EB - UVB
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DisciplinaAnálise da Conjuntura Econômica Nacional
Prof. Ms. Ivan Bolis Dauchas
2006
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APRESENTAÇÃOCaro aluno:
No primeiro semestre do curso, você estudou a Formação Econômica do
Brasil, do período colonial até a década de 1930. A presente disciplina é, até
certo ponto, uma continuidade dessa abordagem histórica da economia
brasileira.
O nosso curso está dividido em duas partes. Na primeira, continuaremos
a analisar o processo histórico de desenvolvimento do Brasil. Partiremos
dos anos 1930 e iremos até fatos relativamente recentes, como o Plano
Real, a abertura comercial brasileira e o processo de privatizações. A
partir daí, voltaremos nossa atenção aos grandes temas que preocupam a
sociedade brasileira de uma maneira geral, como a questão ambiental, as
transformações no mercado de trabalho, o problema da concentração de
renda e outros mais.
Você estudou um semestre de Formação Econômica do Brasil e, agora,
terá mais uma disciplina, em parte, focada na análise histórica. Talvez você
esteja se questionando se essa visão histórica da economia brasileira é, de
fato, tão importante. Veja bem, o nosso presente é um desdobramento do
passado. Não é possível compreendê-lo profundamente se não olharmos
para trás. Existem várias questões econômicas de extrema relevância que
somente podem ser compreendidas a partir de uma análise histórica. Além
disso, muitos fatos importantes do presente têm incríveis semelhanças com
eventos ocorridos no passado.
Em Ciências Humanas, de um modo geral, não podemos fazer
experimentações empíricas, como fazem os físicos, por exemplo. Portanto,
a história é o nosso laboratório de análises. Nós temos de aprender com o
passado para tomar atitudes acertadas no presente.
A partir desse estudo histórico e da discussão de grandes temas da
atualidade, você estará muito mais apto a entender o momento em que
vivemos e a tomar as melhores decisões dentro do ambiente empresarial.
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Nosso estudo será empolgante e eu lhe desejo muito sucesso.
Seja bem-vindo!
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EMENTÁRIO
A ênfase das primeiras aulas de nossa disciplina está no processo brasileiro
de industrialização. Você verá que uma mudança no cenário político deu
um impulso à indústria nacional a partir de 1930. Esse entendimento de
que a industrialização era o caminho para se alcançar o desenvolvimento
permaneceria nas décadas posteriores.
Nos anos 1950, vamos voltar nossa atenção ao Plano de Metas implementado
durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Na década seguinte,
um novo fato político iria determinar os rumos da economia nacional: o
golpe militar de 1964.
Você verá que existem três momentos do regime militar que são de grande
importância para compreender o Brasil: as reformas estruturais implantadas
durante a gestão do presidente Castello Branco, o “milagre” econômico no
final dos anos 1960 e início dos anos 1970 e o II PND, um audacioso programa
de industrialização executado durante a crise mundial do petróleo.
Os anos 1980 foram marcados pela recessão econômica, pela crise da dívida
externa, pelo descontrole inflacionário e por uma série de tentativas mal
sucedidas de se controlar a inflação. Nos anos 1990, o Brasil, com o Plano Real,
conseguiu vencer a luta contra a inflação. Concomitantemente, tem início a
busca por um novo modelo de desenvolvimento para o país. É dentro desse
contexto que ocorre a abertura comercial brasileira e as privatizações.
O restante do nosso curso será dedicado a grandes temas da atualidade.
Começaremos pelo grave problema da concentração de renda no país, logo
em seguida estudaremos um outro problema social: as transformações no
mercado de trabalho e o desemprego. Ainda tendo a questão social como
pano de fundo, iremos analisar o desequilíbrio econômico entre diferentes
regiões do país.
Finalmente, chegaremos aos últimos temas a serem estudados. Nosso
primeiro desafio será entender o papel dos investimentos estrangeiros para
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o desenvolvimento do país. O setor agrícola não poderia ser esquecido, por
isso dedicaremos uma aula a esse tema e, finalmente, estudaremos um dos
maiores desafios do mundo moderno: a questão ambiental.
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HABILIDADES E ATITUDES
1 – Obter uma visão ampla do processo de industrialização brasileiro a
partir de 1930.
2 – Identificar os principais fatos históricos que contribuem para a
explicação da realidade econômica nacional hoje.
3 – Estabelecer uma cronologia histórica, bem como compreender as
relações de continuidade entre esses fatos.
4 – Dimensionar a importância de cada um desses fatos como elemento
explicativo do atual quadro de subdesenvolvimento do país.
5 – Identificar e compreender os principais desafios ao desenvolvimento
nacional em um contexto de globalização econômica.
6 – Avaliar, com base nos problemas diagnosticados, as possibilidades
e limites de crescimento e desenvolvimento econômico do país.
7 – Participar de debates e discussões acerca da conjuntura econômica
nacional.
8- Compreender como fatores econômicos, tanto de natureza estrutural
como conjuntural, influenciam a tomada de decisões dentro do
ambiente corporativo.
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SUMÁRIO
Aula 1: A Crise de 1930 e o Avanço da Indústria
Aula 2: O Plano de Metas
Aula 3: A crise dos Anos 1960 e o Paeg
Aula 4: O “Milagre” Econômico e o II PND
Aula 5: A Crise da Dívida Externa
Aula 6: O Combate à Inflação nos Anos 1980
Aula 7: O Plano Real
Aula 8: A Abertura Comercial Brasileira
Aula 9: As Privatizações
Aula 10: Pobreza e Distribuição de Renda
Aula 11: Mercado de Trabalho e Desemprego
Aula 12: Desequilíbrios Regionais
Aula 13: Investimentos Estrangeiros no Brasil
Aula 14: O Desempenho Agrícola
Aula 15: Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico
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Anotações do Aluno
Aula Nº 1 – A CRISE DE 1930 E O AVANÇO DA INDÚSTRIA
Objetivos da aula:
O objetivo dessa aula é apresentar e discutir as transformações políticas
e econômicas ocorridas no Brasil a partir da década de 1930. Para isso,
partiremos do estudo da Grande Depressão, deflagrada a partir da
quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. Posteriormente,
analisaremos os impactos da crise internacional na esfera política e
econômica do Brasil. É dada ênfase especial à compreensão do modelo
de industrialização por substituição de importações.
Introdução
A década de 1930 foi um marco na história econômica e política do Brasil.
Em decorrência da Grande Depressão da economia mundial, precipitada
a partir da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, o modelo
econômico vigente, baseado na exportação de bens primários, entrou
em colapso. Os cafeicultores perderam poder político e a economia
transformou-se. Gradualmente, o país agrário foi dando lugar a uma
sociedade de base urbano-industrial.
É bem verdade que o processo brasileiro de industrialização não começou
nos anos 1930. A indústria nacional começou a ter alguma importância
econômica a partir do final do século XIX, mas é a partir de 1930 que
esse processo se intensificou. A industrialização brasileira deu-se por
meio de substituição de importações, ou seja, passamos a produzir
domesticamente bens que anteriormente vinham do exterior. Pela sua
menor complexidade, o país começou produzindo bens de consumo não
duráveis e, posteriormente, passou a produzir também bens duráveis e
bens de capital.
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1. A QUEBRA DA BOLSA E A GRANDE DEPRESSÃO
As economias capitalistas parecem ser intrinsecamente instáveis. De
acordo com a teoria dos ciclos econômicos, períodos de expansão dos
investimentos, da produção e do consumo intercalam-se com períodos em
que essas mesmas variáveis se contraem. O intervalo entre uma expansão e
uma crise costuma variar entre sete e dez anos. Existem registros de várias
crises econômicas ao longo da história do capitalismo. A Primeira Grande
Depressão ocorreu entre 1873 e 1896; a Segunda Grande Depressão, que
normalmente as pessoas chamam apenas de Grande Depressão, ocorreu
entre 1929 e 1933.
A crise de 1930 começou com a formação de uma “bolha especulativa”
no mercado de ações. Bolha especulativa é um termo muito utilizado por
analistas de mercados financeiros. O crash ocorrido na bolsa de Nova Iorque,
em outubro de 1929, é, sem dúvida, a bolha especulativa mais famosa da
história. Vejamos como tudo aconteceu. A economia norte-americana
apresentava uma forte expansão na década de 1920, em conseqüência
houve um substancial aumento dos lucros das empresas daquele país.
Logicamente, todos queriam aproveitar esse momento favorável e lucrar
também, por isso muitos resolveram comprar ações. O crescimento brutal
da demanda fez aumentar os preços desses ativos, formou-se, então, uma
bolha. Em um determinado momento, várias pessoas perceberam que os
preços estavam exageradamente elevados e resolveram sair do mercado.
Essa saída, entretanto, não se deu de forma suave, muito pelo contrário, foi
uma corrida para vender rapidamente os papéis antes que desvalorizassem.
Os profissionais de mercado costumam chamar esse fenômeno de “efeito
manada”. Como conseqüência, os preços desabaram e a bolha estourou. A
quebra da bolsa foi o estopim de uma grande crise que afetou praticamente
todos os países do mundo, exceto a União Soviética. Somente nos Estados
Unidos, a crise gerou 85 mil falências e 15 milhões de desempregados. O
comércio internacional também foi bastante afetado com a crise. Estima-
se que a sua redução tenha sido de dois terços nessa mesma época.
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2. A RUPTURA DO MODELO PRIMÁRIO-EXPORTADOR
Conforme já dissemos, a década de 1930 foi um ponto de inflexão da
economia brasileira. Até 1930, o Brasil era um típico exemplo de economia
primário-exportadora, ou seja, o país era um mero fornecedor de produtos
primários dos mercados internacionais. Entre os produtos exportados
pelo Brasil, estavam: borracha, cacau, açúcar, tabaco, algodão, erva-mate
e, logicamente, o café. A indústria era bastante incipiente e os produtos
industrializados eram, em sua maioria, importados. Com a crise mundial,
houve redução drástica das exportações brasileiras e, conseqüentemente,
falência desse modelo. Gradualmente, nossa economia foi se diversificando,
substituindo importações e voltando-se, cada vez mais, para o mercado
interno.
A crise mundial reduziu, drasticamente, as exportações de todos os
produtos brasileiros, mas, como nossa economia era altamente dependente
das exportações de café, a crise se manifestou com mais intensidade nesse
setor. Desde o final do século XIX, o Brasil vinha sofrendo os efeitos de
uma superprodução. O café era uma atividade altamente rentável, logo
o lucro proporcionado pelas exportações do produto era convertido na
produção de mais café. Como o Brasil detinha aproximadamente 75% da
oferta mundial, isso acabou gerando excesso de produção e queda no
preço. A Grande Depressão simplesmente precipitou o colapso inevitável
desse modelo. Com a crise, o governo brasileiro adotou a controvertida
política de compra e posterior destruição da produção excedente de café.
É verdade que a política de retenção de estoques começou a partir do
Convênio de Taubaté, em 1906. Mas, com a crise, o governo passou a não
somente comprar a produção excedente, mas também a destruí-la. Essa
política aparentemente absurda continha uma lógica do ponto de vista
econômico, primeiramente porque, ao reduzir a oferta, impediu que os
preços caíssem a patamares ainda mais baixos. Em segundo lugar, porque
gerou um aumento na renda que atenuou os efeitos da crise no país.
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3. A REVOLUÇÃO DE 1930
As transformações decorrentes da crise do setor exportador não ficaram
restritas à economia, atingiram também a esfera política. Os produtores de
café perderam o poder para uma classe industrial ascendente. Todavia, não
foi somente isso. Pode-se dizer que um Estado Oligárquico (onde poucos
detinham o poder de fato) deu lugar a um Estado Populista (voltado para
as massas urbanas). Vejamos como isso aconteceu. O aparente liberalismo
político e econômico da Primeira República, marcada pela ampla autonomia
dos Estados, pelo voto universal e não obrigatório e pelo liberalismo
comercial, era, de fato, um engodo. O Estado brasileiro era atrasado, rural,
oligárquico e patrimonialista. As eleições eram marcadas por fraudes que
garantiam uma alternância entre presidentes paulistas e mineiros, por
isso chamada de política do “café-com-leite”. A base dessa estrutura de
dominação era o grande proprietário de terras, conhecido como “coronel”.
Como o voto era a descoberto (não secreto), as populações rurais eram
praticamente obrigadas a votar em quem o “coronel” determinasse, prática
política que ficou conhecida como “voto de cabresto”. Se isso ainda não
fosse suficiente para garantir a escolha do candidato “certo”, as eleições eram
simplesmente fraudadas. A moralização do processo eleitoral brasileiro era
uma antiga reivindicação de alguns setores da sociedade, principalmente
dos trabalhadores urbanos que se sentiam totalmente alijados do sistema
de representação. A mudança desse sistema foi uma bandeira empunhada
também pelo movimento tenentista na década de 1920, cujo lema era
“representação e justiça”. Não foi por acaso que os principais integrantes
desse movimento apoiaram a Revolução de 1930.
A eclosão do movimento revolucionário deu-se a partir de uma crise política
gerada durante a sucessão à Presidência da República. O Presidente de
Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, era o sucessor natural do
Presidente Washington Luís, de acordo com os arranjos instituídos a partir
da política do café-com-leite. Washington Luis insistia, no entanto, em
lançar, como candidato oficial, o político paulista, Júlio Prestes. Os políticos
mineiros, logicamente, sentiram-se traídos, fizeram acordos com oligarquias
rurais de outros estados e outras forças políticas que resultaram na criação da
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Aliança Liberal e no lançamento, como candidato à Presidência da República
e adversário de Prestes, o Presidente do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas.
Os esquemas políticos de voto de cabresto e fraudes eleitorais garantiram
a vitória do candidato de São Paulo. Todavia, os derrotados não aceitaram
o resultado das urnas e resolveram buscar por meio das armas o que não
foi possível por meio do voto. No dia 03 de outubro de 1930, começaram
as operações militares que conduziriam em pouco mais de vinte dias os
revolucionários ao poder.
4. O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA
Conforme já foi dito, a crise de 1930 foi um momento de ruptura da
economia brasileira. Vejamos, com mais detalhes, como a Grande Depressão
funcionou como estímulo positivo ao processo de industrialização do país.
Com a crise, houve redução na capacidade de importar do país. Como
resultado, fomos obrigados a substituir importações e expandir a produção
industrial. Mais precisamente, essa expansão entre 1929 e 1937 foi de 50%.
Pela primeira vez na nossa história, o mercado consumidor interno passou
a ser um fator preponderante na dinâmica da economia nacional.
Convém ressaltar, no entanto, que o processo de substituição de
importações continha certos limites e contradições. Por exemplo, ao
substituir importações, gerava-se, simultaneamente, necessidade de
novas importações. Vejamos como isso acontecia. A primeira indústria
a ser implantada no Brasil, pela sua complexidade inferior, foi a de bens
de consumo não duráveis, como têxteis, chapéus, círios, cigarros, cerveja
etc. Todavia, essa indústria gerava uma demanda, até então inexistente,
por bens de capital (máquinas e equipamentos) e bens intermediários
(matéria-prima), que não eram produzidos no país e que, por isso, teriam
de ser importados.
Um outro problema dessa primeira etapa da industrialização por
substituição de importações estava na sua incapacidade de acumular
capital autonomamente. Para ampliar a capacidade de produção, o país
dependia da importação de bens de capital do exterior, ou seja, havia,
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no Brasil, um problema de “industrialização restringida”, que só seria
resolvido após a implementação do Plano de Metas, durante o governo
do Presidente Juscelino Kubitschek, na década de 1950.
Vejamos dois momentos diferentes da nossa história que ilustram bem
esse segundo problema. Durante a Primeira Guerra Mundial, a redução de
importações gerou um aumento da produção industrial brasileira. Porém,
essa expansão se deu meramente por redução de capacidade ociosa.
O Brasil não tinha como expandir sua capacidade produtiva, pois não
dispunha de uma indústria de bens de capital.
Da mesma forma, houve, também, durante a crise de 1930, um aumento
da produção industrial, mas desta vez acompanhada de um aumento da
capacidade produtiva. O país ainda não possuía uma indústria de bens
de capital, porém, com as falências geradas pela Grande Depressão, foi
possível comprar máquinas usadas no exterior por preços relativamente
baixos, ou seja, nos dois casos, o país não tinha autonomia no processo de
acumulação de capital.
Referências
MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marcos Cordeiro. Formação
econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira.
São Paulo: Saraiva, 2005.
SAES, Flávio Azevedo Marques de et al. Formação econômica do Brasil.
São Paulo: Atlas, 1997.
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Aula Nº 2 – Plano de MetasObjetivos da aula:
O objetivo dessa aula é apresentar e discutir o processo de desenvolvimento
industrial durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-
1960). Começamos nossa aula fazendo uma síntese dos acontecimentos
econômicos ocorridos entre a Revolução de 1930 e a posse de JK.
Posteriormente discutimos a problemática do planejamento econômico
no Brasil e finalmente as principais características do Plano de Metas.
ANTES DE JUSCELINO
Getúlio Vargas governou “provisoriamente” o Brasil de 1930 até 1934,
quando foi eleito presidente por uma Assembléia Constituinte. Seu mandato
deveria durar até 1938, mas, em 1937, Vargas lidera um golpe militar, dissolve
o Parlamento e nomeia interventores nos Estados. Tem início então a fase
ditatorial do seu governo conhecida como Estado Novo, que se estenderia
até 1945. Com Vargas, há uma forte centralização do poder e o país
assume um projeto desenvolvimentista, tendo o Estado como seu agente
primordial. As dificuldades em atrair investimentos estrangeiros bem como
a fragilidade do empresariado nacional, fazem o Estado assumir o papel
de produtor direto. Nesse período, começa a implantação da indústria de
base no país, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (1941) e da
Companhia Vale do Rio Doce (1943).
Com o final da Segunda Guerra, em 1945, há uma pressão pela
redemocratização do país. Em 1945, é eleito presidente o general Eurico
Gaspar Dutra. Sob o ponto de vista econômico, o fato mais marcante desse
novo governo foi a implementação de uma política de controle cambial
e de importações, decorrente de um problema de desequilíbrio do setor
externo. O crescimento da produção industrial experimentado sobretudo
nos primeiros anos do pós-guerra pode ser considerado uma decorrência
dessa política de valorização cambial e seletividade nas importações.
