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Minerva, 6(1): 39-46 DIAGNÓSTICO PARA A GESTÃO E O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE FUNILARIAS Elcio Eiti Maeda Graduando em Engenharia Ambiental, Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (SHS-EESC-USP); bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e-mail: [email protected] Anne Alessandra Cardoso Neves Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental, Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (SHS-EESC-USP) Valdir Schalch Professor Livre-Docente do Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (SHS-EESC-USP) Resumo O paradigma de que desenvolvimento significa produzir, consumir e deteriorar não se mostra mais verdadeiro. Atualmente entende-se que é possível compatibilizar crescimento econômico e conservação ambiental por meio do desenvolvimento sustentável, que integra às atividades econômicas das empresas as preocupações de longo prazo com o meio ambiente e com a saúde e segurança do trabalhador e da comunidade. No Brasil, observa-se que somente as grandes indústrias possuem certo controle dos resíduos gerados na linha de produção, e é justamente com elas que os órgãos responsáveis pela fiscalização mais se preocupam. Porém, isto não ocorre com micro e pequenas indústrias, funilarias, postos de combustíveis, oficinas de fundo de quintal, dentre outras, que produzem resíduos ambientalmente perigosos e que podem trazer sérios riscos à saúde da população local. Esta poluição pontual, na verdade, está presente em todas as áreas de um município e, portanto, tomar conhecimento ou mapeá-las é um processo muito mais complexo do que no caso de grandes contaminações. Com isso, a poluição gerada por micro e pequenas empresas e indústrias é pouco visível para a mídia e para os órgãos de fiscalização. No entanto, esse tipo de poluição apresenta graus variados de periculosidade e por estar difusa em inúmeras áreas de um município torna-se de difícil controle. A pesquisa em questão teve por foco o levantamento, análise e estudo dos resíduos sólidos especificamente nas funilarias. Procurou- se discutir ainda algumas possíveis sugestões de melhores alternativas para a gestão dos resíduos gerados, tendo em vista a busca de desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: resíduos sólidos, funilarias, gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, São Carlos. Introdução Atualmente, um dos problemas ambientais de grande destaque é a poluição provocada pelos veículos automotores, causada principalmente pelo aumento do número de veículos. A frota brasileira de veículos tem crescido nos últimos anos em proporções maiores do que o aumento da população. Em 2000, eram 8,9 pessoas/veículo, enquanto em 2005 já eram 7,9 pessoas/veículo. Entre 2000 e 2005, a frota brasileira cresceu 15,6%. No ano 2000 havia 20,1 milhões de veículos circulando. Segundo o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), em 2005, esse número já era de 23,3 milhões de veículos (Leite, 2006). Muito se fala na poluição que esses veículos causam ao emitirem compostos que, liberados na atmosfera, formarão outros compostos altamente prejudiciais à natureza e à saúde humana, como óxido de enxofre, óxido de nitrogênio, monóxido de carbono e gás carbônico. Observa- se, porém, que são poucos os estudos sobre uma atividade que envolve diretamente veículos automotores: a funilaria. Esse tipo de atividade é caracterizado por ser uma prestação de serviços de reparos e consertos na carroceria

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DIAGNÓSTICO PARA A GESTÃO EO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

SÓLIDOS DE FUNILARIAS

Elcio Eiti MaedaGraduando em Engenharia Ambiental, Departamento de Hidráulica e Saneamento,

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (SHS-EESC-USP);bolsista de iniciação científica da Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e-mail: [email protected]

Anne Alessandra Cardoso NevesDoutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental, Departamento de Hidráulica e

Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (SHS-EESC-USP)

Valdir SchalchProfessor Livre-Docente do Departamento de Hidráulica e

Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos,Universidade de São Paulo (SHS-EESC-USP)

