EMPREENDEDORISMO EM ECONOMIAS EMERGENTES: …governo e iniciativa privada no longo prazo. O presente...
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XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de
2015
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EMPREENDEDORISMO EM ECONOMIAS EMERGENTES: EVOLUÇÃO DOS PEQUENOS
NEGÓCIOS BRASILEIROS CONFORME MODELO GEM.
Área temática: Ética e Responsabilidade Social
Eduardo Gomes
Mirela Conde
Resumo A representatividade dos pequenos negócios na economia nacional justifica o conjunto de instituições que se dedicam a compreender as particularidades deste universo, destacando-se neste contexto a relevância do modelo GEM que ao possibilitar o monitoramento dos dados, possibilita igualmente aos órgãos governamentais e outros atores relevantes nesta seara a identificação dos fatores críticos de sucesso para os pequenos negócios, apontando as oportunidades de melhoria que deverão ser objeto de investimento de governo e iniciativa privada no longo prazo. O presente artigo busca compreender os impactos do empreendedorismo na economia de países emergentes, cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, objetivando analisar a evolução das variáveis empreendedorismo e inovação no contexto brasileiro conforme modelo preconizado peloGlobal Monitor Entrepreneurship - GEM.
Palavras-chaves: Empreendedorismo; inovação; pequenos negocios; GEM
ISSN 1984-9354
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1. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
O empreendedorismo emerge do pensamento intelectual com a publicação de artigos e
livros na década de 1980, quando então o tema estava relacionado a uma habilidade para
poucos. Sua origem como experimento data, contudo, da década de 1960 quando David
McClelland, psicólogo da Universidade de Harvard (EUA), identificou em empresários de
sucesso um elemento psicológico marcante por ele intitulado “motivação da realização” ou
“impulso para melhorar”. Partindo deste pressuposto McClelland desenvolveu e testou até o
final dos anos 1970, em mais de 40 países, o treinamento da motivação para a realização,
objetivando melhorar esta característica e torná-la aplicável no ambiente empresarial. A
proposta original de McClelland apresentou resultados positivos na criação e ampliação de
empresas, e, passou a ser a base, em meados dos anos 1980, para o aprimoramento do
comportamento empreendedor, com a disseminação de sua metodologia ao redor do mundo
por meio do UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development.
Anteriormente, o economista austríaco Joseph Schumpeter, que se estabelecera em
Harvard ao final da Primeira Guerra Mundial, apresentara o paradoxo entre progresso e
destruição criativa, atribuindo o progresso à ação das empresas inovadoras por meio da figura
do empreendedor, sendo este, o agente da destruição criativa. Para Schumpeter (1982), é o
empreendedor quem impulsiona e mantém o sistema capitalista de produção através da
criação constante de novos produtos e mercados que substituem os métodos de produção
menos eficientes e mais caros.
Na economia mundial a atividade empreendedora no âmbito das micro e pequenas
empresas vem sendo acompanhada desde 1999 pelo projeto de pesquisa Global
Entrepreneurship Monitor (GEM), buscando compreender o papel do empreendedorismo no
desenvolvimento econômico dos países. No relatório executivo 2013, cuja amostragem
abrange 75% da população global e 89% do PIB mundial, é estimado que cerca de 40 milhões
de brasileiros, entre 18 e 64 anos possuam algum tipo de negócio1.
Tal reflexão tem particular relevância para o Brasil, cujos pequenos negócios foram
responsáveis por 27% do Produto Interno Bruto (PIB), riqueza esta produzida por
aproximadamente 9 milhões de micro e pequenas empresas, conforme informações do 1 Relatório Executivo GEM (IBQP, 2013, p. 19)
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Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE): instituição privada sem fins
lucrativos que tem a missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável
dos empreendimentos de micro e pequeno porte. A primeira medição, realizada pelo IBGE
em 1985, estimou em 21% a participação das MPEs no PIB brasileiro, enquanto as medições
subsequentes realizadas pela Fundação Getúlio Vargas por iniciativa do SEBRAE, aferiram
em 2001 o índice de 23,2% e em 2011, 27%2.
A preocupação com a subsistência das MPEs em âmbito local, justifica-se em função
dos impactos produzidos na atividade econômica, cabendo discutir os contornos da inovação e
suas possíveis implicações para as micro e pequenas empresas, não porque o tema é quase
exclusivamente pensado em relação às grandes organizações, mas também pelo peso que
aquelas têm em nossa economia, sem falar na relevância em aumentar a participação de
produtos e serviços com maior valor agregado na produção nacional.
Os fundamentos teóricos de McClelland e Schumpeter sob as vertentes
comportamental e instrumental do empreendedorismo embasam este artigo, cuja
argumentação assume como premissas a existência do empreendedorismo e a inovação como
variável impulsionadora do diferencial competitivo dos pequenos negócios.
