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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Grupo de Estudos Monetários e Financeiros (GEMF) Av. Dias da Silva, 165 – 3004-512 COIMBRA, PORTUGAL [email protected] http://gemf.fe.uc.pt CARLOS FONSECA MARINHEIRO A Política Orçamental em Portugal entre Duas Intervenções do FMI: 1986-2010 ESTUDOS DO GEMF N.º 25 2013 PUBLICAÇÃO CO-FINANCIADA PELA Impresso na Secção de Textos da FEUC COIMBRA 2013

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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Grupo de Estudos Monetários e Financeiros

(GEMF) Av. Dias da Silva, 165 – 3004-512 COIMBRA,

PORTUGAL

[email protected] http://gemf.fe.uc.pt

CARLOS FONSECA MARINHEIRO

A Política Orçamental em Portugal entre Duas Intervenções do FMI: 1986-2010

ESTUDOS DO GEMF N.º 25 2013

PUBLICAÇÃO CO-FINANCIADA PELA

Impresso na Secção de Textos da FEUC COIMBRA 2013

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A política orçamental em Portugal entre duas

intervenções do FMI: 1986-2010

Carlos Fonseca Marinheiro* †

Professor Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,

Grupo de Estudos Monetários e Financeiros (GEMF) e Vogal do Conselho das Finanças Públicas

Novembro de 2013

Texto preparado no âmbito do projecto de investigação “1986- 2010: A economia

portuguesa na União Europeia”. Uma versão anterior foi apresentada na

conferência final do projecto no Auditório de Serralves, Fundação de Serralves,

Porto, a 5 de Julho 2012. URL: www3.eeg.uminho.pt/economia/nipe/economiaportuguesa/

Resumo

Entre 1986 (adesão à União Europeia) e 2010 (ano anterior ao terceiro pedido de assistência

financeira externa), Portugal apresentou défices orçamentais persistentes. A combinação entre

a consequente acumulação de dívida e a década de 2000 de estagnação económica culminou

na perda súbita de acesso a financiamento externo, tornando inevitável um pedido de

assistência financeira externa em 2011, o terceiro desde o restaurar da democracia em 1974. A

acumulação de desequilíbrios orçamentais ocorreu mesmo em períodos caracterizados por

dinamismo económico e por um ambiente externo favorável, como o que se seguiu à adesão,

ou no período que antecedeu a criação do euro. A ausência de vontade política de consolidar

as finanças públicas em períodos de expansão económica acabou por resultar na necessidade

de prosseguir uma política orçamental restritiva nos períodos de contracção da economia,

ampliando esse efeito recessivo, e assim dificultando a própria consolidação orçamental,

obtendo-se o pior resultado possível.

A resolução de forma permanente deste problema de política económica necessita de uma

profunda reforma do enquadramento orçamental, que impeça a repetição destes erros de

política, bem como de reformas estruturais que ampliem o potencial de crescimento da

economia portuguesa e assim sustentem a necessária consolidação orçamental.

Abstract

Between the accession to the European Union (in 1986) and 2010 Portugal showed persistent

budget deficits. The resulting debt accumulation combined with the 2000’s decade of

economic stagnation culminated in a sudden stop of external financing, making a request for

external financial assistance in 2011 unavoidable, for the third time since the restoration of

democracy in 1974. The accumulation of budgetary imbalances has occurred even during

periods of economic vitality and under favourable external environment, such as the period

following accession, or the period previous to the creation of the euro. The absence of political

will to consolidate the public finances during economic expansions lead to the need of

following a restrictive fiscal stance during economic contractions, increasing the recessive

effect, and ultimately jeopardising the fiscal consolidation itself, attaining the worst possible

outcome.

The definitive resolution of this economic policy problem requires a comprehensive reform of

the budget framework to prevent the repetition of such policy errors, as well as structural

reforms that increase the potential growth of the Portuguese economy to sustain the necessary

fiscal consolidation.

Keywords: Portugal, Fiscal policy, public debt | JEL codes: E61, E62, H60

* As opiniões aqui expressas são exclusivamente as do autor, não representando as do Conselho das Finanças

Públicas. † Informação de contacto: e-mail [email protected]; URL http://www4.fe.uc.pt/carlosm.

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Índice

1 Introdução ................................................................................................................................................ 1

2 A persistência de défices orçamentais ............................................................................................... 2

2.1 Acumulação de dívida pública ..................................................................................................... 6

2.2 A evolução da despesa com juros........................................................................................... 10

2.3 A evolução da receita e da despesa em termos agregados .............................................. 11

3 A evolução da despesa por categoria funcional (COFOG) ....................................................... 15

4 A orientação da política orçamental................................................................................................ 18

5 Enquadramento orçamental e conclusão ....................................................................................... 19

Índice de figuras

Gráfico 1 – Saldo global e saldo primário das administrações públicas (em % do PIB) – 1977-2012 ........... 2

Gráfico 2 – Saldo orçamental estrutural líquido de factores especiais (em % do PIB).................................... 5

Gráfico 3 –Dívida Pública bruta (definição de Maastricht, em % do PIB) ............................................................ 7

Gráfico 4 – Decomposição da variação anual da dívida pública bruta (em p.p. do PIB) – 1978-2011 ........ 7

Gráfico 5 – Evolução a longo prazo da dívida pública bruta (em % do PIB) ...................................................... 8

Gráfico 6 – Taxa de juro a longo prazo (%) ................................................................................................................ 9

Gráfico 7 – Peso dos encargos com juros da dívida pública no total da despesa das administrações

públicas ................................................................................................................................................................................ 10

Gráfico 8 – Comportabilidade da dívida ..................................................................................................................... 10

Gráfico 9 – Variação do peso da despesa no PIB (em p.p.) .................................................................................. 13

Gráfico 10 – Contributos para a variação do saldo estrutural (líquido de factores especiais em 2010 e

2011) .................................................................................................................................................................................... 14

Gráfico 11 – Despesa por classificação COFOG, 1990-2011 (em % do PIB) ................................................... 16

Gráfico 12 – Orientação da política orçamental (1986-2011) ............................................................................. 18

Índice de quadros

Quadro 1 – Variação da dívida pública portuguesa no período da UEM (milhões de euros) ......................... 9

Quadro 2 – Contabilidade nacional das receitas e despesas das administrações públicas ajustada de

medidas temporárias ou não recorrentes, líquidas de factores especiais (% do PIB) ..................................... 12

Quadro 3 – Receitas e despesas das administrações públicas em termos ajustados e a

preços constantes de 2012 ............................................................................................................................................. 12

Quadro 4 – Despesa por classificação COFOG (Portugal e países seleccionados da área do euro,

em % do PIB) ...................................................................................................................................................................... 16

Quadro 5 – Componentes da despesa em protecção social (em % do PIB) .................................................... 17

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1 Introdução

Este texto analisa, numa perspectiva de médio prazo, a evolução das finanças públicas

portuguesas entre duas intervenções do FMI: 1986-2010. O primeiro ano deste período

corresponde ao da adesão à União Europeia (então designada por Comunidade Económica

Europeia, CEE). O ano de 2010 é o último ano completo que antecede a solicitação do pedido

de assistência financeira (em Abril de 2011). Para melhor enquadrar essa evolução recua-se,

nalguns casos, a 1977, ano de início das séries estatísticas compiladas de acordo com o Sistema

Europeu de Contas Nacionais. Apresenta-se ainda alguns dos resultados parciais do programa

de ajustamento em curso (anos de 2011 e 2012), que terminará no 1.º semestre de 2014.

O período de 1986-2010 é caracterizado pela persistência de défices orçamentais e uma

consequente acumulação de dívida pública que culmina num pedido de assistência financeira

em 2011, o terceiro desde o restaurar da democracia em 1974. Acresce que essa acumulação de

desequilíbrios orçamentais ocorreu mesmo em períodos caracterizados por dinamismo

económico e por um ambiente externo favorável, tais como a baixa de preços de matérias-

primas (como o petróleo) imediatamente no pós-adesão à CEE ou a baixa das taxas de juro

resultante do processo de convergência para a moeda única. Efectivamente, esses períodos de

conjuntura favorável (ou de “vacas gordas”), não foram aproveitados para consolidar

estruturalmente as finanças públicas, não se tendo gerado excedentes primários persistentes. A

manutenção dos desequilíbrios orçamentais na década de 2000, caracterizada por um

crescimento económico quase inexistente, colocou a dívida numa trajectória insustentável,

levando à perda de acesso a financiamento externo.

Esta incapacidade de gerir as finanças públicas sem uma acumulação crescente de dívida

pública não permitiu criar a margem de manobra suficiente para que a política orçamental

pudesse actuar sistematicamente de forma contra-cíclica em períodos de não crescimento (de

“vacas magras”). Assim, a ausência de vontade política de consolidar as finanças públicas em

períodos de expansão económica acabou por resultar na necessidade de prosseguir uma política

orçamental restritiva nos períodos de contracção da economia, ampliando esse efeito recessivo,

e assim dificultando a própria consolidação orçamental, obtendo-se o pior resultado possível.

A resolução de forma permanente deste problema necessita de uma profunda reforma do

enquadramento orçamental, que impeça a repetição destes erros de política económica, bem

como de reformas estruturais que ampliem o potencial de crescimento da economia portuguesa

e assim sustentem a necessária consolidação orçamental.

A análise aqui desenvolvida não pretende ser exaustiva, não abordando questões igualmente

relevantes tais como a eficiência e eficácia da despesa pública, seja por uma limitação de espaço

como pela existência de outros contributos de elevada relevância como é o caso de

Departamento de Estudos Económicos (2009: cap. 6)1, Cunha e Braz (2012) 2 ou Afonso

(2013)3, entre outros.

1 Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal. (2009). A Economia Portuguesa no Contexto da

Integração Económica, Financeira e Monetária (p. 561). Lisboa: Banco de Portugal.

2 Cunha, J. C. da, & Braz, C. (2012). A Evolução da Despesa Pública: Portugal no Contexto da Área do Euro.

Boletim Económico do Banco de Portugal, (Inverno 2012), 23–40.

3 Afonso, António (2013), Anatomy of a Fiscal Débacle: The Case of Portugal. ISEG Economics Working Paper No.

01/2013/DE/UECE. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=2194556

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2 A persistência de défices orçamentais

Desde o restabelecimento da democracia em 1974 o sector institucional das administrações

públicas tem sistematicamente apresentado um montante de despesa em excesso da receita

obtida, o que resultou em significativas necessidades líquidas de financiamento anuais.4 Este

desequilíbrio verifica-se também em termos do orçamento primário, i.e. mesmo antes do

pagamento dos juros da dívida pública, não se revelando a receita sequer suficiente para fazer

face à despesa antes de juros (despesa primária). A única excepção é o período 1988-1992 em

que se verificou um significativo excedente primário, ainda assim insuficiente para fazer face

aos encargos com juros (Gráfico 1).5

Gráfico 1 – Saldo global e saldo primário das administrações públicas (em % do PIB) – 1977-2012

Fonte: INE. | Notas: Existe uma quebra de série em 1995 com a passagem do SEC79 para SEC95. A última actualização corresponde à notificação do procedimento de défices excessivos de Março de 2013.