ResumoO paradigma de que desenvolvimento significa produzir, consumir e deteriorar não se mostra mais verdadeiro. Atualmenteentende-se que é possível compatibilizar crescimento econômico e conservação ambiental por meio do desenvolvimentosustentável, que integra às atividades econômicas das empresas as preocupações de longo prazo com o meio ambientee com a saúde e segurança do trabalhador e da comunidade. No Brasil, observa-se que somente as grandes indústriaspossuem certo controle dos resíduos gerados na linha de produção, e é justamente com elas que os órgãos responsáveispela fiscalização mais se preocupam. Porém, isto não ocorre com micro e pequenas indústrias, funilarias, postos decombustíveis, oficinas de fundo de quintal, dentre outras, que produzem resíduos ambientalmente perigosos e quepodem trazer sérios riscos à saúde da população local. Esta poluição pontual, na verdade, está presente em todas asáreas de um município e, portanto, tomar conhecimento ou mapeá-las é um processo muito mais complexo do que nocaso de grandes contaminações. Com isso, a poluição gerada por micro e pequenas empresas e indústrias é poucovisível para a mídia e para os órgãos de fiscalização. No entanto, esse tipo de poluição apresenta graus variados depericulosidade e por estar difusa em inúmeras áreas de um município torna-se de difícil controle. A pesquisa emquestão teve por foco o levantamento, análise e estudo dos resíduos sólidos especificamente nas funilarias. Procurou-se discutir ainda algumas possíveis sugestões de melhores alternativas para a gestão dos resíduos gerados, tendo emvista a busca de desenvolvimento sustentável.Palavras-chave: resíduos sólidos, funilarias, gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, São Carlos.

IntroduçãoAtualmente, um dos problemas ambientais de grande

destaque é a poluição provocada pelos veículos automotores,causada principalmente pelo aumento do número de veículos.A frota brasileira de veículos tem crescido nos últimosanos em proporções maiores do que o aumento da população.Em 2000, eram 8,9 pessoas/veículo, enquanto em 2005já eram 7,9 pessoas/veículo. Entre 2000 e 2005, a frotabrasileira cresceu 15,6%. No ano 2000 havia 20,1 milhõesde veículos circulando. Segundo o Sindipeças (SindicatoNacional da Indústria de Componentes para Veículos

Automotores), em 2005, esse número já era de 23,3 milhõesde veículos (Leite, 2006).

Muito se fala na poluição que esses veículos causamao emitirem compostos que, liberados na atmosfera,formarão outros compostos altamente prejudiciais à naturezae à saúde humana, como óxido de enxofre, óxido denitrogênio, monóxido de carbono e gás carbônico. Observa-se, porém, que são poucos os estudos sobre uma atividadeque envolve diretamente veículos automotores: a funilaria.

Esse tipo de atividade é caracterizado por ser umaprestação de serviços de reparos e consertos na carroceria

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(estrutura de chapa metálica) de veículos automotores,como: remoção de pontos de ferrugem, desamassamento,pintura, lanternagem, dentre outros. Os materiais maisutilizados em uma oficina de funilaria e pintura são: osolvente (também conhecido pelos funileiros como thinner)e a tinta.

Segundo Jotun (2006), o thinner é inflamável; énocivo, pois pode causar danos aos pulmões se ingerido;pode provocar secura da pele ou fissuras, por exposição

repetida; pode provocar sonolência e vertigens, por inalaçãodos vapores; além de ser tóxico para os organismos aquáticose poder causar efeitos nefastos, a longo prazo, no ambienteaquático.

Já de acordo com Bentlin (2007), os pigmentos detinta podem conter metais e outros elementos tóxicos emsua composição, como cianeto, fenol, nitrato, dentre outros.

O Quadro 1 a seguir mostra resumidamente os perigosde diversos elementos potencialmente tóxicos.

Quadro 1 Riscos potenciais de diversas substâncias.

Fonte: CETESB (2005).

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As oficinas de funilaria e pintura são um tipo deempresa que cresce cada vez mais e está presente emtodos os municípios, no entanto, quase não há estudossobre elas, tampouco pesquisas que abordem seus impactosno meio ambiente e na saúde humana.

ObjetivosEsta pesquisa teve por objetivos:

a) Levantar dados, por meio de questionários, sobre asfunilarias existentes no município de São Carlos.

b) Classificar os resíduos gerados com base nas normastécnicas ABNT NBR 10.004, 10.005, 10.006 e 10.007.

c) Propor medidas para melhor gestão e gerenciamentodos resíduos de funilarias.

