Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
Ficha para Catálogo da Produção Didático-Pedagógica · discussão sobre a discriminação...
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Ficha para Catálogo da Produção Didático-Pedagógica
Professor PDE/2010
Título O NEGRO E SUA PRESENÇA NO CANCIONEIRO POPULAR SUL
BRASILEIRO
Autor JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS SILVEIRA
Escola de Atuação Escola Estadual Professor Vicente de Carli – Ensino Fundamental e Médio.
Município da escola Francisco Beltrão.
Núcleo Regional de Educação Francisco Beltrão.
Orientador
DR. MARCIO BOTH DA SILVA.
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon.
Área do Conhecimento HISTÓRIA.
Produção Didático-Pedagógica (indicar o tipo de produção conforme Orientação 03/2008 disponível na página do PDE)
Unidade Didática.
Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Alunos da 2ª Série do Ensino Médio Regular.
Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)
Escola Estadual Professor Vicente de Carli – Ensino Fundamental e Médio. Rua: Santo Antonio, 955. Bairro: São Miguel. Cidade: Francisco Beltrão. Estado:Paraná.
Apresentação: (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
A pesquisa à que se propõe, nesta Unidade Didática parte de uma análise procedida na história oficial chamando a atenção para a preponderância de pontos de vista e visões mais críticas observados nas músicas e poesias do cancioneiro popular rio-grandense. Destaco que o objeto de estudo a ser apresentado para esta unidade didática centra-se na análise de determinadas letras e poesias do cancioneiro popular sul brasileiro, bem como contraposições, sem ter a pretensão de classificá-las como mais importantes, ou menos, no que tange a outras formas de produções intelectuais.
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Letras; Músicas; Cancioneiro Popular Rio-grandense.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
UNIDADE DIDÁTICA
JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS SILVEIRA
MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PR 2011
JOSÉ FRANCISCO DOS SANTOS SILVEIRA
O NEGRO E SUA PRESENÇA NO CANCIONEIRO POPULAR SUL BRASILEIRO
Unidade Didática apresentada para o acompanhamento das atividades do professor PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional. Orientador: Dr. Marcio Both da Silva.
MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PR 2011
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Professor PDE: José Francisco dos Santos Silveira.
Área PDE: História.
NRE: Francisco Beltrão.
Professor Orientador IES: Dr. Marcio Both da Silva.
IES vinculada: UNIOESTE.
Escola de Implementação: Colégio Estadual Vicente de Carli – Ensino Fundamental e
Médio.
Público Objeto da Intervenção: 2ª Série do Ensino Médio Regular.
APRESENTAÇÃO:
A Produção Didático-Pedagógica é uma das atividades realizadas pelo professor
que participa do Programa de Desenvolvimento Educacional, oferecido pela Secretaria
de Estado da Educação a ser elaborada no segundo semestre do programa. Optamos
pela produção de uma Unidade Didática, que será pertinente ao objeto de estudo
proposto no Projeto de Intervenção Pedagógica que será implementado na escola. A
produção servirá de subsídio para a implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola e será direcionada aos professores da 2ª Série do Ensino Médio
Regular pesquisada e também aos participantes do Grupo de Trabalho em Rede –
GTR, tendo como tema de estudo a história do negro e da escravidão no estado do Rio
Grande do Sul, bem como criar um contra ponto com a história que é cantada através
das músicas do cancioneiro popular.
OBJETIVO GERAL:
Analisar os retratos de uma história de luta e sofrimento de um povo escravizado
e que é transmitido nas músicas e poesias do cancioneiro popular sul brasileiro, bem
como, perceber como o cancioneiro popular conta a história dos negros no Rio Grande
do Sul estabelecendo um contraponto com a narrativa encontrada nos livros de História.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
a) Analisar como os negros e a escravidão são tratados e apresentados nas
músicas e poesias do cancioneiro popular.
b) Pensar a música como ferramenta para o estudo da disciplina de História
no Ensino Médio.
c) Contextualizar elementos que potencializam as relações de escravidão e
luta pela liberdade de um povo que estão presentes nas músicas e
poesias do cancioneiro popular rio-grandense.
INTRODUÇÃO
A presente Unidade Didática tem como proposta fomentar uma discussão
bibliográfica abordando como é contada a história do negro e da escravidão no estado
do Rio Grande do Sul, bem como criar um contra ponto com a história que é cantada
através das músicas do cancioneiro popular.