O presente artigo busca, por meio de revisão na literatura e de pesquisa bibliográfica,
contextualizar o empreendedorismo no meio científico para compreender os impactos da
atividade empreendedora na economia de países emergentes, cuja base econômica está
alicerçada nos pequenos negócios, objetivando analisar a evolução das variáveis
empreendedorismo e inovação no contexto brasileiro conforme modelo preconizado pelo
Global Monitor Entrepreneurship, por concordar com a plenitude conceitual aposta na
décima edição da série histórica GEM, onde se afirma que
O empreendedorismo é basilar para o desenvolvimento sócio-econômico de um país, dado que é fundamental para a concepção de oportunidades de trabalho e é considerado um catalisador e um incubador do progresso tecnológico e de inovações de produto, serviços e de mercado. (MUELLER E THOMAS, 2000; JACK E ANDERSON, 1999 apud IBQP, 2010, p. 27)
1.1 EMPREENDEDORISMO: UMA PRÁXIS CONTEMPORÂNEA 2 Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Disponível em http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mt/noticias/Micro-‐e-‐pequenas-‐empresas-‐geram-‐27%25-‐do-‐PIB-‐do-‐Brasil
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A preocupação com a criação de empresas que consigam subsistir à velocidade da
mudança imposta pela globalização e a busca pela redução do alto índice de falência de novos
negócios constitui-se em um dos motivos pelos quais este tema assume uma abrangência
crescente no âmbito do governo, das entidades de classe, de instituições de apoio e da própria
academia (FILION, 1999; DORNELAS, 2008), fazendo com que o empreendedorismo seja
considerado uma alternativa factível para a sustentabilidade das empresas no século XXI.
A indicação de que o empreendedorismo se configurou como um importante
fenômeno sócio-econômico do final do século XX descende do seu caráter multidisciplinar e
transversal no domínio da pesquisa científica, onde são observados enfoques e abordagens
que perpassam pela medicina, psicologia, sociologia, filosofia, política, economia e
administração, entre outras áreas das ciências. Mediante o envolvimento de elevado número
de pesquisadores com o tema, surgem variados axiomas que formarão o pilar de sustentação
da teoria empreendedora, então emergente.
Os professores da Harvard Business School, STEVENSON e JARILLO (1990),
propõem os estudos de empreendedorismo sob três abordagens. Na primeira, elaborada pelos
economistas, o interesse transcende o empreendedor e suas ações, concentrando-se nos
resultados que as ações empreendedoras geram. Neste contexto insere-se o pensamento
economicista de SCHUMPETER (1982) revelando a importância dos empreendedores para
criação do “novo” (seja este um produto, um processo ou um mercado), onde, por meio da
integração do conceito de empreendedorismo com a inovação, ocorre o desenvolvimento
econômico.
Na segunda, sugerida por psicólogos e sociólogos, a ênfase no empreendedor como
indivíduo decorre de uma análise do seu passado, suas motivações, seu ambiente e seus
valores. A teoria comportamental de DAVID McCLELLAND (1967) integra este conjunto, e
fundamenta-se no resultado de suas pesquisas onde está apontado que a necessidade de
realização é o elemento central da motivação nas pessoas empreendedoras.
Em sua análise, McClelland além de revelar que os empreendedores mal sucedidos
têm carência de realização, identifica as características impulsionadoras, dentre elas:
iniciativa, persistência, saber aproveitar as oportunidades, qualidade, eficiência,
comprometimento, disposição para correr riscos de forma calculada, persuasão,
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independência, autoconfiança, além de trabalharem buscando informações e estabelecendo
redes de contatos, planejando e acompanhando os resultados.
A terceira abordagem é instituída por administradores e correlaciona-se com o
conhecimento sobre a amplitude das habilidades gerenciais e administrativas, ou seja, em
como os empreendedores apreendem seus objetivos, quais são os métodos, técnicas e
ferramentas utilizadas, como ocorre o processo de tomada de decisão, ou seja, em como lidam
e resolvem seus problemas.
HASHIMOTO (2006) faz referência à “essência do empreendedorismo” de
LONGENECKER et al (1998), que, segundo os pesquisadores americanos é atribuída a três
elementos intrínsecos à atividade empreendedora: a inovação, o risco e a autonomia.
Segundo DORNELAS (2008) e em convergência com o pensamento de McClelland, o
empreendedorismo não se configura como uma nova teoria administrativa pensada para
resolver os problemas empresariais. Ao contrário, apresenta-se como uma forma de
comportamento que engloba processos organizacionais permitindo à empresa trabalhar em
busca de um objetivo comum, ou seja, alinhado à missão e visão empresarial, identificando
novas oportunidades por meio da sistematização de ações internas focadas na inovação. O
pensamento de Dornelas é híbrido, tornando-se aderente tanto aos princípios de Stevenson e
Jarillo quanto aos ideais de Longenecker et al.
FILION (1999), DRUCKER (1986) e SHAPERO (1980) afirmam que criatividade e
inovação conduzem os empreendedores a um movimento contínuo de mudanças que visa o
crescimento e desenvolvimento de seus negócios, cuja organização dos recursos de forma
inovadora resulta em uma nova empresa.
