FRAUDES FINANCEIRAS: UMA ANÁLISE NOS CONTROLES...

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102 Rev. Científica Eletrônica UNISEB, Ribeirão Preto, v.7, n.7, p.102-116, jan/jun. 2016. FRAUDES FINANCEIRAS: UMA ANÁLISE NOS CONTROLES INTERNOS IMPLANTADOS EM EMPRESAS RIBEIRÃO PRETANAS Jamila Abdulrhman Alassiri - Acadêmica do Curso de Administração do Centro Universitário ESTÁCIO/UNISEB Ribeirão Preto SP e-mail: [email protected] Milton Rezende Silva - Acadêmico do Curso de Administração do Centro Universitário ESTÁCIO/UNISEB Ribeirão Preto SP e-mail: [email protected] Alessandra Camargo Santana - Mestre em Ciências Contábeis pela FECAP-SP. Docente do Curso de Administração do Centro Universitário ESTÁCIO/UNISEB Ribeirão Preto SP Resumo O estudo mostrou as principais fraudes ocorridas em micro e pequenas empresas em Ribeirão Preto e as medidas implantadas pelos empresários para o fortalecimento desses controles de gestão. Usou-se a pesquisa descritiva, qualitativa, questionário e entrevista para embasar o estudo. As principais fraudes cometidas foram a de roubo de mercadorias e práticas indevidas realizadas por funcionários sem experiência. As medidas apontadas é a utilização de relatórios operacionais e processos contábeis e Softwares com monitoramento online das vendas reduzindo consideravelmente as fraudes existentes. Palavras-chave: Fraudes financeiras, Controle interno, Pequenas e médias empresas. Abstract The study aimed to detect the main frauds in micro and small businesses in Ribeirão Preto which measures implemented by entrepreneurs to strengthen these management controls. It was a descriptive and qualitative research with questionnaire and interview to conduct the study. The main frauds committed in a micro and small enterprises were the theft of goods stock as well as improper practices carried out by staff without experience. The controlling measures were pointed out was the use of operational reporting and accounting processes as well as software with online monitoring of sales. Keywords: Financial frauds, Internal control, Small and medium organizations. Introdução Em decorrência do momento político econômico vivido pelo Brasil, várias denúncias de fraude envolvendo valores substanciais de desvio monetário governamental afloraram, tanto em empresas públicas como nas privadas obrigando a criação primordial e manutenção de um controle interno a todas as empresas. Com foco de proteger o patrimônio empresarial, esses

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Rev. Científica Eletrônica UNISEB, Ribeirão Preto, v.7, n.7, p.102-116, jan/jun. 2016.

FRAUDES FINANCEIRAS: UMA ANÁLISE NOS CONTROLES INTERNOS

IMPLANTADOS EM EMPRESAS RIBEIRÃO PRETANAS

Jamila Abdulrhman Alassiri - Acadêmica do Curso de Administração do Centro

Universitário ESTÁCIO/UNISEB – Ribeirão Preto SP e-mail: [email protected]

Milton Rezende Silva - Acadêmico do Curso de Administração do Centro Universitário

ESTÁCIO/UNISEB – Ribeirão Preto SP e-mail: [email protected]

Alessandra Camargo Santana - Mestre em Ciências Contábeis pela FECAP-SP. Docente do

Curso de Administração do Centro Universitário ESTÁCIO/UNISEB – Ribeirão Preto SP

Resumo

O estudo mostrou as principais fraudes ocorridas em micro e pequenas empresas em Ribeirão

Preto e as medidas implantadas pelos empresários para o fortalecimento desses controles de

gestão. Usou-se a pesquisa descritiva, qualitativa, questionário e entrevista para embasar o

estudo. As principais fraudes cometidas foram a de roubo de mercadorias e práticas indevidas

realizadas por funcionários sem experiência. As medidas apontadas é a utilização de relatórios

operacionais e processos contábeis e Softwares com monitoramento online das vendas

reduzindo consideravelmente as fraudes existentes.

Palavras-chave: Fraudes financeiras, Controle interno, Pequenas e médias empresas.

