Devastação e autismo

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Estudos de Psicanálise | Belo Horizonte-MG | n. 36 | p. 93–102 | Dezembro/2011 93 Resumo O autismo é uma condição de estudo onde podemos ver, com muita freqüência, a devastação acontecer. A devastação mostra um ilimitado da dor. Não é uma dor circunscrita, como no caso do sintoma. Temos a hipótese de que os pais de crianças autistas acabam se afastando de- las devido a esta dor sem limites, que foi, até então, vista pelos estudiosos como falta de afeto, ausência de desejo da mãe, “mãe fria”, depressão materna. Nos casos atendidos nos primeiros meses de vida alguns analistas têm conseguido, ao possibilitar o laço das crianças com seu agente de função materna, reverter este quadro de devastação apresentado pelos pais e, conse- quentemente, reverter a devastação também nas crianças, negativizando os sinais de risco de autismo. Apesar da devastação não ser exclusiva do autismo, pois é trans estrutural, achamos que se aplica muito bem a esta patologia. Por isto nossa proposta de examinar o tema: devasta- ção e autismo. Traremos a casuística própria de uma criança atendida desde os cinco meses de idade em psicanálise mãe-bebê, onde houve negativação dos sintomas de risco de autismo. Palavras-chave: Risco de autismo, Tratamento psicanalítico precoce mãe-bebê, Devastação. A devastação, como acentua Miller (citado por PINHEIRO, 2009) mostra um ilimitado da dor. Temos a hipótese de que os pais de crianças autistas acabam se afastando delas devido a esta dor devastadora. Outra hipóte- se é de que o afastamento dos pais como res- ponsável pela etiologia do autismo deve-se a uma falsa observação feita tardiamente, após alguns anos do quadro clínico instalado, e que é conseqüência e não causa do autismo. Quando atendemos estas mães, logo no início, percebemos que algumas desejaram seu filho, outras não estão deprimidas e, a maior parte, não é fria. Mas encontramos uma característica comum a estas mães: uma dor devastadora devido ao fato da criança não responder ao seu contato. Nos casos atendidos nos primeiros meses de vida, os analistas conseguiram, ao pos- sibilitar o laço das crianças com seu agente de função materna, reverter este quadro de devastação apresentado pelos pais e, conse- qüentemente, reverter a devastação também nas crianças, negativizando os sinais de risco de autismo. Trabalhamos, atualmente, com a tese de Laznik (2009) de que estas crianças nascem com uma hipersensibilidade ao Outro a ser esclarecida. O desejo materno, até então exis- tente, deixa de existir devido a pouca intera- ção do bebê com quem faz a função mater- na. Minha hipótese é de que o bebê, devido a pouca resposta de contato com a mãe, pode deixar de ser investido falicamente por quem Devastação e autismo Devastation and autism Isabela Santoro Campanário Jeferson Machado Pinto

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Devastação e autismo

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  • Estudos de Psicanlise | Belo Horizonte-MG | n. 36 | p. 93102 | Dezembro/2011 93

    Devastao e autismo

    ResumoO autismo uma condio de estudo onde podemos ver, com muita freqncia, a devastao acontecer. A devastao mostra um ilimitado da dor. No uma dor circunscrita, como no caso do sintoma. Temos a hiptese de que os pais de crianas autistas acabam se afastando de-las devido a esta dor sem limites, que foi, at ento, vista pelos estudiosos como falta de afeto, ausncia de desejo da me, me fria, depresso materna. Nos casos atendidos nos primeiros meses de vida alguns analistas tm conseguido, ao possibilitar o lao das crianas com seu agente de funo materna, reverter este quadro de devastao apresentado pelos pais e, conse-quentemente, reverter a devastao tambm nas crianas, negativizando os sinais de risco de autismo. Apesar da devastao no ser exclusiva do autismo, pois trans estrutural, achamos que se aplica muito bem a esta patologia. Por isto nossa proposta de examinar o tema: devasta-o e autismo. Traremos a casustica prpria de uma criana atendida desde os cinco meses de idade em psicanlise me-beb, onde houve negativao dos sintomas de risco de autismo.

    Palavras-chave: Risco de autismo, Tratamento psicanaltico precoce me-beb, Devastao.

    A devastao, como acentua Miller (citado por PINHEIRO, 2009) mostra um ilimitado da dor. Temos a hiptese de que os pais de crianas autistas acabam se afastando delas devido a esta dor devastadora. Outra hipte-se de que o afastamento dos pais como res-ponsvel pela etiologia do autismo deve-se a uma falsa observao feita tardiamente, aps alguns anos do quadro clnico instalado, e que conseqncia e no causa do autismo.