A criatividade dos empreendedores, segundo Peter Drucker, nasce do
comprometimento com o exercício constante da inovação, que, em se constituindo numa
prática sistemática, provém de duas fontes: internas (ocorrências inesperadas, incongruências,
processos necessários, mudanças na indústria e no mercado) e externas (mudanças
demográficas, mudanças de percepção e novo conhecimento).
O ponto comum a todas elas, conforme Drucker é a relevância da informação, e assim
sendo, quanto maior o aproveitamento das informações que chegam à organização e quanto
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mais sistematizada sua busca e disseminação, maior a probabilidade de se aproveitar as
oportunidades de inovação.
Ao analisar o comportamento dos empreendedores em relação à inovação, Drucker diz
que:
“A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo
qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio
diferente ou um serviço. Os empreendedores precisam buscar, de forma
deliberada, as fontes de inovação, as mudanças, e seus sintomas que indicam
oportunidades para que uma inovação tenha êxito.” (2003, p. 25)
À multiplicidade de conceitos e definições sobre empreendedorismo produzidos nas
últimas décadas, torna-se relevante agregar sua origem, reportada à Idade Média, quando o
termo empreendedor passa a ser a alcunha do encarregado de projetos de produção em grande
escala. Com o passar do tempo, no Século XII, o empreendedor era a pessoa que assumia
riscos de lucro (ou prejuízo) em contratos de valor fixo com o governo. Contudo,
etmologicamente a palavra francesa entrepreneur significa “aquele que está entre” ou
“intermediário”.
Não obstante a complementaridade dos enfoques discorridos anteriormente, a
definição de BATEMAN e SNELL (1998) explicita com clareza a função intermediária do
entrepreneur, pois aquele que “está entre” a oportunidade e o mercado é quem identifica o
valor e transforma (processo ou produto) para atender a demanda. Neste ínterim, os autores
identificam como principais características e habilidades para o sucesso do empreendedor a
autoconfiança, a excelência, a liderança, a criatividade, a motivação e a tolerância a incertezas
e riscos.
1.1.2 MARCO TEÓRICO
O Babson College, instituição pesquisadora e disseminadora do empreendedorismo
localizada nos arredores de Boston, nos Estados Unidos da América, apregoa que o
empreendedorismo é um modo de pensar e agir obstinadamente em torno da oportunidade,
abrangente na abordagem e cujo diferencial decorre da proposta de criação de valor
(DORNELAS, 2008).
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Todavia, diferentemente de variados campos da pesquisa científica que possuem
marco teórico bem definido quanto à idealização do conceito e sua respectiva localização no
tempo e no espaço, a revisão da literatura demonstra que a gênese da terminologia
entrepreneurship é atribuída a pessoas, locais e argumentos distintos.
Schmidt e Bohnenberger (2009), informam que a palavra empreender – imprehendere
no latim medieval – tem origem anteriormente ao século XV e possui dentre seus
significados: tentar desempenhar uma atividade ou tarefa; pôr em execução.
Em Martinelli (1994, p. 476) encontra-se a informação de que no século XVI o termo
entrepreneur fazia referência ao “capitão que contratava soldados mercenários para servir ao
rei”. De maneira semelhante, Filion (1999, p. 18) relata tratar-se da “pessoa que assumia a
responsabilidade de dirigir uma ação militar”. Avançando no tempo, Martinelli (1994)
identifica no século XVIII uma nova aplicação para a terminologia, sendo os entrepreneurs os
atores econômicos que introduziam novas técnicas agrícolas ou arriscavam seu capital na
indústria, enquanto Filion (1999) revela uma definição similar, de pessoas que criavam e
produziam projetos ou empreendimentos.
Na narrativa de Gasalla (1999), os prenunciadores da abordagem no contexto da
atividade empresarial e da liderança, foram o francês Cantillon e o inglês Stewart no século
XVIII, sendo imputada a Cantillon a alcunha do neologismo entrepreneur, cujo significado
literal, conforme nota, é “empreendedor” e não “empresário”, este traduzido como chef
d’enterprise. Na visão do economista Richard Cantillon (LÉVESQUE, 2004; ZEN e
FRACASSO, 2008), o empreendedor capitalista caracteriza-se pela capacidade de enfrentar o
desafio do risco imposto pela economia de mercado através do uso da racionalidade, mediante
a natureza da incerteza.
Nota-se que a partir do século XVIII a evolução do termo ocorre perifericamente à
atividade empresarial, e é no século XIX com o surgimento da Escola Empreendedora, que o
economista Jean-Batiste Say (DRUCKER, 1986) relaciona o empreendedor com o indivíduo
que transfere recursos econômicos de um setor com baixa produtividade para outro com
produtividade superior, aproximando-se do parâmetro estabelecido para os dias atuais.
