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O SABER-FAZER DOS ARTESOS DE BRAGANA-PA PORUMA ABORDAGEM ETNOMATEMTICA
REINALDO JOS VIDAL DE LIMA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR
INSTITUTO DE EDUCAO MATEMATICA E CIENTFICAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
EM CINCIAS E MATEMTICAS
Belm-PA/2010
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UNIVERSIDAE FEDERAL DO PAR
INSTITUTO DE EDUCAO MATEMATICA E CIENTFICAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAOEM CINCIAS E MATEMTICAS
REINALDO JOS VIDAL DE LIMA
O SABER-FAZER DOS ARTESOS DE BRAGANA-PA PORUMA ABORDAGEM ETNOMATEMTICA
Dissertao de Mestrado apresentada aoprograma de Ps-Graduao em EducaoCincias e Matemticas do Instituto deEducao Matemtica e Cientfica daUniversidade Federal do Par como requisitoparcial para obteno do ttulo de Mestre em
Educao em Cincias e Matemticas, rea deconcentrao: Educao Matemtica.
OrientadoraProfDr Isabel Cristina Rodrigues de Lucena
Belm-PA2010
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTETRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARAFINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP) Biblioteca do IEMCI, UFPA
, .
/ , . . . 2010.
() , , , , 2010.
1. . 2. . 3. . 4. (). 5. . . , , . . .
CDD - 22. ed. 510
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REINALDO JOS VIDAL DE LIMA
O SABER-FAZER DOS ARTESOS DE BRAGANA-PA POR UMA ABORDAGEMETNOMATEMTICA
Este exemplar corresponde redao final dedissertao defendida por Reinaldo Jos Vidalde Lima e considerado aprovado pelacomisso julgadora em. 06./08./2010.
BANCA EXAMINADORA:
...........................................................................Prof. Dr. Isabel Cristina Rodrigues de Lucena
Universidade Federal do Par
...........................................................................Prof. Dr. Erasmo Borges Souza Filho
Universidade Federal do Par
.......................................................................Prof. Dr. Iran Abreu Mendes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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A minha querida me que sempre esteve ao
meu lado inclusive nos momentos mais
difceis dessa trajetria de tantos espinhos,
mas de muitas conquistas, recompensas e
evoluo espiritual.
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Lembranas e agradecimentos de um caminhar...
A minha queridssimaMe Terezinha Vidal, vizinha, companheira e amiga que sempre esteve
ao meu lado me ajudando a superar as dificuldades neste difcil caminhar..
Ao meu pai Haroldo Lima(in memria) que deixou a sensibilidade da msica pelo seu talentode tocar...
A querida filha Suellem que encurtou distncias por sua sensibilidade e simplicidade quepassou a nos aproximar...
A filha Ana Lauraque ainda encurtar distncias por caminhos que nem sabemos por ondechegar...
Aos meus irmosprximos ou distantes que sempre me deram foras nos caminhos eespinhos que tive que enfrentar...
Ao meu irmo Junior(in memria) que onde est, nunca deixou de me olhar..
A tia Alzira(in memria) que nunca deixou de me acompanhar ...
A todos os sobrinhose em especial ao Lucas & Leo e sua mame que vierem parasomar...
Ao sobrinho Rodrigo e seu pai Joo Brito que no mediram esforos em me ajudar ...
Aos colegas de trabalhopelo incentivo que me deram em especial a prof Rosa Helenaque meapoiou nos caminhos que tive que trilhar....
A todos os colegas e professores do Instituto em especial ao Iran, Erasmo e Isabel quevisualizaram a possibilidade de uma linguagem meio potica e meio cientfica ao dissertar...
A minha orientadora Prof. Dr Isabel Lucena que me mostrou caminhos acadmicos de ver amatemtica de forma diferente neste caminhar.....
Aos intelectuais do pensamento DAmbrosio e Conceio Almeida pelas fundamentaes e
inspiraes que me deram para tecer idias sobre cincia e tradio com um novo olhar...
Ao artesao Manuel Raiolque oportunizou a minha investigao,troca de saberes e uma novaamizade que deve perdurar...
A estimvel Prof Rosana Pinto pelas contribuies, incentivo e amizade neste difcilcaminhar...
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Tentativas de reflexes poticas queescrevi durante o mestrado....
Da janela em Bragana
Consigo tocar o rioVoar com os pssarosMe agarrar com o ventoDa janelaConsigo falar com o solDeitar com a lua
E me embalar com as estrelasDa janelaConsigo brincar com as nuvensSentir a madrugadaE me encontrar com a noiteDa janelaConsigoviajar bem longeFalar com o marE me encontrar com o infinito
Santo de f
Meu santoQue vem pelas ruas
Escuto os gritos de f
De branco chapu em cores
Descalo, suor, muita f
Marujo ou maruja que dana
J vem o santo que encanta So Benedito
meu santo
So Benedito de f
festaao som das rabecas
Retumbo, roda e mazurca
Contradana xote e chorado
Marujada!
de So Benedito
o santo de f.
.Saudadede Bragana
Sinto saudadedo tom na praa
dorex barde muitas cores
do meu chapudo vento forte
que vem do mardo rio da orla
da minha perolado santo pretomeu grito fortefilho da terrasou bragantino
muito em breveeu vou voltar
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RESUMO
O objetivo dessa pesquisa foi investigar os saber-e-fazer da confeco de rabecas na cidade de
Bragana-PA e algumas relaes matemticas advindas desse contexto. A pesquisa empricase constituiu em observaes sistemticas do processo de confeco artesanal de rabecas,considerando a prtica dos artesos. A pesquisa ocorreu por meio de filmagens, entrevistas eregistros fotogrficos de suas relaes com a cultura local destacando-se a festa da Marujadaque ocorre todos os anos em Bragana onde a rabeca parte integrante dessa tradio. Ametodologia foi pautada nos princpios da pesquisa qualitativa. O trabalho de confeco deuma rabeca foi acompanhado em todas as suas etapas. A etnomatemtica foi a base utilizadacomo aporte terico para compreender as observaes feitas em campo. Os resultados obtidosnos mostraram que os artesos tm um modo singular de medir e estabelecer comparaesmatemticas utilizando partes do prprio corpo e percepes relacionadas com os rgos dossentidos como: escutar, ver e sentir a fim de definir medidas lineares. Os saberes dos mestres
artesos de rabecas apenas auxiliam a construo de formas diferentes de pensar da cincia econsequentemente do saber matemtico comumente veiculado pelo ensino formal.
Palavras-chaves: Etnomatemtica, saberes da tradio, rabecas, artesos, educaomatemtica..
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ABSTRACT
The aim of this research was to investigate the know-how in the production of rabecas in
Bragana-PA and the mathematical relations proceeded by this context. The empiricalresearch was constituted by systematical observations of the process of artisanal production ofrabecas, considering the artisans practice. From the ethnomathematical viewpoint, theresearch occurred through filming, interviews and photo records of their relationship with thelocal culture, highlighting the Marujada Festival which happens every year in Bragana,whereabouts the rabecas are part of this tradition. This research search for the comprehensionof the traditional know-how in the production of rabecas and the mathematical knowledge thatare established as an organized knowledge, with a logic that is parallel to science, howevercompleting it at the same time. The methodological concepts were based on the principles ofqualitative research made in-loco, when the process of production of rabecas wasaccompanied in all the stages. The ethnomathematics was the theoretical support used to
comprehend the field observation. The results showed us that the artisans have a unique logicfor measuring and establishing mathematical comparisons using parts of the body and thesenses such as hearing, seeing and feeling. The knowledge of masters in producing rabecas isonly a different way to think about the empirical knowledge as part of science ans themathematical know-how, commonly taught by formal education.
Key-word: Ethnomathematics, knowledge, rabecas, artisans, Marujada.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 Esquema representativo do ciclo vital do conhecimento......... 77
FIGURA 02 1 situao de entrada na mata................................................. 84
FIGURA 03 2 situao de entrada na mata................................................. 85
FIGURA 04 Quadro demonstrativo dos diferentes sons das rabecas........... 114
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 01 Museu da marujada, dia 25 de dezembro de 2008.................... 27
FOTO 02 Museu da Marujada, dia 26 de dezembro de 2008.................... 27
FOTO 03 Barraco da marujada, 25 de dezembro de 2008...................... 28
FOTO 04 Museu da marujada, 26 de dezembro de 2008.......................... 29
FOTO 05
FOTO 06
A imagem do santo preto na procisso.....................................
Incio da procisso de So Benedito em Bragana...................
30
30
FOTO 07
FOTO 08
Reco-reco, ona e o tambor na procisso..................................
Tamanhos diferentes de rabecas................................................
32
37
FOTO 09 Comparando a forma com a rabeca........................................... 47
FOTO 10 Mestre Jos Brito-Arteso de Bragana.................................... 50
FOTO 11 Mestre Ari confeccionando um brao da rabeca....................... 53
FOTO 12 Mestre Manuel lixando o tampo da rabeca............................... 59
FOTO 13 Oficina do IAP, aluno Josias (o 1 da foto).............................. 63
FOTO 14 Oficina do seu Manuel.............................................................. 67
FOTO 15 Partes de uma rabeca, vista frontal............................................ 71
FOTO 16 Vista lateral da rabeca............................................................... 71
FOTO 17 Principais instrumentos utilizados por seu Manuel................... 88
FOTO 18 Tbua utilizada para fazer o tampo darabeca.......................... 91
FOTO 19 Pernamancas utilizadas para fazer o brao da rabeca.............. 91
FOTO 20 O seu Manuel fazendo comparaes de medidas.................... 91
FOTO 21 O seu Manuel colocando querosene na lata ............................ 93
FOTO 22
FOTO 23
O seu Manuel retendo o resduo da fumaa na madeira..........
O seu Manuel passando o resduo da fumaa com o algodo..
93
93
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FOTO 24 Rabeca disponvel no museu da marujada aproximadamente180 anos de existncia.............................................................
95
FOTO 25 Diferentes acabamentos de rabecas......................................... 96
FOTO 26 Ajustando a rabeca para o processo de colagem...................... 98
FOTO 27 Ajuste com os parafusos.......................................................... 98
FOTO 28 Mostrando o seu invento com o encaixe da rabeca.................. 98
FOTO 29 Rabeca amarrada pra facilitar o processo de colagem, feitoem outras regies do pas e assim era feito em Bragana........ 99
FOTO 30 Serrando parte do brao(voluta)............................................... 101
FOTO 31 Corte feito com o tera do para confeco do brao................ 101
FOTO 32 Molde de um brao de rabeca.................................................. 103
FOTO 33 Serrando uma pea para a confeco de um brao de rabeca.. 103
FOTO 34 Utilizando o formo na confeco de um brao de rabeca...... 103
FOTO 35 Marcando parte do brao da rabeca......................................... 106
FOTO 36 Aproveitando pedaos de madeira para medir......................... 108
FOTO 37 Medindo com a palma da mo................................................. 108
FOTO 38 Comparando medidas com as mos......................................... 108
FOTO 39 Utilizando a plaina................................................................... 110
FOTO 40 Raspando com a faca.............................................................. 111
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LISTA DE MAPAS
MAPA 01 Localizao geogrfica de Bragana-PA..............................
