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Fala Egbé Informativo dirigido às Comunidades de Terreiros de Candomblé • nº 15 • ano VI • Abril de 2008 Fala Egbé 21 de janeiro, fevereiro e todos os meses... Liberdade religiosa! Nesse primeiro semestre de 2008 temos muito que comemorar com a lei federal do Dia Nacional de Combate à Intolerân- cia Religiosa, o 21 de janeiro, conquista- da pelas mobilizações que começaram na Bahia... A partir do sofrimento e morte de uma mãe de santo, Mãe Gilda do Terrreiro Abassá de Ogun, e do luto e da luta incansável de sua filha Mãe Jaciara Ribeiro. Ela e seu Terreiro não se enterra- ram no ressentimento e no silêncio, ao contrário buscaram como tantos outros no Brasil ocupar o espaço que têm em seu bairro, dedicando-se a oficinas que prestassem serviço a todas as pessoas independente de seu credo ou qualquer outra identidade. Ainda há um passo a dar para selar a vitória do bom senso e da fraternidade, da liberdade e do respeito ao sagrado, da vontade de ver gente feliz, isolando a intolerância e o medo da diferença do contágio perverso que promovem entre o povo das periferias do País. Neste ano espera-se que ocorra o julgamento do caso “Mãe Gilda” em última instância, no Superior Tribunal Federal, consagrando a lucidez e a justiça com que o caso foi julgado em instâncias anteriores. É hora de mobilizar de novo! Para o que se podem obter informações nessa edição na página 4. A liberdade merece! E obter ganho de causa em 2008 seria carimbar com um símbolo de alento para as gerações futuras a boa herança da liberdade religiosa, depois de 120 anos da Lei Áurea e de 20 anos da Constituinte Cidadã! Pois a juventude vem aí, com sede de desfrutar de suas múltiplas identidades, suas diversas caras felizes; negras, de candomblé, de mulheres e de homens que são, legítimos portadores de esperanças e de idéias próprias, capazes de ensinar com suas novidades e de aprender com a experiência... Nada melhor que começar com uma boa lembrança, que desejamos seja da vitória definitiva do “caso Mãe Gilda” na Justiça. Desde a criação da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (Decreto nº 6.040, de 07 de fevereiro de 2007) desafios e conquistas têm surgido. As Comunidades de Terreiros de Can- domblé estão contadas entre as Comuni- dades Tradicionais, assim como as Comu- nidades Quilombolas, mas muito há que se percorrer. Exemplo positivo foram os passos dados pela Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia (parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente) que incluiu os Terreiros e os Quilombos, Comunidades Negras Tradicionais, em sua formulação de propostas políticas. Cabe às comissões criadas monitorar e fiscalizar a implementação dessas políticas na Bahia. Chegar a um desenvolvimento sem preconceitos e intolerâncias, com liberdade e oportunidades igualitárias para mulheres e homens negros, religiosos e sem religião é um desafio dos bons e um convite à participação! Vamos em frente! Caso Mãe Gilda – julgamento próximo pág. 4 ___________________ Capacitação e geração de resultados positivos págs. 8 e 9 ___________________ Terreiro Vintém de Prata pág. 10 A liberdade religiosa clama por Justiça todos os dias! De nossa parte, como KOINONIA, seguimos confiantes de que nosso apoio ao fortalecimento dos movimentos sociais deve conduzir a mudanças consistentes, ainda que lentas, com o gostinho da afirmação da liberdade e da fraternidade contra toda forma de intolerância. E nada mais é que intolerância a insistência dos poderes públicos em desconsiderar a existência dos templos religiosos de matriz africana em igual dignidade e status que qualquer religião. Assim como o descaso e lentidão com que são tratadas as Comunidades de Terreiros na implementação de políticas públicas de saneamento, de saúde, de urbanização e de desenvolvimento em geral.

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Fala EgbéInformativo dirigido às Comunidades de Terreiros de Candomblé • nº 15 • ano VI • Abril de 2008

Fala Egbé21 de janeiro, fevereiro e todos os meses...Liberdade religiosa!Nesse primeiro semestre de 2008 temosmuito que comemorar com a lei federal doDia Nacional de Combate à Intolerân-cia Religiosa, o 21 de janeiro, conquista-da pelas mobilizações que começaram naBahia... A partir do sofrimento e morte deuma mãe de santo, Mãe Gilda doTerrreiro Abassá de Ogun, e do luto e daluta incansável de sua filha Mãe JaciaraRibeiro. Ela e seu Terreiro não se enterra-ram no ressentimento e no silêncio, aocontrário buscaram como tantos outros noBrasil ocupar o espaço que têm em seubairro, dedicando-se a oficinas queprestassem serviço a todas as pessoasindependente de seu credo ou qualqueroutra identidade.

Ainda há um passo a dar para selar avitória do bom senso e da fraternidade, daliberdade e do respeito ao sagrado, davontade de ver gente feliz, isolando aintolerância e o medo da diferença docontágio perverso que promovem entre opovo das periferias do País. Neste anoespera-se que ocorra o julgamento do caso“Mãe Gilda” em última instância, noSuperior Tribunal Federal, consagrando alucidez e a justiça com que o caso foijulgado em instâncias anteriores. É hora demobilizar de novo! Para o que se podemobter informações nessa edição na página 4.

A liberdade merece! E obter ganho decausa em 2008 seria carimbar com umsímbolo de alento para as gerações futurasa boa herança da liberdade religiosa,depois de 120 anos da Lei Áurea e de 20anos da Constituinte Cidadã!

Pois a juventude vem aí, com sede dedesfrutar de suas múltiplas identidades,suas diversas caras felizes; negras, de

candomblé, de mulheres e de homens quesão, legítimos portadores de esperanças e deidéias próprias, capazes de ensinar comsuas novidades e de aprender com aexperiência... Nada melhor que começarcom uma boa lembrança, que desejamosseja da vitória definitiva do “caso MãeGilda” na Justiça.

