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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS – UM ESTÍMULO À LEITURA

Marli Eberhart Juan1 Clarice Lottermann2

RESUMO

Partindo da constatação de que a leitura não é uma necessidade para a maioria dos alunos, de que, muitas vezes, eles só leem aquilo que o professor manda, tornando a leitura um engodo, uma chatice e de que a escola não dá importância ao ato de contar história, pois muitos professores não descobriram o quanto essa atividade pode ajudá-los em sua tarefa de educadores, o presente artigo tem como objetivo relatar uma experiência realizada no Colégio Estadual Marechal Gaspar Dutra, de Nova Santa Rosa (Paraná), através da qual foi estimulada a leitura a partir de atividades de contação de histórias, com alunos de 5ª série. Através dessas atividades foi possível estimular a leitura de textos literários, levando a um interesse maior pela leitura, desenvolvendo a oralidade, expressividade, fluência na leitura, desinibição para apresentação em público. Para a execução dessa atividade foram utilizados textos de caráter narrativo: contos populares, de fadas, fábulas, poemas narrativos, dentre outros. Com a contação de histórias pretende-se uma forma diferenciada de incentivo à leitura, trabalhando a oralidade, expressão corporal, criando situações de interesse tanto individual quanto coletivo, trabalhando mais a linguagem oral do aluno.

PALAVRAS-CHAVE: Contação de histórias; leitura; literatura

ABSTRACT

Based on the finding that reading is not a need for most of the students, and that, many times, they just read what the teacher told them to, making reading a bait, boring and that school gives no importance to the act of stories telling, since many teachers have not figured out how this activity can help them in their task of educators, the present article has as objective to relate an experience done on Marechal Gaspar Dutra State College, of Nova Santa Rosa (Paraná), trough which was stimulated the reading from the activities of story telling, with 5ª grade. Through

1 Especialista em Língua Portuguesa e literatura, professora da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino do Paraná, Colégio Estadual Marechal Gaspar Dutra – Ensino Fundamental e Médio, município de Nova Santa Rosa. Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE

2 Professora orientadora. Unioeste, campus de Marechal Cândido Rondon

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these activities it was possible to stimulate the reading of literally texts, increasing the interesting on reading, developing oral communication, expressiveness, reading fluency, disinhibition on public presentation. For implementing this activity texts of narrative character were used: popular tales, fairy tales, fable tales, narrative poems, among others. With the stories telling aims to encouraging reading in a different way, working oral language, corporal expression, creating interesting situations both individual and collective, working most the student’s oral language.

KEYWORDS: Stories telling; reading; literature.

1. INTRODUÇÃO

Com o avanço tecnológico observado na área de comunicação visual,

cinema e televisão competindo com a leitura, constata-se que os alunos têm cada

vez menos interesse em ler, pois se a viagem na leitura é facilitada, para que pensar

muito com tanta imagem colorida? Levar o aluno à biblioteca e obrigá-lo a ler

resolveria a situação? Também já virou senso comum ouvir que as pesquisas

mostram índices alarmantes que inquietam, deixam apreensivos a todos os

educadores, uma vez que nos exames nacionais, vestibular, etc., os resultados

quanto à aferição da capacidade de leitura dos alunos não são nada satisfatórios. E

a quem culpar pelo baixo índice? Às práticas pedagógicas? À pobreza? À falta de

livros? Antes de querer arranjar um culpado para o aluno não leitor, professores e

formadores de leitores devem avaliar as estratégias utilizadas na escola a fim de

propor alternativas viáveis que possam alterar esse quadro.

De maneira geral, observa-se, no ambiente escolar, que a leitura não é uma

necessidade para a maior parte dos alunos. Muitas vezes, eles só leem aquilo que o

professor manda e se o professor impõe a leitura, tornando-a um engodo, uma

chatice. Consequentemente há jovens que chegam à universidade lendo apenas

resumos tirados da internet e vendo a leitura, ainda, como uma obrigação escolar.

Considerando que a escola tem a tarefa de ensinar a ler e ensinar a gostar de ler,

nada mais natural do que a mesma ser a responsável pelo incentivo à leitura. É uma

tarefa árdua, mas importante. A convivência com os alunos mostra que é na infância

e na adolescência que se formam os bons leitores. Se os pais não o fazem, cabe à

escola fazê-lo. Por isso, os professores de língua portuguesa devem trabalhar a

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leitura de forma diferente, estimulando e proporcionando a seus alunos momentos

em que possam sentir como a leitura é importante, não apenas para adquirir

conhecimentos, mas também como fonte de entretenimento.

Uma opção para um trabalho mais efetivo e gratificante, através do qual se

consegue a participação dos leitores, é a contação de história. Mas, o que se

percebe, via de regra, é que a escola minimiza a importância dessa atividade, pois

muitos professores não descobriram o quanto as histórias podem ajudá-los em sua

tarefa de educadores. Muitos a utilizam, se é que utilizam, apenas para acalmar os

alunos ou sob uma condição: só contam se os alunos ficarem quietos.