Abstract

The study aimed to detect the main frauds in micro and small businesses in Ribeirão Preto

which measures implemented by entrepreneurs to strengthen these management controls. It was

a descriptive and qualitative research with questionnaire and interview to conduct the study.

The main frauds committed in a micro and small enterprises were the theft of goods stock as

well as improper practices carried out by staff without experience. The controlling measures

were pointed out was the use of operational reporting and accounting processes as well as

software with online monitoring of sales.

Keywords: Financial frauds, Internal control, Small and medium organizations.

Introdução

Em decorrência do momento político econômico vivido pelo Brasil, várias denúncias

de fraude envolvendo valores substanciais de desvio monetário governamental afloraram, tanto

em empresas públicas como nas privadas obrigando a criação primordial e manutenção de um

controle interno a todas as empresas. Com foco de proteger o patrimônio empresarial, esses

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controles são fundamentais para sua sobrevivência, uma vez que influenciam nos resultados

contábeis e demonstram sua credibilidade.

Controle interno é um processo – efetuado pela diretoria, gerência e outras pessoas da

entidade – projetada para proporcionar uma razoável garantia de alcançar os objetivos

nas seguintes categorias: (a) confiabilidade dos relatórios financeiros; (b)

conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis e (c) eficácia e eficiência nas

operações. (ANTUNES, 1998, p.54).

O presente estudo teve como objetivo geral detectar as principais fraudes ocorridas em

micro e pequenas empresas na cidade de Ribeirão Preto e quais as medidas implantadas pelos

empresários para o fortalecimento desses controles de gestão. Para isso, elaborou-se a seguinte

problemática: “Quais as principais fraudes ocorridas em micro, pequenas e médias empresas, e

quais os procedimentos implantados por empresários para fortalecimento dos controles

internos?”. Ainda foram avaliados, os principais riscos que envolvem a atividade empresarial,

bem como a percepção dos empresários sobre a legislação vigente que envolve fraudes

financeiras.

1 Referencial Teórico

1.1 Controles Internos na Gestão de Empresas

A Gestão empresarial segundo Pereira (2008) é a atividade de se conduzir uma empresa

ao atingimento do resultado desejado por ela, apesar das dificuldades. E para que isso se

concretize é necessária utilização de adequados controles internos, uma vez que a gestão

empresarial está diretamente relacionada a eles.

O citado autor ainda define controle interno como sendo um processo estruturado até

certo ponto, e os administradores por sua vez lançam mão do mesmo para atingirem os objetivos

amplos e específicos dos proprietários.

Já os controles internos são medidas de prevenção e gestão de riscos realizados

constantemente pela empresa a fim de proteger seus ativos, obterem melhores resultados

financeiros e realizarem tomada de decisão com base em resultados eficientes e confiáveis.

Dessa forma ao manter um controle interno eficiente, as empresas conseguem identificar

possíveis falhas erros ou fraudes financeiras e assim tomar as medidas necessárias para evitar

possíveis prejuízos à empresa ou minimizar suas perdas.

Além das funções gerarem uma base sólida para a atividade empresarial, os controles

internos garantem a adequação da empresa quanto às leis e normas a serem seguido, e o ponto

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de partida para a obtenção e manutenção dos stakeholders (grupos de interesse estratégico, os

quais investem ou possuem ações da empresa).

“A expressão ‘controle interno’ passou a ser utilizada como um meio de distinguir os

controles originados dentro ou pela própria organização, daqueles de origem externa, como é o

caso dos controles impostos pela legislação” (PEREIRA, 2008, p.6).

Fonte: Adaptado de Pereira (2008, p. 6)

Figura 1 – Papéis do controle interno versus controle externo.

1.1.1 Estrutura do Controle Interno

O controle interno pode ser o fator chave para o sucesso ou fracasso de uma empresa.

Bem estruturado, ele pode ser o facilitador para a reestruturação e renovação da empresa, ou o

responsável por sua decadência.