Desde a criação da Política Nacional dePovos e Comunidades Tradicionais(Decreto nº 6.040, de 07 de fevereiro de2007) desafios e conquistas têm surgido.As Comunidades de Terreiros de Can-domblé estão contadas entre as Comuni-dades Tradicionais, assim como as Comu-nidades Quilombolas, mas muito há que sepercorrer. Exemplo positivo foram os passosdados pela Superintendência de RecursosHídricos da Bahia (parte da SecretariaEstadual de Meio Ambiente) que incluiuos Terreiros e os Quilombos, ComunidadesNegras Tradicionais, em sua formulaçãode propostas políticas. Cabe às comissõescriadas monitorar e fiscalizar aimplementação dessas políticas na Bahia.

Chegar a um desenvolvimento sempreconceitos e intolerâncias, com liberdadee oportunidades igualitárias paramulheres e homens negros, religiosos e semreligião é um desafio dos bons e um conviteà participação! Vamos em frente!

Caso Mãe Gilda –julgamento próximopág. 4

___________________

Capacitação egeração deresultados positivospágs. 8 e 9

___________________

Terreiro Vintémde Pratapág. 10

A liberdade religiosa clama por Justiça todos os dias!

De nossa parte, como KOINONIA,seguimos confiantes de que nosso apoio aofortalecimento dos movimentos sociais deveconduzir a mudanças consistentes, aindaque lentas, com o gostinho da afirmação daliberdade e da fraternidade contra todaforma de intolerância. E nada mais é queintolerância a insistência dos poderespúblicos em desconsiderar a existência dostemplos religiosos de matriz africana emigual dignidade e status que qualquerreligião. Assim como o descaso e lentidão comque são tratadas as Comunidades deTerreiros na implementação de políticaspúblicas de saneamento, de saúde, deurbanização e de desenvolvimento em geral.

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Fala Egbé

Fala Egbé ..... informativo no 15 ..... abril de 2008

2 COTIDIANO

Necessidades dos Terreiros Caminhos

Garantia de posse e propriedade de terra

Formação de associação civil Registro no CNPJ Processos de Usucapião

Reconhecimento de direitos públicos

Elaboração de laudos antropológicos Elaboração de laudos etnoecológicos Processo de imunidade de IPTU

Garantia territorial e melhoria ambiental

Elaboração de levantamentos planialtimétricos Elaboração de projetos paisagísticos

Superação do preconceito e da intolerância religiosa

Ações contra o preconceito e a intolerância religiosa Realização de reflexões e encontros de diálogos que auxiliem as ações contra o preconceito (temas)

Projetos sociais e econômicos

Trabalho voluntário Oficinas: bordado; saúde da mulher; direitos de comunidades Outras oficinas

Jovens de Terreiros querem reunir-se em RedeKOINONIA tem facilitado a que

jovens de diferentes Terreiros deCandomblé a começarem umprocesso de encontros para searticularem como uma rede. Oobjetivo dessa rede seria criar umaarticulação de jovens pela garantia dedireitos da juventude. Os jovens deTerreiros terão a oportunidade deunir-se a uma rede de juventudesecumênica com os mesmos objetivos,que está sendo estimulada em todo oBrasil e que pretende organizarJornadas Ecumênicas em diversasregiões do País. A iniciativa do jovensde Candomblé começou emnovembro do ano passado e terácontinuidade esse ano a partir do dia6 de abril no Terreiro Vintém de Prata,buscando inicialmente o diálogo e aconvivência, por meio de encontrosem diferentes Terreiros de Salvador.

A própria mobilização dos jovens deCandomblé é que definirá os rumosque essa rede deve ter e as conexõesque fará com organizações quebuscam representar os anseios dopovo de santo. Esperamos e temoscontribuido para que esta iniciativatenha a mais ampla cobertura e apoiodos Terreiros.

Ações do Programa

Encontro de Jovens do Candomblé, 25 de novembro de 2007

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Fala Egbé ..... informativo no 15 ..... abril de 2008

Fala Egbé 3COTIDIANO

ASSOCIAÇÃOCIVIL

Dando continuidade ao

trabalho de registro de

associações civis dos

Terreiros como forma de

garantia de direitos e

promoção de desenvolvi-

mento, KOINONIA presta

assessoria na elaboração

de estatutos e atas,

acompanhando todo o

processo cartorário de

registro.

Esse trabalho já resultou

no registro de dezenas de

associações de Terreiros

de Candomblé, que agora

querem fazer valer seus

direitos nas diversas

esferas da vida civil.

Acompanhando esses

Terreiros, no período de

novembro de 2007 a

março de 2008, solicita-

ram apoio para o registro

de sua associação: Ilê Axé

Ijobá Oxumarê-Yewá,

localizado na cidade de

Itabuna,Terreiro Mina de

Ouro, na cidade de Castro

Alves; Ilê Axé Odé G’mim,

em Lauro de Freitas e Ilê

Axé Tobomim e Ilê Axé

Odé Lomin Infan, no

município de Camaçari.

Nesse mesmo período

concluíram seus registros:

Terreiro Viva Deus Bisne-

to, Ilê Asé Alafumbí,

Terreiro Olufanjá e Terreiro

Moitumbá Junçara.

CNPJApós o registro da associa-ção é obrigatória a inscriçãono Cadastro de PessoasJurídicas – o CNPJ. Assim,realizaram o cadastramentoos terreiros: Ilê AséAlafumbí, Terreiro OxossiMutalambô e Terreiro VivaDeus Bisneto.