    Quando atendemos estas mes, logo no incio, percebemos que algumas desejaram seu fi lho, outras no esto deprimidas e, a maior parte, no fria. Mas encontramos uma caracterstica comum a estas mes: uma dor devastadora devido ao fato da criana no responder ao seu contato.

    Nos casos atendidos nos primeiros meses de vida, os analistas conseguiram, ao pos-sibilitar o lao das crianas com seu agente de funo materna, reverter este quadro de devastao apresentado pelos pais e, conse-qentemente, reverter a devastao tambm nas crianas, negativizando os sinais de risco de autismo.

    Trabalhamos, atualmente, com a tese de Laznik (2009) de que estas crianas nascem com uma hipersensibilidade ao Outro a ser esclarecida. O desejo materno, at ento exis-tente, deixa de existir devido a pouca intera-o do beb com quem faz a funo mater-na. Minha hiptese de que o beb, devido a pouca resposta de contato com a me, pode deixar de ser investido falicamente por quem

    Devastao e autismoDevastation and autism

    Isabela Santoro CampanrioJeferson Machado Pinto

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    faz a funo materna e da emerge a devas-tao, que mostra um gozo no delimitado pelo falo.

    O caso Jos RobertoTraremos um caso ainda em atendimento. Sua publicao um risco a ser corrido, pois pode, teoricamente, infl uenciar os atendi-mentos clnicos. Freud (1980) j nos alertava para os perigos desta situao. No entanto, ele no se referia no citado texto a casos de risco de autismo, condio de extrema gra-vidade que, como sabemos, pode produzir e provocar sujeitos que fi cam condenados ao silncio. Assumo, aqui, o risco de que o caso a melhor maneira de transmisso de um saber para que outros casos como o dele sejam atendidos a tempo de permitir ou-tro destino pulsional a estas crianas, e serve mesmo para a problematizao dos limites deste tratamento. O fato de torn-lo pblico j tem a funo de retir-lo de seu silncio, de sua obscuridade, visando reduzir o que h nele de imaginrio, evitando sua cristaliza-o. Alm disto, conto com a autorizao da famlia.

    Jos Roberto chega ao meu consultrio aos cinco meses de idade. Nasceu prematuro de 26 semanas, tendo feito uma cirurgia car-daca devido a uma comunicao inter-atrial bastante comum em beb grande prematuro como ele. Ficou internado por, aproximada-mente, dois meses, dos quais 35 dias na UTI entubado. Teve meningite neonatal e foi sub-metido a vrias intervenes potencialmente dolorosas e arriscadas.

    A me, Alessandra, procurava estar todo o tempo ao seu lado, mas encontrava-se muito estressada e fragilizada com tantos procedi-mentos necessrios para a sobrevivncia da criana. Sendo da rea da sade, sabia do ris-co de vida e de seqelas que a criana corria, o que piorava ainda mais a sua angstia.

    Quando teve alta do hospital, a av mater-na, Marina, uma sociloga que j conhecia o trabalho com pacientes com risco de autis-mo, notou que Jos Roberto evitava o olhar,

    tendo alertado a fi lha. Ele chegava mesmo, s vezes, a jogar-se para trs quando algum insistia em entrar em seu campo visual.

    A alimentao sempre foi difcil, tendo que ser feito um grande esforo para alimen-t-lo desde que retirou a sonda, o que geral-mente provocava lgrimas na me. A bab conseguia um resultado melhor de contato com o beb, mas a me se ressentia deste fato. A av materna tambm conseguia um conta-to maior, mesmo assim, muito limitado.

    Jos Roberto adoecia com muita freqn-cia: otites de repetio, bronquite, resfriados. Tinha um refl uxo importante que lhe causou bastante dor abdominal e vmito, algumas vezes aps a alimentao, o que fazia a me entrar em pnico. O refl uxo j estava medi-cado.

    Alessandra queria muito ser me e j tentava engravidar h algum tempo. No en-tanto, percebeu que estava grvida apenas no quarto ms de gestao. No quinto ms entrou em trabalho de parto precoce e teve que fi car internada para tentar segurar a gravidez, mas Jos Roberto acabou nascendo ainda bem prematuro e com grande risco de no sobreviver.

