus leitores) atravs

    das suas ideias.

    As cincias e a tecnologia tambm vm contribuindo de maneira

    grandiosa para criao de novos itens lexicais. Sendo que, neste domnio, o

    neologismo tem carter objetivo e nomeia conceitos recm-criados com o

    intuito de evitar confuses e determinar finalidades e princpios. Os termos das

    linguagens tcnicas so comumente internacionalizados, com o objetivo de

    padronizar e uniformizar as lnguas de especialidade.

    A linguagem das ruas e das profisses, ou seja, o falar cotidiano, o

    contato entre as pessoas, as profisses, as diferentes atividades dirias,

    tambm vm contribuindo de maneira significativa para o processo de criao

    lexical. Pode-se afirmar que esses grupos de pessoas criam as grias e os

    jarges usados hoje em dia.

    1.2 Neologismo terminolgico

    Como bem diz Alves (1998)14, a neologia e a Terminologia estreitaram

    suas ligaes a partir da dcada de 70. Esse fato concedeu espao ao

    surgimento de denominaes especficas para o neologismo terminolgico: Nenimo Rondeau (1984)15;

    Neotermo Boulanger (1989)16.

    Para Alves (1998), os itens lexicais neolgicos da lngua comum e os

    dos tecnoletos mostram caractersticas comuns, visto que so unidades

    recentemente introduzidas no sistema lingustico. Entretanto, h discordncia

    em alguns aspectos:

    Na lngua comum, os neologismos representam unidades lexicais, ouseja, pertencem ao lxico geral da lngua. Ao passo que nos tecnoletos,

    14Alves (1998, p. 25) traz em seu texto as caractersticas da neologia no tecnoletos e explica ouso do termo tecnoletos: O conceito de tecnoleto frequentemente denominado lngua deespecialidade, forma decalcada do francs langue de spcialit. Como essa designao temsido muito criticada pelo uso imprprio do termo lngua, ela tende, por isso, a ser substitudapor tecnoleto.

    15RONDEAU, Guy. Introduction la terminolgie. Qubec, Gatan Morin, 1984.

    16 BOULANGER, Jean. Claude. L'volution du concept de neologie de la linguistique aux

    industries de lalangue. In: SCHAETZEN, C. de. Terminologie diachronique. Paris: ConseilInternational deLa langue franaise, 1989, 193-211.

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    os neologismos representam termos, que incorporam a terminologia de

    uma determinada rea do conhecimento;

    Os neologimos tecnoletais, ou terminolgicos, advm de uma criao

    motivada, para cobrir alguma necessidade de denominao inerente ao

    desenvolvimento de alguma rea do conhecimento;

    Os neologismos de vis terminolgico integram uma rede conceitual.

    Dessa maneira, h uma relao unvoca entre a designao e o conceito

    dos neologismos terminolgicos. Entretanto, a univocidade entre

    designao e conceito no obstrui a variao lexical;

    No que concerne formao, tanto na lngua geral como nos tecnoletos,

    os mesmos processos de criao do origem aos neologismos e aos

    neologismos terminolgicos derivao, composio, mudana

    semntica, truncao, formao sintagmtica, por siglas e emprstimos;

    Na lngua geral, h a predominncia de unidades lexicais simples, ou

    seja, constitudas a partir de um nico elemento. Nos tecnoletos, ocorre

    a predominncia de formaes sintagmticas aquelas compostas por

    dois ou mais sintagmas e que correspondem somente a um nico

    conceito.

    Os neologismos terminolgicos cumprem uma funo denotativa, visto

    que representam conceitos criados a partir do desenvolvimento das

    cincias e das tcnicas.

    Cabr (1993) afirma que a neologia compreende a criao de novas

    denominaes necessrias nos domnios de especialidade, os quais geram o

    surgimento constante de novos conceitos que, evidentemente, demandam

    novas denominaes. No mbito dos neologismos terminolgicos e dos

    neologismos, ocorrem duas situaes que necessitam de intercesso: a

    primeira diz respeito ao momento em que um nico conceito corresponde a

    duas ou mais denominaes, causando problemas na comunicao entre os

    falantes; j a segunda refere-se ao fato de uma lngua de especialidade no

    possuir uma denominao necessria para expressar um conceito.

    Reuillard (2007) tambm faz meno produtividade dos neologismos

    terminolgicos:

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    Nas reas tcnicas e tecnolgicas mais produtivas, a criaolexical imperativa e contnua. Os especialistas e osterminlogos, no intuito de acompanhar e difundir oconhecimento, tomam as palavras de outras lnguas, recorremao prprio acervo e atribuem novo significado a palavras emdesuso, criam outras, fazendo uso dos recursos disponveis.