Sabe-se que a capacidade de ler está intimamente ligada à motivação e ao

interesse. É importante que a leitura entre para a vida da criança através das

histórias contadas pelos pais e avós, juntamente com os primeiros brinquedos em

momentos de diversão e alegrias. É importante que o professor, ao contar histórias

na escola, utilize o recurso da entonação, ritmo, cadência conforme a ação das

personagens e texto escolhido, levando, assim, o aluno a se envolver na história, a

viajar através da imaginação e identificar-se com diferentes personagens. Através da

literatura o aluno sente, vive e descobre emoções que nem sempre podem ser

vividas na realidade. Ao ler/ouvir histórias, o leitor se desprende da realidade e

mergulha num mundo de fantasias que “lhe possibilita momentos de reflexão,

identificação e catarse” (DCE, 2008, p.57). Segundo as Diretrizes Curriculares do

Paraná, ao ler o aluno busca as suas experiências, seus conhecimentos prévios, a

sua formação familiar, religiosa cultural, enfim as várias vozes que o constituem.

(DCE, 2008, p.56).

Infelizmente, contar histórias não é mais uma prática comum nas salas de 5ª

séries e muito menos nas séries posteriores. Os professores mesmos abandonam

essa prática e se queixam de que os alunos não gostam de ler. Vale lembrar que,

pequenos ou grandes, os alunos gostam de ouvir histórias, principalmente quando

são bem contadas. Se os professores contarem as histórias e servirem de modelo

de bons leitores, os alunos também se interessarão.

O hábito de contar histórias pode alcançar resultados pedagógicos

interessantes para a vida e o meio escolar: pode desenvolver habilidades auditivas

de concentração, hábito de ouvir (o que é bastante difícil hoje em dia), a capacidade

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de recontar o que se ouviu, além de explorar um vasto campo do imaginário criativo

do aluno.

Partindo desses pressupostos, a contação de histórias propõe uma forma

diferenciada de incentivo à leitura, trabalhando a oralidade, expressão corporal,

criando situações de interesse tanto individuais quanto coletivas, ressaltando a

linguagem oral do aluno. Através da contação, pode-se levar o aluno a se envolver

com a leitura de textos literários bem como a pesquisar outros textos além dos que

foram apresentados para a contação ou apresentados pelos colegas.

Para mostrar que estimular a leitura pode se dar de diferentes formas, que é

possível oportunizar aos alunos aulas de leitura mais agradáveis, organizou-se uma

atividade que privilegiou o ato de contar história. Esta possibilidade de trabalho de

incentivo à leitura foi planejada e obedeceu a uma sequência em que foram

planejadas aulas para o 2º semestre de 2010, com alunos de 5ª série do Colégio

Estadual Marechal Gaspar Dutra, de Nova Santa Rosa (PR), nas aulas de Língua

Portuguesa. Na sequência deste texto, além de aspectos teóricos sobre o assunto, é

feito um relato da atividade realizada, através do qual se espera contribuir para que

outros profissionais incorporem a atividade no cotidiano escolar.

2. CONTAR HISTÓRIAS: DO LÚDICO AO APRENDIZADO

Contar histórias em sala de aula tem como objetivo principal divertir e ao

mesmo tempo estimular a imaginação dos alunos. Mas, juntamente com esse clima

de alegria e interesse que a história proporciona, essa atividade pode alcançar

outros objetivos como educar, instruir, desenvolver a inteligência, ser o ponto de

partida para que o aluno se interesse mais em ler, a procurar livros em bibliotecas

ou, ainda, ser um meio para entender o que se passa com os alunos no campo

pessoal, pois muitas vezes as histórias falam exatamente do que os incomoda.

Sabe-se que contar histórias é uma atividade milenar: como era a única

forma de transmitir conhecimento, as pessoas aperfeiçoavam a habilidade de contar

e de ouvir. Antes da invenção e disseminação da linguagem escrita, o saber –

conhecimento – era transmitido oralmente, devendo-se a isto todo valor dado à

memória nas sociedades antigas, pois era o único recurso para guardar e transmitir

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o conhecimento às futuras gerações. Conforme diz Betty Coelho Silva, “Trata-se de

um recurso de comunicação que surgiu nos primórdios do existir da criatura

humana, quando a oralidade era uma forma de marcar sua passagem na terra”

(SILVA, 2009, p.19). Durante muito tempo, a oralidade era a memória viva:

“Transmitidos de geração em geração, os contos de tradição oral viajaram do oriente

para o ocidente” (MAINARDES, 2007, p. 5). Com o surgimento da escrita e da

imprensa, facilitou-se a transmissão do conhecimento e os contadores de histórias

ficaram para trás. Porém, escritores como Perrault e os Irmãos Grimm fizeram um

resgate de muitos textos da tradição oral a que hoje temos acesso, e que muitas

mães, avós e professoras contam em sala de aula.

Contar histórias, segundo Betty Coelho Silva (2009, p.19), “é uma arte

inspirada no impulso que sente o contador de histórias de criar sua própria forma de

expressão: a arte pela arte, o prazer de contar e ouvir contar”. Atualmente, os alunos

preferem a televisão, o vídeo game e o computador ao livro, pois, a imagem vem

pronta. No entanto, há de se convir que os alunos ainda gostam de ouvir histórias

porque, ao ouvi-las, conforme Britton (apud SOMMER, 2007, p.08), “a criança vai

construindo seu conhecimento da linguagem escrita, que não se limita ao

conhecimento das marcas gráficas a produzir ou interpretar, mas envolve gênero,

estrutura textual, funções, formas e recursos linguísticos”.