Tomando como referência o limite máximo de 3% do PIB para o défice orçamental acordado

em Maastricht, em 1992, pode concluir-se que Portugal tem sistematicamente apresentado um

défice acima desse valor de referência. No ano da entrada na CEE, em 1986, a necessidade de

financiamento das administrações públicas ascendia a 7,4% do PIB. Em resultado do

crescimento económico subsequente a essa adesão o défice reduziu-se para 2,9% do PIB em

1989, mas logo em 1990 voltou a aumentar para valores superiores a 6% do PIB. Em 1995

iniciou-se uma trajetória de redução do défice com o objectivo de qualificação para a

participação na moeda única (em 1999). Contudo, se utilizarmos as últimas séries temporais

disponíveis, revistas pelo INE, em conformidade com a nova base 2006 de contas nacionais e o

actual perímetro de consolidação das administrações públicas, verifica-se que o défice ficou

acima desse limite de 3% do PIB na totalidade do período subsequente à introdução do euro,

4 A fonte dos dados das administrações públicas corresponde aos valores apresentados no reporte do Procedimento

dos Défices Excessivos (PDE) de Março de 2013 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Os valores

apresentados a partir do ano de 1995 (inclusive) são coerentes com a actual base 2006 das contas nacionais

portuguesas, que por sua vez seguem as normas do Sistema Europeu de Contas Nacionais de 1995 (SEC95). Os

valores anteriores a 1995 encontram-se compilados de acordo com o normativo do SEC79, pelo que existe uma

quebra de série nesse ano.

5 O défice médio entre 1999 e 2010 foi de 5% do PIB (4% até 2008).

7,4

3,1

2009; -10,2-12,0

-9,0

-6,0

-3,0

0,0

3,0

6,0

19

77

19

78

19

79

19

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00

20

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20

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20

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20

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20

10

20

11

20

12

Saldo global (PDE)

Saldo Primário

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não obstante o recurso a medidas temporárias ou não recorrentes de elevada magnitude

conducentes à redução do défice, particularmente nos anos 2002, 2003, 2004, 2008 e 2011. 6

Com efeito, para tentar cumprir o limite de 3% do PIB para o défice orçamental, Portugal

recorreu, a partir do início da década de 2000, de uma forma muito expressiva, a medidas não

permanentes.7 Entre 2000 e 2010, o recurso a este tipo de medidas conducentes à diminuição do

défice ascendeu, em termos acumulados, a 8,6 p.p. do PIB (a que acresceram mais 4,5 p.p. do

PIB nos anos de 2011 e 2012). Deve, no entanto, ser referido que algumas dessas operações

apesar de melhorarem o défice no ano em que foram realizadas, têm um impacto negativo na

despesa (ou receita) futura, como seja o caso das transferências dos activos e das respectivas

responsabilidades de diversos fundos de pensões ou a titularização de créditos fiscais. Contudo,

as regras do sistema de contas nacionais não obrigam ao registo dessas responsabilidades

futuras, pelo que este tipo de operações se traduz numa melhoria (transitória) da situação

orçamental registada do sector institucional das administrações públicas.

Em sentido oposto, nos anos de 2010 a 2012 a despesa das administrações públicas foi agravada

por um conjunto de factores especiais, que apesar de não revestirem as características de

medidas temporárias, pelo seu montante, têm um impacto significativo na evolução dos

agregados orçamentais, influenciando a sua análise.8 Em 2010, os factores especiais agravaram

o défice orçamental em 2,8 p.p. do PIB (o agravamento do défice por esta via foi de 2,2 p.p. do

PIB em 2011 e 2012). Descontado deste efeito, entre 2000 e 2010 o total acumulado de medidas

temporárias e não recorrentes líquido de factores especiais ascendeu a 5,6 p.p. do PIB (a que

acresceram 2,3 p.p. do PIB em 2011 e 2012).

Contudo, para além destes significativos valores, há ainda que referir a existência de outras

operações, decorrentes de fluxos com empresas públicas que, de acordo com as regras das

contas nacionais, são classificados enquanto receita, mas na perspectiva de análise económica

poderiam não o ser.9

6 As alterações estatísticas mais recentes reviram em alta o montante dos défices passados, designadamente por efeito

de alargamento do perímetro de consolidação com a integração da RTP e de empresas públicas de transportes

(REFER, Metros de Lisboa e Porto). A série encontra-se retropolada desde 1995 (inclusive).

7 As medidas temporárias e não recorrentes reduziram o peso do défice orçamental no PIB num total de 1,3% em

2002; 2,3% em 2003; 2% em 2004; 1,1% em 2008; 1,7% em 2010; 4% em 2011 e 0,5% em 2012. Em sentido oposto,

identifica-se um conjunto de factores especiais que agravaram o défice em 0,3% do PIB em 2008, 2,8% em 2010;

1,2% em 2011 e 1% em 2012. Ver o Relatório n.º 2/2013, de Abril de 2013, do Conselho das Finanças Públicas para

detalhes relativos aos anos de 2010 e 2011.

8 Segundo o Conselho das Finanças Públicas e o Banco de Portugal, inserem-se nesta categoria, a entrega de

submarinos em 2010, os custos decorrentes da nacionalização do Banco Português de Negócios, a garantia dada ao

Banco Privado Português, várias operações de capital na Região Autónoma da Madeira, a reclassificação estatística

de algumas parceiras público-privadas, entre outras.

9 São disso exemplo a venda de património a uma empresa pública (Estamo, S.A.) ou a distribuição de dividendos por

parte de empresas públicas, praticamente em simultâneo com injecções de capital do Estado enquanto accionista. Foi

o caso da Caixa Geral de Depósitos em 2008, que distribuiu ao Estado enquanto accionista 340 milhões de euros do

exercício de 2007, em Abril de 2008, quando o Estado nesse mesmo ano procedeu, em Agosto, a um aumento de

capital de 400 milhões de euros. Esta decisão beneficiou o défice de 2008 pois a distribuição de dividendos foi

registada enquanto receita corrente das administrações públicas, enquanto o aumento de capital constitui uma

operação financeira (aquisição de activos financeiros), sem expressão na despesa pública. Já em 2012, pelo contrário,

o aumento de capital da Caixa Geral de Depósitos foi reclassificado enquanto operação não financeira, tendo tido

impacto na despesa.

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A análise dos desenvolvimentos orçamentais na última década é ainda dificultada pelo recurso

crescente a práticas de desorçamentação, com a aparente justificação de promoção da eficiência

na gestão dos recursos públicos. Atente-se na transformação de hospitais do sector público

administrativo (SPA) em hospitais-empresa (iniciada em 2002) ou no recurso sistemático a

parcerias público-privadas (PPP) para a prossecução de projectos investimento de iniciativa

pública, nas vertentes rodoviária, ferroviária, construção de hospitais e até de sistemas de

comunicação para as forças de segurança. No primeiro caso, a transformação de um hospital

SPA em hospital-empresa traduz-se numa redução do consumo intermédio e das despesas de

pessoal das administrações públicas, por contrapartida de um aumento do valor das prestações

sociais em espécie no montante do contrato-programa assinado com esse hospital, o que induz

sucessivas quebras de série nas rubricas das despesas com o pessoal, prestações sociais e

consumo intermédio.10 Um segundo efeito desta transformação é o impacto não regular nas

contas públicas dos aumentos de capital dessas entidades efectuados pelo Estado na sua

qualidade de accionista (ou a realização por parte deste de transferências para regularização de

dívidas), com o objectivo de compensar a acumulação de défices nos hospitais-empresa. Esses

aumentos de capital têm vindo a ser reclassificados como transferências de capital, tendo assim

impacto na despesa pública do ano em que são efectuados, e não nos anos em que as

correspondentes despesas foram realizadas nos hospitais-empresa.11 No entendimento do autor,

o processo de empresarialização poderia na mesma ter sido prosseguido sem este tratamento

estatístico. No caso das PPP, os projectos de investimento são escolhidos pelo Estado, mas ao

serem concretizados pelo parceiro privado não obrigam aquele ao desembolso (e respectivo

impacto na despesa de capital) do montante referente a esse investimento no(s) ano(s) de

construção.12 Os encargos são, no entanto, diluídos por um período até 35 anos e reflectidos no

consumo intermédio das administrações públicas.13

Todas estas operações dificultam a análise da evolução orçamental em Portugal, nuns casos por

influenciarem o nível da receita e/ou despesa, com impacto significativo no saldo orçamental,

noutros por influenciarem a composição da despesa.

Não obstante o recurso a estes expedientes, Portugal evidenciou no período após a introdução

do euro uma enorme dificuldade em cumprir os objectivos orçamentais pluri-anuais definidos

no Programa de Estabilidade, apesar de os mesmos terem sido revistos anualmente,

acomodando os sucessivos desvios. Tal deveu-se a um enquadramento orçamental

insuficientemente robusto, caracterizado pela predominância de uma visão de curto prazo,

centrada no orçamento anual e pela ausência de uma regra (numérica) para a despesa que

permitisse ancorar os limites para o défice e para a dívida impostos no Tratado de União

Europeia. É efectivamente a despesa a variável para a qual os erros de previsão a médio prazo

são mais fortes. De acordo com o Conselho das Finanças Públicas, a despesa realizada tem, em

10 Esses encargos passaram a ser incluídos no sector das empresas não financeiras. Ver a esse propósito a caixa 6.1 do

Relatório do Banco de Portugal de 2007.

11 Em termos de composição da despesa há igualmente uma distorção, uma vez que o aumento de capital é registado

na despesa de capital e não nos correspondentes agregados de despesa corrente onde a despesa seria registada se os

hospitais tivessem permanecido no sector público administrativo (despesas com pessoal e consumo intermédio).

12 Adicionalmente, o Estado recebeu à cabeça, em 2008, quase 500 milhões de euros decorrentes das novas

subconcessões rodoviárias das Estradas de Portugal a construir em regime de PPP, uma receita temporária que abateu

à outra despesa de capital nesse ano.

13 No entanto, em 2011 os activos de algumas PPP foram reclassificados enquanto investimento público, tendo

afectado o défice desse ano. Esta reclassificação é tratada como um “factor especial” neste texto.