    Quando chegou a meu consultrio Jos Roberto gostava muito de um tapete de bi-chos que fazia sons de animais, que ganha-ra de presente do pai, mas recusava o olhar, mesmo diante do manhs. Trata-se da ma-neira particular que cada me tem de se di-rigir ao seu fi lho atraves da fala. Geralmente uma linguagem com picos prosdicos que atraem o olhar do beb. Interrogamo-nos sobre a qualidade deste manhs feito por mim nas primeiras sesses, que podia trair a preocupao em que me encontrava com a gravidade do quadro clnico da criana.

    A me contou, com detalhes, na primeira consulta todas as intervenes pelas quais a criana tinha passado. Jos chorava muito ao ouvir o tom de voz materno. Alessandra esta-va muito triste por notar que o beb recusava o contato. De fato, podamos dizer de uma me deprimida e devastada pelo sofrimento

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    experimentado desde o nascimento de Jos Roberto e, ainda mais, pela recusa do olhar da criana.

    A me logo perguntou pelo diagnstico e eu disse para ela ter calma, pois o diagns-tico s possvel aps algum tempo. Um beb prematuro, submetido a muitos proce-dimentos invasivos e, potencialmente dolo-rosos, pode apresentar uma recusa de olhar, que regride aps algum tempo. Ento, cabia um diagnstico diferencial com o risco de autismo.

    Alessandra nunca vinha sozinha com o beb: sempre trazia a bab, o marido ou a sua me. Isto acontecia no somente em rela-o ao consultrio pois ela contava que tinha muito medo de estar s com o beb e no conseguir lidar com ele. Chamava a ateno o desamparo da me quando ele chorava. No entanto, quando a bab a acompanhava, no queria que entrasse na sala, com cimes da pouca relao estabelecida pelo beb com ela, pedindo-lhe que esperasse na ante-sala. A famlia se mudou durante certo tempo para o apartamento da av materna devido a esta insegurana de Alessandra, que se sentia melhor na casa da me.

    A coisa mais angustiante para Alessandra era a recusa alimentar de Jos Roberto. Ela fi cava sempre muito queixosa de que ele no ganhava peso e, por isto, forava a alimenta-o e ele vomitava. Trabalhamos o fato que o beb, como grande prematuro que foi, podia mesmo estar um pouco abaixo do peso ideal sem que isto fosse grave.

    Mais tarde vim a descobrir porque esta questo da alimentao era to difcil para a me. Ela mesma sofria, h muitos anos, de anorexia, o que me foi contado por sua me, a av materna da criana. Ao ver o beb repro-duzindo o vomitar, no suportava. O prprio sintoma anorxico materno retornou com fora. Ao perceber este ponto insuportvel no lao entre me e fi lho, propus que a bab assumisse a alimentao da criana, o que foi um alvio para ambos.

    Aps trs meses de tratamento semanal,

    com algumas faltas devido sade frgil da criana, Jos Roberto comeou a fazer algum contato visual com a analista. Usvamos muitas canes na sesso, alm do famoso tapete com sons de animais.

    Surgiu um signifi cante: a me relata que ele muito opiniudo, por isso chora muito, no olha muito para as pessoas e bravo. E, logo em seguida, a me riu e Jos Roberto olhou-a, feliz. Passamos a usar este signifi -cante com freqncia. Quando chegavam ao consultrio eu perguntava: Jos, e como foi esta semana, ainda muito opiniudo com mame? A me passou a responder num belo manhs: demais, Isabela, voc nem imagi-na... E ria. O beb ria tambm, descontrado.

    As sesses se tornaram, cada vez mais l-dicas e a me passou a relatar com admira-o as conquistas do fi lho: ele se sentou sozi-nho! Todos os presentes na sesso bateram palmas quando a criana se exibiu, fazendo o que a me havia dito. Foi restabelecido o gozo flico e, a cada sesso, mais palmas para as conquistas da criana. Apareceu na me o prazer em adiar seu prazer em tomar um banho quando chegava cansada em casa de seu trabalho, brincando com Jos enquanto ele a solicitava.

    Numa das sesses a me se deu conta de que no menstruava h cinco meses. Fez um exame que confi rmou uma nova gestao. Aps duas semanas do diagnstico da segun-da gravidez, entrou novamente em trabalho de parto prematuro e teve que ser internada para tentar retard-lo. Ficou internada du-rante um ms, quando nasceu seu outro fi -lho, Lucas, tambm grande prematuro de 25 semanas.

    Durante a internao da me, o pai ou a av trouxeram Jos Roberto s consultas. Aps o parto, seu irmo Lucas fi cou inter-nado e passou por todos os procedimentos por que Jos havia passado. No entanto, ao contrrio deste, Lucas era um beb que fazia muito contato com o Outro, alimentava-se bem e corria menos risco de vida que o ir-mo, apesar de, tambm, ter fi cado internado

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    por quase dois meses, ter estado muito tem-po entubado na UTI e ter sido submetido a vrios procedimentos invasivos e cirurgias.