A partir da referida abordagem faz-se necessário breve retrospecto indicando
assim, como se desenrolou a pesquisa acadêmica de estudos comparativos nas últimas
décadas no Brasil.
Segundo Schwartz (2001, p. 26),
[...] os trabalhos acadêmicos na década de 1960 contribuíram para elaboração contínua de estudos comparativos da escravidão e incentivou a intensificação do interesse pela escravidão no Brasil. Nas duas décadas passadas, a historiografia da escravidão no Brasil passou por mudança significativa da orientação, método e interpretação.
A pesquisa à que se propõe, nesta Unidade Didática parte de uma análise
procedida na história oficial chamando a atenção para a preponderância de pontos de
vista e visões mais críticas observados nas músicas e poesias do cancioneiro popular
rio-grandense. Destaco que o objeto de estudo a ser apresentado para esta unidade
didática centra-se na análise de determinadas letras e poesias do cancioneiro popular
sul brasileiro (em anexo), bem como contraposições, sem ter a pretensão de classificá-
las como mais importantes, ou menos, no que tange a outras formas de produções
intelectuais.
Cabe destacar que esta proposta de estudo ganha mais importância ainda se
levarmos em conta a implantação da Lei 10.639 de 2003, que, a partir do ano de 1996,
veio determinar a inclusão de História da Cultura Afro-Brasileira e Africana no currículo
escolar do ensino médio e fundamental na rede pública e particular de ensino. Segundo
Passos (2009, s.p.), com esta Lei:
[...] buscou-se corrigir uma injustiça histórica e abriu mais espaço para a discussão sobre a discriminação racial e incentivou o maior contato com a riqueza da cultura africana e afro-brasileira e a sua contribuição na
consolidação da nossa sociedade, estimulando a reflexão sobre a condição do negro no contexto histórico, social e econômico brasileiro, e principalmente reconhecer e valorizar nos colocando no mesmo patamar das demais culturas a sua contribuição o fomentando o reconhecimento e valorização da sua identidade.
Por ser oriundo do Rio Grande do Sul, desde cedo convivo com o telurismo1 do
amor as coisas da terra que são expressas no cancioneiro popular sul brasileiro e
perpetuaram-se para o além-fronteiras, trazendo comigo tal anseio, suscitou o desejo
de desenvolver tal temática em minha escola de atuação, o Colégio Estadual Vicente
de Carli. Já que o sudoeste do Paraná e em particular Francisco Beltrão (minha área de
atuação), foi edificado majoritariamente por gaúchos sabendo-se que seus
descendentes (atualmente, a maioria de meus alunos são descentes de gaúchos),
também buscam no cancioneiro perguntas e respostas advindas de tal processo
migratório.
No tocante a temática abordada, via conteúdos que fazem referência as
questões, tais como, guerra dos farrapos, processo migratório gaúcho para o Paraná,
entre outros, há plena ressonância no envolvimento de alunos, que através da
utilização de instrumentos musicais, bem como, da demonstração de seus dotes
artísticos em abordagem prática mediante apresentações ligadas as questões e pelo
fato da grande maioria trazerem da herança familiar resquícios de nativismo que
ampliaram-se pelo exercício do gosto de freqüentar Centros de Tradições Gaúchas
(CTG), bem como, de serem sensíveis e receptivos as poesias e músicas ligadas a
referida questão em estudo.
É nessa visão de inclusão da cultura afro-brasileira e da luta do povo negro no
estado do Rio Grande do Sul, transmitidas pelo cancioneiro popular que pretendemos
ao longo deste nosso trabalho contribuir com a comunidade escolar, através de
pesquisa e intervenção, dando nossa colaboração para compreender como se
estabeleceram as relações de escravidão e luta pela sobrevivência que são retratadas
nas músicas e poesias do cancioneiro popular rio-grandense procurando contribuir para
o ensino e aprendizagem da história.
1 Telurismo [De telu(i) + -ismo] S.m. 1. Influência do solo de uma região nos costumes, caráter etc, dos
habitantes. (Novo Aurélio – Século XXI, 1999, p. 1939).
Desta forma, a presente Unidade Didática pretende demonstrar de forma prática
e criativa como analisar os retratos de uma história de luta e sofrimento de um povo
negro escravizado que é transmitido nas músicas e poesias do cancioneiro popular rio-
grandense, bem como fomentar discussão sobre as diferentes formas de expressar tal
situação, ora tendendo referendar uma historicidade oficial, noutra contrapondo a
mesma, levando em conta a vertente donde provém o referido poema ou letra musical
elencada como objeto de análise.
