David colbert o mundo mágico de harry potter

197

Transcript of David colbert o mundo mágico de harry potter

Page 1: David colbert   o mundo mágico de harry potter
Page 2: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Um dos prazeres de ler J.K. Rowling é descobrir as divertidas referências à

história, às lendas e à literatura que ela esconde em seus livros.

O Mundo Mágico de Harry Potter desvenda as pistas deixadas

por Rowling e revela significados habilmente escondidos nas aventuras

de Harry Potter.

Os leitores irão encontrar neste livro as fascinantes origens das

criaturas mágicas citadas nos livros e histórias de alquimistas e

feiticeiros, reais e imaginárias, através da contribuição de escritores tão

variados como Shakespeare, Flaubert, Dickens, Ovídio e Tolkien.

Não se preocupe se jamais tiver percebido nenhuma dessas

pistas. Um dos mais extraordinários talentos de Rowling é sua habilidade

de lançá-las sem quebrar o ritmo da narrativa. No entanto, quando você

descobre que muitas de suas referências fazem parte de lendas de

milhares de anos, as histórias ficam ainda mais saborosas.

Antes de tudo, um escritor é um leitor. Depois de devorar suas

histórias, podemos notar que J. K. Rowling foi uma grande leitora, antes

de se tornar uma grande escritora. Tão impressionante quanto o seu

conhecimento sobre mitos e lendas é sua habilidade de aproveitá-los de

modo tão original e de atualizá-los.

J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, criou o

termo “caldeirão de histórias” para descrever uma fervilhante panela,

cheia de idéias, personagens e temas, que ao mesmo tempo fornece

Page 3: David colbert   o mundo mágico de harry potter

material para os escritores e é continuamente alimentada por eles.

Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja

único, ele é construído sobre uma sólida base de mitos e folclore

preservada através do tempo e da distância. A popularidade de seus

livros atesta a riqueza da cultura de onde ela extrai muitos de seus

personagens, imagens e temas.

O Mundo Mágico de Harry Potter revela esses amplos domínios para os fãs

que tiveram sua atenção despertada pela obra de Rowling. Como você

verá, ela utiliza pequenos detalhes de lendas e histórias já existentes para

criar uma coisa totalmente nova. E, ainda assim, permanece totalmente

fiel à essência de suas fontes.

Em um chat online com fãs, ela encorajou um leitor, que

perguntava a origem de uma frase, a “ir em frente e pesquisar. Um pouco

de investigação faz bem a qualquer um”. É isso o que O Mundo Mágico de

Harry Potter faz: uma pequena e descompromissada investigação com o

propósito de divertir e fascinar.

Page 4: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Sobre o autor:

Formado pela Brown University, David Colbert estudou

antropologia e mitologia, embora tenha passado a maior parte de seu

tempo na biblioteca da universidade lendo o que encontrava - o que,

de certa forma, ele continua fazendo até hoje. Além de escrever e editar

vários livros sobre história, como World War II: A Tribute in Art and

Literature e a coleção Eyewitness, Colbert trabalhou como redator-chefe

do programa de televisão Who Wants To Be a Millionaire, similar ao

popular Show do Milhão. Ele mora na Carolina do Norte, nos Estados

Unidos, e seu e-mail para contato é [email protected]

2001 por David Colbert

Título da edição original em inglês: The magical worlds of Harry Potter:

A treasury of myths, legends and fascinating facts

Publicado originalmente por Lumina Press LLC

tradução Rosa Amanda Strausz

preparo de originais Carlos Irineu da Costa

revisão José Tedin Pinto Sérgio Bellinello Soares

capa Raul Fernandes

projeto gráfico e diagramaçâo Valéria Teixeira

Page 5: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Para minhas sobrinhas

Emma, Lillian e Molly, e

meu sobrinho Sam

LEIA OS MITOS COM OLHOS MÁGICOS:

deixe os mitos ficarem transparentes a

seu significado universal, e os

significados dos mitos ficarem

transparentes às suas origens misteriosas.

O primeiro dos “Dez Mandamentos

de Joseph Campbell para se

Ler Mitologia”

Page 6: David colbert   o mundo mágico de harry potter

SUMÁRIO

Introdução

O Que faz de Harry Potter um herói universal?

Adivinhação Sibila Trelawney já acertou alguma coisa?

Alquimia Os alquimistas procuravam mesmo uma pedra mágica?

Animagos Quais são os mais impressionantes animagos?

Animais fantásticos Quais animais fantásticos saíram das lendas?

Aranhas Como espantar uma aranha

Avada Kedavra O “Avada Kedavra” é um feitiço de verdade?

Basiliscos Basiliscos eram apenas serpentes grandes?

Bichos-papões Criaturas que não sabem a hora de ir embora

Bruxos Quais dos “bruxos e bruxas famosos” existiram de verdade?

Cálice de Fogo, O Por que Harry e Cedrico parecem cavaleiros da Távola Redonda?

Centauros Por que centauros evitam os humanos?

Corujas Além do correio, o que mais significa a chegada de uma coruja?

Dementadores Chocolate, um santo remédio contra dementadores

Demônios da Cornualha Qual é o truque preferido dos duendes?

Dragões Qual é a criatura digna de um rei?

Druidas Quem foram os primeiros magos ingleses?

Duendes Por que os duendes são bons banqueiros?

Dumbledore Se Dumbledore é tão poderoso, por que não luta com Voldemort?

Durmstrang Por que os alunos de Durmstrang viajam de navio?

Egito De onde vem a magia

Esfinge Por que a Esfinge faz uma pergunta a Harry?

Espelhos Por que os espelhos são mágicos?

Fawkes Qual dos personagens é imortal?

Flamel O verdadeiro Flamel foi um alquimista bem-sucedido?

Floresta Por que a floresta próxima a Hogwarts é proibida?

Page 7: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Fofo Por que Fofo pertencia a um “sujeito grego”?

Gárgula Que outro membro da turma de Draco tem nome de dragão?

Gigantes Todos os gigantes são cruéis?

Grifos Qual a criatura que domina tanto os céus quanto a terra?

Grindylows Por que os pais se preocupam com os grindylows?

Hipogrifos Qual é a criatura mágica menos verossímil?

Hogwarts Por que alguém iria para uma escola onde tem uma Sonserina?

Kappas Qual a criatura que não pode inclinar a cabeça?

Labirintos Por que a terceira tarefa se passa em um labirinto?

Latim Qual é o idioma mais importante para os bruxos?

Lulas gigantes Quais criaturas da vida real ainda intrigam os cientistas?

Malfoy Por que os nomes dos Malfoy combinam tanto com eles?

Manticores Por que os bruxos não se aproximam dos manticores?

Marca Negra Por que Voldemort grava a Marca Negra nos Comensais da Morte?

McGonagall Por que a professora McGonagall aparece como uma gata?

Nagini Qual dos aliados de Voldemort é originário da índia?

Nomes De onde vêm esses nomes?

Runas O que são as runas da penseira?

Sereianos Por que teríamos medo de uma criatura do mar?

Sirius Black Por que Sirius Black vira um cachorro negro?

Trasgos Por que os trasgos cheiram mal?

Unicórnios Como pegar um unicórnio?

Vablatsky Quem realmente escreveu o livro de adivinhações?

Varinhas mágicas Por que os bruxos usam varinhas mágicas?

Vassouras voadoras Será que as bruxas sempre usaram vassouras voadoras?

Veelas O que deixa as veelas zangadas?

Voldemort Que pesadelos terão gerado Voldemort?

Posfácio

Agradecimentos

Bibliografia

Page 8: David colbert   o mundo mágico de harry potter

GUIA DAS ABREVIAÇÕES DOS TÍTULOS DOS LIVROS

Harry Potter e a Pedra Filosofal. A Pedra

Harry Potter e a Câmara Secreta: A Câmara

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: Azkaban

Harry Potter e o Cálice de Fogo: O Cálice

Animais Fantásticos e Onde Habitam: Animais Fantásticos

Quadribol Através dos Séculos: Quadribol

INTRODUÇÃO

Um dos prazeres de ler J. K. Rowling é descobrir as divertidas

referências à história, às lendas e à literatura que ela esconde em seus

livros. Por exemplo, a esfinge que surge no labirinto durante o Torneio

Tribruxo pede a solução de um enigma, exatamente como a esfinge da

mitologia grega. Fofo, o cachorro de estimação de Hagrid, é, na verdade,

outro famoso ser da mitologia grega, Cérbero. “Durmstrang”, nome da

escola de magia que só admite bruxos de sangue puro e tem uma ligação

questionável com Lord Voldemort, vem de um estilo germânico

chamado Sturm und Drang, que era o favorito do nazismo alemão. Da

mesma maneira, os estudantes de Durmstrang chegaram a Hogwarts a

Page 9: David colbert   o mundo mágico de harry potter

bordo de um navio semelhante ao existente em uma famosa ópera do

estilo Sturm und Drang.

Leitores mais atentos já perceberam que Rowling também

esconde pistas divertidas nos nomes que escolhe para seus personagens.

Draco, o vingativo colega de Harry, tem seu nome inspirado na palavra

latina para “dragão” ou “serpente”. A fênix de estimação de

Dumbledore, Fawkes, tem seu nome tirado de uma figura histórica

ligada a fogueiras - e acredita-se que as fênix sejam capazes de renascer

do fogo.

Este livro desvenda as pistas deixadas por Rowling e revela seus

significados habilmente escondidos. Em um chat online com fãs, ela

encorajou um leitor, que perguntava a origem de uma frase, a “ir em

frente e pesquisar. Um pouco de investigação faz bem a qualquer um”. E

isso o que O Mundo Mágico de Harry Potter faz: uma pequena e

descompromissada investigação com o propósito de divertir e fascinar.

Você pode até mesmo compartilhar um sorriso com a própria

Rowling. Como disse a revista Time ao observar que o zelador de

Hogwart, Argus Filch, teve seu nome inspirado no Argus da mitologia

grega - um vigia com mil olhos espalhados pelo corpo -, “é o tipo de

detalhe capaz de provocar um sorriso dentro da cabeça do autor”.

Não se preocupe se você nunca tiver percebido essas pistas. Um

dos mais extraordinários talentos de Rowling é sua habilidade de

colocá-las no texto sem quebrar o ritmo da narrativa. Por exemplo, em

Page 10: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Azkaban, ela ficou satisfeita em fazer apenas uma rápida referência ao

manticora - um horrível monstro devorador de gente. Deixar passar a

oportunidade de descrever detalhadamente uma criatura dessas exige

disciplina. Para Rowling, bastou fazer uma referência casual. No

entanto, quando você sabe o que é um manticora e que ele fez parte de

muitas lendas por milhares de anos, a história fica ainda mais saborosa.

J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, criou o

termo “caldeirão de histórias” para descrever uma fervilhante panela

cheia de idéias, personagens e temas, que ao mesmo tempo fornece

material para os escritores e é continuamente alimentada por eles.

Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja único, ele é

construído sobre uma sólida base de mitos e folclore preservada através

do tempo e da distância.

A popularidade de seus livros comprova a riqueza da cultura de

onde ela extrai muitos de seus personagens, imagens e temas. O Mundo

Mágico de Harry Potter revela esses amplos domínios para os fãs que

tiveram sua atenção despertada pela obra de Rowling. Como você verá,

ela cria algo totalmente novo usando pequenos detalhes de lendas e

histórias já existentes. Ainda assim, permanece totalmente fiel à essência

de suas fontes.

Page 11: David colbert   o mundo mágico de harry potter

O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI

UNIVERSAL?

Os detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs.

Alguns deles chegaram mesmo a deduzir certas informações que J. K..

Rowling não oferece, como o ano de nascimento de Harry (veja a

legenda abaixo).

Harry, o herói

Mas, se conseguimos entender profundamente o personagem de

Harry Potter, isso não se deve somente aos fatos. Harry, apesar de suas

qualidade únicas, é um herói que nos parece bastante familiar. Desde o

comecinho de A Pedra ele já aparece como um príncipe perdido ou um rei

oculto - assim como Édipo, Moisés, o rei Artur e inúmeros outros de

todas as culturas. Ele nunca soube que era um bruxo - nem mesmo sabia

que existia o mundo mágico - antes de receber a carta chamando-o para

Hogwarts.

Quando nasceu Harry Potter?

Alguns fãs dizem que foi em 1980, calculando a partir do

Page 12: David colbert   o mundo mágico de harry potter

500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A Pedra. Nick

morreu em 1492. Dessa forma, A Pedra se passaria em 1992.

Harry tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes

no livro contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite.

Para torná-lo ainda mais familiar a todos nós, ele é, pelo menos

de acordo com os estranhos padrões dos Dursley, um patinho feio. Assim,

eles o maltratam, como Cinderela foi maltratada, aprisionando-o num

mundo totalmente alheio ao seu, forçando-o a dormir debaixo das

escadas quando uma cama com dossel está à sua espera em Hogwarts, e

alimentando-o de restos, o que o faz ficar espantado com a abundância

dos banquetes de Hogwarts.

Como Harry vê a si mesmo

Apesar de a entrada para o mundo dos bruxos oferecer a Harry,

de imediato, o reconhecimento que ele tão desesperadamente deseja -

todo mundo que ele encontra já ouviu falar no grande Harry Potter -, ele

ainda sente dúvidas, e muitas. A cicatriz brilhante não foi a única marca

deixada por Voldemort. No fundo de sua consciência, ele guarda

recordações daquela luta. Alguma coisa da psique de Voldemort

conseguiu penetrar em Harry. E ele se preocupa com a dúvida em que

Page 13: David colbert   o mundo mágico de harry potter

ficou o Chapéu Seletor em A Pedra: ele pertence à casa Grifinória, com as

virtudes que isso implica, ou será de Sonserina, suscetível ao Mal? Em A

Câmara, Dumbledore explica-lhe que entre o Bem e o Mal existem

sombras, áreas cinzentas, e não apenas escuridão e luz. A porção de

Voldemort que há em Harry, segundo Dumbledore, simplesmente o

torna mais incomum, ou dotado de mais habilidades do que a média dos

alunos da Grifinória. E também o ajuda a entender Voldemort, o que é

sempre uma vantagem. Nas futuras batalhas, essa força extra e esse

conhecimento sem dúvida vão ajudar Harry.

Linhagem

A mãe de Harry, apesar de ser uma bruxa poderosa, nasceu

trouxa. Para aqueles que dão importância à linhagem, como Draco

Malfoy, Harry é um bruxo inferior. Mas, de alguma maneira, parece

justamente que Harry é ainda mais forte justamente por também ter

sangue de trouxa.

De fato, suas conversas com Draco fazem eco a um incidente

na infância de um outro grande mago britânico, Merlim, contado pelo

antigo historiador Geoffrey of Monmouth: “Uma súbita discussão

irrompeu entre os dois colegas, cujos nomes eram Merlim e Dinabutius.

Em meio à troca de palavras, Dinabutius disse a Merlim: 'Por que você

Page 14: David colbert   o mundo mágico de harry potter

tenta competir comigo, seu idiota? Como pode pretender que suas

habilidades estejam à altura das minhas? Tenho sangue nobre em ambos

os lados da minha ascendência. Já você, ninguém sabe quem é, já que

nunca teve um pai!'“

Mas o adversário de Merlim, assim como Draco Malfoy, estava

predisposto a equívocos causados pelo próprio orgulho. Seu rompante

atraiu a atenção dos mensageiros do rei Vortigern, que haviam

justamente sido instruídos a encontrar um garoto sem pai. Foi assim que

o jovem Merlim foi levado à presença do rei, e então iniciou sua carreira.

Harry com mil caras

As aventuras de Harry também seguem um padrão que nos

parece sempre familiar. O estudioso Joseph Campbell escreveu um

longo trabalho sobre o herói das mil caras, um personagem comum e

central em diversas culturas por todo o mundo.

De Ulisses, na Grécia Antiga, a Luke Skywalker, de Guerra nas

Estrelas, esses heróis e suas lendas guardam uma intrigante similaridade.

Contando com Harry, são mil e uma caras.

Campbell resume tais histórias da seguinte maneira: “Um herói

se arrisca a deixar o mundo cotidiano e penetra numa região do

sobrenatural e do fantasioso. Forças miraculosas estão à sua espera, e ele

Page 15: David colbert   o mundo mágico de harry potter

alcança um triunfo decisivo. O herói retorna de sua misteriosa aventura

dotado agora do poder de auxiliar seus semelhantes humanos.”

A jornada do herói segue três etapas, que Campbell nomeia de

Partida, Iniciação e Retorno. Entre essas etapas há pontos em comum com

as aventuras de Harry. Uma olhada rápida nos livros revela a constância

desse padrão:

I. Partida

O herói é chamado a aventura.

De acordo com Campbell, o herói é primeiramente visto no mundo

cotidiano. Ele está iniciando uma nova etapa em sua vida. Um mensageiro pode ser

enviado para anunciar o destino que chama pelo herói.

O início de A Pedra se encaixa bem nesta descrição. Harry está

sofrendo horrores em sua convivência com os Dursley quando descobre

que há um lugar à sua espera em Hogwarts. Como os Dursley

interceptam as primeiras cartas, Hagrid vem pegá-lo.

Harry continua a passar as férias com os Dursley e, portanto, os

livros seguintes começam novamente com Harry no mundo cotidiano.

O herói pode rejeitar o chamado da aventura. Ele pode ter inúmeras razões

para tanto, desde as suas responsabilidades diárias até o egoísmo — ele não quer se

Page 16: David colbert   o mundo mágico de harry potter

dedicar a ajudar os outros. No entanto, por mais que resista, vai acabar descobrindo

que não tem escolha a não ser seguir em frente.

Embora Harry não percorra essa etapa em A Pedra, vai fazer isso

nos livros seguintes.

Em A Câmara, ele fica perturbado com a atenção dos outros,

provocada por sua aventura anterior, e busca o anonimato. Mas seu

caráter corajoso torna impossível para ele ignorar as misteriosas

ocorrências - que, como manda o destino, têm Harry como alvo.

Em O Cálice, mesmo tendo decidido não enganar o Cálice de

Fogo para participar do Torneio Tribruxo, ele o escolhe da mesma

forma.

O herói encontra um protetor, um guia, que lhe oferece uma ajuda através de

poderes sobrenaturais, freqüentemente sob a forma de amuletos.

Aí está algo que vive acontecendo. Em A Pedra, Hagrid é

mostrado como um dos protetores de Harry desde o nascimento do

garoto. Ele foi o bruxo que levou Harry aos Dursley ainda bebê.

Posteriormente, eles se reencontram, quando Harry está indo para

Hogwarts. Eles visitam o Beco Diagonal, onde Hagrid cuida que Harry

compre uma varinha mágica e outros acessórios de

bruxos. Como presente de aniversário, Hagrid lhe dá

uma coruja, Edwiges. Do mesmo modo, Dumbledore

tem sido um protetor e um guia de Harry.

Page 17: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Em A Pedra, ele dá a Harry a capa da invisibilidade. Em Azkaban,

Harry descobre que Sirius vinha protegendo-o.

O herói encontra a primeira entrada para o novo mundo. O protetor pode

apenas levar o herói até a entrada, ele deve atravessá-la sozinho. O herói pode ter de

lutar, inicialmente, com um guardião da entrada que está ali para impedi-lo de

atravessá-la, ou superá-lo pela astúcia.

O clímax de cada uma das aventuras de Harry começa com a

travessia solitária de uma entrada.

Em A Pedra, Rony pode ajudá-lo a definir quais são os

movimentos a serem dados no xadrez e Hermione auxilia-o a descobrir

as poções que o ajudarão a atravessar as chamas negras. Mas somente

Harry pode entrar na “última câmara”, onde enfrenta Quirrell.

Em A Câmara, apesar de ele, Rony e Lockhart percorrerem o

escoadouro para encontrar o basilisco e salvar Gina Weasley, Harry

precisa vencer sozinho o último e mais perigoso trecho da jornada.

O herói penetra na “barriga da baleia”, uma expressão tirada das lendas,

como a história de Jonas, que representa “ser tragado pelo desconhecido”.

Page 18: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Seja quando entra na Câmara Secreta ou quando penetra no

esconderijo de Lupin, debaixo do Salgueiro Lutador, Harry está na

barriga da baleia.

II. Iniciação

O herói segue um caminho no qual é continuamente posto à prova. O

ambiente é desconhecido. O herói pode encontrar companheiros que o ajudem a passar

pelas provas. Forças invisíveis podem também vir em seu auxílio.

Esses elementos se repetem em todos os livros.

Harry sempre recebe novos amuletos, tal como a Capa

da Invisibilidade, em A Pedra, e o Mapa do Maroto, em

Azkaban. Ele aprende a invocar forças, como o

Patrono.

O herói é raptado, ou precisa empreender uma jornada à noite ou pelo mar.

Harry é literalmente raptado quando toca a Taça Tribruxo, que

havia sido transformada em portal.

O herói enfrenta um dragão simbólico. Ele pode sofrer uma morte ritual,

Page 19: David colbert   o mundo mágico de harry potter

talvez mesmo desmembramento.

Harry luta contra o basilisco, os dementadores e, é claro, com o

maior de todos os dragões simbólicos - Voldemort.

E parece que em cada aventura Harry sofre novos tipos de

ferimentos - por exemplo, ele é literalmente desmembrado em A Câmara,

quando quebra o braço durante uma partida de quadribol e seus ossos

são acidentalmente removidos por um feitiço malfeito.

O herói é reconhecido por seu pai ou se reúne a ele. Ele começa a entender essa

força que comanda a sua vida.

Em todas as aventuras, Harry vivência um profundo

momento de contato com seus pais, como quando eles

aparecem no Espelho de Ojesed, em A Pedra, e como

imagens fantasmas emitidas pela varinha mágica de

Voldemort, em O Cálice.

O herói torna-se quase divino. Ele ultrapassou a ignorância e o medo.

Harry conquista uma vitória contra o medo em cada aventura.

Embora pareça surpreso por conseguir isso, ele se convence,

progressivamente, a cada embate com Voldemort, que o Lorde das

Page 20: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Trevas não o derrotará. Como diz Dumbledore, ao final de O Cálice,

“Você mediu forças com o poder de um bruxo adulto e enfrentou-o de

igual para igual”.

O herói recebe a última dádiva, o objetivo de sua busca. Pode ser um elixir da

vida. E pode ser diferente do objetivo original do herói, pois ele se tornou mais sábio

durante seu percurso.

Em A Pedra, o Espelho de Osejed coloca a última dádiva -algo que

de fato produz um elixir da vida - bem em seu bolso. Em A Câmara, ele

derrota o monstro que vive nos subterrâneos de Hogwarts há décadas,

salvando Gina Weasley (e inúmeros outros estudantes que poderiam ter

se tornado vítimas do basilisco).

Em Azkaban, ele encontra o prêmio que todos os bruxos vêm

procurando: Sirius Black. Mas, depois de descobrir a verdade sobre

Black, ele arruma um jeito para salvá-lo da inevitável

sentença de morte - o que é a mesma coisa que ter lhe dado

um elixir da vida.

Em O Cálice, o objetivo é óbvio: a vitória no Torneio

Tribruxo. Mas o que Harry descobre é mais profundo. Ele

luta contra Voldemort, varinha mágica contra varinha mágica, e

novamente escapa da morte - dessa vez, em virtude de suas próprias

habilidades. Então, começa a se dar conta do quanto é grande o seu

Page 21: David colbert   o mundo mágico de harry potter

poder de bruxo.

III. Retorno

O herói empreende um vôo mágico de volta ao seu lugar de

origem. Ele pode ser salvo por forças mágicas. Um de seus protetores

iniciais pode ajudá-lo. Uma pessoa, ou alguma coisa de seu mundo de

origem, pode aparecer para trazê-lo de volta.

Em A Pedra, Harry é miraculosamente salvo, e viaja de volta

enquanto ainda está inconsciente.

Em A Câmara, ele é salvo por Fawkes. A fênix lhe traz o Chapéu

Seletor, que lhe entrega a Espada de Griffindor, com a qual ataca o

basilisco.

Em O Cálice, falando com a imagem de Cedrico Diggory, emitida

pela varinha de Voldemort, Harry jura solenemente levar de volta o

corpo de Diggory para Hogwarts.

O herói volta ao mundo cotidiano, atravessando de novo a passagem. Ele pode

ter alguma dificuldade para se readaptar à sua vida original onde as pessoas não

conseguem compreender o que vivenciou.

Depois de cada período escolar, ele tem de voltar para a

residência dos Dursley, na Rua dos Alfeneiros, onde definitivamente

Page 22: David colbert   o mundo mágico de harry potter

ninguém o compreende. Mesmo outros bruxos têm dificuldade de

compreendê-lo, como lemos no final de Azkaban. “Ninguém em

Hogwarts sabia a verdade do que acontecera... A medida que o trimestre

foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas teorias diferentes sobre o que

realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se aproximava da

verdadeira.”

O herói se torna senhor de ambos os mundos: o do cotidiano, que representa a

sua existência material, e o mundo mágico, que significa seu íntimo.

Encontrar Voldemort é o pior pesadelo da maioria dos bruxos.

Mas Harry encontrou-o muitas vezes e viu coisas que nenhum outro

bruxo jamais viu. Esses encontros o fizeram conhecer uma parte de si

mesmo na qual os demais bruxos jamais pensaram. Todos podem estar

certos de que, eventualmente - mesmo que ele próprio duvide -, essas

experiências vão fazer dele um bruxo até mesmo mais poderoso do que

Dumbledore. (Não há dúvida de que Dumbledore sabe disso, e de que a

perspectiva lhe agrada.)

O herói conquistou sua liberdade para viver como desejar. Superou os medos

que o impediam de viver plenamente.

O medo, assim nos é dito, é o maior inimigo de Harry - maior até

Page 23: David colbert   o mundo mágico de harry potter

do que Voldemort. Em Azkaban, o professor Lupin não deixa Harry

enfrentar o bicho-papão porque não queria uma imagem de Voldemort

revoando por Hogwarts. Mas Harry lhe diz: “Eu não estava pensando

em Voldemort... Eu lembrei foi dos dementadores.” Lupin fica

impressionado com a percepção de Harry. “Isso sugere que o que você

mais teme é o medo. Muito sábio, Harry.”

Claro que Rowling não segue uma espécie de mapa passo a

passo. Esses padrões e modelos aparecem em seus livros assim como

têm estado presentes na mitologia e no folclore há séculos, já que a

jornada do herói permanece a mesma. Lutar contra as forças das trevas que

existem no mundo exige que o herói enfrente as trevas que existem

dentro de si mesmo e redescubra, a cada aventura, que é merecedor da

vitória. Nós entendemos Harry porque, como Campbell diz, “todos

temos de enfrentar nosso grande desafio”.

Page 24: David colbert   o mundo mágico de harry potter

ADIVINHAÇÃO

Sibila Trelawney já acertou alguma coisa?

A matéria dada pela professora Trelawney, Adivinhação, consiste

em interpretar sinais e ações com o objetivo de predizer o futuro, ver o

passado ou, às vezes, simplesmente encontrar objetos perdidos.

