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Editorial Avisos à navegação política As eleições são sempre importantes para os partidos, quaisquer que elas sejam, uma vez que é através do voto expresso nas urnas q ue os partidos políticos verificam como estão a ser vistos pelo eleitorado. Mesmo as eleições presidenciais, que são as únicas onde quem vai a votos são pessoas e não partidos políticos, no fundo, existe sempre uma ligação entre os pessoas e os  partidos, daí a s ua importância. Na s últimas eleições pres idenciais as cand idaturas de Edgar Silva e de Marisa Matias eram claramente resultado de uma decisão partidária e não de uma decisão individua l, enquanto as candidaturas de Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, apresentaram-se como candidaturas individuais, mas dentro de um determinado espaço do espetro político, logo, mais ou menos coladas aos partidos que os apoiavam. Por i sso, as vitórias e as análises que resultam das eleições presidenciais , são também uma vitória ou uma derrota dos partidos políticos e não apenas dos candidatos.  Neste sentido, o de sfecho das e leições pres idências, no concelho de Montemor-o-Novo no passado dia 24 de janeiro, foi um resultado histórico em que ninguém acreditava que  poderia vir a acon tecer: a vitória do candidato da direita, Marcelo Rebelo de S ousa. É certo que esta vitória contou com o ‘apoio’ da divisão existen te no partido socialista que impediu a vitória de Sampaio da Nóvoa, mas mesmo assim não deixa de ser surpreendente, num concelho até aqui dominado politicamente pelo partido comunista,

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Editorial

Avisos à navegação política

As eleições são sempre importantes para os partidos, quaisquer que elas sejam, uma vezque é através do voto expresso nas urnas que os partidos políticos verificam como estãoa ser vistos pelo eleitorado.Mesmo as eleições presidenciais, que são as únicas onde quem vai a votos são pessoas enão partidos políticos, no fundo, existe sempre uma ligação entre os pessoas e os

 partidos, daí a sua importância. Nas últimas eleições presidenciais as candidaturas deEdgar Silva e de Marisa Matias eram claramente resultado de uma decisão partidária enão de uma decisão individual, enquanto as candidaturas de Marcelo Rebelo de Sousa,Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, apresentaram-se como candidaturas individuais,mas dentro de um determinado espaço do espetro político, logo, mais ou menos coladasaos partidos que os apoiavam. Por isso, as vitórias e as análises que resultam daseleições presidenciais, são também uma vitória ou uma derrota dos partidos políticos enão apenas dos candidatos.

 Neste sentido, o desfecho das eleições presidências, no concelho de Montemor-o-Novono passado dia 24 de janeiro, foi um resultado histórico em que ninguém acreditava que

 poderia vir a acontecer: a vitória do candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa. Écerto que esta vitória contou com o ‘apoio’ da divisão existente no partido socialista que

impediu a vitória de Sampaio da Nóvoa, mas mesmo assim não deixa de sersurpreendente, num concelho até aqui dominado politicamente pelo partido comunista,

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que um candidato do espetro político da direita vença claramente, deixando o candidatoapoiado pelo PCP a dez pontos percentuais de distância. Isto nunca aconteceu aquidesde a revolução que teve lugar a 25 de abril de 1974. Em mais de 40 anos dedemocracia, as derrotas eleitorais do PCP aqui foram muito poucas e apenas em favordo partido socialista.Mas para além do fenómeno que foi a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, um outrocandidato marcou também a diferença: Marisa Matias. A candidata apoiada pelo Blocode Esquerda ficou em quarto lugar neste concelho, mas provou algo que já se estava asentir: existe em Montemor um conjunto de pessoas que se identificam com os valoresde esquerda, mas não pretendem votar no PS ou no PCP. E este eleitorado está a crescer,tanto no país como neste concelho. Mais, não é apenas uma situação a ter em conta nazona urbana, é algo transversal a todas as freguesias. Considerando que Marisa Matiasfoi capaz de ultrapassar o resultado do Bloco de Esquerda nas eleições legislativas de 4de outubro em 16 por cento, está a ficar claro que aquela força política está a fixar umdeterminado eleitorado que necessita de uma mensagem de esperança que o Bloco estáa conseguir passar de forma eficaz.Esta situação pode ser vista como o resultado da crise que está em cima desta sociedade

 praticamente desde 2008, sem que se vejam resultados palpáveis e sem que se consigater esperança no futuro. No fundo, o Bloco de Esquerda, tal como o Syriza na Grécia ouo Podemos em Espanha, está a combater esta situação e a tentar passar uma mensagemdiferente que está a agarrar um determinado eleitorado que está farto das mesmassoluções para os problemas existentes.Esta situação significa que a sociedade vai mudando lentamente, e como tal, oeleitorado também está a mudar, por isso, os partidos existentes neste concelho tambémtêm de se adaptar à mudança porque certamente existirão no futuro oportunidades eameaças que é necessário ter em consideração. Com as eleições autárquicas a

 praticamente um ano e meio de distância, convém ir preparando as estratégias para quenão existam surpresas em 2017, e o eleitorado do Bloco de Esquerda neste concelho temde passar a ser considerado, face à sua crescente dimensão.

A.M. Santos NaboFevereiro 2016