Vodunzo; Ilê Axé Abassá deOgum; Ñzó SasaganzuáMono Guiamaze; Ilê Axé ObáNirê; Ilê Axé Odé Tola;Terreiro São Roque; Ilê AxéOlo Omin; Terreiro de Jauá;Ilê Axé Kalé Bokun; Ilê AxéOmin Nijá; Ilê Axé OminFunkó; Terreiro Viva DeusFilho; Ilê Axé Jifulú; UnzóTateto Lemba; Ilê Axé ObaTadê Patiti Oba; Unzó Gunzode Mametu Kaiongo; Ilê AxéOgum Ominkayê; Ilê AxéIdanjuê; Terreiro Viva DeusBisneto; Ilê Axé Omin ArinMassun; Centro do CabocloItapoã; Ilê Asé Oyó Bomin;Ilê Axé Omin Lessy; CasaBranca; Unzó BakisêSasaganzuá GongaráKaiango; Ilê Axé OlufanAnancidê Omim; Ilê AxéGezubum Santa Cruz;Terreiro Oxossi Talami; IlêAxé Ibá Aqueran; Ilê AxéOyá.

PROCESSOSJURÍDICO-ADMINISTRATIVOS

O Ilê Axé Oyá solicitou

apoio para acompanhamento

de processo relativo ao

reconhecimento de imunida-

de tributária, pois após

solicitação formulada pelo

próprio Terreiro, o processo

administrativo nº003253/

2005, do Município de

Lauro de Freitas, foi arquiva-

do.

Ilê Axé Oyá Olorum, tendo

parte de território ameaçado,

solicitou apoio e acompa-

nhamento do processo

judicial nº3305/2008, em

NÃOESQUEÇA!A Declaraçãode Isento deImposto deRenda deveráser feita noperíodo demaio a junho.

RAISConforme informação doFala Egbé 14, a declaraçãoda RAIS teve seu prazo deentrega encerrado em 28 demarço. Foram declaradas asRAIS NEGATIVAS dosseguintes Terreiros: Ilê AxéTaoyá Loni; Ilê Axé Jfokan;Ilê Axé Pondamin Bominfá;Ilê Axé Obá Adê Nilá; Ilê AxéObá Tony; IlêNijó Omin; IlêOmin Lonan; Ilê Axé OsunYinká; Ilê Axé Oxumarê;Terreiro Tubenci; TerreiroManso DandalunguaCocuazenza; TerreiroTuumba Junçara; Terreiro

Contra-sensoMenos de 0,5% da

população de Salvador é

adapta de religiões de

matriz africana. Esta é a

conclusão do Censo 2000.

Segundo matéria de

Pablo Reis, o último

censo contabiliza

11.959 adeptos de

religiões de origem

africana na cidade

(0,48% da população).

Confrontado esse

número com os Terreiros

apontados pelo

mapeamento feito pela

prefeitura em 2007

(1.165), teríamos 10

religiosos para cada

Casa, um número

evidentemente irreal.

Numa lista de cidades

com maior incidência de

adeptos do Candomblé,

Salvador não aparece

sequer entre os 50

primeiros.

Fonte: Correio da Bahia,

08/03/2008.

que familiares da Yalorixá

da Casa pretendem ver

reconhecidos os direitos à

posse e propriedade.

l Caso Mãe Gilda: Será

julgado pelo Superior

Tribunal de Justiça, ainda

neste semestre, o caso Mãe

Gilda, processo de Mãe

Jaciara, do Terreiro Ilê

Abassá de Ogum, contra a

Igreja Universal do Reino

de Deus (Iurd). Saiba mais

na página 4.

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Fala Egbé

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4 COTIDIANO

Caso Mãe Gilda – julgamento próximoSerá julgado pelo Superior Tribunal

de Justiça, ainda neste semestre, o casoMãe Gilda, processo de Mãe Jaciara, doTerreiro Ilê Abassá de Ogum, contra aIgreja Universal do Reino de Deus(Iurd). A ação se tornou símbolo da lutacontra a intolerância religiosa no País eestimulou a criação do Dia Nacional con-tra a Intolerância Religiosa, 21 de janei-ro. KOINONIA, entidade que assessorao caso, solicita que todos os Terreiros einteressados na luta pela liberdade religi-osa enviem a carta ao lado para o JuizMassami Uyeda, responsável pelo julga-mento do caso no Superior Tribunal deJustiça, para que ele decida a favor da fa-mília de Mãe Gilda.

RELEMBRE O CASO DE MÃEGILDA

No ano de 1999, Mãe Gilda, entãoIalorixá do Terreiro Ilê Axé Abassá deOgum, localizado em Salvador, faleceu.A Mãe de Santo tinha a saúde fragilizadae piorou após o choque de ver sua fotopublicada no jornal da Igreja Universaldo Reino de Deus relacionada a uma re-portagem sobre charlatanismo. O títulodizia: “Macumbeiros charlatões lesam obolso e a vida dos clientes”. A foto dojornal da Iurd foi tirada em 1992 quan-do Mãe Gilda participava de manifesta-ções em favor do impeachment do entãopresidente Fernando Collor de Mello.

Logo após a morte da mãe, sua filhae atual Ialorixá da casa, Jaciara Ribeirodos Santos, moveu uma ação contra aIurd, por danos morais e uso indevidoda imagem de Mãe Gilda. Procuradospor Jaciara, os advogados deKOINONIA (Convênio AATR-BA) pas-saram a representar a família na ação, pormeio da assessoria do Programa EgbéTerritórios Negros. A família de MãeGilda foi vitoriosa em 1ª e 2ª instâncias,mas a Iurd recorreu e o processo será jul-gado no Superior Tribunal de Justiça.

Reproduza e envie carta modelo ao lado para:Superior Tribunal de Justiça

Gabinete do Ministro Massami Uyeda (End: Quadra6, lote 01, trecho 3, CEP: 70095-900 - Brasília - DF,ou pelo Fax: (61) 3319-7427).

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Fala Egbé 5COTIDIANO

Todo dia deveriaser 21 de janeiro

No dia 27 de dezembro, oDiário Oficial publicou a lei quedecreta o dia 21 de janeirocomo Dia Nacional contra aIntolerância Religiosa. Estrea-mos nesta edição esta novacoluna que trará notas sobrecasos de intolerância religiosaque infelizmente são recorrentesno País.

