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1 EMPREENDEDORISMO EM ECONOMIAS EMERGENTES: EVOLUÇÃO DOS PEQUENOS NEGÓCIOS BRASILEIROS CONFORME MODELO GEM. Área temática: Ética e Responsabilidade Social Eduardo Gomes [email protected] Mirela Conde [email protected] Resumo A representatividade dos pequenos negócios na economia nacional justifica o conjunto de instituições que se dedicam a compreender as particularidades deste universo, destacando-se neste contexto a relevância do modelo GEM que ao possibilitar o monitoramento dos dados, possibilita igualmente aos órgãos governamentais e outros atores relevantes nesta seara a identificação dos fatores críticos de sucesso para os pequenos negócios, apontando as oportunidades de melhoria que deverão ser objeto de investimento de governo e iniciativa privada no longo prazo. O presente artigo busca compreender os impactos do empreendedorismo na economia de países emergentes, cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, objetivando analisar a evolução das variáveis empreendedorismo e inovação no contexto brasileiro conforme modelo preconizado peloGlobal Monitor Entrepreneurship - GEM. Palavras-chaves: Empreendedorismo; inovação; pequenos negocios; GEM ISSN 1984-9354

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XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de

2015

1

EMPREENDEDORISMO EM ECONOMIAS EMERGENTES: EVOLUÇÃO DOS PEQUENOS

NEGÓCIOS BRASILEIROS CONFORME MODELO GEM.

Área temática: Ética e Responsabilidade Social

Eduardo Gomes

[email protected]

Mirela Conde

[email protected]

Resumo A representatividade dos pequenos negócios na economia nacional justifica o conjunto de instituições que se dedicam a compreender as particularidades deste universo, destacando-se neste contexto a relevância do modelo GEM que ao possibilitar o monitoramento dos dados, possibilita igualmente aos órgãos governamentais e outros atores relevantes nesta seara a identificação dos fatores críticos de sucesso para os pequenos negócios, apontando as oportunidades de melhoria que deverão ser objeto de investimento de governo e iniciativa privada no longo prazo. O presente artigo busca compreender os impactos do empreendedorismo na economia de países emergentes, cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, objetivando analisar a evolução das variáveis empreendedorismo e inovação no contexto brasileiro conforme modelo preconizado peloGlobal Monitor Entrepreneurship - GEM.

Palavras-chaves: Empreendedorismo; inovação; pequenos negocios; GEM

ISSN 1984-9354

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1. FORMULAÇÃO  DA  SITUAÇÃO  PROBLEMA  

O empreendedorismo emerge do pensamento intelectual com a publicação de artigos e

livros na década de 1980, quando então o tema estava relacionado a uma habilidade para

poucos. Sua origem como experimento data, contudo, da década de 1960 quando David

McClelland, psicólogo da Universidade de Harvard (EUA), identificou em empresários de

sucesso um elemento psicológico marcante por ele intitulado “motivação da realização” ou

“impulso para melhorar”. Partindo deste pressuposto McClelland desenvolveu e testou até o

final dos anos 1970, em mais de 40 países, o treinamento da motivação para a realização,

objetivando melhorar esta característica e torná-la aplicável no ambiente empresarial. A

proposta original de McClelland apresentou resultados positivos na criação e ampliação de

empresas, e, passou a ser a base, em meados dos anos 1980, para o aprimoramento do

comportamento empreendedor, com a disseminação de sua metodologia ao redor do mundo

por meio do UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development.

Anteriormente, o economista austríaco Joseph Schumpeter, que se estabelecera em

Harvard ao final da Primeira Guerra Mundial, apresentara o paradoxo entre progresso e

destruição criativa, atribuindo o progresso à ação das empresas inovadoras por meio da figura

do empreendedor, sendo este, o agente da destruição criativa. Para Schumpeter (1982), é o

empreendedor quem impulsiona e mantém o sistema capitalista de produção através da

criação constante de novos produtos e mercados que substituem os métodos de produção

menos eficientes e mais caros.

Na economia mundial a atividade empreendedora no âmbito das micro e pequenas

empresas vem sendo acompanhada desde 1999 pelo projeto de pesquisa Global

Entrepreneurship Monitor (GEM), buscando compreender o papel do empreendedorismo no

desenvolvimento econômico dos países. No relatório executivo 2013, cuja amostragem

abrange 75% da população global e 89% do PIB mundial, é estimado que cerca de 40 milhões

de brasileiros, entre 18 e 64 anos possuam algum tipo de negócio1.

Tal reflexão tem particular relevância para o Brasil, cujos pequenos negócios foram

responsáveis por 27% do Produto Interno Bruto (PIB), riqueza esta produzida por

aproximadamente 9 milhões de micro e pequenas empresas, conforme informações do 1  Relatório  Executivo  GEM  (IBQP, 2013, p. 19)  

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Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE): instituição privada sem fins

lucrativos que tem a missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável

dos empreendimentos de micro e pequeno porte. A primeira medição, realizada pelo IBGE

em 1985, estimou em 21% a participação das MPEs no PIB brasileiro, enquanto as medições

subsequentes realizadas pela Fundação Getúlio Vargas por iniciativa do SEBRAE, aferiram

em 2001 o índice de 23,2% e em 2011, 27%2.