MetodologiaInicialmente, foi obtido o cadastro das oficinas de

funilaria e pintura junto à Prefeitura Municipal de SãoCarlos. Paralelamente, elaborou-se um questionário paraser aplicado nas oficinas de funilaria e pintura. Essequestionário foi adaptado do formulário que consta naResolução CONAMA no 313 de 29 de outubro de 2002.

Posteriormente, passou-se à fase de visitas e aplicaçãodos questionários nas oficinas de funilaria e pintura.Selecionou-se, então, um número representativo de funilariaspara realizar a coleta e classificação dos resíduos, deacordo com o compêndio das Normas ABNT (10.004 a10.007 de 2004).

Com a análise dos dados fornecidos a partir dasvisitas, questionários e classificação dos resíduos, obteve-se o diagnóstico atual da gestão e gerenciamento dosresíduos de oficinas de funilaria e pintura. Finalmente,como última etapa da pesquisa foram propostas medidaspara melhor gestão e gerenciamento desses resíduos.

Resultados e DiscussõesAplicação de questionários

Foram identificadas 40 funilarias no município deSão Carlos, das quais:

31 funilarias responderam ao questionário elaborado;8 funilarias estavam desativadas, ou não existiam mais;1 funilaria não quis participar.

As perguntas mais relevantes, bem como asrespectivas tabulações das respostas, se encontramreproduzidas a seguir.

Quanto ao tipo de piso (Quadro 2), convém destacarque tanto o concreto quanto o contrapiso são recomendadospara as oficinas de funilaria e pintura pelo fato de seremmais impermeáveis, dificultando eventual contaminaçãodo lençol freático. Por outro lado, a terra e o pedregulhosão considerados ruins para pisos em uma oficina dessanatureza por serem mais permeáveis, podendo ocorrercontaminação do lençol freático, bem como poluição dosolo e subsolo. Duas das funilarias pesquisadas sãorepresentativas desse problema: uma que possui piso deconcreto em uma parte e terra na restante; outra que possuiconcreto em uma parte e pedregulho na restante.

a) Qual é o tipo de piso da funilaria?

Quadro 2 Tipos de piso.

b) Possui conhecimento sobre:

Legislação ambiental:desconhece ( ) conhece ( )

Perigo dos resíduos sólidos:desconhece ( ) conhece ( )

Classificação dos resíduos sólidos:desconhece ( ) conhece ( )

Quanto ao nível de conhecimento dos profissionais,pode-se constatar que a maioria dos funileiros desconhecea legislação ambiental, bem como o perigo dos resíduossólidos e sua classificação, o que pode ser consideradoaltamente preocupante (Quadro 3).

Quadro 3 Conhecimento de legislação ambiental, perigo e classificação dos resíduos sólidos.

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O conhecimento dessas questões é importante paraque o dono da funilaria atue de forma mais responsávelperante o meio ambiente e seus funcionários [como oincentivo do uso de EPIs (Equipamentos de ProteçãoIndividual)].

c) Qual é a quantidade média mensal de tinta utilizadanesta oficina de funilaria e pintura?

As 27 funilarias que responderam a essa questão(Figura 1) utilizam juntas, em média, 720,5 L por mês,o que significa uma média de 26,7 L/ mês/ funilaria.

d) Dos resíduos gerados nesta funilaria, quais são enca-minhados à reciclagem?

Pode-se aferir que parte considerável de algunsresíduos (papel/papelão/jornal – 61,3%; e embalagensde produtos – 74,2%) é encaminhada à reciclagem. Já

quanto ao plástico (35%) e às sucatas (29%), não se podedizer o mesmo (Quadro 4).

e) Quais resíduos são destinados ao lixo comum, isto é,ao lixo que cujo destino final é o aterro?

O Quadro 5 ilustra que 71% e 32,3% das funilariasvisitadas descartam, respectivamente, resíduos de estopa evarrição no lixo cujo destino final é o aterro. O fato de essesresíduos conterem restos de tintas é motivo de preocupação,principalmente se forem de classe I ou IIA, pois estão sendoencaminhados para o aterro sem nenhum tratamento prévio.

