Diário Insular - Nº 253 - 10.02

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PROMOVER ANGRA LARA BRAGA, SANJOANINAS 2008 253 # 10.02.2008 WWW. DIARIOINSULAR .COM Jornal Diário | Ano LX I | Nº18977 | 0,55 e Fundado em 1946 | Terceira | Açores

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lara braga, sanjoaninas 2008

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2DI DoMingo 10.FevereIrO.2008 3DI DoMingo 10.FevereIrO.2008

noTa De aBerTUraJosé Lourenço

04 Lara Braga [entrevista]

10 Lembrar emanuel Félix [CrÓniCa]

12 Francisco Coelho e reis Leite [PersPeCtivas]

14 Maduro-Dias [veLa De estai]

16 salsa na Praia [rePOrtaGeM]

18 Luiz Fagundes Duarte [FOLHetiM]

24 Guilherme Marinho [OPiniÃO]

25 Arnaldo ourique [OPiniÃO]

26 sandra Ventura [DesPOrtO]

28 sugestões [aGenDa]

29 Cartoon [tirO&QUeDa]

20 namorar à janela [rePOrtaGeM]

Lara Braga: Promover Angraatravés das sanjoaninasTema de abertura: Entrevista com a

presidente das sanjoaninas deste ano – lara braga. no ano em que as festas deixam o bailão e se voltam para o mar, a principal aposta da comissão das fes-tas é a promoção. Em causa está não só divulgar as sanjoaninas 2008, mas aproveitar os 25 anos da classificação de angra do Heroísmo como Patrimó-nio Mundial da Humanidade para lan-çar a cidade como destino turístico. Es-te ano, as sanjoaninas são muito mais do que isso. são um trampolim para co-locar angra na rota do turismo mundial. “Consideramos que as cidades Patrimó-nio Mundial são destinos turísticos pri-vilegiados e queremos tirar partido des-se estatuto”, avança a presidente da co-missão, lara braga.reportagem: É um dos mais conceitua-dos professores de salsa a nível nacio-nal. Eduardo santos esteve na Terceira a 26 de janeiro, num workshop onde en-sinou dezanove pares a moverem-se ao ritmo quente desta dança. Vamos ver se deixou sementes.reportagem dois: na próxima quinta-feira, comemora-se o “dia dos namora-dos”. já lá vão os tempos do namoro de janela. Hoje, as janelas são outras e estão na internet. as russas são lindas; as colombianas, exuberantes; as chine-sas e outras asiáticas são tímidas e as africanas são humildes, mas parecem esculpidas pelos deuses. globalmente, são milhões de mulheres que procuram marido, namorado, amante ou simples-mente amigos. E estão em todo o la-do, à espera do seu par… na internet. até parece que voltámos ao passado, já que isto é voltar a namorar à janela, na semana em que os namorados têm o seu dia.a figura do desporto: considerada co-mo um dos maiores talentos do kickbo-xing regional, sandra Ventura, campeã nacional de light-contact, -55kg, não co-loca sequer a possibilidade de abando-nar a modalidade. a atleta terceirense sonha, inclusive, em vestir a camisola da selecção das quinas.

FoTograFia anTónio araújo

pony-ChaISe

MusEu abErTo 060

Pony-ChAise.vIaTUra De TraCção anImaL, aBerTa, para qUaTro paS-SageIroS. maDeIra, ferro e CoUro. meaDoS Do SéCULo XIX. orIgem porTUgUeSa. mah.r.1996.282

o uso do cavalo como meio de transporte e tracção pro-longou-se até à década de 30 do século XX, sendo ainda, porém, utilizado durante os anos de racionamento de com-

bustível no período da iiª guerra Mundial. a expressão pony-chaise designava uma carruagem baixa e leve (chaise), puxada por um pony (pequeno cavalo). Es-ta viatura, em particular, foi adquirida na ilha Terceira, em 1955, a Virgínio Ávila.

este meio de transporte pode ser visto na reserva visitável de Transportes de

Tracção Animal dos Séculos XvIII e XIX, no Museu de Angra do Heroísmo.

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“pôr angra na roTa Do TUrISmo”

Lara BraGa, PresiDente Das sanjOaninas 2008

no ano EM quE as sanjoaninas DEiXaM o bailão E sE VolTaM Para

o Mar, a PrinCiPal aPosTa Da CoMissão Das FEsTas É a ProMoção.

EM Causa EsTÁ não só DiVulgar as sanjoaninas 2008, Mas

aProVEiTar os 25 anos Da ClassiFiCação DE angra Do HEroísMo

CoMo PaTriMónio MunDial Da HuManiDaDE Para lançar a CiDaDE

CoMo DEsTino TurísTiCo. EsTE É o ano Da ProMoção, garanTE lara

braga. »

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6DI DoMingo 10.FevereIrO.2008 �DI DoMingo 10.FevereIrO.2008

a edição deste ano das Sanjoaninas gira em torno da clas-sificação de angra do heroísmo como património mun-dial da humanidade. o que se pretende destas Sanjoani-nas 2008?

Penso que este era um tema incontornável, tendo em conta os 25 anos da classificação de angra do Heroís-mo como Património Mundial. o que pretendemos é apostar na divulgação de angra como destino turísti-

co. a promoção de eventos como as sanjoaninas tem cada vez mais importância, porque traz mediatismo e notoriedade à cidade. queremos dar um contributo maior nessa promoção, rentabilizar em termos turísti-cos esse estatuto que a classificação da unEsCo acar-reta. Consideramos que as cidades Património Mun-dial são destinos turísticos privilegiados e queremos tirar partido desse estatuto. queremos colocar angra na rota do turismo mundial.

pretendem, portanto, utilizar as Sanjoaninas como uma ferramenta de promoção da própria cidade?Exacto. aliás, este ano procurámos trazer às festas o intercâmbio cultural com outras cidades Património Mundial. É uma aposta no turismo transversal entre cidades.

este ano fizeram uma coisa inédita: apresentaram pratica-mente todo o cartaz das Sanjoaninas numa festa transmi-tida pela Internet e com cobertura de órgãos de comunica-ção regional e nacional. Isso esteve relacionado com apos-ta na promoção?Foi a nossa principal aposta a nível de turismo na-cional. Criámos aquela festa tentando reunir a maior quantidade de informação disponível até à data para promover atempadamente as sanjoaninas. o evento teve a cobertura da comunicação social nacional, que já está a dar resultados. o jornal “24 Horas” lançou um suplemento especial dedicado a angra do Hero-ísmo e aos 25 anos da classificação como Património Mundial, em que também destaca as sanjoaninas, por exemplo. sabemos que o feedback em termos pro-mocionais é sempre a longo prazo, mas o objectivo é que as pessoas fiquem com o nome sanjoaninas. Temos o hábito de pensar que, a nível do Continen-te, todos sabem o que são as sanjoaninas, mas a ver-dade é que a maioria não sabe. Estivemos na bolsa de Turismo de lisboa, onde fizemos a apresentação das sanjoaninas e distribuímos pequenos autocolan-tes para as pessoas colocarem no casaco. Muitas des-sas pessoas nunca tinham ouvido falar destas festas. o nosso objectivo foi que as pessoas ficassem com o nome, que vissem lá o endereço de internet e sen-tissem uma pontinha de curiosidade em saber o que era aquilo… Também demos muito ênfase ao facto de angra ter sido a primeira cidade Património Mun-dial portuguesa.

o que é as pessoas podem esperar destas Sanjoaninas?as pessoas vão poder assistir a um programa mui-to variado, que abrange várias áreas, desde a etno-grafia, ao desporto, aos concertos… Temos novida-des em termos gastronómicos, com a presença de restaurantes directamente relacionados com o nosso tema, isto é, de várias cidades Património Mundial. Temos garantido um restaurante de Évora, outro da zona da galiza e outro de guimarães, que está pra-ticamente confirmado. ainda deverá haver mais um restaurante…

o modelo gastronómico que foi seguido na edição do ano passado é para manter?sim, esse é um modelo a seguir. Vamos continuar a fazer uma aposta na qualidade, em conjunto com a Câmara de Comércio de angra do Heroísmo. a ges-tão do espaço será quase idêntica à do ano passa-do.

existem novidades em relação aos locais onde a festa vai decorrer, nomeadamente a nível de concertos? Existe uma pequena grande novidade, que é a reali-zação dos espectáculos no Porto das Pipas. Toda a zo-na envolvente da marina será utilizada. Vamos man-ter o palco no Cais da alfândega, à semelhança do que aconteceu no ano passado. Vamos criar um es-paço próprio, com a designação de “Pipas do Vivo”, onde queremos criar uma ambiência própria… Pen-

EnTrEVisTa heLenA FAGunDes FoTograFia António ArAúJo EsTE ano as sanjoaninas são

MuiTo Mais Do quE isso. são uM TraMPoliM Para ColoCar angra

na roTa Do TurisMo MunDial. “ConsiDEraMos quE as CiDaDEs Pa-

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Mos Tirar ParTiDo DEssE EsTaTuTo”, aVança a PrEsiDEnTE Da CoMis-

são, lara braga.