DEMOLIÇÃO DE TERREIRO

No dia 27 de fevereiro parte doTerreiro Oyá Unipó Neto,localizado no bairro do Imbuí,em Salvador, foi demolido pelaSuperintendência de Controle eOrdenamento do Uso do Solo(Sucom). A demolição aconte-ceu sem que fosse apresentadadocumentação oficial ou permi-tida a retirada de objetospessoais e sagrados do templo.O ato provocou indignação egerou inúmeras manifestaçõesem Salvador. Marcos Rezende,de 33 anos, conselheiro daSecretaria Nacional de DireitosHumanos, fez cinco dias degreve de fome como protestoaté o caso ser solucionado. Diasdepois da demolição, a superin-tendente da pasta, KátiaKarmelo, foi exonerada, o prefeitode Salvador, João HenriqueCarneiro, pediu desculpas, e oTerreiro está sendo reconstruído.Para a mãe de santo do Terreiro,Rosalice do Amor Divino, conhe-cida como Mãe Rosa, a ação foiconseqüência da especulaçãoimobiliária.

CAPACITAÇÃO EDESENVOLVIMENTO

No dia 29 de janeiro, os 15 Terreirosparticipantes do projeto “Capacitação eApoio ao desenvolvimento das Comuni-dades Negras tradicionais do Brasil” fo-ram convocados para uma reunião de pla-nejamento.

Estiveram presentes representantes doTerreiro da Casa Branca, Obá Tony,Tuumba Junçara, Osun Yinká, KaléBokun, Viva Deus Bisneto, Vintém dePrata e do Intecab (Instituto Nacional daTradição e Cultura Afro-Brasileira).

Os próximos Terreiros e respectivasoficinas já programadas são Kalé Bokun- Dança/atabaque e bordado; Osun Yinká- corte/costura e bordado; Viva DeusBisneto – bordado; Tuumba Junçara -Toque de Ngoma e Silk Screen.

O projeto “Capacitação e Apoio aodesenvolvimento das Comunidades Ne-gras tradicionais do Brasil” teve início em2007 e é co-financiado pela União Euro-péia, Christian Aid e EED.

EGBÉ NO BAIXO SUL

Em 13 de fevereiro, o programa EgbéTerritórios Negros esteve na região doBaixo Sul da Bahia: Em Camamu, a equi-pe realizou uma reunião de planejamen-to com o Sasop (Serviço de Assessoria àsOrganizações Populares Rurais) e o Sin-dicato de Trabalhadores Rurais deCamamu.

A avaliação das ações iniciadas em2007 foi positiva; as entidades locais con-sideram que as atividades desenvolvidaspor KOINONIA geraram grande expec-tativa junto às comunidades negras ruraise remanescentes de quilombo. O temadireito territorial é uma das demandas queo Sindicato busca discutir com as comu-nidades, e guarda relação com a questãoda sustentabilidade através daagroecologia, tema principal das ações doSasop.

As próximas atividades, previstas paraabril, são mini-oficinas desenvolvidas nascomunidades para discussão da cartilhaDireitos, lançada pelo programa no anopassado.

A equipe esteve também na comuni-dade de Boitaraca, em Nilo Peçanha, ondeencontrou-se com Aldo Souza, presiden-te da associação de remanescentes dequilombo. A oficina da comunidade estámarcada para 12 de abril. As demandas esugestões surgidas então servirão de sub-sídio para os encontros maiores, envol-vendo a totalidade das comunidades aten-didas pelo Programa.

As atividades no Baixo Sul fazem par-te do Projeto “Capacitação e Apoio aodesenvolvimento das Comunidades Ne-gras tradicionais do Brasil”, co-financia-do pela União Européia, Christian Aid eEED.

Oficinas, seminários eparcerias

No site de KOINONIA hávídeos sobre as oficinas do projeto“Capacitação e apoio aodesenvolvimento de ComunidadesNegras Tradicionais no Brasil”,promovidas em diversos Terreirosde Candomblé, em Salvador. Esseprojeto é realizado porKOINONIA e co-financiado pelaUnião Européia, Christian Aid eEED.

Visite a seção vídeos do site deKOINONIA e confira:

www.koinonia.org.br

Vídeos de KOINONIA

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Fala Egbé

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6 COTIDIANO

Localização dos Terreiros atendidosRA I CentroIlê Erinlé Axé Odé Ifeolá

RA II ItapagipeIlê Axé Airá OmimIlê Axé Odé Lomin InfanIlê Axé Ogum Ladê Iyá OmimIlê Axé Omin LeuáIlê Iyá OsshumTerreiro de Oxum do Caminho deAreia

RA III São CaetanoIlê Axé IdanjeuêIlê Axé Obá InanIlê Axé Opó Ibu Alama

RA IV LiberdadeIlê Axé Omin AmbokeIlê Axé Ewá Omin NirêIlê Axé Iroko SunTerreiro do VodunzôTerreiro Kanzo MucamboTerreiro de Oxalá

RA V BrotasAxé Abassá de AmazeCentro do Caboclo Oxossi TalamiCentro Matamba de OnatoIlê Axé EwéIlê Axé JifulúIlê Axé JualêIlê Axé Oluwayê Dey’IIlê Axé Oyá TunjáIlê Axé Omin Afonjá RodeNzó Mdemboa - KenãIlê Axé Omin Ode AzoaniTerreiro Oxossi CaçadorTerreiro Unzó Awziidi JunçaraTuumba JunçaraTuumbalagi JunçaraUnzo Katende Dandalunda

