Entrevista - António Lobo Antunes

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Entrevista a António Lobo Antunes 11-01-2011 1 Contributo para a dignidade da pessoa humana O repórter José Santos da revista Kiosk da Eskina , entrevista o escritor português António Lobo Antunes , para esclarecer como foi possível com a sua obra, contribuir para a dignidade da pessoa humana. J.S: Boa tarde, o meu nome é José Santos, sou repórter da revista Kiosk da Eskina. Pode falar-nos um pouco da sua autobiografia? L.A:Nasci em Lisboa em 1 de Setembro de 1942, sou escritor de ocupação, sou proveniente de uma família de alta burguesia , licenciei- me em Medicina e especializei-me em Psiquiatria. Exerci a profissão no Hospital Miguel Bombarda em Lisboa, mas dedico-me desde 1985 exclusivamente à escrita. J.S: Tem alguma experiência na vida que o tenha marcado e influenciado na sua obra literária? L.A:Sim, a experiência que tive em Angola na Guerra do Ultramar como Tenente e Médico do Estado Português durante vinte e sete meses (de 1971 a 1973) , marcou fortemente os meus três primeiros romances, apesar de se tratar de obras de ficção.  J.S: No seu entender , quais foram para si os seus principais trabalhos literários? L.A:Para mim os mais importantes foram: Memória de Elefante Os Cus de Judas As Naus Manual dos Inquisidores Eu Hei-de Amar Uma Pedra Sôbolos Rios Que Vão J.S: Em Julho de 2007, foi-lhe atribuído o Prémio Camões. O que significa para si receber este prémio? L.A:Para mim ou para qualquer escritor significa muito, porque este prémio é considerado o mais importante prémio literário destinado a galardoar um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra. J.S:Na sua opinião , acha que existe da parte dos governantes, nomeadamente da pasta da cultura, incentivo à leitura? L.A:Não, este pais é futebol , novelas e pouco mais.

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Entrevista a António Lobo Antunes

11-01-2011 1

Contributo para a dignidade da pessoa humana

O repórter José Santos da revista Kiosk da Eskina, entrevista o escritor português António Lobo Antunes, para esclarecer como foi possível com a suaobra, contribuir para a dignidade da pessoa humana.

J.S: Boa tarde, o meu nome é JoséSantos, sou repórter da revistaKiosk da Eskina. Pode falar-nos

um pouco da sua autobiografia?L.A:Nasci em Lisboa em 1 deSetembro de 1942, sou escritor deocupação, sou proveniente de umafamília de alta burguesia, licenciei-me em Medicina e especializei-meem Psiquiatria. Exerci a profissão noHospital Miguel Bombarda emLisboa, mas dedico-me desde 1985exclusivamente à escrita.

J.S: Tem alguma experiência navida que o tenha marcado einfluenciado na sua obra literária?

L.A:Sim, a experiência que tive emAngola na Guerra do Ultramar comoTenente e Médico do EstadoPortuguês durante vinte e setemeses (de 1971 a 1973), marcoufortemente os meus três primeiros

romances, apesar de se tratar deobras de ficção. 

J.S: No seu entender , quais forampara si os seus principais trabalhosliterários?

L.A:Para mim os mais importantes

foram:

Memória de Elefante Os Cus de Judas

As Naus

Manual dos Inquisidores

Eu Hei-de Amar Uma Pedra

Sôbolos Rios Que Vão

J.S: Em Julho de 2007, foi-lheatribuído o Prémio Camões. O que

significa para si receber esteprémio?

L.A:Para mim ou para qualquer escritor significa muito, porque esteprémio é considerado o maisimportante prémio literário destinadoa galardoar um autor de línguaportuguesa pelo conjunto da suaobra.

J.S:Na sua opinião, acha que existeda parte dos governantes, nomeadamente da pasta da cultura, incentivo à leitura?

L.A:Não, este pais é futebol, novelas e pouco mais.

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J.S:O que acha que deveria mudar da parte do governo?

L.A:Deveriam incutir nas escolas, 

mas também as famílias, o hábitode ler mais.

J.S:O que pensa das novastecnologias?

L.A:Embora pessoalmente continuea preferir o papel e a caneta, admitoque as novas tecnologias vieramdar um grande contributo, atémesmo para quem escreve livros ou

outra coisa qualquer.

J.S:Admite um dia vir a usar asnovas tecnologias, neste caso ocomputador?

L.A:Sim, porque não?

J.S:Com a sua obra, acha quecontribuiu para a dignidade dapessoa humana?

L.A:Com toda a certeza. Com o

livro ³ Manual dos Inquisidores´ com

o tema do antes e pós 25 de Abril, 

não me interessa contar uma

história mas expor o ser humano

que somos, onde uma única voz

interpreta a voz de todas

personagens. 

³O Manual dos Inquisidores´, na

continuidade dos anteriores, retrata

personagens que nos são próximas, 

não tanto pelo que viveram na

transição do regime político, mas

pela sua condição humana: a

vaidade, o poder , a frustração, a

resignação, a fraqueza, a desilusão, 

a sua soberania e o desamparo, a

ascensão e a degradação.

J.S:Quais são os ingredientesdesse livro ³O Manual dosInquisidores´?

L.A:São ingredientes que

misturados num caldo de factores

psicológicos e morais nos dão amatéria de que somos feitos, nós os

portugueses: com muita facilidade

nos podemos ver retratados, nos

reconhecemos nas personagens

que vão surgindo gradualmente, 

como que se apresentando umas às

outras.

J.S:É para si uma visão dasociedade portuguesa?

L.A:É uma grande visão da

sociedade portuguesa, uma imagem

muito profunda da segunda metade

do século vinte português.

J.S:Que mais nos pode dizer sobre

esse fabuloso livro?L.A:É um livro rico em fabulações, imagens e metáforas de toda aordem que faz a delícia do leitor quesó tem a ganhar com a sua leitura.Porque aprende.

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J.S:Gostaria de deixar algumincentivo para novos escritores?

L.A:Que escolham temáticas de

interesse social, porque toca mais ocoração de quem lê.

J.S:Projectos futuros?

L.A:Ainda não pensei nisso.

J.S:Em termos de literatura, quedesejo gostaria de ver realizado?

L.A:Um país mais cultural, e menosdesportivo.

J.S:O seu pensamento?

L.A:Viver um dia de cada vez.

J.S:Gostariade agradecer , por noster concedido esta entrevista àrevista Kiosk da Eskina.

L.A:Eu é que agradeço.

J.S:Definitivamente, aprendemos a

conhecermo-nos ao lermos António

Lobo Antunes. Somos nós que lá

estamos, antes e depois deste livro.

António Lobo Antunes

1http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Lobo_Antunes