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so que se justifica a escolha também tendo em con-ta o tema e a importância que o Porto das Pipas teve na classificação de angra pela unEsCo. grande par-te da história da cidade passa pelo mar, pela baía. o nosso objectivo é virar a cidade para o mar. isto nun-ca descurando a animação dentro da cidade. as pes-soas podem passear pela cidade e, no final da noite, irem até ao Porto das Pipas. o bailão funcionará co-mo parque de estacionamento. Este ano as pessoas têm o bailão e o parque da praça de toiros para dei-xarem os carros.

o que vai poder ser encontrado ao longo do passeio ma-rítimo?ao longo da marina vamos ter vários quiosques de de-gustação de especialidades gastronómicas. Esses pe-quenos espaços também podem servir para colocar objectos de artesanato ou para pequenas exposições. os próprios produtos regionais poderão ser promovi-dos nesses quiosques. outra coisa que estamos a ten-tar fazer é trazer um pouco de cada cidade Património Mundial, com petiscos e doçaria.

Como vai ser o “pipas ao vivo”?o palco vai ser colocado na extremidade do por-to, com o Monte brasil como pano de fundo. Para além dos concertos queremos também ter anima-ção. não pretendemos que a festa acabe ao mes-mo tempo que os concertos… Temos outra vanta-gem, que é as obras no espaço estarem concluídas. a gestão do espaço é muito mais livre em relação a anos anteriores.

quando aceitou o convite para liderar esta comissão das Sanjoaninas, tinha a ideia da quantidade de trabalho que isso podia significar… o que é mais difícil?nunca tinha feito parte de uma comissão, pelo tudo isto é um pouco uma novidade. Penso que as maio-res dificuldades são ao nível do cortejo de abertura, porque é algo que exige mesmo muita dedicação. as pessoas não imaginam o volume de trabalho que isso representa. Há sempre coisas para fazer e para com-prar… É algo que envolve muitas despesas, desde aos adereços, às decorações de rua. Tentamos reutilizar ao máximo, mas nem sempre é possível… a verdade é que o cortejo de abertura tem uma grande dimensão, é a primeira imagem das festas. Tem mesmo de resul-tar. Mas tenho numa boa equipa de trabalho, não me posso queixar. Todos estamos a dar o máximo. Pro-metemos umas boas sanjoaninas…

este cortejo vai contar também com a presença das outras cidades património mundial portuguesas?o cortejo de abertura é algo que é sempre um pouco mantido em segredo, mas posso avançar que irá con-templar a presença das cidades com quem estabele-cemos esse intercâmbio cultural.

mantém-se o concurso para letra e música da marcha ofi-cial?

sim, como no ano passado a adesão foi fraca – ape-nas dois participantes – nesta edição apostámos num prémio monetário. Tenho um amigo que diz que es-tamos numa terra de artistas. Vamos ver se isso é ver-dade.

este ano avançaram com uma rainha das festas manequim profissional e que está já há vários anos fora da Terceira. para além da beleza, pode-se dizer que um dos objectivos é também transmitir a ideia de que angra é muito mais do que está dentro dos limites da ilha?sim. quando se escolhe uma rainha é sempre impor-tante o factor beleza, que penso que, neste caso, não é questionável. Mas também quisemos transmitir es-sa ideia de universalidade. outro objectivo é fazer ver aos jovens que a fronteira da ilha não é uma barrei-ra intransponível. Por outro lado, também passei mui-to tempo fora da Terceira em formação académica e sei que nessas alturas ainda vivemos com mais paixão a nossa cidade e as nossas festas. o facto de ela não estar cá passa exactamente essa ideia: De que pode-mos sair da ilha, mas que nunca nos esquecemos as nossas raízes.

falando de raízes, o mercado da saudade é também uma aposta?ainda estamos a definir a viagem aos Estados unidos e ao Canadá, mas sabemos que é importante, por-que este é um dos principais mercados que nos visi-tam durante as sanjoaninas. o facto de irmos lá agora não vai ter impacte no número de pessoas que nos vi-sitam, porque os emigrantes já têm as suas férias ca-lendarizadas. Mas pode fazer diferença para o ano… Estamos também a trabalhar com os empresários do ramo e mantemo-nos em contacto com a directora regional das Comunidades, no sentido de ver o que se pode fazer em termos de tarifas aéreas promocio-nais.

Como encarou o convite para liderar a comissão das San-joaninas 2008?Fiquei surpresa, naturalmente. Tive de pensar, mas foi um motivo de orgulho. Penso que é um desafio muito grande, que neste momento está a superar as minhas expectativas, porque vejo que estou mesmo a conse-guir acompanhar.

Teve receio?Tive de abdicar de muito tempo da minha vida pesso-al, mas o que mais me assustou foi o facto de nunca ter participado numa comissão, ao contrário de outras pessoas, que passam pelo menos por uma das áre-as. Mas, às vezes, o facto de nunca termos feito parte de uma comissão é benéfico, porque traz mais criati-vidade.

o que é que espera ver acontecer nestas Sanjoaninas?gostava de ver as ruas cheias de gente, com alegria, com gosto. que gozem todos os momentos destes 10 dias, sempre tão curtos.

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Mantive uma longa relação de amizade e de cama-radagem poética com Emanuel Félix (1936 - 2004), poeta modelar, discreto, exigente e fraterno – meu “maitre-á-penser” que não esqueço. não sei se por ele ter vagas parecenças fisionómicas com albert Einstein, a verdade é que sempre pressen-ti em Emanuel Félix uma áurea centelha de génio... Terceirense até à medula, tratava as pessoas por “meu amigo” e nunca conheci homem mais verdadeiro e natural, dotado de uma tão grande generosidade e de uma ilimitada modéstia. Por tudo e por nada dizia:- Vocês desculpem…senhor de várias artes e múltiplos talentos, Emanuel Félix foi (é) um grande poeta. um poeta de cultura(s) – e não desses que andam por aí e que usam flores na lapela e ostentam brincos semióticos… Ele foi tam-bém intelectual, ensaísta, professor, autor de crónicas e de contos, psicopedadgogo, crítico literário e de ar-tes plásticas, desenhador, tradutor, pintor, museólo-go, conferencista, especialista em restauro de obras de arte… e tudo. (Em tempos de grandes mudan-ças sociais e outras convulsões políticas, assumiu, em 1974/75, funções de presidente da comissão adminis-trativa do município angrense).Estudou em Paris, anderlecht e lovaina e estagiou em museus e em diversos institutos de restauro científico de obras de arte, designadamente em ruão, bruxelas, liège, londres, roma e Florença.Foi esta mundividência que ajudou a universalizar a poesia de Emanuel Félix, considerado (por josé blanc de Portugal) um dos pioneiros do concretismo poéti-