A preocupação com a subsistência das MPEs em âmbito local, justifica-se em função

dos impactos produzidos na atividade econômica, cabendo discutir os contornos da inovação e

suas possíveis implicações para as micro e pequenas empresas, não porque o tema é quase

exclusivamente pensado em relação às grandes organizações, mas também pelo peso que

aquelas têm em nossa economia, sem falar na relevância em aumentar a participação de

produtos e serviços com maior valor agregado na produção nacional.

Os fundamentos teóricos de McClelland e Schumpeter sob as vertentes

comportamental e instrumental do empreendedorismo embasam este artigo, cuja

argumentação assume como premissas a existência do empreendedorismo e a inovação como

variável impulsionadora do diferencial competitivo dos pequenos negócios.

O presente artigo busca, por meio de revisão na literatura e de pesquisa bibliográfica,

contextualizar o empreendedorismo no meio científico para compreender os impactos da

atividade empreendedora na economia de países emergentes, cuja base econômica está

alicerçada nos pequenos negócios, objetivando analisar a evolução das variáveis

empreendedorismo e inovação no contexto brasileiro conforme modelo preconizado pelo

Global Monitor Entrepreneurship, por concordar com a plenitude conceitual aposta na

décima edição da série histórica GEM, onde se afirma que

O empreendedorismo é basilar para o desenvolvimento sócio-econômico de um país, dado que é fundamental para a concepção de oportunidades de trabalho e é considerado um catalisador e um incubador do progresso tecnológico e de inovações de produto, serviços e de mercado. (MUELLER E THOMAS, 2000; JACK E ANDERSON, 1999 apud IBQP, 2010, p. 27)

1.1 EMPREENDEDORISMO: UMA PRÁXIS CONTEMPORÂNEA 2  Fonte:  Serviço  Brasileiro  de  Apoio  às  Micro  e  Pequenas  Empresas.  Disponível  em  http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/mt/noticias/Micro-­‐e-­‐pequenas-­‐empresas-­‐geram-­‐27%25-­‐do-­‐PIB-­‐do-­‐Brasil    

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A preocupação com a criação de empresas que consigam subsistir à velocidade da

mudança imposta pela globalização e a busca pela redução do alto índice de falência de novos

negócios constitui-se em um dos motivos pelos quais este tema assume uma abrangência

crescente no âmbito do governo, das entidades de classe, de instituições de apoio e da própria

academia (FILION, 1999; DORNELAS, 2008), fazendo com que o empreendedorismo seja

considerado uma alternativa factível para a sustentabilidade das empresas no século XXI.

A indicação de que o empreendedorismo se configurou como um importante

fenômeno sócio-econômico do final do século XX descende do seu caráter multidisciplinar e

transversal no domínio da pesquisa científica, onde são observados enfoques e abordagens

que perpassam pela medicina, psicologia, sociologia, filosofia, política, economia e

administração, entre outras áreas das ciências. Mediante o envolvimento de elevado número

de pesquisadores com o tema, surgem variados axiomas que formarão o pilar de sustentação

da teoria empreendedora, então emergente.

Os professores da Harvard Business School, STEVENSON e JARILLO (1990),

propõem os estudos de empreendedorismo sob três abordagens. Na primeira, elaborada pelos

economistas, o interesse transcende o empreendedor e suas ações, concentrando-se nos

resultados que as ações empreendedoras geram. Neste contexto insere-se o pensamento

economicista de SCHUMPETER (1982) revelando a importância dos empreendedores para

criação do “novo” (seja este um produto, um processo ou um mercado), onde, por meio da

integração do conceito de empreendedorismo com a inovação, ocorre o desenvolvimento

econômico.

Na segunda, sugerida por psicólogos e sociólogos, a ênfase no empreendedor como

indivíduo decorre de uma análise do seu passado, suas motivações, seu ambiente e seus

valores. A teoria comportamental de DAVID McCLELLAND (1967) integra este conjunto, e

fundamenta-se no resultado de suas pesquisas onde está apontado que a necessidade de

realização é o elemento central da motivação nas pessoas empreendedoras.

Em sua análise, McClelland além de revelar que os empreendedores mal sucedidos

têm carência de realização, identifica as características impulsionadoras, dentre elas:

iniciativa, persistência, saber aproveitar as oportunidades, qualidade, eficiência,

comprometimento, disposição para correr riscos de forma calculada, persuasão,

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independência, autoconfiança, além de trabalharem buscando informações e estabelecendo

redes de contatos, planejando e acompanhando os resultados.

A terceira abordagem é instituída por administradores e correlaciona-se com o

conhecimento sobre a amplitude das habilidades gerenciais e administrativas, ou seja, em

como os empreendedores apreendem seus objetivos, quais são os métodos, técnicas e

ferramentas utilizadas, como ocorre o processo de tomada de decisão, ou seja, em como lidam

e resolvem seus problemas.

HASHIMOTO (2006) faz referência à “essência do empreendedorismo” de

LONGENECKER et al (1998), que, segundo os pesquisadores americanos é atribuída a três

elementos intrínsecos à atividade empreendedora: a inovação, o risco e a autonomia.

Segundo DORNELAS (2008) e em convergência com o pensamento de McClelland, o

empreendedorismo não se configura como uma nova teoria administrativa pensada para

resolver os problemas empresariais. Ao contrário, apresenta-se como uma forma de

comportamento que engloba processos organizacionais permitindo à empresa trabalhar em

busca de um objetivo comum, ou seja, alinhado à missão e visão empresarial, identificando

novas oportunidades por meio da sistematização de ações internas focadas na inovação. O

pensamento de Dornelas é híbrido, tornando-se aderente tanto aos princípios de Stevenson e

Jarillo quanto aos ideais de Longenecker et al.