São usados muitos métodos para a adivinhação. Os romanos

preferiam os augúrios e interpretavam o vôo das aves. Outras culturas

usam a hepatoscopia, que é o exame das entranhas de animais

sacrificados.

Não é por coincidência que o primeiro nome da professora

Trelawney vem das famosas profetisas da mitologia, as Sibilas, que

muitas vezes apresentavam suas premonições sem nem mesmo terem

sido consultadas. Sibila Trelawney também é chegada a fazer predições -

muitas vezes aterrorizantes - sem que ninguém tenha lhe pedido nada.

Mal acabou de conhecer Harry e já previu a sua morte. Mas, como bem

lembra a professora McGonagall, “Sibila Trelawney tem predito a morte

de um aluno por ano desde que chegou a esta escola. Nenhum deles

morreu ainda”.

J. K. Rowling parece não acreditar muito em adivinhação, ou

Page 25: David colbert   o mundo mágico de harry potter

pelo menos mostra uma atitude ambivalente. Hermione acha o assunto

“meio confuso”, mas estuda Aritmancia, que é a adivinhação por meios

dos números. Apesar de completamente obcecados pela leitura do

destino nas estrelas, os centauros da Floresta Proibida são criaturas

bastante inteligentes.

Talvez Rowling se sinta como Dumbledore, que explica a Harry

em Azkaban: “As conseqüências dos nossos atos são sempre tão

complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente

difícil.”

AO LADO, MAPA DO SIGNIFICADO DAS UNHAS DA MÃO.

Page 26: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Outros tipos de adivinhação e os meios que utilizam para prever o destino:

Belomancia: o vôo das flechas.

Quiromancia: as linhas da mão.

Datilomancia: a oscilação de um anel suspenso.

Dafnomancia: o estalar de folhas de louro incendiadas.

Geloscopia: risadas.

Lampadomancia: o brilho das lamparinas.

Libanomancia: a fumaça do incenso.

Litomancia: pedras preciosas.

Margaritomancia: pérolas.

Metoposcopia: manchas na testa.

Frenologia: formato do crânio.

Page 27: David colbert   o mundo mágico de harry potter

ALQUIMIA

Os alquimistas procuravam mesmo uma pedra mágica?

Exatamente o que os alquimistas tentavam fazer? Será que eles

chegaram a concluir alguma coisa ou todo o seu trabalho desapareceu

numa nuvem de fumaça? Qualquer um que tenha lido A Pedra sabe que a

alquimia é uma antiga mistura de química com magia. Os alquimistas

tentavam criar ouro a partir de metais menos nobres, assim como

inventar uma poção capaz de curar todas as doenças e tornar seu usuário

imortal.

Acredita-se que a origem da alquimia esteja no mundo árabe. O

nome vem do termo árabe al-kimia, que também gerou a palavra

“química”. No entanto, alguns historiadores dizem que a raiz dessa

palavra árabe vem do grego antigo Khmia, que significa “Egito”. Eles

acreditam que os alquimistas egípcios possam ter existido muito antes de

o mundo árabe iniciar essa prática. De qualquer maneira, a alquimia de

fato se desenvolveu em todo o mundo, inclusive na China e na Índia.

Costumamos imaginar alquimistas como pessoas gananciosas e

ambiciosas, obcecadas por dinheiro e pela imortalidade. Mas algumas

Page 28: David colbert   o mundo mágico de harry potter

pessoas pensam que o trabalho deles lançou as bases da química

moderna. Vários cientistas sérios estudaram alquimia. O físico e

matemático Isaac Newton foi um deles, e escreveu inúmeros tratados

sobre o assunto. No entanto, Newton respeitou a tradição de manter

suas experiências com a alquimia em segredo, chegando ao ponto de

insistir para que outro alquimista guardasse “segredo total” sobre seu

trabalho.

A capital da alquimia

Nos últimos anos do século XVI, dois imperadores começaram a

recrutar alquimistas para trabalhar na cidade de Praga, localizada na atual

República Tcheca. A concentração de alquimistas no local deu à cidade o

apelido de “capital da alquimia”.

Imperadores, no entanto, podem ser muito temperamentais.

Quando o alquimista inglês Edward Kelley tentou produzir ouro, mas

falhou, foi jogado numa masmorra. Nem mesmo os esforços da rainha

Elizabeth I foram suficientes para livrá-lo da prisão. Kelley morreu

numa tentativa de fuga.

Evidentemente, havia muitas fraudes. Conta-se que, mais ou

menos nessa época, chegou a Praga um árabe, que convidou os homens

mais ricos da cidade para um banquete, prometendo multiplicar todo o

ouro que eles levassem. Depois de juntar todos os objetos de valor

Page 29: David colbert   o mundo mágico de harry potter

levados ao banquete, o falso alquimista preparou uma mistura estranha

que levava substâncias químicas e diversas esquisitices, como cascas de

ovo e estrume de cavalo. Não tardaram a perceber para que servia a tal

mistura. Uma violenta explosão espalhou pela casa um fedor tão terrível

que atordoou os convidados e permitiu que o charlatão fugisse com todo

o ouro.

Assim como a palavra árabeal-kimia deu

origem aos termos “alquimia” e “química”, a

matemática árabe, uma das mais avançadas do

mundo, nos deu outra expressão muito utilizada nas

salas de aula: al-gebr. Ela quer dizer “igualar”, e é

isso que os alunos fazem com os dois lados de uma

equação algébrica.

A pedra filosofal

Embora alguns estudiosos digam que o verdadeiro processo

seguido pelos alquimistas era “absurdamente complicado”, suas bases

eram bastante simples. De acordo com a teoria básica seguida pelos

alquimistas, todos os metais não passavam de combinações de enxofre e

mercúrio. Quanto mais amarelo o metal, mais enxofre havia na mistura.

Page 30: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Para criar ouro, então, bastaria combinar enxofre e mercúrio na

proporção adequada e seguindo uma seqüência correta.

Após algum tempo, os alquimistas começaram a ficar frustrados,

pois seu método simples não funcionava. Então, iniciaram a procura de

um ingrediente mágico, que chamaram de pedra filosofal. Alguns

alquimistas continuaram a acreditar que o tal ingrediente mágico era

apenas enxofre. No entanto, em A Pedra, ele é descrito como um objeto

vermelho-sangue. É provável que Rowling tenha pensado em alguma

coisa mais interessante...

Veja também:

Fofo

Espelhos

Page 31: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Flamel

ANIMAGOS

Quais são os mais impressionantes animagos?

J.K. Rowling criou o termo “animago” misturando o latim magus

(bruxo) a animal. Um animago é um bruxo que pode virar bicho sem

perder seus poderes mágicos.

A habilidade de transformar-se em animal é tão antiga quanto as

lendas. Na mitologia celta, volta e meia alguém se transforma em cervo,

javali, cisne, águia ou corvo. Os xamãs das antigas tribos indígenas

norte-americanas também costumam assumir formas de animais,

principalmente pássaros.

Um dos primeiros seres a demonstrar essa habilidade foi Proteu,

da mitologia grega. Ele era criado de Posseidon, deus dos oceanos, e

uma de suas habilidades especiais era conhecer o passado, o presente e

o futuro. Por conta disso havia muita gente que o procurava para

perguntar coisas. Proteu então se transformava em

diversos animais e monstros horrorosos para poder ficar

em paz. Ainda hoje dizemos que uma coisa capaz de

mudar de forma é “proteiforme” ou “protéico”.

HOMEM-ÁGUIA. TOTEM DOS HAIDA, DO NOROESTE DO PACÍFICO.

Page 32: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Duelos de animagos

Este tipo de fogo cerrado entre lutadores que mudam

constante- mente de forma foi lembrado pelo autor T. H. White, cuja

história A Espada Era a Lei conta de outra forma a lenda do jovem rei

Artur e seu tutor, o mago Merlim. Neste livro, Merlim combate outra

bruxa, Madame Mim, em um dos mais criativos duelos da literatura:

O objetivo do feiticeiro no duelo era transformar-se em um tipo

de animal, vegetal ou mineral capaz de destruir o animal, vegetal ou

mineral escolhido por seu oponente. Algumas vezes, o duelo levava

horas...

Ao primeiro soar do gongo, Madame Mim imediatamente

transformou-se em um dragão. Era um bom lance de abertura e

esperava-se que Merlim respondesse assumindo a forma de uma

tempestade de trovões ou coisa parecida. Em vez disso, ele surpreendeu

sua oponente virando um ratinho, quase invisível no gramado, dando

uma boa mordida em sua cauda. Madame Mim arregalou os olhos,

procurou por toda a parte durante uns bons cinco minutos até se dar

conta do ratinho com dentes cravados em seu rabo. Quando finalmente

reparou, num piscar de olhos tornou-se um furioso gato listrado.

Artur prendeu a respiração para ver no que o ratinho iria se

transformar - pensou logo em um tigre capaz de matar o gato —, mas

Page 33: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Merlim simplesmente virou outro gato. Ele se plantou diante de

Madame Mim e começou a fazer caretas. Esse procedimento,

muitíssimo irregular, deixou a bruxa espantada, e ela levou mais de um

minuto para voltar a si e virar um cachorro. Quase no mesmo instante,

Merlim já era outro cachorro, sentado diante dela como tinha feito

pouco antes.

“Oh! Bem pensado, Merlim!”, gritou Artur, começando a

perceber o plano.

Madame Mim estava furiosa... Era melhor ela começar logo a

alterar suas táticas e surpreender Merlim.

Decidiu tentar uma nova jogada, deixando a ofensiva a cargo de

Merlim e assumindo uma posição defensiva. Transformou-se em um

imenso carvalho.

Merlim parou, desconcertado, e ficou sob a árvore por alguns

segundos. Então, ousadamente, transformou-se em um minúsculo

passarinho azul, que voou e pousou muito empertigado nos galhos de

Madame Mim. O carvalho ferveu de indignação por um instante. Mas

logo sua raiva ficou bem fria e o pobre passarinho percebeu que estava

sentado não sobre um galho, mas sobre uma imensa serpente. A boca da

serpente estava escancarada e, na verdade, o pássaro estava pousado

sobre seus dentes. Quando a boca se fechou num estalo, o passarinho já

havia escapulido, em forma de mosquito. Madame Mim seguiu-o e a

velocidade da disputa começou a ficar alucinante. Quanto mais rápido o

Page 34: David colbert   o mundo mágico de harry potter

atacante assumia uma nova forma, menos tempo o fugitivo tinha para

imaginar uma boa saída. As mudanças agora estavam tão rápidas quanto

o pensamento.

A batalha termina quando Madame Mim vira um aullay, animal

semelhante a um imenso cavalo com tromba de elefante. Ela arremete

contra Merlim, mas ele simplesmente desaparece. De repente...

...coisas muito esquisitas começaram a acontecer. O aullay teve

um ataque de soluços, foi ficando vermelho, inchado, com uma tosse

terrível, todo sarapintado, cambaleou três vezes, revirou os olhos e

desabou pesadamente no chão. Suspirou, esperneou e disse adeus...

O esperto feiticeiro tinha se transformado sucessivamente em

diversos micróbios, ainda desconhecidos naquele tempo. Assim, fez sua

oponente pegar soluços, escarlatina, caxumba, coqueluche, sarampo e

varíola. Tudo ao mesmo tempo. Com uma combinação dessas, a infame

Madame Mim rapidamente bateu as botas.

Page 35: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Alguns animagos de J. K. Rowling:

Minerva McGonagall pode virar um gato.

Tiago Potter transformava-se em cervo, de onde seu apelido: Pontas.

Sirius Black significa “cachorro preto”, sendo essa a forma que ele assume.

Rita Skeeter vira um besouro.

Pedro Pettigrew, o Rabicho, disfarçava-se como o rato de estimação de

Rony, Perebas.

As regras de Rowling

Uma grande diferença entre o mundo de Rowling e os mundos

criados por outros autores é que ela criou diversas restrições para os

animagos. De acordo com ela, virar bicho é uma habilidade

relativamente rara, e tão regulamentada que os animagos devem ser

registrados no Ministério da Magia.

No entanto, em praticamente todos os outros mundos

imaginários, os bruxos podem se transformar livremente no bicho que

bem entenderem.

Talvez Rowling se preocupe com os riscos desse tipo de

atividade. Em Quadribol, ela adverte: “O bruxo ou bruxa que se

transfigura em morcego pode voar sem problemas. No entanto, como

Page 36: David colbert   o mundo mágico de harry potter

também tem um cérebro de morcego, ele esquece para onde vai assim

que levanta vôo.”

Outra escritora famosa, Ursula K. Le Guin, conta na história A

Wizard of Earthsea (O Mago de Mareterra), o que pode acontecer aos

bruxos descuidados:

Como qualquer menino, Ogion achava que seria uma delícia

usar magia para assumir qualquer forma que desejasse, homem ou bicho,

árvore ou nuvem, e então brincar de ser milhares de seres. No entanto,

como bruxo, ele havia aprendido que essa brincadeira tem um preço,

que é o risco de perder a própria identidade ao mudar sua realidade.

Quanto mais distante uma pessoa fica de sua própria forma, maior é o

perigo. Todo aprendiz de feiticeiro estuda a história do mago Beira do

Caminho, que adorava se transfigurar em urso. Ele fez isso tanto, e

tantas vezes seguidas, que o urso cresceu dentro dele. O homem se

esvaneceu a tal ponto, que virou mesmo um urso e acabou matando o

próprio filho na floresta. Teve um fim trágico: foi caçado e morto.

J. K. Rowling costuma dizer que a personalidade de cada

um é determinante na escolha do animal no qual pode se

transformar. E acrescenta: “Pessoalmente, gostaria de virar

uma lontra, que é meu bicho favorito.”

Ninguém sabe, na verdade, quantos dos golfinhos que saltam nas

Page 37: David colbert   o mundo mágico de harry potter

águas do Mar Secreto já foram homens, sábios homens, que perderam

sua sabedoria e seu nome nos encantos do mar sem fim.

Sem dúvida, Harry, que muitas vezes ultrapassa os limites

normais, vai correr esse risco. Vamos ver em que tipo de animago ele irá

se transformar.

Veja também:

Sirius Black

McGonagall

ANIMAIS FANTÁSTICOS

Quais animais fantásticos saíram das lendas?

Mesmo sendo imaginárias, muitas das criaturas de Animais

Fantásticos são tão conhecidas em nosso mundo quanto no de Harry.

Veja algumas das histórias que alimentaram a imaginação de J. K.

Rowling:

Page 38: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Barretes Vermelhos

De acordo com Animais Fantásticos, os barretes vermelhos

“vivem em covas localizadas em antigos campos de batalha ou em

lugares onde o sangue humano tenha sido derramado... [e] tentam matar

a pauladas os trouxas que passam por ali em noites escuras”. Essa

criatura existe há muito tempo nas lendas da Inglaterra e Escócia, países

vizinhos e muitas vezes envolvidos em guerras violentas. Também é

conhecido como capuz sangrento ou crista vermelha. Dizem que seu

chapéu é vermelho de tanto ser usado para recolher o sangue de suas

vítimas.

Ramora

Seguindo uma lenda milenar, Rowling diz que esse peixe - que

existe mesmo e é conhecido como rêmora - é capaz de deter um navio.

Seu nome deriva da palavra latina usada para designar “atraso”. Graças a

uma ventosa localizada em sua cabeça, as rêmoras se prendem a navios e

tubarões para se alimentarem das sobras. Sua força já havia sido bastante

exagerada desde o século 1 a.C quando Plínio, o Velho, escreveu:

“Furacões podem ser arrasadores e tempestades podem devastar,- mas

Page 39: David colbert   o mundo mágico de harry potter

este peixe consegue regular a fúria deles, controlar seu vigor e

intensidade e obrigar navios a parar, de um modo que nem cabos nem

âncoras conseguem fazer. Que criatura inútil é o homem, que pode ser

imobilizado e detido por um peixe de apenas seis polegadas!” Plínio

sustentava a tese de que o navio de Marco Antônio havia sido bloqueado

por rêmoras durante a Batalha de Actium, fazendo com que perdesse a

batalha e mudando o curso da história romana.

Hipocampo

O nome desse cavalo-marinho mistura a palavra grega hippos

(cavalo) e a latina campus (terreno, chão). Também é chamado de

Hydrippus - a palavra grega para água é hydro. A carruagem de Posseidon,

o deus grego dos mares, é puxada por hipocampos.

O autor de Animais Fantásticos, Newton (“Newt”) Artemis Fido

Scamander, traz vários trocadilhos embutidos em seu nome. Newts são pequenas

salamandras, os lagartos mágicos que vivem no fogo (veja adiante]. Artemis era a

deusa grega da caça, um nome apropriado para um estudioso que pesquisa criaturas

mágicas. Fido, do latim fidus (fiel), é um nome comum para cachorros. O som de

Scamander lembra o de salamandra, embora seja, na verdade, o nome de um rio

mencionado por Homero em sua Ilíada.

Page 40: David colbert   o mundo mágico de harry potter

HIPOCAMPO RETRATADO EM XILOGRAVURA ALEMÃ.

Um livro chamado Physiologus, escrito por volta do século II,

conta que algumas lendas consideravam o hipocampo como “o rei de

todos os peixes”. Mas na época em que esse livro foi escrito, o judaísmo

e o cristianismo estavam atropelando os velhos mitos, e a lenda sofreu

uma leve mudança para incorporar a idéia de um peixe dourado que vivia

no Leste. Nessa versão, o hipocampo é um guia, tal como Moisés:

“Quando os peixes se agruparam em cardumes, saíram em busca do

Hydrippus. Quando o encontraram, ele se dirigiu para o Leste e todos o

seguiram, os peixes do Norte e os peixes do Sul. Estavam todos

próximos ao peixe dourado, o Hydrippus à sua frente. E quando o

Hydrippus e todos os peixes chegaram, aclamaram o peixe dourado

como seu rei.”

Salamandra

Rowling diz que são lagartos habitantes do fogo. Eles vivem

“apenas enquanto o fogo do qual surgiram está vivo”. Essa lenda

remonta a milhares de anos. O filósofo grego Aristóteles escreveu, no

Page 41: David colbert   o mundo mágico de harry potter

século IV a.C, que “o fato de alguns animais serem resistentes ao fogo é

evidenciado pela existência da salamandra, que extingue o fogo

rastejando sobre as chamas”. Acreditava-se que a salamandra

conseguisse essa proeza por ter o corpo extraordinariamente frio. Quase

mil anos mais tarde, Santo Isidoro, bispo de Sevilha, também achava que

a salamandra “vive no meio das chamas sem se machucar e nem ser

consumida”. E acrescentava: “Entre todos os venenos, o seu é o mais

poderoso. Outros animais peçonhentos são mortais, mas este é capaz de

matar várias pessoas de uma só vez. Para isso, a salamandra atravessa

uma árvore e infecta suas frutas, envenenando todos os que as

comerem.”

SALAMANDRA EM CHAMAS, DE UM BRASÃO DE FAMÍLIA.

Erkling

O nome foi inventado por Rowling. É uma pequena inversão

das letras do Ed King ou Erl Kõnig (elfo-rei) das lendas germânicas. Mas

a descrição que ela faz da criatura corresponde à lenda. Trata-se de uma

criatura diabólica que habita a Floresta Negra alemã e seqüestra crianças.

Page 42: David colbert   o mundo mágico de harry potter

No poema de Goethe, Erl King chama uma criança que viaja pela floresta

acompanhada pelo pai:

“Oh, venha comigo criança querida! Oh, venha comigo! Vamos brincar

tanto, não há perigo.”

O menino tenta alertar o pai, que não pode escutar o Erl King, e

a história acaba mal. Assim como a lenda dos grindylows na Inglaterra e

dos kappas no Japão, a história do Erl King foi concebida pelos pais para

evitar que seus filhos se perdessem nas florestas.

Hoje em dia, muitos restaurantes possuem fornos conhecidos como

salamandras, assim chamados por causa de seus mecanismos de aquecimento, cujo

jormato lembra uma serpente ou a cauda de um lagarto, e são quentíssimos.

Quimera

QUIMERA.

PEÇA DECORATIVA EM BRONZE DO SÉCULO V.

A descrição da quimera feita por Rowling em Animais Fantásticos

pode ser esquisita, mas corresponde exatamente à antiga lenda grega.

Page 43: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Segundo essa lenda, a quimera é um monstro com três cabeças - uma de

dragão, uma de leão e a última de bode. É aparentada à esfinge e ao

Cérbero, o cão de três cabeças que guardava as portas do Inferno.

Rowling menciona casualmente que “só há um caso conhecido

em que uma quimera foi morta, e o pobre mago que conseguiu este feito

morreu em seguida ao cair de seu cavalo alado”. Ela faz uma brincadeira

com a lenda original, segundo a qual o monstro foi vencido pelo herói

Belerofonte, que montava o cavalo alado Pégaso. Belerofonte ganhou a

batalha, mas, em outra aventura, atreveu-se a tentar penetrar no Olimpo,

morada dos deuses, no mesmo cavalo alado. Como punição pela

audácia, Zeus jogou-o para fora do cavalo e aleijou-o para sempre.

O termo “quimera” acabou sendo usado para designar alguma

coisa (normalmente uma criatura viva) criada por humanos a partir da

combinação artificial de elementos naturais.

Kelpie (gênio da água)

Conforme é contado em Animais Fantásticos, o kelpie, um demônio

aquático das lendas celtas, geralmente tem a forma de um cavalo com a

crina de junco verde. Ele atrai as pessoas para montarem em seu

lombo e então as carrega para as profundezas da água. Como Rowling

conta, quem consegue botar rédeas no kelpie o subjuga. Por causa de sua

Page 44: David colbert   o mundo mágico de harry potter

força extraordinária, ele pode fazer o trabalho de muitos cavalos.

Selkies e merrows

No verbete sobre Sereianos, de Animais Fantásticos, Rowling

menciona os selkies e os merrows. São tipos especiais de Sereianos

conhecidos na Inglaterra. Os selkies são homens-focas das ilhas do norte

do país. Eles podem adquirir belíssimas formas humanas quando estão

em terra firme, mas devem reassumir a forma de focas ao entrar na água.

Matar um selkie provoca uma violenta tempestade.

Já os merrows são da Irlanda. As mulheres são muito bonitas, mas

os homens são horrorosos. Dizem que eles possuem chapéus mágicos e,

se um humano conseguir roubar este chapéu, o merrow não poderá voltar

para o mar.

Veja também:

Bicho-papão

Duendes

Grindylows

Kappas

Sereianos

Veelas

Page 45: David colbert   o mundo mágico de harry potter

ARANHAS

Como espantar uma aranha

Em Hogwarts, vivem aranhas - algumas comuns, outras

extraordinárias - de todos os tipos. Em sua maioria, são comuns e

inofensivas. Mas algumas poucas, como Aragogue, Mosag e seus

filhotes, são gigantescas, muito inteligentes e dotadas da palavra.

O nome de Aragogue

A origem do nome

Aragogue é a mesma de

aracnídeo, o nome científico

para aranhas. Ambos vêm de

uma personagem da mitologia,

Ariadne, particularmente

prendada nas artes de tecer e

cerzir. Ariadne era muito

orgulhosa, e assim desafiou Minerva, a deusa romana do artesanato, para

um torneio. Ariadne venceu Minerva, mas a deusa ficou tão aborrecida

Page 46: David colbert   o mundo mágico de harry potter

que transformou Ariadne numa aranha, forçando-a a tecer teias para o

resto da vida. Os nomes Aragogue e Mosag também lembram os nomes

dos gigantes Gog e Magog. E mosag é gaélico, uma palavra que significa

“mulher suja” ou “impura”.

Comedores de gente

Em A Câmara, Aragogue parece bastante satisfeito em deixar seus

filhotes devorarem Rony e Harry. Ele está seguindo uma antiga tradição.

Muitos autores divertiram-se criando monstros comedores de gente

com forma de aranha. Comparados a estas, as aranhas de J. K. Rowling,

ainda que fiquem felizes ao devorar seres humanos, se mostram mais

compreensivas que as outras. São muito mais dóceis do que Shelob, a

aranha criada por J. R. R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis:

Ela estava lá há muitas eras, uma coisa maléfica sob a forma

de aranha... e não servia a ninguém senão a si mesma, bebendo do

sangue dos elfos e dos homens, criando e engordando inúmeras

ninhadas graças a seus banquetes, tecendo teias de sombras, já que

todas as criaturas viventes eram alimento, e seu vômito, escuridão...

“Pouco conhecia ou se importava com torres e anéis, ou

com qualquer coisa arquitetada pela mente ou feita por mãos, ela

Page 47: David colbert   o mundo mágico de harry potter

que apenas desejava a morte dos demais, corpo e mente, e, para si

mesma, saciar-se na sua existência solitária, e crescer até que as

montanhas não pudessem dar-lhe sustento e a escuridão não fosse

mais capaz de abrigá-la.

“Mas seu apetite estava ainda longe de satisfazer-se, e já

fazia tempo que ela estava faminta, escondida em seu covil,

enquanto o poder de Sauron aumentava e a luz e os seres viventes

fugiam de seu alcance; a cidade e o vale estavam mortos, e nenhum

elfo ou humano aproximava-se, à exceção dos infelizes e magros

Orcs, refeição pouco satisfatória. Mas ela precisava comer e não

importava o quanto eles se esforçassem por descobrir novas

passagens aéreas que lhes permitissem sair de seu desfiladeiro e da

torre, pois ela sempre encontrava um meio de apanhá-los em

armadilhas. No entanto, ela sonhava em comer carne mais doce...

A utilidade das aranhas

Aragogue e sua família são bons exemplos do que,

aparentemente, são normas importantes no mundo de Harry: as

aparências enganam e a maioria das criaturas tendem (assim como os seres

humanos) a tratar os outros tão mal como tenham sido tratadas.

Page 48: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Faz sentido quando percebemos que, por baixo

de sua aparência assustadora e seu ódio, Aragogue é

uma criatura com sentimentos, essencialmente

benévola, e não um ser do mal. De fato, ela fornece a

Harry uma pista importante para o garoto resolver o mistério da câmara

secreta. Houve um tempo em que Aragogue, equivocadamente, foi

tomada como o monstro que teria sido libertado da câmara cinqüenta

anos antes das aventuras de Harry. Mas esse monstro, segundo

Aragogue, era na verdade “uma criatura muito antiga que nós, as

aranhas, tememos mais do que a qualquer outra”. Posteriormente, Harry

vai descobrir que Aragogue está se referindo ao basilisco e, quando

percebe que as aranhas estão fugindo de Hogwarts, conclui que a grande

serpente está à solta.

Veja também:

Basilisco

Page 49: David colbert   o mundo mágico de harry potter

AVADA KEDAVRA

O “Avada Kedavra” é um feitiço de verdade?