Tal estudo faz-se necessário dado à importância de fomentar-se discussão,
juntando assim, o gosto pela melodia, musicalidade e na maioria das vezes a
profundidade das mensagens que quando analisadas superficialmente não denotam
interesses muitas vezes implícitos. Sendo que, quando vistos mais detidamente
demonstram correntes e linhas de pensamento bem delineadas não sem propósito de
“martelar” nas mentes ouvintes a receptividade de um gostar, por vezes ingênuo de
uma melodia, sem contudo deter-se na análise do exposto reproduzido, perpetuando
verdades tidas como absolutas que no mínimo, precisam ser vistas como discutíveis.
Para tanto, serão analisadas poesias de autores tradicionalistas, tais como: Jaime
Caetano Braun, poeta, nascido em Timbauva (hoje Bossoroca) Rio Grande do Sul, em
30 de Janeiro de 1924 vindo a falecer em 8 de Julho de 1999. Lançou diversos livros
de poesia2, gravou vários trabalhos musicais individualmente e conjuntamente com
outros interpretes. A exemplo o poema de sua autoria "Órfão de Mãe Preta.” Que segue
em anexo ao final deste.
Outro compositor a ser estudado é Euclides Fagundes Neto, mais conhecido
como Neto Fagundes nascido no Alegrete em 15 de Agosto de 1963, cantor,
compositor apresentador de TV e radialista, atualmente apresenta o programa "Galpão
Crioulo" (RBS TV), ao lado do seu tio Nico Fagundes. A exemplo da música “Escravo
de Saladeiro”, por ele interpretada, que também segue em anexo, a partir de uma
leitura inicial percebi que existem diferenças na forma como Jaime Caetano Braun e
Neto Fagundes contam, por meio de suas canções e poemas, determinadas histórias
do negro e da sua presença no Rio Grande do Sul.
2BRAUN, Jayme. Caetano. Galpão de Estância. Porto Alegre, RS: Editora Sulina, 1986; ___. De fogão em fogão. Porto Alegre, RS: Editora Sulina,1973; ___. Potreiro de guachos. Porto Alegre, RS: Editora Sulina, 1985; ___. Paisagens perdidas. Porto Alegre, RS: Editora Sulina,1987.
Minha intenção é aprofundar e entender o porque destas diferenças. Busco,
portanto, encontrar nas canções, ferramentas para interpretar a história e a presença do
negro no Rio Grande do Sul.
O NEGRO E SUA PRESENÇA NO CANCIONEIRO POPULAR SUL
BRASILEIRO
PRECISAMOS CONHECER O NOSSO SUL
BRASILEIRO, EM PARTICULAR, O ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL, QUE FOI
PALCO DE REVOLUÇÕES HISTÓRICAS,
QUE A EXEMPLO DE OUTROS ESTADOS
DA FEDERAÇÃO CONJUGARÃO
ESFORÇOS NO INTUITO DE CONSTRUIR
ESTA NAÇÃO.
No link citado, conheça um pouco mais da presença da cultura negra na história
sul brasileiro que no momento foi elencado como objeto de estudo. Nestes slides você
encontrará a estrutura da historicidade baseadas em recentes pesquisas de modo a
facilitar a compreensão da contribuição do negro na cultura rio-grandense, segundo
estudos realizados por alguns historiadores que procuraram analisar a escravidão
mediante novas perspectivas, tais como: Florestan Fernandes, Ciro Flamareon
Cardoso, João Luis Ribeiro Fragoso, entre outros. Para acessar o site, copie o
endereço abaixo, acesse o Google, cole o endereço no espaço de pesquisa, dê enter e
no primeiro conteúdo que aparece neste site, clique e entre.
Disponível em:
http://www.slideshare.net/claudioknierim/contribuio-dos-negros-na-cultura-do-riogrande-
do-sul-brasil Acessado em 25 de julho de 2011.
A presença do negro em solo gaúcho é reportada pelos livros antes mesmo da
chegada de muitos outros povos que vieram a colonizar esta região do Brasil. A
presença dos povos africanos e seus descendentes estão fortemente intrincadas com a
própria história rio-grandense. O negro chegou nesta região na condição de cativo,
trazido por expedições colonizadoras ou integrando tropas militares. Faziam o serviço
braçal nas estâncias e nas cidades, e, segundo o historiador Mário Maestri (2006) a
presença do povo negro no estado do Rio Grande do Sul em meados do século XIX,
chegou a 40% de toda a população da província.