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Em 1951, Getúlio Vargas ocuparia novamente a Presidência da República,
desta vez eleito pelo voto direto. Entre as suas principais realizações nesse
segundo mandato, estão a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico (BNDE)1 e da Petrobrás, respectivamente em 1952 e 1953.
O desgaste político de Vargas começa em 1954, decorrente de uma
polêmica proposta de aumento do salário mínimo em 100%. Essa proposta
desagradou alguns setores da sociedade, que o acusavam de populista.
Além disso, outros problemas de ordem econômica e denúncias de
corrupção no governo deixaram o presidente politicamente isolado. A
oposição precisava apenas de um pretexto para depor o presidente. O
atentado contra o deputado e virulento crítico do regime, Carlos Lacerda,
serviu perfeitamente aos interesses dos oposicionistas. No dia 24 de agosto
de 1954, ao saber, por meio de assessores que seria deposto, Vargas se mata
com um tiro no peito. Com o suicídio de Vargas, assume o vice-presidente,
Café Filho, que governou o país até a eleição de Juscelino Kubitschek.
OS “ANOS DOURADOS”
Juscelino assumiu o poder em 1956 e governou até 1960. O período JK
normalmente costuma ser associado a uma espécie de “era de ouro” da
história do país. Essa percepção coletiva de “anos dourados” extrapola
o aspecto meramente econômico. O Brasil viveu neste período uma
efervescência no campo das artes, da cultura e do esporte. É nessa época que
surge a Bossa Nova, que o Brasil ganha a sua primeira Copa do Mundo e que
é inaugurada a nova capital do país, de arquitetura arrojada e modernista.
TENTATIVAS DE PLANEJAMENTO NO BRASIL
Uma das marcas do governo Kubitschek foi a realização do Plano de Metas,
a primeira tentativa bem sucedida de planejamento econômico no país. É
bem verdade que o planejamento econômico era uma espécie de modismo
em praticamente todo mundo após a Segunda Guerra. Vejamos como tudo
começou. Em 1929, a antiga União Soviética pôs em prática o seu primeiro
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plano qüinqüenal. Essa experiência extremamente exitosa fez a participação
da produção industrial soviética em relação à produção mundial crescer de
5% para 18%, entre 1929 e 1938. Ao mesmo tempo em que a indústria se
desenvolvia na União Soviética, o mundo capitalista vivia a maior crise de
sua história, a Grande Depressão. Após a Segunda Guerra Mundial, com o
advento da teoria keynesiana, que propunha uma intervenção maior do
Estado na economia, o planejamento econômico ficou bastante popular
também nos países capitalistas.
No Brasil, a primeira tentativa de planejamento econômico ocorreu em
1947, durante o governo Dutra, com o Plano Salte, que previa investimentos
nas áreas de saúde, alimentação, transporte e energia (daí o nome Salte). O
plano não foi bem sucedido, na realidade, pode-se dizer que ele mal saiu
do papel. A inexistência de formas definidas de financiamento pode ser
considerada a principal razão do seu fracasso.
Em 1951, durante o segundo governo Vargas, uma comissão formada
por técnicos brasileiros e norte-americanos foi responsável pela segunda
tentativa de planejamento no país. A partir dos problemas detectados pela
Comissão Mista Brasil - Estados Unidos (CMBEU) seriam realizados diversos
investimentos, financiados pelo Banco de Exportação e Importação dos
Estados Unidos (Eximbank) e pelo Banco Mundial. Contudo, a eleição do
candidato republicano, general Eisenhower, à presidência dos Estados
Unidos, em 1952, abortaria essa segunda tentativa de planejamento. Com
o acirramento da Guerra Fria, a prioridade do governo norte-americano
passou a ser o combate ao comunismo. Logo ficou claro que o governo
norte-americano não manteria os financiamentos dos projetos propostos
pela Comissão Mista. Apesar desse revés, esse estudo teve grande
importância, pois foi a partir dele que se detectou a necessidade de um
banco de desenvolvimento no país e foi criado o BNDE, em 1952.
A terceira tentativa ocorreu em 1953, também durante o governo Vargas,
a partir da formação do Grupo Misto BNDE-Cepal. Essa equipe, formada
por técnicos do BNDE e da Cepal - Comissão Econômica para a América
Latina, órgão regional das Nações Unidas - levantou uma série de pontos
de estrangulamento, relacionados sobretudo aos setores de transporte,
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energia, alimentação, educação e indústria de base. Esse estudo é sem
dúvida a base do Plano de Metas que seria implementado durante a gestão
de Juscelino Kubitschek.
SOBRE O PLANO DE METAS
O Plano de Metas foi elaborado em 1956, pelo Conselho de Desenvolvimento,
órgão diretamente subordinado ao Presidente da República, e começou a
ser implantado no início de 1957. Cinco áreas foram priorizadas: transporte,
energia, alimentação, educação e indústria de base No total, o plano continha
31 metas, entre elas estava a construção da nova capital federal, Brasília,
que foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960. De modo geral, costuma-se
dizer que o plano foi bem sucedido, pois uma parte significativa das metas
propostas foi atingida, conforme pode ser observado na tabela abaixo:
Plano de Metas – Previsão e Resultados (1957-1961)
Meta Previsão Realizado %
Energia Elétrica (mil quilowatts) 2.000 1.650 82
Carvão (mil toneladas) 1.000 230 23
Petróleo – produção (mil barris/dia) 96 75 76
Petróleo – refino (mil barris/dia) 200 52 26
Ferrovias (mil quilômetros) 3 1 32
Rodovias – construção (mil
quilômetros)
13 17 138
Aço (mil toneladas) 1100 650 60
Cimento (mil toneladas) 1400 870 62
Carros e caminhões (mil unidades) 170 133 78
Fonte: Banco do Brasil. Relatório e anuário estatístico, vários anos. Apud
ABREU, Marcelo de Paiva. A ordem do progresso: cem anos de política
econômica republicana, 1889/1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
O desenvolvimento industrial durante o período do Plano de Metas estava
estruturado em um tripé, constituído por: empresas estatais, pelo capital
privado nacional e pelo capital estrangeiro, sendo este último o agente
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mais importante. As empresas multinacionais passaram a dominar os
setores mais dinâmicos da economia brasileira, como bens de consumo
duráveis e bens de capital. Por outro lado, a produção de bens não duráveis
ficou a cargo das empresas privadas nacionais. É bastante clara a relação
de subordinação do capital nacional em relação ao capital estrangeiro. Por
vezes assistia-se a uma situação onde a atividade produtiva mais complexa
era exercida por uma empresa estrangeira, enquanto as empresas privadas
nacionais eram meras fornecedoras de insumos e componentes. O setor
automobilístico é bom exemplo dessa situação. As empresas estrangeiras
produziam os automóveis e as empresas nacionais forneciam autopeças.
Os investimentos estrangeiros foram fundamentais para o sucesso do Plano
de Metas. Mas quais razões levaram a esse aumento drástico da participação
do capital estrangeiro no setor produtivo nacional nesse período? Sem
dúvida, o nível de investimentos exigidos tornava inevitável a supremacia
do capital estrangeiro, mas houve também um outro fator importante que
merece ser analisado. A partir da segunda metade da década de 1950, há
uma mudança na estratégia de investimento das grandes corporações
internacionais. Terminada a Segunda Guerra, houve um grande esforço de
reconstrução das economias mais atingidas, principalmente Europa e Japão.
Em meados dos anos 1950, esse esforço já via sido praticamente concluído,
começa então um movimento de transnacionalização dos investimentos
na direção de outras regiões, inclusive áreas não desenvolvidas como a
América Latina e o Brasil, mais especificamente.
Cabe aqui fazer uma comparação entre o desenvolvimento industrial
nos governos Vargas e JK. Conforme já foi visto na aula anterior, durante
o período Vargas, o Estado foi o grande indutor do desenvolvimento
industrial. Vargas criou várias estatais e ficou com pecha de nacionalista
por conta dessa política. Por outro lado, durante a gestão JK, houve uma
profunda internacionalização da produção industrial. Será que essa
opção de Vargas pelo nacionalismo e de Kubitschek pelos investimentos
estrangeiros tem alguma relação com o cenário externo? Na aula passada,
chamamos a atenção para a importância do ambiente externo para se
compreender a dinâmica da economia nacional. Não iremos aprofundar
nessa discussão, mas é evidente que a opção pelo investimento público ou
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pelo capital estrangeiro está condicionada a uma dinâmica internacional.
Não era possível atrair investimentos estrangeiros durante o período Vargas,
havia uma preocupação dos setores público e privado em reconstruir o
que a guerra havia destruído e os movimentos de transnacionalização dos
investimentos estrangeiros era algo ainda bastante incipiente. Essa situação
muda radicalmente a partir da segunda metade dos anos 1950, durante o
governo de JK.
O modelo de desenvolvimento implementado durante o Plano de Metas,
comportava uma certa contradição, de acordo com a análise de REGO &
MARQUES (2005). Havia, nesse período, uma forte restrição às importações
o que constituía uma reserva de mercado para a produção de vários bens.
Essa política protecionista em relação ao comércio opunha-se a uma
postura bastante liberal no que diz respeito aos investimentos estrangeiros.
Não concordamos que haja aí uma contradição. Entendemos simplesmente
que essa foi a estratégia de desenvolvimento adotado no período, restringir
importações e incentivar os investimentos estrangeiros no setor produtivo.
Entendemos que as críticas mais coerentes ao Plano de Metas dizem
respeito ao impacto que este teve sobre a inflação e a distribuição de renda
entre indivíduos e entre regiões. Vamos entender melhor essa questão. O
financiamento dos gastos públicos se deu através da expansão dos meios de
pagamento. Porém, em economia, infelizmente “não existe almoço grátis”,
ou seja, tudo tem seu preço. Não é possível financiar investimentos sem
nenhum custo, simplesmente emitindo moeda. Essa expansão dos meios
de pagamento gerou inflação e, conforme ensina a teoria macroeconômica,
a inflação tem um forte efeito concentrador de renda entre os indivíduos.
A concentração se deu também entre regiões. Nesse período, já havia uma
forte disparidade de renda sobretudo entre a região sudeste (a mais rica)
e o nordeste (a região mais pobre). Os investimentos do Plano de Metas,
todavia, concentraram-se principalmente na região sudeste, aprofundando
ainda mais esse problema de desequilíbrio regional.
Finalmente, falta comentar um outro aspecto importante do Plano de
Metas. Com a implementação do plano, termina uma fase do processo
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de industrialização por substituição de importações conhecido como
“industrialização restringida”. Relembrando o que já vimos na aula
anterior, o Brasil, até a década de 1950, não tinha condições de aumentar
autonomamente a sua capacidade de produção. Não havia no Brasil uma
indústria de bens de capital e bens intermediários, só através de importações
era possível acumular capital. Com Vargas, começa a implantação da indústria
de base no país, mas podemos dizer que, somente após os investimentos no
setor de bens de capital ocorridos com o Plano de Metas, encerra-se esse
ciclo e o país adquire a capacidade de “caminhar com as próprias pernas”.
Notas
1 - O nome BNDES passaria a existir somente a partir de 1982, com a criação
de uma diretoria responsável por financiamentos na área social.
SÍNTESE
Você aprendeu nessa unidade que o Plano de Metas, implementado durante
a gestão do presidente Juscelino Kubitschek é considerado a primeira
tentativa bem sucedida de planejamento econômico no Brasil. O plano teve
no capital estrangeiro seu agente primordial, por isso houve, durante esse
período, uma profunda internacionalização da economia brasileira. Apesar
do seu sucesso, o plano teve algumas limitações. Os gastos públicos foram
financiados por expansão dos meios de pagamento, gerando inflação. Os
investimentos se concentraram na região sudeste do país, acentuando
ainda mais os desequilíbrios regionais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ABREU, Marcelo de Paiva. A ordem do progresso: cem anos de política
econômica republicana, 1889/1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
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VIANNA, Sérgio Besserman; VILLELA, André. O pós-Guerra (1945-1955). In:
GIAMBIAGI, Fábio et al . Economia brasileira contemporânea (1945-2004). Rio
de Janeiro: Elsevier, 2005.
VILLELA, André. Dos “anos dourados” de JK à crise não resolvida (1956-1963).
In: GIAMBIAGI, Fábio et al . Economia brasileira contemporânea (1945-2004).
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
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Aula Nº 3 – A Crise Dos Anos 60 E O Paeg
Objetivos da aula:
Compreender os principais fatos políticos e econômicos da primeira
metade da década de 1960. Nesta aula vamos estudar a crise política e
econômica do período Quadros/Goulart, o golpe militar de 1964 e as
primeiras medidas econômicas adotadas pelo governo autoritário.
Os Governos Jânio Quadros E João Goulart
Em 1961, o ex-governador de São Paulo, Jânio Quadros, é eleito presidente
e herda um conjunto de problemas macroeconômicos da gestão JK, tais
como: aceleração inflacionária, déficit fiscal e pressão sobre o balanço
de pagamentos. Para resolver essa questão, Quadros lança um pacote
econômico ortodoxo, que incluía entre, outras medidas, a desvalorização
cambial, a unificação da taxa de câmbio, a redução do gasto público e
uma política monetária restritiva. Apesar de ter obtido apoio dos credores
internacionais e do Fundo Monetário Nacional (FMI), Quadros não conseguiu
levar adiante sua estratégia econômica. Proveniente do pequeno Partido
Trabalhista Nacional (PTN), o presidente não conseguiu formar uma base
de sustentação para o seu governo no Congresso Nacional, dominado
pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e pelo Partido Social Democrático
(PSD). Por fim, em agosto de 1961, após cumprir uma pequena fração do
seu mandato, o presidente de hábitos excêntricos renuncia de forma tão
enigmática quanto a sua própria personalidade.
De acordo com a Constituição da época, com a renúncia, o vice-presidente,
João Goulart, que estava em viagem oficial pela China comunista, deveria
assumir o poder. Considerado populista, de esquerda e muito ligado aos
sindicatos, Goulart não era bem aceito pelos setores mais conservadores
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da sociedade. Os opositores tentaram impedir a sua posse, o que faz
surgir uma frente legalista, liderada pelo governador do Rio Grande do
Sul, Leonel Brizola (cunhado de João Goulart) exigindo a posse do vice-
presidente. Visando reduzir a tensão política, o Congresso Nacional tenta
uma medida conciliatória e aprova uma alteração do sistema de governo,
de presidencialista para parlamentarista. O objetivo dessa mudança era
diminuir os poderes do presidente. Em setembro de 1961, João Goulart
toma posse sob um sistema parlamentarista de governo que, no entanto,
não teria uma longa duração. O ato que estabeleceu o parlamentarismo
no Brasil, previa a realização de um plebiscito em 1965, onde a população
escolheria entre a manutenção do regime ou o retorno ao presidencialismo.
Porém o presidente Goulart, sentindo-se tolhido em seus poderes, não
queria esperar tanto e consegue antecipar a realização da consulta popular
para 1963. No plebiscito, o presidencialismo sai amplamente vitorioso.
A Crise Econômica E O Plano Trienal
Apesar das tensões políticas, a economia brasileira foi relativamente bem
até 1962. Em 1961, a taxa de crescimento foi de 8,6%, porém a inflação
atingiu nesse mesmo ano 47,8%, frente a 30,5% no período anterior.
Houve também, em 1961, uma redução da formação bruta de capital, o
que denotava que o auge dos investimentos pesados característicos do
processo de substituição de importações, já havia passado. Em 1962, frente
à crescente deterioração do quadro econômico, o governo lança o Plano
Trienal. O objetivo principal do plano era conciliar o combate à inflação
com um crescimento econômico próximo a 7%. A equipe responsável pela
elaboração do plano era liderada por Celso Furtado, que então ocupava
a função de ministro extraordinário para assuntos do desenvolvimento
econômico. A inflação foi diagnosticada como um problema de excesso de
demanda. Como acontece nessas situações, optou-se por uma política de
estabilização recessiva, baseada na contração monetária. Os resultados do
plano foram bastante negativos. Em 1963, o crescimento foi de 0,6%, frente
a uma taxa de 6,6% no ano anterior. Em julho de 1963, Celso Furtado deixa
o governo.
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A política recessiva adotada durante o Plano Trienal pode ter contribuído
para a deterioração do quadro macroeconômico, mas a crise que estava
começando a ganhar forma tinha na realidade um conjunto de causas
variadas. Em 1961, a renúncia de Jânio precipitou uma crise política,
reduzindo o nível de investimentos no país. Concomitantemente, havia
na economia brasileira um problema de demanda reprimida decorrente
da baixa renda per capita, da forte concentração da renda e da ausência
de mecanismos de financiamento de longo prazo. Essa falta de demanda
agregada gerava capacidade ociosa na indústria e aumento nos custos
médios de produção. O agravamento da crise econômica aumenta cada
vez mais o desgaste político do presidente João Goulart. O desfecho desse
quadro é bem conhecido: o golpe militar de 1964, a interrupção do processo
político democrático e o fim do populismo.
Ruptura Democrática E O Fim Do Populismo
Conforme dissemos na aula anterior, com a ascensão de Getúlio Vargas
em 1930, temos o fim do Estado Oligárquico (dominado por poucos) e o
começo do Estado Populista. Entende-se por populismo um movimento
político comum em países em desenvolvimento, sobretudo na América
Latina. Suas características principais são o relacionamento direto de
amplas massas populares com a cúpula do Estado e o surgimento do
político carismático, que por vezes se coloca como defensor do povo. Na
América Latina, o auge do populismo se deu com Vargas, no Brasil, e Perón,
na Argentina. Mais recentemente, essa questão voltou ao centro do debate
político, principalmente por conta da projeção internacional conquistada
pelo presidente venezuelano Hugo Chaves.
Políticos populistas podem por vezes adotar medidas econômicas
sabidamente ruins com o objetivo de satisfazer os anseios da massa e obter
apoio popular. Por exemplo, aumentos salariais superiores ao aumento
da produtividade tendem a gerar inflação. Como se sabe, os segmentos
de menor renda são os mais atingidos pela inflação e isso acaba tendo
um efeito concentrador de renda. Logo, conclui-se que, se o objetivo é
redistribuir melhor a renda, essa é uma péssima medida econômica e que
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deveria logicamente ser evitada. Mas por vezes o político populista age
exatamente dessa maneira, simplesmente para agradar seus eleitores.