    Assim que pode faz-lo, Alessandra vol-tou s sesses com Jos Roberto, mas menos ansiosa. Dividia-se entre os dois fi lhos, um internado e outro em casa. Mas, como os seus sintomas anorxicos persistiam, ela re-tomou sua anlise individual e seu tratamen-to psicofarmacoterpico.

    Aps cinco meses do incio do tratamen-to me ausento do pas devido ao doutorado. Fico muito preocupada em deixar Jos Ro-berto neste momento sem tratamento, logo aps sua melhora inicial e, por isso, o enca-minho ao Centro de Sade onde trabalho na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

    Nesse perodo, o paciente passou a ser tratado no grupo pais - bebs, grupo criado pela nossa equipe1 h cerca de oito anos, aps termos implantado o projeto de Interveno a Tempo no municpio, do qual participam as trs profi ssionais e at trs crianas e seus cuidadores. Notamos que o grupo facilita al-gumas intervenes, tais como, por exemplo, a interveno que uma me poderia fazer que, por ser muito direta, no poderia ser feita pela analista.

    Constitui um procedimento interessante e que tem produzido timos resultados, alm de otimizar o tempo da equipe de trs profi s-sionais que so referncia para uma Regional onde residem cerca de 250.000 pessoas, sen-do quase 90.000 em rea de risco (aglomera-dos) e que possuem o SUS como nico meio de tratamento. A demanda , sempre, enor-me e a equipe pode atender apenas aos casos de maior complexidade, ou seja, aos casos de autismo, psicose e neuroses graves.

    O Projeto de Interveno a Tempo busca capacitar os profi ssionais pediatras, genera-listas, enfermeiros e agentes de sade a reco-nhecer e encaminhar precocemente crianas com sinais de risco psquico.

    O grupo naquele momento, foi formado com dois pacientes que, coincidentemente, tinham o mesmo primeiro prenome. O aten-dimento em grupo revelou-se um sucesso para ambos e Jos Roberto manteve sua me-lhora progressiva. Aps um ms no perodo em que eu estava fora , a equipe decidiu fi l-mar uma sesso de Jos Roberto para que eu visse como o paciente est bem. Registraram uma cena linda, onde a av sustenta Jos Ro-berto em pleno jbilo frente ao encontro de sua imagem no espelho, aos 11 meses. Todo o grupo presente aplaude e o elogia. Ele ainda com as pernas bambas, no conseguindo se sustentar, mas olhando para todos os adultos presentes com expresso de alegria.

    A outra criana, companheira de sesso, Jos Tiago, solta um grunhido, pois todos haviam olhado para Z Roberto, se esque-cendo dele. Todos estavam encantados com o encantamento especular da criana. Flvia, a fonoaudiloga, diz em um sonoro manhs falando no lugar de Jos Tiago: Olha pra mim tambm, gente! Vocs olham s para o outro Jos, gente.

    Nesta cena, Alessandra, me de Jos Ro-berto, encontra-se com Jos Tiago, o com-panheiro de sesso de Jose Roberto, no colo. Marina (a av materna de Jos Roberto) sustenta o neto diante do espelho, e Luciana (TO) faz gracinhas para ele atravs do espe-lho. Jos Roberto responde tambm fazendo gracinhas e olhando para cada um dos adul-tos para ver se despertava prazer neles. Ain-da nesta cena, todos esto sentados no cho, rindo muito, menos Marlia, me de Jos Tiago, que observa a cena alheia, sentada em uma cadeira, e Flvia (fonoaudiloga) que fi lma e intervm com o manhs.

    Jos Roberto sentiu muitos cimes quan-do seu irmo, Lucas, teve alta do hospital e veio para casa, principalmente porque tro-cam sua bab por uma nova, e colocaram a sua antiga bab para cuidar do irmo. Parou de falar. Nessa mesma poca a famlia saiu do apartamento da av e retornou a sua pr-pria moradia, outra mudana que a criana

    1. Luciana Del Prete, terapeuta ocupacional e Flvia Villar, fonoaudiloga.

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    estranha. Mas Jos Roberto reagiu bem e recuperou-se com facilidade destas mudan-as. Seu vnculo com o Outro parecia relati-vamente bem estabelecido, mesmo diante de perdas que, antes, poderiam ser gravssimas devido sua hipersensibilidade s mudan-as e s contingncias da vida.

