Hipotireoidismo

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Hipotireoidismo Nome - Renato Assayag Botelho Faculdade - Faculdade de Ciências Médicas de Santos Período - quinto ano 1. Introdução O hipotireoidismo está mais presente entre mulheres na idade entre 40 e 60 anos (a proporção é de 4-7 mulheres para cada homem portador da doença). Entretanto, o hipotireoidismo congênito também apresenta uma incidência importante (1 : 4000). Por isso, preconiza-se a realização do "teste do pezinho" logo após o parto para se ver a presença ou não de hipotireoidismo para que se institua uma terapia de reposição hormonal o quanto antes (veja a importância disso no). As causas de hipotireoidismo congênito mais comuns são : Ectopia : é a causa mais comum de hipotireoidismo congênito (59%). A glândula, nesse caso, encontra-se fora do seu local habitual. Na maioria dos casos, isso ocorre por não ter havido uma migração embrionária da glândula para o pescoço. Muitas vezes, o diagnóstico dessa situação só é feita após a extração de um "tumor de sublingual" por exemplo. Após a retirada, a paciente começa a desenvolver um hipotireoidismo importante em decorrência do "tumor" ser a própria tireóide que não migrou Atirose/atrofia : é uma agenesia ou formação insuficiente de tecido tireóideo levando ao hipotireoidismo (27% dos casos) Disormonogênese : não há produção hormonal pela falta de alguma reação na transformação do iodo inorgânico em iodo orgânico (17% dos casos) 2. Classificação de hipotireoidismo O hipotireoidismo pode ser dividido em :

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Hipotireoidismo

Nome - Renato Assayag BotelhoFaculdade - Faculdade de Ciências Médicas de Santos

Período - quinto ano

1. Introdução

O hipotireoidismo está mais presente entre mulheres na idade entre 40 e 60 anos (a proporção é de 4-7 mulheres para cada homem portador da doença). Entretanto, o hipotireoidismo congênito também apresenta uma incidência importante (1 : 4000). Por isso, preconiza-se a realização do "teste do pezinho" logo após o parto para se ver a presença ou não de hipotireoidismo para que se institua uma terapia de reposição hormonal o quanto antes (veja a importância disso no). As causas de hipotireoidismo congênito mais comuns são : Ectopia : é a causa mais comum de hipotireoidismo congênito (59%). A glândula,

nesse caso, encontra-se fora do seu local habitual. Na maioria dos casos, isso ocorre por não ter havido uma migração embrionária da glândula para o pescoço. Muitas vezes, o diagnóstico dessa situação só é feita após a extração de um "tumor de sublingual" por exemplo. Após a retirada, a paciente começa a desenvolver um hipotireoidismo importante em decorrência do "tumor" ser a própria tireóide que não migrou

Atirose/atrofia : é uma agenesia ou formação insuficiente de tecido tireóideo levando ao hipotireoidismo (27% dos casos)

Disormonogênese : não há produção hormonal pela falta de alguma reação na transformação do iodo inorgânico em iodo orgânico (17% dos casos)

2. Classificação de hipotireoidismo

O hipotireoidismo pode ser dividido em : Hipotireoidismo primário : quando se tem um problema que afeta a tireóide Hipotireoidismo secundário : quando se tem um problema que afeta a produção de TSH

pela hipófise (sem ser a deficiência de TRH) Hipotireoidismo terciário : quando se tem um problema que afeta a produção de TRH

pela hipotálamo Resistência periférica aos hormônios tireoidianos : rara

3. Hipotireoidismo primário

O hipotireoidismo primário pode ser desencadeado por uma diminuição do tecido tireoidiano funcionante ou por uma diminuição da síntese hormonal. Os fatores que levam a uma diminuição do tecido tireoidiano funcionante são : Tireoidite auto-imune crônica com ou sem a presença de bócio : com a presença de

Bócio, denomina-se essa tireoidite de Tireoidite de Hashimoto e essa é a principal causa de hipotireoidismo em indivíduos após 6 anos

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Tireoidite transitória auto-imune : é uma tireoidite presente no período pós-puerperal Iodoterapia : após essa terapia, tem-se hipotireoidismo Tireoidectomia total Doenças infiltrativas : amiloidose, sarcoidose, hemocromatose, tireoidite de Riedel,

cistinose Disgenesia tireoidianaPodemos ter um hipotireoidismo transitório após tireoidectomias (até se achar a quantidade certa de hormônio tireoidiano a ser administrado ao paciente) e após tratamentos com iodo radioativo e hormônio tireoidiano. O tratamento com hormônio tireoidiano é muito usado de forma indevida para tratamento da obesidade. Nesses casos, o paciente emagrece devido à perda protéica que começa a ocorrer nesses tratamentos. E, posteriormente ao tratamento, o paciente pode apresentar hipotireoidismo por ter havido uma inibição prolongada de TSH.Os fatores que levam a uma alteração da síntese hormonal são : Defeitos congênitos da tireóide : defeito na captação ou incorporação de iodeto, defeito

na síntese de tireoglobulina, desalogenação da iodotirosina, ausência de resposta da tireóide ao TSH e resistência periférica aos hormônios tireoidianos

Deficiência de iodo na alimentação Excesso de iodo n alimentação : promove o bloqueio do TSH Uso de substâncias antitireoidianas : metilmasol, PTU, Lítio, tiocianato, perclorato,

nitroprussiato

4. Hipotireoidismo hipofisário

O hipotireoidismo hipofisário pode ser causado por : Macroadenomas Síndrome de Sheehan Craniofaringioma Aneurisma de carótida junto a sela túrcica Trauma Hemocromatose Processos inflamatórios (ex. : tuberculose, histiocitose) Cirurgias e irradiações

5. Hipotireoidismo hipotalâmico

O hipotireoidismo hipotalâmico pode ser causado por : Irradiação do hipotálamo Doenças traumáticas, infiltrativas, neoplasias de hipotálamo Administração de hormônio de crescimento : o GH inibe o TRH Acromegalia Prolactinomas (ação dopaminérgica)

6. Hipotireoidismo endêmico decorrente da carência de iodo

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O hipotireoidismo endêmico decorrente da carência de iodo pode levar ao aparecimento de um quadro clínico denominado cretinismo. O cretinismo é o aparecimento de retardo mental irreversível causado pela falta severa de iodo na alimentação.