Quando algo semelhante a isso acontece, diz-se que está sendo posta em
prática a pior versão do populismo, o chamado “populismo econômico”.
Os militares que assumiram o poder em 1964, acusaram o regime deposto
de populista. Os novos dirigentes da nação desejavam convencer a
sociedade de que tinham um projeto de modernização para o país e que
esse novo governo representava o fim do atraso populista. Convém aqui
fazer uma ponderação. De fato, os militares assumiram o poder em meio a
uma crise econômica. É verdade também que o Estado era populista no seu
sentido político, mas discutível sob o ponto de vista econômico. Todavia,
é inegável que o Brasil experimentou, durante o período populista, um
desenvolvimento industrial e um crescimento econômico extremamente
profundos. Segundo estudo realizado por MADDISON (1989), o Brasil foi o
país de maior crescimento mundial entre 1870 e 1987.
Outra crítica que os militares faziam ao regime deposto estava relacionada
ao seu nacionalismo exacerbado. Segundo os militares, políticas hostis ao
capital estrangeiro, como restrições às remessas de lucros ou estatização de
empresas multinacionais tenderiam a afugentar investidores internacionais
e aprisionar o país em uma situação de eterno subdesenvolvimento. Um
caso emblemático desse nacionalismo desmedido foi a encampação das
companhias telefônica e de fornecimento de energia elétrica (ambas norte-
americanas) pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
Uma das primeiras medidas adotadas pelo novo governo foi buscar uma
maior aproximação dos países desenvolvidos, sobretudo dos Estados
Unidos, e a normalização das relações com os organismos financeiros
internacionais.
O PAEG
O Paeg (Programa de Ação Econômica do Governo) foi um plano de
combate à inflação e reformas institucionais, elaborado pelos ministros
Roberto Campos (Planejamento) e Octávio Bulhões (Fazenda) e colocado
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em prática durante a gestão do presidente Castello Branco (1964-66). A
causa essencial da crise econômica, de acordo com os elaboradores do
plano, estava na aceleração inflacionária que afetava o país desde o início
dos anos 1960. A inflação gerava um ambiente de insegurança no meio
empresarial, reduzindo os investimos e o ritmo de crescimento do país.
O diagnóstico da inflação brasileira era bastante ortodoxo. Segundo Campos
e Bulhões, a inflação era decorrente de um excesso de demanda para uma
oferta limitada de bens. Esse excesso de demanda tinha basicamente três
causas, a saber: monetização dos déficits públicos, expansão do crédito
privado e majorações salariais superiores aos aumentos de produtividade.
O combate à inflação seria feito por meio de ajuste fiscal, de uma política
monetária restritiva e de contenção salarial.
A estabilidade de preços foi relativamente bem sucedida. Em 1964, a
inflação foi de 92,1%, no ano seguinte já cairia para 34,2% e continuaria
caindo nos anos seguintes até se estabilizar em torno de 19%. Apesar
desse aparente sucesso, BACHA (1988) defende a teoria de que houve um
erro no diagnóstico da inflação brasileira. Não havia excesso de demanda
na economia, mas sim pressões dos preços agrícolas, decorrente de uma
quebra de safra. De acordo com a análise desse autor, o governo colocou em
prática uma política recessiva de combate a inflação desnecessariamente.
Síntese
.Você aprendeu nessa aula que o Brasil passou por uma forte crise política
e econômica no início da década de 1960, que acabou ensejando no golpe
militar de 1964. Os militares defendiam que, para se modernizar, o Brasil
deveria abandonar as ultrapassadas políticas populistas e implementar um
conjunto de reformas institucionais. Em 1964, o governo militar lançou o
Paeg, um programa de estabilização e reformas (financeira e tributária).
Apesar de várias críticas que podem ser feitas, a avaliação do Paeg, de forma
geral, costuma ser positiva.
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Reformas Institucionais
Por conta do forte impacto que teria nos rumos da economia brasileira
nas próximas décadas, as reformas institucionais (financeira e tributária)
promovidas pelo Paeg costumam ser consideradas mais importantes que
o programa de estabilização dos preços. A reforma financeira criou duas
importantes instituições dentro do Sistema Financeiro Nacional (doravante,
SFN): o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil
(Bacen). O primeiro teria por função estabelecer as diretrizes básicas de
política monetária e cambial, o segundo executaria essas políticas, bem
como fiscalizaria as demais instituições financeiras do sistema. Outra
importante inovação foi a criação dos bancos de investimentos privados. O
SFN vigente na época era constituído basicamente de quatro tipos diferentes
de instituições: i) bancos comerciais privados, que proviam as empresas de
recursos de curto e médio prazo; ii) financeiras, que financiavam a aquisição
de bens duráveis; iii) caixas econômicas estaduais e federais, que atuavam
no crédito imobiliário e iv) bancos públicos (Banco do Brasil e BNDE),
que eram as únicas instituições que proviam as empresas de recursos de
longo prazo. A reforma financeira de 1964 criou os bancos privados de
investimentos. Era basicamente o que faltava para completar o conjunto,
uma instituição privada que fornecesse recursos de longo prazo. Os bancos
de investimentos deveriam atuar de duas maneiras: como emprestador
final (em menor escala) ou auxiliando as empresas na colocação de títulos
no mercado de capitais.
Outra importante inovação do SFN foi a instituição da correção monetária,
até então a lei não permitia a indexação de contratos. No mercado de títulos
públicos, a correção monetária se consubstanciaria através da criação, em
1964, da Ordem Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN) e no mercado de
títulos privados, a correção monetária passava a ser permitida pela nova Lei
dos Mercados de Capitais, de 1965.
A reforma tributária implementada nesse mesmo período tinha duas
finalidades básicas: aumentar a arrecadação de impostos e conferir uma maior
racionalidade ao sistema tributário. Sob o ponto de vista da arrecadação, a
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reforma foi bem sucedida. Entre 1963 e 1967, a carga tributária aumentou
de 16 para 21% do PIB. Por outro lado, a reforma conferiu um caráter
centralizador e regressivo ao sistema tributário nacional. Centralizador
porque limitou a competência dos estados e municípios de legislar sobre
matéria tributária. Regressivo porque incidiu proporcionalmente mais
sobre os segmentos de menor poder aquisitivo, uma vez que predominava
os impostos indiretos ou sobre consumo.
Outra importante inovação promovida nesse período foi a criação do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em 1964. O FGTS é um
fundo em nome do trabalhador, constituído a partir de depósitos mensais
efetuados pelo empregador de 8% do salário nominal. O FGTS veio
substituir a estabilidade no emprego a que o trabalhador tinha direito, após
trabalhar por dez anos na mesma empresa. O objetivo dessa mudança foi
o de promover uma maior flexibilidade no mercado de trabalho e com isso
aumentar a oferta de empregos formais.
A avaliação do Paeg, considerando o plano no seu todo, é positiva. O
governo conseguiu reduzir a inflação e promoveu um conjunto de reformas
fundamentais para o desenvolvimento do país. Todavia, algumas críticas
podem ser feitas. A primeira delas é a argumentação de BACHA, de que
houve um erro no diagnóstico da inflação brasileira e, por conta disso, a
implementação desnecessária de uma política recessiva com pesados
custos sociais. Além disso, podemos mencionar também um aumento
na concentração da renda devido à contenção (ou arrocho) salarial e à
instituição de um sistema tributário altamente regressivo.
Referência Bibliográfica
BACHA, Edmar Lisboa. Introdução à macroeconomia: uma perspectiva
brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
HERMANN, Jennifer. Reformas, endividamento externo e o “milagre” econômico
(1964-1973). In: GIAMBIAGI, Fábio et al . Economia brasileira contemporânea
(1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
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MADDISON, Angus. Desempenho da economia mundial desde 1870. In: GALL,
N. Nova era da economia mundial. São Paulo: Pioneira, 1989.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
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Aula Nº 4 – O “Milagre” Econômico e o II PND
Objetivos da aula:
Compreender e analisar dois momentos importantes da economia brasileira
durante o regime autoritário: o “milagre” econômico (1968-73) e o II PND
(1975-79).
O “Milagre” econômico
Quando se fala em ditadura militar, as pessoas logo pensam em repressão,
censura, prisões arbitrárias, deportações, desaparecimentos, torturas
e uma série outros fatos que todos desejamos esquecer. Mas, por mais
contraditório que isso possa parecer para alguns, foi justamente nesse
período de cerceamento das liberdades individuais que a economia
brasileira teve o melhor desempenho da sua história. Estamos falando do
“milagre” econômico.
Para entender o “milagre”, vamos ter de retroceder até a gestão Castello
Branco (1964-66). Como já foi visto na aula anterior, esse período foi marcado
pela implementação do Paeg, plano de estabilização e reformas estruturais.
Apesar do sucesso do Plano no que diz respeito aos seus próprios objetivos
(estabilização e reformas), o pais continuava preso a um crescimento
medíocre e errático (normalmente chamado de stop and go).
Em 1967, sob a administração agora do presidente Costa e Silva, há uma
mudança radical na condução da economia. O novo presidente nomeia o
Prof. Delfim Netto como Ministro da Fazenda. Havia naquele período uma
forte necessidade de se legitimar o regime militar. O objetivo dos militares
era o de justificar o golpe, de mostrar para que vieram, ou ainda, o de
convencer a sociedade de que o novo governo era melhor que o deposto. E
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isso somente seria possível através de crescimento econômico.
Com a mudança da política econômica implementada por Delfim Netto, o
crescimento tão cobiçado aconteceu. O “milagre” econômico ocorreu entre
1968-1973, durante os governos Costa e Silva e Médici. Nesses seis anos, o
Brasil cresceu a uma taxa média de 11% ao ano. Crescer seis anos seguidos
a uma taxa dessa já seria o suficiente para chamar esse período de milagre.
Mas, além disso, o Brasil conseguiu a enorme façanha de conciliar esse
crescimento vigoroso com inflação baixa e equilíbrio no setor externo.
Crescimento, Inflação e Equilíbrio Externo
Conciliar certos objetivos de política macroeconômica não é uma tarefa
muito fácil. Pelo menos desde a década de 1950, já se sabe que existe uma
certa dificuldade em se conseguir ao mesmo tempo inflação baixa e nível
de emprego elevado. Atualmente sabemos também que quando uma
economia cresce a um ritmo muito forte existe uma tendência de aceleração
inflacionária e desequilíbrio externo.
Você já ouviu alguma vez a expressão “crescimento sustentável”? Este
conceito está bastante relacionado com o que estamos tratando aqui.
Quando um país está crescendo a um ritmo muito acelerado, costuma-se
dizer que aquele crescimento não é sustentável no longo prazo e que em
determinado momento o governo deverá “frear” a economia. Se o governo
não o fizer, é bastante possível que uma crise inflacionária ou do setor
externo aborte o crescimento. Portanto, a Teoria Macroeconômica ensina
que é melhor crescer mais lentamente, mas de forma contínua, que ter um
crescimento rápido, mas que não se sustenta. Os economista até costumam
dizer o seguinte: o crescimento não pode ser como um “vôo de galinha”, ou
seja, algo que não se sustenta.
Por que quando a economia cresce existe essa tendência de inflação e
desequilíbrio externo? Bem, essa é uma questão complexa, que envolve
algumas noções de Macroeconomia. Vamos tentar entender. Se a economia
cresce muito rapidamente, alguns fatores de produção podem ficar escassos.
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Por exemplo, se a economia começa a crescer aceleradamente, o fator de
produção mão-de-obra pode ficar escasso. Nesse caso, o que irá acontecer
com os salários? Deverão aumentar. Porém salários maiores representam
aumento no custo de produção, o que pode significar aumento de preços.
Compreendeu? E se o fator de produção matéria-prima se tornar escasso?
O raciocínio é o mesmo.
Além disso, o crescimento muito acelerado pode gerar desequilíbrio do setor
externo. Vejamos como isso acontece. Quando a economia cresce, a renda
dos consumidores também cresce, logo o consumo agregado aumenta.
Esse aumento do consumo ocorre tanto em relação a produtos nacionais
como importados. Portanto, pode-se concluir que quando a economia
cresce, as importações crescem. Por outro lado, com relação as exportações,
as coisas não acontecem necessariamente dessa forma. Para exportar mais,
é necessário que a demanda externa cresça. Compreendeu o problema?
O crescimento econômico gera aumento de importações, mas não de
exportações. Consequentemente, há uma tendência de desequilíbrio nas
contas externas. Você entendeu agora por que o “milagre” econômico tem
esse nome? Seis anos seguidos de crescimento vigoroso com baixa inflação
e sem desequilíbrio externo é realmente um milagre.
Concentração de Renda, Desequilíbrio Inter-setorial e Dependência Externa
Até o milagre teve o seu “calcanhar de Aquiles”. Apesar das incríveis taxas
de crescimento, associadas a inflação baixa e equilíbrio externo, o “milagre”
tinha suas limitações. A principal crítica que se faz ao milagre econômico
diz respeito à concentração de renda. Houve nessa época um aumento da
desigualdade entre ricos e pobres. O vigoroso crescimento da economia
não trouxe melhoria na qualidade de vida para todos os extratos sociais. Por
isso a famosa frase atribuída ao presidente Médici. Ao ser indagado sobre a
economia, teria respondido “a economia vai bem, mas o povo vai mal”.
Esse aumento na concentração da renda tem um conjunto de explicações.
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Primeiramente, com o crescimento econômico, houve um forte aumento
da demanda por trabalhadores qualificados (engenheiros, administradores,
economistas, etc.). Mas não houve um crescimento significativo da demanda
por trabalhadores pouco qualificados. Em suma, o “milagre” fez com que a
renda dos mais qualificados crescesse proporcionalmente mais que a dos
poucos qualificados, gerando concentração na renda.
Outro fator que deve ser levado em conta para compreender esse aumento
de desigualdade de renda foi a contenção salarial imposta pelo regime militar.
Com o objetivo de controlar a inflação, o governo militar fazia um rigoroso
controle dos aumentos salariais e reprimia violentamente as manifestações
de trabalhadores. Essa contenção (ou arrocho) salarial também contribuiu
para aumentar o fosso entre ricos e pobres.
Além disso, o milagre gerou um desequilíbrio entre os diferentes setores
da indústria. Os investimentos realizados durante o período do ”milagre”
se concentraram principalmente no setor de bens de consumo duráveis.
Logo, começou a se formar um desequilíbrio entre os diferentes setores da
indústria. A produção no setor de bens duráveis crescia a um ritmo mais
acelerado que nos setores de bens de capital (máquinas e equipamentos)
e bens intermediários (petróleo, fertilizantes, produtos químicos, etc.). Com
o passar do tempo, esse desequilíbrio inter-setorial iria gerar um problema
de dependência externa. Ou seja, o país, por não ter o setor de bens de
produção (de capital e intermediários) suficientemente desenvolvido,
dependia da importação desses produtos.
O Choque de Petróleo e a Crise Internacional
Essa situação de dependência externa iria ficar muito mais complicada a partir
do primeiro choque do petróleo. Você se lembra quando nós discutimos
a importância de se estudar fatos internacionais para se compreender os
rumos da nossa economia? Bem, aqui nós teremos uma outra excelente
oportunidade para verificar como isso é realmente verdade.
No final de 1973, os países membros da Opep (Organização dos Países
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Exportadores de Petróleo) tomaram a decisão radical de reduzir a oferta
mundial desse produto, provocando o aumento do seu preço. Essa decisão
estava relacionada a um problema geopolítico envolvendo a guerra entre
árabes e israelenses. À crise que se inicia a partir daí, convencionou-se
chamar de “primeiro choque do petróleo”, o segundo choque iria ocorrer
em 1979, a partir da guerra civil do Irã.
O Brasil tinha, como já vimos, um problema de dependência externa. O
país precisava importar bens de capital e bens intermediários (petróleo,
principalmente), uma vez que essa indústria era pouco desenvolvida. Com
a crise, essa dependência se torna um problema crítico. O que fazer diante
de uma situação como essa? O governo brasileiro tinha duas alternativas.
A primeira possibilidade seria promover um ajuste recessivo. Conforme já
dissemos, quando o país cresce menos, as importações diminuem. Logo, se
a economia crescesse a um ritmo mais lento (ajuste recessivo), o gasto com
importações diminuiria. A outra estratégia seria implementar um ajuste
estrutural: Ou seja, realizar mais investimentos e diminuir a dependência
por importações. Essa segunda estratégia era muito mais ousada, pois
implicava aumentar o desequilíbrio externo em um primeiro momento
para colher seus benefícios somente anos depois.
Conforme já dissemos, o regime militar buscava sua legitimação e para isso
deveria fazer o país crescer. Além disso, havia na sociedade (principalmente
entre empresários e banqueiros) uma pressão por um ajuste não-recessivo.
Pressionado, e necessitando justificar o golpe militar, o governo opta
pelo ajuste estrutural (não recessivo). É justamente a partir dessa decisão
de aprofundar o processo de substituição importações em meio a uma
crise econômica internacional que nasce o II PND (Plano Nacional de
Desenvolvimento Econômico).
O II PND
Se existiu um II PND, provavelmente deve ter existido também um I PND,
correto? Bem, o I PND foi implementado entre 1972-1974, durante a gestão
Médici, porém não costuma ser muito estudado por não ter tido um papel
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muito importante na determinação dos rumos da economia nacional. O
II PND, por sua vez, foi posto em prática ente 1975-79, durante a gestão
Geisel. Esse plano é considerado a mais ampla experiência de planejamento
econômico no Brasil depois do Plano de Metas e teve uma importância
fundamental na consolidação do processo de substituição de importações
ocorrido no Brasil.
Um dos objetivos do II PND era o de solucionar o problema de dependência
externa decorrente do desequilíbrio inter-setorial. Por isso comportava uma
série de investimentos no setor de bens de capital e de bens intermediários.
Todavia, para realizar todos os investimentos exigidos pelo II PND, seriam
necessários, logicamente, recursos financeiros. Você se lembra que em
economia “não existe almoço grátis”, não é mesmo? Pois bem, esses recursos
viriam principalmente dos chamados “petrodólares”.
Com o aumento do preço do petróleo ocorrido a partir de 1973, o valor
das exportações dos países produtores do bem cresceu significativamente.
Como não havia muitas opções para se aplicar esses recursos nesses países,
a maior parte desses dólares foi depositada em bancos de países ricos.