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APNDICE
01 fita de vdeo contendo filmagem de parte do trabalho da prtica do arteso Manuel Raiol.
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SUMRIO
INTRODUO.............................................................................................................
PARTE I UM BREVE OLHAR SOBRE BRAGANA..........................................
1A CIDADE DE BRAGANA....................................................................................
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23
24
1.1Principais atraes da cidade de Bragana................................................................ 25
1.2 Rabeca ou Violino..................................................................................................... 33
PARTE II CAMINHOS DA ESCOLHA DO MTODO....................................... 40
2A CONSTRUAO DO MTODO............................................................................... 41
3 REFLEXES DO PROFESSOR................................................................................. 47
PARTE III-OS ARTESOS DE BRAGANA: PIONEIRISMO E.
CONTINUIDADE......................................................................................................... 49
4O PIONEIRISMO DO MESTRE Z BRITO (contada por Seu Manuel).................... 50
5UM SER CURIOSO: O MESTRE ARI........................................................................ 53
6O SEU MANUEL: A CONTINUIDADE DA TRADIO........................................ 59
7 UM NOVO TEMPO COM O JOVEM JOSIAS.......................................................... 63
PARTE IV- A TRADIO NAS MOS DO SEU MANUEL.................................. 66
8 AMBIENTE DE TRABALHO DO SEU MANUEL................................................... 67
09 O DESAFIO DE CONFECCIONAR RABECAS NA FASE ADULTA.................. 69
10 PARTES DA RABECA CONFECCIONADA POR SEU MANUEL...................... 71
PARTE V- PERCEP ES MATEM TICAS .......................................................... 72
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11A ETNOMTICA E AS DISTINTAS ESTRATGIAS DE PENSAMENTOS 73
PARTE VI- A CONFECO DAS RABECAS: ARTE E TRADIO................. 87
12 A PRTICA DO ARTESO MANUEL ANALISADA POR IMAGENS.............. 88
12.1Instrumentos utilizados............................................................................................. 88
12.2 Classificao das madeiras...................................................................................... 91
12.3 A tradio da pintura com fumaa da lamparina.................................................... 93
12.4 A matemtica por trs do invento........................................................................... 98
12.5Serrar, cortar e raspar: noes de dimenses e ngulos........................................... 101
12.6O brao da rabeca: manifestaes matemticas....................................................... 103
12.7Um modo prprio de medir...................................................................................... 106
12.8Corpos e medidas..................................................................................................... 108
12.9Ideias de espessura pelo olhar do arteso................................................................. 110
13. MOMENTOS FINAIS DE UM NOVO COMEO............................................. 112
REFERNCIAS.............................................................................................................. 117
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INTRODUO
A histria a seguir relata os caminhos percorridos da vida de um professor que iniciou
sua formao acadmica na cidade de Belm do Par, na dcada de 1960. Filho de Terezinha
Vidal e Haroldo Lima cresceu e conviveu no seio de uma famlia que sempre esteve ligada
msica por conta de seu pai que atuou como professor de violo durante 30 anos em Belm.
Apesar de no ter seguido a carreira do pai como msico, vivenciou momentos de ensino e
aprendizagem nas aulas particulares que aconteciam em sua residncia. Aprendeu um pouco
de violo pelas observaes e interaes que aconteciam decorrentes dos desenhos das
escalas1 que sempre fazia a pedido de seu pai. Entretanto, se identificou mais com os
instrumentos de percusso onde aprendeu por conta prpria alguns como: berimbau, atabaque,
pandeiro e o bongo.
Como estudante, cursou a antiga ETFPA- Escola Tcnica Federal do Par, hoje IFPA,
onde fez o curso de Edificaes. Paralelo ao curso, ministrava aulas2 para alunos com
dificuldade de aprendizagem em matemtica. Este momento foi importante por descobrir cedo
a sua aptido que tinha para atuar como professor. Superou desafios de aprovar alunos que
estavam com fortes evidncias de ficarem reprovados na escola.
Ao concluir o curso tcnico, ainda trabalhou na Encol Engenharia como auxiliar
tcnico por 2 anos. Porm, no seguiu a carreira no ramo da engenharia. Optou pelo curso deBacharel em Administrao de Empresas por se adequar a sua disponibilidade de horrios e a
necessidade de trabalhar ainda jovem. Aps o trmino do curso, trabalhou em algumas
1Essas escalas que ele desenhava, correspondiam a mapas criados por seu pai para facilitar a transferncia de umtom para outro nas aulas de violo que o Prof. Haroldo Lima ministrava. Como no dispunha de computadores poca, seu filho fazia por meio de desenhos e escrita, utilizando o antigo aparelho normgrafo (aparelhoutilizados pelos desenhistaspara fazer pequenas letras no papel vegetal).2
Nasaulas particulares que o professor ministrava era sempre um desafio prender ateno dos alunos, poisquase sempre a dificuldade estava na falta de concentrao nas aulas. Resolvia isso invertendo os papeis.Ensinava e dizia que logo em seguida o aluno passaria a ser o professor, como numa dramatizao. Essainverso, sempre dava bons resultados em suas aulas.
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empresas na cidade de Belm exercendo o cargo de auxiliar de estatstica na Prefeitura de
Belm e Administrador em uma empresa denominada de E.D.P.( Empresa de
Desenvolvimento e Participaes). At que em 1996, foi aprovado em um teste de seleo
para trabalhar na cidade de Paragominas. Foi na escola Fundao Bradesco 3 que passou
grande parte da sua formao como professor ministrando aulas no curso Tcnico em
Administrao.
Inicialmente, atuou como professor do segundo grau do curso Tcnico em
Administrao que logo em seguida foi extinto com a reforma do ensino e a implantao do
Ensino Fundamental e Ensino Mdio. Neste perodo, o professor sentiu a necessidade de fazer
outra graduao contemplando seu antigo desejo de atuar como professor e a manuteno de
seu emprego, pois precisava ser licenciado para continuar na escola. Para tanto, fez o curso
em Licenciatura Plena em Matemtica ofertada pela UEPA em Paragominas no ano de 2001.
Na Fundao Bradesco, alm de lecionar matemtica, trabalhou com diferentes
disciplinas como: Introduo a Administrao, Direito e legislao, Economia, Gesto de
Negcios, Informtica e Fsica para o Ensino Mdio. Este perodo foi importante para sua
formao como docente, considerando os diferentes projetos pedaggicos4 que participou.
Foi neste espao educacional que teve seus primeiros momentos de formao como
professor,refletindo constantemente sobre a sua prtica pedaggica onde passou a trabalhar
com enfoque na pedagogia de projetos
5
que lhe rendeu boa experincia agregando valoresimportantes na sua formao profissional. Nessa poca, oportunizou aos alunos que
3Essa escola oferece ensino gratuito de qualidade para crianas e jovens em situao vulnerabilidade. umaescola que tem como proposta de ensino fundamentada nas concepes construtivistas dos dois grandesestudiosos da psicologia cognitivista e Scio Cognitiva representados por Jean Piaget e L.S Vygotsky,respectivamente4Projeto Cidado 2000, Projeto gua Limpa e Cidadania, Projeto A Cidade que a gente quer.5HERNNDEZ; FERNANDO eVENTURA, em:www.primeiraversao.unir.br/artigo.Acesso em 15fev.2010. A funo do projeto favorecer a criao de estratgias de organizao dos conhecimentos escolares
em relao a: 1) o tratamento da informao, e 2) a relao entre os diferentes contedos em torno de problemasou hipteses que facilitem aos alunos a construo de seus conhecimentos, a transformao da informaoprocedente de diferentes saberes disciplinares em conhecimento prprio.
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construssem um pensamento reflexivo e crtico sobre a realidade no qual estavam inseridos.
Desenvolveu temticas que focalizavam a formao de cidados atentos aos problemas sociais
que permeiam a escola. Foi em sala de aula, atuando como professor de matemtica que
comeou a percorrer caminhos que o levaram em direo a pesquisa acadmica.
O projeto gua Limpa e Cidadania6desenvolvido pelo professor que merece destaque
pela sua importncia em atuar diretamente na comunidade de Paragominas. Nas lembranas
do professor ainda marcam em sua memria o som estridente da campainha no intervalo
escolar que sinalizava o horrio de retorno sala de aula. A disciplina era de matemtica da 6
srie do Ensino Fundamental no incio do ano letivo de 2003.Na metade da aula, iniciou-se
um murmrio e um desentendimento generalizado com a turma de trs.Tratava-se de troca
de apelidos que acabou tumultuando a aula. Ao investigar a situao, o professor constatou
que estava ocorrendo uma situao de constrangimento entre os colegas. Um dos alunos
estava com a camisa amarelada que descaracterizava a cor branca do uniforme da escola onde
geraram crticas e gargalhadas entre eles. Insinuavam que a me do menino no lavava a
roupa de um deles. Esta situao motivou o professor a parar a aula e iniciar um dilogo com
os mesmos. O aluno Adriano7se defendia, dizendo que o motivo estava relacionado com a
gua suja que saia das torneiras no bairro onde residia. Isso o estimulou a investigar o
problema que existia por traz daquele fato. Desse dilogo, acabou resultando um projeto
pedaggico investigativo de uma situao real envolvendo alunos do Ensino Fundamental eEnsino Mdio.
Aps momentos de planejamentos, o professor e seus alunos realizaram visitas,
entrevistas e filmagens e os devidos registros fotogrficos. Constataram que o problema no
estava na falta de lavagem do uniforme, mas sim na falta de boa qualidade da gua. Dessa
6O projeto gua Limpa e Cidadania foi premiado em 2003 com a classificao em 1 lugar em nvel nacional no
prmio Jovem Cientista do Futuro. Na oportunidade o professor Reinaldo Jos Vidal de Limafoi orientador doaluno Carlos Nunes da escola Fundao Bradesco-Paragominas PA.7Estudante da Escola Fundao Bradesco em Paragominas. O nome do aluno Adriano fictcio para preservarsua imagem
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forma, iniciaram momentos de discusses procurando encontrar solues para minimizar as
situaes vivenciadas pelos moradores. Fizeram alguns testes com garrafas pets e concluram
que poderiam construir um filtro comunitrio de baixo custo que atendesse a comunidade
carente daquele bairro. Para isso, se inspiraram na velha tradio de seus avs de colocar um
pano amarrado na torneira para reter as impurezas da gua e acrescentaram outros elementos
como o feltro que um tecido constitudo a base de l.O material adotado facilitava a
reteno das impurezas presentes na gua.