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média, excedido os objectivos fixados no Programa de Estabilidade em 2,3 e 3,5 p.p. do PIB,

para o 3.º e 4.º anos de projecção respectivamente.14

Ajustando o saldo orçamental observado dos efeitos do ciclo económico e das referidas medidas

temporárias ou não recorrentes, líquidas de factores especiais, obtém-se o saldo estrutural

(líquido de factores especiais). O Gráfico 2 evidencia uma estimativa para esse indicador (não

directamente observável).15 As conclusões anteriores não são contudo muito alteradas. O défice

estrutural encontra-se sistematicamente acima de 4% do PIB no período 1977-2010, o que

significa que se tem situado muito acima do objectivo de médio prazo de um défice estrutural

máximo de 0,5% do PIB, definido em meados da década de 2000 pelo Governo português no

contexto do Pacto de Estabilidade e Crescimento e ao qual passará também a estar vinculado

nos termos do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e

Monetária (mais conhecido pela expressão Fiscal Compact). De referir que o défice estrutural

mais elevado desde 1977 foi registado em 2009, tendo ascendido a 8,9% do PIB. Tal reflectiu

uma política orçamental discricionária expansionista para tentar amortecer os efeitos da crise

(económica e financeira) internacional. Em 2010 ocorreu uma muito ligeira correcção desse

desequilíbrio. A aplicação do programa de assistência tem levado a uma significativa melhoria

do saldo estrutural que, contudo, ainda se encontra muito distante do referido objectivo de

médio prazo.

Gráfico 2 – Saldo orçamental estrutural líquido de factores especiais (em % do PIB)

Fonte: INE para o saldo orçamental e PIB não ajustados; Banco de Portugal e Relatório n.º 2/2013 do Conselho das

Finanças Públicas (2013) para as medidas temporárias, medidas não recorrentes e factores especiais.16 A estimativa

da componente cíclica é a da Comissão Europeia (base de dados AMECO, Maio de 2013). Estes valores, incluindo a

identificação das medidas temporárias para o período mais recente, encontram-se sujeitos a revisões.

14 Ver a este propósito a secção 3.3 do Relatório n.º 1/2012 do Conselho das Finanças Públicas, disponível em

www.cfp.pt/publications/8921.

15 Como se trata de uma variável não diretamente observável o seu cálculo não é consensual e encontra-se sujeito a

consideráveis revisões ao longo do tempo. Neste capítulo optou-se pela utilização dos valores estimados pela

Comissão Europeia, uma vez que os mesmos são utilizados de forma oficial para efeitos de verificação da

conformidade com o estabelecido no Tratado de Funcionamento da União Europeia e no Pacto de Estabilidade e

Crescimento.

16 Disponível em: www.cfp.pt/publications/analise-da-conta-das-administracoes-publicas-em-2012.

-6,6

1991-7,9

-4,0

2009-8,9

-8,3

2012-4,3

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4Saldo estrutural* Saldo primário estrutural*

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2.1 Acumulação de dívida pública

Antes da adesão, a persistência dos défices orçamentais, bem como significativos ajustamentos

fluxo-stock (por exemplo, os decorrentes da desvalorização do escudo) não totalmente

compensados pelos efeitos benéficos do crescimento económico, levaram a que o rácio da

dívida no produto em 1986 mais do que duplicasse face aos 27% do PIB verificados em 1977.

Assim, Portugal entrou na CEE em 1986 com um peso na dívida pública bruta no PIB de 57%

(de acordo com a série revista da dívida no conceito de Maastricht).

O período de crescimento económico que se seguiu à adesão traduziu-se num efeito dinâmico

(ou bola de neve) favorável, tendente à redução do rácio da dívida no produto. 17 A evolução da

dívida beneficiou ainda de significativos ajustamentos défice-dívida favoráveis, em parte

decorrentes do programa de privatizações entretanto iniciado. Assim, em 2000, o peso da dívida

no produto tinha-se reduzido para 51%. Contudo, a partir desta data retoma-se a tendência de

crescimento da dívida, destacando-se o forte acréscimo no período pós 2008, o que fez com que

a dívida pública tenha ascendido a um máximo histórico de 124% do PIB em 2012 (Gráfico 5).

Em resultado do decepcionante ritmo de crescimento económico na década de 2000, o efeito

bola de neve apresenta um forte contributo para o aumento do rácio da dívida desde 2001, uma

vez que o custo implícito da dívida foi superior ao crescimento da economia. Este efeito

dinâmico foi particularmente forte nos anos de 2012 (8% do PIB), 2011 (5% do PIB) e 2009

(4,3% do PIB). A sua magnitude ilustra a importância de a economia portuguesa conseguir

retomar um processo de crescimento económico significativo e reganhar credibilidade ao nível

da qualidade do crédito soberano, por forma a inverter esse efeito bola de neve e reconduzir a

dívida pública a uma trajectória que seja claramente sustentável.

Caixa 1 – Dinâmica da dívida pública

A necessidade de financiamento dos défices orçamentais resulta na acumulação de dívida pública. Esta acumulação

resulta da restrição orçamental inter-temporal, que abstraindo de financiamento monetário é dada por:

𝐷𝑡 = 𝐷𝐸𝐹𝑃𝑡 + 𝑟𝑡𝐷𝑡−1 + 𝐷𝑡−1 + 𝐴𝐽𝑡

Onde Dt é dívida no ano t, DEFPt o montante do défice primário, rt a taxa de juro nominal implícita da dívida e AJt o

ajustamento défice-dívida. Esta última parcela decorre essencialmente da aquisição (ou alienação) de activos

financeiros que não têm impacto no défice, tais como a aquisição de acções ou aumentos de capital em empresas com

viabilidade económica, ou alienação de acções no âmbito das (re)privatizações. O ajustamento défice-dívida decorre

ainda de diferenças de valorização da dívida (como as resultantes da variação da taxa de câmbio no caso de dívida

denominada em moeda estrangeira); e, em menor grau, da variação de créditos comerciais (excluídos da definição de

dívida de Maastricht, mas influenciando o défice).

Mais relevante para efeitos de análise é expressar essa restrição relativamente ao produto, representando os rácios do

produto em minúsculas e por t a taxa de crescimento nominal do PIB, a variação do rácio da dívida no ano t (dt) é

dada por:

∆𝑑𝑡 = 𝑑𝑒𝑓𝑝𝑡 +𝑟𝑡 − 𝛾𝑡1 + 𝛾𝑡

𝑑𝑡−1 + 𝑎𝑗𝑡

A evolução do rácio da dívida face ao produto depende assim de vários factores, designadamente do défice primário

anual, dos ajustamentos défice-dívida e da relação entre a taxa de juro implícita na dívida e o crescimento da

economia (efeito dinâmico ou bola de neve). Abstraindo dos ajustamentos défice-dívida, quando a taxa de juro da

dívida supera o crescimento nominal a variação do rácio da dívida no produto é superior ao rácio do défice

orçamental (e vice-versa). Nestas condições o rácio da dívida no PIB aumenta automaticamente mesmo com um

equilíbrio primário, donde resulta a designação de efeito bola de neve.

17 A Caixa 1 apresenta uma breve explicação relativa à dinâmica da dívida pública e aos conceitos relevantes. Em

toda esta secção utiliza-se o conceito de dívida de Maastricht, relevante para efeito de aferição do cumprimento dos

compromissos comunitários. Trata-se de um conceito de dívida bruta e consolidada das administrações públicas,

valorizada de acordo com o valor nominal. Exclui as acções e outras participações, os derivados financeiros e outros

débitos/créditos, designadamente as dívidas comerciais.

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7

Gráfico 3 –Dívida Pública bruta (definição de Maastricht, em % do PIB)

Gráfico 4 – Decomposição da variação anual da dívida pública bruta (em p.p. do PIB) – 1978-2011

Nota: Cálculos do autor com base nos dados apresentados nos gráficos anteriores. O ajustamento fluxo-stock é obtido por diferença.

O forte crescimento da dívida pública no período mais recente coloca em risco a sua

sustentabilidade, caso a trajectória ascendente não seja revertida no curto prazo. Nos últimos

quatro anos, a dívida pública tem vindo a atingir sucessivos máximos históricos da série iniciada

no ano económico de 1850-1851 (Gráfico 5). Numa análise de longo prazo, Marinheiro (2006)

encontrou evidência a favor da hipótese de sustentabilidade da dívida pública portuguesa no

período 1903-2003, que não era, contudo, mantida no subperíodo mais recente 1975-2003.18

Com base nos mesmos dados estatísticos, Correia et al. (2008), utilizando uma técnica que

permite lidar com coeficientes não constantes ao longo do tempo, encontraram subperíodos em

18 Marinheiro, C. F. (2006). The sustainability of Portuguese fiscal policy from a historical perspective. Empirica,

33(2-3), 155-179. DOI:10.1007/s10663-006-9013-0

27

57 53 5951

68 7284

94108

124

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20

40

60

80

100

120

140

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19

79

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19

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11

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12-10

-5

0

5

10

15

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19

78

19

79

19

80

19

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19

82

19

83

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19

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19

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19

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19

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19

89

19

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19

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19

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19

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19

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19

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19

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19

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19

99

20

00

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09

20

10

20

11

20

12

Ajust. déf-dívida Ef. Dinâmico (bola de neve)

Défice primário Variação dívida

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8

que o défice é sustentável e outros em que não o é.19 Em geral, após um período de défices

insustentáveis surge um novo regime que garante a sustentabilidade. O pedido de assistência

financeira de 2011 pode assim ser interpretado como a reacção à acumulação excessiva de

dívida. Atendendo, no entanto, ao montante acumulado de dívida, a reversão dessa trajectória

irá exigir significativos excedentes primários persistentes, o reganhar da credibilidade nos

mercados financeiros, bem como crescimento económico.

Gráfico 5 – Evolução a longo prazo da dívida pública bruta (em % do PIB)

Nota: A última observação respeita a 2012. | Fonte: Versão actualizada dos dados utilizados em

Marinheiro, C. F. (2006). The sustainability of Portuguese fiscal policy from a historical

perspective. Empirica, 33(2-3), 155-179. doi:10.1007/s10663-006-9013-0. Esta versão actualizada

encontra-se disponível em http://www4.fe.uc.pt/carlosm (área investigação), diferindo da versão

utilizada no artigo em função das reavaliações do PIB nominal entretanto efectuadas, que se

encontram aqui reflectidas desde o início da série em 1850-1851.

Considerando o subperíodo iniciado em 2000, já no decurso da moeda única, e a dívida em

termos absolutos, constata-se que o stock de dívida mais do que triplicou entre 2000 e 2012,

crescendo 235% (ou 143,5 mil milhões de euros), enquanto a riqueza produzida anualmente

apenas aumentou 39% em termos nominais (ou 46,6 mil milhões). A acumulação de sucessivos

défices orçamentais explica ¾ deste aumento. Em termos acumulados, os défices totalizaram

107,9 mil milhões de euros (dos quais 61,6 mil milhões corresponderam ao pagamento de juros

da dívida). Deve ser realçada a importância dos encargos com juros, reflexo da acumulação de

défices passados para a dinâmica da acumulação de nova dívida (o referido efeito bola de neve),

bem como a incapacidade de contrariar essa dinâmica com a geração de excedentes primários

(ver o Quadro 1).

Os ajustamentos défice-dívida têm também expressão neste subperíodo, particularmente durante

a vigência do programa de ajustamento em 2011 e 2012, com destaque para os apoios ao sector

financeiro (visíveis no aumento do stock de títulos), bem como para a acumulação de depósitos

(fruto da mecânica de libertação de tranches do programa e da necessidade de constituir um

buffer de liquidez para acudir a uma eventual súbita necessidade de capitalização do sector

financeiro). O stock de dívida líquida de depósitos da administração central no final de 2012 foi

de 114% do PIB.