FILION (1999), DRUCKER (1986) e SHAPERO (1980) afirmam que criatividade e

inovação conduzem os empreendedores a um movimento contínuo de mudanças que visa o

crescimento e desenvolvimento de seus negócios, cuja organização dos recursos de forma

inovadora resulta em uma nova empresa.

A criatividade dos empreendedores, segundo Peter Drucker, nasce do

comprometimento com o exercício constante da inovação, que, em se constituindo numa

prática sistemática, provém de duas fontes: internas (ocorrências inesperadas, incongruências,

processos necessários, mudanças na indústria e no mercado) e externas (mudanças

demográficas, mudanças de percepção e novo conhecimento).

O ponto comum a todas elas, conforme Drucker é a relevância da informação, e assim

sendo, quanto maior o aproveitamento das informações que chegam à organização e quanto

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mais sistematizada sua busca e disseminação, maior a probabilidade de se aproveitar as

oportunidades de inovação.

Ao analisar o comportamento dos empreendedores em relação à inovação, Drucker diz

que:

“A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo

qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio

diferente ou um serviço. Os empreendedores precisam buscar, de forma

deliberada, as fontes de inovação, as mudanças, e seus sintomas que indicam

oportunidades para que uma inovação tenha êxito.” (2003, p. 25)

À multiplicidade de conceitos e definições sobre empreendedorismo produzidos nas

últimas décadas, torna-se relevante agregar sua origem, reportada à Idade Média, quando o

termo empreendedor passa a ser a alcunha do encarregado de projetos de produção em grande

escala. Com o passar do tempo, no Século XII, o empreendedor era a pessoa que assumia

riscos de lucro (ou prejuízo) em contratos de valor fixo com o governo. Contudo,

etmologicamente a palavra francesa entrepreneur significa “aquele que está entre” ou

“intermediário”.

Não obstante a complementaridade dos enfoques discorridos anteriormente, a

definição de BATEMAN e SNELL (1998) explicita com clareza a função intermediária do

entrepreneur, pois aquele que “está entre” a oportunidade e o mercado é quem identifica o

valor e transforma (processo ou produto) para atender a demanda. Neste ínterim, os autores

identificam como principais características e habilidades para o sucesso do empreendedor a

autoconfiança, a excelência, a liderança, a criatividade, a motivação e a tolerância a incertezas

e riscos.

1.1.2 MARCO TEÓRICO

O Babson College, instituição pesquisadora e disseminadora do empreendedorismo

localizada nos arredores de Boston, nos Estados Unidos da América, apregoa que o

empreendedorismo é um modo de pensar e agir obstinadamente em torno da oportunidade,

abrangente na abordagem e cujo diferencial decorre da proposta de criação de valor

(DORNELAS, 2008).

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Todavia, diferentemente de variados campos da pesquisa científica que possuem

marco teórico bem definido quanto à idealização do conceito e sua respectiva localização no

tempo e no espaço, a revisão da literatura demonstra que a gênese da terminologia

entrepreneurship é atribuída a pessoas, locais e argumentos distintos.

Schmidt e Bohnenberger (2009), informam que a palavra empreender – imprehendere

no latim medieval – tem origem anteriormente ao século XV e possui dentre seus

significados: tentar desempenhar uma atividade ou tarefa; pôr em execução.

Em Martinelli (1994, p. 476) encontra-se a informação de que no século XVI o termo

entrepreneur fazia referência ao “capitão que contratava soldados mercenários para servir ao

rei”. De maneira semelhante, Filion (1999, p. 18) relata tratar-se da “pessoa que assumia a

responsabilidade de dirigir uma ação militar”. Avançando no tempo, Martinelli (1994)

identifica no século XVIII uma nova aplicação para a terminologia, sendo os entrepreneurs os

atores econômicos que introduziam novas técnicas agrícolas ou arriscavam seu capital na

indústria, enquanto Filion (1999) revela uma definição similar, de pessoas que criavam e

produziam projetos ou empreendimentos.

Na narrativa de Gasalla (1999), os prenunciadores da abordagem no contexto da

atividade empresarial e da liderança, foram o francês Cantillon e o inglês Stewart no século

XVIII, sendo imputada a Cantillon a alcunha do neologismo entrepreneur, cujo significado

literal, conforme nota, é “empreendedor” e não “empresário”, este traduzido como chef

d’enterprise. Na visão do economista Richard Cantillon (LÉVESQUE, 2004; ZEN e

FRACASSO, 2008), o empreendedor capitalista caracteriza-se pela capacidade de enfrentar o

desafio do risco imposto pela economia de mercado através do uso da racionalidade, mediante

a natureza da incerteza.

Nota-se que a partir do século XVIII a evolução do termo ocorre perifericamente à

atividade empresarial, e é no século XIX com o surgimento da Escola Empreendedora, que o

economista Jean-Batiste Say (DRUCKER, 1986) relaciona o empreendedor com o indivíduo

que transfere recursos econômicos de um setor com baixa produtividade para outro com

produtividade superior, aproximando-se do parâmetro estabelecido para os dias atuais.