    (REUILLARD, 2007, p. 34)

    A partir dos postulados acima descritos, verificamos que a criao

    neolgica bastante frequente e necessria na terminologia, pois a todo o

    momento, como j citamos na introduo deste trabalho, novos objetos, novas

    tecnologias, novas tendncias despontam na nossa realidade e necessrio

    que saibamos nomear esses novos itens lexicais, utilizando os recursos

    lingusticos disponveis na nossa lngua e j conhecidos por ns.

    1.3 Aceitabilidade e insero do neologismo no dicionrio

    Conforme Alves (2007), no basta criarmos um neologismo para que ele

    componha o acervo lexical de uma lngua. Em meio a isso, existem vrias

    etapas importantes que devem ser levadas em considerao. Citaremos a

    questo do reconhecimento, da aceitabilidade dos neologismos por parte dos

    falantes e das comunidades lingusticas bem como a sua insero nas obras

    lexicogrficas. Esses aspectos no se excluem entre si, muito pelo contrrio,so complementares, por isso falaremos de ambos de maneira conjunta.

    Guilbert (1975)17menciona o seguinte aspecto sobre a aceitabilidade dos

    neologismos:

    Le jugement dacceptabilit se forme dans la communaut.Mais ce nest ps lensemble des locuteurs qui intervient. Lacommunaut linguistique nest que langagire, elle nest passtructure en tant que telle. Cest donc lappareil social etculturel qui intervient dans cette dcision. Et cest ici que semanifeste lidologie dans le jugement. (GUILBERT, 1975, p.50)

    Barbosa (1981) afirma que o processo de aceitabilidade ocorre no meio

    social e no depende apenas do desejo de cada falante, mas, sim, das

    vontades e anseios de grupos sociais e culturais. Uma condio fundamental

    17O julgamento de aceitabilidade se forma na comunidade. Mas no so todos os falantes que

    intervm neste processo. A comunidade lingustica que forma a linguagem, ela no estruturada como tal. , portanto, a unidade social e cultural que est envolvida nesta deciso.E este o lugar onde a ideologia se manifesta no julgamento. (traduo nossa)

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    para que as novas palavras sejam aceitas e incorporadas no lxico de uma

    determinada comunidade a sua utilizao por vrios locutores. As condies

    de aceitabilidade e reconhecimento dos neologismos so fundamentais no

    processo de criao lexical, pois um neologismo somente passa a ser um

    neologismo de fato se o seu uso se generaliza a ponto de ser um vocbulo

    disponvel de, pelo menos, um grupo de indivduos. (BARBOSA, 1981, p. 143).

    De acordo com Barbosa (op. cit.), h vrias etapas importantes no

    processo de criao de um neologismo. Vale dizer que o fato de uma palavra

    ter carter indito, no far com que ela se torne, imediatamente, um item

    lexical neolgico. A primeira, segundo a autora, relativa ao processo de

    enunciao. Ao perceber um novo fato antropo-cultural, o falante estrutura um

    novo signo lingustico e o transmite a outra pessoa num ato comunicativo. A

    autora complementa a explicao dada anteriormente:

    [...] as unidades j existentes no lxico, que poderiam, emprincpio, servir para aquele novo modelo, aquela novapercepo, no so, na realidade, empregadas, por noexprimirem exatamente, a seu ver, todos os traos smicos queo locutor deseja transmitir. Da a necessidade que sente, decriar uma nova unidade lxica, que d conta satisfatoriamente,do seu ponto de vista, da representao do fato. (BARBOSA,1981, p. 135)

    O enunciador do neologismo objetiva despertar nos respectivos

    participantes do ato comunicativo o sentimento de neologicidade da palavra

    que est usando, utilizando vrios recursos formais, objetivando chamar a

    ateno para o item lexical neolgico com o intuito de garantir que o falante

    realize a decodificao do mesmo.

    A autora cita que a criao neolgica admite duas foras contrrias, a da

    conservao e a da renovao, sendo que a conservao pressupe uma certa

    resistncia a toda e qualquer criao neolgica. Ela ainda acrescenta que os

    jornais de grande circulao so a base do movimento dialtico de renovao e

    conservao, dizendo que:

    [...] o jornalista, alm de precisar escrever bem e segundo ospadres estabelecidos, precisa, ao mesmo tempo, dar contados novos dados sociais e empreg-los [..]. (BARBOSA, 1981,p. 138).