No mundo de Harry, esse é o feitiço mais mortífero, a pior das

três Maldições Imperdoáveis. O uso de qualquer uma delas contra um

ser humano pode condenar um bruxo a passar o fim de seus dias em

Azkaban. Foi a maldição que Voldemort utilizou para matar os pais de

Harry, a mesma com a qual tentou assassiná-lo e também a que acabou

com a vida de Cedrico Diggory. Harry foi o único que sobreviveu ao seu

poder fatal.

Embora Rowling costume inventar a maioria de seus feitiços e

maldições, a expressão “Avada Kedavra” tem origem em uma antiga

língua do Oriente Médio chamada aramaico. A frase abbaââa kedhabra

quer dizer “desapareça como esta palavra” e era utilizada por antigos

feiticeiros para fazer doenças sumirem. Não há provas de que tenha sido

usada para matar ninguém. Essa frase tem a mesma origem da palavra

mágica abracadabra. Embora hoje só tenha utilidade para mágicos que

animam festinhas de aniversário, já houve tempo em que era levada a

sério pelos médicos. Quintus Serenus Sammonicus, médico romano que

viveu por volta de 200 a.C, usava-a como feitiço para fazer baixar a febre

de seus pacientes. De acordo com sua receita, era preciso escrevê-la onze

Page 50: David colbert   o mundo mágico de harry potter

vezes em um pedaço de papel, a cada vez retirando uma letra. Assim:

ABRACADABRA

ABRACADABR

ABRACADAB

ABRACADA

ABRACAD

ABRACA

ABRAC

ABRA

ABR

AB

A

O papel devia ficar amarrado em torno do pescoço do paciente

com uma tira de linho durante nove dias. Depois disso, era preciso

jogá-lo por sobre o ombro num rio que corresse para o leste. Quando a

água apagasse as palavras, a febre desapareceria.

A popularidade desse feitiço cresceu tanto durante os séculos

que sucederam a Sammonicus, que ele foi usado até mesmo contra a

Peste Negra. O leitor mais atento já deve ter percebido que este remédio,

mesmo se não fizer mais nada, ajuda o tempo a passar. Como muitas

doenças desaparecem naturalmente em uma ou duas semanas, o feitiço

Page 51: David colbert   o mundo mágico de harry potter

provavelmente não tinha nenhum efeito. Por outro lado, não doía!

Veja também:

Latim

BASILISCOS

Basiliscos eram apenas serpentes grandes?

Os basiliscos estão entre as mais temíveis criaturas mágicas. “Das

muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há

nenhum mais curioso ou mortal”, descobriu Hermione em A Câmara.

Com certeza o basilisco é muito mais do que uma serpente

grande. Também conhecido como basilisca, ele esteve presente nas

lendas durante muitos séculos. Em Animais Fantásticos, Rowling credita a

um mago grego chamado Herpo, o Maluco, a criação do primeiro

basilisco. Mas ela está apenas fazendo mais uma brincadeira. Herpein é

uma palavra grega que significa rastejar. A ciência que estuda os répteis,

como as cobras e as serpentes, chama-se herpetologia.

No entanto, Rowling não está inventando quando diz que os

basiliscos são resultado do cruzamento de um galo ou galinha com uma

serpente ou um sapo. E exatamente isso o que dizem todas as lendas.

Page 52: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Alguns artistas seguiram essa descrição ao pé da letra e desenharam

monstros estranhos combinando carac- terísticas desses animais. Mas o

mais comum é que os basiliscos sejam retratados

como uma serpente com uma coroa ou uma mancha

branca na cabeça. É provável que as najas, que

possuem essas manchas, tenham inspirado a lenda do

basilisco.

BASILISCO, DE ACORDO COM UMA ANTIGA XILOGRAVURA.

A MEDUSA TINHA COBRAS NA CABEÇA, EM VEZ DE

CABELOS, OS HUMANOS QUE OLHARAM QUE

OLHARAM PARA ELA FORAM TRANSFORMADOS EM

PEDRA.

Os basiliscos foram descritos como seres capazes de matar

mesmo à distância. Segundo o naturalista romano Plínio, “matam os

arbustos sem nem mesmo tocar neles, só com a respiração, e as pedras

racham, tal é o poder diabólico dessas criaturas”. Alguns estudiosos

descrevem três variedades: há o basilisco dourado, que pode envenenar

alguém só com o olhar; um outro tipo capaz de cuspir fogo; e um

terceiro, que, assim como a cabeça cheia de cobras da Medusa, provoca

Page 53: David colbert   o mundo mágico de harry potter

tamanho horror em quem o olha que suas vítimas ficam petrificadas.

Até William Shakespeare fala de basiliscos em uma de suas peças,

Ricardo III. Logo após assassinar seu irmão, o diabólico personagem

principal vai cortejar a viúva, elogiando seus belos olhos. Mas ela não

está interessada nos elogios e responde: “Quem me dera fosse os olhos

de um basilisco para matá-lo.”

Como vencer um basilisco

Em A Câmara, um basilisco controlado por Lord Voldemort se

infiltra em Hogwarts, quase matando Harry e vários de seus amigos.

Harry é salvo por Fawkes, a fênix de estimação do professor

Dumbledore, que fura os olhos do monstro. O fato de ele ter sido

salvo por um pássaro é muito apropriado. De acordo com a lenda, um

pássaro - o galo - é fatal para o basilisco. Por isso, na Idade Média,

algumas pessoas levavam um galo nas viagens como proteção contra

basiliscos.

Page 54: David colbert   o mundo mágico de harry potter

BASILISCO, EM UMA ESTAMPA MAIS RECENTE.

Veja também:

Aranhas

Animais Nagini

BICHOS-PAPÕES

Criaturas que não sabem a hora de ir embora

Algumas criaturas mágicas podem ser mais perigosas do que

outras. A primeira vista, o bicho-papão parece ser perigosíssimo. Mas,

como explica Hermione em Azkaban, ele “é capaz de assumir a forma do

que achar que pode nos assustar mais”. Ou seja, incomoda mais do que

machuca.

Page 55: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Bicho-papão em inglês é boggart. Também é conhecido como bogey

ou bogeyman nos Estados Unidos, bogle na Escócia e Boggelmann na

Alemanha. Tidos como espíritos maltratados que se tornaram cruéis, os

bichos-papões adoram brincadeiras de mau gosto e normalmente não

chegam a ser perigosos. Eles gostam de agir à noite, quando ficam mais

convincentes.

Geralmente, bichos-papões assombram casas e, neste caso, a

única maneira de se livrar deles é providenciar a mudança. Isso é mais

fácil de falar do que de fazer, já que o bicho-papão, algumas vezes,

resolve acompanhar uma família que ele acha particularmente divertida.

Quanto mais irritada fica a família, mais o bicho-papão gosta dela.

Harry encontrou bichos-papões em Azkaban e no campeonato

de O Cálice. Ele os derrotou com a ajuda do professor Lupin, que lhe deu

o mesmo conselho que damos às crianças de nosso mundo há centenas

de anos: “O que realmente acaba com um bicho-papão é uma boa

risada.” Obviamente, isso é bem mais fácil para os bruxos, que só

precisam agitar suas varinhas e usar o feitiço Riddikulus para transformar

o bicho-papão em uma coisa inofensiva. Veja também:

Animais fantásticos

Duendes

Goblins

Trasgos

Veelas

Page 56: David colbert   o mundo mágico de harry potter

BRUXOS

Quais dos “bruxos e bruxas famosos” existiram de verdade?

Quando embarcam pela primeira vez no Expresso Hogwarts,

Rony mostra a Harry as figurinhas dos bruxos e bruxas famosos que

vêm dentro da embalagem dos sapos de chocolate. Ele cita alguns:

Dumbledore, Merlim, Paracelso, a druida Cliodna, Hengisto de

Woodcroft, Morgana, Ptolomeu e Circe. Alguns desses bruxos existiram

mesmo. Outros existem em lendas que já têm centenas de anos.

Agrippa

Heinrich Cornelius Agrippa foi um mago que viveu na

Renascença. Nascido Heinrich Cornelius, perto de Colônia, Alemanha,

em 1486, ele adotou o nome de Agrippa em homenagem ao fundador de

sua cidade natal.

Trabalhou como médico, advogado, astrólogo

e com curas através da fé. Mas fez tantos inimigos

quanto amigos e foi acusado de feitiçaria. Em 1529,

publicou um livro chamado Sobre a Filosofia Oculta,

Page 57: David colbert   o mundo mágico de harry potter

valendo-se de textos hebraicos e gregos para argumentar que a melhor

maneira de chegar a conhecer a Deus era por meio da magia. A Igreja

declarou-o um herético e o prendeu. Morreu em 1535.

Agrippa foi uma das inspirações de Wofgang Goethe para

escrever a peça Fausto, na qual um homem de ciência faz um pacto com

o diabo - semelhante ao pacto entre Voldemort e seus seguidores. Seu

nome é também o termo usado para designar um livro de magia muito

especial, cortado no formato de uma pessoa.

Bem a propósito, sua figurinha é uma das mais raras.

O FILÓSOFO E MAGO HEINRICH CORELIUS AGRIPPA.

Page 58: David colbert   o mundo mágico de harry potter

A druida Cliodna

Na mitologia irlandesa, Cliodna desempenha diversos papéis, de

deusa da beleza a mandatária da Terra Prometida - a vida após a morte.

Ela é também a deusa dos mares. Alguns dizem que seu rosto surge nas

praias em cada nona onda que se quebra no litoral. Ela tinha três

pássaros encantados que curavam os enfermos.

Paracelso

Phillipus Aureolus Paracelso, nascido na Suíça em 1493, é

considerado o fundador da química e da medicina modernas. Começou

a vida como médico e depois dedicou-se ao estudo da magia,

especialmente a alquimia e a arte das profecias. Sua reputação como

mago e sua trajetória como médico estão ligadas. Como recusou-se a

ficar limitado à formação médica tradicional e desenvolveu seus

próprios métodos terapêuticos, foi acusado de bruxaria. Mas Paracelso

ignorou seus críticos: “As universidades não ensinam tudo”, ele disse,

“portanto, um médico precisa procurar as anciãs sábias, os ciganos, os

bruxos e os feiticeiros de tribos, velhos ladrões e outros foras-da-lei para

extrair deles o conhecimento. Um médico precisa ser um viajante.

Conhecimento é experiência.”

Page 59: David colbert   o mundo mágico de harry potter

O TALENTOSO MÉDICO PARACELSO.

Paracelso desenvolveu vários remédios úteis. Também descobriu

a causa da silicose, uma doença comum entre os trabalhadores de minas,

causada pela inalação de vapores metálicos, que anteriormente era

atribuída a maus espíritos. Paracelso ajudou a controlar um surto de

peste, em 1534, usando uma espécie de vacina.

Suas posições e seus êxitos angariaram antipatia no meio médico.

Paracelso passou mais de uma década exilado dos círculos acadêmicos e

foi forçado a fugir para a cidade de Bassel, sob a proteção da noite, em

1528. Mas, por ocasião de sua morte, em 1541, sua reputação já havia

crescido enormemente.

Morgana

Morgana foi uma feiticeira poderosa da mitologia britânica,

especialmente dotada nas artes da cura. Merlim foi seu tutor e, algumas

Page 60: David colbert   o mundo mágico de harry potter

vezes, é dito que ela era meia-irmã do rei Artur.

Apesar disso, sempre rivalizou com Artur, roubando sua espada,

Excalibur, ou mesmo tramando sua morte.

De acordo com algumas lendas, ela viveu no estreito de

Messina. Uma corrente incomum que atravessa aquela região puxa as

criaturas fosforescentes das profundezas para a superfície, criando a

impressão de estranhas luzes ou de objetos flutuando sobre a água.

Essas figuras são chamadas Fata Morgana, sendo que fata, em italiano,

significa fada.

Merlim

Merlim é considerado um dos mais sábios magos que já

existiram, um bruxo-mestre. Dizem que foi conselheiro dos reis

britânicos Vortigern, Uther Pendragon e Artur. Embora a lenda possa

ter se baseado em alguém que tenha existido de fato, o Merlim que

conhecemos é um personagem tirado da fantasia. Por exemplo, alguns

dizem que foi ele quem colocou no lugar as enormes pedras de

Stonehenge. Outros dizem que ele possuía o dom da profecia porque

vivia ao contrário, do futuro para o passado, e portanto já tinha visto o

futuro.

Merlim é mais conhecido como o mentor do rei Artur. Um

Page 61: David colbert   o mundo mágico de harry potter

notável paralelo é que ele ocultou o garoto Artur, protegendo-o, do

mesmo modo como Dumbledore escondeu Harry de Voldemort. O

poeta Alfred Lord Tennyson reconta parte dessa lenda em Idylls of the

King:

Por causa da amargura e do sofrimento

Que oprimiu sua mãe, bem antes do seu nascimento,

Artur veio ao mundo, e assim que nasceu

Foi enviado às escondidas

Para Merlim, para ser criado em lugar distante

Até que fosse chegada sua hora-, e tudo porque os lordes

Daqueles dias violentos eram os próprios senhores da violência,

Bestas ferozes que com certeza teriam feito a criança

Em pedaços, dividindo-a entre eles, se soubessem que ela existia,

já que cada um deles

Nada mais almejava senão ser o próprio poder,

E muitos deles odiavam Uther.

Razão pela qual Merlim levou a criança

E a confiou a Sir Anton, um ancião cavaleiro

E antigo amigo de Uther, e sua mulher então

Cuidou do jovem príncipe, criando-o entre seus próprios,

E nenhum homem disso soube.

Assim, os lordes Lutaram uns contra os outros como bestas ferozes,

Enquanto o reino se arruinava.

Page 62: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Posteriormente, Merlim tornou-se tanto o tutor quanto o

conselheiro de Artur, usando sua aguçada inteligência e sua poderosa

magia para ajudar o jovem rei a lutar contra os inimigos da Bretanha.

De acordo com algumas histórias, Merlim foi enganado pela

Dama do Lago, a quem amava, e levado a criar uma coluna mágica feita

de ar, que ela então utilizou para aprisioná-lo para sempre.

Hengisto de Woodcroft

Este mago ou é, ou recebeu seu nome em homenagem ao rei

saxão da Inglaterra. O rei Hengisto e seu irmão Horsa - seus nomes vêm

das palavras em alemão para “garanhão” e “cavalo” - chegaram à

Inglaterra em 449 a.C, como mercenários, para ajudar o rei Vortigern a

derrotar a rebelião dos Pictos e dos Celtas da Escócia. No entanto,

começaram sua própria rebelião. Hengisto fundou o reino de Kent.

Apesar de não ser chamado de Hengisto de Woodcroft nas

crônicas anglo-saxônias, quando inquirido por Vortigern ele proclamou:

“Adoramos os deuses de nossa terra: Saturno, Júpiter e outros que

comandam as leis do mundo, e mais especialmente Mercúrio, que em

nossa língua chamamos de Woden (relativo à madeira). Nossos ancestrais

dedicavam o quarto dia da semana a ele, que até hoje é chamado de

Page 63: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Wednesday (quarta-feira) em alusão a seu nome.” E razoável supor que

Hengisto tenha também chamado seu reino de Woden (croft em inglês

significa “terreno”, “pequena fazenda”).

O mais provável entretanto é que o nome Woodcroft seja

simplesmente um dos que J. K. Rowling descobriu num mapa e gostou.

Em Peterborough, na Inglaterra, no norte de Kent, existe o Castelo

Woodcroft, lugar famoso por seus assassinatos e fantasmas. Em 1648, o

Dr. Michael Hudson, capelão do rei Charles, ali foi morto durante uma

batalha contra as tropas de Cromwell. Conta-se que ele assombra o

castelo, aparecendo sempre no aniversário da sua morte. Rumores de

batalha, então, podem ser ouvidos, assim como os gritos de Hudson

implorando misericórdia.

Circe

No poema épico de Homero, a Odisséia, Circe é apresentada

como a “deusa poderosa e sagaz” que vive numa ilha. Os homens de

Ulisses, voltando para casa depois da

Guerra de Tróia, param em sua ilha e se tornam vítimas de seu

encantamento:

Quando chegaram à morada de Circe, viram que era construída

de pedras cortadas da montanha, num sítio que poderia ser avistado de

Page 64: David colbert   o mundo mágico de harry potter

longe, do meio da floresta. Por toda a sua volta, era guardada por lobos e

leões ferozes - pobres criaturas, vítimas de seus feitiços, que ela havia

dominado pela magia e submetido às suas poções. Logo atingiram os

portais de entrada da morada da deusa e, ali parados, podiam ouvir que

Circe, lá dentro, cantava enquanto trabalhava em seu tear, tecendo uma

rede tão fina, tão macia, e de cores tão deslumbrantes, que nenhuma

outra deusa poderia tecer. Chamaram e ela desceu ao encontro deles,

abriu os portais e os convidou a entrar. Sem suspeitar de nada, eles a

seguiram.

Uma vez que ela os viu dentro da casa, fez com que se

sentassem e preparou uma bebida com mel, à qual misturou suas

poções venenosas, o que os faria esquecer quem eram e de onde vieram.

Depois que a beberam, transformou-os em porcos com um simples

gesto de sua varinha mágica, para logo a seguir prendê-los no chiqueiro.

Tinham toda a forma de porcos — cabeça, pêlos — e também grunhiam

como porcos; mas sua consciência era a mesma de antes e eles se

lembravam claramente do que haviam sido.

Foi o próprio Ulisses que, tendo tomado uma poção

especial, conseguiu resistir ao encantamento de Circe e,

ao final do episódio, conseguiu libertar os seus

homens.

Page 65: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Alberico Grunnion

Este nome deve ter sido inspirado pelo de Alberico, o poderoso

bruxo do poema épico germânico Nibelungenlied (A Canção dos Nibelungos).

O poema é um registro mítico de um evento histórico - a vitória dos

hunos sobre o reino da Burgundia (hoje, parte da França), em 437 d.C.

Foi a base de muitos trabalhos modernos, sendo o mais importante o

Anel dos Nibelungos, uma série de peças de ópera ligadas entre si,

compostas por Richard Wagner no século XIX. (Quando você vir

desenhos com cantores de ópera usando capacetes com chifres, pode ter

certeza de que estão cantando uma das óperas de Wagner).

Na versão de Wagner, Alberico é o rei dos duendes, cheio de

ódio e de ambição. Quando descobre um tesouro em ouro, guardado

por donzelas inocentes, faz de tudo para obtê-lo, até mesmo renunciar

para sempre ao amor. Ele usa o ouro para fazer um anel que lhe dá

grande poder. Quando o anel é roubado, Alberico joga sobre ele uma

maldição. Todo aquele que o usar padecerá enormes sofrimentos. Na

continuação da história, outros personagens tentam conquistar o anel e

pagam caro por isso.

Veja também

Flamel

Page 66: David colbert   o mundo mágico de harry potter

CÁLICE DE FOGO, O

Por que Harry e Cedrico parecem cavaleiros da Távola Redonda?

O Cálice de Fogo é “um cálice grande de madeira toscamente

talhado” que “teria sido considerado totalmente comum se não estivesse

cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão

de dançar”. Através da mágica, ele seleciona alguns bruxos para testá-los

no Torneio Tribruxo. Esse desafio e sua fonte misteriosa ligam os

competidores, incluindo Harry e Cedrico, às lendas do rei Artur e da

Távola Redonda.

O Cálice de Fogo tem grande semelhança com outro cálice

poderoso que foi responsável por torneios e batalhas: o Santo Graal.

Segundo se acredita, o Graal possui poderes mágicos e teria sido usado

por Cristo na Ultima Ceia. Embora algumas vezes retratado como sendo

feito de prata brilhante, o Santo Graal, usado por um humilde

carpinteiro, provavelmente teria sido feito de madeira - semelhante ao

Cálice de Fogo.

O Graal, assim como o Cálice de Fogo, era um

objeto mágico. Quem bebesse dele obteria curas

miraculosas. E, assim como o Cálice de Fogo, o Graal

Page 67: David colbert   o mundo mágico de harry potter

pressentiria se determinado cavaleiro o merecia.

De acordo com a lenda, passando um período difícil em seu

reinado, Artur fez uma prece implorando um sinal dos céus.

Como resposta, teve a visão do Graal. Nas primeiras histórias, o

Graal era uma grande travessa,- com o passar dos tempos, tornou-se um

cálice. Ele e seus cavaleiros, então, lançaram-se à sua busca, tentando

obtê-lo, ou pelo menos entender o seu significado.

No mundo de Harry, a última tarefa do Torneio Tribruxo

também é encontrar um Graal, neste caso a Taça Tribruxo, e

conquistá-la para Hogwarts. Nas lendas do rei Artur, o Graal foi

finalmente encontrado por Galahad, porque a sua alma era

imaculadamente pura. Da mesma forma, Harry e Cedrico conseguem

encontrar a Taça Tribruxo por seu caráter e por suas habilidades

mágicas.

É curioso notar que, embora seja Galahad quem encontre o

Graal, a maioria das lendas destaca um personagem chamado Percival.

Nascido numa família de camponeses, Percival viria a provar sua virtude

e a se tornar um cavaleiro da Távola Redonda. Se Percy Weasley algum

dia mostrará as qualidades insinuadas pela semelhança do seu nome com

o do cavaleiro, é algo que ainda veremos.

Veja também:

Page 68: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Labirintos

CENTAUROS

Por que centauros evitam os humanos?

Centauros são animais míticos que têm corpo de cavalo e tronco,

braços e cabeça de gente. Em Animais Fantásticos, J. K. Rowling diz que

eles “preferem manter distância de feiticeiros e trouxas em geral”. É uma

crença que remete a antigas lendas. De acordo com essas histórias,

centauros vêm das montanhas da Grécia, onde costumavam se

relacionar muito bem com os habitantes locais. No entanto, quando

alguns deles exageravam no vinho, tornavam-se selvagens e violentos.

Por causa disso, eram freqüentes as guerras entre centauros e humanos.

Uma das mais famosas começou por causa de uma festa de casamento

para a qual os centauros tinham sido convidados. Como de hábito, eles

exageraram um pouco no entusiasmo e acabaram tentando raptar a

noiva, o que motivou uma guerra intensa na qual foram derrotados. As

cenas dessa guerra eram uma das decorações preferidas nos vasos

gregos.

No entanto, nem todos os centauros tinham

um comportamento bestial. Alguns deles eram

Page 69: David colbert   o mundo mágico de harry potter

conhecidos por sua nobreza de caráter... Chiron, a quem os deuses

Apolo e Artemis ensinaram as artes da medicina e da caça, fundou uma

escola onde estudaram alguns dos grandes heróis da época, como

Aquiles e Ulisses.

Perdido nas estrelas

Apesar de imortal, Chiron foi ferido por uma flecha com a

ponta envenenada. O ferimento provocado pela flecha causou-lhe um

sofrimento intenso e incessante. Chiron preferiu morrer do que sentir

dores intensas durante o restante de sua vida.

Em reconhecimento pela bondade de Chiron, Zeus o colocou

entre as estrelas da constelação de Sagitário. Outra constelação, a do

Centauro, é uma das mais visíveis do Hemisfério Sul. Duas de suas

estrelas, Alfa Centauro e Beta Centauro, estão entre as dez mais

brilhantes do céu. Alfa Centauro é a estrela mais próxima da Terra e do

Sol, a mais de 4,3 anos-luz.

Tantos centauros no céu explicam por que Firenze, Ronan e

Agouro, os que habitam a Floresta Proibida de Hogwarts, estão sempre

de olho nas estrelas para ler o futuro.

Page 70: David colbert   o mundo mágico de harry potter

NESSO, O CENTAURO INIMIGO DE HÉRCULES, RETRATADO EM UAI VASO

GREGO DO SÉCULO VII A.C.

CORUJAS

Além do correio, o que mais significa a chegada de uma coruja?

As corujas, é claro, são o principal meio de comunicação entre os

bruxos do mundo de Harry. Mas, em nosso mundo, apesar de todos

gostarem de receber cartas, nem todos gostam de corujas. Muitas

culturas, como a egípcia, a romana e a asteca, têm sentimentos ambíguos

com relação a esse predador. Em muitas partes do mundo, o piado

agudo da coruja é considerado mau presságio, às vezes mesmo o

anúncio da morte. Além do mais, as corujas, como pássaros noturnos,

Page 71: David colbert   o mundo mágico de harry potter

são há muito associadas com a bruxaria, o que

com certeza apavora algumas pessoas.

No entanto, houve culturas que

reverenciavam esse pássaro. O símbolo de

Atenas era uma coruja, e isso porque havia

muitas delas na região. Havia um ditado

antigo: “Não mande corujas para Atenas”,

significando fazer algo inútil. Hoje em dia, uma frase similar seria:

“Vender geladeiras para esquimós”, já que os esquimós

obviamente não precisam de geladeiras.

Mas, como Atenas era um centro de conhecimento, as corujas

também se tornaram símbolo de inteligência. Eram o símbolo de

Minerva, a deusa romana da sabedoria (derivada da deusa grega Palas

Atenas, protetora de Atenas).

Page 72: David colbert   o mundo mágico de harry potter

DEMENTADORES

Chocolate, um santo remédio contra dementadores

Como todo fã de Harry Potter sabe, dementadores são criaturas

mágicas letais. Eles não têm rosto e vestem mantos longos, que cobrem

inteiramente seu corpo “cinzento, de aparência viscosa e coberto de

feridas”. Dementadores “esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar

à sua volta” (Azkaban).

A explicação de Rowling

Em uma entrevista, Rowling confirmou que os dementadores

representam a doença mental conhecida como depressão: “É

exatamente o que eles são. Foi uma coisa inteiramente consciente e

totalmente tirada da minha experiência. A depressão foi a coisa mais

desagradável que vivenciei. É uma impossibilidade de imaginar que você

algum dia será uma pessoa alegre novamente. A

ausência de esperança. Um sentimento de apatia muito

diferente da tristeza. A tristeza machuca, mas é um

sentimento saudável, uma coisa necessária. Depressão é

Page 73: David colbert   o mundo mágico de harry potter

outra história.”

Não podemos deixar de notar que o remédio utilizado para

minimizar os efeitos provocados pelos dementadores é o chocolate, que

os médicos dizem ser capaz de fazer com que as pessoas deprimidas se

sintam mais animadas. O chocolate produz alguns efeitos semelhantes

aos dos remédios receitados pelos médicos. E, como não podia deixar de

ser, chocolate parece ser a cura ideal para a maior parte dos males no

mundo de Harry.

Page 74: David colbert   o mundo mágico de harry potter

DEMÔNIOS DA CORNUALHA

Qual é o truque preferido dos duendes?

Duendes são agitados espíritos domésticos que aparecem nas

lendas do sudoeste da Inglaterra, que inclui a Cornualha. Na maioria das

histórias, vestem roupas verdes e um chapéu pontudo. Possuem traços

juvenis e muitos têm o cabelo ruivo. J. K. Rowling se afasta da tradição

ao descrevê-los, em A Câmara e em Animais Fantásticos, como

“azuis-elétricos com cerca de oito polegadas de altura”.