No século XX, a alusão à figura do entrepreneur ressurge com a produção intelectual
do economista austríaco Joseph A. Schumpeter, quando então associa o empreendedor ao
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desenvolvimento econômico no livro ”Capitalismo, socialismo e democracia”, publicado em
1942. Schumpeter, em sua análise sobre o sistema econômico vigente - o capitalismo -
introduz o conceito de “destruição criativa” fundamentando-se no princípio que a criação do
“novo” depende da destruição do “velho”, e ao agente propulsor deste movimento ele
denomina empreendedor.
Enquanto o pensamento economicista de Schumpeter ganha repercussão mundial ao
relacionar o desenvolvimento econômico à inovação – seja pela introdução de novos recursos
ou pela combinação diferenciada dos recursos produtivos já existentes – em meados do século
XX a teoria empreendedora começa a ser observada por outras áreas das ciências, e no âmbito
comportamental, o psicólogo norteamericano David McClelland estabelece como
entrepreneurship a “atitude psicológica materializada pelo desejo de iniciar, desenvolver e
concretizar um projeto, um sonho” (LEITE e MELO, 2008, p. 37), caracterizando o perfil
empreendedor.
1.2 ATIVIDADE EMPREENDEDORA CONFORME MODELO GEM
A notoriedade conquistada cientificamente pelo empreendedorismo ultrapassa as
fronteiras das universidades e ganha então importância na medição das evidências e dos
reflexos deste sobre a atividade econômica, e o próximo passo acontece com a consolidação
de um sistema de análise do empreendedorismo sobre as nações.
Com este intuito, no final do século passado estrutura-se o projeto de pesquisa Global
Entrepreneurship Monitor – GEM, coordenado internacionalmente por um consórcio
composto pelo Babson College, Universidad Del Desarrollo, Reykjavík University, London
Business School e Global Entrepreneurship Research Association (Gera), e operacionalizado
na esfera nacional pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP).
O projeto GEM abrangeu ao longo de 15 anos, mais de 100 países em diferentes
estágios na escala de classificação econômica, revelando que a riqueza gerada e medida pelo
PIB possui correlação direta com a atividade empreendedora, sendo esta atividade mensurada
“pelo número de pessoas dentro da população adulta de um determinado país envolvida na
criação de novos negócios” (IBQP, 2010, p. 5), e cuja identificação ocorre por meio de pesquisa
quantitativa com uma população na faixa etária entre 18 e 64 anos.
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Torna-se relevante ressaltar que em 2002, a motivação dos empreendedores iniciais foi
institucionalizada como um dos pilares de sustentação da pesquisa, alinhado pois com a teoria comportamental
de McClelland, embasada na motivação para a realização – achievement motivation, e, desde então, vem
sendo monitorada anualmente por meio da classificação dos empreendedores orientados por:
oportunidade, quando motivados pela percepção de um nicho de mercado em potencial; ou
necessidade, quando motivados pela falta de alternativa satisfatória de trabalho e renda. A
primeira “reflete o lado positivo da atividade empreendedora nos países”, afirma o relatório
executivo, pois representa a “porção de empreendedores que iniciou sua atividade para
melhorar sua condição de vida ao observar uma oportunidade para empreender” (IBQP, 2008,
p.6). Na segunda categoria encontram-se as pessoas que empreendem como uma opção para a
subsistência, e nesse caso, o empreendedorismo é considerado uma ferramenta para o
desenvolvimento.
A avaliação do empreendedorismo na perspectiva GEM considera as seguintes etapas do processo
empreendedor: o momento em que o potencial empreendedor expressa a intenção de iniciar uma empresa, a
criação e manutenção dessa empresa em suas fases iniciais (nascentes e novas), ou quando esta já é considerada
estabelecida (Figura 1):
Figura 1: O processo empreendedor segundo definições adotadas pelo
GEM
Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 22)
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Como pode ser observado na figura 1, as características do indivíduo são consideradas
a parte propulsora do contexto empreendedor, e não por acaso encontram-se descritas como
atributos do potencial empreendedor. A existência do conjunto de atributos (vê oportunidades,
conhecimento/habilidades, não ter medo do fracasso e atitude positiva) impulsionará o
empreendedor para os estágios seguintes (intenções, nascentes, novos e estabelecidas) quando
então passa a sofrer influências da postura da sociedade e do ambiente institucional de
maneira crescente.
A figura 1 contém também os elementos do principal indicar do modelo GEM de
mensuração da atividade empreendedora, denominado TEA - Taxa de Empreendedorismo em
Estágio Inicial, cujo resultado é calculado com base na proporção de pessoas adultas com
idade entre 18 e 64 anos desempenhando atividades empreendedoras classificadas como
negócios nascentes ou empreendedores à frente de novos negócios com menos de 24 meses
de existência, expresso no seguinte conjunto de características (IBQP, 2013, p.29):
• Empreendedores nascentes estão envolvidos na estruturação de um negócio
do qual serão proprietários, mas que ainda não pagou salário, pró-‐labores ou
qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três
meses.