Maestri (2006) ainda delineia traços gerais do escravismo no Rio Grande do Sul,
região ainda tida habitualmente como produto quase exclusivo do labor livre, a
importância do trabalho germinal do africano e afro descendente escravizado durante
um século e meio de escravismo sul-rio-grandense sendo quase desconhecido pela
historiografia.
Para dar continuidade aos estudos, far-se-á uma leitura do texto abaixo,
retirado do Jornal Correio do Povo (28 de julho 2009) e disponível no site:
http://www.defender.org.br/negros-alicercaram-formacao-do-rs/, Acesso em 25 de Julho
de 2011, que aprofunda o conhecimento acerca da cultura negra e formação da etnia
rio-grandense.
VAMOS LER:
NEGROS ALICERÇARAM FORMAÇÃO DO RS
Notícias • Rio Grande do Sul • 28 de julho de 2009 por Silvana Losekan
Antes de muitos povos se estabelecerem no Rio Grande do Sul, o negro já pisava em solo gaúcho. A presença de africanos e descendentes se confunde com a própria história rio-grandense. O negro não veio ao Sul em processo formal de colonização, mas na condição de cativo, trazido por expedições colonizadoras ou integrando
tropas militares. Fez o trabalho braçal em estâncias e em centros urbanos. A etnia chegou a oscilar, no século XIX, entre 30% e 40% da população da província, conforme o escritor Mário Maestri. As charqueadas, concentradas em Pelotas e Rio Grande, se valeram dos escravos.
Conforme a cartilha ‘O Negro no Rio Grande do Sul’, elaborada pela Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, a etnia circulava pelo Estado antes do início oficial da colonização, em 1737. Participou da fundação de Laguna (Santa Catarina) e da Colônia de Sacramento, em terras uruguaias, mas que, no final do século XVII, pertencia ao território português. Integrou a frota de João de Magalhães, em 1725, que viajou de Laguna a São José do Norte, um dos primeiros registros oficiais da presença negra no RS. ‘Encontramos negros na Guerra Guaranítica (1750) e nos conflitos de fronteira com os espanhóis do Prata, na década de 1770, como lanceiros em ação militar. Tinha mão de obra negra escravizada nas lavouras de trigo de açorianos e portugueses, na feitoria do Linho-Cânhamo, em Canguçu (1783-89) e em São Leopoldo (1789-1824)’, diz a cartilha, redigida pelo escritor e poeta Oliveira Silveira, com pesquisa do historiador Jorge Eusébio Assumpção. Mesmo na condição escrava, e depois jogada à própria sorte, quando da abolição da escravidão, a população negra foi um dos alicerces da formação do RS.
Recenseamento geral do Império brasileiro, de 1872, confirmava que 34,6% da população gaúcha era negra, sobretudo no Sul do Estado. Os negros marcaram presença não só no Litoral e nas regiões de Pelotas e Metropolitana da Capital, mas também em cidades como Rio Pardo, Cachoeira do Sul, Santa Maria e outras do Centro, avançando para as Missões, Campanha e Fronteira-Oeste. O traço cultural do negro no RS deriva, na essência, dos povos Bantos, oriundos da África (Congo, Angola, Moçambique), que trouxeram a música, a culinária e sua religião. Segundo pesquisadores da Fundação Palmares, a capoeira, de origem africana, chegou ao Estado no início do século XX, tanto quanto o samba. Na culinária, eles apresentaram a feijoada e recriaram o mocotó, iguaria feita nas regiões das charqueadas a partir das sobras de animais. Fonte: Correio do Povo Disponível no site: http://www.defender.org.br/negros-alicercaram-formacao-do-rs/ Acesso em 25 de julho de 2011.
ATIVIDADES:
a) Como o negro chegou ao estado do Rio Grande do Sul?
b) Qual a foi o alicerce que o negro trouxe ao estado e ao
tradicionalismo gaúcho?
c) Relate fatos da tradição gaúcha que você conhece.