Desta forma veremos como funciona sua estrutura, e quais os principais aspectos para o

seu bom desenvolvimento e suporte da atividade empresarial.

Gestores

Controle Interno

Proprietáros

(shareholders)Controle Externo

Sociedade

(others stakeholders)

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Quadro 1 – Estrutura do controle interno

Políticas

Compreende o conjunto declarações e regras de caráter administrativo em relação às práticas da

empresa e suas intenções como guia para obtenção de um determinado objetivo. Podendo ser

consideradas “guias de raciocínio” para tomada de decisões em níveis inferiores.

Objetivos

São entendidos como o plano estratégico no amplo sentido, ele precede a escolha das metas e

seleção, desenho, implementação e manutenção dos sistemas que asseguram a segurança na

execução dos objetivos.

Metas

Considerados os alvos específicos e quantificados sendo denominados de metas operacionais,

padrões operacionais, nível de desempenho ou resultados esperados. Devem ser mensuráveis, com

adequado grau de realismo e consistentes com os objetivos estratégicos. Os riscos de sua não

realização devem ser explicitamente reconhecidos.

Plano de

organização

Modo pelo qual se organiza um sistema. A estrutura organizacional necessita corresponder a uma

divisão operacional, adequada e balanceada, de trabalho, de forma que sejam estabelecidas as

relações de autoridade e responsabilidade entre os vários níveis, pelas parcelas de trabalho

exigidas para a consecução dos objetivos da empresa, e de maneira que sejam definidas,

claramente, as responsabilidades e autoridades dos diversos níveis.

Métodos e

medidas

Estabelecem os caminhos e os meios de comparação e julgamento para se chegar a determinado

fim, mesmo que não tenham sido preestabelecidos formalmente (normas, sistemas, manuais de

serviço, etc.)

Proteção do

patrimônio

Forma pela qual são salvaguardados e defendidos os bens e direitos da empresa (custódia, controle

e contabilização de bens, alçadas, normas, entre outras).

Exatidão e

fidedignidad

e dos dados

contábeis

Corresponde a precisão dos dados dispostos na contabilidade. A classificação dos dados dentro

de uma estrutura formal de contas, seguida da existência de um plano de contas que facilite o seu

registro, preparação e contabilização de um manual descritivo do uso das contas conjugado à

definição de procedimentos que possibilitem a análise, a conciliação e a solução tempestiva de

quaisquer divergências são elementos significativos para a expressão da fiel escrituração contábil.

Eficiência

operacional

Compreende a ação ou força a ser posta em prática nas transações realizadas pela empresa. A

definição de adequado plano de organização aliada aos métodos e procedimentos bem definidos,

assim como a observação de normas salutares no cumprimento dos deveres e funções com a

existência de pessoal qualificado, treinado para desenvolver suas atividades e adequadamente

supervisionado por seus responsáveis, tendem a implementar a desejada eficiência nas operações.

Interdependê

ncia

Todos os elementos acima se interfluenciam de forma acentuada, intrínseca, sendo essenciais para

o controle interno adequado, uma vez que uma deficiência significativa de um desses itens

comprometera o funcionamento eficiente de todo o sistema.

Pessoal

É necessário lembrar que estes planos de políticas, sistemas e organizações são “ferramentas”

utilizadas por pessoas. Dentro de uma visão sistêmica da empresa, fácil é compreender que,

mesmo com sistemas, políticas etc; adequadamente planejados, a eficiência administrativa será

comprometida, se a empresa não dispuser de um quadro de pessoal adequadamente dimensionado,

capaz, eficiente e motivado.

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Fonte: Adaptado de Universidade de Brasília, Auditoria interna.

Por sua vez, dois fatores, que embora não apareçam com claras definições no conceito

de Controle Interno, estão presentes em todos os fatores anteriormente citados:

Quadro 2 – Outras estruturas do controle interno

Interdependên

cia

Todos os elementos acima se interfluenciam de forma acentuada, intrínseca, sendo essenciais para o

controle interno adequado, uma vez que uma deficiência significativa de um desses itens comprometera

o funcionamento eficiente de todo o sistema.