co em Portugal, embora logo o abandonasse para se dedicar a uma arte mais próxima do surrealismo. Ex-perimentalismos à parte, a sua poética evoluiu depois para uma poesia depurada, de envolvente fascínio e de uma grande beleza plástica, que nos fala de frag-mentos da vida vivida e da vida sonhada – em poe-mas de uma permanente e perene modernidade. “Fi-ve o´clock tear”, “apelo de urgência”, “Pedra – poema para Henry Moore”, “Para joana” ou “as raparigas lá de casa”, por exemplo, são poemas que valem por to-da uma literatura.Emanuel Félix é poeta do amor e da amizade, da via-gem e da aventura, do mar associado à fertilidade, da ilha e do mundo e da reflexão sobre a existên-cia humana. influenciado por apollinaire, baudelaire, Mallarmé, Paul Eluard, ou por Carlos Drummond de andrade e joão Cabral de Mello neto, a sua poesia é também um vivo testemunho social.já o escrevi noutro lugar referindo-me à qualidade e à beleza formal da poesia de Emanuel Félix: neste autor, o poeta e o restaurador trabalham em perfeita sintonia e harmonia. E isto porque o poeta assume o ofício de arte-são de palavras, esculpindo-as e lapidando-as até à sua (possível) perfeição, com o mesmo amor e do mesmo modo com que o restaurador trabalha os materiais.Precisamente porque possuidora e portadora de uma vocação universalista, a poesia de Emanuel Félix par-te da ilha e projecta-se em espaços do universal, is-to é, viaja por todos os portos, sabe todas as filoso-fias, conhece todas as civilizações, acolhe todos os ar-tistas plásticos (Miró, lurçat, laurence Caleghari, arp,

emanUeL féLIX, poeTa Da TerCeIrae Do mUnDo

Henry Moore, Picasso…), compreende todas as mito-logias, convive com todos os povos, acompanha to-dos os tempos.Emanuel Félix atribuía esta capacidade de se ser uni-versal à nossa vivência insular. E lembrava-nos sempre aquela história de um terceirense em Paris e que ele contava da seguinte maneira:oriundo da Terceira, onde durante a vida inteira fora pescador, o sr. josé jacinto, já reformado, quis mudar de ares: deixou a sua ilha e fixou-se em Paris. aí se tornou pessoa respeitada, tornando-se inclusivamen-te amigo íntimo do editor bayard e, por isso mesmo, passava muitas tardes na livraria bayard.ora, um dia, encontrando-se em Paris, Emanuel foi à dita livraria e aí conheceu o seu conterrâneo josé ja-cinto. Trocaram impressões e, a páginas tantas, per-gunta o poeta com curiosidade:- o sr. josé jacinto vai desculpar-me, mas diga-me cá uma coisa: o meu amigo quando chegou aqui a Pa-

ris, já a rondar os 70 anos de idade, não sentiu dificul-dades em se adaptar a este ritmo de vida? E depois não sabendo falar francês, como é que o meu amigo conseguiu desenrascar-se com a sinalização e os no-mes das ruas? Deve-se ter perdido muitas vezes nes-sas avenidas, não?o sr. josé jacinto vira-se para Emanuel Félix e, meio “picado”, responde:- ó sr. Emanuel! Eu andei muitos anos no mar. o mar é muito maior que Paris, não tem nada escrito e eu nunca me perdi...Emanuel Félix, poeta do inefável, desafiou-nos a en-contrar as palavras “certas, insubstituíveis, insubmis-sas” e alertou para as facilidades da espuma dos dias…quatro anos após a sua morte, ocorrida no dia 14 de Fevereiro de 2004, é preciso continuar a ler Emanuel Félix – poeta açoriano de Portugal, da Europa e do Mundo.

ViCtor rui DoresCróniCa

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reis Leite

não se percebe mui-to bem por que cargas de água a assembleia da república criou es-

ta questão dos peque-nos partidos, ao aprovar uma lei impensadamen-te, para agora aceitar que

essa mesma lei, até ser alterada, por decisão da super-estrutura, simples-mente não se cumpra. É

uma coisa bizarra, sem dúvida.a proliferação de parti-dos é um sintoma das

parTIDoSpeqUenoS

P E r S P E C t i V a S

democracias pouco es-tabilizadas em que não houve tempo para que as estruturas partidárias se adaptassem às reali-dades e por isso não ad-mira que em Portugal, ao estabilizar-se a pró-pria democracia, os cida-dãos se agrupem na sua esmagadora maioria em partidos, dois, três, quan-do muito quatro, que pe-la ideologia e pelos pro-gramas satisfazem as as-pirações dos votantes le-

vando a que os outros, os tais ditos pequenos parti-dos, definhem.a questão é pois saber se esses agrupamentos de-vem unicamente morrer de morte natural, por fal-ta de quem os anime e neles vote ou se a pró-pria lei se deve encarre-gar disso.ainda que ambas as so-luções sejam aceitáveis não me parece que haja vantagens palpáveis em se insistir na “eutanásia”

desses partidos politica-mente moribundos.a tradição da democra-cia portuguesa tem sido a grande tolerância para com todas as formas de associativismo político e é por isso que a lei que pretendia varrer de cena aqueles partidos com um número considerado ínfi-mo de militantes (menos de 5 000) acabou por ser contra natura e obrigou o próprio Tribunal Constitu-cional a não a cumprir.isto, porém, não impede que se medite um pouco sobre a função dos pe-quenos partidos e a sua utilidade ou dispensabili-dade.não conseguindo eles adesões de militantes, não conseguindo reu-nir em disputas eleitorais percentagens de votos significativas e não con-seguindo sequer, em al-guns casos, concorrer às eleições, a pergunta que fica é por que razão não mudam de estratégia e não se transformam em associações cívicas de re-flexão política onde o seu papel e o seu contributo para a democracia pode-rá ser bem mais meritó-rio.Por outro lado, este pen-dor para aniquilar os pe-quenos partidos, por uma razão de não interferência

no direito de associação política e de propaganda ideológica não se coadu-na com a norma constitu-cional que impede a for-mação de partidos regio-nais. não se percebe que deva haver tantas caute-las em relação a ideolo-gias com tão pouca audi-ência nacional, por um la-do e por outro se proíba na própria Constituição a existência de partidos re-gionais.o caso açoriano é exem-plar.o PDa para existir legal-mente tem de se masca-rar de partido nacional, que nunca foi e para so-breviver tem tido a preo-cupação de não se mos-trar claramente como um partido regional, que no fundo é. bem melhor fa-ria em se transformar em associação cívica regiona-lista e lutar por causas tão nobres, como, por exem-plo, acabar com o pre-ceito constitucional quer proíbe partidos regionais. isto porque já se viu que como partido legal, com um programa pouco de-finido, não motiva prati-camente ninguém e cada vez que concorrer a uma eleição perde credibilida-de.o mesmo se dirá, eviden-temente, dos outros pe-quenos partidos.

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FrAnCisCo [email protected]

VEla DE EsTai

Esta história de se pagar impostos tem muito que se lhe diga!sem dúvida que são lógicos e aceitáveis. Há dois tipos: os directos, quando a gente entrega par-te do que recebe, e os indirectos, que paga sem perce-ber como, através de um acrescento no preço das coi-sas, nem sempre pequeno.o fundamental para esta conversa é que são impostos, ou seja: são mesmo para pagar!a razão - muito badalada mas que não deixa de ser ver-dadeira por isso - é a de que certas coisas necessárias devem ser feitas com dinheiro de todos, porque os be-nefícios são para todos ou, pelo menos, para uma boa parcela.outra razão – que nem precisava ser dita aqui porque se vê logo – é que o pouco dinheiro de muitos, todo junto, dá uma batelada dele e assim se podem fazer obras e coisas que, doutro modo, não haveria quê nem como.E – assim – a gente paga e, mesmo que bufe, paga!ora, o interesse deste escrito não é protestar contra os impostos. É, sim, tentar rever em grupo uma ideia velha e tola que temos acerca da “fonte” dos dinheiros.Fazendo umas pequenas contas, Portugal teve, desde D. afonso Henriques (1140), 680 anos de monarquia ab-soluta a que, acrescentando os 48 anos de Ditadura e de Estado novo do século XX, dá a bonita soma de 728 anos em que eleger e ser eleito não existiu ou não foi bem o que a democracia moderna recomenda…Por outro lado, entre a monarquia liberal de oitocen-tos (aquela que começou a delinear-se nos açores, co-mo sabemos) e os pedacinhos de república democráti-ca que aconteceram entretanto, temos a pequena soma de 149 anos.num País com 867 anos de vida!se a gente tiver presente que, mesmo esses bocadinhos de uma dita democracia parlamentar, foram atravessa-dos por revoluções, contra-revoluções e confusões, há que convir que temos pouca, muito pouca experiência de democracia representativa ao nível do Estado, mui-to embora a tradição municipalista portuguesa aponte noutra direcção quando se trata do governo das cida-des! Mesmo assim…Porquê falar disto?Porque parece que ainda achamos todos que a fonte do dinheiro é o Estado, o governo, o Presidente do gover-no ou o Primeiro-ministro, como se fossem reis, vivêsse-