No folclore, duendes costumam agir de modo semelhante aos

elfos domésticos do mundo de Harry. Podem ser muito úteis, mas basta

que ganhem uma peça de roupa de presente para desaparecerem. No

entanto, diferentemente dos elfos domésticos, que ficam felizes por

fazerem todo o trabalho, os duendes não costumam facilitar a vida dos

preguiçosos.

Duendes adoram dançar à luz do luar. Também costumam retirar

cavalos dos estábulos para galopar durante a noite inteira. Só os

devolvem pela manhã, exaustos e cheios de misteriosos nós na crina.

Mas sua brincadeira preferida é fazer com que viajantes se

percam nas estradas. Por isso, na Inglaterra, sempre que alguém está

Page 75: David colbert   o mundo mágico de harry potter

confuso ou desnorteado, dizem que foi “guiado por um duende”. O

feitiço desorientador pode ser quebrado se a vítima tirar o casaco e

tornar a vesti-lo pelo avesso.

Desviar viajantes do caminho é um truque também usado por

outro espírito inglês mencionado em Azkaban-, hinkypunk. Como ele é

mais parecido com uma nuvem esfumaçada do que uma pessoa sólida,

também é chamado de Will o' the Wisp.

Veja também:

Bicho-papão

Animais fantásticos

DRAGÕES

Qual é a criatura digna de um rei?

O dragão (do latim draco, como Draco Malfoy) é provavelmente a

criatura mágica mais conhecida da literatura. Perigoso e apavorante, ele é

o adversário mais desafiador que um herói pode encontrar pela frente. O

crítico literário John Clute observa que nas histórias antigas “quem mata

um dragão vira rei”. Por isso, o dragão foi o símbolo escolhido por

muitos soberanos reais ou imaginários. Um deles foi o legendário rei

Page 76: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Artur, cujo sobrenome, Pendragon, significa “cabeça do dragão” ou

“líder dragão”. Seu capacete dourado era decorado com um dragão.

No entanto, como alguns heróis descobriram, dragões são

freqüentemente criaturas mal compreendidas. Eles costumam ser

assustadores, mas também podem ser benevolentes.

Não leve em conta apenas as aparências

A maioria das pessoas teme dragões por causa de

sua aparência. Esta descrição do ano 600 não deixa

dúvidas:

O dragão não é apenas a maior de todas as serpentes: é o maior

ser vivo sobre a face da Terra. Ele tem o rosto pequeno e narinas

estreitas, que usa para respirar e expelir fogo. Se for retirado da caverna

onde vive, ele arremete com tal fúria, que o ar estremece à sua volta. Sua

força não está nos dentes, mas na cauda, capaz de produzir maiores

estragos do que suas mandíbulas. Dragões não são venenosos, mas não

precisam de veneno para matar qualquer coisa que se aproxime deles.

Nem mesmo um elefante, com todo o seu tamanho, estaria seguro.

Dragões crescem no calor escaldante da Etiópia e da Índia.

Page 77: David colbert   o mundo mágico de harry potter

É fácil perceber por que o dragão sempre está

associado à destruição. A idéia remonta a

milhares de anos. No Novo Testamento, Deus

alerta: “Vou transformar Jerusalém em ruínas e

num covil de dragões, as cidades da Judéia ficarão

desoladas, sem nem um habitante.”

Dragões britânicos

Dragões estão presentes na maior parte das lendas da terra de

Harry. Por exemplo, eles prenunciaram um dos mais importantes

momentos da história britânica. De acordo com a crônica oficial, o ano

de 793 “começou com agourentos sinais por toda a Nortúmbria (um dos

sete reinos britânicos da época), levando o pânico à população. Grandes

faixas de fogo atravessavam o firmamento e flamejantes dragões eram

vistos voando pelos céus com um apetite ameaçador. Pouco tempo

depois, em 8 de junho do mesmo ano, a igreja de Lindisfarne (um

vilarejo no litoral) foi destruída por impiedosos salteadores que

roubaram e assassinaram sem nenhum pudor”. Os “impiedosos

salteadores” eram os nórdicos da Escandinávia. De acordo com a

profecia, a decoração de seus navios lembrava a figura de dragões. Eles

dominaram as ilhas britânicas por centenas de anos.

Page 78: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Não por coincidência, o santo padroeiro posteriormente adotado

pela Inglaterra foi São Jorge, conhecido matador de dragões,

simbolicamente derrotando os forasteiros. Em A Rainha

das Fadas, famoso poema escrito no reinado de Elizabeth I,

o poeta Edmund Spenser descreve o dragão confrontado

pelo “Cavaleiro da Cruz Vermelha”:

Seu corpo era monstruoso, horrível e imenso,

Inflado pela fúria, envenenado e impenetrável.

Como uma couraça de aço, um escudo tenso

Feito de escamas de bronze cobria seu couro,

E nem golpes de espada nem lanças de ouro

Poderiam assaltar tal fortaleza.

Suas asas eram como as velas de um navio,

Um espaço onde o vento se avolumava e ganhava impulso.

Sua longa cauda serpenteava como um rio

Que jazia ondular toda a extensão de seu dorso.

Salpicada de escamas vermelhas e negras,

Ela varria o chão às suas costas, e trazia

Na ponta dois ferrões afiados como aço.

Page 79: David colbert   o mundo mágico de harry potter

A boca escancarada e já vazia

Mostrava a mandíbula voraz.

Como se fosse as portas do inferno,

Deixava à mostra três fileiras de dentes de ferro

Sujos com o sangue e as vísceras frescas

Dos corpos que acabara de devorar.

O lado bom dos dragões

Nem sempre dragões são inimigos dos humanos. Especialmente

na Ásia, eles costumam ser benévolos - embora, às vezes, um pouco

autoritários. Mas o mais importante é que simbolizam o espírito de

liderança.

O calendário asiático é dividido em ciclos de doze anos, e a cada

ano corresponde um animal. Pessoas nascidas no ano do Dragão são

tidas como líderes naturais e conseguem combinar a força de vontade

com uma natureza generosa.

Page 80: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Na secunda metade do século XX, os anos do Dragão no calendário

asiático corresponderam aproximadamente aos anos de 1952, 1964, 1976, 1988 e

2000 do calendário ocidental.

O que tem dentro da cabeça de um dragão?

Há quem diga que uma pedra mágica, chamada draconita, pode

ser encontrada dentro da cabeça dos dragões. “Ela é retirada do cérebro

dos dragões, mas deve ser extraída enquanto ele ainda está vivo. De

outra forma, a dureza de pedra se desfaz juntamente com a vida do

dragão. Homens muito corajosos e audaciosos procuram os

Page 81: David colbert   o mundo mágico de harry potter

esconderijos onde os dragões dormem. Ficam espreitando até que saiam

para se alimentar e, passando por eles com a maior rapidez possível,

jogam ervas dormideiras. Quando o dragão cai no sono, estes homens

retiram a pedra da cabeça do dragão e, com o prêmio por sua temerária

empreitada em mãos, aproveitam as honras proporcionadas por sua

audácia. Os reis do Oriente usam essas pedras, embora sejam tão duras

que não se consegue gravar nada em sua superfície. Elas possuem uma

alvura pura e natural.”

Nas lendas antigas, o sangue do dragão também era mágico. Por

isso, na figurinha de Dumbledore, que vem dentro dos sapos de

chocolate, entre seus feitos mais conhecidos se encontra a descoberta do

décimo segundo uso para o sangue de dragão.

DRUIDAS

Quem foram os primeiros magos ingleses?

Existiam feiticeiros na Grã-Bretanha há muito tempo antes da

fundação de Hogwarts. Os primeiros magos eram conhecidos como

druidas (como a druida Cliodna, das figurinhas dos sapos de chocolate

que Harry tanto aprecia). O nome tem origem celta e quer dizer

Page 82: David colbert   o mundo mágico de harry potter

“conhecimento do carvalho”. Eles formavam a classe de estudiosos e

letrados na Grã-Bretanha e na Gália (atual França).

Os druidas atuavam como sacerdotes, professores e juízes.

Também se reuniam anualmente onde hoje é a cidade francesa de

Chartres para debater questões genéricas e resolver controvérsias.

O imperador romano Júlio César, que conquistou a Gália e a

Bretanha e registrou tudo o que descobriu sobre as novas terras, disse

que os druidas “conhecem profundamente as estrelas e os movimentos

celestiais, o tamanho da Terra e do universo, a natureza essencial das

coisas e os poderes e autoridade dos deuses imortais. Contam todas

essas coisas para seus discípulos”.

O treinamento de um druida podia levar mais de vinte anos.

Como César sugeriu em seu texto, o aprendizado incluía poesia,

astronomia, filosofia e religião.

Os druidas veneravam diversos deuses da natureza —

acreditavam em uma força religiosa que impregnava todas as coisas

vivas. Também acreditavam na imortalidade e na reencarnação. Seus

rituais incluíam sacrifícios de animais e talvez até mesmo de humanos.

De acordo com o relato de César, eles criavam enormes esculturas feitas

com galhos e ramos de árvores, colocavam pessoas dentro e tocavam

fogo. No entanto, alguns estudiosos questionam essa versão, alegando

que César pretendia desmoralizar os druidas por despeito, já que eles

resistiram fortemente à invasão romana.

Page 83: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Veja também:

Feiticeiros

DUENDES

Por que os duendes são bons banqueiros?

Não sendo tão amistosos quanto os elfos, nem mais espertos do

que os gnomos, os duendes do mundo de Harry se rebelaram contra os

bruxos diversas vezes, no passado. A paz entre os dois lados é um tanto

tensa, e de fato os bruxos ainda não aceitam de todo os duendes.

O bom, o mau e o feio

Em inglês, a palavra gobelin, que significa duende, vem do grego

kobalos, que significa errante. A mesma palavra produziu o alemão kobold

ou kobolt e o francês gobelin. Eles geralmente não assombram sequer uma

única família ou casa, mas são dados a vagar pelo mundo.

Há vezes em que os duendes são retratados mais como criaturas

trabalhadoras do que malvadas - muito afeitos à mineração e a trabalhos

Page 84: David colbert   o mundo mágico de harry potter

com metais, por exemplo. Seus primos, os hobcfoblins,

também são mais inclinados a praticar travessuras do que

maldades. Puck, “aquele alegre errante noturno” da peça de

Shakespeare Sonho de uma Noite de Verão, é o melhor exemplo

deles.

Alguns são conhecidos por praticarem o bem. Muito antes de ter

escrito Uma História de Natal, Charles Dickens escreveu A História dos

Duendes que Roubaram um Sacristão, uma história de Natal na qual duendes

mostram a um homem chamado Gabriel Grub - “um homem de maus

ímpetos, antipático, ríspido; sujeito rabugento e solitário, que não se

entendia com ninguém a não ser consigo mesmo” — o erro de manter

seu modo de ser:

Sentado sobre uma lápide vertical, junto a ele, estava uma

estranha figura. Gabriel imediatamente soube que ela não pertenceria a

este mundo. Suas pernas longas e fantásticas, que alcançariam o solo,

estavam dobradas para cima e cruzadas de um modo exótico e

extraordinário. Seus braços com tendões saltados estavam nus e as mãos

repousavam sobre os joelhos. Seu corpo era pequeno e roliço, e ele

vestia um casaco apertado fechado, ornamentado com pequenos cortes;

um manto pendia de suas costas; o colarinho terminava em curiosas

pontas, que ali estavam no lugar de uma gola ou xale,- e seus sapatos

eram curvados para cima, na altura dos polegares dos pés, fazendo

Page 85: David colbert   o mundo mágico de harry potter

longas pontas. Sobre a cabeça, ele vestia um chapéu alto com aba larga e

em formato de um bolo.

Para afastar duendes, havia pessoas que costumavam espalhar sementes de

linhaça pelo chão da cozinha. Por alguma razão, os duendes sentiam-se compelidos a

catar as sementes - uma tarefa extremamente tediosa. O duende rapidamente desistiria

e iria procurar diversão em outro lugar.

O chapéu estava recoberto de neve e o duende parecia que estava

sentado ali, naquela lápide, muito confortavelmente, haveria duzentos

ou trezentos anos. Perfeitamente imóvel, com a língua para fora, como

se estivesse debochando de alguém, ele sorria para Gabriel Grub com

um daqueles sorrisos dos quais só um duende é capaz.

— Receio que meus amigos estejam querendo você, Gabriel! —

disse o duende, impelindo a língua ainda mais para fora da boca... E era

mesmo uma língua espantosa. - Receio que meus amigos estejam

querendo você, Gabriel - repetiu o duende.

Como os fantasmas de Lim Conto de Natal, que precisaram

ensinar a Scrooge o significado do Natal, os duendes mostraram a

Gabriel que o mundo não era tão ruim quanto parecia.

No entanto, os duendes são retratados com mais freqüência

como aparecem no poema de Christina Rossetti, Mercado dos Duendes:

Page 86: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Não devemos olhar para os duendes,

Não devemos comprar suas frutas:

Quem sabe em que solo cresceram

Suas raízes sedentas e famintas!...

Suas ofertas não devem nos tentar,

Seus presentes maléficos só nos fariam mal.

Nas crônicas da Terra-Média de J. R. R. Tolkien, os duendes são

chamados de Ores. Robert Foster, um estudioso de Tolkien, chamou-os

de “uma raça cruel”. Segundo ele, “cresceram sob o desprezo dos elfos

e, como os elfos, eram ferozes guerreiros e não morriam de causas

naturais. No entanto, em tudo o mais eram bastante diferentes... Eles

odiavam tudo que fosse belo, e amavam matar e destruir”.

Os duendes de J. K. Rowling parecem ser um meio-termo entre

o Bem e o Mal. Esse equilíbrio fez deles perfeitos guardiões para o

Banco de Gringotes, uma tarefa que exigiria que fossem tanto confiáveis

quanto impiedosos.

Veja também:

Bicho-papão

Demônio da Cornualha

Trasgos

Veelas

Page 87: David colbert   o mundo mágico de harry potter

DUMBLEDORE

Se Dumbledore é tão poderoso, por que não luta com Voldemort?

Oficialmente, Alvo Dumbledore é apenas o diretor de Hogwarts.

Mas sabe-se que, no mundo mágico, seu papel é muito mais importante.

Ele é o único feiticeiro, além de Harry, a quem Voldemort teme, e um

dos poucos que pronunciam seu nome sem temor. Embora tenha sido

escolhido para ocupar o Ministério da Magia, preferiu permanecer em

Hogwarts, onde atua discretamente como conselheiro do ministro

Cornélio Fudge.

Alto e magro, Dumbledore usa longos cabelos e barba até a

cintura. Tem um grande nariz aquilino, sobre o qual equilibra um par de

óculos em forma de meia-lua. A figurinha que o retrata nos sapos de

chocolate informa que ele é “considerado por muitos o maior bruxo dos

tempos modernos”, e não faltam títulos para prová-lo: a Ordem de

Merlim (Primeira Classe), Grande Feiticeiro, Chefe dos Bruxos,

Suprema Independência, Confederação Internacional dos Bruxos.

Page 88: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Um bruxo à moda antiga

Dumbledore é um bruxo tradicional. Pode-se facilmente

confundi-lo com Merlim ou Obi-Wan Kenobi de Guerra nas Estrelas.

Gandalf, o bruxo criado por J. R. R. Tolkien em O Senhor dos Anéis,

poderia ser seu irmão gêmeo. “Os longos cabelos brancos, sua vasta

barba prateada e seus ombros largos deixavam-no parecido com os

sábios reis das lendas antigas. Em seu rosto envelhecido, sob espessas

sobrancelhas brancas, os olhos escuros pareciam pedaços de carvão

prestes a incendiar-se.” A descrição é incrivelmente parecida com a cena

de O Cálice em que Dumbledore percebe que Barty Crouch Jr. havia

tomado o lugar de Olho-Tonto Moody: “Havia uma fúria gelada em

cada ruga daquele rosto velho, e ele irradiava uma aura de poder como se

Dumbledore desprendesse um calor de brasas vivas.”

Por que não procurar Voldemort?

De acordo com Rowling, Dumbledore “é particularmente

famoso por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das trevas em 1945”.

Como foi o mesmo ano em que a Inglaterra e aliados derrotaram Hitler e

outros inimigos da democracia na Segunda Guerra Mundial, podemos

tomar isso como uma dica que o confronto entre Dumbledore e

Page 89: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Grindelwald foi algo realmente grande. Neste caso, Dumbledore deve

ser um adversário muito poderoso.

Por que, então, ele permite que Harry se arrisque enfrentando

Voldemort? Ele não teria poder suficiente para encontrar o Lorde das

Trevas e acabar com ele de uma vez por todas?

Olhos de criança

Não é tão fácil quanto parece. Apesar de toda sua sabedoria e

habilidade, Dumbledore é apenas humano.

Costumamos vê-lo através dos olhos de Harry: alguém que sabe

tudo e pode fazer qualquer coisa. Ele é o pai ideal - coisa especialmente

importante para Harry, cujos pais foram mortos e cujo padrinho está

foragido. Para Harry, que conhece apenas a versão dos livros de história,

os feitos de Dumbledore parecem impossíveis de serem ultrapassados.

No entanto, Harry tem muitas dúvidas acerca das próprias habilidades.

Mas é claro que Dumbledore é apenas humano. O que alguém

poderia esperar de uma pessoa que gosta de música de câmara, boliche e

drops de limão? Quando era jovem, ele deve ter tido as mesmas dúvidas

de Harry - ou até piores. Os livros registram apenas uma parte da

história, e as figurinhas uma parte ainda menor! Sabemos que

Dumbledore erra, como errou ao contratar Gilderoy Lockhart como

Page 90: David colbert   o mundo mágico de harry potter

professor de Defesa Contra a Arte das Trevas. Se ele realmente soubesse

tudo, teria adivinhado as intenções de Lockhart. Mas não se pode

esperar que ninguém saiba tudo.

É possível, e mesmo provável, que Dumbledore tenha um grande

plano bem arquitetado para derrotar Voldemort. Essa hipótese poderia

muito bem desembocar em um duelo entre os dois, como prelúdio para

o confronto final entre Voldemort e Harry. Seja como for, ele parece

conhecer mais segredos do que já revelou até agora, e só vai divulgar

suas intenções quando julgar conveniente. Só para citar um exemplo, ele

ainda não revelou como Voldemort sabia que era tão importante matar

Harry, muito embora ele ainda fosse um bebê de apenas um ano.

Seja qual for o papel de Dumbledore nessa história toda, é certo

que será fundamental para a maturidade de Harry vê-lo como um ser

humano, falível como qualquer outro, apesar de ser tão venerado. Só

assim Harry será capaz de ver sua própria personalidade e seus feitos

como igualmente admiráveis.

Page 91: David colbert   o mundo mágico de harry potter

DURMSTRANG

Por que os alunos de Durmstrang viajam de navio?

Durmstrang é uma das duas escolas de mágica na Europa

continental. Sua localização exata é mantida em segredo, mas

provavelmente fica em algum lugar na parte nordeste da Europa, a julgar

pelos uniformes — combinando com as túnicas de “vermelho-sangue

escuro”, os alunos vestem casacos de “pele, bastante felpudos” - e pelos

nomes tipicamente russos do diretor Igor Karkaroff e de estudantes

como Poliakoff.

Tempestade e ímpeto

O nome da escola é uma brincadeira com a expressão em alemão

Sturm und Drang (tempestade e ímpeto), que se refere a uma literatura

dedicada à grandeza, ao espetáculo, à rebeldia. Tratava-se de uma

importante tendência da literatura alemã do século XIX. A figura

principal do movimento foi Johann Wolfgang von Goethe, cuja obra

mais famosa, Fausto, descreve o drama de um homem que firmou um

Page 92: David colbert   o mundo mágico de harry potter

pacto com o demônio, semelhante ao pacto que Karkaroff, um antigo

Comensal da Morte, fez com Voldemort.

Outro artista do movimento, o compositor Richard Wagner,

escreveu diversas óperas sombrias, uma delas baseada na famosa

história do navio-fantasma O Holandês Voador. Esse navio foi

amaldiçoado e sua condenação consistia em vagar interminavelmente

pelos oceanos, tudo porque seu capitão, num acesso de fúria durante

uma tempestade, renunciou a Deus.

O mal de sangue puro

Durmstrang é uma escola muito diferente de Hogwarts.

Enquanto em Hogwarts os alunos aprendem apenas Defesa Contra as

Artes das Trevas, os alunos de Durmstrang têm aulas de Magia Negra

propriamente dita. (Isso ocorre por influência do diretor Karkaroff, um

antigo Comensal da Morte.) Por razões semelhantes, Durmstrang “não

aceita alunos de sangue impuro”, de acordo com Draco Malfoy, cujo pai

é um admirador da doutrina de Durmstrang e está pensando em mandar

Draco para lá. Essa devoção a um conceito maldoso e questionável de

pureza combina bem com o nome da escola. Os artistas do movimento

Sturm und Drang, Wagner especialmente, eram os preferidos do governo

nazista alemão, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas

Page 93: David colbert   o mundo mágico de harry potter

eram obcecados por matar todos aqueles que não se encaixassem em sua

definição de puro-sangue germânico.

Richard Wagner, compositor que se identificava com o movimento Sturm

und Drang, também escreveu uma série de óperas sobre um feiticeiro chamado

Alberico que, como Harry, tinha uma capa da invisibilidade.

Ocidente versus Oriente?

As diferenças entre Hogwarts e Durmstrang refletem também

uma longa animosidade entre países do Ocidente e do Oriente.

Hogwarts, sob a direção de Dumbledore, é um bom exemplo das

tradições democráticas do Ocidente. Durmstrang é um lugar mais rígido,

formando feiticeiros nos quais não se pode confiar - exatamente como a

Europa Oriental tem sido vista pelos estrangeiros. É bastante

significativo que, ao final de O Cálice, ambos os lados reconheçam que

suas desconfianças devem ser postas de lado para poderem enfrentar o

inimigo comum.

Page 94: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Veja também:

Feiticeiros

Alberico Grunnion

EGITO

De onde vem a magia?

Quando a família de Ron Weasley faz uma viagem para o Egito,

em Azkaban, Hermione confessa: “Estou morrendo de inveja. Os

magos do antigo Egito me fascinam.” Ela, provavelmente, concordaria

com inúmeros estudiosos que consideram o Egito como a fonte original

Page 95: David colbert   o mundo mágico de harry potter

de todo o conhecimento mágico.

A magia e a religião egípcia

Os hieróglifos - figuras que os antigos egícios

usavam como escrita — registram que a magia e a religião

egípcia estavam intimamente ligadas. Os deuses egípcios,

diferentemente dos deuses de outras culturas, confiaram

aos seres humanos o saber mágico. (Só para comparar: na

mitologia grega, o herói Prometeu - cujo nome quer dizer

pensar à frente - teve de enganar os deuses para dar aos

homens o fogo, que representa a vida e o conhecimento.)

De acordo com a religião egípcia, a magia foi criada

na forma de uma deusa, Heka, logo depois da criação do

mundo. O nome

Heka, de fato, deu origem à palavra magia. Isso depois de a

palavra ter passado pelo grego, quando ganhou um grafia e uma

pronúncia própria, tornando-se mageia, que resultou na palavra que hoje

se usa em português: magia.

Um outro deus egípcio, Thoth, estava ainda mais associado à

magia. Ele dominava as artes da cura - sempre ligadas à feitiçaria nas

Page 96: David colbert   o mundo mágico de harry potter

culturas antigas -, assim como a astronomia e a matemática. Com

freqüência, era representado carregando uma pena de escrever. Dizia-se

que ele havia escrito livros secretos sobre alquimia e ciência. Um desses

livros estaria supostamente encerrado numa caixa de ouro, guardada

num esconderijo no interior de um templo secreto.

THOTH, DEUS EGÍPCIO, MOSTRAVA SEU CONHECIMENTO DE MACIA EM LIVROS.

Feitiços egípcios

Os egípcios levavam encantamentos e feitiços a sério.

Acreditavam no poder das palavras mágicas, capazes de concretizar em

ações o significado das palavras. Algumas vezes, essas palavras eram

Page 97: David colbert   o mundo mágico de harry potter

dirigidas a figuras de cera ou argila, que representavam a pessoa ou a

coisa à qual o feitiço era destinado. Os encantamentos eram geralmente

usados para curar, mas também havia quem os utilizasse para praticar o

mal. Havia um bruxo, Webaaner, que diziam ter transformado um

pequeno crocodilo de argila num animal vivo diante da corte. A besta

assassina matou o amante da rainha adúltera, e a seguir o bruxo a fez

voltar à forma original. Um outro personagem, misto de bruxo e

sacerdote, tomou o poder graças à sua capacidade de “comandar todos

os reis pelo poder da magia”. Ele afundava barquinhos representando as

armadas de seus inimigos, fazendo com que os verdadeiros navios

naufragassem também.

O DEUS OSÍRIS

ERA QUEM JULGAVA OS MORTOS.

No entanto, a magia egípcia estava mais preocupada com as

Page 98: David colbert   o mundo mágico de harry potter

coisas sagradas do que com riquezas materiais. De acordo com um texto

da época: “Aquele que é um sacerdote entre os viventes... pratica o bem

sem buscar recompensa. Um mestre como esse vive uma existência

realmente piedosa.”

Escaravelhos

O Egito é também a origem dos escaravelhos, uma espécie de

besouro que os alunos de Hogwarts conhecem da Aula de Poções.

Os escaravelhos são chamados de besouros de estéreo porque juntam

estéreo e fazem com ele pequenas bolotas, onde depositam seus ovos.

No antigo Egito, essa operação de rolar o estéreo para lhe dar forma

esférica era tida como símbolo do movimento do Sol. Acreditava-se que

era o deus-escaravelho Kephera (Khepri) quem empurrava o Sol,

atravessando os céus.

Os escaravelhos também podiam simbolizar a imortalidade.

Amuletos com entalhamentos representando escaravelhos eram

colocados sobre o coração das múmias de modo a prepará-las para a

jornada da vida após a morte. Escaravelhos são ainda hoje um tema

comum em jóias.

Page 99: David colbert   o mundo mágico de harry potter

UM DESENHO EGÍPCIO DE UM ESCARAVELHO (COM ASAS) EMPURRANDO UMA BOLA QUE

REPRESENTAVA O SoL

Veja também:

Sirius Black

Fawkes

ESFINGE

Por que a Esfinge faz uma pergunta a Harry?

Durante a terceira tarefa do Torneio Tribruxo, em O Cálice,

quando Harry vai se aproximando do centro do labirinto, encontra a

esfinge - “uma criatura extraordinária”, parte leão, parte mulher, com

“olhos amendoados”. Ela lhe diz: “Você está muito próximo do seu

objetivo. O caminho mais curto é passando por mim.” Mas, em vez de

lutar contra a esfinge, como faria se fosse um dragão, ele precisa

responder a uma pergunta.

Page 100: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Origens egípcias

A esfinge é uma criatura que tem sua origem na mitologia egípcia.

A enorme figura da Grande Esfinge, no deserto de Giza, Egito,

construída aproximadamente em 2500 a.C, comprova a origem remota

da criatura e sua importância. Milhares de esfinges menores foram

construídas por todo o Egito, vez por outra com a cabeça na forma de

um pássaro predador.

