Edição nº 253

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20 de novembro de 2012 ano XXii n.º 253 QUinZenal GratUito diretora ana dUarte • editor-eXeCUtiva ana morais a cabra Jornal Universitário de Coimbra AAC elege novos representantes para o próximo ano 1030 estudantes da Universidade de Coimbra (UC) já receberam uma resposta positiva por parte dos Serviços de Ação Social da UC no que toca ao pedido de bolsas de estudo e já viram as suas pres- tações serem pagas. A maior cele- ridade no processo é explicada, principalmente com as facilidades da plataforma online DGES, como explica a administradora Regina Bento. bolSaS Metade dos alunos já receberam resultado Se nunca sentiram já ouviram falar. Dores de cabeça, boca seca ou até náuseas: sintomas que qualquer um dispensa após uma noite de embria- guez. No entanto, há receitas, mitos que se julgam eficazes na atenuação da ressaca como o café, as gorduras e até a ideia de que “uma bebedeira se cura com outra”. Outro facto é que quando se está alcoolizado a facili- dade com que se faz novos “amigos” é enorme. A que se deve tudo isto? reSSaca As verdades do que todos dispensam A Turismo de Coimbra deverá fe- char portas até fevereiro de 2013. A extinção vem em resultado da pro- mulgação da Lei 50/2012, de 31 de agosto, que prevê a extinção de em- presas locais que não atinjam 50 por cento de receitas próprias. A empresa municipal, até aqui res- ponsável pela promoção do turismo na cidade, irá dar lugar a uma divi- são da Câmara Municipal de Coim- bra. turiSMo De coiMbra Empresa Municipal extinta em Fevereiro O setor dos caminhos-de-ferro está a sofrer cortes desde 2010. Os trabalhadores ferroviários têm or- ganizado sistematicamente gre- ves. Essas ações de luta tem prejudicado os utilizadores e as empresas que viram as suas recei- tas diminuir com perdas de mi- lhões de euros. O Governo não tem mostrado abertura para en- trar em diálogo com os diversos sindicatos do setor. greveS Setor Ferroviário reivindicativo Numa altura de mudança no seio da Associação Académica de Coimbra, os pelouros de Desporto Universitá- rio e de Desporto avaliam os resulta- dos das várias secções desportivas na época transata e traçam novas metas. Com a maioria dos objetivos propostos cumpridos, a época tran- sata apresenta-se favorável. DeSPorto Época com resultados favoráveis “romance Histórico” por Samuel Úria Micro-conto Mais informação em acabra. net @ Pág. 21 Pág. 7 Pág. 15 Pág. 14 Pág. 16 Pág. 11 Pág. 2 a 6 Pág. 12 e 13 Os estudantes do d’ARQ pedem mais massa crítica

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Edição nº 253 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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20 de novembro de 2012 • ano XXii • n.º 253 • QUinZenal GratUitodiretora ana dUarte • editor-eXeCUtiva ana morais

acabraJornal Universitário de Coimbra

AAC elege novos representantes para o próximo ano

1030 estudantes da Universidadede Coimbra (UC) já receberamuma resposta positiva por partedos Serviços de Ação Social da UCno que toca ao pedido de bolsasde estudo e já viram as suas pres-tações serem pagas. A maior cele-ridade no processo é explicada,principalmente com as facilidadesda plataforma online DGES, comoexplica a administradora ReginaBento.

bolSaS

Metade dos alunos járeceberam resultado

Se nunca sentiram já ouviram falar.Dores de cabeça, boca seca ou aténáuseas: sintomas que qualquer umdispensa após uma noite de embria-guez. No entanto, há receitas, mitosque se julgam eficazes na atenuaçãoda ressaca como o café, as gorduras eaté a ideia de que “uma bebedeira secura com outra”. Outro facto é quequando se está alcoolizado a facili-dade com que se faz novos “amigos” éenorme. A que se deve tudo isto?

reSSaca

As verdades do quetodos dispensam

A Turismo de Coimbra deverá fe-char portas até fevereiro de 2013. Aextinção vem em resultado da pro-mulgação da Lei 50/2012, de 31 deagosto, que prevê a extinção de em-presas locais que não atinjam 50por cento de receitas próprias. Aempresa municipal, até aqui res-ponsável pela promoção do turismona cidade, irá dar lugar a uma divi-são da Câmara Municipal de Coim-bra.

turiSMo De coiMbra

Empresa Municipalextinta em Fevereiro

O setor dos caminhos-de-ferroestá a sofrer cortes desde 2010. Ostrabalhadores ferroviários têm or-ganizado sistematicamente gre-ves. Essas ações de luta temprejudicado os utilizadores e asempresas que viram as suas recei-tas diminuir com perdas de mi-lhões de euros. O Governo nãotem mostrado abertura para en-trar em diálogo com os diversossindicatos do setor.

greveS

Setor Ferroviário reivindicativo

Numa altura de mudança no seio daAssociação Académica de Coimbra,os pelouros de Desporto Universitá-rio e de Desporto avaliam os resulta-dos das várias secções desportivasna época transata e traçam novasmetas. Com a maioria dos objetivospropostos cumpridos, a época tran-sata apresenta-se favorável.

DeSPorto

Época com resultados favoráveis

“romance Histórico” porSamuel Úria

Micro-conto

Mais informação em

acabra.net@

Pág. 21

Pág. 7 Pág. 15 Pág. 14 Pág. 16

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Pág. 2 a 6

Pág. 12 e 13

Os estudantes dod’ARQ pedem maismassa crítica

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As três listas candidatas esperampelo veredito da próxima semana

aqui a uma semana, nosdias 26 e 27 de novem-bro, decidir-se-á mais

uma vez o futuro da academia. Oscorpos gerentes para a AssociaçãoAcadémica de Coimbra contamneste ano com três listas. A lista A“Alternativa És Tu!”, liderada porAlma Rivera, a lista L “liga-temais”, lista de recandidatura doatual presidente da Direção-geralda AAC, Ricardo Morgado e a listaT “Transforma a AAC”, com umanova cara na academia, CelinaVilas Boas - são as candidatas à li-derança pelos desígnios da acade-mia que comemora 125 anos.

No que toca ao Conselho Fiscal(CF), as listas concorrentes não sealteram. Diogo Xavier é o repre-sentante pela lista A, para quecada vez mais este órgão indepen-dente “se possa abrir cada vezmais à opinião de todo o estudanteque queira intervir no processo degestão”, garante o cabeça da listaA. Já o candidato pela lista T, IgorConstantino, apela à máxima jámuitas vezes aludida de maistransparência. Para isso, a sualista conta com um projeto que in-clui a vontade de ter um orça-mento participativo por todos ossócios efetivos da AAC: “a associa-

ção é de toda a gente e toda a gentetem o direito de em cada momentosaber quanto dinheiro se deixa emcada lado”.

“Não devemos trabalhar sozi-nhos nesse aspeto e eles chutampara o Fiscal a responsabilidade”,lamenta o candidato pela lista L,Jorge Resende. A sua passagempelo CF durante o presente man-dato fez com que se apercebessede uma série circunscrita de pro-blemas – os quais ninguém le-vanta: há incumprimentos porparte das secções da casa que severificaram. “Acho que o grandeproblema é o facto de algumas sec-ções se encontrarem em incum-primento no que toca a entrega decontas e não se poder fazer muitoem relação a isso”, relata Jorge Re-sende. Daí deriva o seu desejo empermanecer no CF, porque achaque há uma série de tomadas deconhecimento no terreno que querter oportunidade de analisar commais cuidado: “há situações emque o nosso papel é fazer umacoisa e nós questionamo-nos seisso realmente é o melhor. Sobre abondade do que está disposto emsituações concretas é difícil àsvezes tomar decisões, como algunsartigos que se encontram nos es-

tatutos”, remata.

Conotação com a listapara a DG/AACOs primeiros dois concorrentessão resolutos pois sentem que osentimento de pertença a umalista que também concorre à mesada Assembleia Magna e à presi-dência da DG/AAC é o que os ca-racteriza. Só Jorge Resende nãopensa assim. Aceitou concorrerem nome da lista de recandidaturaporque o atual presidente daDG/AAC, Ricardo Morgado, nãocolocou nenhuma limitaçãoquanto à escolha de membros paraa sua candidatura. Jorge Resendeafirma que a sua “isenção nuncaserá posta em causa” e comparti-lha algumas coisas que se passa-ram com a DG/AAC que quer veralteradas no próximo mandato sefor eleito - “para falar com o advo-gado da AAC, para obter um pare-cer tenho que ter a autorização dopresidente ou do vice-presidente.Não será uma limitação ao CF?”,deixa no ar o candidato.

Diogo Xavier, da lista A, acreditaque a sua lista subirá neste ano asua representação e garante quevai “trabalhar lá dentro para quecada vez mais haja uma aproxima-

ção da direção-geral dos estudan-tes. Nem que para isso tenha quese achar necessário requerer aconvocação de uma AssembleiaMagna como está nos estatutos doConselho Fiscal e da AAC”.

‘Plafond’ não cobre o universo de eleitoresA administração da DG/AAC limi-tou o ‘plafond’ em menos 200euros. A presidente da ComissãoEleitoral 2012 (CE), Ana Jorge,afirma que tal se deve à “época decrise” e porque não se pode “exigirmuito mais”. O problema de que jáuma lista se queixou é de que esteorçamento poderá não servir paraque os 22 mil estudantes da Uni-versidade de Coimbra possam teracesso nem que seja a um ‘flyer’com as bandeiras de cada projeto.Ana Jorge acredita que, se a verbafor devidamente canalizada, e sese “souber coordenar tudo, o maisimportante acaba por ser comuni-car com as pessoas, chegar às pes-soas, conversar com elas,explicar-lhes as coisas”, adianta apresidente da CE.

Ana Jorge crê que não haveráproblemas de maior durante acampanha e que principalmentenos locais de voto os seus delega-

dos serão “da minha maior con-fiança, isentos e que não estão li-gados a lado algum”.

Campanha sem gás e com quatro dias utéisO período de campanha eleitoralfica marcado por dois fatores. Oprimeiro prende-se com o facto deainda não se sentir nenhuma mo-vimentação por parte das listas noque toca à divulgação. E, paramais, esta quinta-feira, 22, estámarcada uma grande ação de pro-testo promovida pela DG/AAC.Nesse dia não será permitida cam-panha, o que faz com que as listasjá só tenham mais quatro diasúteis para se darem a conhecer.

“Temos de nos unir. O facto desó haver quatro dias durante a se-mana, não faz diferença. Se o fimsemana for bem aproveitado. Achoque é uma questão de direcionar ainformação”, assume Ana Jorge.Terça-feira, dia 27, saber-se-áquem ficou com o destino da AAC.

Stephanie Sayuri paixão

Está tudo a postos para mais uma eleição para os corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra

(AAC). Mesmo estando já em período de campanha eleitoral, nota-se um resfriar no envolvimento face ao

ano passado. Quatro dias de fim-de-semana em campanha podem interferir no processo. Por Liliana Cunha

D

Noite eleitoral em

cabra net@

Entrevistas na íntegra em

cabra net@

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“As contas desta casa são um mistério”LISTA A • “A ALTERNATIVA ÉS TU” • ALmA RIVERA

Não é a primeira vez queAlma Rivera, de 21 anos,concorre aos corpos geren-tes para a Direção-geral daAssociação Académica deCoimbra (DG/AAC). A estu-dante de Direito é aliada aomovimento A Alternativa ÉsTu!. A candidata, naturaldos Açores, tem como pontoassente que não há derro-tismos, só opções. “Se o bu-raco do BPN não existisse, oEstado poderia pagar 26anos de propinas para todaa rede de Ensino Superior(ES)”. Alma acredita que alista A vale porque é umprojeto sólido desde há qua-tro anos

Quais são as principais bandei-ras apresentadas pela Lista A?Neste mandato pretendemos focar-nos em vários eixos fundamentais.A questão do financiamento é umadas bandeiras que nunca esquecere-mos. O segundo ponto refere-se àquestão da Ação Social Escolar(ASE), porque os cortes no financia-mento têm-se refletido na ASE: em2010 tínhamos 91 mil bolsas atri-buídas e em 2012 são 48 mil.Quanto à transparência, sabemosque as contas desta casa são um mis-tério, de problemas que se passam anível de tesouraria e ninguém sabemuito bem o que se passa. Quere-mos valorizar também as secçõesculturais e desportivas e dos orga-nismos autónomos. Seria um ótimomodo de trazer os estudantes à aca-demia e de reativar o associativismojovem. Defendemos a nossa acade-mia, e isso significa garantir que oensino seja público, democrático, dequalidade e gratuito para toda agente e para isso precisamos de maisfinanciamento para que toda a genteefetivamente acesso ao Ensino Su-perior.

Qual vai ser o financiamentoda campanha?Vai ser complicado, porque na úl-tima reunião da Comissão Eleitoralfoi imposta pela DG/AAC que as lis-tas contassem apenas com 300euros de ‘plafond’, 200 para a DG e100 para o Conselho Fiscal. Fizemoscontas, e para que cada estudante daUniversidade de Coimbra (UC) ti-vesse acesso a apenas um docu-mento, com ambos os órgãos, nós

precisaríamos de 660 euros. Para aslistas que dependem exclusivamentedeste ‘plafond’ e das contribuiçõesde cada um dos seus elementos, é di-fícil. Isto vai lesar gravemente o pro-cesso democrático, manifestámos onosso repúdio, mas fazemos questãode frisar que foi uma imposição daDG/AAC, não foi sujeito a votação.

Tiveram a proposta de uma co-ligação com a lista T?Nunca tivemos à nossa frente umprojeto que o coletivo pudesse ana-lisar. Tivemos apenas uma propostade juntar elementos, de juntar nú-meros e nós não funcionamos assim,não achamos que juntar por juntarseja o caminho. Nós somos pela uni-dade na ação, não pela unidade em

eleições. A unidade constrói-se, nãose fala só em novembro. O que nospreocupa é ter um projeto sólido osuficiente para fazer essa efetivamudança.

Relativamente ao RJIES e aoprocesso de Bolonha, faz sen-tido ainda lutar contra estessistemas?Enquanto o processo de Bolonhaafetar os estudantes e a qualidade dasua formação, por outro lado, afetar

a democraticidade de acesso aos se-gundos e terceiros ciclos, faz todo osentido acabar com Bolonha. Asconsequências não se alteraram, secalhar passou mais tempo e maisanos em que os dirigentes ficaramcalados. Achamos que o Regime Ju-rídico das Instituições do Ensino Su-perior (RJIES) vai na linha de umapolítica de privatização. De passa-gem ao regime fundacional, de pas-sagem progressiva à privatizaçãodas universidades, da elitização doensino à transformação do EnsinoSuperior num negócio. Abre portasa ingerência de grupos financeirosque não têm nada que deliberaracerca das propinas e de outras de-cisões da máxima importância nauniversidade.

O que é que a lista A pensaquanto às receitas provenien-tes das propinas?Eu acho que não há inevitabilidades,há escolhas. São opções políticas. Os80 milhões que serviram ao BPNdavam para 26 anos sem propinasno ES. O que está por detrás do sub-financiamento do ES e da retraçãodo estado nas suas funções, são astais opções políticas. Precisamos deescolhas que sirvam as pessoas, por-que o Estado somos todos.

Face às propinas qual é a posi-ção da lista A?Nós somos contra as propinas.Achamos e até é uma das palavrasde ordem que é “as propinas são ummuro e sem elas não há futuro”. Aspropinas fazem a triagem entreaqueles que efetivamente olhampara aquele valor e podem pagá-lo,outros que são vítimas de execuçãofiscal e por outro lado aqueles quesimplesmente nem podem aceder epagar valores tao elevados de fre-quência e de propinas ao ES. E comuma ação social escolar reduzidís-sima como aquela que temos émuito mais fácil nem sequer chegarao ES. Podemos comprovar pelo nú-mero de candidaturas deste ano àsuniversidades que decresceu de uma

forma abrupta. Nós defendemos aabolição da propina.

Qual é a tua posição face ao re-gime de prescrições?Somos contra este regime de pres-crições. Porque os estudantes, maisuma vez, não estão nas mesmas con-dições. Vamos ver o caso do estu-dante que não reuniu as condiçõesnecessárias e acaba por prescrever.Prescreve e depois fica sem se podermatricular um ano e isto acaba por

atirar as pessoas para fora do ES,porque uma vez conseguindo entrarno mercado de trabalho ou mesmoos outros que não encontram nadaque fazer, depois acabam por não teras condições económicas perdendotempo, perdendo dinheiro. E aque-les que podem, dão-se ao luxo depagar 300 euros por cadeira. Istopõe-nos outra vez perante aquela si-tuação em que isto na teoria pareceigual, mas materialmente não. Émais uma vez diferenciação das pes-soas.

O que falhou na AssembleiaMagna convocada pela Alter-nativa?Por um lado, pensamos que no es-sencial a competência é da Mesa daAssembleia Magna (AM), este tra-balho não foi feito ao cúmulo denem na página da AAC estar divul-gada a data. Compreendemos quehaja pessoas que pensam não tersido a melhor altura, mas tínhamosde debater o mais rápido possível, eno panorama atual o trabalho de di-vulgação que deveria ter sido feito,podia ter garantido que mais estu-dantes estivessem presentes. Estáestatutariamente consagrado que amarcação e a divulgação das AMestá ao cargo da mesa. Também es-távamos restringidos a um períodode marcação, pelo que também nãoé culpa nossa.

Que balanço fazes do mandatoministro Nuno Crato?A atuação do ministro é a do Go-verno. A educação não é uma des-pesa, não é um negócio, é umdireito. Só podemos condenar umGoverno que encara a educação ecastiga os estudantes e o conheci-mento. Numa altura em que o de-bate sobre o nosso país, sobre asociedade portuguesa está maisaceso, não seria um ponto essencialum investimento no futuro. Nãopassaria por aí o nosso levantar dochão?

O que seria um bom resultadopara a lista A?Um bom resultado traduz-se du-rante a campanha. Sentimos queaquilo que defendemos reflete asinspirações dos estudantes. Issopara nós já é um bom resultado.Claro que o resultado ideal seria ga-nhar estas eleições. Não só para aAlternativa, mas também para o ESe não só para os estudantes deCoimbra mas também para o pano-rama nacional.

Liliana Cunha

Ana Morais

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“Poder ser lista única dá mais segurança”LISTA L • “LIgA-TE mAIS” • RIcARdo moRgAdo

Ricardo Morgado é denovo candidato à Direção-geral da Associação Aca-démica de Coimbra(DG/AAC). A Lista L(“Liga-te mais”) quer umsegundo mandato maisagressivo e reconhece queno ano anterior grandeparte dos seus 900 colabo-radores no organigramaeram “rostos para enchero papel”. O ainda presi-dente, natural de Gouveia,tem 23 anos, estuda Enge-nharia Biomédica e é fi-liado na Juventude SocialDemocrática. O fim do seumandato fica marcadopela expetativa de um pro-testo a larga escala e pelosrebates para com os movi-mentos estudantis da ci-dade

O que te levou a recandida-tar?As razões que me levaram a recan-didatar são, sobretudo, duas. Umade caracter político, outra de ca-rácter interno. A nível político,este ano começámos a trabalharde uma forma diferente a nossaação política, em conjunto com osnúcleos, e fomos tendo uma pos-tura fortemente crítica e reivindi-cativa ao longo de uma série deações, nomeadamente locais. Averdade é que a AAC, continua ater um problema - há um fossomuito grande entre nós e os estu-dantes. Está em causa uma formamuito leviana por parte do go-verno. A juntar a isso o desem-prego jovem, a emigração, oestado da juventude e o estado dopaís vai fazer com que a AAC tenhaque ter uma postura muito maisagressiva.