A partir disso, surgem os famosos petrodólares. Com o II PND, o Brasil se
transformou em um dos maiores tomadores de recursos (petrodólares) no
mercado financeiro internacional.
A avaliação que se faz do II PND costuma ser positiva. De modo geral,
pode-se dizer que os objetivos de mudança estrutural que motivaram
o Plano foram alcançados. Contudo, os resultados concretos só vieram a
acontecer entre 83-84, com a maturação dos investimentos realizados.
Entre esses resultados, três merecem destaque: i) a reversão do saldo da
balança comercial, que se tornou superavitária, ii) uma dependência menor
das importações de petróleo, iii) uma maior diversificação na pauta de
exportações do país, com predomínio de bens manufaturados (no lugar de
bens primários, como era no passado).
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Síntese
Nessa aula, você aprendeu que o “milagre” econômico é considerado o
período de melhor desempenho econômico da história recente do Brasil, por
conseguir aliar crescimento vigoroso, com inflação moderada e equilíbrio
no setor externo. Você viu também que o II PND foi uma ousada estratégia
de desenvolvimento adotada em meio à crise internacional gerada pelo
choque do petróleo.
Referência Bibliográfica
HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com
endividamento: o II PND e a crise da dívida externa. In: GIAMBIAGI, Fábio
et al. Economia brasileira contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro:
Elsevier, 2005.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 5 – A Crise Da Dívida Externa
Objetivos da aula:
Analisar e discutir a crise da dívida externa e seu impacto na economia
brasileira. Mais detalhadamente, você irá estudar a origem da dívida
externa, que está relacionada a uma grande oferta de recursos financeiros
disponíveis no mercado internacional. Verá também como uma mudança
no cenário externo (choque do petróleo e aumento das taxas internacionais
de juros) gerou a crise do endividamento do Terceiro Mundo.
O ORTODOXO VERSUS O DESENVOLVIMENTISTA
Em 1979, assumiu a presidência o general João Baptista de Figueiredo e
para o Ministério do Planejamento, foi escolhido o economista ortodoxo
Mário Henrique Simonsen. Nesse mesmo ano, houve o segundo choque
do petróleo e com isso um aumento nas taxas de juros dos países centrais.
Esse aumento nos juros fez aumentar os encargos da dívida externa e
conseqüentemente necessidade por divisas, demandando um ajuste na
economia. Simonsen optou por uma política recessiva para enfrentar a crise
internacional. A lógica era reduzir o nível de atividade econômica para com
isso reduzir importações e consequentemente a demanda por divisas.
A adoção de uma política recessiva, porém, sempre gera muitos opositores.
Convém lembrar que os anos mais terríveis da repressão militar já haviam
passado e que o país caminhava para a redemocratização. Nesse ambiente
de relativa liberdade, a pressão de alguns segmentos da sociedade por uma
mudança na política econômica fez com que Simonsen fosse substituído,
ainda em 1979, pelo desenvolvimentista Delfim Netto. A missão do ex-
ministro era a de reeditar o milagre, porém, agora, com um cenário externo
totalmente adverso.
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Delfim Netto adotou uma política econômica expansiva e inicialmente
consegue bons resultados. O crescimento econômico em 1980 foi de 9,1%.
Porém desequilíbrios no balanço de pagamentos e aceleração inflacionária,
que chegou a 110,2% naquele ano, obrigaram Delfim a mudar sua política.
A partir de 1981, o festejado ex-ministro passou a ser simplesmente o
administrador de uma crise.
A DÉCADA PERDIDA
Os economistas costumam se referir aos anos 1980 como “década
perdida”. Nesse período, a economia brasileira foi marcada por um misto
de estagnação econômica e inflação alta. Até os anos 1970, essa soma de
inflação mais recessão era algo praticamente desconhecido dentro da teoria
econômica. Normalmente, quando há recessão econômica, os preços não
costumam aumentar. Nos anos 1970, após o primeiro choque do petróleo,
a economia mundial começou a apresentar sinais de desaquecimento
acompanhado de aumento de preços. Essa mistura insólita passou a ser
chamada de “estagflação”.
Você estudou na aula passada que, em meio à crise mundial gerada pelo
primeiro choque do petróleo (1973), o governo militar, através do II PND,
resolveu aprofundar o processo de industrialização por substituição de
importações. Essa ousada e controversa opção pelo crescimento econômico
em meio a uma crise mundial é muito discutida até hoje. Nesse período, os
economistas ortodoxos já defendiam a idéia de que a melhor alternativa
para o país seria um ajuste recessivo.
Em 1979, como acabamos de ver, Simonsen tentou implementar uma política
econômica contencionista, mas foi substituído pelo desenvolvimentista
Delfim Netto. Ou seja, nessa época havia no país uma forte pressão pela
escolha de políticas desenvolvimentistas. Vamos tentar entender um pouco
melhor essa questão.
Inicialmente é preciso enfatizar que os economistas estão divididos em dois
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grandes grupos. ortodoxos e heterodoxos. O primeiro grupo está alinhado
ao saber econômico tradicional e aos grandes centros mundiais de estudo
e pesquisa em economia. No que diz respeito ao crescimento econômico,
esse grupo ressalta a importância do governo zelar pelos fundamentos
macroeconômicos e entendem que o crescimento é basicamente uma
decorrência disso. Ou seja, ao governo cabe “deixar a casa em ordem” e o
crescimento depende da atuação do setor privado.
Os heterodoxos rejeitam a sabedoria convencional e criam suas próprias
teorias. De modo geral, esse grupo entende que o crescimento econômico é
responsabilidade do Estado e que este objetivo deve ser buscado a qualquer
custo, mesmo que seja preciso algum desequilíbrio nos fundamentos
macroeconômicos em um primeiro momento.
Como você já deve ter observado em nossas aulas, desde 1930, os
economistas desenvolvimentistas ou heterodoxos conseguiram impor suas
idéias. Durante o período militar, essa opção pelo desenvolvimentismo tem
a ver com pressões da sociedade pelo crescimento econômico e sobretudo
com a necessidade de legitimação do regime. O ajuste recessivo somente
seria experimentado no Brasil no final de 1980, frente a um desequilíbrio do
setor externo e à aceleração inflacionária.
O ENDIVIDAMENTO EXTERNO
A recessão dos anos 1980 está profundamente relacionada com a questão
do endividamento externo. Vejamos como tudo começou. A dependência
financeira externa do Brasil é um problema tão antigo quanto a história do
próprio país. Porém, iremos tratar apenas do aumento recente da dívida
externa, que ocorre a partir de 1968, durante o regime militar. Vamos
começar nosso estudo pela análise do cenário externo naquele período,
marcado pelo surgimento do Euromercado.
Nos anos 1960, bancos de diferentes países, mas principalmente europeus,
passaram a aceitar depósitos em dólar. Havia uma oferta mundial de dólares
muito grande naquela época, decorrência principalmente dos déficits
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comerciais norte-americanos financiados por emissões monetárias.
Você pode entender isso da seguinte maneira: os Estados Unidos estavam
consumindo mais do que produziam, consequentemente tinham de
importar essa diferença, e estavam financiando suas importações através
de emissão monetária. Como bancos de diferentes países passaram a aceitar
depósitos em dólar, foi havendo um aumento na disponibilidade de fundos
a serem emprestados no mercado financeiro internacional. Essa situação
iria se acentuar ainda mais a partir de 1974, quando os árabes começaram a
despejar petrodólares nesse mesmo mercado.
Se de um lado existia uma enorme massa de recursos a serem emprestados,
numa outra ponta, havia muitos países em desenvolvimento necessitando de
divisas (moeda estrangeira) para financiar seus projetos de desenvolvimento.
O resultado desse encontro é bastante previsível. Vários países, entre eles o
Brasil, entraram em um processo de endividamento externo.
A dívida externa brasileira que começa a se acelerar a partir de 1968 era
predominantemente privada. Os principais tomadores de empréstimos
eram empresas multinacionais e bancos estrangeiros. A partir de 1975,
com a implementação do II PND, há uma inflexão desse quadro. O II PND
foi financiado por recursos nacionais e estrangeiros. A poupança interna
foi direcionada ao setor privado nacional. Por outro lado, as empresas
estatais, por terem mais condições de levantar recursos no exterior, uma
vez que contavam com o aval do governo, foram praticamente forçadas a se
endividar no mercado financeiro internacional. A literatura que trata desse
tema costuma dizer que, a partir do II PND, houve uma estatização da dívida
externa brasileira.
CHOQUE DO PETRÓLEO E AUMENTO DE JUROS
Em 1973, tivemos o primeiro choque do petróleo. O preço do barril passou
de US$ 3,29 em 1973 para US$ 11,58 em 1974, subindo gradualmente até US$
13,60 em 1978. Esse foi um importante fato que contribuiu para o aumento
do endividamento externo brasileiro, uma vez que o país não podia abrir
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mão desse insumo. O aumento no preço do petróleo começou a gerar
inflação em praticamente todos os países do mundo. Em 1974, houve um
principio de aumento na taxa internacional de juros. Porém, já em 1975, os
juros retornaram ao seu nível normal.
A situação ficou mais complicada com o segundo choque do petróleo, em
1979. Nessa ocasião, o preço do barril aumentou de US$ 13,60 para US$
30,03, atingindo US$ 35,69, em 1980. Novamente o aumento de preço do
petróleo começou a gerar pressões inflacionárias, fazendo com que os
países centrais começassem a aumentar suas taxas de juros.
A dívida externa do Brasil (e dos países em desenvolvimento de um modo
geral) era corrigida por uma taxa variável de juro. Por exemplo, um título da
dívida externa brasileira podia ser corrigido pela Libor (London Interbank
Offered Rate, ou Taxa Interbancária do Mercado de Londres) mais um
spread (prêmio adicional pelo risco). Um aumento na Libor fazia crescer os
encargos da dívida externa brasileira.
O choque dos juros internacionais levou o México a decretar sua moratória
em 1982. A partir daí, o quadro se torna ainda mais grave, pois os credores
internacionais passam a temer novas moratórias e deixam de financiar
a rolagem das dívidas dos países em desenvolvimento. Os credores
internacionais apoiados pelos seus respectivos governos e também pelo
FMI, passam a exigir dos países endividados um ajuste externo para honrar
o pagamento da dívida. No mesmo ano da moratória do México, o Brasil
recorre ao FMI.
Apesar do aumento do preço do petróleo (segundo choque) e das taxas
de juros no mercado internacional ter acontecido a partir de 1979, o ajuste
externo brasileiro somente viria a ser posto em prática no final de 1980,
através de uma política de controle da absorção interna visando reduzir
a necessidade de divisas. A partir de 1983, o Brasil começa a apresentar
significativos superávits comerciais para poder pagar os serviços da dívida.
Inicia-se então um processo de transferência líquida de recursos para o
exterior. Em suma, as divisas geradas pelo setor exportador eram na sua
maior parte direcionadas para o pagamento da dívida externa brasileira.
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Resumindo: de forma geral, entende-se a crise da década de 1980 foi uma
decorrência do ajuste recessivo promovido pelo governo visando honrar o
pagamento dos encargos da dívida externa.
SÍNTESE
Você aprendeu na aula de hoje que o Brasil entrou em um processo de
endividamento externo a partir do final dos anos 1960. Essa opção pela
poupança externa estava relacionada ao surgimento do Euromercado. O
choque do petróleo e o aumento das taxas internacionais de juros durante
os anos 1970 e 1980 geraram a crise do endividamento externo no Terceiro
Mundo. Muitos países, entre eles o Brasil, foram forçados a por em prática
um ajuste recessivo para poder saldar os encargos da dívida. Por conta desse
ajuste, a economia brasileira teve um crescimento pífio durante a década de
1980, que recebeu a alcunha de “década perdida”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com
endividamento: o II PND e a crise da dívida externa. In: GIAMBIAGI, Fábio et al
. Economia brasileira contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier,
2005.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 6 – O Combate À Inflação Nos Anos 1980
Objetivos da aula:
O objetivo desta aula é compreender, analisar e discutir os planos de
combate à inflação que foram implementados no Brasil na década de
1980 e princípio dos anos 1990. Para podermos compreender melhor o
tema, será feito um estudo preliminar do conceito de inflação inercial, que
é a matriz teórica da maioria desses planos.
A Teoria Da Inflação Inercial
A crise inflacionária brasileira que se inicia em meados da década de 1970
e somente seria resolvida com o advento do Plano Real, em 1994, tinha
uma característica muito peculiar, que a diferenciava de crises inflacionárias
em outros países: a sua longa duração. Hiperinflações não costumam
ter vida longa, todavia a crise inflacionária brasileira durou anos, ou até
mesmo décadas, e acabou tornando-se uma espécie de doença crônica.
Em conseqüência disso, as pessoas aprenderam a conviver com a inflação.
Em outras palavras, as pessoas descobriram uma forma de se defender da
inflação, indexando preços.
Chamamos de indexação o ato de corrigir os preços do período presente
com base na inflação passada. Por exemplo, se um comerciante ajusta o
preço da sua mercadoria, usando, para isso, um índice de inflação do período
anterior, dizemos que ele está indexando o preço da mercadoria vendida.
O grande problema da indexação é que ela acaba reproduzindo a inflação
passada no momento presente, tornando-a um problema auto-alimentador.
Quando isso ocorre, dizemos que a inflação tem um componente inercial.
Convém, aqui, fazer uma observação importante. Você sabe quando
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começou a indexação de preços no Brasil? Tudo teve início com a criação
da correção monetária em 1965, que fazia parte da reforma financeira
promovida pelos militares. Em um primeiro momento, a correção monetária
funcionou muito bem, permitindo a execução de operações de crédito de
longo prazo, o que até então não era possível. O problema todo começou a
acontecer quando a sociedade passou a ter esse comportamento, projetado,
a princípio, apenas para o mundo financeiro.
Quando o conceito de inflação inercial começou a ser desenvolvido (aqui
no Brasil), em meados dos anos 1980, os economistas ortodoxos relutaram
muito em aceitar essa nova teoria. Segundo a ortodoxia tradicional, a inflação
é um problema de excesso de demanda, gerado por uma expansão dos
meios de pagamento. De um modo geral, tudo se resume mais ou menos
no seguinte: o governo não consegue praticar uma disciplina fiscal, ou seja,
gasta mais do que arrecada. O déficit fiscal é financiado por expansões
monetárias, gerando excesso de liquidez e, conseqüentemente, inflação.
Hoje, sobretudo após o sucesso do Plano Real, que teve por base a teoria
de inflação inercial, fica praticamente impossível negar que os economistas
heterodoxos tinham razão.
Como Combater Uma Inflação Inercial?
A ortodoxia convencional entende que o combate à inflação deve ser feito
por meio de uma política monetária restritiva, ou seja, reduzindo-se o
estoque de moeda na economia, a fim de diminuir a demanda agregada.
Os inercialistas acreditavam que essa política surtiria pouco efeito sobre
os preços e, devido ao seu caráter recessivo, teria enormes custos sociais.
Surgem, portanto, duas propostas de combate à inflação:
• Congelamento: também chamada de “choque heterodoxo”, essa
proposta, desenvolvida pelo economista Francisco Lopes, envolvia
duas fases: nos primeiros seis meses, um congelamento vigoroso de
preços, salários e aluguéis e, posteriormente, uma descompressão
gradual, que duraria 18 meses.
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• Moeda Indexada: também chamada de Posposta LARIDA, em
homenagem aos seus formuladores, os economistas Pérsio Arida
e André Lara Resende, e propunha a desindexação da economia
por meio de uma indexação total. Essa foi a base teórica do Plano
Real. É uma idéia um pouco complicada, mas iremos voltar a esse
assunto na próxima aula.
Políticas De Combate À Inflação
Conforme vimos na aula anterior, a década de 1980 foi marcada pela
estagnação econômica e pela aceleração inflacionária. A recessão foi
mais profunda no período compreendido entre 1981 e 1983. Em 1984, a
economia voltou a crescer, fruto, principalmente, de uma recuperação da
economia norte-americana. A grande preocupação, a partir disso, passa
a ser o combate à inflação. O governo começa a implementar uma série
de programas de estabilização, os famosos “pacotes econômicos”, entre
os quais podemos citar: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão, Planos
Collor I e II e outros de menor importância. Os resultados foram desastrosos.
Estudar esses planos com mais detalhe é algo que não vale muito a pena,
a menos que seu objetivo seja aprender como não se deve combater a
inflação. Na aula de hoje, estudaremos um pouco de cada um desses planos
e, na próxima, abordaremos, exclusivamente, o Plano Real.
O Plano Cruzado
O Plano Cruzado foi decretado em 28 de fevereiro de 1986, durante a gestão
do Presidente José Sarney. Foi feita uma reforma monetária que criou o
cruzado em substituição ao cruzeiro. O elemento mais polêmico do Plano
estava justamente no congelamento de preços, salários e aluguéis. Os preços
foram congelados à data de 28/02/86. Os salários foram, primeiramente,
corrigidos pela média dos últimos seis meses, mais um bônus de 8% (ou de
16%, no caso do salário mínimo) e, só então, congelados. Os resultados iniciais
foram excelentes: a inflação caiu de 14,4% em fevereiro para praticamente
zero, em março. Em um primeiro momento, o Plano conquistou o apoio
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popular, as pessoas saíam, voluntariamente, às ruas para verificar se os
comerciantes estavam obedecendo ao congelamento, por isso passaram
a ser chamadas de “fiscais do Sarney”. Apesar dos resultados iniciais e da
grande empolgação popular, o Plano terminou fracassando.
A principal razão que levou ao fracasso do Plano Cruzado foi que este
gerou uma “explosão de consumo”, fazendo com que muitos produtos
simplesmente desaparecessem ou só pudessem ser adquiridos por meio de
pagamento de ágio. Isso ocorreu, por um lado, porque o poder de compra
dos salários havia aumentado (bônus de 8%) e, por outro lado, a redução
das taxas nominais de juros fez com que as pessoas tivessem a impressão
de que as aplicações financeiras não eram mais rentáveis e que era mais
interessante direcionar esses recursos para o consumo. Outras razões
também colaboraram para o fracasso do Plano. Por exemplo, é impossível
congelar preços de produtos não padronizáveis, como vestuários, imóveis
ou automóveis usados, entre outros. Além disso, os empresários descobriram
uma forma de “maquiar preços”, bastava lançar um produto “novo” com
características praticamente idênticas ao já existente, mas com nome e
preço diferentes.