Segundo Tahan (1957, p. 21), através das histórias, a criança pode expandir

a linguagem “enriquecendo o vocabulário, facilitando a expressão e a articulação”;

ouvir e contar histórias pode “estimular a inteligência desenvolvendo a criatividade

do pensamento infantil”, como também leva a adquirir conhecimentos que ampliam

os horizontes das crianças.

Contar histórias estimula a oralidade, melhora a entonação e a leitura dos

alunos, pois o contar histórias leva ao resgate da tradição oral e ao mesmo tempo

estimula a imaginação do ouvinte, repassando uma mensagem auditiva. Ao contar,

precisa-se captar o ritmo e a cadência dos textos, fazer pausas nos momentos

certos, sem se ater a descrições detalhadas. Conforme Cléo Busatto (2003, p.10),

“contar histórias é uma arte porque traz significações ao propor um diálogo entre as

diferentes dimensões do ser”; ajuda na formação de identidades, pois se estabelece

uma relação de troca entre contador e ouvintes, fazendo com que o conhecimento

cultural e afetivo aflore.

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Para a formação da criança é muito importante ouvir histórias e, nesse

caso, é fundamental a ação do contador. “Executá-las é o início da aprendizagem

para ser um bom leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de

descoberta e de compreensão do mundo” (ABRAMOVICH, 1993, p.16). Sendo

assim, se há o desejo de que os alunos contem histórias, leiam livros e gostem de

ler, precisa-se contar histórias para eles. Através desse ato lúdico pode-se mostrar

que a leitura não é intocável como parece ser para muitas crianças, pelo contrário:

ela é prazerosa, intensa e leva o aluno a fazer leituras e releituras do mundo que o

cerca.

Ouvir histórias faz com que a criança goste mais de ler, principalmente os

livros das histórias que foram contadas. Betty Coelho afirma que:

O compromisso do narrador é com as histórias, enquanto fonte de satisfação de necessidades básicas das crianças. Se elas as escutam desde pequeninas, provavelmente gostarão de livros, vindo a descobrir neles histórias como aquelas que lhes eram contadas. (1986, p.12).

Meireles (1979, p. 42) também afirma que “o gosto de ouvir é como o gosto

de ler”, quem gosta de ouvir provavelmente gostará de ler. No trabalho do dia a dia

com os alunos, pode-se confirmar as falas das autoras acima citadas, pois os alunos

realmente buscavam o livro contado como referência para a leitura: se eram

contados poemas, pediam pelos livros de poesias; se eram contadas crônicas ou

contos, eram esses que buscavam para ler.

Segundo Ana Maria Machado, ler por obrigação não vai levar o aluno a

gostar de ler mesmo que seja o melhor livro disponível. A autora faz um comparativo

com a comida que é necessária, de boa qualidade, mas em quantidade apenas que

sacie a fome. O incentivo a leitura também deve ser assim: deve ser lido sem muita

cobrança, na medida certa, para idade certa e sem exageros. De nada adianta exigir

quantidade se não se mostra o que tem de qualidade, de nada adianta querer que o

aluno leia se o professor não lê, não o estimula a ler; no entanto, ao ler e contar

histórias está se abrindo caminhos para o aluno ler e contar também.

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Ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão, não é um dever. E alimento do espírito. Igualzinho a comida. Todo mundo precisa, todo mundo deve ter a sua disposição – de boa qualidade, variada, em quantidades que saciem a fome. Mas é um absurdo impingir um prato cheio pela goela abaixo de qualquer pessoa. Mesmo que se ache que o que enche prato é a iguaria mais deliciosa do mundo. (MACHADO, 2002, p.15).

Pode-se, através da contação histórias, levar os alunos a contar também, o

que proporciona uma melhora na leitura, entonação e ritmo, pois, segundo afirmam

Cléo Busatto e Machado (apud NETO, 2004, p.212), “por meio do conto narrado, é

possível trabalhar os conteúdos da linguagem oral pela criança, propiciando o

desenvolvimento e o aprimoramento da palavra falada.”

Fanny Abramovich (1993, p.18) afirma que “Contar histórias é uma arte... é

tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido e por isso não é

nem remotamente declamação ou teatro ... ela é o uso simples e harmônico da voz.”

O contar pode ser como uma melodia de sinfonia orquestrada, mas com palavras

que harmonicamente se entrelaçam e completam com se fosse um espetáculo e

para que o mesmo aconteça é preciso narrar, emocionar, dialogar, atingir o outro. Ao

adquirir ritmo e melodia, as palavras surgem cheias de emoção, forças, intenções,

querem dizer muito mais do que apenas o som de suas letras. Celso Sisto afirma

que:

uma história bem contada produz ecos no ouvinte que se prolongam para além do momento narrado. Quem ouve uma história quer sempre ser atingido, de alguma forma... Quem conta quer igualmente experimentar o poder da palavra, o poder do encantamento, e o poder do vice-versa. (SISTO, 2007, p.40).