Na continuidade do projeto, fizeram um filtro comunitrio, instalaram em vrias casas
que se beneficiaram com a engenhoca inventada. O trabalho foi recompensado nacionalmente
com o 1 lugar na categoria Ensino Mdio do Prmio Jovem Cientista do Futuro 8em 2003.
Este momento, de participao e envolvimento com atividades de pesquisas foi
considerado um marco de mudanas na escola em que trabalhou. O clima de motivao que se
instalou na escola com outros prmios e novas conquistas reforou a ideia de mudanas e
desafios que passaram a fazer parte dessa escola. Alunos e professores comearam a perceber
que seria possvel trabalhar numa proposta de construo do conhecimento e ao mesmo tempo
interferir no meio em que estavam inseridos atravs de solues simples e de baixo custo.
Assim outros projetos pedaggicos foram implementados nessa escola.
importante ressaltar que a proposta em formar cidados crticos sobre a realidade
vivida uma caracterstica marcante dessa escola considerando diversos trabalhados com ofoco voltado para os problemas sociais existentes no cotidiano. E com essa proposta de
trabalho com projetos pedaggicos o professor procurou olhar em diferentes direes
agregando conhecimentos de reas diferentes evitando aulas fragmentadas.
Essa dinmica de trabalho poderia ter continuado nessa escola, mas foi interrompida
pela resciso de seu contrato de trabalho em 2005. A sada do professor da Fundao
8Prmio coordenado pelo CNPq em parceria com a Gerdau e Fundao Roberto Marinho que aconteceanualmente desde 1981.
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Bradesco se consolidou pelo desejo de buscar novos desafios em Belm. Em 2007 o
professor foi aprovado em um concurso pblico para o Campus Universitrio em Bragana-
Paao cargo de Administrador e parcialmente teve que ficar residindo na cidade de Bragana
onde passa a ter um olhar sobre a cidade relacionado aos aspectos culturais.
Nessa convivncia, o professor realizou uma pesquisa sobre as rabecas na cidade de
Bragana-PA dividindo-as em seis partes. A primeira parte tece um breve olhar sobre a cidade
de Bragana destacando os principais pontos da cidade e situando-a geograficamente.
Posteriormente fez a distino entre rabeca e violino buscando fundamentos nos saberes
tradicionais e a opinio de pesquisadores que investigam sobre o tema.
Na segunda parte da pesquisa, o professor faz reflexes sobre a pesquisa definido os
sujeitos e o objetivo que pretendia alcanar tendo como base principal compreender o saber-
fazer dos artesos com numa abordagem etnomatemtica inseridos em um meio cultural e
social.
A terceira etapada pesquisa trata de caracterizar os principais artesos baseadas nos
relatos de histrias contadas por eles mesmos. Inicialmente, o professor buscou entrevistar os
artesomais tradicionais at chegar no mais recente arteso que promete dar continuidade a
tradio de confeccionar rabecas de modo artesanal.
A quarta etapa corresponde a descries do principal sujeito da pesquisa na pessoa do
seu Manuel. O professore descreve caracterstica do arteso mostrando o seu ambiente detrabalho no saber-fazer das rabecas assim como os desafios do seu Manuel que s passou a
confeccionar rabecas aps os 48 anos de idade.
Na quinta parte da dissertao, o professorinsere autores que fundamentam as
abordagens sobre etnomatemtica e as formas de percepes matemticas dos artesos em
suas prticas. Para tanto, ele relaciona com situaes resultantes de sua experincia
profissional e a prtica do arteso no saber-fazer ao confeccionar rabecas.
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Na sexta parte corresponde a confeco de rabecas no saber-fazerem sua prtica,
neste momento professor alm de descrever o processo de algumas fases do trabalho, analisa
os dados em sintonia com os autores que discutem esses saberes tradicionais.
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PARTE I
UM BREVE OLHAR SOBRE BRAGANA
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1.A CIDADE DE BRAGANA
Bragana-PAsitua-se no nordeste do estado do Par 210km de Belm, conhecida
como regio do salgado devido a proximidade geogrfica da costa martima.Tem limite ao
norte com o Oceano Atlntico e o municpio de Augusto Corra; ao Sul com a cidade de
Santa Luzia do Par; a Leste com o municpio de Vizeu e a Oeste com a cidade de
Tracuateua. uma das cidades mais antigas do estado do Par, com 395 nos de histria etradio.Sua localizao geogrfica estratgica pois est muito prxima da praia de
Ajuruteua, uma vila litornea localizada a 36Km da cidade de Bragana-PA.
Buscando informaes sobre Bragana, o professor encontrou registros de uma
pesquisa realizada em 2006 pelo IAP- Instituto de Artes do Par onde destaca a origem
histrica da cidade de Bragana. Para Moraes, Alivert e Silva (2006) a origem de Bragana
est relacionada a colonizao portuguesa no estado do Par. Os historiadores denominam
MAPA 1: Localizao geogrfica de Bragana-PAFonte: mapas. terra.com.br/portal_terra
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este momento de Conquista da Terraque representou as lutas que Portugal que teve contra os
estrangeiros e nativos para manter a posse e o direito da terra.
Diante deste contexto de lutas foi que surgiu Bragana na Orla do rio Caet como
muitas cidades da Amaznia. De acordo com Silva (1997), Bragana foi fundada na primeira
metade do sculo XVIII (1634) com o nome de Vila de Souza do Cait. Em 1753 passou a
categoria de vila com o nome de Vila Nossa Senhora do Rosrio de Bragana. Somente em
1854 passou a categoria de cidade.
1.1 PRINCIPAIS ATRAES DA CIDADE DE BRAGANA
Nesta cidade, o professor encontrou caractersticas de uma cidade turstica, com
diversidades naturais, culturais, gastronmicas e um conjunto arquitetnico que remete a
poca da colonizao europia dos sculos XIX e XX. So prdios histricos onde podemos
destacar os principais como: Palacete Augusto Corra que hoje funciona a Administrao da
Prefeitura de Bragana, construda pelos portugueses entre 1902 e 1903. A Casa das Treze
Janelas onde j serviu de residncia para ex-prefeitos da cidade de Bragana. O Mercado de
Carne onde foi construdo em estilo neoclssico e est localizado no corao da feira de
Bragana onde vendido carnes, eao redor,outras variedades de produtos vendidos em feiras.
O Instituto Santa Terezinha onde serve de moradia para as freiras e ao mesmo tempo funcionao colgio de ensino Bsico e um preparatrio para o vestibular. Alm da Igreja de So
Benedito fundada em 03 de setembro de 1798, por iniciativa de escravos da Vila de Bragana.
A igreja tem grande representatividade para os devotos de So Benedito pois sua construo
se confunde com a histria da prpria cidade de Bragana.
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Aos poucos o professor buscou compreender a cidade sobre os valores culturais de um
povo que se expressa com a musicalidade, por meio dos sons das Rabecas e da festividade de
So Benedito.
Uma das principais atraes tursticas da cidade, observada pelo professor a
Marujada de Bragana que ocorre todos os anos no ms de dezembro prximo ao natal. Essa
festa, ocorre concomitantemente com a procisso em louvor a So Benedito com danas na
sede de um barraco localizado na orla do rio Caet e no Museu da Marujada.O vocbulo
Marujada derivado da palavra marujo, que significa homem do mar. Essa expresso pode ter
sido utilizada pelo povo de Bragana, talvez como lembrana da chegada dos africanos ao
Brasil em navios negreiros. Em 1798, 14 escravos pediram autorizao aos Senhores para
criarem a Irmandade de So Benedito ou Irmandade do glorioso So Benedito e
consequentemente Marujada de Bragana. Como forma de agradecimento, os escravos
passaram a danar no dia 25 de dezembro agradecendo aos Senhores e no dia 26 em louvor ao
Santo Preto como conhecido pela populao. Em 1947 essa irmandade foi transformada em
sociedade civil.
O uso dos uniformes nas diferentes datas uma dessas tradies que marcam essa
festa de cores e f. No primeiro dia (25/12/08) o colorido azul e branco se destacou no
barraco conforme FOTO 01. No dia seguinte(26/12/08) nas cores vermelho e branco se
fizeram presentes no museu da marujada, FOTO 02.
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FOTO 01:Museu da marujada, dia 25 de dezembro de 2008Fonte: Acervo pessoal do autor
FOTO 02:Museu da Marujada, dia 26 de dezembro de 2008Fonte: Acervo pessoal do autor
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Algo que lhe chamou sua ateno foi sobre a quantidade de pessoas na procisso e o
anonimato que deixa de existir no perodo de festa. Neste momento, surgem pessoas de todos
os bairros a cidade vizinhas que se tornam personagens aos olhares da populao e sujeitos de
anlises de pesquisadores que no perdem nenhum momento da festa de So
Benedito.Pessoas de todas as classes se unem num momento de muita alegria e respeito ao
ritual da dana que dirigido pelo presidente da marujada, o Seu Careca, assim conhecido por
todos.Marujos e marujas se contagiam com o som envolvente das rabecas acompanhado pelo
violo, banjo, pandeiro e tambores, que numa harmonia s, fazem daquele momento nico na
cultura de um povo que mantm acesa a tradio de danar ritmos diferentes acompanhados
ao som das rebecas. Alm disso, esse professor tambm encontrou os principais msicos da
cidadeque conseguem expor ritmo que acompanhado por grande nmero de pessoas que
ficam atentas a todos os detalhes de cada passo dos danantes. So modalidades e ritmos que
se alternam como: o retumbo, roda e mazurca, contra dana, xote e choradoconforme foto 03
e 04 a seguir.
FOTO 03: Barraco da marujada, 25 de dezembro de 2008.Fonte: Acervo pessoal do autor
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A procisso que percorre as ruas de Bragana em louvor a So Benedito, outro
momento que envolve f e devoo ao santo. Tem incio nas margens do rio Caet e percorre
as principais ruas da cidade, com promesseiros e promesseiras vestidos de marujos e marujas,
caminham num cortejo que envolve pessoas de diferentes classe sociais. Os fogos que so
soltos no momento do incio da procisso outro momento de destaque pois nessa hora a
corrente humana se une numa caminhada que s termina aps percorrerem as principais ruasde Bragana.
grande a energia do povo que segue a procisso, o santo querido bragantino.