A estranha forma da esfinge e sua postura enigmática a tornaram o próprio

símbolo do mistério. William Shakespeare perguntou, certa vez : “O amor não seria...

tão sutil como uma esfinge?” (Trabalhos de Amor Perdidos, ato IV, cena 3.)

Nos mil anos que sucederam a construção da Grande Esfinge, as

lendas sobre a criatura migraram para a Grécia. Lá, ela era descrita como

um ser alado.

A esfinge de Tebas

Uma esfinge originária das lendas gregas tornou-se

particularmente conhecida. Ela foi enviada pela deusa Hera para punir

Laio, o rei de Tebas, que havia raptado um rapaz. Essa esfinge desafiava

Page 101: David colbert   o mundo mágico de harry potter

os viajantes que passavam pela estrada para Tebas com um enigma

dividido em três partes, semelhante ao que Harry tem de resolver:

Que animal caminha sobre Quatro patas

pela manhã, Duas ao meio-dia E três à noite?

A nenhum viajante era permitido voltar atrás sem dar a resposta,

e a esfinge matava todos que respondessem incorretamente. Certo dia,

um jovem chamado Édipo aproximou-se dela. Ele era o filho de Laio, e

seu herdeiro, mas, assim como Harry, ignorava sua origem nobre. Édipo

demonstrou sua excepcional inteligência ao decifrar o enigma: “O

homem engatinha sobre seus joelhos e mãos na primeira infância, anda

Page 102: David colbert   o mundo mágico de harry potter

ereto quando crescido; e, já idoso, caminha com o auxílio de uma

bengala.” Uma vez derrotada, a esfinge matou-se.

Veja também:

Animais fantásticos

Centauros

Fofo

Labirintos

ESPELHOS

Por que os espelhos são mágicos?

Por milhares de anos, o folclore dos bruxos fez referência a

espelhos. Nos tempos antigos, era muito caro fabricar espelhos. E isso

fazia deles peças muito raras, que tinham o poder de causar surpresa e

espanto. De acordo com algumas lendas, os espelhos eram ferramentas

do demônio, usados para capturar as almas, da mesma forma como

capturavam imagens. Na Idade Média, os bruxos consultavam os

espelhos, nos quais viam o futuro e a resposta para questões

importantes. A isso se chamava perscrutação.

O espelho mágico mais famoso da literatura é sem dúvida o da

Rainha Má, em Branca de Neve. Mas existem muitos outros. Numa das

Page 103: David colbert   o mundo mágico de harry potter

histórias de As Mil e uma Noites, um gênio dá ao príncipe Alasnam um

espelho que lhe revelaria se poderia confiar ou não em alguém por quem

estivesse apaixonado. Num poema inglês da época elisabetana, The Faerie

Queen, Merlim cria um espelho para o rei Ryence com poderes

semelhantes:

O grande Mago Merlim criou,

Com seu grande saber e temível poder infernal,

Uma superfície de vidro espantosamente polida.

Esse espelho revelava, sem enganos,

Todo ser ou coisa que existisse

Que quem o contemplasse desejasse encontrar.

Fosse qual fosse o mal, de amigo ou inimigo,

Ao olhar, tudo era por ele revelado.

Esse espelho é muito parecido com o descrito por um outro

famoso poeta britânico, que viveu três séculos antes de Spenser.

Geoffrey Chaucer - um dos primeiros poetas a escrever em inglês - criou

uma longa série de histórias chamadas Os Contos de Canterbury, cada uma

delas narrada por um diferente personagem ficcional, em peregrinação a

um santuário de Canterbury, Inglaterra. Numa das histórias, “O Conto

do Escudeiro”, um espelho é dado a um rei chamado Cambinskan pelo

rei da Arábia e da índia:

Esse espelho

Page 104: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Tem tal poder, que nele podem os homens ver

Quando está para lhes ocorrer alguma adversidade,

A vós e a vosso reino também,

E revelar quem é seu amigo e quem é inimigo.

Mais do que isso, se alguma bela dama

Por algum cavaleiro se enamorar,

Se falso ele se mostrar, sua traição ela enxergará.

Portais mágicos

Assim como recurso mágico para fazer profecias, os espelhos são

freqüentemente portais para outros mundos, como aquele imaginado

por Lewis Carroll nas aventuras de Alice em Do Outro Lado do Espelho:

– Espere aí, Gatinha, pare um pouco de falar que eu vou dizer a você o que eu

acho da Casa do Espelho. Primeiro, tem o quarto onde você pode ver através do

espelho - é o mesmo que este nosso quarto aqui, acontece apenas que as coisas

estão ao contrário... Vamos fazer de conta que tenha uma maneira de ir para

aquela sala. Uma maneira qualquer, Gatinha. Faz de conta que o espelho, de

repente, ficou macio como gaze para a gente poder atravessá-lo. Ora, veja só,

está se formando uma espécie de neblina nele. Juro que está. Vai ser fácil

atravessá-la. - Ao dizer isso, ela estava de pé no alto da lareira, embora mal

soubesse como havia ido parar lá. E não havia erro... O vidro do espelho

Page 105: David colbert   o mundo mágico de harry potter

começava a dissolver-se, transformando-se numa névoa brilhante.

O Espelho de Ojesed

Os espelhos são, principalmente, reflexos de nós mesmos, para o

Bem e para o Mal. É por isso que podem se tornar perigosos. O Espelho

de Ojesed em A Pedra é um bom exemplo deste tipo de espelho. “Era um

magnífico espelho, da altura do teto, com uma moldura em talha

dourada.” No seu topo havia a seguinte inscrição: “Oãça rocu esme

Ojesed osamo tso rueso ortso moãn”, o que evidentemente é o reflexo

no espelho de: “Não mostro o seu rosto mas o desejo em seu coração.”

E o que poderia ser melhor do que isso? Muita coisa, aparentemente,

quando damos atenção ao que Rony diz a Harry: “Dumbledore tinha

razão. Aquele espelho podia deixar você maluco.”

A estudiosa de bruxaria Rosemary Ellen Guiley descobriu certa vez

instruções sobre como fabricar um espelho mágico nos escritos de

Alberto Magno, um bruxo da Idade Média-. “Compre um espelho e

escreva sobre ele-. 'S.Solam S.Tatler S.Echogordner Gematur'. Enterre-o

numa encruzilhada em uma hora ímpar. No terceiro dia, vá para esse

lugar, a mesma hora, cave e retire-o de lá — mas não seja a primeira

pessoa a olhar nesse espelho. E sempre melhor deixar

um cachorro ou um gato olhar primeiro.”

Page 106: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Embora o Espelho de Ojesed seja a “chave para encontrar a

Pedra Filosofal”, representa também um teste para o caráter das

pessoas. A vaidade e o egoísmo -motivações básicas para se olhar o

espelho - são características que facilmente corrompem qualquer um.

Como apenas as pessoas dotadas de virtudes raras merecem realizar seus

desejos, somente aqueles que olham no espelho e vêem os outros (como

quando Harry vê seus pais nele) ou vêem a si mesmos praticando um ato

desprendido (como impedir que a Pedra caia nas mãos de Voldemort)

irão receber aquilo que mais querem.

John Dee (1527-1608), um dos magos favoritos da rainha Elizabeth

da Inglaterra, costumava usar o espelho para jazer profecias.

Page 107: David colbert   o mundo mágico de harry potter

FAWKES

Qual dos personagens é imortal?

Quando as aventuras de Harry começam, em A Pedra, os

personagens mais velhos são Nicolas e Perenelle Flamel, ambos com

mais de seiscentos anos. Mas eles são privados de sua imortalidade

quando a Pedra Filosofal é destruída. No entanto, outro importante

personagem pode ser realmente imortal: a fênix Fawkes, mascote de

Dumbledore. A fênix é um pássaro mágico. Vive por muitos séculos -

alguns dizem que por mais de quinhentos anos. O poeta latino Ovídio

escreveu:

Quantas criaturas sobre a Terra

Tiveram sua primeira existência sob outra forma?

No entanto, existe uma que é como sempre foi,

Renascida sempre, como se não tivesse idade, no decorrer dos anos.

E o pássaro assírio ao qual chamam fênix.

Ele não come as sementes comuns, nem folhas,

Mas bebe do suco das ervas mais raras, com sua ardência adocicada.

Quando completa quinhentos anos de existência,

Carrega seu ninho para o alto de uma palmeira ondulante

E, com delicadeza e capricho, suas garras preparam o leito

Page 108: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Com cascas de árvore e especiarias, mirra e canela,

E morre enquanto a fumaça do incenso carrega sua alma para o alto.

Então, do seu peito — assim conta a lenda —,

Uma pequena fênix se ergue

Para viver, assim dizem, outros quinhentos anos.

A criatura sagrada, quase sempre descrita como sendo vermelha

e dourada, era conhecida como benu, no antigo Egito, onde se originou.

Era um importante símbolo da cidade de Heliópolis (a Cidade do Sol). No

Livro dos Mortos egípcio, um texto sagrado escrito mais ou menos em

2000 a.C, a fênix proclama: “Sou a guardiã do livro das coisas que são e

das coisas que virão a ser “

Nos hieróglifos egípcios, a fênix representa a passagem do tempo

e permanece até hoje como um símbolo de imortalidade. Muitos

escritores usam a fênix como um símbolo de amor imortal e de lealdade.

Em The Canonization, John Donne, poeta do século XVII, escreve para

sua esposa:

O enigma da fênix guarda ainda mais sabedoria

Para nós, nós dois, sendo um, somos o que ela é.

Assim, numa única criatura cabem ambos os sexos,

Morreremos e renascemos os mesmos, e provamos do

Mistério por meio deste amor.

“Quando o pássaro fantástico morre, a fênix-fêmea, suas cinzas se

Page 109: David colbert   o mundo mágico de harry potter

reproduzem criando seu novo herdeiro, tão admirável quanto ela mesma fora...”

William Shakespeare, Henrique VIII. (Ato V, cena 2.)

O nome de Fawkes

O nome Fawkes está ligado à lenda da fênix - embora a história

tenha sido um pouco modificada. Obviamente, a criatura recebeu seu

nome por causa de Guy Fawkes, líder de uma famosa tentativa de

atentado que tinha como objetivo explodir o prédio do Parlamento

Inglês, em 5 de novembro de 1605. A Gunpowder Plot (a Conspiração da

Pólvora), como foi chamada, seria deflagrada com a rebelião dos

católicos ingleses que, na época, eram perseguidos. Os conspiradores

esconderam trinta e seis barris de pólvora nos subterrâneos da Casa dos

Lordes, mas havia tantos conspiradores que o plano acabou chegando

aos ouvidos das autoridades, que prenderam e executaram muitos deles

(piorando ainda mais a situação dos católicos). Na Inglaterra, 5 de

novembro é o Dia de Guy Fawkes, celebrado com fogueiras, como a

pira funeral da fênix.

Veja também:

Sirius Black

Egito

Page 110: David colbert   o mundo mágico de harry potter

FLAMEL

O verdadeiro Flamel foi um alquimista bem-sucedido?

Como muitos fãs de Harry Potter sabem, Nicolas Flamel existiu

de verdade. Nasceu nas cercanias de Paris, por volta de 1330, e tentou

diversas carreiras - poeta, pintor, escrivão público - antes de se dedicar à

astrologia. Segundo seu relato, em 1357 foi visitado em sonhos por um

anjo que lhe mostrou um livro e disse: “Flamel, olhe este livro. Nem

você nem qualquer outro conseguirão entendê-lo, mas chegará o dia em

que você verá nele algo que ninguém mais será capaz de ver “ No dia

seguinte, ele encontrou aquele mesmo livro na barraca de um vendedor

de livros de rua, em oferta por um preço baixíssimo, já que ninguém era

capaz de entender o que estava escrito. Com grande esforço e a ajuda de

um estudioso em idiomas que sabia ler o hebraico, Flamel decifrou o

texto, que parecia ser um manual de transmutação de metais básicos em

ouro.

Infelizmente, as instruções pediam um ingrediente

especial - uma pedra filosofal ; mas não explicavam do que se

tratava. Por muitas décadas, Flamel tentou encontrar a

misteriosa substância. Em 17 de janeiro de 1 383, de

acordo com suas memórias:

Page 111: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Finalmente, encontrei o objeto de minhas buscas e reconheci-o por seu forte

cheiro: com ele, consegui enfim concluir o rito mágico. Aprendi a preparar o primeiro

agente e depois precisei apenas seguir meu livro, palavra por palavra. Da primeira vez

que executei a operação, trabalhei com mercúrio e transmutei algo em torno de setecentos

gramas na prata mais pura, de melhor qualidade do que a

prata extraída das minas. Testei os resultados muitas e

muitas vezes. Mais tarde, no vigésimo quinto dia de abril,

completei a operação com a pedra-vermelha, trabalhando

com a mesma quantidade de mercúrio, quando transmutei-o

em uma quantidade igual de ouro.

Este ouro era evidentemente superior às amostras mais comuns do metal.

Consegui completar três vezes a operação mágica com a ajuda de (minha esposa)

Pernelle.

Essa descrição - o “forte cheiro” - levou outros alquimistas a

acreditar que a pedra filosofal era enxofre. Mas não se conhece ninguém

que tenha conseguido reproduzir o processo.

De acordo com a história, Flamel morreu em 1410, poucos anos

depois de Pernelle. No entanto, alguns de seus seguidores acreditam que,

além de conseguir produzir ouro, Flamel produziu o Elixir da Vida, que

proporcionava a imortalidade. Muitos dizem que, graças a esse elixir,

Page 112: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Flamel e sua esposa continuam vivos até hoje.

No mundo de Harry, pelo menos, essa crença se mostrou

verdadeira. No começo de A Pedra, Flamel e sua esposa estão vivos e

muito bem de saúde, apesar de terem quase 660 anos de idade.

Infelizmente, quando a pedra é destruída, o elixir não pode mais ser

produzido e assim ambos acabam morrendo.

Veja também:

Alquimia

Espelhos

Bruxos

FLORESTA

Por que a floresta próxima a Hogwarts é proibida?

A floresta é uma das ambientações que os escritores mais gostam

de criar, e a Floresta Proibida, próxima a Hogwarts, tem todas as

qualidades que se pode esperar de algo do gênero. A natureza ali é

selvagem, domina o lugar, em contraste com os lugares civilizados,

como Hogwarts e a vila de Hogsmeade. Dentro dela vivem criaturas

mais antigas do que a espécie humana, como o unicórnio. Da mesma

Page 113: David colbert   o mundo mágico de harry potter

forma, assim como há um conhecimento na natureza que os seres

humanos sempre tentaram compreender - como a sabedoria dos deuses

da natureza adorados pelos druidas; é na Floresta Proibida que os

segredos são guardados e os mistérios podem ser desvendados.

Em A Pedra, Voldemort mata um unicórnio, e isso indica a Harry

que o bruxo está por perto. Em A Câmara, Harry e Rony seguem as

aranhas até a floresta e encontram Aragogue, que lhes dá pistas sobre o

monstro que está atacando Hogwarts.

Assim como as demais florestas da literatura, a Floresta Proibida

de Rowling é também um lugar perigoso, onde uma pessoa pode perder

não só seu rumo mas também seu senso de identidade. Contudo, as

florestas podem oferecer refúgio, e são o lar de espíritos com

conhecimentos especiais sobre a natureza e a arte da cura. Hagrid, por

exemplo, não tem medo algum da Floresta Proibida. E, se algum dia

Page 114: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Harry precisar de um lugar para onde fugir de Voldemort, facilmente

encontrará abrigo na floresta, entre os seus habitantes, que dificilmente

representariam ameaça para ele.

Veja também:

Centauros

Druidas

Hogwarts

Unicórnios

FOFO

Por que Fofo pertencia a um “sujeito grego”?

Fofo é o mascote de Hagrid e passou a ser o guardião da pedra

mágica de Nicolas Flamel, depois que ela foi retirada do Banco de

Gringotes: “Um cachorro monstruoso, que ocupava todo o espaço entre

o teto e o piso. Tinha três cabeças. Três pares de olhos que giravam

enlouquecidos,- três narizes, que franziam e estremeciam farejando-os; e

três bocas babosas.”

Hagrid comprou Fofo de um “sujeito grego” que encontrou

num pub. E isso faz sentido porque Fofo é, de fato, a criatura da

mitologia grega conhecida como Cérbero. E, originalmente, era mesmo

Page 115: David colbert   o mundo mágico de harry potter

um sentinela, já que lhe cabia guardar a entrada do Hades, o mundo

subterrâneo, onde as almas dos mortos passavam a eternidade. Seu

trabalho era manter os vivos do lado de fora e devorar qualquer um que

tentasse escapar.

Cérbero e Hércules

Cérbero desempenha um papel de destaque em um famoso mito

grego, a história dos doze trabalhos de Hércules. O herói Hércules,

enganado pela deusa Hera, foi levado a cometer crimes horrendos. Seu

castigo foi se tornar servo de um rei de segunda categoria por doze

anos. O rei exigiu de Hércules o cumprimento de doze tarefas, todas

elas consideradas impossíveis. A maior parte delas consistia em capturar

ou matar algumas feras das mais malignas, como a Hídra, uma criatura

de várias cabeças. O último trabalho, considerado o mais difícil, foi

capturar Cérbero, trazendo-o do seu posto de guarda, os portões do

Hades, e apresentando-o diante do rei. Espantosamente, Hércules

conseguiu cumprir sua missão, bastando para isso usar sua força bruta.

Page 116: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Cérbero e a música

Um outro personagem levou a melhor sobre Cérbero, mas não

graças a seus músculos. Foi Orfeu, um talentoso músico que,

corajosamente, desceu ao mundo subterrâneo para resgatar sua amada,

Eurídice. Sem a força de Hércules, ele tocou a sua lira para amansar

Cérbero. E funcionou. Assim, ele foi capaz de passar pela criatura e

trazer Eurídice para fora. E por isso que o tal sujeito grego disse a Hagrid

que a música poderia amansar Fofo.

CÉRBERO, SEGUNDO UMA ILUSTRAÇÃO FEITA POR VOLTA DÊ 1500.

Veja também:

Centauro

Esfinge

Page 117: David colbert   o mundo mágico de harry potter

GÁRGULA

Que outro membro da turma de Draco tem nome de dragão?

Assim como o nome de Draco vem da palavra latina para dragão,

Gregório Goyle soa como gárgula, o monstro que se esconde perto dos

telhados de alguns prédios. Não tão conhecida é a origem do nome:

Gargouille, uma serpente semelhante a um dragão, de origem francesa.

O Gargouille teria vivido no rio Sena. Expeliria água com enorme

força, virando barcos e inundando as margens do rio, na região rural. St.

Romain, o arcebispo de Rouen, na França, usou um criminoso

condenado como isca para atrair o monstro

para fora do rio e subjugou-o com o

sinal-da-cruz. Levou-o então até a cidade,

onde os habitantes o chacinaram.

Mais tarde, artesãos passaram a

esculpir imagens da criatura nas calhas que

construíam para jogar as águas das chuvas

para longe das paredes dos prédios.

Veja também:

Malfoy

Nomes

Page 118: David colbert   o mundo mágico de harry potter

GIGANTES

Todos os gigantes são cruéis?

A maioria dos humanos - provavelmente sem motivo -acredita

que os gigantes são tão perigosos e cruéis quanto grandes. Seja qual for a

verdade, eles têm sempre uma vida difícil.

Os primeiros gigantes

Os primeiros gigantes pertenceram à mitologia grega. Nasceram

quando o sangue de Urano (o Céu) se derramou sobre Géa (a Terra). Os

gigantes lutaram contra os deuses do Olimpo - Zeus, Hera, Apolo e

outros - e foram derrotados com a ajuda de Hércules, que os deuses

chamaram para defendê-los. Depois de vencidos, foram sepultados por

debaixo das montanhas que, então, se tornaram vulcões.

Uma outra raça de gigantes gregos míticos era conhecida como

ciclopes. Eram monstros que possuíam um único olho e foram criados

pelos relâmpagos de Zeus. No poema épico de Homero, A Odisséia, o

herói Ulisses e seus homens têm um encontro com um ciclope e só

escapam a muito custo.

Page 119: David colbert   o mundo mágico de harry potter

OS CICLOPES DO MITO GREGO.

Tanto essas raças de gigantes como as que se seguiram são

conhecidas por serem cruéis e comerem carne humana.

Gigantes ingleses

Entre os gigantes mais recentes, a lenda de dois deles, Gog e

Magog, se espalhou pelo mundo, mudando um pouco em cada lugar.

Na Inglaterra, a história sobrevive na forma de duas grandes estátuas,

em Guildhall, Londres. Elas foram erguidas no século XV, e diz-se que

retratam a última raça de gigantes destruída pelo legendário fundador de

Londres. As estátuas, muito populares, foram substituídas duas vezes:

depois do Grande Incêndio, em 1666, e depois de um ataque aéreo na

Segunda Guerra.

Uma lenda inglesa ligeiramente diferente combina os dois

gigantes num único monstro, chamado Gogmagog, que teria vivido

Page 120: David colbert   o mundo mágico de harry potter

perto da Cornualha. Nessa versão, um bravo soldado atira o gigante de

um penhasco, que até hoje é chamado de O Pulo do Gigante. Outro

legendário gigante inglês, Gargântua, ficou famoso, no século XVI,

como o personagem principal das aventuras cômicas escritas pelo

francês François Rabelais.

Em dois dos primeiros livros da Bíblia, o Gênesis e Ezequiel, Magog é o

nome do lugar de origem de Gog. Num livro posterior, Revelações, Magog aparece

como a segunda criatura ou força que se junta a Gog na tentativa de destruir o

mundo.

De acordo com algumas lendas, ele foi empregado do rei Artur

e conseguiu derrotar Gog e Magog.

Gigantes e magia

De acordo com o historiador Geoffrey de Monmouth,

Stonehenge, o misterioso círculo de enormes pedras encontrado no sul

da Inglaterra, tem sua origem nos gigantes da Irlanda. Segundo seu

relato, Artur pediu a Merlim um conselho sobre a construção de um

memorial de guerra. O mago respondeu:

Se você quiser adornar o solo onde estão enterrados esses homens com um

Page 121: David colbert   o mundo mágico de harry potter

monumento que dure para sempre, mande trazer o Anel dos Gigantes, que está no

Monte Killaraus, na Irlanda. Lá existe uma construção de pedra que homem nenhum

da nossa era poderia erguer, a não ser que combinasse uma habilidade especial à sua

arte. As pedras são enormes e não há ser vivo forte o bastante para movê-las. Se forem

colocadas ao redor desse sítio, na mesma posição em que foram erguidas lá, ali ficarão

para sempre...

Na peça de Shakespeare, Como Gostares, Rosalinda pergunta

ansiosamente à sua amiga Caia sobre um jovem: “O que ele disse? Qual é a

aparência dele? Para onde ele já viajou? Ele perguntou por mim? Onde ele está

agora? E quando você vai revê-lo? Responda-me tudo em uma única palavra.” Célia,

sem hesitar, replica “Então, primeiro você precisa me dar a boca de Gargântua,

porque tal palavra seria grande demais para a boca de alguém deste nosso tempo.”

(Ato III, cena 2.)

Essas pedras estão ligadas a um ritual religioso secreto e possuem

propriedades medicinais. Muitos anos atrás, os gigantes as trouxeram

dos remotos confins da África e as colocaram na Irlanda, na época em

que viviam naquela região. Sempre que se sentiam doentes, despejavam

água sobre as pedras e preparavam um banho curativo com essas águas.

Além do mais, misturavam essa água com poções de ervas, que usavam

para ajudar a cicatrizar seus ferimentos. Não há nenhuma pedra ali que

não possua virtudes medicinais.

Como Geoffrey nos conta, o rei aceitou o conselho de Merlim e

Page 122: David colbert   o mundo mágico de harry potter

mandou que trouxessem as pedras à sua presença.

Não é segredo para ninguém

No mundo de Harry, a maioria dos bruxos tem preconceito

contra gigantes. Hagrid jamais contou a ninguém que sua mãe era a

giganta Fridwulfa por se preocupar como seria a reação dos outros. Pela

mesma razão, a diretora de Beauxbatons, madame Olímpia Maxime,

reluta tanto em admitir que é meio-gigante. Mas qualquer um com bom

senso poderia adivinhar isso, só pelo seu nome. Olímpia refere-se aos

gigantes originais do Olimpo, e Maxime quer dizer “máximo” ou “muito

grande” em francês.

Geoffrey de Monmouth, como a maioria dos historiadores antigos, dava

crédito às histórias que escutava. Por isso, sua história da Inglaterra mistura lendas

com fatos comprovados.

Page 123: David colbert   o mundo mágico de harry potter

GRIFOS

Qual a criatura que domina tanto os céus quanto a terra?

A casa de Harry, Griffindor (na tradução em português,

Grifinória), literalmente significa “grifo de ouro” (em francês, or quer

dizer ouro). É um nome bastante apropriado para uma casa

caracterizada pela coragem e pela virtude.

Os grifos são criaturas mágicas, parte leão, parte águia. São

originários da índia, onde guardavam imensos tesouros em peças de

ouro. No século III, um historiador chamado Aelian escreveu:

Ouvi dizer que o animal indiano chamado grifo é um quadrúpede, como um

leão, que possui garras de enorme força que lembram as garras do leão. As pessoas

contam que o animal tem asas, que as penas ao longo de seu dorso são negras e as do

peito são vermelhas, enquanto as das asas são brancas. E Ctsesias (um historiador

grego) relata que o pescoço do grifo é coberto de penas de um azul mais escuro, que ele

tem o bico de uma águia, assim como a cabeça, exatamente como

alguns artistas o retrataram em pinturas e esculturas. Seus

olhos, diz ele, são como fogo.

Ele constrói sua toca no topo das montanhas. Embora

não seja possível capturar um animal adulto, alguns caçadores

Page 124: David colbert   o mundo mágico de harry potter

já conseguiram apanhar filhotes. Os grifos lutam com outros animais e os vencem com

facilidade, mas nunca confrontam o leão ou o elefante.

O significado dos grifos

Os grifos fazem parte da literatura e da mitologia há doze

séculos. Daquela época até hoje, seu significado mudou muito. O

estudioso Hans Biedermann explica:

Um animal fabuloso, simbolicamente significativo por dominar tanto os céus

quanto a terra, graças a seu corpo de leão e sua cabeça e asas de águia. Na Grécia, o

grifo simbolizava a tenacidade vigilante. Apolo costumava montar um animal dessa

espécie, e os grifos eram responsáveis pela guarda do ouro da Hiperbórea (uma região

mítica onde o sol brilharia ininterruptamente e a felicidade não cessaria, localizada

“para além do vento norte”). O grifo também

incorporava Nêmesis, a deusa da vingança, e era

quem girava a sua Roda da Fortuna. Nas

lendas, a criatura era o símbolo da superbia

(orgulho extremo, arrogância) porque dizia-se

que Alexandre, o Grande tentara voar montado

em grifos para alcançar os confins dos céus.