Em meio ao prazer que as histórias contadas proporcionam, as mesmas

podem ser uma forma de entender o que se passa com os alunos no campo

pessoal, pois podem despertar na criança emoções que mexem com a estrutura da

personalidade e permitem a reelaboração da história pessoal a partir das historias

contadas/ouvidas. Bruno Bettelheim (1992, p.13) já afirmava que, para que uma

história prenda a atenção da criança, ela deve despertar curiosidade, assim como

ocorre nas atividades de contação. Para o estudioso, uma história,

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para enriquecer sua vida [do leitor criança], deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-lo a desenvolver seu intelecto e a tornar clara suas emoções; estar harmonizado com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades, e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que o perturbam. (BETTELHEIM,1992, p.13)

Muitas vezes, as crianças se identificam com personagens do texto, sendo

este uma rica fonte de imaginação. Para Betty Coelho (1986, p.12), tal processo

“Permite a auto-identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis,

ajuda a resolver conflitos, acenando com esperança.” Pode-se afirmar, portanto, que

através de ouvir e contar histórias, os alunos se identificam com as personagens,

vivenciam a história, enriquecem a linguagem, o que evidencia a importância de

práticas pedagógicas que contemplem a contação de histórias no contexto escolar.

Os alunos sentem necessidade que alguém os oriente para a leitura, alguém

que indique obras que podem despertar seu interesse e, consequentemente,

aumentar e melhorar seu nível de leitura a cada novo texto, possibilitando um

diálogo maior com o texto e com tudo que este pode acrescentar de conhecimento.

A cada nova leitura, os alunos percebem que precisam ampliar o seu repertório e

aprofundá-lo, pois passam a observar que no texto lido, a estrutura de certos livros é

igual, ou que certos livros fazem intertextualidade com outras obras. Nestes casos

há um amadurecimento do aluno quanto à leitura.

3. CONTAR MAIS PARA LER MAIS: EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA

Na atividade organizada para a turma de 5ª série do Colégio supracitado,

num primeiro contato, foram contadas algumas histórias em sala de aula para ver a

aceitabilidade e reação dos alunos. Posteriormente, foi solicitada a leitura individual

de um texto selecionado por eles para avaliar o nível da capacidade oral dos

mesmos, observando a fluência, entonação, pausas, desinibição e expressão

corporal. Partindo deste diagnóstico, também numa conversa com a turma, tentou-

se fazer um levantamento dos livros que os alunos gostam de ler e quais já leram.

Na sequencia, assistiu-se ao filme “Coração de tinta”, que mostra como a

leitura pode dar vida às personagens e como contar histórias é mágico e que, de

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forma poética, embala a imaginação dos leitores. No filme, a personagem que é o

contador de histórias utiliza uma das técnicas de contador quando modula voz de

forma suave e melodiosa se deixando envolver pela história. Mostra, também, o

quanto é importante contar histórias para crianças desde pequenas, servindo de

exemplo, mostrando o caminho da leitura e o que pode se esperar de alguém leitor.

Num outro momento do filme, uma das personagens fala das viagens de

conhecimento que fez pelo mundo somente através dos livros e a revolta da mesma

em ver sua biblioteca sendo destruída por pessoas do mal, que podem ser

encaradas como pessoas sem conhecimento, pessoas que não valorizam a leitura.

Tais atividades serviram como ponto de partida para que o professor

iniciasse a conversa com os alunos sobre os motivos que levam à valorização da

oralidade através da contação de histórias e sua utilidade no nosso dia a dia.

Procurou-se mostrar que desenvolver a habilidade de contar histórias não só

estimula a leitura de textos literários: pode ser um estímulo para a desinibição para

narrar um jogo de futebol, interpretar ou encenar uma novela, fazer uma propaganda

radiofônica ou televisiva, apresentar um programa de rádio ou televisão. Desta

forma, os alunos foram levados a perceber que a fluência e entonação são

importantes em várias atividades e ajudam na vida fora da escola, no contexto social

em que vivem.

Procurou-se levar os alunos a entenderem que falar de forma adequada,

usar a oralidade com fluência, entonação e desinibição ajuda no trabalho junto à

comunidade; por exemplo, ao fazer a leitura de textos bíblicos na igreja, nas

reuniões de diretoria de clubes e associações, ao usar a palavra para coordenar

reuniões, ou seja, em atividades em que eles precisam se expressar oralmente.

Enfatizou-se como saber “falar” é importante, pois o sucesso de várias atividades

depende de uma boa expressão oral: falar em público e com o público: seja como

vendedor, pois a capacidade de convencimento do mesmo é “a alma do negócio”;

seja como professor que, ao expor bem a sua aula, cativa mais os seus alunos; seja

como político que, ao usar do poder da persuasão, convence o eleitor a votar na sua

proposta de trabalho.

Também se mencionou o fato de que contar histórias é uma atividade que é

desenvolvida em lugares alternativos como hospitais: lembrando das atividades dos

“doutores da alegria”, que são voluntários que dedicam um pouco do seu tempo

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animando os pacientes em hospitais, contando histórias para crianças enfermas,

fazendo estripulias circenses ou cantando. Em algumas cidades brasileiras,

sobretudo na região Nordeste, há repentistas/contadores que se apresentam em

feiras onde circula um grande número de pessoas. Na nossa cidade, há a

possibilidade de apresentar histórias na creche, asilo, hospital e feira do pequeno

produtor.