    Reconhecer um termo como neolgico uma tarefa complexa; Cabr

    (1993) j fez referncia a essa complexidade, dizendo que importante seguir

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    alguns pontos de referncia. A autora cita alguns parmetros, os quais no se

    excluem entre si, no oferecem as mesmas garantias de reconhecimento bem

    como no possuem a mesma esfera de aplicao. Ao definirmos um termo

    como neolgico, devemos observar: a diacronia o perodo em que o item

    lexical neolgico apareceu; a lexicografia um item lexical neolgico se no

    consta nos dicionrios; a instabilidade sistemtica uma unidade lexical

    neolgica se apresenta sinais de instabilidade morfolgica ou semntica; e, por

    fim, a psicologia que concerne ao fato de os falantes perceberem esta

    unidade lexical como nova. Sendo assim, o reconhecimento de neologismo

    envolve diversas instncias e cada uma delas tem a sua importncia nos

    mbitos lingustico, contextual, semntico, morfolgico, temporal e social.

    O que sucede esse reconhecimento a insero dos neologismos nos

    dicionrios, tambm conhecido como processo de desneologizao. Esse

    processo exige um corpus de excluso que, conforme Alves (2001, p. 1), o

    conjunto de dicionrios que serve como referncia para o estabelecimento do

    carter neolgico de um termo. Carvalho (1998) tambm trata da

    desneologizao atravs da insero da palavra no dicionrio:

    A existncia do termo novo (neologismo) seja formal, porprocessos vernculos ou derivados de lngua estrangeira, confirmada por sua insero no dicionrio, certido denascimento, a partir da qual o termo deixa de ser neolgico.(CARVALHO, 1998, p. 64)

    Conforme Alves (2007), se o neologismo bastante frequente, ele

    inserido nas obras lexicogrficas e, dessa forma, passa a ser considerado parte

    do acervo lexical daquele sistema lingustico. A autora ainda aponta o fato de

    os lexicgrafos agirem, muitas vezes, de forma arbitrria, no tomando como

    subsdio os estudos sistemticos sobre criao lexical. Entretanto, apesar da

    arbitrariedade dos lexicgrafos, os dicionrios ainda representam um

    parmetro e um ponto de partida para verificarmos se um item lexical um

    neologismo.

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    1.4 Processos de formao dos neologismos

    A construo lexical dos neologismos costuma obedecer aos padres

    morfolgicos dos idiomas.

    Nesta seo, apresentamos um quadro geral dos processos de

    formao dos neologismos. Dessa forma, podemos observar quais so os

    processos presentes nas realizaes neolgicos obtidas no nosso copus.

    importante desenvolver este aspecto, pois ele contribui de maneira significativa

    para o reconhecimento e para a categorizao dos neologismos, considerando

    aspectos sintticos e semnticos.

    Carvalho (1998) faz a considerao que segue sobre os processos de

    formao dos neologismos:

    [...] a criao neolgica segue em linhas gerais as regras daformao de palavras em lngua portuguesa, atravs de duasgrandes correntes: a formao verncula e a formaoestrangeira. Na formao verncula, temos os dois grandesgrupos j conhecidos, derivao e composio e suassubdivises: prefixos, sufixos, radicais populares e eruditos,material lingustico corrente na fabricao dos neologismos.Alm deles, o deslizamento de sentido sempre um grandealiado na nomeao das novidades. Mas a grande moda,tambm na lngua, vem dos importados. a formaoestrangeira, a mais produtiva na nomeao dos objetos e dascriaes da vida moderna, sendo identificada na ntegra, comadaptaes ou traduzidas. (CARVALHO, 1998, p. 65)

    De acordo com o que foi mencionado no incio desta seo, importante

    realizar a descrio dos processos de formao dos neologismos, pois essa

    descrio facilita o reconhecimento dos neologismos. Para tanto, seguiremos o

    arcabouo terico desenvolvido nos estudos de Alves (2007) e

    exemplificaremos com ocorrncias neolgicas encontradas no nosso corpus,

    quando possvel.

    Seguindo os postulados de Alves (op. cit.), os neologismos podem ser

    formados de diversas maneiras: por artefatos advindos da prpria lngua, os

    chamados processos autctones. Outro mecanismo de formao dos

    neologismos se d por itens lxicos oriundos de outros sistemas lingusticos.