No início, o grifo foi retratado como uma figura satânica que armava ciladas

Page 125: David colbert   o mundo mágico de harry potter

para aprisionar as almas dos homens. No entanto, mais tarde tornou-se o símbolo da

dupla natureza (humana e divina) de Jesus Cristo, precisamente pelo seu domínio dos

céus e da terra. A associação com o Sol tanto da águia quanto do leão favoreceu essa

interpretação positiva do mito. O grifo, por conseqüência, tornou-se o adversário das

serpentes e dos basiliscos, já que ambos eram tidos como encarnações de demônios.

Nos últimos mil anos, o grifo mostrou-se a figura mais constante

dos brasões de família. Um especialista em heráldica diz: “O grifo é

muito popular porque, aparentemente, possui inúmeras virtudes e

nenhum vício. Entre essas virtudes destacam-se a nobreza, a coragem e a

força.” E essas são exatamente as qualidades incorporadas pelo

fundador de Hogwarts, Godric Gryffindor, e pelos membros da Casa

Grifinória.

Veja também:

Animais fantásticos

Hipogrifos

Page 126: David colbert   o mundo mágico de harry potter

GRINDYLOWS

Por que os pais se preocupam com os grindylows?

Os grindylows são demônios da água, tirados das lendas da região

inglesa chamada Yorkshire. J. K. Rowling os apresenta em Azkaban:

“Um bicho de cor verde-bile, com chifrinhos pontiagudos, comprimia a

cara contra o vidro, fazendo caretas e agitando os dedos longos e

afilados.”

Essa criatura perigosa gosta de viver em lagos, onde é mais fácil

apanhar e arrastar para o fundo crianças desavisadas que se aproximam

da beira dágua. Em Lancashire, o mesmo demônio é conhecido como

Jenny Greenteeth (Jenny Dentes-Verdes). Em outras partes da Inglaterra, é

também chamado de Nellie Long-Arms (Nelly Braços-Longos). Um

parente do grindylow, Peg o' the Well (Peg do Poço), assombra os poços de

água.

Carol Rose, uma especialista em demônios e espíritos, chama os

grindylows de “bichos-papões, descritos com exagero por babás vigilantes

e pais preocupados, com o objetivo de evitar que seus filhos morram

prematuramente em acidentes nesses lugares perigosos”. Mas, quando

Harry mergulha no lago de Hogwarts para salvar Rony, durante a

segunda tarefa do Torneio Tribruxo, o grindylow que agarra sua perna e

Page 127: David colbert   o mundo mágico de harry potter

seu manto parece bastante real para o garoto.

Veja também:

Kappas,

Lula Gigante,

Sereianos

HIPOGRIFOS

Qual é a criatura mágica menos verossímil?

Bicuço, o hipogrifo que surgiu pela primeira vez em Azkaban, é

mais do que uma simples criatura mágica. Com a cabeça de ave e as patas

dianteiras de um grifo num corpo de cavalo, os hipogrifos, sem dúvida,

são uma combinação muito estranha. E essa foi justamente a intenção

do homem que os imaginou, no século XVI, um escritor com bastante

senso de humor.

Certa vez, para enfatizar a impossibilidade de um certo episódio,

o poeta romano Virgílio disse que tal coisa só ocorreria “quando um

grifo cruzasse com um cavalo”. A frase ficou famosa. Por muitos

séculos, foi usada como hoje usamos “no dia em que os porcos criarem

asas”.

Page 128: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Ludovico Ariosto, poeta italiano do início do século XVI,

lembrou-se da frase quando estava escrevendo Orlando, o Furioso, história

épica sobre os cavaleiros de Carlos Magno, rei que dominou quase toda a

Europa no século IX. Decidido a finalmente criar o ser impossível de

Virgílio, ele inventou o hipogrifo (Hipo é a palavra grega para “cavalo”.)

De acordo com Ariosto, o hipogrifo seria originário dos montes

Rifaina, “para além dos mares congelados”. A criatura aparece na

história quando a corajosa sobrinha de Carlos Magno, Bradamante,

procura por seu amado, um cavaleiro chamado Rogério. Bradamante

encontra Rogério, que está aprisionado por um feiticeiro que usa a

estranha criatura como montaria. Poucas pessoas haviam visto um

hipogrifo até então. Após derrotar o feiticeiro e libertar Rogério,

Bradamante tenta se aproximar do animal:

Desceram a montanha até o local onde o encontro ocorrera. Encontraram o

hipogrifo, com o escudo mágico no envoltório, pendurado na bolsa lateral da sela.

Bradamante adiantou-se para tomar os arreios e pareceu que o hipogrifo esperaria por

ela. No entanto, antes que ela chegasse, ele estendeu suas asas e voou em direção a uma

elevação próxima, e fez a mesma coisa na segunda tentativa, outra vez frustrando os

esforços da moça.

Rogério e os outros cavaleiros libertados espalharam-se pela planície em volta

e pelo topo das elevações, tentando capturá-lo. Finalmente, o animal permitiu que

Rogério se aproximasse o suficiente para segurá-lo pelo bridão. O destemido Rogério

não hesitou em montá-lo, e suas esporas aguilhoaram o animal de tal maneira que,

Page 129: David colbert   o mundo mágico de harry potter

depois de galopar por uma curta distância, de repente esticou as asas e elevou-se no céu.

Bradamante sofreu a dor de ver seu amor arrebatado quase imediatamente após tê-lo

reencontrado. Rogério, que não sabia como cavalgar o animal, foi incapaz de direcionar

o vôo. Viu-se carregado para o pico de montanhas tão altas que mal podia distinguir,

lá embaixo, a terra da água.

O hipogrifo tomou a direção do oeste e

cortou os ares com a rapidez de um navio novo

singrando as ondas, impulsionado por ventos mais

frescos e favoráveis.

Em outro episódio da história, um

cavaleiro diferente, Astolfo, atravessa o

mundo montado no mesmo hipogrifo:

O falcão e a águia pairam nos ares com menos liberdade. Sobre a selvagem

terra da Gália, o guerreiro voou dos Pireneus até o Reno, de mar a mar. A caminho

de Aragão, passou por Navarra, deixando as pessoas lá embaixo abismadas com tal

visão. Então, atravessou Castela, Galícia, Lisboa, Sevilha e Córdoba. Não deixou de

explorar nenhuma região do litoral ou do interior da Espanha.

Do Atlântico aos extremos do Egito, fez a volta sobre a África e retornou.

Marrocos, Fez e Oran,- olhando para baixo, viu a nobre Biskra, Tunes, Trípoli,

Bernícia e Ptolomita, e das terras asiáticas seguiu para o Nilo.

Astolfo acabaria cavalgando o hipogrifo até chegar ao Paraíso.

Page 130: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Posteriormente, em sinal de respeito, ele o libertou. E por isso que

podemos entender por que J. K. Rowling diz em Animais Fantásticos que

o hipogrifo “é hoje encontrado em todos os lugares do mundo”.

Veja também:

Animais fantásticos

Grifo

HOGWARTS

Por que alguém iria para uma escola onde tem uma Sonserina?

O escritor Pico Iyer, que freqüentou duas antigas escolas

britânicas - a Dragon School e a Eton -, diz que “muita coisa no universo

de Harry Potter parece familiar”:

Lá estão todos os rituais que eu recordo tão vividamente quanto drops de

limão: a lista criptografada de instruções que chegava de repente pelo correio,

descrevendo o que deveríamos — e o que não deveríamos — levar para a escola (o

objetivo de todas aquelas regras não era tanto manter a ordem, mas forçar a

obediência), a peregrinação por velhas lojas empoeiradas, com antigos nomes de família

- New & Lingwood ou Alden & Blackwell -, nas quais homens idosos nos vendiam

os itens do uniforme da escola e do material requerido, assim como fizeram com nossos

Page 131: David colbert   o mundo mágico de harry potter

pais e com os pais deles,- o trem especialmente reservado pela escola, que estaria

esperando por nós em alguma estação de Londres e nos transportaria diretamente para

nossas células. Uma vez cerradas as portas, com um estalido, às nossas costas, nos

encontraríamos dentro de uma nova realidade onde as regras comuns não tinham

qualquer valor...

Talvez seja possível dizer que, quanto mais estranhos são os detalhes no

mundo de Rowling, mais eles se aproximam de algo tão banal para nós quanto

mingau de aveia. Harry joga quadribol, um jogo peculiar cujas bolas são goles, balaços

e o pomo; tínhamos três esportes brutais, que não eram praticados em nenhuma outra

escola, sendo que no mais selvagem deles havia barreiras e reta-guardas e nenhum gol

havia sido oficialmente assinalado desde 1909. Na escola de Harry,

inexplicavelmente, “o corredor do terceiro andar do lado direito está proibido”; em

Eton, era proibido andar num dos lados da estrada principal que levava à cidade (por

razões que não eram reveladas). Quanto aos fantasmas, comíamos,

dormíamos e estudávamos cercados de bustos e de retratos e das

assinaturas na mesa que vinham de (primeiros-ministros britânicos)

Gladstone, Wellington, Pitt e Elder.

Mas algumas pessoas dizem que Hogwarts é diferente da maioria

dos internatos. É uma escola onde se tem prazer de estar: a comida é

deliciosa, e Harry dorme numa cama de quatro colunas. É tolerante:

mesmo que a desobediência possa custar à casa do aluno a perda de

Page 132: David colbert   o mundo mágico de harry potter

alguns pontos, os professores são indulgentes. E, acima de tudo,

Dumbledore a torna um lugar onde prevalece a justiça.

Então, sendo uma escola tão gostosa, o que a Casa Sonserina está

fazendo lá? Aparentemente, não há um problema sequer que não seja

causado por um aluno da casa fundada por Slytherin (sly em inglês

significa “matreiro”, “trapaceiro”, “enganador”). E parece também que

não há um único aluno decente na casa. Tudo indica que sua filosofia foi

expressada por Quirrell, em A Pedra: “Não existe bem nem mal, só existe

o poder, e aqueles que são demasiado fracos para o desejarem.”Salazar

Slytherin, um dos fundadores de Hogwarts - a casa recebeu o nome em

sua homenagem -, era tão desonesto que chegou a construir a Câmara

Secreta sob a escola sem contar para os demais. Então, não seria mais

lógico se livrarem da Sonserina?

Faz sentido que Harry inicie seu ano escolar com o embarque no Expresso

de Hogwarts. Afinal, J. K Rowling teve a idéia para as histórias durante uma

viagem de trem.

Na verdade, isso seria o oposto da filosofia de J. K. Rowling. A

presença dos alunos da Sonserina em Hogwarts indica bem quais são as

idéias dela sobre bem e mal.

Page 133: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Dentro das paredes de Hogwarts, a liderança de Dumbledore

gerou um ideal atraente. O mal não deve ser afastado medrosamente,

nem mesmo enfrentado com força e coragem. Deve ser contraposto

pela compaixão. Mais de uma vez, Dumbledore já demonstrou sua forte

crença na possibilidade de recuperação de bruxos corrompidos pelo mal.

Cada um dos quatro fundadores de Hogwarts tem qualidades

individuais que formam um todo equilibrado. Mesmo a ambição de

Slytherin pode ser direcionada para o bem, uma vez contrabalançada

com as características demonstradas pelas outras casas. É parte da

realidade, parte de todo indivíduo - assim como Harry tem um pouco de

Voldemort em si. Tentar eliminar isso seria tolo e, também, impossível.

Veja também:

Durmstrang

Page 134: David colbert   o mundo mágico de harry potter

KAPPAS

Qual a criatura que não pode inclinar a cabeça?

Em Azkaban, Harry fica conhecendo os kappas, “assustadores

seres da água que parecem com macacos escamosos”. Eles são

mencionados de novo em Animais Fantásticos.

J. K. Rowling não inventou os kappas. Como está dito em

Animais Fantásticos, eles são demônios da água tirados das lendas

japonesas. (Em Azkaban, o professor Snape comete um equívoco ao

ensinar à turma de Harry que “os kappas são mais comumente

encontrados na Mongólia”) Assim como os grindylows, que vivem perto

de Hogwarts, os kappas vivem em lagos e rios, e capturam pessoas,

arrastando-as para a água. Também são conhecidos como Kawako, que

significa “filho do rio”.

A descrição feita em Animais Fantásticos, mesmo que soe estranha,

é fiel à lenda. Alguns kappas podem ser mórbidos o bastante para

apreciar o sabor do sangue. No entanto, um ser humano pode escapar de

um kappa explorando a principal fragilidade da criatura. Toda a sua

energia é tirada de uma reentrância, com o formato de um pires, no alto

da cabeça, que deve permanecer cheia de água. Então, se alguém

curvar-se diante do kappa, polidamente, cumprimentando-o, ele será

Page 135: David colbert   o mundo mágico de harry potter

obrigado a retribuir o gesto. Nisso, a água escorre e o kappa se vê

derrotado. Do mesmo modo, por alguma razão há muito esquecida, os

kappas apreciam pepinos tanto quanto gostam de sangue humano. Dar

pepinos de presente a um kappa pode conquistar a sua amizade e levá-lo

a revelar importantes segredos medicinais.

Veja também:

Grindylows

Animais fantásticos

Sereianos

LABIRINTOS

Por que a terceira tarefa se passa em um labirinto?

A terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo se passa dentro de

um labirinto especialmente construído para tal propósito. Dentro dele,

os competidores encontram um bicho-papão, uma esfinge, um

explosivim, uma aranha gigante e uma névoa dourada que vira todos de

cabeça para baixo. No centro de tudo está a Taça Tribruxo.

Page 136: David colbert   o mundo mágico de harry potter

O labirinto de Creta

O labirinto é a figura central de um dos mais conhecidos mitos

gregos sobre a prova de habilidade de um herói - a história de Teseu e do

Minotauro. O labirinto foi construído na ilha de Creta por Dédalo,

provavelmente o maior gênio-inventor do seu tempo. Foi criado para

abrigar o mascote do rei Minos - um monstro comedor de gente com

corpo de homem e cabeça de touro, conhecido como Minotauro.

O MINOTAURO, DE UM VASO DO SÉCULO V A.C.

Naquele tempo, Creta dominava Atenas, que era forçada a pagar

um tributo anual de sete rapazes e sete moças a Creta. Todos os anos,

esses desafortunados jovens eram atirados dentro do labirinto, do qual

ninguém escapava, e terminavam sendo devorados pelo Minotauro. Em

determinado ano, Teseu, filho do rei de Atenas, foi incluído entre os

jovens entregues a Creta. Ocorreu entretanto que a filha de Minos,

Ariadne, apaixonou-se por ele antes que fosse atirado no labirinto. Para

Page 137: David colbert   o mundo mágico de harry potter

salvar a sua vida, ela lhe deu uma espada para matar o monstro e um

carretei de linha para marcar o caminho, de forma que ele pudesse

retornar por onde tinha ido e encontrar de novo a saída.

Embora Teseu tenha sido extremamente ingrato a Ariadne,

depois de seu triunfo no labirinto tornou-se um dos maiores reis de

Atenas.

Veja também:

Centauros

Fofo

LATIM

Qual é o idioma mais importante para os bruxos?

Diferentemente de muitas escolas, Hogwarts, aparentemente,

não enfatiza o aprendizado de idiomas estrangeiros, pelo menos não nos

primeiros anos. Mas existe uma língua com a qual, desde o primeiro ano,

os estudantes vivem esbarrando: o latim. Muitos encantamentos, feitiços

e maldições são nada mais do que palavras em latim que expressam o

efeito desejado. Por exemplo, lumos, a palavra mágica que faz uma luz

aparecer na ponta da varinha mágica dos bruxos, vem da palavra em

Page 138: David colbert   o mundo mágico de harry potter

latim que significa “luz”. Nox, a palavra para apagar essa mesma luz, em

latim significa “escuridão”. O latim é usado também em outros lugares.

Por exemplo, Olho-Tonto Moody, tempos atrás, foi um Auror, um

policial cujo trabalho era levar os bruxos malvados à justiça. Em latim,

“aurora” é outra palavra para “luz” (nascer do dia), e assim Auror é um

nome perfeito para quem luta contra as trevas. Também o lema de

Hogwarts é em latim: Draco dormiens nunquam titillandus (“Nunca

provoque um dragão adormecido”). J. K. Rowling, pessoalmente, disse

certa vez: “Gosto de imaginar os bruxos usando essa língua morta

como se ela ainda estivesse viva.”

Os historiadores dizem que o exemplo mais antigo de latim são quatro

palavras gravadas num alfinete para capas do século VII ou VI a.C, elas

identificavam o dono da casa.

E de fato faz sentido que o latim seja tão importante. Depois

que os romanos conquistaram a Europa (a Inglaterra, inclusive), há cerca

de dois mil anos, o latim tornou-se uma língua geral, que poderia ser

usada em qualquer lugar do império. Os estudiosos confiavam nisso

para assegurar que seu trabalho poderia ser compartilhado amplamente.

O latim foi também a língua do primitivo cristianismo. Por muitos

séculos, a maioria dos livros somente era escrita em latim, já que toda

pessoa instruída sabia latim.

Page 139: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Latim para bruxos

Não tente fazer isso em casa!... O ministério prescreve que três maldições são

“imperdoáveis” e qualquer bruxo que as praticar contra um ser humano será punido

com uma sentença de prisão perpétua em Azkaban. São elas Crucio, que causa dor

extrema (crucio, em latim, quer dizer tortura, suplício). Impero, que coloca a vítima

sob controle total do bruxo (impero significa uma ordem ou comando) e Avada

Kedavra, a Maldição Mortal. (Veja-. Avada Kedavra.)

Aqui estão algumas palavras mágicas que vêm do latim:

Accio: Encanto de chamamento. Do latim accio, “chamar”,

“convocar”.

Aparecium: Faz a escrita em tinta invisível aparecer. De appareo,

“tornar-se visível”, “aparecer”.

Maldição de Conjunctivitius: Prejudica a visão alheia. De

conniugo, “reunir”, “ligar”. Os olhos têm um tecido conectivo chamado

conjuntiva. Quando esse tecido infecciona-se, a pessoa pega conjuntivite,

ficando com os olhos vermelhos.

Deletrius: Faz as coisas desaparecerem. De deleo, “deletar”,

“apagar”, “destruir”.

Densaugeo: Faz com que algo cresça incontrolavelmente.

Talvez venha de denso, “engrossar”. (Draco Malfoy lança este feitiço

Page 140: David colbert   o mundo mágico de harry potter

contra Harry, mas ele ricocheteia e acerta Hermione nos dentes).

Diffindo: Separa coisas. De diffindo, “separar”, “dividir”.

Dissendium: Abre coisas, tais como a estátua da feiticeira que

guarda a passagem secreta entre Hogwarts e Honeydukes. De dissiedo,

“ser separado”.

Enervate: Revigora coisas. (Curiosamente, esta palavra mágica

tem um efeito exatamente oposto ao que seu semelhante significa em

latim e em inglês. Em inglês, enervate quer dizer “enfraquecer”, e sua raiz

latina, enervo, significa o mesmo. Nenhuma das duas palavras significa

energizar.)

Expecto Patronum: Produz um patronus (um guardião). De

expecto, “expelir”; e patronus, “guardião”, “protetor”.

Expelliarmus: Desarma o oponente. De expello, “expelir”,

“soltar”, e arma, “arma”.

Feitiço Fidélius: Deposita um segredo numa pessoa de

confiança. Defidelus, “fiel”, “confiável”, “digno de confiança”.

Finite Incantatem: Termina outros encantamentos. De finite,

“fim”, e incantatem, “palavra mágica ou feitiço”.

Impedimenta: Detém uma pessoa ou alguma coisa. De

impedimentum, “impedimento”, “obstáculo”.

Incêndio: Feitiço usado para fazer fogo. É comumente usado

para incendiar lareiras antes que o pó-de-Flu possa ser usado para

transporte dos bruxos. De incendia, “fogo”.

Page 141: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Obliviate: Faz uma pessoa esquecer. De oblivio, “esquecer”.

Petrificus Totalus: Imobiliza uma pessoa. De petra, “pedra”.

Prior Incantatem: Revela o feitiço que foi executado

imediatamente antes por uma varinha mágica. De prior, “prévio”; e

incantatem, “encantamento”, “feitiço”.

Rictusempra: Cócegas. De ríctus, “uma risada”, “sorriso”.

Riddikulus: Faz alguma coisa parecer engraçada. Usado para

afugentar um fantasma. De ridiculus, “ridículo”, “engraçado”.

Ruparo: Conserta coisas. De reparare, “consertar”.

Vigardium Leviosa: Faz coisas saírem voando. De levis, “leve”

(como na palavra levitar, “fazer flutuar no ar”).

Muitas palavras em inglês — as estimativas variam de 30 a 60% delas - têm

raízes no latim.

Uma das regras básicas da magia diz que, para lançar um feitiço, não basta

pronunciar algumas palavras. O importante é a maneira como o feitiço é dito - por

exemplo, o grau de autoconfiança pode ter grande influência. Conjurar um feitiço

pode requerer um enorme esforço e muita energia. Assim, o poder do feiticeiro é

também fator importante.

Veja também:

Malfoy

Nomes

Page 142: David colbert   o mundo mágico de harry potter

LULAS GIGANTES

Quais criaturas da vida real ainda intrigam os cientistas?

No lago de Hogwarts vive uma criatura do mundo real que é tão

misteriosa quanto qualquer fera mágica. E ela não é intrigante por ser

pequena. Pelo contrário, é o maior invertebrado da face da Terra. É a

lula gigante, que vive em águas tão profundas e distantes de qualquer

litoral, que nenhum ser humano até hoje já viu um espécime vivo.

A Architeuthis, como é chamada pelos cientistas, pode alcançar o

comprimento de vinte e dois metros. Seus olhos, maiores do que os de

qualquer outro animal, são plenamente adaptados à pouca luz das

profundezas em que vive. A luz do sol não chega até lá, mas algumas

criaturas carregam elementos químicos em seus corpos que as fazem

brilhar na escuridão. O autor de ficção científica francês Júlio Verne

colocou uma lula gigante em sua novela Vinte Mil Léguas Submarinas. A

criatura atacou o submarino elétrico da história, o Nautilus:

Diante dos meus olhos estava um monstro horrendo, merecedor de figurar

entre as lendas das maiores maravilhas existentes. Era um imenso molusco, de mais

de sete metros de comprimento. Veio nadando de encontro ao Nautilus, em grande

velocidade, nos fitando com aqueles enormes olhos verdes. Seus oito braços, fixados à

sua cabeça — que deram o nome de cefalópode a esse animal —, eram duas vezes mais

Page 143: David colbert   o mundo mágico de harry potter

compridos do que o corpo e retorciam-se como a cabeleira das Fúrias. Era possível

observar duzentos e cinqüenta ventosas no lado interno dos tentáculos. Na boca do

monstro havia um bico de textura óssea curvado, como o de um papagaio, que se abria

e fechava num movimento vertical. Sua língua, parecida com um tentáculo, mostrava

várias fileiras de dentes afiados, e surgiu estremecendo por entre aquele verdadeiro par

de tenazes.

Verne seguia uma longa tradição ao tornar a lula gigante uma vilã.

Mas, revirando pelo avesso nossas expectativas em relação a monstros, a

lula gigante de J. K.. Rowling é bastante afável. Quando Denis Creevey

cai no lago, em O Cálice, a lula o salva e o coloca de volta no bote.

Page 144: David colbert   o mundo mágico de harry potter

MALFOY

Por que os nomes dos Malfoy combinam tanto com eles?

JK. Rowling deve ter se divertido muito ao escolher os nomes

dos vilões Malfoy. Cada um desses nomes é repleto de significados e

histórias.

O nome da família vem do latim maléficas-, alguém que faz mal

aos outros. Na Idade Média, a palavra era usada para referir-se a bruxas,

cujos atos malvados eram também chamados de maleficia (malefícios). A

estudiosa de bruxaria Rosemary Ellen Guiley escreve: “Em sua definição

mais estrita, maleficia significava danos causados à colheita, doença ou

morte de animais. Num sentido mais amplo, incluía qualquer coisa

negativa que acontecesse a uma pessoa: perda de um amor, tempestades,

insanidade, azar, problemas com dinheiro, infestação de piolhos, e

mesmo a morte. Se um morador de um vilarejo resmungasse alguma

ameaça ou rogasse uma praga contra alguém e ocorresse qualquer

contratempo ou desgraça com essa pessoa - maleficia. Se a curandeira

local administrasse um remédio contra alguma doença e o paciente

piorasse ou morresse - maleficia. Se uma chuva de granizo destruísse a

colheita, se as vacas parassem de dar leite ou o cavalo começasse a

mancar - maleficia.” Um dos primeiros livros sobre feitiçaria e

Page 145: David colbert   o mundo mágico de harry potter

encantamento, o mais importante desse tempo, era intitulado Malleus

Maleficarum (O martelo da feiticeira). Publicado em 1486, foi escrito por

dois caçadores de bruxas para ajudar outras pessoas a caçarem bruxas.

Em 1484, os autores do Malleus Maleficarum receberam do Papa

Inocêncio VIII instruções para levarem a julgamento as bruxas na Alemanha.

Por duzentos anos, foi o livro mais popular depois da Bíblia. A

palavra em latim foi preservada em muitas línguas. Por exemplo,

maleficent em inglês está definido como nocivo, pernicioso, seja em

intenção ou em efeito. Em português, malefício tanto é um dano, um

prejuízo, quanto uma palavra diretamente associada à bruxaria. Em

francês, Mal foi quer dizer “má-fé” (mentira, intenção de enganar ou de

prejudicar).

Draco é um nome com duplo significado em latim. Quer dizer

tanto “dragão” quanto “serpente”. (Muitas línguas usam a mesma

palavra para ambos.) Portanto, não surpreende que Draco Malfoy tenha

sido colocado na Sonserina.

O pai de Draco é Lúcio Mafoy - um nome que lembra Lúcifer, um

dos nomes do diabo. Isso combina bem com Lúcio, um poderoso

Comensal da Morte.

A mãe de Draco chama-se Narcisa. Seu nome vem de um mito

grego. E a história de um belo jovem chamado Narciso,

Page 146: David colbert   o mundo mágico de harry potter

demasiadamente vaidoso, e que por isso foi condenado por um deus a

apaixonar-se por si mesmo. Enquanto admirava seu próprio reflexo,

Narciso acabou caindo num rio e afogou-se.

Veja também:

Gárgula

Nomes

MANTICORES

Por que os bruxos não se aproximam dos manticores?

Em Azkaban, na tentativa de encontrar um precedente legal que

pudesse salvar Bicuço, o hipogrifo, Hermione encontra uma referência

reveladora: “Isso aqui pode ajudar, escutem... um manticore atacou

alguém em 1296 e eles o deixaram livre porque... ah, não... foi só porque

estavam todos com medo de chegar perto dele.”