mos em monarquia e o dinheiro fosse dele ou deles!se não é o “Estado daqui”, regional ou nacional, é o “Es-tado de bruxelas e da união Europeia” ou seja, a gente nem quer ser lembrada do modo como “a massa” apa-rece para ser gasta! o que a gente gosta muito de saber é onde fica o chafariz dela e como é que corre!só que o dinheiro era nosso!ou melhor: É nosso!E continua a sê-lo enquanto é decidido o que fazer de-le na assembleia, quando o governo anuncia qualquer coisa, quando, do seu resultado, ficam obras mal feitas ou coisas menos boas.E isso quer dizer que, se a gente quiser aguentar-se no balanço duma união Europeia cada vez mais competiti-va, tem de deixar de agradecer o dinheiro público como se nos fosse dado, porque ele não é dado, é apenas ad-ministrado por outros em nosso nome!a diferença está em a gente pensar que apenas empres-tou o dinheiro ao Estado, para ele fazer boas obras, ou pensar – infelizmente costuma ser assim, bastante – que o dinheiro do Estado veio não se sabe donde!É que ele faz falta no nosso dia a dia!E faz falta em obras e apoios com visão!E faz falta na procura de uma organização social capaz de viver com independência!quando alguém passa numa estrada e vê asfalto mal feito; assiste a um porto que se esboroa, tem preços e custos de coisas de bradar aos céus, sabe de barcos que demoram, se resigna por comunicações que não fun-cionam como deviam, assiste à construção de coisas em sítios de pasmar e depois vai agradecer, de chapéu na mão, o subsidiozinho, dá vontade de pensar até que ponto somos comodistas.a diferença entre uma monarquia absoluta e uma de-mocracia representativa está em ver, saber e ensinar que o poder reside na população, no eleitor, em nós todos, no respeito evidente pelos eleitos, mas só isso!Essas coisas aprendem-se, ensinam-se e treinam-se, desde pequeno.as diferentes propostas partidárias seriam recebidas – e feitas - com muito mais à vontade se as aulas de Educa-ção Cívica existissem como deviam!a educação que falta não é apenas a da matemática, da física, das línguas, da história ou da filosofia e artes. Falta a preparação substantiva dos cidadãos para a participação na vida pública. isso, sim, seria merecedor de apoio público.

apoIoS pÚBLICoS

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É uM Dos Mais ConCEiTuaDos

ProFEssorEs DE salsa a níVEl na-

Cional. EDuarDo sanTos EsTEVE

na TErCEira, nuM worksHoP onDE

Ensinou 19 ParEs a MoVErEM-sE ao

riTMo quEnTE DEsTa Dança.

ao rITmo Da SaLSa

Eduardo santos tinha 28 anos quando se apai-xonou pela salsa. aconteceu há perto de 10 anos, na antiga discoteca salsa latina lisboa. Entrou com os amigos para beber uns copos e passou a noite a olhar os pares que se moviam na pista a um ritmo rápido, quente, sensual. Trocavam de pares, dança-vam em roda, batiam palmas. “Todos se estavam a divertir. uns em pares, outros em roda, pareciam um rancho folclórico. aquilo era como se fosse um tra-dicional baile nosso, mas com uma música bem ale-gre. associei que estava na salsa latina, por isso de-via tratar-se de salsa. Estavam lá os professores, com quem falei. Pouco tempo depois, estava a frequen-tar aulas de salsa. após um ano, fui convidado para dar aulas”.Encontramos Eduardo santos, mais conhecido por Edu, numa das salas do riviera Café, na Praia da Vitó-ria. senta-se numa das mesas, de costas voltadas pa-ra o grande salão onde, um dia antes, 19 pares par-ticiparam num workshop onde aprenderam a mover-se ao ritmo da salsa. Pede um café, porque na noite anterior a festa se prolongou até tarde. abre um sorri-so quando lhe dizem que o convite para dar aulas de salsa aconteceu cedo. não é habitual passar-se à ca-tegoria de professor apenas um ano após se come-çar a dançar. “sim, é verdade, mas tenho de admitir que houve semanas em que ia dançar todos os dias. Foi um vício, um bichinho… Para além disso, a salsa é uma dança que necessita de muita prática até que possamos dizer que a dominamos. as músicas mais ricas serão sempre as mais rápidas… e as mais difí-ceis. Entrei como professor ao fim de um ano, mas ti-nha feito nesse período de tempo o que a maioria faz em três, quatro”.Hoje, Eduardo ensina pessoas de várias idades a aprender a dança latina. E nunca perdeu o entu-siasmo inicial. “É uma dança extremamente alegre, quente, que pode ser bastante sensual. Pode-se fa-zer o que se quiser. não está condicionada por na-da, a não ser por um ritmo. não há limites. se vis-sem a salsa nos anos 60 e a de agora, compreen-diam a completa evolução que aconteceu. Hoje, dan-ça-se salsa em qualquer lugar do mundo. na China, na austrália, na Europa, nos países africanos. Há sal-sa em todo o lado”.a salsa pode estar em todo o lado, mas começou nas ruas do bairro latino, em nova iorque. Foi no El barrio que a dança, fruto da mistura de várias influ-ências, desde a europeia à africana, adquiriu forma. nasceu a salsa como género. “a salsa surge com a vaga de emigração, nos anos 60, de cubanos e por-to-riquenhos para os Estados unidos da américa, sobretudo para nova iorque, para uma zona que se chamava bairro latino. É evidente que, quando as pessoas saem dos seus países, vão em busca de uma vida melhor. Contudo isso nem sempre é fá-cil. Esse bairro torna-se um ghetto, onde prolifera tudo o que não é desejável na sociedade. a tal vi-da que se esperava melhor não acontece. algumas das músicas que surgem na altura seriam uma for-

ma de os emigrantes expressarem a revolta e o ra-cismo de que eram alvo. a salsa é uma dança social, que nasceu na rua”, explica Eduardo, pausadamen-te e com gosto. afinal está a falar de uma das coi-sas que mais gosta.Cedo a força desta nova dança saltou as fronteiras do bairro onde viviam cubanos e porto-riquenhos. Esta-va aceso o interesse das companhias discográficas. a “Fania records Company” deu o nome ao ritmo que se invadia as ruas de nova iorque: salsa, que significa molho, picante, sabor.

Quer dançar?Foi um pouco desse sabor que os 19 pares que apren-deram os passos básicos da salsa na Praia da Vitória levaram para casa. Eduardo já deu workshops seme-lhantes em vários sítios do país, mas confessou-se sur-preendido com a participação. “a expectativa quando se sai dos grandes centros urbanos é que a aceitação não seja grande. Disseram-me que as pessoas que se inscreveram são ligadas a ambientes festivos e que, para além disso, aqui na ilha tudo é motivo para haver festa. Por outro lado, também é verdade que, quando se está nas grandes cidades, não se dá valor ao leque de escolha que se tem. as pessoas andam apressadas na sua rotina e acabam por passar ao lado de tantas coisas que poderiam aproveitar”.Eduardo não leva propriamente uma vida relaxada. Concilia as aulas que dá na EDsaE com a actividade de gestão de empresas. “Cheguei a pensar em ingres-sar no mundo da salsa na vertente de espectáculo, mas exigia um compromisso a cem por cento. ado-ro ver espectáculo, mas não de fazê-lo. gosto mesmo é de dar aulas, do contacto com as pessoas. Por ve-zes um aluno sai-se com um movimento diferente e que pede desculpa porque pensa que se enganou. Di-go-lhe logo que não, que acabou foi de me dar uma ideia. aprecio muito essa liberdade”.Talvez seja essa liberdade que leva todo o tipo de pes-soas a querer aprender salsa. “aparecem-me pesso-as de todos os géneros nas aulas. quando comecei eram, na maioria, mulheres. Hoje posso dizer que co-meço aulas com mais homens que mulheres. quan-do ficam mesmo ‘agarrados’ os homens esforçam-se muito mais do que elas, o que se compreende por-que, para além de terem de aprender os passos, tem de ser eles a guiar a parceira. Mas chego a ter famí-lias inteiras nas minhas aulas. Tenho pai, mãe, filhos e, depois, por afinidade, tenho os padrinhos, que, por sua vez, trazem o seu próprio filho. E vêm pessoas de todas as idades, dos 16 aos 60 e tal. Mesmo mais ve-lhos mexem-se bem”.quanto às vantagens de aprender salsa, Eduardo san-tos não hesita em responder. lembra-se do dia em que entrou na salsa latina, só para beber um copo. “Podia dizer que é um bom treino, que queima mui-tas calorias. É verdade. Mantenho a minha forma físi-ca apenas a dançar. Mas o mais importante é o diver-timento… aquele calor, alegria e sensualidade. É isso que verdadeiramente vale a pena”.