Outro fato observado a partir das visitas às funilariase dos questionários é que os resíduos de funilarias vão,ou para o esgoto (Figura 2), ou para o lixo (Figura 3), oupara a atmosfera (Figura 4). Ressalta-se que isso épreocupante, principalmente se for diagnosticado nas análisesem laboratório que esses resíduos são de classe I ou IIA.

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Quantidade de tinta utilizada por mês em L

Figura 1 Quantidade média de tinta utilizada por mês.

Quadro 4 Resíduos que são encaminhados à reciclagem.

Quadro 5 Resíduos destinados ao lixo comum.

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Figura 2 Funilaria descartando resíduo para o esgoto.

Figura 3 Funilaria descartando resíduo para o lixo.

Figura 4 Resíduo de funilaria difuso no ar.

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f) A pintura dos veículos é realizada em uma cabine depintura? Os funcionários utilizam EPIs no trabalho?

Apenas seis funilarias (19%) afirmaram realizar apintura de veículos em uma cabine de pintura adequada(Figura 5). Quanto ao uso de EPI (Figura 6), apenas quatrofunilarias (13%) responderam positivamente.

A não existência ou a não utilização adequada deuma cabine de pintura em 81% das oficinas de funilariae pintura analisadas significa que a tarefa é realizadapraticamente ao ar livre. Isso, combinado ao não uso deEPI por parte do funileiro, certamente aumenta o riscode os funcionários desenvolverem problemas de saúdecom o passar do tempo.

Coleta de AmostrasForam realizadas coletas de resíduos em quatro

funilarias distintas. Os critérios de seleção foram o porte

da funilaria e os questionários. Foram escolhidas umafunilaria de grande porte, duas de porte médio e uma depequeno porte.

Foram coletadas oito amostras ao todo, conformea descrição a seguir:

Amostra 1: funilaria 1 (porte maior) – área de lixamentoe polimento.Amostra 2: funilaria 1 (porte maior) – laboratório depintura, mistura, tintas e solventes.Amostra 3: funilaria 1 (porte maior) – papéis da cabinede pintura.Amostra 4: funilaria 1 ( porte maior) – resíduo doralo.Amostra 5: funilaria 2 (porte médio) – cabine de pintura.Amostra 6: funilaria 2 (porte médio) – resíduo do ralo.Amostra 7: funilaria 3 (porte pequeno) – pintura.Amostra 8: funilaria 4 (porte médio) – geral.

Figura 5 Cabine de pintura de uma funilaria entrevistada.

Figura 6 Exemplo de um EPI que deveria ser usado por todos os funileiros.

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A coleta dos resíduos, bem como o seu armaze-namento, para posterior análise em laboratório, respeitoua NBR 10.007 (ABNT, 2004).

Extratos lixiviados e solubilizadosFoi realizada a extração de lixiviado de resíduos

sólidos conforme a NBR 10.005 (ABNT, 2004) paraaveriguar se os resíduos coletados são de classe I ou II.

Para o ensaio de lixiviação foi analisada uma amostrade cada funilaria. Os resultados desse ensaio encontram-se na Tabela 1.

Para saber se a amostra é de resíduo classe I ouII, compararam-se os resultados obtidos com os parâmetros

que constam no Anexo F (“Concentração – limite máximono extrato obtido no ensaio de lixiviação”) da NBR10.004 (ABNT, 2004), reproduzido na própria Tabela1 (amostra “ABNT*”). Comparando-se os valores decada amostra com o da ABNT, vemos que o limite máximono extrato lixiviado não é atingido em nenhum dosparâmetros analisados, assim, de acordo com a NBR10.005 (ABNT, 2004), esses resíduos podem serconsiderados de classe II.

O ensaio de solubilização definirá se os resíduosserão classe IIA ou IIB. Para o ensaio de solubilização,foram analisadas oito amostras. Os resultados encontram-se nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 1 Resultados dos ensaios de lixiviação

Tabela 2 Resultados do ensaio de solubilização.