    Quando retornei da minha viagem, Jos Roberto estava com um ano e quatro meses e continuava muito bem: brincava muito de fort da2 (abria e fechava portas, escondia-se atrs de objetos, para depois voltar a encon-trar o olhar da analista, que fala pude), voltou a falar algumas palavrinhas, como o nome da nova bab, vov, papai.

    No se furtava mais ao contato visual. Ao brincar de comidinha, dava de comer ao adulto e fi cava contente quando falvamos que estava gostoso. Apontava objetos para o deleite escpico do Outro. Todos estes si-nais excluiriam o autismo pelo CHAT aos 18 meses. O Checklist for Autism in Toddlers (CHAT) um instrumento que, ao ser apli-cado a crianas aos 18 meses, pode identifi -car crianas que mais tarde se comprovaram autistas. O diagnstico baseia-se na falha de trs itens do teste: o apontar protodeclarativo, apontar que no pode estar ligado a objetos da necessidade da criana; o jogar simblico, ou seja, o brincar de faz-de-conta; o evitar do olhar. Ele, aos 16 meses, j no preenchia mais os critrios para criana autista por este exame.

    Persistia, apenas, a recusa alimentar. Acho interessante que, dentre os sinais de autismo, este foi o nico que restou, coincidindo com a questo materna. Esta anorexia seria, ain-da, uma difi culdade que os autistas podem

    apresentar, ou j se tratava de uma identifi ca-o com a anorexia materna? Esta difi culda-de alimentar seria dirigida a Alessandra, um ensaio frustrado de separao de seu Outro materno?

    Alessandra, naquele momento, tinha muita difi culdade de vir s sesses, talvez numa difi culdade em exibir seu corpo, cada vez mais magro. Aps um ms do retorno da analista, interrompeu o tratamento de Jos Roberto por quase dois meses, que acabou por ser retomado pela av. Marina contou, no retorno, que Jos Roberto no suportou uma aula de musicalizao para bebs a que foi levado, devido ao excesso de estimulao sonora nas sesses. Tapava os ouvidos e cho-rava com expresso facial de dor. Quando a professora props o trabalho com sons mais brandos e atendimento individual, o beb fi -cou melhor. A analista explicou, ento, que a hipersensibilidade (neste caso, auditiva) da criana ainda podia persistir por alguns anos e que devia ser respeitada. Na sesso seguin-te, Alessandra retornou com Jos Roberto e refi zemos o contrato da anlise.

    Logo aps esse momento, tive que me ausentar novamente do pas para estudo. Quando retornei, Alessandra tinha coloca-do Jos Roberto numa escola pela manh, o que coincidia com o horrio das sesses no Centro de Sade. Fez novo movimento de interromper o tratamento e, novamente, apelamos para a av que, mais uma vez, teve que dar o suporte para que Jos Roberto vol-tasse a ser atendido.

    Acabamos retornando o tratamento de Jos no meu consultrio particular. Ele j es-tava com dois anos. Falava algumas slabas e alguns nomes. A me teve uma conquista: tornou-se muito carinhosa com Jos Roberto e passou a vir sozinha com ele na maioria das sesses, beijando-o muito. E era claro o pra-zer experimentado em seu manhs quando o fi lho fazia alguma coisa que causava admira-o. Ficou toda contente quando a elogiamos quanto aos avanos da sua relao com Jos Roberto. Somente algumas vezes pedia que a

    2. Brincadeira observada por Freud (1980) em seu neto de 18 meses que, diante da partida da me, punha-se a brincar com um carretel fazendo-o desaparecer e apa-recer acompanhado dos sons oo (fort-l), quando o mesmo sumia e da (aqui), quando reaparecia. Freud interpreta o jogo, entre outras coisas, como a capaci-dade que a criana pode adquirir de simbolizao da ausncia materna.

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    sua me, a av paterna ou o pai o trouxessem sesso.

    Alessandra queixou-se, ento, da relao com sua prpria me, ao mesmo tempo mui-to prxima, mas tambm muito invasiva, e de sua difi culdade em se separar de seus cuida-dos e, mesmo, de cuidar de seus fi lhos sem ela.

    No consultrio, Jos Roberto gostava de brincar com carrinhos. Mais tarde, adorava uma casinha onde colocou personagens que ele mesmo escolheu entre minha famlia de bonecos: a me, o pai, a av materna, a ma-drinha, a bab. Sempre excluia Lucas, o irmo de quem tem muitos cimes, da brincadeira. Muitas vezes, batia no pai, esquecendo-se dele num canto da casinha, demonstrando uma clara rivalidade edipiana.