A trajetória negra é descrita em muitas
obras literárias, entre elas, destaca-se
"Casa Grande & Senzala", de Gilberto
Freyre, que lança, para sua época, um
novo olhar sobre o negro perpetuado na
história da sociedade brasileira. Olhar
que, por seu turno, não deixa de ser
carregado de problemas. Problemas estes
que estão relacionados na sua ótica
mediante acomodação do sistema no
período, em relação a situação do negro
na sociedade em análise. No site abaixo,
você pode assistir a um vídeo que retrata
de forma simples e objetiva a visão de
Gilberto Freyre em “Casa Grande &
Senzala” com olhos a perceber tal
situação. Neste vídeo, você poderá
observar fatos da formação social colonial brasileira, o conflito entre os senhores de
engenho e jesuítas. Uma vez que os primeiros queriam escravos para o trabalho e os
jesuítas escravos para Deus. Entre outras questões, há uma crítica por parte de Freyre
no sentido de que, os escravos herdaram dos colonizadores portugueses a indolência
para o trabalho. Após assistir ao vídeo, fazer uma pequena análise das situações
abordadas pela ótica de Gilberto Freyre que são apresentadas no vídeo.
Entre os anos de 1802-1803, foram introduzidos no Rio Grande do Sul, escravos
africanos vindos de diversos lugares do continente africano. Segundo Maestri (2006), o
grupo majoritário de escravos africanos vieram de Angola e Benguela, outros tantos de
Dsiponível em: http://www.youtube.com/watch?v=EdKoK7mHsQ8
Acessado em 25 de julho de 2011.
Ambaca, Cabunda, Cassange, Congo, Ganguela, Manjolo, Messambe, Mina,
Mohumbe, Quissama, Rebolo e Songo (p.56). Maestri, na afirmação citada acima,
demonstra claramente uma abordagem vista pela ótica do historiador, uma vez que sua
análise recai sobre dados provenientes de fontes específicas a respeito do tema,
coletadas. Já, Cardoso imprime sua opinião na ótica sociológica, visto que, em sua
discussão sobre o referido tema sua analise manifesta-se de forma mais abrangente
tais desdobramentos, portanto, segundo Cardoso (2003, p.307 e 316), “o abolicionismo
e o movimento pela imigração não levaram os brancos a redefinir socialmente as
representações sobre os negros. Esses movimentos foram controlados pelas classes
dominantes (...)”. A relação senhor - escravo modificou-se com a abolição e muitos
negros vagaram a esmo pelo estado gaúcho, a liberdade os deixou na “(...) condenação
à miséria e a condições morais subumanas de vida”. Com relação a questão específica,
força de trabalho na ótica de Schwartz (2001, p.89), “Os escravos eram uma força de
trabalho, e os trabalhos forçados prestados a outros orientavam praticamente todos os
aspectos de sua situação”, e, mesmo diante das condições escravistas, os negros,
conseguiram demonstrar em diversos aspectos de sua vida e de sua cultura reações
criativas à situação em que viviam.
Cardoso (2003), em sua obra, retrata as condições da formação societária do
negro no Brasil no período anterior e posterior a abolição da escravatura, e argumenta
que o escravo, embora deixando a sociedade de castas para inserir-se na sociedade de
classes, continuou alienado à sua condição inicial e sem representatividade social, ou
seja, em pouco, alterou-se sua condição primeira, caracterizando-se como falácia a
argumentação que procura apontar no sentido de melhora na sua representatividade na
agora sociedade de classes.
A literatura gauchesca teve sua origem na região do Rio da Prata nos anos de
transição entre o século XVIII e o XIX. É uma literatura anônima, rica em detalhes da
vida popular e em seu princípio surge pelo cantar das gentes simples dos pampas
gaúchos, que através da tradição e vocabulário próprio transmitem em seus
cancioneiros obras repletas de fatos e situações marcantes do período escravocrata do
estado rio-grandense (POZENATO, 1974). Com a intenção de melhor compreender
este momento, e valendo-me de músicas e poesias temáticas que o abordam, tenho a
intenção de levar o aluno a uma reflexão sobre mudanças e permanências.
Segundo Pozenato (1974, p.32-33), não foi a crítica, mas a transmissão oral, a
partir das cidades da fronteira e, particularmente, por sua circulação nas fazendas e nos
povoados que se determinou a interferência de uma obra literária na constituição da
outra. Engana-se quem pensa que a escravidão é um problema do passado e que deve
ser apenas mais um legado histórico para a humanidade. A literatura, insipiente do
século XVIII e XIX embora, não devidamente catalogadas, como atribuições de seus
autores, por tratarem-se em sua maioria de fontes orais, também orientam a discussão
sobre o tema, referente a escravidão uma vez que com base no retorno a tal legado e
com as devidas reflexões de autores já citados aportam como pressupostos para o
trabalho em curso.