Pessoal

É necessário lembrar que estes planos de políticas, sistemas e organizações são “ferramentas” utilizadas

por pessoas. Dentro de uma visão sistêmica da empresa, fácil é compreender que, mesmo com sistemas,

políticas etc. adequadamente planejadas, a eficiência administrativa será comprometida, se a empresa

não dispuser de um quadro de pessoal adequadamente dimensionado, capaz, eficiente e motivado.

Fonte: Adaptado de Universidade de Brasília, Auditoria interna.

Com base nos fatores acima expostos, podemos definir Controle Interno como sendo

o conjunto de políticas estratégicas e operacionais, procedimentos e definições de

estrutura organizacional, operado por pessoas capacitadas, e que visam salvaguardar

os ativos da empresa, assegurar a fidedignidade das informações contábeis e

gerenciais e estimular a eficiência operacional (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

AUDITORIA INTERNA, LINHA 07).

Desta forma, além de resguardar os ativos da organização, o controle interno também

fornece os resultados das operações para a tomada de decisão, o que norteará a empresa no

cumprimento de seu plano estratégico em busca de seus objetivos.

1.2 Riscos da Atividade Empresarial

A gestão de riscos é o fator principal para que o planejamento estratégico seja

estabelecido, considerando que não se pode elimina-lo totalmente, há uma necessidade

minimiza-lo evitando prejuízos operacionais e incertezas.

Alday (2000) descreve Planejamento Estratégico (PE) como a gestão de medidas que a

organização realiza para enfrentar as ameaças e aproveitar as oportunidades. Assim, para que

haja a gestão dessas medidas, é necessário identificar as ameaças e as oportunidades do

mercado.

1.2.1 Análise de Mercado de Porter

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O Modelo das cinco forças de Poter caracteriza-se como uma ferramenta para a

definição estratégica da empresa, visando obtenção de vantagem competitiva, que permite

avaliar os riscos e a atratividade de um setor econômico, sendo que uma delas está dentro do

próprio setor analisado.

A ação e intensidade dessas cinco forças resultam no desempenho em potencial no qual

a organização possa vir a alcançar, sendo elas:

1. Novos entrantes: essa força analisa qual o grau de dificuldade para iniciar

operação no mercado em relação a inovação, a participação de mercado, e disputa por recursos

substanciais. Conclui-se que quanto maior as barreiras para a entrada de novos concorrentes,

maior sua atratividade, maior seu investimento e maior seu risco.

2. Substitutos: refere-se a variável ligada diretamente no preço final do serviço ou

produto, ou seja, se existem outros meios de suprir a mesma necessidade do cliente, sendo eles

parcial ou total. Desta forma quanto maior a quantidade de serviços ou produtos substitutos,

menor a atratividade do setor e maior o investimento em qualidade e em inovação.

3. Fornecedores: essa variável analisa a força exercida pelos fornecedores no

mercado, em relação a qualidade e disponibilidade, forma de pagamento e prazo para entrega.

Quanto menor os recursos oferecidos e maiores os custos de troca de fornecedor, maior o poder

de barganha do fornecedor.

4. Clientes: quando os compradores fecham grandes volumes ou lotes, ou se os

produtos são padronizados, ou há opção de outros fornecedores, maior o poder de negociação

dos clientes, e menor a atratividade. Pois maior será a força de barganha para redução de preços,

aumento na qualidade, flexibilidade para pagamento e busca de outros fornecedores.

5. Concorrentes: se o setor for dominado por um pequeno grupo ele naturalmente

acaba realizando um papel de coordenador, se a competitividade for volumosa a probabilidade

de guerra de preços e ações de marketing agressivas são maiores. Uma alta rivalidade pode ser

reflexa de baixo grau de investimento na diferenciação de produto ou alto grau de investimento

para expansão da atividade além de fortes barreiras à saída do mercado.

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Figura 2 – As cinco forças de Porter.

Fonte: Adaptado de Porter, 1985.