• Empreendedores novos administram um novo negócio do qual são
proprietários, negócio este que pagou salários, pró-‐labores ou qualquer outra
forma de remuneração aos proprietários por mais de três e menos de 42
meses. Esses dois tipos de empreendedores são considerados
empreendedores iniciais ou em estágio inicial.
• Empreendedores estabelecidos administram e são proprietários de um
negócio estabelecido que pagou salários, pró-‐labores ou qualquer outra
forma de remuneração aos proprietários por mais de 42 meses.
O modelo igualmente monitora o indicador TEE – Taxa de Empreendedores
Estabelecidos, possibilitando acompanhar a evolução dos negócios que superam os 3,5 anos
de existência.
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Há que se advertir que a terminologia “negócio” não é aqui apresentada como
sinônimo de empresa, pois conceitualmente, empresa pressupõe a formalização do negócio
junto aos órgãos competentes. Neste ínterim, o relatório GEM 2013 (p. 72) aborda a
formalização dos empreendimentos segundo duas vertentes: 1 considera qualquer tipo de
registro formal (cadastro na prefeitura, junta comercial, secretaria de agricultura ou receita
federal);2 considera apenas o fato de possuir ou não o CNPJ.
Um importante avanço implementado a partir de 2009 foi o agrupamento dos países
em três níveis de economia, para efeitos comparativos sobre o desenvolvimento do
empreendedorismo, expresso no quadro 1:
FACTOR-DRIVEN EFFICIENCY-DRIVEN INNOVATION-DRIVEN
As economias impulsionadas por fatores são dominadas pela agricultura de subsistência e negócios extrativistas, com uma forte dependência do trabalho e dos recursos naturais.
Nas economias impulsionadas pela eficiência o desenvolvimento é caracterizado pela industrialização e pelos ganhos em economias de escala, com predominância de grandes organizações intensivas em capital.
À medida que o desenvolvimento avança, os negócios são mais intensivos em conhecimento e o setor de serviços se expande, caracterizando as economias impulsionadas pela inovação.
Quadro 1 – Fases do Desenvolvimento Econômico conforme Relatório de Competitividade Global Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2012, p. 20)
As características dos empreendimentos também passaram a ser monitoradas pelo
GEM e analisadas de acordo com o estágio inicial ou estabelecido, enfocando cinco aspectos,
dentre os quais serão abordados a formalização, o faturamento e a inovação.
Cabe ressaltar que a série histórica GEM possui outros indicadores e análises que não
serão objeto de estudo do artigo em questão.
2. OBJETIVO
Compreender os impactos do empreendedorismo na economia de países emergentes,
cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, e como objetivos específicos:
1) Analisar a evolução da atividade empreendedora no Brasil no período 2002/2013;
2) Analisar a variável ‘inovação’ no contexto dos pequenos negócios brasileiros;
3) Analisar a posição brasileira no ranking dos países participantes da pesquisa GEM
2013.
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3 MÉTODO
Trata-se de pesquisa aplicada, pois tem o intuito de produzir saber para
aproveitamento na prática, sendo direcionada para a resolução de problemas específicos. Em
função dos seus objetivos, a pesquisa é qualitativa por traduzir e expressar o sentido dos
fenômenos do mundo social, “reduzindo a distância entre indicador e indicado, entre teoria e
dados, entre contexto e ação” (MAANEN, 1979, p. 520). Configura-se como uma pesquisa
descritiva por abordar características de determinado fenômeno em uma população,
estabelecendo relações entre variáveis ao longo do tempo (GIL, 1999). Quanto aos
procedimentos, a definição do estudo de caso é a que mais se aproxima dos fins a que se
pretende, visando “exame de um ambiente, de um sujeito ou de uma situação em particular,
promovendo o preenchimento de uma lacuna do conhecimento pouco explorado, buscando
compreender uma realidade que ocorre em uma dada situação” (ALVES-MAZZOTTI, 1999,
p.151).
4. RESULTADO: EVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
Dados apresentados no Relatório Executivo de 2013 demonstraram que em 2002, o
Brasil possuía 13,5% de empreendedores iniciais para 7,8% de empreendedores estabelecidos,
em cujo retrato constata-se uma impulsão maior quanto às iniciativas para abertura de um
negócio do que na manutenção. Em 2006 e 2012 observa-se um equilíbrio próximo a 12% e
15% respectivamente para ambos tipos de atividade empreendedora, sendo registrado em
2008 o único ano da série histórica em que os empreendedores estabelecidos superaram
aqueles em estágios iniciais.
Gráfico 1 – Evolução da atividade empreendedora segundo estágio do empreendimento: taxas – Brasil – 2002:2013
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Fonte: Relatório Executivo Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p.5)
Verifica-se no gráfico 1 que em 2010 e em 2013 o total de empreendedores alcançou o
ápice, com 32,3% da população adulta brasileira envolvida na criação ou administração de
negócios. Com a força de trabalho estimada pelo IBGE em 123 milhões de pessoas, com
idade entre 18 e 64 anos, chega-se ao volume de 21 milhões de empreendedores iniciais e 19
milhões de empreendedores estabelecidos, totalizando aproximadamente 40 milhões de
brasileiros vinculados à atividade empreendedora no país, em 20133.