No século XX, a alusão à figura do entrepreneur ressurge com a produção intelectual

do economista austríaco Joseph A. Schumpeter, quando então associa o empreendedor ao

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desenvolvimento econômico no livro ”Capitalismo, socialismo e democracia”, publicado em

1942. Schumpeter, em sua análise sobre o sistema econômico vigente - o capitalismo -

introduz o conceito de “destruição criativa” fundamentando-se no princípio que a criação do

“novo” depende da destruição do “velho”, e ao agente propulsor deste movimento ele

denomina empreendedor.

Enquanto o pensamento economicista de Schumpeter ganha repercussão mundial ao

relacionar o desenvolvimento econômico à inovação – seja pela introdução de novos recursos

ou pela combinação diferenciada dos recursos produtivos já existentes – em meados do século

XX a teoria empreendedora começa a ser observada por outras áreas das ciências, e no âmbito

comportamental, o psicólogo norteamericano David McClelland estabelece como

entrepreneurship a “atitude psicológica materializada pelo desejo de iniciar, desenvolver e

concretizar um projeto, um sonho” (LEITE e MELO, 2008, p. 37), caracterizando o perfil

empreendedor.

1.2 ATIVIDADE EMPREENDEDORA CONFORME MODELO GEM

A notoriedade conquistada cientificamente pelo empreendedorismo ultrapassa as

fronteiras das universidades e ganha então importância na medição das evidências e dos

reflexos deste sobre a atividade econômica, e o próximo passo acontece com a consolidação

de um sistema de análise do empreendedorismo sobre as nações.

Com este intuito, no final do século passado estrutura-se o projeto de pesquisa Global

Entrepreneurship Monitor – GEM, coordenado internacionalmente por um consórcio

composto pelo Babson College, Universidad Del Desarrollo, Reykjavík University, London

Business School e Global Entrepreneurship Research Association (Gera), e operacionalizado

na esfera nacional pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP).

O projeto GEM abrangeu ao longo de 15 anos, mais de 100 países em diferentes

estágios na escala de classificação econômica, revelando que a riqueza gerada e medida pelo

PIB possui correlação direta com a atividade empreendedora, sendo esta atividade mensurada

“pelo número de pessoas dentro da população adulta de um determinado país envolvida na

criação de novos negócios” (IBQP, 2010, p. 5), e cuja identificação ocorre por meio de pesquisa

quantitativa com uma população na faixa etária entre 18 e 64 anos.

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Torna-se relevante ressaltar que em 2002, a motivação dos empreendedores iniciais foi

institucionalizada como um dos pilares de sustentação da pesquisa, alinhado pois com a teoria comportamental

de McClelland, embasada na motivação para a realização – achievement motivation, e, desde então, vem

sendo monitorada anualmente por meio da classificação dos empreendedores orientados por:

oportunidade, quando motivados pela percepção de um nicho de mercado em potencial; ou

necessidade, quando motivados pela falta de alternativa satisfatória de trabalho e renda. A

primeira “reflete o lado positivo da atividade empreendedora nos países”, afirma o relatório

executivo, pois representa a “porção de empreendedores que iniciou sua atividade para

melhorar sua condição de vida ao observar uma oportunidade para empreender” (IBQP, 2008,

p.6). Na segunda categoria encontram-se as pessoas que empreendem como uma opção para a

subsistência, e nesse caso, o empreendedorismo é considerado uma ferramenta para o

desenvolvimento.

A avaliação do empreendedorismo na perspectiva GEM considera as seguintes etapas do processo

empreendedor: o momento em que o potencial empreendedor expressa a intenção de iniciar uma empresa, a

criação e manutenção dessa empresa em suas fases iniciais (nascentes e novas), ou quando esta já é considerada

estabelecida (Figura 1):

Figura 1: O processo empreendedor segundo definições adotadas pelo

GEM

Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 22)

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Como pode ser observado na figura 1, as características do indivíduo são consideradas

a parte propulsora do contexto empreendedor, e não por acaso encontram-se descritas como

atributos do potencial empreendedor. A existência do conjunto de atributos (vê oportunidades,

conhecimento/habilidades, não ter medo do fracasso e atitude positiva) impulsionará o

empreendedor para os estágios seguintes (intenções, nascentes, novos e estabelecidas) quando

então passa a sofrer influências da postura da sociedade e do ambiente institucional de

maneira crescente.

A figura 1 contém também os elementos do principal indicar do modelo GEM de

mensuração da atividade empreendedora, denominado TEA - Taxa de Empreendedorismo em

Estágio Inicial, cujo resultado é calculado com base na proporção de pessoas adultas com

idade entre 18 e 64 anos desempenhando atividades empreendedoras classificadas como

negócios nascentes ou empreendedores à frente de novos negócios com menos de 24 meses

de existência, expresso no seguinte conjunto de características (IBQP, 2013, p.29):

• Empreendedores  nascentes  estão  envolvidos  na  estruturação  de  um  negócio  

do  qual  serão  proprietários,  mas  que  ainda  não  pagou  salário,  pró-­‐labores  ou  

qualquer   outra   forma   de   remuneração   aos   proprietários   por   mais   de   três  

meses.    