19 Correia, M. D. R., Neck, R., Panagiotidis, T., & Richter, C. (2008). An empirical investigation of the sustainability

of the public deficit in Portugal. International Economics and Economic Policy, 5, 209-223. DOI: 10.1007/s10368-

008-0105-0.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1850

-185

1

1856

-185

7

1862

-186

3

1868

-186

9

1874

-187

5

1880

-188

1

1886

-188

7

1892

-189

3

1898

-189

9

1904

-190

5

1910

-191

1

1916

-191

7

1922

-192

3

1928

-192

9

1934

-193

5

1941

1947

1953

1959

1965

1971

1977

1983

1989

1995

2001

2007

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9

Quadro 1 – Variação da dívida pública portuguesa no período da UEM (milhões de euros)

2000-2010 2010-2012 2000-2012

(1) Défice orçamental 89 723 18 139 107 862

Défice primário 42 307 3 936 46 243

Juros 47 416 14 203 61 619

(2) Ajustamento défice-dívida 11 746 23 873 35 619

do qual: numerário e depósitos -1 398 11 448 10 050

do qual: títulos exceto acções 441 6 326 6 767

(3) Variação da dívida [(3)=(1)+(2)] 101 469 42 012 143 481

Por memória: Variação do PIB nominal 54 198 -7 613 46 585

Fontes: Banco de Portugal e INE. Cálculos constantes no Relatório n.º 2/2013

do Conselho das Finanças Públicas.

Como aqui evidenciado, a dívida representa o efeito de memória dos défices passados. A

acumulação de dívida pública, no passado e no presente, tem um impacto directo nas finanças

públicas futuras através da despesa com juros, limitando o espaço de manobra da política

orçamental para estabilizar a economia. Esta ligação, decorrente da restrição orçamental inter-

temporal, não parece ter sido totalmente internalizada pelos agentes políticos durante muito

tempo. A facilidade de financiamento dos défices orçamentais nos mercados internacionais que

a entrada no euro permitiu, removeu, na prática, um efeito disciplinador com que Portugal se

tinha defrontado quando detinha moeda própria no acesso a financiamento externo.20 21 Com

efeito, a diferença entre os custos de financiamento da República Portuguesa e da Alemanha

atingiu valores mínimos durante a década de 2000 até ao início da crise financeira em 2007.22

Gráfico 6 – Taxa de juro a longo prazo (%)

Fonte: BCE, Long-term interest rate for convergence purposes (10

years maturity) [códigos IRS.M.DE.L.L40.CI.0000.EUR.N.Z e

IRS.M.PT.L.L40.CI.0000.EUR.N.Z]. Última observação: Agosto

de 2013.

20 Verificou-se o mesmo efeito no tocante à acumulação de dívida pelo sector privado.

21 A importância do efeito disciplinador da ausência de financiamento no mercado externo é visível na redução do

peso da dívida na sequência do acordo de 1902 com os credores internacionais, resultante da crise de dívida de 1892.

No entanto, na análise desse período deve ter-se presente que o aumento de dívida para financiar a participação na

primeira Guerra Mundial provém de empréstimos de guerra concedidos pela Grã-Bretanha, no quadro de um acordo

negociado em 1916, e o restante de financiamento monetário interno, com um grande impacto na inflação.

22 Em Janeiro de 1995 o spread entre a dívida a longo prazo face ao Bund era de 4,2 p.p., reduzindo-se para 0,2 p.p.

em Janeiro de 1999, sendo praticamente nulo no início de 2005.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

01

-199

3

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2

01

-201

3

Spread Portugal vs Alem

Portugal

Alemanha

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10

Gráfico 7 – Peso dos encargos com juros da dívida pública no total

da despesa das administrações públicas

Fonte: INE. Cálculos do autor.

4,7

198620,1

199020,4

19987,5

20055,5

20105,8

20129,4

0

5

10

15

20

25

19

77

19

79

19

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91

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19

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19

99

20

01

20

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20

05

20

07

20

09

20

11

% d

a d

esp

esa

Gráfico 8 – Comportabilidade da dívida

Fontes: INE e Banco de Portugal. Cálculos do autor.

5

6

7

8

9

10

11

12

50 60 70 80 90 100 110 120 130

Juro

s/R

ece

ita

(%)

Dívida/PIB (%)

2000

20102009

20122011

2004

2.2 A evolução da despesa com juros

A forte redução dos custos reais de financiamento permitiu que o peso dos juros da dívida

pública na despesa pública se reduzisse substancialmente até 2005. O Gráfico 7 permite

constatar essa evolução. Entre 1977 e a adesão à então CEE, com a mais do que duplicação do

rácio da dívida, os juros, que

representavam menos de 5% do

total da despesa, passaram a

representar 1/5 desta. A

redução dos custos de

financiamento permitiu reduzir

esse peso para 5,5% do total da

despesa em 2005. Com o

agravamento entretanto

verificado, inicia-se em 2010

uma nova trajectória

ascendente: em 2010 os juros

corresponderam a 5,8% da

despesa (e a 9,4% em 2012).

Uma outra forma de analisar esta questão, preferida pelas agências de notação de risco, é

determinar qual é a percentagem da receita que tem de ser comprometida para assegurar o

pagamento dos encargos

correntes com a dívida. Um

valor superior a 10% não é

compatível com notação de

baixo risco de crédito. O Gráfico

8 ilustra essa evolução, em

paralelo com o rácio da dívida

desde 2000. Utiliza-se uma

escala invertida, pelo que uma

trajectória descendente

corresponde a uma evolução

desfavorável. No início deste

século XXI as baixas taxas de

juro (Gráfico 6) permitiram uma

melhoria neste indicador, não obstante o aumento do rácio da dívida entre 2000 e 2004.

Contudo, o efeito do aumento do stock (e em menor grau do custo do financiamento) é

claramente visível na forte deterioração constatada a partir de 2009.

O aumento do peso dos encargos com juros ilustra mais uma vez a conclusão de que a

acumulação de dívida reduz a margem de manobra discricionária do decisor de política

orçamental, ao pré-comprometer uma fatia cada vez maior da receita para o pagamento dos

encargos correntes com a dívida.

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11

Importa ainda analisar com maior detalhe a utilização dada às poupanças com juros no período

que antecedeu a criação do euro. Em termos absolutos, em 1991/1992 os juros da dívida pública

correspondiam a aproximadamente 10 mil milhões de euros a preços de 2012.23 Em 1995 o

dispêndio anual tinha-se reduzido para 7,4 mil milhões de euros e em 1999 correspondia a 4,5

mil milhões (ambos a preços constantes de 2012). Esta poupança com juros não foi, no entanto,

aproveitada para reduzir o défice orçamental. Antes pelo contrário, tal como veremos a seguir

em mais detalhe, a preços constantes, a despesa total aumentou, tendo esta poupança com juros

sido mais do que compensada por um acréscimo da despesa primária:

Entre 1992 e 1995 o acréscimo cumulativo de despesa primária (a preços constantes)

face ao nível de 1991/1992 foi de 13,3 mil milhões de euros superando em 2,3 vezes a

poupança cumulativa com juros no mesmo período (5,7 mil milhões de euros);

Entre 1992 e 1999 o acréscimo real cumulativo de despesa primária face ao nível de

1991/1992 foi de 65,3 mil milhões de euros superando em 2,7 vezes a poupança

cumulativa com juros no mesmo período (24,5 mil milhões de euros);

No período de qualificação para a moeda única, entre 1995 e 1999, o acréscimo

cumulativo de despesa primária face ao nível de 1995 (31,7 mil milhões de euros de

2012) superou em 3,8 vezes a poupança cumulativa com o pagamento de juros face ao

nível de 1995 (8,4 mil milhões).

2.3 A evolução da receita e da despesa em termos agregados

Em termos ajustados de medidas temporárias ou não recorrentes (e líquido de factores

especiais), o peso da despesa total do sector das administrações públicas no PIB apresentou uma

evolução crescente até 2010. O período pós-adesão acrescentou aproximadamente 10 p.p. do

PIB aos outros 10 p.p. acrescentados entre 1977 e 1986. Assim, em 2010 o total despesa

ajustada ascendia a 48,6 % do PIB, quando em 1977 representava 28,8% do PIB.24

A acumulação de défices orçamentais anteriormente descrita resultou de o crescimento da

despesa não ter sido totalmente acompanhado por idêntico incremento na receita. Com efeito, a

receita aumentou 8,5 p.p. do PIB entre 1986 e 2010, reflectindo a introdução do Imposto sobre o

Valor Acrescentado (em 1986) e a reforma da tributação directa (em 1988), com a criação do

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) e Colectivas (IRC). Verifica-se

igualmente um aumento, mais moderado, das contribuições sociais efectivas. Assim, a carga

fiscal passou de menos de ¼ do PIB em 1977 para aproximadamente 1/3 da riqueza produzida

em 2010.

23 Cálculos baseados na utilização do deflator do PIB. Por comparação o valor dos encargos com juros em 2012

ascendeu aos 7.265 milhões de euros.

24 Em termos não ajustados de medidas temporárias, não recorrentes e factores especiais, tais como a aquisição de

submarinos ou os efeitos da nacionalização do Banco Português de Negócios e do apoio ao Banco Privado Português,

a despesa ascendeu em 2010 a 51,5% do PIB. Nesse mesmo ano verifica-se a transferência do fundo de pensões da

Portugal Telecom com um efeito positivo na receita de quase 2,8 mil milhões de euros (1,6% do PIB).

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12

Quadro 2 – Contabilidade nacional das receitas e despesas das administrações públicas ajustada de medidas

temporárias ou não recorrentes, líquidas de factores especiais (% do PIB)

Nota: A carga fiscal corresponde à soma da receita fiscal e contribuições sociais efectivas, excluindo as contribuições sociais imputadas. Não se utilizou o ano de 1985 como referência para o período pré-adesão por o valor da outra despesa de capital ser

particularmente elevado (mais do dobro dos anos adjacentes), o que influenciaria as comparações. O racional para a escolha dos

subperíodos é o da divisão do período desde o início da série em 1977 e 2010, o último ano completo antes do programa de ajustamento, subdivido entre pré e pós-adesão em 1986. Apresentam-se igualmente os resultados parciais obtidos no âmbito do

programa de ajustamento, assinado em Maio de 2011, comparando 2010 com 2012 (o que corresponde aos anos completos de 2011

e 2012). | Fonte dos dados: ver Gráfico 2.

Quadro 3 – Receitas e despesas das administrações públicas em termos ajustados e a preços constantes de 2012

Nota: Valores ajustados de medidas temporárias ou não recorrentes, líquidas de factores especiais expressos a preços contantes de

2012, utilizando o deflator do PIB. A dívida pública e o PIB não têm qualquer ajustamento, que não o estarem igualmente expressos

a preços constantes. | Fonte dos dados: ver Gráfico 2.

