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Livro 2 - Didática do Ensino Superior Site: UTFPR - Servidor de Cursos UAB Curso: Especialização em Informática Instrumental Aplicada a Educação - 2014 Livro: Livro 2 - Didática do Ensino Superior Impresso por: Jair De Oliveira Junior Data: sexta, 10 abril 2015, 16:04 Sumário 1. Elementos para a compreensão do cotidiano e o processo didático 1.1. O conceito de educaçãocomo fundamento da ação educativa 1.2. Objetivos da educação brasileira 1.3. Funções sociais da educação 1.4. Perspectivas atuais 1.5. Crises e alternativas 1.6. Texto Complementar 2. Prática educativa, pedagogia e didática 2.1. Prática educativa na sociedade 2.2. O papel da pedagogia na sociedade 2.3. O que é pedagogia? 2.4. E, o que é didática? 2.5. Didática e metodologia 2.6. Tendências pedagógicas da prática escolar 2.7. Concluindo 2.8. Texto Complementar 1. Elementos para a compreensão do cotidiano name http://ead.utfpr.edu.br/moodle/mod/book/print.php?id=58761 1 de 13 10/04/2015 16:04

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Livro 2 - Didática do Ensino Superior

Site: UTFPR - Servidor de Cursos UAB

Curso: Especialização em Informática Instrumental Aplicada a Educação - 2014

Livro: Livro 2 - Didática do Ensino Superior

Impresso por: Jair De Oliveira Junior

Data: sexta, 10 abril 2015, 16:04

Sumário

1. Elementos para a compreensão do cotidiano e o processo didático1.1. O conceito de educaçãocomo fundamento da ação educativa1.2. Objetivos da educação brasileira1.3. Funções sociais da educação1.4. Perspectivas atuais1.5. Crises e alternativas1.6. Texto Complementar

2. Prática educativa, pedagogia e didática2.1. Prática educativa na sociedade2.2. O papel da pedagogia na sociedade2.3. O que é pedagogia?2.4. E, o que é didática?2.5. Didática e metodologia2.6. Tendências pedagógicas da prática escolar2.7. Concluindo2.8. Texto Complementar

1. Elementos para a compreensão do cotidiano

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e o processo didático

Neste milênio, o debate sobre as questões educacionais, em que a escola é chamada a ser mais doque um locus de apropriação do conhecimento socialmente relevante, o científico, um espaço dediálogo entre diferentes saberes científico, social... e linguagens, muitas são as formas de acesso aoconhecimento, não se podendo atribuir à escola a quase exclusividade desta função.

A instituição social educativa assim concebida “é um espaço de busca, construção, diálogo econfronto, prazer, desafio, conquista de espaço, descoberta de diferentes possibilidades deexpressão e linguagens, aventura, organização cidadã, afirmação da dimensão ética e política detodo o processo de educativo”. (CANDAU, 2002, p. 18).

O impacto dos meios de comunicação de massa e, principalmente, da informática, estárevolucionando as formas de construir conhecimentos. Estas formas estão sendo chamadas a semultiplicar nos próximos anos. Por outro lado, a cultura escolar se relaciona com a articulaçãoentre igualdade e diferença, do aqui “são todos iguais”. Assim, as instituições educativas estãocada vez mais desafiadas a enfrentar os problemas decorrentes das diferenças e da pluralidadecultural, étnica, social... dos seus sujeitos e atores.

Hoje, os movimentos sociais são situados cada vez mais na perspectiva da promoção de umaeducação verdadeira intercultural e da construção de uma nova cidadania, como princípioconfigurador de um sistema educacional como um todo e não somente orientada a determinadassituações e grupos sociais.

Nessa nova escola para novos tempos e espaços, a questão da cidadania é fundamental; a partir deuma abordagem que conceba a cidadania como prática social cotidiana, que perpassa os diferentesâmbitos da vida, articula o cotidiano, o conjuntural e estrutural, assim como o local e regional,numa progressiva ampliação do horizonte, sempre na perspectiva de um projeto diferente desociedade e humanidade.

Assim, a educação é um típico “que fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que secaracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educaçãodentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas como um instrumentode manutenção ou transformação social. Assim, ela necessita de pressupostos, de conceitos quefundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade, dentro da qual a educação está, devepossuir alguns valores norteadores de sua prática educativa.

A profissão docente é uma prática educativa, ou seja, como tantas outras, é uma forma de intervirna realidade social, no caso, mediante a educação.

1.1. O conceito de educaçãocomo fundamentoda ação educativa

O problema fundamental com que se depara o professor ao planejar e implementar a açãoeducativa consiste na necessidade que tem de conceituar educação, visto que a ação educativa éfunção direta do conceito de educação. Antes de analisar os aspectos didáticos, é muito importanterefletir um pouco sobre o sentido da atividade docente. Para ter consciência do sentido de suaatividade profissional, o professor precisa se perguntar:

– Para que ensino?

– Para que serve o que estou fazendo?