1.2.2 Análise S.W.O.T

A análise S.W.O.T desenvolvida por Albert Humphrey, também conhecida por

F.O.F.A., em português, é outra ferramenta utilizada para a elaboração estratégica da

organização, analisando seu ambiente interno e externo. Nela são identificadas as Forças e

Fraquezas da organização (ambiente interno) levando a identificação das Oportunidades e

Ameaças (ambiente externo).

1. Forças: são as vantagens e recursos que a organização possui em relação aos

concorrentes, podendo ser eles humanos como experiência, habilidades e conhecimento ou

recursos organizacionais como sistema, cultura, processos, instalações e tecnologia.

2. Fraquezas: são as desvantagens e recursos que a organização não possui em

relação aos concorrentes, podendo ser humanas ou organizacionais como já citado nas Forças.

3. Oportunidades: são forças externas (macroambientais) as quais a organização

não tem controle, o que se pode fazer é o estudo criando-se hipóteses e previsões, identificando

se há chance de crescimento no mercado o qual a atividade é praticada.

4. Ameaças: são como as Oportunidades, porém causam um impacto negativo na

organização. Cabendo assim a empresa desenvolver seus pontos fracos para transformar as

ameaças em oportunidades.

Concorrentes

Disputa do mercado por empresas ja existentes no

setor.

Clientes

Poder de negociação dos clientes.

Novos entrantes

Barreiras a entradas de novos concorrentes.

Fornecedores

Poder de negociação dos fornecedores.

Subistitutos

Ameaça de produtos e/ou serviços subistitutos.

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Figura 3 – Análise SWOT

Fonte: elaboração própria

1.3 Fraudes e Erros

Uma das alçadas da administração é a detecção e prevenção de fraudes e erros. Para que

isso ocorra, a empresa deverá reavaliar seus processos periodicamente a fim de detectar falhas

e propor melhorias para que não haja danos em sua tomada de decisão e desvio de seu

planejamento estratégico.

Tem-se como fraude, segundo as Normas de Auditoria Independente das

Demonstrações Contábeis, o ato intencional de omissão e/ou manipulação de transações,

adulteração de documentos, registros e demonstração contábeis de modo a modificar ativos,

passivos e/ou resultados. Já o termo erro refere-se ao ato não intencional na elaboração de

registros e demonstrações contábeis que resulta em incorreções, erros aritméticos e

interpretação incorreta das variações patrimoniais.

Conforme Lima, Melo, Reis, Lima e Oliveira (2012) os indícios de erros e fraudes por

parte de relatórios gerenciais fracos ou inconsistentes, representam falta de exatidão e

confiabilidade nas informações. Entretanto estes indícios podem ser gerados apenas por má

interpretação das normas e procedimentos, falta de controle por setores considerados área de

risco, instrução inadequada dos colaboradores, negligencia na execução de tarefas, retrabalho e

desperdício aumentando os custos e despesas.

Está evidente de que apesar do volume monetário que circula em micro, pequenas e

médias empresas individualmente não seja substancial em relação às empresas de grande porte,

Forças

Vantagens e recursos em relação aos

concorrentes

+

Fraquezas

Desvantagens em relação aos

concorrentes.

--

Oportunidades

Forças externas

+

Ameaças

Forças externas negativas

--

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elas representam uma grande parcela da economia quando se considera o todo. Mas a questão

é: essas empresas muitas vezes familiares, ou de bairro são vítimas de fraudes e erros

financeiros como as de grande porte? Se sim, quais as fraudes e erros mais comuns? Existe um

perfil de fraudador? (KPMG, 2011).

1.4 Micro, Pequenas e Médias Empresas

Apesar de não possuírem um fluxo de caixa notável, juntas as micro, pequenas e médias

empresas somam mais de 9 milhões de negócios no Brasil, sendo responsáveis por 27% do

Produto Interno Bruto (PIB), segundo Amado Neto (2009). Além de promoverem empregos e

produtos ou serviços para outras organizações.