1977-

1986

1986-

2010

1998-

2010

Receita Total 25,9 31,5 37,6 40,0 40,7 14,1 5,5 8,5 2,4 0,7

Receita corrente, da qual: 25,8 30,8 36,4 38,8 39,6 13,0 5,0 8,0 2,4 0,8

Carga fiscal 23,1 26,4 29,6 31,3 32,0 8,2 3,3 4,9 1,7 0,7

Receita fiscal 15,3 18,1 21,8 22,1 22,7 6,9 2,9 4,0 0,4 0,6

- Impostos indiretos 10,3 12,5 13,2 13,3 13,6 3,0 2,2 0,8 0,2 0,3

- Impostos diretos 4,9 5,6 8,6 8,8 9,1 3,9 0,7 3,2 0,2 0,3

Contrib. Sociais efetivas 7,7 8,0 7,8 9,1 9,1 1,4 0,3 1,1 1,3 0,0

Receitas de capital 0,2 0,7 1,2 1,2 1,1 1,0 0,5 0,5 0,0 -0,1

Despesa Total 28,8 38,9 41,5 48,6 46,6 19,9 10,2 9,7 7,2 -2,1

Despesa Primária 27,4 31,1 38,4 45,8 42,2 18,4 3,7 14,8 7,5 -3,6

Despesa Corrente Primária 23,5 26,5 32,5 42,1 39,9 18,6 3,1 15,6 9,6 -2,2

Consumo intermédio 2,7 3,1 4,1 4,7 4,6 2,0 0,4 1,6 0,6 -0,1

Despesas com pessoal 8,9 9,6 13,0 12,2 9,9 3,4 0,7 2,6 -0,8 -2,4

Prestações sociais 7,8 9,4 12,6 21,9 22,6 14,1 1,6 12,5 9,3 0,7

- Das quais em dinheiro 6,0 8,6 10,9 17,1 18,0 11,1 2,5 8,5 6,2 0,9

- Das quais em espécie 1,8 0,9 1,7 4,8 4,6 3,0 -0,9 4,0 3,1 -0,3

Subsídios 3,0 3,2 1,2 0,7 0,6 -2,3 0,2 -2,5 -0,5 -0,1

Outra despesa corrente 1,0 1,2 1,6 2,5 2,3 1,5 0,1 1,4 1,0 -0,3

Despesas de capital 3,9 4,5 5,9 3,7 2,3 -0,2 0,6 -0,8 -2,1 -1,4

- FBCF 2,6 3,0 4,7 3,0 1,8 0,4 0,4 0,0 -1,7 -1,2

Juros (PDE) 1,3 7,8 3,1 2,8 4,4 1,5 6,5 -5,0 -0,3 1,6

Saldo global (PDE) -2,8 -7,4 -3,9 -8,7 -5,9 -5,8 -4,6 -1,2 -4,8 2,7

Saldo Primário (PDE) -1,5 0,4 -0,8 -5,9 -1,5 -4,4 1,9 -6,3 -5,1 4,3

Dívida Pública 26,9 56,9 51,8 94,0 123,6 67,1 30,0 37,1 42,2 29,6

2010-

2012

Variação (p.p. do PIB)Níveis (% do PIB)

1977 1986 1998 20121977-

2010

Subperíodos2010

1977-

1986

1986-

2010

1998-

2010

Receita total 18,2 28,9 56,3 69,4 67,3 51,1 10,6 40,5 13,1 -2,1

Despesa total 20,2 35,7 62,1 84,4 77,1 64,2 15,5 48,7 22,3 -7,4

Despesa primária 19,3 28,5 57,5 79,5 69,8 60,3 9,2 51,0 22,1 -9,8

Juros (PDE) 0,9 7,2 4,6 4,9 7,3 3,9 6,2 -2,3 0,2 2,4

Saldo global (PDE) -2,0 -6,8 -5,8 -15,1 -9,8 -13,1 -4,8 -8,2 -9,2 5,2

Dívida pública 18,9 52,2 77,6 163,1 204,5 144,2 33,3 110,9 85,5 41,4

PIB 70,3 91,7 149,8 173,5 165,4 103,2 21,4 81,8 23,7 -8,1

Unidade: mil milhões EUR a

preços de 2012

Níveis Variação

1977 1986 1998 2010 20121977-

2010

Subperíodos2010-

2012

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13

Apesar do acréscimo relativo do peso da despesa no PIB no período pós adesão ser praticamente

idêntico ao do período anterior, verificam-se diferenças consideráveis entre esses dois

subperíodos em termos da composição do aumento da despesa (ilustrados no Gráfico 9):

A maior parte do aumento do peso da despesa no PIB no período anterior à adesão

(1977-1986) foi devido a um aumento dos encargos com os juros da dívida (6,5 p.p. do

PIB), resultado da quase duplicação do rácio da dívida pública nesse período; já o

aumento verificado na despesa primária foi relativamente menor (3,7 p.p.), e sobretudo

resultante do acréscimo dos encargos com prestações sociais que não em espécie.

Pelo contrário, no subperíodo após a adesão (1986-2010), Portugal beneficiou de um

decréscimo significativo dos encargos com juros (em 5 p.p. do PIB), tendo, no entanto,

a despesa primária aumentado 14,8 p.p. do PIB.

o A maior parte desse acréscimo na despesa primária deveu-se às prestações

sociais (12,5 p.p. do PIB), sobretudo prestações em dinheiro (tais como

pensões, subsídios de desemprego e outros apoios sociais). Verificou-se

também um acréscimo das prestações sociais em espécie (4 p.p. do PIB). Este

acréscimo foi em parte explicado pela já referida transformação de hospitais

do sector público administrativo em hospitais-empresa não classificados

dentro do perímetro das administrações públicas.25

o Aproximadamente metade deste acréscimo do peso da despesa primária no

PIB (7,5 p.p. do PIB) ocorreu no período após a introdução do euro. A maior

parte do aumento dos encargos com as prestações sociais também ocorre neste

período da UEM (9,3 p.p. dos referidos 12,5 p.p. do PIB do acréscimo do peso

das prestações sociais no período pós-adesão ocorre após 1998).

o A despesa de capital apresenta uma quebra neste período (particularmente

mais intensa após a introdução do euro), em parte por se tratar de uma rubrica

onde politicamente é mais fácil obter uma redução em períodos de

consolidação orçamental, bem como pelo recurso às PPP para a prossecução

dos objectivos de investimento de iniciativa pública.

Gráfico 9 – Variação do peso da despesa ajustada no PIB (em p.p.)

Fonte: Ver Gráfico 2.

25 O montante dos encargos com os contratos-programa assinados com os hospitais-empresa é classificado em

prestações sociais em espécie.

1,5

6,5

-5,0

1,6

18,4

3,714,8

7,5

Despesa primária

-3,6

19,9

10,29,7

7,2

-2,1-5

0

5

10

15

20

1977-2010 1977-1986 1986-2010 1998-2010 2010-2012

Despesa primária Juros Despesa total

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14

Menos usual é a leitura que pode ser obtida a partir do Quadro 3, que nos apresenta a preços

constantes do ano de 2012, em termos absolutos, as receitas e despesas (ajustadas) das

administrações públicas. Entre 1986 e 2010 a despesa primária aumentou 51 mil milhões de

euros em volume, enquanto a receita cresceu 40,5 mil milhões. O acumular de défices

orçamentais traduziu-se num aumento em volume de 110,9 mil milhões de euros da dívida de

Maastricht. Como medida de comparação, em 2010, o PIB em termos reais foi apenas 81,8 mil

milhões de euros mais elevado que em 1986.

Efectua-se agora uma análise em termos de dados estruturais, divididos em períodos

quinquenais a partir de 1986. Como ilustrado no Gráfico 10, a despesa primária estrutural

aumentou em todos os quinquénios até 2005, só tendo sido mais do que compensada por um

aumento da receita e pela redução de juros no período 1990-1995. Nos demais subperíodos até

2010, verificou-se um agravamento do défice estrutural (e uma estabilização no quinquénio

1995-2000, muito por via da já referida redução do peso dos encargos com os juros da dívida).

O agravamento do défice estrutural foi particularmente forte entre 2005 e 2010, pois ao

acréscimo de despesa primária estrutural juntou-se um agravamento dos encargos com juros e

uma redução da receita estrutural.

Gráfico 10 – Contributos para a variação do saldo estrutural (líquido de factores especiais em 2010 e 2011)

(em % do PIB)

Fonte: Ver Gráfico 2. Cálculos do autor.

Os quadros e gráficos apresentam ainda a coluna 2010-2012, que apresenta os resultados

conseguidos nos dois primeiros anos do programa de ajustamento (2011 e 2012). O programa

terminará em Junho de 2014. Trata-se assim de resultados ainda parciais desse programa. Os

valores ajustados apontam para uma melhoria do saldo primário em 4,3 p.p. do PIB, bem como

para uma menor melhoria do saldo global (2,7 p.p. do PIB), em resultado do crescente peso dos

juros decorrente do aumento do stock da dívida.26 Essa melhoria ficou sobretudo a dever-se a

uma redução do peso da despesa primária (em 3,6 p.p. do PIB) e a um aumento (em 0,7 p.p.) do

peso da receita no PIB. A diminuição da despesa primária encontra-se concentrada nas despesas

com pessoal e nas despesas de capital. A primeira resulta das medidas de redução de

26 Em termos não ajustados a melhoria do saldo orçamental entre 2010 e 2012 foi de 3,4 p.p. do PIB,

repartido entre diminuição de 4,1 p.p. do PIB da despesa e uma redução de 0,7 p.p. do PIB da receita, esta

última muito influenciada pela transferência de fundos de pensões em 2010.

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

1986-1990 1990-1995 1995-2000 2000-2005 2005-2010 2010-2012

Aumento receita estr. e redução juros Variação despesa primária estrutural

Variação saldo estrutural

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15

vencimentos aplicadas aos trabalhadores a exercer funções públicas, que se traduziram numa

redução progressiva de vencimentos até 10% e na suspensão do pagamento de até dois meses de

vencimento, correspondentes aos subsídios de férias e de Natal (o que resultou num corte

cumulativo e progressivo até 24% dos vencimentos mensais acima de €600). A suspensão de

subsídios foi revertida em 2013, na sequência do acórdão n.º 187/2013 do Tribunal

Constitucional.

Em termos estruturais, as actuais estimativas apontam para uma melhoria de 4 p.p. do PIB do

défice estrutural entre 2010 e 2012, resultante de uma redução da despesa primária estrutural em

5 p.p. do PIB. Deve, contudo, ter-se presente que este saldo não é directamente observável,

podendo ser sujeito a revisões, particularmente intensas quando é calculado em tempo real, e em

períodos de incerteza acerca da evolução futura da economia, como é o caso actual.27

Adicionalmente, poderão também ocorrer alterações na classificação de medidas temporárias e

não recorrentes, caso não seja encontrado um substituto para as medidas revertidas em 2013.