Mulheres, homens e crianas, seguem a procisso numa corrente de f e devoo. Foi dessa
forma que o professor conseguiu ver a procisso que antes s via em livros. A imagem que
segue na foto 05 a seguir, representa a imagem de So Benedito cercada de promesseiros que
levam a imagem do Santo Preto.
FOTO 04: Museu da marujada, 26 de dezembro de 2008.Fonte: Acervo pessoal do autor
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FOTO 06: Incio da procisso de So Benedito em Bragana
Fonte: Acervo pessoal do autor
FOTO 05: A imagem do santo preto na procissoAcervo pessoal do autor
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Assim, o professor passou a compreender um pouco da cidade de Bragana. A
diversidade de manifestaes folclricas, a religiosidade e a energia contagiante s podem ser
constatadas para quem vive este momento em Bragana. De olho nos detalhes, o professor
percebeu a riqueza de diversos elementos inseridos nos gestos, olhares e orgulho com que os
marujos e marujas participam das danas e da procisso.Diante do cenrio que observou por
meio de suas lentes fotogrficas e das filmagens que foi fazendo, percebeu a importncia da
Rabeca no contexto que antecede a procisso.A rabeca com seu som diferente que encanta por
ser triste e ao mesmo tempo formoso, historicamente se mantm viva onde passado de
gerao a gerao entre msicos e artesos. O que seriam das danas sem o som envolvente
das rabecas? Reflete o professor!
O pesquisador Vicente Sales(2006), com a muita sabedoria, nos diz o que pensa sobre
as rabecas destacando a sua importncia onde a compara como um condutor em uma
orquestra:
A rabeca exerce um papel de guia daquilo que vai ser tocado durante odesenrolar da marujada como se fosse um instrumento solista como sefosse um instrumento condutor como numa grande orquestra existe ospalla, mal comparando, ela seria o spalla da marujada.( VICENTESALLES- extrado do vdeo produzido pelo IAP-2006)
A ideia que o pesquisador expressa neste depoimento mostra a importncia que a
rabeca tem no contexto de Bragana e especialmente com a marujada.Salles, como historiador
e pesquisador, quis compreender a rabeca para alm de um simples instrumento.
Consequentemente aglutinador da cultura da marujada de Bragana em diferentes
contextosem que possvel escutar o som das rabecas na festa da marujada.
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Na procisso, o professor constatou que a rabeca no se faz presente. Entretanto,
outros instrumentos fazem parte da Ciclo de So Benedito9que acompanham a procisso
como: tambor-ona e o reco-reco conforme se observa na foto 07 a seguir.
Dessa forma, percebe-se que toda a festa da Marujada estligada as principais
tradies religiosas e culturais do povo bragantino. O sagrado e o devocional no so
dissociados. So partes integrantes dessa tradio com representaes bastante peculiaresna
cidade de Bragana. Pela representao do sagrado destacam-se as missa, novena e a
procisso.Pelo profano, o professor observou a dana, a cavalhada, leilo e o almoo. a
principal contribuio religiosa, histrica do nordeste do Par. Agora, a festa da marujada
patrimnio cultural, artstico, histrico e turstico do estado do Par. Essa manifestao
cultural considerada uma tradio.
9CD Marujada de Bragana Cancioneiro Paraense n1: O ciclo de So Benedito comea em maioquando trs comitivas saem com as imagens do santo para esmolar em regies especificas do meio ruralbragantino (colnias agrcolas, campos e comunidades praianas).
FOTO 07: Reco-reco, ona e o tambor na procisso
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ParaBalandier(1997), tradio traduz-se na continuamente de prticas. aquilo que a
comunidade se identifica. So saberes acumulados por um grupo de pessoas ou por uma
coletividade. uma forma de ver mundo e ter sua presena numa realidade que se manifesta
ao longo do tempo. Para o autor, todas a sociedades tradicionais imprimem significaes
exigidas por seu imaginrio, sistemas simblicos e suas prticas rituais.Assim na festa da
Marujada como um todo perceptvel a presena desses sistemas marcados pela forte ligao
entre o sagrado e o devocional.
1.2 RABECA OU VIOLINO ?
Quem sou eu?
No h mistrios em quem sou eumeu som triste, fanhoso e formoso
uns me chamam de violinoem Bragana sou bragantino
mas quem sou eu?de norte a sul, l eaqui estou
pequeno, grandesofisticado ou rstico
eu sou a rabecade Bragana eu sou
nas mos de um artesonos braos de um msico
no cantar da marujadano vento que traz o barco
tu s marujo?Rabeca eu sou
santo preto, meu santo amigomeu santo protetor
escuta meu som tristonhoque encantado pobre ao rico
na marujada , aqui estou
( Reinaldo. Vidal- 2010)
A poesia produzida pelo professor representa o envolvimento que passou a ter com as
rabecas de Bragana num processo gradativo de interao com os msicos e artesos e a
comunidade bragantina. Sua forte ligao com o violo na infncia contribuiu para que tivesse
um olhar atento s manifestaes culturais que aconteciam na cidade com grande
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expressividade na msica. A rabeca foi uma dessas manifestaes culturais que mais chamou
sua ateno. No transcorrer de sua pesquisa, o professor fazia comentrios com parentes e
amigos sobre as Rabecas de Bragana. Geralmente perguntavam ao professor sobre o tema
com certa dvida e muitas vezes mostrando desconhecimento em relao ao termo rabeca":
Mas o que mesmo Rabeca? Rabeca o mesmo que violino? Qual origem das Rabecas?
Aparentemente essas perguntas seriam fceis de ser respondidas. Entretanto, ao investigar
sobre as rabecas, o professor concluiu que o assunto era polmico pois h amplas discusses
que divergem tanto no cotidiano dos artesos e msicos como na academia e em diferentes
lugares no Brasil. Uma das dvidas refere-se origem das rabecas conforme mencionado.
Em suas respostas, sempre procurava contextualizar que a chegada das rabecas estavam
relacionadas ao processo de colonizao com a chegada dos Portugueses no Brasil. Estima-se
que isso pode ter ocorrido entre o sculo XVII e o sculo XVIII. Havia o interesse dos
colonizadores portuguesesmanterem alguns elementos culturais de suas origens como forma
de dar continuidade a sua cultura. Dessa forma, os religiosos traziam na bagagem alguns
instrumentos como gaitinhas, violas e rabecas(MORAES, ALIVERT E SILVA, 2003).
E assim,essas questes foram surgindo durante a pesquisa, relacionadas s
diferenas entre rabeca e violino. O ttulo Rebeca ou Violino?do documentrio feito
peloInstituto de Artes do Par (IAP), em 2006, j destaca essa ampla discusso que se estende
por todo Brasil. As leituras que passou a fazer sobre este instrumento compreendeu que almde diferentes concepes sobre violino e rabeca, ainda h um amplo campo de pesquisa a ser
feitocom essa temtica.
As caractersticas verificadas namicro regio bragantina oferecemcontribuies regionais aos debates realizados por estudos brasileiros sobrea rabeca e sua sonoridade. Principalmente sobre a sua utilizao emmanifestaes culturais brasileiras, tornando importante ainda responder aalgumas questes: 1)Qual a origem da rabeca trazida ao Brasil? 2)Em quepoca exata o violino foi introduzido na microrregio bragantina 3)Quemeios favorecem sua permanncia ? E finalmente a rabeca o violino malacabado?(MORAES, ALIVERTI E SILVA,2006, p.77)
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Os questionamentos feitos pelas pesquisadoras ratificam essas diferentes concepes
que se mantm vivas em Bragana. Entretanto, o professor priorizou em destacar neste
captulo a diferena entre rabeca e violino. Assim,as ideias iniciais que o professor teve sobre
rabeca o fez pensar diferente com novas leituras econtato com pessoas da comunidade. O
nome dos grupos musicais tambm contribuiu para que o professor pensasse assim. O prprio
nome dos grupos musicais regionais de Bragana so identificados por rabeca e no como
violino como se observa: Grupo de Rabecas de Bragana, Grupo Rabecas da Amaznia.
Portanto, havia uma forte evidncia que o nome seria aceito na cidade exclusivamente por
rabeca. Ao iniciar o processo de entrevistas com os msicos e artesos o professor percebeu
algumas divergncias.Ao entrevistar o Mestre Zito10, constatou que em seu relato, o mestre se
referia ao instrumento como violino e no como rabeca.Isso foi percebido quando o professor
o entrevistou e ele falou sobre o seu aprendizado inicial sobre as rabecas.
[...]Meu pai tocava muito violino.Meu pai chegava cansado dotrabalho , deitava numa rede e dizia:-Meu filho! Traz o meu violinoaqui pra mim.Eu ia buscar, dava pra ele e sentava num banquinho quetinha l em casa e fica com os olhinhos acesos vendo o meu pai tocaro violino.-Papai eu quero aprende a tocar violino.Eu tinha 12 anos deidade naquela poca[...] (mestre Zito)
Dessa forma, o ele passou a perceber que os msicos e artesos apresentavam
concepes diferentes quando se referiam a rabeca ou violino. Ao entrevistar o mestre Ari,
percebeu que ele menciona fatores histricos e fez destaque a duplicidade de nomes que jexistiam na poca em que comeou a trabalhar com as rabecas quando ainda era jovem.
[...]Ento, a minha histria comeou quando eu tinha uns treze anos deidade. Tinha um vigia que tinha uma rabeca e ele tocava de vez em quando,tocava mal, mas tocava. Ento eu falei pro meu pai que eu queria um violino.Naquela poca ningum chamava de rabeca, todos chamavam de violinodevido s semelhanas entre os instrumentos. Eu penso que essa confusoiniciou quando os italianos trouxeram o violino para o Brasil e at mesmo osportugueses pertencentes a elite, penso que algum ficou com vergonha de
10Entrevista concedida em 2009 pelo Mestre Zito, tocador de Rabecas em Bragana-Pa
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dizer que tinha uma rabeca uma vez que o violino era clssico e da elite e arabeca no, e esse algum ento disse que a rabeca era um violino e a deu-seo incio dessa confuso entre os instrumentos, enfim... o que eu lembro quea rabeca precursora ao violino, primeiro a Rabeca e depois o violino[...] (Seu Ari)
Alm disso, ele faz destaque diferena pelo que rstico ou sofisticado. A pintura
que era feita no passado,no havia verniz. Passava-se apenas uma camada de selador com um
mao de algodo ou nem pintavam(seu Ari). Na ideia de seu Ari, a est outra diferena entre
ambos os instrumentos.O violino com seu brilho quase sem falha ao olho humano tem a
pintura que vem de fbrica e constru e pintado em srie.Percebe-se hoje, que o Sr. Manuel Brito faz instrumentos com pintura em verniz em
razo das solicitaes feitas pelos compradores de rabecas.O acabamento fica com
caractersticas rsticas muito distantes de um acabamento como dos violinos pintados em
fbricas feitos de forma processual ou em srie.