Podes concretizar essa talpostura agressiva?Para o ano é preciso bater o pécom mais força do que batemoseste ano. Seja em Coimbra, sejaem Lisboa, é preciso fazer isso, aomesmo tempo que é preciso traba-lhar e estarmos mais bem prepa-rados a nível de política educativa.

Quando falamos em proble-mas financeiros, falamos dasustentabilidade da AAC numprazo de quantos anos, se

nada for feito?O valor da dívida vai ser apresen-tado no relatório de contas, mas éum número muito elevado. Senada for feito, e as condições dopaís continuarem a viabilidade,talvez dois, três anos. As coisastêm mesmo de ser alteradas e nãoé só o combate à divida, nomeada-mente na despesa. Há muita quepode ser cortada e que podemosrenegociar.

Pensas que consegues resol-ver o problema financeiro daAAC no próximo ano, casosejas reeleito?Num ano é possível pôr as coisas afuncionar bem. Se o problema sevai resolver na perfeição e a aca-

démica vai ficar a dever zero a nin-guém e a dar mais dinheiro àssecções? Acho que isso não vai serpossível, mas deixar as bases cor-retas e de rigor é o meu principalobjetivo. Quando as coisas nãoestão bem não as devemos escon-der, mas devemos ser otimistas eencarar o problema de frente.

Sentes que este ano vais terde investir o mesmo que in-vestiste o ano passado, nesse

diálogo de proximidade comos estudantes?Vamos investir menos em di-nheiro e material de campanha, aconjuntura é outra e não nego. Adiferença é que sou presidente daDG/AAC e isso é uma coisa que aspessoas avaliam para o bem e parao mal. Não vai ser intenso como oano passado, o facto de eu poderser lista única, ou listas fortescomo normalmente acontece, e sersó uma, dá mais segurança. Se euvou investir tanto como nos outrosanos em que houve listas únicas,não.

Querem alterar a estrutura?Vamos agregá-la e criar áreas. Te-remos uma área política, onde ha-

verá uma pessoa maisvocacionada para as subáreas.Serve para fomentar o trabalho emequipa, porque o atual modelo, auma certa altura, não é produtivo,e ter áreas faz com que as pessoasse sintam mais motivadas e cruzarmais informação, fazer mais coisasem conjunto. Vamos ter áreasnovas de intervenção, mas não eli-minamos competências, muitopelo contrário, até criamos.

O anterior organigrama daLista L apresentava 900 cola-boradores. Efetivamente,estes estudantes colabora-ram ou foram rostos para en-cher o papel?A maior parte foi preencher opapel.

Se foi para encher o papelporque é que eles são chama-dos de colaboradores?E não apoiantes? A questão é 900pessoas disponíveis, à partida,para poderem colaborar com aequipa. Não minto ao dizer quemuitas dessas pessoas que aceita-ram estar ali por serem amigas dealguém que vai estar na lista e lhesé pedido para dar uma força extra.

Isto é tudo muito bonito mas aseleições também se têm que ga-nhar. Este ano não será o mesmosistema.

Quais vão ser as questõesprioritárias para 2013 na po-lítica educativa?Ação social, financiamento, rees-truturação da rede de Ensino Su-perior (ES). As propinas começama estar outra vez no topo do debatee é algo que devemos continuar a

questionar, talvez mais do que nosoutros anos.

Questionar o quê?Questionar a existência das propi-nas.

Mas a AAC é explícita nisso.O que questiono sobre a propina épara que é que ela existe neste mo-mento. Não estou a dizer que dehoje para amanhã, na situação emque estamos, a propina acabe. Masacho que devia ser um objetivo dopaís, um governo que não podepensar só na lógica de um ano e terna sua mira um ensino gratuito.Nem que demoremos dez anos a láchegar. Não tem de ser só umaquestão financeira, tem de ser deatitude. Agora vale tudo? Quere-mos é que o governo assuma umaestratégia, se é ou não uma priori-dade que o diga, nós estaremos cápara falar. Se Portugal tivesse umaestratégia para o ensino que nuncahouve na educação, como todossabemos, seria possível resolver aquestão das propinas, mas sobre-tudo a questão do ES. Essa é aminha maior preocupação a nívelpolítico.

Pensas que a atitude daDG/AAC na Magna foi umaatitude de respeito para comos estudantes?As Assembleias Magnas (AM) nãose podem banalizar e ser tertúlias.Dias antes tive uma reunião comos movimentos, não diziamquando é que queriam marcar aAM, e ninguém foi capaz de dizerfrontalmente- daqui a três diasvamos ter uma AM para o dia a se-guir à Festa das Latas (FL). Se ti-vessem dito, as coisas iam fazer-sede outra forma. Não me venhamcom coisas. Marcou-se para aqueledia, para ter uma mobilização quese sabia que ia ser difícil e digam oque disserem, é um dia a seguir àFL, quando havia uma AM mar-cada pra o fim do mês.

Qual vai ser o futuro do barda AAC?Há muitos cenários em cima damesa. Há um cenário em que seabre o concurso normal, o de aAAC poder ser exploradora do bar,o de a AAC poder estabelecer umcontrato com a cervejeira de pa-trocínio que também inclua o bar.Os moldes vão ser públicos mas adecisão é competência daDG/AAC.

Inês Balreira

Liliana Cunha

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“Não sou a favor de manifestações”LISTA T • “TrAnSformA A AAc” • ceLInA VILAS-boAS

Celina Vilas-Boas é, pelaprimeira vez, candidataaos corpos gerentes da As-sociação Académica deCoimbra. Rosto desconhe-cido na academia, não temqualquer experiência noassociativismo. A concor-rente da lista T - “Trans-forma a AAC” éapartidária ”de convicção”e fala mais vezes em nomepróprio do que em nomedo projeto. Estudante doterceiro ano de Psicologia,natural de Barcelos, temapenas 20 anos. Confessaque tem receio de ganharas eleições e lamenta quenão haja uma lista con-junta entre movimentos

O que motivou esta candida-

tura à Direção-geral da Asso-

ciação Académica de

Coimbra?

Não estava nada à espera de ser orosto da lista. Quando surgiu a pla-taforma “Universidade contra aAusteridade”, fui às primeiras reu-niões e surgiu a discussão se iría-mos ou não fazer uma lista para aseleições. Infelizmente, na reuniãoem que decidiram se iam ou nãofazer lista, só pude estar um boca-dinho e vim-me embora antes deisso se decidir. Fui um bocado na-quela “vou, há dois ou três pelou-ros que acho interessantes, secalhar posso ficar num pelouroqualquer”. Só que depois propuse-ram o meu nome [para presi-dente]. No início achei engraçado,“pronto, está bem, estão-se a pas-sar um bocado”. Depois, quando acoisa se começou a tornar um bo-cado mais séria, comecei a ficarnervosa com o assunto. O grupoachou que fazia sentido estar eunesta posição. Foi tudo proposto.

Quanto ao ‘slogan’ da vossa

lista, o que é que vocês que-

rem dizer com isto?

Além desse ‘slogan’, que foi criadopor causa da letra [T], acho que afrase forte da nossa candidatura é“Da palavra à ação, a Academia aosestudantes”, e o transformar passaum bocado por aí, mudar a Acade-mia neste sentido.

Quais são as principais ban-

deiras que a vossa lista de-

fende?

Transformar o associativismo etudo aquilo que tem a ver com isso.Não faz qualquer sentido fazer atossimbólicos com as 30 pessoas daDG/AAC. Sobre a divulgação dasAssembleias Magnas (AM), quere-mos pôr os autocarros da AAC noPolo II e III, que acho que é umacoisa fundamental e que não fazsentido nenhum isso não estar já afuncionar. Outra coisa que é im-portante para nós é chamar a aten-ção para o papel da mulher noassociativismo. Por isso, tambémtentamos que a lista apresente umequilíbrio nesse sentido, termos omesmo número de homens e mu-lheres em lugares de destaque. Averdade é que nunca tivemos uma

reitora. Temos oito faculdades, sótemos duas diretoras, é um dese-quilíbrio muito grande. Não fazsentido apregoarmos a Universi-dade de Coimbra (UC) como muitodemocrática, quando, na verdade,os acessos para as mulheres nãosão iguais aos dos homens. Háuma série de taxas que são cobra-das aos estudantes bolseiros quenão fazem sentido, como a questãodas propinas. Os estudantes bol-seiros, quando recebem a bolsa,

pagam as propinas e depois, pagaro alojamento e a alimentação, é odesenrasquem-se.

Mas a vice-reitoria tem mu-

lheres em cargos importan-

tes.

Se me mostrares a cara das vice-reitoras provavelmente não as voureconhecer.

Achas que houve uma tenta-

tiva de divisão para com a

lista A?

Houve um contacto direto com alista do movimento A AlternativaÉs Tu!. Está a ser gasta energia quepodia ser usada para o mesmo por-que temos ideias muito parecidas.É pena estarmos a lutar uns contra

os outros, quando não era de todoo que queríamos.

Afirmam-se contra certas di-

retrizes da DG/AAC. Acham

que não têm feito o sufi-

ciente?

Não acho que há uma rutura tãogrande assim da lista deles para alista anterior. Acho que há uma di-ferença. O presidente, RicardoMorgado, tem um discurso que euouço e, se não estivesse a par das

AM, achava espetacular. Aquilo éum discurso bonito mas na práticanão acontece. Estou à espera dodia 22. As tais opiniões divergen-tes gostavam de juntar-se a isto epoder ajudar, até porque se quei-xam sempre que têm muito traba-lho, estamos sempre a oferecerajuda e nunca ninguém quer. Nãolhes ia estragar nada, juro, não erapara isso. Acho mal que seja, maisuma vez, uma coisa decidida àporta fechada.

Sobre o processo de Bolonha

e Regime Jurídico das Insti-

tuições de Ensino Superior. O

que fariam para os consegui-

rem revogar?

É um ano. Não sei se teríamos

tempo para chegar aí, mas maisuma vez o objetivo seria sempretrazer essa discussão à mesa. Eunão tenho dúvidas de que os estu-dantes que entram este ano te-nham noção de que o processo deBolonha é uma coisa pela qual pos-sam lutar contra. A nossa lista temmuito esta ideia de criar plenáriosde discussão sobre uma série dequestões que os estudantes deixamde lado nos núcleos, nas faculda-des, enfim, onde quer que seja.

Será que as manifestações

são a única forma de com-

bate?

Não serão a única forma de mudaras coisas. Acho que é muito menosprodutivo discutir estas questõesna lista com 30 e tal pessoas doque alguma vez será discuti-lanuma AM participada. Acho que aideia que sai de uma discussãoentre estudantes é muito mais ricae consequente. Se calhar a mani-festação que propuseram em Lis-boa podia ter mais ação – eu,pessoalmente, não sou a favor demanifestações. Não temos detomar decisões sozinhos. Acho quedeve dar um trabalhão enormefazer parte da DG/AAC. Há coisasque só vamos perceber que temosde fazer quando ganharmos e de-pois teremos de jogar com o bara-lho.

Qual é o balanço que fazes do

mandato do ministro Nuno

Crato?

Sinceramente, quando surgiu onome dele tinha lido meia dúzia detextos do homem e achava quetinha a cabeça virada para o sítiocerto. Entretanto, começou a falarsobre reduzir os cursos de huma-nidades e aumentar as áreas dasmatemáticas e fiquei tipo “não per-cebo”. Já não chega ter os bancoscom voto no Senado, também es-tamos a virar os cursos para o mer-cado de trabalho? Se eu quisertirar um curso por interesse pes-soal não posso.

E quanto ao mandato do rei-

tor João Gabriel Silva, qual é

a avaliação que fazes?

Isso é chato porque até gosto dohomem. É daquelas pessoas quesabes que tem este defeito, masnão consegues não gostar dele.

O que é para ti um bom resul-

tado eleitoral?

Por um lado, tenho esperança deque os estudantes estejam maisconscientes do que a adesão às AMdiz. Por outro, acho que a lista decontinuidade também vai fazer umjogo inteligente. Vão mobilizarpessoas para o dia 22, mas diga-seque é extremamente convenienteter a expressão da força estudantiluma semana antes das eleições.Nenhuma lista pode fazer campa-nha. Não acho justo. Adorava queganhássemos porque acreditomuito no projeto mas tenhoimenso medo.

Liliana Cunha

Ana Duarte

Page 6: Edição nº 253

destaque6 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | terça-feira

Relato até à eleição do novo presidente

á sabem dizer quem éque está à frente? ACabra, a RUC e a TVdizem que nós vamos

atrás dos outros, portanto temos quetrabalhar mais”, cita em discurso di-reto, um constante interveniente nacobertura das campanhas eleitoraisrealizadas pela Televisão da Asso-ciação Académica de Coimbra(TV/AAC), Ricardo Abrantes. A ré-plica dada pelos órgãos de comuni-cação da casa era, e ainda continua aser, da mais extrema importânciapara quem está por dentro das listas.Bem como o eco que as projeçõesobtêm muito antes do resultado ofi-cial sair. A TV/AAC, em particular,só começou a acompanhar o alvo-roço das eleições para os corpos ge-rentes da AAC no ano de2008/2009, onde emitia para o cir-cuito interno e apenas se limitava àsentrevistas aos candidatos. Os meioseram insuficientes.

Pela Rádio Universidade de Coim-bra (RUC), o fervilhar é logo noanúncio à meia-noite de quem po-deria ganhar o lugar na representa-ção da maior académica do país. Adiretora de informação de há doisanos, Lígia Anjos, garante que eraimpossível “estar perto do telefoneentre um quarto para as 00h e a00h15 porque era bombardeado demensagens e chamadas dos candi-datos, amigos dos candidatos, e pri-mos dos candidatos, para saberem oresultado”.

A singularidade da cobertura dassucessivas campanhas eleitorais nãotem sofrido alterações. Todos admi-tem que é dos momentos chave paraa repercussão que os órgãos de co-municação da AAC têm para mos-trar o que valem de dentro para forae que todos se entusiasmam à voltado processo: “lembro-me dos blo-gues e grupos onde se falava mal.Possivelmente era sempre alguémde dentro. E havia tricas, contava-setudo nos comentários, era espetacu-lar. Metade era mentira”, recordaum dos editores de Ensino Superiordo Jornal Universitário de Coimbra,- A Cabra, Pedro Crisóstomo. Por lá,na edição impressa, era ponto as-sente que todos os candidatos te-riam uma entrevista sobre algunspontos essenciais dos problemas queafetam os estudantes e tambémsobre o que podiam dar de novo àacademia. “Tínhamos o plenário àquarta, e no fim juntávamo-nostodos para fazer o guião, havia per-guntas que tinham de ser feitas atodos e depois cada um preparava aentrevista por si”, recorda Pedro Cri-sóstomo, editor do ano de2007/2008. Uma das perguntasmais rebatidas era se o candidatotinha filiação partidária e “eles di-ziam sempre a verdade”, garante oeditor.

Falta uma semana para as eleiçõesCinco anos passados, nada pareceter mudado no jornal. Mas há umacerteza. Esta coisa das candidaturasé cíclica – “num ano forte de elei-ções, onde havia uma campanhabrutal de duas listas fortes, no ano aseguir era muito fraco”, reflete a res-ponsável pela cobertura da TV/AACem 2010, Rita Matos. Também

nesse ano já estavam dadas as con-dições para a noite ser emitida em‘streaming’ pelo circuito interno empleno até a contagem nos Grelhadosterminar. Catarina Rodrigues, queliderou a RUC pelo ano de2008/2009, também anui face auma campanha mais apagadaquando há notícia de uma recandi-datura do atual presidente da Dire-ção-geral da Associação Académica

de Coimbra (DG/AAC). “É sempreassim. Geralmente era um anomuito bom com cinco listas, depoissão três, depois voltam as cinco. Issoacontecia sempre”, assume Cata-rina, que já se movimenta pelos cor-redores desde 2005.

“Ah, não se vê nada. É recandida-tura”, analisa Pedro Crisóstomo. Re-montando a anos passados, aquantidade de informação era bem

mais alarve: “a cidade estava todacoberta de branco e de preto porcausa dos cartazes, e a Padre Antó-nio Vieira tinha para aí uns cem car-tazes. Depois era tudo uns por cimados outros. Mais tarde, arrancavamos cartazes uns dos outros”, recordacom entusiasmo.

O tumulto do ano passado deulugar a uma acalmia para mais umano de DG/AAC. “Desde que foi adisputa de segunda volta com oJorge Serrote e com o AlexandreLeal, o ciclo inverteu-se um bocado”,garante Rita Matos. O ciclo a que serefere marca o ano de transição parao regime de Bolonha e para umatemporada muito precoce no EnsinoSuperior: “vejo movimentos, vejoreuniões mas não vejo as campa-nhas que se viam há cinco anosatrás. Eram realmente renhidas ehavia campanhas durante os diastodos e imaginários”, atesta LígiaAnjos.

Bolonha inverte a preparação“Os estudantes estão menos tempona academia. No primeiro ano nãosabem que a AAC existe, quandoestão a conhecê-la estão a ir-se em-bora”, reconhece Rita Matos. Bolo-nha não facilitou o processo, a lutapelo poder é sempre desejada, bemcomo as reuniões e os cafés de pre-paração de cada candidato. No en-tanto, nota-se “uma impreparaçãoque não existia. É a única compara-ção que consigo fazer”, atenta a edi-tora de Ensino Superior do Jornal ACabra do ano de 2008/2009, Cláu-dia Teixeira. No início da décadaquem assumia o papel de candidatoeram pessoas que estavam no sé-timo ou oitavo ano por razões várias.

“O ano da invasão ao Senado[2004] foi extraordinário. Não vejonada minimamente parecido. E étudo isso que dá calo, que preparaas pessoas para aquilo que vão assu-mir”, assegura Cláudia Teixeira.

Entre o cacique verificado à bocada urna com raparigas com decoteem v para aludir à lista com omesmo nome, entre três diretos quepareciam vindos de locais diferentesmas não o eram porque não haviameios, e um candidato que na ver-dade queria era ser presidente doSport Lisboa e Benfica, as históriasdestes que trazem os meandros dosdetalhes de um microcosmos multi-plicam-se. Fica uma certeza: “gosto éda chegada deles aqui. Parece queestão a ocupar uma casa nova”, re-vela Pedro Crisóstomo. Cláudia, queesteve do outro lado acredita “queem princípio, os eleitos sabem o queos pode esperar, mas é sempre umchoque”. A história da cobertura me-diática repete-se todos os anos. Sub-siste saber qual o desfecho de maisuma.