Tabela 3 Resultados do ensaio de solubilização (continuação).

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Para saber se a amostra é de resíduo classe IIA ouIIB, deve-se comparar os resultados obtidos com osparâmetros que constam no Anexo G (“Padrões para oensaio de solubilização”) da NBR 10.004 (2004),reproduzido nas Tabelas 2 e 3 (amostra “ABNT*”).

Os resultados acima dos padrões de ensaio desolubilização foram colocados em negrito. Das oito amostrasanalisadas, todas tiveram valores de concentração de fenole manganês acima dos padrões de ensaio de solubilização;seis amostras de ferro estiveram acima do padrão; duasde cromo; e uma de fluoreto e zinco.

Como, em todas as amostras, o limite máximo noextrato solubilizado é ultrapassado para pelo menos umparâmetro analisado, então, de acordo com a NBR 10.006(2004), esses resíduos podem ser considerados classeIIA (“não inertes”).

De todos os parâmetros que estão acima dos padrões,o fenol certamente é o mais preocupante, pois, além deisso ocorrer em todas as amostras, ele apresenta sériosriscos à saúde humana, por ser altamente tóxico,carcinogênico e alergogênico. Apesar de quase todas (nocaso do ferro) ou todas (no caso do manganês) as amostrasapresentarem valores acima do padrão de solubilização,elas não representam problemas à saúde humana quandonão estão muito acima do padrão.

Considerações FinaisCom base nas visitas às funilarias, aplicação de

questionários, coleta e análise de amostras, propõem-seas seguintes medidas para melhor gerenciamento (deresíduos) de funilarias:

Pedir a quantidade necessária de tinta para cada carro(algumas funilarias entrevistadas afirmaram que fazemisso e, assim, reduzem seus custos, além de gerar menosresíduos – sobra de tinta não utilizada).Toda funilaria deve ter cabine de pintura, pois umaárea menor estará sujeita à poluição causada pela pintura,o que implica economia de água e de tempo de limpezae menor propagação de poluentes.Todo funcionário de funilaria e pintura deve usar EPI,principalmente aqueles que trabalham no setor de pintura.Os ensaios de lixiviação e solubilização mostraramque os resíduos das funilarias são classe IIA (“nãoinertes”). Esses resíduos não podem ser dispostosem qualquer aterro e, sim, em um aterro licenciadopelo órgão ambiental competente.

Como observação final vale ressaltar que, em geral,no Brasil praticamente não há legislação e fiscalizaçãoem oficinas de funilaria e pintura. Assim como ocorreucom os postos de combustíveis mais recentemente, énecessária maior fiscalização ou elaboração de leis porparte do município ou do órgão estadual competente.Dessa forma, muitos desses problemas constatados poderiamser significativamente minimizados.

Referências Bibliográficas

ABNT. NBR 10.004: Classificação de resíduos sólidos.São Paulo, 2004.ABNT. NBR 10.005: Procedimento para obtenção deextrato lixiviado de resíduos sólidos. São Paulo, 2004.ABNT. NBR 10.006: Procedimento para obtenção deextrato solubilizado de resíduos sólidos. São Paulo, 2004.ABNT. NBR 10.007: Amostragem de resíduos sólidos.São Paulo, 2004.BENTLIN, F. R. S. Desenvolvimento de métodos analíticospara a determinação de metais e metalóides em tinta.2007. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Química,Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.BRASIL. Resolução Conama n. 313 de 29 de outubrode 2002. Dispõe sobre o Inventário Nacional de ResíduosSólidos Industriais. 2002.CETESB. Relatório de qualidade das águas interioresdo Estado de São Paulo 2004. São Paulo, 2005. 307 p.JOTUN. Ficha de dados de segurança. Jotun Thinner,n. 2, 2006. Disponível em: <www.jotun.no> Acesso em:26 fev. 2009.LEITE, J. O Brasil, cada vez mais motorizado. Web Motors,Brasil, 6 jun. 2006. Disponível em: <http://www.webmotors.com.br/wmpublicador/Colunista2_Conteudo. vxlpub?hnid=36334>. Acesso em: 3 mar. 2009.