• Empreendedores   novos   administram   um   novo   negócio   do   qual   são  

proprietários,  negócio  este  que  pagou  salários,  pró-­‐labores  ou  qualquer  outra  

forma   de   remuneração   aos   proprietários   por   mais   de   três   e   menos   de   42  

meses.   Esses   dois   tipos   de   empreendedores   são   considerados  

empreendedores  iniciais  ou  em  estágio  inicial.    

• Empreendedores   estabelecidos   administram   e   são   proprietários   de   um  

negócio   estabelecido   que   pagou   salários,   pró-­‐labores   ou   qualquer   outra  

forma  de  remuneração  aos  proprietários  por  mais  de  42  meses.  

O modelo igualmente monitora o indicador TEE – Taxa de Empreendedores

Estabelecidos, possibilitando acompanhar a evolução dos negócios que superam os 3,5 anos

de existência.

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Há que se advertir que a terminologia “negócio” não é aqui apresentada como

sinônimo de empresa, pois conceitualmente, empresa pressupõe a formalização do negócio

junto aos órgãos competentes. Neste ínterim, o relatório GEM 2013 (p. 72) aborda a

formalização dos empreendimentos segundo duas vertentes: 1 considera qualquer tipo de

registro formal (cadastro na prefeitura, junta comercial, secretaria de agricultura ou receita

federal);2 considera apenas o fato de possuir ou não o CNPJ.

Um importante avanço implementado a partir de 2009 foi o agrupamento dos países

em três níveis de economia, para efeitos comparativos sobre o desenvolvimento do

empreendedorismo, expresso no quadro 1:

FACTOR-DRIVEN EFFICIENCY-DRIVEN INNOVATION-DRIVEN

As economias impulsionadas por fatores são dominadas pela agricultura de subsistência e negócios extrativistas, com uma forte dependência do trabalho e dos recursos naturais.

Nas economias impulsionadas pela eficiência o desenvolvimento é caracterizado pela industrialização e pelos ganhos em economias de escala, com predominância de grandes organizações intensivas em capital.

À medida que o desenvolvimento avança, os negócios são mais intensivos em conhecimento e o setor de serviços se expande, caracterizando as economias impulsionadas pela inovação.

Quadro 1 – Fases do Desenvolvimento Econômico conforme Relatório de Competitividade Global Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2012, p. 20)

As características dos empreendimentos também passaram a ser monitoradas pelo

GEM e analisadas de acordo com o estágio inicial ou estabelecido, enfocando cinco aspectos,

dentre os quais serão abordados a formalização, o faturamento e a inovação.

Cabe ressaltar que a série histórica GEM possui outros indicadores e análises que não

serão objeto de estudo do artigo em questão.

2. OBJETIVO

Compreender os impactos do empreendedorismo na economia de países emergentes,

cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, e como objetivos específicos:

1) Analisar  a  evolução  da  atividade  empreendedora  no  Brasil  no  período  2002/2013;  

2) Analisar  a  variável  ‘inovação’  no  contexto  dos  pequenos  negócios  brasileiros;  

3) Analisar  a  posição  brasileira  no  ranking  dos  países  participantes  da  pesquisa  GEM  

2013.  

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3 MÉTODO

Trata-se de pesquisa aplicada, pois tem o intuito de produzir saber para

aproveitamento na prática, sendo direcionada para a resolução de problemas específicos. Em

função dos seus objetivos, a pesquisa é qualitativa por traduzir e expressar o sentido dos

fenômenos do mundo social, “reduzindo a distância entre indicador e indicado, entre teoria e

dados, entre contexto e ação” (MAANEN, 1979, p. 520). Configura-se como uma pesquisa

descritiva por abordar características de determinado fenômeno em uma população,

estabelecendo relações entre variáveis ao longo do tempo (GIL, 1999). Quanto aos

procedimentos, a definição do estudo de caso é a que mais se aproxima dos fins a que se

pretende, visando “exame de um ambiente, de um sujeito ou de uma situação em particular,

promovendo o preenchimento de uma lacuna do conhecimento pouco explorado, buscando

compreender uma realidade que ocorre em uma dada situação” (ALVES-MAZZOTTI, 1999,

p.151).

4. RESULTADO: EVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NO BRASIL

Dados apresentados no Relatório Executivo de 2013 demonstraram que em 2002, o

Brasil possuía 13,5% de empreendedores iniciais para 7,8% de empreendedores estabelecidos,

em cujo retrato constata-se uma impulsão maior quanto às iniciativas para abertura de um

negócio do que na manutenção. Em 2006 e 2012 observa-se um equilíbrio próximo a 12% e

15% respectivamente para ambos tipos de atividade empreendedora, sendo registrado em

2008 o único ano da série histórica em que os empreendedores estabelecidos superaram

aqueles em estágios iniciais.

Gráfico 1 – Evolução da atividade empreendedora segundo estágio do empreendimento: taxas – Brasil – 2002:2013

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Fonte: Relatório Executivo Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p.5)

Verifica-se no gráfico 1 que em 2010 e em 2013 o total de empreendedores alcançou o

ápice, com 32,3% da população adulta brasileira envolvida na criação ou administração de

negócios. Com a força de trabalho estimada pelo IBGE em 123 milhões de pessoas, com

idade entre 18 e 64 anos, chega-se ao volume de 21 milhões de empreendedores iniciais e 19

milhões de empreendedores estabelecidos, totalizando aproximadamente 40 milhões de

brasileiros vinculados à atividade empreendedora no país, em 20133.