Plano Bresser
Implantado em junho de 1987, esse plano não tinha por objetivo alcançar a
inflação zero, mas simplesmente de trazê-la para um patamar mais civilizado.
As principais medidas adotadas foram as seguintes: i) congelamento de
salários, preços e aluguéis por 03 meses; ii) criação de um novo indexador
- a URP (Unidade de Referência de Preços) - que mediria a inflação
trimestralmente; iii) redução do déficit público (de 6,7 para 3,5% do PIB) e
iv) criação de uma nova tabela de correção de contratos.
Com relação ao item iv, é interessante analisar essa questão com um pouco
mais de profundidade. Imagine que você contraiu um empréstimo e que
a taxa de inflação vigente no período estava em torno de 60% ao mês.
Digamos que você tomou emprestado um certo valor e se dispôs a pagar,
dentro de um mês, esse mesmo valor, acrescido de 62%. Suponhamos,
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agora, que o governo aplicou um choque heterodoxo e trouxe a inflação
para próximo de zero. Você acha justo, dentro desse novo cenário, pagar
62% de juros? É lógico que não. Quando os argentinos colocaram em prática
o congelamento de preços, antes do Brasil, eles previram esse problema e
criaram uma tabela para conversão de dívidas, que ficou conhecida como
tablita (ou tabelinha, em português). No Brasil, a primeira vez que a tablita
entrou em cena foi durante o Plano Cruzado. Com o advento do Plano
Bresser, uma nova tabela de correção de contratos foi elaborada.
Assim como ocorreu com o Cruzado, esse plano também não foi bem
sucedido. Os juros elevados, por um lado, evitaram a explosão do consumo,
por outro inibiram os investimentos. Diferentemente do que ocorrera
durante o Cruzado, o novo plano não contou com apoio popular. Após o
fracasso do plano anterior, a população brasileira deixou de acreditar que
um congelamento poderia resolver o problema da inflação. Além disso,
houve, também, um problema de desequilíbrio nos preços relativos, pois,
no intuito de preservar renda, os agentes econômicos aumentaram preços
previamente.
Política Do “Feijão Com Arroz”
Implementado em 1988, pelo então ministro Mailson da Nóbrega, esse não
era exatamente um plano de estabilização, mas um conjunto de medidas
graduais e paliativas de combate à inflação e ao déficit público. A principal
medida adotada foi a suspensão dos reajustes salariais do funcionalismo
público e dos preços administrados. Também falhou, obrigando o governo
a tentar novamente um plano radical.
Plano Verão
Em janeiro de 1989, o governo faria um novo congelamento de preços
e uma nova reforma monetária, criando o cruzado novo. Para evitar o
excesso de demanda, a taxa de juro foi aumentada. Houve, também, um
corte nas despesas públicas, visando reduzir o déficit público. O governo
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reduziu barreiras ao comércio internacional, com objetivo de aumentar
a concorrência e, com isso, controlar preços. É importante ressaltar que a
abertura comercial brasileira começou justamente com o Plano Verão, no
final da década de 1980, e não nos anos 1990, como a maioria das pessoas
imagina. Além disso, foram extintos todos os mecanismos de indexação,
entre eles a OTN e a URP. O governo deixou de intervir no mercado de
trabalho (até então, o governo determinava como deveriam ser feitas as
correções salariais), passando a vigorar a livre negociação entre patrões e
empregados. Da mesma forma que aconteceu nos outros congelamentos,
foi criada uma tabela para a correção de contratos.
Plano Collor I
A década de 1990 começou sob o estigma do descontrole inflacionário. Em
março de 1990, por meio da implementação do Plano Collor I, o governo
confiscou os depósitos à vista e as aplicações financeiras da população.
Convém, aqui, fazer uma ressalva importante. Os economistas heterodoxos
costumam ser muito criticados pelos fracassados congelamentos de
preços, salários e aluguéis, porém, o confisco implementado pelo Plano
Collor I (certamente a medida mais radical e traumática de controle da
inflação adotada no Brasil) tinha uma base teórica ortodoxa. Segundo os
formuladores do Plano, a inflação brasileira era causada pelo excesso de
liquidez, que gerava excesso de demanda, ou seja, uma visão ortodoxa
de inflação. Além do confisco, o governo buscou reduzir o déficit público,
demitindo funcionários e fechando órgãos públicos.
Plano Collor Ii
O fracasso do confisco obrigou o governo a recorrer novamente ao
congelamento. Em janeiro de 1991, o governo pôs em execução o Plano
Collor II, que, além do congelamento, previa uma forte contração monetária
e fiscal, ou seja, uma mistura de ortodoxia com heterodoxia. O resultado foi
uma intensa recessão no período 1990-92, envolvendo uma queda de quase
10% do PIB e aumento da taxa de desemprego. O desfecho dessa história
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ainda está bem vivo na memória dos brasileiros. O desgaste do governo em
decorrência da recessão, do confisco e de denúncias de corrupção levou ao
impeachment do presidente Fernando Collor, em outubro de 1992.
Síntese
Na aula de hoje, você aprendeu um pouco mais sobre inflação. Durante
os anos 1980, o descontrole inflacionário atingiu uma situação crítica.
Economistas heterodoxos argumentavam que o principal problema da
inflação brasileira estava no seu componente inercial. De acordo com
essa teoria, os agentes econômicos tentavam preservar seus rendimentos,
indexando preços. Esse comportamento fazia com que a inflação se
transformasse em um fenômeno auto-alimentador. O congelamento de
preços praticado durante o Plano Cruzado tinha por base teórica o conceito
de inflação inercial. Entretanto, o Plano gerou uma explosão de consumo
e terminou fracassando. Os planos que vieram após o Cruzado também
tiveram quase sempre uma base heterodoxa, se bem que, algumas vezes,
havia, também, um pouco de ortodoxia. Todos esses planos falharam. O
problema da inflação somente seria debelado em 1994, com o Plano Real.
Referências Bibliográficas
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 7 – O Plano RealObjetivos da aula:
O objetivo dessa aula é compreender o Plano Real em várias perspectivas.
Primeiramente, analisamos as três etapas de sua implementação.
Posteriormente, abordamos a condução do Plano, enfocando a questão
dos juros elevados e do câmbio valorizado. Finalmente, é apresentado o
problema da vulnerabilidade da economia brasileira nos anos 1990, uma
decorrência desse modelo de estabilização.
As Três Fases Do Plano
O Plano Real foi idealizado por um conjunto de economistas, em sua
maioria oriundos da PUC do Rio de Janeiro, entre os quais podemos citar:
Pérsio Arida, André Lara Rezende, Edmar Bacha e Gustavo Franco. O Plano
foi implementado pelo Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco,
Fernando Henrique Cardoso, e executado em três etapas distintas:
• Fase 1: Lançamento do Programa de Ação Imediata (PAI), em 14 de
junho de 1993, com objetivo de promover um ajuste fiscal. Como
você já sabe, de acordo com a visão tradicional, a inflação deve ser
combatida mediante redução do déficit público. Portanto, podemos
concluir que o Plano Real continha um pouco de ortodoxia, um
conjunto de medidas (redução dos gastos do governo, combate
à sonegação, privatizações etc.) a serem adotadas nessa primeira
fase.
• Fase 2: introdução da URV (Unidade Real de Valor), em 27 de maio
de 1994. Essa era a parte heterodoxa do Plano: combater a inflação
por meio de uma moeda indexada. O cruzeiro real, introduzido em
1993, desvalorizava-se diariamente, comprometendo sua função
de unidade de conta. Para solucionar esse problema, o Banco
Central passou a divulgar, diariamente, a cotação da URV que,
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além de servir como unidade de conta, era também utilizada na
correção de preços, salários e contratos, ou seja, o governo, com a
introdução da URV, produziu uma superindexação na economia.
• Fase 3: transformação da URV na nova moeda, o real. A população
ainda não havia percebido, mas a transição de uma moeda para
outra já tinha sido feita com a criação da URV. Bastava, apenas,
substituir a URV pelo real, o que foi feito em 1º de julho de 1994.
A Política Monetária Do Real
Uma das primeiras medidas adotadas logo do início do Plano foi o aumento
da taxa de juros. O objetivo era evitar uma “explosão de consumo”, como
ocorrera durante o Plano Cruzado. Quando a inflação reduz abruptamente,
há uma tendência de aumento da demanda. São várias as razões que levam
a isso. Primeiramente, podemos dizer que a redução da inflação tem um
forte efeito redistribuidor de renda em favor dos mais pobres, gerando
mais consumo. Existe, também, uma tendência de as pessoas interpretarem
erroneamente que as aplicações financeiras se tornaram menos rentáveis e
passarem a consumir mais.
Esse aumento nos juros, porém, não conseguiu segurar o consumo das
famílias - o que demonstra que a demanda, no Brasil, é pouco sensível a
variações de juros. É aquela antiga história da pessoa que, ao comprar um
bem a prazo, olha somente o valor da prestação e analisa se tem ou não
condições de pagar, sem dar importância ao total de juros cobrados. No
que diz respeito a essa relação entre juros e consumo, há, ainda, mais uma
observação a ser feita. Quando a inflação é muito elevada, o comerciante
não tem como financiar a venda de uma mercadoria em prestações fixas.
Essa incerteza em relação ao valor a ser pago afugenta os consumidores.
Quando a inflação cai a um patamar razoável, esse financiamento em
prestações fixas torna-se possível, gerando aumento de demanda. No
caso do Plano Real, o aumento dos juros não foi suficiente para conter esse
excesso de consumo.
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A Valorização Do Câmbio
Além de elevar a taxa de juros, o governo produziu uma valorização da
moeda nacional para ajudar a conter a inflação. Vamos entender como isso
acontece. Antes de tudo, você deve saber que uma valorização cambial
ocorre quando a moeda nacional passa a valer mais em relação à moeda
estrangeira (são necessários menos reais por dólar). Com a valorização
cambial, as importações ficam mais baratas, o país importa mais, gera mais
concorrência interna, supre o aumento da demanda e tudo isso conjugado
ajuda a manter os preços estáveis e a inflação sob controle. Todavia, essa
“âncora cambial” tem seus limites. A valorização do câmbio ajuda a controlar
os preços de alguns bens, mas não de todos, pois nem todos os bens são
comercializáveis no mercado internacional. Existe uma terminologia em inglês
para fazer essa diferenciação. Os bens comercializáveis internacionalmente
são chamados de tradeables e os não comercializáveis, non tradeables. Por
exemplo, os serviços, de um modo geral, são non tradeables. Você não pode
importar cortes de cabelo ou aulas de ginástica, correto? Ou seja, mesmo
com a valorização cambial, alguns preços ficavam “desancorados”.
Havia outro problema. Nós já vimos que, em economia, tudo tem um custo,
certo? Para controlar os preços, o país teve de aumentar importações, mas,
para importar mais, o país necessita de mais divisas. Logo, uma valorização
do câmbio pode gerar desequilíbrio nas contas externas. Para evitar uma
crise cambial, o governo brasileiro se preparou antes do lançamento do
Plano, reforçando as reservas cambiais. Em suma, o governo aproveitou
a grande liquidez no mercado internacional, lançou títulos e acumulou,
previamente, quase US$ 40 bilhões em reservas. Convém, aqui, relembrar
algo importante. Nós discutimos, na nossa aula 5, que, com a crise da dívida
externa do terceiro-mundo e a moratória do México, em 1982, houve um
estancamento no fluxo de capitais para os países em desenvolvimento.
Se isso é verdade, como o Brasil conseguiu acumular esses quase US$ 40
bilhões em reservas? A resposta é muito simples. No final da década de
1980, o auge da crise do endividamento externo já havia passado. Em
parte, isso ocorreu devido ao esforço dos países endividados em honrar os
pagamentos, mas também por causa de um conjunto de negociações entre
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devedores e credores que culminou no perdão de parte da dívida. Em 1991,
o Brasil já estava captando, novamente, recursos no exterior.
A Vulnerabilidade Externa
Apesar das dificuldades, o governo conseguia controlar os preços e manter
a inflação sob controle. Porém, um outro problema começava a aparecer: o
descontrole das contas externas. Os déficits na balança comercial estavam
sendo financiados pela entrada de recursos externos, sobretudo capitais
especulativos de curto prazo. O grande problema é que esses capitais
são extremamente voláteis e podem deixar o país a qualquer instante,
gerando uma crise cambial. Havia um claro problema de vulnerabilidade
externa. O país, para equilibrar suas contas, dependia da entrada de capitais
estrangeiros. Uma mudança na percepção do mercado internacional em
relação ao país poderia gerar uma crise.
A saída mais lógica para o problema parecia ser uma desvalorização do real.
Todavia, o governo relutava em implementar tal mudança, pois acreditava
que isso traria de volta o problema da inflação. A princípio, o governo
tentou manter o câmbio valorizado por meio de uma política monetária
super-restritiva. A lógica era simples. Os juros elevados ajudariam a conter
a demanda, o que ajudava a conter a elevação de preços e o desequilíbrio
nas contas externas.
Essa política de juros elevados tinha um enorme custo. Primeiro, porque
era extremamente recessiva e gerava desemprego. Em segundo lugar,
porque aumentava o montante da dívida pública e, finalmente, porque
criava transtornos para o setor bancário. Os juros altos, somados à
recessão econômica, aumentaram os níveis de inadimplência dos bancos.
Havia a ameaça de quebra de vários bancos, a qual foi evitada mediante
a implementação, em 1996, de um programa de ajuda do governo aos
bancos privados, o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional).
A situação tornou-se ainda mais delicada a partir de 1997, com a crise da Ásia,
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e, em 1998, com a crise da Rússia. Os credores internacionais desconfiavam
dos fundamentos da economia brasileira e passaram a retirar recursos do
país. O governo viu-se obrigado a “queimar” parte de suas reservas para
poder manter o câmbio valorizado. Quando a situação chegou ao seu limite,
o Brasil teve de recorrer ao FMI, que concedeu um empréstimo de US$ 41,5
bilhões. A ajuda, no entanto, não foi suficiente para sustentar a taxa de
câmbio e, em janeiro de 1999, o governo foi obrigado a desvalorizar o real.
Felizmente, a desvalorização não trouxe o tão temido retorno da inflação.
O Balanço De Pagamentos
Para podermos ter um melhor entendimento da vulnerabilidade externa
nos anos 1990, é interessante observar o balanço de pagamentos do país
(tabela 1). Veja que, a partir da implementação do Plano Real, há uma
mudança dramática nas contas externas. O saldo da balança comercial,
que havia apresentado um resultado superavitário de US$ 10,4 bilhões, em
1994, transforma-se em um déficit de US$ 3,3 bilhões, em 1995. O saldo
em transações correntes, que já era deficitário em 1994, mas em apenas
US$ 1,7 bilhões, no ano seguinte, atinge US$ 17,9 bilhões e continuaria
aumentando nos anos posteriores, como pode ser observado. Como já foi
dito, esse desequilíbrio era financiado pela entrada de recursos externos.
Observe que, à medida que os déficits em transações correntes eram cada
vez maiores, o mesmo acontecia com o superávit na conta movimentação
de capitais. Em suma, a vulnerabilidade externa da economia brasileira se
revelava por meio dessa necessidade de recursos externos para poder se
manter em equilíbrio.
Tabela 1 – Balanço de Pagamentos do Brasil (em US$ bilhões)
ANO EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES
SALDO DA
BALANÇA
COMERCIAL
SALDO DA
BALANÇA DE
SERVIÇOS
SALDO EM
TRANSA
ÇÕES COR
RENTES
SALDO EM
MOVIMEN
TAÇÃO DE
CAPITAIS
SALDO DO
BALANÇO
DE PAGA
MENTOS
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Anotações do Aluno
1993
38,6 - 25,5 13,1 -15,4 -0,6 9,9 8,4
1994
43,5 - 33,1 10,4 -14,7 -1,7 14,2 12,9
1995
46,5 - 49,8 -3,3 -18,6 -17,9 29,3 13,5
1996
47,7 - 53,2 -5,5 -21,7 -24,3 33,0 8,7
1997
53,0 - 61,3 -8,3 -26,9 -33,0 25,8 -7,8
1998
51,1 - 57,6 -6,5 -28,8 -33,6 25,6 -7,9
1999
48,0 - 49,3 -1,3 -25,8 -25,0 16,5 -7,8
2000
55,0 - 55,8 -0,8 -25,4 -24,6 19,9 -2,2
2001
58,2 - 55,6 2,6 -27,5 -23,2 27,9 3,3
2002
60,3
- 47,2 13,1 - 23,2 - 7,7 8,8 0,3
2003
73,0
- 48,2 24,8 - 23,6 4,0 5,1 8,5
Fonte: Boletim do Banco Central do Brasil
Síntese
Na aula de hoje, você aprendeu que o Plano Real foi executado em três
etapas distintas. A primeira delas consistia em um ajuste das contas públicas.
Posteriormente, o governo lançou a URV, que era uma forma de gerar uma
indexação total na economia. A terceira fase do Plano foi o lançamento da
nova moeda, o real. Para garantir o sucesso do Plano, o governo lançou
mão de uma política baseada em juros elevados e câmbio valorizado.
Essa política gerava déficits na balança comercial, que eram financiados
pela conta movimentação de capitais. Para manter as contas externas em
equilíbrio, o país dependia da entrada de capitais estrangeiros - o que
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Anotações do Aluno
gerava um problema de vulnerabilidade externa. Para sanar esse problema,
o governo poderia desvalorizar o câmbio, mas havia o temor de que isso
trouxesse de volta o descontrole inflacionário. As crises da Ásia, em 1997, e
da Rússia, em 1998, deixaram a economia brasileira em uma situação ainda
mais difícil. Em janeiro de 1999, o Brasil abandonou o câmbio fixo e deixou
o real se desvalorizar em relação ao dólar.
Referências
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
Na Internet
Banco Central do Brasil. Disponível em:<http://www.bcb.gov.br>.
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56Faculdade On-Line UVB
Anotações do Aluno
Aula Nº 8 – A Abertura Comercial Brasileira
Objetivos da aula:
Compreender a abertura comercial brasileira e avaliar os seus resultados.
Começaremos o nosso estudo, fazendo uma breve abordagem das teorias
de comércio internacional. Posteriormente, discutiremos o modelo de
industrialização por substituição de importações, o seu esgotamento
nos anos 1980 e a busca de um novo paradigma de desenvolvimento.