RA VI BarraSem Registro no Programa

RA VII Rio VermelhoIlê Axé Aché Ibá OgumIlê Axé AlarabidêIlê Axé Iyá Nassô OkáIlê Axé Obá NirêIlê Axé Obá Tadê Patiti ObáIlê Axé Omin DeuáIlê Axé Onirê OjuirêIlê Axé Oyó BomimIlê Axé Obá TonyIlê Obá do CobreIlê OxumaréTanuri JunsaraIlê Axé Centro de Angola Mensageiroda LuzTerreiro do Bogum

RA VIII PitubaSem Registro no Programa

RA IX Boca do RioIlê Axé Araka TogumIlê Logum Edé Alakaí KoissanTerreiro Onipó Neto

RA X ItapuãAxé Abassá de OgumAxé Tony SholayóIlê Axé Osun YinkáIlê Axé OminaderIlê Axé Yeye JimumTerreiro AloiáTerreiro Caboclo ItapuãTerreiro de Oxum da Lagoa do AbaetéViva Deus NetoTerreiro Viva Deus BisnetoIlê Axé Ibá AqueranTerreiro Gurebetã Gome SogboadãTerreiro Monaleuci Um’Gunzo deUn’zambi

RA XI CabulaIlê Axé Opô AfonjáIlê Axé Oyá DejiTerreiro Sultão das MatasUnzó Bakisê Sasaganzuá GongaraCaiangoViva Deus FilhoYlê Yá Yalodeidê

RA XII Tancredo NevesIlê Axé GezubumIlê Axé Jagun BominIlê Axé Obá FangyIlê Axé Olufan Anancidê OminIlê Axé Omin AlaxéIlê Axé Omin TogunIlê Axé Oyá Omin OlorumIlê Axé Pondamim BominfáTerreiro de BoiadeiroTerreiro do Bate-FolhaTerreiro OlufonjáTerreiro São RoqueTerreiro Sete FlechasTerreiro Tumbenci

RA XIII Pau da LimaFunzó IemimIlê Omu Keta Posu BetaRA XIV CajazeirasIlê Axé Layê LuboIlê Axé Omim J´ObáIlê Axé Omin LonanIlê Axé Omin NitaIlê Axé OnijáTerreiro Junçara KondirêUnzó de KaiangoManso Dandalungua CocuazenzaManso Dandoqüenque Dunkinisaba FilhoMoitumba JunçaraÑzo Sassa Ganzuá Mono GuiamazeTerreiro Vintém de PrataIlê Axé Ogum Omimkayê

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Fala Egbé ..... informativo no 15 ..... abril de 2008

Fala Egbé 7COTIDIANO

Mapa de Salvador

Baía

de T

odos

os S

anto

s

Orla Marít

ima de Salvador

RA XV ValériaIlê Axé de OgunjáIlê Axé Omim FunkóIlê Axé Olo Omin

RA XVI Subúrbios FerroviáriosOnzó de AngorôGrupo das Sacerdotisas e Sacerdotesdo AxéIlê Axé Acorô GenãIlê Axé LoyiaIlê Asé Ogum AlakaiyêIlê Axé AnandeuiyIlê Axé Flor da MirtáliaIlê Axé GitolobiIlê Axé JagunIlê Axé JfokanIlê Axé Kalé BokumIlê Axé Obá OmoIlê Axé Odé ToláIlê Axé Omi EuáIlê Axé Omin LoyáIlê Olorum Axé GiocanLuandan JuciaTerreiro Caboclo CatimboiáTerreiro GidenirêTerreiro MucundeuáTerreiro de NanaIlê Axé Arin MassunIlê Axé Giroqueme

RA XVII IlhasIlê Axé Airá

Região Metropolitana de SalvadorIlê Asé Maa Asé Ni OdéIlê Axé Gum Tacum WseréIlê Axé JesideaIlê Axé Oba NãIlê Axé Omim LessyIle Axé Ondô NirêIlê Axé Opô Olú-Odé AlayedaáIlê Axé OyáIlê Axé Odé Obá LodêIlê Axé Odé G’mimIlê Axé Taoyá Loni

Ilê Axé Dan Seji OláIlê Axé BokumIlê Axé IgbonanSindirátukuã FilhaTerreiro Angurusena Bya NzambiTerreiro de JauáTerreiro Filhos de OgunjáTerreiro Kawizidi JunçaraTerreiro São BentoTuumbaengongonsaraUnzó Tateto LembaIlê Axé AlafumbíIlê Axé Awon Funfun

Outras CidadesCentro de Candomblé Santa Bárbara(Itabuna)Ilê Axé Ijobá Oxumarê-Yewá (Itabuna)Ilê Axé Jitolobi (Araci)Ilê Axé Kayó Alaketu (Cachoeira)Ilê Axé Obá Nijó Omim (Muritiba)Terreiro Afoxé dos Orixás (Rio deContas)

Terreiro de IlhéusTerreiro Matamba Tombeçy (Ilhéus)Terreiro de Praia do Forte (Mata deSão João)Terreiro de São Sebastião (SãoSebastião)

Terreiros sem localizaçãoregistrada no Programa EGBÉ

Ilê Odé Omim LoséIlê Axé Odô BiticôIlê Axé Oiá IgebeTerreiro Omim OiáTerreiro Oxossi MutalamôUnzó Katendê Ye DandalundaUnzó Kwa MpaamzoTerreiro Oiyá DeatambaTerreiro Kongo LembaIlê Axé Iroko Sun

RA = Região AdministrativaOBSERVAÇÃO:

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8 COTIDIANO

Nesta edição do Fala Egbé, dedica-mos este espaço para as falas das pesso-as que participaram ou organizaram osegundo ciclo das oficinas do projeto“Capacitação e Apoio ao desenvolvi-mento das Comunidades Negras Tra-dicionais do Brasil”. Voltado para as co-munidades de Terreiros de Candombléem Salvador e comunidades negras li-torâneas na região do baixo-sul do es-tado da Bahia.

O projeto já realizou dois ciclos decapacitação - o primeiro iniciado emabril e o outro em julho de 2007. Atéagora mais de 450 pessoas participaramdas oficinas do projeto que é Co-finan-ciado pela União Européia, ChristianAid e EED.