Recentes descobertas de trabalho forçado na agricultura e no garimpo em
condições de cativeiro em diversas partes do país em pleno século XXI demonstram
que a escravidão ainda persiste no Brasil, portanto, engana-se quem pensa que a
escravidão é um problema do passado e que figura apenas como um legado. “As forças
da ganância e do poder que tornaram tal instituição durável antes de 1888 não
desapareceram, porém simplesmente se transformaram num contexto moderno”
(SCHWATRZ, 2001, p. 57).
De forma seqüencial, buscando na
gênese do objeto de estudo, já
anteriormente elencado e tendo como
respaldo as fontes bibliográficas também
mencionadas objetiva facilitar a
compreensão do referido tema junto a que
se destina tendo como meta principal
despertar o gosto pelo estudo da história
em consonância ao telurismo3.
A partir deste momento, tendo
3 Telurismo [De telu(i) + -ismo] S.m. Influência do solo de uma região nos costumes, caráter etc, dos habitantes. (Novo Aurélio – Século XXI, 1999, p. 1939).
como objetivo operacionalizar o conhecimento e tomando como ponto de partida o final
do século XX, mais precisamente na década de setenta quando surgiu no Rio Grande
do Sul, os festivais de música nativista, a exemplo a Califórnia da Canção Nativa,
seguida pela Tertúlia em Santa Maria bem como outros que se sucederam, traduzido
por vários intérpretes vamos conhecer um pouco mais sobre os autores elencados para
tal análise que se segue.
ALUNOS, VAMOS PESQUISAR!!!!!!
JAYME CAETANO BRAUN
ATIVIDADES:
01) Leia o recorte abaixo, retirado da Página do Gaúcho,
sendo encontrado no site:
http://www.paginadogaucho.com.br/jayme/zh/cc-2.htm
contendo informações sobre a vida e obra deste poeta
e cantador. Procure relatar em tópicos as etapas de
sua vida e obra.
Página do Gaúcho – Jayme Caetano Braun
Por Lisana Bertussi
O poeta Jayme Caetano Braun nasceu em Bossoroca, perto de São Luiz Gonzaga, no dia 30 de janeiro de 1924. Filho de João Aloísio Braun e Euclides Caetano, casou-se em primeiras núpcias, em 1947, com Nilda Jardim, com quem
teve dois filhos, Marco Antônio e José Raimundo. Em segundas núpcias, em 1988, casou-se com Aurora de Souza Ramos, com quem teve um filho, Cristiano. Em sua cidade natal, foi radialista. Tornou-se funcionário do Instituto
de Seguridade Social do Estado do Rio grande do Sul (Ipasa) e diretor da Biblioteca Pública do Estado de 1959 a 1963.
Poeta regionalista gaúcho, Braun publicou livros de poesia e um dicionário de regionalismos, Vocabulário Pampeano - Pátria, Fogões e Legendas. Também gravou discos e CDs, nos quais declamava seus poemas, acompanhado por Lúcio Yanel, Glênio Fagundes e Noel Guarany. Como letrista de músicas regionalistas, que podem ser consideradas verdadeiros poemas por sua elaboração estética e temática regionalista, foi premiado em muitos festivais. Em alguns, atuou também como apresentador.
Recebeu homenagem e destaque especial do festival Sesmaria da Canção, de Osório, em 1997. Entre seus prêmios, estão o Troféu Laçador de Ouro e o Troféu Simões Lopes Neto (maior honraria concedida pelo governo do Estado), ambos em 1997. Emprestou seu nome a Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) de diversas localidades. Algumas de suas canções foram gravadas por cantores e conjuntos de outros Estados, como Originais do Samba.
O talento de Jayme Caetano Braun como poeta e letrista foi reconhecido no Uruguai, na Argentina, no Paraguai e na Bolívia. Excelente repentista, conhecido como El Payador, ocupa por isso um lugar de destaque na literatura regionalista do Rio Grande do Sul.
Tem, na sua poesia, a expressão estilizada da autenticidade e espotaneidade da fala do homem rural, da zona da Campanha. Sobre sua obra, afirmou Walter Spalding: "A poesia desse poeta missioneiro é um dos maiores e melhores repositórios de palavras e expressões gauchescas, valendo por isso seus livros um tesouro. Grande parte das que usa e que são de uso comum nas Missões e outras partes do Rio Grande jamais foram dicionarizadas". Seus poemas são, em geral, longos e épicos, para ser declamados de viva voz.