STephanie Sayuri paixão

Todos os anos os órgãos de comunicação da academia fazem a cobertura das eleições de forma singular

a cobertura mediática de umas eleições tem sempre muito que falar. Histórias, análises temporais e

realidades próprias de um microcosmos como o da aaC lembram-se para que os que estão de fora tenham

uma perceção de como é acompanhar uma escolha que envolve toda a academia. Por Liliana Cunha

“J

Page 7: Edição nº 253

20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 7

enSino SUperior

testeMunHos de estudantes

Fiz a candidatura em julho, en-tretanto pediram-me mais docu-mentos em setembro. e continuoà espera. o ano passado tivebolsa entre o valor da mínima eda máxima. a bolsa é para eupagar a renda, e depois a partirdaí consigo um pouco mais paradespesas e uma pequena partepara propinas. o mais compli-cado no es são as propinas, oresto consegue-se gerir bem. es-pero que a resposta esteja parabreve, não quero estar à esperaruma série de meses. o ano pas-sado, no segundo semestrehouve atrasos e foi absurdo.Com a plataforma da dges foimuito mais fácil do que ter que irpara uma secretaria, para umafila com documentos.

daniel Madeira

estudos artístiCos

Candidatei-me em julho ou se-tembro e estou à espera aindada resposta. Mas em princípio vaiser indeferido devido ao apro-veitamento escolar: precisava deter feito 60 por cento das cadei-ras a que estava inscrita, e poruma cadeira, não consegui atin-gir o valor. Por uma cadeira, emprincípio, perdi a bolsa. Masacho que foi uma boa medidaporque os estudantes tambémtêm que perceber que estão aser ajudados e esforçar-se mini-mamente. só que é um bocadocomplicado. Por uma cadeiravou perder a bolsa e vai sermuito mais complicado, tenhoque fazer um esforço muitomaior, até já estou à procura deum ‘part-time’.

Candidatei-me no final de julho,e depois tive que esperar até aoinício de outubro. o ano pas-sado não tive bolsa por causados créditos, mas já tinha tido.Com a plataforma da dges foifácil, foi só completar o que fal-tava do ano passado, o que foimínimo. Facilitou todo o pro-cesso e tive a resposta positivaem outubro, a da bolsa mínima.a maioria dos meus colegasainda não teve resposta, aindaestão à espera. Já estamos emnovembro, vão começar as pri-meiras prestações de propinas evai começar a ser puxado. e issopode ser um entrave a algunsalunos que, sem condições, vãoter que abandonar o es.

Ao contrário do cenáriodo ano transato, nesteano letivo, cerca de metade dos estudantesque recorreram aosSASUC para pedir a suabolsa já obtiveram umaresposta

Entraram este ano letivo2012/2013, 5100 candidaturas abolsa de estudo nos Serviços deAção Social da Universidade deCoimbra (SASUC), segundosdados recolhidos a 15 de novem-bro. Deste total, cerca de metade(2300) já foram despachadas, emetade já tiveram decisão final.Segundo a administradora dosSASUC, Regina Bento, o que ex-plica esta maior celeridade na res-posta às bolsas de estudo foi “oaperfeiçoamento na plataformainformática [da Direção Geral deEnsino Superior (DGES)] que fezcom que se agilizassem os proces-sos”.

Segundo o Regulamento deAtribuição de Bolsas de Estudo aEstudantes do Ensino Superior2012-2013, este é um regula-mento que “mantém, na generali-dade, as soluções acolhidas noregulamento do ano transato, em-bora o resultado da experiência dasua aplicação e os diversos contri-butos recebidos (…) visam, sobre-tudo, assegurar uma maiorceleridade na decisão e paga-mento das bolsas de estudo” aosestudantes que satisfaçam os re-quisitos legais e a possibilidadede, mesmo esgotado o prazo nor-mal, um estudante poder candi-datar -se aos apoios que o Estado

atribui.Nesse sentido, 1500 alunos já

receberam uma resposta positivapor parte dos SASUC. Tal nãoacontecia no ano letivo anterior,visto que em período homólogo,estavam apenas atribuídas cercade 150 bolsas na UC. Está destaforma mostrada a celeridade que

tem caracterizado o processo esteano. Regina Bento faz ainda ques-tão de acrescentar o número refe-rente aos estudantes que já virama sua bolsa paga: 1030.

Quem recebe uma resposta negativaOs processos dos estudantes que

ainda não receberam uma res-posta final prendem-se, segundoRegina Bento, com a ausência dedocumentos: “a maioria dos pro-cessos que estão por atribuir estãopendentes porque lhes falta qual-quer coisa”. Desde informaçãoacadémica até informações relati-vas à situação contributiva em ter-

Stephanie Sayuri paixão

1030 estudantes já têm bolsa paga

Ana Morais

Como é habitual da parte dos estudantes portugueses a entrega das candidaturas é feita em cima da hora

Bolsas de estudo

estou no segundo ano de licen-ciatura e no primeiro recebibolsa mínima. este ano perdi abolsa porque sou trabalhador-estudante e apresentei os rendi-mentos de 2011, ano em queestive a trabalhar a ‘full-time’ esó depois mudei. Como tinharendimentos superiores àquelesque estipulavam recusaram-me abolsa. a bolsa sempre ajudava apagar as propinas. Com cerca de300 euros por mês terei quepagar a alimentação, parte darenda de casa e ainda juntar di-nheiro para pagar as propinas.Mas, pelo menos, foi um pro-cesso bastante mais célere: nummês e meio, recebi logo a res-posta. o ano passado recebi aresposta apenas em maio.

mos de Segurança Social e de Fi-nanças, explica a administradora.Por sua vez, as respostas negativasdevem-se na sua maioria ao exce-dente de capitação, bem como aoaproveitamento escolar e à situa-ção tributária não regularizada.

Questionada sobre a possibili-dade de mais estudantes abando-narem o ES, este ano letivo,Regina Bento responde: “temostentado acorrer às situações maisprementes mas também temosconsciência de que nem todas noschegam”. A administradora dosSASUC faz, desta feita, um apeloaos estudantes para que contem asua situação de dificuldade aosserviços. “Por vezes, a soluçãopode não estar em nós mas faze-mos parte de uma rede de apoiosocial e podemos encaminharpara outras instituições”, explicitaRegina Bento.

Alterações no regulamento deste ano letivoAs melhorias introduzidas nonovo regulamento deste ano letivoprendem-se sobretudo com ajus-tes na plataforma online da DGES,onde “cada instituição de ES man-tém disponível no seu sítio da in-ternet informação atualizadasobre os requerimentos de bolsade estudo e respetivos pagamen-tos”, bem como a divulgação da“informação idêntica à referida nonúmero anterior para a totalidadedo sistema de ES” – pode ler-se naplataforma da DGES.

O número de créditos escolaresexigidos para o acesso à bolsa au-mentou para 60 por cento. O que“faz sentido” para Regina Bento,já que este é um apoio do Estado.Ao considerar que “a bolsa é umcontributo para o estudo”, ReginaBento encara este fator como“mais justo do que indeferir bol-sas por dívidas do agregado fami-liar à Segurança Social ou àsFinanças”, visto que o aproveita-mento depende “diretamente doaluno”.

O aumento do prazo de candi-datura foi também alargado deforma a facilitar todo o processo eagilizar a ajuda aos estudantes.Contudo, a grande novidade noque concerne a prazos dá-se coma extensão da candidatura aolongo do ano letivo. Como explicaa administradora, “este ano o pro-cesso está sempre aberto”, o que éimportante para as situações deestudantes que veem a sua situa-ção alterada ao longo do ano.

O Jornal A CABRA contactou aDGES e o Ministério da Educaçãoe Ciência e estes recusaram-se aresponder, remetendo mais expli-cações para a plataforma online.No entanto, há quem faça questãode deixar o seu testemunho: estu-dantes dependentes das suas bol-sas.

PatríCia Ferreira

línguas Modernas

FiliPa santos

Biologia

Paulo Castro

arqueologia e História

Page 8: Edição nº 253

CULTUrA8 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

cápor

27NOV

stand-up CoMedy

tagv • 21H3010€ C/desContos

cultura

CineMa

Casa das CaLdeiras

18H30 e 21H30entrada Livre

MúsiCa

tavgv • 21H30 7,5€ C/desContos

teatro

Conservatório de MúsiCa

21H30 • 10€ C/desContos

MúsiCa

tagv • 21H30 12,5€ C/desContos

Por Daniel Alves da Silva

CineMa

aMsCav21H301€ C/desContos

22NOV

CineMa

tagv • 21H304€ C/desContos

teatro

Centro de neuroCiênCias

e BioLogia CeLuLar

21H30 • 10€ C/desContos

MúsiCa

aqui Base tango

23H30 • entrada Livre

Conversa

Conservatório de MúsiCa

21H30• entrada Livre

30NOV

"o LAço brAnCo"

“SALVAdor Ao ViVo”

JoSé dUArTe

NOV

20

29NOV

NOV

21norberTo Lobo

“MiM - My inner Mind

Gobi beAr

“operAção oUTono”

ShAkeSpeAre no CineMA

ÓSCAr e A SenhorA Cor-de-roSA

SUpernAdA

24NOV

28NOV

“Florbela”, “A nossa Forma de Viver” e“A vingança de uma Mulher” foram osfilmes que arrecadaram mais galardõesna XiX edição do único festival dedicadoexclusivamente ao cinema português.por Filipe Furtado

hega ao fim mais uma ediçãodo Festival Caminhos do Ci-nema Português. Este ano a

presença de público nas salas sofreuuma retração, dada a conjuntura eco-nómica, que põe em causa a própriarealização do vigésimo festival.

Numa noite de muitos prémios,Fernando Alvim e Filomena Cautelaconstituíram a dupla de apresentaçãoda sessão de encerramento da XIXedição do Festival Caminhos do Ci-nema Português, acompanhados pela“Big Band” de Rags da Tuna Acadé-mica da Universidade de Coimbra, noTeatro Académico de Gil Vicente(TAGV).

“Florbela”, de Vicente Alves do Ó,foi sem dúvida o grande vencedor doCaminhos, com quatro galardões:melhor longa-metragem, melhoratriz, melhor caraterização e melhorsom. Pedro Filipe Marques venceuem três categorias, a de melhor reali-zador, o grande prémio do festival eainda o prémio Dom Quijote, atri-buído pelo FICC|IFFC, com o filme“A Nossa Forma de Viver”. “A Vin-gança de Uma Mulher”, de Rita Aze-vedo Gomes, arrecadou também trêsprémios, a Melhor Fotografia, o Me-lhor Guarda-Roupa e a Melhor Dire-ção Artística. O favorito do público foio trabalho de Francisco Manso e JoãoCorrea sobre a figura histórica quesalvou milhares de judeus do Holo-causto: “Aristides de Sousa Mendes –o Cônsul de Bordéus”.

O diretor do Festival, Vítor Fer-reira, no discurso de abertura lançacríticas a um comentário que encon-trou a circular nas redes sociais, ecitou-o: “o Festival Caminhos do Ci-nema Português é uma originalidadecoimbrã que a nomenclatura culturallisboeta despreza e que o público ci-

néfilo local tolera, mas não vê.” O di-retor responde, defendendo que a or-ganização do festival não se revê“nestes estereótipos culturais e men-talidades”, e pretende percorrer umcaminho com o cinema português,garantindo o acesso a quem não querver, e abrindo os olhos de quem nãoquer ver. Vítor Ferreira termina o dis-curso a defender que “chegou a alturade deixar de subalternizar a nossacultural em geral e o cinema em par-ticular”.

A atriz Dalila Carmo ressalva a im-portância de lembrar ao público otrabalho que os atores, produtores,realizadores e todos aqueles queestão envolvidos na sétima arte, e que“fazem cinema com pouquíssimos re-cursos”. Sobre o papel que lhe valeu oprémio de melhor atriz, Dalila fala deum longo processo de envolvênciacom toda a densidade psicológica dapoetisa Florbela Espanca. Os doisanos de preparação permitiram-lhe“fazer uma apropriação muito gra-dual”, resultado também de leiturasfeitas por outros, que se revelamsempre “muito subjetivas”. Por fim, aatriz refere que “temos que nos en-tregar, pois o trabalho não pode cor-rer o risco de ser excessivamenteracional”.

Portugal dentro de casa“A Nossa Forma de Vida” tinha comoobjetivo retratar Portugal dentro decasa. O público, na opinião do reali-zador, revelou que as pessoas gosta-ram de ver o filme, “sem medo de serportuguês”. O filme somou peças aolongo de várias fases. Começou em2008, em 2010 parou quando o avôadoecera, para finalmente finalizarem 2011. Pedro Filipe Marques que-ria um filme no qual só se pressen-

tisse a sua presença através da obje-tiva, enquanto filmava os seus avós:únicas personagens da longa-metra-gem. O realizador descodificava cau-telosamente os momentos maisespontâneos e procurava ver como ocasal junto há 60 anos funcionava, demanhã até à noite. O neto descobriumuito sobre os seus avós, mas acimade tudo conheceu-se a si mesmo aolongo do processo.

No estrangeiro o filme não perdeua força apesar da portugalidade docasal. Esse modo de ser portuguêstinha tantas coisas incluídas que o re-sultado final não ficou limitado.Pedro Filipe Marques partilha que“estava receoso que o filme fosse malcompreendido”. “Queria um filmepara rir com eles [os avós] e não pararir deles”, finaliza o realizador pre-miado.

O estudante de Desporto e Lazer,Rui Barbosa, destaca o “Complexo –Universo Paralelo”, de Mário Patro-cínio e a flexibilidade dos horáriospara a comunidade estudantil conse-guir assistir às sessões. Por sua vez, aestudante de Línguas Modernas, Ra-faela Caldeirinha, considera a pre-sença de filmes como “Balas eBolinhos” ou “Morangos com Açú-car” descontextualizados do Festival.

O diretor do festival define-o numaabordagem eclética, sem discriminaro seu entre filmes de autor ou fitasmais comerciais e explica a pouca au-diência no filme dos Morangos, a tí-tulo de exemplo, “porque talvez tenhaesgotado em sala e demonstrado de-pois pouco interesse a um público defestival e a um público de não festivalque se inibe de ver filmes em con-texto de festival”, analisa Vítor Fer-reira.

Para a vigésima edição, a únicaconfirmação até agora é a pré-marca-ção de datas no TAGV. “Neste mo-mento não há garantia de apoio denenhuma entidade, o que é uma si-tuação ‘sui generis’”, dado que nopassado o apoio para o ano seguinteestava sempre garantido, enfocaVítor Ferreira. Resta agora esperar odesbloqueio das verbas de apoio àcultura para o ano de 2013, anun-ciado pelo secretário de Estado daCultura, Jorge Barreto Xavier. VítorFerreira lamenta também que o “pre-sidente da Associação Académica deCoimbra não tenha estado presenteou não se fizesse representar” no en-cerramento de um projecto culturalque, “talvez seja o mais visível pro-jecto cultural de entre todos que acasa organiza”, afirma o director.

C

Filomena Cautela e Fernando Alvim apresentaram a cerimónia

Stephanie Sayuri paixão

XIX Caminhoscom menos audiência

Daniel alveS Da Silva

21 a 1NOV DEZ

22 e 26NOV

Page 9: Edição nº 253

20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 9

CULTURA

6Mário Gago

A uma semana das eleiçõespara a Associação Acadé-mica, Mário Gago faz um ba-lanço das atividadesculturais na académica du-rante o mandato. Apesar deterem sido “poucas masboas”, o coordenador-gerallamenta não se ter feito mais

Qual é o balanço que fazes

das atividades do Pelouro da

Cultura deste mandato?

Acima de tudo, acho que foram pou-cas mas boas. Não fizemos muitasatividades, mas tentámos compensarpor outro lado e fazer um acompa-nhamento maior às secções culturais,visto que também não é a Direção-geral da Associação Académica deCoimbra (DG/AAC) que tem a ativi-dade cultural na académica. Foimuito essa postura que adotámoseste ano.

Esse número reduzido de

atividades deveu-se a quê? Falta

de financiamento?

A falta de financiamento na acadé-mica em geral é um problema quenós, DG/AAC, ainda não temos solu-ção a curto prazo. As soluções quetemos são a longo prazo. O que ten-tamos fazer agora é poupar o máximodinheiro possível e cabe a cada um teressa responsabilidade.

Esse poupar de dinheiro im-

plicou cortes nas atividades cul-

turais que a AAC poderia fazer?

Não necessariamente. Acho que con-seguimos fazer tanto com menos.Visto que temos 16 secções culturais,não devemos ser nós a ter esse papel.Acho que há muita coisa na cidadeque faz cultura, não tem de ser aDG/AAC a fazer. Ela pode ajudar apromovê-la, a complementar algu-mas coisas, mas não somos nós que

vamos fazer cultura nem nuncavamos ser. São, principalmente, assecções.

Se essa criação de atividades

e organização deve ser feita

pelas secções, qual é o papel do

pelouro da Cultura?

Infelizmente, ainda não está escritoqual é o papel do pelouro da Culturaem lado nenhum. Cada pessoa faz dopelouro aquilo que acha que é maisproveitoso para a casa. Deve ter umpapel de proximidade com as secções,de apoiar em tudo o que elas preci-sam no dia-a-dia. Criar uma ligaçãoentre todas as instituições com a aca-démica e fazê-los instruir essa cul-tura. Não devemos estar na linha dafrente. É um papel muito mais de ges-tão.

Até ao final do ano, ainda há

mais atividades programadas?a

enveredar por esta área?

Sim, para além da revisão do regula-mento interno, temos o apoio ao es-petáculo do Salvador Martinha, noTAGV, temos a revisão do regula-mento das tunas, ainda vamos proce-der à distribuição de verbas, peloConselho Cultural, da Queima dasFitas… temos mais atividades, massão mais coisas de gabinete.

Relativamente às secções

que estavam inativas?

As três que estavam inativas já estãoativadas – a Secção Gastronómica, oGrupo Ecológico e a SESLA. Nãoposso dizer que o processo tenha sidorápido, porque demorou quase umano. Mas já todas foram a eleições eas pessoas estão muito motivadas. Éum ponto positivo para este ano, vol-támos a ter as 16 secções culturais.

Ana Duarte e

Daniel Alves da Silva

“Não somos nós que vamos fazer cultura nem nunca vamos ser”

Coordenador-geral do Pelouro da Cultura da

DG/AAC

Filatélica premiada no estrangeiroApesar de carente de

novos sócios estudantes,

a SFAAC venceu prémios

em duas competições de

literatura filatélica, que

decorreram na Alemanha

e no Brasil

A Secção Filatélica da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (SFAAC)trouxe da International PhilatelicLiterature Exhibition, realizadaentre os dias 2 e 4 de novembro,dois prémios. A exposição, organi-zada pela Bund Deutscher Philate-listen (Federação de FilatelistasAlemães), em Mainz, premiou o blo-gue da SFAAC e dois livros-CD su-bordinados ao tema “Filatelia eEuropa”.

Os dois livros-CD foram tambémpremiados na exposição luso-brasi-leira Lubrapex 2012, que decorreuentre os dias 10 e 18 de novembro,em São Paulo, no Brasil. Em ambasas competições foram obtidas me-dalhas de prata nas categorias emque a SFAAC estava a concurso.

A literatura filatélica envolveatualmente plataformas online. Daísurgiu a ideia da candidatura do blo-gue, no festival alemão, integrando acategoria de sites web, como explicao tesoureiro da SFAAC, Nuno Car-doso. Através de um sistema de pon-tuação, o blogue obteve 68 pontospelo júri do concurso, tendo obtidoassim uma medalha de prata (asmedalhas são correspondentes nãoa uma classificação ordenada dospremiados, mas sim ao intervaloonde o número total de pontos obti-dos se encontra).