O relatório 2013 evidencia que o crescimento brasileiro focado na ampliação do

mercado interno notado a partir de 2000, possibilitou o aumento da parcela da TEA que

empreende por oportunidade4, representado no gráfico 2 por um movimento em torno de 50%

de 2003 a 2006, aumentando a partir de 2007 para 56,1% chegando a 71,3% em 2013. À

exceção do ano de 2002 quando os empreendedores por necessidade superaram os

empreendedores por oportunidade, o gráfico 2 demonstra que desde 2003 a relação

oportunidade x necessidade é superior a 1. No ano de 2008 pela primeira vez foi registrada a

razão de dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade,

tendo o índice avançado para 2,1 em 2010, chegando à proporção de 2,5 em 2013, o maior já

registrado na série histórica.

Gráfico 2 – Evolução da atividade empreendedora segundo a oportunidade como percentual da TEA: taxas – Brasil – 2002:2013

3  Empreendedorismo  no  Brasil  -­‐  Relatório  Executivo  (IBQP,  2013,  p.  4)  4  Empreendedorismo  no  Brasil  -­‐  Relatório  Executivo  (IBQP,  2013,  p.1  4)    

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Fonte: Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p.5)

A pesquisa de 2010 estratificou os empreendedores por oportunidade5, demonstrando

que 78,2% dos empreendedores entreveem no negócio que estão iniciando uma oportunidade

de melhorar a vida (43% buscam mais independência e liberdade na vida profissional e 35,2%

aumento da renda pessoal), enquanto 18,5% almejam a manutenção da renda pessoal e 3,3%

alegaram outros motivos. Na interpretação dos pesquisadores aposta no relatório executivo, “a

tendência de aumento que se observa nessas variáveis indica a vitalidade dessa atividade no

Brasil, onde, mesmo em um contexto de intenso crescimento do emprego formal, o

empreendedorismo por oportunidade continua sendo uma alternativa para milhões de

brasileiros” (IBQP, 2013, p. 5).

Por outro lado, apesar da formalização dos negócios não possuir série histórica, os

dados expostos na tabela 1 demonstram o alto nível de informalidade da atividade

empreendedora:

Tabela 1 – Distribuição dos empreendedores segundo a formalização - 2013

Formalização % dos empreendedores iniciais - TEA

% dos empreendedores estabelecidos - TEE

Registro Formal Possui cadastro na prefeitura, junta comercial, na secretaria de agricultura ou na receita federal

20,9 25,9

Não possui nenhum tipo de registro 79,1 74,1 CNPJ Possui CNPJ 16,8 20,2 Não possui CNPJ 83,2 79,8 Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 72)

5  Empreendedorismo  no  Brasil  (IBQP,  2013,  p.40)  

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A Tabela 1, demonstra que 74% dos empreendimentos estabelecidos, ou seja, aqueles

com mais de 3,5 anos de existência, não possuem qualquer tipo de registro formal e 79,8%

não tem CNPJ. A taxa de informalidade para negócios com menos de 42 meses de existência

(empreendimentos iniciais novos ou nascentes) é ainda maior, computando total ausência de

registro em 79,1% dos negócios, e 82,3% não dispondo sequer do CNPJ, explicitando a

fragilidade dos negócios na esfera do ambiente legal.

Adentrando às especificidades sobre o faturamento, observar-se-á na tabela 2 a

concentração de negócios dos empreendedores iniciais que ainda não registraram entrada de

recursos, na ordem de 28,7%, e 67,1% com faturamento até R$ 60 mil. O faturamento dos

empreendedores com mais de 3,5 anos de existência encontra-se altamente concentrado em

até R$ 60 mil/ano, com 92,8%, faixa de faturamento esta abrangida pelo Microempreendedor

Individual – MEI.

Tabela 2 – Distribuição dos empreendedores segundo o faturamento - 2013

Faturamento Anual % dos empreendedores iniciais

% dos empreendedores estabelecidos

Até R$ 60.000,00 67,1 92,8 De R$ 60.000,00 a R$ 360.000,00 2,9 5,4 De R$ 360.000,00 a R$ 3.600.000,00 0,6 1,1 Acima de R$ 3.600.000,00 0,8 0,7 Ainda não faturou nada 28,7 0,0 Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 73)

Em relação à inovação, a pesquisa constata o baixo potencial inovador brasileiro,

conforme dados da tabela 2, onde se observa dentre os empreendedores iniciais que em 98,8%

dos negócios o produto não é novo para ninguém, e em 99,5% a tecnologia existe há mais de

cinco anos. A situação não difere entre os empreendimentos estabelecidos: 99,7% dos casos o

produto não é novo para ninguém, e em 99,9% a tecnologia existe há mais de cinco anos.

Tabela 3 – Distribuição dos empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos segundo a inovação - 2013

Inovação % dos empreendedores iniciais

% dos empreendedores estabelecidos

Conhecimento dos produtos ou serviços Novo para todos 0,0 0,0 Novo para alguns 1,2 0,3 Ninguém considera novo 98,8 99,7 Idade da tecnologia ou processos Menos de 1 ano 0,0 0,0 Entre 1 e 5 anos 0,5 0,1

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Mais de 5 anos 99,5 99,9 Fonte: adaptado de Empreendedorismo no Brasil (IBQP, 2013, p. 70)

Observados os principais aspectos da medição quanto aos indicadores nacionais, a

comparação da atividade empreendedora com os demais países pesquisados possibilitará uma

avaliação do desempenho brasileiro em consonância com a fase do desenvolvimento

econômico monitorada a partir de 2010 pelo GEM.