Finalmente, vamos analisar e avaliar a abertura comercial no Brasil.
Livre Comércio Ou Protecionismo?
Desde o final do século XVIII, os economistas conseguiram compreender a
importância do comércio internacional. Realizar trocas é importante porque
permite que cada nação se especialize naquilo que consegue produzir de
forma mais eficiente. A especialização e o comércio conduzem as nações
a uma situação de bem-estar material superior ao que seria alcançado se
cada país optasse pela auto-suficiência.
Apesar de a moderna teoria econômica ser enfática em relação aos benefícios
do comércio internacional, a economia brasileira era extremamente fechada
até meados do início dos anos 1990. Isso foi resultado do protecionismo
comercial implantado no Brasil via substituição de importações.
Relembrando o que nós estudamos nas nossas primeiras aulas: o Brasil
era um clássico exemplo de economia agro-exportadora, produzíamos
bens agrícolas para abastecer o mercado mundial e importávamos bens
industrializados. Com a crise econômica mundial, gerada pela Grande
Depressão, ocorreu a falência desse modelo. Para o país crescer e se
desenvolver, era necessário promover uma mudança profunda na economia.
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57Faculdade On-Line UVB
Anotações do Aluno
Para fomentar a indústria nacional, o governo brasileiro ergueu barreiras
protecionistas.
Essa opção do Brasil pelo protecionismo, sobretudo após a Segunda
Guerra mundial, foi influenciada por idéias não alinhadas ao pensamento
liberal clássico. Existem diferentes escolas de pensamento econômico
e, conseqüentemente, diferentes abordagens acerca do comércio
internacional. A concepção clássica desse assunto está fundamentada nas
idéias desenvolvidas pelo economista clássico inglês David Ricardo. De
maneira muito simplificada, sua teoria pode ser reduzida à seguinte idéia:
o comércio traz vantagens porque gera especialização. Cada nação vai
produzir o que faz de melhor e importar o que não produz tão bem.
No final da década de 1940, começou a se formar, na América Latina,
uma escola de pensamento que rejeitou a visão liberal de comércio e
desenvolveu uma argumentação bastante interessante sobre esse tema.
Esses pensadores ficaram sendo conhecidos como estruturalistas e tinham,
como seu maior representante, o economista argentino Raúl Prebisch.
Coube a esse autor a famosa percepção de que estava havendo uma
“deterioração dos termos de troca” contra a América Latina. Isso significava,
simplesmente, o seguinte: os produtos exportados pela América Latina (bens
primários) estavam se tornando mais baratos em relação às importações
(produtos industrializados). A partir dessa constatação, os estruturalistas
concluíram que livre comércio não estava beneficiando a América Latina.
Historicamente, o subcontinente latino-americano especializou-se na
produção de bens agrícolas. Entretanto, essa especialização não trouxe
vantagens, muito pelo contrário, era a principal causa do subdesenvolvimento
na região. O pensamento estruturalista teve uma influência enorme na
condução das políticas de desenvolvimento latino-americanas após
a Segunda Guerra. Resumidamente, os estruturalistas entendiam que
desenvolvimento latino-americano passava, necessariamente, pela
industrialização e que esse processo deveria ser feito mediante substituição
de importações.
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58Faculdade On-Line UVB
Anotações do Aluno
O Esgotamento do Modelo de Substituição de Importações
O modelo de substituição de importações teve papel decisivo no crescimento
econômico de 1930 até o início dos anos 1980, quando a economia brasileira
entrou na pior crise da sua história. A década foi marcada pelo endividamento
externo, pela recessão econômica, pela inflação, pela crise fiscal do Estado
e, também, pelo esgotamento do modelo de desenvolvimento por
substituição de importações.
Décadas de protecionismo comercial deixaram os empresários nacionais
em uma situação muito cômoda. Não havia pressões para investir em
tecnologia, para adotar novas técnicas administrativas ou para buscar novas
estratégias de competição, porque o protecionismo comercial garantia
exclusividade sobre o mercado. Durante os anos 1980, ocorreu uma série
de inovações tecnológicas que, praticamente, mudaram o paradigma
produtivo em vigor. Entre essas inovações, estavam: a microeletrônica, a
automação mecânica, a informática e as telecomunicações. A indústria
nacional não estava acompanhando o que acontecia no resto do mundo e
o nosso atraso estava ficando cada vez maior.
Para deixar esse quadro ainda mais grave, o Estado, que, no passado, assumira
o papel de agente indutor do desenvolvimento, perdera sua capacidade de
investir devido à crise fiscal. Tornava-se cada vez mais urgente a busca por
um novo modelo de desenvolvimento.
Em 1989, um fato ocorrido nos Estados Unidos iria reforçar ainda mais o
argumento pró-abertura da economia. Economistas liberais oriundos de
países ricos encontraram-se em Washington D.C. e elaboraram um conjunto
de recomendações aos países em desenvolvimento. Esse receituário,
conhecido como Consenso de Washington, propunha a busca de uma nova
agenda de desenvolvimento, baseada na abertura comercial e financeira,
nas privatizações de empresas públicas e na diminuição do tamanho do
Estado.
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59Faculdade On-Line UVB
Anotações do Aluno
Gradualmente, o desenvolvimentismo foi cedendo espaço ao pensamento
liberal. A abertura comercial, no Brasil, começou no final dos anos 1980,
durante o governo Sarney; seria aprofundada durante a gestão do
presidente Collor e, novamente, aprofundada, ou pelo menos mantida, nos
governos que viriam depois. Seu objetivo era o de gerar uma espécie de
choque competitivo e forçar o empresário nacional a engajar-se na onda de
modernização que acontecia no resto do mundo.
Uma Avaliação da Abertura Brasileira
A abertura comercial brasileira trouxe resultados positivos e negativos. O
consumidor brasileiro, hoje, tem uma variedade muito maior de produtos
a escolher. A qualidade aumentou, muitos preços baixaram e os produtos
tornaram-se mais acessíveis. Algumas indústrias tecnologicamente
defasadas se modernizaram, tornaram-se internacionalmente competitivas
e passaram a destinar parte da sua produção ao mercado internacional.
Outras não se saíram tão bem, simplesmente não suportaram a concorrência
internacional, fecharam as portas e demitiram trabalhadores. Portanto,
podemos tirar duas conclusões disso tudo: 1) a situação do consumidor
brasileiro melhorou com a abertura da economia e 2) houve piora da
situação do trabalhador com o aumento do desemprego.
O balanço final pode ser discutível, mas uma coisa é certa: a abertura
era necessária e tinha de, mais cedo ou mais tarde, acontecer. As nações
que mais crescem, hoje, no mundo, têm suas economias voltadas para as
exportações. Não é mais possível conceber uma nação rica, desenvolvida e,
ao mesmo tempo, fechada para o comércio internacional.
Com relação à abertura comercial brasileira, é possível questionar a forma
como foi implementada. Talvez, se tivesse sido conduzida de maneira
diferente, os resultados poderiam ter sido melhores. Todavia, é insustentável
o argumento de que essa não é a melhor estratégia de desenvolvimento
para o país.
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60Faculdade On-Line UVB
Anotações do Aluno
Síntese
Na aula de hoje, você aprendeu que existem diferentes teorias interpretativas
do comércio internacional. O Brasil adotou, desde os anos 1930, um modelo
de desenvolvimento baseado na substituição de importações. Na década
de 1980, ocorreu a exaustão desse modelo e a busca de um novo paradigma
de desenvolvimento. O governo concluiu que era necessário promover uma
abertura comercial para forçar o setor produtivo nacional a modernizar-se
tecnológica e administrativamente. Diferentes avaliações podem ser feitas
da abertura brasileira, porém é indiscutível que essa seja a melhor estratégia
a ser seguida no mundo moderno.
Referências Bibliográficas
CASTRO, Lavínia Barros de. Privatização, abertura e desindexação: a
primeira metade dos anos 90. In: GIAMBIAGI, Fábio et al. Economia brasileira
contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 9 – As PrivatizaçõesObjetivos da aula:
Os objetivos desta aula são compreender, analisar e discutir o processo
brasileiro de privatizações. Além de ter uma noção histórica dos fatos,
discutiremos dois pontos importantes concernentes ao tema: quais
as razões para privatizar e quem foram os grandes beneficiados desse
processo.
O CONTEXTO HISTÓRICO
As privatizações começaram nos anos 1980, durante o governo Sarney.
Nessa época, não se cogitava privatizar as grandes empresas estatais. O
que houve, de fato, nessa fase do processo, foram reprivatizações, ou seja,
o governo privatizava empresas de pequeno porte, devedoras do BNDES,
as quais foram absorvidas pelo Estado. Os resultados foram modestos: 38
empresas privatizadas e receita de US$ 780 milhões.
Em 1990, durante o governo Collor, houve intensificação do processo
de privatizações por meio do lançamento do Programa Nacional de
Desestatização (PND). Foram incluídas, inicialmente, sessenta e oito
empresas no programa, número esse que foi se alterando com o passar
do tempo devido à entrada de novas empresas e exclusão de outras. Os
resultados foram tímidos em relação aos prognósticos iniciais. Entre 1990
e 1994 (período Collor / Itamar Franco), foram privatizadas 33 empresas
federais (a privatização de empresas estaduais começaria posteriormente),
principalmente dos setores: siderúrgico, petroquímico e de fertilizantes. Foi
obtida uma receita de US$ 8,6 bilhões em moeda corrente e US$ 3,3 bilhões
relativos à transferência de dívidas.
Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a ênfase do programa
recaiu sobre as empresas prestadoras de serviços, com destaque para as
áreas de telecomunicações e energia. Nessa fase do processo, a privatização,
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no setor industrial, estava praticamente concluída. É também nesse
período que começa a privatização de empresas estaduais. Entre 1995 e
2001 (considerando-se apenas empresas federais), os resultados foram os
seguintes: 35 empresas privatizadas e receita de US$ 20 bilhões em moeda
corrente e US$ 5,9 bilhões relativos à transferência de dívidas.
AS RAZÕES DA PRIVATIZAÇÃO
Na aula passada, estudamos o esgotamento do modelo de industrialização
por substituição de importações e a necessidade de se buscar uma outra
estratégia de desenvolvimento para o país. É dentro desse contexto que
se insere a abertura da economia brasileira. Era necessário aumentar
a concorrência e forçar os produtores a investirem em tecnologia e
modernizarem o parque industrial. Da mesma forma que a abertura
comercial, as privatizações também se inserem nesse quadro de falência
do modelo de desenvolvimento vigente e a busca de um novo rumo para
o país.
Além da recessão, da inflação e da crise da dívida externa, os anos 1980 foram
marcados, também, pela crise fiscal do Estado. Desde a implementação
do II PND, nos anos 1970, a dívida do setor público passou a crescer em
um ritmo bastante acelerado. Nos anos 1980, o endividamento público
comprometeu a capacidade do Estado em investir. A qualidade dos serviços
públicos deteriorava-se e o Estado não tinha recursos para realizar novos
investimentos. Era necessário buscar um outro modelo de desenvolvimento.
Privatizar as estatais foi a solução encontrada.
Ao privatizar, o governo conseguia resolver dois problemas ao mesmo
tempo. Primeiramente, transferia ao setor privado a responsabilidade de
realizar os investimentos necessários para a economia voltar a crescer. Além
disso, os recursos arrecadados seriam utilizados para reduzir a dívida do
setor público. Há, ainda, um terceiro fato que não pode ser desprezado:
as privatizações ajudavam a manter o equilíbrio das contas externas. Você
aprendeu, na aula passada, que, desde o lançamento do real, em 1994, até
o início de 1999, o governo brasileiro manteve a moeda nacional valorizada
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para conter a inflação. Essa política, no entanto, gerava déficits comerciais
que tinham de ser de alguma forma compensados. Assim, acontecem as
privatizações. Quando uma estatal era vendida a uma empresa estrangeira,
essa operação garantia a entrada de recursos necessários para compensar
os déficits na balança comercial.
Além dessas três razões, existe, também, uma quarta, porém um pouco
mais polêmica. Portanto, é importante atentar para ela. Um dos objetivos
do programa brasileiro de privatização estava relacionado com a questão
da eficiência. Acreditava-se, e era fato, que, as empresas públicas eram, de
modo geral, ineficientes, pouco flexíveis e tinham excesso de empregados.
Entretanto, é verdade, também, que a grande maioria das estatais privatizadas
tornaram-se mais eficientes e lucrativas. Empresas que, atualmente,
exibem desempenho econômico-financeiro invejável, como a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ou a
Embraer, antes, apresentavam, muitas vezes, resultados medíocres, quando
não prejuízos, na época em que eram estatais. O cuidado que se deve ter
em relação a esse quarto motivo para privatizar (e que muitas pessoas
não têm) é com a generalização. Não podemos afirmar que toda estatal é
ineficiente ou que, para uma empresa estatal tornar-se eficiente, deve ser,
obrigatoriamente, privatizada. Existem casos de estatais eficientes no Brasil,
como no exterior. Portanto, é melhor evitar generalizações.
QUEM LUCROU COM AS PRIVATIZAÇÕES?
Conforme já dissemos, o resultado das privatizações, em termos de eficiência
e lucratividade, foi, de um modo geral, positivo. As empresas privatizadas
tornaram-se mais enxutas, eficientes e lucrativas. Isso por si só é bom. Um
país, para crescer, necessita de empresas grandes, eficientes e geradoras
de lucros. Todavia, há uma questão de suma importância, mas que poucos
se lembram de fazer. Quem foram os principais beneficiados com esse
aumento dos lucros: os novos donos, os trabalhadores ou a sociedade?
Os trabalhadores, seguramente, não foram, muito pelo contrário. Para
reduzir custos, as empresas privatizadas demitiram um grande número de
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empregados. Com relação à sociedade, podemos dizer que foi beneficiada
apenas em alguns casos. A qualidade de alguns serviços oferecidos à
população melhorou. Um bom exemplo disso é o setor de telecomunicações.
Em contrapartida, muitos preços foram aumentados, deixando dúvidas de
até que ponto a população se beneficiou com esse processo. Os principais
beneficiados desse incremento de eficiência/lucratividade foram os novos
proprietários. Pode-se até mesmo dizer que as privatizações tiveram um
efeito negativo sobre a concentração de renda, acentuando, ainda mais, o
grave problema de desigualdade do país.
Síntese
Na aula de hoje, você aprendeu que o processo brasileiro de privatizações
começou nos anos 1980, com as reprivatizações. Em 1990, tivemos a
intensificação desse processo, com o lançamento do Programa Nacional de
Desestatização (PND). Todavia, o auge ocorreria apenas a partir de 1995.
As privatizações foram, de certa forma, uma decorrência do esgotamento
do modelo de industrialização por substituição de importações. Mais
especificamente, estavam relacionadas à crise fiscal do Estado e à busca
de uma nova estratégia de desenvolvimento econômico para o país. As
empresas privatizadas, de um modo geral, tornaram-se mais eficientes
e lucrativas. Todavia, os principais beneficiados com esse aumento nos
lucros foram os novos proprietários, o que agravou o já bastante delicado
problema de desigualdade brasileiro.
Referências Bibliográficas
BAER, Warner. A economia Brasileira. São Paulo: Nobel, 2002.
CASTRO, Lavínia Barros de. Privatização, abertura e desindexação: a primeira
metade dos anos 90. In: GIAMBIAGI, Fábio et al. Economia brasileira
contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
GIAMBIAGI, Fábio. Estabilização, reformas e desequilíbrios macroeconômicos:
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os anos FHC. In: GIAMBIAGI, Fábio et al. Economia brasileira contemporânea
(1945-2004). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
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Aula Nº 10 – Pobreza e Distribuição de Renda
Objetivos da aula:
Os objetivos desta aula são: analisar e discutir a questão da pobreza e da
distribuição de renda no Brasil. Começaremos nosso estudo aprendendo
como é calculada a distribuição de renda. Posteriormente, vamos debater
essa questão no Brasil e, finalmente, vamos refletir juntos sobre quais as
melhores alternativas para se resolver o problema.
DIFERENTES ENFOQUES DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Existem diferentes enfoques da distribuição de renda. De modo geral, essa
questão costuma ser interpretada de quatro formas diferentes:
• Distribuição Internacional da Renda: como o próprio nome já diz,
refere-se à distribuição de renda entre os diferentes países.
• Distribuição Setorial da Renda: refere-se à distribuição entre os diferentes
setores da economia, ou seja, agricultura (primário), indústria (secundário)
e serviços (terciário).
• Distribuição Funcional da Renda: diz respeito a como a renda se reparte
entre patrões (lucros) e empregados (salários).
• Distribuição Pessoal da Renda: este é o conceito mais utilizado e é
com ele que vamos trabalhar na nossa aula de hoje. Como o próprio nome
sugere, refere-se a como a renda se reparte entre os indivíduos em uma
sociedade.
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O COEFICIENTE DE GINI
Existem diferentes maneiras de se medir distribuição de renda. A forma
mais utilizada é o Coeficiente de Gini, elaborado em 1912, pelo matemático
italiano Corrado Gini. Esse índice, na realidade, pode ser utilizado para
medir qualquer tipo de distribuição, inclusive de renda. O Coeficiente
de Gini resulta, sempre, em um número que varia entre zero e um. Zero
representa uma completa igualdade na distribuição da renda, ou seja, todos
os indivíduos têm a mesma renda. Um é a situação oposta, é a completa
desigualdade, em que apenas um indivíduo detém sozinho toda a renda e
os outros não têm nada.
De acordo com estudo realizado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), o Coeficiente de Gini do Brasil, em 2003, foi de
0,593, o que nos deixou na oitava posição entre 177 países. O Brasil ficou atrás
apenas de Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana,
Lesoto, Namíbia e Guatemala. Observe que, exceto a Guatemala, todos os
países mais desiguais que o Brasil se localizavam no continente africano.
A DESIGUALDADE NO BRASIL
Por que o Brasil é tão desigual? São inúmeras razões de cunho histórico
que explicam essa realidade. Para compreendermos mais profundamente
essa questão, teríamos que voltar ao período colonial. A concentração de
renda tem relação com a forma como as terras foram repartidas naquele
período, tem a ver, também, com os 300 anos de escravismo do país e
até mesmo com o modelo de desenvolvimento baseado na substituição
de importações. Entretanto, analisar esses fatos vai muito além do nosso
objetivo neste curso.