Nessa exposição foram a concurso

mais de 550 participantes de todo omundo. O blogue já tinha recebidoa medalha de Vermeil, na XXI Ex-posição Filatélica Nacional Póvoa doMar 2011 na classe de Literatura Fi-latélica e o Prémio nacional “ANÍ-BAL QUEIROGA” – MelhorWebsite de Filatelia, dado pela Fe-deração Portuguesa de Filatelia, em2010.

Muitos prémios, poucos estudantes A SFAAC surgiu em fevereiro de1965, sendo “a segunda secção maisantiga” da AAC, explica Nuno Car-doso. Existe também um clube den-tro da secção dedicado aos carimboscomemorativos, criado em 1977,onde se encontra reunido o maior‘stock’ de carimbos comemorativosdo país e a única publicação nacio-nal dedicada a esse assunto.

Localizada no primeiro piso doedifício da AAC, a secção está abertaàqueles que queiram aparecer. “Dis-ponibilizamos todo o apoio aos só-cios” seja na venda de material ouna consulta dos vários catálogos deselos mundiais, “sempre atualiza-dos”, como informa o tesoureiro.Mas o mais importante, frisa NunoCardoso, é a “troca de experiênciasentre filatelistas”, onde se aprendemos truques deste passatempo comaqueles que são mais entendidos.

O diretor da SFAAC durante a pri-meira metade da década de 80, JoãoRui Pita, revela que se viveu nessaépoca um “grande dinamismo”.Havia vários tipos de sócios nessaépoca, “desde sócios no liceu/ensinosecundário até sócios antigos estu-dantes”. Hoje o cenário é diferente.Há 250 sócios ativos que já nãoestão em Coimbra. “Tivemos de re-

correr a filhos de filatelistas que es-tudam cá”, revela Nuno Cardoso,para a secção poder cumprir os es-tatutos da AAC, que exigem umamaioria absoluta de estudantes nosórgãos da secção. Atualmente, cap-tam-se sócios por proximidade. Oscolecionadores de selos são filhos decolecionadores mais antigos.

“Os miúdos já não têm interesse nos selos”O tesoureiro da SFAAC é perentório:“os miúdos já não têm interesse nosselos”. Existem outras distrações, eaponta também a cada vez maiorutilização de etiquetas e de taxaspagas pelos utilizadores dos correioscomo um fator da diminuição dapaixão pela filatelia. Deixaram de vircontas com selos diferentes, perdeu-se o ato de ver o selo que chegava emcada carta. “Lembro-me de ser

miúdo e de cada vez que apareciaum selo numa carta eu tirava e guar-dava”, confidencia Nuno Cardoso.

Numa secção com objetivo de di-namizar a filatelia, acabam-se porcriar laços, na tertúlia que contribuipara o “aprofundamento cultural”,adita João Rui Pita. O mesmo con-sidera a sua passagem pela direçãoda SFAAC como uma “ótima expe-riência”, no “partilhar e participarna vida académica”.

Mas a atividade da secção conti-nua. Será publicado mais um nú-mero da revista, e está a serultimada a saída de um livro sobrecarimbos comemorativos dedicadossó a Coimbra, nos próximos meses.E apesar de parecer que estes pré-mios “passam bastante despercebi-dos”, como revela o antigo diretor,“têm levado muito longe o nome daAAC”.

Daniel Alves da Silva

o interesse em colecionar selos já não é uma distração partilhada pelos generalidade dos estudantes

Stephanie Sayuri paixão

Page 10: Edição nº 253

CULTURA10 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

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Orquestra Geração ou: como me interessei e passei a amar a música

projeto Orquestra Gera-ção surge no seguimentode uma iniciativa baseada

no Sistema de Orquestras Infanti-les e Juvenilies de Venuzela. Sur-gido em Lisboa, corria o ano de2007, foi resultado de uma parce-ria entre a Escola de Música doConservatório Nacional, a CâmaraMunicipal da Amadora e a Funda-ção Calouste Gulbenkian, com oapoio do programa EQUAL (FundoSocial Europeu).

Tendo em conta o sucesso da ini-ciativa na capital portuguesa e nou-tras regiões do país, como é o casode Amarante, em Coimbra surgiu ointeresse de trabalhar a iniciativa.O diretor do Conservatório de Mú-sica de Coimbra (CMC), ManuelPires da Rocha, esclarece que apartir do momento em que foicriada a orquestra em Lisboa e estacomeçou a ter “os resultados espe-rados numa orquestra desta natu-reza, nós decidimos levar a caboum projeto de integração atravésda música”. Em Coimbra, a inicia-tiva foi possível concretizar em2011, através de uma colaboraçãoentre o conservatório e um Agru-pamento de Escolas de São Silves-tre. Manuel Pires da Rocha explicaque foi feito “um pedido ao Minis-tério da Educação para levar a caboo projeto e isso foi concedido”.

O diretor do conservatório sa-lienta também que a Orquestra Ge-ração não é “um processo de teordo ensino especializado, em que háuma educação individualizada, éum projeto de mobilização decrianças para o interesse pela mú-sica”. O principal objetivo do pro-jeto é suscitar o interesse dacriança pela prática musical e or-questral e permitir que “as crian-ças tenham uma educação socialestética, através do desempenhomusical”, acrescenta o diretor Ma-nuel Pires da Rocha. A coordena-ção pedagógica e artística contatambém com a presença de doismúsicos venezuelanos residentesem Portugal, para além de outrosformadores que se deslocam noverão ao país.

Vestidos com t-shirts vermelhas,num estilo informal, o conjunto dequarentas crianças é coordenadopor um único professor. Violinos,

violoncelos, instrumentos de pre-cursão e de sopro tentam alcançarum ponto de convergência nasmãos de jovens do segundo e ter-ceiro ciclo do ensino básico. A pla-teia, maioritariamente familiaresdos jovens músicos, aplaudem deforma entusiasta. Entre o público,algumas pessoas mais corajosaschegam-se à frente para dançar aosom das músicas mais animadas.

Recrutados pela sua própria vontade“A inscrição na Orquestra Geraçãoé completamente gratuita”, clari-fica o diretor do CMC, do regimeeducativo do conservatório de mú-sica, em que o acesso a qualquercurso é gratuito. Quanto à disponi-bilização de instrumentos, o pro-fessor adianta que “são fornecidosos instrumentos, através de um re-gime de empréstimo”, algo que édisponível através do apoio da Câ-mara Municipal de Coimbra. Dadaa gratuitidade do projeto, o recru-tamento de jovens para o mesmo“depende apenas da sua própriavontade”, salienta Manuel Pires daRocha.

O professor não se esquece tam-bém de mencionar o apoio que éprestado pelo Ministério da Edu-cação na “contratação de professo-res”. Para os responsáveis daOrquestra Geração uma das suasmais-valias do projeto é poderlevar a música a pessoas que, habi-tualmente, não têm qualquer liga-ção à música. Manuel Pires daRocha adianta que “é curioso repa-rar que há muita gente que nãotem ligação nenhuma a estes espa-ços e que vão poder aceder a elesde forma livre e com vontade”.

A Orquestra Geração já deu con-certos no Agrupamento de Escolasde São Silvestre e numa sala doCMC. Para o futuro estão previstasmais atuações, “prevê-se que estaorquestra seja, não só um fator deeducação para crianças, mas umfator de divulgação para jovens eadultos”, explana Manuel Pires daRocha. O responsável conclui quese houver interesse por parte doMinistério da Educação e Ciênciaem dar continuidade ao projeto, oseguimento “estará garantido” e oprojeto “será um sucesso”.Qualquer jovem que o deseje pode juntar-se ao projeto orquestra geração

Um projeto com objetivos sociais e pedagógicos, a Orquestra Geração conta com a presença de quatro

dezenas de jovens. Suscitar o interesse musical e orquestral entre os mais novos, bem como a adesão

dos familiares a espaços culturais, surgem como principais metas desta iniciativa. Por João Valadão

O

FotoS gentilmente cedidaS por conServatório de múSica de coimbra

FotoS gentilmente cedidaS por conServatório de múSica de coimbra

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20 de novembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 11

DEsPoRto

poucos dias das eleiçõespara a DG/AAC, é tempode fazer um balanço sobre

o mandato. Nesse sentido, o Des-porto Universitário é um dos temasem discussão.

Segundo o coordenador-geral doPelouro do Desporto Universitário,Hugo Rodrigues, a maior parte dosobjetivos traçados pela DG/AACpara este setor foram cumpridos, fi-cando apenas uma das metas por al-cançar. “Tentámos que houvesse umespaço que não fosse só de competi-ção mas também de recriação, masnão conseguimos implementar porfalta de disponibilidade das instala-ções”, explicou.

A nível desportivo, o dirigentemostra-se também bastante satis-feito, uma vez que todas as equipasconsumaram as expetativas, e al-cançaram os resultados esperadosnos Campeonatos Nacionais Uni-versitários (CNU’s).

No entanto, o sucesso não foi atin-gido apenas internamente, poistambém nos Campeonatos Euro-peus, disputados este ano em Cór-doba, as diferentes modalidades daAAC “conseguiram uma boa classi-ficação”. Hugo Rodrigues espera“renovar o título de campeões euro-peus”, já que a EUSA (EuropeanUniversity Sports Association) aindanão divulgou os resultados oficiaisdos campeonatos.

Apesar da grande prestação dasequipas coimbrãs na cidade espa-nhola, o coordenador-geral do Des-porto Universitário destaca osresultados de algumas modalidades,elogiando o valor individual dosatletas. “Sabíamos que a equipa derugby feminino era muito forte esempre ambicionámos o título, mastambém tivemos algumas contrarie-dades a nível de lesões nos própriosjogos. Ficámos com o 2º lugar, per-demos com uma equipa com um

nível muito forte e, por isso, não de-fraudou as nossas expetativas”, con-fessou.

À semelhança do badminton e doténis, também o futsal feminino foilembrado por Hugo Rodrigues, quenão escondeu o sentimento de que oresultado até poderia ter sido me-lhor. “Ficámos com aquele senti-mento de que poderíamos ter feitoalgo mais quando perdemos na finalporque sentíamos que eramos supe-riores à equipa adversária”.

De olhos postos no futuro, os atle-

tas já começam a preparar os Cam-peonatos Europeus do próximo ano,pois o objetivo é “estar sempre notopo da hierarquia do desporto uni-versitário europeu”, ressalva Hugo.

Académica nos EUSA Games

Relativamente aos EUSA Games de2014, Hugo Rodrigues considera ser“um pouco cedo de mais para falar”,mas assegura que já existem metasdelineadas. “Já estamos a trabalharno sentido de que a Académicatenha uma estrutura mais fixa rela-tivamente ao desporto universitário,que tenha um gabinete com pessoasprofissionais a trabalharem no des-porto universitário pois também agrandeza da Académica no DesportoUniversitário assim o exige.”

Formalizada a candidatura à or-ganização dos EUSA Games de2016, o responsável máximo doDesporto Universitário mostra-seesperançado relativamente à esco-lha final e revela a confiança numtrunfo: o título de bicampeões euro-peus. “Todas as equipas que partici-pam nos europeus de desportouniversitário conhecem a Universi-dade de Coimbra (UC) e, neste mo-mento, já temos as coisasdelineadas. Já apresentámos a se-gunda fase da candidatura e játemos as modalidades definidas.Agora, é continuar a esperar pelos‘feedbacks’ por parte da EUSA”,

concluiu.E como nestes casos o prestígio

também conta, o dirigente recordaoutra mais-valia. “Por todas as qua-lidades que tem Universidade deCoimbra e por todo o reconheci-mento que tem lá fora, acho que po-demos mesmo vir a receber osEUSA Games de 2016”.

Convicto de que, independente-mente do resultado das próximaseleições, a candidatura irá manter-se de pé, Hugo Rodrigues faz tam-

bém referência aos apoios que aCâmara Municipal de Coimbra e aprópria Universidade têm dado,afirmando que ambas as entidadestêm demonstrado interesse e man-tido uma relação próxima com oprojeto.

A um nível mais pessoal, confessaque, caso a sua lista seja reeleita,continuará no cargo com o principalobjetivo de fortalecer a estrutura,torná-la “mais sólida e fixa, de modoa que não varie tanto de ano paraano”.

O desporto na AAC

Também Nuno Lopes, coordenador-geral do Pelouro do Desporto, fezum apanhado do seu mandato. «Oprincipal objetivo era fazer umaaproximação às secções e tenho acerteza que foi atingido. Tínhamostambém programado uma atividademensal que era o “Liga-te ao Des-porto” e, até agora, foi sempre reali-zada», assegurou, lamentando aimpossibilidade de realizar umoutro projeto. “Também tínhamosproposto realizar um campo de fé-rias desportivas, mas devido à con-juntura financeira que a AssociaçãoAcadémica está a passar, não foipossível fazê-lo”.

Olhando para a época das váriassecções, Nuno Lopes elogia todas asequipas que dignificam o nome daAcadémica, mas congratula os feitosno basquetebol e de rugby.

A finalizar, e em jeito de despe-dida, o coordenador-geral do Des-porto confessou que não irácontinuar no cargo e lançou os de-safios com que a nova DG/AAC teráque se bater. “Infelizmente, o maiordesafio passará por ultrapassar abarreira financeira das secções e daAAC. As secções não querem deixarde ter equipas e competir e, comotal, terá que ser feita uma gestãodentro de cada uma para consegui-rem superar as dificuldades”.

Com Ana Duarte

Em tempo de mudança na Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Hugo Rodrigues,

do Pelouro do Desporto Universitário, e Nuno Lopes, do Pelouro do Desporto, avaliam os resultados das

várias secções desportivas na época transata e traçam os objetivos para o futuro. Por Fábio Aguiar

De olhos no futuro,lembra-se o passado

Ainda que a maioria das metas tenham sido alcançadas este mandato, falhou a criação de um espaço de recriação

AnA morAis

“A equipa de rugby

feminino era muito

forte e sempre

ambicionámos

o título”

“Terá que ser feita

uma gestão dentro

de cada secção para

conseguir superar

as dificuldades”

A

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Ações nO D’ARQ12 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

UMA FACA ROMANCE QUE

ARQUITECTURA

ediram romance para uma

escola sem identidade.

“Não há escola neste ro-

mance”, pintaram numa parede. As-

sinaram como F.A.C.A. – Frente

Ativa de Contestação Académica, um

grupo composto por estudantes. No

anonimato começaram e assim se

vão manter. O objetivo foi “despertar

consciências para os problemas do

Departamento de Arquitetura da

Universidade de Coimbra (d’ARQ)”.

Continuam, afirmando: “daqui para

frente o objetivo é motivar a mu-

dança”.

Querem alertar os estudantes para

uma reforma curricular no curso de

Arquitetura, mas sobretudo preten-

dem que do d’ARQ saia massa crítica.

Assim, surge um novo grupo de estu-

dantes: Romance à Parte. Perceber o

que está errado na sua escola é a von-

tade dos mesmos e eles estão dispos-

tos “a mudar”.

Dois grupos com objetivos seme-

lhantes, mas com formas diferentes

de intervir. A F.A.C.A. escolhe o ‘graf-

fiti’ como meio de passar a mensa-

gem e o Romance à Parte prefere, de

forma coletiva, proceder a instala-

ções críticas.

A frase pintada a 17 de setembro:

“Não há escola neste romance” não é

original. A ideia decorre da inversão

de uma frase pintada há alguns anos,

na Escola de Arquitetura do Porto:

“Não há romance nesta escola”. Cu-

riosamente, alguns professores que

hoje integram o d’ARQ participaram

nesta pintura de parede, agora rein-

ventada pelos seus alunos.

Esmiuçando a conceção, “não há

escola” prende-se com o facto de não

existir no d’ARQ uma escola autó-

noma com uma forma de pensar pró-

pria e um plano curricular ajustado”,

alega a F.A.C.A. No que concerne ao

“romance”, este é referido como

“embuste ou floreado romantizado”,

despojado de ideologia.

Por outro lado, o Romance à Parte

baseou-se num conjunto de conver-

sas intitulados “Os Encontros de

Tomar”, realizadas no âmbito dos

dez anos do d’ARQ, onde foram ex-

postas, pelos professores, algumas

metas a atingir pelo departamento.

Colagens de bustos de professo-

res/arquitetos acompanhadas por ci-

tações dos mesmos

referentes ao fu-

turo do d’ARQ

e da própria

arquitetura.

“O lugar do

curso de Ar-

quitetura de

Coimbra de-

pende da con-

quista definitiva

das suas instala-

ções: a precária situa-

ção atual não tem permitido

institucionalizar o curso e afirmá-lo

no panorama nacional das escolas de

arquitetura”, pode ler-se numa pa-

rede do edifício. Esta frase foi profe-

rida pelo atual diretor do d’ARQ,

Jorge Figueira, em 2000, numa re-

vista do departamento – a ECDJ.

Hoje, há mais consciência da reali-

dade: “a questão da identidade é uma

questão de tempo, não nasce instan-

taneamente, precisa de alicerces”,

apesar de não descurar uma certa po-

sição que Coimbra possa ter no qua-

dro do ensino da Arquitetura em

Portugal. “Tenho o maior otimismo

e considero que, pelo grupo de pro-

fessores que temos cá, pelo grupo de

alunos que foi criando, que estão des-

tinadas grandes coisas para a escola

de Coimbra”, acrescenta.

“Fosse a vontade de calarigual à de mudar”O primeiro ‘graffiti’ foi, dias após ter

sido desenhado, mandado

pintar de branco.

Quem deu a ordem

foi o vice-reitor

para as Instala-

ções da Univer-

sidade de

Coimbra (UC), e

professor no

d’ARQ, Vítor

Murtinho. O presi-

dente do Núcleo de Es-

tudantes de Arquitetura da

Associação Académica de Coimbra

(NUDA/AAC), Pedro Caiado, explica

a situação: “dois dias depois do ‘graf-

fiti’ ter sido pintado, estaria no nosso

P

Por entre a Universidade de Coimbra (UC), parece haver um departa e os seus alunos deixam as marcas na parede. O caminho não é fác marco primordial para a mudança. Por Ana Duarte e Ana Morais

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Ações nO D’ARQ20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 13

ADA NO UE TEM SIDO A

A POR COIMBRA

departamento o arquiteto da comis-

são da UNESCO, para a avaliação do

património. Isso iria prejudicar bas-

tante a visita ao nosso departa-

mento”.

Para insistir e despertar de novo a

massa crítica, a F.A.C.A. decidiu pin-

tar no mesmo local: “Fosse a vontade

de calar igual à de mudar”. Sentiram-

se silenciados? “Independentemente

de quem parta, a repressão existe. Si-

lenciar estas ações que partem dos

estudantes passa a ilusão de que tudo

está bem”, afirma a F.A.C.A.. Com

opinião semelhante, Jorge Figueira

alerta para o facto de não concordar

com a ordem da reitoria, mas para a

sua obrigação em acatar essa ordem

superior. Enquanto diretor de depar-

tamento, o professor mostra a neces-

sidade de “deixar livremente que os

alunos possam expressar a sua posi-

ção”.

Identidade do d’ARQ na UC“Queremos que o d’ARQ tenha uma

identidade própria e queremos ser

reconhecidos como tal”. Este é um

desejo expresso pela F.A.C.A., que

corresponde também aos anseios de

Jorge Figueira e do Romance à Parte.