    Em casa, continuava vomitando e contro-lando os pais com o vmito. Alessandra se estressava menos, mas o pai perdia a paci-ncia e batia nele algumas vezes. H alguns meses, passou a aceitar dormir somente jun-to com os pais. O pai saa da cama e ia dor-mir no quarto com Lucas e a me fi cava com ele no quarto do casal. Aps trabalharmos a questo, a me passou a dormir na sala e ele a dormir, sozinho, na cama de casal.

    O pai se ressentiu disto em uma sesso dizendo que, h muito, havia se esquecido do que era serem marido e mulher. Mas, ao mesmo tempo, disse: ele dorme cedo, se dormir na sala vai atrapalhar todo mundo de ver televiso. O pai falou em se separar mas, Alessandra foi fi rme: Enquanto os meninos so pequenos no, eles precisam de voc. Ela pedia o pai para os fi lhos, mas ainda no o marido.

    Muitas vezes, Jos brincava de fazer co-midinha e alimentava os bonecos, a me e a analista durante a sesso. Em algumas ses-ses, a av trazia comida de verdade e ele ali-mentava a todos, mas recusava-se a comer. Notvamos que a me, discretamente, comia apenas um pouco, numa pantomima de pra-zer pouco convincente.

    A anlise sofreu, ainda, mais uma inter-rupo por motivo de estudo. Mas, nesse

    momento, fi zemos um contrato prvio com a me e com Jos Roberto, deixando explcito que no os estou abandonando, para que ela no repetisse o movimento de abandono das sesses quando eu retornasse, pois o Joo se ressentia muito dos meses que ela demorava para voltar.

    Quando retorno, Jos Roberto, dois anos e quatro meses, j est falando vrias frases e a me est muito orgulhosa com as con-quistas flicas do fi lho. Retomamos, imedia-tamente, o trabalho analtico. Foi retirado da escola, pois vomitava muito ao ser deixado l. A separao era, ainda, muito traumtica para ele.

    Matricularam-no em uma nova escola no semestre seguinte, desta vez com suces-so, mas no sem dificuldades, pois a crian-a tenta forar os pais a desistirem de lev-la escola vomitando. Depois de quatro meses, Jos Roberto estava melhor adapta-do e passa vrios meses sem vomitar, o que s retorna temporariamente aps a sada da bab.

    Surgiram muitas birras, testando os pais. Fazemos intervenes no sentido de uma maior valorizao do marido enquanto ob-jeto de desejo desta me, sem muito suces-so por enquanto. E a criana tenta se virar em fazer seu dipo, comeando a apresen-tar algumas fobias. Passa a ter medo de Jesus Cristo e, uma vez, chora ao ver o pai de um paciente em minha sala de espera quando sai do consultrio.

    Em outra sesso, fala que a av seu ou-tro papai. A av realmente, a princpio, era menos afetada pela manipulao atravs do vmito e pelas birras da criana, desempe-nhando bem a funo paterna. Agora, at mesmo a me j consegue sustentar esta fun-o de limite. Mas o pai real, aquele desejado pela me, ainda no existe na dinmica fami-liar, difi cultando o terceiro tempo do dipo para Jos Roberto.

    Malvine Zalcberg (2003) em seu livro A relao me-fi lha, nos traz refl exes interes-santssimas a respeito da devastao, que se

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    d para a autora, quando a separao se faz impossibilitada. Chama a ateno uma das frases com que a autora abre seu livro. Para toda mulher, h sempre trs mulheres: ela menina, sua me e a me da me. (Win-nicott, 1987, citado por Zalcberg, 2003). Achamos preciosa esta frase quando toma-da em relao a este caso clnico e, mesmo a outros, onde o papel da av como funo materna suplementar demandada, o que, ao mesmo tempo, pode manter a difi culda-de de separao. Muitas vezes, a interven-o clnica na psicanlise me-beb pode atingir a neurose infantil materna, fazendo ressurgir a me enquanto menina. Muitas intervenes clnicas em manhs tm este objetivo.

    Conseguiremos, atravs da anlise, pos-sibilitar esta separao obstaculizada entre Alessandra e Marina e entre Alessandra e Jos Roberto, que traz a anorexia como sin-toma, apontando para a difi culdade de se-parao? Para trazer a luz a estes questiona-mentos, faz-se necessrio aprofundarmos no conceito de devastao.

    Voltando devastaoSeria til explorarmos o conceito de devasta-o, termo que Lacan emprega, inicialmente, para qualifi car a relao me-fi lha e, poste-riormente, em relao ao parceiro amoroso devastador.