EDuarDo sanTos

rEPorTagEM heLenA FAGunDes

FoTograFia António ArAúJo

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18DI DoMingo 10.FevereIrO.2008 19DI DoMingo 10.FevereIrO.2008

Luiz FAGunDes DuArte

Em matéria de cultura, Portugal gosta muito de ves-tir as roupagens da mulher virtuosa: esposa de um homem só. Falamos de poesia medieval? – pois bem, diz-se “D. Dinis, o rei Trovador”, e ficamos conversa-dos. quem é que nos pôs a todos em palco? – pois foi gil Vicente, o “Fundador do Teatro Português”. Pen-samos em poesia do renascimento? – está certo, ve-nha daí o nosso Camões, “o Príncipe dos Poetas”, e toca a andar. queremos um prosador à maneira? – ah, ah, ei-lo Padre antónio Vieira, a quem Pessoa cha-mou “imperador da língua Portuguesa”, e ala que se faz tarde. queremos um romancista? – pois já se sa-be, o Eça de queiroz lá bate aos pontos o Camilo Cas-telo branco, apesar de ser este o homem que, como lhe disse um dia o Eça, “mais palavras sabe do dicio-nário”. E um poeta da modernidade, que nos faz sen-tir bem com a civilização? – pois que outro senão Pes-soa, o poeta que valia por meia dúzia deles, e dos me-lhores? ah, e se não quisermos esquecer que também somos nobelizados – que se tire o chapéu a josé sa-ramago, o homem da ibéria depois de ter sido o pro-feta da jangada de pedra que é Portugal. Mas, tal como todas as mulheres virtuosas, Portugal, sendo esposa de um homem só, não hesita em es-conder debaixo da cama uns bons pares de outros que, nos momentos de maior solidão, lá lhe terão ani-mado as noites de afrontamentos e desassossegos: D. Dinis, sim senhor, mas por que não joão Zorro ou Pai soares de Taveirós? gil Vicente, boa!, mas já ago-ra, ainda que muitos anos depois, antónio josé da sil-va. Camões, vamos a isso, mas também houve sá de Miranda ou andrade Caminha. Vieira, ui!, mas que ve-nha bernardes, ou Dom Francisco Manuel. Eça e Ca-milo, vou nessa, mas e garrett ou antero? Pessoa, es-tá certo, mas que fazer a Cesário ou a nobre? E, por falar em nobelizáveis como saramago, onde metere-mos nós Vergílio Ferreira ou Cardoso Pires?Portugal, como mulher de um homem só (de cada

vez, é claro), tem no entanto o armário a abarrotar de sapatos de defunto: se aos maridos oficiais ergueu es-tátuas e mausoléus, não foi assim tão ingrata que não guardasse um minuto que fosse de silêncio em me-mória dos outros que lhe acalentaram as noites de in-sónia: e os armários da nossa história cultural estão a abarrotar de sapatos de ilustres esquecidos, ou me-nos badalados, que uma simples revisão da história oficial não deixaria de trazer para a primeira linha do nosso património: Martim Codax, joão roiz de Cas-telo branco, bernardim, Mendes Pinto, Chiado, Cruz e silva, gonzaga, bocage, Herculano, Fialho, roberto de Mesquita, Pessanha, sá-Carneiro, Florbela, antónio Pedro, irene lisboa, Maria lamas, sena, Torga, nemé-sio, ruy Cinatti ou Carlos de oliveira… apesar de Portugal ser o país do mundo civilizado que tem mais universidades por quilómetro quadrado, e mais doutorados em literatura portuguesa por habi-tante, será também o país do mesmo mundo que me-nos estuda, e portanto menos conhece e ama, aque-les que lhe traçaram as fronteiras identitárias: muito pouco sabemos de qualquer um destes ilustres no-mes que acabo de citar, nada sabemos de centenas de outros, e uma boa percentagem desse pouco ou nada limitar-se-á às placas toponímicas com que al-gum autarca mais esclarecido lhes foi preservando a memória do nome. É por isso que agora, quando se completam os qua-trocentos anos do nascimento do Padre antónio Viei-ra, o homem que será, ao lado de Camões ou de Fer-nando Pessoa, uma das poucas figuras realmente grandes da cultura e da história portuguesas de todos os tempos, a gente olha à nossa volta e verifica, com incredulidade, que nunca ninguém estudou a sério a vida e a obra deste homem.Pelo que vemos que, nesta matéria, Portugal é, mais do que uma mulher de um homem só, uma viúva negra. Mata-os.

qUem maToUanTónIo vIeIra?

FolHETiM 359

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20DI DoMingo 10.FevereIrO.2008 21DI DoMingo 10.FevereIrO.2008

as russas são linDas;

as ColoMbianas, EXubEranTEs;

as CHinEsas E ouTras asiÁTiCas são

TíMiDas E as aFriCanas são HuMilDEs,

Mas ParECEM EsCulPiDas PElos

DEusEs. globalMEnTE, são MilHõEs

DE MulHErEs quE ProCuraM MariDo,

naMoraDo, aManTE ou siMPlEsMEnTE

aMigos. E EsTão EM ToDo o laDo,

à EsPEra Do sEu Par… na inTErnET.

aTÉ ParECE quE VolTÁMos ao PassaDo,

jÁ quE isTo É VolTar a naMorar à

janEla, na sEMana EM quE os na-

MoraDos TêM o sEu Dia.

InTerneT, meU amor

Foram precisos quase seis anos de pesquisa na inter-net, à média de uma hora diária, nas mais diversas ho-ras do dia e da noite, para conhecer milhares de mu-lheres, em todo o mundo, disponíveis, na esmagadora maioria, para mudarem de país, de emprego, de ho-mem, de vida.Mas valeu a pena! Foram milhares de janelas que se abriram e de onde se debruçaram outras tantas mu-lheres, das mais diversas culturas e à procura de mais ou mesmo a mesma coisa: um homem que lhes mu-dasse o rumo à vida, fosse de que maneira fosse. Existem muitos sítios na internet, todos gratuitos, pelo

menos de início, para os chamados “membros stan-dard” e onde os homens podem procurar por novas amizades, namoradas, futuras esposas, ou simples amizades virtuais. Em alguns casos, também o sexo virtual, que é muito mais vulgar do que possa pen-sar-se. Todos os serviços disponíveis para os homens, também o estão, nas mesmas dimensões, para as mulheres e, pelos vistos, a clientela é de uma vastidão imensa, já que são milhões os membros.Para que ninguém incorra em enganos ou despesas indesejáveis, fique a saber que os membros “stan-dard” não pagam, mas quando se eleva a categoria para “gold” ou platinium”, gasta-se algum dinheiro,

não que seja demasiado, mas é só para que se saiba.