Isso não quer dizer que os aspectos didáticos não sejam importantes. Isto significa dizer que elesdevem estar subordinados à definição de propósitos educativos válidos para orientar o trabalhodocente.

E como, num sentido amplo, a educação considera a interação de todos os aspectos da pessoahumana com a sociedade na qual está inserida, são múltiplos os posicionamentos tomados pelos

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professores e, em decorrência, muitos são os conceitos estabelecidos sobre a educação.

Necessariamente, um conceito de educação considera o homem e a sociedade. Daí, decorrem osquestionamentos:

– Que tipo de homem desejamos obter com o produto do nosso trabalho?

– Que tipo de sociedade interage com esse homem que pretendemos formar?

Quanto ao tipo de homem que pretendemos formar, a educação é um processo que se desenvolveno tempo, considerando:

o homem desenvolvido em todos os aspectos, que tem consciência de suas possibilidades elimitações, munido de uma cultura que lhe permita conhecer, compreender e refletir sobre omundo;

o homem independente, mas não isolado, que, conhecendo suas capacidades físicas,intelectuais e emocionais e dotado de uma visão crítica da realidade, seja capaz de atuar deforma eficaz e eficiente nessa realidade.

Em relação à sociedade, a educação deve considerar o seu importante papel de transformaçãosocial, tomando como pontos referenciais:

uma sociedade que supere os modelos econômicos e políticos de hoje, em busca de umasolidariedade entre as pessoas e os povos;

uma sociedade que, apesar de integrar os indivíduos e os povos, respeite profundamente ascaracterísticas individuais, favorecendo o desenvolvimento das sociedades.

O professor necessita ter em mente a educação como um processo que se desenvolve num tempodinâmico e num espaço que sofre transformações constantes. Essas transformações por que passamo mundo ocorrem em decorrência, sobretudo, dos avanços tecnológicos, da reestruturação dosistema de produção e desenvolvimento, da compreensão do papel do Estado e das mudanças nosistema educacional, na organização do trabalho e nos hábitos de consumo. Paralelamente, ainstituição social educativa é questionada acerca do seu papel ante as transformações econômicas,sociais, políticas e culturais do mundo contemporâneo.

Embora a didática se preocupe primordialmente com o “como ensinar”, ou seja, com os métodos etécnicas de ensino, julgamos importante, antes de estudá-los, refletir sobre o seu fundamento, sobreas raízes do seu emprego e sobre os fatores que intervêm em sua aplicação. Caso contrário,corremos o risco de nos converter em escravos dos instrumentos (métodos e técnicas). Para evitarisso, é de fundamental importância refletirmos sobre a educação.

O que é educação?

Num mundo globalizado como o de hoje, faz-se necessário rever com urgência os conceitos sobrea educação. Não se trata simplesmente de inventar novas metodologias para melhorar o que existe.Faz-se necessário repensar, desde as raízes, todo o sistema de educação. De nada adianta areformulação dos métodos e dos meios, se a educação oferecida não corresponde ao homemmoderno.

O professor deve estar atento a este aspecto, a fim de planejar uma ação educativa capaz deconduzir o aluno a um discernimento quanto aos valores e concepções de vida, de homem e desociedade.

Sintetizando, é necessário que o professor considere fundamentalmente a educação um processo deação da sociedade sobre o aluno, visando integrá-lo, seguindo seus padrões sociais, econômicos,políticos e seus interesses. Portanto, a educação tem como características:

um fato histórico, pois se realiza no tempo;

ser um processo que se preocupa com a formação do homem em sua plenitude;

buscar a integração dos membros de uma sociedade ao modelo social vigente;

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simultaneamente, buscar a transformação da sociedade em benefício de seus membros;

ser um fenômeno cultural, pois permite a cultura de um contexto de forma global;

direcionar o aluno para a autoconsciência;

ser ao mesmo tempo, conservadora e inovadora.

Dessa forma, a educação é fundamental na manutenção da vida de um grupo ou mesmo dasociedade. À medida que vai aumentando a complexidade da vida de um grupo, a educação vai setornando cada vez mais relevante, a tal ponto que, na sociedade contemporânea, a educação estásempre presente em lugar de destaque.

O objetivo da educação é a socialização do indivíduo, ou seja, por meio da educação, o indivíduoadquire as condições pessoais necessárias para engajar-se adequadamente ao grupo a que pertencee no qual desempenhará suas funções.

Logo, não há uma forma única de educação nem um modelo de educação. Em cada sociedade oupaís, existe uma maneira diferente de educar. A educação é inerente à sociedade humana.

Conclui-se que a educação é um processo que se baseia na reflexão sobre a realidade e, ao mesmotempo, assimila suas necessidades e a crítica em suas inconsistências, agindo no sentido deatendê-la em muitos aspectos. Portanto, está embasada na Filosofia, na Sociologia, na Psicologia,na Antropologia e no contexto histórico.