    Esses dois recursos tm sido usados de forma significativa na criao dos

    neologismos na lngua portuguesa.

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    De acordo com a autora, os neologismos do portugus brasileiro

    contemporneo so formados a partir de diferentes processos. So eles:

    processos fonolgicos, processos sintticos, que contemplam derivao

    prefixal, derivao sufixal, composio coordenativa, composio

    subordinativa, composio sintagmtica e composio por siglas ou acronmia,

    converso, processos semnticos, truncao, palavra-valise, reduplicao,

    derivao regressiva e neologismos por emprstimo, que dizem respeito aos

    decalques e aos estrangeirismos.

    1.4.1 Neologismo fonolgico

    Os neologismos fonolgicos pressupem a criao de uma unidade

    lexical cujo significante seja indito, ou seja, que tenha se formado

    independentemente da existncia de outra palavra. Esse processo de formao

    muito raro e incomum em todas as lnguas. Dentro dos neologismos

    fonolgicos, h a criao onomatopaica, que baseada em significantes

    inditos, porm no totalmente arbitrria, tendo em vista que se baseia em

    uma relao imprecisa entre o item lexical criado e determinados rudos ou

    gritos.

    Correia e Almeida (2012) complementam o processo fonolgico, com a

    criao de palavras ex nihilo, que consiste na criao de palavras a partir do

    nada. Entretanto, esse um processo muito raro nas lnguas, pois os falantes

    tendem a criar palavras a partir dos elementos j existentes na lngua.

    1.4.2 Neologismo sinttico

    Os neologismos sintticos, por sua vez, pressupem a combinao de

    elementos j existentes no sistema lingustico da lngua portuguesa.

    Temos a formao por derivao prefixal, inclusive, muito produtiva no

    portugus contemporneo e ocorre quando um prefixo se une a um a base

    criando diversos significados. Obtivemos as seguintes ocorrncias:

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    Embora se fale em soluo bipartidria, h muita hipocrisia. (Zero Hora

    Caderno Dinheiro, 11/09/11, p. 1);

    Cocriar uma nova forma de competir. (Zero Hora Caderno Dinheiro,

    03/07/11, p. 1);

    O Senado aprovou ontem a Medida Provisria 529, que reduz de 11%

    para 5 % a taxa de contribuio previdenciria de

    microempreendedoresindividuais. (Zero Hora, 11/08/12, p. 24);

    Ao abandonar os modelos casuais e investir apenas em roupas de

    ginstica, a empresa passou a comercializar os artigos em lojas

    multimarcas. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 18/09/11, p. 4);

    Para quem busca um carro completo a um preo mais acessvel, o

    momento tambm de avaliar o mercado de seminovos. (Zero Hora,

    08/09/11, p. 16);

    Os superaluguis tambm chegaram por l. Uma lanchonete que foi

    ocupada pelo Bob`s, pertencente rede GR AS, teve o aluguel

    aumentado de R$ 26 mil para R$ 192 mail. (Zero Hora Caderno

    Dinheiro, 31/07/11, p. 4).

    Os neologismos sintticos tambm se formam por derivao sufixal.

    Essa formao ocorre quando o sufixo, que um elemento de carter no

    autnomo e recorrente atribui palavra-base uma ideia acessria. Temos a

    formao atravs de sufixos nominais, verbais e adverbais. Observamos os

    seguintes exemplos:

    Comea a ter validade a partir de hoje as novas regras de portabilidade

    de carncia definidas pela Agncia Nacional de Sade Suplementar

    (ANS) para as operadoras de planos de sade. (Zero Hora, 28/07/11, p.

    18);

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    Marcado para os dias 4 a 6 de julho em Porto Alegre, o Congresso

    Internacional da Gesto do Programa Gacho da Qualidade e

    Produtividade (PGQP) vai reunir especialistas em gesto entre eles, o

    mentor do ousado conceito de cocriao, Francis Gouillart. (Zero Hora

    Caderno Dinheiro, 03/07/11, p. 8).

    Os neologismos sintticos so formados tambm por composio. Esse

    processo ocorre quando h justaposio de bases autnomas e no

    autnomas. O item lexical composto no costuma manifestar formas

    recorrentes, o que o difere da unidade constituda por derivao. A composio

    consiste em uma relao de carter determinante/ determinado oudeterminado/ determinante entre os dois componentes de um item lexical.

    A composio subordinativa ocorre entre dois substantivos, onde o

    primeiro adquire papel de determinado e o segundo, determinante. O segundo

    elemento acrescenta uma caracterstica, uma especificidade ao primeiro.