7. Mixedema

Mixedema, por definição, é o infiltrado de mucopolissacarídeos (ácido hialurônico, condroitina) em pele e subcutâneo principalmente. Ele é causado por quadros de hipotireoidismo severo e deve ser combatido com o tratamento deste

8. Hipotireoidismo fetal

É de fundamental importância lembrar que o hipotireoidismo fetal não desencadeia o aparecimento de retardo mental, pois o desenvolvimento cerebral intra-útero não é hormônio tireoidiano dependente. Se o diagnóstico de hipotireoidismo for feito logo após o parto e se for adotada a reposição hormonal rapidamente, a criança não terá nenhum déficit no seu desenvolvimento mental.

9. Hipotireoidismo neonatal

O hipotireoidismo neonatal pode ser identificado no RN a partir de : Dificuldades respiratórias Cianose Icterícia prolongada Dificuldade de mamar Obstipação intestinal Choro fraco Macroglossia (infiltrado de mucopolissacárides) Hérnia umbilical (associação comum) Hipotonia Pele seca e enrugada Fontanela posterior aberta Retardo na maturação óssea Fácies típica Presença de bócio

10. Hipotireoidismo na infância

A presença de hipotireoidismo não tratado em crianças menores de 3 anos leva a um risco muito grande de retardo mental. Após os 3 anos, o hipotireoidismo não leva a retardo mental, pois o cérebro já se encontra formado. Entretanto, ele acarreta distúrbios do crescimento (retardo na erupção dos dentes e na maturação óssea). Se a criança estiver com quantidades de hormônio tireoidiano boderline até 5-6 anos de idade, ela pode passar a

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apresentar deficiência deste devido ao fato de se ter uma maior necessidade fisiológica de hormônios tireoidianos após essa idade.É importante relembrar que, a partir dos 6 anos, a causa mais comum de hipotireoidismo é a Tireoidite de Hashimoto.

11. Hipotireoidismo na adolescência

O hipotireoidismo na adolescência causa retardo no crescimento linear, disgenesia epifisária (centros de ossificação anômalos) e puberdade atrasada ou incompleta em ambos os sexos.

12. Sintomas de hipotireoidismo no adulto

Fadiga, letargia, sonolência Intolerância ao frio (hipometabolismo) Obstipação intestinal (perguntar se o hábito intestinal da criança teve alteração) Sudorese reduzida Parestesias Audição reduzida Lentidão mental Nervosismo, ansiedade

13. Sinais de hipotireoidismo

Lentidão de movimentos Unhas finas e quebradiças Pele seca e fria Pele e cabelos ásperos Edema periorbitário Bradicardia Reflexos tendinosos profundos retardados Alopécia (perda ou rarefação) Rouquidão Aumento de peso Palidez (pode apresentar, ao exame físico, mão amarelada pela hipercarotenemia) Edema de mãos e pés Macroglossia Artralgia (excesso de mucopolissacárides na articulação)

14. Diagnóstico laboratorial de hipotireoidismo

Para se fazer o diagnóstico laboratorial de hipotireoidismo, devem ser solicitados : T3, T4 ,T4 livre e TSH (mais importante é o TSH) Teste do TRH

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T3 reverso Tireoglobulinas (procura de hipotireoidismo pós cirurgias) Anticorpos antitireóide (antimicrossomal e antitireoglobulina) caracteriza tireoidite

de Hashimoto Mapeamento e captação

15. Tratamento do hipotireoidismo

O tratamento do hipotireoidismo é feito com LT4 (levotiroxina) e LT3 (Triiodotironina). O LT4 deve ser administrado em doses de 100 a 150mcg/dia para adultos. Em pacientes idosos ou cardiopatas, a dose recomendada é 25 a 50 mcg/dia. Em crianças menores de 1 ano, a dose é de 7-15 mcg/kg/dia. Em crianças entre 1 e 10 anos a dose é de 3-7 mcg/kg/dia e em maiores de 10 anos, a dose é de 2-4 mcg/kg/dia.O LT3 deve ser ministrado em doses de 25 a 75 mcg/dia. Normalmente, é de absorção rápida e apresenta oscilações séricas importantes. Recomenda-se 2 a 3 doses diárias. É uma medicação de risco para idosos e cardiopatas.

16. Coma mixedematoso

O coma mixedematoso é o estágio final do hipotireoidismo não tratado. Quando o paciente apresenta esse quadro, verifica-se retenção de gás carbônico (hipóxia), desequilíbrio hidroeletrolítico e hipotermia. Outros sinais que podem estar presentes são esturpor, fraqueza progressiva, hipotermia, hiperventilação, hipotensão, intoxicação aquosa, hiponatremia, hipoglicemia e convulsão. O tratamento é feito LT4 endovenoso (300 a 500 mcg de dose de ataque e 100 mcg/dia parenteral como dose de manutenção) e hidrocortisona (100 mg, 3 vezes ao dia para evitar insuficiência adrenal). Se necessário, deve-se fazer intubação endotraqueal e respiração assistida. Também deve-se tratar possíveis infecções e manter o paciente hidratado adequadamente.