1.2. Objetivos da educação brasileira

Segundo Dermeval Saviani, em face da realidade concreta do homem brasileiro, temos os objetivosgerais da educação brasileira, conforme abaixo.

Educação para a subsistência

O homem brasileiro não sabe tirar proveito das possibilidades da situação e, por não sabê-lo,freqüentemente, acaba por destruí-la. Isto nos revela a necessidade de uma educação para asubsistência. É preciso que o homem aprenda a tirar da situação adversa os meios para sobreviver.

Educação para a libertação

Como pode o homem utilizar os elementos da situação se ele não é capaz de intervir nela, decidir,engajar-se e assumir pessoalmente a responsabilidade de suas escolhas? As condições de liberdadedo homem brasileiro são tão precárias, marcadas por uma tradição de inexperiência democrática,marginalização econômica, política e cultural. Daí, decorre a necessidade de uma educação para alibertação: é preciso saber escolher e ampliar as possibilidades de ação.

Educação para a comunicação

Como intervir na situação sem uma consciência das suas possibilidades e dos seus limites? Estaconsciência só se adquire por meio da comunicação. Daí, o terceiro objetivo – educação para acomunicação. É preciso que se adquiram os instrumentos aptos para a comunicação intersubjetiva.

Educação para a transformação

Tais objetivos só serão atingidos com uma mudança sensível do panorama nacional atual, quergeral, quer educacional. Daí, o quarto objetivo – a educação para a transformação.

1.3. Funções sociais da educação

As ações humanas estão sempre impregnadas de crenças e valores que as orientam paradeterminadas finalidades. Consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitamente, quemvive possui uma filosofia de vida, uma concepção de homem, de sociedade e de mundo.

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Pela busca do senso crítico da educação, os professores podem entendê-la, segundo Luckesi (1994,p. 39-51), de três maneiras diferentes, ou seja, cumprindo as funções sociais de redentora dasociedade, reprodutora da sociedade e transformadora da sociedade.

Redentora da sociedade

A função redentora concebe a sociedade como um conjunto de seres humanos que vivem esobrevivem num todo orgânico e harmonioso, com desvios de grupos e indivíduos que ficam àmargem desse todo. Ou seja, a sociedade está naturalmente composta com todos os seus elementos,o que importa é integrar em sua estrutura tanto os novos elementos (novas gerações), quanto osque, por qualquer motivo, encontram-se à sua margem. A educação como instância social que estávoltada à formação da personalidade dos indivíduos para o desenvolvimento de suas habilidades epara a veiculação dos valores éticos necessários à convivência social, que nada mais tem que fazerdo que se estabelecer como redentora da sociedade, integrando harmonicamente os indivíduos notodo social já existente.

Reprodutora da sociedade

A função reprodutora afirma que a educação faz, integralmente, parte da sociedade e a reproduz.Aborda a educação como uma instância dentro da sociedade e exclusivamente ao seu serviço. Aeducação atua sobre a sociedade como uma instância corretora dos seus desvios, tornando-a melhore mais próxima do modelo de perfeição social harmônico idealizado.

Transformadora da sociedade

A função transformadora compreende a educação como mediação de um projeto social. Ou seja,ela nem redime nem reproduz a sociedade, mas serve de meio, ao lado de outros meios, pararealizar um projeto de sociedade, que pode ser conservador ou transformador. Não coloca aeducação a serviço da conservação. Pretende demonstrar que é possível compreender a educaçãodentro da sociedade, com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade detrabalhar pela sua democratização.

Além disso, Dermeval Saviani (1983, p. 36) nos alerta para a dificuldade, dizendo-nos o seguinte:

O caminho é repleto de armadilhas, já que os mecanismos de adaptação acionados periodicamente a partirdos interesses dominantes podem ser confundidos com anseios da classe dominada. Para evitar esse risco, énecessário avançar no sentido de captar a natureza específica da educação, o que nos levará à compreensãodas complexas mediações pelas quais se dá sua inserção contraditória na sociedade capitalista.

Concluindo, o autor indica a necessidade de cuidar daquilo que é específico da escola, para queesta venha a cumprir um papel de mediação, num projeto democrático de sociedade.

1.4. Perspectivas atuais

Estamos no Terceiro Milênio sob o signo da perplexidade, da crise de concepções e paradigmas emtodos os campos das ciências, da cultura e da sociedade. É um momento novo e rico depossibilidades.

Entretanto, para não sermos omissos, vamos apresentar algumas tendências atuais, apoiadosnaqueles educadores e filósofos que tentaram apontar caminhos em meio a essa perplexidade.

1.5. Crises e alternativas

A educação tradicional e a educação nova têm um traço comum que é o de conceber a educaçãocomo um processo de desenvolvimento pessoal e individual.

O traço mais original deste século, na educação, é o deslocamento da formação puramenteindividual do homem para o social, o político, o ideológico. A educação deste fim de séculotornou-se permanente e social.