3 A evolução da despesa por categoria funcional (COFOG)

Seguidamente analisa-se a evolução da despesa repartida por categorias funcionais, com base na

classificação estatística da despesa por categoria funcional COFOG (do original Classification

of the Functions of Government).28 Este tipo de desagregação só se encontra disponível a partir

de 1990.29

Em termos de evolução temporal, verifica-se que para o acréscimo de 10,2 p.p. do PIB da

despesa ajustada entre 1990 e 2010 contribuiu sobretudo o aumento do peso da despesa com

protecção social (+9 p.p. do PIB), em saúde (+3,1 p.p. do PIB) e em educação (+2,3 p.p. do

PIB). O aumento da despesa com protecção social foi responsável por 92% do aumento da

despesa entre 1995 e 2010.

Em 2010, ajustando os efeitos das medidas temporárias, não recorrentes e factores especiais, a

componente com maior peso na despesa foi a protecção social (18% do PIB). Seguem-se os

serviços públicos gerais (que incluem os juros da dívida), a educação, a saúde e os assuntos

económicos (ver Quadro 4).

Comparativamente a outros países inseridos na área do euro (e com a média dessa área), nesse

ano de 2010 Portugal apresentava um peso no PIB da protecção social inferior à das três

maiores economias (Alemanha, França e Itália), mas superior à de Espanha. O mesmo sucedia,

embora em menor escala, relativamente à saúde. Já no tocante às despesas com a educação,

27 O cálculo do défice estrutural assenta numa estimativa para o hiato do produto e numa componente cíclica para o

saldo orçamental. A estimativa da Primavera de 2012 da Comissão Europeia, aqui usada como fonte, para o hiato do

produto para os anos de 2011 e 2012 é de -1,8% e -3,5% do produto potencial, respectivamente. Uma eventual

revisão futura tendente a reduzir o valor absoluto deste hiato teria como consequência uma alteração na repartição dos

valores observados em componente cíclica e componente estrutural, aumentando a estimativa do défice estrutural. 28 Trata-se de uma classificação desenvolvida pela OCDE e publicada pela divisão de estatísticas das Nações Unidas

(UNSD) em unstats.un.org/unsd/cr/registry/regcst.asp?Cl=4. As regras aplicáveis aos países europeus estão definidas

em Eurostat (2011). Manual on sources and methods for the compilation of COFOG statistics - Classification of the

Functions of Government (COFOG) - 2011 edition, disponível em:

http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/product_details/publication?p_product_code=KS-RA-11-013.

29 Os dados para o nível de desagregação mais elevado só se encontram disponíveis a partir de 1995. A total

comparabilidade temporal apenas se encontra garantida a partir dessa data. Apesar dos valores provisórios para

Portugal referentes a 2011 já se encontrarem disponíveis, considerou-se 2010 como o último ano da amostra por ser o

último ano para o qual é possível efectuar comparações internacionais.

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16

Portugal apresentava um peso no PIB significativamente mais elevado do que em qualquer

outro desses países (e relativamente à média da área do euro). O peso relativo também era

superior à média dos países do euro no caso dos serviços públicos gerais, defesa, segurança e

ordem pública. O total peso da despesa ajustada era 2,2 p.p. do PIB inferior à média da área

euro.

Gráfico 11 – Despesa por classificação COFOG, 1990-2011 (em % do PIB)

Notas: * valores da despesa de 2010 ajustados dos efeitos das medidas temporárias, não recorrentes e de factores especiais.

Existe uma quebra de série em 1995 motivada pela adopção do SEC95. Os juros da dívida são classificados nos serviços

gerais da administração pública (AP), G01. | Fonte: ver Quadro 4.

Quadro 4 – Despesa por classificação COFOG (Portugal e países seleccionados da área do euro, em % do PIB)

Notas: * valores da despesa de 2010 ajustados dos efeitos das medidas temporárias, não recorrentes e de factores especiais. Existe uma quebra de série em 1995 motivada pela adopção do SEC95. Os juros da dívida são classificados nos serviços gerais da

administração pública (AP), G01.

Fonte: EUROSTAT, “General government expenditure by function (COFOG), Last update 12.06.12, extracted on 01.07.12” e INE (dados actualizados em 2013, disponíveis em www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=cn_quadros&boui=95390542)

106 7

2,1

5,3G04- Assuntos

económicos

3,66,0 G07- Saúde 7,2 6,7

4,7 5,9 G09- Educação 7,0

9,0

G10- Protecção social

11,7

18,0

-5

5

15

25

35

45

55

G10- Protecção social

G09- Educação

G08-Desporto, recreação,cultura e religião

G07- Saúde

G06- Habitação e equip.colectivos

G05- Protecção doambiente

G04- Assuntos económicos

G03- Segurança e ordempública

G02- Defesa

G01- Serviços gerais da AP

G01-

Serviços

gerais da AP

G02- Defesa G03-

Segurança e

ordem

pública

G04-

Assuntos

económicos

G05-

Protecção

do

ambiente

G06-

Habitação e

equip.

colectivos

G07-

Saúde

G08-

Desporto,

recreação,

cultura e

religião

G09-

Educação

G10-

Protecção

social

Despesa

Total

1990 10,1 1,8 2,0 5,3 0,3 0,8 3,6 0,7 4,7 9,0 38,51995 8,7 1,7 1,6 5,0 0,5 0,6 5,4 1,0 5,6 11,7 41,92007 7,0 1,2 1,8 4,0 0,6 0,7 6,6 1,0 6,1 15,3 44,42010 8,4 2,0 2,0 5,0 0,6 0,6 6,8 1,1 7,0 18,0 51,52010* 7,1 1,5 2,0 4,0 0,6 0,6 6,7 1,1 7,0 18,0 48,7

Área do euro 17 6,7 1,4 1,8 4,9 0,9 1,0 7,5 1,2 5,1 20,5 50,9Alemanha 6,1 1,1 1,6 4,8 0,7 0,7 7,2 0,8 4,3 20,6 47,9Espanha 5,2 1,1 2,1 5,2 0,9 1,2 6,5 1,6 4,9 16,9 45,6França 6,9 2,1 1,7 3,4 1,0 1,9 8,0 1,5 6,0 24,2 56,6Itália 8,3 1,4 1,9 3,8 0,8 0,7 7,6 0,8 4,5 20,4 50,4

1990/2010* -3,0 -0,3 0,0 -1,3 0,3 -0,1 3,1 0,3 2,3 9,0 10,21995/2010* -1,6 -0,1 0,4 -0,9 0,1 0,0 1,3 0,1 1,4 6,3 6,81995/2007 -1,7 -0,5 0,2 -1,0 0,1 0,0 1,2 0,0 0,5 3,6 2,52007/2010* 0,1 0,3 0,2 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,9 2,7 4,4

Portugal

Outros países em 2010

Portugal: Variação (em p.p. do PIB)

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17

Quadro 5 – Componentes da despesa em protecção social (em % do PIB)

Fonte e notas: Ver quadro anterior.

A despesa com pensões (de velhice e em muito menor grau de sobrevivência) corresponde à

maior parte das despesas com protecção social e justificou quase ¾ do seu aumento verificado

no período em análise (Quadro 5). Entre 1995 e 2010, a despesa com protecção social aumentou

em 6,3 p.p. do PIB (3,6 p.p. até 2007 e os restantes 2,7 após 2007). As despesas com pensões

explicam a maior parte deste aumento (5,5 p.p.). Seguem-se, a grande distância os encargos com

o desemprego (0,6 p.p. do PIB), a família (0,5 p.p.) e a exclusão social (0,3 p.p. do PIB). É

interessante notar que o acréscimo verificado após 2007 (2,7 p.p. do PIB) não se ficou

sobretudo a dever a encargos acrescidos com subsídios de desemprego, mas à continuidade da

tendência de acréscimo de despesas com pensões (2,1 p.p.).30

Comparativamente aos outros países considerados, Portugal apresentava em 2010 um nível

relativo de despesa com pensões (12,8% do PIB) superior ao de Espanha (9,8%) e Alemanha

(11,9%), mas inferior ao de Itália (16,4%) e França (14,7%). O montante de despesa relativa a

prestações de desemprego era inferior à de todos esses países excepto Itália. Espanha e Itália

apresentavam uma despesa relativa com a família (abono de família e prestações similares)

inferior à realizada por Portugal.

30 Em termos de investigação futura importaria analisar em mais pormenor os factores subjacentes a esta evolução das

despesas com protecção social, incluindo o impacto do envelhecimento populacional, o que exige dados ainda mais

desagregados.

GF10 -

Protecção

social

GF1001-

Doença e

invalidez

GF1002-

Velhice

GF1003-

Sobrevivência

GF1004- Família,

descendentes ou

equiparados

GF1005-

Desemprego

GF1006-

Alojamento

GF1007-

Exclusão

social n.e.

GF1009-

Proteção

social n.e.

1990 9,0 : : : : : : : :1995 11,7 2,1 5,4 1,9 0,9 0,7 0,1 0,0 0,72007 15,3 1,2 9,3 1,5 1,3 1,0 0,0 0,3 0,72010 18,0 1,5 11,1 1,8 1,4 1,3 0,0 0,4 0,62010* 18,0 1,5 11,1 1,8 1,4 1,3 0,0 0,4 0,6

Área do euro 17 20,5 : : : : : : : :Alemanha 20,6 2,9 9,9 2,0 1,6 2,9 0,0 0,3 0,9Espanha 16,9 2,5 7,6 2,2 0,7 3,2 0,1 0,2 0,4França 24,2 3,0 13,2 1,5 2,4 1,9 1,1 0,8 0,2Itália 20,4 1,9 13,7 2,7 1,1 0,9 0,0 0,1 0,0

1990/2010* 9,0 : : : : : : : :1995/2010* 6,3 -0,6 5,7 -0,1 0,5 0,6 0,0 0,3 0,01995/2007 3,6 -0,8 3,8 -0,3 0,4 0,3 0,0 0,2 0,02007/2010* 2,7 0,2 1,8 0,2 0,1 0,3 0,0 0,1 0,0

Portugal

Outros países em 2010

Portugal: Variação (em p.p. do PIB)

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18

4 A orientação da política orçamental

De acordo com Heller (2005), “espaço orçamental” (em inglês fiscal space) pode ser definido

como «a margem no orçamento do Estado que permite que este possa proporcionar recursos

para um dado propósito sem com isso comprometer a sustentabilidade da sua posição financeira

ou a estabilidade da economia.»31 A evidência aqui apresentada permite concluir que em

Portugal não foi criado o espaço orçamental necessário. Antes pelo contrário, a falta de margem

de manobra orçamental, provocada pela acumulação excessiva de dívida pública, inviabilizou a

utilização sistemática da política orçamental para estabilizar a economia portuguesa.

Gráfico 12 – Orientação da política orçamental (1986-2011)

Notas: * Líquido dos efeitos dos factores especiais em 2010, 2011 e 2012. Cálculos do autor com base na estimativa

do hiato do produto e da componente cíclica da Comissão Europeia e demais fontes citadas no Gráfico 2. “POD anti-

clíclica” identifica os quadrantes onde a política orçamental discricionária é anti-cíclica. Uma variação positiva do

saldo primário estrutural líquido de factores especiais corresponde a uma política orçamental discricionária restritiva e uma variação negativa a uma orientação discricionária expansionista.