A rabeca no um instrumento fabricado em srie(ainda segundo Carlos R.
Brando), note-se tambm que a rabeca o nico instrumento de msicafolclrica que no se encontra em produo industrial). Todas as rabecas sofeitas por artesos da regio.(GRAMANI,2002,p.11)
J na entrevista com o mestre Manuel, ele considera a questo do tamanho o fator que
faz diferenciar a rabeca do violino, pois considera que o violino um pouco menor(Foto 09).
Alm disso, ele afirma que essa diferena reflete na sonoridade do instrumento conforme se
observa em sua fala.
[...]Veja s que a Rabeca aqui maior. Voc pode ver que a forma doviolino um pouco menor. Isso vai d diferena no som. A Rabeca por sermaior vai ter um som mais grave e o violino vai ter um som mais agudo.Evoc pode ver aqui o tamanho das forma que eu tenho aqui. Uma maior eoutra menor[...] ( Seu Manuel)
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Essas concepes identificadas nas entrevistas que o professor fez esto no mbito de
uma discusso emprica. Ao buscar fundamentao terica sobre o tema, constatou que h
diferentes discusses tambm na academia. De acordo comMoraes, Alivert e Silva(2006)
quando entrevistaram msicos e artesos em Braganarelata que eles distinguem rabeca de
violinopelos aspectos da temporalidade e na oposio do que seria uma fabricao domstica
e a que feita por um processo em srie ou industrial
Ao analisar a entrevista da pesquisadoraSalles(2006) no vdeo produzido pelo
IAP o professor verificou que a distino que ela faz semelhante aquela apresentada pelo
Mestre Ari. Destaca a diferena com aquilo que seria mais sofisticado ou mais rstico
considerando o acabamento da rabeca ou do violino.
A rabeca um instrumento, diferente do violino, apesar das formassemelhantes que a rabeca que anterior ao violino n. Aqui em Bragana que eles misturam talvez j por influencia da mdia e contato com algunsmsicos eruditos ento eles querem ganhar.. vamos dizer assim.. no ostatus.. como se fosse o violino n. Mas h uma diferena bem grandeinclusive na maneira de fazer que eles fazem vamos dizer assim,empiricamente e o violino para ser feito eles tem uma forma especificaseguindo os moldes tradivariusguarnerius , o modelo alemo da escola de
mittenwald ento a que vai a diferena.(Entrevista disponvel no DVD Tocando a memria das rabecas, Salles(2006)
FOTO 08: Tamanhos diferentes de rabecasFonte: Acervo pessoal do autor
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Como visto, a pesquisadora sustenta a diferena baseado em formas que
divergem das diferentes concepes dos msicos e artesos. Assim, diferentes concepes foi
observado pelo professor em sua pesquisa. Vale destacar que a pesquisa realizada pelo
msico Jos Eduardo Gramani11conceitua rabeca como A rabeca no um instrumento , no
uma imitao de instrumento, no um violino mal acabado.Gramani(2002,p.36). Em seu
trabalho, concludo pela filha, Daniella Gramani, o pesquisador procurou revelar e estabelecer
essas diferenas conforme contado por sua filha quando fala no livro: O som inesperado.
O ttulo do livro refere-se ao principal interesse do pesquisador revela a
caracterstica que distingue a rabeca no s do violino, como de quase todosos instrumentos: a ausncia de padres, seja no processo construtivo, nomaterial utilizado, no formato, no tamanho , nmero de cordas ou afinao.Por isso O som inesperado: uma rabeca dificilmente produzir som igualao da outra rabeca, ainda que construda pelo mesmo luthier. Tudointerfere no som da rabeca, at a cola diz o mestre Salustiano, um os maisconhecidos luthiers do pas. Se voc pe a cola para cozinhar por dezminutos, e a outrapor 11 ou 12) minutos, isso interfere no som. Para melhorou para pior.(Disponvel em www.revistaraiz.com.br, acessado emmaro/2010)
Ao entrevistar o mestre Manuel constatei este aspecto do som, dito de outra forma pelo
arteso.
Pra voc fazer um instrumento com uma madeira dura, rgida ela no da somno.Por que voc custa a preparar o instrumento e dura a madeira, aquilofica tipo assim no comparando, fica assim como um ferro uma coisa queno d n. E a madeira leve no, fica maneira, e boa pra se trabalhar. (SeuManuel)
Neste sentido, rabeca ou violino so concepes diferentes que variam de acordo com
o olhar que artesos, msicos ou pesquisadores tm. Entretanto, ficou evidente que os
instrumentos confeccionados em Bragana so rabecas para a maioria da populao. O nome
rabeca o mais evidenciado na cidade em diferentes manifestaes culturais. Entretanto
temos que considerar o pensamento de msicos que diante de uma rabeca com acabamento
11Gramini deu inicio a uma pesquisa que investigou a vida de 4luthiers brasileiros no concluiu o trabalho poisfaleceu antes de seu trmino. Porm, sua filha Daniella Gramani concluiu o trabalho que deu origem ao livro Osom Inesperado, lanado em 2002 com incentivo da prefeitura de Curitiba e Fundao Cultural de Curitiba.
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mais refinado assumam que seja um violino e no uma rabeca. A dinamicidade da histria
entre passado, presente e futuro que vo continuar ditando regras de concepes de nomes
que cada uma tem ou ter sobre rabeca ou violino.
Dessa forma, o professor passou a definir um mtodo de como efetivar sua pesquisa na
cidade de Bragana Par onde possvel observar os caminhos percorridos pelo professor
como segue no prximo captulo.
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PARTE II
CAMINHOS DA ESCOLHA DO MTODO
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2 A CONSTRUO DO MTODO
O primeiro contatoque o professor teve comas rabecas ocorreu na prpria
Universidade em 2007 no momento da comemorao dos 20 anos de interiorizao dos
Campi da UFPA. O grupo12 regional denominado Rabecas da Amaznia se apresentou
commsicas tpicas da regio empolgando toda a plateia presente. Neste perodo, ele comeou
a dialogar e acompanhar este grupo musical que desenvolve um trabalho social na cidade com
caractersticas filantrpicas com aes voltadas principalmente a jovens que no dispe de
recursos suficientes para pagarem uma escola de msica.
No mesmo perodo, veio Bragana uma tcnica do Rio de Janeiro representando o
Ministrio da Cultura para fazer uma avaliao do grupo Rabecas da Amaznia. O grupo
estava inscrito num concurso a nvel nacional correspondente a premiao da organizao da
Sociedade Civil Prmio Cultura Viva13. Este momento, foi de grande importncia para o
grupo que conseguiu o 3 lugar, alm de motivar o professor a pesquisar sobre as Rabecas
pois na oportunidade foi possvel observar que os artesos de rabecas ou luthies14quase no
existem mais na cidade. Portanto, comeou a sistematizar suas observaes sobre o grupo de
Rabecas em Bragana registrando o que achava mais significativo com a inteno de
organizar os dados de uma possvel pesquisa acadmica.
12 O grupo aqui mencionado refere-se a organizaes sem fins lucrativos que se estabeleceram em Bragana. Naoportunidade, dois grupostrabalhavam com ensino de rabecas assim distribudos: Rabecas da Amaznia eRabecas de Bragana. Ambos oferecem aulas gratuitas de rabecas e se apresentam nos principais ventos culturaisda cidade.13O Prmio Cultura Viva uma iniciativa do Ministrio da Cultura (MINC), com patrocnio da Petrobrs ecoordenao tcnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educao, Cultura e Ao Comunitria (Cenpec), queintegra o conjunto das aes do Programa Nacional de Cultura, Educao e Cidadania Cultura Viva.Lanadoem 2005, o Prmio Cultura Viva tem como objetivo mobilizar, reconhecer, fortalecer e dar visibilidade siniciativas culturais que ocorrem em todo o territrio brasileiro, de modo a favorecer o conhecimentoda riqueza eda diversidade cultural do Pas.(http://www.premioculturaviva.org.br)14O termo designa a arte de construo de instrumentos.
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Alm disso, comeou a fazer os registros fotogrficos e as filmagens conforme foi
tendo contato com os grupos de rabecas e os poucos artesos ainda existentes na cidade. Vale
ressaltar que sua pesquisa comeou a se estruturar neste perodo, mesmo sem ter efetivamente
formalizado na academia. Os dilogos que passou a ter com os moradores locais sobre as
rabecas passaram a ser fonte de informaes teis para o desenvolvimento de sua pesquisa.
Esses dilogos funcionaram como entrevistas informais que algumas vezes o professor
registrava essas anotaes em uma espcie de dirio de campo que o acompanhava, outras
vezes ao chegar em casa ele registrava as lembranas desses dilogos de uma forma descritiva
e outras vezes emitindo sua opinio. Neste caso, as observaes do professor inicialmente se
estabeleceram como observao do tipono-estruturadaconforme nos moldes de
Lorenzato(2006).
[...]observao no-estruturada, na qual o pesquisador tambm se baseia emhipteses, possui intencionalidade na participao do grupo,mas no fazanotaes perante o grupo e durante os acontecimentos. Justamente precisomuita ateno, memria e mtodo. Durante registro, aps os acontecimentos,
o pesquisador deve separar sempre o descritivo(fatos) doanaltico(opinio)[...]. (FIORENTINO,LORENZATO,2006,p.108)
No incio da pesquisa o professor fez contato com diferentes sujeitos pela tcnica no-
estruturada, ou seja, mas pela observao sem anotaes na ao.Posteriormente passou a
sistematizar suas anotaes mesclando diferentes tcnicas. Essa ideia apoiada tambm por
Fioretino e Lorenzato quando enfatiza diferentes formas de coletar informaes.
H vrias formas de interrogar a realidade ou coletar informaes. Algumasso mais dirigidas, como os questionrios e as entrevistas com questesfechadas. Outras so mais abertas como as entrevistas abertas e semi-estruturadas e a observao participante ou etnogrfica..Todas essas tcnicastem suas vantagens e desvantagens.O pesquisador , visando obter maiorfidedignidade, pode lanar mo de mais de uma tcnica, procurando assimtriangular as informaes. (FIORENTINO,LORENZATO,2006,p.108).