O relatório 2013 evidencia que o crescimento brasileiro focado na ampliação do
mercado interno notado a partir de 2000, possibilitou o aumento da parcela da TEA que
empreende por oportunidade4, representado no gráfico 2 por um movimento em torno de 50%
de 2003 a 2006, aumentando a partir de 2007 para 56,1% chegando a 71,3% em 2013. À
exceção do ano de 2002 quando os empreendedores por necessidade superaram os
empreendedores por oportunidade, o gráfico 2 demonstra que desde 2003 a relação
oportunidade x necessidade é superior a 1. No ano de 2008 pela primeira vez foi registrada a
razão de dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade,
tendo o índice avançado para 2,1 em 2010, chegando à proporção de 2,5 em 2013, o maior já
registrado na série histórica.
Gráfico 2 – Evolução da atividade empreendedora segundo a oportunidade como percentual da TEA: taxas – Brasil – 2002:2013
3 Empreendedorismo no Brasil -‐ Relatório Executivo (IBQP, 2013, p. 4) 4 Empreendedorismo no Brasil -‐ Relatório Executivo (IBQP, 2013, p.1 4)
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Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p.5)
A pesquisa de 2010 estratificou os empreendedores por oportunidade5, demonstrando
que 78,2% dos empreendedores entreveem no negócio que estão iniciando uma oportunidade
de melhorar a vida (43% buscam mais independência e liberdade na vida profissional e 35,2%
aumento da renda pessoal), enquanto 18,5% almejam a manutenção da renda pessoal e 3,3%
alegaram outros motivos. Na interpretação dos pesquisadores aposta no relatório executivo, “a
tendência de aumento que se observa nessas variáveis indica a vitalidade dessa atividade no
Brasil, onde, mesmo em um contexto de intenso crescimento do emprego formal, o
empreendedorismo por oportunidade continua sendo uma alternativa para milhões de
brasileiros” (IBQP, 2013, p. 5).
Por outro lado, apesar da formalização dos negócios não possuir série histórica, os
dados expostos na tabela 1 demonstram o alto nível de informalidade da atividade
empreendedora:
Tabela 1 – Distribuição dos empreendedores segundo a formalização - 2013
Formalização % dos empreendedores iniciais - TEA
% dos empreendedores estabelecidos - TEE
Registro Formal Possui cadastro na prefeitura, junta comercial, na secretaria de agricultura ou na receita federal
20,9 25,9
Não possui nenhum tipo de registro 79,1 74,1 CNPJ Possui CNPJ 16,8 20,2 Não possui CNPJ 83,2 79,8 Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 72)
5 Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p.40)
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A Tabela 1, demonstra que 74% dos empreendimentos estabelecidos, ou seja, aqueles
com mais de 3,5 anos de existência, não possuem qualquer tipo de registro formal e 79,8%
não tem CNPJ. A taxa de informalidade para negócios com menos de 42 meses de existência
(empreendimentos iniciais novos ou nascentes) é ainda maior, computando total ausência de
registro em 79,1% dos negócios, e 82,3% não dispondo sequer do CNPJ, explicitando a
fragilidade dos negócios na esfera do ambiente legal.
Adentrando às especificidades sobre o faturamento, observar-se-á na tabela 2 a
concentração de negócios dos empreendedores iniciais que ainda não registraram entrada de
recursos, na ordem de 28,7%, e 67,1% com faturamento até R$ 60 mil. O faturamento dos
empreendedores com mais de 3,5 anos de existência encontra-se altamente concentrado em
até R$ 60 mil/ano, com 92,8%, faixa de faturamento esta abrangida pelo Microempreendedor
Individual – MEI.
Tabela 2 – Distribuição dos empreendedores segundo o faturamento - 2013
Faturamento Anual % dos empreendedores iniciais
% dos empreendedores estabelecidos
Até R$ 60.000,00 67,1 92,8 De R$ 60.000,00 a R$ 360.000,00 2,9 5,4 De R$ 360.000,00 a R$ 3.600.000,00 0,6 1,1 Acima de R$ 3.600.000,00 0,8 0,7 Ainda não faturou nada 28,7 0,0 Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 73)
Em relação à inovação, a pesquisa constata o baixo potencial inovador brasileiro,
conforme dados da tabela 2, onde se observa dentre os empreendedores iniciais que em 98,8%
dos negócios o produto não é novo para ninguém, e em 99,5% a tecnologia existe há mais de
cinco anos. A situação não difere entre os empreendimentos estabelecidos: 99,7% dos casos o
produto não é novo para ninguém, e em 99,9% a tecnologia existe há mais de cinco anos.