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Há tendências universais, entre elas, a de considerar como conquista deste século a idéia de quenão existe idade para a educação, de que ela se estende pela vida e que não é neutra.

Caminhamos para uma mudança da própria função social da escola. Entre nós, chamamos essanova educação de educação popular, não porque ela seja destinada apenas às camadas populares,mas pelo caráter popular, socialista e democrático que essa concepção traz.

Parece-nos que o melhor caminho de superação da crise educacional é vivê-la intensamente,evidenciando suas contradições e disfunções. Contudo, como a crise da educação e da sociedadesão inseparáveis, o desenvolvimento das contradições escolares e a sua transformação também sãoinseparáveis do desenvolvimento e da superação das contradições sociais.

Falar em futuro da educação é, à luz da história da educação, antever os próximos passosassociando teoria pedagógica e prática educacional a uma análise sócio-histórica.

Observando o desenvolvimento educacional do século XX, podemos afirmar que a educaçãotornou-se instrumento de luta e de emancipação, associando a luta social à luta pedagógica.

Não se trata mais de reforçar apenas a “escola para todos”, burocrática, uniformizadora, que é aessência da teoria educacional burguesa. Uma educação para todos não pode ser conseqüência deuma concepção elitista: os privilégios não são estendidos, mas eliminados, se se quer atingir ademocracia.

A democracia na educação, quantitativa e qualitativamente, não pode ser um ato de pura“recomendação”, como pretendem os teóricos da educação da década de 70. A educação,instrumento da paz, é o resultado da luta, do movimento popular.

1.6. Texto Complementar

O compromisso social e ético dos professores

(LIBÂNEO, 1998, p. 47-48) O trabalho docente constitui o exercício profissional do professor e este é oseu primeiro compromisso com a sociedade. Sua responsabilidade é preparar os alunos para setornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nas associações de classe, na vidacultural e política. É uma atividade fundamentalmente social, porque contribui para a formaçãocultural e científica do povo, tarefa indispensável para outras conquistas democráticas.Acaracterística mais importante de atividade profissional do professor é a mediação entre o aluno e asociedade, entre as condições de origem do aluno e sua destinação social na sociedade, papel quecumpre provendo as condições e os meios (conhecimentos, métodos, organização do ensino) queassegurem o encontro do aluno com as matérias de estudo. Para isso, planeja, desenvolve suasaulas e avalia o processo de ensino.

O sinal mais indicativo da responsabilidade profissional do professor é seu permanente empenhona instrução e educação dos seus alunos, dirigindo o ensino e as atividades de estudo de modo queestes dominem os conhecimentos básicos e as habilidades, e desenvolvam suas forças, capacidadesfísicas e intelectuais, tendo em vista equipá-los para enfrentar os desafios da vida prática notrabalho e nas lutas sociais pela democratização da sociedade.

O compromisso social, expresso primordialmente na competência profissional, é exercido noâmbito da vida social e política. Como toda profissão, o magistério é um ato político porque serealiza no contexto das relações sociais onde se manifestam os interesses das classes sociais. Ocompromisso ético-político é uma tomada de posição frente aos interesses sociais em jogo nasociedade. Quando o professor se posiciona, consciente e explicitamente, do lado dos interesses dapopulação majoritária da sociedade, ele insere sua atividade profissional – ou seja, suacompetência técnica – na luta ativa por esses interesses: a luta por melhores condições de vida e detrabalho e ação conjunta pela transformação das condições gerais (econômicas, políticas, culturais)da sociedade.

Estas considerações justificam a necessidade de uma sólida preparação profissional face àsexigências colocadas pelo trabalho docente. Esta é a tarefa básica do curso de habilitação aomagistério e, particularmente, da didática.

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2. Prática educativa, pedagogia e didática

2.1. Prática educativa na sociedade

O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros dasociedade são preparados para a participação na vida social. A educação, ou seja, a práticaeducativa, é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana neces

sária à existência e ao funcionamento de todas as sociedades.

Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suascapacidades, prepará-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vidasocial.

Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa semsociedade

A prática educativa não é apenas exigência da vida em sociedade, mas também o processo deprover os indivíduos de conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar nomeio social e transformá-lo em função de suas necessidades econômicas, sociais e políticas.

Pela ação educativa, o meio exerce influências sobre os indivíduos e estes, ao assimilarem erecriarem essas influências, tornam-se capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadoraem relação ao meio social.

Tais influências se manifestam por meio de conhecimentos, experiências, valores, crenças, modosde agir, técnicas e costumes acumulados por muitas gerações de indivíduos e grupos, transmitidos,assimilados e recriados pelas novas gerações. Assim, educação é um fenômeno social complexo.

Significa que a prática educativa – especialmente os objetivos, os conteúdos de ensino e o trabalhodocente – está determinada por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas. Ela é determinadapor valores, pelas normas e pela estrutura social.