Analisaremos apenas alguns fatos importantes da nossa história recente
relacionados com esse problema. Vamos começar pelo período militar. Nos
anos 1960 e 1970, houve aumento da desigualdade no Brasil. Existem várias
explicações para isso. Uma primeira resposta centra a análise no mercado
de trabalho. Com o crescimento acelerado do país, houve elevação na
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demanda por mão-de-obra qualificada, gerando aumento de salário
dos profissionais. O mesmo não aconteceu com os trabalhadores pouco
qualificados, conseqüentemente os salários desses trabalhadores tiveram
pequeno incremento. Outra explicação para a aumento da concentração
de renda nesse período está nas políticas de contenção salarial e repressão
aos movimentos trabalhistas. Conforme você já estudou, esse foi um
período de cerceamento das liberdades individuais. Ao mesmo tempo, os
dirigentes políticos entendiam que podiam controlar a inflação, contendo
(ou arrochando) salários.
A terceira explicação é, sem dúvida, a mais polêmica. Segundo essa
interpretação, os militares promoveram, deliberadamente, aumento na
concentração de renda para gerar mais crescimento econômico. A lógica é
simples. Para um país crescer, são necessários investimentos. Esses, por sua
vez, necessitam de poupança. Como normalmente as pessoas mais ricas
poupam mais, a concentração de renda favoreceria o crescimento do país.
A idéia era a de “fazer o bolo crescer para depois distribuir”, por isso essa
argumentação ficou conhecida como “teoria do bolo”.
Na década de 1980, também houve aumento da concentração de renda,
mas esta estava relacionada com a estagnação da economia e o descontrole
inflacionário. É fácil deduzir os resultados desses desvios econômicos na
distribuição da renda. Você já sabe que a inflação reduz a capacidade de
compra dos salários, prejudicando, principalmente, os trabalhadores de
baixa renda que têm menos acesso aos mecanismos de proteção contra a
inflação. De um lado, a recessão comprimia os salários e, de outro, corroía o
poder de compra. Logo, houve um significativo aumento da concentração
de renda nesse período.
Nos anos 1990, com o Plano Real e o controle da inflação, seria de se esperar
o oposto, uma redução da concentração de renda, correto? Bem, nesse
período, os estudos não são assim tão conclusivos. Se por um lado o fim da
inflação contribuiu para atenuar a desigualdade de renda, o desemprego
decorrente da reestruturação produtiva (abertura comercial e privatizações)
gerou uma força em sentido contrário. O resultado final parece ter sido uma
ligeira melhora do quadro social nesse período.
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COMO SOLUCIONAR ESSE PROBLEMA?
Os brasileiros tendem a achar que todos os problemas sociais são
responsabilidade do Estado e que este tem o dever de solucionar tudo.
Isso é provavelmente fruto da nossa herança cultural portuguesa. Em
países de língua inglesa, principalmente nos Estados Unidos, predomina
o entendimento de que todos os indivíduos são responsáveis pelo bem-
estar da coletividade e que cada um deve fazer a sua parte. Existem vários
exemplos disso, mas vamos ver apenas um caso.
A principal fonte de receita das grandes universidades norte-americanas
não vem do pagamento de mensalidade dos alunos, mas da doação
de ex-alunos. Nos Estados Unidos, existe uma tradição de doar. Muitos
milionários costumam doar parte de suas fortunas para universidades,
hospitais, museus, centros de pesquisa e outras instituições voltadas para
o bem-estar coletivo, ou seja, a responsabilidade pelo bem-estar social não
é exclusividade do Estado. Essa cultura, infelizmente, não existe no Brasil. É
interessante refletirmos sobre o que os indivíduos e as empresas privadas
podem fazer para combater a pobreza e diminuir a desigualdade no país.
Logicamente, até nos países mais adeptos do individualismo e do
liberalismo econômico, o Estado tem papel atuante no que se refere a
reduzir desigualdades. Em geral, quando o objetivo é redistribuir renda,
o Estado costuma implementar uma política que se assemelha à lenda de
Robin Hood. O Estado age como o herói medieval, tirando dos ricos dando
aos pobres, ou seja, o governo tributa os mais ricos e investe em saúde,
educação, previdência etc.
Essa política de Robin Hood tem suas limitações. Primeiramente, ela pode
gerar um desestímulo para que as pessoas estudem ou empreendam
negócios. Como todos nós sabemos, a busca do lucro é a essência do
capitalismo. As pessoas estudam, trabalham, empreendem negócios, porque
desejam aumentar seus rendimentos. Ora, se o Estado se apropria de parte
dessa renda para distribuir aos mais pobres, ele pode estar comprometendo
essa busca pelo lucro e, conseqüentemente, o crescimento econômico.
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Lembre-se do seguinte: por que praticamente todas as tentativas de se
implantar o socialismo fracassaram? Em parte, isso está relacionado com
fato de não existir naquele sistema a competição e a busca pelo lucro.
Além disso, a simples redistribuição da renda poderia criar uma cultura do
assistencialismo, o que seria péssimo. As pessoas poderiam se acomodar e
achar que o Estado tem a obrigação de prover tudo. Por tudo isso, muitos
economistas entendem que o certo é distribuir oportunidades e não renda.
Em suma, a melhor política de combate à pobreza e à desigualdade é por
meio da criação de oportunidades e isso acontece pela educação. Se o
governo, de alguma forma, garante um estudo de boa qualidade às crianças
de famílias de baixa renda, estará reduzindo a desigualdade nas gerações
futuras.
Síntese
Na aula de hoje, você aprendeu que a distribuição de renda é normalmente
medida pelo Coeficiente de Gini e que o Brasil, de acordo com esse cálculo,
tem uma das maiores concentrações de renda do mundo. Existem diversas
explicações para o aumento da desigualdade entre indivíduos na história
brasileira recente. De um modo geral, essas explicações enfatizam a
questão inflacionária e a dinâmica do mercado de trabalho. Você aprendeu,
também, que, em outros países, diferentemente do Brasil, os indivíduos se
engajam mais para resolver os problemas sociais. Finalmente, nós avaliamos
os resultados de uma política governamental de distribuição de renda e
concluímos que ela apresenta duas limitações. Primeiramente, pode reduzir
o estímulo das pessoas em estudar e empreender negócios. Além disso,
pode criar uma cultura do assistencialismo. Portanto, muitos economistas
entendem que a ênfase deve ser dada à distribuição de oportunidades e
não de renda.
Referências Bibliográficas
LANZANA, Antônio Evaristo Teixeira. Economia brasileira: fundamentos e
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atualidade. São Paulo: Atlas, 2001.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 11 – Mercado de Trabalho e Desemprego
Objetivos da aula:
O objetivo desta aula é compreender a definição de desemprego e como
ele é calculado. Posteriormente, iremos discutir as principais causas do
desemprego, destacando a questão tecnológica e a questão regulatória.
Finalmente, vamos analisar o aumento ocorrido no desemprego brasileiro
na década de 1990.
CALCULANDO O DESEMPREGO
Vamos começar nossa aula, aprendendo como se calcula o desemprego.
Talvez você já tenha ouvido dizer que esse cálculo é elaborado com base na
População Economicamente Ativa. Isso é bem simples. Preste atenção nos
esquemas abaixo:
População Total
População com
menos de 15 anosPIA
População em
idade ativa (PIA)
População não
economicamente
ativa
PEA
População
economicamente
ativa (PEA)
Desempregados
Ocupados
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A partir da População Total, você exclui os menores de 15 anos e obtém
a População em Idade Ativa (PIA). Dessa população, você deverá excluir
os não economicamente ativos (estudantes, aposentados, pensionistas,
detentos etc.) e obterá a População Economicamente Ativa (PEA). É a partir
desse conceito que calculamos a taxa de desemprego. Compreendeu?
Guarde bem esse dois conceitos:
• População em Idade Ativa (PIA): normalmente se considera a
população com mais de 15 anos, mas esse conceito pode variar
conforme o país.
• População Economicamente Ativa (PEA): é composta de
empregados e pessoas que estão procurando emprego. Não fazem
parte da PEA os aposentados, pensionistas, estudantes, donas
de casa, detentos e os inativos (aqueles que não trabalham nem
buscam emprego).
Com base nessas informações, fica fácil calcular o desemprego. Basta usar a
seguinte fórmula:
Taxa de Desemprego = Desempregados / PEA
O DESEMPREGO OCULTO
O problema mais complexo em tudo isso está em se determinar quem está
empregado ou desempregado. A princípio, parece simples, desempregado
é todo maior de 15 anos que está procurando emprego, mas não encontra.
Entretanto, se analisarmos com mais atenção, vamos nos deparar com
algumas situações bastante complicadas. Por exemplo, suponha que uma
pessoa procurou emprego durante meses, não obteve êxito e desistiu.
Ao desistir, esse indivíduo deixa de ser desempregado e se torna inativo.
Vejamos outra situação. Uma pessoa, após não conseguir um emprego
formal (com carteira assinada), passou a sobreviver de “bicos” (trabalho
precário). Se essa pessoa está executando uma atividade remunerada e, em
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razão disso, não está mais buscando emprego, ela passa a ser considerada
ocupada.
Tanto a inatividade por desalento como o trabalho precário podem ser
interpretados como formas de disfarçar o desemprego. Esse caso costuma
ser chamado de “desemprego oculto”. A questão que se coloca é a seguinte:
as pessoas que estão nessa situação devem ou não ser consideradas
desempregadas? Os próprios institutos que fazem os cálculos de desemprego
no Brasil (IBGE e Seade/Dieese) não chegaram a um consenso em relação
a essa questão e usam metodologias diferentes nas suas aferições. Por essa
razão, se você pesquisar dados sobre desemprego no Brasil, irá perceber
que essas duas instituições chegam a resultados bastante diferentes.
O PROBLEMA DO DESEMPREGO
O desemprego é um problema econômico grave no Brasil e em vários
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Pode-se dizer que ele é, hoje,
um dos maiores problemas mundiais. Mas, será que sempre foi assim? Na
realidade, não. Você sabe que, no passado, o Brasil recebeu imigrantes das
mais diversas nacionalidades: portugueses, espanhóis, italianos, japoneses,
alemães, entre outros. Isso aconteceu porque havia uma enorme necessidade
de trabalhadores no Brasil, que só foi possível resolver pela imigração. Os
economistas apenas começaram a se preocupar com o desemprego a partir
dos anos 1930, devido à Grande Depressão que afetou, praticamente, todo
o mundo capitalista. A partir dos anos 1980, o desemprego começou a se
tornar um problema cada vez mais persistente.
Existem duas interpretações bem diferentes para o problema do desemprego.
A primeira centra análise na questão tecnológica. O desemprego é uma
decorrência do avanço da tecnologia. Esta tende a substituir o homem
pela máquina. Tente imaginar quanta mão-de-obra era absorvida pela
agricultura e indústria no passado e quanta é absorvida no presente. Parte
do trabalho humano foi simplesmente descartado, gerando um enorme
contingente de desempregados.
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Apesar de bastante intuitiva, os economistas ortodoxos, de modo geral,
rejeitam essa teoria. De acordo com essa segunda interpretação, a
tecnologia sempre criou e extinguiu postos de trabalho. Muitas pessoas
podem ter perdido emprego com a mecanização da agricultura. Por outro
lado, uma tecnologia nova, como a informática, por exemplo, criou milhões
de empregos que, até então, simplesmente não existiam.
Segundo a visão ortodoxa, desemprego é problema institucional. De maneira
mais simples, o desemprego é fruto do excesso de regulamentação no
mercado de trabalho, visando proteger o trabalhador, mas acaba onerando
o custo de contratação e demissão. Na atual fase do capitalismo, a palavra
de ordem é FLEXIBILIDADE. Quanto mais entraves houver no mercado de
trabalho, maior será o desemprego.
COMBATENDO O DESEMPREGO
Se nós analisarmos as taxas de desemprego em diferentes países, iremos
concluir que os ortodoxos parecem estar com a razão. De acordo com a
visão ortodoxa, o desemprego deve ser combatido de duas maneiras:
• Tornando o mercado de trabalho mais flexível. Isso significa menos
burocracia, menos entraves e menos custos. Quanto maior o ônus
de contratação e demissão, maior o número de desempregados.
• Investindo em qualificação da mão-de-obra. A tecnologia corta
empregos de trabalhadores pouco qualificados, mas cria muitos
outros para profissionais qualificados. As pessoas têm de se adaptar
a essas mudanças.
Se fizermos uma comparação entre Estados Unidos e França, verificaremos
que o desemprego é muito maior no país europeu, onde o mercado de
trabalho é muito menos flexível. Poderíamos fazer várias outras comparações
desse tipo e a conclusão seria a mesma: quanto mais flexível o mercado de
trabalho, menor a taxa de desemprego.
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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
No Brasil, houve aumento significativo do desemprego nos anos 1990. De
modo geral, é possível afirmar que existe um consenso entre os economistas
de que isso foi uma decorrência da reestruturação produtiva ocorrida nesse
período.
Nós já vimos em outras aulas que, na década de 1980, ficou claro o
esgotamento do modelo de industrialização baseado na substituição de
importações. Era necessário aumentar a produtividade e competitividade
da economia brasileira e isso somente seria possível pela abertura comercial.
Esse choque de competitividade fez com que várias empresas fechassem
as portas, e as que sobreviveram tiveram de se adaptar à nova realidade.
Essa adaptação significava reduzir custo pela redução do número de
empregados.
Síntese
Na aula de hoje, você aprendeu que:
- desempregado é o maior de 15 anos que está buscando emprego, mas
não encontra;
- o desalento e o subemprego podem ser considerados formas de
desemprego oculto;
- o desemprego é calculado com base na População Economicamente Ativa
(PEA);
- uma corrente de pensadores entende que o desemprego é uma decorrência
do avanço tecnológico;
- os economistas ortodoxos atribuem a responsabilidade pelo desemprego
à questão regulatória;
- a reestruturação produtiva brasileira dos anos 1990 gerou um aumento
significativo do desemprego.
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Referências Bibliográficas
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 12 – Desequilíbrios Regionais
Objetivos da aula:
Analisar e discutir o problema da concentração regional da renda no Brasil.
Começaremos nosso estudo com uma análise histórica dessa questão.
Posteriormente, veremos como o mercado tende a reforçar o problema
da desigualdade regional e, finalmente, discutiremos a atuação do Estado
para atenuar as disparidades regionais.
A PERSPECTIVA HISTÓRICA
A desigualdade regional foi sempre uma marca no processo de
desenvolvimento econômico brasileiro desde a era colonial. A exportação
de produtos primários favorecia uma ou outra região específica e não o país
todo. Nos séculos XVI e XVII, com o ciclo da cana-de-açúcar, a região mais
beneficiada foi o Nordeste brasileiro. No século XVIII, com o ciclo do ouro,
Minas Gerais tornou-se a região mais dinâmica. Finalmente, nos séculos
XIX e XX, com a economia cafeeira, houve um favorecimento da região
Sudeste, sobretudo do Estado de São Paulo, que se firmou como a região
mais desenvolvida do Brasil.
O DINAMISMO DO SUDESTE
A tabela abaixo ajuda a demonstrar o dinamismo da região Sudeste em
relação às demais:
Distribuição regional da produção industrial no Brasil, dados de 1995
• Norte 3,0%
• Nordeste 7,0%
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• Sudeste 72,1%
• Sul 16,6%
• Centro-Oeste 1,3%
• Total 100,0%
• Fonte: IBGE. Anuário Estatístico, 1999.
Observe que a região Sudeste sozinha é responsável por mais de 70% da
produção industrial do país, enquanto as regiões Norte, Nordeste e Centro-
Oeste juntas correspondem a menos de 15%.
Um forte indicador entre industrialização e disparidades regionais pode
ser obtido com base na distribuição regional da renda nos setores agrícola,
industrial e de serviços. Observe os dados abaixo:
Distribuição setorial da força de trabalho por região, dados de 1998.
Agricultura Indústria Serviços Total
• Brasil 23,3 20,1 56,6 100,0
• Norte e
Centro-Oeste 17,3 16,7 66,0 100,0
• Nordeste 39,6 14,3 46,1 100,0
• Sudeste 12,3 24,2 63,5 100,0
• Sul 26,3 22,5 51,2 100,0
Fonte: IBGE. Anuário Estatístico, 1999.
Analisando os dados da tabela anterior, podemos concluir que a economia
da região Nordeste ainda é muito dependente da agricultura. Vejamos
o que revelam os números. A proporção da força de trabalho ocupada
com atividades agrícolas na região Nordeste é de 39,6% superior à média
nacional, que é de 23,3%. Esse percentual na região Sudeste é de 12,3%,
bem inferior à média nacional.
Esses dados não seriam preocupantes se a agricultura nordestina tivesse
uma grande importância na economia nacional. Porém, não é o caso.
Segundo dados do Anuário Estatístico do IBGE de 1999, apenas 16,8% da
renda do setor agrícola de 1995 proveio do Nordeste, enquanto, no mesmo
período, a região Sudeste contribuiu com 35,2%.
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Economistas liberais tendem a acreditar que os mercados são eficientes
e que a intervenção do Estado, de modo geral, não é necessária. O que
pode ser dito em relação a esse caso? Será que forças de mercado, atuando
livremente, tendem, no longo prazo, a atenuar o desequilíbrio de renda
entre regiões? A resposta infelizmente é não. As economias de mercado
são muito eficientes do ponto de vista da alocação dos fatores produtivos.
Porém, não podemos dizer o mesmo em relação à distribuição da renda
gerada por esses fatores, tanto do ponto de vista dos indivíduos como
de regiões. Uma economia de mercado tende a reforçar um problema de
desigualdade regional, ao invés de atenuá-lo.
A região desenvolvida costuma ser mais atraente aos investimentos por uma
série de razões. Por exemplo, na região mais dinâmica, a disponibilidade
de mão-de-obra especializada bem como a oferta de bens e serviços
complementares tendem a ser superiores. Por isso, os investimentos
concentram-se na região mais desenvolvida, reforçando a disparidade
regional.
A ATUAÇÃO DO GOVERNO
Com objetivo de reduzir essa desigualdade, os governos podem adotar
certas medidas, por exemplo, incentivos fiscais às empresas que investem
em regiões menos desenvolvidas, bem como extensão da infra-estrutura
socioeconômica às regiões inativas. Como se sabe, o governo brasileiro vem
adotando há décadas essas medidas sem obter resultados satisfatórios - o
que torna a desigualdade regional um dos maiores desafios da economia
brasileira.