E neste caminhar,o professor foi alternando sua metodologia de pesquisa adotando
posteriormente entrevistas e dilogos mais direcionados.
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Dos dilogos informais destaca-se o que teve com seu Careca15, que no momento
exerce a funo de Presidente da Marujada de So Benedito.Quando perguntou ao seu
Careca sobre os artesos que existem na cidade foi possvel constatar que so poucos que
efetivamente ainda trabalham.
A histria das rabecas ou o violino de Bragana comeou com o MestreBrito que j morreu. Depois que veio o mestre Ari que aprendeu com ele naoficina produzida pelo IAP. Hoje,tem o seu Manuel que filho do JosBrito e at tem umas para vender aqui no museu. O velho Ari, pelo que eusei trabalha pouco, pois est um pouco doente e com a idade avanada.Temo jovem Josias que faz tambm. Ele estava para Belm mas est voltandopara trabalhar com rabecas. Eu s sei que o grande mestre mesmo foi o JosBrito. (seu Careca)
Assim, essas informaes iniciais foram fundamentais para ele identificar quais os
sujeitos de sua pesquisa, deciso essa que se estruturou com o tempo. A informao de que o
filho do mestre Brito estava confeccionando rabecas o deixou bastante motivado,
poisconsiderou a hiptese de constatar a continuidade de uma maneira prpria de fazer
rabecas rsticas da forma como seu pai, o mestre Jos Britofazia. Isso foi determinante para
escolher o seu Manuel como o principal sujeito de sua pesquisa.
De imediato percebeu que o mestre Ari, j no tem mais condies fsicas para
trabalhar com a confeco de rabecas. O seu Ari, j com uma idade avanada no confecciona
mais rabecas. O jovem Josias mudou-se para Belm e s recentemente est se organizando
para voltar a trabalhar com produo de rabecas. Assim, constatei que o seu Manuel, filho doMestre Jos Brito quem efetivamente mantm a tradio de fazer rabecas em Bragana. O
seu Careca, relatou sobre o mestre Jos Brito, destacando a sua importncia no contexto
histrico de Bragana. O mestre Jos Brito foi a pessoa que teve maior representatividade na
cidade de Bragana como arteso de rabecas pois tem a marca do difusor dessa cultura.(seu
Careca).
15Alcunha de Joo Batista Pinheiro, atualmente o Presidente do Museu da Marujada em Bragana-Pa
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O professor constatou isso tambm na pesquisa feita pelo Instituto de Artes do Artes
do Par(IAP)A histria de Jos Brito da Costa, Z Brito, tocador de banjo na Marujada de
Bragana e conhecedor da arte da fabricao da rabeca, j seria por si s, motivadora de uma
investigao sobre a memria social e a artes de fazer rabecas Moraes, Alivert e
Silva(2006).Neste perodo o mestre Jos Brito faleceu quando ainda ocorria a oficina de
confeco de rabecas produzidaspor este instituto.
Este perodo de observaes aqui relatado coincidiu com o ingresso do professor
no curso de Ps-Graduao em Educao Matemticaspelo Ncleo Pedaggico de Apoio ao
Desenvolvimento Cientfico (NPADC), hojeInstituto de Educao Matemtica e
Cientfica(IEMCI) onde seu projeto de pesquisa foi aceito com ottulo: Os Saberes
Matemticos dos fabricantes e tocadores de rabecasde Bragana-PA.O ttulo expressasua
inteno inicial em pesquisar sobre os artesos e os msicos tocadores de Rabecas em
Bragana. Porm, no transcorrer de sua trajetria como mestrando, teve que optar por uma das
duas vertentes, pois o tempo disponvel de dois anos seria insuficiente para contemplar as
duas dimenses de pesquisa. Essa indefinio ocorreu num longo processo de incertezas e
dvidas na escrita de sua dissertao. At mesmo, na data da qualificao, essa dvida ainda
se mantinha presente. Como tinha que decidir por uma vertente, optou por investigar sobre o
saber-fazer dos artesos de Bragana que confeccionam rabecas.
Em 2008, j como mestrando do programa, passou a ter novas leituras, reflexes einteraes com os professores do Instituto que foram decisivos para que ele passasse a
formalizar uma concepo sobre sua pesquisa construindo estratgias metodolgicas para
alcanar os seus objetivos durante o curso de Mestrado.
Decidiu registrar os fatos e obter relatos aos finais de semana coletando dados. Na
oportunidade, conheceu seu Manuel onde passou a acompanh-lo no processo de fabricao
de rabecas. Confeccionar uma rabeca no uma tarefa to simples de ser realizada. Exige do
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arteso muita concentrao e diviso das etapas que vo sendo cumpridas passoapasso. Aps
dilogo com seu Manuel, o professor sentiu a necessidade de acompanh-lo em todas as
etapas do processo. Fez um acordo de comprar uma rabeca tendo como compensao a
filmagem e o registro fotogrfico das etapas da confeco.
Feito o acordo, passou afrequentar a residncia do arteso aos finais de semana. No
momento em que comeou a observar o trabalho do arteso foi possvel verificar a riqueza
dos detalhes existentes na ao, no fazer das rabecas. Ento,passou a observar cada momento
de suas aes.
Esses encontros, na maioria das vezes, ocorriam aos sbados na residncia do seu
Manuel,iniciando s 9hs da manh e se estendia at o final do dia.No domingo,se davam at o
horrio do almoo e algumas vezes durante a semana pelo perododa tarde aps o trabalho que
o seu Manuel exerce paralelamente ao ofcio de arteso. Como conseqncia disso
estabeleceu-se uma amizade com o seu Manuel e o professor .
No transcorrer da pesquisa o professor se deparou com situaes diferentes que o
fizeram mudar o percurso do que havia planejado gerando novas estratgias e aes.No inicio,
ele considerou a possibilidade de coletar informaes com nfase nas filmagens do arteso
sem dar tanto destaque aos registros fotogrficos na fabricao. No momento em que passou a
escrever analisando o processo, percebeu o quanto seria importante o registro fotogrfico do
arteso no processo de confeco, pois teria condies de fazer uma descrio das fases detrabalho buscando detalhar as aes e ao mesmo tempo relacionar com autores que abordam a
anlise do saber-fazer visto por um enfoque matemtico e cultural onde se faz dentro de uma
realidade em que os conhecimentos so passados de gerao em gerao.
Quanto aos outros artesos que confeccionam rabecas, o professor resolveu investigar
suas histrias de vida procurando ampliar o seu objetivo de compreender os saberes e os
fazeres dos artesos de rabecas em Bragana por um olhar comparativo de anlise.
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Ao buscar este contato com os artesos, numa perspectiva de analisar a realidade dos
mesmos sob o enfoque de uma abordagem metodolgica histrica oral, o professor considerou
que alguns fatores relacionados a cultura das rabecas poderiam ser analisados em consonncia
com a possibilidade de ouvir os artesos. Essasideiasforamfundamentais para compreender
que a cultura das rebecas, est inseridanum processo dinmico de mudanas e que no est
isolada de diversos contextos culturais e sociais. Como foi possvel observar, o professor
passou por um amplo processo de descobertas e ampliao do seu olhar que o fizeram seguir
diferentes caminhos. No processo de anlise de compreender o saber-fazer do arteso e suas
relaes matemticas ele considerou que sua pesquisa teve um carter eminentemente
qualitativo considerando a concepo de Bicudo nos ajuda a refletir sobre este sentido como
segue.
O qualitativo engloba a ideia do subjetivo, passvel de expor sensaes eopinies.Osignificado atribudo a essa concepo de pesquisa tambmengloba noes a respeito de percepes de diferenas e semelhanas deaspectos comparveis de experincias. (BICUDO,2006,P.106)
Assim, buscou compreender o processo de construo das rabecas com um enfoque
qualitativo. Para Bicudo (2006) este mtodo de pesquisa se baseia na descrio dos fatos
buscando o significado dos atos vivencias, percebendo-o em ao. uma investigao que
pesquisa a realidade mediantes suas manifestaes.
Assim, diante do saber-fazer na ao do arteso o professor optou em olhar a prtica
do arteso com enfoque metodolgico fundamentado nos movimentos observados nas coisas
presentes em sua volta. Atravs deste olhar, o professor objetivou compreender o trabalho do
arteso identificando os saberes e fazeres presentes em sua prtica, inclusive os matemticos
que nem sempre esto explcitos.
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3 REFLEXES DO PROFESSOR
A histria contada, nos captulos anteriores, representa parte da minha vida acadmica
e profissional onde criei um personagem denominado professor. Ao adotar este recurso tive
a inteno de demonstrar atravs da histria de vida, o meu olhar em diferentes caminhos que
me conduzirem a descobertas e reflexes na minha trajetria pessoal e profissional. Este
caminhar, esteve interligado por relaes de conhecimentos que se desenvolvem como numa
teia que cresce e se ramifica em diferentes direes. Isso se deu num processo histrico de
construo e reflexes que gradativamente fizeram parte da minha vida diante de inmeras
possibilidades de caminhos refletindo como um ser em permanente construo na minha
formao como profissional.
A reflexo-ao trata-se do pensamento realizado no mesmo momento daprtica, constituindo um processo de grande importncia na formao doprofissional reflexivo. Ela pode ser considerada como o primeiro espao para
FOTO 09: Comparando a forma com a rabeca.Fonte: Acervo pessoal do autor
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confrontaes empricas com a realidade, partindo de um conjunto deesquemas tericos prvios de convices implcitas dos profissionais,propiciando que estes adquirem e construam novas teorias, conceitos ouesquemas. (NARDI, BASTOS E DINIZ,2004,p.152)
Diante de diferentes caminhos encontrei na cidade de Bragana, um ambiente
propcio para fixar minha moradia e desenvolver a pesquisa sobre as rebecas de Bragana. O
personagem que aqui foi criado percorreu por diferentes ambientes em Bragana e interagiu
com pessoas da comunidade bragantina, buscando compreender os saberes dos artesos num
contexto de amplas manifestaes culturais. Assim, procurei mostrar a trajetria de fatos que
se sucederam com diferentes caminhos que ainda continuo a percorrer.
A partir de agora, passarei a analisar o saber-fazer dos artesos em diferentes etapas da
confeco das rabecas considerando como sujeito principal da pesquisa o arteso Manuel
Raiol. Pretendo assim, compreender os saberes e fazeres dos artesos de rabecas num enfoque
etnomatemtico identificando matemticas nessa prtica com expressiva relao cultural. Para
tanto, serei um ouvinte reflexivo sobre as histrias contadas pelos artesos que trabalharam e
ainda trabalham com confeco em rabecas em Bragana-Pa. Neste novo percurso, passarei a
dar um carter pessoal na escrita baseada nas minhas observaes como pesquisador como um
ser curioso que sempre fui.