aMOreS VIrTuaISTudo começa pela inscrição num ou em muitos des-ses sítios, coisa simples, com os dados mais importan-tes, de nível pessoal, como o nome, idade, estado ci-vil, preferências no que se refere ao tipo de mulheres, sobretudo no que se refere à idade e origem pretendi-das. nada que ocupe muito tempo, no entanto o me-lhor mesmo é não mentir muito. Mais cedo ou mais tarde, alguém, seguramente uma mulher mais arguta, vai descobrir alguma tramóia e passará a palavra à ve-locidade da luz, literalmente, e você ficará”queimado”, virtualmente, é claro.Esses sítios da internet funcionam de duas formas: por um lado, os participantes são como que coloca-dos numa montra, onde, no caso dos homens, as mu-lheres que procuram homens seja para o que for, po-derão escolher, quer pela fotografia, quer pela forma como foi escrito o perfil de cada indivíduo. se elas gostarem de você, então clicam num coração e você fica a saber quem são as suas admiradoras.não é para me gabar, mas em pouco menos de seis anos, foi de 5.683 (há um mês que deixei de contar), o número de mulheres, de todas as idades, que ten-taram a comunicação num total de cinco desses sí-tios: África, américa latina, brasil, rússia e Ásia, Esta-dos unidos da américa e do México. só faltaram ex-tra-terrestres. ou não? recebemos, mais de 10 milha-res de mensagens de interesse, mas apenas as tais 5.683, mantiveram o interesse após o primeiro con-tacto, quer por dificuldade na língua, sobretudo as russas e as asiáticas. E nem vale a pena tentar ir para esses locais, no caso de não se falar e escrever com um mínimo de fluên-cia, línguas como o inglês, o espanhol, francês. É que os membros tentam um primeiro contacto para nos dirigirem para os seus endereços de correio electró-nico, onde o Yahoo e a Hotmail são os principais. De-pois, só quem tem unhas (saiba línguas), é que pode-rá continuar a tocar viola, já que, ainda dentro desses sítios, existe um sistema de tradução, apesar de mui-to rudimentar.

PrOnTO-a-deSPIrEsta espécie de namoro através da internet é algo de fascinante, sobretudo para quem tem tempo, mas tal como tudo na vida, também contém os seus riscos, porque em muitas circunstâncias é dominado por pro-fissionais que sabem sacar dinheiro às pessoas. será a parte menos romântica, mas a realidade nua (literal-mente), e crua, é que há muitas mulheres treinadas para cuidarem da saúde aos incautos.É da américa do sul e de África que vêm os maiores riscos. uma colombiana linda, exuberante, e na casa dos vin-te anos de idade, estará pronta a despir-se para si, du-rante alguns segundos, na sua webcam, podendo ain-da ir mais longe, mas depois daquela visão deslum-brante que dura um ápice, você vai ser convidado a

rEPorTagEM henrique DéDALo

FoTograFia António ArAúJo

naMorar à janEla

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estranhamente belas, falam de forma suave, e cui-dam-se com as palavras. Por isso dizem, quase sem excepção, que procuram “amigos de todo o mundo, ou quem lhes queira ensinar inglês”, no entanto e à medida que a conversa prossegue, descobre-se facil-mente que procuram também, o tal “príncipe encan-tado em cavalo branco” que as leve ao paraíso da vi-da.são as mais bem cheirosas porque nas fotografias se rodeiam de flores e mostram um sorriso de meninas, independentemente da idade.sejam da China, do japão (mais sofisticadas), ou da indonésia e Filipinas, se não fosse a diferença da cor da pele, seriam idênticas na forma de se apresenta-rem. uma espécie de “copy/paste”, nos seus perfis.

aLGunS CuIdadOSquem frequenta esses sítios da internet, não deve, por princípio, tal como na vida real, enganar as pesso-as que por ali andam, porque afinal nunca se saberá bem quem está a sério ou apenas a ocupar o tempo

livre, ou ainda com alguma malvadez.o segredo do sucesso será sempre nunca cometer er-ros, pelo menos ao ponto de ofender pessoas ou ma-goá-las. afinal há um enorme movimento de senti-mentos entre a Terra e os satélites artificiais, que não é de bom-tom, quebrar, para além de que as sanções desses sítios, podem ir dos meros avisos até à expul-são. Fazer amizade, procurar namorada, fugir das al-drabonas e passar um bom pedaço de tempo, sobre-tudo nas noites de maior solidão, com jeitinho, e sem prejudicar ninguém, parece ser a postura ideal. Tal co-mo na vida real, porque é disso mesmo que se tra-ta. um e-mail, é cada vez mais uma carta manuscri-ta e mesmo na internet, cada pessoa já deixa o regis-to daquilo que realmente é como homem ou como mulher.E depois, não vá o Diabo tecê-las e você acabe mes-mo por se apaixonar. o que menos falta são exemplos disso, muitos dos quais acabam mesmo a dar o nó. is-to está muito mudado, e bata ter olhos para ver e ou-vidos para escutar.

mandar-lhe uma determinada quantia em dinheiro, por transferência bancária, se quiser continuar a as-sistir ao espectáculo, sempre na ideia de que ela es-tá apaixonada por si. É evidente que estará, mas pelo seu dinheiro. no caso de não enviar o dinheiro, mas já tiver dado o seu endereço de e-mail, então cuide-se porque começará a receber mensagens de um presu-mível irmão ou pai, a dizer que você anda a “abusar” da irmã. nesses casos, é importante dominar a língua que elas falam e antes de bloquear essas “freguesas”, ameaçá-las com a Polícia Federal da área delas. nunca falha, e elas como que desaparecem e garantidamen-te que não voltam a incomodá-lo.

aMIZade e aLGO MaISa maioria das mulheres que usam esses sítios da in-ternet, fazem-no de boa fé e procuram realmente o seu príncipe encantado, a sua cara-metade e em al-guns casos, raros, também, pessoas amigas ou os cha-mados correspondentes (penpal friend).Mas encontra-se gente muito boa à procura dos mais diversos tipos de carinho.Há mulheres jovens, muito jovens, maduras e muito maduras. Pode mesmo dizer-se que esses sítios dão para avós, mães e netas e, mais curioso ainda, todas procuram o mesmo.as alemãs são difíceis ou quase impossíveis de con-tactar. na generalidade têm mais de 40 anos de idade e, vá-se lá saber porquê, procuram homens africanos, Felizmente que o Hitler já morreu.as russas têm olhos paralisantes e procuram um ho-mem sério. são todas gerentes, professoras, artistas, e aqui ou ali, aparece uma médica. são soleiras com filhos, divorciadas, ou viúvas. as idades das mais ac-tivas nos contactos variam entre os 23 e os 60 anos de idade.são pessoas claramente cultas, sabem o que querem e não são fáceis de levar, mas depois que alguém lhes caia no goto, são capazes de manter conversas mui-to interessantes. Como principal cartão de identidade, dizem-se inteligentes. Todas querem mudar de país. são aquelas que, em todo o mundo, parecem ser as mais honestas. Mas nunca se deve esquecer que vi-vem num mundo virtual, e tudo é possível, até so-nhar.as brasileiras não têm idade. Dos 18 aos 65 anos, pro-curam em geral um marido e querem mudar de país. são, como já as conhecemos, umas mais bonitas do que outras, fogosas mas cuidadosas e afirmam-se to-das, sem excepção, como sendo honestas. são estu-dantes, independentemente da idade, donas de casa, estilistas ou têm outras profissões nas artes.as colombianas, dominicanas, peruanas, são as mais exuberantes. lindas são e fazem sempre questão de o dizer e, sempre que podem, de o mostrar também. Mesmo as mais jovens são divorciadas, têm pelo me-nos um filho e dizem procurar “um hombre para toda la vida”. Com excepção das vigaristas que já falámos, parecem pessoas interessantes. sem dúvida são as mais atraentes, sob o ponto de vista físico. Destaque

para uma maior humildade, bastante notória, para as mulheres do Peru, de Cuba, e Costa rica. as argenti-nas ainda são calmas e as chilenas muito elitistas. são estudantes, cabeleireiras ou amas de casa.as mulheres destes países são demasiado belas, pelo que poderão claramente ser também consideradas as mais perigosas, porque usam demasiado a sua apa-rência física para conquistar os homens. será o seu ponto fraco… ou o nosso?uma ressalva para as mulheres mexicanas. Têm tudo o que as restantes latinas mostram, no entanto inspi-ram mais respeito e mostram-se mais tímidas.as poucas portuguesas que ainda andam por esses sí-tios, são quase sempre mulheres na casa dos quaren-ta, e procuram homem para casar e querem mudar de país. são divorciadas e têm filhos. quanto à sua bele-za, bom, vemo-las todos os dias.