Com efeito, a orientação da política orçamental discricionária, tal como medida pela variação do

saldo primário estrutural não tem sido claramente anti-cíclica. Uma política anti-cíclica traduz-

-se numa deterioração do saldo primário estrutural quando o hiato do produto é negativo ou este

se deteriora (e vice-versa).32 A observação do Gráfico 12 permite concluir que

aproximadamente metade dos anos é caracterizada por uma orientação pró-cíclica (pontos

localizados no II e IV quadrantes). Em particular encontram-se vários anos em que se verifica

uma política restritiva numa conjuntura económica desfavorável (de “vacas magras”), o que se

traduz numa orientação restritiva pró-cíclica. Trata-se do resultado da falta de espaço

orçamental para prosseguir uma política expansionista, ou mesmo deixar actuar livremente os

estabilizadores automáticos, quando a economia o requereria. Contudo, não se construiu

suficiente espaço orçamental durante os períodos de conjuntura favorável.

31 Ver Heller, P. (2005). Back to Basics -Fiscal Space: What It Is and How to Get It. Finance & Development, 42(2).

Disponível em http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2005/06/basics.htm

32 No Gráfico 12 isso corresponde a pontos situados nos I e no III quadrante.

-6,0

-5,0

-4,0

-3,0

-2,0

-1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

-5,0 -3,0 -1,0 1,0 3,0 5,0

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IB)

Hiato do produto (% do PIB)

2009

2011

1986

1990

1993

2012

2010

POD anti-cíclica

POD anti-cíclica -6,0

-5,0

-4,0

-3,0

-2,0

-1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

-5,0 -3,0 -1,0 1,0 3,0 5,0

Variação do hiato do produto (p.p. do PIB)

2009

1993

1986

1990

1992

2010

2011

2012

POD anti-cíclica

POD anti-cíclica

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19

A falta de margem de manobra orçamental é melhor ilustrada pelo episódio de 2009. Nesse ano

foi decidida a maior expansão orçamental discricionária do período em análise (resultando numa

deterioração do saldo primário estrutural em 4,6 p.p. do PIB), fazendo com que a recessão nesse

ano em Portugal (-2,9%) fosse menos forte do que a registada no conjunto da área do euro

(-4,4%). Contudo, o elevado nível de dívida pública não o permitia, o que contribuiu para uma

súbita degradação da idoneidade creditícia da República, no contexto de uma crise de dívida

soberana iniciada na Grécia. Verifica-se então um aumento abrupto no custo de emissão de nova

dívida em 2010 e dificuldades crescentes na sua colocação a longo prazo, que culminam na

perda de acesso ao financiamento em mercado em 2011 e na necessidade de solicitar assistência

financeira à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional, em Abril desse ano. O acesso

a financiamento por parte do sector privado, também demasiado alavancado, foi também

afectado.

Estes desenvolvimentos na sequência dessa expansão orçamental ilustram a importância dos

decisores políticos criarem uma margem de segurança orçamental, que permita à política

orçamental desempenhar a sua função de estabilização da economia, sem que se corra o risco

dessa decisão colocar a dívida numa trajectória de insustentabilidade ou numa perda de acesso

ao financiamento em mercado, tanto por parte do Estado como por parte da economia

portuguesa. A criação de espaço orçamental requer necessariamente uma redução do peso da

dívida no produto e a obtenção de um saldo orçamental estrutural prudente, o que nas actuais

circunstâncias implica obrigatoriamente um excedente estrutural persistente.

5 Enquadramento orçamental e conclusão

A evolução das finanças públicas portuguesas aqui descrita evidencia a necessidade de uma

alteração estrutural da sua gestão. O processo orçamental tem vindo a ser caracterizado pelo

enfoque quase exclusivo no orçamento anual, não incorporando uma efectiva perspectiva

plurianual. Apesar da obrigatoriedade desde 1999 de elaboração do Programa de Estabilidade,

um instrumento plurianual de programação orçamental, por exigência europeia do Pacto de

Estabilidade e Crescimento, a concretização da trajectória conducente à eliminação do défice

orçamental aí definida foi sendo sucessivamente adiada, em cada actualização anual desse

Programa.33 Mesmo no curto prazo, alguns dos objectivos definidos para o défice do ano

seguinte apenas foram cumpridos com recurso a medidas temporárias e não recorrentes. Ao

nível interno, as Grandes Opções do Plano (GOP), previstas na Constituição, nunca revestiram o

papel de instrumento de programação orçamental. Assim, na prática, o processo orçamental

esteve quase exclusivamente focado na elaboração e execução do orçamento anual, não sendo

suficientemente enquadrado numa perspectiva de médio prazo. Apenas em períodos

subsequentes a grandes desequilíbrios orçamentais, como os dos anos de 2005 ou de 2009, é que

uma política orçamental, inevitavelmente restritiva independentemente da fase do ciclo

económico, tentou prosseguir objectivos plurianuais. É revelador que a opinião pública apenas

33 Este não cumprimento foi facilitado pela insuficiência do enquadramento comunitário, que não impõe qualquer

limite material à revisão anual dos objectivos do programa de estabilidade e pelo enfoque quase exclusivo no limite

para o défice fazendo com que, na prática, até à adopção, no final de 2011, do pacote legislativo europeu conhecido

por 6-pack, a dívida fosse o “critério esquecido” de Maastricht.

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20

se apercebeu da existência desse Programa de Estabilidade (conhecido como PEC) com as

sucessivas apresentações de pacotes de austeridade orçamental ao longo do ano de 2010.34

As dificuldades no cumprimento dos objectivos enunciados nas sucessivas actualizações anuais

do PEC denotam as insuficiências do processo orçamental.35 Apenas com a 5.ª revisão à lei de

enquadramento orçamental, em Maio de 2011, foi introduzido um quadro de programação

plurianual (ainda incipiente e até contraditório), bem como um objectivo de saldo estrutural em

linha com o objectivo de médio prazo definido no contexto europeu e a criação de uma entidade

independente – o Conselho das Finanças Públicas – para o monitorizar.36 Antes, em 2006, a

Assembleia da República criou a Unidade Técnica de Apoio Orçamental.37 Contudo, elementos

críticos para uma efectiva perspectiva de médio prazo, como uma regra abrangente de despesa

continuam largamente ausentes.38 Retrospectivamente, a existência de uma regra de despesa

poderia ter evitado que a redução dos juros, o aumento de receita decorrente da reforma fiscal

do final da década de 1980 e os aumentos cíclicos de receita, tivessem sido canalizados para o

crescimento da despesa primária em vez de serem destinados, como deveriam ter sido, à

redução do défice e da dívida pública.

A resolução de forma permanente do problema das finanças públicas necessita assim de uma

profunda reforma do enquadramento orçamental, que impeça, ou pelo menos dificulte, a

repetição de erros de política económica, bem como de reformas estruturais que ampliem o

potencial de crescimento da economia portuguesa e assim sustentem a necessária consolidação

orçamental.

34 Nesse período a comunicação social começou, de forma surpreendente, a designar cada um desses pacotes por PEC

seguidos de uma numeração romana: “PEC I” (actualização de 15 de Março de 2010 do programa de estabilidade

para 2010-2013), “PEC II” (pacote de medidas adicionais de consolidação orçamental apresentadas a 14 de Maio de

2010), “PEC III” (orçamento do Estado para 2011) e “PEC IV” (primeiro programa de estabilidade a ser apresentado

no âmbito do semestre europeu, na Primavera de 2011, que não chegou a ser enviado às instituições europeias em

virtude da sua rejeição pelo Parlamento e subsequente final antecipado da XI legislatura). Deve ter-se presente que

até 2010 (inclusive) a actualização anual do programa de estabilidade deveria ser entregue às instituições europeias

até 15 de Dezembro. A partir desse ano a actualização deverá ser entregue até ao final de Abril, integrando-se no

designado “semestre europeu”. Assim, o PEC entregue em Março de 2010 deveria ter sido entregue até 15 de

Dezembro de 2009, não o tendo sido à conta da tomada de posse do XVIII Governo Constitucional em 26 de Outubro

desse ano, tendo o Governo optado por dar prioridade à apresentação da proposta de orçamento para 2010 (em

Janeiro de 2010), o instrumento anual de programação, sem o devido enquadramento plurianual do programa de

estabilidade para o período da legislatura, que só apresentou dois meses mais tarde, em Março de 2010.

35 Adicionalmente, o processo orçamental tem apresentado um elevado grau de fragmentação (anualmente são

submetidos ao Ministério das Finanças mais de 600 orçamentos para análise e validação), assenta num sistema

contabilístico incompleto e não dispõe de informação crítica para avaliação do desempenho [Ver mais detalhes em

Ministério das Finanças (2012). “Orçamento do Estado para 2013 – Relatório”, Anexo A1, bem como no anexo I da

Lei n.º 64-C/2011, de 30 de Dezembro].

36 Lei n.º 22/2011, de 20 de Maio, quinta alteração à Lei n.º 91/2001, de 20 de Agosto (lei de enquadramento

orçamental).

37 Resolução da Assembleia da República n.º 53/2006, de 7 de Agosto.

38 A excepção é a regra de despesa incluída na revisão de 2011 do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que se aplica

a um subconjunto da despesa primária líquida de medidas discricionárias em matéria de receitas, cujo crescimento

não deverá exceder uma taxa abaixo da taxa de referência a médio prazo de crescimento do PIB potencial.