A seguir, apresento os artesos que fizeram parte deste percurso e os fundamentos para
compreender o saber-fazer dos artesos de Bragana e suas relaes matemticas relacionadas
com o pensamento peculiar dos artesos a partir de sua cultura.
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PARTE III
OS ARTESOS DE BRAGANA: PIONEIRISMO E CONTINUIDADE
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4 O PIONEIRISMO DO MESTREZ BRITO (contada por Seu Manuel)
O mestre Jos Brito foi um dos pioneiros a fazer Rabecas no modo artesanal em
Bragana. Alm de fazer Rabecas, era msico participante ativo das programaes culturais
existentes na cidade.Sua vivncia na cidade de Bragana deixou a marca de arteso que fez
histria pelas rabecas que foram confeccionadas por suas mos. Ao deixar seu filho, Manuel
Raiol como herdeiro da tradio de se fazer rabeca fica consolidada a continuidade dessa arte
que parte integrante da cultura Marujada de Bragana. Segue um breve relato de sua vida
contada por seu filho, seu Manuel.
(ProfReinaldo)Me conte ai a histria do seu pai, o mestre Z Brito.(seu Manuel)O meu pai comeou a tocar rabeca desde a idade de 10 anosde idade. Fazia rabeca de buriti, metia as linhas os fiozinhos, a linha decosturar e comeava a tocar ai surgiu o irmo dele que sabia tocar. Ai ovelho comeou a tocar na rabeca do irmo dele escondido do irmo, tinhamedo porque ela era o mais velho n. Por causa de no apanhar do irmo,
FOTO 10: Mestre Jos Brito- Arteso de BraganaFonte: Quadro na casa do seu Manuel
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no bater. Quando o irmo saia para mar para ir pescar, ai o papai l tiravao instrumento e comeava a tocar. Quando foi um dia, ele foi pego.-H ento tu que desafina a minha rabeca n. A minha rabeca que estouaqui tocando n.Ai ele largou pra li j como medo de apanhar.Foi que meupai disse.-No meu irmo, no fica com medo que eu no vou te bater. Ento vocsabe tocar n. S quero que voc no escangalhe mas fica tocando.Ai ele subiu l no cu e voltou de alegria. Ai ficou tocando e foi o tempo queele foi se formando e passou a fazer instrumento dele, de madeira de cedro,comeou a fazer. Primeiro a gente faz a coisa e sai tudo torto. Um lado bome outro mais ruim e foi comeando. Foi fazendo ai j foi dando certo elesabia tocar ele sabia qual era o bom o que no prestava. Ele colocava para olado e separava a boa e botava para o outro canto o que no prestava. Ecansou de falar assim.-No adianta boniteza(emoo.. pausa).Ai foi o tempo que ele j fez os instrumentos dele j no usou mais o
instrumento do irmo dele ai ficou tocando. Foi-se embora fazendo rabecas,graas a Deus e ficou eu aqui agora, fazendo rabecas. Era um dom que euno tinha descoberto n. Cada um tem o seu dom para fazer alguma coisa svezes no sabemos, mas todos ns faz n, querendo fazer a gente pe acabea a gente faz.Assim foi a vida de meu velho com muitas histrias sobreas rabecas.Num domingo que nem hoje o velho estava l assim que nem eu, nu decamisa, num dia de domingo trabalhando. O velho gostava de ficar semcamisa com o shorte todo rasgado bandiadinho, fazendo o instrumentodele.No demorou o Almizinho Gabriel chegou acompanhado do JuniorSoares e pegou o meu pai no flagrante .A ele chegou com os cmeras aicomeou a filmar e o Junior falou:
-No Sr, o Sr no vai sair daqui no, no faa uma coisa dessa. Eu eu lhequero assim mesmo como o Sr est sem camisa(Seu Manuel)Ele tem um retrato que ta nu de camisa assim como eutrabalhando. E da o Almir j comprou 2 violinos dele e ai foi ampliandomais mas ele tinha muita vergonha. Hum! deus me livre. Ai foi podendoampliar ele pra poder fazer o servio dele at morre. Ele sabia fazer violo ebanjo mas tambor nunca fez. Uma vez ele fez um pandeiro de pau ele fez pramim o pandeiro e se esbandalhou e comprei outro j feito mesmo mastambor nunca fez.(ProfReinaldo)Me conte ai a histria do seu pai, o mestre Z Brito(seu Manuel)O meu pai comeou a tocar rabeca desde a idade de 10 anosde idade. Fazia rabeca de buriti, metia as linhas os fiozinhos, a linha de
costurar e comeava a tocar ai surgiu o irmo dele que sabia tocar. Ai ovelho comeou a tocar na rabeca do irmo dele escondido do irmo, tinhamedo era o mais velho n. Por causa de no apanhar do irmo, no bater.Quando o irmo saia para mar para ir pescar, ai o papai l tirava oinstrumento e comeava a tocar. Quando foi um dia, ele foi pego-H ento tu que desafina a minha rabeca n. A minha rabeca que estouaqui tocando n.Ai ele largou pra li j como medo de apanhar.-No meu irmo, no fica com medo que eu no vou te bater. Ento vocsabe tocar n. S quero que voc no escangalhe mas fica tocando. Ai elesubiu l no cu e voltou de alegria. Ai ficou tocando e foi o tempo que elefoi se formando e passou a fazer instrumento dele, de madeira de cedro,comeou a fazer. Primeiro a gente faz a coisa e sai tudo torto. Um lado bome outro maisruim e foi comeando. Foi fazendo ai j foi dando certo ele sabiatocar ele sabia qual era o bom o que no prestava. Ele colocava para o lado e
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separava a boa e botava para o outro canto o que no prestava. E cansou defalar assim.-No adianta boniteza(emoo.. pausa).Ai foi o tempo que ele j fez os instrumentos dele j no usou mais oinstrumento do irmo dele ai ficou tocando. Foi-se embora fazendo rabecas,graas a Deus e ficou eu aqui agora, fazendo rabecas. Era um dom que euno tinha descoberto n. Cada um tem o seu dom para fazer alguma coisa svezes no sabemos, mas todos nos faz n querendo fazer a gente pe acabea a gente faz .Assim foi a vida de meu velho com muitas histriassobre as rabecas.Num domingo que nem hoje o velho estava l assim que nem eu, nu decamisa, num dia de domingo trabalhando. O velho gostava de ficar semcamisa com o shorte todo rasgado bandiadinho, fazendo o instrumentodele.No demorou o Almirzinho Gabriel chegou acompanhado do JuniorSoares e pegou o meu pai no flagrante.A ele chegou com os cmeras aicomeou a filmar e o Junior falou:
-No Sr, o Sr no vai sair daqui no, no faa uma coisa dessa. Eu eu lhequero assim mesmo como o Sr est sem camisa(Seu Manuel)Ele tem um retrato que t nu de camisa assim como eutrabalhando. E da o Almir j comprou 2 violinos dele e ai foi ampliandomais mas ele tinha muita vergonha. Hum! deus me livre. Ai foi podendoampliar ele pra poder fazer o servio dele at morre. Ele sabia fazer violo ebanjo mas tambor nunca fez. Uma vez ele fez um pandeiro de pau ele fez pramim o pandeiro e se esbandalhou e comprei outro j feito mesmo mastambor nunca fez.
Ao contar a histria de seu pai, o Seu Manuel, relata a socializao do conhecimento
entre geraes que acontecem numa cultura sem a necessariamente haver um momento de
ensino e aprendizagem com na escola formal na figura de professor e aluno. Ai o velho
comeou a tocar na rabeca do irmo dele, escondido do irmo(seu Manuelcontando a histria do pai).
Assim esses saberes vo se multiplicando no ambiente familiar que ajudam a manter viva tradies
como essa de tocar rabecas em Bragana-pa.
Quando seu Manuel revela que no adiantava boniteza. -No adianta boniteza emoo..
pausa... (Seu Manuel contando a histria de seu pai)tem um significado importante relacionado a
aparncia e a qualidade sonora do instrumento. Por trs da aparncia visual da rabeca, est escondido
uma saber na confeco de rabecas que poder resultar num bom instrumento ou no. Cada detalhe
das partes da confeco do instrumento que ser determinante se o som do instrumento ter uma boa
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qualidade que independe se o instrumento saiu bonito ou no. Assim, a qualidade do instrumento para
o Mestre Jos Brito no est no visual mas sim na sonoridade que o instrumento tiver.
5 UM SER CURIOSO: O MESTRE ARI
O SrAri um arteso de 73 anos de idade que no faz mais rabecas como
antigamente. Parou de confeccionar devido a problemas de sade que o impede de exercer o
ofcio. Nasceu em So Luis, mas viveu a maior parte de sua vida em Bragana-PA. Nasua
juventude, j fez carreto nas ruas, foi pedreiro e marceneiro.Passou a confeccionar rabecas
aps um pedido de seu filho, Aurimar, que almejava ter a sua prpria rabeca.Depois de
desmontar toda a rabeca, verificou os detalhes de comose fazia.
No processo de aprendizagem, trocou conhecimentos com o Mestre Jos Brito. Para
aprender a confeccionar rabecas no teve dificuldades, pois, j tinha certa prtica com a
marcenaria.Hoje, praticamente no trabalha mais confeccionando rabecas pelo estado de
sade em que se encontra. Suas rabecas so conhecidas pelo som que consegue produzir
devido ao processo de confeco que sempre fez com muita concentrao e dedicao. Segue
Foto 11: Mestre Ari confeccionando um brao da rabecaFonte: Acervo do Jos de Aurimar
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a entrevista que fiz com este mestre que demonstrou toda sua sabedoria expressapor suas
palavras contata por ele mesmo.