Não chega a ser uma surpresa. Acontece que o manticore é a mais

terrível de todas as criaturas mágicas. E uma combinação de homem

com besta, com dentes afiados e comportamento agressivo. O nome

vem do persa antigo martikhora, que siginifica “comedor de gente”.

Parece que os manticores viveram na Ásia antiga. Uma

Page 147: David colbert   o mundo mágico de harry potter

assustadora descrição foi esboçada no século II por um historiador

romano que a extraiu de relatos escritos sete séculos antes:

Existe na índia uma besta selvagem, poderosa, ousada, tão grande

quanto um leão, da cor vermelha do cinabre, peludo como um cachorro,

e, no idioma dos hindus, é chamado de marticoras. Não tem entretanto as

feições de uma besta-fera, mas de um homem, e tem três fileiras de

dentes em sua mandíbula superior e três na inferior, sendo que esses

dentes são extremamente afiados e maiores do que as presas de um cão

de caça. Suas orelhas também se assemelham às humanas; seus olhos são

de um azul-cinzento e também iguais aos dos homens, mas suas patas e

garras, como você deve imaginar, são como as do leão.

Carol Rose, uma especialista em criaturas mágicas, diz que, na Idade

Média, acreditava-se que o manticore fosse uma representação do projeta Jeremias.

Essa ligação deve-se à crença de que o manticore vivia nas profundezas da terra e

Jeremias havia sido aprisionado num calabouço.

Na extremidade de sua cauda existe um ferrão, como nos

escorpiões, e ele pode ter comprimento maior do que um cúbito

(aproximadamente 66cm). E a cauda também tem ferrões, a curtos

intervalos um do outro, em ambos os lados. Mas é o ferrão da

extremidade que dá picadas em qualquer um que se aproxime, causando

a morte imediata.

Page 148: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Se alguém sai no encalço da besta, ela projeta os ferrões de sua cauda,

como se fossem flechas, de lado, e eles podem alcançar uma grande

distância. E quando ela lança seus ferrões para a frente, ela dobra sua

cauda para a frente, mas, se os projeta para trás, então distende sua cauda

o máximo que pode. Qualquer criatura que seja atingida pelos projéteis

morre. Só o elefante sobrevive. Esses ferrões têm mais ou menos 30 cm

de comprimento e a espessura de um junco. Um escritor assegura (e ele

diz que os hindus podem confirmar as suas palavras) que nos locais de

onde esses ferrões caíram, outros brotam, de modo que essa coisa do

mal acaba gerando uma colheita.

UM MANTICORE, TIRADO DE UM ENTALHE EM MADEIRA DE 1607.

De acordo com o mesmo escritor, os manticores devoram seres

humanos. De fato, eles assassinam um grande número de pessoas

porque um manticore não se satisfaz com um único homem, mas arma

seu bote contra dois ou mesmo três, superando-os com facilidade.

Os hindus costumam caçar esses animais quando ainda são

novos e não têm os ferrões em suas caudas, que então esmagam com

Page 149: David colbert   o mundo mágico de harry potter

uma pedra, de modo a evitar que nelas cresçam os ferrões. O som que

emitem parece o de uma trombeta.

Uma descrição mais recente vem do famoso poeta e novelista

francês do século XIX, Gustave Flaubert. Em A Tentação de Santo

Antônio, o manticore de Flaubert faz de si mesmo uma apresentação

colorida: “O brilho de meu manto escarlate se mistura à claridade

cintilante das areias do deserto. Através de minhas narinas, exalo o

horror de solitários recantos da Terra. Minha saliva é pestilenta. Eu

devoro os exércitos quando eles se arriscam a penetrar nos desertos.

Minhas unhas são como garras curvas, como ferramentas para rasgar e

perfurar, meus dentes cortam como os de um serrote. Minha cauda

irrequieta dispara dardos, que posso dirigir para a esquerda e para a

direita, para a minha frente e para minhas costas. Observe!”

Veja também:

Animais fantásticos

Page 150: David colbert   o mundo mágico de harry potter

MARCA NEGRA

Por que Voldemort grava a Marca Negra nos

Comensais da Morte?

A Marca Negra é o mais apavorante sinal de Lorde Voldemort.

No final do Campeonato Mundial de Quadribol, em O Cálice, “uma

coisa enorme, verde e brilhante irrompeu do lugar escuro... Era um

crânio colossal, aparentemente composto por estrelas de esmeralda e

uma cobra saindo da boca como uma língua”. O mesmo símbolo

aparece nos braços dos seguidores de Voldemort, ficando mais visível

quando Voldemort recupera as forças e se aproxima.

A Marca Negra é a versão de Voldemort para a Marca do Diabo,

uma idéia que circulava na Idade Média. De acordo com demonologistas

medievais, “o diabo costuma marcar especialmente as pessoas de cuja

lealdade duvida. A marca varia de tamanho e formato. Algumas vezes é

parecida com uma lebre, às vezes lembra a pata de um sapo, uma aranha,

um cachorrinho ou um rato silvestre. E gravada nas partes mais

escondidas do corpo. Nos homens, costuma ficar sob as pálpebras, nos

sovacos, nos lábios ou ombros. Nas mulheres, fica nos seios ou nas

partes íntimas. Para produzir essas marcas, o diabo usa suas garras como

carimbo”.

Page 151: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Morsmorde, o comando que faz a Marca Negra aparecer, quer dizer

“morda um pedaço da morte” em francês, e é um encantamento que

combina bem com os Comensais da Morte.

Estiletes eram usados para espetar supostas bruxas e

verificar se os sinais que possuíam eram Marcas do Diabo. O

desenho mostra um falso estilete, cuja lâmina não machuca.

Freqüentemente, caçadores de bruxas

interpretaram cicatrizes, marcas de nascença, verrugas e

outros sinais como a Marca do Diabo. As bruxas acusadas eram

completamente depiladas para que cada parte de seu corpo pudesse ser

examinado.

Mas os caçadores de bruxas não procuravam apenas a Marca do

Diabo. Buscavam também a Marca da Bruxa. Só a Marca do Diabo

significava um pacto especial, como o firmado entre Voldemort e os

Comensais da Morte. No entanto, embora considerada menos grave, a

Marca da Bruxa podia ser fatal para as acusadas. Acreditava-se que toda

bruxa tinha uma. E qualquer pinta, até mesmo uma verruguinha ou uma

sarda um pouco maior, podia ser identificada como o sinal fatídico.

Entre as crenças da época havia uma que dizia que a Marca da

Bruxa não sangrava nem doía. Por isso, as acusadas de feitiçaria eram

Page 152: David colbert   o mundo mágico de harry potter

espetadas com estiletes para serem testadas. Como muitos caçadores só

recebiam o pagamento por seu trabalho se conseguissem pegar uma

bruxa, eles muitas vezes trapaceavam. Usavam estiletes muito

parecidos com os que os mágicos de circo usam hoje em dia, cuja ponta

some quando é pressionada contra a pele, sem ferir e sem causar dor.

Assim, não é de espantar que tantas bruxas fossem encontradas...

Veja também:

Vassouras voadoras

Voldemort

MCGONAGALL

Por que a professora McGonagall aparece como uma gata?

A primeiríssima bruxa a aparecer em A Pedra, mesmo antes de

Harry, é Minerva McGonagall, que se disfarça, na Rua dos Alfeneiros nº

4, sob a forma de uma gata malhada. (Um gato lendo um mapa - na

verdade, uma visão chocante para o Sr. Dursley, que não está

inteiramente convencido de que uma coisa dessas seja possível ou se

“não seria um efeito da luz?”.)

Ainda que o gato seja o animal que melhor reflete a

Page 153: David colbert   o mundo mágico de harry potter

personalidade da professora McGonagall, um gato seria também a

escolha mais adequada para muitos bruxos e bruxas. Os gatos são

antigos mascotes dos homens civilizados - estando domesticados há

milhares de anos - e sempre foram associados à magia. Como um ser

noturno, eles naturalmente aparecem ligados à escuridão, à Lua e ao

mundo espiritual.

Gatos na antigüidade

Os gatos foram reverenciados pelas culturas ancestrais do Egito

e da índia, onde se originou o misticismo. A cidade de Bubasti, que já foi

a capital do Egito, devotava-se ao culto de uma deusa com cabeça de

gato, Bast. Centenas de milhares de peregrinos vinham à cidade, todos

os anos. Aos gatos era dado um funeral luxuoso.

BAST, A DEUSA-GATA EGlPCIA.

Page 154: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Na Europa também se desenvolveram rituais sagrados para

homenagear os gatos. Na Roma antiga, a deusa Diana tinha o poder de

se transformar nesse animal. Na Escandinávia, dizia-se que Freya, a

deusa nórdica do amor, do casamento e da fertilidade, viajava numa

carruagem puxada por dois gatos. Os gatos também eram reverenciados

em épocas primitivas na Inglaterra. Mas quando o cristianismo tomou o

lugar do paganismo os gatos tornaram-se objeto de desprezo, medo e

superstição.

Quando o Sr. Dursley

arregala os olhos para a gata

malhada - a professora

McGonagall - e ela lhe devolve

o olhar, não é surpresa que

Dursley tenha (por um instante

apenas, antes que sua atenção se

desvie do felino) um

pressentimento.

Veja também:

Animagos

Sirius Black

Page 155: David colbert   o mundo mágico de harry potter

NAGINI

Qual dos aliados de Voldemort é originário da índia?

Em O Cálice, Voldemort é mantido vivo pelo veneno de uma

enorme serpente, Nagini. Mas ela não é uma serpente comum. Tem uma

linhagem nobre e um importante papel na mitologia.

Naga é uma palavra do sânscrito que quer dizer cobra, e nagi é a

palavra para o feminino (nac) é também a palavra para cobra em diversos

idiomas modernos). No budismo e no hinduísmo, as najas são a raça de

cobra semidivinas, dotadas de grandes poderes. Vivem numa belíssima

cidade dos subterrâneos. Algumas têm muitas cabeças. Na cabeça do rei

das najas, Vasuki, está uma jóia brilhante, Nagamani, com

extraordinários poderes de cura. Em algumas lendas, as najas são

humanas da cabeça até a cintura e serpentes da cintura para baixo. As

najas-fêmeas são conhecidas como nagini.

Conta-se que uma naja deu proteção a Buda, que meditava

debaixo de uma árvore durante uma forte tempestade. A serpente

enroscou-se em Buda e inflou sua cabeça para formar um guarda-chuva

para ele. Do mesmo modo, há lendas que dizem que o mundo repousa

sobre as muitas cabeças de uma naja chamada Ananta. E a rainha das

najas, Vasuki, foi usada pelos deuses para revolver os oceanos e criar

Page 156: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Amrita, um elixir da imortalidade. Não por coincidência, é justamente

isso o que Voldemort deseja.

UMA NAJA TIRADA DE UM ENTALHE NUMA PEDRA NO SRI LANKA.

As najas têm uma interessante conexão com o basilisco. Assim

como os galos são inimigos dos basiliscos, o inimigo mais constante de

uma naja é a garuda, um poderoso pássaro mitológico.

NOMES

De onde vêm esses nomes?

Haverá algum escritor que crie nomes com mais cuidado e senso

de humor do que J. K.. Rowling? Ela usa palavras estrangeiras,

trocadilhos, anagramas, faz referências à história e à mitologia, e muitas

Page 157: David colbert   o mundo mágico de harry potter

vezes tira nomes dos mapas. Algumas vezes ela simplesmente os

inventa, como é o caso do quadribol. Um fã mais esperto reparou certa

vez que as letras do nome do jogo estavam relacionadas aos nomes das

bolas. Quidditch (nome do quadribol em inglês) seria formado por letras

tiradas de: Quaffle (goles), bludger (balaço), e snitch (o pomo). Mesmo

que Rowling não tenha usado a mesma lógica, podemos ver por que o

nome pareceu apropriado para ela.

Rowling não apenas inventa palavras, ela também inventa

histórias engraçadas para elas. Em Quadribol, escrito muito depois de ela

nos apresentar o jogo, Rowling habilidosamente responde a muitas

perguntas de seus fãs, simplesmente revelando que no mundo de Harry

o jogo ganhou esse nome por conta do lugar onde foi disputado pela

primeira vez: Queerditch Marsh.

Freqüentemente, os nomes revelam alguma coisa acerca da

personalidade do personagem. Algumas vezes, as referências são tão

obscuras que podemos até imaginar que Rowling esteja fazendo uma

piada para si mesma. Uma coisa é certa: vale a pena investigar um pouco

sobre cada um dos nomes, procurando significados ocultos. Abaixo,

estão alguns deles.

Page 158: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Acrônimos

N.O.M.: Níveis Ordinários de Magia. No original, Ordinary

Wizarding Leveis (O.W.L.s, “coruja” em inglês). Passar nesse teste prova a

habilidade de alguém.

N.I.E.M.: Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia. Em

inglês, no original, Nastily Exhausting Wizarding Tests é abreviado como

N.E.W.T.s. Newts, em inglês, é um tipo de Salamandra. A poção

preparada pelas três bruxas, no início do Macbeth, de Shakespeare, leva:

“O olho de uma Salamandra e um dedo do pé de um sapo, pêlo de

morcego e a língua de um cão.”

Geografia

Bagshot, Bathilda (autora de História da Magia): Bagshot é

uma pequena cidade perto de Londres.

Dursley: Uma cidade próxima à terra natal de Rowling.

Firenze: Nome em italiano da cidade de Florença.

Flitwick, professor de encantamentos: Flitwick é uma pequena

cidade da Inglaterra.

Snape, Severus: Snape é o nome de outro vilarejo na Inglaterra.

Page 159: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Os Potters ganharam seu nome em homenagem a vizinhos de J. K.

Rowling

Palavras estrangeiras

Beauxbatons: Palavra francesa que significa “belas varinhas”.

Delacour, Fleur: Expressão francesa que quer dizer “flor da

corte”, uma mulher da nobreza.

Mosag: Termo galês que significa “mulher malvada, suja”.

Literatura

Diggory, Cedrico: Diggory Kirke é o herói de algumas das

histórias de um dos livros prediletos de Rowling, The Chronicles oj Narmia,

de C. S. Lewis.

Flint, Marcus (capitão do time de quadribol da Sonserina):

Possivelmente, recebeu seu nome do capitão John Flint, de A Ilha do

Tesouro, de Robert Louis Stevenson. (Rudolf Hein, criador de um website

dedicado a Harry Potter, foi quem fez essa associação inteligente.)

Lockhart, Gilderoy: O primeiro nome desse farsante sugere

que ele é folheado a ouro - em inglês, gilded -, o que o faria parecer

Page 160: David colbert   o mundo mágico de harry potter

atraente e inteligente. O sobrenome encaixa bem no seu papel de

escritor de histórias de magia. Um homem chamado J.

G. Lockhart foi genro e biógrafo de Sir Walter Scott, o

autor escocês cuja habilidade inspirou a alcunha de “O

Mago do Norte”.

História

Elfric the Eager (um bruxo malvado): Elfric (também se

escreve Aelfric) era um nome bastante comum na Inglaterra

anglo-saxônia. Um homem chamado Elfric foi um notório traidor, o

comandante de um exército que, na véspera da batalha, fingiu estar

doente e alertou o inimigo, conseguindo assim escapar.

Grey, Lady: Lady Jane Grey foi rainha da Inglaterra por nove

dias, em 1553, antes de ser deposta. Tinha apenas quinze anos, na

época, e foi decapitada no ano seguinte.

Slytherin, Salazar: Antônio de Oliveira Salazar foi ditador em

Portugal - onde J. K. Rowling viveu certa época - entre 1932 e 1968. Ele

era conhecido por exercer o poder impiedosamente. (Outra associação

perspicaz feita por Rudolf Hein.)

Page 161: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Religião e mitologia

Hermes: A coruja de Percy Weasley. Hermes era o mensageiro

dos deuses gregos.

Lupin, Remo (um lobisomem): Lúpus em latim significa

“lobo”. Os lendários fundadores de Roma, que foram amamentados por

uma loba, chamavam-se Rômulo e Remo.

Patil, Parvati: Parvati é uma deusa hindu.

Santos

Edwiges: Uma santa que viveu na Alemanha

nos séculos XII e XIII. É a padroeira de uma ordem de

freiras que escolheram como missão cuidar da

educação de crianças órfãs - como Harry.

Ronan (centauro): Um santo irlandês. (Como alguns leitores

lembram, Ronan, o centauro, tinha cabelos ruivos.)

Miscelânea

Jigger, Arsênio (autor de Bebidas e Poções Mágicas): O

Page 162: David colbert   o mundo mágico de harry potter

arsênico é um veneno usado em muitas misturas mágicas. Um jigger uma

unidade de medida de líqüidos.

Skeeter, Rita: Skeeter, em inglês, é um tipo de mosquito, um

inseto sugador de sangue e irritante, que todo mundo quer matar com

um tapa. Combina bem com a Rita...

Spore, Felícia (autor de Mil Ervas e Fungos Mágicos): Vem

de “esporos”, sementes. Phylum, em grego, significa “folhas”.

Beco Diagonal: Típico de um mundo de bruxos, onde uma rua

não segue reto, mas na diagonal.

Travessa do Tranco: Rua pouco

recomendável, onde lojas como a Borgin & Burkes

atendem àqueles que praticam as Artes das Trevas.

RUNAS

O que são as runas da Penseira?

Dumbledore tem tantas lembranças, que guarda parte delas

numa penseira, uma “bacia de pedra rasa, com entalhes estranhos na

borda”. J. K. Rowling criou a palavra pensieve (como no texto original) a

Page 163: David colbert   o mundo mágico de harry potter

partir do francês penser (pensar) e sieve (coador), utensílio usado para coar

substâncias líquidas, livrando-as de resíduos indesejáveis. Em português,

a pensieve foi traduzida por “Penseira”.

Harry reconhece algumas dessas inscrições - são runas. Mas o

que são runas e por que existem inscrições rúnicas na penseira?

As runas são o primeiro alfabeto conhecido das tribos do norte

da Europa, usado na Bretanha, Escandinávia e Islândia. Surgiram

aproximadamente no século III d.C. e estiveram em uso por mais de mil

anos. As primeiras seis letras eram f, u, th, a, r e k; por isso, esse alfabeto

é às vezes chamado de futhark. Rûn é a palavra gaélica para “segredo” e

helrûn significa “profecia”, sugerindo que esse alfabeto teria sido usado

em rituais mágicos. Dizem também que ele vem dos próprios deuses.

Odin se pendurou por nove dias na Yggdrasil, a grande árvore - um

freixo - que sustentaria a terra, o paraíso e o inferno, para obter o

conhecimento das runas. O sacrifício de Odin simboliza o grande valor

dado ao conhecimento. De fato, primitivamente, quando as runas foram

usadas, havia pouca distinção entre conhecimento e magia. Por vezes, as

runas eram utilizadas para jazer profecias e, nos anos recentes, essa prática

voltou a se tornar popular. Os símbolos rúnicos são lidos assim como

alguns tarólogos lêem as cartas do tarô.

Page 164: David colbert   o mundo mágico de harry potter

RUNAS WONGS, GRAVADAS NUMA PEDRA

As runas aparecem constantemente em J. R. R. Tolkien, no

correr das aventuras de O Senhor dos Anéis. O anel, tão importante nessa

história e mencionado no título, tem uma mensagem gravada com

inscrições rúnicas. Tolkien, que adorava criar novas palavras, assim

como Rowling, criou todo um alfabeto e uma língua rúnicas.

PLACA GRAVADA COM RUNAS DO ANO 1000 D. C.

Veja também:

Adivinhação

Page 165: David colbert   o mundo mágico de harry potter

SEREIANOS

Por que teríamos medo de uma criatura do mar?

Sereia vem do latim sirena, significando “aquele que canta de

maneira agradável”. São seres que têm torsos humanos, mas caudas de

peixe prateadas no lugar de pernas. Os Sereianos, povo que mora no

lago de Hogwarts, como outros na literatura, têm pele verde e longas

cabeleiras verdes. ( J. K. Rowling acrescentou alguns detalhes para fazer

seus seres do mar únicos. Suas casas são organizadas em vilas, como as

casas dos subúrbios, em terra firme, e eles têm grindylows como

mascotes.)

As lendas sobre os seres do mar estão presentes em quase todas

as culturas. Por exemplo, uma vez foi dito que a aristocracia francesa

descendia da sereia Melusina.

As sereias da mitologia grega cantam para os marinheiros que

passam ao largo, enfeitiçando-os a ponto de atraí-los para a morte,

contra as rochas.

Quando Harry conhece os Sereianos, durante a segunda tarefa

do Torneio Tribruxo, depara-se com os mesmos perigos que o contato

com um sereiano sempre simboliza: o risco de o mar se tornar tão

Page 166: David colbert   o mundo mágico de harry potter

sedutor que as pessoas jamais retornem à terra firme. Assim como um

personagem de Twice-Told Tales, do escritor americano do século XIX

Nathaniel Hawthorne, conta a uma jovem: “Vislumbro você como

pessoa aparentada à raça das sereias e penso como seria delicioso morar

com você em uma enseada escondida, à sombra dos penhascos, e seguir

sem destino, abrigado em praias da areia mais pura. E, quando nossos

litorais do norte se tornarem desertos, iremos assombrar as ilhas, verdes

e solitários, longe adentro dos mares quentes.”

Veja também:

Animais fantásticos

Grindylows

Kappas

Page 167: David colbert   o mundo mágico de harry potter

SIRIUS BLACK

Por que Sirius Black vira um cachorro negro?

Sirius Black, padrinho de Harry, é um fugitivo do Ministério da

Magia, que acredita, erroneamente, que ele é um Comensal da Morte.

Ele só conseguiu escapar de Azkaban porque é um animago.

Transformou-se em cachorro, se esgueirou entre as barras da cela e fugiu

nadando.

A estrela do cão

A forma de cachorro negro combina perfeitamente com o

padrinho de Harry. Sirius é o nome de uma estrela, assim chamada por

ser a mais brilhante de todas - a palavra grega seirios quer dizer

“incandescente”. Essa estrela também é conhecida como Cão, por ser

parte da constelação do Cão Maior.

Sirius, a estrela, tem grande significado para o mundo mágico.

Ela é o símbolo da deusa Ísis, uma das mais importantes na religião e

filosofia do antigo Egito, onde se originou a maior parte da magia.

Os egípcios usavam Sirius para marcar o calendário, porque seu

Page 168: David colbert   o mundo mágico de harry potter

movimento está ligado às estações do ano. No primeiro dia do verão, ela

nasce um pouco antes do Sol. Este era o dia do ano novo no antigo

Egito. Sirius também prenunciava a enchente anual do Nilo, que tinha

importância vital para a fertilidade dos campos de plantação. Em alguns

países, os dias de verão - longos e quentes - ainda são chamados “dias de

cão” porque Sirius marca sua chegada.

A DEUSA EGÍPCIA ÍSIS.

Para os egípcios, Sirius não era apenas significativa para a vida na

Terra. Como conta um egiptólogo, Sirius era “a casa das almas que se

vão”. A estrela era tão importante que templos eram erguidos de forma a

estarem alinhados com sua órbita através do céu. Um arqueólogo

verificou que os maiores túneis ou respiradouros da Grande Pirâmide

Page 169: David colbert   o mundo mágico de harry potter

deixam entrever estrelas durante o dia, e a parte do céu visível é

justamente onde Sirius aparece. Outro estudioso afirmou que “essas

aberturas eram caminhos para a alma”.

Padfoot (Almofadinha)

Não é só o nome que mostra como o cachorro negro é o animago

apropriado para Sirius Black. Cães negros mágicos aparecem

misteriosamente em toda a Europa e América do Norte. Vários foram

descobertos na Grã-Bretanha, onde são conhecidos por nomes como

Black Shuck, Old Shuck, Shucky Dog, Shung Monster e Shag Dog.

Todos esses nomes possuem em comum o fato de derivarem da

palavra anglo-saxônia scucca, que quer dizer “demônio”. Os habitantes de

Staffordshire, na Inglaterra, deram a esse cão mágico o mesmo nome

que Sirius adota: Padfoot, transformado em Almofadinha na tradução

brasileira.

Não se sabe a origem de Snuffles, nome pelo qual Sirius pede para ser chamado

por Harry em conversações casuais com Rony e Hermione. Talvez ele imagine que seja

um nome inocente, incapaz de atrair a atenção dos bisbilhoteiros.

Há quem acredite que esses cachorros protegem os pátios das

Page 170: David colbert   o mundo mágico de harry potter

igrejas ou as estradas. Outros dizem que eles perambulam a esmo

durante a noite. Testemunhas oculares afirmam que eles aparecem de

repente, muitas vezes ao lado de um viajante solitário. Eles costumam

ser maiores do que os cães normais. E podem desaparecer em um

segundo ou ir sumindo aos poucos. Ocasionalmente, aparecem sem a

cabeça. Seus olhos quase sempre são descritos como enormes e

faiscantes. Surpreendentemente, costumam ser silenciosos.

Em tempos passados, alguns estudiosos achavam que o cão

negro era a forma preferida pelo diabo. Mesmo entre pessoas menos

impressionáveis, é comum que os cães negros despertem pavor. Muitos

o consideram como um presságio de morte. E é precisamente isso o que

a professora Trelawney diz a Harry a respeito de seus primeiros

encontros com Sirius. Ela se refere ao cachorro negro como o Sinistro,

outro nome muito usado.

Os relatos de testemunhas oculares remontam a muitos séculos

atrás. Uma impressionante história de 1577 descreve a chegada de um

cachorro negro a uma igreja: “Ali

chegou, em sua mais terrível forma,

um cachorro negro, juntamente

com lampejos de fogo tão

apavorantes que muitas pessoas

acharam que era chegado o dia do

Page 171: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Juízo Final. Esse cachorro - ou o diabo em tal disfarce - correu toda a

extensão da igreja com grande rapidez e incrível velocidade, passou entre

duas pessoas enquanto elas se ajoelhavam e arrancou o pescoço das duas

ao mesmo tempo.”

Talvez este tenha sido um incidente horrível. Mas nem todas as

aparições são tão apavorantes. Em relatos mais recentes, o cachorro

negro parece menos malévolo. De acordo com um estudioso, “há mais

evidências de que os cachorros negros são amigáveis - ou pelo menos de

que não são agressivos - do que o contrário. Os cachorros quase sempre

são úteis para o homem”.

Veja também:

Animagos

Egito

McGonagall

Page 172: David colbert   o mundo mágico de harry potter

TRASGOS

Por que os trasgos cheiram mal?

Os trasgos são uma raça de ogros cuja aparência é tão

desagradável quanto sua personalidade. Em A Pedra, o professor

Quirrell, que mais tarde diz ter “um talento especial para lidar com

trasgos”, secretamente leva um deles para Hogwarts: “Era uma visão

medonha. Quase quatro metros de altura, a pele cinzenta e baça, o

corpanzil cheio de calombos como um pedregulho e uma cabecinha no

alto, que mais parecia um coco. Tinha pernas curtas, grossas como um

tronco de árvore e pés chatos e calosos. O cheiro dele era inacreditável.”