Mas afinal o que distingue uma microempresa de uma pequena, média ou grande? A

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define as classificações quanto ao porte

da empresa é por sua capacidade econômica, de acordo com o seu faturamento bruto anual,

sendo assim o valor total anual faturado pela matriz e suas filiais.

Quadro 3 – Classificação empresas de acordo com sua receita bruta anual

Classificação da

Empresa Faturamento Anual

Grupo I - Grande Superior a R$ 50.000.000,00

Grupo II - Grande Igual ou inferior a R$ 50.000.000,00 e superior a

R$20.000.000,00

Grupo III – Média Igual ou inferior a R$20.000.000,00 e superior a R$

6.000.000,00

Grupo IV – Média Igual ou inferior a R$ 6.000.000,00 e superior a R$

3.600.000,00

Pequena Igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 e superior a R$

360.000,00

Microempresa Igual ou inferior a R$ 360.000,00

Fonte: Adaptado de MARTINS, 2014, p 44

1.5 Legislação Brasileira Regulamentadora de Crimes de Fraudes Financeiras

É comum ao empresário de micro, pequeno, e médio porte, realizar o compartilhamento

dos recursos da entidade física e jurídica, ou seja, utilizar o caixa de sua empresa como extensão

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de sua conta pessoal e vice versa. Para evitar esse compartilhamento deve-se entender a

diferença entre pessoa física e jurídica, assim como seus direitos e deveres.

O novo código Civil, Lei nº 10.406, de 10.01.2002 - DOU 1 de 11.01.2002, prevê que a

Pessoa Física é a pessoa natural, ou seja, todo indivíduo que desde o nascimento até sua morte

é capaz de direitos e de sofrer imposição deveres na ordem civil, e que todos os seres humanos

nascem livre e iguais em dignidade e em direitos dotados de razão e consciência devem agir

entre eles em espírito de fraternidade. Já a Pessoa Jurídica é a entidade abstrata com existência

e responsabilidades jurídicas como a União, os Municípios, associações, sociedades, e

fundações legalmente registradas.

A Pessoa Jurídica pode ser de direito público ou privado, classificado ainda como de

direito público interno (I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os

Municípios; IV - as autarquias; V - as demais entidades de caráter públicas criadas por lei.), de

direito público externo (Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito

internacional público) e de direito privado (Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem

regidas pelo direito internacional público) são representadas por quem e na forma a qual seus

registros declarar, iniciando assim o início da vida jurídica, utilizando o capital, trabalho e de

forças produtivas para iniciar atividade no mercado da forma escolhida, indústria, comercio ou

prestação de serviço.

Em concordância com Silva, Nascimento e Ott (2007), o Código brasileiro sancionado

em 2002, prevê que a empresa deverá fundamenta-se nos princípios da ética e da boa-fé em

seus negócios, responsabilizando assim aos administradores em com interesses contrários aos

da organização. Da mesma forma, o Código responsabiliza os contadores aos atos relativos à

escrituração contábil e fiscal praticados, assim como atos que cause danos a terceiros.

Dessa forma fica evidente a necessidade de se inteirar da legislação vigente, no ato de

se iniciar a atividade empresarial, visto que há vários crimes de responsabilidade, que vão além

dos “crimes de colarinho branco”, os quais se estendem aos profissionais.

2 Metodologia

O presente estudo se baseia em uma pesquisa descritiva e qualitativa, com uso de

questionário e entrevista. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.31-32) definem:

A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o assunto

que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de

determinada realidade. Já a pesquisa qualitativa não se preocupa com

representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um

grupo social, de uma organização, etc.

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Ao utilizar o Método Qualitativo a atenção está na melhor compreensão do fenômeno

pesquisado, visto do ponto de vista do grupo em questão. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009,

p.31 e 32) dissertam também a respeito da pesquisa qualitativa buscar a explicação dos porquês,

sem que haja quantificação dos valores, já que os dados a serem analisados classificam como

não métricos.

Dessa forma, o questionário aplicado às micros, pequenas e médias empresas

ribeirãopretanas busca a compreensão dos empresários em relação as situações já enfrentadas,

ou não, de fraudes e erros, e de que forma, ou não, foram realizadas as alterações em seus

controles internos a fim de evitar novos casos, ou pelo menos a frequência deles.