Tabela 3 – Distribuição dos empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos segundo a inovação - 2013
Inovação % dos empreendedores iniciais
% dos empreendedores estabelecidos
Conhecimento dos produtos ou serviços Novo para todos 0,0 0,0 Novo para alguns 1,2 0,3 Ninguém considera novo 98,8 99,7 Idade da tecnologia ou processos Menos de 1 ano 0,0 0,0 Entre 1 e 5 anos 0,5 0,1
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Mais de 5 anos 99,5 99,9 Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 70)
Observados os principais aspectos da medição quanto aos indicadores nacionais, a
comparação da atividade empreendedora com os demais países pesquisados possibilitará uma
avaliação do desempenho brasileiro em consonância com a fase do desenvolvimento
econômico monitorada a partir de 2010 pelo GEM.
IMPULSIONADOS POR FATORES IMPULSIONADOS POR EFICIÊNCIA IMPULSIONADOS POR INOVAÇÃO
Predominância de atividades com forte dependência dos fatores trabalho e recursos naturais.
Avanço da industrialização e ganhos em economias de escala, com predominância de grandes organizações intensivas em capital.
Negócios mais intensivos em conhecimento. O setor de serviços se expande e se moderniza.
Algéria África do Sul Alemanha Angola Argentina Bélgica Botswana Bósnia Canadá Filipinas Brasil Coréia do Sul Gana Chile Eslovênia Índia China Espanha
Irã Colômbia Estados Unidos Líbia Croácia Finlândia
Malawi Equador França Nigéria Eslováquia Grécia Uganda Estônia Holanda Vietnam Guatemala Irlanda Zâmbia Hungria Israel
Indonésia Itália Jamaica Japão Letônia Luxemburgo Lituânia Noruega Macedônia Porto Rico Malásia Portugal México Reino Unido Panamá República Tcheca Peru Singapura Polônia Suécia Romênia Suíça Rússia Taiwan Suriname Trinidad & Tobago Tailândia Uruguai
Quadro 1 – Classificação dos países participantes segundo a fase do desenvolvimento econômico 20136. Fonte: Adaptado de GEM (2013)
O quadro 1 demonstra a fase intermediária na qual se encontra o Brasil, justificando o
enquadramento na categoria ‘emergente’ em função de já ter superado a fase produtiva
pautada apenas em trabalho e recursos naturais, como nos países impulsionados por fatores,
mas ainda não ter alcançado o estágio de produção intensiva em conhecimento, como nos
países impulsionados por inovação.
6 Classificação baseada no Relatório de Competitividade Global (Global Competitiveness Report) – Publicação do Fórum Econômico Mundial que identifica três fases do desenvolvimento econômico, considerando o PIB per capita e a parcela das exportações relativa aos bens primários (IBQP, 2013, p. 22).
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Em 2013, conforme evidenciado no gráfico 3, o Brasil ocupou o oitavo lugar no
ranking dos 28 países de economias impulsionadas pela eficiência, com uma TEA equivalente
a 17,3%, significando que a cada 100 brasileiros, 17 estão envolvidos em uma atividade
empreendedora há menos de 42 meses7.
Gráfico 3 – Atividade empreendedora em estágio inicial (TEA) segundo a fase do desenvolvimento econômico: taxas (%) – Grupo de países – 2013
Fonte: GEM (2013)
A posição do Brasil em relação à TEA encontra-se atrás do Equador (36%), Indonésia
(25,5%), Chile (24,3%), Colômbia (23,7%), Peru (23,4%), Panamá (20,6%) e Tailândia
(17,7%), no grupo de países impulsionados pela eficiência. Em 20108, a TEA brasileira
ocupou a 4ª posição (17,5%), tendo à sua frente novamente o Peru (27,2%), Equador (21,3%),
e Colômbia (20,6%). No âmbito da TEE (empreendedores estabelecidos), o Brasil, com
15,4%, encontra-se na quarta colocação dos países impulsionados pela eficiência, tendo à sua
frente a Tailândia (28%), Indonésia (21,2%) e Equador (18%).
Cumpre registrar que os países impulsionados por inovação exibem uma TEA mais
baixa, sendo liderados em 2013 por Trinidad e Tobago com 19,5% e Estados Unidos com
12,7%, o que, segundo percepção dos especialistas, é decorrente da menor necessidade de se
iniciar negócios para garantia da sobrevivência nas economias consideradas desenvolvidas.
Este resultado demonstra que a TEA tende a baixar com níveis crescentes de PIB per capita,
ocorrendo exatamente o contrário com os países impulsionados por fatores e eficiência, cuja
7 Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 30) 8 Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2010, p. 37)
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tendência é a elevação expressiva da TEA. A mesma tendência ocorre com a TEE, onde
Grécia com 12,6% e Trinidad e Tobago com 11,4% obtiveram os maiores índices9.
5 CONCLUSÃO
Em consonância com a revisão bibliográfica constante do capítulo 1, a premissa
assumida pelo Global Entrepreneurship Monitor na figura 1 corrobora para a teoria
comportamental de David McClelland em cujo contexto o empreendedor age sobre o
ambiente, independente das forças positivas ou negativas da sociedade ou do ambiente
institucional, reconhecendo estes como influenciadores sobre os resultados esperados para o
empreendimento, podendo ter como consequência a continuidade ou descontinuidade do
negócio.