    Verificamos essa formao nos exemplos que seguem:

    Os salrios mnimos (R$ 1.090) podero receber benefcios comoaposentadoria por idade, auxlio-doena, salrio maternidade e penso

    por morte, desde que contribuam mensalmente com a Previdncia

    Social com valor equivalente a 5% do salrio mnimo. (Zero Hora,

    07/07/11, p. 20);

    Entre os palestrantes esto Luiz Claudio Parzianello e Felipe

    Matsunaga, do grupo RBS, Yuri Gitahy, da Aceleradora, Pierre

    Schurmann, um dos mais ativos investidores-anjos do Brasil, Walker

    Massa, do Ns Coworking, Fernando Tesch, da Swell Skateboard, e

    Aron Krauze, da Nomade. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 11/09/11, p.

    6);

    As aulas de recepo, planejamento de eventos e ingls no servem s

    para receber os cerca de 600 mil estrangeiros que devem

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    desembarcarno Brasil ou para atender os 3 milhes de brasileiros

    previstos nas 12 cidades sede. (Zero Hora, 07/07/11, p. 18);

    Temos um projeto-piloto em So Paulo, que est comeando a

    funcionar na regio de Bauru. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 10/07/11,

    p. 8);

    No caso do trajeto areo, os preos podem sofrer grandes alteraes

    conforme a companhia, promoes-relmpago, e se a passagem for

    adquirida com antecedncia em torno de trs semanas. (Zero Hora

    Caderno Dinheiro, 17/07/11, p. 4).

    J a composio coordenativa implica a justaposio de substantivos,

    adjetivos ou palavras que pertencem outra classe gramatical. Tal composio

    ocorre sempre entre bases que possuem a mesma distribuio, o mesmo valor.

    Notamos essa formao nas criaes neolgicas que seguem:

    Alm da reunio-almoo, ontem na Federasul, com palestras do

    prefeito Jos Fortunati e do arquiteto Jaime Lerner, o comrcio e

    servios da capital acharam novo meio de sensibilizar sobre a

    importncia do Cais Mau. (Zero Hora, 14/07/11, p. 22);

    Mas a cocriao deve ir alm do marketing, que o ltimo passo no

    desenvolvimento do produto-servio. (Zero Hora Caderno Dinheiro,

    03/07/11, p. 1).

    A composio tambm pode ocorrer por siglas ou acronimicamente e

    resultante da lei da economia discursiva. Tais formaes mostram

    caractersticas variadas, sendo que, frequentemente, o neologismo formado

    pelas iniciais dos elementos componentes do sintagma. O termo reduzido a

    fim de tornar-se mais simples e mais eficaz no processo comunicativo. A

    formao por siglas ocorre quando somente as iniciais dos elementos do

    sintagma so escritas. Exemplificamos com o que segue:

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    Mesmo cogitada durante o longo debate em torno da elevao do teto

    da dvida americana, a deciso da agncia de classificao de risco

    Standard & Poors de rebaixar a nota da dvida soberana dos EUA, da

    mxima AAA para a imediatamente inferior AA+surpreendeu o governo

    americano. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 14/08/11, p. 4);

    Na Itlia, o governo Berlusconi examinava novas medidas de

    austeridade econmica a pedido do Banco Central Europeu (BCE),

    enquanto j se estimava que as novas aes vm antes de 18 de

    agosto. (Zero Hora, 11/08/11, p. 18);

    Com recursos do sistema financeiro do Estado Banrisul, Badesul e

    BRDE ser concedido um desconto sobre as parcelas do

    financiamento do BNDES, mas apenas em alguns segmentos. (Zero

    Hora, 08/09/11, p. 16);

    O Mrito Empresarial 2007, recebido da Cmara de Indstria e Comrcio

    (CIC) de Bento. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 21/08/11, p. 2);

    A mobilizao, capitaneada pela Confederao Nacional de Dirigentes

    Lojistas (CNDL), quer ainda regulamentar a utilizao de cheques pr-

    datados e permitir o parcelamento de compras no carto de dbito.

    (Zero Hora Caderno Dinheiro, 17/07/11, p. 6);

    Em julho, o IDI- RS(ndice de Desempenho Industrial) avanou 1,1% em

    relao a junho, sem os efeitos sazonais. (Zero Hora Caderno

    Dinheiro, 11/09/11, p. 3).