O questionário foi elaborado dividindo-se nos seguintes tópicos:

Objetivos Perguntas do questionário

Avaliar o perfil das empresas pesquisadas 1 a 3

Conhecer as principais fraudes financeiras e econômicas ocorridas

em pequenas e médias empresas; 4

Avaliar os principais riscos que envolvem a atividade empresária; 5 e 6

Conhecer quais as medidas implantadas por empresários para

melhorias do controle interno; 7

Avaliar a percepção dos empresários sobre a legislação vigente que

envolve fraudes financeiras 8 e 9

3 Análise de Dados

Tabela 1 – Amostragem de aplicação do questionário.

Área / Porte Quantidade Percentual

Comércio 7 70%

∙ Micro 4

∙ Pequeno 1

∙ Médio 2

Educação 2 20%

∙ Pequeno 2

Agronegócio 1 10%

∙ Micro 1

Total 10 100%

Fonte: elaboração própria

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O perfil da amostra a qual foi submetida o questionário, foi de empresários cujo suas

atividades localizavam-se na cidade de Ribeirão Preto, com uma faixa etária entre 20 e 54 anos

e de ambos os sexos, nos setores de Educação, Comércio e Agronegócio, havendo variação no

porte da empresa entre micro, pequeno ou médio.

Gráfico 1 – Principais fraudes financeiras em micro, pequenas e médias empresas ribeirao pretanas

Fonte: elaboração própria

A segunda principal fraude identificada, na verdade, é classificada como erro, pois não

há o ato intencional por de trás da ação.

Gráfico 2 – Principal Força de Porter identificada pelos empresários.

Fonte: elaboração própria

Ainda vale ressaltar a identificação simplória de crise econômica e variação de mercado,

como fator chave de risco à atividade empresarial apontada por uma das empresas, pois com

informações corretas oriundas de dados do controle interno confiáveis, a organização tem

condições de se preparar e se antecipar para possíveis crises. A Empresa situada na área da

20%

40%

30%

10%

Principais fraudes ocorridas

Empresas que não registraram

ocorrencias de fraudes e/ou erros

Roubo de mercadorias

Funcionários que não trabalhavam na

prática

Aplicação de práticas contábeis

indevidas

37%

25%

12%

13%

13%

Força de Porter que mais afeta o desempenho da empresa.

Substitutos

Concorrentes

Novos entrantes

Fornecedores

Não souberam opinar

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educação, ainda cita a dependência do governo para abertura de concursos públicos iniciando

assim novas turmas, tal fator é classificado com risco elevado, principalmente em momentos os

quais há recessão, e/ou crise política.

Gráfico 3 – Visão quanto a legislação reguladora de fraudes financeiras.

Fonte: elaboração própria

Gráfico 4 – Procedimentos implantados por empresários para fortalecimento dos controles internos

Fonte: elaboração própria

Não souberam

opinar

37%

Legislação

adequada

25%

Alta carga

tributária

25%

Baixa

ficalização

13%

Outra

38%

Entendimento quanto a legislação reguladora de fraudes financeiras.

37%

12%13%

25%

13%

Procedimentos implantados por empresários para fortalecimento dos

controles internos

Não souberam opinar

Não possuem

Acompanhamento do proprietário

Processos e relatórios diários

Sistema ERP via web, integração com

vendas online

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Conclusão

Em virtude dos fatos obsevados, conclui-se que a principal fraude financeira em micro,

pequenas e médias empresas é a de roubo de mercadorias, e que os empresários alegam ter

sofrido com essa e outras fraudes e que não possuem conhecimento adequado de como evita-

las, bem como a prática adequada de implementação e otimização de seus controles internos,

além de possuirem uma visão simplória e/ou nula da legislação regulamentadora de tais fraudes

financeiras.

Referências

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Administração Estratégica. Rev. FAE, Curitiba, v.3, n.2, p.9-16, maio/ago. 2000. Disponível

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