Para começar de fato a preparação para a contação, os alunos escolheram

textos na biblioteca, na hora da troca de livros; organizaram-se em grupos e

socializaram as leituras entre os colegas para a formação de grupos de quatro, três

ou dois alunos ou para apresentarem individualmente, dependendo do texto que

escolheram. Percebeu-se que, no início do trabalho, alguns alunos demonstraram

certo receio em escolher textos mais longos para decorar, pois não se consideravam

tão capazes quanto os contadores que se apresentaram para eles, mas, assim que

ocorreram os primeiros ensaios, superaram esse medo e se destacaram na

contação de histórias.

À medida que os alunos foram escolhendo os textos, de gêneros variados, e

esses foram avaliados pela professora para ver a compatibilidade e adaptação para

a contação, os ensaios foram organizados. Primeiramente, leituras em casa para

memorizar o texto e, posteriormente, ensaios em sala de aula; em seguida, em

contraturno para um atendimento mais individual.

3.1 A poesia narrativa: medos, sonhos e identidade

Fato curioso foi perceber que a maioria dos alunos optou por poemas

narrativos depois que a professora contou um dos poemas de Pedro Bandeira com

os quais os alunos se sentiram identificados. Estes poemas apresentam uma

sequencia narrativa simples e atraente, contendo situações que se aproximam da

vida da criança, do seu modo de ver a adolescência. Exprimem o ponto de vista da

criança, o que ela pensa ou deseja manifestar, além de apresentarem um lado

engraçado e humorístico que atrai mais o jovem leitor. Como diz Pedro Bandeira, “A

poesia é uma maneira gostosa de tirar o retrato da nossa alma.” (BANDEIRA, 2001,

p.63)

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Das obras de Pedro Bandeira, foi dado destaque para o livro “Mais respeito,

eu sou criança!” que é uma coletânea de poemas narrativos nos quais se destaca o

uso do humor para falar sobre assuntos que são próximos às crianças: os heróis,

medos, ordens dos mais velhos, a busca da sua própria identidade como

adolescente, nem criança nem adulto, amizades, irmãos, etc. Como os poemas não

são extensos, tornam-se uma boa opção para começar a contar histórias. Desta

obra, foram trabalhados alguns poemas: “Grande ou pequeno?”, “Ao meu

irmãozinho”, “Meus presentes de natal”, “Mais respeito, eu sou criança!”. O poema

“Grande ou pequeno” fala da revolta das crianças com o fato de os adultos não

entenderem e respeitarem o tamanho que elas têm, pois para conversa são muito

pequenas, mas quando fazem algo errado, já são grandes. Veja alguns trechos: “Se

eu me meto na conversa,/para ouvir do que é que falam/(...)/Não, não, não! Já para

fora!/Você é muito pequeno/(...)/qualquer coisinha mal feita,/(...)/lá vem bronca do

papai:/(...)Você já é muito grande/(...)/Afinal, quem é que eu sou? (BANDEIRA, 2001,

p.09)

Outra obra importante de Pedro Bandeira é “Cavalgando o Arco-íris” na qual,

de forma engraçada, o autor aborda as peraltices e ingenuidades das crianças,

retrata fielmente o que elas pensam. Como diz o autor, sobre os poemas: “Mas o

que é poesia? Não é uma forma absurda; maravilhosa de ver as coisas? Tudo

diferente do que os outros veem?” (BANDEIRA, 2000, p.63) Deste livro, foram

utilizados os poemas: ”Namoro desmanchado”, “Visitas”, “Irmão menor”,

“Resolução”, “Pra que serve a verdura?”, “O vizinho do lado”. A título de

exemplificação de como esses poemas retratam do universo infantil, cabe destacar

alguns versos nos quais o menino expressa sua opinião sobre namoro na infância e

o comportamento dos adultos com o desenvolvimento físico das crianças: “Namoro

desmanchado”: “Já não tenho namorada/E nem ligo para isso./É melhor ficar

sozinho,/ Namorar só dá enguiço./(...) E eu ali sentado e quieto,(...) /De mãos dadas

feito um bobo,/vendo a turma jogar bola!/Gosto mesmo de brincar,/ faça chuva ou

faça sol./Namorar não quero mais:/eu prefiro o futebol!”(BANDEIRA, 2000 ,p.30); e

“Visitas”: “Gente grande é tão chata,/eu já não aguento mais./Cada vez que aquela

dona/ aparece lá em casa,/ sei que vou me aborrecer./Vai dizer: “Como está grande!

(...) ”(BANDEIRA, 2000, p.46)

À medida que os alunos iam decorando os textos, eram realizados os

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ensaios em sala de aula observando as falhas que os próprios colegas apontavam.

Para um atendimento mais individualizado, os alunos foram á escola no contraturno,

em pequenos grupos para corrigir as falhas de entonação, postura, pausa,

expressão corporal detectados durante as aulas de língua portuguesa. Os mesmos

demonstravam preocupação em saber se tinham melhorado na sua postura ou se

este ou aquele adorno combinaria com a apresentação. Estes ensaios aconteceram

durante seis semanas até que os alunos estivessem preparados para contar para os

colegas da sala.

A retomada para a correção da entonação, pausa, postura, expressão

corporal foi feita várias vezes, pois os alunos percebiam que, quando não estavam

agradando, é porque estava faltando algo na voz. A própria Betty Coelho cita que ”o

narrador tem de se expressar numa voz definida... tem de saber modulá-la de

acordo com o que está contando considerando os aspectos da intensidade, clareza

e conhecimento.” (COELHO,1986, p. 51). No trabalho desenvolvido, os alunos

observavam que a voz estava muito baixa, alta, rápida demais e apontavam as

falhas para os colegas, que tentavam corrigi-las.