A prática educativa é parte integrante da dinâmica das relações sociais e das formas da organizaçãosocial. Então, a prática educativa, a vida cotidiana, as relações professor-aluno, os objetivos daeducação e o trabalho docente, estão carregados de significados sociais que se constituem nadinâmica das relações sociais.

Nesse sentido, a educação é inerente à sociedade humana, conforme Brandão (1981) afirma:

A educação está presente em casa, na rua, na igreja, na mídia em geral e todos nos envolvemos com ela, sejapara aprender, para ensinar e para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todosos dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias [...] Não há uma forma única nem umúnico modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece; o ensino escolar não é a únicaprática, e o professor o profissional não é seu único praticante.

Assim, a educação é um processo natural que ocorre na sociedade humana pela ação de seusagentes sociais como um todo, configurando uma sociedade pedagógica (BEILLEROT, 1985).

Desenvolvendo essa idéia, podemos citar vários exemplos com inúmeras situações da presença dopedagógico na sociedade. Nas mídias, dentre outros exemplos, há intervenção pedagógica natelevisão, no rádio, nas revistas, nos jornais e em todo material informativo, pois a mídia atua namodificação dos estados mental e afetivo das pessoas e nos modos de pensar, disseminando saberese modos de agir e de sentir. No entanto, segundo Libâneo (1998, p. 21), é “surpreendente queinstituições e profissionais cuja atividade está permeada de ações pedagógicas desconheçam ateoria pedagógica”.

2.2. O papel da pedagogia na sociedade

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Para tornar efetivo o processo educativo, é preciso dar-lhe uma orientação sobre as finalidades e osmeios da sua realização, conforme as opções que se façam quanto ao tipo de indivíduo que sedeseja formar e ao tipo de sociedade a que se aspira.

Esta tarefa pertence à pedagogia como teoria e prática do processo educativo.

2.3. O que é pedagogia?

A palavra pedagogia vem do grego pais, paidós que significa criança; agein que é conduzir e logosque quer dizer trabalho, ciência.

Na Grécia antiga, eram chamados de pedagogos os escravos que acompanhavam crianças que iampara a escola. Como escravo, ele era submisso à criança, mas tinha que fazer valer sua autoridadequando necessária. Por esse motivo, estes escravos desenvolveram grande habilidade no trato comas crianças.

Hoje, pedagogo é o especialista em assuntos educacionais, e pedagogia é o conjunto deconhecimentos sistemáticos relativos ao fenômeno educativo. Então, pedagogia é o campo deconhecimento que investiga a natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade,bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los paraas tarefas da vida social.

Uma vez que a prática educativa é o processo pelo qual são assimilados conhecimentos eexperiências pela prática social da humanidade, cabe à pedagogia assegurá-lo, orientando-o parafinalidades sociais e políticas, e criando um conjunto de condições metodológicas e organizativaspara viabilizá-lo. Então, a pedagogia, sendo a ciência da e para a educação, estuda a educação, ainstrução e o ensino.

Conforme Libâneo (1998, p. 24), “a pedagogia é um campo de conhecimentos sobre aproblemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretrizorientadora da ação educativa”.

A pedagogia, enquanto campo teórico da prática educacional, não se restringe à didática da sala deaula nos espaços escolares, mas está presente nas ações educativas da sociedade em geral.

Para tanto, a pedagogia compõe-se de ramos próprios como a Teoria da Educação, a didática, aOrganização Escolar e a História da Educação e da pedagogia. Ao mesmo tempo, busca, em outrasciências, os conhecimentos teóricos e práticos que concorrem para o esclarecimento do seu objeto,o fenômeno educativo. São elas: a Filosofia da Educação, a Sociologia da Educação, a Psicologiada Educação, a Política Educacional, a Biologia da Educação, a Economia da Educação, aAntropologia e outras.

Assim compreendida,

A pedagogia [...] possibilita que as instituições e os profissionais cuja atividade está permeada de açõespedagógicas se apropriem criticamente da cultura pedagógica para compreender e alargar a sua visão dassituações concretas nas quais realizam seu trabalho, para nelas imprimir a direção de sentido, a orientaçãosociopolítica que valorizam, a fim de transformar a realidade. Incluindo também a atividade de ensinar, quetem na didática sua sistematização teórica. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 66).

Concluindo, a pedagogia é a reflexão sistemática sobre o ideal de educação e da formação humana,podendo se ressignificar à medida que tomar a ação como a referência da qual parte e para a qualse volta.

Entretanto, enquanto as Ciências da Educação abordam o fenômeno educativo na perspectiva dosconceitos e métodos que lhes são próprios, a pedagogia postula o educativo propriamente dito. Seucampo compreende as ações educativas e seus agentes contextualizados, tais como:

o aluno como sujeito do processo de socialização e de aprendizagem;

os agentes de formação (entre eles as mídias, a família, os agentes de saúde, as escolas e osprofessores);

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as situações concretas em que se dão os processos formativos (entre eles o ensino);

o saber (como objeto de produção e constituição do humano);

o contexto socioinstitucional das instituições (entre elas os sistemas de ensino, as políticasgovernamentais, inclusive as escolas e as salas de aula).