A identidade própria do departa-

mento passa, em grande parte, pela

relação tutorial entre

professor/aluno – é uma marca re-

gistada já. “Toda a aura da escola,

como todas as escolas de arquitetura

da nossa dimensão, tem a

personalização do en-

sino”, refere Figueira. E

essa é uma das valências

do curso – o que fortalece

uma relação conjunta de

descontentamento pe-

rante as condições do de-

partamento.

Relativamente ao

plano curricular, apon-

tado pelos alunos como

erróneo, daí o nome do grupo Ro-

mance à Parte - “o romance vai no

sentido de uma escola aberta e ro-

manceada no sentido do desenho e

das maquetes. Mas também que seja

uma escola que forme arquitetos

para o futuro”. Deste modo, a re-

forma no plano curricular deve com-

bater “a lacuna relativa ao cultivo do

espírito crítico. E isso envolve muita

coisa”, sublinha a F.A.C.A. Mais uma

vez, os dois grupos invocam os En-

contros de Tomar e os desejos ex-

pressos por uma escola de

arquitetura com mais identidade. O

diálogo existe entre os dois, é certo –

“no fim de contas, a finalidade é

comum”, expressa o grupo F.A.C.A..

A par destes grupos e dos profes-

sores, há ainda dois elementos no

d’ARQ – O NUDA e a revista NU –

que partilham do sentimento gene-

ralizado. Em nome do NUDA, Pedro

Caiado afirma que o núcleo “tem ser-

vido um pouco como intermediário

entre os alunos pertencentes aos dois

grupos, a reitoria e a direção do de-

partamento”. Luís Madeira, diretor

da NU, é perentório: a NU é um or-

ganismo isolado, mas os seus mem-

bros, enquanto estudantes, “estão a

par das ações e concordam com al-

gumas das intervenções”.

O Romance à Parte já deu um

passo para elevar a discussão, ao rea-

lizar uma reunião aberta no dia 14,

onde se ouviram várias ideias de al-

guns estudantes relativamente às

ações desenvolvidas pelos dois gru-

pos. Divergindo na opinião sobre

forma de intervir dos coletivos, os es-

tudantes do d’ARQ parecem estar em

sintonia em relação ao que querem e

como o querem. Ainda assim, acham

que é cedo para elevar o debate a ins-

tâncias superiores, uma vez que con-

sideram que é preciso construir um

discurso sólido no interior dos claus-

tros.

Para que a estagnação intelectual não

prolifere, é preciso que “isto não

acabe aqui”.

artamento sem a identidade pretendida. O d’ARQ insurge-se fácil, mas a união não é posta de lado e é apontada como o

foto gentilmente cedida pela f.a.c.a.

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CidAde14 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

Turismo de Coimbra extinta até fevereiroO encerramento surge ao abrigo de uma nova leipublicada em agosto. Aempresa, responsável pelapromoção do turismo,irá dar lugar a uma divisãoda CMC

A Turismo de Coimbra (TC) deveráextinguir-se até ao próximo de mêsde fevereiro, ao abrigo da Lei50/2012, de 31 de agosto, publicadapelo Governo. A referida lei deter-mina que as empresas que não te-nham receitas próprias numapercentagem de 50 por cento das re-ceitas totais devam ser extintas numprazo de seis meses - o que prevê con-sequentemente o encerramento destaempresa municipal de Coimbra.

O presidente da TC, Luís Provi-dência, afirma que não é suficientenum ano “operar as mudanças sufi-cientes numa empresa que não estavaminimamente vocacionada para terreceitas próprias”. A extinção, quenão abrange entidades regionais deturismo, provoca no responsávelalgum incómodo: “vejo com pena ealguma estranheza que se mante-nham entidades regionais de turismocom dívidas de milhões de euros”. Oorçamento da TC, que é exclusiva-mente financiado pela Câmara Muni-cipal de Coimbra (CMC),apresentava-se no passado ano naordem dos 900 mil euros. Luís Pro-vidência adianta que “a TC em 2011teve contas de 205 mil euros” e que“o esforço feito este ano vai mostrarum aumento significativo de receitaspróprias”.

Os lucros obtidos no aluguer daPraça da Canção, na venda de mate-rial promocional nos postos de tu-rismo ou serviços de guia perfazem a

maioria dos lucros da empresa. Con-tudo, segundo Luís Providência, nãoé possível alterar as formas de finan-ciamento da empresa, que no pas-sado “vivia tranquilamente compercentagens de receita própria naordem dos 3 ou dos 3,5 por cento”.

A promoção turística volta agoraao modelo inicial, como uma divisãoda CMC, que ainda assim, pelos cor-tes sucessivos que têm sido feitos,“vai necessitar de um orçamentomaior”, esclarece o responsável.

O presidente da CMC, Barbosa deMelo, referiu em declarações ao Jor-nal As Beiras que a extinção da TCera “um mau negócio para o municí-pio”. Luís Providência está de acordoe lamenta que “a extinção só irá tra-zer prejuízos e nenhum ganho para acidade”. O presidente da TC consi-dera também que Coimbra, com po-tencial turístico nacional, “irá perderalgumas oportunidades”. O presi-dente da CMC referiu ainda, em de-clarações à Revista C no passado mês

de setembro, que a Lei 50/2012impõe limitações funcionamentomuito graves, nocivas à promoção tu-rística. Luís Providência assume queo objetivo será “tentar minimizar osefeitos da decisão” e que a cidade se-guramente perde algo porque “deixade ter um instrumento 100 por centodedicado à promoção turística”.

“Tudo no mesmo saco”Para Luís Providência a lei é uma ten-tativa de meter “tudo no mesmosaco”: empresas direcionadas parater receita com outras com outro tipode vocação. O responsável da TC sa-lienta que, para se alterarem as re-gras do regime jurídico da atividadeempresarial local, se deve primeiroolhar para “a natureza da empresa ever se isso é aplicável de forma igualentre uma empresa que vende umproduto e uma empresa de promo-ção”. Ainda assim, o dirigente res-salva que a preocupação é ter “rigornas contas e não ultrapassar o que é

posto à disposição para a promoçãodo turismo de Coimbra” e admite que“tem de haver regras e quem cumpriressas regras deve poder permanecerno mercado”. Luís Providência de-fende assim que deve ser dada às em-presas municipais a mesmaoportunidade que foi dada às entida-des regionais, que terão a oportuni-dade de corrigir as dividascontraídas.

No plano turístico está também aconstrução do Centro de Congressosdo Convento de São Francisco, que“não irá sair prejudicado, visto que éum processo autónomo”, asseguraLuís Providência. O presidente da TCgarante que o projeto é “importantena receção de turismo em qualquercidade” e que “deverá tornar-se ogrande polo de congressos entre Lis-boa e Porto”. Afastadas do perigo deextinção estão outras empresas mu-nicipais, que não deverão ser afeta-das pela publicação da Lei 50/2012,de 31 de agosto.

Com vista a promover aafluência de pessoas àBaixa de Coimbra, a APBCpromove uma iniciativapara alargar o horário comercial durante aépoca natalícia

“Atendendo aos fortes constran-gimentos económicos previstospara a época natalícia, resultantesda descida do poder de compra dosconsumidores e do receio das futu-ras medidas de austeridade previs-tas para o próximo ano”, é destaforma que se inicia o comunicadodo Presidente da Direção da Agên-cia para a Promoção da Baixa deCoimbra (APBC), Armindo Gaspar.O comunicado é feito aos comer-ciantes associados desta zona da ci-

dade, com vista à abertura das lojasnos quatro domingos do mês de de-zembro.

Armindo Gaspar refere que“dado que é a época natalícia adap-tamos os horários para uma maiorafluência de pessoas à Baixa, porisso queremos abrir aos domingos”.A apoiar a iniciativa está subjacenteo que a organização consideracomo “uma forte campanha publi-citária”. O presidente da APBCacrescenta que o trabalho parte nosentido de “chegar ao maior nú-mero de pessoas”, uma projeçãoque será feita através de “’flyers’, dadivulgação em alguma imprensa oudo facebook”. Também progra-mada está a realização de diversasatividades musicais e de animaçãode rua - um complemento que serápossível através da “instalação decolunas a passar músicas em toda aBaixa”, diz Armindo Gaspar. Ques-tionado sobre um possível convitea artistas musicais, o mesmo de-clara que “ainda não se pode adian-

tar isso, porque ainda está na parteda programação”.

Reticentes quanto a esta inicia-tiva parecem estar os comerciantesda Baixa, que enfrentam a possibi-lidade de um Natal com decrésci-mos muito acentuados no volumede vendas. A funcionária da Ouri-vesaria Marialva, Sónia Leitão, re-fere que a loja onde trabalha “emprincípio não irá aderir” e lamentaque, com a crise, “ninguém vemcomprar à Baixa”. Ainda na RuaFerreira Borges, imediatamenteacima, Edmar Ferreira espera pa-cientemente a vinda de algumcliente. Funcionário da loja A.Lou-reiro, LDA, o comerciante, de 60anos, afirma que a loja não estaráaberta nos domingos propostos:“não moro cá e não tenho transpor-tes”, acrescenta. Desanimado epouco crente no sucesso da ativi-dade, Edmar Ferreira reconheceque os Natais anteriores “não forambenéficos” e que presentemente asituação não deve melhorar. “Du-

vido que haja grande adesão”, ad-verte ainda o comerciante.

“Já nada leva os clientes à Baixa”Afastada do movimento da artériaprincipal, escondida nos recantosda Baixinha, encontra-se a Sapata-ria Ara. Ao balcão está Ana Simões,funcionária da empresa há mais de40 anos, que observa melancolica-mente a passagem das poucas pes-soas que circulam na rua.Desanimada com o atual estado donegócio, a funcionária assegura que“se não vendemos durante a se-mana, não irá ser aos domingos”.Questionada sobre os acessos àBaixa, Ana Simões refere que “nãoé fácil aceder” e vai mais longe noque toca à Baixinha, “as pessoasestão lá em cima e não vêm cá parabaixo”.

Se, por um lado, se promovemmais iniciativas de apoio ao comér-cio tradicional, por outro os comer-ciantes começam a evidenciar um

estado de cansaço e desespero coma atual situação. Sónia Leitão la-menta que “já nada leva os clientesà Baixa” e ressalva que “são mais aslojas fechadas do que as abertas”.Ana Simões alerta para o facto denão haver dinheiro: “já não sei ondepegar”, confessa. Ciente de que opanorama comercial da cidadesegue um caminho decadente, opresidente da APBC admite que umdecréscimo é “inevitável, a nível dopaís as quebras vão ser muito acen-tuadas”.

A unanimidade dos comerciantessurge na posição face à posição daCâmara Municipal de Coimbra(CMC). Edmar Ferreira afirma queesta “deveria dar mais apoio, estãoa descair-se um bocado”, opiniãopartilhada por Ana Simões, quealega que a CMC “deveria ter umamaior intervenção”. Trabalhadoresde uma zona comercial enfraque-cida, aos comerciantes da Baixa co-meçam a faltar ideias derecuperação.

APBC quer lojas abertas nos quatro domingos de Dezembro

ARQUIVO - RAfAelA CARVAlhO

Com a extinção da Turismo de Coimbra, a promoção do turismo na cidade ficará entregue a uma divisão da Câmara Municipal de Coimbra

João Valadão

João Valadão

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20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 15

CiênCiA & TeCnOlOgiA

Ressaca – mitos, verdades e uma certeza: o álcool faz mal

esta vacina oral permitealterar a metodologia deaplicação, podendo substituir as injetáveis.Olga Borges, docente da FFUC, explica a viabilidade da terapêutica

Investigadores da Faculdade deFarmácia da Universidade deCoimbra (FFUC) e do Centro deNeurociências e Biologia Celular(CNC) estão a desenvolver uma va-cina oral contra a Hepatite B. Ape-sar de já ter sido testada em ratoscom sucesso, esta vacina ainda não

oferece garantias de poder ser apli-cada em seres humanos.

A hepatite B, considerada umadas formas mais perigosas dadoença, pode ser transmitida porvia sexual. Em Portugal existe umavacina injetável que pode ser to-mada por todas as pessoas, mas quenão tem qualquer efeito em quemjá está infetado. Ao contrário dessetipo de tratamento, a vacinação oralpoderia ter alguma utilidade tera-pêutica, isto “pelo tipo de respostaimune que obtivemos em ratinhos,pelo tipo de anticorpos que se pro-duzem e pelo tipo de resposta celu-lar que conseguimos obter”,justifica a coordenadora da investi-gação, Olga Borges.

Segundo a docente, esta soluçãosurgiu através de uma investigaçãoem que se procedeu à “administra-

ção de uma suspensão de nano par-tículas” em ratos. Apesar dessa ex-periência, não se poderá afirmarque a parte científica esteja con-cluída, uma vez que os ensaios emhumanos ainda não avançaram.“Essa fase não está a decorrer por-que não se perspetivam ensaios clí-nicos com esta vacina, dado quenão há financiamento”, explica a in-vestigadora da FFUC.

No entanto, caso existissem par-cerias, os ensaios poderiam avan-çar e consistiriam em proceder à“administração desta suspensão apessoas saudáveis e perceber se elastambém conseguem ter uma res-posta imunológica semelhanteàquela que obtivemos em animais”,se os resultados fossem favoráveis,seria viável a comercialização davacina. Em contrapartida, “não há

previsões” da chegada da vacina aomercado, sistematiza a docente.

Olga Borges afirma ainda que “amais-valia deste tipo de investiga-ção é formar um ‘know-how’ quenos permite chegar a uma determi-nada solução, não só usando essatecnologia, mas até melhorando-ae adaptando-a a outras vacinas”.Deste modo, vai ser possível que oconhecimento se desenvolva na fa-culdade e que “eventuais parceriasde investigação com a indústria” seimplementem e apostem na inves-tigação levada a cabo pela Univer-sidade.

Em termos futuros, seria expec-tável que todas as vacinas que estãoneste momento no mercado pudes-sem ser “administradas por viaoral”, uma tarefa que, segundo adocente, não se afigura fácil.

UC desenvolve vacina inovadora contra hepatite B

Hugo Teixeira Mota

Tiago Rodrigues

d.R.

Há quem fale em café. Outros em comidas gordurosas. Serão estasverdades dogmáticas ounão passarão de mitosquando se pretende contornar a ressaca do dia seguinte?

O que é a ressaca? Em termoscientíficos, há “múltiplas teoriassobre a ressaca”, começa por referir odocente da Faculdade de Medicinada Universidade de Coimbra(FMUC), Carlos Fontes Ribeiro. O ál-cool que se encontra mais frequente-mente em bebidas alcoólicas, como ovinho ou as cervejas, é o etanol, co-mummente conhecido por álcool etí-lico. O médico e ex-diretor do CentroRegional de Alcoologia do Centro(CRAC), Augusto Pinto, explica que“a ressaca tem a ver com o facto deum dos produtos em que o álcool setransforma, no nosso organismo, serresponsável por um conjunto de in-toxicações e efeitos”.

Esse produto da metabolização doetanol designa-se por acetaldeído. Onome pode parecer complicado masbasta dizer que é um composto alta-mente tóxico, cuja transformação,em acetato e água, deve ser rápidapara que deixe de se sentir esse efeitonocivo no organismo. Simplificando,o acetaldeído “vai originar, entre ou-tras coisas, dores de cabeça, enjoos,má disposição geral, erupções cutâ-neas”, demonstra Augusto Pinto. Naressaca aumentam os níveis da hor-mona antidiurética, responsável peloaumento da diurese, a eliminação deurina pelo organismo. Por exemplo,refere Fontes Ribeiro, “não se fica

com a cerveja, pede-se emprestada”.

Quando o vinho desce, as palavras sobemOutra das consequências do con-sumo de álcool é a desinibição doSistema Nervoso Central (SNC). Ul-trapassado o consumo moderado deálcool, é frequente dizer-se que até apessoa mais tímida se solta. Segundoo ex-diretor do CRAC, tal deve-se “aoefeito depressor do álcool sobre de-terminadas áreas do córtex cerebral,nomeadamente a região frontal”, res-ponsável, entre outros, pelo compor-tamento social e pela censurainterna.

O dia seguinte é o conhecido dia da

ressaca. Entre os “remédios” commaior disseminação popular con-tam-se o café e as comidas gorduro-sas. Fontes Ribeiro é perentório aoafirmar que “tomar café na ressacanunca, a não ser que se enchesse comaçúcar, tipo xarope”, aproveitandopara brincar um pouco com o mito.Ou seja, o café é um erro porque afase da ressaca seguinte à depressoraé a da excitabilidade, pelo que acres-centar um composto energéticocomo a cafeína tem sempre efeitosnocivos. Quanto às comidas gordu-rosas, prossegue o docente daFMUC, há contradições: “eu diriaque uma pessoa com ressaca a comergorduras não se deve sentir nada

bem”. Afinal, reside aqui a explicaçãopara as náuseas e vómitos no dia se-guinte, porque o álcool atua como ir-ritante das mucosas do estômago edos intestinos.

Há quem diga que em tempo deLatada ou Queima, é melhor mantero estado de ressaca permanente, istoé, acordar às 17h e continuar a beber.Augusto Pinto explicita que “o serhumano está preparado para meta-bolizar o álcool mas apenas em pe-quenas quantidades”. Para além dofígado, o órgão que faz a metaboliza-ção do álcool, em caso de excessos,entra em ação uma outra via trans-formante - a microssomal, normal-mente usada na degradação de

medicamentos.

A evolução e o futuroÉ um facto incontestável que o serhumano não foi preparado para me-tabolizar todo o álcool ingerido. O ex-diretor do CRAC fala um pouco darelação entre a evolução humana e aresistência às substâncias alcoólicas:“durante a nossa evolução não tive-mos contacto com o álcool. Não éuma substância natural, foi produ-zida precisamente pelo homem”.Comparativamente a nós, o álcool éuma substância recente, com umcontacto extremamente precoce coma nossa espécie. “Existe provavel-mente há cerca de 10, 20 mil anos. Sepensarmos nas bebidas alcoólicasmais consumidas, tem ainda menostempo, entre três a quatro mil anos.Bebidas destiladas, então, só depoisda descoberta da alquimia, há cercade mil anos”, conclui Augusto Pinto.

Não se pode falar em ressaca semse abordar o início do problema,mais ainda num mundo cada vezmais sem fronteiras e num meiojovem. Ao contrário da obesidade, oalcoolismo jovem é encarado comoirrelevante pela sociedade. “Eu diriaque sim”, inicia Augusto Pinto, “porvárias razões, e uma delas tem a verprecisamente com a forma como asociedade olha para a problemáticado álcool. A droga de eleição da Eu-ropa Ocidental é o álcool e isso fazcom que se defenda e até aceitemuito mais facilmente a alcoolização,a embriaguez, até por razões econó-micas”. A quantidade de álcool quecircula na noite e, especialmente, emcelebrações académicas, espantaFontes Ribeiro: “se estão a comemo-rar um acontecimento, que é legítimoque o façam, é preciso ficar bêbado?Até porque um indivíduo bêbado ficacom as funções cognitivas perturba-das. Está a comemorar o quê? Isso éque eu não entendo!”.