    A formao por acronmia apresentada de maneira variada, entretanto,

    geralmente, ela composta pela primeira slaba do elemento de cada

    componente do sintagma, exemplificando:

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    A fiscalizao do cumprimento dessas cotas fica a cargo da Agncia

    Nacional do Cinema (Ancine), a quem caber definir qual o horrio que

    se enquadra como nobre. (Zero Hora, 18/08/11, p. 24);

    Aprovada pela Anvisa, a lente ser a novidade que a Alcon, lder

    mundial em produtos oftlmicos , lanar no Congresso Brasileiro de

    Oftalmologia, em setembro, na capital. (Zero Hora, 25/08/11, p. 28);

    O presidente do Badesul, Marcelo Lopes, disse que o fundo vai ser

    capitalizado a partir de 50 contas independentes. (Zero Hora, 07/07/11,

    p.18);

    Os profissionais da rea de relao com os investidores esto cada vez

    mais jovens, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de

    Relaes com Investidores (Ibri) e pela Fundao Instituto de Pesquisas

    Contbeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). (Zero Hora Caderno

    Dinheiro, 24/07/11, p. 2);

    O Programa de Mobilizao da Indstria Nacional de Petrleo e Gs

    Natural (Prominp) oferecer cerca de 3 mil novos postos para o sexto

    ciclo, que se iniciar em 2012. (Zero Hora, 11/08/11, p. 24).

    J, a composio sintagmtica ocorre quando os componentes de um

    segmento frasal formam uma estreita relao sinttica, tanto no vis

    morfolgico quanto no semntico e, dessa forma, constituem uma nica

    unidade lexical. Uma caracterstica da composio sintagmtica nominal

    demarcar uma organizao constante a suas unidades constituintes, como

    menciona Alves (2007):

    [...] base determinada segue-se a determinante, que pode serintroduzida por uma preposio. No interior do sintagma, oscomponentes do item lxico conservam as relaes gramaticaiscaractersticas da classe a que pertencem. (ALVES, 2007, p.50)

    Consoante as ideias da autora supracitada, existem grandes diferenasentre o item lexical formado por composio e o formado por composio

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    sintagmtica: na composio sintagmtica, a ordem de apresentao do item

    lexical sintagmtico sempre a do determinado seguido de determinante, tal

    fato nem sempre ocorre na unidade lexical formada por composio. Como

    tambm, a unidade lexical por composio segue regras prprias no que tange

    flexo de gnero e nmero. Enquanto os itens formadores da unidade lexical

    composta sintagmaticamente mantm as caractersticas flexionais de suas

    categorias. Devido ao fato do item lexical sintagmtico encontrar-se no vis da

    lexicalizao, ele no costuma ser unido por hfen, enquanto a unidade lexical

    composta geralmente escrita com hfen. A lexicalizao da unidade

    sintagmtica ocorre no momento em que no podemos mais concordar com a

    insero de outro elemento, que ocasionaria a mudana semntica da unidade

    lexical. Por exemplo, produo independente tem um determinado significado,

    que difere de produo muito independente. Outro aspecto que mostra a

    lexicalizao da unidade sintagmtica diz respeito ao carter fixo de seus

    membros integrantes. Sendo assim, a unidade lexical sintagmtica composta

    pela unio de produo e independentee tais formadoresso insubstituveis.

    A composio sintagmtica ocorre, com muita frequncia, conforme os

    estudos de Alves (2007), nos vocbulos tcnicos. Nesse caso, os vocbulos

    tcnicos decorrem de uma indeterminao referente designao de uma

    nova noo e o sintagma pode ser substitudo por um nico item lexical ou

    inserir-se no lxico da lngua na forma de composio sintagmtica.

    No corpus deste trabalho, as formaes sintagmticas tambm foram

    muito produtivas. Selecionamos os seguintes exemplos:

    Ativo circulante o dinheiro que a empresa tem em caixa ou qualquer

    coisa que possa ser transformada em dinheiro vivo imediatamente. (ZeroHora Caderno Dinheiro, 10/07/11, p. 2);

    Ativo fixo tudo o que a empresa no tem inteno de vender no curto

    prazo, como prdio e equipamentos. (Zero Hora Caderno Dinheiro,

    10/07/11, p. 2);

    Em tese, insegurana aumenta a procura pelos chamados ativos reais,

    caso dos imveis. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 14/08/11, p. 5);

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    Nos Estados Unidos, por exemplo, o comrcio eletrnico j

    responsvel por 7% das vendas do pas. Zero Hora Caderno Dinheiro,

    21/08/11, p. 3);

    Segundo a especialista, o perfil individualista da gerao Yfaz com que

    esses profissionais busquem, em primeiro lugar, benefcio prprios.