O costume campeiro de contar casos também está presente em seus "rimances", poemas narrativos, como Bochincho, extremamente popularizado, um dos textos mais declamados nas festas gauchescas. Seu vocabulário regional representa rico acervo para estudo dos dialetos rurais gaúchos.
Artesão de belas imagens, também compôs poemas líricos-amorosos, e sua temática ia desde a expressão de um forte telurismo quase místico pelo pago,a objetos de seu universo - o galpão, o lenço, a faca, o cavalo, as chilenas -, as apologias sobre a história do Estado e o realismo social, em poemas nos quais os anti-heróis são desvalidos da sorte e oprimidos pelo sistema capitalismo. Suas composições têm um percurso nítido: vão dos poemas longos grandiloqüentes, feitos para declamação, aos poemas curtos e densos de suas últimas obras, nos quais a elaboração poética é maior
e mais cuidadosa, acompanhando os modelos da modernidade.
Jayme Caetano Braun expressou um desejo no poema Índio Vago: "Um dia, quando eu morrer / Esse é o fim de cada qual / Hão de estar meu pingo velho / Com seu relincho cordial / E o meu cusquinho brasino / Chorando meu funeral". Certamente, junto do pingo
velho e do cusquinho brasino, estamos todos nós a chorar a perda de um tão grande inventor de novos modos de olhar o universo gauchesco, forte marca de nossa identidade regional.
Livros
Galpão de Estância (poesia, Editora Gráfica Porto Seguro, 1954)
De Fogão em Fogão (poesia, La Salle, 1958)
Potreiro de Guaxos (poesia, Champagnat, 1965)
Bota de Garrão (poesia, Sulina, 1979)
Brasil Grande do Sul (poesia e relato, Sulina, 1986)
Paisagens Perdidas (poesia, Sulina, 1987)
Vocabulário Pampeano - Pátria, Fogões e Legendas (dicionário de regionalismos, Martins Livreiro Editor, 1987)
Payador e Troveiro (poesia, Tchê, 1992)
50 Anos de Poesia (antologia poética, Martins Livreiro Editor, 1996)
Discos e CDs
Payador, Pampa e Guitarra - 1974
Payadas e A Volta do Payador - 1984
Troncos Missioneiros - 1987
Poemas Gaúchos - 1993
Pajadas - 1993
Paisagens Perdidas - 1994
Jayme Caetano Braun - 1996
Acervo Gaúcho - 1998
Fonte: Disponível em: http://www.paginadogaucho.com.br/jayme/zh/cc-2.htm Acessado em 25 de julho 2011.
Dando continuidade, vamos conhecer um pouco mais do trabalho realizado por
Jayme Caetano Braun, que enfoca a questão do negro, buscando em sua poesia “Órfão
de Mãe Preta”, fazendo um comparativo com a situação do negrinho ‘sem nome’ e a
situação do negro em nossa atualidade. No site abaixo, você encontrará a poesia
declamada pelo próprio autor.
ÓRFÃO DE MÃE PRETA – JAYME CAETANO BRAUN Disponível em: http://pealeio3.com.sapo.pt/Jayme Caetano Braun - Exitos 2 - 09 - Orfao De Mae Preta.mp3 Acessado em 25 de julho de 2011
02) Agora responda:
a) Há subserviência plena no pedido de cuidado para com o negrinho enfocado
pelo autor? Justifique.
b) Qual relação há entre a forma de escravidão descrita pelo poeta na referida
poesia e o modo escravocrata que você conhece? Justifique sua resposta.
c) Em seu entendimento, Jayme Caetano Braun, compromete-se com a ideologia
dominante ou apresenta em sua poesia toda a dor sentida pelo negro durante
sua vivência sendo capaz de apresentar algum senso de justiça?
EUCLIDES FAGUNDES NETO
ATIVIDADES:
01) Faça uma pesquisa sobre a vida e obra de
Euclides Fagundes Neto em seu site
oficial, disponível em:
http://www.osfagundes.com.br/osfagundes/
Os_Fagundes.html. Acessado em 25 de
julho de 2011.
02) Ouça a música “Escravo de Saladeiro” de
sua autoria, disponível no site:
http://www.youtube.com/watch?v=9IL65aEP35Q. Acessado em 25 de julho de
2011. Depois discuta com seus colegas a forma que ele aborda o tema
relacionado ao negro. Observando as seguintes questões:
a) Há imparcialidade na abordagem de suas temáticas?
b) Você observa alguma ideologia presente nas músicas deste
cantor e compositor? Quais?
c) Quais as diferenças existentes na abordagem sobre a temática,
objeto de estudo, na ótica de cada um dos autores estudados?