STephAnIe SAyURI pAIxãO

O facto de o alcool ser a droga de eleição da europa Ocidental torna a embriaguez um ato banal

Joel Saraiva

Paulo Sérgio Santos

Page 16: Edição nº 253

PAÍS16 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

a última quarta-feira, 14,Portugal amanheceu semcomboios a circular. Ostrabalhadores do setor

ferroviário uniram-se à greve geral,em que vários profissionais de-monstraram o seu desagrado paracom as medidas de austeridade queo Governo está a adotar, nomeada-mente o novo Orçamento do Estadopara 2013. A greve dos ferroviáriosjá não é nenhuma novidade desde2010 , ano em que foram efetuadasdiversas paralisações dos revisores,operadores de bilheteira, maquinis-tas e trabalhadores das linhas fér-reas.

É difícil encontrar portuguesesutilizadores dos caminhos-de-ferroque nunca tenham sido afetados nosúltimos anos por causa dessas para-lisações. “Ainda nesta quarta-feira,quando houve a greve geral, não tivecomboio”, conta Daniel Coutinho,estudante em Coimbra, que dependedo transporte para regressar à sua“terra natal”. A também estudanteLuísa Vieira já sofreu do mesmoproblema, e acrescenta que faltamtransportes alternativos: “já fui ob-rigada a perder aulas à custa disso”,afirma.

Cortes no setor ferroviárioOs trabalhadores do setor ferroviá-

rio queixam-se sobretudo dos exces-sivos cortes no meio, como o conge-lamento das progressões na carreirae os cortes salariais. De acordo como presidente do Sindicato Ferroviá-rio da Revisão Comercial Itinerante,Luís Bravo, em 2011 “os trabalhado-res perderam com o orçamento para2012 o equivalente a quatro salá-rios”.

Os despedimentos são outra rea-lidade que assombram trabalhado-res dos comboios em Portugal.Segundo Luís Bravo, em cinco anos

a Comboios de Portugal (CP) redu-ziu 15 mil trabalhadores para apenascinco mil. “As pessoas são convida-das a sair com rescisão de mútuoacordo”, denúncia o dirigente sindi-cal e aponta para uma consequênciaespecialmente grave: “quando sãorescisões de mútuo acordo trans-mite-se a ideia de que não houvedespedimentos”.

Outra das queixas partilhadaentre trabalhadores e utilizadores é

o aumento das tarifas dos caminhos-de-ferro. “Temos sido combatentescontra essa maneira de gerir a em-presa e os transportes públicos por-que isso reduz a mobilidade daspessoas, nomeadamente dos estu-dantes”, reitera o representante dosindicato dos revisores.

Desde o final de julho deste anoque os trabalhadores das empresaspúblicas do setor ferroviário, comoa CP e Rede Ferroviária Nacional(REFER) fazem greves para contes-tar as alterações introduzidas nosAcordos de Empresa. Isto porque asequência das alterações ao Códigodo Trabalho diminuiu para metadeo pagamento do trabalho em horasextraordinárias, dias de descansossemanal e feriados.

“Não trabalhamos em horas ex-traordinárias, nem nos nossos diasde descanso e feriados. Se não nospagam, não trabalhamos“, assegurao coordenador sindical do SindicatoNacional dos Maquinistas, NunesCarvalho, a propósito das greves seterem tornado cada vez mais fre-quentes, particularmente no setordos operadores das locomotivas.

Os sindicatos apontam acima detudo a falta de vontade dos órgãosde chefia em investir nos caminhosde ferro: “percebemos a realidade dopaís, não somos utópicos”, confirmaNunes Carvalho. No entanto, consi-

dera que as reivindicações dos tra-balhadores ferroviários não chegammuita vezes à opinião pública e con-sidera que “as reivindicações nãosão muitas, como querem fazer pa-recer. A única reivindicação é que aempresa pague pelos dias de traba-lho”

Consequências das greves e os impasses com o governo“Em 2012, já foram suprimidos9978 comboios devido às greves rea-

lizadas”, afirmou a porta-voz da CP,Ana Portela, em declarações presta-das em julho ao semanário Sol.Além dos comboios que são supri-midos, as greves dos trabalhadorestem tido consequências muito nega-tivas na perda da receita. Em 2011,as perdas ascenderam aos oito mi-lhões de euros, segundo o relatóriode contas da empresa ferroviária.

As greves no transporte ferroviá-rio nos últimos dois anos levantam

também as questões que afetam di-retamente os utilizadores, como me-didas que põem em causa as tarifassociais: “nomeadamente os estu-dantes e os passes sub-23 que per-deram na totalidade este ano”,afirma o dirigente do sindicato dosrevisores.

Outro problema apontado é ofacto de alguns trabalhadores dosetor não estarem vinculados à fun-ção pública e mesmo assim integra-rem empresas com participações doEstado e que sofreram cortes seme-lhantes aos dos funcionários públi-cos. “Encontramo-nos no pior dedois mundos”, declara Luís Bravo.

Apesar de muitos apelos para odiálogo e das denúncias por partedos sindicatos, atualmente não háreuniões entre as empresas e as cen-trais sindicais para chegar a umacordo. Adivinha-se assim, um fimdas paralisações ainda distante. ParaAbílio Carvalho, coordenador doSindicato Nacional dos Trabalhado-res Ferroviários associado à inter-sindical da CGTP, há intransigênciada parte do Governo - “não há aber-tura por parte do Governo atual-mente para discutirmos o que querque seja“. Relativamente à posturado executivo no que concerne a estasmatérias: “não temos tido respostasconcretas, a não ser que não há nadaa fazer“, sublinha Abílio Carvalho.

Luta ferroviária sem fim à vistaas greves têm afetado os utilizadores dos caminhos-de-ferro que veem-se muita das vezes sem alternativas de transporte

O setor ferroviário encontra-se frequentemente em greve desde 2010 e o conflito laboral não parece ter solução a curto prazo. As empresas do meio vêm se abraços com perdas de receitas que ascendem a vários milhões de euros. Por António Cardoso e Stephanie D’Ornelas

“São rescisões demútuo acordo transmite-se a ideiade que não houvedespedimentos”

N

“Não há abertura porparte do Governoatualmente para discutirmos o quequer que seja”

arquivo - joão gaspar

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20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 17

MunDO

Constituição popular na Islândia

uatro anos após o despole-tar da crise financeira, osislandeses optaram porum novo rumo, exigindo

que o conteúdo de uma futura cons-tituição fosse levado a referendo. Asgraves consequências do colapso fi-nanceiro em 2008 levaram a umclima de tensão político-social. A Is-lândia é um país que tem figuradoentre o rol dos estados mais desen-volvidos a nível mundial, e frequen-temente presente no topo de vários‘rankings’. O abalo sofrido em 2008levou a uma perda de confiança naclasse política, o que resultou natransferência do processo de deci-são para a esfera da sociedade civil.

A Islândia gozava de um estatutode desenvolvimento invejável. Naspalavras do colunista do Jornal Ex-presso e antigo dirigente do Blocode Esquerda, Daniel Oliveira, a Is-lândia é “um dos países com meno-res desigualdades na Europa”,gozando também de “uma forte coe-são comunitária e social”. Com umaindústria transformadora assentena metalurgia, um setor pesqueirosignificativo, um setor turístico emcrescimento e mais-valias advindasda energia geotérmica, a Islândiasofreu uma reviravolta após a crise.A resposta a este problema partiudo atual Governo que ao não canali-zar recursos para resgates à banca, eao optar por uma política de desva-lorização cambial: em virtude de termoeda própria conseguiu reestabe-lecer a economia. “A Islândia contí-nua a ter alguns problemas porresolver”, reitera Daniel Oliveira.

Processo de revisão resulta numa consulta popularApós a eleição de quatro deputados

independentes e de três pelo Movi-mento dos Cidadãos nasceu umprocesso de revisão constitucionalque resultou num processo de con-sulta popular que se traduziria numreferendo. País pequeno e cuja ca-pital reside em dois terços da popu-lação, a Islândia sempre sepredispôs a formas mais diretas deação democrática. Tendo, por exem-plo sido facultado aos cidadãos a hi-pótese de propor as alterações àconstituição, algo inédito em demo-cracias ocidentais. Esta inovaçãopolítica “confere maior legitimi-dade” à nova constituição devido ao“modo como foi feita, através deuma forma muito mais participa-tiva”, nas palavras do constitucio-

nalista e professor na Faculdade deDireito da Universidade de Lisboa,Jorge Miranda.

Quando questionado sobre a pos-sibilidade de um procedimentoconstituinte semelhante ao islandêsem Portugal, a hipótese é descar-tada pelo professor de Direito querelembra que “a atual constituiçãonão permite a adoção de um refe-rendo para revisão constitucional”,sendo necessária uma revisão cons-titucional para que isso seja possí-vel. Postura semelhante é tambéma de Daniel Oliveira que afirma que“deveríamos ter uma democraciamais direta”, mas não “de forma tãoalargada como na Islândia” vistoque a população é maior e a socie-

dade civil menos participativa.Em períodos conturbados os ape-

tites políticos populares tendem apolarizar-se. A questão presente naconstituição da Islândia apresenta-se não como uma aspiração juvenila valores democratas mas substan-cia-se de facto num passo determi-nado, em direção a umaparticipação política ativa real: “es-peramos que a nova constituiçãovenha a ser um novo pacto socialque levará à reconstrução e à recon-ciliação. E para que isso aconteçatoda a nação tem de estar envol-vida”, afirma a primeira-ministra daIslândia, Johanna Sigurðardóttir,no Jornal “The Guardian”.

Com antónio Cardoso

Depois do terramoto de2010 o Haiti, motivadopela devastação do Sandy,volta a pedir ajuda. Algumas organizações humanitárias poderão retirar-se em 2013

“A ONU e o governo haitiano têm-se multiplicado em apelos e estão apedir 40 milhões de dólares, urgen-tes, que irão ser distribuídos pela ali-mentação, agricultura, abrigos, saúdee água potável”, afirma a responsávelpela comunicação da UNICEF noHaiti, Mariana Palavra, que se en-contra em Porto Príncipe. O novo pe-

dido de ajuda surge na sequência dapassagem do furacão Sandy peloHaiti, no final do mês de outubro.

Em janeiro de 2010, o país já tinhasido atingido por um terramoto quedeixou 1,3 milhões de pessoas desa-lojadas, a viverem em campos de des-locados, e originou um grave surto decólera, provocando mais de 7600mortes. A instabilidade política que oHaiti atravessa, segundo Mariana Pa-lavra, constitui um entrave ao pro-gresso do país, com a “quedasucessiva de governos, não permi-tindo a continuação de políticas”.

A passagem do furacão Sandy peloHaiti deixou para trás um rasto dedevastação. Nas palavras da colabo-radora da UNICEF, o Sandy “des-truiu praticamente todas as culturasdo sul, provocou 54 mortos e, pelomenos, 29 mil pessoas foram direta-mente afetadas”. Embora o número

de haitianos afetados indiretamentechegue ao 1,5 milhões, nomeada-mente em termos de alimentação.

Umas das primeiras preocupações,quer com o Sandy, quer com qual-quer outra catástrofe, é a cólera.Ainda assim, este ano, o número decasos e o número de contágios baixa-ram. A portuguesa em Porto Príncipeassevera que declarações feitas peloMinistério da Saúde, na última se-mana, adiantavam “que apesar de setemer o pior, houve um ligeiro au-mento do número de casos de cólera,mas não tão significativo como se es-perava”. Este esforço foi conseguidocom a ajuda das muitas organizaçõesque continuam no terreno, desde2010, e trabalham para evitar a pro-pagação da doença.

Mariana Palavra, no Haiti desde2009, reitera que “2012 poderia ser2009. Vejo as mesmas pessoas nas

ruas, a fazerem os seus negócios in-formais”. Acrescenta que, “no campo,as pessoas vivem à custa de algumacultura que têm e do pouco que culti-vam “. Por outro lado, também se ve-rificaram mudanças positivas. Ogoverno, em conjunto com organiza-ções internacionais, conseguiu au-mentar o número de crianças emidade escolar que vão à escola de 50por cento para 80 por cento e conse-guiu reduzir para metade a má nutri-ção no país.

Por fim, a comunicadora da UNI-CEF no Haiti mostra-se alarmadacom o fim do período de três anos deduração dos fundos de emergência:“2013 vai ser um ano determinante ,grande parte das organizações vãopartir em janeiro e a comunidade in-ternacional vai abandonar, significa-tivamente, o país”.

Com Pedro Martins

Haiti no precipício do esquecimento

stephanie sayuri paixão

redes sociais têm sido uma das formas de participação na elaboração da nova constituição

Bárbara Sousa

Crise financeira origina mudança política. Propostas de revisão constitucionalsão levadas a referendo. Inovação política revela “uma forma muito mais parti-cipativa”. Por Luís Azevedo e Pedro Martins

Q

d.r.

out’08

Governo nacionaliza maioresbancos do país e faz primeiropedido de ajuda ao FMI. Dão-se os primeiros protesto con-tra as politicas o governo doprimeiro ministro Geir Harde.

nov’08

FMI aprova o pedido de ajudae os protestos intensificam-se.

Jan’09

Escalada de protestos e GeirHarde demite-se e Presidenteda República convida JohannaSigurdardottir da aliança socialdemocrata a formar governo.

Mar’10

Após proposta do PresidenteÓlafur Ragnar Grimsson, rea-liza-se um referendo: os islan-deses recusam pagar a dívidados bancos islandeses aos es-tados britânico e holandês.

nov’10

São eleitos os delegados paraa Assembleia Constitucional,que inicia a elaboração danova constituição.

aBr’11

Realiza-se mais um referendoonde os islandês se recusam apagar as garantias de emprés-timo dos bancos islandeses.

out’12

islandeses aprova as propostasde revisão constitucional numreferendo não-vinculativo.

da Crise À nova

Constituição

Page 18: Edição nº 253

artes18 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | terça-feira

a saga 007, um filme ge-ralmente parece ser defi-nido pelo desempenho

directo do actor que interpreta o tãocaracterístico James Bond. A ver-dade é que, neste caso, o irrepreen-sível Daniel Craig estliliza aindamais o seu personagem que, com aajuda da história – clássica em ter-mos de ideia, porém inovadora noque procura – se desenvolve aolongo do filme. E isto disponibiliza-nos para estarmos atentos a maispormenores, e a olharmos além dosfatos desenhados por Tom Ford edos Martinis do costume, atémesmo do Aston Martin.

O terceiro filme da era DanielCraig, que penso ser dos melhoresa desempenhar este papel até hoje,funciona como um ‘time out’, comuma textura que me permite dizer“agora sim, percebo este tipo”. Por-que ao contrário de recentes prota-gonistas, James Bond é nestatrilogia, em especial neste filme, de-

senhado desde o seu passado ao seuincerto futuro. Mas não só ele: tam-bém a M (Judi Dench) é dada umaprofundidade que não se avista emoutros filmes. A ideia de que M porvezes não confia em Bond paraagente 007, que é vista em “CasinoRoyale” e complica em “Quantumof Solace”, é neste filme imposta deuma forma quase geométrica, umtanto rectilinea, o que a enriquece.E uma das coisas que torna estefilme especial é o facto de ter umapremissa inovadora, o que lhe dáum carácter promissor.

É, no entanto, depois, quando ofilme avança, que as coisas se de-sintegram. O seu início forte e assi-métrico leva o espetador para umasala de suposições que, nos primei-ros vinte minutos do filme, se ema-ranham todas. E isto é bom,especialmente num filme que ree-dita o que já foi visto 22 vezes nosútimos 50 anos. O grande problemaé o nó não ser exactamente desa-

tado pelos excelentes Neal Purvis,Robert Wade e John Logan na suaescrita, e o que se vê ao longo destasduas horas e meia é um estreitar dehipóteses que parece apenas poderacabar da forma que acaba – que,obviamente, não iria nunca revelar.

Posso, isso sim, revelar o interes-sante trabalho de Javier Bardem emrelação à sua personagem comovilão, “Silva”, um híbrido bissexualentre o Joker de Nolan e Anton Chi-gurh, o vilão por ele também inter-pretado em “No Country For OldMen” (Ethan & Joel Cohen).

A isto junto a qualidade supremadas cenas de acção, muito bem con-duzidas por Sam Mendes (“Ameri-can Beauty”), e uma banda sonoraequilibrada e adequada, a fazerlembrar o timbre clássico desta his-tórica saga. Quando se comemora o50º aniversário, 23 filmes depois, apergunta que o filme faz fica no ar:estará James Bond a ficar velhopara estas tropelias?

007 - skyfall

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name's Bond, Daniel Craig

CrítiCa De Manuel robiM

De

saM MenDes

CoM

Daniel CraiG

Javier BarDeM

JuDi DenCh

2012

á muito que a BBCnos habituou a sériesde qualidade irre-

preensível e esta não é excepção.Finalmente editada em Portugal,a primeira temporada de “Sher-lock”, que conta com apenas trêsepisódios de hora e meia, dá pro-vas suficientes de que estamosperante um dos mais notáveistrabalhos televisivos dos últimosanos. Adaptada das obras de SirArthur Conan Doyle, trata-se deuma versão moderna, respei-tando contudo o espírito das his-tórias clássicas, do lendáriodetective Sherlock Holmes e dosempre fiel John Watson.

Numa Londres contemporâ-nea, Holmes, brilhantemente in-terpretado por BenedictCumberbatch, é um autodeno-minado detective consultivo,

aquele a quem a polícia britânicarecorre em caso último de deses-pero, uma vez que a socializaçãoe o contacto humano não são oseu forte. Watson, a quem umsempre notável Martin Freemandá vida, é um médico que acabade cumprir dever militar no Afe-ganistão e se vê obrigado a divi-dir o apartamento com odetective. Desde logo percebe-mos que se complementam. En-quanto o médico tem jeito paraos cadáveres, Holmes trata doresto. Para ele, a palavra-chave édedução. Tudo advém dos por-menores. Aliás, a Holmes bastouo corte de cabelo e o coxear deWatson para concluir o seu pas-sado.

“Sherlock” é genialmente bemescrita e imaginada, ou não ti-vesse por trás as mesmas cane-

tas responsáveis pela moderni-zação de “Doctor Who”, e o maisinteressante é que, apesar dassuas origens e das infindáveis, equase sempre falhadas, tentati-vas de reprodução, consegue sermais inteligente, divertida e, so-bretudo, refrescante do que pra-ticamente qualquer sérietelevisiva hoje experimentada.Estes não são o Holmes e o Wat-son a que estamos acostumados– de sublinhar que o irmão deHolmes, Mycroft, e o seu eternoinimigo, Moriarty, também têma devida atenção –, mas nem porisso perdem o charme com queDoyle os escreveu. Que os maisdesconfiados não torçam o nariz,os elementos clássicos estãotodos presentes e o resultado ésublime.

a ciência da

dedução

Sherlock - Primeira temporada”

tiaGo Mota

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Artigo disponível na:

Série

De

Mark Gatiss

steven Moffat

eDitora

DvD Pris/BBC

2010

Page 19: Edição nº 253

feitas20 de novembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 19

pesar de não ser umnome reconhecido no fir-mamento da produção de

música electrónica, Andy Stottconta já o terceiro registo com Lu-xury Problems. O produtor deManchester, que vê nos ambien-tes obscuros o fio condutor deuma sonoridade quase maquinal,explora neste disco esses ambien-tes recorrendo a um instrumentomusical vulgar: a voz.