    (Zero Hora Caderno Dinheiro, 10/07/11, p. 1);

    Isso reduziria os custos para pases como a Grcia, Portugal e Itlia

    poderem financiar suas dvidas, apesar de isso significar maiores custos

    de emprstimos para pases onde as taxas de juros esto abaixo da

    mdia na zona do euro. (Zero Hora Caderno Dinheiro, 17/07/11, p. 1).

    Observamos os seguintes termos que constituem composies

    sintagmticas com estrangeirismos:

    Tabela 1 Composies sintagmticas com estrangeirismo

    commodities agrcolas estrangeirismo + substantivo

    player de porte estrangeirismo + preposio +substantivo

    Os preos das terras mantiveram-se praticamente estveis no Brasil nos

    ltimos trs meses, apesar do bom momento do mercado de

    commodities agrcolas, segundo o relatrio da Scot Consultoria. (Zero

    Hora, 14/07/11, p. 20);

    Construmos um player de porte que j resolve em parte o problema

    (de ameaa concorrncia) afirmou o conselheiro Ricardo Ruiz,

    responsvel pela negociao do acordo. (Zero Hora, 14/07/11, p. 18).

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    1.4.4 Neologismo semntico

    Os neologismos semnticos so criados sem que ocorram mudanas

    formais nos itens lexicais, conforme cita Alves (2007). Esse processo surgequando ocorre uma mudana no conjunto dos semas referentes a um item

    lexical e, tambm, por meio de processos estilsticos (metfora, metonmia),

    nos quais uma unidade lexical pode adquirir diferentes significados. A criao

    neolgica semntica pode ser observada nos seguintes perodos obtidos na

    nossa pesquisa:

    O Global Business Group, da KPMG no Brasil, que assessora do pontode vista financeiro e estratgico novos investidores estrangeiros

    interessados em negcios com empresas verde-amarelas, fechou nos

    ltimos 10 dias mais de 30 pedidos de companhias internacionais

    querendo aplicar no pas, cerca de 200% a mais do que a mdia

    semanal registrada no incio do ano. (Zero Hora, 11/08/11, p. 22);

    O bilionrio Eike Batista usou a expresso marolinha, a mesma que opresidente Lula cunhou no auge do derretimento do mundo econmico

    em 2008, para definir a forma como a precria situao que atinge

    principalmente os EUA e a Europa poder afetar o Brasil. (Zero Hora,

    11/08/11, p. 22);

    Uma nova onda de crise vinda do Hemisfrio Norte traz de volta a

    dvida: vai atingir o Brasil na forma de marolinha ou tsunami? (Zero

    Hora Caderno Dinheiro, 14/08/11, p. 1).

    1.4.5 Truncao, palavra-valise, reduplicao e derivao regressiva

    A truncao consiste em um tipo de abreviao em que uma parte da

    sequncia lexical eliminada, geralmente a ltima. Alves (2007) cita o exemplo

    euro, oriundo da palavra europeu.

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    O Banco Ita breaks ice(o Banco Ita quebra o gelo) o ttuloda matria em que o Finacial Times, que pela pena do maiorespecialista do euromercado, P. Montagnon, explica osignificado da emisso de 50 milhes de dlares emcommercial papers. (ALVES, 2007, p. 68)

    Com esse mesmo princpio, tem-se tambm a seguinte criao, advindado adjetivo asitico: Pela primeira vez a sia seria includa num acordo de

    desarmamento [...]. So os asiamsseis, prolongamentos dos euromsseis.

    (ALVES, 2007, p. 69).

    A palavra-valise tambm manifesta um tipo de reduo duas bases, ou

    somente uma so privadas de uma parte de sua composio para formar um

    novo item lexical: uma perde a sua parte final e outra, a inicial. Esse processo

    tambm pode ser chamado de cruzamento vocabular, palavra portmanteauoucontaminao. Um exemplo desse mecanismo ocorre na fuso das palavras

    brasileiro e paraguaio: [...] os brasiguaios, como so chamados os brasileiros

    que retornam do Paraguai atrados pela reforma agrria (ALVES, 2007, p. 70)

    e na fuso das palavras show e comcio: [...] quando sero distribudas

    milhares de flores para a populao e showmciosem regies carentes como a

    Baixada Fluminense e zona oeste da capital (ALVES, 2007, p. 70).