As lendas sobre os trasgos são originárias da Escandinávia, onde

essas criaturas costumavam assustar os habitantes da região rural com

seus poderes mágicos e seu tamanho. De acordo com algumas dessas

lendas, eles viviam em castelos subterrâneos. Só saíam à noite e podiam

ser transformados em pedra pela luz do sol.

Quando os escandinavos migraram para a Inglaterra, os trasgos

os acompanharam. Costumavam construir suas moradas debaixo de

pontes. Isso pode explicar por que cheiram a água de esgoto. Conta-se

que algumas enormes rochas no norte da Inglaterra são na verdade

trasgos que foram pegos pelo nascer do sol.

Page 173: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Sua má reputação entre os humanos provém de inúmeras lendas.

Eles detestam o barulho que as pessoas fazem e que os deixa muito

irritados. Atacam mulheres e crianças. Alguns deles são canibais.

Em Peer Gynt, uma famosa peça de teatro do norueguês Henrik

Ibsen, o personagem que lhe dá o título age como um trasgo, brincando,

ao avisar: “Virei para o seu lado hoje à meia-noite. Se você escutar

alguém silvando e cuspindo, não pense que se trata de um gato. Sou eu,

moça! Vou recolher o seu sangue numa taça e, quanto à sua irmãzinha,

vou devorá-la.”

Podemos imaginar que os trasgos sofram o mesmo preconceito

que os gigantes. Mais à frente, na peça de Ibsen, Peer Gynt encontra um

trasgo que lhe diz: “Nós, o povo trasgo, meu filho, não somos tão feios

quanto nos pintam.” Apesar de ser difícil acreditar que sejam seres

amigáveis, é possível perceber que eles não são piores do que os

humanos. Em dado momento, o amigo de Gynt lhe pergunta: “Qual a

diferença entre os trasgos e os homens?” E Gynt responde: “Nenhuma,

pelo que eu entendo. Trasgos grandes irão pôr você para assar, e trasgos

pequenos vão mordê-lo. Conosco se daria a mesma coisa, se os

humanos se atrevessem a fazê-lo.”

Veja também:

Gnomos

Page 174: David colbert   o mundo mágico de harry potter

UNICÓRNIOS

Como pegar um unicórnio?

Poucas criaturas mágicas estimularam tanto a imaginação dos

seres humanos, e de forma tão profunda, quanto o elegante unicórnio.

Mesmo no mundo mágico de Harry, com tantos seres fantásticos, o

unicórnio é um símbolo sagrado. Em O Cálice, J. K. Rowling descreve

filhotes de unicórnio que são de “puro ouro” com “sangue prateado”. O

pêlo deles também se torna prata quando têm por volta de dois anos, e

eles “ficam imaculadamente brancos” na idade madura.

Antigos unicórnios

Os unicórnios aparecem na arte e na mitologia da antiga

Mesopotâmia, China e Índia. O naturalista romano Plínio, baseado em

relatos orais, chamou-os de “uma besta extremamente feroz, similar no

corpo a um cavalo, com cabeça de cervo, cascos de elefante, cauda de

javali, voz profunda e um chifre negro, de dois cúbitos (cerca de um

metro) de comprimento, que se projeta do centro da testa.”

Um viajante do início do século XVI conta ter visto dois

Page 175: David colbert   o mundo mágico de harry potter

unicórnios em Meca:

O mais velho parece um potro de trinta meses de idade e tem um chifre do

comprimento de três braços no meio da testa. O outro lembra um potro de um ano e

tem um chifre de aproximadamente trinta centímetros. Sua cor é como a do cavalo

baio, e sua cabeça se assemelha à do cervo macho. Seu pescoço não é muito comprido,

com pêlos grossos e curtos que caem para os lados. As patas são esguias e recurvadas

como as das cabras. Os cascos são em forma de trevo na parte frontal e compridos como

os das cabras, com um pouco de pêlo na parte traseira. Em verdade, esse monstro deve

ser muito selvagem e solitário. Esses dois unicórnios foram oferecidos ao sultão de Meca

como se fossem o mais precioso presente que se poderia oferecer nos dias atuais, e como

o maior tesouro já dado por um rei da Etiópia, ou seja, por um monarca mouro. Ele

enviou tal presente com o objetivo de consolidar a aliança com o dito sultão de Meca.

Page 176: David colbert   o mundo mágico de harry potter

Plínio relata que o unicórnio “não pode ser capturado vivo”.

William Shakespeare refere-se a essa mesma natureza fugidia do animal:

“A maior glória, eterna seja, é serenar reis beligerantes, desmascarar a

falsidade e trazer a verdade à luz... e domesticar o unicórnio e o leão.”

Outros escritores sugerem que o truque é usar como isca para o

unicórnio uma jovem virgem - e, embora esse método nunca tenha

funcionado, ele combina bem com a característica atribuída ao unicórnio

de representar a pureza e a castidade. Muitas tapeçarias medievais

retratam cenas com unicórnios para aludir ao poder sagrado da devoção.

O Velho Testamento refere-se ao unicórnio várias vezes: “Deus os tirou

do Egito e lhes deu o poder do unicórnio” (Números, 23:22); “Seus

chifres eram como os do unicórnio: com eles, deveria conduzir o povo

unido até os confins da Terra” (Deuteronômio, 33:17), “Meu chifre

devem eles exaltar, como ao chifre do unicórnio” (Salmos, 92:10);

“Estará o unicórnio disposto a servi-los ou aguardará no estábulo?” (Jó,

39:9). Essas referências, para alguns estudiosos, indicam que o unicórnio

é na verdade um símbolo de Cristo.

Os poderes mágicos de cura

O poder do unicórnio de salvar o corpo e a alma de uma pessoa

incorporou-se às lendas. Ctesias, um médico grego a serviço do

Page 177: David colbert   o mundo mágico de harry potter

mandatário da Pérsia, por volta de 400 a.C, escreveu um dos primeiros

registros sobre o unicórnio:

Existem na índia certos asnos selvagens tão grandes quanto cavalos, ou

mesmo maiores. Seus corpos são brancos, suas cabeças vermelho-escuro e seus olhos de

um azul profundo.

Eles têm um chifre na testa que tem aproximadamente meio metro de

comprimento. O pó extraído desse chifre é administrado numa poção como proteção

contra drogas mortais. A base do chifre, até dois palmos mais ou menos de sua raiz,

é do branco mais puro. A extremidade superior é pontuda e do rubro mais vivido, e o

restante, ou o meio, é preto. Segundo dizem, aqueles que bebem nesses chifres

transformados em taças se livram de convulsões e da Doença Sagrada (epilepsia). De

fato, tornam-se imunes a venenos, antes ou depois de ingeri-los, se beberem vinho, água

ou qualquer outra coisa usando esses chifres.

Page 178: David colbert   o mundo mágico de harry potter

UNICÓRNIO TIRADO DE UM BRASÃO DE FAMÍLIA

Essas qualidades medicinais, tão importantes para uma pessoa

em estado crítico como Voldemort - que, em A Pedra, mata um

unicórnio para beber seu sangue e assim manter-se vivo -, fizeram do

unicórnio, há muito, alvo de caçadores. Mas, como diz Firenze, o

centauro, “abater um unicórnio é crime monstruoso”.

Veja também:

Ceutauros

Floresta

Page 179: David colbert   o mundo mágico de harry potter

VABLATSKY

Quem realmente escreveu o livro de adivinhações?

O livro usado pelos alunos de Hogwarts nas aulas de

adivinhação - Esclarecendo o Futuro — foi escrito por uma mulher

chamada Cassandra Vablatsky. O nome vistoso é bem apropriado para

uma especialista em adivinhar o futuro. Vem de duas pessoas cujas vidas

estiveram associadas à formulação de profecias e à magia.

Na mitologia grega, Cassandra era uma vidente - podia prever o

futuro. Recebeu esse dom do deus Apolo, que a amava. Ele lhe

prometera o dom da profecia se ela retribuísse seus sentimentos. Mas,

depois de se tornar clarividente, ela mudou de idéia, e Apolo, enfurecido,

amaldiçoou-a. Sua condenação foi que ninguém jamais acreditasse em

suas palavras, o que trouxe a Cassandra muito sofrimento.

Cassandra aparece na bem conhecida história do cavalo de Tróia.

Como filha de Príamo, rei de Tróia, ela estava na cidade quando os

gregos atacaram. Posteriormente, quando fingiram desistir, deixando

para trás, como presente, um enorme cavalo de madeira, ela avisou ao

pai que ele não deveria ainda começar a comemorar - e, principalmente,

não deveria trazer o cavalo para dentro dos muros da cidade. No

entanto, devido à maldição de Apolo, o pai não lhe deu atenção. Como

Page 180: David colbert   o mundo mágico de harry potter

se sabe, os soldados gregos estavam escondidos no interior do cavalo.

Eles esperaram até que todos os habitantes estivessem adormecidos e

então, sorrateiramente, saíram do seu esconderijo e tomaram Tróia.

O sobrenome Vablatsky vem, sem dúvida, de Helena Petrovna

Blavatsky (1811-1891). Ela foi uma das fundadoras da Sociedade

Teosófica, cujos objetivos incluem “investigar as leis inexplicáveis da

natureza e os poderes latentes na humanidade” - em outras palavras,

estudar magia.

Veja também:

Adivinhações

Runas

Page 181: David colbert   o mundo mágico de harry potter

VARINHAS MÁGICAS

Por que os bruxos usam varinhas mágicas?

Não há dúvida de que a varinha mágica é a ferramenta mais

importante dos bruxos. No mundo de Harry, elas são feitas de uma

combinação de matéria-prima obtida de criaturas mágicas - tais como

“pêlos de unicórnios, penas da cauda da fênix, fibras do coração de

dragões” - com madeira de salgueiro, mogno, teixo, carvalho, faia, bordo

e ébano. Cada varinha não apenas combina com a personalidade do seu

dono, mas, na prática, é ela que escolhe o bruxo a quem pertencerá.

Varinhas antigas

Ao que parece, os bruxos sempre usaram varinhas mágicas.

Esses pequenos bastões - em alguns casos, não tão pequenos assim - são

capazes de concentrar o poder mágico.

Há antropólogos que acreditam que algumas pinturas de

cavernas, datadas da Idade da Pedra, mostrando pessoas portando

pequenas varas, retratam os líderes das tribos com suas varas atestando o

seu poder. Isto é apenas um palpite, mas há fatos comprovados que

Page 182: David colbert   o mundo mágico de harry potter

remontam pelo menos ao antigo Egito. Existem hieróglifos mostrando

sacerdotes segurando pequenos bastões. Hermes, o mensageiro dos

deuses gregos, carregava consigo uma vara especial chamada de caduceu,

com asas e duas cobras enroscadas, significando a sabedoria e os

poderes de cura. Os médicos adotaram essa vara como seu símbolo,

centenas de anos atrás, e o usam até hoje.

No passado, alguns dos bruxos fizeram varas da madeira do

sabugueiro, que é considerada especialmente dotada de magia. Aqueles

que praticam a magia negra usam, com freqüência, o cipreste, que é

associado à morte. No entanto, J. K. Rowling nos conta que a varinha de

Voldemort é feita de teixo. E isso também faz sentido. O teixo tem

imenso poder sobrenatural. Houve tempo em que o teixo era uma das

poucas árvores que permaneciam sempre verdes, na Inglaterra, e assim

tornou-se símbolo tanto da morte quanto do renascimento - a mesma

imortalidade que Voldemort desesperadamente deseja.

Os druidas possuíam diferentes varinhas mágicas para cada um dos sete

níveis de sacerdócio.

Page 183: David colbert   o mundo mágico de harry potter

O DEUS EGÍPCIO TOTH TAMBÉM FOI RETRATADO CARREGANDO UMA

VERSÃO PRIMITIVA DO CADUCEU.

Veja também:

Druidas

Egito

Page 184: David colbert   o mundo mágico de harry potter

VASSOURAS VOADORAS

Será que as bruxas sempre usaram vassouras voadoras?

De acordo com a lenda, vassouras voadoras são o meio de

transporte mais comum entre as bruxas. Um popular escritor

norte-americano do século XIX, chamado Oliver Wendell Holmes,

compôs estes versos:

O condado de Essex tem muitos telhados

Bem conhecidos pelo diabo.

As panelinhas quadradas ficam totalmente à vista,

O que facilita que as bruxas da meia-noite,

Como sombras contra o céu,

Montem suas bem-treinadas vassouras voadoras,

Atravessem o caminho das corujas e morcegos,

E agarrem antes deles seus gatos negros como carvão.

Vassouras são objetos domésticos, mais comumente associadas a

mulheres do que a homens. Este é o motivo provável pelo qual bruxas -

e não bruxos - utilizam vassouras como meio de transporte. Feiticeiros

voadores costumam usar forcados - um tipo de garfo grande usado na

Page 185: David colbert   o mundo mágico de harry potter

lavoura. Por razões desconhecidas, era mais comum avistar bruxas

voando na Europa e na América do que na Inglaterra.

As vezes, as bruxas eram acusadas de voar para o mar com a finalidade de

produzir tempestades.

Acreditava-se que as bruxas untassem suas vassouras com

substâncias mágicas para fazê-las voar, o que lembra um pouco o

pó-de-flu. De acordo com a lenda, elas saíam direto pelas chaminés.

Provavelmente, trata-se de um exagero sobre uma prática real. Era

costume empurrar uma vassoura chaminé acima para avisar aos vizinhos

que não havia ninguém em casa.

Quando os aldeões suspeitavam da presença de bruxas à solta

pelos céus, eles tocavam os sinos da igreja, que supostamente tinha o

poder de derrubar as bruxas de suas vassouras.

Page 186: David colbert   o mundo mágico de harry potter

NESTA GRAVURA DO SÉCULO XVI, UMA BRUXA SAI PELA CHAMINÉ, ENQUANTO OUTRA SE

PREPARA PARA FAZER O MESMO.

VEELAS

O que deixa as veelas zangadas?

Veelas, os sedutores espíritos da natureza que aparecem pela

primeira vez em O Cálice, têm sua origem na Europa Central. São - ou

parecem ser - belíssimas jovens. Em algumas histórias, diz-se que são os

fantasmas de mulheres que não foram batizadas, cujas almas não

conseguem deixar a terra. A beleza delas é espantosa e por isso podem

fazer os homens agir como idiotas. Elas têm cabelos tão claros que

Page 187: David colbert   o mundo mágico de harry potter

parecem brancos.

O lado sombrio das veelas

As veelas são bastante invejosas. Uma famosa lenda servia, O

Príncipe Marko e a Veela, conta a história do encontro com uma delas,

chamada Ravioyla:

Dois irmãos, Duke Milosh e Kralyevich Marko, percorriam juntos, a cavalo,

a estrada da magnífica montanha Miroch. Quando o sol se levantou, Marko caiu no

sono sobre a sela. Despertou assustado. 'Milosh', ele disse, 'não consigo me manter

acordado. Cante para evitar que eu durma.'

Duke Milosh respondeu: 'Oh, Kralyevitch Marko, eu não posso cantar para

você. Na noite passada, estive com a veela Ravioyla e bebi demais, além de cantar alto

demais e bem demais. Então, a veela me avisou que, se eu cantar em sua montanha,

ela vai disparar suas flechas contra mim.'

Kralyevich Marko replicou: 'Irmão, você não deve ter medo de uma veela. Eu

sou Kralyevich Marko. Com meu machado de guerra feito de ouro, estamos ambos a

salvo.' Assim, Milosh entoou uma canção que contava a história de reis e reinados e

das glórias de nosso país.

Marko escutava, mas a canção não o manteve desperto. Logo, estava de novo

entregue aos sonhos.

A veela Ravioyla escutou Milosh e cantou para ele, também, com sua bela

Page 188: David colbert   o mundo mágico de harry potter

voz. Mas Milosh respondeu com uma voz ainda mais bela, e isso a irritou tanto quanto

da vez anterior. Ela voou até a montanha Miroch e, com perícia, disparou duas flechas

do seu arco. Uma atingiu Milosh na garganta, silenciando-o. A outra atravessou seu

coração.

Ambos os cavalos se detiveram e Marko acordou. Com grande esforço,

Milosh foi capaz de falar, mas era somente seu último suspiro. Ele disse para Marko:

'Meu irmão! A veela Ravioyla disparou suas flechas contra mim porque cantei na

montanha Miroch.'

As veelas também são versadas nas artes da cura e possuem

conhecimentos extraordinários sobre remédios naturais. Na história

acima, Ravioyla cura Milosh e avisa a outras veelas que não devem

perturbar aqueles homens. De fato, as veelas em geral são gentis com os

seres humanos - e sabe-se que se casam freqüentemente com mortais. O

que mais as aborrece é quando alguém interrompe o seu ritual de dança.

Se isso acontece, podem ficar furiosas. Como espíritos do vento, as

veelas podem invocar redemoinhos e tempestades e é o que fizeram

durante a Copa Mundial de Quadribol.

Veja também:

Duendes

Page 189: David colbert   o mundo mágico de harry potter

VOLDEMORT

Que pesadelos terão gerado Voldemort?

Nada faz um herói brilhar mais do que um grande vilão. Lord

Voldemort - o semitrouxa nascido Thomas Marvolo Riddle - se encaixa

bem nessa fórmula. Não é à toa que os bruxos o chamam de Senhor das

Trevas. O título descreve toda uma longa linhagem de vilões com os

quais Voldemort tem muito em comum.

Os críticos John Clute e John Grant destacam alguns elementos

que caracterizam um clássico Senhor das Trevas:

* Freqüentemente, é um ser que foi derrotado - mas não

destruído - num tempo remoto.

* Aspira a se tornar o Príncipe deste mundo.

* É uma “força abstrata”, menos carne e sangue e mais energia

sobrenatural.

* Representa “redução”, a idéia de que, “antes de a história escrita

ter começado, houve uma queda”, tal como o caos e as mortes que

Voldemort provocou antes de Harry ser enviado para os Dursley.

* Também simboliza “degradação”, um colapso moral

Page 190: David colbert   o mundo mágico de harry potter

freqüentemente como resultado de uma barganha questionável, como a

posta em curso pelos Comensais da Morte, que visavam obter poder

por meio de sua aliança com Voldemort.

* Pratica o mal por inveja.

Por todas essas características, Voldemort é um perfeito modelo

de Senhor das Trevas.

Além disso, por sua similaridade com outros vilões, Voldemort

incorpora a definição particular de J. K. Rowling para o mal. Seus

objetivos estão relacionados à nossa sociedade atual, do modo como

Rowling a entende e escreve sobre ela.

Voldemort, e a imortalidade

Voldemort não deixa dúvidas sobre suas intenções. Como revela

aos Comensais da Morte que o seguem, no final de O Cálice- “Você sabe

o que pretendo - vencer a morte.”

A questão da imortalidade está sempre na imaginação de J. K.

Rowlings. Todo o primeiro livro é dedicado à procura de Voldemort

pela Pedra Filosofal, um objeto que lhe garantiria tornar-se imortal.

“Uma vez que eu tenha o Elixir da Vida”, ele diz em A Pedra, “poderei

criar um corpo só meu.” E, claro, ele se tornaria capaz de evitar a morte,

Page 191: David colbert   o mundo mágico de harry potter

como fizeram os Flamel por centenas de anos.

Essa obsessão pela vida eterna é a essência da depravação do

Senhor das Trevas. Mas o que ele tem de diferente, em relação a isso, de

tantas pessoas de nosso mundo que tentam viver o máximo que podem?

Dumbledore diz a Harry: “A pedra não foi uma coisa tão boa assim.

Todo o dinheiro e vida que a pessoa poderia querer. As duas coisas que

a maioria dos seres humanos escolheriam em primeiro lugar. O

problema é que os humanos têm o condão de escolher exatamente as

coisas que são piores para eles.” Os Flamel possuíam tal poder, mas não

o obtiveram pela prática do mal, nem o usavam de modo a prejudicar

ninguém. Em todas as culturas, a imortalidade, apesar de desejável, fere

as leis da natureza. As coisas precisam morrer para que outras possam

nascer.

Ganância

As leis naturais tornam impossível que todos se tornem imortais.

Assim, não chega a ser surpresa que o objetivo de Voldemort seja

conseguir a imortalidade exclusivamente para si. Ele irá recompensar os

Comensais da Morte de outro modo, satisfazendo sua necessidade de

sucesso ou lhes dando poder.

Embora vá matar muita gente para atingir seu objetivo, ele não

Page 192: David colbert   o mundo mágico de harry potter

hesita. As pessoas não importam para ele - especialmente se forem

trouxas. Como seu pai abandonou sua mãe, ele odeia trouxas com uma

intensidade que Rowling chamou de “paixão racista”.

Voldemort não se dá conta de que sua ambição egoísta rompe o

equilíbrio da natureza. Mas, dada a situação do mundo, quando Rowling

concebeu as histórias - guerras genocidas na África e nos Bálcãs, guerra

no Oriente Médio, e uma crescente distância entre países ricos e pobres

-, qualquer um pode facilmente ver a partir de onde foi desenvolvida a

personalidade de Voldemort.

Veja também:

Marca Negra

Dumbledore

Page 193: David colbert   o mundo mágico de harry potter

POSFÁCIO

Antes de tudo, um escritor é um leitor. Depois de devorar suas

histórias, podemos notar que J. K. Rowling deve ter sido uma grande

leitora antes de se tornar uma grande escritora. Tão impressionante

quanto o seu conhecimento sobre mitos e lendas é sua habilidade de

aproveitá-los de modo tão original e de atualizá-los.

Na bibliografia deste livro, você vai encontrar sugestões de livros

interessantes para futuras leituras. O melhor é começar por uma coleção

sobre mitologia grega e romana. Se você quiser ir ainda mais fundo, um

ótimo livro de referência, com sugestões de leitura detalhadas, é The

Encyclopedia of Fantasy, de John Clute e John Grant. Se você está

particularmente interessado em criaturas mágicas, vai gostar das

enciclopédias de Carol Rose, Giants, Monsters and Dragons e de Spirits,

Fairies, Leprechauns and Goblins. Para informações sobre bruxos, temos

boas fontes em The Encyclopedia of Witches and Wichcraft, de Rosemary

Ellen Guiley, e em Wizards and Sorcerers, de Thomas Ogden. Você

também vai achar maravilhoso o Dictionary of Imaginary Places, de Alberto

Manguei e Gianni Guadalupi. Muitos livros explicam diversas coisas

sobre pessoas e criaturas, mas este talvez seja o único que fale também

sobre mundos da fantasia.

Como muitos leitores já sabem, a Internet está repleta de

informações sobre os livros de Harry Potter. Por exemplo, alguns sites

Page 194: David colbert   o mundo mágico de harry potter

são dedicados inteiramente aos significados por trás dos nomes que J.

K. Rowling cria. Outros, como o Bartleby.com, oferecem também uma

boa base sobre mitologia. Alguns endereços na Internet estão listados na

biografia.

Seja lá o que você for ler - ou escrever - enquanto espera pelo

próximo Harry Potter, sempre poderá encontrar conexões ocultas entre

o mundo de Harry e diversos outros mundos mágicos que J. K. Rowling

formulou em seu processo de criação. Essas conexões estiveram sempre

com ela, e ficarão também com você.

AGRADECIMENTOS

Mais uma vez, ter uma família de escritores profissionais e de

editores provou ser algo crucial. Sou grato a meus pais e irmãs por seus

conselhos especializados e por muitas horas de leitura. Os conselhos de

Lena Tabori também se mostraram essenciais. Especial agradecimento

para Laurie Brown, Max e Emily de La Bruyère, Natasha Tabori Fried,

Katie Kerr, Lyuba Konopasek, Miles Kronby, Arif Lalani, meu editor de

texto, Stacy Schiff, Ben Shykind, John Ward da Ward & Olivo, Terry

Wybel e a equipe da Continental Sales e da Bristol Books de Wilmington,

Carolina do Norte.

Page 195: David colbert   o mundo mágico de harry potter

BIBLIOGRAFIA

Borges, Jorge Luís, com Margaritta Guerrero. O Livro dos Seres

Imaginários. Ed. Globo, 1987.

Campbell, Joseph. O Herói de Mil Faces. Ediouro, 2001.

Clute, John and John Grant. The Encyclopedia of Fantasy.

Nova York: St. Martins, 1999.

Foster, Robert. The Complete Guide to Middle-earth. Nova York:

Ballantine, 1979.

Guiley, Rosemary Ellen. The Encyclopedia os Witches and Witchcraft.

Nova York: Facts on File, 1999.

Helms, Randel. Tolkiens World. Boston: Houghton Mifflin, 1974.

Le Guin, Ursula K. O Mago de Terramar, Trilogia de Terramar v.

1.

Nigg, Joseph. The Book os Fabulous Beasts: A Treasury oj Writtings

from Ancient Times to te Present. Nova York: Oxford University Press, 1999.

Ogden, Tom. Wizards and Sorcerers-. from Abracadabra to Zoroaster.

Nova York: Facts on File, 1977.

Rose, Carol. Giants, Monsters and Dragon: An Encyclopedia oj

Folklore, Legend, and Myth. Santa Bárbara, Califórnia: ABC-CLIO, 2000.

Rose, Carol. Spirits, Fairies, Leprecbauns, and Goblins: An

Encyclopedia. Nova York: Norton, 1998.

Tolkien, J. R. R. O Senhor dos Anéis. Martins Fontes, 2001.

Page 196: David colbert   o mundo mágico de harry potter

White, T. H. The Sword in the Stone. Nova York: Putnams, 1939.

Willis, Roy. Dictionary os World Myth. Londres: Duncan Baird,

1995.

FONTES INTERESSANTES NA INTERNET

Do You Know Mundungus Fletcher?, de Rudolf Hein

http://www.rudihein.de/hpewords.htm

Whats in a Name?, de EUie Rosenthal

http://www.theninemuses.net/hp/

The Encyclopedia Potterica

http://www.harrypotterfans.net/potterica/index.html

Como tudo na Internet, os sites sobre Harry Potter estão em

constante mudança, e portanto é impossível imprimir uma lista sempre

atualizada de links. Sugerimos que o leitor interessado consulte a página

relativa ao livro “O Mundo Mágico de Harry Potter” no site da Editora

Sextante -www.esextante.com.br — onde ele poderá encontrar uma lista

sempre atualizada para sites nacionais e estrangeiros sobre Harry Potter.

Sites brasileiros

http://www.aluado.hpg.ig.com.br/index.htm

http://www.freewebz.com/edwigeshomepage/index.htm

Page 197: David colbert   o mundo mágico de harry potter

http://www.sobresites.com/harrypotter/

http://www.terra.com.br/kids/harrypotter/

http://br.geocities.com/meianoiteemhogwarts

http://www.harrypotterbrasil.homestead.com/

http://www.portal912br.hpg.ig.com.br/index.htm

http://www.arte.pro.br/potter/

http://www.harryp.hpg.ig.com.br/index.html

http://www.clik.to/potterviciados

http://groups-beta.google.com/group/Viciados_em_Livros

http://groups-beta.google.com/group/digitalsource