ÁFrICa nOSSaas mulheres de África constituem um mundo à parte. Desde os 18 anos da praxe para a inscrição nesses sí-tios da internet, mesmo que não os tenham, e em al-guns casos assim parece, o que querem é um mari-do, seja como for e de onde for. sente-se o desespe-ro que vivem para saírem do país. a sua pele cor de ébano, desde o benim ao burkina Faso, de angola ao quénia, dos Camarões ao Chade, dos campos de re-fugiados até qualquer recanto do continente onde as mulheres se dividem entre a cor do café à do cacau e ou são muito pequenas ou autênticos postes; muito pesadas ou pequeninas como sardinhas. Há de tudo e para todos os gostos. Todas se afirmam humildes, mesmo pobres e procuram quem “cuide delas”, já que só em casos raros alegam estarem empregadas. Pro-curam uma espécie de “patrocinador”.Deu para conhecer mulheres israelitas, do Dubai, Equador, Marrocos, Eua, africa do sul, ghana, e não sei se terá ficado de fora algum país onde exista in-ternet.

dO OuTrO MundOabrir estas janelas todos os dias e ver mulheres cada dia mais bonitas, se bem que existe sempre o risco de as fotos não terem nada a ver com as pessoas, é fasci-nante. É como percorrer uma exposição onde os ele-mentos são o ser humano no seu melhor, ou no seu pior, e constatar que a solidão e o desejo andam de mãos dadas em todos os cantos do mundo.Muita loucura misturada com outro tanto de esperan-ça, desde os mais recônditos campos de refugiados, até pequenos palacetes, existem milhões de mulhe-res que apenas procuram mais alguém com quem fa-lar ou “algo mais”, como está sempre explícito ou im-plícito. uma espécie de amor sem fronteiras. uma coi-sa do outro mundo que se os nossos avós sonhassem que haveria de existir, das duas uma: ou enlouquece-riam ou teriam esperado para ver.

O BICO dOS OLHOSno Continente asiático, as mulheres são quase todas

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24DI DoMingo 10.FevereIrO.2008 25DI DoMingo 10.FevereIrO.2008

Efeito borboleta é um termo que se refere às con-dições iniciais dentro da teoria do caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward lo-renz. segundo a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.um bater de asas de borboleta na saúde financeira dos Eua provocou um ciclone na Europa. um número significativo de bolsas regista já variações acumuladas negativas desde o início do ano e a crise estende-se um pouco a todos os mercados e latitudes.boris Tadic, reeleito no Domingo passado, Presidente da sérvia, favorece a assinatura de um acordo de ade-são com a união Europeia, como um prelúdio para reconhecer a independência do kosovo. os meios de comunicação ocidentais dizem que se nikolic tivesse sido eleito seria, um regresso ao isolamento e à insta-bilidade sentidos nos balcãs, e que afectou toda a Eu-ropa, na década dos anos 1990.john McCain, pelos republicanos, e Hillary Clinton, pe-los democratas, deram na super terça-feira um passo importante para obterem a nomeação dos respectivos partidos à sucessão de george bush. MacCain defen-de a manutenção de forças militares americanas no iraque e Clinton a sua retirada.no dia seguinte a sondagens em França anunciarem uma queda de 13% na popularidade de nicolas sa-rkosy, por causa de demasiada exposição da vida pri-vada no seu relacionamento com Carla bruni, o presi-dente francês assume medidas de proteccionismo pa-ra a indústria francesa não escondendo que está dis-posto a “meter dinheiro do Estado” para recuperar o domínio industrial da França.no fim-de-semana, os combates no Chade, fizeram mil feridos e provocaram o êxodo de entre 15 mil a 30 mil pessoas para os Camarões e cerca de três mil pes-soas para a nigéria, segundo o Comité internacional da Cruz Vermelha. o primeiro-ministro do Chade acu-sou a líbia de ter «apoiado» e «armado» os rebeldes chadianos vindos do sudão. o governo líbio tem, ac-

tualmente, 123 mil milhões de euros disponíveis para investir e exortou os empresários portugueses a apro-veitarem essa oportunidade.Vinte pessoas morreram, a maioria etíopes, e 80 fica-ram feridas na sequência de duas explosões ocorridas terça-feira à noite no nordeste da somália. Tropas etí-opes estão actualmente a reforçar um governo apoia-do pelas nações unidas no sul da somália que expul-sou a união dos Tribunais islâmicos, grupo radical que havia tomado o controle de boa parte do sul do país.o presidente venezuelano, Hugo Chavez, propôs aos restantes membros da oPEP duplicar o preço do bar-ril de petróleo aos países ricos e vendê-lo a 5 dólares aos países pobres.o Presidente russo considerou “interessante” a pro-posta iraniana de uma “oPEP do gás”, o que causa inquietação na união Europeia. a rússia é o primei-ro produtor de gás natural, com 650 mil milhões de metros cúbicos anuais, e o principal exportador pa-ra a uE.a globalização é um dos maiores mitos actuais e os “globalistas” têm vendido a ideia de que o Planeta é plano. Contudo, recentes estudos, confirmam que es-sa visão tem sido largamente sobrestimada. segun-do Pankaj ghemawat, professor da Harvard business school, e um dos gurus de estratégia a nível mundial, há uma tendência para sobrestimar os níveis de glo-balização na ordem do triplo do peso real. impressio-nante, não? Concretizando, a maioria dos níveis de globalização num conjunto vasto de indicadores eco-nómicos é inferior a 10% com excepção do peso das exportações das mercadorias e serviços no Pib mun-dial que ronda os 27%, mas que apenas subiu nos úl-timos 8 anos, cerca de 8%.Por isso fala de um processo de semiglobalização e defende no seu livro, redifining global strategy, que os gestores/políticos têm de perceber e dominar as diferenças reais e não decidir de acordo com a sua concepção do mundo idealizado. o mundo está ca-da vez mais perigoso e sem espaço para sonhado-res…

efeITo BorBoLeTa

GuiLherMe MArinhohttp://chaverde.blogspot.com/

oPinião

a ordem internacional é assegurada por organismos monetários e instituições financeiras, enredados nu-ma teia de pressões que têm origem nos grandes gru-pos cuja força advém dos oligators (especialistas ju-rídicos do lobbyng político); a ordem da união Euro-peia é assegurada pela jurisdição comunitária a qual vai paulatinamente escrevendo o direito na ausência de instituições legislativas; na ordem interna, o Tribu-nal Constitucional determina se uma pré-norma pode ser decretada pelo parlamento como norma, e pode também arredar uma norma legal ou todo um diplo-ma; na ordem espontânea a jurisdição aumentou ex-ponencialmente e os tribunais “não têm mão a me-dir”.ou seja, não há um mero “governo democrático”, mas antes um “governo jurisdicional” que se não é o tra-ço é pelo menos um dos mais significativos da ordem hodierna mundial. um governo das gentes assim é mais uma “oligarquia de vingativos” exactamente por-que a democracia é pautada pela jurisdição em vez das políticas e da lei; ou melhor, o juiz encontra-se no centro que é o lugar do parlamento e do governo. um Estado baseado ou assente na jurisdição é um Es-tado assente sobre relações litigiosas que são, é cer-to, parte importante de uma sociedade, mas não de-ve sê-lo como elemento estruturante e criador da “lei” e do “direito”.a “oligarquia dos vingativos” sendo um problema à escala mundial, tem pertinência nos meios pequenos, sobretudo naqueles onde a subsidiariedade permite órgãos com poderes de Estado. Mas sobretudo tem uma outra faceta além da vertente jurisdicional, políti-ca e institucional. a jurisdição não actua: se num caso porque a justiça é inacessível pelo custo, noutro por-que as instituições fiscalizadores não dão o impulso processual. aquele fenómeno característico da união

Europeia onde, por não haver um escrutínio ligado ao cidadão, se tomam decisões significativas sem aquele controlo habitual no seio dum Estado, tem um fron-tispício idêntico nos poderes políticos infra-estaduais: aqui não é o escrutínio, mas é, por um lado, um medo que tem origem em algo idêntico à mão invisível da economia que não se vê mas que existe e, por outro lado, a inteligência acrítica que caracteriza as socieda-des menos visíveis.De um lado, da possibilidade de fazer-se mais, ape-nas se cria metade ou menos; e aqui, pois, o valor desse poder político é exíguo. De outro, do que se cria, mais de metade ou é inconstitucional ou ilegal, e a outra metade caracteriza-se pela parca importância. De outro patamar ainda, as instituições fiscalizadoras têm uma actuação ambígua: se por um lado, uns ac-tuam pela mera batuta pedagógica, onde tudo é “per-doado”, por outra banda outros acomodam-se na ca-deira do poder político e jurídico na convicção de que se faz o melhor possível, e por outros ainda porque a instituição é mero quadrado na orgânica. nessa ema-ranhada ordem todos funcionam bem porque de ne-nhum lado se perspectiva descontentamento, todos estão à superfície contentes porque cada um à sua maneira recebe o que quer e em nome de uma apti-dão concertadamente competente – mas que na re-alidade não é mais do que uma pobre e falsa, sobre-tudo falsa, democracia. quando o povo acorda alte-ra com o voto a estrutura nominal, esquece-se que se perderam anos de qualidade de vida democrática com consequências sempre a perder na qualidade (e que a tecnologia vai escondendo) e que afinal a inca-pacidade e a incompetência continuam na mesma.