IMPULSIONADOS POR FATORES IMPULSIONADOS POR EFICIÊNCIA IMPULSIONADOS POR INOVAÇÃO

Predominância de atividades com forte dependência dos fatores trabalho e recursos naturais.

Avanço da industrialização e ganhos em economias de escala, com predominância de grandes organizações intensivas em capital.

Negócios mais intensivos em conhecimento. O setor de serviços se expande e se moderniza.

Algéria   África  do  Sul   Alemanha  Angola   Argentina   Bélgica  Botswana   Bósnia   Canadá  Filipinas   Brasil   Coréia  do  Sul  Gana   Chile   Eslovênia  Índia   China   Espanha  

 Irã               Colômbia   Estados  Unidos  Líbia   Croácia   Finlândia  

Malawi   Equador   França  Nigéria   Eslováquia   Grécia  Uganda   Estônia   Holanda  Vietnam   Guatemala   Irlanda  Zâmbia   Hungria   Israel  

  Indonésia   Itália     Jamaica   Japão     Letônia   Luxemburgo     Lituânia   Noruega     Macedônia   Porto  Rico     Malásia   Portugal     México   Reino  Unido     Panamá   República  Tcheca     Peru   Singapura     Polônia   Suécia     Romênia   Suíça     Rússia   Taiwan     Suriname   Trinidad  &  Tobago     Tailândia       Uruguai    

Quadro 1 – Classificação dos países participantes segundo a fase do desenvolvimento econômico 20136. Fonte: Adaptado de GEM (2013)

O quadro 1 demonstra a fase intermediária na qual se encontra o Brasil, justificando o

enquadramento na categoria ‘emergente’ em função de já ter superado a fase produtiva

pautada apenas em trabalho e recursos naturais, como nos países impulsionados por fatores,

mas ainda não ter alcançado o estágio de produção intensiva em conhecimento, como nos

países impulsionados por inovação.

6  Classificação  baseada  no  Relatório  de  Competitividade  Global  (Global  Competitiveness  Report)  –  Publicação  do  Fórum  Econômico  Mundial  que  identifica  três  fases  do  desenvolvimento  econômico,  considerando  o  PIB  per  capita  e  a  parcela  das  exportações  relativa  aos  bens  primários  (IBQP,  2013,  p.  22).  

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Em 2013, conforme evidenciado no gráfico 3, o Brasil ocupou o oitavo lugar no

ranking dos 28 países de economias impulsionadas pela eficiência, com uma TEA equivalente

a 17,3%, significando que a cada 100 brasileiros, 17 estão envolvidos em uma atividade

empreendedora há menos de 42 meses7.

Gráfico 3 – Atividade empreendedora em estágio inicial (TEA) segundo a fase do desenvolvimento econômico: taxas (%) – Grupo de países – 2013

Fonte: GEM (2013)

A posição do Brasil em relação à TEA encontra-se atrás do Equador (36%), Indonésia

(25,5%), Chile (24,3%), Colômbia (23,7%), Peru (23,4%), Panamá (20,6%) e Tailândia

(17,7%), no grupo de países impulsionados pela eficiência. Em 20108, a TEA brasileira

ocupou a 4ª posição (17,5%), tendo à sua frente novamente o Peru (27,2%), Equador (21,3%),

e Colômbia (20,6%). No âmbito da TEE (empreendedores estabelecidos), o Brasil, com

15,4%, encontra-se na quarta colocação dos países impulsionados pela eficiência, tendo à sua

frente a Tailândia (28%), Indonésia (21,2%) e Equador (18%).

Cumpre registrar que os países impulsionados por inovação exibem uma TEA mais

baixa, sendo liderados em 2013 por Trinidad e Tobago com 19,5% e Estados Unidos com

12,7%, o que, segundo percepção dos especialistas, é decorrente da menor necessidade de se

iniciar negócios para garantia da sobrevivência nas economias consideradas desenvolvidas.

Este resultado demonstra que a TEA tende a baixar com níveis crescentes de PIB per capita,

ocorrendo exatamente o contrário com os países impulsionados por fatores e eficiência, cuja

7  Fonte:  Empreendedorismo  no  Brasil  (IBQP, 2013, p. 30)  8  Fonte:  Empreendedorismo  no  Brasil  (IBQP, 2010, p. 37)  

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tendência é a elevação expressiva da TEA. A mesma tendência ocorre com a TEE, onde

Grécia com 12,6% e Trinidad e Tobago com 11,4% obtiveram os maiores índices9.

5 CONCLUSÃO

Em consonância com a revisão bibliográfica constante do capítulo 1, a premissa

assumida pelo Global Entrepreneurship Monitor na figura 1 corrobora para a teoria

comportamental de David McClelland em cujo contexto o empreendedor age sobre o

ambiente, independente das forças positivas ou negativas da sociedade ou do ambiente

institucional, reconhecendo estes como influenciadores sobre os resultados esperados para o

empreendimento, podendo ter como consequência a continuidade ou descontinuidade do

negócio.