Uma comunicação efetiva requer a concretização de vários elementos que

possibilitem a transmissão de uma mensagem com boa receptividade: esta é uma

das preocupações que nortearam o trabalho realizado com os alunos no tocante à

expressão corporal, voz, pausa, entonação. Os alunos tinham dificuldade de se

soltar, de ler com fluência sem se sentirem envergonhados, mas algumas técnicas

como as citadas por Betty Coelho e confirmadas também por Malba Tahan foram

importantes para o aprimoramento da expressividade da voz e fala e das estratégias

para narração oral. Tahan fala sobre a importância de observar certos aspectos

relacionados à postura do contador, tais como:

1º) Sentir, ou melhor, viver a história; ter a expressão viva ardente, sugestiva (...)

2º) Narrar com naturalidade, sem afetação(...)

3º) Conhecer com absoluta segurança o enredo(...)

4º) Dominar o auditório(...)

5º)Contar dramaticamente (sem caráter teatral exagerado)(...)

6º) Falar com voz adequada, clara e agradável(...)

7º) Evitar ou corrigir os efeitos da dicção(...)

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8º) Ser comedido nos gestos.(...) (TAHAN, 1966, p. 29-35)

O primeiro momento de apresentação ocorreu em sala de aula para os

colegas, no qual se pode perceber que os alunos realmente gostaram de ouvir, pois,

entre eles, exigiam que mantivessem silêncio para poder prestar mais atenção na

história contada. Além disso, demonstravam preocupação em saber se não

ocorreram muitas falhas na apresentação. Após esse momento, foi organizado um

intercâmbio entre as turmas de 5ª séries onde uma turma apresentou para a outra.

Após esse trabalho, com os alunos já preparados, essa prática de oralidade

também ocorreu na Feira do Conhecimento (organizada anualmente no colégio),

ocasião para a qual os alunos envolvidos organizaram uma sala de contação de

história na qual compareceram alunos da rede municipal de ensino e escolas

estaduais dos distritos do município de Nova Santa Rosa para ouvir as histórias. Na

Feira do Conhecimento, observou-se que as histórias que apresentavam um lado

cômico e os poemas que falavam de curiosidades abordando as peraltices e

ingenuidades, o ponto de vista da criança, o desejo de se manifestar através de

heróis, medos, amizades, a busca da própria identidade, atraíam mais os ouvintes,

principalmente os alunos maiores, pois já tem uma capacidade de abstração maior

que os pequenos.

Ao longo de todo esse processo, percebeu-se que os alunos buscavam

outros textos para trazer para a sala de aula, pedindo uma avaliação por parte da

professora para saber se o texto era adequado para contar ou o que necessitava de

adaptação. Observou-se que, na medida em que foram decorando os textos, os

alunos se sentiram encorajados em decorar textos maiores, bem como, ao irem para

a troca de livros na biblioteca, houve um interesse maior em procurar os livros dos

quais foram extraídos os poemas para a contação. Também pediam ajuda da

professora para escolher um livro que tivesse histórias engraçadas, divertidas para

contar aos colegas.

Houve uma procura maior por livros de poemas que, em outras ocasiões,

ficavam esquecidos na estante da biblioteca. Isso faz lembrar que “o gosto de ouvir

é como o gosto de ler”, (MEIRELES 1979, p.42) e que, se alguém gosta de ouvir

histórias, com certeza vai lê-las ou até mesmo escrevê-las. Cabe ressaltar que o

processo de escolha de poemas baseou-se no fato de os textos apresentarem

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temas que estavam ligados ao cotidiano das crianças/adolescentes, aspecto

importante para a motivação dos leitores, conforme pode ser observado no relato do

aluno “A”: ”A poesia fala daquilo que pensamos sobre nós crianças e também o que

os adultos pensam de nós, parece algo do nosso dia a dia por isso achei fácil para

decorar e contar”. A identificação com a personagem do texto, segundo Betty

Coelho, acontece e serve como fonte de imaginação que pode despertar nos alunos

emoções que mexem com a sua personalidade.

Embora o projeto tenha sido realizado em apenas três meses, houve uma

significativa melhora na oralidade. Os alunos passaram a se destacar na leitura em

sala de aula, fazendo pausas, pontuações e entonação com mais precisão; quanto à

desenvoltura na apresentação de trabalhos, demonstram uma qualidade melhor em

relação ao que faziam no início do projeto. Muitos deles adquiriram uma habilidade

auditiva mais apurada, pois quando o professor fala em sala, captam o conteúdo e o

transcrevem para o caderno de forma mais rápida e precisa.

No decorrer do trabalho foi possível ouvir comentários de alguns alunos a

respeito dos poemas: aluna “B”: “Nossa, professora! levei apenas um dia para

decorar, achei que seria mais difícil!”; Aluno “C”: Será que não vão rir do meu texto?”