Os depoimentos a seguir demons-tram que as oficinas, realizadas peloprojeto, não promoveram apenas oaprendizado de artes e ofícios, mas tam-bém foram espaços para fortalecimen-to da auto-estima, derrubada de precon-ceitos – pela superação da IntolerânciaReligiosa – e integração, com o forta-lecimento das relações dentro e entreas Casas.

Foram momentos de debate sobreas histórias de vida de cada um, desco-bertas de histórias em comum e cons-trução de um olhar conjunto sobre acomunidade.

Além disso, com o desenvolvimen-to das oficinas de direito ao meio am-biente foram geradas reflexões e peque-nas “agendas 21” locais, de açõespossíveis para uma atuação ambientala partir de cada Terreiro.

Importante observar a recorrenteconfirmação do ‘ser solidário’, caracte-rística inerente às comunidades de Can-domblé, ao lutar pela continuidade dasações propostas pelo projeto, na medi-da em que se fortalece pela necessidadedo seu entorno. As Casas ganham refor-ço na sua posição de referência comuni-tária.

Capacitação e geração de resultados positivosVENCENDO A RESISTÊNCIA nham o receio de entrar. Saiu aquela

integração. Quando a gente começou forammais de oitenta crianças a aparecerem. A gentesentava com as crianças para explicar o por-quê de aprender toque de Candomblé, e queeles não precisariam necessariamente ser deCandomblé. Foi aí que aconteceu a descobertade vários alabês na comunidade. Hoje a gentetem um grupo de crianças que ajuda o Can-domblé que toca ou que canta e com isso sur-giu o intercâmbio de alabês de outras casasquero dizer outras nações [angola e Ketu].

INTEGRAÇÃO DA COMUNIDADE

Eu estava coordenando junto com mi-nha mãe as oficinas de Percussão e Dançados Orixás. O resultado alcançado foi o aco-lhimento da comunidade porque muitos ti-

As atividades foram entalhe de madei-ra, ponto de cruz, curso de corte costura ereciclagem.

Para dentro da Casa as atividades forammuito importantes, porque possibilitaram a rein-tegração dos nossos próprios filhos.

E, para fora, foi um prazer poderretornar às atividades, pois a comunidadevolta a procurar o Terreiro como uma refe-rência forte.

Os resultados foram muito bons, princi-palmente em relação ao ponto de cruz. Agente recebeu muita criança, tinha criançade até oito anos.

Mãe Helenice, Ilê Axé Omin J´Obá

Erivaldo (Nem), Ogã do Ilê Axé Omin J’Obá

Mãe Marlene, Vintém de Prata.

Foi muito bom, principalmente para ascrianças da comunidade, que não têm al-ternativa nenhuma. Faz a maior pena!Elas agora vivem cobrando: “Quando é quevai ter mais aula?” As mães não queriamdeixar elas participarem, mas elas fugiam,participavam, tomavam o lanche e corri-am de volta para casa.

***

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Fala Egbé 9DESTAQUE

Para mim foi muito bom e muito im-portante, pois através da oficina consegui-mos levar a comunidade até o Terreiro. Issofoi muito importante porque até hoje a co-munidade procura o Terreiro para saber setem alguma oficina em vista, e, com essaprocura, estamos trabalhando na idéia deelaborar outra oficina, mesmo sem custo, queé para manter a integração da comunida-de, que sempre foi nosso objetivo.

RESGATANDO CONHECIMENTOSTRADICIONAIS

corte costura e ampliar os cursos que éum outro sonho: um curso de informáticapara criança e um curso de l ínguayorubá para os jovens. A gente precisatambém resgatar essa coisa que está seperdendo. Não importa a nação, a gentetem que estar junto, um ensinando o quesabe ao outro.

RESULTADOS NA VIDA PRÁTICA

Em outro momento eu fazia distribui-ção de alimentos, o que era muito impor-tante, mas agora, a minha realização foiouvir, depois das oficinas: “Oh! D. Marle-ne, eu ganhei dinheiro porque fiz ‘tantastoalhas”. Nós agora estamos ensinando aspessoas a ganharem dinheiro para comprarseu alimento.

Eu tive muita resistência com o pessoal emrelação ao material de reciclagem e aí a gen-

te está colocando outros materiais, não a gar-rafa pet, mas alguns outros para ver se a genteamplia essa coisa de proteger a natureza,transformando o nosso lixo em coisas bonitas.

Mãe Marlene, Vintém de Prata.

***Eu estou achando excelente. Tem muita

utilidade para mim porque eu posso até ga-nhar um dinheirinho em cima disso. [Res-pondendo a pergunta sobre o que estavaachando do curso de bordado].

Rita, aluna do curso de bordado doManso Dandalungua Cocuanzenza.

***Eu estou achando excelente, principal-

mente porque eu vou trabalhar com isso, fa-zer, vender.

Luzia, aluna do curso de bordado doManso Dandalungua Cocuazenza.

Encerramento da Oficina de Direito ao Meio Ambiente no Terreiro de Jauá

Ekede Geogina, Coordenadora das oficinas debordado (bainha aberta) no Ilê Axé Taoyá Loni.

Ekede Sinha, Casa Branca

O que está sendo feito ou planejado pelaCasa para manter ou ampliar os resulta-dos alcançados é a busca de recursos paraque possamos continuar com o curso de

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Fala Egbé

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10 UM TERREIRO, UMA HISTÓRIA

Ilê Axé Ibiri Omin Airá – Terreiro Vintém de PrataO Ilê Axé Ibiri Omin Airá ou Terreiro

Vintém de Prata, como é mais conhecido,foi fundado em 18 de maio de 1987, pelaIyalorixá Marlene Rodrigues da Silva, fi-lha de dona Belanísia Rodrigues da Silvaque foi iniciada por Carmosina do Terrei-ro de Ogum, localizado no bairro de San-ta Rita. Iyá Marlene teve seu primeirocontato com o candomblé aos doze anosde idade. Coube a sua tia, Dalva de Oxum,acompanhá-la em seu aprendizado religi-oso, interrompido ao completar a maiori-dade e iniciar seus estudos na Universida-de Federal da Bahia (UFBA), no curso dematemática. Foi ainda na universidade queIyá Marlene, nessa época com 22 anos,ingressou no serviço público, no Ministé-rio da Fazenda.