Em síntese, conforme Libâneo (1988, p. 30), o objetivo pedagógico se configura na relação entreos elementos da prática educativa e:

o sujeito que se educa;

o educador;

o saber;

os contextos em que ocorrem.

2.4. E, o que é didática?

Agora que já vimos o que estuda a pedagogia e que situamos a didática dentro da pedagogia,vejamos o que é didática.

A didática é o principal ramo de estudo da pedagogia que investiga os fundamentos, as condições eos modos de realizar a educação mediante o ensino. Sendo o ensino uma ação historicamentesituada, a didática vai constituir-se como teoria do ensino.

À didática cabe:

converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino;

selecionar conteúdos e métodos em função dos objetivos de ensino;

estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento dascapacidades dos alunos.

A didática se divide em:

didática geral – estuda os princípios, as normas e as técnicas que devem regular qualquertipo de ensino, para qualquer tipo de aluno. Ela nos dá uma visão geral da atividade docente.

didática especial – estuda os aspectos científicos de uma determinada disciplina ou faixa deescolaridade. Analisa os problemas e as dificuldades que o ensino de cada disciplinaapresenta e organiza os meios e as sugestões para resolvê-los. Assim, temos as didáticasespeciais das línguas (inglês, espanhol etc.), as didáticas especiais das ciências (física,química etc).

2.5. Didática e metodologia

A didática e a Metodologia estudam os métodos de ensino. No entanto, há diferença quanto aoponto de vista de cada uma. A metodologia estuda os métodos de ensino, classificando-os edescrevendo-os sem fazer juízo de valor.

A didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos de ensino.Podemos dizer que a Metodologia nos dá juízos de realidade e a didática, juízos de valor.

Juízos de realidade são juízos descritivos e constativos, como por exemplo: três mais três sãoseis;acham-se presentes na sala 45 alunos.

Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas, como por exemplo: os idosos

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merecem nosso respeito;a democracia é a melhor forma de governo.

Assim, é possível concluir que podemos ser metodológicos sem ser didáticos, mas não podemosser didáticos sem ser metodológicos, pois não podemos julgar sem conhecer. Por isso, o estudo daMetodologia é importante, porque, para escolher o método mais adequado de ensino, precisamosconhecer os métodos que existem.

Os princípios, as normas e as técnicas de ensino são postos em prática por meio das atividades deplanejamento, orientação e controle do processo ensino-aprendizagem.

Planejamento – previsão e programação dos trabalhos escolares para todo o ano letivo e/ousemestre letivo.

Orientação – o professor executa o que planejou.Controle – supervisão constante do processo deaprendizagem.

2.6. Tendências pedagógicas da práticaescolar

Agora que compreendemos as diferentes tendências da educação, cabe ao professor, criticamente,descobrir qual a tendência que orientará o seu trabalho docente.

O que não podemos é ficar sem nenhuma delas, pois, como dissemos, quando não pensamos,somos dirigidos por outros.

Vamos abordar as diferentes tendências teóricas que pretenderam dar conta da compreensão e daorientação da prática educacional em diferentes momentos e circunstâncias da história humana.

Pedagogia liberal

O termo liberal não tem o sentido de avançado, democrático, como costuma ser usado.

A doutrina liberal defende a predominância da liberdade e dos interesses individuais da sociedade eestabelece uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios deprodução, também denominada sociedade de classes.

A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para odesempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, por isso os indivíduosprecisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes por meiodo desenvolvimento cultura individual.

Pedagogia liberal tradicional

Na tendência tradicional, a pedagogia liberal se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, decultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realizaçãocomo pessoa.

Em suas várias correntes, caracteriza as concepções de educação em que predomina a ação deagentes externos na formação do aluno, a prioridade do objeto de conhecimento, a transmissão dosaber constituído na tradição e nas grandes verdades acumuladas pela humanidade e umaconcepção de ensino como impressão de imagens propiciadas ora pela palavra do professor orapela observação sensorial.

Pedagogia liberal renovada progressista

Acentua, igualmente, o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. Mas aeducação é um processo interno, ela parte das necessidades e interesses individuais necessáriospara a adaptação ao meio. A escola renovada propõe um ensino que valorize a auto-educação (oaluno como sujeito do conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela atividade, um ensinocentrado no aluno e no grupo. Esta tendência apresenta-se, também, como renovada progressista oupragmatismo, principalmente na forma difundida pelos pioneiros da educação nova, entre eles se

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destaca Anísio Teixeira, Montessori, Decroly e Piaget.

Pedagogia liberal renovada não diretiva

Orientada por objetivos de auto-realização (desenvolvimento pessoal) e para as relaçõesinterpessoais, na formulação de Carl Rogers.