Quanto à vergonha e timidez, muitos se transformaram, demonstraram uma

habilidade espantosa. Não falavam em sala, mas se destacaram na contação, como

também demonstraram preocupação em apresentar da forma mais correta e em

corrigir as falhas. Outros se intimidaram: não quiseram apresentar na feira, pois os

colegas acharam os poemas muito engraçados, quando apresentadas na sala de

aula, e isto os inibiu.

Em um aluno em especial percebeu-se uma melhora na auto-estima: trata-se

de um aluno de sala de recursos, hiperativo, repetente e com um histórico familiar

que inclui orfanato. Este aluno demonstrou interesse e muita habilidade em contar

história, pois se sentiu valorizado, era o centro das atenções, esmerava-se em

apresentar. Contar histórias liberou o impulso criativo desse aluno que, de forma

divertida, dinâmica teve uma pequena parcela de enriquecimento da linguagem oral

e bagagem cultural. O prazer de contar história que esse aluno sentiu pode ser

comparado com o desejo de dominar a plateia como se fosse uma presa caçada, e

“vem daí o prazer de contar, prazer de dominação - associado ao sentimento de

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pegar aquele que escuta na sua armadilha” (ZUMTHOR, 1997, p.55), pois é

necessário que o contador se identifique com a poesia para que possa contar da

melhor forma possível.

A sensação que a história provoca nos alunos que a ouviram não será a

mesma, pois como Busatto (2003, p.18) afirma, ”É a história da vida de cada um que

determinará com que cores e com que música ela vai soar”, quer dizer, a mesma

história terá repercussões diferentes, pois o modo com que cada aluno vivenciará a

experiência de ouvir ou contar a história será diferente.

Ainda há muitos alunos que não sabem se expressar bem e não sabem ler

com fluência pois sentem medo na hora de se comunicar oralmente. Apresentam

certo desinteresse pela leitura, falta de criatividade, e ainda, um vocabulário pobre.

Neste caso, contar histórias contribuiu para retomar o prazer pela leitura,

desenvolveu habilidades relativas à oralidade e à imaginação, com o enriquecimento

do vocabulário dos alunos das quintas séries.

A atividade de contação foi de grande importância, pois ao ler ou contar

histórias para os colegas, os alunos se sentiram motivados, se sentiram importantes,

valorizados, disputando a sua vez de ser o contador. Desenvolveram a auto-estima,

pois perderam o medo de falar em público, melhoraram a entonação, fluência e a

criticidade quanto á escolha de livros.

Segundo o depoimento do bibliotecário do colégio, contar histórias realmente

leva os alunos a buscar com mais frequência o ambiente da biblioteca, quer seja

para buscar sugestões de livros novos, procurar algumas obras que pesquisaram na

internet, ou para pedir sugestões do bibliotecário, de livros que se encontram nas

estantes. Esse ambiente também foi procurado com maior frequência durante os

momentos em que não é feita a troca de livros agendada pelo professor, como por

exemplo, o recreio.

No entanto, vale lembrar que ainda há alunos que continuam não gostando

de ler nem querendo contar histórias. Fizeram pouco caso para o trabalho realizado

com as duas turmas da 5ª série. Ainda leem apenas quando o professor pede, e

alguns afirmam que levam o livro para casa “para passear” e este normalmente volta

sem ser lido, intocável. Nada agrada. Percebe-se que, por mais que a professora

sugira obras diferenciadas, às vezes até assuntos citados por eles como, guerras,

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drogas, vampiros, monstros, etc, ainda assim esses alunos demonstram pouco

interesse pela leitura.

É preciso salientar que o tempo para realizar o trabalho foi exíguo: três

meses foi pouco para uma atividade bastante trabalhosa. Constatou-se que, para

um bom desempenho na contação, é necessário um ano letivo inteiro, pois os

alunos poderiam estudar mais textos, corrigir algumas falhas ainda visíveis na

contação, e apresentar em outros lugares. Também contribuiu para isso o fato de se

poder contar com apenas quatro aulas semanais quando seriam necessárias mais

aulas disponíveis para um trabalho mais completo. Considerando-se tal aspecto, o

referido trabalho deverá ter continuidade, pois os alunos que gostaram da contação

demonstraram interesse em continuar no grupo de contadores.

Mesmo se tratando de uma implementação pedagógica restrita devida ao

tempo, acredita-se que fez diferença nos hábitos de leitura dos alunos, bem como na

oralidade, fluência, entonação, desenvoltura, para falar frente a algum publico. A

maioria mergulhou com entusiasmo no trabalho de contador, deixando transparecer

emoção e satisfação quando terminava de contar uma história.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As estratégias aqui apresentadas foram desenvolvidas com o objetivo de

fazer o aluno melhorar a sua oralidade através da contação de histórias e de

proporcionar atividades de leitura mais lúdicas e prazerosas.

Para que de fato as estratégias supracitadas se concretizem, o trabalho de

incentivo à leitura deve ser contínuo e fazer parte do planejamento anual do

professor de língua portuguesa, com o apoio de todo corpo docente e equipe

pedagógica, pois o trabalho não está acabado e necessita de continuidade para

aprimorar as técnicas de leitura, oralidade, boa fluência, entonação e desinibição. As

práticas de incentivo à leitura através da contação estimularam a imaginação, a

fantasia e a vontade de ter um livro nas mãos. O desejo de ler se intensificou e

envolveu as crianças em seu próprio universo, motivadas pelo prazer.