SÍNTESE
Na aula de hoje, você aprendeu que:
- no Brasil, desde a era colonial, o desenvolvimento econômico deu-se de
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forma desigual;
- a partir do século XX, com a economia cafeeira, o Sudeste firmou-se como
a região mais desenvolvida do Brasil;
- uma economia de mercado tende a reforçar a desigualdade regional ao
invés de atenuá-la;
- o governo brasileiro adotou ao longo dos anos várias medidas a fim de
reduzir a desigualdade regional, sem obter grandes resultados.
REFERÊNCIAS
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Aula Nº 13 – Investimentos Estrangeiros No Brasil
Objetivos da aula:
Analisar e discutir o problema dos investimentos estrangeiros no Brasil.
Começaremos a abordar o tema a partir de uma perspectiva histórica.
Logo a seguir, discutiremos os benefícios e custos dos investimentos
estrangeiros, dando ênfase especial à questão da remessa de lucros. Por
último, vamos analisar o aumento do fluxo de investimentos externos
para o Brasil na década de 1990.
A IMPORTÂNCIA DO CAPITAL ESTRANGEIRO
Anos atrás, no Brasil e em vários países em desenvolvimento, muitas eram as
críticas feitas ao capital estrangeiro. Nas décadas de 1960 e 1970, era comum
políticos, intelectuais, estudantes e pessoas comuns criticarem a atuação
das empresas multinacionais e interpretarem que a presença dessas era
prejudicial para o desenvolvimento econômico do país.
Atualmente, existe praticamente um consenso de que os Investimentos
Estrangeiros Diretos (IED) são importantes para que um país possa crescer.
As nações disputam esses investimentos e a questão em pauta no presente
não é mais se o capital estrangeiro favorece ou prejudica a economia, mas o
que pode ser feito para atraí-lo em um volume cada vez maior.
UM POUCO DE HISTÓRIA
• O capital estrangeiro está presente no Brasil há séculos. Com a
independência, uma série de empresas estrangeiras, principalmente
inglesas, instalou-se no país. Enquanto os brasileiros se dedicavam a
produzir os bens de exportação (café, açúcar etc.), empresas estrangeiras
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encarregavam-se do financiamento e da comercialização do produto.
• No século XIX, os investimentos estrangeiros concentraram-se na
construção de ferrovias, portos e na prestação de uma série de serviços
públicos. A partir da década de 1950, com a implementação do modelo
de industrialização por substituição de importações, os investimentos
estrangeiros passaram a se concentrar na indústria de transformação.
CUSTOS E BENEFÍCIOS
O capital estrangeiro traz benefícios e também custos ao país hospedeiro.
Os principais benefícios são os seguintes:
- Aumento da produção e geração de empregos;
- Transferência de tecnologia;
- Contato com novas técnicas de gestão;
- Aumento na qualidade da força de trabalho.
• Entre os custos decorrentes dos IED, podemos citar:
• - Remessa de lucros ao país de origem;
• - Utilização de tecnologias inadequadas ao desenvolvimento do
país;
• - Desnacionalização da economia;
• - Influência política que as empresas estrangeiras podem exercer
sobre o país hospedeiro.
A POLÊMICA QUESTÃO DOS LUCROS
Em relação aos lucros das multinacionais, há pelo menos duas questões
bastante polêmicas.
Ao investir em um país em desenvolvimento, a empresa corre um risco
maior ao que correria caso o investimento ocorresse em seu próprio país.
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Portanto, as empresas somente se arriscarão se os lucros provenientes
desses investimentos forem maiores. Isso é bastante lógico e compreensível
do ponto de vista do investidor. Para o país anfitrião, no entanto, fica a idéia
de que a empresa deseja extrair de um país pobre uma taxa de retorno mais
alta que a obtida no país de origem.
Outro ponto controverso com relação aos lucros diz respeito à sua
repatriação. Conforme vimos, devido ao elevado risco, os lucros gerados
pelas multinacionais nos países em desenvolvimento tendem a ser
elevados. Além disso, esses lucros não irão permanecer no país hospedeiro,
as empresas deverão remeter esses recursos ao país-sede.
Impor limites à remessa desses lucros é bastante difícil senão impossível.
Uma empresa estrangeira possui uma série de mecanismos para disfarçar
o envio de lucros para o exterior. Isso pode ocorrer por meio do comércio
com a matriz, pagamento de royalties e contratação de empréstimos.
Resumindo, os lucros gerados pelas multinacionais são elevados e é
praticamente impossível fazer com que eles permaneçam no próprio país.
OS IED NOS ANOS 1980 E 1990
Vamos falar, agora, sobre os IED na história recente do país.
A década de 1980 entrou para a história com a triste alcunha de “década
perdida”. O Brasil e a América Latina de forma geral estavam imersos em
uma crise de endividamento externo, inflação e estagnação econômica. Nos
anos 1990, o Brasil conseguiu pôr fim à crise inflacionária, abriu a economia
e promoveu reformas neoliberais.
Você sabe como se comportaram os fluxos de IED para o Brasil nesses dois
períodos?
Apesar de ter havido um aumento expressivo no fluxo do capital mundial
para os países emergentes nos anos 1980, apenas uma parcela mínima
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desses recursos vieram para o Brasil devido à crise econômica.
Na segunda metade da década seguinte, houve uma reversão desse quadro
e uma extraordinária entrada de recursos no país. No início dos anos 90,
a entrada de IED foi de aproximadamente US$ 1,3 bilhão. Esse valor foi
crescendo ano após ano até atingir, em 2000, a impressionante marca de
US$ 32,8 bilhões.
Os principais fatores responsáveis por esse aumento dos IED nos anos 1990
foram os seguintes:
i) A estabilização econômica promovida pelo Plano Real;
ii) O processo de privatizações;
iii) A implementação do Mercosul.
SÍNTESE
Na aula de hoje, você aprendeu que:
- empresas estrangeiras estão presentes no Brasil desde o século XIX e
atuam em diferentes setores da economia.
- os IED trazem custos e benefícios ao país hospedeiro, porém, na atualidade,
existe um consenso de que eles são importantes para o desenvolvimento
do país.
- para compensar os riscos, os lucros das empresas multinacionais costumam
ser mais altos nos países em desenvolvimento.
- é praticamente impossível restringir a remessa de lucros ao exterior, pois
as empresas multinacionais têm mecanismos para disfarçar o envio.
- houve um extraordinário aumento do fluxo de IED para o Brasil nos anos
1990. devido à estabilização da economia, às privatizações e ao Mercosul.
REFERÊNCIAS
BAER, Warner. A economia brasileira. São Paulo: Nobel, 2002.
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REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Anotações do Aluno
Aula Nº 14 – O Desempenho Agrícola
Objetivos da aula:
Compreender, analisar e discutir a questão da agricultura no Brasil. Além
de compreender a evolução histórica da agricultura, o aluno irá refletir
sobre os desenvolvimentos regionais e sobre novas oportunidades que
possam surgir em regiões remotas do país.
UMA ECONOMIA EM TRANSIÇÃO
Em aulas anteriores, você aprendeu que a Revolução de 1930 representou
uma ruptura no modelo agro-exportador. Até 1930, a economia brasileira
estava totalmente voltada para abastecer os mercados internacionais
de produtos primários. Com a Grande Depressão e a conseqüente crise
do setor exportador, percebeu-se a necessidade de se buscar um novo
modelo de inserção externa. A partir de então, a indústria começou a ter
uma participação crescente na economia brasileira em detrimento da
agricultura.
A ÊNFASE NA INDÚSTRIA
Durante toda a década de 1950 até meados dos anos 1960, a agricultura
brasileira foi negligenciada em decorrência do processo de industrialização.
Apesar da política discriminatória, a produção agrícola se manteve em nível
satisfatório, não havendo crises de escassez ou desabastecimentos. Cabe
ressaltar que a expansão agrícola nesse período deu-se em condições
retrógradas, com métodos de cultivo e colheita tradicionais, uso intensivo
de mão-de-obra e baixos níveis de produtividade.
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Anotações do Aluno
O RENASCIMENTO AGRÍCOLA
No início dos anos 1960, essa situação começa a mudar e a agricultura
gradualmente volta a ter papel importante no desenvolvimento econômico
do país. Todavia, esse renascimento do setor agrícola não se deu em razão
das culturas tradicionais, como café, cacau, cana-de-açúcar etc. Nesse
período, surgem duas novas vedetes da agricultura brasileira: a soja e a
laranja.
A grande transformação do setor agrícola começa a ocorrer de fato no final
da década de 1960. A mecanização da agricultura, associada à utilização
de fertilizantes e outros insumos aumentaram extraordinariamente a
produtividade do setor. Nesse período, começam a surgir os chamados
complexos agroindustriais, interligando, como o próprio nome já diz,
agricultura e indústria. O Sudeste foi a primeira região a modernizar-se,
especialmente o estado de São Paulo. A partir daí, a mudança estendeu-
se para outros estados, como Paraná, Rio Grande do Sul, partes de Minas
Gerais e, finalmente, para as regiões de cerrado no Centro do Brasil.
DEFICIÊNCIAS DO NOVO MODELO
Essa modernização, todavia, tinha alguns problemas. O primeiro dizia
respeito a uma mudança na natureza do trabalho agrícola. O trabalhador
que residia nos latifúndios foi praticamente expulso e substituído pelo
trabalhador migrante sazonal, normalmente chamado de “bóia-fria”.
Além disso, toda essa modernização estava concentrada na agricultura
voltada para exportação. A produção de alimentos para atender o consumo
interno continuava utilizando técnicas tradicionais e relativamente
ineficientes. A produção interna de alimentos sofria também com políticas
discriminatórias, como preços mínimos e impostos elevados.
No final da década de 1970, uma crise na produção de alimentos para o
consumo interno fez o governo rever toda a política agrícola do país,
eliminando as citadas práticas discriminatórias.
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MUDANÇAS NEOLIBERAIS E AVANÇOS TECNOLÓGICOS
Nos anos 1990, também ocorreram algumas mudanças importantes no
setor agrícola. Embasado no modelo econômico neoliberal, o governo
reduziu o crédito subsidiado e eliminou a política de preços mínimos. Nesse
período, houve ganhos substanciais de produtividade devido ao aumento
da mecanização agrícola e do uso de fertilizantes.
Porém, a mudança mais importante concentrou-se nos resultados das
pesquisas desenvolvidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária). Novas sementes adaptadas às condições do solo de regiões
até então pouco atraentes permitiram uma enorme expansão da agricultura
brasileira. Agricultores, principalmente do Sul, migraram para regiões
remotas, sobretudo no Norte e Centro-Oeste do Brasil, beneficiando a
agricultura pela transferência de capital humano.
SÍNTESE
Na aula de hoje, você aprendeu que:
- a partir dos anos 1930, deu-se a implementação de um novo modelo
econômico no Brasil com prioridade para a indústria em detrimento da
agricultura.
- no final dos anos 1960, a agricultura volta a ter papel importante no
desenvolvimento econômico do país, porém a modernização ocorreu
apenas na produção de bens para exportação.
- uma crise de escassez no final dos anos 1970 fez o governo mudar a
política agrícola, eliminando medidas discriminatórias contra a produção
de alimentos para consumo interno.
- nos anos 1990, com o desenvolvimento de novas sementes pela Embrapa,
foi possível expandir a agricultura brasileira para regiões remotas do Brasil,
sobretudo Norte e Centro-Oeste.
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Anotações do Aluno
REFERÊNCIAS
BAER, Warner. A economia brasileira. São Paulo: Nobel, 2002.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
contemporânea. São Paulo: Atlas, 1999.
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Anotações do Aluno
Aula Nº 15 - Meio Ambiente E Desenvolvimento Econômico
Objetivos da aula:
Compreender, analisar e discutir a questão ambiental no Brasil. Faremos,
inicialmente, uma abordagem histórica, depois discutiremos como a
pobreza urbana e a modernização da agricultura afetam o meio ambiente.
Finalmente, faremos uma análise do desmatamento na Amazônia.
A HERANÇA COLONIAL
A destruição do meio ambiente e a exploração inconseqüente de recursos
naturais é um processo que começa no Brasil desde o seu descobrimento.
Durante todo o período colonial até meados do século XIX, praticaram-
se, exaustivamente, técnicas rudimentares de cultivo, que levavam a um
rápido esgotamento do solo. A mata virgem era removida pelo processo
de derrubada e queimada, posteriormente os agricultores cultivavam a
monocultura de exportação. Quando a fertilidade da terra diminuía, estes
se mudavam para regiões mais distantes, repetindo o mesmo processo e
deixando para trás um rastro de destruição.
Durante o ciclo da cana-de-açúcar, a aplicação dessas técnicas agrícolas
primitivas levou a um declínio das exportações do produto já no século XVII.
Com a descoberta de ouro na região central do Brasil, principalmente em
Minas Gerais, esse processo continuou. Derrubava-se a mata para produzir
alimentos para os trabalhadores das minas e, ao menos tempo, usava-se a
madeira como lenha para fornecer combustível. Com o ciclo do café, deu-se
continuidade a mesma prática. O declínio da produção fluminense de café
no final do século XIX foi uma decorrência da diminuição de fertilidade das
terras.
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Anotações do Aluno
INDUSTRIALIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE
O descaso com o meio ambiente repetiu-se durante a industrialização.
Esse processo se inicia a partir de 1930 com a estratégia de substituição
de importações. Como nesse período o mercado consumidor e a infra-
estrutura eram mais desenvolvidos no Sudeste do país – decorrência da
prosperidade do café -, as indústrias, tanto nacionais como estrangeiras,
passaram a concentrar seus investimentos nessa região. Essa concentração
espacial de empresas emanando dejetos industriais no solo, na água e no ar,
levou a uma poluição que se alastrou rapidamente.
A cidade de Cubatão, a 60 km de São Paulo, é, sem dúvida, o exemplo mais
emblemático dos problemas causados pela concentração de indústrias
altamente poluidoras em uma mesma região. A poluição atingiu níveis tão
elevados que transformou a cidade em um dos lugares mais poluídos do
planeta. Nos anos 1980, Cubatão era conhecida como “vale da morte”. Essa
situação somente começou a melhorar a partir de 1984, quando o Estado
passou a obrigar que empresas adotassem equipamentos de controle da
poluição.
POBREZA E MEIO AMBIENTE
Não são apenas as empresas que poluem. Os consumidores também têm
sua responsabilidade pela degradação do meio ambiente. Ao lado da
industrialização do país, houve também uma forte urbanização. Podemos
identificar dois grupos de populações que vivem em grandes cidades e
geram diferentes tipos de destruição ambiental. No primeiro grupo, estão
as pessoas de alta renda, que poluem o ar com veículos automotores e
produzem grandes quantidades de lixo, resíduos e detritos. O outro grupo é
constituído por pessoas de baixa renda, que moram em áreas inadequadas
e mal atendidas por serviços públicos. Esses indivíduos, por vezes, despejam
lixo no ambiente e poluem as águas com formas precárias e improvisadas
de saneamento.
Nas grandes metrópoles, os pobres são ao mesmo tempo causa e vítima
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da degradação ambiental. Vivendo apinhados em lugares impróprios e às
vezes insalubres, não dispondo de água tratada, saneamento e coleta de
lixo, acabam sendo vítimas de uma série de doenças e acidentes, gerando
um grave problema de saúde pública.
A MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA
Conforme vimos, a destruição ambiental no Brasil começa no período
colonial, decorrente sobretudo da derrubada e queimada de matas virgens.
A modernização da agricultura brasileira começa a ocorrer na década de
1960 e intensifica-se na década seguinte. A utilização de técnicas mais
avançadas, contudo, trouxe novos problemas. A utilização intensiva de
fertilizantes leva a uma mudança na composição do solo e à destruição de
organismos vivos lá existentes. Além disso, a utilização de fertilizantes pode
contaminar águas subterrâneas e afetar a saúde das pessoas. A mecanização
agrícola também tem suas complicações. Ela exige a remoção da cobertura
vegetal, causando erosão do solo. Essa erosão pode levar a deslizamentos e
sedimentações de rios, lagos e represas. A má utilização de pesticidas pode
causar danos à saúde do homem e ao ecossistema.
O DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA
Quando se fala em meio ambiente, muitos associam imediatamente aos
desmatamentos ocorridos na Amazônia. A preocupação mundial com essa
região tem, principalmente, duas razões: a primeira está ligada à preservação
da biodiversidade da região. A destruição da floresta significaria a destruição
do habitat natural de um número imenso de plantas e animais, muitos deles
ainda não catalogados pelo homem. O segundo motivo é que a Floresta
Amazônica retém uma quantidade enorme de gás carbônico. A destruição
da floresta significaria a liberação de enormes quantidades de carbono na
atmosfera, aumentando o efeito estufa.
A extração de madeira tem sido a principal responsável pela destruição
da floresta nos últimos anos. Pequenas empresas clandestinas, pequenos
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colonizadores e índios (os chamados “cupins da floresta”) derrubam
árvores e vendem clandestinamente o produto a grandes empresas
madeireiras, sobretudo asiáticas, que operam legalmente no país. Essas
últimas corrompem os agentes de fiscalização e escoam o produto até os
centros consumidores. Embora as leis brasileiras sejam rígidas, faltam ao
governo recursos humanos e financeiros para coibir tal prática. Isso explica
o crescente desmatamento da Amazônia.
SÍNTESE
Na aula de hoje, você aprendeu que:
- o problema ambiental brasileiro remonta ao período colonial com a prática
de derrubada e de queimada.
- a implantação de indústrias no Brasil ocorreu de forma concentrada do
ponto de vista espacial, agravando o problema da poluição.
- os pobres que vivem em grandes centros urbanos são causa e vítima da
degradação ambiental.
- a modernização da agricultura no Brasil trouxe novos problemas
ambientais, como erosão do solo e uso de produtos químicos nocivos à
saúde do homem.
- o desmatamento da Amazônia vem sendo promovido pelos chamados
“cupins da floresta” persuadidos por grandes empresas madeireiras.
REFERÊNCIAS
BAER, Warner. A economia brasileira. São Paulo: Nobel, 2002.
REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de et al. Economia brasileira
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