* a expressão é de Pier Paolo Portinaro.

“oLIgarqUIa De vIngaTIvoS”*

ArnALDo ouriquesala Da [email protected]

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a voz tolhida pela emoção. Com 1.65 metros de altura, a agora júnior começou nestas andanças dos desportos de combate através do aerokick somente com o objectivo de conhecer os meandros da modalidade.“atendendo a que na altura não praticava qualquer ac-tividade desportiva, juntamente com a minha mãe e irmãos, decidi experimentar. no primeiro ano, apenas fiz aerokick, ao passo que no segundo abracei o kick-boxing e consegui chegar aos nacionais”, sublinha.refira-se, a propósito, que na família Ventura apenas o ‘patriarca’ não está ligado ao kick, “porque não po-

de” – apressa-se a dizer a nossa entrevistada, em de-fesa do progenitor. a música, os movimentos característicos do aerokick e a interacção cativaram por completo a nova menina bonita do kickboxing das ilhas de bruma. “adoro tudo aquilo que envolve o kick – os jogos inerentes à mo-dalidade, os golpes, a defesa, o ataque e a velocida-de de movimentos e raciocínio. o kickboxing provoca uma adrenalina enorme”, nota.neste contexto, sandra Ventura nem admite a possi-bilidade de abandonar o kick. “Dificilmente, consigo passar sem os treinos. Como tal, não equaciono dei-xar a modalidade. Por outro lado, ao contrário do que algumas pessoas julgam, é mais provável acontecer uma lesão a praticar futebol ou basquetebol do que

kickboxing. Todos os atletas usam protecções e um combate não implica magoar o adversário”. “Procuramos, sim, jogar com o antagonista, tentando encontrar falhas na sua defesa e, claro, marcar pon-tos. Depois, o kickboxing alberga diversas vertentes e só abraça a competição quem o desejar”, acrescenta com uma convicção assinalável. os sonhos desportivos da jovem estudante do 11º ano não têm limites pré-estabelecidos. “Espero che-gar o mais longe possível. representar a selecção na-cional é um dos meus propósitos, mas para isso é pre-ciso melhorar todos os dias, pois o kick é um desporto

sobremaneira exigente”. o facto de sandra ser uma estrela em ascensão no mundo do kick é motivo de orgulho para os colegas e amigos, não faltando, como é evidente, as brinca-deiras da praxe. “no princípio, ficaram surpreendidos com a minha opção. Hoje em dia, brincam imenso com o assunto e vejo que a maioria está entusiasma-da com a modalidade”. a paixão de sandra Ventura pelo kick é perceptível em cada palavra. “o kickboxing reúne imensas carac-terísticas apelativas para a juventude, desde a mú-sica às coreografias, passando pelo dinamismo dos movimentos. Creio que ninguém perde nada em ex-perimentar, até porque o ambiente é fantástico”, ter-mina.

(a)venTUra no KICK sanDra VEnTura

rEPorTagEM MAteus roChA

FoTograFia António ArAúJo

os belos e expressivos olhos azuis de sandra Ven-tura ganham um brilho especial sempre que o tema de conversa é o seu desporto de eleição – o kickbo-xing. aos 16 anos de idade, a talentosa atleta do ki-ckboxing Clube de angra do Heroísmo cumpre a ter-ceira época na modalidade – a segunda na vertente competitiva. as qualidades de sandra Ventura ficaram bem patentes o ano passado com a conquista do título de campeã nacional de light-contact, -55kg, escalão de juvenis. “Confesso que o título nacional foi uma verdadeira surpresa, uma vez que não tinha a noção exacta da-quilo que iria encontrar. no entanto, ter estado à altu-ra das responsabilidades, defrontando rivais mais ex-perientes, é algo que jamais esquecerei”, afirma com

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TIro&qUeDarui MessiAs

DIÁrIO INSULAr - Ficha Técnica: Propriedade: Sociedade Terceirense de Publicidade, Lda., nº. Pessoa Colectiva: 512002746 nº. registo título 101105 Jornal diário de manhã Composição

e Impressão: Oficinas gráficas da Sociedade Terceirense de Publicidade, Lda. Sede: Administração e redacção - Avenida Infante D. Henrique, n.º 1, 9701-098 Angra do Heroísmo Terceira

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Costa, Jorge Cipriano e Carlos do Carmo. Artes e Letras: Álamo Oliveira (coordenador) Colaboradores: Francisco dos reis Maduro Dias, ramiro Carrola, Claudia Cardoso, Luís rafael do

Carmo, Luiz Fagundes Duarte, Gustavo Moura, Francisco Coelho, José Guilherme reis Leite, Ferreira Moreno, António vallacorba, Diniz Borges, Bento Barcelos, Jorge Moreira, Duarte Frei-

tas, Guilherme Marinho, Daniel de Sá, Soares de Barcelos, Cristóvão de Aguiar, vitor Toste, Luis Filipe Miranda, Paulo Melo e Fábio vieira Fotografia: António Araújo, rodrigo Bento, João

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Em abril de 1992, Chris-topher McCandless aban-dona um futuro promis-sor, a civilização, a sua própria identidade, doa os 25 mil dólares que constam do seu saldo bancário para fins de ca-ridades e parte em bus-ca de uma experiência genuína que transcenda o materialismo do quo-tidiano.rendido ao apelo ances-tral e romântico da vas-tidão selvagem do lon-gínquo oeste americano, este jovem enigmático inventa para si mesmo uma nova vida e, sem o saber, dá início a uma aventura que mais tarde viria a encher as páginas dos jornais.E é com o justo sentido da dimensão trágica des-te caso verídico que jon krakauer o recupera para criar uma narrativa ilumi-nada, que nos cativa pela sua capacidade única de trazer para a página im-pressa a força indomável de um espírito rebelde e lírico e de nos seduzir com o perfume inebrian-te de um mistério maior que envolve toda a his-tória.

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“Corpo intermitente” é o título de uma mostra de

arte contemporânea pa-tente no Museu de an-gra, de 11 de Fevereiro a 21 de abril.“Percursos” é o título de uma exposição de pin-tura, da autoria de Flori-

mundo soares, patente na Carmina galeria, até 2 de Março.uma exposição de Cari-caturas e Cartoons da au-toria de Carlos laranjeira está patente no Centro

Cultural de angra, até 23 de Fevereiro.uma exposição de con-chas de augusto Veiga está patente no Museu da graciosa, de 12 a 28 de Fevereiro.“Memórias do Carna-val da graciosa” é o títu-lo de uma exposição pa-tente no Museu da gra-ciosa, até hoje, 10 de Fe-vereiro.

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“a bússola Dourada” é o filme em exibição no Centro Cultural de an-gra, até quinta-feira, dia 14, pelas 21h00. Hoje, domingo, o filme é apre-sentado às 18h00 e às 21h00.o Centro Cultural de an-gra estreia sexta-feira, dia 15, pelas 21h00, “o Te-souro: livro dos segre-dos”.o auditório do ramo grande apresenta hoje, domingo, pelas 15h00, “uma História de Encan-tar”. a sessão é gratui-ta para menores de 12 anos.o auditório do ramo grande exibe sexta e sá-bado, dias 15 e 16, pelas 21h00, “a bússola Dou-rada”.

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um recital de piano e canto, com Fábio Men-des e Vera silva, tem lugar sábado, dia 16, a partir das 21h00, no Centro Cultural da ilha graciosa.

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