As dificuldades enfrentadas tornam-se pequenas quando se obtém

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resultados positivos, quando se vê alunos em busca de novas obras para ler, bem

como quando se observa que houve crescimento intelectual dos alunos, pois

passaram a comparar obras, percebendo a trivialidade de certos livros.

Apesar de não se poder contar com a adesão de todos os alunos no trabalho

desenvolvido em sala de aula, constatou-se que foi possível promover mudanças

nas aulas de leitura, pois a energia e a criatividade da maioria possibilitaram

atividades de leitura mais lúdicas e prazerosas. Acredita-se que esta atividade teve

efeitos positivos, pois os alunos manifestaram, no início do ano letivo de 2011,

interesse em continuar o trabalho de contar histórias. Assim sendo, considerando-se

a importância dos resultados positivos obtidos na oralidade, fluência, entonação,

desinibição e hábitos de leitura, sugere-se que seja dada continuidade a esta

implementação pedagógica nos projetos de contraturno, já que o objetivo da

educação do Paraná é implantar a educação integral.

Contar histórias para os alunos em sala de aula e incentivá-los a contar com

o objetivo de melhorar a oralidade foi um recurso que ajudou a enfrentar um dos

desafios vividos pela escola que é o de fazer com que o aluno aprenda a ler e a

gostar de ler a ponto de se tornar um leitor que sozinho busque novas leituras.

Enfim, cobrar do aluno que melhore a oralidade, fluência, entonação, e goste

de ler sem o professor mostrar caminhos, é querer que ele consiga superar suas

dificuldades sozinho. Há de se convir que o professor tem um papel importante na

formação de seus alunos e que precisa atuar no sentido de preparar aulas através

das quais consiga aproximá-los da literatura sem que eles achem que isso é algo de

outro mundo, que a aula é chata e monótona. Para tanto, é preciso que o professor

utilize estratégias para aproximá-los da leitura, que o professor conheça e sugira

títulos que possam interessá-los, que o professor se revele também um leitor. Todos

ganham com a contação de histórias, tanto os alunos que ouvem as histórias como

aqueles que contam, pois, conhecem novos livros, pensam, criam e recriam, além

de terem aulas mais atraentes e motivadoras. Por que não tentar?

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1993.

BANDEIRA, Pedro. Cavalgando o arco-íris. São Paulo: Moderna, 2000.

BANDEIRA, Pedro. Mais respeito, eu sou criança!. São Paulo: Moderna, 2001.BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 9 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992. COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1986.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. MAINARDES, Rita de Cássia Milléo. A arte de contar histórias; uma tela mágica que enreda leitores. Disponível em: <diaadiaeducacao.pr.gov.br . PDE 2007.> acesso em: 05/07/2009. MEIRELES, Cecília. Problemas da Literatura Infantil. São Paulo: Summus, 1979. NETO, Lúcia Helena F. et al. Fonoaudiologia, contação de histórias e educação: um novo campo de atuação profissional. In: Distúrbios da comunicação. São Paulo, agosto, 2006. Disponível em: < http:// www.pucsp.br/revistadisturbios/artigos/Artigo 483 pdf> TAHAN,Malba. A arte de ler e contar histórias. Rio de Janeiro: Conquista, 1966. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação do Estado do Paraná. Língua portuguesa. Curitiba; SEED, 2008. SISTO, Celso. Contar histórias, uma arte maior. In: MEDEIROS, Fabio Henrique Nunes; MORAIS, Taiza Mara Rauen (orgs.). Memorial do Proler: Joinville e resumos do Seminário de Estudos da Linguagem. Joinville, UNIVILLE, 2007. Disponível em: <http://www.celsosisto.com/ensaios/Contar%20Hist%F3rias.pdf>

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SILVA, Maria Betty Coelho. O contador de histórias no contexto da literatura infantil. Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/8869/8343> SOMMER, Elfride. Plano de trabalho PDE. Disponível em: < Página diaadiaeducacao.pr.gov.br. GTR 2008.> acesso em: 05/07/2009.

ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. São Paulo: Hucitec, 1997.

ANEXOS

Exposição de fotos das atividades de preparação de contação de histórias na sala

de aula e na Feira do Conhecimento.

Ilustração 1: Foto tirada em sala de aula por ocasião do ensaio realizado para a contação de histórias. Alunos: Nayra e Guilherme.

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Ilustração 2: Foto tirada em sala de aula por ocasião do ensaio realizado para a contação de histórias. Aluna: Bruna.

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Ilustração 3: Foto tirada na contação de história que ocorreu na Feira do Conhecimento de 2010. Aluno Gustavo declamando o poema “Namoro desmanchado”.

Ilustração 4: Foto tirada na contação de história que ocorreu na Feira do Conhecimento de 2010. Alunos Natan e Mateus apresentando "Conversinha mineira"

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Ilustração 6: Foto tirada na contação de história que ocorreu na Feira do Conhecimento de 2010. Aluna Luciele apresentando o poema "Grande ou pequeno".

Ilustração 5: Foto tirada na contação de história que ocorreu na Feira do Conhecimento de 2010. Aluna Luciele apresentando o poema"Grande ou pequeno".

Ilustração 6: Foto tirada na contação de história que ocorreu na Feira do Conhecimento de 2010. Aluna Renata apresentando o poema "Meus errinhos"