A continuidade da atividade empreendedora demonstrada no modelo GEM pelo

indicador que aufere as empresas estabelecidas com tempo de duração superior a 3,5 anos –

TEE, assim como a entrada constante de novos competidores, indicados pela TEA, impacta

diretamente o conjunto da economia brasileira, conforme evidenciado pelo aumento de 4,1

milhões de MPEs no ano de 2000 para 9 milhões de MPEs em 2011. Não obstante tal

resultado estar relacionado ao amplo período de estabilidade macroeconômica brasileira, é

incontestável a participação dos empreendimentos novos no empreendedorismo brasileiro,

conforme demonstra a série histórica GEM por meio dos indicadores TEA e TEE.

Outro indicador positivo sobre o cenário empreendedor brasileiro é o aumento da

proporcionalidade entre os empreendedores por oportunidade x empreendedores por

necessidade. A proporção de 2,5 x 1 encontrada em 2013 indica tanto a evolução quanto a

longa jornada brasileira na escalada de desenvolvimento para alcançar países como os Estados

Unidos e França que já registraram respectivamente 6,86 e 8,35 empreendedores por

oportunidade para cada um por necessidade10.

Em contraponto aos aspectos positivos mapeados neste artigo, os indicadores relativos

à formalização dos empreendedores iniciais (TEA) e estabelecidos (TEE) apresentados na

tabela 1 demonstram a fragilidade com que tais empreendimentos subsistem no ambiente

legal, explicitando a necessidade premente de programas de apoio à formalização. Torna-se 9  Fonte:  Empreendedorismo  no  Brasil  (IBQP,  2013,  p.  30  e  31)  10  Fonte:  Empreendedorismo  no  Brasil  (IBQP,  2010,  p.40)

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oportuno registrar que mesmo com a entrada em vigor do Microempreendedor Individual

(MEI) em 2009, o índice de informalidade registrado pela pesquisa 2013 é substancialmente

elevado, em especial para as empresas com mais de 3,5 anos de existência, onde cerca de 93%

fatura até R$ 60 mil/ano, dos quais 74,1% dos negócios não possui nenhum registro e 79,8%

não possui CNPJ.

Mediante os resultados apostos na tabela 3, a inovação também se insere na esfera dos

indicadores que demandam atenção, pois os números revelam que tanto os empreendimentos

iniciais quanto os estabelecidos desenvolvem atividades de baixo conteúdo tecnológico,

destinados à prestação de serviços ou oferta de produtos com baixo valor agregado ao

consumidor.

Merece igualmente um acompanhamento mais meticuloso o indicador referente às

fases do desenvolvimento econômico estabelecidas no Relatório de Competitividade Global,

pois que ao integrar o rol dos 28 países impulsionados por eficiência (quadro 1), competindo

no grupo que apresenta o maior número de participantes (gráfico 3), o desafio imposto às

instituições de fomento dos negócios nacionais passa a ser não apenas ampliar o tempo de

existência, como também introduzir a inovação como uma prática efetiva no processo

produtivo de cada negócio, sedimentando o avanço da atividade empreendedora no Brasil ao

patamar dos países desenvolvidos.

Esta investigação sobre os impactos do empreendedorismo na economia de países

emergentes, cuja base econômica está alicerçada nos pequenos negócios, conduz às seguintes

conclusões:

1) Em  referência  ao  primeiro  objetivo  específico,  a  série  histórica  GEM  apresenta  

como  pontos  fortes  o  crescimento  da  atividade  empreendedora  (TEA  e  TEE),  e  o  aumento  

da   proporção   oportunidade   x   necessidade,   expostos   nos   gráficos   1   e   2,   confirmando   a  

evolução  da  atividade  empreendedora  no  Brasil;  

2) Em   alusão   à   inovação,   foco   de   análise   do   segundo   objetivo   específico,   as  

evidências   que   se   apresentam   na   tabela   3   demonstram   as  melhorias   que   precisam   ser  

intensificadas   no   contexto   brasileiro   mediante   o   baixo   valor   agregado   em   produtos   e  

serviços.  Constata-­‐se  portanto  que  a   inovação  ainda  não  está  na  essência  dos  pequenos  

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negócios   nacionais,   vindo   a   contribuir   para   a   posição   Brasil   no   rol   dos   países  

impulsionados  por  eficiência  (quadro  1).  

3) Quanto   ao   terceiro   objetivo   específico,   ressalta-­‐se   a   importância   do   Brasil  

estar  bem  posicionado  no   ranking   total  dos  países  pesquisados,  pois  o   retrocesso  de  4ª  

para   8ª   posição   de   2010   para   2013   dentre   os   28   países   impulsionados   pela   eficiência,  

sinaliza   a   necessidade   de   acompanhar   as   condições   de   desenvolvimento   da   atividade  

empreendedora   nos   países   mais   bem   colocados,   sob   o   risco   do   aumento   do  

distanciamento  resultar  em  dificuldade  de  reversão,  no  futuro.  

A representatividade dos pequenos negócios na economia nacional justifica, portanto,

o conjunto de instituições que se dedicam a compreender as particularidades deste universo,

destacando-se neste contexto a relevância do modelo GEM que ao possibilitar o

monitoramento dos dados, possibilita igualmente aos órgãos governamentais e outros atores

relevantes nesta seara a identificação dos fatores críticos de sucesso para os pequenos

negócios, apontando as oportunidades de melhoria que deverão ser objeto de investimento de

governo e iniciativa privada no longo prazo.

 

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