A continuidade da atividade empreendedora demonstrada no modelo GEM pelo
indicador que aufere as empresas estabelecidas com tempo de duração superior a 3,5 anos –
TEE, assim como a entrada constante de novos competidores, indicados pela TEA, impacta
diretamente o conjunto da economia brasileira, conforme evidenciado pelo aumento de 4,1
milhões de MPEs no ano de 2000 para 9 milhões de MPEs em 2011. Não obstante tal
resultado estar relacionado ao amplo período de estabilidade macroeconômica brasileira, é
incontestável a participação dos empreendimentos novos no empreendedorismo brasileiro,
conforme demonstra a série histórica GEM por meio dos indicadores TEA e TEE.
Outro indicador positivo sobre o cenário empreendedor brasileiro é o aumento da
proporcionalidade entre os empreendedores por oportunidade x empreendedores por
necessidade. A proporção de 2,5 x 1 encontrada em 2013 indica tanto a evolução quanto a
longa jornada brasileira na escalada de desenvolvimento para alcançar países como os Estados
Unidos e França que já registraram respectivamente 6,86 e 8,35 empreendedores por
oportunidade para cada um por necessidade10.
Em contraponto aos aspectos positivos mapeados neste artigo, os indicadores relativos
à formalização dos empreendedores iniciais (TEA) e estabelecidos (TEE) apresentados na
tabela 1 demonstram a fragilidade com que tais empreendimentos subsistem no ambiente
legal, explicitando a necessidade premente de programas de apoio à formalização. Torna-se 9 Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 30 e 31) 10 Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2010, p.40)
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oportuno registrar que mesmo com a entrada em vigor do Microempreendedor Individual
(MEI) em 2009, o índice de informalidade registrado pela pesquisa 2013 é substancialmente
elevado, em especial para as empresas com mais de 3,5 anos de existência, onde cerca de 93%
fatura até R$ 60 mil/ano, dos quais 74,1% dos negócios não possui nenhum registro e 79,8%
não possui CNPJ.
Mediante os resultados apostos na tabela 3, a inovação também se insere na esfera dos
indicadores que demandam atenção, pois os números revelam que tanto os empreendimentos
iniciais quanto os estabelecidos desenvolvem atividades de baixo conteúdo tecnológico,
destinados à prestação de serviços ou oferta de produtos com baixo valor agregado ao
consumidor.
Merece igualmente um acompanhamento mais meticuloso o indicador referente às
fases do desenvolvimento econômico estabelecidas no Relatório de Competitividade Global,
pois que ao integrar o rol dos 28 países impulsionados por eficiência (quadro 1), competindo
no grupo que apresenta o maior número de participantes (gráfico 3), o desafio imposto às
instituições de fomento dos negócios nacionais passa a ser não apenas ampliar o tempo de
existência, como também introduzir a inovação como uma prática efetiva no processo
produtivo de cada negócio, sedimentando o avanço da atividade empreendedora no Brasil ao
patamar dos países desenvolvidos.
Esta investigação sobre os impactos do empreendedorismo na economia de países
emergentes, cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, conduz às seguintes
conclusões:
1) Em referência ao primeiro objetivo específico, a série histórica GEM apresenta
como pontos fortes o crescimento da atividade empreendedora (TEA e TEE), e o aumento
da proporção oportunidade x necessidade, expostos nos gráficos 1 e 2, confirmando a
evolução da atividade empreendedora no Brasil;
2) Em alusão à inovação, foco de análise do segundo objetivo específico, as
evidências que se apresentam na tabela 3 demonstram as melhorias que precisam ser
intensificadas no contexto brasileiro mediante o baixo valor agregado em produtos e
serviços. Constata-‐se portanto que a inovação ainda não está na essência dos pequenos
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negócios nacionais, vindo a contribuir para a posição Brasil no rol dos países
impulsionados por eficiência (quadro 1).
3) Quanto ao terceiro objetivo específico, ressalta-‐se a importância do Brasil
estar bem posicionado no ranking total dos países pesquisados, pois o retrocesso de 4ª
para 8ª posição de 2010 para 2013 dentre os 28 países impulsionados pela eficiência,
sinaliza a necessidade de acompanhar as condições de desenvolvimento da atividade
empreendedora nos países mais bem colocados, sob o risco do aumento do
distanciamento resultar em dificuldade de reversão, no futuro.
A representatividade dos pequenos negócios na economia nacional justifica, portanto,
o conjunto de instituições que se dedicam a compreender as particularidades deste universo,
destacando-se neste contexto a relevância do modelo GEM que ao possibilitar o
monitoramento dos dados, possibilita igualmente aos órgãos governamentais e outros atores
relevantes nesta seara a identificação dos fatores críticos de sucesso para os pequenos
negócios, apontando as oportunidades de melhoria que deverão ser objeto de investimento de
governo e iniciativa privada no longo prazo.
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