Com a ajuda de Alison Skid-more (aparentemente professorade piano do autor), Stott mani-pula esta voz de forma a criar tex-turas e guias melódicos querecriam a ideia de uma submersãosónica. Sem refrães, ou basslinespujantes (tendência cada vez maisaparente na música electrónica),os ambientes quase industriaispredominam, sendo apenas pau-tados, em certos momentos, porsimples, quase clássicas, batidasremanescentes de uma era em quea música de dança tinha em si um

rito espiritual. Ainda assim, as batidas surgem algo transfiguradas, o que re-

vela que Stott está não só atento ao passado, mas também ao fu-turo – não raras vezes apropria – se e aproxima-se do queconhecemos como era digital, fabricada e simulada. A manipula-ção da voz acaba por tornar este registo mais humano e belo, re-flectindo até as idiossincrassias e contrastes da nossa era (sendoos instragrams digitais que simulam a mais simples máquina ana-lógica um desses exemplos).

Mecânico e negro, Luxury Problems é praticamente uma via-gem por um ambiente fabril (não esquecendo a devida submer-são), quase assombrado, em que o ouvido é estimulado por cadasom, seja ele manipulado ou natural, ou simplesmente reverbe-rado. Numa colecção de contrastes, com momentos contemplati-vos, mas sem esquecer o pézinho de dança, este disco mostra cadavez mais como a música electrónica sai da pista de dança e passapara o quotidiano do ouvinte – e ao contrário da era digital, nãoé fácil e desafia-nos a cada audição.

usta a escrever sobre algo quenos fala da morte. Há qual-quer coisa que nos prende,

que nos leva à autocensura, a umaponderação das palavras. Isto porquenão é um romance que aqui se critica.Não é ficção, apesar de às vezes o pa-recer. São histórias de gente que mor-reu. Lá em cima, num Portugal quedesaparece - Trás-os-Montes. Genteque sabe que vai morrer, mas tam-bém gente que se aguenta ao lado dosque morrem, na mesinha de cabe-ceira, antes e depois.

Susana Moreira Marques faz-nostremer com “Agora e na hora danossa morte”. A jornalista, que cola-bora com o Jornal de Negócios e oPúblico, foi acompanhar um projetoda Fundação Calouste Gulbenkianque presta cuidados paliativos em al-deias de Mogadouro, Vimioso e Mi-randa do Douro. Entre Julho aOutubro de 2011, fez-se “a viagemsobre a morte”. Por aquelas bandasenvelhecidas, Susana encontrou his-tórias em lugares onde surgem lancesde poesia no céu roxo que vê ou nasaldeias nuas de crianças.

O livro começa por se lançar em re-flexões curtas da autora. Pedaços doque vê e ouve, do que pensa. Comoque se a sua intimidade também sedevesse abraçar àquela dos que lhefalam. E como seria possível, ao via-jar até à morte de outros, seres pal-páveis e não ideias de papel,

conseguir alcançar o distanciamento,deixar de ser cúmplice? Mesmo assu-mindo essa aproximação, SusanaMoreira Marques não sucumbe a pie-guices, antes nos deixa pausas, silên-cios longos, como que espaços paranós refletirmos, por entre uma escritasem gorduras. As notas agarram, emmomentos de uma beleza singular,que a jornalista partilha connosconum olhar que se casou com a poesia.

Surgem depois as histórias degente a braços com a morte, pela vozda autora e pela dos que lhe contam.E aí conhecemos Paula, que luta pordizer que está sempre “fina”. Conhe-cemos João que tem medo de morrerprimeiro que Maria enquanto olhamos dois para a lua que é igual em An-gola, onde viveram. ConhecemosElisa e Sara, filhas de Rui, homemque fez questão de preparar a suamorte. Conhecemos estas históriasque ganham uma intimidade incrível,como se fossem desabafos. A autoradá-lhes a voz, deixa-os falar, e aí arealidade estala. É a voz. Aquela vozexiste. É de pessoas a falarem dosseus medos, dos seus sonhos ou dassaudades.

No seu primeiro livro, Susana Mo-reira Marques não pede licença paraesbater limites de géneros literários emostra como a realidade pode termais poesia que muita cabeça depoeta.

esident Evil 6” (RE6) é comoa Hidra: 4 cabeças num sócorpo, 4 jogos num só disco,

4 concepções de entretenimentonuma só experiência. Cada cabeçatem fisionomia e personalidade dis-tinta - Leon, Chris, Jake e Ada - 4campanhas unidas numa besta he-dionda e disforme, criada para en-frentar um Heracles avassalador: opúblico contemporâneo do meio.Leon apela aos fãs incondicionais dasérie, recuperando ambientes icóni-cos dos capítulos originais, enquantomantém o estilo frenético da acção deRE4, com a campanha de Ada a com-plementá-lo com um foco maior empuzzles e exploração. É aqui que sevê o que ainda resiste de bom em RE:um design de jogo tenso e pausado,que não tem medo de retirar controloao jogador, níveis pintados na esté-tica gótica assombrosa de TomonoriTakano (porventura os melhores ce-nários desde RE0) e um desenho demonstros digitais que é tão enojantecomo os artifícios do “The Thing”. Fi-cássemos por aqui e Eiichiro Sasakimereceria um comedido aplauso, sóque há mais cabeças neste monstro:Chris vê inchar o seu modo bruta-montes cinzentão de RE5 para agra-dar as audiências da fantasia militarde “Gears of War” e Jake adiciona-

lhe as ‘set-pieces’ explosivas de “Un-charted”. Pelo meio, arranjam aindaespaço para citar “God Hand”, “ClockTower” e fazer uma homenagem a“Demon Souls”. Confuso? É casopara isso, RE6 é o fruto de uma inde-cisão descomunal sobre que direcçãodar à série e nota-se. Claro que aculpa também é do tempo em que vi-vemos, que permite esta obscenidadeque é um vigésimo primeiro jogo nasaga. Haverá alguém ingénuo o sufi-ciente para esperar algo de autênticosaído desta linha de montagem? Éóbvio que não, mas o que dói mais éperceber toda a mestria que subsistena Capcom, tornada agora subser-viente a um mercado pobre em refe-rências e avesso à mudança. Aindaassim, cumpre-se com brio a enco-menda para esta monstruosidade lú-dica, que apesar de tudo se vislumbrafadada a sofrer uma morte inglórianas mãos de um público que quer éjogar “Call of Duty” e uma comuni-dade crítica que apenas preza o he-donismo de segunda de “DeadSpace” ou “Left 4 Dead”. RE6 é muitomau… mas depois também o são osjogos. Este ao menos tem os seus mo-mentos.

OUvir

De

susana Moreira Marques

eDitora

tinta Da China

2012

De

anDy stott

eDitora

Molov

2012

luxury Problems”

JoSé MiGuel Silva

Artigos disponíveis na:

Cagora e na hora da nossa morte”

rui Craveirinha

João GaSPar

resident evil 6”

JOGar

a hidra

GUerra DaS CaBraS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

Ler

a fábrica no

fundo do mar

R

Jornalismo

com um ombro

encostado na

poesia

PlataforMa

Ps3, XBoX 360

eDitora

CaPCoM

2012

A

Page 20: Edição nº 253

A roda já foi inventada,Camões e Pessoa já foramprofusamente lidos e estu-

dados, há poucos meses foi anun-ciada a descoberta do bosão de Higgs.A comunicação a grande distânciacom voz e imagem – tão brilhante eutópica no filme “2001 Odisseia noEspaço” - já nos parece um pilar im-prescindível, quase banalizado, da co-municação quotidiana.

A lista de descobertas, de criações eavanços desta civilização de que faze-mos parte é imensa mas, cada vezque aumenta, acrescenta novas en-tradas à lista do que está por fazer,num processo de contínuo e intermi-nável desafio.

Não foi nas Universidades que seinventou a roda, apenas porque issoaconteceu antes de “inventarem” asUniversidades. Mas se a ordem dostempos fosse inversa, alguma relaçãoteria existido porque é aqui, ao longode séculos, o local da síntese do co-nhecimento, o local da síntese da dú-vida, o local do impulso para queoutras áreas da sociedade desenvol-vam, concretizem e operacionalizemas grandes mudanças no mundo.

Nesta época em que o mercado de-termina muito das nossas vidas e in-vade, com os seus conceitos elinguagem, os mais diversos domí-nios, é natural que a Universi-

dade tenha que falar do seu

“produto”. E se tal produto existe eé passível de definição e carateriza-ção, então é possível questionar a suaqualidade e o modo como esta é defi-nida e aferida. E que tipo de bem

se produz? É perecível? Tem prazode validade? É reciclável? Qual é asua pegada ecológica? Qual é a sua

sustentabilidade?

Em cada momento da história épreciso ler os seus sinais para melhorlhe responder e as Universidades

têm hoje esse desafio muito

claro, num tempo em que as suasfronteiras não são o seu espaço terri-torial, num tempo em que a comuni-dade universitária alargada inclui asempresas, o mundo artístico, as po-pulações e os governos que as in-fluenciam e dela usufruem.

Ler os sinais da história não podeconfundir-se com alinhar, de formaprecipitada e imediatista, com a con-juntura, fechando e abrindo cursos,valorizando e desvalorizando forma-ções e pesquisas ao ritmo das transa-ções da bolsa de valores. Ler os

sinais da história implica, refle-

xão, diálogo, humildade e con-

vicção e, talvez entre as mais difíceisexigências, o discerni-mento sobre oa d e q u a d ograu de re-siliênciapara aprosse-cução degrandesobjetivosde médio elongo prazo.

A Universi-dade não édona do conheci-mento mas temcomo principalmissão

produzi-lo e difundi-lo. Pode fazê-lode modo autista, num circuito fe-chado e autoalimentado, garantindoa pureza do produto final, mas a rodaque assim inventar será, porventura,mais redonda, mas não vencerá os ca-minhos do desenvolvimento, da apro-ximação de povos e culturas, dorespeito por um planeta de recursoslimitados, da gestão das crises econó-micas e da eliminação das injustiçassociais.

O que se conhece das Universida-des? Que imagem têm os cidadãos doque se passa porta dentro, do quepassa nos laboratórios, do que sepassa nos projetos, do que se passa naenorme universidade virtual da nossaera? Apesar do muito que se fez nasúltimas décadas, a Universidade

tem que prosseguir e reinventar

a sua abertura ao exterior.

Ninguém ousaria pensar que al-guma vez haveria vida em excesso. E

porquê pensar que alguma vez ha-verá conhecimento em excesso?

Também não há Universidadeem excesso, mas sim uma uni-versidade que precisa de sereencontrar, de redefinir assuas fronteiras e de recriarpermanentemente uma rodaque melhor possa vencer os

caminhos para um mundomais criativo, mais justo e

mais feliz.

SolTaS20 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

uma ideia Para o eNSiNo SuPerior

JoSé raimuNdo meNdeS da Silva • Prof aSSociado do deP. de eNgeNharia civil, fcTucexPloSão ríTmica

Longas noites de Jazz encontram-se na Baixa de Coimbra, no SalãoBrazil, desta vez com presenças musicais longínquas. Nobuyasu Fu-ruya tem ascendência japonesa, e depois de uma curta passagem pelascidade de Berlim, mudou-se para a capital portuguesa. Furuya alternaentre o saxofone tenor, o clarinete baixo ou a flauta, que criam coresnovas à música que explora. Nobuyastu não vem sozinho e traz Her-nani Faustino no contrabaixo e Gabriel Ferrandini na bateria - um trioavassalador.

Do silêncio da sala irrompem as primeiras batucadas de Ferrandinique se misturam com as cordas de Faustino e a flauta de Furuya. A in-tensidade rítmica cresce nas baquetas até os três instrumentos atin-girem o máximo da força, numa estrutura musical livre e sem amarras,onde cada um dos músicos extrai o possível e o impossível do seu ins-trumento.

O trio cria um estilhaço de sons que cai novamente em silêncio. Apausa permite outra introspecção e deixa-nos começar de novo o cres-cendo rítmico e enérgico que os três transmitem quase uma hora semparar. A seguir a um curto intervalo Nobuyasu dá novas linhas meló-dicas e vemos cada um dos músicos como universos paralelos que seconectam entre si e geram harmonia perfeita: Gabriel Ferrandini éuma explosão frenética na percussão, Hernani Faustino é muito se-guro no contrabaixo, e Nobuyasu Furuya poderoso no saxofone.

Nobuyasu Furuya Trio improvisa utilizando todas as possibilidadesdo 'Free Jazz', incansáveis de início ao fim com toda a capacidade téc-nica. Ouvir 'New Thing' deste trio não serve qualquer ouvinte, nemmesmo a um qualquer apreciador de jazz. Pode até ser difícil para osmais desprevenidos, mas poderá ser o caso não da música que quere-mos, mas aquela de que precisamos.

Por Filipe Furtado

Do proDuto e Da sua qualiDaDe e sustentabiliDaDe

criTic’arTe

D.R.

A minha ponderação na es-colha de Coimbra para seguir os es-tudos superiores teve como principalfactor o equilíbrio entre distância decasa de meus pais, de forma a desen-corajá-los a visitarem-me inespera-damente, assim como minimizar damaçada de utilizar um transporte pú-blico quando os tivesse de visitar. Aescolha era reduzida, porque paraalém do Porto que não obedecia àsprimeiras premissas, existiam aspossibilidades de Coimbra e Lisboanas quais já tinha, respectivamenteum irmão e irmã mais velhos. Comoas relações com irmãos mais velhossão propensas a tensões crescentes,previ que o meu irmão estivesse maisinteressado em tocar fado do que

com o irmão mais novo, evitandoassim tornar-me mais um calhau doTécnico.

No ano de 1994, ano da minhachegada a Coimbra, era Ministra daEducação Manuela Ferreira Leite,aquela que há poucos dias invocou asuspensão da democracia para resol-ver alguns problemas da nação, pen-samento na linha do “nunca meengano e raramente tenho dúvidas”do nosso tão prestigiado Presidenteda República, Aníbal Cavaco Silva,que ultimamente sofre dificuldadeseconómicas devido à retenção desubsídios e aumento de impostos.Nem mesmo os seus investimentosempreendedores no Banco Portu-guês de Negócios, propriedade da

Sociedade Lusa de Negócios, admi-nistrada por Manuel Dias Loureiro,Ministro da Administração Internado XII Governo Constitucional, lhevalerão uma fatia de bolo rei esteNatal.

Nessa altura aqui em Coimbra enas restantes universidades, contes-tava-se a Lei nº 20/92 - Lei das Pro-pinas, pelos mais variados meios,que se estendiam desde o requeri-mento aos Serviços de Acção Socialpor uma bolsa de estudo, de forma apossibilitar a inscrição sem o paga-mento prévio da propina, até ao “NãoPago” exibido em autocolantes e fai-xas assim como nas nádegas de al-guns colegas.

Embora o mais exposto pela co-

municação fossem estas acções, al-gumas inteligentes outras mais cari-catas, havia mais que se contestava eexigia. O discurso reivindicativo nãose limitava ao aumento da participa-ção das famílias no custo do EnsinoSuperior através da propina, exigia-se também mais acção social escolarpara estudantes carenciados, melho-res serviços de alimentação e aloja-mento, melhores instalações parasalas de aulas e laboratórios, regimede avaliação contínua de forma a me-lhorar a pedagogia, pela autonomiada universidade, enfim por uma efec-tiva democratização do Ensino Supe-rior.

Os defensores do aumento daspropinas ludibriavam-se afirmando

que serviria para satisfazer todas asoutras reivindicações, que as receitasdelas provenientes seriam aplicadasnas universidades sem que impli-casse uma desresponsabilização doEstado no financiamento do EnsinoSuperior, aumentaria a autonomiadas universidades, reforçaria a AcçãoSocial Escolar, etc.. Como qualquerum pode constatar, devido à fragili-dade económico-social, todos osgraus de ensino são cada vez maiselitizados, as cantinas fecham, asuniversidades perdem autonomia, osestudantes representatividade, a pe-dagogia pode sempre esperar.

Naquele TemPo...Por Torcato Santos

Rafaela CaRvalho

D.R.

Page 21: Edição nº 253

quele livro não ajudou. Al-guém tinha oferecido aoNovais uma colectânea de

discursos do Churchill e foi mal jo-gado. Aquele livro não ajudou nada;piorou tudo.

No dia 18 de Abril de 2009 decla-rou que ia deixar de ouvir rádio. Istoporque todas as músicas lhe faziamdemasiado sentido, lembravam-nodela. Odiava as recordações umpouco mais do que odiava o cliché(esse, de ouvir canções na rádio etudo fazer sentido). “When a manloves a woman/ can’t keep his mindon nothing else” – pois não, hecan’t. Ainda para mais, juro, houveuma vez em que o Novais apanhouessa canção na rádio cantada peloMichael Bolton, mudou rapida-mente para outra estação e, juromesmo, estavam a passar a versãooriginal da música, pelo Percy

Sledge. Assim é natural que nãoconsiga concentrar-se em nothingelse.

Em 29 de Setembro de 1938, oPrimeiro Ministro do Reino Unido,Neville Chamberlain, reuniu-se emMunique com líderes das maiorespotências europeias, entre eles ochanceler Adolf Hitler. O regresso aInglaterra revelou-se triunfante.Neville trazia um acordo assegu-rando que alemães e ingleses jamaiscombateriam entre si. Só cabia aosbritânicos consentirem uma certaanexação de partes da Checoslová-quia por uma certa Alemanha nazi.Era pela paz! Pelo futuro! Cham-berlain foi herói e os súbditos deSua Majestade rejubilaram com otratado. Mas, nem todos: à cabeçada dissonância estava um descon-fiado, gordo, palavroso e capciosoWinston Churchill. Quando discur-

sou na Câmara dos Comuns a 5 deOutubro, Churchill arrasou oacordo de Munique. Apelidou-o de“total e categórica derrota”. Era-lheclaro que se tratava da primeira ca-pitulação numa guerra iminente.Uma guerra do Bem contra o Mal.

Alguém tinha oferecido ao Novaisuma colectânea de discursos doChurchill e foi mal jogado. Não aju-dou nada. O livro abria com o taldiscurso de 5 de Outubro de 38 e oNovais revia-se em tudo:

Sentiu-se Checoslováquia, inva-dida aos poucos pela Inês. Ela fin-giu querer apenas um curtoterritório de beijos mas, num ápice,anexou-lhe a totalidade do corpo,coração à cabeça.

Sentiu-se Chamberlain, ao segu-rar uma paz aparente só para nãoter de reconhecer os intentos ex-pansionistas da Inês. Ela já andava

de olho noutrasmesses, era tãoóbvio.

Sentiu-seum britânicorejubilante faceao acordo depaz. O Novaistinha evitadoconfrontar aInês com as dú-vidas que o cer-cavam; assimnão discutiam.A paz parecia-lhe mais palpá-vel que assuspeitas, logorejubilava. Ouadormecia. Éténue, a linhaentre júbilo eignorância.

O que o Novais não mereceu foium Churchill, mas teve-o. O Tomé(curiosamente o mais magricela detodos os amigos) deu-lhe na cabeça,tanto, mas tanto. Só não chamou àInês uma “total e categórica der-rota” porque o vernáculo permitiuresumi-la com nomes mais curtos edeselegantes.

Rasgou o livro, essa cruel e pas-siva máquina do tempo. Mas o queé que tinham na cabeça aquelasgentes dos anos 30?? Apeteceu dar-lhes um abanão póstumo. Não eraóbvio que Hitler, mais do que dita-dor, era uma figura do Mal? Aquelerisco ao lado podia ter alguma coisado Bem? O bigodinho aspirava sermais do que demoníaco? Aquelesolhos esverdeados dela podiam seroutra coisa que não hitlerianos? Otraseiro exemplar podia prenunciaralgo mais que genocídios afectivos?