A pedagogia liberal renovada não diretiva propõe uma educação centrada no aluno, visando formarsua personalidade por meio da vivência de experiências significativas que lhe permitamdesenvolver características inerentes à sua natureza. O professor é um especialista emrelacionamento pessoal e autêntico.

Pedagogia liberal tecnicista

A pedagogia liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparaçãode recursos humanos. À educação escolar compete organizar o processo de aquisição dehabilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos seintegrem na máquina do sistema social global. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduoscompetentes para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas,objetivas e rápidas.

Pedagogia progressista

O termo progressista, emprestado por Snyders, é usado para designar as tendências que, partindode uma análise crítica das realidades sociais, sustentam as finalidades sociopolíticas da educação,implicitamente. Há de ser um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticassociais.

As tendências de cunho progressista interessadas em propostas pedagógicas voltadas para osinteresses da maioria da população foram adquirindo a importância a partir dos anos 80. Sãotambém denominadas teorias críticas da educação.

Tendência progressista libertadora

Conhecida como pedagogia de Paulo Freire, não tem uma proposta explícita de didática. Aatividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos, poderia-se falar de ensinocentrado na realidade social. O trabalho escolar não se assenta nos conteúdos de ensino, mas noprocesso de participação ativa nas discussões e nas ações políticas sobre questões da realidadesocial imediata.

Pedagogia progressista libertária

A pedagogia progressista libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidadedos alunos no sentido libertário e de autogestão. A ideia básica é introduzir modificaçõesinstitucionais, com base na participação grupal, mecanismos de mudança (assembleias, conselhos,eleições, reuniões, associações etc.). Outra forma é criar grupos de pessoas com princípioseducativos auto-gestionários (grupos informais, associações etc.).

Há, portanto, um sentido político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do social eque o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo.

Pedagogia progressista crítico-social dos conteúdos

A pedagogia progressista crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora daspedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na práticasocial concreta. Entende a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí aarticulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte do aluno concreto, ouseja, inserido num contexto de relações sociais, resultando dessa articulação o saber crítico. Assim,a difusão dos conteúdos é a tarefa primordial, mas conteúdos vivos, concretos e indissociáveis dasrealidades sociais. A valorização da escola como instrumento de apropriação do saber, já que aescola pode contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la democrática.

Nesse sentido, a educação é entendida como uma atividade meiadora no seio da prática socialglobal. Dentro dessas linhas, podemos citar: Makarenko, B. Charlot, Manacorda, G. Snyders,

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Dermeval Saviani. Atribuem grande importância à didática, cujo objeto de estudo é o processo deensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. Toma o partido dos interessesmajoritários da sociedade, atribuindo à instrução e ao ensino o papel de proporcionar aos alunos odomínio dos conteúdos científicos, os métodos de estudo e habilidades, e hábitos de raciocíniocientífico, de modo a formarem a consciência crítica face às realidades sociais e capacitando-se aassumir no conjunto das lutas sociais a sua condição de agentes ativos de transformação dasociedade e de si próprios.

2.7. Concluindo

Para melhor compreender o significado da prática docente como prática educativa, Sacristán(1999) estabelece diferença entre prática e ação. A prática é institucionalizada, são as formas deeducar que ocorrem em diferentes contextos institucionalizados, configurando a cultura e atradição das instituições. Essa tradição seria o conteúdo e o método da educação. A ação refere-seaos sujeitos, seus modos de agir e pensar, seus valores, seus compromissos, suas opções, seusdesejos, seu conhecimento, seus esquemas teóricos de leitura do mundo.

Essa imbricação de sujeitos com instituições, de ação com prática, que é preciso compreender, sese pretende alterar as instituições de Ensino Superior com a contribuição das teorias.

A didática ocupa-se da busca do conhecimento necessário para a compreensão da práticapedagógica e da elaboração de formas adequadas de intervenção, de modo que o processo ensino-aprendizagem se realize de maneira que de fato viabilize a aprendizagem dos educandos. Não paracriar regras e métodos válidos para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa compreensãodas demandas que a atividade de ensinar produz com base nos saberes acumulados.

E quem sabe com eles aprender, encontrar respostas, criar novos caminhos de como proceder àeducação nos espaços escolares, campo mais freqüente do trabalho profissional dos professores.

Dessa forma, a didática oferece uma contribuição indispensável à formação de professores,sintetizando, no seu conteúdo, a contribuição de conhecimentos de outras disciplinas queconvergem para o esclarecimento dos fatores condicionantes do processo de instrução e ensino,intimamente vinculado com a educação e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimentosespecíficos necessários para o exercício das tarefas docentes.

2.8. Texto Complementar

Conceituação de didática

(LIMA, 1984) A princípio concebida como arte, foi pouco a pouco evoluindo e adquiriu matizes deciência, sobretudo quando se enriqueceu dos subsídios da Psicologia, da Sociologia e da Biologia,sem jamais perder seu caráter técnico. Por outro lado, mesmo quando devidamente alicerçada emprincípios científicos, exige do professor a arte ou habilidade especial da aplicação ao ensino dasdescobertas advindas das Ciências Humanas. Esse savoir-faire, a um tempo artístico e científico, émuito raro e a sua ausência tem sido responsável por alguns piagetismos ou rogerianismos,indevidamente maquiados.