Ao concluir esta Unidade Didática, como pré-requisito para o curso em questão,
PDE, motiva-me o repasse de conhecimentos advindos de leituras específicas, aulas
presenciais, além de orientações individuais, para meu público alvo, que são os alunos
da Escola Estadual Professor Vicente de Carli – Ensino Médio, bem como, aos demais
que ao tema interessarem-se. Concluo esta atividade almejando que haja acréscimo no
sentido de compreensão das diferenças e semelhanças apresentadas pelos autores no
que tange a trajetória do negro no Rio Grande do Sul.
Após termos realizado a análise destes dois poetas rio-
grandenses mencionados, vamos interagir nossos conhecimentos em
torno da temática trabalhada.
Em pequenos grupos fazer um quadro comparativo das
semelhanças e diferenças que os autores apresentam sobre a
trajetória do negro no Rio Grande do Sul. Na seqüência, cada grupo irá
expor os resultados alcançados podendo usar de recursos para a
apresentação, tais como: mural, TVPendrive, interpretação ao violão e
dramatização.
REFERÊNCIAS BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA. Lei 10639 de 9 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis. Acessado em abril de 2011. CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: Record, 2002.
_________. Casa grande & senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 34 ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo Aurélio – Século XXI – Dicionário da língua portuguesa. 3a. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. MAESTRI, Mário. O escravo no Rio Grande do Sul: trabalho, resistência e sociedade. 3. ed. rev. atual. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. POZENATO, José Clemente. O regional e o universal na literatura gaúcha. Porto Alegre: Movimento, 1974. SCHWARTZ, Stuart B. Escravos, roceiros e rebeldes. Trad. Jussara Simões. Coleção História. Bauru (SP): EDUSC, 2001.
ANEXOS:
CANCIONEIRO POPULAR GAÚCHO – LETRAS PARA ANÁLISE Escravo de Saladeiro Neto Fagundes Composição: Neto Fagundes Escravo de saladeiro me dói saber como foi Trabalhando o dia inteiro sangrando o mesmo que o boi A faca que mata a vaca o coice o laço que vem O tronco a soga e a estaca tudo é teu negro também (A dor do charque é barata o sal te racha o garrão É fácil ver tua pata na marca em sangue no chão O boi que morre te mata pouco a pouco meu irmão) Pobre negro sem futuro touro olhando humilhado O teu braço de aço escuro sustentou o meu estado Já é hora negro forte que os homens se dêem as mãos E se ouça de sul a norte que somos todos irmãos.
Órfão de Mãe Preta Jayme Caetano Braun “Patrão! É o negro Venâncio Que pede vossa licença, Pra vos dizê que a Vicença Morreu de parto, patrão E ao ir pra baixo do chão Não tinha nada de seu, Só deixô quando morreu Este negrinho chorão. Neto da negra Donata Escrava do vosso avô, A negra que amamentou “Vacês” tudo, patrãozinho. Por isso eu “truxe” o negrinho Afim que “vacê” o ajeite Pois mais do que “ropa” e leite, Ele “percisa” carinho. A Vincença, “miseráve”, Morreu sem le botá nome E aqui está, roxo de fome O pobre entinho bendito, Sem força nem pra dá um grito E os “óinho” cheio d’água “Refretindo” a triste mágoa De tê ficado solito. Me alembrei que a patroinha Há “poco” ganhô “famia”. Patrão, quem sabe ela cria, Como paga de um favor, Esse entinho sofredô Pialado da sorte ingrata, Pois é neto da Donata, Que foi vossa mãe de cor.
Não fique bravo, patrão, Nem tome por desaforo. Mas “óie” que ouvindo o choro Desse negrinho mijado O índio mais calejado Tem vontade de sê “bão” E chega a pedir perdão De tudo quanto é pecado. “Adiscurpe”, meu patrão Eu sinto o que “vacê” sente “Contemprando” esse vivente Que as lágrimas nos arranca Mas vai vê que o choro estanca E o negrinho da Vicença Nem vai achá diferença Entre mãe preta e mãe branca. Já vô simbora, patrão! Nosso “Sinhô” o abençoe E ao mesmo tempo perdoe Aqueles que tudo tendo Passam a vida, não vendo, Cegados pela luxúria, A miséria e a penúria Dos que já nascem sofrendo.”