    Observamos este processo de na seguinte ocorrncia:

    As pessoas falam muito de commodities, mas o Brasil no tem s

    commodities ele tem modernidities. (Zero Hora Caderno Dinheiro,

    21/08/11, p. 8).

    A reduplicao um processo pouco produtivo e consiste na repetio

    de uma mesma base, duas vezes ou mais, com o intuito de criar uma nova

    unidade lexical. Um exemplo desse mecanismo pode ser visto na palavra

    trana-trana, que significa andar para diversos lados: O trana-trana pelo

    bloco asitico est a mil no incio da era. Heisi Shervadnaze, o homem das

    extremas de Gorba, esteve l h poucos dias. (ALVES, 2007, p. 71).

    Obtivemos, com base no corpus da pesquisa, o seguinte exemplo de

    reduplicao:

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    Uma boa ttica de negociao o ganha-ganha. (Zero Hora Caderno

    Dinheiro, 10/07/11, p. 2).

    J a derivao regressiva formada a partir da supresso de um

    elemento sufixal da palavra. Na lngua portuguesa, a derivao regressiva

    ocorre atravs dos substantivos deverbais, isto , substantivos formados a

    partir de verbos. Por exemplo, o substantivo amasso oriundo da forma verbal

    amassar. Essa formao ocorre no exemplo que segue: que quando ele me

    viu dando uns amassosem algum, contou que sabe massagear os ps com

    perfeio, que um tremendo especialista. (ALVES, 2007, p. 71).

    1.4.6 Neologismo por emprstimo

    De acordo com Alves (2007), o lxico de uma lngua no se amplia

    apenas por meio do seu acervo lexical, mas tambm pelo contato entre as

    comunidades lingusticas, o que ocasiona a neologia por emprstimo. Essa

    criao ocorre a partir de dois processos: estrangeirismo e decalque.

    O decalque, de difcil reconhecimento, constitui a verso literal daunidade lexical estrangeira para a lngua receptora. Um exemplo desse

    mecanismo o item lexical alta tecnologia, decalcado do ingls high

    technology: A alta tecnologiafica por conta da produo, carssima, enquanto

    o script e seu valor mental situam-se na Idade de Pedra (ALVES, 2007, p. 80);

    Tron, um velho heri high-tech (ALVES, 2007, p. 80). A unidade lexical

    decalcada tem o hbito de rivalizar com o seu termo de origem: alta tecnologia

    high technology high tech.J, o estrangeirismo passa por duas etapas; primeiramente, o elemento

    estrangeiro, empregado em outro sistema lingustico, visto como externo ao

    vocabulrio da lngua. E denominado estrangeirismo, isto , ainda no faz

    parte do lxico da lngua. A segunda etapa diz respeito integrao do

    neologismo por emprstimo, ou seja, ocorre quando ele se integra lngua

    receptora. Tal integrao pode ocorrer atravs de adaptao grfica,

    morfolgica ou semntica. Observamos as seguintes ocorrncias retiradas donosso corpus:

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    Antes, um coach era chamado para resgatar o executivo em

    dificuldades, como se fosse a ltima chance. Hoje, entra para e empresa

    dar um diferencial ao executivo completa Matta. (Zero Hora Caderno

    Dinheiro, 03/07/11, p. 1);

    Tcnica de autodesenvolvimento que reflexo e aes prticas, o

    coachingchegou ao meio da pirmide no ambiente dos negcios. (Zero

    Hora Caderno Dinheiro, 03/07/11, p. 1);

    Alm disso, ainda existe o que chamamos de f-commerce, que o

    comrcio dentro do Facebook, e tambm o comrcio dentro doscelulares, por aplicativos e por formato de comunicao. (Zero Hora

    Caderno Dinheiro, 21/08/11, p. 3);

    A experincia com o internet bankingtambm foi outro destaque. (Zero

    Hora Caderno Dinheiro, 11/09/11, p. 2);

    Consequncia de vrios fatores: desde contas equilibradas, embora

    ainda existam ajustes a fazer, sociedades jovens ante o envelhecimentodos pases mais desenvolvidos, dvidas menores, grandes investimentos

    em andamento, o que pode ser confirmado pelo fato de muitos latinos

    contarem com o chamado investment grade. (Zero Hora Caderno

    Dinheiro, 03/07/11, p. 6);

    E no s no Brasil que a experincia de mbile payment(pagamento

    por dispositivos mveis) est em desenvolvimento. (Zero Hora

    Caderno Dinheiro, 24/07/11, p. 4);

    C