(seu Ari) A minha histria comeou quando eu tinha uns treze anos deidade. Tinha um vigia que tinha uma rabeca e ele tocava de vez em quando,tocava mal, mas tocava. Ento eu falei pro meu pai que eu queria um violino.Naquela poca ningum chamava de rabeca, todos chamavam de violinodevido s semelhanas entre os instrumentos. Eu penso que essa confusoiniciou quando os italianos trouxeram o violino para o Brasil e at mesmo osportugueses pertencentes a elite, penso que algum ficou com vergonha dedizer que tinha uma rabeca uma vez que o violino era clssico e da elite e arabeca no, e esse algum ento disse que a rabeca era um violino e a deu-seo incio dessa confuso entre os instrumentos, enfim, o que eu lembro quea rabeca precursora ao violino, primeiro a Rabeca e depois o violino.Meu pai comprou do vigia, ento fui e cortei a rabeca do vigia (tirar o
molde). Como eu j tinha trabalhado com mogno eu j tinha certa habilidadeem trabalhar com madeira. Quando vi que essa rabeca antiga, a madeira eracavada eu fiz igual, fui cavar tambm, porm desta maneira o processotorna-se muito lento e demorado, lembro que passei mais de quinze diascavando, um trabalho realmente artesanal.Depois de pronta eu olhei e fuiobservando que havia alguns erros e por isso resolvi fazer outra.Fiz outra,outra e assim fui aprimorando meus conhecimentos, buscandoconhecimentos em livros, procurando a perfeio por tentativa e erro. Eu soumuito curioso. Eu fao o seguinte, eu tento fazer de vrias maneiras e no fimanaliso qual foi a melhor quais foram os erros e acertos e absorvo aqueleconhecimento para a prtica.A rabeca era pintada com urucum, passvamos o urucum na madeira atficar bem vermelho e ento aps a secagem passvamos o verniz comum prad aquele brilho, pois o caboclo gosta de coisa bem brilhosa. A eu fui fazeroutro trabalho. Raspei tudo, passeia a lixa grossa, passei um selador e assimela foi melhorando lentamente. No incio, a primeira Rabeca ,eu usei estemodelo para fabricao, mas era muito irregular a rabeca do vigia.Ento eudisse: Olha eu vou fazer um violino nem eu chamava rabeca.Ento existiaum senhor que tinha um violino italiano, eu pedi o violino emprestado e tireitodas as medidas do violino, espessura, largura etc, apesar de eu no terconcludo nem a segunda srie do primeiro eu tenho certa noo de desenho,minha escola a vida, e hoje eu fao at proporo. Isso tudo eu aprendicom a vida, a vida foi ensinando, pois quando voc tem necessidade de uma
coisa e voc precisa voc tem que se dispor a aprender aquilo, tem que iratrs e aprender pra que assim possa ter uma vida um pouco melhor. Eu noestudei quase nada, meu pai era trabalhador, o ltimo dos dez filhos, s umairm minha que terminou o segundo grau, que naquele tempo era chamadoescola normal. Lembro que era uma festa quando algum conseguia concluira escola normal, era como quem faz medicina hoje. Enfim, tirei todas asmedidas, comprei a madeira e parti para a fabricao.Ento, eu peguei umviolino em que as medidas eram diferentes, a peguei as medidas do violinocomo base.Percebi que a Rabeca era maior que o violino, a caixa dela maior, ento eu tive que adaptar as medidas do violino para a rabeca, ou seja,alterar para um tamanho um pouco maior. Fiz isso para que no houvesseconfuso na identificao da Rabecaevitando assimaquela confuso na
identificao dos instrumentos. O que eu copiei do violino para a Rabeca foio acabamento da obra mantendo as caractersticas exclusivas da Rabeca. Arabeca maior, mais larga, mais grossa e mais comprida, tem uma pea
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dentro dela chamada de alma que no violino dividida em trs partes, sendoum teropra um lado e dois teros para o outro, j na Rabeca essa pea dividida em partes iguais. Outra diferena que na rabeca agente cava amadeira e j deixa a pea no ponto certo, no violino a pea feita por fora edepois colada no instrumento. Devido o tamanho da caixa acstica a rabecapossui um som mais grave que o som do violino, o violino mais agudo.Quanto ao arco, feito de maaranduba,consigo na marcenaria. Pode serfeito de dois tipos, ou j se tira ele no formato curvo ou tiramos ele reto efazemos a curva expondo o arco no fogo. Aquela fibra da folha da manilha.Essa folha eu arrumo l na vila de Ftima, um pouco parecida com a folhado abacaxi, s no tem aqueles espinhos. Tem que bater e colocar de molhopor cinco dias, aps isso retiramos a gua, lavamos e enfim retiramos a fibra.A medeira que eu utilizo varia. Eu j havia trabalhado anteriormente com ocedro. O cedro um tipo de madeira que dilata muito com a mudana detemperatura, ento eu pensei que seu eu deixasse o cedro daquele jeito eleiria descolar e depois o pessoal iria dizer que a minha rabeca no presta e
que eu vendi um produto com defeito, ento por isso eu decidi cozinhar ocedro por que quando cozida a resina extrada, a biologia tem um nomepara essa resina que eu no me recordo agora.Ento aps a madeira ser cozida e seca reduzida a excessiva dilatao queacontecia antes na presena da resina. Notei tambm que ato timbremudou,ouve uma significativa melhora no som, pois eu mesmo no sabendo tocareu tenho ouvido e conheo bem os sons.Agente pega uma forma de alumnio grande e cozinha cerca de duas horas emeia, a gua fica vermelha, depois disso agente deixa secar cerca de trs diase aps isso a madeira est seca e pronta para ser beneficiada. Quando agentepega a pea bruta ela tem 1,5 cm de grossura, ento voc deixa 3 mm deespessura, ou seja voc vai cavar 1,2 cm. Eu geralmente desenho pea por
pea, uma espcie de planta da pea indicando nome, comprimento, largurae espessura da pea, pois dessa maneira o aluno pode depois reproduzir apea sem eu estar presente.Como eu fao geralmente rabecas de cedro est um pouco difcil deconseguir, mas ainda conseguimos por aqui. As rabecas que eu fao praensinar so usadas madeiras de menor valor.Assim, aps um longo tempo fazendo e refazendo, lembro que fiz 17 rabecasno decorrer desse processo, chega uma pessoa pra encomendar e eu dizia queeu no estava vendendo e em muitas ocasies eu acabava dando arabeca.Quando eu j tinha umas seis prontas foi quando apareceu o pessoaldo IAPE fazendo a pesquisa sobre a Rabeca. Foram com o Jos Brito, poisele era a nica pessoa conhecida por aqui que fazia rabecas. Quando eu
terminava, ia com ele para que ele testasse e afinasse o instrumento. Porm,depois de um tempo em que eu peguei o macete, todas saam iguais, commesmo timbre, mesmo som, fiz formas para padronizar, enfim todas saamiguais, isso usando rgua, compasso e esquadro.O Z Brito foi um dos pioneiros na fabricao de rabecas, muito pobre,morava aqui mesmo e ele alm de fabricar tambm tocava namarujada.Ento o pessoal do IAPE soube dele e lhe procuraram. Eu os leveiat a casa do Z Brito para que eles o conhecessem e tambm para queouvissem ele tocando.Fomos ento at a casa do Z, ele tocou, o pessoalgravou, porm pouco tempo depois ele morreu.Alguns dias antes dessa gravao o pessoal do IAPE falou com ele para queele ensinasse o pessoal a fazer a rabeca, ali no barraco da marujada, entocomo ele era analfabeto, ele ficou com medo de no d conta de ensinar. Eleveio comigo e pediu minha ajuda e eu fiz ento um Croqui com todas as
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medidas do violino. Tirei umas cpias e levei pra distribuir para o pessoal,aps uma semana ele adoeceu e eu assumi no lugar dele. Um exemplo oJosias. Ele um rapaz que tem o segundo grau completo. Em estudo ele temmais conhecimento que eu, ele tambm j trabalhava em oficina demarcenaria, o pai dele era marceneiro, ou seja, ele j tinha toda uma histriana lida com madeira. Ento ele aprendeu muito rpido e hoje ele trabalhamuito bem, ele foi embora pra Belm. Hoje em dia a Rabeca asobrevivncia dele, um dia desse ele veio aqui e me disse que ainda estfabricando, disse tambm que nos fins de semana vai pra praa da repblicatocar para o pblico, o pessoal comea a aparecer e aglomerar, enfim, hojeesse o sustento dele.A rabeca feita nessa ocasio fui eu que fiz, porm, quando o curso encerrouo pessoal do IAPE levou a rabeca pro Rio de Janeiro e foi divulgado o nomedo Z como o fabricante daquela rabeca, mas foi quem fez, entretanto no fizquesto at por que ele era o cabea, enfim.Pouco tempo depois ele faleceu.O pessoal do IAPE contratou o Abieazer, que era um rapaz que ensinava
msica aqui. Falaram ento com ele para que ele desse aula para os meninos,ensinar a tocar.Ele comeou ento a ensinar os meninos, sem partitura. Eleensinava por um mtodo de botar as msicas em nmeros, o pessoal doIAPE pagava R$ 400,00 por ms pra ele.Ele ento dava aula, porm, asrabecas com que ele estava ensinando eram l do museu da marujada e aquando acabava aquela hora de aula as rabecas eram guardadas e todos iampra casa e no tinham como praticar. Eu vi aquilo e fiquei com pena dosmeninos, pois o projeto alm de ficar em algumas situaes sem verba aindano havia rabecas pra praticar, ai ficava difcil pois eles ficavam naquelemarca passo e no saiam da estaca zero.Ento eu vendo aquilo disse: - OlhaAbiazer, vamos fazer um negcio, tu entras com o teu conhecimento musicale eu fao as rabecas para os meninos! Ele aceitou o trabalho
voluntrio.Comecei a fazer e quando tinham j prontas nove rabecas eudisse: - Olha tem nove. Como era de graa, no cobrvamos nada, comeoua aparecer muita gente, eu, fiquei com pena de deixar o pessoal de fora e aquantidade de alunos foi aumentando, aumentando, aumentando e hojetemos mais de cem alunos. Ento todo esse contingente ficou insustentvelpra mim, foram trs anos mantendo instrumento, corda, de tudo eu dava,ento no aguentei o peso financeiro.Foi a que surgiu a ideia de criar uma associao com a inteno deconseguirmos um colaborador ou um patrocinador, visto que amos pedirapoio ao Prefeito e ele s poderia ajudar se existisse uma coisa oficializada edocumentada. Ento documentamos tudo e aps um ano correndo atrs,conseguimos uma ajuda, que por sinal era muito pouco.
Agente faz o seguinte, eu vi que os meninos que aprenderam por aqueleantigo mtodo (dos nmeros) no progrediram. Os meninos se tornavamtocadores e de maneira muito mecnica visto que eles memorizavam asmsicas e a partir do momento em que fugia daquilo eles no sabiam nada.Ento eu passei a desenvolver um conhecimento melhor. Como eu no sabiatocar, eu contratei uma pessoa que tinha o conhecimento musical e que sabialer partitura para ensinar os meninos. Hoje, os nossos novos alunos todos je