    O dicionrio histrico da lngua france-sa Robert nos diz que ravage vem do latim popular rapire, que signifi ca levar fora ou de surpresa, pegar rapidamente, pilhar. Por analogia a pilhar, ravage passa a signi-fi car o que as guas arrastam com elas, desig-nando por metonmia um dano importante causado com violncia e rapidez.

    Em psicanlise, o termo ravage (devasta-o, estrago) empregado por Lacan, pela primeira vez, no texto O aturdido, aps ha-ver escrito as frmulas da sexuao. Vamos escolher a traduo de ravage por devasta-o, por ser mais aproximada da palavra usa-da por Freud, catstrofe.

    ... a elucubrao freudiana do complexo de dipo, que faz da mulher peixe na gua, pela castrao ser nela ponto de partida, contrasta dolorosamente com a realidade de devasta-o que constitui, na mulher, em sua maioria, a relao com a me, de quem, como mulher, ela realmente parece esperar mais substncia que do pai o que no combina com ele ser segundo, nessa devastao (LACAN, 2003, p.465, grifo nosso.)

    Lacan busca com esse termo retomar aquele usado por Freud que catstrofe. A transio para o objeto paterno reali-zada com o auxlio das tendncias passivas, na medida em que escaparam catstrofe (FREUD, 1980, p.275).

    Devastao e catstrofe, portanto, se refe-rem aos laos estabelecidos entre uma me-nina e sua me e quilo que, dessa ligao, resta na subjetividade feminina. Vamos en-contrar, inicialmente, em Freud uma leitura da relao primitiva da mulher com sua me abordada por seu conceito de inveja do pnis (Penisneid).

    Freud se questiona, posteriormente, sobre os destinos da inveja do pnis na vida psqui-ca posterior da mulher e sua articulao com a ligao pr-edpica da menina com sua me. A menina faz de sua me a responsvel por sua falta de pnis e no lhe perdoa por essa desvantagem. Por isso, a ligao da menina com sua me pode terminar em dio. Freud faz a sexualidade feminina derivar da inveja do pnis e observa quatro consequncias ps-quicas decorrentes dela, sendo a devastao (catstrofe) uma delas, que situa a me como responsvel pela falta da fi lha.

    Em Freud, a catstrofe est estritamente relacionada ao destino do falo na menina e ele observa que certas mulheres permane-cem em sua ligao original com a me sem nunca alcanarem uma verdadeira mudana em relao aos homens.

    Segundo Estela Solano-Suarez, Lacan desloca a problemtica feminina, posto que Freud a havia centrado na relao das mu-

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    lheres com respeito demanda dirigida ao pai. Lacan caracteriza, fundamentalmente, a posio feminina a partir da relao com a me. Em O aturdido, Lacan afi rma que a menina parece esperar da me mais substn-cia que do pai. A menina espera da me, e no do pai, um a mais de substncia.

    Substncia, assim como subsistncia, tem a mesma etimologia, vinda do latim clssico subsistere, que signifi ca resistir, no ceder. Subsistncia o que permite viver, o que se refere aos vveres. Por isso, podemos imagi-nar a enormidade do que uma mulher espera de sua me. Trata-se de algo que ela, segura-mente, no lhe pode dar, uma vez que a me no lhe pode dar nem a existncia enquanto mulher, nem a substncia feminina. No lhe d porque algo da ordem do impossvel.

    Interessante observarmos, em relao ao caso Jos Roberto, que Marina, a av mater-na cheinha e, com frequncia, trazia comi-da para as sesses de anlise do neto. Jos e Alessandra recusavam os vveres trazidos pela av. Esta mesma av sustentava o trata-mento do neto ao faz-lo retornar as sesses e ao assumir, inclusive, a princpio, o seu pa-gamento, quando retornaram para meu con-sultrio particular. Alessandra fugia, muitas vezes, do tratamento oferecido e pago pela av. A demanda oral pelo nada de Alessan-dra chamava a ateno.

    Recentemente, a bisav da criana fale-ceu (me da av, j em idade bem avana-da e aps uma doena crnica). Alessandra sentiu muito. Agora que minha av morreu, sei que ela foi muito mais que av para mim, assim como minha me muito mais que av para Jos... isto tem vantagens e desvan-tagens.... Acho que tenho que romper com isto, os meninos passam mais tempo na casa de minha me que l em casa. No sei se amor ou invaso.