O professor Luiz Alves de Mattos, pioneiro da didática na América do Sul, define-a como:

o conjunto sistemático de princípios, normas e procedimentos específicos que todo o professor deveconhecer e saber aplicar para orientar com segurança seus alunos na aprendizagem das matériasprogramadas, tendo em vista seus objetivos educativos.

Sua discípula, a Professora Irene Mello de Carvalho, prefere considerar a didática como “arte etécnica de orientar a aprendizagem.”

De modo geral, os conceitos mais defendidos da didática Moderna apelam para uma espécie de artee ciência de ensinar a aprender e se referem a princípios, métodos, técnicas e recursos que visam afacilitar o processo ensino-aprendizagem.

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Neste estudo, preferiu-se ampliar os conceitos vigentes de didática, anexando-lhes, comodecorrência da pretendida melhoria da aprendizagem, a própria visão do mundo e da vida. Àdidática caberia, pois, a dinamização do processo ensino-aprendizagem, mobilizando-sesimultaneamente contribuições tecnológicas, científicas e, sobretudo, pessoais. Uma ampladidática transcenderia de sua rotina diária de planejar, executar e avaliar, para abrir tambémespaços de relacionamento, de bem-estar mútuos: o professor e os alunos despiriam as suasfunções habituais e estereotipadas para investir-se como pessoas que trocam entre si novas idéias, apartir das velhas, que comungam principalmente o que são, pois se colocam sempre no que fazem.A Ampla didática foge à pobreza do “pedagogez” e tenha que enriquecê-lo com outras linguagens,que o redimensionam sem deturpá-lo.

Criatividade

O termo criatividade ainda não rendeu tudo quanto poderia e já está desgastado. A expressão comoque se esvaziou, utilizada aqui e ali, a propósito de tudo ou de nada. Em nome da criatividade sefazem tolices e alguns atos criativos são tidos como perigosos e subversivos, pois “o criativo étomado como louco pelas pessoas padronizadas e acomodadas. Sua coragem de ser diferenteprovoca a ira dos que não ousam Ser e Criar, conformando-se com o Ter e Imitar.”

A inserção da criatividade em seu contexto maior – o Imaginário – talvez pudesse restituir-lhe seusentido primeiro: a valorização do irreal, do que ainda não existe. Afinal, que seria da realidade senão fosse o sonho?

Em geral, a Criatividade, retornando Guilford, aparece ligada ao novo, ao original, ao divergente,ao flexível. Para Arthur W. Foshap, “ser criativo significa dar forma ao que é informe” . Érealmente um processo cujo produto pode ser a beleza ou um significado novo que venha integrar oque se conhece dentro do que se acaba de descobrir. Processo e produto, o ciclo da Criatividade secompleta na produção de algo novo pelo menos para quem produz.

Criatividade exige investimento pessoal, envolvimento do eu, corte em amarras impeditivas de umdesabrochar, como os hábitos arraigados, os estereótipos, o vício de olhar o mundo sempre com omesmo olhar. A pessoa criativa é capaz de ver os fenômenos de sempre com os olhos de nunca, deaventurar-se rumo ao desconhecido, com garra, porque, mesmo na incerteza, se sente segura. Nãose arrisca pelo simples arriscar-se, mas animada pelo algo mais que encontrará do outro lado e quepode completá-la de suas imitações.

Como quem cria, não cria do nada (só Deus o teria feito), a Criatividade exige um lastro anterior,pré-requisitos que justificam um insight, ou a coragem de romper com padrões conformistas;exercida sobre estes a reflexão, verifica-se que muitos não têm razão de ser e merecem, pois, umaultrapassagem. A mera adesão ao status quo pode obstruir o futuro; além disso, “a ênfase na lei eordem pode, por si mesma, contribuir para a violência e se constituir num dos fatores que tornamuma revolução mais sangrenta”.

O Criativo é aquele que critica o hoje e o ontem e equipado com o que sobrou da sua crítica,vislumbra e enfrenta o amanhã.

Neste estudo, opta-se por considerar a Criatividade como a atitude ou capacidade de assumir comousada alegria até mesmo a possibilidade de errar...

Como a didática, a Criatividade é vista aqui como elemento mediador para atingir-se a finsmaiores. A Associação da didática à Criatividade seria o alicerce primeiro da construção de umaAmpla didática, que se supõe possa [sic] aumentar também as suas possibilidades mediadoras. Ouseja, a Ampla didática se faz criativa quando se coloca além do usual, quando admite riscos,quando rompe o equilíbrio em busca de melhores resultados, porque também para ela “romper oequilíbrio é um ato pedagógico: significa impulsionar os homens para a frente.”

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