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ESTUDOS DO G.E.M.F. (Available on-line at http://gemf.fe.uc.pt)

2013-25 A Política Orçamental em Portugal entre Duas Intervenções do FMI: 1986-2010

- Carlos Fonseca Marinheiro 2013-24 Distortions in the Neoclassical Growth Model: A Cross-Country Analysis

- Pedro Brinca 2013-23 Learning, Exporting and Firm Productivity: Evidence from Portuguese Manufacturing and

Services Firms - Carlos Carreira

2013-22 Equity Premia Predictability in the EuroZone - Nuno Silva

2013-21 Human Capital and Growth in a Services Economy: the Case of Portugal - Marta Simões & Adelaide Duarte

2013-20 Does Voter Turnout Affect the Votes for the Incumbent Government? - Rodrigo Martins & Francisco José Veiga

2013-19 Determinants of Worldwide Software Piracy Losses - Nicolas Dias Gomes, Pedro André Cerqueira & Luís Alçada Almeida

2013-18 Despesa Pública em Educação e Saúde e Crescimento Económico: Um Contributo para o Debate sobre as Funções Sociais do Estado - João Sousa Andrade, Marta Simões & Adelaide P. S. Duarte

2013-17 Duration dependence and change-points in the likelihood of credit booms ending - Vitor Castro & Megumi Kubota

2013-16 Job Promotion in Mid-Career: Gender, Recession and ‘Crowding’ - John T. Addison, Orgul D. Ozturk & Si Wang

2013-15 Mathematical Modeling of Consumer's Preferences Using Partial Differential Equations - Jorge Marques

2013-14 The Effects of Internal and External Imbalances on Italy´s Economic Growth. A Balance of Payments Approach with Relative Prices No Neutral. - Elias Soukiazis, Pedro André Cerqueira & Micaela Antunes

2013-13 A Regional Perspective on Inequality and Growth in Portugal Using Panel Cointegration Analysis - Marta Simões, João Sousa Andrade & Adelaide Duarte

2013-12 Macroeconomic Determinants of the Credit Risk in the Banking System: The Case of the GIPSI - Vítor Castro

2013-11 Majority Vote on Educational Standards - Robert Schwager

2013-10 Productivity Growth and Convergence: Portugal in the EU 1986-2009 - Adelaide Duarte, Marta Simões & João Sousa Andrade

2013-09 What Determines the Duration of a Fiscal Consolidation Program? - Luca Agnello, Vítor Castro & Ricardo M. Sousa

2013-08 Minimum Wage Increases in a Recessionary Environment - John T. Addison, McKinley L. Blackburn & Chad D. Cotti

2013-07 The International Monetary System in Flux: Overview and Prospects - Pedro Bação, António Portugal Duarte & Mariana Simões

2013-06 Are There Change-Points in the Likelihood of a Fiscal Consolidation Ending? - Luca Agnello, Vitor Castro & Ricardo M. Sousa

2013-05 The Dutch Disease in the Portuguese Economy - João Sousa Andrade & António Portugal Duarte

2013-04 Is There Duration Dependence in Portuguese Local Governments’ Tenure? - Vítor Castro & Rodrigo Martins

2013-03 Testing for Nonlinear Adjustment in the Portuguese Target Zone: Is there a Honeymoon Effect? - António Portugal Duarte, João Soares da Fonseca & Adelaide Duarte

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Estudos do GEMF

2013-02 Portugal Before and After the European Union - Fernando Alexandre & Pedro Bação

2013-01 The International Integration of the Eastern Europe and two Middle East Stock Markets - José Soares da Fonseca

2012-21 Are Small Firms More Dependent on the Local Environment than Larger Firms? Evidence

from Portuguese Manufacturing Firms - Carlos Carreira & Luís Lopes

2012-20 Macroeconomic Factors of Household Default. Is There Myopic Behaviour? - Rui Pascoal

2012-19 Can German Unions Still Cut It? - John Addison, Paulino Teixeira, Jens Stephani & Lutz Bellmann

2012-18 Financial Constraints: Do They Matter to R&D Subsidy Attribution? - Filipe Silva & Carlos Carreira

2012-17 Worker Productivity and Wages: Evidence from Linked Employer-Employee Data - Ana Sofia Lopes & Paulino Teixeira

2012-16 Slovak Economic Growth and the Consistency of the Balance-of-Payments Constraint Approach - Elias Soukiazis & Eva Muchova

2012-15 The Importance of a Good Indicator for Global Excess Demand - João Sousa Andrade & António Portugal Duarte

2012-14 Measuring Firms' Financial Constraints: A Rough Guide - Filipe Silva & Carlos Carreira

2012-13 Convergence and Growth: Portugal in the EU 1986-2010 - Marta Simões, João Sousa Andrade & Adelaide Duarte

2012-12 Where Are the Fragilities? The Relationship Between Firms’ Financial Constraints, Size and Age - Carlos Carreira & Filipe Silva

2012-11 An European Distribution of Income Perspective on Portugal-EU Convergence - João Sousa Andrade, Adelaide Duarte & Marta Simões

2012-10 Financial Crisis and Domino Effect - Pedro Bação, João Maia Domingues & António Portugal Duarte

2012-09 Non-market Recreational Value of a National Forest: Survey Design and Results - Paula Simões, Luís Cruz & Eduardo Barata

2012-08 Growth rates constrained by internal and external imbalances and the role of relative prices: Empirical evidence from Portugal - Elias Soukiazis, Pedro André Cerqueira & Micaela Antunes

2012-07 Is the Erosion Thesis Overblown? Evidence from the Orientation of Uncovered Employers - John Addison, Paulino Teixeira, Katalin Evers & Lutz Bellmann

2012-06 Explaining the interrelations between health, education and standards of living in Portugal. A simultaneous equation approach - Ana Poças & Elias Soukiazis

2012-05 Turnout and the Modeling of Economic Conditions: Evidence from Portuguese Elections - Rodrigo Martins & Francisco José Veiga

2012-04 The Relative Contemporaneous Information Response. A New Cointegration-Based Measure of Price Discovery - Helder Sebastião

2012-03 Causes of the Decline of Economic Growth in Italy and the Responsibility of EURO. A Balance-of-Payments Approach. - Elias Soukiazis, Pedro Cerqueira & Micaela Antunes

2012-02 As Ações Portuguesas Seguem um Random Walk? Implicações para a Eficiência de Mercado e para a Definição de Estratégias de Transação - Ana Rita Gonzaga & Helder Sebastião

2012-01 Consuming durable goods when stock markets jump: a strategic asset allocation approach - João Amaro de Matos & Nuno Silva

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Estudos do GEMF

2011-21 The Portuguese Public Finances and the Spanish Horse

- João Sousa Andrade & António Portugal Duarte 2011-20 Fitting Broadband Diffusion by Cable Modem in Portugal

- Rui Pascoal & Jorge Marques 2011-19 A Poupança em Portugal

- Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria, Pedro Bação & Miguel Portela 2011-18 How Does Fiscal Policy React to Wealth Composition and Asset Prices?

- Luca Agnello, Vitor Castro & Ricardo M. Sousa 2011-17 The Portuguese Stock Market Cycle: Chronology and Duration Dependence

-Vitor Castro 2011-16 The Fundamentals of the Portuguese Crisis

- João Sousa Andrade & Adelaide Duarte 2011-15 The Structure of Collective Bargaining and Worker Representation: Change and Persistence

in the German Model - John T. Addison, Paulino Teixeira, Alex Bryson & André Pahnke

2011-14 Are health factors important for regional growth and convergence? An empirical analysis for the Portuguese districts - Ana Poças & Elias Soukiazis

2011-13 Financial constraints and exports: An analysis of Portuguese firms during the European monetary integration - Filipe Silva & Carlos Carreira

2011-12 Growth Rates Constrained by Internal and External Imbalances: a Demand Orientated Approach - Elias Soukiazis, Pedro Cerqueira & Micaela Antunes

2011-11 Inequality and Growth in Portugal: a time series analysis - João Sousa Andrade, Adelaide Duarte & Marta Simões

2011-10 Do financial Constraints Threat the Innovation Process? Evidence from Portuguese Firms - Filipe Silva & Carlos Carreira

2011-09 The State of Collective Bargaining and Worker Representation in Germany: The Erosion Continues - John T. Addison, Alex Bryson, Paulino Teixeira, André Pahnke & Lutz Bellmann

2011-08 From Goal Orientations to Employee Creativity and Performance: Evidence from Frontline Service Employees - Filipe Coelho & Carlos Sousa

2011-07 The Portuguese Business Cycle: Chronology and Duration Dependence - Vitor Castro

2011-06 Growth Performance in Portugal Since the 1960’s: A Simultaneous Equation Approach with Cumulative Causation Characteristics - Elias Soukiazis & Micaela Antunes

2011-05 Heteroskedasticity Testing Through Comparison of Wald-Type Statistics - José Murteira, Esmeralda Ramalho & Joaquim Ramalho

2011-04 Accession to the European Union, Interest Rates and Indebtedness: Greece and Portugal - Pedro Bação & António Portugal Duarte

2011-03 Economic Voting in Portuguese Municipal Elections - Rodrigo Martins & Francisco José Veiga

2011-02 Application of a structural model to a wholesale electricity market: The Spanish market from January 1999 to June 2007 - Vítor Marques, Adelino Fortunato & Isabel Soares

2011-01 A Smoothed-Distribution Form of Nadaraya-Watson Estimation - Ralph W. Bailey & John T. Addison

2010-22 Business Survival in Portuguese Regions

- Alcina Nunes & Elsa de Morais Sarmento

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Estudos do GEMF

2010-21 A Closer Look at the World Business Cycle Synchronization - Pedro André Cerqueira

2010-20 Does Schumpeterian Creative Destruction Lead to Higher Productivity? The effects of firms’ entry - Carlos Carreira & Paulino Teixeira

2010-19 How Do Central Banks React to Wealth Composition and Asset Prices? - Vítor Castro & Ricardo M. Sousa

2010-18 The duration of business cycle expansions and contractions: Are there change-points in duration dependence? - Vítor Castro

2010-17 Water Pricing and Social Equity in Portuguese Municipalities - Rita Martins, Carlota Quintal, Eduardo Barata & Luís Cruz

2010-16 Financial constraints: Are there differences between manufacturing and services? - Filipe Silva & Carlos Carreira

2010-15 Measuring firms’ financial constraints: Evidence for Portugal through different approaches - Filipe Silva & Carlos Carreira

2010-14 Exchange Rate Target Zones: A Survey of the Literature - António Portugal Duarte, João Sousa Andrade & Adelaide Duarte

2010-13 Is foreign trade important for regional growth? Empirical evidence from Portugal - Elias Soukiazis & Micaela Antunes

2010-12 MCMC, likelihood estimation and identifiability problems in DLM models - António Alberto Santos

2010-11 Regional growth in Portugal: assessing the contribution of earnings and education inequality - Adelaide Duarte & Marta Simões

2010-10 Business Demography Dynamics in Portugal: A Semi-Parametric Survival Analysis - Alcina Nunes & Elsa Sarmento

2010-09 Business Demography Dynamics in Portugal: A Non-Parametric Survival Analysis - Alcina Nunes & Elsa Sarmento

2010-08 The impact of EU integration on the Portuguese distribution of employees’ earnings - João A. S. Andrade, Adelaide P. S. Duarte & Marta C. N. Simões

2010-07 Fiscal sustainability and the accuracy of macroeconomic forecasts: do supranational forecasts rather than government forecasts make a difference? - Carlos Fonseca Marinheiro

2010-06 Estimation of Risk-Neutral Density Surfaces - A. M. Monteiro, R. H. Tütüncü & L. N. Vicente

2010-05 Productivity, wages, and the returns to firm-provided training: who is grabbing the biggest share? - Ana Sofia Lopes & Paulino Teixeira

2010-04 Health Status Determinants in the OECD Countries. A Panel Data Approach with Endogenous Regressors - Ana Poças & Elias Soukiazis

2010-03 Employment, exchange rates and labour market rigidity - Fernando Alexandre, Pedro Bação, João Cerejeira & Miguel Portela

2010-02 Slip Sliding Away: Further Union Decline in Germany and Britain - John T. Addison, Alex Bryson, Paulino Teixeira & André Pahnke

2010-01 The Demand for Excess Reserves in the Euro Area and the Impact of the Current Credit Crisis - Fátima Teresa Sol Murta & Ana Margarida Garcia

A série Estudos do GEMF foi iniciada em 1996.