    Como amar dar o que no se tem (LA-CAN, 1999, p.218), o amor o mais difcil dos dons. Nunca temos certeza do amor do outro, a no ser na psicose. Aps uma an-lise, os signos do amor materno podem ad-

    quirir outra signifi cao para a menina que, at ento, no se julgava amada pela me. A demanda de amor feminina pede signos e palavras do Outro que possam dar uma con-sistncia ao seu ser. necessrio que a an-lise faa a mulher cair desta iluso, para que ela possa assumir seu modo de fazer com o feminino e, como a me, encontrar um par-ceiro, um homem do qual ela faa sinthoma para ter fi lhos. Segundo Lacan (2007) a mu-lher seria sinthoma para o homem, enquanto o homem seria devastao para a mulher.

    Para Solano-Suarez, a sada da devastao para uma mulher, que ela chama de a pai-xo maior feminina, possvel de ser feita em uma anlise, permitindo mulher poder responder ao real em jogo na posio femi-nina. Criando sua prpria verso, um saber fazer com a feminilidade que corresponde ao saber fazer do arteso. Por isso as mu-lheres so peritas em cobrir o real, delas e, tambm, do corpo de seus fi lhos enquanto bebs. S quando se liberta da devastao que a mulher cria um saber fazer com o real do feminino.

    Ainda no vimos isto acontecer com Alessandra. E interessante que ela consegue parar de dormir com seu fi lho, mas no vol-ta a dormir com o marido. Tambm investe muito pouco em cobrir o real de seu corpo magro de objetos flicos.

    Segundo Soller (2005) o ncleo da de-vastao seria o gozo feminino que invade o sujeito, provocando um eclipse subjetivo temporrio, provocando desde uma leve de-sorientao at a angstia extrema, passando por variados graus de extravio e evitao, o que observamos com frequncia em Ales-sandra e, tambm, em outras mes de crian-as autistas. Defendemos a hiptese de que a predominncia de qualquer outro tipo de gozo pode devastar, principalmente o gozo do Outro.

    Devido interveno psicanaltica preco-ce me-beb apostamos no fato de que, bre-ve, Alessandra e Jos Roberto tm chances de sair da devastao, separando-se.

  • Estudos de Psicanlise | Belo Horizonte-MG | n. 36 | p. 93102 | Dezembro/2011 101

    Devastao e autismo

    AbstractAutism is a study capacity where we can fre-quently see devastation and its occurrence. Devastation shows unlimited pain. Its not a delineated pain as in a symptom. A hypothe-sis that we have is that, because of this end-less pain, the autism parents fi nish moving away from their children. Th is was seen by the researchers as a lack of aff ect, an absence of mothers desire, a cold mother, or motherly depression. At cases cared in the fi rst months of live some analysts obtain, by making possi-ble the tie of the children with the functional motherly agent, to revert the devastation can-vas shown by the parents, therefore reverting devastation also in the children, switching off the risk factors for autism. Despite this de-vastation not being autism exclusivity, for its transtructural, we believe that it very well ap-plies to this pathology, thus being the motive to investigate the subject: devastation and au-tism. We have our own clinical case study of a child attended since the fi ft h month of life through a mother-child psychoanalysis where the risk signs for autism were turned off .

    Keywords: Risk factors for autism, Mother-child early psychoanalytical treatment, De-vastation.

    Referncias

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    RECEBIDO EM: 01/08/2011APROVADO EM: 12/09/2011

  • Estudos de Psicanlise | Belo Horizonte-MG | n. 36 | p. 93102 | Dezembro/2011102

    Devastao e autismo

    SOBRE OS AU TORES

    Isabela Santoro CampanrioPsiquiatra da infncia e adolescncia. Psicanalista. Editora das revistas Reverso do Crculo Psicanaltico de Minas Gerais e da revista Estudos de Psicanlise do Crculo Brasileiro de Psicanlise. Mestre e dou-toranda em psicologia pela UFMG. Autora do livro Espelho, Espelho meu: A psicanlise e o tratamento precoce do autismo e de outras psicopatologias graves, Ed.galma, 2008. Membro do Crculo Psicanaltico de Minas Gerais.

    Jeferson Machado PintoPsicanalista. Doutor em Psicologia pela USP. Autor do livro Psicanlise, feminino, singular, Belo Horizonte: Autntica, 2008. Professor do Departamento de Psi-cologia da UFMG. Orientador de tese de Isabela San-toro Campanrio.

    Endereo para correspondncia:Rua Teixeira de Freitas, 800/101 Santo Antnio30350-180 Belo Horizonte/MGTel.: (31)3281-0602E-mail: [email protected]