O aprendizado do culto foi retomadonão mais com Mãe Dalva que alegou pro-blemas de saúde para continuar. O cha-mado dos orixás na vida da Iyá Marlenelhe trazia sofrimentos até ela encontrar oIlê Axé Oxumarê, na época sob direçãoda Iyá Nilzete de Iemanjá. Esta deu con-tinuidade aos seus ensinamentos, porémdois anos depois de chegar a Roça, IyáNilzete veio a falecer. Em seu lugar assu-mia Babá Silvanilton de Oxumaré.

Os percalços em sua trajetóriainiciática não impediram Iyá Marlene decumprir sua missão junto aos orixás. Suasatividades começaram, inicialmente, nobairro de Acupe de Brotas, em sua pró-pria residência. Mesmo antes de findarseu primeiro ano de funcionamento, jáacolhia uma dezena de pessoas que iam àprocura de seus serviços.

O lugar em Acupe era muito peque-no, além de não possuir barracão, oumesmo área verde. Após três anos de tra-balhos, com o aumento do volume depessoas circulando naquele local, a neces-sidade de buscar um espaço mais amplofoi crescendo.

Em janeiro de 1990, a Iyá Marlenecomprou um sítio na Estrada Velha doAeroporto, km 10,5 e para lá transferiuo Candomblé. Um lugar muito agradá-

vel, rico em vegetação, bem arborizado,bastante amplo e, portanto com as condi-ções propiciais para construir a estruturafísica da Roça. Assim começou o trabalhocom a construção dos quartos dos santos:Exu, depois Ogum e a dos Eguns; viriamdepois os quartos de Oxossi e Nanã.

Por muito tempo e em função das di-ficuldades financeiras ficamos sem cons-truir o barracão. As festas e iniciações queaconteceram nesse período eram realiza-das em Barracões de palha de coqueiroque montávamos perto das celebrações.

O VINTÉM DE PRATA E ACOMUNIDADE

A ausência do Barracão não impediua Roça, estabelecer vínculos e desenvol-ver diversos trabalhos com a comunida-de. No primeiro momento éramos pro-curados no Vintém para orientações naárea de saúde: chás, ervas e outras pres-crições apreendidas, por Iyá Marlene, deseus antigos, ou do Caboclo Ubirataiaquando realizava suas sessões.

Esse laço de confiabilidade se expan-diu com os adolescentes do local a procu-ra de livros para trabalhos escolares e re-forços de matemática. Foi quandoorientamos três jovens da região para se-leção do concurso da polícia militar quevieram a obter êxito. Não obstante a roçasempre teve, entre seus filhos e filhas, vá-rias pessoas da área de educação e de di-versas áreas; o que abria mais possibilida-des de aproximação para fins de estudos.

A falta de perspectiva para os jovensda comunidade era algo muito forte. Adistância dos centros urbanos dificultavaa busca de alternativas para estudo e/ouengajamento em movimentos e organi-zações sociais. O grupo de jovens daComunidade Santo Agostinho, vincula-da a Paróquia Santa Mônica, era a únicareferência de organização e aglutinaçãodeste público, porém não desenvolvia tra-balhos sociais na comunidade, apenas acatequese.

Em 2001, os laços estabelecidos comos jovens, nos possibilitaram iniciarmosum trabalho de coleta seletiva de lixo nacomunidade. Armazenamos grandequantidade de material não perecível naRoça, porém não encontramos uma al-ternativa para encaminhar este material.

Ainda com os jovens encontramosvárias nascentes de rios em diversos tre-chos da Estrada Velha do Aeroporto ondeainda existia resquícios de Mata Atlânti-ca secundários. Iniciamos umamobilização envolvendo, inclusive, mo-radores na Rua Mucambo (próximo aobairro de Nova Brasília), no sentido deimpedir construções imobiliárias por con-ta do risco de afetarem aquelas nascen-tes. No entanto, as obras foram autori-zadas pelo CRA, frustrando nosso desejode intervenção.

Neste mesmo ano de 2001, estabele-cemos parceira com o CEAFRO, que vi-nha oferecendo cursos profissionalizantespara adolescentes. Encaminhamos vári-os da comunidade e de áreas adjacentes.Em 2002, realizamos um almoço benefi-cente para arrecadar fundos para Roça.Dentre as várias atrações tivemos a exi-bição de uma peça teatral com o tema “Arelação política com a sociedade”, orga-nizada por jovens da Roça. Esses mes-mos jovens realizarm uma performancesobre a vida de Mãe Zumira, em seus 96anos, Mameto do Manso DandalunguaCocuazenza. Em dezembro deste mesmoano, realizamos um evento para marcar asemana do 20 de novembro. Nessa ativi-dade aconteceram brincadeiras infantis ea inauguração da biblioteca da Roça,quando tivemos exibição filmes e a pre-sença do cineasta Póla Ribeiro (atualmen-te diretor do IRDEB).

O Vintém garantiu participação nasmobilizações que ocorreram na cidade deSalvador em torno do combate a Intolerân-cia Religiosa. Dentre as várias participaçõesvale registrar o ingresso na caravana que foiao Congresso Nacional organizada peloDeputado Federal Luis Alberto.