No fim de Maio de 2009 a Inêsrompeu com o Novais e mudou-separa casa do César (não necessaria-mente por esta ordem). As tentati-vas de reconciliação foramperseguidas, capturadas e gaseadassem remorso (caso prefiram a cruel-dade dos factos, a Inês simples-mente as ignorou). O Novaisabateu-se muito e adquiriu com-portamentos estranhos. Rasgou li-vros e, após invulgar incidenteboltoniano, deixou de ouvir rádio.

Depois de César, Zé e Rui (em si-multâneo), Lúcio, Tomé e Fiúza, aInês estava de novo, não só dispo-nível, como particularmente dispo-nível para o Novais. When a manloves a woman não consegue pensarem mais nada – só nela, e até delase abstrai. Reataram. A 2 do 11 de2011 o Novais tornou-se negacio-nista do Holocausto.

SolTaS20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 21

romaNce hiSTóricoPor Samuel Úria micro-coNTo

ara Coimbra,Conheci-te contrariado. Euera jovem, tu nem tanto.

Contavas já anos férteis de histó-rias, ou de História fértil, comodesejares, mas para mim eras umapalavra, o nome de uma cidade,Coimbra, onde sabia existir umPortugal dos piquenos e sanguecoalhado nas rochas da fonte,pouco mais. Apresentaste-te decara limpa, à tua maneira,atraente, colina de voluptuosascurvas reflectida no leito do Mon-dego, imagem de postal, certa-mente milhares de vezesreproduzida, de preferência sepintada com laranjas e douradosde pôr-do-sol, tons que sempredão outro ar à serigrafia posta-leira.

Quis o destino, ou falta dele, quenunca tal imagem e enquadra-mento me tivessem cruzado osolhos, de modo que para mim erasuma tela em branco que eu ia pin-tando aos poucos, demorando-meem certos retoques, apressando o

recheio doutros contornos, tu es-colhias as cores. Ao início ofere-ceste uma tinta negra de capanegra que não apreciei especial-mente, deixei-te insistir até que tecansasses, qualquer dia já vais im-pingir esses guaches para outrolado, pensei, e assim foi, que a tuapaciência não é infinita e semprehouve gostos para todos os tons.

Não guardei ressentimento,mais tarde aprendi até, imagina,que um pouco de aguarela negrapode ser salutar, essencial que épara certos efeitos de perspectivae profundidade, técnicas do dese-nhar da vida que vamos aos pou-cos aprendendo e esquecendo,sinuosos são os caminhos dos es-quissos da existência. Ao mesmotempo me foste ensinando, metrouxeste o saber enclaustrado dassalas e dos livros, sapiência tãoimportante como supérflua, semdúvida, ainda assim cativante, atéos bacharelatos o são, basta que asgentes assim os considerem.

Também em outras faculdades

fui aprendendo, destas, dizem asmesmas gentes que não chegam aser superiores, são meras escolas,da vida ao que parece, e nelassempre estamos matriculados,ainda que se escondam pela ci-dade, esperam pacientemente quelá passemos, como tantos outros

antes e depois de nós, para delaslevarmos algo, às vezes sem quesaibamos.

Fomos mudando, eu bem maisque tu, pois claro, normal dispari-dade tendo em conta a diferençade idades já referida, ou talvez nãotenhas mudado e eu tenha mu-

dado pelos dois, talvez te visse acada dia diferente por também osmeus olhos mudarem. Nestas coi-sas das percepções nunca se sabe,cá para mim, vai daí, ainda é oEmanuel prussiano que tem razãono meio disto tudo e sempre fosteum númeno, imutável, perpetua-mente esquivo de olhares querealmente te apreendam e perce-bam.

Não sei se te percebo, Coimbra,não sei se te conheço tampoucosei o que pensarei quando um diate deixar. Talvez não cante comoalguns. Provavelmente a minhavoz não ressoará pelas tuas ruelas,embargada de emoção, capa negrade saudade, no momento da par-tida, decerto não levarei para avida nenhum dos teus segredos.Levarei os meus, que presenciaste,e por isso te confesso, aqui queninguém nos ouve: acho queaprendi a gostar de ti.

eNTre a arregaça e o calhaBéPor Bacharel Jorge gabriel

CStephanie SayuRi paixão

cróNica de uma deSPedida aNuNciada

À primeira vista apenas umhomem de barba rala e bigode eolhos encovados, samuel Úria nãoquer associar-se à nata da nata das fi-guras da cultura portuguesa. nasceuem tondela mas já foi alentejano.Fez um pouco de tudo. Foi profes-sor, autor da personagem de BD al-guidar cheio de Pão e participou nofilme “o que há de novo no amor?”.acabou por estacionar para os ladosda música, lançando o seu primeirolP “caminho Ferroviário Estreito” em2003, composto por gravações des-conexas feitas ao longo de três anos.Foi membro do movimento Florca-veira, editora discográfica indepen-dente responsável pela descobertade bandas como os Pontos negrosou Diabo na cruz. Em 2010 lançou“a Descondecoração”, que reuniamúsicas escritas e gravadas em 24hna sua casa. o processo foi filmado etransmitido em direto pela internet,enquanto quem via mandava suges-tões por email. ainda que não sejaconsensual entre os entendidos doassunto, Úria afirmou-se já como umimportante escritor de canções daatualidade.

Catarina Gomes

saMuEl ÚrIa33 anos

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Page 22: Edição nº 253

opinião22 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

É do nosso entendimento que opaís está a saque, e neste mo-mento a única diferença que en-contramos entre os de Caxias e osdos sucessivos governos, é que osúltimos são de certeza culpados!

Neste sentido, tal como no pas-sado, o Conselho de Repúblicasnão se conforma com os sucessi-vos ataques aos direitos que estãona base da dignidade de todas aspessoas: os direitos da Educação,do Trabalho, da Saúde, da Habi-tação e da Alimentação. Esta si-tuação é ainda mais gravosa pelofacto de, ao mesmo tempo, não severificarem cortes nos grandesgrupos económicos.

Devido aos cortes nos serviçospúblicos e apoios sociais, sabemquantas pessoas não conseguemfrequentar o Ensino Superior?

A progressiva mercantilizaçãodo Ensino e privatização das Uni-versidades reforçado pela aprova-ção do OE de 2012 provocou umabandono escolar de 100 pessoas

por semana. Imaginem quantasmais pessoas vão deixar de fre-quentar o Ensino Superior com anova redução de 54 milhões deeuros no OE de 2013.

Queremos notar aqui, que nãonos preocupa apenas a situaçãodo Ensino Superior, que exigimosque seja, efectivamente, Público,Universal e Gratuito. Falando deemprego, e tendo em conta que,para além das nossas famílias etrabalhadores e trabalhadoras emgeral, nós próprios somos ou se-remos trabalhadores e trabalha-doras, não queremos engrossar asfileiras de precários/as que estessucessivos governos tanto tendema criar. Opomo-nos a isso! Quere-mos e exigimos condições de tra-balho dignas!

Porque acreditamos que nãodevemos baixar os braços, lançá-mos no passado dia 14 um desa-fio ao reitor e ao restante CRUP;que encerrassem, em simultâneo,todas as instituições de Ensino

Superior na Greve Geral, dia 14.Desta feita, reafirmamos este de-safio: que encerrem, em simultâ-neo, todas as Instituições deEnsino Superior no próximo dia22 de Novembro, dia de luta estu-dantil. Mais uma vez, propomosque encerrem e cubram de negrotodas as janelas e portas das su-pracitas instituições. Por outrolado, que se pronunciem aindacontra todas as medidas de auste-ridade e todos os atentados ànossa dignidade, como este OE.Para além desta proposta, quere-mos deixar um último desafio aoReitor da UC. Assim, incitamos omesmo a convocar um plenáriocom toda a comunidade universi-tária (alunos, docentes e funcio-nários), com micro aberto. Nestesentido o Reitor deverá decretar oencerramento de todos os servi-ços universitários e também,ceder o espaço para o efeito.

Propomos ainda à AAC, comorepresentante institucional e de-

fensora incondicional dos direitosdas/dos estudantes, que seja rea-firmado, através de uma nova de-claração, o Luto Académico. A serdecretado o Luto Académico, so-licitamos desde já o apoio a estepor parte da Reitoria da UC.

Para terminar, queremos deixarclaro que como Conselho de Re-públicas estivemos, estamos e es-taremos sempre ao lado dos e dasestudantes e de toda a população.

*Representantes das Repúblicas

de Coimbra

devido aos cortes nos serviçospúblicos e apoios sociais, sabem quantas pessoasnão conseguem frequentar o ensinosuperior?”

ComUniCado do Conselho de rePÚbliCas (16-11-2012)Conselho de rePÚbliCas*

Cartas à diretora

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

Na passada sexta-feira, dia 16de Novembro, as comunidadesuniversitárias de todo o paísaguardavam a reunião dos reito-res das universidades públicasportuguesas (anunciada uma se-mana antes pelo Reitor da Uni-versidade de Coimbra), na Salados Capelos, na qual estes se po-sicionariam acerca dos cortes pre-vistos pelo Orçamento do Estado2013 para o Ensino Superior.

No entanto, na véspera desteacontecimento, os membros dacomunidade universitária são in-formados do «cancelamento dacomunicação solene ao país dosreitores das universidades públi-cas portuguesas», o que provocouo espanto de todos.

A reunião aconteceu – maslonge dos estudantes - na sede daFundação das Universidades Por-tuguesas, onde os reitores se reu-niram.

De acordo com o comunicadoenviado à comunidade universi-tária pelo gabinete do reitor daUC, o Governo recuou no corte dofinanciamento das universidades,

acordando com um corte menordo apresentado anteriormente. Sófaltou acrescentar que a origemdo recuo está na reorganização deverbas que serão retiradas ao en-sino básico e secundário.

Nas palavras do reitor da UC,este é «um bom resultado». Con-tudo, é importante clarificar o queimplicam, na realidade, estes re-trocessos. A verdade é que o Go-verno não esclarece qual é o realmontante disponibilizado às uni-versidades para o seu financia-mento. Mais, este montante éequivalente ao aumento de cincopor cento das contribuições dasuniversidades para a Caixa Geralde Aposentações, não sendo sufi-ciente, sequer, para cobrir os sub-sídios de férias.

Assim, verifica-se que a falta definanciamento permanece e cabeà comunidade académica nãoconsiderar esta medida paliativacomo uma vitória, afinal os nos-sos interesses não estão salva-guardados, o corte mantém-se esoma-se aos dos anos anteriores.Os problemas da UC mantêm-se

e agravam-se!Nós, estudantes organizados na

plataforma U.C.A. - da qual foilançada a Lista T - exigimos o fimdos cortes no ensino, pois esta dí-vida não foi contraída pelos estu-dantes e não devemos ser nós apagá-la. Estes ataques só poderãoser derrotados com a luta e com aunidade dos estudantes e dos co-lectivos já existentes, conforme éa intenção da nossa plataforma.

Por isso, estamos conscientesde que se deixarmos de lutar osataques ao ES vão voltar e deforma mais violenta, pelo que faztodo o sentido que no dia 22 saia-mos todos à rua tendo em vistaum objectivo comum: o do acessouniversal ao ensino superior, bemcomo a garantia dos direitos dosprofessores e funcionários, emsuma, uma melhor qualidade deensino!

afinal os nossosinteresses não estãosalvaguardados, ocorte mantém-se esoma-se aos dosanos anteriores. osproblemas da UCmantém-se eagravam-se!”

ComUniCado sobre o Corte orçamental e a Posição do Conselho de reitores

Plataforma Universidade Contra a aUsteridade e lista t

Page 23: Edição nº 253

OpiniãO20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 23

Secção de Jornalismo,

Associação Académica de Coimbra,

Rua Padre António Vieira,

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Tel. 239410437

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Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editora-Executiva Multimédia Andreia Gonçalves Editores StephanieSayuri Paixão (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Paulo Sérgio San-tos (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Secretária de Redação Mariana Morais Paginação António Car-doso, Catarina Gomes, Rafaela Carvalho Redação Beatriz Barroca, Daniela Proença, Emanuel Pereira, Ian Ezerin, João Martins,Joel Saraiva, Luís Azevedo, Miguel Patrão Silva, Pedro Martins Colaborou nesta edição Ana Namora, Andreia Oliveira, BárbaraSousa, Fábio Aguiar, Hugo Teixeira Mota, Inês Pereira, Inês Rama, Joel Saraiva, Tiago Rodrigues, Stephanie D’Ornelas Fotografia

Ana Morais, Daniel Alves da Silva, João Gaspar, Rafaela Carvalho, Stephanie Sayuri Paixão Ilustração Carolina Campos, JoanaCunha, Tiago Dinis Colaboradores permanentes Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes,Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, JoséMiguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Rafaela Carvalho, Ricardo Matos, Rui Craveirinha, Tiago Mota, Tor-cato Santos Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Pro-

priedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos José António Raimundo Mendes da Silva, Samuel Úria

Stephanie Sayuri paixão

editoriAl

A cApitulAção do Ato eleitorAl

Um ano volvido e nada é omesmo. Novembro regressa commais umas eleições para os corposgerentes da Associação Académicade Coimbra (AAC), nos dias 26 e27. A campanha eleitoral começouno dia 17, mas ainda não se viramos habituais ‘flyers’, cartazes, fai-xas e ‘outdoors’. O facto de dia 17ser um sábado pode não ter aju-dado. Mas teremos sempre o Face-book.

Relativamente ao ano passado,as alterações são significativas. Eisto traduz-se num ambiente(ainda) sereno. Se no ano passado,duas das cinco listas candidatasapostaram na pré-campanha e nadivulgação acérrima de propostase bandeiras, este ano isso não estáa acontecer.

Este ano, há apenas três listas –

uma delas é recandidatura. Conti-nuam as listas de sempre, que têmaqueles objetivos comuns mas que,apesar disso, continuam separa-das. Ainda que os argumentos uti-lizados por uma dessas listas – alista A – apontem para uma posi-ção de continuidade (um coletivoque tem sido consistente desde háalgum tempo), perdem algumaforça continuando sozinhos. Perdea lista A e a lista T, a tal com obje-tivos muito semelhantes. Há coisasque nunca vão mudar, apresen-tem-se as justificações que se apre-sentarem.

Para o Conselho Fiscal da AAC,a situação de mudança ainda émais notória. Enquanto que noano passado, haviam dez listas,este ano, existem apenas três. Podeser que assim se leve este órgão umpouco mais a sério, dado que nemsempre a quantidade de listas re-

presentava qualidade e/ou campa-nhas verdadeiras.

Este ano também é marcado poralguma leviandade com que se lidacom as eleições. Se por um lado hálistas que se preocupam em apre-sentar o seu projeto condigna-mente, referindo os seus objetivose desejos aos estudantes, a lista derecandidatura ainda não o fez.Dado que (supostamente) a cam-panha já teve início, é uma falhaque se pode repercutir na aproxi-mação aos estudantes, que sempreé invocada como bandeira.

Sobre o restante programa apre-sentado, as diferenças não sãomuito grandes de ano para ano. Ainovação é posta de parte, substi-tuída por um comodismo nas ini-ciativas. Estas poderiam ser maisprofícuas e arrojadas se houvesse

debate prévio. Mas não um debatemarcado em cima do joelho – temde ser construído, fomentado econtinuado. As Assembleias Mag-nas servem para isso mesmo. Masultimamente, isso pouco se tem ve-rificado. Só a atitude passiva dequase sempre ouvir e votar aque-las moções com o mesmo propo-nente – a DG/AAC.

A culpa não passa só pelaDG/AAC, pela divulgação feita ounão pela Mesa da AssembleiaMagna, e coletivos. A culpa passatambém pelos próprios estudan-tes, que vão delegando isso uns nosoutros, até chegarmos ao últimoque simplesmente afirma que nãose interessa. Onde está a largamaioria que aprova as moções emMagna? Porque é que não marcampresença nas ações concretizadas?Vale a pena pensar nisto.

Por Ana Duarte

A culpa passa também pelospróprios estudantes, que vão

delegando isso uns nos outros, até chegar-mos ao último que simplesmente afirma quenão se interessa”

Page 24: Edição nº 253

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Jornal Universitário de Coimbra

Palavras à Parte por Stephanie Sayuri paixão 200x 100Não foi fácil começar num novo

(velho) mundo, mas foi fácil gos-tar e pensar ter encontrado oideal. Tudo parecia convidar eelucidar. Difícil foi um dia perce-ber que o sonho também tem assuas nuances e armadilhas e quenada é tão bom - que não possamelhorar. Ou melhor, ver que naverdade, ao trocar as lentes, aoadquirir-se conhecimento e pen-samento crítico, perceber que nãose estava tão bem como se pen-sava. Difícil então foi acordar.Sair do conforto cego de umsonho romântico que já mostra asua verdadeira face que deveestar cada vez mais à parte; e nãosó querer o melhor, mas lutar porele. É fácil conformarmo-nos. Di-fícil é levantar e agir. Por uma luz,pela sobrevivência da esperança.Por mim, por ti, pela arquitetura,pelo nosso departamento, pelofuturo e pelo país.

O Secretário de Estado da Admi-nistração Local e Reforma Adminis-trativa, Paulo Júlio, curiosamentenascido em Coimbra, fez promulgara Lei 50/2012, de 31 de agosto, queprevê a extinção de empresas locaisque não atinjam 50 por cento de re-ceitas próprias. A lei leva ao encer-ramento da Turismo de Coimbra(TC), que por não atingir os núme-ros propostos, deverá ser extinta atéfevereiro. O presidente da TC, LuísProvidência, acusa o Governo demeter as empresas locais todas nomesmo saco. Por outro lado, enti-dades regionais são poupadas,tendo-lhes sido permitido regula-rem a sua dívida. Saberá o Governono que anda a mexer? J.V.

Paulo Júlio SASUC

Seguindo as alterações do Minis-tério da Educação e Ciência ao regu-lamento de atribuição de bolsas deestudo, os Serviços de Ação Social daUniversidade de Coimbra (SASUC)parecem estar a ver a sua vida facili-tada. Com uma celeridade notória, aplataforma DGES parece ter sidofundamental nessa viragem, quepermitiu o pagamento das bolsas já a1030 estudantes. Contudo, há queatentar a outras alterações, como é ocaso do aumento do número de cré-ditos para 60 por cento. Será legí-timo um aluno com dificuldadessócio económicas ser alvo desta ava-liação? E ainda há quem esteja à es-pera e a assistir ao abandono do ESpor colegas. A.M.

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Pelouro da Cultura da DG/AAC

O coordenador-geral do Pelouro daCultura assume que não é função daDG/AAC “fazer” cultura. A função dopelouro, para o coordenador, é ape-nas aproximar as secções. Uma justi-ficação válida, mas que peca pela faltade ambição, demonstrando a formacom que esta DG/AAC encara o seuesforço na vida cultural da cidade:passivamente. Esperando que as sec-ções façam cultura, sem definir linhasmestras que unam o trabalho das vá-rias secções. Apesar dos pontos posi-tivos deste mandato (voltamos a tertodas as 16 secções culturais ativa-das), não se pode esperar que asações culturais surjam apenas pelamão das secções, sem a participaçãoativa do pelouro. D.A.S.Pág. 14 Pág. 7 Pág. 9