* Axogun do Vintém de Prata

*Lúcio André Conceição

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Fala Egbé 11AVALIAÇÃO E ENCAMINHAMENTOS

Com a oração de abertura a cargo deMãe Helenice, do Ilê Axé Omin Jobá, eao som dos atabaques dos alunos da ofi-cina de toque realizada em seu Terreiro.Assim teve início a última reunião de2007 dos Terreiros de Candomblé aten-didos pelo programa Egbé TerritóriosNegros.

A exemplo da reunião realizada emagosto, esta também contou com o tra-balho e arte produzidos nas oficinas pro-movidas pelo projeto “Capacitação eapoio ao desenvolvimento de comunida-des negras tradicionais no Brasil”. Vári-as peças criadas nas oficinas foram expos-tas, bordado, costuras e entalhes emmadeira. Os monitores das oficinas fo-ram homenageados recebendo um certi-ficado de KOINONIA. Esse projeto é umco-financiamento da União Européia,EED e Christian Aid.

NÃO HÁ DESENVOLVIMENTOSEM LIBERDADE RELIGIOSA

O pastor Djalma Torres, da IgrejaBatista de Nazareth, membro do Conse-lho Inter-religioso do programa Egbé, fezum oração pedindo pela completa supe-

Almoço de Trabalho e Fraternidaderação da intolerância religiosa - um cla-mor que ganhou especial atenção naque-

Pastor Djalma Torres em oração pela superação da

Intolerância Religiosa

Mãe Helenice em oração inicial

le momento, em que se comemorava aSemana Consciência Negra.

Logo após o almoço, os participan-tes foram convidados a debater o tema“Desenvolvimento”, reunidos em peque-nos grupos. As reflexões de cada grupoforam apresentadas à plenária posterior-mente, oferecendo um quadro bastanterico de conceitos sobre o tema.

Praticamente todos os presentes con-cordaram que há espaço para o Candom-blé num mundo desenvolvido, uma vezque a religião preza pela igualdade e pelorespeito ao diferente, condições funda-mentais para o alcançar o desenvolvi-mento.

Mais de 120 pessoas compareceramao Almoço de Trabalho e Confraterni-zação, em que foi lançada a nova ediçãodo informativo Fala Egbé.

A oração de encerramento, feita aosom dos atabaques, foi coordenada porLuciano, do Manso DandalunguaCocuazenza.

Cânticos e toques de atabaques na oração de encerramento, pelo Manso Dandalungua Cocuazenza.

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12 Fala Egbé

Esta publicação foi produzida com apoio da União Européia. O conteúdo desta publicação é da exclusiva responsabilidade de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço e não pode, em caso algum, ser tomado como expressão das posições da União Européia.

APOIO

PARCERIA

Este informativo é produzido pelo Programa Egbé – Territórios Negros de KOINONIA PresençaEcumênica e Serviços. Dirigido às comunidades negras urbanas de Candomblé e às redes desolidariedade civil e ecumênica.

EDITORIA: Jussara Rêgo e Rafael Soares de Oliveira

REDAÇÃO DE ATIVIDADES: Jussara Rêgo, Lucimar Novaes, Elga Lessa. Mara Vanessa Dutra e

Manoela Vianna.

SECRETÁRIO EXECUTIVO DE KOINONIA:

INFORMES

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Rafael Soares de Oliveira

REVISÃO: Helena Costa e Manoela Vianna

PROJETO GRÁFICO: Martha Braga

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E IMPRES-

SÃO: Fast Design

FOTOS: Arquivo de Koinonia

E-mail: [email protected]

ISSN: 1981-7568

Fala Egbé ..... informativo no 15 ..... abril de 2008

Lista dos Terreiros Presentes no Encontro do dia 24 de novembro de 2007

Axé Abassá de Ogum

Casa Branca

Centro Espírita Caboclo Itapoá

Ila Jibemie

Ilê Asé Oyá Alafumbí

Ilê Axé Abacá de Amaze

Ilê Axé Alarabidê

Ilê Axé Araka Togun

Ilê Axé Ayrá (Ilha de Mar Grande)

Ilê Axé Ewé

Ilê Axé Gezubum

Ilê Axé Giroqueme

Ilê Axé Jagun Bomin

Ilê Axé Jagun Bomin

Ilê Axé Jfokan

Ilê Axé Jifulú

Ilê Axé Jitolobi

Ilê Axé Loyá

Ilê Axé Oba Tony

Ilê Axé Odé Tolá

Terreiro de Oxum (Caminho de Areia)

Terreiro dos Filhos de KambaranguajeTerreiro Guizo Mutalambô Junçara

Terreiro Gurebetã Gome Sogboadã

Terreiro Ilê Axé Ibá LuganTerreiro Junçara Kondirê

Terreiro Kawizidi Junçara

Terreiro Moitumbá Junçara

Terreiro Mucundeuá

Terreiro MutalemimTerreiro Olufanjá

Terreiro Oxossi Talami

Terreiro Oyá MatambáTerreiro Pena Branca

Terreiro Tuumba Junçara

Terreiro Tuumbaengongo Sara

Terreiro Vintém de Prata

Terreiro Viva Deus Bisneto

Terreiro Viva Deus Filho

Unzó Awiizidi Junçara

(em negrito, os terreiros que compareceram pela primeira vez)

Ilê Axé OjuirêIlê Axé Olufan Anancidê OminIlê Axé Omin DólarIlê Axé Omin FunkóIlê Axé Omin J’ObáIlê Axé Omin LandêIlê Axé Omin LandêIlê Axé Omin LonanIlê Axé Omin NijáIlê Axé OmindêIlê Axé Oxossi TalamiIlê Axé Oyá ToláIlê Axé Taoyá L’oniIlê Axé TobominIlê Yá YalodeidêIlê Yiá OsshumKanzuá Monaleucí Un’Guinzo D’UnzambiManso Dandalungua CocuazenzaÑzo Sassaganzuá Mono GuiamazeOmin NitáTerreiro Caboclo Catimboiá

Un i t ed Chu rch o f Canada

(UCC)

U n iã o E u r o p é i a